ALGARVE INFORMATIVO
ÍNDICE
MotoGP garantido no Algarve até 2026 (pág. 16)
Paderne tem mais habitação de rendas convencionadas (pág. 26)
3.º Prometo Viver (pág. 34)
Malha ciclável cresce em Vilamoura (pág. 40)
Mexilhoeira Grande prestou homenagem a Nuno Júdice (pág. 48)
Geoparque Algarvensis (pág. 56)
«Horizon» e «La Spire» em Portimão (pág. 66)
21.º Festival de Flamenco de Lagos (pág. 88)
OPINIÃO
Mirian Tavares (pág. 98)
Fábio Jesuíno (pág. 100)
Sílvia Quinteiro (pág. 102)
Dora Gago (pág. 104)
Álvaro Bila (Presidente da Câmara Municipal de Portimão), Jaime Costa (CEO da Parkalgar), André Gomes (Presidente da Região de Turismo do Algarve), Pedro Machado (Secretário de Estado do Turismo), Pedro Dias (Secretário de Estado do Desporto) e Carlos Abade (Presidente do Turismo de Portugal)
MotoGP garantido no Algarve até 2026
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oi oficialmente anunciada, no dia 25 de setembro, a continuidade do Autódromo Internacional do Algarve e de Portugal no calendário do Campeonato do Mundo MotoGP, desta feita num inédito acordo que assegura a realização da prova para os próximos dois anos, isto é, 2025 e 2026.
Em conferência de imprensa realizada no circuito junto a Portimão, foram várias as individualidades que destacaram a importância do evento, não só para o Algarve, como para o país, desde 2020, quando então pela primeira vez a «montanha-russa» recebeu o campeonato e que desde então se tornou um dos favoritos de todo o «paddock». Um circuito onde apenas Miguel Oliveira, Francesco Bagnaia, Jorge Martin e Fabio
Quartararo vencer, sendo que, em 2025, o Autódromo Internacional do Algarve irá receber, pela sétima vez, os melhores pilotos de motociclismo do planeta, naquela que será a penúltima prova do calendário, no fim de semana de 7 a 9 de novembro.
Portimão é, sem dúvida, o cenário perfeito para o MotoGP, combinando um fantástico e desafiante traçado com um destino favorito dos fãs. O considerável impacto económico do Grande Prémio de Portugal proporciona também um retorno ainda maior para o país anfitrião, região e circuito, uma vez que o MotoGP atrai centenas de milhares de fãs a Portugal e ao Algarve fora da época alta turística.
De facto, em 2024, foram mais de 170 mil os espectadores que passaram pelas
bancadas do circuito, gerando o evento um impacto económico direto de aproximadamente 80 milhões de euros, tendo o Grande Prémio de Portugal sido causador de um aumento de pagamentos através de cartão bancário de 14 por cento para os cartões nacionais e de 16 por cento para cartões estrangeiros, em especial oriundos do Reino-Unido, Alemanha, Espanha e Irlanda. “Desde 2022 (pós-COVID), o Autódromo Internacional do Algarve foi responsável na sua atividade por 650 mil noites de alojamento, 40 milhões de euros em compras nacionais, 35 milhões de euros em exportações, 16 milhões de euros em VAB – Valor Acrescentado Bruto e um total de 343 milhões de impacto económico. Foi ainda
visitado durante esse mesmo período por 2 milhões de visitantes”, referiu, na ocasião, o CEO da Parkalgar, Jaime Costa, lembrando que “esta grande conquista só foi possível porque houve alguém, o Paulo Pinheiro, que teve a ousadia de tentar trazer para Portugal um evento como o MotoGP”.
Jaime Costa realçou a importância de se ter assinado um acordo por dois anos, o que permite que a vinda do MotoGP ao Algarve seja ainda mais potenciada por todas as entidades ligadas ao turismo, e que coincidirá igualmente com uma nova
fase da carreira do piloto português Miguel Oliveira. “Além de ser um recinto desportivo, o Autódromo Internacional do Algarve é, acima de tudo, um agente económico da região. Não somos apenas um sítio onde se realizam corridas, mas onde se cria valor, se gera riqueza para a economia, onde se atrai turistas, nacionais e estrangeiros, e onde se cria emprego”, frisou o CEO da Parkalgar. “Para 2025, já temos 280 dias de pista vendidos e só a apresentação de uma moto, em março, vai trazer ao Algarve, durante uma semana, 100
jornalistas de todo o mundo e que vão percorrer todas as estradas da região”, adiantou.
Visivelmente orgulhoso por voltar a receber o MotoGP no concelho que lidera estava Álvaro Bila, presidente da Câmara Municipal de Portimão, defendendo que aquilo que acontece no Autódromo Internacional do Algarve tem um impacto positivo no desenvolvimento e imagem de toda a região. “Quero dizer ao governo que esta aposta vai ser ganha e que terá o Município de Portimão sempre ao seu lado para
dignificar as atividades desportivas que aqui decorrem”, afirmou, manifestando ainda o desejo de que a rotunda à entrada do autódromo venha a ter a designação «Paulo Pinheiro». “Seria ótimo se, aquando da próxima corrida do MotoGP, pudéssemos inaugurar a Rotunda Paulo Pinheiro”.
Seguiram-se as declarações dos homens fortes do turismo, com André Gomes a frisar que o Algarve não vive apenas do sol e praia e da sua atividade de Verão. “Já demonstramos que
reunimos todas as condições e competências para receber e organizar grandes eventos de desporto motorizado no Autódromo Internacional do Algarve, temos o único equipamento certificado a nível nacional para acolher este tipo de eventos, para além das ligações aéreas, da capacidade hoteleira, das infraestruturas de apoio e de serviços, e do clima”, apontou o presidente do Turismo do Algarve. Benefícios cujo impactos não se limitam ao concelho de Portimão e à região
algarvia, estendendo-se a todo o território nacional, devido ao acréscimo de notoriedade que estas provas trazem a Portugal. “O Grande Prémio de Portugal permite-nos colocar uma vez mais o Algarve na montra do mundo e isto só é possível graças ao Paulo Pinheiro e a todos aqueles que continuam e vão continuar a fazer este trabalho”.
