REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #454

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ALGARVE INFORMATIVO

19 de outubro, 2024

ÍNDICE

Junta de Freguesia de Boliqueime apoia coletividades (pág. 20)

Campo Santos Uva em São Brás de Alportel foi requalificado (pág. 28)

Taça de Portugal de BMX em Portimão (pág. 38)

Festival Pedra Dura quase a chegar a Lagos (pág. 54)

Albufeira quer ser Cidade Europeia do Desporto em 2026 (pág. 64)

«Agora nascíamos outra vez» da Companhia Maior no Cineteatro Louletano (pág. 76)

Maria João e Carlos Bica no Cineteatro Louletano (pág. 90)

Algarve Music Series no Teatro Lethes (pág. 100)

OPINIÃO

Paulo Cunha (pág. 110)

João Ministro (pág. 112)

Carlos Manso (pág. 114)

Junta de Freguesia de Boliqueime apoia coletividades em cerca de 40 mil euros

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

Junta de Boliqueime assinou, no dia 11 de outubro, protocolos de atribuição de subsídios no valor aproximado de 40 mil euros com nove coletividades da freguesia, designadamente, o Agrupamento de Escuteiros 1174, a Associação Cultural de Boliqueime, a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola E.B. 1 Prof. Aníbal Cavaco Silva, a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola do 1. Ciclo do Ensino Básico de

Benfarras, o Centro Social e Comunitário de Vale Silves, o Clube Desportivo de Boliqueime, a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime e a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola do Ensino Básico de Vale Silves. Uma cerimónia onde se pretendeu enaltecer e agradecer o trabalho desenvolvido no âmbito desportivo, cultural, social, educativo e recreativo, um trabalho considerado “imprescindível” pelo autarca Nelson Brazão. “Sabemos o quão difícil é manter o associativismo vivo, sendo ele tantas vezes desvalorizado por quem nunca nada produziu para a causa.

Temos de louvar a perseverança e disponibilidade que todos vocês colocam no associativismo, para que o mesmo se mantenha ativo em tempos tão difíceis”, salientou o presidente da Junta de Freguesia.

Nelson Brazão destacou as muitas horas e dias que estes homens e mulheres dedicam aos jovens, adultos e seniores do território, de modo a que desfrutem de atividades dos mais variados espectros.

“A Junta de Freguesia deve desempenhar um papel importante, sobretudo no apoio financeiro e logístico. Temos vindo a dotar a Junta de meios para dar resposta às vossas necessidades e esperamos corresponder às vossas expetativas”, afirmou, perante uma sala cheia de dirigentes associativos.

Esta foi a primeira vez que a Junta de Freguesia de Boliqueime assinou protocolos desta natureza, após a aprovação recente do Regulamento de Atribuição de Subsídios às associações e entidades sem fins lucrativos.

“Resolvidas que estão as questões burocráticas, estes protocolos implicam um investimento a rondar os 40 mil euros, o maior valor de sempre concedido por esta Junta de Freguesia. Sabemos que não é muito, mas certamente que vos vai ajudar bastante nas vossas atividades”, indicou Nelson Brazão, deixando a garantia que de “esta Junta estará sempre aqui para vos apoiar, porque o vosso sucesso será o sucesso desta futura vila”

Campo Sousa Uva, em São Brás de Alportel, renovou balneários e edifícios de apoio

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

oram inauguradas, no dia 6 de outubro, as obras de requalificação dos balneários e edifícios de apoio do Campo Sousa Uva, em São Brás de Alportel, num momento marcante que representa um avanço importante para a União Desportiva e Recreativa Sambrasense e um impulso para o desenvolvimento do desporto local, reforçando assim o compromisso do clube com a inclusão e a excelência nas suas infraestruturas. A

cerimónia contou com a presença de diversas figuras de relevo, incluindo o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, o Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, o Presidente da Associação de Futebol do Algarve, Reinaldo Teixeira, e o Presidente da Assembleia Geral da UDRS, Joaquim João Gonçalves, entre outros representantes da comunidade desportiva.

Bruno Sousa Costa, Presidente da União Sambrasense, sublinhou o significado

desta obra para o futuro do clube, “num sonho antigo que se torna realidade”. “Com esta requalificação damos um enorme passo na melhoria das condições de treino e competição dos nossos atletas, com balneários modernos e instalações de apoio renovadas. Este projeto foi concretizado graças ao apoio da Câmara Municipal e do fundo «Crescer 2024» e reflete a ambição de tornar o nosso clube mais acessível e inclusivo, preparado para os desafios do futuro”, adiantou o dirigente.

As obras não só modernizaram os balneários, que não eram renovados há mais de 30 anos, mas também tornaram

o bar do campo e uma instalação sanitária mais acessíveis a todos os utilizadores, incluindo pessoas com mobilidade reduzida. Além disso, o clube tem sido pioneiro ao introduzir a modalidade de Boccia, um desporto que promove a integração de atletas com necessidades especiais.

Na ocasião, Joaquim João Gonçalves, Presidente da Assembleia Geral do clube, não escondeu a emoção de ver o projeto chegar à sua conclusão: “Este é um momento histórico que reflete a dedicação de várias gerações ao longo dos anos. A renovação destas infraestruturas é um testemunho do trabalho incansável de todos aqueles

que acreditam no poder transformador do desporto”, afirmou, com Reinaldo Teixeira, Presidente da Associação de Futebol do Algarve, a enaltecer igualmente o impacto positivo das melhorias. “Esta requalificação irá proporcionar condições excecionais para a prática desportiva e será um exemplo para outros clubes da região. É um grande orgulho ver um clube como a União Sambrasense continuar a inovar e a crescer”

No uso da palavra, Vítor Guerreiro lembrou que muitos e determinantes têm sido os investimentos efetuados nos últimos anos na área do desporto, quer na melhoria dos equipamentos existentes, como na criação de novos equipamentos, bem como no apoio à capacitação das associações e clubes do concelho. “Criando assim melhores

condições e aumentando a diversidade de modalidades desportivas disponíveis para a nossa comunidade. A saúde da população e o bem-estar social devem ser as grandes prioridades de uma autarquia e, para tal, temos que investir na prevenção da doença, na integração e na harmonia social. A pratica desportiva e o exercício físico são o caminho para uma comunidade mais saudável e feliz. Manter uma população ativa, desde os mais jovens até aos nossos seniores, é um objetivo que só podemos alcançar através da promoção do desporto em todas as suas vertentes”, frisou o edil são-brasense.

