Os GNR festejaram os 45 anos de existência com um estrondoso concerto no Cineteatro Louletano
O Atelier do Movimento apresentou o seu espetáculo de Ano Novo no Teatro das Figuras
ÍNDICE
4.ª Race Nature Albufeira (pág. 18)
AMAL e ICNF lançam caderno pedagógico sobre o camaleão (pág. 24)
Bombeiros Voluntários de Vila Real de Santo António e Castro Marim festejam 135 anos de vida (pág. 30)
Entrevista a Vítor Neto, presidente do NERA (pág. 38)
Teatro das Figuras acolheu estreia mundial de «STORM» (pág. 50)
GNR em concerto no Cineteatro Louletano (pág. 80)
Atelier do Movimento apresentou espetáculo de Ano Novo no Teatro das Figuras (pág. 96)
OPINIÃO
Ana Isabel Soares (pág. 122)
João Ministro (pág. 124)
Valentim Filipe (pág. 126)
4.ª Race Nature Albufeira arranca a 24 de janeiro com recorde de participantes
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
Race Nature Albufeira está de regresso para mais uma edição, a quarta, que promete um novo recorde de participação, isto é, mais de mil atletas de 21 nacionalidades, conforme referido em conferência de imprensa de apresentação que teve lugar, no dia 8 de janeiro, nos Paços do Concelho de Albufeira, com as presenças do presidente da Câmara Municipal, José Carlos Rolo, do diretor
técnico da prova, João Cabreira, e do vice-presidente da Câmara Municipal com a responsabilidade do pelouro do Desporto, Cristiano Cabrita.
À semelhança das edições anteriores, a prova é constituída por um Prologo de 1,6 quilómetros, com os ciclistas a pedalarem pela baixa da cidade, com a partida do primeiro atleta marcada para as 19h do dia 24 de janeiro, sexta-feira, e duas etapas a passarem por diferentes zonas do concelho. No dia 25, sábado, a etapa 1 desenvolve-se ao longo de 74,5
quilómetros, com partida às 9h em direção ao interior do concelho e, no dia 26, domingo, a etapa 2 irá percorre 65,5 quilómetros, com a saída dos atletas agendada, igualmente, para as 9h, num percurso pela zona costeira de Albufeira, com destaque para a passagem pelas falésias da praia conhecida como uma das mais bonitas praias do mundo, a Praia da Falésia.
De acordo com informação disponibilizada pela organização, a Race Nature Albufeira tem apresentado um crescimento contínuo: no primeiro ano, em 2022, a prova contou com 300 atletas inscritos; 450 em 2023; 800 em 2024; e 987, em 2025, quando ainda falta mais de duas semanas para a realização da prova. O evento, que conta com a participação de atletas de 21 nacionalidades, traz a Albufeira, durante três dias, mais de 2 mil pessoas, entre atletas, familiares e staff.
“Trata-se de um evento que todos os anos atrai cada vez mais atletas, nacionais e internacionais, o que confirma a qualidade da prova, bem como o nível da organização. A Cabreira Solutions tem créditos firmados ao nível da organização de eventos desportivos, veja-se por exemplo o sucesso da corrida de São Silvestre, que contou, igualmente, com a sua organização”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo.
O edil agradeceu ainda ao Clube Desportivo das Areias de São João e ao Clube de BTT de Albufeira pelo excelente contributo que dão à realização de atividades desportivas realizadas pelo Município. “Somos um concelho relativamente pequeno, mas com um movimento associativo com uma enorme dinâmica”, acrescentou José
Carlos Rolo, sublinhando que “estes eventos de sucesso acabam por ser falados nos meios de comunicação social, bem como pelos atletas e respetivas famílias, reforçando a imagem positiva do concelho e a importância da atribuição a Albufeira do título «Cidade Europeia do Desporto 2026»”.
João Cabreira, diretor técnico da prova, confirmou ser “inédito ter, desde a primeira edição, a colaboração de associações locais desportivas na organização do evento, pelo que é fundamental agradecer estas sinergias que nos ajudam a crescer e a evoluir” “Este evento implica um grande impacto ao nível da economia local, porque, do total de mil atletas, apenas 200 são da região, o que significa que vamos ter mais de 800 pessoas a pernoitar na hotelaria do concelho, a fazer refeições nos restaurantes e compras no comércio local”. Salientou igualmente que esta prova tem a particularidade de não causar transtorno à população, uma vez que os atletas só circulam na zona urbana no primeiro dia, no Prólogo, com a partida dos ciclistas às 19h, quando o comércio local já está quase todo encerrado. As duas etapas nos dias seguintes são feitas através de navegação por GPS, o que obriga ao cumprimento das regras de trânsito, com a chegada dos últimos atletas à Praça dos Pescadores já em ritmo de passeio. “Este ano temos a iniciativa «Pedala por uma Causa», uma ação de responsabilidade social integrada no projeto «Rubis por uma Causa», que visa a angariação de fundos destinados a apoiar instituições de solidariedade social”, revelou.
Deste modo, haverá durante os três dias da Race Nature um conjunto de bicicletas estáticas na Praça dos Pescadores para que todos possam dar o seu contributo e, por cada quilómetro pedalado, a Rubis vai doar 5 euros a uma instituição local. “Destaque-se ainda a vertente ambiental da prova, refletida na adoção de medidas de ecossustentabilidade, das quais se destacam a substituição de copos plásticos por copos de papel; a «Pegada Positiva», que tem por objetivo deixar os locais mais limpos do que os encontrámos, limpando os percursos antes da passagem dos atletas e após a sua passagem; e o «Ecossorteio», que irá sortear três prémios pelos atletas mais preocupados pela natureza”, apontou João Cabreira, que reforçou que “durante três dias mais de 1.000 atletas, nacionais e internacionais, entre ciclistas, ciclodesportistas e cicloturistas, federados e não federados, de ambos os sexos, vão pedalar pelos locais mais emblemáticos da zona urbana da cidade, estradas, caminhos rurais e trilhos de belas paisagens do interior do concelho de Albufeira, o que constitui uma excelente oportunidade de promoção em plena época baixa”
Cristiano Cabrita, vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira e responsável pelo pelouro do Desporto, declarou que nesta quarta edição da Race Nature é fundamental fazer o balanço da iniciativa. “Quando abraçámos este projeto, tínhamos por objetivo inicial trazer o desporto e dar alma e vida à baixa da cidade durante a época baixa e, digo-vos, é muito gratificante
voltarmos a ter muita gente na baixa para assistir ao evento. Podemos afirmar que o balanço é muito positivo, sendo que o número de atletas inscritos na prova de ano para ano fala por si. Este crescimento resulta do trabalho desenvolvido por uma empresa que tem provas dadas na organização de eventos desportivos e pela colaboração efetiva dos nossos parceiros, nomeadamente o Clube das Areias de São João e o Clube de BTT de Albufeira”, enalteceu o autarca.
