ALGARVE INFORMATIVO
Turismo de Portugal e Turismo do Algarve convocam turistas para a poupança da água (pág. 24)
Algarve Classic Cars (pág. 32)
Algarve homenageou os seus atletas olímpicos (pág. 42)
«Arrêt D’Urgence» em Portimão (pág. 50)
Kickboxing em São Brás de Alportel (pág. 68)
Expensive Soul em Lagos (pág. 96)
«A Secreta Vida das Palavras» em Tavira (pág. 110)
OPINIÃO
Mirian Tavares (pág. 122)
Nuno Campos Inácio (pág. 124)
Gabriela Pacheco (pág. 126)
Turismo de Portugal e Turismo do Algarve convocam turistas para a poupança de água
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
s turistas que chegaram, no dia 23 de julho, ao Aeroporto de Faro, depararamse com seis malas cheias de água (40 litros cada uma) a rodar nos tapetes da área de recolha das bagagens e que simbolizam a quantidade de água que cada visitante pode poupar diariamente através de um uso mais consciente e responsável deste recurso.
A iniciativa contou com a presença do Secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, do Presidente da Região de Turismo do Algarve, André Gomes, da Vogal do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal, Lídia Monteiro, e da Chief Operational Officer da ANA Aeroportos, Chloé Lapeyre, e inseriu-se na campanha «Save Water» que, até ao final do ano, vai estar em outdoors na região do Algarve e em meios digitais nacionais e nos
principais mercados emissores de turistas. “Reduzimos em 16 por cento os consumos de água, no primeiro semestre de 2024, graças ao desenvolvimento de medidas de eficiência hídrica, e estamos a trabalhar com a «Águas do Algarve» num projeto de reutilização de águas residuais tratadas provenientes da ETAR de Faro para regas, limpeza de pavimentos e testes com viaturas de socorro. Um projeto que representará uma redução de 30 por cento dos consumos de água”, destacou Chloé Lapeyre. “Todas estas ações inserem-se numa estratégia de sustentabilidade que integra três eixos: energia e alterações
climáticas; economia circular; e proteção dos recursos naturais. Portugal é o primeiro país do mundo a ter a sua rede de aeroportos com a certificação máxima em carbono, com o objetivo de atingir as 0 emissões até 2030 e reduzir em 66 por cento as nossas emissões absolutas, meta que o Aeroporto Gago Coutinho irá alcançar em parte já em 2025”, enalteceu a Chief Operational Officer da ANA Aeroportos.
Nesta sessão no Aeroporto Internacional de Faro foram também apresentados os resultados das ações de poupança de água na região, com o Presidente do Turismo do Algarve a sublinhar que, entre janeiro e maio, e de
acordo com dados da ADENE – Agência para a Energia, a redução do consumo global de água alcançada pelos empreendimentos turísticos aderentes ao selo de eficiência hídrica Save Water foi de 12 por cento. “Num universo de cerca de 600 unidades, de 130 mil camas, até ao dia 18 de julho aderiram ao selo Save Water, através do registo na plataforma «Compromisso com a Eficiência Hídrica no Algarve», 110 empreendimentos turísticos, representando cerca de 40 mil camas, 80 por cento dos quais estão já em fase avançada de implementação de medidas e em linha com o plano de ação. Os concelhos que registam mais adesões dos respetivos empreendimentos, em termos
absolutos, são Albufeira, Loulé, Lagoa e Portimão, e os números de aderentes atuais representam 31 por cento da oferta de camas em empreendimentos turísticos disponíveis na região”, adiantou André Gomes.
Na opinião do Presidente do Turismo do Algarve, “o desafio hídrico no Algarve impulsionou uma transformação profunda no sector turístico”. “Através do selo Save Water estamos a incentivar a adoção de práticas inovadoras para reduzir o consumo de água e a adesão dos nossos parceiros demonstra um forte compromisso com a sustentabilidade. Cada hotel que adere ao selo tem que adotar um plano de ação com um
conjunto de 30 medidas a implementar até ao final do ano. Temos selecionadas 2.377 medidas por parte das unidades aderentes, das quais 53 por cento já foram concretizadas. Acreditamos que, ao promover a eficiência hídrica e a sensibilização para a importância da água, construiremos um futuro mais sustentável para a região. A colaboração entre todos é fundamental para superar este desafio e posicionar o Algarve como um destino de referência em termos de turismo sustentável”, defendeu.
