#446
ALGARVE INFORMATIVO
17 de agosto, 2024
ÍNDICE
CCDR Algarve e AMAL assinam Contrato para o Desenvolvimento e Coesão Territorial (pág. 22)
Município de Vila Real de Santo António e IPDJ comemoraram Dia Internacional da Juventude (pág. 30)
Exposição «amostra» no IPDJ (pág. 40)
Festival do Marisco de Olhão (pág. 52)
Feira Medieval de Silves (pág. 62)
Calema em Olhão (pág. 82)
David Fonseca em Tavira (pág. 94)
Ópera «Sóror Mariana» em Portimão (pág. 108)
OPINIÃO
Mirian Tavares (pág. 120)
Fábio Jesuíno (pág. 122)
Sílvia Quinteiro (pág. 124)
ALGARVE 2030 e AMAL assinam
Contrato para o Desenvolvimento e Coesão Territorial no valor de 155 milhões de euros
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
Autoridade de Gestão do Programa Regional do Algarve 2021-2027 (ALGARVE 2030) e a AMAL –
Comunidade Intermunicipal do Algarve assinaram, no dia 6 de agosto, o Contrato
para o Desenvolvimento e Coesão
Territorial, com uma dotação de 155,2 milhões de euros, que prevê o financiamento dos Investimentos Territoriais Integrados por parte do Programa ALGARVE 2030, uma ferramenta central de promoção do desenvolvimento e da coesão territorial consagrada no Acordo de Parceria do
Portugal 2030, que promove o reforço da política de coesão através de uma governação multinível. O Contrato abrange a totalidade da região e define um conjunto de indicadores e metas estabelecidas no âmbito do Plano de Ação desenvolvido pela AMAL, em estreita articulação com os 16 municípios algarvios, e que foi aprovado pela Comissão Diretiva do ALGARVE 2030 a 12 de junho do corrente ano, visando uma atuação mais integrada, eficiente e eficaz ao nível do apoio ao desenvolvimento económico e social dos territórios.
Neste sentido, o ALGARVE 2030 apoia, como programa financiador, o Plano de Ação do Investimento Territorial Integrado, com uma dotação global de fundo repartido entre 152,1 milhões de euros de Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) e 3,1
milhões de euros de Fundo Social Europeu Mais (FSE+), para comparticipar os projetos enquadrados nos objetivos específicos e tipologias previstas no ALGARVE 2030 e no respetivo Plano de Ação. Entre as principais áreas de intervenção previstas destacam-se os investimentos no Ciclo Urbano da Água; Gestão de Resíduos; Adaptação às Alterações Climáticas; Eficiência Energética; Proteção Civil e Gestão Integrada de Riscos; Conservação da Natureza, Biodiversidade e Património Natural; Mobilidade Sustentável; Infraestruturas Escolares ou Digitalização da Administração Local; e a Aprendizagem ao Longo da Vida e o Acesso a Serviços de Qualidade, no âmbito das quais o ALGARVE 2030 já abriu 7 concursos, dirigidos aos Municípios, com uma dotação total de 52,1 milhões de euros, referentes a
Infraestruturas Escolares, Infraestruturas e Equipamentos de Cuidados de Saúde Primários, Ciclo Urbano da Água em Baixa, Valorização do Património Cultural, Adaptação às Alterações Climáticas, Ciclovias Regionais e Urbanas/Municipais, e Conservação da Natureza, Biodiversidade e Património Natural.