No uso da palavra, Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, não hesitou em descrever o Autódromo Internacional do Algarve como um dos melhores do mundo e também ele elogiou o trabalho realizado, ao longo dos anos, por Paulo Pinheiro, falecido no passado dia 10 de julho, e por toda a equipa da Parkalgar. “Sabemos bem a competitividade que existe no mundo para acolher este tipo de eventos, estamos a falar da maior prova de desporto motorizado, e a escolha da Dorna para fazer aqui uma das provas é de enaltecer. O MotoGP tem, sem dúvida, um grande impacto económico na região e no país, a par do incremento da notoriedade de Portugal no estrangeiro. São quase 500 órgãos de comunicação social que, durante essa semana, estão focados naquilo que está a acontecer no Algarve, cerca de 400 milhões de pessoas em todo o mundo de olhos postos no Autódromo Internacional do Algarve, e tudo isso valoriza a
marca «Portugal» e o posicionamento de Portugal nos mercados internacionais”, destacou Carlos Abade.
Da parte do governo começou por falar Pedro Dias, Secretário de Estado do Desporto, que indicou que a realização de grandes eventos desportivos internacionais no nosso país é um dos fatores que contribui, de forma decisiva, para atrair novos praticantes para as respetivas modalidades. “E Portugal tem uma aptidão muito especial para a organização de grandes eventos desportivos internacionais, atendendo à qualidade de todos os aspetos relacionados com a própria organização e à ampla oferta
existente de serviços associados. O Autódromo Internacional do
Algarve é um equipamento diferenciado e que possui um rico programa desportivo e de atividades que o torna sustentável”, salientou Pedro Dias.
A ronda de intervenções terminou com Pedro Machado, Secretário de Estado do Turismo, que chamou a atenção precisamente para uma nova visão do governo para a captação de grandes eventos internacionais. “Este anúncio que aqui fazemos traduz uma ambição maior do que aquilo que representa só o Grande Prémio de Portugal de MotoGP. Somos um dos melhores povos do mundo e queremos estar nos melhores lugares e nas melhores provas e queremos captar os melhores turistas. Portugal é, hoje, o 12.º
país mais competitivo do mundo na atração de turistas do ponto de vista internacional e, no final do exercício económico de 2024, quer passar a fasquia de uma arrecadação de receitas na ordem dos 27 mil milhões de euros, entre receita direta e indireta, da atividade turística”, indicou.
Pedro Machado lembrou que Portugal recebeu, em 2023, cerca de 30 milhões de turistas, um número que se pretende aumentar e, para tal, há que trabalhar em conjunto. “Estamos atentos à capacidade de atrair grandes
eventos internacionais que tenham um efeito direto e imediato no Algarve, mas que nos ajudam também a potenciar e a aumentar a capacidade que o país tem para se posicionar entre os seus pares”, disse o Secretário de Estado do Turismo, que revelou ainda, em primeira mão, ter homologado o despacho para a atribuição da Medalha de Mérito Turístico Nacional a Paulo Pinheiro no dia 27 de setembro. “A melhor forma de honrarmos quem infelizmente cá não está é garantir o presente e o futuro deste projeto”, justificou.
Município de Albufeira entregou mais 15 fogos em Paderne em regime de renda convencionada
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Município de Albufeira procedeu, no dia 20 de setembro, à entrega das restantes 15 chaves e respetivos contratos em regime de renda convencionada aos novos moradores do Complexo Habitacional Ladeira da Fonte, em Paderne.
A inauguração daquele espaço de 40 fogos e a primeira entrega das habitações
ocorreu em 24 de maio do ano passado, tratando-se de um investimento de cerca de cinco milhões de euros da autarquia. No dia 20, o momento foi emotivo para muitos, tendo a cerimónia sido realizada num dos jardins daquele espaço, que “está preservado”, conforme referiu o presidente da Câmara Municipal de Albufeira nas palavras dirigidas aos novos moradores.
José Carlos Rolo solicitou que todos zelem pelo espaço comum, que é “um sítio extraordinário e com bonitas
vistas” e lembrou que “esta é a vossa habitação nova, que também vos exige responsabilidades”, apontando ainda que “só é pena que não sejam 150 ou 1500, pois temos pessoas nesse número que estão a precisar de casa”. O edil frisou tratarse de “um momento digno e importante” para o Município e lamentou o facto de ter sido um “processo moroso”.
O presidente da Câmara Municipal de Albufeira informou ainda que recentemente foram adquiridas 17 novas habitações, em segunda mão, e que espera que em breve as mesmas sejam
entregues. “Será também aberto concurso para a construção de mais 70 fogos nas Fontainhas, sendo que o Município não tem património que lhe permita avançar para a construção, pelo que estamos a tentar reverter alguns terrenos agrícolas para fim habitacional”, acrescentou José Carlos Rolo.
Por seu turno, a vereadora responsável pela Ação Social, Cláudia Guedelha, apontou que o concurso para as 17 habitações referidas pelo presidente terá o seu concurso aberto no próximo mês de outubro e reconheceu que “cada vez
são mais os candidatos a habitação, mercê do crescimento demográfico de Albufeira”. A vereadora proferiu ainda uma palavra de apreço pelo trabalho dos técnicos municipais que laboram no dia-a-dia com a situação da carência habitacional e que
“analisam criteriosamente todos os processos antes de estes irem, anonimamente, à Comissão de Habitação do Município” “Hoje é um dia feliz e espero que se multiplique o mais breve possível”, finalizou Cláudia Guedelha.
3.º «Prometo Viver» motiva cultura a defender a Saúde Mental
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
terceira edição do evento solidário «Prometo Viver» regressa ao Teatro das Figuras, em Faro, a 9 de outubro, desta vez empenhada na promoção da saúde mental. Em conferência de imprensa realizada, no dia 19 de setembro, no Hotel Eva Senses, ficou-se a conhecer, também, os artistas que vão subir ao palco a partir das 21h, designadamente Íris, Marisa Liz, Diogo Piçarra, Khiaro, Rafael Sousa, Eduardo Madeira, Viviane e Drama & Bass.
Este ano, o público tem oportunidade de assistir a um espetáculo único e de ajudar a «Prometo viver» a angariar fundos para a abertura de uma nova linha SOS Voz Amiga, que vai apoiar pessoas de todo o país a partir do Algarve, assim como criar, em parceria com a ASMAL –Associação de Saúde Mental do Algarve vários polos de atendimento à comunidade com consultas regulares e gratuitas com profissionais de psicologia. Um projeto que vai facilitar a deteção precoce de doenças mentais e que permitirá intervenções preventivas mais eficazes.