A campanha «Save Water», a decorrer até final do ano, visa fomentar a utilização consciente da água. Pretende-
se, assim, alertar os turistas para a importância de adotarem boas práticas de uso da água e convidá-los a usufruírem das suas férias de uma forma mais sustentável, contribuindo para uma proteção efetiva dos recursos através de uma atitude consciente e responsável. Esta atitude é ainda mais relevante num contexto de alterações climáticas onde a água é um dos recursos que precisa de ser protegido. Por isso, Lídia Monteiro, Vogal do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal, lembra que “a promoção de Portugal como um destino sustentável é fundamental e a campanha Save Water reflete esse compromisso” “Por via de ações de sensibilização junto dos turistas, como aquela que aqui realizamos hoje, estamos a destacar a importância da
preocupação ambiental e a envolver os visitantes na proteção dos nossos recursos hídricos. A meta é transformar cada turista num agente ativo e positivo na utilização eficiente da água, contribuindo para um futuro mais sustentável para todos”, explicou.
A encerrar a sessão, o Secretário de Estado do Turismo reforçou que os recursos hídricos são imprescindíveis à vida humana e que estão, neste momento, sob uma forte pressão. “O turismo é uma constelação transversal a todos os sectores de atividade, pelo que temos que olhar para todas as iniciativas e novas metodologias como a eficiência hídrica e energética. Estamos a consumir de forma mais racional o recurso hídrico que
temos disponível, todos os parceiros estão comprometidos com a sustentabilidade e percebemos que é possível, apesar da redução dos consumos globais em matéria hídrica, manter a performance e a atratividade do destino Algarve”, declarou Pedro Machado, acrescentando que este compromisso é nacional e não apenas do Algarve.
Para além da sustentabilidade, o governante entende que é fundamental que os consumidores mantenham a sua confiança no Algarve, daí a importância de campanhas como aquela que aconteceu no Aeroporto Internacional de Faro. “Se passássemos a imagem, ou a perceção, de que estamos num território cujos seus recursos estão a diminuir de forma gradual, estaríamos a comprometer
aqueles e aquelas que queremos, naturalmente, atrair. Podemos ter uma experiência turística de grande qualidade, e podemos e devemos manter a expetativa de prestar um bom serviço aos nossos visitantes, apesar de estarmos num processo de ajustamento em relação à disponibilidade dos recursos existentes”, frisou o Secretário de Estado do Turismo, uma confiança que se pretende estender aos próprios empresários e investidores. “Queremos manter e fazer crescer os modelos de negócios que temos e, nesse sentido, este destino está a trabalhar com todos os seus agentes para dar uma garantia de confiança àqueles que desejam investir na região. O turismo é uma
indústria poderosa para Portugal, tem que confirmar a sua curva de crescimento, e que este seja sustentável, em paralelo com a qualificação da experiência turística; e, ao mesmo tempo, temos que manter o grau de satisfação das nossas comunidades. O turismo é uma vantagem económica para os territórios e os dados apontam que os 25 mil milhões de euros de receitas de 2023 possam chegar, em 2024, aos 27 mil milhões de euros. E essa arrecadação de receitas tem que representar vantagens competitivas para os territórios, com vista também a um país mais coeso”, enfatizou Pedro Machado.
Evandro Gueiros e Adriana Gueiros foram os vencedores do Algarve Classic Cars 2024
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Bernardo Lúcio vandro e Adriana Gueiros venceram a 31.ª edição do Algarve Classic Cars, prova que contou com mais de 100 exemplares naquele que é considerado o maior rali de regularidade de automóveis clássicos em Portugal.
