ALGARVE INFORMATIVO
13 de julho, 2024
Albufeira tem nova obra de arte de Vhils (pág. 24)
Festas em Honra do Imaculado Coração de Maria em Altura (pág. 32)
«Mercado de Culturas… à Luz das Velas» em Lagoa (pág. 42)
Taça AGA de Ginástica Acrobática em Loulé - Parte II (pág. 56)
Teatro jovem em São Brás de Alportel (pág. 84)
«PAUS e o CAOS» no Cineteatro Louletano (pág. 100)
Lenda da Moura Encantada em Tavira (pág. 110)
Júlio Ferreira (pág. 122)
Nuno Campos Inácio (pág. 124)
João Ministro (pág. 126)
Nova criação de Vhils na
Biblioteca Municipal Lídia
Jorge é uma celebração da cultura, do conhecimento e da arte
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
Biblioteca Municipal Lídia Jorge, em Albufeira, comemora, a 17 de dezembro de 2024, o seu 20.º aniversário, mas a prenda de anos chegou mais cedo e dificilmente poderia ter sido melhor, depois do conceituado artista Alexandre Farto, conhecido
mundialmente como Vhils, ter «desenhado» uma nova fachada para o edifício. Um momento marcante no qual o autor deixou profundas palavras de agradecimento ao presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo, a Carla Ponte, chefe da Divisão de Turismo, Desenvolvimento Económico e Cultural e, claro está, a Lídia Jorge, “cuja obra ímpar tem representado uma
reflexão essencial sobre os contrastes da nossa sociedade, do passado e do presente, geográfico, de géneros e de classes sociais, temas esses que regem também o meu próprio trabalho”, referiu na cerimónia pública de apresentação de
«Scratching the Surface project | Albufeira» que teve lugar no dia 5 de julho.
Vhils assumiu que foi com grande honra e entusiasmo que deu a conhecer a obra concebida para celebrar os 20 anos desta
biblioteca municipal, “uma representação visual e poética da jornada rumo à iluminação e ao conhecimento adquirido ao longo da vida”. “Inspirado pela visão de uma casa iluminada e repleta de
conhecimento, este trabalho é um tributo aos inúmeros livros e autores que encontram aqui o seu refúgio. Através do uso criativo da luz e da sombra, esta obra pretende criar uma experiência
imersiva, transportando os espetadores para um espaço de reflexão sobre a efemeridade da vida e das experiências que moldam a nossa existência”, descreveu Alexandre Farto, que, ao transformar a fachada da Biblioteca Municipal Lídia Jorge, procurou assinalar, não só os 20 anos desta instituição, mas também a riqueza literária e cultural que ela representa. “É um convite a todos os visitantes para refletir sobre a beleza e a complexidade da vida, explorando as palavras da Lídia Jorge e as imagens que tive o privilégio de criar. Este projeto é, acima de tudo, uma celebração da cultura, do conhecimento e da arte. É um símbolo de como estes elementos podem enriquecer as nossas vidas, fortalecer as nossas comunidades e mitigar as nossas desigualdades”, entende Vhils.
A escritora Lídia Jorge dá nome à Biblioteca Municipal de Albufeira desde 2009 e não escondeu a emoção por ter sido a inspiração para a nova criação de Alexandre Farto. “As bibliotecas são, hoje, uma espécie de farol do ponto de vista da cultura em Portugal, continuam a ser um templo profano da cultura, mesmo depois de todo o estremecimento que a cultura digital tem trazido. Para mim, é particularmente tocante que o Vhils tenha aceitado este projeto e que o resultado tenha sido este”, declarou. “Este é
um exemplo do que o Vhils tem feito em todo o mundo, não deixar que as cidades e os espaços se afundem no anonimato, na frieza da não comunicação, onde o rosto humano desaparece e as relações humanas se extinguem. O Vhils deixa, um pouco por toda a parte, uma marca profunda com a humanização dos espaços, portanto, podem imaginar a minha alegria por ele se ter inspirado um pouco nas minhas coisas para esta nova obra de arte”, reforçou Lídia Jorge, que também elogiou a «ponte» que foi Carla Ponte. “Foi uma dialogante extraordinária e, mesmo quando as coisas pareciam que não encaixavam, nunca desistiu. Agora, ao olharem para a nova fachada desta «casa dos livros», pode ser que as pessoas parem os carros, entrem, vejam o espaço interior, que é maravilhoso, e acabem por levar um livro”
Perante vários rostos conhecidos, e de uma jovem autora, Beatriz Cabrita, Lídia Jorge deixou-lhe o repto de que nunca deixe de escrever. “Eu passei da infância para a juventude, e depois para a fase adulta, sempre a escrever, mas o normal é que, por volta dos 12, 13 anos, as crianças deixem de escrever, às vezes até deixam de ler. Em nome do futuro, desejo que haja muitos artistas
que possam combinar com as pessoas da construção prática, política, arquitetónica, da parte concreta das cidades, que não dispensa a imaginação, a fantasia e o nosso mundo subterrâneo e interior que é o que comanda tudo. Quero agradecer este prémio que Albufeira me deu”, concluiu a escritora, antes de usar da palavra José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira. “É uma obra de arte extraordinária que, acredito, vá cativar, motivar,
incentivar, as pessoas a frequentarem mais o espaço da Biblioteca Municipal. Colocaramse, há alguns anos, dúvidas sobre a evolução dos livros em papel devido ao aparecimento dos digitais, mas penso que elas já desapareceram. São 20 anos de Biblioteca que queremos festejar com pompa e circunstância e tenho a certeza de que esta obra de arte vai correr mundo”, finalizou o edil.