O ato de assinatura do contrato decorreu no Salão Nobre do antigo edifício do Governo Civil de Faro, com a presença dos autarcas da região, sendo presidido por Hélder Reis, Secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional. José Apolinário, na qualidade de Presidente da Comissão Diretiva da Autoridade de Gestão do ALGARVE 2030, reforçou a importância do trabalho conjunto que foi
feito na região para o «desenho» deste Programa Regional do Algarve e que contou com a colaboração de vários atores fundamentais. Para o também presidente da CCDR Algarve, “temos todos um enorme desafio pela frente que é o de sabermos continuar a trabalhar juntos e a mobilizar esforços para poder aproveitar e executar todos os fundos europeus que este programa traz para a região”
António Miguel Pina, Presidente do Conselho Intermunicipal da AMAL, sublinhou que “este é um momento muito importante para a AMAL, que tendo beneficiado de fundos noutros quadros comunitários,
desta vez tem esta presença muito mais forte e irá coordenar cerca de 155 milhões de euros em diferentes áreas”. O autarca olhanense aproveitou a ocasião para realçar o trabalho que os 16 municípios do Algarve, no seio da AMAL, desenvolveram para identificar as necessidades mais relevantes e os investimentos mais importantes a levar a cabo na região, tendo também sempre em conta as suas especificidades. “Houve muito trabalho e visão partilhada e é assim que devemos trabalhar para alcançar o melhor para as nossas populações”, defendeu, assumindo desde logo o compromisso da boa execução destes fundos.
António Miguel Pina aproveitou também a presença do Secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional para deixar dois alertas: um defendendo que o sistema que está hoje instalado, nomeadamente em relação ao lançamento de avisos, não deverá ser tão burocrático nem tão centralizado; e um segundo alerta no sentido de que o Governo trabalhe efetivamente numa diferenciação positiva em relação a projetos e investimentos que possam surgir fora da área do turismo, até porque, no Algarve, “a grande ambição é diversificar a economia” “No Algarve somos colaborantes, mas também somos exigentes”, frisou o presidente da AMAL.
A encerrar a sessão, o Secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional confirmou que esta área da coesão territorial é muito importante para o país e para o Algarve, em particular, que é uma região que tem as suas especificidades. Deu os parabéns a todos os envolvidos no desenvolvimento deste Plano de Ação, “que só pode ser o resultado de uma articulação bem conseguida entre as entidades, e que realmente tem áreas muito bem identificadas, que vão desde investimentos para o Ciclo Urbano da Água em baixa, como para a
Gestão de Resíduos (dois sectores para os quais está alocada mais de 1/3 da verba total contratada)” Sendo todas as áreas do Plano importantes, o governante também referiu como fundamentais as intervenções identificadas neste plano nas áreas da educação e formação. “O importante é, efetivamente, executar os investimentos, maximizando o retorno, e trazer bons projetos e resultados para a região. A nossa meta é sempre melhorar o nível de vida e o bemestar das populações que servimos”, concluiu Hélder Reis.
Município de Vila Real de Santo
António e IPDJ comemoraram o Dia Internacional da Juventude
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Instituto Português do Desporto e Juventude associou-se ao Município de Vila Real de Santo António para comemorar o Dia
Internacional da Juventude, a 12 de agosto, no Jardim do Casino, em Monte Gordo, com um programa que incluiu atividades na área ambiental no âmbito do Programa «Voluntariado Jovem para a Natureza e Florestas» do IPDJ; um
debate sobre «Juventude e Saúde Mental: quais os desafios?», com a participação das psicólogas Alda Martins e Susana Martins e do professor e escritor Manuel Maneiro; música ao vivo com «Hungry Cats», «Let’s Duet» e «Turb’Ó Baile»; dança protagonizada pela Associação Juvenil Animashow; e o anúncio do projeto vencedor do Orçamento Participativo Jovem do Município de Vila Real de Santo António, num momento que contou com a presença da Ministra da Juventude e da Modernização, Margarida Balseiro Lopes,
e da Secretária de Estado Adjunta e da Igualdade, Carla Mouro.
Perante uma vasta moldura humana, o edil Álvaro Araújo lembrou que “Vila Real de Santo António está voltada para a juventude”, como comprovam a recente implantação da Casa da Juventude numa antiga escola primária e a criação de fóruns de discussão com os jovens, de onde surgiu precisamente a ideia de se organizar um Festival da Juventude, tendo sido também lançada, no dia 12 de agosto, a primeira pedra do futuro Skate Park localizado junto ao Complexo Desportivo de Vila Real de Santo António. “As políticas da juventude são essenciais e queremos que os nossos jovens, depois de
completarem os seus estudos, regressem a casa e manifestem todo o seu talento no concelho onde nasceram. Vamos hoje entregar o prémio ao projeto que venceu o Orçamento Participativo Jovem, no valor de 5 mil euros, só um é que pode ganhar, mas quero agradecer a todos os que concorreram”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António.