O autarca considerou que o Plano de Apoio ao Associativismo expressa bem este compromisso com o desporto, com um investimento de cerca de 5oo mil euros consubstanciado em cerca de 30

protocolos de colaboração, aos quais acrescem outros apoios, por exemplo, para a aquisição de viaturas, tendo sido este ano a União Sambrasense uma das quatro associações auxiliados neste âmbito. “Nos últimos anos muitos têm sido os investimentos que temos concretizado no nosso concelho, agarrando a oportunidade do PRID –Programa de Reabilitação de Instalações Desportivas do IPDJ, em parceria com as nossas associações e com comparticipação financeira da Câmara Municipal”, evidenciou.

Vítor Guerreiro falou dos casos concretos da requalificação da sede da

Associação X-Dream, Centro de Apoio ao BTT, da construção do Campo de Basquete em parceria com o CCD, da cobertura do Campo de Ténis em parceria com o Clube de Ténis e Padel, e do arrelvamento do campo de futebol Afre Lourenço, em parceria com a União Sambrasense. “Este investimento dignifica, não só o Campo Sousa Uva, mas também o meritório trabalho desenvolvido pela União Sambrasense, melhorando significativamente as condições para os atletas e público, onde não foi esquecida a criação de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida”, apontou Vítor Guerreiro, lembrando ainda que estas

requalificações em concreto implicaram um investimento global de 101 mil e 550 euros, com o Município de São Brás de Alportel a assegurar 50 por cento desse valor.

A encerrar as intervenções oficiais, o Ministro dos Assuntos Parlamentares, que antes tinha visitado outros equipamentos do Parque Desportivo do concelho, realçou o valor do desporto na sociedade. “Não há obras pequenas quando se trata de melhorar as condições para os nossos jovens. O desporto forma cidadãos e fortalece comunidades, e é com enorme prazer que estou aqui hoje, honrado por testemunhar o empenho e dedicação de

todos nesta obra”, declarou Pedro Duarte, que teve ainda a oportunidade de conhecer a equipa de Boccia da União Sambrasense, modalidade que tem sido um símbolo do compromisso do clube com a inclusão, dando espaço e oportunidade a todos os atletas, independentemente das suas capacidades.

A inauguração terminou num ambiente de celebração, com um almoço-convívio que uniu todos os presentes num espírito de união e orgulho coletivo, simbolizando o futuro promissor da União Sambrasense e do desporto em São Brás de Alportel.

Renato da Silva e Rita Xufre conquistam Taça de Portugal de BMX

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo

enato da Silva (Team BMX Quarteira) e Rita Xufre (Núcleo Bicross de Setúbal/knowledge inside) são os grandes vencedores da Taça de Portugal de BMX Race 2024. Os dois jovens lideravam o ranking e consumaram a conquista com vitórias nas duas derradeiras provas da competição, em Portimão, nos dias 5 e 6 de outubro.

Renato da Silva liderou o ranking final da Taça de Portugal na categoria superclasse com um total de 92 pontos, já somados os dois triunfos conseguidos

este fim de semana, no Algarve. O pódio final foi dominado pela Team BMX Quarteira, com os colegas de Renato, Bernardo Rocha (65 pontos) e Leonardo Carmo (54 pontos), no segundo e terceiro lugares, respetivamente.

Entre as atletas femininas, Rita Xufre voltou a destacar-se nas duas etapas finais da Taça de Portugal e terminou a competição no primeiro lugar, com 75 pontos. Filipa Gonçalves (Clube Bicross de Portimão) ficou em segundo lugar, com 38 pontos, e Leonor Carvalho (Núcleo Bicross de Setúbal/knowledge inside) em terceiro, com 37.

Nas restantes categorias, realce para Martim Almeida (Clube Bicross de Portimão) que venceu a Taça na categoria masculina de maiores de 17 anos. Nos mais jovens, Francisco Sousa (Team BMX Quarteira), em sub-17, e Joaquin Pino (Casa do Povo de Abrunheira) e Maria Pinto (Casa do Povo de Abrunheira), em sub-15, celebraram a conquista da Taça. Em masters femininas, Alexandra Loureiro

(Pinhalbike Team/Associação Desportiva) foi a vencedora final, enquanto Paulo Domingues (Casa do Povo de Abrunheira) e Marco Amaral (Team BMX Quarteira) terminaram na liderança entre cruisers 40 e 30/39, respetivamente.

A correr em casa, o Clube Bicross de Portimão selou a vitória no ranking por equipas, com 158 pontos, à frente da Casa do Povo de Abrunheira, com 144, e da Team BMX Quarteira, com 130.