No que se refere estritamente ao Município, lembrou que “desenhámos uma estratégia que passa pela organização de um conjunto de eventos âncora que têm por objetivo ajudar a combater a sazonalidade e a divulgar e promover o nosso património natural e cultural, também através do Desporto,
de que são exemplo, entre outros, a Corrida de São Silvestre, a Race Nature, o Crosse Internacional das Amendoeiras e a Volta ao Algarve em Bicicleta, eventos que acrescentam e valorizam a imagem de Albufeira” “Para 2026, um dos principais objetivos já foi alcançado: Albufeira conquistou o galardão de «Cidade Europeia do Desporto 2026». Agora temos que continuar a trabalhar para mantermos esta distinção, pelo que há um conjunto de provas a realizar e objetivos a alcançar com a colaboração dos parceiros que nos dão credibilidade”. A concluir, Cristiano Cabrita frisou que o Município de Albufeira possui todas as condições ao nível das infraestruturas desportivas indoor e ao ar livre para a organização de grandes eventos desportivos, know-how especializado e parceiros credíveis.
AMAL e ICNF lançam caderno pedagógico «O Camaleão Que Não Mudava de Cor»
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina estinado a alunos do 2.º ciclo, «O Camaleão Que Não Mudava de Cor» é um livro editado pela Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) e pela Direção Regional do Algarve do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e que
foi apresentado, no dia 14 de janeiro, no Centro de Educação Ambiental de Marim, em Olhão. Na sessão estiveram presentes várias turmas da área do Parque Natural da Ria Formosa (Olhão, Faro e Tavira), tendo o conto sido lido por alunos da Escola E. B. 2/3 João da Rosa, a que se seguiu a distribuição dos cadernos pelos alunos e uma apresentação interativa pelo ilustrador João Pinto.
O caderno tem duas partes distintas, sendo que a primeira é um conto para colorir, da autoria de Ana Xavier e ilustrações de João Pinto, que aborda temas como a amizade, a autoestima, a exclusão e as migrações. Revela, também, a morfologia e o comportamento do camaleão-comum, a única espécie de camaleão que ocorre em Portugal (e na Europa). A segunda parte é de carácter informativo sobre as características e comportamento do camaleão-comum, com fotografias de Teresa Patrício, do RIAS e da Associação A ROCHA. No final, tem ainda jogos e desafios propostos pela técnica da AMAL, Susana Marreiros.
Este projeto está direcionado para alunos do 2.º ciclo e assenta no princípio de que “só se ama aquilo que se conhece”, tendo por objetivo dar a conhecer o camaleãocomum e o seu habitat, cuja preservação é urgente. Trata-se de uma iniciativa desenvolvida no âmbito da cogestão do Parque Natural da Ria Formosa e financiada pelo Fundo Ambiental. Tanto o Primeiro Secretário da AMAL, Joaquim Brandão Pires, como o Diretor Regional do ICNF, Castelão Rodrigues, aproveitaram a ocasião para alertar e
sensibilizar os mais novos para a importância da preservação, não só desta espécie, mas da natureza como um todo, “porque só assim poderemos ter uma sociedade mais sustentável”
O caderno pedagógico está disponível para descarregar no site da AMAL em https://amal.pt/atividades/ambiente/area s-protegidas/cogestao-do-parquenatural-da-ria-formosa.
Mercado Local de Castro Marim acolhe Mostra Filatélica sobre o 135.º aniversário dos Bombeiros de VRSA e Castro Marim
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
stá patente, até 20 de janeiro, no Mercado
Local de Castro Marim, uma Mostra Filatélica
Comemorativa dos 135 anos da Associação
Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vila Real de Santo António e Castro Marim. Um dos pontos altos da iniciativa aconteceu a 15 de janeiro, dia de aniversário dos
bombeiros, com o lançamento do carimbo comemorativo, elaborado pelos CTT, tendo como base a revista «Prevenir», que foi durante alguns anos o órgão oficial da Associação e do Comando de Bombeiros de Vila Real de Santo António e Castro Marim.
Para o Município de Castro Marim, este carimbo e o selo comemorativo dos bombeiros são um marco histórico,
honrosamente imortalizado na filatelia, além de assumir como estratégico para o território o aproveitamento de sinergias, a valorização de um projeto conjunto e uma corporação única com um reforço significativo dos apoios públicos. “É importante aliviar os dirigentes da Instituição, com uma governação historicamente voluntária, das preocupações permanentes da gestão dos recursos, para que possam dar cada vez mais tempo e espaço à dimensão humana da missão desta grande coletividade, a que faz história e a que faz a diferença. Chegados aqui, valorizando o passado, há que rasgar outros trilhos para que, a cada ano, se possa comemorar novas vitórias e novas conquistas. Da escola dos bombeiros, de petizes a chefias e comandos, a história desta instituição é reescrita todos os dias, em cada ato de amor e de serviço à causa pública”, considera Filomena Sintra, vicepresidente da Câmara Municipal de Castro Marim.
A Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vila Real de Santo António e Castro Marim viu a luz do dia a 15 de janeiro de 1890, “quando um punhado de homens bons se reuniram na Câmara Municipal de Vila Real de Santo António para fundarem uma Companhia de Fogo nesta vila,
como então eram conhecidas as Associações de Bombeiros”, recorda o presidente da direção, Paulo Simões. “Naquela época, o fogo era combatido de uma forma anárquica por populares que se voluntariavam para um combate desigual. Hoje, as Associações estão melhor apetrechadas, tanto de meios humanos, como de material de combate. Aos homens que manejavam as bombas de água foram atribuídas outras valências, não se coadunando com o amadorismo e o voluntariado. Mesmo aqueles que, rotulados de Bombeiros Voluntários, são autênticos profissionais, sempre prontos a ajudarem a sociedade e as populações.