Aos comandos de um Porsche 911 de 1970, a dupla foi superior e triunfou na classificação geral ponderada deste evento organizado pelo Portugal Classic
em conjunto com o Clube Português de Automóveis Antigos e que decorreu nos dias 13 e 14 de julho. Os vencedores da prova do percurso desportivo, na categoria C, foram o piloto Genésio Laranjo e o navegador Fernando Laranjo, com um Ford A Phaeton de 1928; na Categoria D, o piloto Paulo Rosário e a navegadora Ticia Peixoto, em Plymouth P-8 de 1939; e na Categoria E, o piloto Pedro Carregosa e a navegadora Ekta Sureschandre, com um Jaguar MK 2 de 1960. Na Categoria F, os vencedores absolutos foram então o piloto Evandro
Gueiros e a navegadora Adriana Gueiros; na Categoria G os primeiros foram o piloto Manuel Guerreiro e o navegador Pedro Condessa, em Ford Taunus de 1976; enquanto o piloto Ivo Tavares e o navegador João Paulo Martinho, em Subaru Vivio GLI de 1993, dominaram a Categoria H.
O destaque desta edição foi a inédita presença em Lagos, proporcionando aos participantes uma visita a uma das cidades mais carismáticas do Algarve. O público voltou a estar presente durante
todo o evento, tanto na Marina de Vilamoura como nos locais de partida e chegada das etapas, com destaque para Albufeira, Lagos, Armação de Pêra e São Brás de Alportel. O Algarve Classic Cars é considerado um dos maiores eventos europeus de automóveis clássicos, pelas suas características únicas, com base numa das marinas mais premiadas da Europa e com um programa de elevada qualidade nas vertentes turística e desportiva.
António Miguel Pina, Ana Cabecinha, Custódio Moreno, Paulo Murta, José Apolinário e André Gomes
IPDJ prestou homenagem aos atletas algarvios que vão aos Jogos Olímpicos Paris 2024
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude, em Faro, promoveu, no dia 24 de julho, uma receção à missão olímpica algarvia, representada por Ana Cabecinha, atleta de marcha que vai participar pela quinta vez na maior prova desportiva à escala global e que
será, precisamente, um dos dois portaestandartes da bandeira de Portugal, a par do canoísta Fernando Pimenta. O momento pretendeu ser um reconhecimento por todo o esforço, entrega e dedicação de anos que permitiu a estes oito «algarvios» atingirem o patamar de atleta olímpico e, desta forma, representar o nosso país ao mais alto nível em várias modalidades desportivas.
A presença nos Jogos Olímpicos de Paris em 2024 foi uma grande conquista alcançada por 73 atletas portugueses, oito deles provenientes do Algarve, nomeadamente: Ana Cabecinha –Atletismo (20kms marcha); Fatoumata Diallo – Atletismo (400mt barreiras); Isaac Nader – Atletismo (1500mt); Daniela Campos – Ciclismo (Prova de fundo – estrada); Gabriel Albuquerque –Ginástica (Trampolim individual); Yolanda Hopkins – Surf; Eduardo Marques – Vela (Ilca 7); e Miguel Nascimento – Natação. “Estamos aqui num gesto nobre, o mínimo que podemos fazer por estes homens e mulheres que dedicaram a sua vida ao desporto, horas sem fim que não estiveram com as suas famílias, vivências que não
tiveram, para dar tudo pela sua bandeira e pelo espírito olímpico”, enalteceu Custódio Moreno, Diretor Regional do Algarve do IPDJ. “O desporto é, acima de tudo, uma festa, união, paz, concórdia, viver com mais qualidade de vida, sabendo que o futuro depende de nós”, reforçou.
A este momento de muito orgulho para o desporto algarvio não faltaram diversas entidades e autarcas regionais, com António Miguel Pina, presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, a recordar que, nos tempos antigos, todo o mundo parava para assistir aos Jogos Olímpicos, inclusive conflitos e guerras que estivessem a acontecer. “Estes talvez sejam os primeiros Jogos Olímpicos que se
conflituoso como o que vivemos atualmente. É um evento em que todas as modalidades desportivas sobressaem, não se fala apenas de futebol, e o desporto só existe porque existem atletas, clubes, dirigentes e associações, e
porque o Estado Português há muitos anos que não tem uma verdadeira política de financiamento do desporto”, apontou o também presidente da Câmara Municipal de Olhão.