Festival Pedra Dura regressa a Lagos para descentralizar a mente e o pensamento

Texto: Daniel Pina e 7 a 16 de novembro, o Pedra Dura – Festival de Dança do Algarve regressa a Lagos para desafiar «um corpo erradamente fixo» e, na sua terceira edição, volta a crescer, com 37 propostas entre espetáculos, concertos, exposições, masterclasses e muito mais. O programa

completo está disponível em www.festivalpedradura.com e foi dado a conhecer, em conferência de imprensa realizada nos Paços do Concelho Séc. XXI, no dia 7 de outubro. “É um festival inteiramente criado no concelho de Lagos, está integrado em todos os sentidos no Plano Estratégico Municipal de Cultura, e tenho a certeza de que vai continuar a crescer”, começou por dizer Sara Coelho, vereadora da Câmara

Sara Coelho, Daniel Matos e Joana Flor Duarte

Cavala © Tristán Pérez‐Martín + La Caldera

Municipal de Lagos. “A dança é uma área de importância estratégica fundamental neste concelho, porque há um conjunto de associações e entidades que a têm como tema central e porque também é a forma de expressão artística com que o público lacobrigense em geral se identifica mais. Faz, por isso, todo o sentido investir num festival desta natureza, que apresenta uma grande diversidade de formas de trabalhar a dança. Desenvolver o pensamento crítico, envolver a comunidade, tornar as pessoas cidadãs em plena consciência do que é o exercício da cidadania, são objetivos da autarquia e a dança contribui para tudo isso”, justificou Sara Coelho.

Depois de uma segunda edição em que os eventos estiveram praticamente esgotados, as expetativas para o Pedra Dura de 2024 são altas, porque a comunidade local está, de facto, mais

desperta para estas propostas. “Queremos cruzar diferentes públicos na mesma sala e contrariar o tradicional separatismo que existe nas artes plásticas”, indica Daniel Matos, com Joana Flor Duarte a garantir que as pessoas estão preparadas para assistir a espetáculos mais arrojados. “Podem não estar habituados a ver, mas vão criando proximidade com estas práticas”, observa. “Existe uma tentativa de trazer espetáculos que sejam mais convidativos ao público em geral, mas queremos que essas pessoas depois se integrem em espetáculos de maior risco, com um formato mais underground. Fala-se muito na descentralização, mas também temos que descentralizar a mente e o pensamento, o que é necessário para se ver o mundo de diferentes formas”, reforça Daniel Matos. Sara Coelho considera, entretanto, que os lacobrigenses já têm a mente mais aberta

Cisnografia © Margarida Dias
Descarga © Sara Ferreira

Coreografia em sala de aula © Santarém Cultura

para apreciar um estilo de dança menos convencional. “A nossa grande preocupação não deve ser a quantidade de pessoas que vão aos espetáculos, mas sim levar às pessoas diferentes formas de expressão artística, estimulálas e levá-las a abrir as suas mentes e a procurarem caminhos distintos. Só através da arte é que conseguiremos mudar o nosso mundo”, acrescentou a vereadora.

Ora, de acordo com os programadores, Daniel Matos e Joana Flor Duarte, num mundo em ebulição é preciso inventar novas formas de viver em coletivo. Por isso, o festival arranca simbolicamente numa escola do 1.º ciclo, com «Coreografia em Sala de Aula», de João dos Santos Martins. Depois, o Pedra Dura orbita em torno do Centro Cultural de

Lagos, onde é apresentado o espetáculo de La Compagnie Non Nova – Phia Ménard, «L’après-midi d’un foehn –Versão 1». No mesmo dia é exibido o filme «Darktraces: on ghosts and spectral dances» de Jo Castro & João Catarino e inaugura a instalação «Cisnografia: a reescrita do cisne» de Luiz Antunes, bem como a exposição do CenDDA – Centro de Documentação de Dança do Algarve.

Ao longo das duas semanas seguintes, as propostas serão tão variadas quanto quem as protagoniza. Vera Mantero apresenta «___chãocéu|» com Henrique Furtado Vieira e João Bento; os Papillons d'éternité (Matthieu Ehrlacher & Tânia Carvalho) fazem a estreia nacional do concerto «Greta Oto»; e do Louvre para Lagos, o coreógrafo brasileiro Volmir Cordeiro apresenta «Rua» com

Cryng Cycle 1© João Catarino

Washington Timbó e Outrar. Uma novidade desta edição é a aposta nas residências artísticas, com o objetivo de criar vínculos mais duradouros entre artistas e comunidade. Do Brasil, Andrei Bessa e Izabel Nejur partilham os seus processos de criação, no contexto da «Queer Art Lab», projeto que promove a diversidade artística e cultural, incentivando propostas inovadoras e colaborativas que refletem a pluralidade de vozes e experiências da comunidade LGBTQIA+. Vindo de Itália, Matteo Sedda desenvolve a experiência hipnótica de «Fuck me blind» e interpreta «neverstopscrollingbaby de Vitamina», e Beatriz Marques Dias e Alexandre Moniz mergulham durante 15 dias no Centro Ciência Viva de Lagos para encontrar um «Universo no céu da boca».

As novidades prosseguem com Márcia Lança a apresentar o solo «Cavala», «Os Palcos Instáveis Segunda Casa» trazem performances de Maria R. Soares & Antonio Marotta e Margarida Constantino, e Fábio (Krayze) Januário revisita o passado de guerra civil em «Angola», para desvendar a força de resistência do kuduro, em Musseque. De regresso ao Pedra Dura estão Ana Borralho & João Galante, que tinham marcado presença na primeira edição e dão agora a conhecer «O centro do mundo», Silvana Ivaldi, que apresenta «Icona» a partir do capítulo «Paraíso» da «Divina Comédia» de Dante, e VonCente, que aquecerá o final da primeira semana com um Dj set de sonoridades forradas a sofisticação.

Gigantesca © Alípio Padilha

Para os amantes de imagens em movimento, o festival conta ainda com projeção de «Obcecada com a Luz», um filme sobre a bailarina Loïe Fuller, e «Crying Cycle 1», a estreia do primeiro capítulo de uma trilogia de vídeo-dança de Daniel Matos & João Catarino. Para os mais novos está reservada a mostra de vídeo-dança «Little Shadow». No universo da música, Violeta Azevedo fazse acompanhar de uma orquestra eletrónica em «Canção para Caranguejes» e Lana Gasparotti é a responsável pela instalação sonora e live act «L Í Q U I D A», na Taberna do Guerreiro. A encerrar o festival, o Armazém Regimental de Lagos vai encher-se ao som daquele que é já uma lenda urbana e suburbana, o DJ Marfox.

