ALGARVE INFORMATIVO #10

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SUMÁRIO

16 ATUALIDADE

6 MÚSICA XXI

18 ATUALIDADE 17 ATUALIDADE

27 ATUALIDADE

30 DINO D’SANTIAGO 38 CAMPEÃS DE SALTOS ALTOS

44 DESPORTO

ALGARVE INFORMATIVO #10

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Daniel Pina (…) Mesmo o simples ato de ler notícias se alterou por completo. É certo que as pessoas ainda compram o jornal diário para ler o que se passa enquanto bebem o café, e um ou outro semanário de referência para ocupar o fim de semana, mas cada vez mais sabemos o que se passa no mundo através da internet e dos sites desses mesmos jornais. E as revistas foram as primeiras a sofrer na pele os efeitos da crise, porque os custos de impressão são muito maiores e, com a queda abrupta das receitas de publicidade, deixaram de ser rentáveis (…)

4 Paulo Cunha (…) É altura de parar para pensar e confirmar a importância que as associações e coletividades algarvias não profissionais nem profissionalizantes ligadas à Música sempre tiveram e que, na atual conjuntura, está ser notória e fulcral. No atual panorama musical, são elas o garante na produção e realização musical efetiva no nosso dia-a-dia (…)

14 João Espada (…) Prestável, interventivo, polémico e sempre muito crítico… é deste modo que eu irei recordar este amigo que muitas saudades deixa e muita falta fará, pois precisamos de muitos mais «Almeidas», muito persistentes e muito lutadores pelos valores sociais e culturais de todos nós (…)

12 Paulo Bernardo (…) A depressão colectiva que se vive advém de nos fazerem crer que estamos circunscritos ao fantástico retângulo que é Portugal. Assim, esqueçam o velho do restelo e vamos pegar nas malas e procurar a dimensão que o nosso povo têm (...)

Hélder Lopes Rodrigues

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(…) O Homem é promotor de aprendizagem e ensinamento para o Exterior ao longo de todo o seu percurso de vida, o que o torna simultaneamente Mestre e Aprendiz em cada momento vivido e a viver. Sendo que o sentido da Vida do Homem é a capacidade própria para superar-se a cada momento. Nunca o Outro (…)

22 ALGARVE INFORMATIVO #10 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Foto de capa: Ron Isarin (ronisarin@hotmail.com) Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930 Diariamente, as notícias que marcam o Algarve em algarveinformativo.blogspot.pt ALGARVE INFORMATIVO #10

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CRÓNICA

O mundo na palma da mão

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Daniel Pina Jornalista Danielpina@sapo.pt Algarveinformativo@sapo.pt

(…) Mesmo o simples ato de ler notícias se alterou por completo. É certo que as pessoas ainda compram o jornal diário para ler o que se passa enquanto bebem o café, e um ou outro semanário de referência para ocupar o fim de semana, mas cada vez mais sabemos o que se passa no mundo através da internet e dos sites desses mesmos jornais. E as revistas foram as primeiras a sofrer na pele os efeitos da crise, porque os custos de impressão são muito maiores e, com a queda abrupta das receitas de publicidade, deixaram de ser rentáveis (…) ALGARVE INFORMATIVO #10

i na televisão que ia arrancar mais uma edição da Feira do Livro de Lisboa e a notícia provocou-me um inesperado saudosismo. De repente, era um miúdo a caminhar pelo Parque Eduardo VII pela mão da minha avó, de olhos arregalados face à enorme quantidade de livros de banda desenhada e de aventuras ali à disposição. Raramente comprava alguma coisa, porque o dinheiro era pouco, mas o simples folhear dos livros enchia-me de uma tremenda satisfação. O gosto manteve-se à medida que fui crescendo, aliás, aumentou e muito. No Liceu Camões, os resumos da matéria que fazia para estudar para os testes eram muito cobiçados e comecei a trocálos por livros dos super-heróis da Marvel e da DC Comics. Mais tarde apareceram os livros de adulto, as aventuras de fantasia à laia de «Senhor dos Anéis», os policiais, as histórias de espionagem. Quando me mudei de Lisboa para o Algarve, deixei muita coisa para trás, mas os livros acompanharam-me religiosamente, todos arrumadinhos em caixas e prontos para um lugar merecido na minha humilde biblioteca. Mas o raio da crise, sempre a crise, não me permitiu continuar a gastar cerca de 100 euros por mês em livros. O dinheiro destinado para o meu grande hobby teve que ir para outros gastos do dia-a-dia, porque os livros são caros, apesar de custarem bem menos dinheiro às editoras para os imprimir. Mas a história é a do costume: as editoras, seja de literatura, música, filmes ou jogos, querem ganhar rios de dinheiro num ápice, exageram na margem de lucro e o resultado é que as pessoas deixam de conseguir comprar. Aguentei o máximo que consegui mas tive que me render às evidências e, infelizmente, troquei os livros de papel, o prazer de virar as páginas, o simples toque na capa dura, a sensação de peso do tomo de 500 ou 600 páginas, pelo frio ficheiro digital para ler no telemóvel ou tablet. É verdade que deixei de andar sempre com uma mala enorme para transportar livros que ainda pesavam alguns quilos. É verdade que agora tenho 4

na palma da mão cerca de 500 títulos e que é bem mais cómodo e rápido ler um livro no telemóvel do que o livro propriamente dito. É verdade que poupei largas centenas de euros com a mudança. Mas não é a mesma coisa, por muito que já me tenha habituado a isso. Mas este é o mundo em que vivemos e temos que nos adaptar a ele e às transformações que as novas tecnologias causaram no nosso quotidiano. Mesmo o simples ato de ler notícias se alterou por completo. É certo que as pessoas ainda compram o jornal diário para ler o que se passa enquanto bebem o café, e um ou outro semanário de referência para ocupar o fim de semana, mas cada vez mais sabemos o que se passa no mundo através da internet e dos sites desses mesmos jornais. E as revistas foram as primeiras a sofrer na pele os efeitos da crise, porque os custos de impressão são muito maiores e, com a queda abrupta das receitas de publicidade, deixaram de ser rentáveis. Da mesma forma que aconteceu com os livros, hoje, tornou-se um hábito, inclusive para mim, ler revistas, generalistas ou de alguma área específica, nacionais ou internacionais, no computador e, principalmente, nos telemóveis e tablets. Os grandes colossos depressa perceberam isso e apostaram forte nas edições digitais. Aliás, até mesmo um projeto como o ALGARVE INFORMATIVO, há cinco anos, era impensável, quanto mais possível de ir para as bancas virtuais todas as semanas. Mas a verdade, para felicidade minha, e sem falsas modéstias, é que as pessoas já a leem além-fronteiras, porque há algarvios espalhados pelos quatro cantos do mundo e que gostam de estar informados do que se passa na sua região, de ver entrevistas e reportagens pela positiva, às vezes até de pessoas que conhecem, de amigos de infância, de familiares. O mundo está, definitivamente, na palma das nossas mãos e, ou nos adaptamos à nova realidade, ou ficamos para trás, presos num eterno saudosismo que não nos leva a lado nenhum .


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REPORTAGEM

A Big Band do Algarve fechou com chave de ouro a festa do 15.º Aniversário da MÚSICA XXI

MÚSICA XXI A produzir cultura no Algarve há 15 anos A Associação Cultural Música XXI assinalou, no dia 23 de maio, o 15.º aniversário com uma noite de gala no Club Farense. Pelo palco do emblemático espaço da capital algarvia passaram mais de uma dezena de projetos com a traça genuína do Algarve, a sala esteve a abarrotar com espetadores adultos e apreciadores de géneros musicais mais eruditos e foi em ambiente de enorme alegria que se cantaram os parabéns e apagaram as velas do bolo da Música XXI. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #10

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A

gala do 15.º aniversário da Associação Cultural MÚSICA XXI teve como cenário uma das mais bonitas salas da capital algarvia, o Club Farense e, muito embora a noite estivesse recheada de espetáculos, entre eles o concerto de Camané no Teatro das Figuras e o FARO Blues no Teatro Lethes, cedo se percebeu que a lotação iria esgotar. A qualidade dos músicos convidados isso justificava mas, infelizmente, nestas coisas de cultura, nunca há certezas de nada. Os farenses não faltaram, contudo, ao chamamento desta importante associação, com pessoas distintas, empresários, dirigentes, homens e mulheres preparados para um sarau musical de cinco estrelas. Nos bastidores o frenesim habitual, ainda mais intenso face ao número elevado de músicos que iriam atuar, o que implicava uma logística e coordenação complexas. Talvez por isso, e também porque público desta natureza gosta de confraternizar antes dos

Paulo Cunha e Patrícia Martins

eventos, já passavam alguns minutos da hora marcada quando Patrícia Martins, atual presidente da MÚSICA XXI, pegou no microfone e, de modo informal, indicou que a festa propriamente dita ia começar. Antes dos instrumentos e vozes começarem a aquecer a noite houve, porém, oportunidade para umas breves palavras de Paulo Cunha, um dos membros fundadores, presidente de direção durante largos anos e agora presidente da Mesa da Assembleia, que evidenciava grande satisfação perante a bela

O Coral Feminino Outras Vozes com José Alegre na guitarra portuguesa ALGARVE INFORMATIVO #10

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REPORTAGEM continuo a acreditar que, daqui a 15 ou 20 anos, cá voltaremos a estar para festejar mais um aniversário”, referiu. Num flashback improvisado, Paulo Cunha recordou como esta aventura começou, em 1999, em São Brás de Alportel, em conversas com o advogado Mário Cabrita Silva, que nos seus tempos de estudante universitário em Coimbra se tinha dedicado à música e teatro. “Eu já tinha os «Vá-de-Viró» a funcionar e falamos sobre o sonho de criar uma associação suficientemente abrangente e eclética que pudesse interligar todas as José Alegre e Cátia Alhandra constituem o Fad’Nu vertentes culturais, e não apenas a música. Conversa puxa conversa e ficamos de contatar alguns conhecidos e amigos que estivessem dentro do ramo e que tivessem interesse em juntar-se a nós”, conta, apontando os nomes de Eduardo Franco, Francisco Gil e Adriano St Aubyn como outros membros fundadores. No dia 7 de fevereiro de 2000, o quinteto deslocou-se ao notário de Faro e formalizou, em escritura pública, o nascimento da MÚSICA XXI, que podia ter sido CULTURA XXI ou ARTE XXI, mas esses nomes já estavam registados. “Não queríamos criar nas pessoas a ideia de Rui Mourinho que isto era feito só para a música”, explica Paulo Cunha, continuando com a sua pequena introdução. “Depois, pedimos a outro grande amigo, o Adão Contreiras, que nos emprestasse a sua Galeria Margem e, no dia 19 de março, fizemos a tomada de posse dos órgãos diretivos, com toda a pompa e circunstância. Como o Francisco Gil não quis ficar na direção, ficou na Mesa da Assembleia, e convidámos o Aníbal Madeira para integrar a primeira direção. Demos entretanto a possibilidade dos primeiros 50 sócios serem sócios-fundadores, hoje temos mais de 100, entre coletivos e Gonçalo Pescada individuais”. moldura humana que tinha pela frente. Entretanto, sai do palco Paulo Cunha dirigente “Acreditava que era possível criar uma associação para regressar, logo de seguida, como diretor do destas e que, volvidos 15 anos, teríamos assim Coral Feminino Outras Vozes, os primeiros a cantar muitos músicos e artistas a comemorar. Aliás, nesta noite de festa. E se a qualidade musical já ALGARVE INFORMATIVO #10