No uso da palavra, Margarida Balseiro Lopes declarou que Portugal precisa dos seus jovens, “daí que todos os dias tomemos decisões para que eles não tenham que sair do país”. “O
Orçamento Participativo Jovem é um excelente projeto em que não estamos a decidir pelos jovens, mas sim a perguntar-lhes aquilo que eles desejam que aconteça. É fundamental ouvirmos os jovens, pedir-lhes que nos ajudem a tomar as decisões mais adequadas para que possam ficar em Portugal a construir os seus projetos de vida”,
frisou a Ministra da Juventude e da Modernização.
Entretanto, o vencedor do Orçamento Participativo Jovem de Vila Real de Santo António foi o projeto «Renascimento», que, tendo como tema base o legado de António Aleixo, pretende a renovação estética do edifício da Casa da Juventude, incentivando, de igual forma, a produção e a criação artística jovem no concelho.
Exposição itinerante «amostra» patente no
IPDJ
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
em Faro
naugurou a 12 de agosto, Dia Internacional da Juventude, na sede do Instituto Português do Desporto e Juventude, em Faro, a «amostra em Faro», uma exposição itinerante da Mostra Nacional de Jovens Criadores que conta com obras de arte digital, arte têxtil, cruzamento disciplinar, escultura, fotografia, ilustração, literatura e pintura, numa seleção de obras de artistas que apresentaram os seus trabalhos na MNJC 2023. As criações abordam as turbulências interiores e as relações dos jovens artistas com as pessoas, a materialidade e a abstração que os
rodeia, sendo que o diálogo interior, o papel da comunidade, a construção do comum e o questionamento constante são alguns dos temas subjacentes às obras.
Em simultâneo, no Hall do IPDJ encontra-se uma exposição de vários jovens algarvios, designadamente, Rosa Guedes, BASAP, Lia Rodrigues, Isabella Coronel e Sara Brownsword. Ambas as exposições estão patentes, no IPDJ de Faro, até dia 21 de agosto, podendo ser visitadas entre as 9h e as 18h.
Festival do Marisco levou dezenas de milhar de pessoas a Olhão
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
onto de passagem obrigatório no Verão algarvio, o Festival do Marisco voltou a ter lugar, no Jardim Pescador Olhanense, entre 10 e 14 de agosto, com os mariscos e os bivalves da Ria Formosa a serem o atrativo principal, mas a doçaria regional, o artesanato e os espetáculos musicais contribuíram também para mais um cartaz turístico de excelência. E o mote foi dado, logo no dia inaugural, com lotação esgotada para assistir ao concerto dos Calema. Seguiram-se Ana Moura, Plutónio, Diogo Piçarra e Maninho, sempre com enchentes monumentais, comprovando que o Festival do Marisco é, sem dúvida,
um dos certames mais concorridos do país nesta época do ano.
Promover um dos maiores ativos gastronómicos da região, a Ria Formosa e a cidade de Olhão, e dinamizar a economia local são os principais objetivos deste evento organizado pelo Município de Olhão, através da Fesnima, e que rapidamente conquistou a preferência das famílias que elegem o Algarve para gozar as suas férias de Verão. Na ementa, as amêijoas, as ostras, as conquilhas e o berbigão da Ria Formosa, a par da açorda, arroz, cataplana ou paella de marisco, confecionados no local e vendidos a preços económicos, tudo isto à luz das estrelas e com a Ria mesmo ali ao lado. É, realmente, muito difícil de resistir.