O extenso programa conta igualmente com uma jam session de Rita Marques, com a F.E.R.A. – Feira de edições realizadas por artistas da Apneia Colectiva, com o lançamento do jornal Coreia 11#, com masterclasses de Silvana Ivaldi, Sylvia Rijmer & Cláudia Sevivas, Connor Scott e Pedro Sena Nunes, com propostas do Centro Ciência Viva de Lagos e com um podcast e conversas com artistas conduzidas por Tiago Mansilha.

O Pedra Dura tem direção artística de Daniel Matos e Joana Flor Duarte e é uma coprodução da Cama – Associação Cultural e do Município de Lagos, com o apoio da República Portuguesa / Direção Geral das Artes.

Musseque © Jafuno neverstopscrollingbaby ©Joshua Vanhaverbeke
O Centro do Mundo © Leonor Fonseca
void void void 2 © Sara Ferreira

Albufeira quer ser Cidade Europeia do Desporto em 2026

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Rui Gregório/Município de Albufeira oi apresentada oficialmente, no dia 16 de outubro, a candidatura de Albufeira a Cidade Europeia do Desporto'26, numa cerimónia que contou com a presença dos elementos da comissão avaliadora da ACES Europa e ACES Portugal, de representantes de clubes e associações do concelho e de diversos embaixadores desta candidatura. Uma ideia lançada por José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, há cerca de

quatro anos e que começou a ser trabalhada de forma mais ativa após as eleições autárquicas de 2021. “Estava enquadrada no nosso programa eleitoral e, depois da tomada de posse do novo executivo, começamos a desenhar e implementar a estratégia com vista a apresentar esta candidatura. Ser Cidade Europeia do Desporto é, no fundo, reconhecer-se o trabalho desenvolvido pelos municípios em termos de políticas de desporto e as infraestruturas existentes. E o desporto muitas vezes é olhado apenas do ponto de vista federativo e competitivo, mas

Nuno Santos (ACES Portugal), Gian Francesco Lupattelli (ACES Europa), José Carlos Rolo (presidente da Câmara Municipal de Albufeira) e Cristiano Cabrita (vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira)

nós queremos desporto para todos em Albufeira”, refere Cristiano Cabrita, vicepresidente da Câmara Municipal de Albufeira e vereador com o pelouro do Desporto.

Desporto para todos que passa, por exemplo, por haver campos de futebol ou basquetebol sempre abertos e ao dispor da população que deles deseje usufruir sem qualquer tipo de custo, por incentivar os grupos informais e a prática regular de exercício físico, e tudo isto é analisado pela ACES Europa – Associação das Capitais e Cidades Europeias do Desporto, com sede em Bruxelas, e pela ACES Portugal. “Os comissários têm em conta as políticas municipais que dizem respeito ao desporto, a capacidade da autarquia a nível das infraestruturas desportivas, a resposta que dão à população e aos atletas federados e,

acima de tudo, analisa o compromisso para o ano de atribuição da candidatura. Albufeira concorre a Cidade Europeia do Desporto para 2026 e temos que desenhar um programa de eventos desportivos e propor um conjunto de novas infraestruturas desportivas a inaugurar nesse ano”, explica o coordenador da candidatura de Albufeira. “É uma candidatura que nos obriga a um conjunto de pré-requisitos antes mesmo de ser apresentada e temos algumas obras estruturantes pensadas para avançar, nomeadamente o CADA – Centro Associativo e Desportivo de Albufeira, uma obra de quase quatro milhões de euros que vai possibilitar a reabilitação da parte norte do Estádio Municipal de Albufeira com um Centro de Alto Rendimento, Auditório, Centro de Apoio ao Atletismo, centro de apoio às equipas

que vão estagiar no estádio, sedes para clubes, espaços multiusos para clubes e associações”, revela Cristiano Cabrita.

A candidatura, conforme referido, foi apresentada no dia 16 de outubro, a decisão final deverá ser conhecida ainda em 2024 ou no início de 2025, e depois é arregaçar as mangas e meter mãos-àobra para concretizar o que está desenhado e projetado, mas Cristiano Cabrita garante que Albufeira está preparada para tal, caso seja eleita Cidade Europeia do Desporto’26. “Já temos inscrita no nosso orçamento a construção do Centro Associativo e Desportivo de Albufeira, aliás, todas as verbas respeitantes às novas infraestruturas já têm rubricas específicas. O primeiro dossier de inquérito exigido pela ACES Europa e ACES Portugal contempla informações como o número de atletas federados

existentes no concelho, o número de praticantes informais, o número de utentes dos equipamentos desportivos municipais, as respostas a nível de emergência médica para os eventos desportivos. Só depois desse diagnóstico é que nos foi atribuído o estatuto de «candidato», o que significa que, quando embarcamos nesta viagem, é porque acreditamos que reunimos as condições para sermos vencedores”, sublinha o autarca.

Cristiano Cabrita não tem dúvidas de que Albufeira tem um conjunto de equipamentos de excelência, são mais de 30 infraestruturas desportivas, a que se soma uma política de apoio ao desporto, clubes e associações que ronda os 2 milhões de euros anuais e diretos, isto é, sem contar com os transportes, cedência de pavilhões e outras questões logísticas. “Estamos a falar de 8 a 9 mil pessoas

que beneficiam desta política de apoio ao desporto, mas é difícil quantificar ao certo os elementos dos grupos informais, até porque muitos não utilizam as infraestruturas físicas, como é caso, por exemplo, das caminhadas. Temos um conjunto de soluções que nos fazem pensar que estamos no bom caminho, o que não significa que vamos ganhar. O mais importante, de qualquer modo, é definirmos estratégias e programas de apoio constante e consecutivo ao desporto”, entende.