Milhares de pessoas passaram pelas Festas em Honra do Imaculado Coração de Maria em Altura
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Município de Castro Marim s Festas em Honra do Imaculado
Coração de Maria, que decorreram entre 5 e 7 de julho, em Altura, acolheram milhares de pessoas que assistiram aos concertos e visitaram a Feira de Artesanato onde se podiam encontrar os melhores produtos locais e regionais.
iniciando a noite com as Marchas Populares do concelho e a dupla «Só Nós Dois», antes do ponto alto, com um grande espetáculo de Carolina Deslandes.
Depois do DJ Gustavo Vera encerrar o sábado, as festividades de domingo começaram à tarde com a Recitação do terço e a Celebração da Eucaristia na
Igreja do Imaculado Coração de Maria, de onde saiu a procissão que percorreu várias artérias da localidade. Já à noite, o palco acolheu atuações do jovem acordeonista Hugo Madeira, seguido de um espetáculo especial das ARUTLA onde celebraram o seu 25.º aniversário, e ainda um concerto da banda The Lucky Duckies.
«Mercado de Culturas… à Luz das Velas» levou
TradiSons Ibéricas a Lagoa
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina e 4 a 7 de julho, o Convento de São José, em Lagoa, e ruas circundantes voltaram a ser o epicentro do «Mercado de Culturas…à Luz das Velas». Ao longo de quatro noites, mais de 60 artesãos de várias culturas e religiões do mundo conviveram em harmonia e mostraram aos milhares de visitantes as suas tradições, sabores e artes, numa edição
que teve como temática cultural «TradiSons Ibéricas».
As músicas tradicionais de raiz estiveram em destaque nos diversos cenários do evento, com a presença de diferentes grupos de música e dança de distintas regiões da Península Ibérica: Deira – música folk da Galiza e Astúrias; Milo Ke Mandarini – música folk de Castilla – La Mancha e Extremadura; Estampa Flamenca – Cuadro flamenco de Cádis; Emilio Villalba & Sara Marina –
música medieval da Península Ibérica; Al Mouraria – música tradicional portuguesa e fado; Fado Corrido – grupo de fado tradicional; Brasa Doirada – música tradicional do Alentejo; Helena Madeira –música tradicional portuguesa; e Gigantones & Zés Pereiras – grupo de animação itinerante proveniente de Braga. A sala de exposições do Convento de São José recebeu, entretanto, a exposição de «Máscaras Ibéricas», provenientes do distrito de Bragança (Portugal) e da província de Zamora (Espanha).
Como é hábito neste evento cultural, a gastronomia representou um papel preponderante, pelo que os claustros do Convento de São José se converteram numa Taberna Ibérica, com petiscos e tapas de Portugal e Espanha.
Diariamente, às 20h30, acenderam-se milhares de velas, com as quais foram desenhados dezenas de símbolos que pretendiam dar a conhecer as tradições, gastronomia e história da Península Ibérica, posicionados nas entradas e nos meandros do mercado, constituindo um espetáculo de enorme beleza visual.