É para isso que os Bombeiros estão sempre presentes”, frisa Paulo Simões.
Também Pedro Rafael, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Vila Real de Santo António e Castro Marim, lembra que “esta corporação nasceu do espírito solidário e da necessidade de proteger as populações locais contra os perigos dos incêndios e outras calamidades” “Desde então, tornou-se um pilar essencial na segurança e no bem-estar da região, sendo reconhecida pela sua atuação incansável, eficiência e humanismo. Além do combate a incêndios, desempenha um papel crucial no socorro a acidentes rodoviários, no transporte de doentes e na resposta a situações de emergência médica. Mas este marco histórico é também um momento para refletir sobre a dedicação dos homens e
mulheres que integram esta corporação”, entende Pedro Rafael. “Ser bombeiro voluntário é mais do que uma profissão, é uma chamada para servir. É um compromisso de enfrentar o perigo para salvar vidas, proteger patrimónios e garantir a segurança de todos, mesmo à custa do próprio conforto ou segurança. Que esta celebração inspire o fortalecimento contínuo desta instituição, para que continue a servir as populações com excelência por muitas gerações mais”.
A iniciativa é organizada pela secção de colecionismo da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Vila Real de Santo António e Castro Marim, em parceria com o Município de Castro Marim, a Federação Portuguesa de Filatelia e CTT Correios de Portugal.
Vítor Neto: “Estamos numa fase muito delicada que exige uma batalha cultural, ideológica, política e pessoal para tentarmos aproveitar
todo o nosso potencial”.
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
ítor Neto foi reeleito, a 20 de dezembro do ano transato, Presidente da Direção do NERA –Associação
Empresarial da Região do Algarve para o triénio 2025-2027, sendo que, para a Presidência da Mesa da Assembleia Geral, foi eleito Joel Pais, em representação da Solverde – Sociedade de Investimentos Turísticos da Costa Verde, S. A., enquanto para a Presidência do Conselho Fiscal foi eleito Alberto Mota Borges, em representação da ANA –Aeroportos de Portugal, S. A.
A tomada de posse dos novos eleitos ocorreu logo após o processo de contagem de votos, porque os desafios são muitos e os projetos também, e a nossa conversa com o experiente empresário e dirigente associativo começa com uma frase sua que já se tornou célebre – “O Algarve não tem turismo a mais, tem é os outros sectores a menos” – para saber como está o tecido empresarial da região neste arranque de novo ano. “O turismo é uma atividade importantíssima e que produz riqueza no Algarve e em Portugal de uma forma claríssima e a nossa preocupação deve ser em continuar a melhorar esse desempenho. Não considero que foi o desenvolvimento do turismo que
prejudicou os outros sectores, mas sim as políticas dos governos de há várias décadas a esta parte que deixaram que os outros sectores se empobrecessem, nomeadamente a agricultura e a agroindústria. As políticas da União Europeia também não nos ajudaram muito em termos de agricultura, pelo que esses sectores recuaram e perderam força”, responde Vítor Neto.
As quebras nos sectores primários e secundário foram, entretanto, compensadas pelo boom do turismo, de tal forma que o Algarve acaba por ter um rendimento per capita superior à média nacional, feito apenas partilhado pela Área Metropolitana de Lisboa. “Temos que nos atualizar e capacitar para responder aos novos desafios do
turismo, pois existe uma grande concorrência europeia e mundial. Se não nos prepararmos, não adequarmos a nossa oferta, não melhorarmos a nossa qualidade, se não tivermos uma estrutura de resposta capaz, podemos perder a nossa posição no turismo. Por outro lado, tendo em conta as potencialidades e os recursos existentes na região, os recursos da terra e do mar,
há que reativar atividades que possam equilibrar a nossa estrutura económica”, analisa o dirigente, reconhecendo que esse trabalho já está a ser feito na agricultura, mas ainda não é suficiente. “Abandonamos a pesca, mas o mar está aí para o aproveitarmos de forma sustentável, e não podemos esquecer as novas tecnologias”, acrescenta.
O cenário não é novo, já se fala de tudo isto há muitos anos, mas Vítor Neto entende que o Algarve continua a padecer de três grandes problemas. “O Algarve, oficialmente, já tem estratégia esplanada em diversos documentos, mas, na prática, as coisas não estão a avançar com a rapidez necessária. Porquê? Porque nos falta um instrumento político capaz de criar mecanismos para que essas políticas não estejam apenas no papel e sejam aplicadas no terreno”, declara o entrevistado, para quem esse mecanismo seria a regionalização. “Não se avançou com ela no Algarve e não é só com estruturas institucionais que dependem diretamente de Lisboa, por muito bons que sejam os seus dirigentes, que esses problemas se resolvem. Depois, o Algarve também não tem uma liderança política que lhe permita ter uma voz em Lisboa que tenha força, que se faça ouvir, que sirva como interlocutor. Há décadas que se fala da falta de água, das questões da mobilidade, da ferrovia, mas depois fica tudo no papel”, desabafa Vítor Neto.