Um compromisso com o desporto com o qual todos ganham

Ser Cidade Europeia do Desporto será o reconhecimento de todo o trabalho realizado ao longo dos últimos anos, mas

Cristiano Cabrita assume que, caso a candidatura não seja vencedora, a aposta no desporto é para continuar e as infraestruturas programadas para ser inauguradas em 2026 serão sempre uma realidade. “O Centro Associativo e Desportivo de Albufeira vai ser construído para suprimir algumas necessidades que existem há algum tempo. Temos mais de 50 clubes e associações em Albufeira e nem todos possuem sede própria, pelo que estão contemplados no projeto cerca de 11 espaços para essas funções. O Centro de Alto Rendimento irá fomentar a ginástica desportiva no concelho, que precisa de mais espaços, e o auditório será também utilizado para ações de formação dos agentes desportivos”, descreve.

Será, portanto, um «novo mundo» à espera dos utentes e atletas e que será

concretizado inteiramente com fundos municipais, cerca de quatro milhões de euros, mas há mais intervenções pensadas para avançar, como a requalificação do skate parque, orçada em 500 mil euros, um novo pavilhão desportivo nas Ferreiras e um passadiço entre o INATEL e o Forte de São João, para além da transformação e requalificação de vários espaços verdes do concelho. “Estamos a falar sensivelmente de 10 milhões de euros para todas estes projetos”, aponta Cristiano Cabrita, recordando, porém, que não bastam as infraestruturas físicas para se ser Cidade Europeia do Desporto, há que criar um calendário com cerca de 1.000 eventos a acontecer ao longo de 2026. “Vamos continuar a apoiar o

Cross Internacional das Amendoeiras, o Race Nature, o Albufeira Skate Challenge, os Duatlos e Triatlos, a Volta ao Algarve em Bicicleta, a Corrida de São Silvestre, há dezenas de eventos que já fazem parte do nosso calendário. O grande desafio é atingir os 1.000 eventos, temos condições para lá chegar, mas é claro que isso envolverá um grande esforço da nossa parte. Excluindo o Natal, falamos de quase 100 eventos por mês, se calhar 20 ou 30 provas por fim-de-semana, no mar, no interior, nas infraestruturas desportivas, nos espaços informais. Teremos que encontrar um equilíbrio entre campeonatos europeus e mundiais – que absorvem muito mais meios – e as competições locais,

regionais e nacionais na elaboração do calendário”, antevê o entrevistado.

Para que tudo isto funcione é fundamental o envolvimento dos clubes e associações do concelho e Cristiano Cabrita acredita que também as federações nacionais estarão ao lado de Albufeira caso esta seja Cidade Europeia do Desporto em 2026. “O próprio Secretário de Estado do Desporto apoiou de forma efusiva a nossa candidatura e temos dois embaixadores olímpicos, o Carlos Lopes e o Francis Obikwelu, que têm relações fortes com Albufeira. O Carlos Lopes foi atleta do Imortal Desportivo Clube e o Francis Obikwelu teve em Albufeira um grande centro de estágio para as suas competições e foi aqui que desenvolveu o projeto para a sua fundação”, recorda o vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira.

E como está a população local e o tecido empresarial a olhar para esta candidatura, questionamos. “Qual é o munícipe que não sentiria orgulho pela sua terra ser considerada Cidade Europeia do Desporto? É algo que nos obriga a apostar ainda mais no desporto informal, de proximidade, a ter ainda mais responsabilidades no apoio aos jovens e ao desporto associativo. Qual é o pai que não quer que o seu filho tenha mais condições para praticar desporto? Qual é a família que não deseja que haja mais políticas a pensar nos idosos, na saúde e segurança? Isto vai-nos trazer reconhecimento, mais provas, maior envolvimento dos clubes e associações, benefícios para os jovens, idosos e famílias, todos temos a ganhar”, responde prontamente, acrescentando que esta empenho e compromisso com o

desporto não abrandarão no dia 31 de dezembro de 2026. “Temos a preocupação de corresponder com alguns objetivos das Nações Unidas em termos de ambiente, saúde e educação, e haverá certamente um crescimento na forma como a comunidade se relaciona e envolve com o desporto. Em Albufeira já temos poucas infraestruturas desportivas para a quantidade de atletas existentes, portanto, os edifícios a construir vão ser efetivamente utilizados e serão uma mais-valia para o concelho”, afirma Cristiano Cabrita.

Os benefícios parecem evidentes para todo o desporto em Albufeira, seja

federativo, formal ou informal, profissional ou amador, mas o autarca não esquece, igualmente, os efeitos económicos. “Ainda não podemos dizer que o turismo desportivo em termos gerais está no mesmo patamar que o golfe, mas recebemos grandes equipas para fazer em Albufeira os seus estágios, por causa do clima, da nossa capacidade hoteleira, da segurança. De novembro a janeiro, fevereiro, há um conjunto de campeonatos do norte da Europa que estão parados por força do tempo e aqui estamos quase na Primavera, e temos que acolher também mais competições internacionais realizadas no mar, de canoagem e vela”, defende Cristiano

Cabrita. “Quanto melhores forem as nossas instalações desportivas, mais somos procurados para estágios de equipas ou provas, o que gera mais

economia circular. São três, quatro meses, que estão manifestamente parados e que podem de repente começar a crescer bastante”, conclui.

COMPANHIA MAIOR «AGORA NASCÍAMOS

NO CINETEATRO LOULETANO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

MAIOR APRESENTOU NASCÍAMOS OUTRA VEZ»

LOULETANO

ue imagens e sensações ou ideias podem as pessoas entre os 60 e os 90 anos criar sobre a humanidade dentro de algumas décadas? «Agora nascíamos outra vez», que foi a cena, no Cineteatro Louletano, no dia 11 de outubro, projeta os imaginários para uma ficção coreográfica num tempo em que os jovens de hoje terão a idade dos seus avós, inundado pelas crises do mundo

presente, do clima, da violência e da desigualdade.