XIX FEIRA MEDIEVAL DE VISITANTES A ENAMORAREM-SE
DE XILB, CIDADE DE AMORES
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
SILVES CONVIDOU ENAMORAREM-SE PELA HISTÓRIA
AMORES E DESAMORES
Feira Medieval regressou à cidade de Silves, de 9 de 17 de agosto, com 9 dias de recriação das vivências da antiga capital da província que atualmente corresponde ao Algarve, a deslumbrante Xilb (Silves). Tendo como tema base «Xilb, cidade de amores e desamores», houve oportunidade para se conhecer melhor a cidade mais ocidental do Gharb al-andalus, famosa pela beleza dos seus palácios, pela inexpugnabilidade das suas muralhas e pela doçura das suas maçãs e dos seus figos. Mas Silves foi igualmente reputada pelos seus poetas que nos deixaram, além da beleza da métrica dos seus versos, muitas histórias de amores, traições e desamores, vividas por alguns dos seus mais ilustres habitantes.
Os sons da época ecoaram pelas ruas da cidade, desde o sermão do Íman até às
boas-vindas do Vizir aos visitantes, com o chamamento para a oração pelo AlMuezzin ecoando desde o alto do minarete. A festa foi animada pelos pregões dos vendedores, a música envolvente e as danças vibrantes que traziam memórias do Oriente. E tudo começava, diariamente, com um cortejo medieval onde, vestidos a rigor, os participantes desfilavam pela Medina e pelos Arrabaldes. A Praça Al-Mut’amid foi palco dos Duelos de Honra e Paixão, confrontando Ibn Ammar e Rummaykkya em duelo, e as Noites do Oriente iluminaram o Castelo de Silves com uma exibição espetacular de música, dança e fogo. O evento foi também uma celebração da gastronomia e da animação histórica, com a presença de mais de uma centena de expositores, incluindo artesãos, mesteirais, doceiros, místicos e mercadores.
A animação exclusiva no castelo teve como protagonista o grupo Muhsilwan, projeto criado por quatro músicos
muçulmanos e baseado em temas tradicionais de diferentes culturas assentes em Al-Andalus e a fusão entres as diferentes sonoridades destas mesmas culturas. Os Duelos de Honra e Paixão levaram até à liça Ibn Ammar e Rummaykkya, num confronto onde a destreza e a coragem eram postas à prova em diversos jogos como a «Argola», a «Cabeça de Turco», o «Tavolado» ou as famosas «Justas», que colocam frente a frente os intervenientes que, a galope, avançam uns contra os outros com o intuito de eliminarem as respetivas lanças e assim alcançarem a vitória.
A história da Feira Medieval de Silves começou em 1996, inicialmente organizada pela Escola Secundária de Silves. Em 2004, a Câmara Municipal de Silves celebrou os 500 anos do Foral
Manuelino com a «Feira Quinhentista», nos dias 14 e 15 de agosto, que recriou cenas do dia-a-dia da época e incluiu a leitura do Foral, transportando os visitantes para o passado histórico da cidade. A partir de 2005, a autarquia assumiu a organização da Feira Medieval, que começou como um evento modesto, com poucos figurantes e grupos participantes, mas marcado pelo grande empenho de todos os envolvidos.
Desde então, a feira cresceu significativamente e tornou-se um evento anual, transformando Silves a cada mês de agosto. E, de facto, a cidade revive os sons, falares, cores e aromas de um tempo em que era a capital do Sul do país. Hoje, a Feira Medieval de Silves é reconhecida nacionalmente como um dos eventos mais autênticos e envolventes, celebrando a rica história da região.
LOTAÇÃO ESGOTADA OLHÃO COM OS
Texto: Fotografia:
ESGOTADA EM CALEMA
Festival do Marisco de Olhão registou, no dia 10 de agosto, uma das suas maiores enchentes de sempre, por ter sido o arranque da edição deste ano do certame, mas, principalmente, porque atuavam os Calema. A dupla constituída por Fradique e António Mendes Ferreira, naturais de São Tomé e Príncipe, e com descendência de cabo-verdianos, portugueses e angolanos, carrega em si uma rica herança cultural que se traduz numa música que cativa diferentes gerações, conforme se assistiu nesta noite inesquecível.