Avizinha-se, por isso, um espetáculo de grande qualidade que o presidente da Associação Gonçalo Assunção – Prometo Viver, Joaquim Terêncio, disse dever-se “à persistência e empenho da organização e voluntários, mas também pela sensibilidade, generosidade e entrega dos artistas para com esta causa” “A associação e o espetáculo já começam a ganhar espaço e reconhecimento pelo trabalho realizado anteriormente e isso facilita a participação «pro-bono» de mais artistas que se associam à «Prometo Viver», que continua a ter a cultura como ferramenta
fundamental para ajudar causas nobres relacionadas com a inclusão e a construção de uma sociedade mais unida, inclusiva e solidária”, reforçou o dirigente.
A saúde mental é uma área de trabalho transversal a toda a sociedade que, porventura fruto de uma maior sensibilidade ou de um maior conhecimento de casos de doença, começa a ser mais falada e trabalhada. No entanto, Cristina Terêncio, cofundadora da Associação, sublinhou que “ainda persiste um estigma em relação a este tema que importa combater para que quem precisa não se retraia, e que saiba onde se
dirigir e peça ajuda”. Também presente na conferência de imprensa, Elisabete de Noronha, da ASMAL, vincou que a celeridade com que os problemas de saúde mental são trabalhados “podem fazer toda a diferença na vida de uma pessoa” “É preciso cuidar diariamente da nossa saúde mental e é importante apoiar as pessoas que se encontram em situação de fragilidade”, assumiu.
As Câmaras Municipais de Faro e de São Brás de Alportel são novamente parceiras desta iniciativa, com o vereador farense Carlos Baía a descrever a Associação Gonçalo Assunção – Prometo Viver como “ativa e atenta aos problemas da sociedade”, afirmando igualmente que “este trabalho em rede e em parceria é importante para avançar e obter melhores resultados nas mais variadas áreas, e na área da saúde mental há muito por fazer” Por seu lado, a vice-presidente da
Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Marlene Guerreiro, defende que esta “não é uma causa dos outros, é uma causa de todos nós, que deve ser trabalhada diariamente, sobretudo na promoção da saúde mental e na prevenção e tratamento da doença mental” Recordando que o Município de São Brás de Alportel já trabalha a área da saúde
mental há mais de duas décadas, Marlene Guerreiro explicou que a colaboração neste evento se justifica também “porque não se resume à angariação de fundos, tendo grande potencial para ajudar a quebrar barreiras e estigmas pela defesa de uma sociedade mais coesa, unida e saudável”.
De lembrar que, na primeira edição, o espetáculo permitiu angariar 24 mil e 500 euros que reverteram a favor da Associação Salvador, ao passo que, em 2023, a associação conseguiu angariar 26 mil euros, que ajudaram utentes do Núcleo de Faro da Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral a adquirir equipamentos essenciais para o seu bemestar e para a sua inclusão.
Malha pedonal e ciclável cresce em Vilamoura
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
eve lugar, no dia 23 de setembro, a inauguração do Corredor Pedonal e Ciclável da Estrada de Albufeira e da Requalificação
Paisagística da Rua Estados Unidos da América, numa cerimónia que contou com a presença de Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, bem como de representantes de outras entidades locais e regionais.
A Inframoura iniciou os trabalhos de requalificação na Estrada de Albufeira em setembro de 2023 e deu um enfoque primordial no reforço da conetividade da
rede urbana de mobilidade suave. A intervenção, que implicou um investimento de cerca de 480 mil euros, visou a ampliação da rede ciclável e a respetiva melhoria do acesso rodoviário, sendo que o percurso pedonal e ciclável, com cerca de 1,5 quilómetros, permitiu estabelecer a ligação entre a zona oeste de Vilamoura e a malha ciclável já consolidada no território. “Vilamoura conta com cerca de 25 quilómetros de vias cicláveis, que representam, por seu lado, cerca de 25 por cento do total de vias rodoviárias na área de gestão da Inframoura. Com esta empreitada será agora possível chegar, a pé ou de bicicleta, a
pontos geradores de viagens como o Colégio Internacional de Vilamoura ou a áreas residenciais como as Quintinhas”, enalteceu, na ocasião, Vítor Aleixo. “São obras a que este executivo camarário dá uma particular atenção, ainda mais sabendo-se que Vilamoura foi pioneira na introdução da mobilidade ciclável em espaço urbano. Neste momento existem já cerca de 45 quilómetros de ciclovia em todo o concelho de Loulé, este é o caminho a seguir e espero que, quem vier depois de mim, leve este dossier muito a sério. O futuro com qualidade nas cidades passa por se desenvolverem condições para que as pessoas circulem de bicicleta”, reforçou o edil.
Recorde-se que Vilamoura contou recentemente com mais uma requalificação paisagística na Rua Estados Unidos da América, somando mais 1.200 metros de ciclovia ao total da malha ciclável. A intervenção garantiu a ligação de uma área residencial consolidada com a Avenida Eng.º João Meireles/Estrada de Quarteira e o novo espaço urbano fomenta o uso pedonal e os modos de locomoção suaves através da ciclovia. Em simultâneo, as zonas de estar criadas incentivam o convívio e convidam ao usufruto do espaço urbano.
Nessa intervenção foram eliminadas todas as espécies invasoras existentes no local e introduzidas plantas autóctones
ou com características semelhantes, esteticamente interessantes e com grande resiliência hídrica. Os corredores de mobilidade dos dois projetos foram dotados de iluminação eficiente com tecnologia LED que proporcionará melhores condições de conforto e segurança aos utilizadores destes percursos, com impactos diretos nas áreas residenciais envolventes.
Novas passadeiras devidamente sinalizadas foram igualmente introduzidas na via rodoviária, salvaguardando atravessamentos em segurança e promovendo a circulação rodoviária com redução de velocidade. As infraestruturas de drenagem de águas pluviais foram também alvo de intervenção profunda ao nível da recolha e reencaminhamento, o que deverá refletir-se no retardamento de patologias e deformações no pavimento rodoviário.
A Inframoura acredita que este projeto da requalificação da Estrada de Albufeira, bem como da Rua Estados Unidos da América, serão catalisadores de um aumento de deslocações mais sustentáveis, mais seguras para peões e utilizadores de bicicletas, em concordância com as medidas propostas para a promoção da mobilidade ativa do Plano de Ação Climática de Loulé.