Com questões que estão na ordem do dia, a coreógrafa Aldara Bizarro encetou um processo criativo com o elenco da Companhia Maior que, como lhe é característico, se baseia na pesquisa do que os intérpretes trazem a uma premissa, mergulhando num profundo labor de perguntar, experimentar, descobrir e compor. A vasta experiência da coreógrafa de diversos contextos de criação e apresentação da dança

contemporânea, que tem tocado o universo da infância, da juventude, das realidades locais e do corpo filosofante, foi preciosa para articular uma estética do envelhecimento que comporta a maturidade dos corpos num ritual sensorial e intelectual comum e de revelação.

Com textos de Patrícia Portela, composição musical de Noiserv e direção artística de Paula Varanda, «Agora nascíamos outra vez» é interpretado por Angelina Mateus, Carlos Fernandes, Catarina Rico, Cristina Gonçalves, Edmundo Sardinha, Elisa Worm, Isabel Simões, João Silvestre, Júlia Guerra, Kimberley Ribeiro, Maria Emília Castanheira, Maria Helena Falé, Michel

e Paula Bárcia. A Companhia Maior tem parcerias com a Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, Escola Artística António Arroio, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Biblioteca de Alcântara, Comuna Teatro de Pesquisa, Estúdios Victor Cordon e o espetáculo é uma coprodução do Cineteatro Louletano e Teatro Viriato.

A Companhia Maior conta com o apoio financeiro Causa Maior 20212023: PARTIS & Art for Change –Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação «La Caixa», Divisão Municipal de Cultura – Câmara Municipal de Lisboa e Fundação GDA.

CINETEATRO LOULETANO FESTEJOU

DA MÚSICA COM MARIA JOÃO

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

FESTEJOU DIA MUNDIAL

JOÃO E CARLOS BICA

Dia Mundial da Música, 1 outubro, foi assinalado no Cineteatro

Louletano com um fantástico concerto de Maria João e Carlos Bica, dois artistas incontornáveis do jazz português. A colaboração entre estas duas referências remonta aos anos 80 e ficou registada nos álbuns «Conversa» (1986) e «Sol» (1991). Após 10 anos a tocarem juntos e muitos concertos por todo o mundo, os seus caminhos separaram-se, mas, 25 anos depois, voltam a juntar-se com a cumplicidade de Gonçalo Neto (guitarra) e João Farinha (piano e teclas), dois dos mais talentosos músicos de uma nova geração de instrumentistas

portugueses, para partilhar as canções do mundo em palco.

Maria João, cantora com um estilo próprio, tornou-se uma referência no domínio da música improvisada. Uma capacidade vocal notável e uma intensidade interpretativa singular valeram-lhe, não só o reconhecimento internacional, como também um lugar na galeria das melhores cantoras da atualidade. Unânimes no aplauso, crítica e público têm-na apelidado de “uma voz levada às últimas consequências”, declarando-a “uma cantora que não pára de evoluir”. E, de facto, a sua carreira tem sido marcada pela participação nos mais prestigiados festivais de música do mundo, sendo também a única artista portuguesa a ser nomeada para o Prémio Europeu de Jazz.

Carlos Bica é um dos poucos músicos portugueses que alcançou projeção internacional e se tornou uma referência no panorama do jazz europeu. Entre os vários projetos musicais que lidera, e para

além das suas participações noutras áreas como o teatro, o cinema e a dança, o seu trio AZUL, com o guitarrista Frank Möbus e o baterista Jim Black, tornou-se a imagem de marca do contrabaixista e compositor.

ALGARVE MUSIC SERIES PARA O FIM DOS TEMPOS»

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

SERIES LEVOU «QUARTETO TEMPOS» AO TEATRO LETHES

Teatro Lethes, em Faro, deliciouse, no dia 4 de outubro, com «Quarteto para o Fim dos Tempos» do compositor francês Olivier Messiaen. O concerto, inserido no festival Algarve Music Series, foi protagonizado por Marco Danesi (clarinete), Paolo Gorini (piano), Natasa Grujić (violino) e Isabel Vaz (violoncelo) e deu a conhecer esta peça que foi composta, entre 1940 e 1941, enquanto o artista estava preso no campo de concentração de Silésia, na Polônia, uma

obra que Messiaen dedicou àqueles que dividiam com ele a penúria do Holocausto.

Recorde-se que o Algarve Music Series nasceu, em 2016, na altura como FIMCA –Festival Internacional de Música de Câmara do Algarve, para colmatar uma lacuna na região que se observava em termos de programação de concertos de música de câmara. Foi com a ajuda preciosa do, entretanto falecido, diretor do Teatro das Figuras – Joaquim Guerreiro – e com o cunho artístico da violoncelista Isabel Vaz (na época

também com o violinista Eduardo Paredes) que esta empreitada começou.

A ligação de Isabel Vaz à região, cujos pais se conheceram na Ilha do Farol e cuja irmã vive em Faro, tendo passado numerosos verões da sua infância e juventude nesta terra, foi um dos principais motivos para organizar este evento no Algarve. Residente nos Países Baixos desde 2007, esta foi a forma que Isabel encontrou de retribuir algo ao seu país e em particular à região algarvia,

com artistas e música que tivessem um significado especial.

Em 2018, Isabel Vaz conheceu o pianista Vasco Dantas, com quem desde então partilha a direção artística do festival e com quem trabalha também em duo. É a combinação destas duas visões que define o Algarve Music Series, um projeto que tem crescido ano após ano, assim como o público fidelizado à música de câmara.

Descobrir o prazer de ler Paulo Cunha (Professor)

través das reações a certos textos publicados nalguma imprensa escrita e em determinadas redes sociais é possível observar que a forma como as palavras são escolhidas e se conjugam, expressando assim uma ideia ou um ideal, provocam nos leitores reações e apreciações completamente díspares. Quem escreve regularmente sabe-o, seja através do ostracismo e desinteresse a que um texto ou uma opinião são votados por uns, por comparação com a glorificação e exultação manifestadas por outros.