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O pianista Fernando Cunha e o cantor lírico Francisco Brazão

Alhandra, já estava em cena o projeto «Fad’Nu». Logo depois, foi a vez da viola de Rui Mourinho brilhar e novo dueto improvisado se gera com a presença do acordeão de Gonçalo Pescada. Sai Gonçalo Pescada, vai para o piano Fernando Cunha, primeiro a solo, depois a acompanhar o cantor lírico Francisco Brazão. Brazão que, poucos minutos depois, já está a cantar bossa nova ao lado de Inês Rosa, ela que também fez parte do Coral Feminino Outras Vozes. A terminar a primeira parte do espetáculo, o Club Farense deu as boasvindas aos «Vá-de-Viró», onde Paulo Inês Rosa com a sua banda Cunha assume a percussão, e foi um excelente mote para o intervalo. A segunda parte da festa arrancou com a merecida homenagem prestada à Associação Cultural MÚSICA XXI pela autarquia de Faro, na figura do presidente de Câmara Rogério Bacalhau, antes de se assistir a um divertido tema interpretado por Francisco Gil, Augusto Miranda e Jorge Semião. Foi então a vez de Afonso Dias brindar a plateia com um poema e algumas canções, depois vieram os «Almalusa», um apontamento de teatro da responsabilidade de Ana Oliveira e António Gambóias e, para concluir com chave de ouro, a «Big Band do Algarve» tocou o seu jazz característico. E foi ao som da banda Vá-de-Viró que o público se uniu para cantar os era esperada, o terceiro tema deixou claro como iria parabéns à MÚSICA XXI e comer uma fatia do bolo funcionar a dinâmica entre os vários grupos ao de aniversário. longo do serão. De facto, José Alegre «emprestou» A hora já ia avançada, mas a presidente de a sua guitarra portuguesa às «Outras Vozes» na direção, Patrícia Martins, estava de sorriso nos música final do coro e, com a chegada de Cátia lábios perante o sucesso da festa. Eleita para o ALGARVE INFORMATIVO #10

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REPORTAGEM

Paulo Santos, vice-presidente da Câmara Municipal de Faro, João Neves dos Santos, Patrícia Martins e Paulo Cunha, da Música XXI e Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro

triénio 2014-16, a jovem integrante do «Outras Vozes» e dos «Vá-deViró» confirmou à reportagem que a associação é bastante abrangente nas atividades que desenvolve, desde a música à fotografia, exposições, educação e formação de públicos e teatro. “A nossa atividade maioritária é junto dos nossos associados, contudo, somos desafiados pontualmente para algumas parcerias com outras entidades ou artistas, situações que depois são analisadas caso a caso”, indica, falando em cerca de 140 associados individuais e coletivos. “Temos vindo a reduzir substancialmente o valor da quota, para os 15 euros anuais, mas conseguimos garantir o equilíbrio financeiro da associação. Há alguns anos que também deixámos de receber apoios financeiros somente para o funcionamento da MÚSICA XXI, o que obtemos é apoios à realização de eventos específicos”. Como é apanágio das associações recreativas e culturais, ninguém na direção recebe um ordenado em contrapartida do tempo que lhe dedica, tempo que se traduz num número bastante elevado de horas por semana, garante Patrícia Martins. “Quem não está neste mundo não se apercebe do tempo

Jorge Semião, Francisco Gil e Augusto Miranda

Afonso Dias e Teresa Silva ALGARVE INFORMATIVO #10

Rogério Bacalhau entrega uma lembrança a Patrícia Martins como homenagem aos 15 anos de Música XXI

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que se gasta em reuniões, formais ou informais, ou em frente ao computador a enviar e-mail, propostas, convites. Como temos alguma experiência na organização de eventos, sabemos bem o que há para fazer e assim se consegue preparar uma festa de aniversário como esta. Claro que há sempre imprevistos que ocorrem no próprio dia, mas correu tudo bem, porque dedicamos muitas horas a este evento”. Dedicação a uma verdadeira família, como se assistiu no Club Farense, notando-se uma grande amizade e cumplicidade entre os vários dirigentes e artistas em palco. E, por isso, é normal que os dirigentes sejam praticamente sempre os mesmos, rodando apenas os cargos que exercem neste ou naquele mandato. “Há uma grande abertura para que apareçam novas pessoas para os diversos órgãos da associação, mas não é fácil, porque toda a gente sabe que isto rouba muito tempo”, admite, não negando que a MÚSICA XXI tem desempenhado um papel importante na divulgação de muitos projetos culturais da região nos últimos 15 anos. “Gostaríamos de fazer mais, mas isso implicava que dedicássemos ainda mais tempo à associação, o que é complicado. Às vezes, não é tanto um problema de falta de apoios, mas de oportunidade para pensar em novos eventos, ter novas ideias, colocar tudo no papel, apresentar às entidades e executar os projetos”. Fruto desta situação, e também da crise, 2013 e 2014 foram pautados por um menor número de atividades, mas a tendência parece inverter-se no ano que corre. “Temos tido vários concertos no

Ana Oliveira e António Gambóias ALGARVE INFORMATIVO #10

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Gonçalo Pescada e Jorge Semião são os Almalusa

âmbito do Programa DiVaM – Dinamização e Valorização dos Monumentos da Direção Regional da Cultura do Algarve; fruto duma boa parceria com o Teatro Municipal de Faro, colocamos lá o Ciclo Música d’Hoje, com associados jovens a apresentar música mais contemporânea; temos dinamizado concertos do «Outras Vozes» e «Vá-deViró» e outros associados; e estamos já a preparar o festival de órgão deste ano, quando se comemoram três séculos do início da construção do grande órgão da Sé”, adianta Patrícia Martins. A concluir a breve conversa, a presidente da MÚSICA XXI não esconde a tristeza por se ter perdido a organização da exposição «World Press Photo», devido às conhecidas dificuldades financeiras de que padece a Câmara Municipal de Portimão. “Seria importante conseguir-se recuperar essa exposição para o Algarve, porque é uma mostra internacional de enorme importância. Ao nível do Festival de Órgão, temos tido alguns nomes sonantes como cabeças de cartaz, mas falta-nos entrar um pouco no circuito internacional e, para tal, são necessárias parcerias de âmbito nacional e maiores apoios financeiros. São situações que deviam ser trabalhadas, mas nem sempre é possível alcançar-se o ótimo”, finaliza, à medida que os últimos convidados iam saindo do Club Farense. Depois, havia ainda que «arrumar» a casa, portanto, mais algumas horas de trabalho separavam os incansáveis membros da Associação Cultural MÚSICA XXI do tão merecido descanso após uma noite apoteótica .


CRÓNICA

António Almeida, que falta nos farás amigo!

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João Espada Professor, Artista Plástico e Presidente da Casa da Cultura de Loulé Joao_espada@hotmail.com

(…) Prestável, interventivo, polémico e sempre muito crítico… é deste modo que eu irei recordar este amigo que muitas saudades deixa e muita falta fará, pois precisamos de muitos mais «Almeidas», muito persistentes e muito lutadores pelos valores sociais e culturais de todos nós (…) ALGARVE INFORMATIVO #10

or vezes recebemos notícias que nos deixam sem reação, e com um sentimento instantâneo de vazio. E a notícia de falecimento de um amigo poderá provocar isso mesmo. Por tal facto serme-á hoje particularmente difícil produzir um breve texto sobre o percurso interventivo e artístico do António Almeida. No entanto, irei tentar. Há cerca de duas semanas, reencontrei o Almeida numa pastelaria, e aproveitamos o momento para tomar o pequeno-almoço juntos e conversar um pouco. Trocamos ideias, e deixamos no ar a possibilidade de agendar futuros encontros. A certa altura questionei-lhe quanto à sua ausência quase sistemática em eventos culturais e sociais da cidade e principalmente aqueles que eram produzidos pela Casa da Cultura de Loulé. Justificou-se dizendo que tinha um modo novo de vida e concluiu: “Se queres algo de mim, terá que ser entre as 5 da manhã e as 21horas”. Rimos os dois com essa afirmação. O António Almeida, após a tão desejada reforma, dedicava-se agora à sua horta, onde cultivou vários produtos hortícolas e construiu ainda um forno a lenha. No meio deste meio agrícola, arranjou espaço para se dedicar novamente às artes, neste caso, à escultura. Produzindo em madeira belíssimos exemplos escultórios ligados às mais variadas temáticas religiosas e sociais. No entanto, nunca perdeu o seu lado interventivo que lhe era bastante característico, aliás, creio que esse era o seu verdadeiro modo de vida. Como colega de profissão, esteve sempre atendo às questões relacionadas com a educação, cultura e com a sociedade 12

em geral, quer a nível local, regional e nacional. «Lutou» ao lado daqueles que desejam o fim das portagens na Via do Infante, manifestou-se juntamente com aqueles que procuram um Governo melhor, e assumiu um lugar muito interventivo na sua freguesia, São Sebastião, à qual chegou a ser candidato a presidente, infelizmente sem sucesso. Todavia, foi através do seu papel interventivo na área da cultura que trabalhamos em conjunto. Em 2009, o Almeida aceitou o desafio feito pelo José Teiga para fazer parte de um mega produção teatral da Casa da Cultura de Loulé, «O Amanhecer na Rotunda». Uma peça de teatro que contava as estórias da história que deu origem ao dia «5 de outubro». Nela, o António vestiu o papel de um rececionista de Hotel que, assustado, assistia ao desenrolar dos episódios que levaram à implementação da República Portuguesa. Porém, o seu papel não ficou pela representação. Tratando-se de uma produção exigente, e em conjunto com os seus alunos de Educação Tecnológica da Escola Duarte Pacheco, construíram espingardas, canhões e barricadas que compunham visualmente as cenas ao logo da peça. Assim, mais uma vez o Almeida mostrou que estava sempre disponível para colaborar e ajudar a construir «algo». Prestável, interventivo, polémico e sempre muito crítico… é deste modo que eu irei recordar este amigo que muitas saudades deixa e muita falta fará, pois precisamos de muitos mais «Almeidas», muito persistentes e muito lutadores pelos valores sociais e culturais de todos nós .