Conforme explicaram à plateia, «Calema» significa uma ondulação
especial na costa africana, como as ondas ao chegar a praia que trazem consigo sempre alguma coisa, e os Calema transportam música, sorrisos, emoções, cultura e o sol santomense. Uma musicalidade irresistível que se notou logo no disco de estreia, «Bomu Kêlê», lançado em 2014, e que foi crescendo ao longo dos anos nos álbuns seguintes, designadamente, «A.N.V.» (2017), «Ao vivo no Campo Pequeno» (2019) e «Yellow» (2020). Desta feita viajaram até Olhão, capital da Ria Formosa, com um novo disco, «Voyage», na bagagem, e um espetáculo visual e pirotécnico de elevadíssimo nível que levou à loucura a multidão que preencheu o Jardim Pescador Olhanense.
PARQUE DO PALÁCIO DA VIBROU COM O
IRRESISTÍVEL
DA GALERIA, EM TAVIRA, IRRESISTÍVEL DAVID FONSECA
Verão em Tavira continua
escaldante e o Parque do Palácio da Galeria assistiu, no dia 7 de agosto, a mais um dos pontos altos da programação preparada pelo Município de Tavira para acolher os milhares de pessoas que visitam a cidade do Rio Gilão na época alta do turismo algarvio. À luz das estrelas, numa noite esplendorosa, David Fonseca regressou ao Algarve com a tour «Still25», que recorda a sua carreira de um quarto de século.
Depois das performances mais intimistas nos teatros e auditórios, Verão é tempo de espetáculos ao ar livre, com a
banda completa, e David Fonseca demonstra o porquê de ser um dos melhores músicos e compositores da sua geração. O artista natural de Marrazes, Leiria, transporta-nos aos momentos privados de criação de cada um dos seus sucessos, desde as primeiras canções com os Silence 4 até às mais recentes na sua profícua carreira a solo, abrindo a porta do seu universo pessoal como nunca antes visto em 25 anos de carreira, partilhando a sua singular visão artística num momento intimista de enorme proximidade. E, como se adivinhava, a adesão do público que se deslocou ao Parque do Palácio da Galeria foi imediata, do primeiro ao último minuto do concerto, de onde saíram de sorriso nos lábios e muitas histórias para contar.
ÓPERA «SÓROR MARIANA» UM ESPETÁCULO
MARIANA» FOI FASCINANTE
A ópera «Sóror Mariana», inspirada na peça teatral de Júlio Dantas e adaptada musicalmente pelo compositor brasileiro Júlio Reis, é um casamento perfeito entre música e teatro e foi a palco, no dia 28 de julho, no TEMPO – Teatro Municipal de Portimão. Com direção cênica de Gehad Hajar, integrada no contexto do projeto «Manuel Teixeira Gomes e a Produção Artística nos Alvores do Século XX», da Academia de Música de Portimão, teve como intérpretes Michele Tomaz (Sóror Mariana), Renato Cordeiro (Noel Bouton, Conde de Chamilly), Luís Carlos Figueiras (Bispo), Luísa Vaz Pinto (Abadessa), Beatriz Direito (Sóror Inês), Carla Pontes (Sóror Agostinha) e Teresa Feliciano (Sóror Simoa), acompanhados ao piano por Jeferson de Mello e com a
participação do coro feminino do Grupo Coral Adágio.
Foi, sem dúvida, um acontecimento memorável que começou, mais cedo, no Café-Concerto do TEMPO com uma conferência onde participaram Gehad Hajar e Manuela Parreira da Silva, com o objetivo de preparar o público para a ópera. O investigador e produtor curitibano falou da vida e obra de Júlio Reis, enquanto a professora da Universidade Nova de Lisboa abordou a produção artística do princípio do século XX, nomeadamente a polémica reação de Almada Negreiros à obra teatral. A conferência terminou com a declamação de excertos do «Manifesto Anti-Dantas» pelo cantor Tiago Mota.