Como facilmente associamos a palavra crítica a avaliação e a julgamento, prefiro usar a apreciação como forma de observar e relatar o que me rodeia. Parto, por isso, para a leitura tentando apreciar e enfatizar o que me foi dado a ler, o que me ajuda a transportar o conteúdo de maneira mais efetiva para situações práticas por mim já imaginadas ou vivenciadas. Ao valorizar certas passagens, envolvo-me mais profundamente com o texto, criando uma conexão emocional e/ou intelectual com o mesmo.

Tento não menosprezar um texto ou parte dele, pois poderei correr o risco de deixar de lado informações relevantes ou

valiosas, o que pode prejudicar a compreensão global do seu conteúdo. Sabendo que os preconceitos e julgamentos prévios poder-me-ão levar a depreciar uma ideia ou um autor, deixando de considerar argumentos válidos ou diferentes perspetivas, luto contra esses sentimentos próprios da mesquinhez e baixeza humanas.

Idealmente, um leitor sabe quando deve enfatizar e quando deve deixar de lado certos aspetos. Nem tudo num texto é igualmente importante e parte da competência do leitor é saber identificar o que merece a sua especial atenção. Fala-se e escreve-se muito sobre bons escritores, deixando de fora da equação os bons leitores. Há que aprender a sê-lo – leitores que efetivamente leem. Enfatizar o que se lê, geralmente traz-nos benefícios na aprendizagem, na reflexão e na fruição, ensinando-nos, ao mesmo tempo, a evitar sobrecarregarmo-nos com detalhes desnecessários.

Ao ler é importante captarmos o tema principal e os detalhes relevantes, identificar o tom, a intenção e o estilo do autor e fazer inferências e ler nas entrelinhas. Para que tal aconteça é preciso concentração e foco, possuir um vocabulário amplo, ser curioso e estar aberto a novos temas, fazer uma leitura crítica e analítica, ser paciente e persistente, ter capacidade de síntese, ter familiaridade com diferentes tipos de

texto e, se for necessário, reler e refletir sobre o que foi lido.

Sabendo que a interpretação da leitura pode ocorrer de várias formas, e isso depende do contexto, da experiência do leitor e do propósito do texto, cada um poderá interpretar o que lê como bem entender. De forma literal, crítica, subjetiva, simbólica, contextual, psicológica e/ou estrutural, qualquer uma dessas abordagens pode ser usada de forma isolada ou combinada,

dependendo do objetivo da leitura e do tipo de texto que está a ser analisado. No fundo, o que realmente interessa é que para além de bons escritores se construam também bons leitores.

Tal como muitas coisas que fazemos na vida, não basta aprender a ler, é também necessário experienciar a leitura como fonte de conhecimento e de prazer. Porque quem da leitura retira prazer, prazer dá a quem escreve!

Foto: Daniel Santos

O Colapso Territorial

João Ministro (Engenheiro do Ambiente e empresário)

esde meados dos anos 60 do século passado têm havido em Portugal abordagens governamentais no sentido de aplicar políticas de planeamento ao uso dos solos. Começou pelos chamados Planos de Fomento – com várias edições –, mais tarde a própria Constituição Portuguesa e, em 1998, a Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e Urbanismo, tendo posteriormente surgido o Programa Nacional da Política de Ordenamento e sucessivas leis regulamentadoras, até aos dias de hoje. Em todos estes diplomas, o conceito de ordenamento de território surge como uma necessidade de aplicar políticas públicas com vista à boa gestão dos solos, à redução das assimetrias regionais ou a garantir o harmonioso desenvolvimento, articulando a actividade económica, o bem-estar das comunidades e os recursos naturais.

Seria de esperar, pois, ao fim de quase 70 anos, que as regiões tivessem evoluído no sentido de resolver essas assimetrias e garantir uma correcta gestão territorial. Errado. A realidade mostra-nos precisamente o contrário. Estamos hoje perante um total colapso no que ao ordenamento do território diz respeito e não se antevê qualquer reação correctora por parte das entidades governamentais.

A indústria imobiliária, em associação com o dito «turismo de qualidade», expande-se com tal voracidade na região, ao ponto de nos deixar atónitos. No prazo de poucas semanas ficamos a saber que vários empreendimentos de média e grande dimensão então em construção no Algarve, como se não houvessem já centenas deles, alguns dos quais mesmo ao lado dos agora anunciados. Somente em Lagos são três os hotéis em instalação, dois da cadeia Hilton e um Marriot, mais outro em Alvor, Faro e Portimão. Fora todos aqueles que têm sido apresentados, a conta-gotas, em todo o litoral e até na beira-serra. São milhares de novas camas às quais há que juntar ainda outras milhares resultantes da construção dispersa.

Os impactes cumulativos não são tidos em conta e a capacidade de carga da região menos ainda. Onde está a água para saciar todos estes projectos? E a mão-de-obra? E quanto à mobilidade na região e à pressão sobre as infraestruturas públicas? Alguém pensou nisso? Se dúvidas existem sobre estes aspectos, recomendo uma visita a algumas praias da região, mesmo agora, no Outono, para verificar como estão os estacionamentos, o estado de manutenção de casas de banho ou ainda a quantidade de lixo no chão. São apenas uns meros e simples exemplos.

Mas um outro colapso está também a dar-se no interior. Aí de natureza diferente, ainda que com fortes ligações ao que antes foi relatado. A incontrolável propagação de centenas de casas amovíveis, contentores, barracas e afins, completamente à margem da legalidade, está a tornar o barrocal algarvio numa potencial favela, com óbvios efeitos na paisagem e não só. Este crescente polvilhamento de cabanas nas zonas rurais está a alimentar negócios de especulação dos solos, para venda ou arrendamento, face à ineficácia da fiscalização e da contra-ordenação. Quem hoje pretenda adquirir um terreno para fazer agricultura prepare-se, pois vai assustar-se com os preços em vigor.