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CRÓNICA

Paulo Cunha

A marca «Algarve Musical»

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(…) É altura de parar para pensar e confirmar a importância que as associações e coletividades algarvias não profissionais nem profissionalizantes ligadas à Música sempre tiveram e que, na atual conjuntura, está ser notória e fulcral. No atual panorama musical, são elas o garante na produção e realização musical efetiva no nosso dia-a-dia (…) ALGARVE INFORMATIVO #10

m 2013, fruto de um ciclo de conferências promovido pela Universidade do Algarve e pela Direção Regional de Cultura do Algarve, denominado «Quintas de Cultura», foram editados em livro uma série de textos que daí resultaram. Não tendo nestes dois anos alterado uma vírgula ao que então pensava, aqui transcrevo o último parágrafo da minha participação na referida publicação. Vindo de quem vem vale o que vale, mas é esse o meu desejo para um Algarve mais cultural no qua à Música diz respeito: - “É altura de parar para pensar e confirmar a importância que as associações e coletividades algarvias não profissionais nem profissionalizantes ligadas à Música sempre tiveram e que, na atual conjuntura, está ser notória e fulcral. No atual panorama musical, são elas o garante na produção e realização musical efetiva no nosso dia-a-dia. Mas será preciso chegar a estes extremos para os responsáveis institucionais e decisores políticos entenderem que elas sempre existiram e que, apesar de toda a sua intrínseca e voluntariosa riqueza musical, raras vezes foram merecedoras da devida e merecida atenção? São elas que, hoje, no Algarve real, através dos seus associados, colaboradores e diretores, idealizam, promovem, produzem, realizam, gravam, 14

concretizam… Música! Chegámos ao momento em que é preciso dar o salto, pois, fruto das circunstâncias, nada será como dantes. Será um erro crasso, com consequências irreparáveis para as gerações que nos sucederão, ser conivente e deixar - outra vez - os agentes musicais algarvios serem marginalizados, subalternizados, vilipendiados, preteridos e esquecidos. Para que isso não aconteça, é preciso que todos os que estão profissionalmente ligados à Música se consciencializem que a Música feita no Algarve só será devidamente respeitada e creditada quando todos eles a assumirem e considerarem como una, sem compartimentações preconceituosas. É necessário afirmar a atividade musical através da criação de estruturas profissionais onde todos os que pela sua exigência, dedicação, profissionalismo, qualidade e mérito possam constituir-se como um núcleo gerador de oportunidades criativas, interpretativas e performativas. Só assim poderemos, de uma vez por todas, tentar que a marca «Algarve Musical» se constitua como mais uma fonte de divulgação e rentabilização da nossa região. A bem da Música e do Algarve, criemos sons com outros tons” .


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ATUALIDADE

17.º Portugal de Lés-a-Lés termina em Albufeira

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stá quase a começar mais uma edição do Portugal de Lés-a-Lés, que de 7 a 9 de junho vai reunir nas estradas de Portugal milhares de motociclistas de todo o país. Este ano, a prova turística vai percorrer mil quilómetros, ligando Sabrosa a Albufeira, com passagem por Castelo Branco. A cidade algarvia já foi palco de uma chegada do Lés-a-Lés, em 2003, aquando da sua 5ª edição, em que a caravana partiu de Chaves, pernoitou na Covilhã, para depois cumprir a segunda etapa até Albufeira. A cidade volta assim a acolher a derradeira etapa e o palanque final da prova, após uma tirada de cerca de 500 quilómetros marcados pelas paisagens alentejanas. No final, os motociclistas terão a oportunidade de apreciar a emblemática vista do mar no miradouro do Pau da Bandeira e, a partir das 18 horas, começarão a chegar à Praça dos Pescadores, ficando as motos em exposição neste local enquanto os viajantes recuperam forças num jantar oferecido pela Câmara Municipal de Albufeira. Pelo meio, travessia à moda antiga, sem utilizar autoestradas, Itinerários Principais ou Secundários, optando pelas paisagísticas Estradas Nacionais e Municipais e até alguns caminhos de

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terra batida, que possibilitam descobrir paisagens pitorescas e singulares. Aquela que é considerada a maior maratona moto-turística da Europa é aberta a motociclistas nacionais e de outros países, contando sempre com grande adesão de espanhóis. “A velocidade média é inferior a 50 quilómetros por hora”, adiantou o presidente da Comissão de Moto-turismo da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP). “Cada equipa integra duas pessoas e, desde 1999, que a prova turística não inclui competição, nem classificações, fica registado na memória das pessoas, tanto participantes como moradores das localidades visitadas”, segundo António Manuel Francisco. “É sempre uma festa por onde circula a caravana, com motas a passar durante cerca de cinco horas”, sublinhou. Na viagem rumo a Sul é possível variar, em poucos quilómetros, entre a história do castelo mouro ou da ponte romana de Paderne e a animação dos bares e discotecas de Albufeira. Os participantes podem descansar nas mais belas praias algarvias, aproveitando o feriado do 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, para conhecer melhor a Capital do Turismo. “Esta aposta traduz a preocupação da autarquia em procurar estar em contacto com eventos que representem uma mais-valia para a nossa economia, neste caso traduzida nas centenas de alojamentos que decorrem desta chegada”, frisa Carlos Silva e Sousa. “São mais 1200 motos e 1400 participantes diretos, aos quais devemos acrescentar muitos familiares que se juntam no final do evento, e que irão poder viver em Albufeira um momento marcante após uma volta ao país”, destaca o presidente da Câmara Municipal de Albufeira .

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Faro e Nampula assinam Acordo de Cooperação

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s Municípios de Faro e de Nampula, em Moçambique, assinaram um Acordo de Cooperação, no dia 27 de maio, dando seguimento à prossecução dos interesses comuns, relações institucionais, culturais e mesmo económicas que ligam instituições e empresas de ambas as regiões onde se inserem. Na base do acordo está a importância da existência de um forte espírito e vontade de reforço do relacionamento entre os dois Municípios como uma componente fundamental para a prossecução de iniciativas de cooperação entres ambos. Ao mesmo tempo, procura-se a aproximação e o encontro entre cidadãos dos dois Municípios, designadamente através das suas associações, clubes, escolas, empresários e outras entidades representativas. Há igualmente a consciência de que um maior estreitamento dos seus contactos e iniciativas de trabalho e cooperação poderá valorizar e reforçar as condições de sucesso das diversas iniciativas empresariais e comerciais já hoje em curso em ambos os territórios. Deste modo, com a assinatura deste acordo fica mais evidente a vontade das duas partes em desenvolver as relações institucionais, políticas, de amizade e de cooperação entre ambos, promovendo-se, por essa via, a amizade e a solidariedade entre os munícipes de Faro e de ALGARVE INFORMATIVO #10

Nampula. Para o pôr em prática, os dois Municípios irão reforçar os seus laços de cooperação, promovendo novas iniciativas assentes na experiência e bons resultados decorrentes das que têm vindo a ocorrer, mediante a estruturação dos correspondentes planos de ação a desenvolver. Em concreto, o Município de Faro e o Município de Nampula pretendem o reforço dos intercâmbios sociais, educativos, formativos, económicos, turísticos e culturais, entre outros, envolvendo as suas populações e as diversas organizações, entidades representativas, e empresas, como uma vertente essencial desta cooperação. Querem igualmente dinamizar a troca de experiências e informação regular entre serviços municipais especializados, no desenvolvimento das suas competências técnicas, bem como reforçar o seu interesse e 17

impacto, mediante o envolvimento de outros municípios portugueses na sua programação e execução, nomeadamente através da Associação de Municípios Portugueses «Rede Intermunicipal Cooperação e Desenvolvimento». A cooperação citada poderá versar todos os domínios considerados de interesse para ambos os territórios, e em relação aos quais estejam reunidas as condições necessárias para a sua concretização, acautelados que serão os recursos envolvidos para a sua concretização. Os objetivos, o financiamento e a responsabilidade de coordenação e execução de projetos de cooperação específicos, serão fixados quando isso se justificar, mediante convénio especial, estabelecido por acordo entre ambas as partes .


ATUALIDADE

Francisco Martins em Presidência Aberta sobre turismo

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o âmbito das Presidências Abertas, o edil de Lagoa, Francisco Martins, promoveu, numa primeira fase, visitas de trabalho a todas as Uniões e Juntas de Freguesia e, dentro das suas áreas administrativas, a algumas das principais localidades do Concelho de Lagoa. Foram jornadas dinâmicas e produtivas através das quais os munícipes tiveram a oportunidade de conhecer os seus autarcas, enquanto estes puderam avaliar a dimensão dos problemas das povoações mas, sobretudo, os anseios e as queixas dos seus munícipes. O Presidente da Câmara de Lagoa foi mais longe nestes périplos de contatos com a sociedade civil e visitou, posteriormente, as instituições do concelho, com natural enfoque para as IPSS, tentando perceber como vivem e de que ajudas carecem. Agora, dando continuidade ao programa das Presidências Abertas, vai analisar, de perto, o que vem sendo realizado em Lagoa, através de um ciclo dedicado ao Turismo, ALGARVE INFORMATIVO #10

com visitas aos empreendimentos sedeados no Concelho, no sentido de conhecer a oferta hoteleira existente, os seus problemas e as suas mais-valias, auscultando os profissionais do setor. O objetivo é perceber como está a decorrer a operação «turismo de qualidade» e quais os desafios que enfrentam atualmente, para que, num quadro de reforço pró-ativo, se defina áreas de atuação conjuntas da sociedade civil, empresarial e laboral. Isto porque o executivo reconhece que o turismo é uma atividade que, pela sua transversalidade, desempenha um papel de charneira na economia local, regional e nacional, num momento em que novos desafios passam pela redefinição estratégica do setor, exigindo das entidades públicas, equiparadas e privadas, estratégias de atuação conjuntas. Estas visitas decorrerão nas próximas três semanas .