CENTENAS DE ATLETAS
NA TAÇA AGA DE GINÁSTICA
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
BRILHARAM EM LOULÉ
GINÁSTICA ACROBÁTICA
AGA – Associação de Ginástica do Algarve e a APAGL – Associação de Pais e Amigos da Ginástica de Loulé organizaram, no dia 22 de junho, no Pavilhão Municipal Professor Joaquim Vairinhos, em Loulé, mais uma edição da Taça AGA e Ginástica com Todos em ginástica acrobática. Foi uma verdadeira maratona desportiva que arrancou logo pela manhã e que terminou já ao início da noite, dando a conhecer o empenho, talento e dedicação das centenas de jovens atletas que disputaram a Taça AGA Infantil, a Taça AGA Ginástica com Todos (acrobática adaptada), a Taça AGA Níveis, a Taça AGA Jovem e a Taça AGA Absoluto.
Em prova estiveram o Acro Al-Buhera Clube de Ginástica de Albufeira, a Associação Cultural e Desportiva CheLagoense, a APAGL – Associação de Pais e Amigos da Ginástica de Loulé, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Silves, a Casa do Povo de São Bartolomeu de Messines, o Clube Academia Desporto de Beja, o CEDF –Clube Educativo Desportivo Faro, o Ginástica Clube de Loulé, o Grupo Desportivo e Cultural do Enxerim e o Louletano Desportos Clube. Depois de, na edição transata, termos publicado a reportagem da Taça AGA Infantil, Taça AGA Ginástica com Todos e Taça AGA Níveis, desta feita temos os melhores momentos da Taça AGA Jovem e da Taça AGA Absoluto.
COLETIVO TEATRO ALF@
AO SÃO BRÁS CINETEATRO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
LEVOU NOVAS CRIAÇÕES
CINETEATRO
JAIME PINTO
São Brás
Cineteatro Jaime Pinto, em São Brás de Alportel, assistiu, no dia 20 de junho, à apresentação dos novos trabalhos de dois dos grupos do Coletivo Teatro Alf@ do Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas, perante uma plateia recheada de familiares desejosos de ver os seus filhos em palco.
Com encenação de Teresa Henriques e Rita Peres Beckman e direção musical de António Macedo, «Mafaldas & CIA» inspirou-se na obra «Mafalda» de Quino e procurou fazer uma comparação entre a escola atual e a que existia durante o Estado Novo, em que meninas e meninos
estavam separados e pouco espaço havia para a brincadeira. Seguiu-se «A árvore da sapiência», com encenação de Maria João Gonçalves, Teresa Henriques e Rita Peres Beckman e criação e direção musical de António Macedo, com a participação especial de Francisca Mendonça e Luísa Peres, e que teve como figura central uma árvore de animatrómica concebida pelos alunos do Curso TGPSI – 2.º PC e com montagem de Vítor Gonçalves, Paula Guerreiro e Maria José Carocinho.
As duas peças inseriram-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 e contaram com o apoio da Câmara Municipal de São Brás de Alportel e do Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas.
PAUS APRESENTARAM FORMATO NO CINETEATRO
Texto: Fotografia:
APRESENTARAM NOVO DISCO E
CINETEATRO LOULETANO
Cineteatro Louletano
assistiu, no dia 9 de junho, à nova forma, novo disco e novo espetáculo dos PAUS, sob o mote de que o “controlo é uma ilusão”. Em 2023, Hélio Morais, Fábio Jevelim, Makoto Yagyu e Quim Albergaria não são, de facto, os mesmos PAUS, mas mantêm prazer na pergunta e no que há de mais volátil nas respostas que a música lhes devolve. “Bora ser mais, ser outra coisa. Um som que não dê para circunscrever nem controlar. Bora a sítios onde nunca
estivemos e bora levar amigos”, refere a banda.
Foi quase exatamente por estas palavras que a banda decidiu juntar CAOS há equação para criar um novo disco e um novo espetáculo. Deste modo, «PAUS e o CAOS» é o sítio novo onde a banda chegou, com a colaboração de Iúri Oliveira nas percussões, João Cabrita nos sopros e Iguana Garcia na guitarra. A música que fizeram vibra em frequência onde os PAUS não tinham chegado ainda, há uma liberdade que só podia vir da decisão de abrir mão de controlo e deixar os limites estabelecidos caírem. Um concerto que levou o Cineteatro Louletano ao rubro.