Mexilhoeira Grande prestou homenagem a Nuno Júdice
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
o dia 21 de setembro aconteceu mais um «A Nossa Cultura Sai à Rua», na Mexilhoeira Grande, evento que pretende divulgar os usos e costumes rurais desta freguesia do concelho de Portimão. Este ano, um dos destaques foi a homenagem prestada ao mexilhoeirense Nuno Júdice (1949 –2024), através de um mural pintado no Gimnodesportivo da Escola José Sobral,
assim como pela iniciativa «Nuno Júdice –Biblioteca e Escritório de Portas abertas», que possibilitou ao público uma visita ao escritório e à biblioteca da sua casa de família, localizada em frente à Igreja da Misericórdia.
O mural foi concebido por João Domingos, também conhecido por «Bigode», do LAC – Laboratório de Actividades Criativas de Lagos, com o diretor da estrutura, Nuno Pereira, a afirmar prontamente que “Nuno Júdice
é uma figura que merece todo o nosso respeito e admiração”. “A intervenção do João teve como base um poema e uma fotografia do Nuno Júdice fornecidos pela família e depois introduziu alguns elementos, cores e formas para fazer face ao enquadramento natural deste local”, descreveu.
A homenagem nasceu de uma ideia do presidente da Junta de Freguesia, José Vitorino, que começou por recordar o convite endereçado a Nuno Júdice para participar no 24.º aniversário da elevação da Mexilhoeira Grande a vila. Um convite que foi prontamente aceite, contudo, essa participação acabou por não se concretizar. “Infelizmente, o Nuno Júdice faleceu em março e não
podíamos deixar de lhe fazer a homenagem que ele bem merece.
A proposta do mural foi muito bem acolhida pela direção do Agrupamento de Escolas da Bemposta, falamos depois com a viúva e o filho, que também ficaram agradados com a ideia, e aqui está essa obra”, contou o autarca.
Rodeada de familiares e amigos, Manuela Júdice lembrou as brincadeiras de infância, as noites quentes de Verão na adolescência, os passeios à ria de Alvor e às escavações em Alcalar e em Monchique, experiências que marcaram a vida e obra do consagrado poeta. “O Nuno ensinou aos netos o amor
pelo Algarve e pela casa na Mexilhoeira, levou filhos e netos à ria para verem a flora e fauna locais. Com os filhos e o amigo José Mendes ajudou nas escavações arqueológicas da Teresa Júdice Gamito e algumas dessas peças estão hoje no Museu de Portimão. Desde sempre trouxe à Mexilhoeira, vindos de Portugal e do estrangeiro, escritores e cineastas, os amigos que ele ia fazendo pelo mundo por onde circulava”, referiu, emocionada.
“Ironia do destino, o Nuno Júdice, na infância e na adolescência, sempre fugiu às aulas de ginástica. Agora, fica imortalizado nas
paredes de um pavilhão gimnodesportivo”.
A cerimónia terminou com as palavras de Álvaro Bila, presidente da Câmara Municipal de Portimão, que não escondeu “a alegria por se poder perpetuar, através deste mural, a vida deste grande mexilhoeirense”. “Temos já outra iniciativa pensada para a freguesia para homenagear o Nuno Júdice e, em 2025, vamos colocar, ao longo da zona ribeirinha de Portimão, os seus poemas, para que as pessoas possam conhecer e apreciar a sua obra”, anunciou, em primeira mão, o edil portimonense.
Algarvensis deu mais um passo com vista a ser Geoparque
Mundial da UNESCO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Associação
Geoparque Algarvensis organizou, nos dias 13 e 14 de setembro, a primeira visita e reuniões técnicas dos Geoparques
Mundiais da UNESCO Portugueses, incluindo aspirantes a esta designação. A
iniciativa enquadrou-se no processo de candidatura à designação de Geoparque Mundial da UNESCO, que será entregue, junto da Comissão Nacional da UNESCO, em novembro do corrente ano.
No âmbito desta jornada foram celebrados, no dia 13 de setembro, protocolos de cooperação com várias entidades regionais, designadamente,
com a Administração da Região Hidrográfica do Algarve da Agência Portuguesa do Ambiente (ARH/APA), a Associação de Municípios do Algarve –Comunidade Intermunicipal (AMAL), a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR Algarve), o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF – Algarve), a Região de Turismo do Algarve (RTA) e a Universidade do Algarve (CinTurs – UAlg), bem como com os quatro Geoparques Mundiais da UNESCO Portugueses (Arouca, Estrela, Naturtejo e Terras de Cavaleiros). Em abril do corrente ano já tinha sido assinado o mesmo protocolo com o
Oeste Geoparque Mundial da UNESCO, sendo que o Açores Geoparque Mundial da UNESCO irá formalmente confirmar a sua parceria com o Geoparque Algarvensis durante a 17.ª Conferência Europeia de Geoparques, nos dias 1 e 5 de outubro, na Islândia.
O Geoparque Algarvensis conta, igualmente, com o apoio de parceiros como a Associação IN-LOCO, a Associação de Pescadores de Armação de Pêra, a Associação Recreativa «Unidos da Penina», o projeto Loulé Criativo e as suas sete oficinas – Caldeireiro, Casa da Empreita, Olaria, Relojoeiro, Têxteis, Casa do Esparto e Luthier –, o Centro
Recreativo Cerro do Ouro – Albufeira, a Cooperativa para o Desenvolvimento Sustentável dos Territórios de Baixa Densidade – Algarve (QRER), o Museu Municipal de Loulé e os vários polos museológicos distribuídos pelo território, o Restaurante «Flor da Praça» (Loulé), o Restaurante «Veneza» (Paderne), e de diversos artesãos, artistas, costureiras e pescadores, entre outras comunidades locais. Em todo este processo de candidatura, de realçar o apoio intrínseco dos três municípios que integram o Geoparque Algarvensis – Loulé, Silves e Albufeira – e, respetivas Juntas de Freguesia existentes neste território.
Na ocasião, Rosa Palma, presidente da Câmara Municipal de Silves e da direção da Associação Geoparque Algarvensis, realçou que o projeto pretende envolver toda a região e não apenas três
concelhos, constituindo um valor acrescentado para o reconhecimento do Algarve. “Esperamos vir a ter o selo da UNESCO, com a ajuda das forças locais, às quais agradeço por acreditarem em nós e por estarem ao nosso lado”, declarou, antes de transmitir a palavra ao anfitrião, Vítor Aleixo, vice-presidente da Associação Geoparque Algarvensis. “É mais um passo no sentido certo para atingirmos o nosso objetivo. Tem sido uma caminhada muito mais difícil do que ao princípio imaginávamos, mas temo-nos mantido unidos, em boa conversa uns com os outros, e temos tido a capacidade e a inteligência de ultrapassar todos os pequenos e
grandes obstáculos que surgem”, apontou.