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CRÓNICA

Viagens da minha vida

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Paulo Bernardo Empresário pb700123@gmail.com

(…) A depressão colectiva que se vive advém de nos fazerem crer que estamos circunscritos ao fantástico retângulo que é Portugal. Assim, esqueçam o velho do restelo e vamos pegar nas malas e procurar a dimensão que o nosso povo têm. Por isso, meus amigos, gostaria que todos pudessem ter esta experiência de vida. Não é fácil, é stressante, é exigente, mas bastante gratificante e enriquecedora (...) ALGARVE INFORMATIVO #10

asci numa pequena aldeia algarvia, mais propriamente Bordeira, terra de todos os meus antepassados, quer paternos quer maternos. Cresci aprendendo com as histórias contadas pelos meus avós e seus amigos, fui um sortudo, tive uma infância única. Contudo, saí de lá cedo e fiz-me ao mundo, cresci rápido e, com 16 anos, fui para o Canadá durante um verão inteiro, chorei quando fui e quando voltei. Mudei, mudei muito, esta viagem fezme uma pessoa diferente. Voltei a sair para fazer um Erasmus no fim do curso universitário, fui para a Grécia. Mais uma grande lição de vida. Hoje, tenho uma empresa que produz no Algarve e vende em vários países no mundo em parte graças à experiência que acumulei ao longo das minhas viagens. Com orgulho digo que fazemos bem em Portugal, apenas o mercado é muito reduzido. Esta minha experiência aos 16 anos mudou-me a vida e gostava que todos aos 16 anos tivessem a mesma experiência. Viajar é o curso mais importante que tirei na vida, não trocava por nada as minhas viagens. Hoje, a Europa é pequena demais para os seus jovens, assim, aconselho a todos que viajem, que tenham experiências noutros países. Não os estou a mandar embora, apenas estou a dar uma dica para abrirem os horizontes. Portugal não tem condições para albergar a dimensão do seu povo, nós somos muito maiores que as nossas fronteiras, está-nos no sangue. A depressão colectiva que se vive advém de nos fazerem crer que estamos circunscritos ao fantástico retângulo que é Portugal. 20

Assim, esqueçam o velho do restelo e vamos pegar nas malas e procurar a dimensão que o nosso povo têm. Por isso, meus amigos, gostaria que todos pudessem ter esta experiência de vida. Não é fácil, é stressante, é exigente, mas bastante gratificante e enriquecedora. Contudo, a nossa genética é feita de sangue de viajantes, portanto, não vale a pena recalcar o nosso destino. Saiam da zona de conforto e vejam que não se arrependem. Não se esqueçam que somos bons em qualquer lado, apenas aqui muitas vezes somos pouco valorizados. Quem quiser alguma dica, o meu email está ai. Nota da semana: O evento feito pelo município de São Brás de Alportel para finalizar os festejos do seu primeiro século. Evento fantástico onde a população de uma forma simples se juntou à festa e fez uma recriação do que a vila era em 1914. Parabéns a todos os que tiveram a ideia e criaram as condições para que o evento acontecesse e obrigado a todos os que participaram e criaram um ambiente incrível. O acontecimento mostra que a população participa quando a autarquia está ao lado do povo. Não foi necessário contratar um bando de figurantes a peso de ouro para fazer uma festa fantástica. Parabéns Vítor Guerreiro. Figura da semana: Hoje quero falar de um amigo, por isso, sou suspeito, mas quero destacar Osvaldo Gonçalves, um homem que assumiu o município de Alcoutim de uma forma tranquila mas firme e está a fazer uma pequena revolução no Baixo Guadiana. Em breve, os resultados vão se notar. Em breve, vai ser o líder desta região .


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CRÓNICA

O Tempo não tem que ter Tempo

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Hélder Rodrigues Lopes

(…) O Homem é promotor de aprendizagem e ensinamento para o Exterior ao longo de todo o seu percurso de vida, o que o torna simultaneamente Mestre e Aprendiz em cada momento vivido e a viver. Sendo que o sentido da Vida do Homem é a capacidade própria para superar-se a cada momento. Nunca o Outro. O seu par, ou mais novo, ou mais velho é essencialmente uma fonte de aprendizagem, não deve ser uma fonte condicionadora (…) ALGARVE INFORMATIVO #10

or todas os acontecimentos desta semana em todas as áreas, pelas alegrias de uns, tristezas de outros, conquistas e fracassos. Deixo-vos aqui esta reflexão que há muito me dedico, para um dia destes vos entregar sob outra forma. Que ela vos ajude a enfrentar os vossos combates, mas por favor só aqueles que realmente ou efetivamente merecem o vosso esforço. Na relação Homem – Natureza; a Dor, a Desgraça e a Perda, são veículos basilares na promoção de aprendizagens nos sentidos in e out. Se refletirmos sobre esta relação associando uma Identidade omnipresente, a Natureza ou a Mãe Natureza, como se quiser, podemos idealizar como forma de discussão um conjunto de elementos relacionais que, na maioria, aceitamos a sua existência mas que teimosamente negligenciamos como forma facilitadora do Viver: O sentido natural do Homem ao nascer é o de construir o seu «Eu», o self, e não para a posse, o «Ter». A variação deste sentido é determinantemente influenciadora sobre as coisas que nos acontecem. A Linha do Tempo do Homem será sempre de sentido único, o ascendente, sobre duas linhas indissociáveis e absolutamente paralelas: a linha da Quantidade do Tempo absoluta e dramaticamente sem quebras, paragens ou retrocessos; e uma outra linha, esta em forma de degraus, que reflete a Qualidade do Tempo de cada um. O Homem tem a responsabilidade sobre a qualidade do seu Tempo, ficando a Mãe Natureza com o da Quantidade. O Tempo não tem que ter Tempo. A Quantidade do Tempo de cada Homem será sempre o Mistério. O Mistério é uma das essências da Vida Humana. Sobre cada descoberta nascerá outra invariavelmente, mas dificilmente se conseguirá o do controle sobre a Quantidade do Tempo de cada um. Pelo decurso deste pensamento podemos atestar que em cada momento o Homem é a representação resultante da forma como interagiu com os Acontecimentos Vividos. Sendo os Acontecimentos de 22

Vida uma Tarefa, nunca um Problema, a ativação do Livre Arbítrio para esta escolha é impulsor da forma da Ação a executar e consequentemente o Resultado a obter. Nesta idealização identificam-se apenas três instrumentos impulsores de crescimento ao Homem: a Dor, a Desgraça e a Perda. Sendo o Sucesso, o Bom, o Bem e os Benefícios apenas respostas à forma como interagimos com «as coisas que nos acontecem» e principalmente a forma como aprendemos com elas. O Homem é promotor de aprendizagem e ensinamento para o Exterior ao longo de todo o seu percurso de vida, o que o torna simultaneamente Mestre e Aprendiz em cada momento vivido e a viver. Sendo que o sentido da Vida do Homem é a capacidade própria para superar-se a cada momento. Nunca o Outro. O seu par, ou mais novo, ou mais velho é essencialmente uma fonte de aprendizagem, não deve ser uma fonte condicionadora. Por esta linha idealista, a superioridade de cada indivíduo pode ser identificada pela sua capacidade para aceitar a sua necessidade de continuar o percurso de aprendizagem porque ainda nada é e ainda nada sabe, quando tudo o que já aprendeu e apreendeu é ainda muito pouco. Ser Grandioso está diretamente relacionado com a própria capacidade de construir o seu percurso com o Amor, a Humildade, a Humanização, Afeto e aquisição de Conhecimento. Podemos concluir que o resultado de Viver é sempre um progresso, qualquer que seja o seu sentido, porque será sempre o melhor veículo de crescimento e consequentemente criador de História. Aprender com as coisas que nos acontecem; vividas, vistas ou narradas, será sempre um excelente instrumento para a formação de um pensamento, cujo comportamento escolhido resultará numa atitude de Humanização e Humanismo .


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ATUALIDADE

Finlandeses investem 10 milhões de euros em Querença

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presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, e a CEO da ACCF, Kristiina Lappi, assinaram, no dia 27 de maio, o contrato que formaliza o investimento do projeto denominado «Casas da Benémola». Tratase da construção de um Hotel Rural, associado a um centro de Investigação da Natureza e Cultura do Algarve, localizado em Querença. O empreendimento situado no Sítio da Barrada, na União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, prevê uma unidade hoteleira de 4 estrelas, hotel rural, com 36 camas, que tem associado um Centro de Investigação, cujo objetivo científico principal é o estudo e proteção dos ecossistemas mediterrânicos do barrocal, caracterizados por uma grande biodiversidade mas fortemente afetados

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por uma secular humanização, bem como por frequentes incêndios florestais, e ainda o estudo e promoção dos valores culturais da Região do Algarve. Este empreendimento ficará localizado nas proximidades da Quinta da Ombria, Hotel Spa & Golf Resort, recentemente iniciado. Outra das valências diferenciadoras e inovadoras previstas neste investimento, promovido pela fundação finlandesa ACCF – Arto Carpus Castelo Foundation, é um espaço de meditação dedicado a todas religiões e filosofias. O valor total estimado do investimento rondará os 10 milhões de euros .

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ATUALIDADE

Câmara de Loulé atribui verba para obra no Centro de Apoio à Criança de Quarteira

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Câmara Municipal de Loulé e o Centro de Apoio à Criança de Quarteira assinaram uma Carta de Compromisso, através da qual foi atribuído a primeira tranche (50 por cento) do investimento previsto no projeto vencedor da freguesia de Quarteira, no âmbito do Orçamento Participativo 2014: a repavimentação da sala polivalente e reparação/substituição dos caixilhos. A Autarquia irá financiar, desta forma, a totalidade da obra orçada em 69 mil e 330,08 euros, mas a gestão da mesma ficará a cargo desta instituição social. Uma vez que este é um projeto de investimento decorrente do Orçamento Participativo 2014, após a execução da obra o Centro de Apoio à Criança de Quarteira compromete-se a disponibilizar e facilitar o acesso ao espaço intervencionado com vista ao uso do mesmo por parte da população e comunidade em

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geral, sem prejuízo de um eventual conjunto de regras elementares definidas pela instituição de modo a agilizar a utilização das infraestruturas. Recorde-se que em outubro de 2014 foram anunciados os projetos vencedores da primeira edição do Orçamento Participativo do Município de Loulé. A repavimentação da sala polivalente e reparação/substituição dos caixilhos foi a vencedora na freguesia de Quarteira, com 897 votos, logo seguida da recuperação de casa devoluta para desenvolvimento de um espaço para fins culturais e da construção de um parque de merendas junto à Igreja S. Pedro do Mar. Nos próximos dias, a Autarquia de Loulé irá assinar a Carta de Compromisso com a Associação dos Amigos da Cortelha tendo em vista a execução da cobertura do Campo Polidesportivo da Cortelha, o projeto mais votado do Orçamento Participativo 2014 do Município de Loulé .