A Hora da Ave Maria
Mirian Tavares (Professora)
E o morro inteiro no fim do dia Reza uma prece ave Maria
E o morro inteiro no fim do dia Reza uma prece ave Maria
Herivelto Martins
Às 6 horas da tarde, entra, pela janela adentro, o som da Ave Maria de Bach e Gounod. Todas as tardes, trazida pelo vento, vinda de algum lugar que não consigo identificar, ouço os primeiros versos da letra que Gounod fez para a música de Bach. A música é um disparador de memórias e faz-me lembrar da infância, quando se ouvia, na minha cidade, a música que vinha da Igreja da Sé. A igreja em si foi um lugar da infância. Queria ser anjo de procissão, o que nunca aconteceu, mas não deixava de ir à missa aos domingos e lembro-me do sacristão, um homem grande, que na minha memória mesclada com filmes da Disney, era corcunda e tinha uma batina marrom. Após a missa, ele abria a porta lateral da igreja e deixava que as crianças fossem brincar num espaço que nos era vedado o resto da semana. Não sei se é um desvio da memória que, como sabemos, dificilmente é fiel, mas havia baloiços e víamos, ao longe, no alto de um morro, o seminário – edifício que se impunha à paisagem, cheio de janelas voltadas para a cidade. Na Semana Santa, os santos eram cobertos com um pano roxo e
íamos espreitar, com medo, aquelas imagens enormes, com cabelos que, de acordo com o que nos diziam, eram reais. Medo e fascínio – era o que a igreja despertava em mim, o edifício, diga-se de passagem. O edifício com seus santos, altares, cantos e recantos. Lembro-me da procissão do Senhor Morto – ficava à porta de casa a vê-los passar, com um caixão de vidro e a imagem do corpo de Jesus lá dentro. Na minha memória, a procissão se mistura com a visão do irmão mais velho e dos colegas, recémentrados na faculdade de Filosofia, a desfilarem pelas ruas pintados com tinta vermelha e em grande algazarra. A minha memória sobrepôs as duas cenas e acho que fica até mais divertido pensar na procissão assim – cada um a professar sua fé, em Deus ou na educação laica, recheada de pensadores que duvidaram de Deus e que puseram em causa a religião. Nunca fui anjo de procissão, é verdade, a igreja foi ocupando, ao longo da vida, diferentes papeis no meu quotidiano. Muita coisa deixou de fazer sentido para mim. Mas a hora da Ave Maria, que ainda hoje ressoa às 6h da tarde, é uma permanência que me apraz revisitar.
Poder da positividade
Fábio Jesuíno (Empresário)
ivemos em um mundo que, muitas vezes, nos convida ao pessimismo. No entanto, a história nos mostra que grandes conquistas foram alcançadas por aqueles que ousaram acreditar no melhor.
É muito importante desafiar os pensamentos negativos e explorar o poder da positividade como ferramenta para superar obstáculos e alcançar nossos objetivos.
A positividade, longe de ser um mero otimismo ingênuo, é uma força poderosa capaz de transformar nossas vidas e o mundo ao nosso redor. Ao cultivarmos pensamentos positivos, fortalecemos nossa saúde mental e física, atraímos oportunidades e construímos relacionamentos mais significativos.
A melhor forma de incorporar a positividade em nosso dia a dia é através da prática regular de gratidão, contato com a natureza e a convivência com pessoas inspiradoras são algumas das ferramentas que vão ajudar no nosso caminho. Além disso, é fundamental desafiarmos os pensamentos negativos e substituí-los por afirmações positivas. Ao acreditar em nosso potencial e no futuro, abrimos espaço para que a felicidade e o sucesso floresçam em nossas vidas.
Muito importante, a positividade não é uma característica inata, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida com prática e dedicação. Ao fazer da positividade um estilo de vida, estamos investindo em nosso bem-estar e contribuindo para um mundo mais otimista e próspero.
A positividade não é apenas um benefício individual, mas também um fator transformador para a sociedade como um todo. Ao cultivarmos atitudes positivas, contribuímos para a criação de um mundo mais harmonioso e colaborativo. A empatia, a compaixão e o otimismo são qualidades essenciais para construir relacionamentos mais fortes e resolver os desafios que enfrentamos como sociedade.
O poder da positividade é inegável. Ao desafiarmos os pensamentos negativos e cultivarmos uma mentalidade otimista, podemos transformar, não apenas nossas vidas, mas também o mundo ao nosso redor. A positividade é contagiante, e ao espalharmos boas vibrações e energias, contribuímos para um mundo mais feliz.