O presidente da Câmara Municipal de Loulé acrescentou ainda que “isto é muito mais do que um projeto de teor económico e turístico”. “A geologia é o princípio fundador deste conceito de geoparque, mas há que ter em conta a sustentabilidade, um conceito que está intrinsecamente ligado, de uma forma absolutamente essencial, ao geoparque. É muito importante que cada pessoa que se envolve neste projeto tenha consciência de que isto é um estatuto de salvaguarda e proteção do planeta. O planeta tem limites físicos que já ousamos
ultrapassar em muitos casos e temos que ser capazes de conseguir reverter esse cenário e, principalmente, há que ter muito juízo no futuro”, apelou. Já José Carlos Rolo, tesoureiro da Associação
Geoparque Algarvensis e presidente da Câmara Municipal de Albufeira, reforçou a gratidão e satisfação por este projeto recolher o apoio de tantas entidades regionais e nacionais. “Precisamos aprender com aqueles que andam nestas andanças há mais tempo, porque a caminhada tem sido difícil, mas assim também vai saber melhor quando obtivermos o selo da UNESCO. A união faz a força, isso é o mais importante nesta grande família dos
geoparques”, concluiu o edil albufeirense.
Recorde-se que o Geoparque
Algarvensis tem uma área territorial com limites bem definidos, possuindo um património geológico de grande relevo a nível nacional e internacional, aliada a uma estratégia de geoconservação e integrando um conjunto de políticas de educação e sensibilização ambiental. Procura, assim, a promoção de um desenvolvimento socioeconómico sustentável baseado em atividades de geoturismo, envolvendo as comunidades locais, contribuindo para a valorização e promoção dos produtos locais.
Oficializado em 2019, como aspirante a Geoparque Mundial da UNESCO junto da CNU e com assento, enquanto membro observador, na Rede de Geoparques Mundiais da UNESCO Portuguesa, iniciou, de imediato, um trabalho de sensibilização junto das populações locais sobre o conceito de Geoparque em todo o seu território, fazendo jus ao slogan «um geoparque antes de o ser, já deve trabalhar como tal». A Associação Geoparque Algarvensis foi criada formalmente, enquanto uma Associação sem fins lucrativos, em dezembro de 2023.
«HORIZON» E «LA SPIRE» A GRAVIDADE EM PORTIMÃO
SPIRE» DESAFIARAM PORTIMÃO
espetacularidade do novo circo dominou todas as atenções em Portimão nos dias 20 e 21 de setembro, mercê da destreza e graciosidade da artista francesa Chloé Moglia, que protagonizou duas atuações distintas e com produção da companhia Rhizome. Os espetáculos integraram a programação artística que celebra o centenário da cidade, preparada pela Lavrar o Mar –Cooperativa Cultural, sob organização da Câmara Municipal de Portimão.
O final de tarde na zona ribeirinha de Portimão foi marcado, na sexta-feira e sábado, pelo espetáculo a solo «Horizon», durante o qual Chloé se suspende e a tudo o que a rodeia para
provocar uma nova perspetiva, restando apenas o seu corpo, uma estrutura metálica, o ar e a gravidade. Numa coreografia feita de atenção e detalhe e em que todos os sentidos são intensificados, a acrobata explora as possibilidades inimagináveis do vazio. “O passado e o futuro desaparecem, tudo está aqui e agora. Num jogo deslumbrante e belo, entre o peso e a gravidade, o corpo desloca-se para se manter a flutuar, metamorfoseia-se e brinca, em simultâneo, com o seu peso e com a sua leveza ágil e poderosa, enquanto o ar se modula constantemente com variações infinitas à mercê da agitação das partículas”, fala a artista sobre «Horizon», que, como um espelho
sonhador e poético, leva os espetadores a 7 metros acima do solo, para um momento sobre-humano e sobrenatural.
Em «La Spire», cinco mulheres habitam uma imensa espiral instalada no Largo 1.º de Maio, mesmo em frente ao edifício da Câmara Municipal, ao mesmo tempo leve e monumental, formando três laços sucessivos com 7 metros de diâmetro e 18 de comprimento, onde inventam jogos e ligações. O espetáculo nasceu do desejo de Chloé em implantar a suspensão no cenário de um céu partilhado por todos e foi imaginado pela artista circense como uma estrutura-escultura na qual evoluem as trapezistas Mathilde Van Volsem, Fanny Austry, Mélusine Lavinet-Drouet, Anna Le Bozec, Océane Pelpel, Noëmie
Bouissou e Hanna de Vletter. “Essa espiral oferece uma sensação de vazio envolvente, tanto quanto evidencia a presença da paisagem em que se insere”, descreve.
Assim, partindo de um extremo ou de outro, as intérpretes criam o possível, aproximando-se, cruzando-se e deslocando-se umas em direção às outras, numa espetacular ascensão. Nesse entrelaçamento, inventam jogos e ligações, nas quais desempenha papel importante a ambiência musical criada por Marielle Chatain, que faz vibrar esta constelação humana. Verdadeiramente dois espetáculos impressionantes e que marcaram o programa do centenário da elevação de Portimão a cidade.
FLAMENCO VOLTOU A
A ENCANTAR LAGOS
agos recebeu, nos dias 12, 13 e 14 de setembro, o 21.º Festival de Flamenco de Lagos, o mais antigo do género que se realiza em Portugal, com organização do Município de Lagos e da Ibérica Eventos & Espectáculos. A edição deste ano contou com três espetáculos de lotação esgotada no Centro Cultural de Lagos, recheados do som de guitarras mágicas com identidade própria, de baile de beleza e paixão, e, sobretudo, de vozes carregadas de emoção e festa.
No dia 12 subiram ao palco os Son de Cádiz, formação composta por artistas originários da província de Cádiz. Este cuadro flamenco apresenta um espetáculo puro «sem aditivos», no qual
se recriam os sentimentos mais intrínsecos do ser humano, através do cante, do toque e do baile flamenco, como a dor, a raiva, a angústia, mas também os momentos mais festivos através de alegrías e bulerías. Conta, no al baile, com Abel Harana e Patricia Ibañez, no al cante e palmas Jesus Castilla, no cajón Naím Real e, no al toque (guitarra), Niño Manuel.