O tecido empresarial tem-se, felizmente, diversificado e rejuvenescido no Algarve muito graças aos fundos
comunitários, mais recentemente através do CRESC Algarve 2020 e agora do seu sucessor, o Algarve 2030, mas Vítor Neto olha para este tema com redobrada atenção. “Não se trata apenas de ter um determinado plafond de dinheiro para se gastar e chegar-se ao fim do programa e dizer que os objetivos foram alcançados, que se aprovaram x
projetos e que se executou a verba toda. Interessa ver se esses investimentos serviram para alterar a estrutura económica da região, para produzir mais riqueza, gerar mais emprego e pagar melhores salários. Não digo que aconteça sempre, mas muitas vezes gastamos os recursos e os resultados e os efeitos são mais
limitados do que seria ideal”, observa o presidente do NERA. “Uma das nossas linhas de trabalho é agir e atuar para que os programas sejam adequados às reais necessidades da região. Por outro lado, que a sua aplicação seja eficaz e que os empresários se sintam motivados para aderir a esses programas e levá-los até ao fim”
Uma regionalização
que não interessa a muita gente e as terras abandonadas
No Algarve prevalecem as micro, pequenas e médias empresas, uma realidade que se estende ao resto do país e a muitos outros países europeus, daí que as associações empresariais sejam fulcrais para sensibilizar os governos centrais e as estruturas regionais para esse cenário, mas também para sensibilizar os próprios empresários para acreditarem nos mecanismos e programas existentes para alavancar a economia. E tudo seria mais fácil se, de facto, a regionalização avançasse, acredita Vítor Neto, que não sabe se «esse comboio voltará ou não a passar». “Eu estava no governo quando houve o referendo e sei que, a nível central, há muitas pessoas que não querem a regionalização porque pretendem ter o poder todo na mão e distribuí-lo como lhes convém. Mas, a nível local, também há quem não queira a regionalização porque gosta de tratar diretamente com o ministro, o secretário de estado ou o diretor-geral que conhecem em Lisboa, e não querem partilhar com outros um trabalho conjunto para o interesse comum da região. Este mecanismo não nos leva a lado nenhum”, lamenta o antigo Secretário de Estado do Turismo. “Antes do 25 de Abril isto era mais evidente, era tudo centralizado. Com a Democracia não temos sabido encontrar as formas de dar uma volta a isto, mas é uma batalha que vale a pena continuar a travar”, defende.
Vítor Neto: “Acredito no futuro, mas nada cai no céu. Se cada empresário, se cada cidadão, se cada sector, não lutar e ficar à espera que o Estado resolva as coisas, então teremos sérias dificuldades. A vontade de lutar tem que ser total, nossa, dos nossos filhos, dos nossos amigos, dos colegas de trabalho”.
Olhando para os empresários algarvios, estarão eles devidamente preparados para enfrentar os desafios de um mundo que é cada vez mais digital, questionamos. “Temos empresários bastante adultos, com uma grande experiência e sensibilidade, que culturalmente já apreenderam que é necessário avançar para as novas formas de organização, intervenção e produção, e as novas gerações já nasceram naturalmente com esse entendimento”, observa Vítor Neto. “Se não aceitarmos as novas realidades, corremos o risco de empresas que não têm nada que ver com o Algarve ocuparem os espaços económicos que nós abandonamos e, deste modo, estamos a empobrecer a nossa estrutura produtiva autóctone. O Algarve tem um enorme défice comercial de bens alimentares, importa produtos que nós já produzimos noutros tempos e outros que ainda
produzimos, mas não em quantidade suficiente, e, se não fizermos nada para alterar isto, daqui a 10 anos a situação será ainda pior. Estamos numa fase muito delicada que exige uma batalha cultural, ideológica, política e pessoal para tentarmos aproveitar todo o nosso potencial”, avisa.
Sendo o Algarve deficitário na produção de bens alimentares, isso seria uma boa razão para se voltar a apostar mais no sector primário, resta saber se é fácil cativar as novas gerações para se dedicarem a estas atividades. “Os jovens, e os menos jovens, deviam perguntar-se porque é que determinadas propriedades dos seus bisavôs, avôs ou pais, que permitiram que as suas famílias tivessem uma vida boa há décadas atrás, agora estão abandonadas. Qual o motivo das figueiras estarem a cair e das amendoeiras estarem cheias de ramos? Há 500 anos, a maior exportação do Algarve eram os figos”, recorda. “Hoje, os figos e as amêndoas caíram, mas o mesmo não acontece, felizmente, com os citrinos, um produto que sempre foi de qualidade superior e que voltou a ser uma exportação importante do Algarve”.
Para o renascimento e revitalização de alguns produtos algarvios muito contribuiu o papel ativo das autarquias, enaltece Vítor Neto, e esse é o caminho a seguir. “Seja trabalhando cada uma por si nos sectores que são mais fortes no seu concelho, seja em parceria com outras câmaras municipais, integrando a sua atividade de uma forma mais vasta, porque isso dá mais força a
todos. Quando há intervenção dos municípios, as coisas desenvolvem-se e andam para a frente, conforme se observa com alguns produtos agrícolas”, assume o presidente do NERA. “Um país pequeno, mas numa posição geográfica extremamente importante, para enfrentar o futuro, precisa de uma capacidade produtiva que utilize os seus recursos. É uma forma de sobrevivência imediata, mas também de não ter medo do futuro. É um grande erro um país só se preocupar em ganhar dinheiro com um sector, e com esse dinheiro comprar o que lhe falta”, alerta.
Palavras de ordem para o futuro: satisfação, confiança e luta
Para enfrentar os desafios descritos, e outros, o NERA deu as boas-vindas ao ano 2025 com um vasto conjunto de projetos cuja meta é impulsionar o
desenvolvimento económico, a inovação e a competitividade das empresas da região. “Continuaremos a dar prioridade à intervenção, de forma articulada, junto das instituições públicas e associações nacionais e regionais, com o objetivo de contribuir para a defesa dos interesses das empresas e da região”, garante Vítor Neto, adiantando que, entre os principais projetos aprovados para o novo ano, estão quatro Projetos SIAC – Sistemas de Apoio a Ações Coletiva cofinanciados pelo Programa Regional Algarve 2030, cujas tónicas assentam na internacionalização de produtos, nas estratégias de inovação e transição digital, no empreendedorismo qualificado e na descarbonização e sustentabilidade.