No uso da palavra, André Gomes, presidente da Região de Turismo do Algarve, declarou não ter dúvidas de que estes oito atletas serão dignos representantes de Portugal e do Algarve e lembrou que o turismo e o desporto caminham frequentemente lado-a-lado em prol da dinâmica da região. “São duas indústrias da paz e quero
deixar uma palavra especial para todos os atletas, treinadores e equipas técnicas que se vão deslocar a Paris para levar a nossa bandeira a um evento de tão elevado prestígio”. A encerrar os discursos de acolhimento subiu ao palco José Apolinário, presidente da CCDR
Algarve, que de imediato frisou que “temos que ter sempre orgulho em todos os nossos atletas” “Há que elogiar a dedicação dos treinadores, das pessoas que formam os futuros atletas, dos dirigentes que fazem acontecer desporto, e é um orgulho ter a Ana Cabecinha como porta-estandarte da bandeira de Portugal, porque isso é também um sinal de reconhecimento da carreira que construiu na sua modalidade, da sua capacidade de gerir o
dia-a-dia, do seu brio e empenho no atletismo. É preciso olhar para os bons exemplos e estar nos Jogos Olímpicos tem que ser um orgulho para todos nós”, concluiu José Apolinário.
CONCERTO ACROBÁTICO DESLUMBROU PLATEIA DE PORTIMÃO
«ARRÊT D’URGENCE»
DA ZONA RIBEIRINHA
e 18 a 20 de julho, a zona ribeirinha junto ao Clube Naval de Portimão viveu um autêntico rodopio por conta do fantástico espetáculo de circo acrobático «Arrêt D’Urgence» (Paragem de emergência) protagonizado pela companhia francesa Akoreacro, no âmbito da programação artística criada pela Lavrar o Mar –Cooperativa Cultural, sob organização do Município de Portimão, para a celebração do primeiro centenário da cidade.
O espetáculo de novo circo e música não deixou ninguém indiferente, até porque nada correu como planeado, nem nas acrobacias, nem nas corridas de velocidade, tanto mais que os dois
alegres apresentadores (que, por vezes, também estavam a arder…) não sabiam para onde se virar, tendo o beat box e o techno em chamas como pano de fundo. Antes do arranque, o piano de cauda estava no lugar e os músicos afinaram uma última vez antes de se lançarem numa deslumbrante sonata ensaiada vezes sem conta. O problema é que, quando chegou a hora do grande e muito aguardado concerto, todos os planos foram por água abaixo, com o ensemble de música clássica e a troupe de ginástica acrobática em constante conflito a ver quem levava a melhor.
Feitas as contas, o grande vencedor foi o público que se juntou no local e que não parou de rir e aplaudir do princípio ao fim. Uma aposta bem-sucedida.
SÃO BRÁS DE ALPORTEL COM A X GALA SUMMER
ALPORTEL VIBROU SUMMER FIGHT NIGHT
ão Brás de Alportel assistiu, no dia 13 de julho, no Polidesportivo
Gonçalo Assunção, à X Gala Summer Fight Night do Clube Artes
Marciais de São Brás de Alportel, que se encontra a assinalar os seus 40 anos de história e excelência desportiva. O emblemático evento é o resultado do árduo trabalho de mais de 55 indivíduos dedicados e determinados em elevar o significado de entretenimento desportivo, e contou com oito combates de kickboxing de neoprofissionais e profissionais, para além de uma pré-gala com quatro combates de demonstração.