MOURA ENCANTADA VOLTOU A APARECER NO CASTELO DE TAVIRA
nserido nos festejos do Dia do Município de Tavira e dos Santos Populares, a «Armação do Artista» levou a cabo, na noite de 23 de junho, no Castelo de Tavira, mais um ensaio em torno da lenda da Moura Encantada. A estrutura cultural liderada por Vítor Correia voltou a promover a envolvência da própria comunidade no ato criativo e o resultado foi, de facto, de grande qualidade, para satisfação das centenas de pessoas que encheram o espaço a céu aberto, sob a luz das estrelas, em frente ao imponente monumento da cidade do Rio Gilão.
Reza a antiga crença que, na cidadela mourisca de Tavira, à meia-noite da noite de São João, aparece, sobre o terrado da muralha do Castelo de Tavira, uma formosa moura, ansiando pelos amores
de um cavaleiro que lhe possa quebrar o encanto. Diz-se que a jovem era a filha de Aben-Fabila, o governador mouro que fugiu aquando da conquista de Tavira pelos cristãos liderados por D. Paio Peres Correia. Antes disso, porém, encantou a filha para que os soldados dela não abusassem, com a promessa de regressar para reconquistar a cidade e a resgatar. Contudo, tal nunca veio a acontecer.
A lenda conta igualmente a história de D. Ramiro, cavaleiro cristão que se apaixonou pela moura encantada, precisamente numa noite de S. João, pela sua extraordinária beleza, mas também pela infelicidade da sua situação. Perdido de amores, resolveu subir ao castelo para a desencantar, mas a escala dos muros demorou tanto que, quando finalmente chegou ao topo, já o sol brilhava no céu e tinha passado a hora de se almejar o
desencanto. A frustração do jovem cavaleiro foi de tal ordem que batalhou com tremenda fúria os mouros, mas nunca chegou a reencontrar a sua moura encantada.
Ainda hoje a noite de São João é bastante festejada em Tavira e, mal se escutam as 12 badaladas, todos recordam a moura encantada que surgirá dos muros do Castelo de Santa Maria. E assim aconteceu, novamente, no dia 23 de junho, com a história a ser interpretada por um extenso elenco composto por Carla Sofia Ferreira, Filipe Bagarrão, Carlos Silva, Joana Pires, Carolina Fonseca, Henrique Vicente, Celso Candeias, Emanuela Furtado, Orlando Teixeira, Ricardo Gonçalves, Domingos Ramalho, Ana Palmeira, Débora Caldas,
Kinga Subicka, Isadora Athayde, Mariana Araújo, Vera Beldade, Sandro Carepa, Rui Maria, Eduarda Terremoto, Joaquim Santos, Maria Lazarina, Maria Leonor, Marlene Rodrigues, São Carmo, Nísia Afonso, Martial Pinto, Daniel Colla, Isabel Coelho, Sandra Duarte, Paulo Moreira e Ana Teresa Andrade. Já o elenco infantil foi constituído por Óscar Correia, Sancho Lampreia, Vasco Gonçalves, Madalena Fialho, Matilde Fialho, Maria Inês Mártires, Inês Teixeira, Enzo Galvão, Penélope Beldade, Margarida Maria e Lia Sousa. O espetáculo tem conceção e direção artística a cargo de Vítor Correia, a direção do elenco infantil é da responsabilidade de Ana Teresa Andrade, a cenografia é de Miguel Martinho e a direção e operação técnica de Stelmo Barbosa.
Adeus! Júlio Ferreira (Inconformado encartado)
abem aquela sensação de estarem com alguém de quem se vão despedir em breve e começam logo a sentir saudade por antecipação, sem disfrutar do momento? Confesso que já me aconteceu com algumas pessoas. Mas acabo de sentir isso com umas divinais sardinhas assadas.
Entre as muitas coisas para as quais não tenho jeitinho nenhum (para além de dançar), dizer adeus talvez seja uma das principais. Pelo que tenho assistido ultimamente, neste (e só neste) particular, não sou muito diferente dos «Ronaldos» e «Bidens» (com as devidas diferenças), desta vida nas mais variadas áreas. Viciados nos holofotes, pensam ser o centro do universo e por isso são na maioria arrogantes, muito acima de todos os outros mortais e, por isso, não passíveis de crítica, têm poder, têm dinheiro, muito dinheiro e não lidam bem com a despedida, o saber dizer adeus na hora certa. Sair com aplauso por tudo o que foram e fizeram e não com apupos e críticas, deixar saudades. Eu? É mais…sardinhas!