A 13 de setembro foi a vez de brilhar Alxaraf Flamenco, projeto original de flamenco que tem a particularidade de ter algumas das letras cantadas em ladino. São letras do cancioneiro sefardita que perduram na atualidade devido à transmissão oral e que são magistralmente interpretadas por três músicos virtuosos – Vicente Gelo (Al cante), David Chupete (Percussões) e
Tino Van der Sman (Al toque guitarra) –contando também com a presença de dois bailaores flamencos, Alejandro Rodriguez e Zaira Prudencio.
O festival encerrou, no dia 14 de setembro, com Piano Flamenco, que surgiu da inquietude do pianista, produtor e compositor Miguel Angel Ortega. O músico apresenta um espetáculo diferenciador com temas clássicos do flamenco e também originais, fazendo-se acompanhar de Silvia Herrerias, bailaora que deleitou o público com diferentes «palos» deste género considerado Património Cultural Imaterial da Humanidade. No al cante esteve Martin Jaén, na percussão Pakito Luke, no al toque (guitarra) Alberto Lucena, na trompeta Manuel Roldan e, nos sintetizadores, Miguel Ortega Jr.
Desenho, Construção e Vertigem - Exposição de Xana
Mirian Tavares (Professora)
Não há nenhum dever na arte porque a arte é livre. Vassily Kandinsky
obra de um artista é a sua afirmação de si no mundo dos outros. É a sua língua, ou, mais que língua, a sua linguagem –construída laboriosamente ao longo dos anos, torna visível a assinatura que faz reconhecer um determinado artista entre tantos. Tal não quer dizer, de modo algum, que ele (ou ela) sejam obrigados, para não perder a identidade, a fazer sempre o mesmo com algumas variações. A linguagem do artista é expansiva e, muitas vezes, funciona de forma paradigmática – uma obsessão que atrai sentidos diversos, novas formas e meios de expressão; que não funciona em linha reta, mas percorre os tortuosos caminhos da mente de quem a criou. Pode dizer-se que cada artista cria um idioleto, uma forma só sua de expressar ideias, de revelar aquilo que o interessa e que quer partilhar.
Xana é um artista de obsessões. As suas obras, gráficas ou tridimensionais, complementam-se, dialogam, criam um alfabeto próprio, através do qual o artista apresenta conceitos do universo da
estética e da história da arte. Será possível, ainda, pensar na arte contemporânea como bela? Ou politizada, ao ponto de buscar a liberdade? (Seja liberdade de criação, seja o conceito de liberdade em si mesmo). Será a arte uma forma de sabedoria/conhecimento, capaz de promover a felicidade? E será que esses conceitos, na obra de Xana, dizem aquilo que outrora disseram ou funcionam como gatilhos capazes de disparar, no público, verdades (?) sobre a arte e sobre a condição de ser artista?
Esta exposição funciona como uma antologia das suas obras desde 2011 até à atualidade. Os desenhos foram organizados em quatro núcleos: OLEB, FELCIA e LBRD (2011 a 2015); Milagre OLEB (2020); CENTRO (2020-2023); e A Passagem (constituída por desenhos e obras escultóricas site specific, feitas em madeira policromada).
Cada um destes núcleos é constituído por um alfabeto próprio que reflete, não só, fases diferentes da obra de Xana, como apresenta a fala do artista diante (e sobre) o próprio universo artístico. As cores vivas constituem-se como marca
registada de um artista que começa seu percurso nos gloriosos anos 1980 –período de efervescência cultural num país recém-saído de uma ditadura e recém acolhido pela União Europeia. Mas, entre os desenhos, alguns prescindem da cor e apelam ao gesto, um gesto que procura recuperar o momento em que a arte não se descrevia, apenas se inscrevia nas paredes.
O problema da escritura/inscrição é também central num artista que pretende falar a partir do seu verdadeiro meio: a criação artística. Sem perder a profundidade daquilo que diz, Xana prefere dizê-lo com desenhos e obras tridimensionais, não se deixando influenciar pela linguagem externa à arte, que se constitui como crítica ou História.
Ouvi, há anos, uma frase, dita por um psicanalista, que me fez pensar em Xana e no seu corpo de trabalhos – O homem fala, a mulher borda. A mulher aqui é um conceito mais amplo que não representa apenas o feminino, mas abarca todos aqueles que fogem do regime falocrático. De um regime da fala e pela fala que nos obrigada a dizer, repetindo ou concordando com o que foi dito antes de nós, e nunca por nós mesmos. Ao escapar do regime da fala (e da falocracia), Xana reafirma a liberdade do artista de escolher como vai fazer a sua obra comunicar e como vai criar, com ela, novas e impossíveis linguagens que não se deixam aprisionar pelo regime do escrito, mas inscrevem-se num discurso outro, mais vívido e sensível, mais direto e original.
O empreendedorismo como solução para combater o despovoamento
Fábio Jesuíno (Empresário)
despovoamento de muitas regiões, principalmente nas áreas rurais, é um problema crescente e complexo que exige soluções inovadoras.
Uma das soluções mais promissoras e eficazes para enfrentar este desafio é o empreendedorismo. Promovendo e atraindo o desenvolvimento de negócios locais, é possível revitalizar economias estagnadas, gerar empregos e, consequentemente, atrair e reter população.
O despovoamento é um dos grandes desafios da atualidade, com impactos profundos na economia, na cultura e na qualidade de vida das comunidades afetadas. O empreendedorismo surge como uma ferramenta poderosa no combate a este fenómeno, impulsionando o desenvolvimento sustentável em regiões menos densamente povoadas.
O empreendedorismo, ao fomentar a criação de novas empresas e negócios, desempenha um papel crucial na revitalização de regiões afetadas pelo despovoamento. Ao gerar empregos, ele contribui para fixar a população local e
atrair novos habitantes. Além disso, os empreendedores, ao identificarem as necessidades e oportunidades das suas comunidades, podem desenvolver produtos e serviços inovadores que contribuem para a melhoria da qualidade de vida e para a valorização do território.
Para combater o despovoamento através do empreendedorismo, é essencial que governos, autarquias e organismos públicos reforcem o apoio às entidades locais, para promoverem políticas e programas que incentivem a criação de empresas e negócios. Estes devem fornecer suporte financeiro, técnico, jurídico, programas de formação e capacitação aos empreendedores, facilitando o desenvolvimento de novas iniciativas.