Nos projetos de seguimento de 2024 estão em marcha um Projeto INTERREG Transfronteiriço (POCTEP) dedicado ao setor agroalimentar, um Projeto
INTERREG Atlântico dedicado à economia azul, e um Projeto apoiado pelo PRR na área da cibersegurança, nomeadamente o Centro de Competências em Cibersegurança do Algarve, de cujo consórcio o NERA faz parte. Na área da formação profissional, para além da oferta formativa regular certificada, está em curso o Projeto Emprego + Digital com um leque de 40 ações de formação gratuitas para as
empresas. Estão ainda por conhecer os resultados relativos a duas candidaturas ao INTERREG SUDOE submetidas em 2024. “O NERA faz parte do Conselho Regional da CCDR Algarve e do Conselho Geral da Universidade do Algarve, participa em muitas comissões de trabalho e debates sobre os diferentes sectores, é membro da direção da AIP – Associação Industrial Portuguesa, eu sou responsável pelo
Conselho Estratégico do Turismo na CIP – Confederação Empresarial de Portugal, e tudo isso permite-nos falar do Algarve aos nossos colegas do resto do país e de diferentes sectores para eliminar algumas ideias erradas e lugares-comuns que subsistem sobre a nossa região”, frisa Vítor Neto, não esquecendo o relacionamento com as demais associações empresariais algarvias. “Todas são importantes, por
isso, procuramos fomentar relações e promover iniciativas em conjunto, para nos conhecermos melhor e ganharmos confiança uns nos outros, e isso está a dar bons resultados. Do mesmo modo, o NERA participa em comissões com os nossos amigos da Andaluzia sobre várias questões transfronteiriças”.
A finalizar a conversa, e em jeito de resumo, Vítor Neto lança três palavras fortes: satisfação, confiança e luta. “Apesar de todas as dificuldades, o turismo teve um resultado positivo em 2024, o que é uma prova de resistência e resiliência. Há outros sectores com vitalidade crescente, daí a satisfação ao ver que o trabalho realizado pelo Algarve está a dar os seus frutos”, observa o empresário, passando à segunda palavra, a confiança. “Se não pararmos, temos condições para enfrentar as dificuldades de futuro que possam vir, sabendo-se que estamos a viver uma situação internacional bastante instável. Não sabemos como é que vai evoluir o quadro internacional e as relações entre os grandes países, o que cria certas incertezas em relação ao desenvolvimento da economia. Se acontecer algo na Europa que afete a capacidade de compra das pessoas, isso terá repercussões diretas no turismo”, refere. “Acredito no futuro, mas nada cai no céu. Se cada empresário, se cada cidadão, se cada sector, não lutar e ficar à espera que o Estado resolva as coisas, então teremos sérias dificuldades. A vontade de lutar tem que ser total, nossa, dos nossos filhos, dos nossos amigos, dos colegas de trabalho”, finaliza Vítor Neto.
TEATRO DAS FIGURAS ESTREIA MUNDIAL DO DE ARMANDO MOTA
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
FIGURAS ACOLHEU DO BAILADO «STORM»
E DANIEL CARDOSO
bailado «Storm», escrito pelo maestro e compositor
Armando Mota e com coreografia de Daniel Cardoso, diretor artístico do Quorum Ballet, teve a sua estreia mundial, no Teatro das Figuras, em Faro, no dia 10 de janeiro, seguindo-se mais duas apresentações, nos dias 11 e 12, no Auditório Municipal de Olhão e no Auditório Municipal de Albufeira, respetivamente.
O espetáculo foi inspirado por duas ilhas barreira existentes no Algarve, a Culatra e a Armona, que fazem parte do grupo de ilhas da Ria Formosa. Estas ilhas, assim como uma parte da costa algarvia, estará em risco caso o nível da água do mar suba
de 1 a 1,5 metros, segundo previsão dos cientistas. Caso tal aconteça, a sobrevivência dos habitantes destas ilhas está em risco. “«Storm» é uma história um pouco fantasiada com muito de verdade e com um final que esperamos nunca se concretize”, referem Armando Mota e Daniel Cardoso.
A obra de ficção, inspirada em clássicos como «Romeu e Julieta» e «West Side Story», tem um forte cunho algarvio e, embora seja uma obra de música erudita, aborda temas como o «Baile Mandado», uma forma de dança única no mundo. Tal como Strawinsky utilizou contos tradicionais russos, e Bela Bartok se inspirou no folclore húngaro, Armando Mota foi buscar temas do Algarve para escrever a sua obra dedicada às ilhas da Culatra e Armona. “O propósito desta obra serve para alertar as pessoas em
O elenco de «STORM»
Em cima: Íris Santos, Abel Rojo, Filomena Melim, Gabriela Lopes e Diogo Dias
Em baixo: Beatriz Graterol, Margarida Carvalho, Catarina Jesus, Margarida Santos
E Matilde Pinto
Portugal, mas também em todo o mundo, do que se está a passar, e a possível evolução catastrófica para a região devido às alterações climáticas. Sendo a música e a dança uma linguagem universal, pensamos que desta forma conseguimos chegar a um público global, sem necessidade de traduções ou esclarecimentos, de modo a sensibilizar as pessoas para esta realidade”, reforça o compositor.
Armando Mota compôs várias obras sinfónicas, entre as quais a «Suite das Descobertas», foi professor em Viena de Áustria e, mais tarde, na Academia de Música de Lagos e no Conservatório Regional do Algarve. Radicou-se há 20 anos na região algarvia, onde foi professor e fundador de um conservatório, tendo recentemente criado a Orquestra Sinfónica do Algarve.
Daniel Cardoso formou-se na Escola de Dança do Conservatório Nacional, foi bolseiro na Martha Graham School of Contemporary Dance e na Joffrey Ballet School em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América. No Verão de 2005 formou o Quorum Ballet e a Quorum Academy, das quais é Diretor Artístico. A sua experiência como coreógrafo inclui mais de 35 trabalhos para o Quorum Ballet, peças para o Ballet Nacional da Opera da Albânia, Peter Schaufuss Ballet School (Dinamarca), Vaganova Academy (Rússia), CeDeCe Companhia de Dança, Companhia de Dança de Almada, Conservatório Nacional, Conservatório da Madeira, entre outros. O seu trabalho tem sido altamente reconhecido a nível nacional e internacional pela crítica.
GNR FESTEJOU 45 ANOS COM UM FANTÁSTICO
NO CINETEATRO LOULETANO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
ANOS DE VIDA FANTÁSTICO CONCERTO LOULETANO
ormados em 1980, os GNR estrearam-se discograficamente um ano depois, com os singles «Portugal na CEE» e «Sou um GNR».