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Semana do Bebé de Olhão levou os mais pequenos à descoberta dos sentidos abrilhantou o evento com a sua presença quando, à semelhança das anteriores edições, foram anunciados os Prémios de Mérito e Excelência 2015 (Unidade de Primeira Infância – Área de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital D. Estefânia (CHLC)), do Bebé Estrela da Semana de 2015 e do vencedor do Concurso de Posters. Na sexta feira, 22 de maio, realizou-se a cerimónia de abertura da Feira do Bebé, no Jardim urante uma semana, o concelho de Pescador Olhanense, que contou com a presença Olhão dedicou-se aos mais pequeninos do presidente da Câmara Municipal de Olhão, e as dezenas de iniciativas, promovidas António Miguel Pina, bem como de diversas pelas instituições do concelho, bem diversas e entidades locais e regionais. A feira contou com participadas, mereceram mais uma vez o elogio um vasto leque de atividades: experiências de intervenientes e membros da comunidade. A sensoriais, hora do conto, sessões informativas, 7ª Semana do Bebé, que terminou no domingo, espetáculos musicais e de dança, ginástica para 24 de maio, faz já parte do calendário nacional grávidas, pinturas faciais, etc, efetuadas pelos dos eventos dedicados aos mais novos e foi, mais parceiros deste projeto. Durante os restantes uma vez, um sucesso. dias, foram dezenas as atividades realizadas na comunidade, nas instituições parceiras que No dia 21 de maio, quinta-feira passada, decorreu um dos pontos altos desta Semana, com envolveram centenas de pessoas. De realçar ainda, nesta 7ª edição da Semana do a realização do seminário técnico no Auditório Bebé, o concurso de montras que decorreu Municipal de Olhão, sob o tema «Bebés à Descoberta dos Sentidos», dirigido a profissionais durante essa semana (decoração de montras alusivas à temática pelos lojistas do comércio das áreas da saúde, social e educação, entre local) em colaboração com a ACRAL Olhão e um outros, que contou com a presença de vários especialistas na área da saúde infantil, incluindo a concurso de trabalhos escolares, no qual as escolas e as famílias do concelho participaram presença de Pedro Caldeira da Silva, diretor da Unidade de Primeira Infância – Área de Psiquiatria com a produção de jogos sensoriais dirigidos à temática da Semana do Bebé. Estes prémios da Infância e Adolescência, do Hospital D. Estefânia (CHLC), que falou sobre «Bebés Irritáveis foram anunciados e entregues no último dia da e Alterações da Regulação Sensorial». Também a Feira do Bebé . madrinha da Semana do Bebé, a atriz Sara Santos,

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ATUALIDADE

Zona central da praia da Manta Rota está a ser requalificada

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Câmara Municipal de Vila Real de Santo António está a requalificar e a pedonalizar o troço da Estrada da Manta Rota compreendido entre a Rua Tenente General Vila Lobos e o Largo da Manta Rota (antigo casino). Com esta medida, serão criadas mais zonas de lazer, esplanadas e sombreamento e é melhorada a segurança de todos os moradores e veraneantes. Por outro lado, é dada continuidade à requalificação da frente de praia da Manta Rota, onde foram investidos cerca de três milhões de euros entre os anos de 2005 e 2007. A obra agora levada a cabo está orçamentada em 125 mil euros e viabiliza a delimitação dos passeios, assim como a sua ampliação (com largura a poente de 1.35m e a nascente de 2m), permitindo o igual acesso a cidadãos com mobilidade reduzida. Além da intervenção na estrada da Manta Rota, a autarquia está a reorganizar o estacionamento no Largo da Manta Rota (antigo casino) e a demarcar lugares nas imediações das novas áreas pedonais. Na sequência desta operação, serão realizadas algumas alterações nos sentidos de trânsito e nos ALGARVE INFORMATIVO #10

acessos à entrada e saída da praia, que serão devidamente sinalizadas no local. Serão, contudo, garantidos os acessos a moradores e estabelecimentos comerciais, tendo sido previstas zonas de cargas e descargas. Assim, a rua da Quinta da Manta Rota passa a ter dois sentidos, possibilitando o acesso à praia e aos parques de estacionamento nascente e poente, enquanto a rua do Barranco passa a ter sentido descendente. As entradas e saídas dos parques de estacionamento irão manter-se iguais. Os trabalhos deverão estar concluídos até ao final do mês de junho, permitindo a toda a população residente e flutuante desfrutar daquela zona balnear sem quaisquer transtornos. A requalificação da rua da Manta Rota dá seguimento à empreitada de renovação dos sistemas de saneamento já efetuada naquele local, obra que, à semelhança do que está ser efetuado em todo o concelho, põe fim a uma rede que misturava esgotos e águas pluviais, termina com os maus cheiros e permite a cobertura total do concelho de VRSA com novas condutas de água e esgotos . 28


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ENTREVISTA Foto: Pedro Moita

Dino D’Santiago A arte de pintar os sonhos com palavras Cresceu no Bairro dos Pescadores, em Quarteira, filho de pais humildes e sem grandes posses financeiras, juntamente com uma irmã e um irmão, ambos mais novos. Alguns amigos de infância meteram-se na droga, roubaram, já morreram. Outros estão na prisão. Mas Claudino Pereira não quis vestir a pele de «coitadinho». Muito menos colar na testa o rótulo de «vítima do sistema». Estudou, continuou a estudar, sonhou, e foi ganhando asas, primeira através do desenho, depois pela música. Agarrou com unhas e dentes as oportunidades que surgiram da sua participação na «Operação Triunfo», renasceu simplesmente como Dino nos Expensive Soul, juntou a sua banda – The Soulmotion, brilhou além fronteiras com os Nu Soul Family e descobriu, finalmente, o caminho que quer trilhar, lado a lado com as suas raízes cabo-verdianas e uma sonoridade própria para passar as suas mensagens. E assim encontramos Dino D’Santiago de volta ao Algarve. Podia ter sido um «coitadinho», mas a vontade de vencer e o amor da família transformaram-no numa estrela e numa fonte de inspiração para os mais novos. Texto: Daniel Pina Fotografia: Ron Isarin e Pedro Moita ALGARVE INFORMATIVO #10

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epois de 10 anos a viver no Porto, Claudino Pereira, ou Dino d’Santiago, como é mais conhecido do grande público, está de regresso às origens, não a Cabo Verde de onde são naturais os pais, mas à cidade de Quarteira, no coração do litoral algarvio. O antigo Bairro dos Pescadores já não existe, mas o músico de 32 anos não esquece o local onde nasceu e cresceu, nem as ruas onde deu os primeiros passos como artista, com o rap dos Opinião Pública, através dos quais conheceu um mundo com o qual nunca sonhara, ídolos como Sam The Kid e Da Weasel, que viriam a ser bastante importantes na sua carreira. Mas não coloquemos o carro à frente dos bois. É verdade que começou cedo a cantar nos coros de igreja com os irmãos mais novos Elísio e Lígia, e os pais

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também eram catequistas em Cabo Verde, portanto, a música era uma constante na casa de Dino. Mas foi através da pintura e do desenho que o jovem Claudino deu primeiro nas vistas, nos tempos da Escola D. Dinis e da Secundária Dra. Laura Ayres, em Quarteira. “Um tio veio-nos visitar uma vez e eu achei estranho como é que de uma caneta saíam imagens quase a três dimensões. Na altura em que veio o Dragon Ball para Portugal, em que os miúdos eram todos viciados na série, comecei a desenhar as personagens e vendia aos meus colegas. Era assim que arranjava dinheiro para o almoço e pequeno-almoço”, conta Dino, sem pudor de assumir as suas origens humildes. Quando entrou para a Escola Secundária Dra. Laura Ayres, a área escolhida foi, como se adivinha, Artes, mas Dino já pesquisava bastante sobre o

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assunto em todos os livros e meios a que conseguisse deitar a mão. “Os meus pais ajudaramme bastante, desenvolvi técnicas de aerógrafo e outras que não ensinavam na escola e entrei em vários concursos. Ganhei uma medalha de ouro a nível internacional com um trabalho sobre a maneira como o Egito era visto pelos adolescentes, depois venci um prémio da Caixa Geral de Depósitos e outro da Luta contra a Sida. Umas vezes concorria com cartoons, outras com desenhos isolados de intervenção social”, lembra o entrevistado, com um brilho especial nos olhos. “Na época, via-me muito mais como um cartoonista ou professor de História de Arte do que como outra coisa qualquer. Cantar era só com os amigos na brincadeira”. A vida de Dino Pereira não seguiu, todavia, o rumo que


ENTREVISTA parecia mais certo pois, na altura em que ia fazer os exames de acesso ao ensino superior, vê-se metido, de forma inesperada, no concurso da RTP «Operação Triunfo». “Fui apenas acompanhar uma amiga, a Carla de Sousa, que era cantora e que conhecia através dos coros de igreja. Ela namorava com o Virgul, dos Da Weasel, fomos à eliminatória de Portimão e ele perguntou-me porque não me inscrevia também. Eu respondi-lhe que aquilo não era muito a minha onda, mas acabei por fazer o casting sem ter nada preparado. Cantei um tema original, mais dois temas que os elementos do júri também não conheciam, mas gostaram do meu desempenho, entrei e fui passando de etapa em etapa. Provavelmente porque ia na desportiva, sem grandes pressões”, refere, neste rápido pulo ao ano de 2003. Convém dizer que a «brincadeira» de Dino nos Opinião Pública já era uma coisa a sério, pois a banda era frequentemente convidada para fazer as primeiras partes dos Da Weasel e atuava em Semanas Académicas e outros festivais. Contudo, apesar de ainda terem gravado um disco de originais, não havia a ambição de se tornarem profissionais. Mas tudo mudou para Dino a partir da quinta gala da «Operação Triunfo», um clique que adveio das palavras da professora e cantora Maria João. “Ela chamou-nos a atenção para o privilégio que era termos todas aquelas aulas com artistas e professores credenciados e que

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devíamos aproveitar a oportunidade porque, no mundo exterior, nada seria dado de mão beijada e muito menos de borla. Naquele momento, decidi que ia absorver todos os ensinamentos que conseguisse, mesmo que depois não fizesse disto carreira, e passei a prestar mais atenção a estilos de música que não ouvia, o fado, rock, até os ritmos de Cabo Verde”. Puxando pela memória, no virar do milénio apenas tinha havido o «Chuva de Estrelas» da SIC e só agora iam começar os «Ídolos», da mesma estação televisiva, ou seja, grande parte das pessoas que se inscrevia nestes concursos tinha alguma aptidão e experiência na música, ao contrário do que sucede atualmente, em que milhares de jovens vão a correr para os castings sem terem qualquer jeito para cantar. “Tenho que agradecer imenso ao Virgul e ao Carlão porque, naquele momento, ajudaram-me a ver o lado artístico e profissional da música. Percebi que se podia viver da música, daquilo que gostava de fazer”, sublinha, acrescentando que, dentro do concurso, era impossível ter-se a noção do impacto que este tinha no exterior. “Só falávamos 10 minutos por semana com os nossos pais, às sextas-feiras, e eles não podiam dizer nada do que se passava cá fora. Por isso, quando saí, vinha com a ideia de me dedicar mais à pintura, que tinha ficado posta de lado durante alguns meses”.