Num espetáculo recheado de efeitos visuais e pirotécnicos e muita música, o final de tarde foi marcado pela realização de quatro combates de demonstração protagonizados pelos jovens Elisa
Portela, Inês Rato, Sofia Yefimchuk, Inês Rocha, Beatriz Guerreiro, Lourenço Gonçalves e Marwan Carmezero. Já depois do sol-posto arrancaram os combates de neoprofissionais, com o primeiro a opor o atleta do Clube Artes Marciais de São Brás de Alportel, Tomás Assunção, a Diogo Oliveira, da Top Team LA. Este último viria a vencer, ainda no decorrer do primeiro round, por desistência do adversário.
Seguiu-se o combate entre Afonso Marques, da Warriors Family, e Jairo Ramirez, do Team Jesus Cabello, e, após quatro intensos rounds de dois minutos, a vitória foi para Afonso Marques, aos pontos. Mais rápido foi o terceiro combate, entre Mustapha Habubi, do Team Jesus Cabello, e Ivo Duarte, da Thai Kick Team, com o português a infligir um KO ao seu oponente logo no primeiro round. No quarto combate da noite tivemos mais um atleta da casa em ação,
Jean Portela, que ganhou por KO, no segundo round, sobre o adversário Fadil Soukhman, do Club Shark Team. A terminar os neoprofissionais, mais um aceso duelo entre Gustavo Ascenso, da Thai Kick Team, e César Martinho, do Real Sport Clube, com quatro rounds de dois minutos muito bem disputados e a vitória a ir, aos pontos, para Gustavo Ascenso.
Chegava a hora dos combates que tinham em disputa os cintos da X Gala Summer Fight Night. No primeiro duelo entre os kickboxers mais experientes, Jocimar Ferreira, do Clube Artes Marciais de São Brás de Alportel, subiu pela última vez ao ringue, enquanto atleta, para defrontar Fábio Medinas, do Kombate Fácil. Fábio que levou a melhor, aos pontos, após quatro rounds bastante aguerridos. Também a jogar em casa
estava Cláudio Pires, do Clube Artes Marciais de São Brás de Alportel, que defrontou Mário Gomes, da M.A. Fighting Team Madeira. Um duelo feroz e bastante equilibrado que terminou, no terceiro round, quando o árbitro interrompeu por lesão de Cláudio Pires, com o triunfo a ser então atribuído a Mário Gomes.
A noite terminou em beleza com o regresso aos ringues de Miguel Martins, do Clube Artes Marciais de São Brás de Alportel, que teve pela frente Ruben Marques, da LA Team. Quatro rounds emocionantes em que Miguel conseguiu estar sempre por cima, pelo que não foi surpresa a sua vitória aos pontos. Uma gala muito bem conseguida que foi ainda mais abrilhantada pelas atuações do grupo Os Carolas e da banda Superpop.
LOUCURA EM LAGOS COM OS EXPENSIVE
Texto: Fotografia:
LAGOS EXPENSIVE SOUL
35.ª edição do Feira Concurso
Arte Doce, em Lagos, arrancou da melhor forma no dia 24 de julho, com um estrondoso concerto dos Expensive Soul, banda da Leça da Palmeira composta por António Conde, conhecido como Demo (MC), e Tiago Novo, ou New Max (cantor/MC/músico/produtor).
Formados em 1999, saltaram para o estrelado em 2004 com o lançamento do primeiro disco, «B.I.», onde pontificava o seu primeiro grande êxito, «Eu Não Sei».
Com uma sonoridade muito particular que vai desde o soul e reggae até ao R&B e hip-hop, a dupla possui uma forte componente orgânica que se começou a evidenciar a partir do segundo disco «Alma Cara», editado em 2006, e que continua a atrair uma numerosa legião de fãs para concertos bastante energéticos onde Demo e Nex Max se fazem acompanhar pela Jaguar Band. E assim voltou a acontecer na noite de 24 de julho em Lagos, perante uma imensa plateia humana que não arredou pé até ao final do espetáculo, cantando e dançando os sucessos dos Expensive Soul.