O primeiro álbum, «Independança», lançado em 1982, foi aclamado pela crítica musical e, a partir desse momento, a banda começou a construção de uma carreira consistente que, em disco e ao vivo, tem conquistado gerações.
«Defeitos Especiais» (1982) levou-os a Espanha e França e foram considerados a Melhor Banda ao vivo nesse ano. Uma das músicas mais aclamadas dos GNR, «Dunas», saiu no disco «Os Homens Não Se Querem Bonitos», de 1985. Álbuns
como «Psicopátria» (1986) – do qual faz parte «Efectivamente» e «Bellevue» – e «Valsa dos Detectives» (1989) –popularizado por temas como «Morte ao Sol» e «Impressões Digitais» –, conquistaram o galardão de Disco de Prata; «In Vivo» (1990) vendeu mais de 60 mil cópias, obtendo a platina; e com «Rock in Rio Douro» (1992) arrecadaram quatro Discos de Platina e a proeza de serem a primeira banda portuguesa a realizar concertos que encheram dois estádios de futebol, designadamente, o Estádio José Alvalade (1992) e o Estádio das Antas (1993).
No pico da carreira continuam a compor e, em 1994, editam «Sob Escuta», do qual faz parte «Mais Vale Nunca» e «Las Vagas». Para assinalar os primeiros 15
anos de carreira saiu a coletânea «Tudo o que você queria ouvir – O Melhor dos GNR», que inclui os inéditos «Julieta Su & Sida» e «Pena de Morte», atingindo a platina por vendas superiores a 40 mil exemplares. A segunda edição vendeu 80 mil exemplares. «Mosquito» (1998), onde se encontram «Tirana» e «Saliva», antecipou a nomeação para Banda do Ano, nos Globos de Ouro de 1999.
Em 2000 sai «Popless», de onde foi retirado «Asas (Eléctricas)», que fez parte da banda-sonora do telefilme da SIC, «Amo-te Teresa». Com 20 anos de carreira sai a segunda coletânea dos GNR, «Câmara Lenta – 16 Slows do Melhor GNR – Vol.2», que reúne as baladas mais emblemáticas do grupo, para além dos inéditos «Vocês» e «Nunca Mais Digas Adeus». O décimo álbum de estúdio «Do Lado dos Cisnes» (2002)
chegou pouco antes da terceira coletânea da banda, «O Melhor dos GNR –Continuação – Vol.3», que contempla igualmente o original «Continuação» e a versão de «Quero Que Vá Tudo Pró Inferno», de Roberto Carlos.
Em 2005, o Governo Português condecorou os GNR com a «Medalha de Mérito Cultural». Três anos depois, os GNR partilharam o palco do Pavilhão
Atlântico com a Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana (GNR), concerto que se veio a repetir em outras cidades. «Retropolitana» saiu em 2010 e, no ano seguinte, os GNR editaram «Voos Domésticos», para assinalar os 30 anos de carreira do grupo. Em jeito de revisão, a coletânea «Concentrado – O Melhor dos GNR» (2012) marcou o fim da relação dos GNR com a editora EMI.
Já com o selo da editora da banda, Indiefada, sai «Caixa Negra» (2015), o décimo segundo disco da banda, do qual faz parte «Cadeira Eléctrica» e «Dançar sós» feat. Rita Redshoes. Em 2016 é editada a biografia oficial da banda, «GNR – Onde nem a Beladona Cresce», escrita por Hugo Torres, que incluía um tema inédito, «Arranca Corações»; e é lançado o CD/DVD «Os Primeiros 35 anos ao Vivo», que regista o concerto especial no Campo Pequeno que teve como convidados Isabel Silvestre, Javier Andreu e Rita Redshoes. A Sociedade Portuguesa de Autores entregou-lhe nesse ano a «Medalha de Honra SPA».
Com uma intensa agenda de concertos, os GNR voltam a estúdio para gravar o tema «Quem?», que sai no final de 2018. Volvida a pandemia, a banda regressa em força aos palcos, apresentando ao vivo as músicas que fazem parte da vida de todos os portugueses. Em 2023 editam «Eu Não Sou Assim», e voltam a conquistar as playlists com a melhor música escrita em português.
Com um percurso ímpar em Portugal, referência do Pop-Rock português, Rui Reininho, Toli César Machado e Jorge Romão celebram 45 anos de carreira dos
GNR, em 2025, e estão em digressão com um novo espetáculo, preparado para todos os gostos e idades e recheado com todos os seus grandes clássicos. Uma tournée que passou, no dia 11 de janeiro, pelo Cineteatro Louletano, que num instante esgotou de fãs algarvios da banda. Um concerto onde o trio, acompanhado por Samuel Palitos na bateria e Ben Monteiro nas guitarras e teclados, cantou «Espelho», «Vídeo», «Cadeira», «Mais Vale», «Sub-16», «Asas», «Pronúncia do Norte», «Popless», «Eu não sou assim», «Nova Gente», «Inferno», «Bellevue», «Morte ao Sol», «Efetivamente» e «Las Vegas», com um primeiro encore constituído por «Cais» e «Sangue Oculto» e, como o público não arredava pé, o estrondoso final com «Ana Lee» e, claro está, «Dunas».
ATELIER DO MOVIMENTO APRESENTOU ESPETÁCULO DE ANO NOVO
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
APRESENTOU NO TEATRO DAS FIGURAS
Teatro das
Figuras, em Faro, esgotou, no dia 11 de janeiro, para assistir ao espetáculo de Ano Novo dos alunos do Atelier do Movimento da professora Célia Trindade. Ao longo de praticamente duas horas, famílias e público em geral assistiram a coreografias de Ballet Clássico
nas diferentes faixas etárias, desde os três anos de idade até aos adultos, mas também de Dança Oriental, Jazz, Danças Latinas, Dança Contemporânea, entre outros estilos. Isto porque à festa juntaram-se também a Cia. Panteras, a Escola de Dança de Denise Carvalho, a Escola de Dança Marcos Figueirinha e a Contemporâneo Fuseon Loulé, assim se passando um excelente final de tarde de sábado na capital algarvia.