Crescer com Expensive Soul e renascer como d’Santigo

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e regresso a Quarteira, e mesmo sem ter atingido a grande final da «Operação Triunfo», Dino constatou que a pintura e o desenho iam continuar em standby por mais algum tempo, pois a receção foi apoteótica e as mensagens de parabéns vinham dos locais mais inesperados. “Passado uns meses, os Expensive Soul convidaram-me para entrar para a banda e nem tive tempo para pensar muito antes de rumar ao Porto. Quando dei por mim, já estava em ensaios com uma banda enorme, dava concertos, recebia cachet. Todos os anos tínhamos 60 a 70 atuações e desenvolvi muito o canto enquanto andava na estrada, em digressão”, frisa, um pouco triste por ter largado novamente a pintura. De repente, surgiram convites para duetos com alguns dos seus ídolos, de artistas que estava habituado a ver na televisão, a ouvir na rádio, MBC, Sam The Kid, Regula, Carlão, Tito Paris, Sara Tavares e, em 2006, Dino Pereira começa a trabalhar no seu

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Foto: Pedro Moita

próprio disco, «Eu e os Meus», um género de tributo a todos aqueles que o ajudaram na sua caminhada. “Criei uma banda, os Soulmotion, lancei o disco, que teve uma excelente aceitação da parte da crítica, o single esteve bastante tempo no top da MTV. A partir daí, começaram a olhar para o Dino como um artista a solo, eu também pensava que tinha encontrado o meu caminho com aquele estilo, só que, fui a Cabo Verde com o meu pai, e tudo mudou outra vez”,

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sublinha, pensativo e de chá na mão. Mas já lá vamos. Antes disso, Dino confessa que nunca teve dificuldades em escrever canções, por falarem de episódios da sua vida, ao invés de serem histórias inventadas e ficcionadas. “Aprendi com o pessoal do hip-hop aquela maneira de escrever em português com uma métrica diferente, portanto, era algo que me dava um certo gozo. Era quase como pintar, mas com palavras. Quando tens a ambição de te conhecer cada vez melhor, de saber quais são as tuas limitações, e não tens vergonha de expor os teus pontos fracos, escrever torna-se natural”, entende. “Sempre compus as minhas músicas à capela, harmonizava as linhas que queria de cama, depois cantava por cima, fazendo um pouco de beat box. Mesmo agora, continuo a trabalhar dessa forma”.


ENTREVISTA Weasel pararam. Era um projeto de dance music e funk supostamente para tocarmos apenas em algumas discotecas mas o single «This is for my people» foi um sucesso inacreditável. A MTV projetou o tema a nível internacional, vencemos o prémio, em 2010, de melhor banda nacional, fomos ao «Rock in Rio», ao «Sudoeste», tocamos na despedida da seleção para o Mundial da África do Sul”, destaca. O sucesso dos Nu Soul Family Muito embora tenha tido com os Soulmotion, porque era quase que obrigou à gravação de bastante sucesso, «Eu e os Meus» um som típico dos Estados um segundo álbum, que também acabou por ser o único disco de Unidos e, como é normal, os correu bastante bem, e a Dino & The Soulmotion, pois os organizadores de eventos tentação de continuar inserido Expensive Soul «explodiram» e preferiam ir contratar numa banda foi enorme. No não era possível fazer as duas diretamente artistas norteentanto, Dino sabia que aquela coisas ao mesmo tempo. americanos”, considera. não era a sua «praia» e sentia “Homenageei quem deveria que já andava a desviar-se do seu «EVA» foi, então, o disco de homenagear, os meus pais e os sonho há demasiado tempo. E estreia de Dino d’Santiago, amigos que sempre me ainda bem que o jovem de lançado em 2013, e o próximo ajudaram, e embarquei noutra Quarteira arriscou sair da zona de está praticamente concluído e viagem num estilo que encontrei deverá ver a luz do dia no início conforto em que estava, porque quando cantava o «Mama», a escreveu finalmente a sua própria do próximo ano. Quanto a única faixa em crioulo do disco. editora, a escolha recaiu sobre a história, como Dino d’Santiago, e Compreendi que a minha missão «Lusáfrica», responsável pelos que já o levou a locais como a era transportar as minhas Coreia do Sul, Brasil, Cabo Verde, discos de Cesária Évora e de origens e dos meus pais, não Angola, França, Alemanha, palcos outros nomes da lusofonia. deixar morrer esse lado, e tudo “Comecei a gravar em 2009 mas, lindíssimos onde as pessoas ficou mais claro quando fui a valorizavam as suas melodias, entretanto, apareceram os Nu Cabo Verde, em 2009, com o cantadas em português e crioulo. Soul Family quando os Da meu pai”. Sai de cena Dino Pereira e nasce Dino d’Santiago, em homenagem à ilha do arquipélago de Cabo Verde de onde eram naturais os pais e avós, e a transição de elemento de uma banda para artista a solo não foi muito sobressaltada, apesar de algo radical em termos de sonoridade. “Juntei a métrica do hip hop às harmonias da música soul e a única novidade foi introduzir o crioulo nessa abordagem. Felizmente, as coisas resultaram e estou farto de viajar pelo mundo, o que não aconteceu Foto: Pedro Moita ALGARVE INFORMATIVO #10

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Escolher o caminho mais fácil nem sempre resulta

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nquanto «EVA» era cantado pelos quatro cantos do mundo, Dino ia escrevendo mais temas e apresentava-os ao vivo para observar a reação do público. Assim, o próximo disco está todo escrito e em breve deverá ir para estúdio para gravar à moda antiga, com uma banda. Ainda este ano, vai atuar no Central Park de Nova Iorque, no Summer Stage Festival e seguem-se mais alguns espetáculos no Brasil, incluindo no famoso Carnaval. Por terras lusitanas têm espetáculos agendados para os festivais Sol da Caparica, Sudoeste, MED e Sons do Atlântico, provas mais do que suficientes de que «EVA» continua a ser um tremendo êxito. “Há bons festivais de world music em Portugal mas, infelizmente, o circuito nacional encerra-se por aí para o meu estilo musical. Vou estar também num festival de fado, no Porto, ao lado do Jorge Fernando, com quem gravei um disco. Ele acompanhou a Amália durante tantos anos e é

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compositor de música de topo, com temas para a Mariza e Ana Moura e foi uma honra quando me convidou para participar no seu álbum”, aponta. Como já se percebeu, parte do sucesso de Dino Pereira, agora Dino d’Santiago, é a facilidade com que viaja rapidamente de um estilo para outro, do hip hop para o fado, do funk para o soul, mas isso não causa grande espanto ao entrevistado. “Eu sempre vi a música como liberdade e nunca quis filtrá-la por rótulos, porque gosto de

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vários géneros e tiro frutos de cada um deles”, justifica Dino, que há mais de uma década vive apenas da sua atividade como músico. “Graças a essa minha abertura, sempre fui convidado para muitos projetos e os Expensive Soul foram igualmente uma máquina bastante rentável. Quando decidi enveredar por uma carreira a solo é que foi preciso mais coragem, mas era «sim» ou «sim». Não podia estar com um pé em cada lado e pensar que conseguia gerir as duas vidas, porque o país é


ENTREVISTA

pequeno e isso só ia confundir a cabeça das pessoas”. 2015 assistiu, assim, aos dois últimos concertos de Dino enquanto parte dos Expensive Soul e o cantor não tem dúvidas de que, se tivesse escolhido um som mais comercial para a sua carreira a solo, ia ser mais um a perder-se pelo caminho. “É um fenómeno que se repete frequentemente, mesmo para aqueles que ganham concursos na televisão, porque querem fazer música mas ainda não encontraram o seu som. Eu demorei cinco anos para gravar o «EVA», viajei para todos os sítios com que me identificava, para o Brasil, Jamaica e Estados Unidos, pesquisei no terreno, para ter a certeza do que queria efetivamente. Optei pelo português e crioulo e as coisas resultaram”. E se olharmos para a panóplia de concursos televisivos que têm passado pelos diversos ALGARVE INFORMATIVO #10

horas porque, primeiro, tínhamos que estudar e tirar boas notas, para além de ajudar em casa. Hoje, os pais não têm tempo para educar os filhos, nem para eles próprios serem pessoas, porque têm que trabalhar mais horas para trazerem dinheiro para pagar as contas. Depois, como não têm paciência, dão logo um telemóvel ou tablet às crianças para se distraírem. Os miúdos veem o mundo pelo ecrã, canais nacionais na última querem ser como as estrelas que década, para os milhares de aparecem no youtube, pensam participantes e centenas de finalistas, lembramo-nos de meia que tudo é possível e somos dúzia que conseguiram realmente todos cópias uns dos outros”, analisa, com tristeza. construir uma carreira, como João Pedro Pais, Sara Tavares, A tristeza dá lugar rapidamente Dino d’Santiago, agora Diogo a mais um sorriso brilhante Piçarra. “Sinto que deixou de quando lhe perguntamos como haver aquela educação do nosso anda a pintura no meio de tantas tempo e dos pais se aventuras musicais. “Retomei a preocuparem com aquilo que os pintura o ano passado e este filhos andam a fazer. álbum já vai ser todo ilustrado Antigamente, havia quatro por mim. Não me sentia canais de televisão que só completo e achava que era por podíamos ver a determinadas ainda não estar a cantar

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realmente a minha música, mas preciso mesmo de pintar. É onde entro num estado de paz total, não penso em mais nada”, descreve, acrescentando que já voltou a fazer exposições e a vender quadros, em Cabo Verde e Loulé, estando a preparar agora outra para Lisboa. “Só não quero é pintar por encomenda, faço o que gosto. Também escrevo temas para outros cantores e a nova vaga de fadistas aprecia o meu estilo urbano de escrever. E um livro de ilustrações, aliado à música, é algo com que sonho fazer em breve”, adianta. Um trajeto de invejar para um jovem que cresceu no antigo Bairro dos Pescadores, em Quarteira, onde as oportunidades não eram muitas e onde era fácil fazer as más escolhas. O conselho do entrevistado é simples: “A vida dá voltas que não imaginamos, portanto, temos que acreditar sempre que é possível. Claro que é fundamental ter uma família que nos deixa, verdadeiramente, sonhar, ao invés de nos colocar limites e condicionantes. Os meus pais foram maravilhosos, ainda mais porque foi bastante difícil para eles criar três filhos. Como não havia dinheiro para irmos para uma creche, ficávamos em casa sozinhos e eles iam trabalhar com o coração nas mãos, com medo que mexêssemos no fogão ou que acontecesse algum acidente. Só que a alternativa era deixarnos na rua, como foi o caso de muitos amigos meus que, hoje, estão presos, uns meteram-se na droga, outros já morreram”, diz Dino sem hesitações ou qualquer vergonha em relação ao seu passado. “Saí do Algarve ALGARVE INFORMATIVO #10

e fui para o Porto porque acreditava que era por ali que estava o meu sucesso, quando os Expensive Soul nem sequer eram conhecidos, era eu mais famoso por causa da «Operação Triunfo». Ser «coitadinho» é uma desculpa para quem não quer evoluir, ou para aqueles que não sabem como o fazer”. Volvida uma década da partida, Claudino Pereira está de regresso ao Algarve, terra da qual sempre

sentiu falta, por muito que os voos low cost ajudassem a matar saudades. “Senti a necessidade de estar perto dos meus pais, de aproveitar o tempo com eles como amigo, e não apenas como filho, partilharmos histórias, rirmos juntos. Quero estar próximo deles enquanto forem vivos para lhes agradecer todos os sacrifícios que fizerem por mim e pelos meus irmãos” .