Sei que vou ser criticado por todos aqueles que professam cegamente este «Cristianismo» do século XXI, e mais sagrado dos mandamentos: “não criticarás o capitão”. Mas no desporto, na política, na música ou noutras áreas, é essencial saber encerrar ciclos, dar lugar a outros. O
mesmo se passa nas relações amorosas e nas (falsas) amizades. A forma como te tratam e falam contigo é sinal de que o ciclo já está encerrado há muito, mas teimamos em acreditar que aquela luz ao fundo do túnel não é o comboio da realidade a vir na nossa direção. Segundo o Ricardo Araújo Pereira: “quando dizemos adeus estamos a enunciar uma versão abreviada da expressão recomendo-te a Deus”. Digo eu… que é só mais uma das muitas influências que a religião tem na nossa língua e nas coisas mais básicas que ela expressa. A religião, seja ela qual for, sempre esteve presente ao longo da história da humanidade, assumindo as mais distintas formas, em tempos também eles distintos. Já o escrevi aqui, que nós portugueses tivemos o azar de nos calhar a religião cristã, coisa que normalmente escandaliza os meus amigos mais tementes e que normalmente acaba em tristes cenas de pancadaria selvática, à boa maneira cristã. Há que preservar as tradições. Mas nem todos os povos têm este mau feitio dos católicos. Até os italianos, esses católicos convictos, se aperceberam do significado do termo e criaram o “Ciao”. Já o “Arriverdeci” foi criado em 1968. A cantora italiana Caterina Caselli disse “Arrivederci amore, ciao” para se despedir de um amor que chegou ao fim. Por isso o “Ciao” é o jeito mais informal e mais popular de se despedir em italiano. Todavia, eu não acho que o “Ciao” seja uma palavra que dignifique a separação, até porque os italianos a usam arbitrariamente, seja para
significar “Olá” ou “Adeus”, que é a mesma coisa que dizer que «estares aqui ou estares ali, para mim é a mesma coisa», o que não é uma coisa educada para se dizer a outra pessoa, principalmente se gostarmos dela. Mas sempre chega a hora que tem de ser!
Quem diria que os “bifes”, têm uma maneira mais civilizada de se despedirem. Se analisarmos o sentido de “goodbye” veremos que este significa algo do tipo “boa passagem” (que em português correto seria “passa bem”). É infinitamente melhor do que recomendar alguém a Deus. O “Goodbye” dos ingleses encerra um desejo altruísta, com uma pitada de egocentrismo, de que o outro esteja bem mesmo quando não está perto de nós.
Os japoneses têm mais de 10 formas de se despedirem. É mesmo de ficar com os olhos em bico. Pessoalmente, gosto da maneira japonesa da despedida, na zona de Tóquio: “Mata Aimashou”. Não faço ideia do que significa, mas este “Mata ai Macho” nipónico, soa bem. A expressão “Jā mata ne” que significa “Te vejo de novo” não é tão simpática.
Já os finlandeses têm a expressão «Heihei» para adeus. Eu confesso que seria bem-vindo à língua portuguesa, principalmente para utilizar sempre que nos despedimos de certas pessoas.
Pura ironia, são os franceses e os alemães (organizadores do Euro 2024) que têm a maneira mais simples de despedida. Sem floreados e merdices desnecessárias: “Au revoir” (Adeus, até mais) e “Auf Wiedersehen”, que significa “até à vista”, não têm segundos significados. Como vou deixar de te ver e, portanto, até um dia destes em que nos veremos novamente. Sempre é mais agradável do que “Adeus”, com tudo o que isso implica.
Ronaldo, há luzes que não se apagam. A tua é uma, que ficará eternamente acesa na cabeça dos que te viram espalhar magia por esses relvados. Mas à medida que as pernas já não reagem, que os remates vão passando por cima da barra, ao lado, contra o guarda-redes, contra a multidão, um pouco do teu brilho vai desaparecendo e as tuas fragilidades humanas ficam à vista de todos. O sucesso é inebriante e a despedida veste de angústia e silêncio como se de roupas duras de luto se tratassem. Mas… obrigado e adeus.
Nuno Campos Inácio (Editor e escritor)
oucas pessoas conseguem, em tão pouco tempo de vida, realizar uma mudança tão profunda numa região, quanto Paulo Pinheiro. Ainda não tinha 30 anos, quando começou a apresentar os primeiros esboços de um sonho: um autódromo internacional na sua terra natal.