Um filme: Broken Flowers, Jim Jarmush (2005)
Ana Isabel Soares, professora
epois de ver o filme de Jim Jarmusch, decidi que para pensar nele preciso de pensar simultaneamente em três elementos dentro dele: a dedicatória que o realizador faz a Jean Eustache, a estética (chamemos-lhe assim) dos fatos de treino e Homer Murray.
É no último destes elementos que vejo concentradas as perguntas mais sérias que Jarmusch ajuda a colocar com Broken Flowers. Homer Murray é filho do ator Bill Murray (que interpreta o papel principal).
Parece-se com ele e tudo – o que não surpreende. Surge numa única cena, a cena final e, dentro das fronteiras formais do filme, nada traz de surpreendente ou de novo à intriga: Don Johnston (o protagonista) corre pela rua à procura de um rapaz a quem deu de comer e beber porque estava convencido (o assim queria?) que ele fosse o seu presumível filho. No momento em que começa a conformar-se com a ideia de que, na verdade, nada no rapaz lhe confirmaria a suspeita, e que a sua busca paternal não terá fim, atravessa a cena um Volkswagen carocha – azul bebé, pormenor que não deixa de ser relevante. Ao lado do condutor, da janela aberta do carro, um outro rapaz olha fixamente para Don/Murray. Traz vestido um fato de treino e parece-se com ele. O olhar de
Don não permite conclusões (é igual, aliás, durante todo o filme, com ligeiras subtilezas nas cenas em que tem de consubstanciar cumplicidades do passado com as mulheres em quem procura a –novamente, presumível – mãe do filho).
Assim, apenas fora do filme, na ficha técnica, pode o espectador encontrar uma pista: a personagem do rapaz no carocha é interpretada pelo filho do ator principal. Tratar-se-á de um mecanismo de imposição da realidade na arte? (Evidentemente, salto por cima da hipótese de ser uma coincidência.) Será uma marca de realismo (aqui entendido enquanto tentativa de exibir a realidade, evitando artifícios que possam indicar distorções na perceção que dela têm os que fazem a arte e os que a recebem)?
Porque Broken Flowers é um road-movie, tem necessariamente de ser um filme realista?
Deixo estas perguntas em suspenso porque o final do filme me fez questionar se o filho de que se anda à procura durante todo o filme será o filho da personagem ou o filho do ator – com quem este se cruza naquelas imagens. Por outras palavras, no final, e por conta desta «intromissão» de Homer Murray, o filme escancara-se para fora de si mesmo e força o extravasar da narrativa para além dos seus limites representativos. Não creio que apenas coloque a questão da diferença entre uma realidade representada contraposta a uma outra,
criada na e pela arte. A estratégia de Jarmusch complexifica essa duplicidade e cria uma espécie de nó, de trança, entre uma, outra, e um obscuro produto das duas. Respostas a estas perguntas, aliás, poderão ser encontradas no cruzamento com a dedicatória do filme a Eustache.
Parece-me agora que os fatos de treino fazem parte de um conjunto de marcas formais precisas e muito claramente
utilizadas no filme para demarcar a realidade que se mostra: a vida no subúrbio americano. De certa forma, são um artifício demasiado óbvio para desenhar o lado caseiro e o verdadeiro carácter de Don – é só quando está de fato de treino, confortável em casa (mas de sapatos nada casual, note-se), que Don é confrontado com a sua vida: é quando a mulher o deixa e é quando, presumivelmente, o filho aparece. Este óbvio, porém, não traz necessariamente nenhuma explicação. Pelo contrário: da mesma maneira que Jean Eustache subscrevia uma espécie de meta-realismo que, por se expor, se anulava, também Broken Flowers rejeita a evidência do realismo (como o entendi acima) à força de a vincar. Como quem faz pressão sobre a pele a mostrar que é pele o que se vê e gera, nesse gesto, a ideia de sangue, de dor, ou de teimosia. É assim que compreendo as sequências do pensamento de Don nos aviões (não são sonhos, também isso é óbvio e será interessante refletir sobre a maneira que Jarmusch encontrou de a representar no filme), é assim que leio o olhar de surpresa de Don quando Lola aparece nua – ou seja, sem o cor-de-rosa do roupão – na sala; é assim que vejo a máquina de escrever sobre a relva gasta ou a maçaroca de milho quebrada pela chuva, por ter sido esquecida no meio do restolho e pela roda do carro.
Foto: Vasco Célio
Habitação e Terrenos Rústicos
João Ministro, empresário e engenheiro do ambiente
recente alteração jurídica para possibilitar a conversão de terrenos rústicos em urbanos (já promulgada pelo Sr. Presidente da República), é um retrocesso de décadas em matéria de ordenamento do território e conservação de solos. Denota, alem disso, uma evidente falta de vontade e coragem em resolver os problemas estruturais das zonas urbanas. Numa altura em que se fala de necessidade premente em conservar solos e reduzir a sua impermeabilização, de promover a mobilidade sustentável nas cidades, em criar mais espaços verdes, reduzir as perdas de água e os excessos no seu consumo, ou ainda em promover formas harmoniosas de urbanização perante o flagelo das alterações climáticas, o governo surge com uma iniciativa contraditória para resolver o grave problema da habitação. Eis porque assim é:
1. Está demonstrado, estatisticamente, que a área urbana disponível actualmente em Portugal é mais do que suficiente para acolher milhares de novos fogos habitacionais e que, além disso, existem mais de 700 mil habitações vazias ou devolutas. Quem o refere são os especialistas, os censos nacionais e o próprio Relatório do Estado do Ordenamento do Território. Não são percepções, como muito se diz ultimamente. Como tal, a criação de um diploma desta natureza é um contrasenso;
2. Esta situação roça mesmo o absurdo. Existem milhares de casas vazias a degradarse no centro das cidades ou nas aldeias do interior – havendo, até, aldeias inteiras abandonadas! – e, em vez de se corrigir esta grave realidade, pretende-se priorizar a construção de novas edificações em zonas rurais, por ventura dispersas, bem como a expansão das cidades para os arrabaldes, deixando os centros a desmoronar-se e a morrer. Fará isto algum sentido?