A melhoria das infraestruturas é outro aspeto importante a ter em conta, como, por exemplo, o acesso à internet, energia e transportes, sendo essencial para facilitar a atração de empreendedores, instalação de empresas e investimentos.
Diversas iniciativas empreendedoras em todo o mundo demonstram o potencial do empreendedorismo para combater o despovoamento. Desde pequenas empresas familiares até startups inovadoras, os empreendedores estão a revitalizar as suas comunidades e a criar
novos modelos de negócio. As principais áreas de atuação incluem a agricultura, o turismo, as energias renováveis e a economia circular.
O empreendedorismo é uma poderosa alavanca para combater o despovoamento e revitalizar as regiões. Os empreendedores desempenham um
papel crucial na promoção de um desenvolvimento mais sustentável e equilibrado. No entanto, para que o empreendedorismo tenha um impacto verdadeiramente significativo, é indispensável uma ação coordenada entre todos os atores envolvidos, desde os governos e entidades locais até os próprios empreendedores.
Era um biquini pequenino…
Sílvia Quinteiro (Professora)
empre tive alguma dificuldade em acompanhar as tendências. Para ser honesta, nunca fiz o mínimo esforço nesse sentido. Se a moda é beber gin, bebo vinho do Porto. Se o que está a dar é Marrocos, a Itália parece-me perfeita. Rooftops, sunsets? Antes um amanhecer no campo. Sushi? Nem morta! Sardinhada. E quando esgotarem nas livrarias os títulos do mais recente Nobel da Literatura e surgirem especialistas como cogumelos, continuarei a ser a pessoa que desconhece a obra e está a reler um Vitor Hugo ou um Camilo. A simples ideia de ir atrás, de «ter de» para pertencer, cansame a alma. Nem sequer é uma questão de afirmação, de ser do contra ou uma necessidade de marcar a diferença. É simplesmente falta de interesse. Não me apetece… E talvez por isso, enquanto observo uma multidão alinhada que tenta tirar exatamente a mesma fotografia, na mesma pose, no mesmo sítio e a fazer o mesmo coração com os dedos, recordo duas personagens com quem me cruzei diariamente nas últimas férias.
Numa praia que frequento assiduamente, por entre os muitos turistas e caras desconhecidas, lá estava mais uma vez um senhor que já pertence à paisagem. Surge todos os dias a meio da manhã. Nunca o vi de perto, mas
imagino-o septuagenário. Passo firme. Em linha reta. Como quem tem uma missão a cumprir. Com uma mão arrasta a prancha de paddel. Com a outra segura um remo e um banco de plástico. Entra na água e coloca-o sobre a prancha. Sobe, senta-se e inicia a sua sessão diária de «sit down paddle». Os olhares dos banhistas ficam presos a esta imagem. Nos seus olhos, apenas o oceano. Uma remada segura e tranquila. Acredito que nem se aperceba de que estão todos a olhar. Desliza. Tem um ar feliz. Sereno.
Mais perto de mim, passa uma senhora. É-me difícil adivinhar a idade. O corpo diz-me que já passou dos 80, a atitude que é uma menina. Faz a sua caminhada matinal à beira-mar. Saltita na bainha das ondas. Brinca. O corpo é uma passa de ameixa. Invulgarmente bronzeado, seco, enrugado. Chapéu de palha. Um pequeno biquíni fresco como a água que lhe toca os pés e salpica as pernas. Lindo. Azul celeste, salpicado de margaridas brancas, folhos em ambas as peças. Penso em como gostaria de o ter usado, mas não teria tido coragem para o fazer. Não para além dos 12 ou 13 anos. Afinal não sou tão livre como pensava. Nela, por incrível que pareça, fica maravilhoso. Mas não é isso que me prende a atenção. O que me faz observá-la todas as manhãs é o mesmo que me leva a admirar o senhor do «sit down paddle». É perceber que não lhes interessa se fica bem. Não lhes interessa se os outros olham. Não lhes
interessa se aprovam ou desaprovam. Provavelmente nem se lembram de que esses outros existem. Fazem o que lhes apetece, vestem o que lhes apetece, como lhes apetece, ignorando o mundo à sua volta. Uma liberdade invejável.
E tudo isto me vem à lembrança, enquanto o sol se põe em Florença. Na Praça Michelangelo, a proximidade do momento faz com que os turistas se atropelem para ocupar a fila da frente. A humanidade descobriu o pôr-do-sol. É uma estreia. Gente de todo o mundo bate
palmas sincronizadas. Ninguém quer ser o primeiro nem o último. Bater uma palma fora do sítio é um embaraço. Há que ser igual. Alinhadinho. O sol, exultante com a atenção, garante-lhes que são o melhor público do mundo, que foi um espetáculo inesquecível. Faz uma vénia e sai de cena. Saem todos. Já não é cool estar ali. Fico eu. Porque sim. Porque não me apetece descer. Mas o que eu queria mesmo era ter coragem para usar o biquíni azul celeste com margaridas brancas e folhos esvoaçantes.
As portas do Bósforo
Dora Gago (Professora)
Não descobrimos o mar sozinhos e só o vemos com os nossos próprios olhos. Contemplamo-lo também como outros o viram, nas imagens e nas histórias que nos transmitiram: travamos conhecimento com ele e reconhecemo-lo ao mesmo tempo.