Partiu aos 52 com esse sonho materializado, deixando-nos como obra de vida o Autódromo Internacional do Algarve, que possui uma dimensão e uma abrangência muito superiores à do equipamento desportivo, compreendendo além da componente turística, comercial e imobiliária, uma vertente de centro de investigação tecnológico que contribuirá para a evolução do desporto motorizado e não só.
Uma vida ligada à alta velocidade em tudo, até no reduzido tempo de vida, considerando o muito que dele ainda seria de esperar.
O real impacto do Autódromo Internacional do Algarve, enquanto investimento privado, só é comparável a dois grandes investimentos de referência na região algarvia e que conseguiram moldar a dinâmica económica e social dos locais onde foram implementados,
sendo duas referências da região alémfronteiras: a Marina de Vilamoura e a Quinta do Lago, que tal como o AIA tiveram a particularidade de partirem de uma espécie de «ground zero», criando novas centralidades regionais. A diferença é que esses dois equipamentos já tiveram tempo de maturação, enquanto o AIA ainda está na infância.
Tirando o fatalismo inerente à expressão popular de que «cada um é para o que nasce», certo é que alguns indivíduos parecem «pré-destinados» a grandes feitos. A paixão natural de Paulo Luís do Carmo Pinheiro pelo desporto motorizado, a sua prática desportiva, o contacto privilegiado com grandes marcas e investidores e a proximidade com os decisores, possibilitaram-lhe a realização do seu sonho, mesmo sabendo-se que nada foi fácil ou dado de bandeja.
Contrariando a teoria de que «ninguém é profeta na sua terra», Paulo Pinheiro conseguiu ter a inteligência, a astúcia e a competência de se moldar às circunstâncias e a capacidade de se resignar à crítica atroz, à maledicência e ao ataque político, em nome da concretização de um projeto à dimensão da sua alma e do seu humanismo. Conseguiu, assim, não só criar o equipamento, como inscrever Portimão e o Algarve nos calendários de provas mundiais, atingindo o topo com a F1 e
colocando a sua terra nos mapas do desporto motorizado.
Paulo Pinheiro perpetua-se, no seu legado, mas também na sua vida, sendo oportuno referir que o seu filho Bernardo Pinheiro já representa o nosso país em competições internacionais.
Por vezes, as obras terminam com a vida dos seus criadores, porque não passavam de projetos individuais. Não será o caso daquele que foi iniciado por Paulo Pinheiro, por ser coletivo, mas,
também, porque não faltará quem lhe queira prestar a homenagem de dar continuidade ao seu legado.
Num país onde o reconhecimento costuma ser tardio, mesmo quando falamos dos gigantes, ficará sempre a dívida daquela homenagem que lhe era devida por tudo o que realizou. Neste momento, à sua dimensão, só restará a homenagem da atribuição do seu nome ao AIA.
Uma realidade de contradições
João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário)
stamos a viver um período farto em contradições. Elas surgem na nossa pacata realidade quase diariamente e cada vez mais associadas a uma actividade política que as favorece. Basta estar atento e rapidamente são detectadas. Ao contrário de muitas espécies animais e vegetais, não estão em extinção. Pelo contrário. Qual ser vivo expansionista que se entranha subtilmente no nosso dia a dia ao ponto de se tornar banal. Eis uns exemplos recentes.
Lei do Restauro na Natureza
Aprovada recentemente em Bruxelas –com o voto favorável de Portugal e muito bem! – esta lei estabelece metas concretas a alcançar por cada Estadomembro ao nível de diversos parâmetros ambientais, nomeadamente da preservação dos rios. Segundo este diploma – reforçado ainda pelo programa «Dam Removal Europe» – 25 mil quilómetros de cursos naturais de rios terão de ser restaurados no espaço da UE. Ora, como é que se cumpre esse desígnio em Portugal, se a pressão para construir novas barragens não cessa? No Algarve, as exigências dos agricultores chegam já às 4 novas barragens, sendo a da Foupana a mais cobiçada. E no Tejo, por seu lado, o mesmo lobby do regadio,
insiste no projecto «Alqueva do Ribatejo», que contempla 6 ou 7 açudes entre Vila Franca de Xira e Abrantes, com 6 a 12 metros de altura, criando, segundos os defensores deste megalómano projecto, um corredor navegável entre Lisboa e Abrantes e o dobro da área de regadio de todo o plano de irrigação do Alqueva! É, pois, difícil compreender como se alinham estes projectos com os compromissos assumidos pelo Estado Português aquando da aprovação do referido regulamento europeu.