«CENAS NA RUA» LEVOU
VIDA DAS PALAVRAS»
LEVOU «A SECRETA PALAVRAS» A TAVIRA
18.ª edição do Cenas na Rua –Festival Internacional de Teatro e Artes na Rua voltou a ser um sucesso, trazendo até Tavira diversas propostas culturais de diferentes estilos numa organização da autarquia local. Um dos destaques foi a apresentação, no dia 12 de julho, na Praça da República, de «A Secreta Vida das Palavras», um projeto onde as palavras se mostram e se escondem, porque as palavras habitam o mundo e a alma, têm vida própria, discreta ou exibicionista, gentil ou
reivindicativa, e assumem formas inesperadas vindas de lugares também eles inesperados.
Presente desde a primeira edição do festival MAP – Mostra de Artes da Palavra, este evento dá a conhecer as ligações secretas entre a escrita, o olhar e a música, partindo de um concurso de fotografia e culminando numa criação literária e musical. Desta feita contou com as participações de Mafalda Veiga, Lavoisier e Catarina Munhá, que trouxeram até Tavira temas inéditos inspirados pelas fotografias e poemas que foram criados neste processo.
Do terraço
Mirian
Tavares (Professora)
terraço parece um campo de batalha. As cadeiras tombadas, carcomidas pela maresia e pela exposição às intempéries; o panejamento da pérgula rasgado, parece uma bandeira de um navio antigo, que encalhou e ficou ali – morada de algas, de pequenos peixes e de conchas, que se agarraram ao casco como um apêndice estranho, rude e desigual. A pérgula já não protege do sol ou da chuva. Na verdade, nunca serviu muito bem, foi mal montada, trabalho feito às pressas, que deixou, atrás de si, um rasto de porcas e de parafusos. As plantas quase morreram. Ou melhor, quase sobreviveram – dois ciprestes (tristes) (como o título de um livro da dama do policial, Agatha Christie, que faz aqui uma rima má); a buganvília, que ora cresce ora parece morrer, sem se decidir se floresce ou desiste, como os ciprestes e outras plantas, mais delicadas; o aloévera e a espada de São Jorge vão resistindo, mas sem viço. Há outras plantas que crescem, possivelmente
(...) E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto
ervas daninhas, que brotam sem ser semeadas, ou mesmo desejadas, simplesmente florescem, indiferentes ao mundo que rui à sua volta. As cadeiras de plástico, antes tão coloridas, estão quase sem cor, com ar de peças de uma casa abandonada (o que não está longe da verdade) e as almofadas voam pelo chão, ao sabor do vento, encontrando lugares onde vão se encaixando. Havia desenhos, relevos, texturas. Agora só restam sombras, insinuações de imagens que já não se revelam, perdidas para sempre, por descuido, desleixo, por ausência. Os sofás se partiram, apodreceram. Tudo tem um ar de abandono, como uma metáfora do resto da casa, que é sempre mais que um lugar. Talvez seja hora de fechar as portas e deixar que a ruína transforme o terraço num jardim selvagem. Talvez recupere seu viço. Ou justifique sua existência. O terraço parece um campo de batalha. Duma batalha perdida e desnecessária, como todas as batalhas são.
Este Algarve não é para turistas Nuno Campos Inácio (Editor e escritor)
elo título alguns leitores poderão pensar que o movimento anti turístico chegou ao Algarve. É verdade que, nas mesas de café, ainda meio de surdina, o tema começa a ser abordado e ignorar as suas raízes e motivações poderá vir a produzir maus resultados, mas ainda não é esse o tema deste artigo, que opta por abordar a imbecilidade de decisões políticas e administrativas insensatas e que fazem com que no Algarve, a principal região turística de Portugal continental, se impeça o acesso a locais de atração turística por excelência, prejudicando os residentes e quem nos visita.
Quem, este ano, já se deslocou ao concelho de Vila do Bispo, terá ficado surpreendido com o encerramento do monumento nacional «Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe» e do local mais visitado do Algarve (o terceiro mais concorrido do país), o Forte/Farol de São Vicente, ambos fechados por inqualificáveis (dizer incompetentes ou abusivas, na minha opinião, mostra-se manifestamente insuficiente) decisões do poder central.