Predrag Matvejevitch, Breviário Mediterrânico, 2019 p. 129
voco Istambul. Resgatoa dos meandros da memória, presentifico os passos que dei pelas suas ruas, os rostos com que me cruzei nas teias do seu inusitado melting pot, por vezes, sob a égide das palavras de Orhan Pamuk, distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 2006, que transfigurou para os seus livros a alma melancólica da cidade, retratando os cruzamentos de culturas através de novos símbolos. Sinto, novamente, o vermelho doce dos bagos de romã, o sabor intenso de maçã e canela do chá, os mil cheiros de especiarias do Grande Bazar, mesclados de uma multiplicidade de cores, texturas, brilhos, formas, sons, como se o mundo inteiro confluísse para aquelas mais de sessenta ruas prenhes de mistérios, de descobertas, a pulsarem de vida, de vidas. É todo um universo de sensações saboreadas, devoradas, revividas até se fundirem com os tons laranja-dourado do por-do-sol no Corno de Ouro, na colina de Pierre Loti (18501923) – o escritor francês de viagens, cuja obra trabalhei na minha tese de mestrado. comparando-lhe as representações das cidades em ruínas com as de Julien Gracq e Howard Philips
Lovecraft. E, quinze anos após ter terminado o meu convívio académico com Loti, eis que, meses depois de ter visitado, em Siem Reap, no Cambodja, o Templo Angkor Vat (cenário e protagonista da sua obra Les ruines d’Angkhor), me deslumbro com a paisagem sobre o Porto de Istambul na colina com o seu nome, também atribuído a um café. Aliás, dos múltiplos destinos calcorreados por Julien Viaud (era esse o seu nome) como Oficial da Marinha, sabe-se que a Turquia foi um dos seus espaços mais amados por ele, onde, em 1877, se apaixonou por Hatice, uma jovem pertencente ao Harém de um otomano rico que, não tendo liberdade para o amar, lhe terá oferecido um colar com todas as suas joias, no momento da despedida. Foi inspirado nessa paixão infeliz que Loti publicou, em 1879, sob anonimato, o seu primeiro romance intitulado Aziyadé (1879). Regressou depois à Turquia para saber da morte da sua amada, vítima da discriminação, do desgosto. Procurou-lhe o túmulo, desesperadamente, escrevendo, com base nessa demanda registada no seu Diário, o romance Fantôme d’Orient (1892). Todavia, além de Hatice, Loti amou também o país, as gentes e o Bósforo. Esse rio que me levou à colina,
tendo depois gerado na minha mente uma imagemfundadora, arquivada nas gavetas da memória: as portas do Palácio Dolmabahçe a abrirem-se para ele, para esse Bósforo que é um intenso grito azul pontilhado pelo branco das gaivotas. Ao contrário dos outros rios, este não me desiludiu, superou até as expectativas. E quando falo dos outros, refiro-me à desilusão sofrida com o barrento Rio Da Prata, quando aterrei em Montevideu, repetida com o ainda mais amareliço e acastanhado Rio das Pérolas de Macau. Isto porque, como a maioria dos viajantes levava a minha mente equipada com um imaginário em cuja paleta surgia, como uma espécie de arquétipo, o azul do Tejo. Era o rio grande de uma cidade também grande, por isso os outros por esse mundo fora assemelhar-se-lhe-iam (pensava eu). E, confrontada com a minha desilusão, penso ter sido esse pequeno detalhe a ponte conducente à consciencialização das diferenças que depois conheceria, com diversas cambiantes, intensidades e nuances, consoante as culturas, os continentes, os países.
Mas, fechado este longo parêntesis, regresso ao Dolmabatche. Revejo os tectos ornamentados com catorze toneladas de ouro, a profusão de cristais -o maior lustre de cristal de Boémia,
oferecido pela rainha Victória do Reino Unido, decora o salão central, com as suas 750 lâmpadas. Aliás, consta que o Dolmabahçe será detentor da maior coleção de lustres feitos de cristal da Boêmia e Baccarat do mundo. Contudo, procuro ver para além deste brilho ilusório, imaginar os passos daqueles que aqui habitaram, iluminados pelos privilégios. Um deles, Mustafa Kemal Atatürk, fundador e primeiro presidente da República da Turquia, viveu os últimos dias e faleceu num destes quartos, num
Novembro talvez como este, mas do ano de 1938. Foi o primeiro nome com o qual contactei, ao aterrar, vinda de Hong Kong, no aeroporto que lhe presta homenagem. É a sua sombra que paira, aqui, neste palácio que foi o principal centro administrativo do Império Otomano de 1853 a 1922. Ele, «o pai» da Turquia laica, o revolucionário, antiimperialista, anti-colonialista. Durante os quinze anos na presidência, introduziu reformas profundas, criou um novo sistema político-legal, laicizando o governo e a educação. Concedeu direitos civis às mulheres, introduziu o vestuário ocidental, instaurou o alfabeto latino, apoiou o desenvolvimento das artes, ciências, indústria e agricultura…
Imagino-o percorrendo estes corredores, na agonia dos últimos dias, com o corpo e alma talvez corroídos pelo álcool – último refúgio, esse o de diluir traições, solidão, desamores, num copo atrás do outro, até à anestesia total, a uma espécie de éden provisório, traiçoeiro.
Paro em frente aos portões abertos para o Bósforo, aqui, no distrito de Beşiktaş, no lado europeu da cidade. Fotografo-os com os olhos, a alma e… sim, também com o telemóvel. Aliás, sinto que as duas margens de Istambul, a asiática e a europeia, irmanadas pelo rio, metaforizam, em certa medida, as duas metades da minha vida, também ela entre a Europa e a Ásia, tal como a de Pierre Loti que, talvez numa outra dimensão, num outro universo, esteja a contar a Ataturk do seu amor sofrido, da morte, da ostracização que vitimou Hatice, mulher sem direitos, que sendo
propriedade privada de um otomano poderoso, ousou amar o homem estrangeiro vindo dos mares. Uma mulher que quis ultrapassar, em vão, a sua condição de mero objecto, ou talvez melhor dizendo, de animal com um dono a quem servir, relegada, por isso, para a margem habitada pelos subalternos sem direitos nem voz – como, infelizmente, tantos anos depois ainda sucede em vários, demasiados pontos do mundo.
Mas as duas margens de Istambul configuram também a união dos contrastes, desencadeando em mim, instintivamente, a busca comparatista de escavar, desenterrando as semelhanças no solo das diferenças, como preconiza Claúdio Guillén na sua obra Entre lo Uno y lo Diverso, para desenlear os novelos da intertextualidade. Deste modo, contemplo o rio-mar também com o olhar dos Outros que me antecederam, na esteira de Predrag Matvejevitch, tendo ao meu lado a sombra de Pierre Loti (finalmente de mãos dadas com Hatice, a quem devolve o colar) e de Ataturk, o «Pai dos Turcos», a abençoarlhes, desta vez, a união. Somos quatro sombras desenhadas a tinta-da-china, no quadro da memória, despidas já dos cheiros, do bulício, dos sabores de Istambul, querendo somente acreditar que o grito azul do Bósforo possa ser pontilhado por asas brancas, não apenas das gaivotas, mas também da igualdade, da liberdade, da paz – portas talhadas no metal do entendimento e da harmonia entre os povos.
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