Obviamente que não;
3. A referência aos ditos «preços moderados» é outro exemplo da falácia propalada com este diploma. Segundo o mesmo, será exigida a construção de habitação a custos moderados em 70 por cento das parcelas, mas permitindo uma margem que pode ascender até 125 por cento face à mediana do custo m2 da região em causa. Em vários concelhos do Algarve, por exemplo, uma habitação de 100m2 pode subir bem acima dos 400 mil euros. É este um «preço moderado» para famílias de classe média?
Esta iniciativa poderia fazer sentido caso se aplicasse exclusivamente a terrenos na posse do Estado ou dos municípios, em situações devidamente justificadas e em zonas contíguas a solos urbanos. Assim não haveria especulação e permitiria um olhar sobre o território mais cuidado e planeado, sem a interferência dos lobbies da construção. Curiosamente, isso existia no anterior regime jurídico, aprovado no início de 2024 e agora alterado.
Como já vários especialistas nesta matéria referiram, esta alteração ao Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial pode abrir uma Caixa de Pandora sem percebermos na globalidade os seus efeitos. Há um que antevejo com séria preocupação: a conversão dos terrenos rurais onde já se tenham instalado casas de madeira, amovíveis ou não, barracas e afins. Isso resolveria «a chatice» dos processos de contra-ordenação em curso derivados de inúmeras denúncias que chegam aos municípios por cidadãos preocupados com aquilo que é hoje uma favelização do espaço rural. Espero, muito honestamente, que tal não aconteça. Seria a normalização do crime ambiental e premiaria os infratores.
Se o problema da Habitação é efectivamente uma emergência nacional, os governantes devem assumi-lo como tal e agir com coragem, criatividade e capacidade efectiva de acção. Algumas sugestões: começar por resolver o problema dos milhares de edifícios abandonados e a desfazer-se nas cidades. Como? Aumentar significativamente os impostos sobre esses imóveis para que os proprietários tomem iniciativa em fazer algo por eles; facilitar, apoiar e incentivar a resolução dos problemas associados à sucessão de bens e heranças. Sabemos que este é um problema complexo, associado a propriedades divididas em múltiplas parcelas, muitas vezes ainda por cadastrar ou legalizar, com desentendimentos familiares e assim permanecendo décadas; estabelecer períodos máximos de tempo para que estas
situações se resolvam e organizem administrativamente; e, por fim, adquirindo propriedades, recorrendo em último caso à expropriação. As administrações têm ferramentas legais para o fazer. E há quem assim o esteja a fazer. Há municípios no Norte e Centro a adquirir casas devolutas e em ruínas nas aldeias, a recuperá-las e a colocá-las no mercado de arrendamento a preços controlados. Portanto, soluções, mesmo que pequenas, existem. É preciso vontade e coragem em implementá-las.
Descurar décadas de conhecimento técnico e científico de planeamento e regulação territorial em prole de uma medida claramente duvidosa e perigosa não é uma boa solução. Como também não é o afrouxar das exigências ambientais pela urgência em executar o PRR. Sabia-se, desde o início, que a grande dificuldade a ultrapassar na implementação deste e outros programas financeiros seria a ineficiência da máquina administrativa. Foram vários os avisos. Pouco ou nada foi feito para a reformar e o resultado está à vista. Veremos até quando.
Votos de um excelente 2025!
Crónicas em Sol Maior
Valentim Filipe, músico, professor aposentado e dirigente associativo
ultura é tudo o que lembramos depois de esquecer tudo o que aprendemos”. Frase proferida por Selma Lagerlöf, escritora sueca e vencedora do Prémio Nobel da literatura em 1909. Seria depois referenciada e repetida por vários outros agentes culturais como os franceses André Maurois, romancista e ensaísta, ou o político Édouard Herriot, assenta certamente em alguém que tenha conhecimentos gerais tais como sociedade, política, acontecimentos passados e contemporâneos, artes, desportos, geografia, etc. etc... quem domine mais ou menos estas matérias normalmente apelidamos de uma «pessoa culta» e que faz parte ou passou por norma pelo meio académico. Mas cultura é só e estritamente isto?
Muito conhecimento, sobretudo de matérias que não são comuns entre o povo em geral e assumindo assim obrigatoriamente uma postura erudita? E então onde fica a cultura popular? Quando dizemos que estamos num processo de aculturação sobre determinada matéria, costumes de um país ou região, religião e crenças, no fundo assumindo uma postura antropóloga, em que patamar nos
situamos? É claro que estaremos num processo de aprendizagem e que serve sobretudo para melhor integração numa determinada realidade que não é habitualmente a nossa. Isso porque cada estado ou pequena região possui a sua cultura tipicamente local, com diferentes comidas, estilos musicais, comportamentos, dialetos e outros aspetos, que criam a identidade de um determinado grupo social.
Parafraseando um famoso estudioso britânico Edward Burnett Tylor, poderemos afirmar que cultura inclui o “conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Parece-me na verdade bem completa esta dedução.
E então onde entra o Dr. Google? Não raras vezes com amigos à mesa, e se por acaso a conversa traz à baila um nome de terra, personagem ou outro qualquer nome desconhecido, logo há alguém que agarra o telemóvel para ficar esclarecido e até informar os outros. Dentro desta lógica, quase que vale a pena deduzir que afinal ser culto vale muito pouco, pois se existe tal recurso… Puro engano, pois, se dias depois a mesma situação se repetir com os mesmos nomes, a reação vai ser a mesma, o que prova que o google ajuda e
esclarece momentaneamente, mas não funciona como preservador de conhecimento. Na verdade, se cultura erudita são a ópera, música clássica, ballet, pinturas e escultur as, o Malhão, o corridinho, o samba, etc., são parte da cultura popular. A diferença é que, enquanto aquela exige um maior estudo e aprofundamento das origens tendo o conhecimento intelectual como base, não quer dizer que a popular também não exija alguma atenção, sobretudo quando pretendemos aprender a executar instrumentos musicais, danças, etc.
Palavra de origem latina, colere, que significa cuidar, cultivar e crescer apresenta muitas derivações, como Agricultura, Fisiocultura, e outras, sendo ainda mãe de outros conceitos como cultura de massa, cultura material e imaterial, entre outras. Voltaremos decerto a esta temática que, quase sem nos darmos conta, de um modo ou de outro faz parte das nossas vivências diárias.
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