A situação é, no mínimo, alarmante. E injusta, naturalmente. Sobretudo para todos aqueles que procuram, pela via legal e «normal», instalar-se nestes sítios e que não o conseguem por diversos motivos, nomeadamente pela pesada burocracia e a demora nos processos ou pelos elevados preços das habitações.

Ambas situações estão intimamente associadas e ambas derivam, em grande medida, do problema que hoje tanto se fala: a falta de habitação e a preços ajustados. A fraca oferta de habitação

pública a preços controlados e a poderosa actividade imobiliária, associada ao negócio especulativo, o Alojamento Local, os incentivos aos Residentes NãoHabituais ou os Visa Gold tem levado ao aumento exponencial dos preços das casas, tanto para venda ou arrendamento. Inclusive das ruínas. Tal tem levado a que muitos encontrem como única solução a instalação de estruturas amovíveis no campo, independentemente se os solos estão sobre leitos de cheia, em reserva agrícola ou ecológica, em sítios de Rede Natura, etc. Nada está a impedir esta metastificação do espaço rural e as consequências vão ser dramáticas, tanto ao nível ambiental, social ou económico.

Perante esta total ausência de planificação e gestão territorial, os municípios têm sido, por um lado, espectadores inoperantes, mas também, em grande medida, culpados. Dormiram anos a fio sobre o problema da habitação – que no Algarve é conhecido há décadas – e acolhem, de mãos abertas, os empreendimentos turísticos e as centenas de construções, pois é daí que advêm as taxas de IMI e IMT que mantêm esses organismos e suas «máquinas de entretimento» a funcionar.

Sim, estamos perante um colapso. Um colapso moral, legal, social e ambiental, causado por uma profunda falha de gestão territorial. Atingiu-se um ponto que dificilmente poderá ser revertido. Mas, a bem de um futuro melhor, pode ainda ser rectificado ou remediado. É isso que no mínimo se exige. Já.

Gestão da água: Decisões críticas

Carlos Manso (Economista e Membro

da Direção Nacional

da Ordem dos Economistas)

água é um recurso vital e escasso que enfrenta nos dias de hoje e enfrentará, num futuro próximo, crescentes desafios de gestão, desafios esses que serão assimétricos no território nacional, nos vários usos, mas em que um dos setores necessitará de evoluir rumo a uma maior eficiência hídrica e maior contribuição para o desenvolvimento económico do País e da região, nomeadamente o setor agrícola.

A história e a experiência noutros países permitem observar que, embora os problemas de água sejam recorrentes e variem ao longo do tempo, muitos deles têm solução, e essa solução passa por uma gestão eficiente e integrada dos recursos disponíveis. Em Portugal, essa realidade é notavelmente assimétrica, com regiões como o Algarve que enfrenta escassez significativa, enquanto outras partes do país mantêm reservas suficientes.

A questão da escassez de água, particularmente no Algarve, muitas vezes é atribuída à falta de precipitação ou a eventos climáticos adversos. No entanto, o problema real não está apenas e só na quantidade de água disponível, mas também na forma como ela é gerida. A existência de inúmeras entidades gestoras de água no País, que nos últimos 10 anos

não foram capazes de melhorar a eficiência das suas infraestruturas, muitas mantendo perdas que superam 25% sem qualquer penalização, sendo um exemplo de ineficiência estrutural que agrava a perceção de escassez e que em anos com menos precipitação colocam maior pressão nas diversas origens de água. Mas não é só no setor urbano que essa ineficiência persiste, a falta de medição e controlo adequado do consumo, especialmente no setor agrícola, acentua ainda mais esse problema.

A agricultura é de longe o maior consumidor de água em Portugal, e no Algarve, ela compete diretamente com o abastecimento público e o turismo. No entanto, é necessário e urgente repensar os tipos de culturas que estamos a produzir, especialmente as que têm um baixo valor de mercado, que embora sejam de excelente qualidade e isso ninguém duvida, têm uma rentabilidade extremamente baixa. A água utilizada para produzir produtos agrícolas baratos, destinados a exportação a granel, não pode ser e não é justificada do ponto de vista económico ou ambiental.

As soluções para otimizar o uso da água na agricultura terão de passar pela adoção de culturas de maior valor agregado, i.e., apostar em culturas mais rentáveis podem melhorar a sustentabilidade financeira dos agricultores, permitindo-lhes obter mais

lucro com menos recursos hídricos. Paralelamente, a introdução de novas práticas de irrigação eficientes, separar o abastecimento público da agricultura, a introdução de um modelo regulatório que incentive uma maior eficiência e avalie os consumos das produções agrícolas, a implementação de um tarifário mais justo que obrigue a escolhas mais racionais nos investimentos e a aposta na reutilização de águas residuais tratadas, serão essenciais para reduzir a pressão sobre as fontes de água potável por parte do setor agrícola.

A solução para os desafios hídricos de Portugal, particularmente no Algarve, não passa apenas por encontrar novas fontes de água, mas passa por colocar o foco na eficiência dos diversos setores na utilização do recurso água, tarefa

reconhecidamente desafiante, mas fundamental face à redução da pluviosidade estimada para as próximas décadas.

É necessário um diálogo aberto entre todos os setores envolvidos, para que as decisões que temos de tomar sejam baseadas em dados rigorosos e em análises técnicas de impacte ambiental, social e económico. Se bem implementadas, essas soluções poderão garantir um futuro sustentável, sem a necessidade de restrições penosas ao uso da água. Pensem nisto.

Nota: Este artigo de opinião apenas reflete a opinião pessoal e técnica do Autor e não a opinião ou posição das entidades com quem colabora ou trabalha.

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