O monumento nacional «Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe», tutelada pela Direção Regional de Cultura do Algarve, era gerida (e bem gerida) pela
equipa da Fortaleza de Sagres. Sucede que, com a criação do Instituto Público do Património Cultural, os monumentos com maiores receitas foram transferidos da alçada dos Direções Regionais de Cultura para a nova empresa sediada no Porto. Neste caso concreto, a Fortaleza de Sagres e o seu quadro de pessoal foram transferidos para a gestão do instituto, mas a Ermida de Guadalupe não, ficando, desde logo, sem o seu quadro de pessoal responsável.
Entretanto, a Direção Regional de Cultura do Algarve foi integrada na CCDR Algarve, que recebeu o património, mas ficou privado de uma parte do quadro de pessoal, não conseguindo, de um dia para o outro, contratar pessoas e fazer a gestão direta desse património. E quando dizemos «de um dia para o outro», recordamos que já passaram oito meses, não havendo sequer uma decisão concreta sobre se o monumento será gerido pela CCDR, se passará para a esfera do Município de Vila do Bispo (talvez a opção mais adequada, até com a abertura do novo Museu), ou se será protocolada com alguma outra entidade. Certo é que um monumento que figura em todos os guias turísticos da região, que é apresentado com um local de visita obrigatória, está encerrado. Não é para residentes, nem para turistas.
O segundo caso, com contornos anedóticos, que só não dão para rir porque envolvem a Marinha Portuguesa,
instituição que nos merece o máximo respeito. Segundo informações veiculadas desde o final do Verão de 2023, o encerramento ao público da fortaleza/farol do Cabo de São Vicente resulta de um litígio entre a Marinha e o concessionário que detinha a gestão dos serviços públicos desse espaço. Perante o desacordo, o concessionário terá dito que não saía e a Marinha terá decidido que ele não voltaria a entrar… O problema é que a decisão de que “ele não voltaria a entrar”, arrastou consigo a impossibilidade de qualquer outra pessoa entrar, com o encerramento do espaço ao público. O Algarve deixou, assim, de permitir a visita ao local, que era «apenas» o mais visitado da região e o terceiro mais visitado do país. Por sorte esta decisão foi tomada na última colónia portuguesa, onde ninguém se importa que um Património Cultural Nacional, um
destino turístico de excelência, esteja encerrado durante praticamente um ano, só porque sim, sem qualquer justificação plausível e à revelia de qualquer resolução jurídica dos contratos, aplicando um método engenhoso de resolução de problemas, que deveria estar impedido a todos, mas ainda mais ao Estado (Sim, a Marinha Portuguesa ainda é Estado). Imaginem o que seria se este litígio fosse com o concessionário do Mosteiro dos Jerónimos, da Torre dos Clérigos, do Convento de Cristo, ou do Mosteiro da Batalha e estes monumentos ficassem encerrados ao público mais de um ano, para impedir a entrada do concessionário.
Uma região que se permite ser gerida desta forma por entidades centrais, ou centralistas, não é, seguramente, uma região para turistas.
Sétimo dia
Gabriela Pacheco (Autora)
o sétimo dia voltou a viúva. Voltam quase todos ao dia sete, o depois é uma incógnita. Manda-se dizer o nome na reza. Uns tustos, pensará quem cobra, e vai a alma em paz. Os preceitos da fé têm contornos curiosos.
Trazia umas flores entre a cintura e o colo do braço esquerdo, uma saia justa cobrindo os joelhos, com uma racha na parte traseira que aguça a curiosidade, cujo propósito é facilitar o que deve ser facilitado: o andar, a passada, um pé diante do outro. Havia segurança sobre os stiletto de verniz preto. Os olhos nem precisam enfrentar o chão para perceber onde colocar o salto fino; os pés sabem o que fazer. A palidez de viúva curada ao sétimo dia. As faces rosadas, em contraste com a camisa branca de cetim, dentro da saia caçada, de mangas largas o suficiente para que o vento dançasse dentro delas. Uma viúva de gabarito, tornou a pensar Benício. Já não havia medo de chorar, as pestanas longas, carregadas de preto, davam sentido à análise. Flores-protocolo.