Foto: Ron Isarin 37


REPORTAGEM

Micaela Varela, Florin Vintila, Marina Zueva e Kátia Pedrosa

Campeãs de saltos altos O Algarve vai ser palco, em Outubro, de mais uma grandiosa gala de desportos de combate sobre a chancela «Dynamite Fight Night», de Florin Vintila, desta feita num duelo de titãs entre portugueses e chineses. Antes disso, não há férias de Verão para ninguém, porque os atletas da TOP TEAM estão constantemente a combater para títulos nacionais, europeus e mundiais. E engane-se quem pensa que os desportos de combate são apenas para homens de barba rija, pois há várias jovens a provar que as mulheres têm um merecido espaço nestas modalidades duras e extremamente competitivas. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #10

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calor aperta, o Verão está à porta e os dias longos convidam a uma ida à praia. Em Albufeira, porém, o ginásio do Clube Desportivo Areias de São João está repleto de atletas ao final da tarde, uns ainda adolescentes, outros já adultos, todos prontos para mais um treino da TOP TEAM, seja de K1, muay-thai, thai boxing ou full contact. À frente do leme está o antigo atleta, agora treinador e manager, Florin Vintila, que não descura a preparação física na sua equipa, até porque há combates praticamente todas as semanas, em Portugal ou por esse mundo fora. Marina Zueva, uma russa de 26 anos a viver no Algarve desde os sete, é o expoente máximo dos desportos de combate em Portugal na vertente feminina, mas nem por isso descurou a sua formação académica, tendo tirado o curso superior de Engenharia Civil. Contudo, depois de exercer essa atividade durante dois anos, decidiu mudar de rumo e é uma das responsáveis pelo novo medronho «Dom Chique». Ao final do dia, ruma à sua segunda casa, a sede do Clube Desportivo Areias de S. João, para mais treinos de muay-thai e thaiboxing. Por volta dos 15 anos, Marina decidiu acompanhar o pai a um dos seus treinos, experimentou e, passado um ano, já estava a combater. Foi o início de uma década de sucessos e, olhando para trás, a atleta reconhece que aconteceu tudo de forma muito rápida e inesperada. “Na altura, eramos só eu e a minha irmã aqui no ginásio, a competição também era bastante reduzida no escalão dos amadores, o que fez com que começasse a combater muito cedo no estrangeiro, já como profissional. Com 16 anos lutava com mulheres feitas, as melhores do mundo, com outra força e experiência dentro do ringue”, recorda, admitindo que essa situação acabou por torná-la mais madura e competitiva do que as restantes atletas portuguesas. Apostar forte na formação académica foi uma opção da própria Marina Zueva, que terminou o ensino secundário, em Albufeira, com uma média de 17 valores, o que lhe garantia um leque bastante alargado de opções, tanto nos cursos como nas universidades a escolher. “Preferi ficar no Algarve por causa dos treinos, porque ALGARVE INFORMATIVO #10

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queria continuar na equipa e ver até onde poderia ir nos desportos de combate. Toda a gente sabe que, em Portugal, é impossível vivermos só disto, mas tudo o resto que alcançamos na vida é influenciado pela prática desta modalidade. Ficamos mais ambiciosos e competitivos, com mais vontade de vencer, com maior resistência aos obstáculos do que uma pessoa normal”, analisa. Uma teoria que Marina Zueva comprovou na prática enquanto frequentou a Universidade do Algarve, sobretudo no primeiro ano de curso, porque ainda não tinha carta de condução. “Tinha que andar com um saco enorme de comboio, depois apanhava o autocarro, pedia às senhoras para me guardarem o equipamento, voltava a apanhar o comboio e autocarro para vir aos treinos. Os três anos acabaram por passar depressa, nunca deixei cadeiras para trás e tentava fazer as duas coisas da melhor forma possível”, conta a campeã, que nos primeiros


REPORTAGEM campeã do Mundo em thai boxing, campeã de boxe da Taça de Portugal e campeã regional e nacional, sempre na categoria de 55Kg. “A maior parte dos meus combates são de thai boxing mas, por vezes, temos que lutar noutras modalidades para o fazermos com mais regularidade. Este ano, por acaso, nota-se uma grande evolução da vertente feminina e tenho tido combates uns atrás dos outros, nem preciso fazer uma preparação exaustiva, é só uma questão de manter a forma e o peso. Antigamente, tinha que lutar contra tempos de TOP TEAM tinha que treinar bastante com homens, por falta de outras atletas femininas. atletas na categoria de 60Kg e, no dia do combate, estavam elas com 63 ou 64Kg e eu com os meus “Nunca pensei em desistir e acho que o máximo de tempo que estive parada foram duas semanas 55Kg. Era uma diferença muito grande de peso”, lembra. por causa de pequenas lesões que temos nos combates. Somos muito unidos nesta equipa e os Marina Zueva esclarece que a grande diferença rapazes não olham para nós como raparigas, entre o muay-thai e o thai boxing é que, no somos mais um elemento. Obviamente que, primeiro, é permitido o uso de cotovelos. Quando quando fazemos o sparring com eles, não nos aos inúmeros títulos, europeus e mundiais, que batem com tanta força, mas é bom treinarmos possui, em nada alteraram as suas rotinas do dia-ajuntos, o desafio é maior”. Se treinar contra colegas masculinos não foi estranho, mais complicados foram os primeiros combates que teve a sério contra profissionais de outros países, mulheres que faziam do muaythai, K1 e thaiboxing a sua atividade principal, sem terem que andar a correr do trabalho para os treinos e vice-versa. “Contudo, apesar de não termos as mesmas condições, estamos num nível semelhante. Quando estamos no patamar dos profissionais, é difícil apanhar adversários fracos e, se vamos lutar no estrangeiro, temos perfeita consciência que vai ser uma tarefa bastante complicada. Elas treinam o dia todo, nós fazemos mais sacrifícios, levantamo-nos mais cedo, deitamo-nos mais tarde, mas isso torna-nos mais fortes psicologicamente”, defende. Sacrifícios que não passam apenas por sair da cama mais cedo e ir dormir mais tarde, garante Marina Zueva, com um sorriso. “A parte mais chata para mim é, realmente, a comida, porque sou bastante gulosa, não só de doces, mas de toda a comida no geral. Quando tenho que reduzir o peso para alguma competição, fico mais mal disposta, mas é uma questão de hábito”, assegura a campeã da Europa de full contact, ALGARVE INFORMATIVO #10

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dia ou a sua forma de ser, embora sinta que há um maior reconhecimento dos seus feitos. “Isto é tudo uma questão de modas e já vemos várias atrizes a experimentarem, a praticarem algum desporto de combate. Sei que tenho muitos seguidores e, quando vou lutar no estrangeiro, vejo muitos fãs na plateia. Também dou aulas em Albufeira e Portimão aos mais pequenos, mas ainda não defini uma idade para pendurar as luvas. As pessoas pensam que nos aleijamos muito nos desportos de combate, mas isso não é verdade, até é mais fácil contrair uma lesão a jogar futebol, basquetebol ou na ginástica rítmica. Claro que há sempre azares, mas nunca tive mais do que um olho negro e algumas nódoas negras no corpo”.

fisioterapeuta de profissão. “Comecei a lutar aos 18 anos, por influência do namorado e porque o Florin Vintila estava sempre a desafiar-me para experimentar. Gostei e cá estou há 10 anos”, conta a albufeirense, que antes disso praticara ténis, ginástica acrobática e atletismo. “Desde os Mulheres conquistaram o seu lugar cinco anos que estou ligada ao desporto”, reforça. Kátia Pedrosa que cedo ficou bastante amiga de Marina Zueva e, mais recentemente, de Micaela e a O sucesso de Marina Zueva no thaiboxing e full contact depressa levou outras jovens a perderem a forte união entre as três ajuda a vencer as dificuldades. “O bichinho está cá, mesmo quando inibição de praticar um desporto que, até à data, as coisas não correm bem. A minha mãe só há parecia restrito ao sexo masculino. Não é de admirar, por isso, que a TOP TEAM tenha mais uma pouco tempo é que ganhou coragem para ir ver um combate meu e não gostou nada, mas apoiacampeã mundial, Kátia Pedrosa, 28 anos, me, tem orgulho em mim”, frisa a profissional. “Andei alguns anos como amadora porque há poucas raparigas para se lutar, principalmente nos pesos mais baixos, o que tornou a minha ascensão mais lenta. Faço K1, thaiboxing e muaythai entre os 51 e 53kg”, explica, ainda um pouco ofegante depois do início de treino. Lutar contra estrangeiras também faz parte do seu currículo e foi fácil para Kátia Pedrosa encontrar diferenças. “Nós temos que nos levantar às seis da manhã para ir correr e fazer cárdio, enquanto elas fazem vida disto, têm horas marcadas para os treinos, suplementação toda paga, dietas preparadas ao mínimo detalhe. Nós andamos cá por gosto, são mais as despesas do que o dinheiro que se ganha nos cachets”, sublinha, confessando que, no Verão, é um problema resistir às tentações de sair à noite com as amigas ou de ir o dia todo para a praia. Esforços acrescidos que geram resultados desportivos e Kátia Pedrosa é campeã do mundo da WKF e da ISKA, em combates disputados em novembro de 2014 e em abril de 2015. “Já fui homenageada pela Câmara Municipal de