Espaços verdes urbanos
Segundo ainda a mesma lei, os Estadosmembros terão de assegurar que, e cito “... não haja perda líquida na área nacional total de espaço verde urbano e de coberto arbóreo urbanos”. Mas mais uma vez a realidade brinda-nos com cruas contradições. Além das terrificas podas a que temos vindo a assistir em várias cidades e aldeias – inclusive nas zonas rurais – deixando centenas de árvores moribundas, em estado esquelético e as ruas sem sombras, note-se para o que está a acontecer em vários locais do país perante o enorme problema de falta da habitação: a «canibalização» dos espaços verdes públicos. Não havendo terrenos urbanos públicos suficientes para a construção de habitação acessível, «atacam-se» as áreas verdes públicas, convertendo-as e desfigurando a função
primordial para que foram inicialmente consagradas. O fenómeno já tem exemplos concretos, como o da Escola Superior Agrária de Viseu, onde grande parte dos seus 45 hectares de solos rústicos foram convertidos em arruamentos e estradas para receber dezenas de lotes. No Algarve ainda não se conhecem exemplos, mas será provavelmente uma questão de tempo. A AHETA, por exemplo, já veio apelar aos municípios da região para que cedam terrenos, a preços especiais, para aí construírem «habitação social» para a sua massa laboral migrante. O turismo, um
dos principais responsáveis pela galopante especulação imobiliária e dos preços proibitivos do arrendamento, vem assim apelar ao sector público para o beneficiar face a um problema por ele criado e ampliado. No mínimo curioso.
Habitação
Este problema não tem uma solução simples. E não se resolve apenas com uma medida. Terão de ser várias, como tem sido amplamente debatido. Mas algumas deverão ser dirigidas à procura, como aliás se está a assistir em vários
países da Europa. Veja-se o que Barcelona decretou recentemente. Em Portugal, pelo contrário, o Governo acaba de anunciar novos incentivos fiscais para residentes não habituais – desta vez para profissionais – e facilitar novas licenças de AL. Por mais habitação a valores controlados que se instale, havendo procura para os que se praticam, não me parece que estes venham a decrescer. Portanto, entre o que se defende e o que se pratica há, novamente, algo de incoerente, para não dizer de contraditório.
Água
O debate sobre a água e a sua gestão sustentável no Algarve veio para ficar. Não há como discordar disto. Mas a forma como essa gestão é conduzida já não é unânime. Se, por um lado, há que garantir que seja usada de forma eficiente, tal não significa que possamos continuar a aumentar indefinidamente o seu consumo. Mas é isso que aparenta. Veja-se o que se perfila em termos de crescimento de camas turísticas no Algarve nos próximos tempos (apenas alguns exemplos): Herdade do Arade (+2.000 camas, mesmo ao lado do já existente Morgado do Reguengo); Baía de Lagos, largas centenas de novas camas turísticas; Carvoeiro (74 lotes), Porshes (55 lotes), Vilamoura World (vários aldeamentos em construção), Vale de Lobo (mais 460 unidades planeadas) ou Castro Marim (hotel em construção, com 197 quartos), entre muitos outros. Estará alguém a contabilizar todos estes futuros consumos e a integrá-los em algum plano de gestão hídrica no Algarve? (ps – sobre
este tema, veja-se o que se passa actualmente em Mallorca, Espanha, onde já está a haver racionamento diário do consumo de água https://www.diariodemallorca.es/partforana/2024/06/13/son-municipiosmallorca-aplican-restricciones103705147.html)
Praia da Falésia
Esta praia foi premiada no início do ano como uma das mais belas do mundo pela TripAdvisor, segundo a escolha dos muitos milhares de utilizadores daquela plataforma. Um motivo que nos deveria orgulhar. Mas, como compensação, é precisamente ali que se pretende instalar a conduta de descarga de salmoura da tão discutida dessalinizadora, algo que irá necessariamente afectar a arriba e induzir alterações sérias na paisagem local. Há coerência nisto?
Muitos outros exemplos poderia aqui descrever aludindo a esta incapacidade do poder político corresponder aos compromissos assumidos em diferentes sectores. Mas estes bastam para mostrar que caminhamos dois caminhos distintos: o das promessas e o da realidade. E é este último que nos ditará o futuro.
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