Fez o longo corredor do cemitério, sempre a direito. Passou por Benício sem ceder no passo, na voz, na missão. Sem boas tardes ou cumprimentos substitutos. Sem acenos de cabeça, sem mais. Esta passerelle já pedia uns stiletto de verniz preto. Benício, o jardineiro dos mortos, olhava-a.
Tampouco me reconheceu. Foi, talvez, o que aconteceu para a ausência de contacto. O casaco de botões dourados e o chapéu
português com que lhe enterrei o marido fazem um homem parecer mais homem.
Benício parou a poda para a admirar. Pelas mãos, perto dos seus quarenta. É pelas mãos que se adivinha quase tudo. A confiança explicará se são uns quarenta sábios. Os mortos estão à espreita. A beleza será sempre um espetáculo fascinante. Deitou as flores sobre a morte. Benzeu-se. Dois minutos de olhar fixo na pedra, bastou. Olhou em torno, à procura. Um homem sente quando o procuram. Benício limpou as mãos às jardineiras. Bateu as galochas no chão, há que afugentar o máximo de pó que se pode. À camisa axadrezada, pouco ou nada se podia fazer. Uma camisa de meios botões, aos perdidos: Glória a Deus. Haverá Ele de compreender as dificuldades de um coveiro. O cabelo meio comprido, o suficiente para arrumar atrás das orelhas, obedeceu à ordem de arrumos. As mãos com terra se manterão; não dá para negar o que se é, tampouco vale a pena tentar. É descabido. Servirá alguns momentos e dará lugar certo à desilusão. Assumir dará, porventura, lugar ao fascínio. O estranhar e o entranhar será sempre mais proveitoso do que o desiludir.
Os olhos da viúva não encontravam Benício. O jardineiro caminhava na sua direção pelas costas, embalado pelos cabelos-avelã da viúva morena. Haverá sempre uma elegância muito particular nos cabelos de avelã.
Esta morte não parecia descolorir os sonhos. Ainda assim, por estar longe de ser
verdade o que deduzimos da realidade, escudamo-nos na convencional educação.
— Vim lamentar.
Benício estava parado a um metro das costas da viúva que, ao ouvi-lo, não se voltou para o olhar. Ignorando o lamento, permaneceu de olhos postos na pedra, perguntando-lhe:
— As borboletas que têm origem no estômago podem ser fruto de um cemitério?
— Que nunca ninguém duvide que neste lugar nascem coisas.
Cinco minutos de silêncio. Benício olhava os cabelos-avelã que dançavam na brisa suave; o momento pede que assim se descreva, situar a poesia conhecida da dança, dos cabelos e do vento. A viúva deixou-se estar.
— A morte rouba força a quem fica, é esta a tragédia. É preciso encontrar o valente do lado de dentro — continuou Benício.
— A valentia mora no momento em que o vinho só serve um copo de cristal e me sei só.
— Custa-lhe a ausência?
— De quê?
— Perguntava de quem. Dele?
— Sempre foi mal-intencionado. Um estafermo com ar de urtiga.
— A pergunta será então, de quê?
— Borboletinhas.
Benício calou-se. A viúva voltou-se para tomar o caminho de volta. Os stiletto
meteram-se em marcha. Uma breve pausa ao lado de Benício, que continuava com o cabelo obediente por detrás das orelhas cuidadas de higiene. Sussurrou-lhe a viúvaavelã:
— Esta morte fez-me tremer uma vez só, no momento em que aqui quis vir para o ver. A si.
E continuou. Firme, segura, pé diante do outro, pelo corredor a direito até ao negro portão escancarado para a vida. Não olhou para trás. O que está dito, dito está. Foi-se.
Benício olhou o marido jazido.
— Não leves isto a peito. Será melhor para os dois, mais para ti do que para mim, que enquanto eu for vivo está a tua eternidade a meu cargo. Cheiras-me a corno merecido.
«O convalescido que amou o Homem morto» (manuscrito em construção).
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