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REPORTAGEM Albufeira, mas não podemos deixar de trabalhar para nos dedicarmos a tempo inteiro a isto. E quando quiser ter filhos, vai ser mais complicado lutar profissionalmente, mas nunca vou deixar de praticar desporto, ando nisto desde os cinco anos”. A mais recente campeã da TOP TEAM é Micaela Varela, 21 anos, natural de Albufeira e a tirar uma licenciatura em Economia na Universidade do Algarve. “Tinha experimentado outros desportos mas não gostei de nada, um dia pedi à minha mãe para tentar o thai boxing e K1 e fiquei, já lá vão sete ou oito anos”, diz, acrescentando que a mãe só deixou de achar piada à sua escolha quando os combates começaram a ser mais a sério. “Demorei dois anos para subir ao ringue porque, no princípio, confesso que era bastante desleixada”. Pelos vistos, os desleixos fazem parte do passado e a atleta da categoria entre os 63,5 e os 65kgs já faz combates de neoprofissionais, não tendo também problemas em treinar contra rapazes mais velhos. “É da maneira que posso bater com mais força que eles não se queixam”, justifica, sorridente. “A primeira vez que fui combater estava bastante nervosa por causa do que as outras pessoas iriam pensar, mas esse sentimento desapareceu num instante e habituei-me à pressão. Quando o árbitro diz «fight», a adrenalina substitui o nervosismo e só pensamos na nossa adversária”, salienta. E porque Marina é uma jovem de 21 anos, como é resistir ao chamamento da praia e das saídas noturnas, questionamos. “Consigo passar bem sem ir à praia ou sair à noite, não fumo nem bebo, o pior é a comida para controlar o peso. Nas poucas vezes que saio à noite, nunca volto para casa muito tarde para não estragar o que consegui no treino desse dia, nem para prejudicar o que vou fazer no dia seguinte”, assume a Campeã Nacional de K1, em 63,5Kg e detentora de uma medalha de ouro no Campeonato do Mundo da ISKA disputado já este ano.

Portugal vs China em Outubro Atento ao desenrolar dos treinos estava, como é costume, o responsável máximo da TOP TEAM, o ALGARVE INFORMATIVO #10

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antigo atleta profissional, agora manager e treinador, Florin Vintila, que não escondia o tremendo orgulho que sente por todos os seus pupilos. “A equipa está a crescer cada vez mais e temos filiais em Portimão, São Bartolomeu de Messines, Beja, Almodôvar, Algoz, até no Brasil estamos presentes. Todos os anos temos vários campeões da Europa e do Mundo e atletas a combater ao mais alto nível”, evidencia, sem esquecer, igualmente, os inúmeros títulos nacionais alcançados pelos membros da equipa. Florin Vintila que já está de olhos postos na Dynamite Fight Night 29, um dos maiores eventos de desportos de combate da Europa e, certamente, o melhor alguma vez realizado em Portugal e que colocará frente a frente os melhores atletas de Portugal e da China. “Todos nos lembramos de filmes dos «Jovens Heróis de Shaolin» e do Bruce Lee e sabemos que a China é um dos berços destas disciplinas. Já fomos várias vezes combater à China e constatamos que o nível deles é elevadíssimo, portanto, vai ser uma tarefa muito espinhosa para os portugueses”, antevê, recordando-se das palavras de desencorajamento que recebeu quando, há uns anos, teve a ideia de criar este género de torneios e galas. “Quando me dizem que não, ainda faço melhor. Era um sonho de pequeno e tornou-se num evento de enorme dimensão, com transmissões em direto para a televisão, pavilhões cheios com milhares de pessoas, um espetáculo cinco estrelas e por alguma razão já estamos a caminho das 30 edições. Infelizmente, ainda não conseguimos conquistar os grandes patrocinadores, mas esses só se preocupam com o futebol”, desabafa, em tom de crítica.


Para trás ficou, entretanto, a sua própria carreira de atleta profissional, porque o tempo deixou de dar para conciliar tantas facetas, até mesmo para assumir a 100 por cento todas as turmas de alunos. Por isso, Florin Vintila sublinha a importância do seu adjunto João Rocha, que o acompanha há largos anos nesta caminhada e permite que o romeno de nascença se foque um pouco mais nos atletas profissionais. “Todas as semanas temos alguém a combater em algum sítio mas, com esforço, consegue-se tudo”, aponta. Quanto a Marina Zueva, Kátia Pedrosa e Micaela Varela, constituem um orgulho especial para o técnico, porque sempre acreditou que as mulheres tinham todas as condições para brilhar nos desportos de combate. “A Marina foi, de facto, a impulsionadora deste movimento feminino, foi a primeira a combater como profissional no estrangeiro e é campeã do mundo. A Kátia é bicampeã mundial e a Micaela também foi campeã do mundo, em categorias diferentes, portanto, estão a seguir os mesmos passos da Marina”, enaltece. E como Florin é um homem ambicioso e que nunca se dá por satisfeito, revela que ainda há sonhos por alcançar e anda em conversações com

o presidente da Câmara Municipal de Albufeira sobre a possibilidade de cedência de um terreno para se construir uma «casa» para a TOP TEAM. “Estou disposto a investir num ginásio que seja a nossa sede e também da Associação de Muay-Thai do Algarve, a entidade que tem supervisionado todas estas competições. Vamos ver se é desta que se vai apostar nos desportos de combate, até porque os nossos eventos atraem mais espetadores que os próprios jogos de futebol que se disputam na região. Está na hora das pessoas abrirem os olhos para a projeção que estas modalidades podem dar ao Algarve”. Florin Vintila explica, todavia, que ter uma sede e ginásio próprio não vai impedir a realização das Dynamite Fight Night noutros pontos da região e do país, pois entende que isso também ajuda a impulsionar a modalidade e a atrair novos praticantes. “Temos tido uma grande parceria com a Câmara Municipal de Lagoa, concelho onde tiveram lugar as duas últimas galas da DFN, mas faço questão de trazer para Albufeira o próximo evento, pois foi aqui que tudo começou”, frisa, antes de regressar ao treino com Marina Zueva, que vai combater novamente na China, no dia 7 de junho .

Micaela Varela, Marina Zueva e Kátia Pedrosa, um trio de campeãs ALGARVE INFORMATIVO #10

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DESPORTO

Vila Real de Santo António recebe a III Copa do Guadiana

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ila Real de Santo António recebe, entre os dias 19 e 27 de junho, a III edição de «A Copa do Guadiana» e a cidade irá reunir 4000 desportistas (atletas e corpo técnico), tornando-se, uma vez mais, na capital do futebol infantil. A festa de abertura está marcada para o dia 22 de junho, a partir das 20h, no Estádio Municipal de Vila Real Santo António, onde todas as equipas terão a oportunidade de participar no desfile inaugural e de assistir a um espetáculo repleto de luz e som, seguido de um concerto do cantor Anselmo Ralph, que trará a VRSA toda a sua banda e bailarinos. Em campo, e ao longo de uma semana, vão estar 224 equipas, repartidas por nove escalões (futebol 11 - 2000, 2001 e 2002; futebol 7 - 2002, 2003, 2004, ALGARVE INFORMATIVO #10

internacional e mobilizam clubes vindos de todos os pontos do país e do estrangeiro”, considera Conceição Cabrita, vicepresidente da autarquia de VRSA. “Esta é, sem dúvida, uma oportunidade de convívio para milhares de jovens que encontram em VRSA a oportunidade de se projetarem junto dos maiores nomes e clubes de futebol. Por outro lado, este é um ponto 2005 e 2006; e futebol 5 de encontro para as famílias 2007/2008), que irão disputar que, durante uma semana, mais de meio milhar de jogos fazem a festa do futebol e nos 20 relvados do Complexo Desportivo de VRSA, Lusitano e contribuem para as boas taxas de ocupação hoteleira de VRSA Beira-mar. Além do Benfica, Porto e Sporting, outros grandes e Monte Gordo”, afirma nomes do futebol como o Vitória Conceição Cabrita. de Guimarães, Vitória de À semelhança de outras Setúbal, SC Braga, Académica de grandes competições Coimbra, Atlético de Madrid, organizadas no Complexo Sevilha e Bétis de Sevilha vão Desportivo de VRSA, «A Copa do marcar presença na «Copa do Guadiana» irá contar com a Guadiana». É também esperada colaboração de dezenas de a presença de vários atletas da voluntários que guiarão atletas e 1ª liga para sessões de equipas no recinto do torneio. autógrafos e convívio com Para que nada falhe, estará atletas e adeptos. “A realização disponível uma linha de de mais um grande torneio autocarros, durante 12 horas coloca o município na linha da diárias, para transportar todas as frente do desporto e consolida equipas entre as unidades a capacidade do Complexo hoteleiras - onde as equipas e Desportivo para organizar, ano corpo técnico se encontram após ano, competições que são instalados - e o local dos jogos . uma referência nacional e 44


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DESPORTO

Paco Gallego venceu 3.º Stand Up Paddle Algarve

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surfista de Huelva Paco Gallego foi coroado como Paddle Man, no dia 24 de maio, ao vencer o III Stand Up Paddle Algarve Powered By WindsurfPoint 2015. Este evento reuniu na Praia de Faro praticantes de Portugal, Espanha, Ucrânia e Holanda, em dois dias recheados de emoções. A armada espanhola tinha seis participantes, facto revelador do interesse que este evento tem vindo a suscitar na comunidade. No período da manhã de dia 23 decorreu uma prova wave, ficando a componente race regata e longa distância reservada para o período da tarde. As baterias realizadas nas ondas durante a manhã decorreram no pico em frente ao Centro Náutico da Praia de Faro, com uma ondulação de levante com meio metro. A escolha das ondas revelou-se aspeto determinante para conseguir a melhor pontuação. As dificuldades encontradas acabaram por premiar aqueles que conseguiram encontrar ondas mais fora, permitindo aguardar pelas melhores secções para creditar pontos com as manobras conseguidas. O bom nível atingido na final, repartida entre quatro atletas, surpreendeu os presentes que, face às condições de mar, não julgavam ser possível a realização de muitas das manobras apresentadas pelos finalistas. Porém, o surfista Paco Gallego, com uma fluidez surpreendente, revelou-se mais forte ficando em primeiro lugar. Raoul Linden, de apenas 21 anos, impôs a sua remada vencendo a prova de race regata. Numa final muito competitiva, superiorizou-se ao ucraniano Oleksandr Olefirenko e ao espanhol Paco Gallego. Na prova de race longa distância, o vencedor foi o surfista Paco Gallego com o tempo de 23´.55”, ficando respetivamente em 2.º e 3.º lugar Augusto Garcia e Jorge Seruca .

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