Está calada, mulher!
Sílvia Quinteiro (Professora)
isito o Rio de Janeiro imbuída do espírito de turista. Adquiro uma visita guiada que me permitirá conhecer os pontos principais da cidade num tempo mínimo e com a máxima de segurança.
Na lista dos imperdíveis, a Escadaria Selarón. A confusão é geral. Centenas de pessoas disputam o melhor lugar para a fotografia da praxe. Sem tempo nem paciência, opto por examinar mais de perto os azulejos que mais ninguém quer ver. Entre os que chamam a minha atenção, centrado num dos degraus, há um que sobressai por ter uma inscrição. Aproximo-me para ler. Lembra-me os que existiam num escaparate de madeira na cozinha dos meus avós. Provérbios, graçolas, dizeres. No azulejo que Selarón colou neste degrau, emoldurada por flores e arabescos contidos por uma faixa azul, lê-se: “Está calada, mulher!”. Podia ter achado graça. Podia ter ignorado o facto de se tratar do testemunho de um tempo. Um tempo em que era aceitável ter esta frase exposta na parede de uma qualquer casa de família. Talvez por estar um dia cinzento, ou porque o cansaço é já muito, não lhe acho gracinha nenhuma. Vejo ali, disfarçado de brincadeira, o lugar da mulher. O azulejo remete-me para uma situação ocorrida três dias antes,
numa pequena cidade do interior de Minas Gerais.
Assistindo a uma conferência, ouvi com atenção uma colega especialista em cinema. A sua apresentação versava um projeto relacionado com a produção de filmes financiados pelo Estado, através dos quais se procura valorizar o território. De um modo geral, dizia-se satisfeita com os resultados. Preocupava-a, porém, o facto de estes filmes perpetuarem os estereótipos relativos ao papel de mulher na sociedade. A mãe, a dona de casa, a boa anfitriã.
Na mesma cidade, nessa manhã, tive a oportunidade de visitar a casa-museu de João Guimarães Rosa. O quarto dele, virado para a rua. Janela rasgada para o mundo que escreveu. O das irmãs, com vista para o quintal, nas traseiras, e saída através do quarto dos pais. A proteção da virtude era essencial. Recordei nesse momento uma das extraordinárias personagens criadas pelo escritor: Diadorim. O jagunço que era afinal uma mulher disfarçada de homem para sobreviver num mundo sem outro lugar para as mulheres senão o da casa. “Está calada, mulher!”
Na conferência, pausa para um café. A conversa girou em torno da questão que dominara a tarde. Qual foi, qual é o papel da mulher naquela região e no mundo? O que tem mudado? Quem tem de e como
pode contribuir para a mudança? Concluímos que o processo é lento. Que é um caminho longo, mas que está a ser percorrido. Imperou, apesar de tudo, um tom esperançoso. Retomámos os trabalhos após sermos informados de que nessa mesma noite haveria uma festa de encerramento do evento.
Chegada a hora, caminhei em direção ao local combinado. Uma pick-up robusta atravessou-se subitamente à minha frente e parou junto ao portão de uma grande casa, apontando-lhe as luzes. Algumas buzinadelas. De dentro da carrinha saiu uma figura
extraordinária. Um homem alto, forte, barriga proeminente, chapéu e botas de cowboy. Personagem digna de uma telenovela antiga. Imaginei-o a abanar o pulso e a perguntar “Estou certo ou estou errado?”. Contornei vagarosamente a viatura para poder apreciar melhor a cena. Agitadíssimo –eu gostaria de acreditar que embriagado, mas não me pareceu –, soltava gritos com uma voz rouca e um tom que se ouvia em meia cidade. Batia com os punhos no portão. Movia-se freneticamente entre o portão e a carrinha. Buzinava uma e outra vez. Voltava a bater no portão. Até que, carregando no botão da campainha, soltou um grito:
– Nezinha, abre essa porta! Sou eu, teu macho, pô!
Desço as escadas com os olhos postos na fotografia do azulejo. Penso no quão longo é o caminho que ainda está por percorrer e não me apetece mesmo nada estar calada.
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