ALGARVE INFORMATIVO #14

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SUMÁRIO

TERTÚLIA ALGARVIA

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No centro histórico de Faro encontra-se o Restaurante Tertúlia Algarvia, espaço que procura aliar a vertente gastronómica à história e cultura da região. Contudo, o restaurante é apenas a face mais visível de uma associação dedicada a diversas atividades, desde a formação de profissionais à organização de workshops, da criação de conteúdos multimédia em torno da gastronomia, à divulgação de receitas típicas. O percurso foi, porém, bastante acidentado, pois apanhou o pico da crise económica e financeira, a introdução de portagens na Via do Infante e o aumento do IVA da restauração dos 13 para 23 por cento. Apesar disso, ninguém nega o sucesso do projeto e o futuro passa pela abertura de novos espaços e o aumento da componente de formação.

JOÃO FRADE

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O acordeão é um dos instrumentos típicos portugueses mais fortemente implantados no Algarve, pelo que não admira que a região tenha variadíssimos executantes de topo internacional, como atestam os múltiplos títulos alcançados, tanto na vertente Clássica como na Varieté. Entre eles, nota de destaque para o albufeirense João Frade, que foi campeão do mundo no virar do milénio e nunca mais parou de viajar pelo mundo, impressionando tudo e todos com o seu estilo pessoal, mas sem nunca esquecer as raízes algarvias.

ARANDIS EDITORA O Algarve sempre teve um forte pendor literário, sobretudo na vertente da poesia, contudo, se perguntarmos ao cidadão comum, poucos são os nomes de escritores naturais da região que estão na ponta da língua. Infelizmente, o problema não é, nem nunca foi, falta de matéria-prima, simplesmente, as portas das grandes editoras nacionais estavam fechadas aos autores pouco mediáticos e sem muito dinheiro para investir na máquina promocional. Tudo isso mudou há três anos com o nascimento da Arandis Editora, direcionada para a prata da casa, para pôr no papel, e ao dispor do grande público, as histórias, mensagens e saberes dos algarvios que estavam, na maior parte dos casos, esquecidas no fundo de alguma gaveta.

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OPINIÃO

Daniel Pina Um Xanax na carteira, duas aspirinas no bolso (…) não consigo perceber que o raio se passa na viagem de Lisboa para Sul, em que milhares de pessoas partem como cidadãos perfeitamente normais, uns com carteira recheada, outros sem um tostão para gastar, e chegam transformados em reis e rainhas, príncipes e princesas, cada um com o nariz mais empinado que o vizinho do lado, como se toda uma região tivesse que parar para atender os seus caprichos (…)

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Paulo Cunha

Faro capital nacional da cultura 2005 – 10 anos depois… (…) A falta de estruturação atempada da programação e o favorecimento de uma programação centralizada em detrimento das propostas dos agentes culturais da região foram as principais causas para que a FCNC tenha deixado poucas raízes no tecido cultural algarvio. Teriam sido as forças culturais da região, atuantes, conhecedoras da realidade local e independentes do poder que, através dos seus projetos, poderiam ter alargado a oferta com iniciativas estruturantes na contínua formação de públicos (…)

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João Espada (Re)Descobrir o Jazz em Loulé (…) Muitas surpresas estão guardadas para esta edição e contamos naturalmente com a presença do nosso público, que já alguns anos nos segue, pois sem ele não faria sentido criar este festival (…)

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Paulo Bernardo

E os lucros? (…) o mundo não é justo como todos sabemos. Assim, hoje, numa economia global, somos assediados por países que, não investindo na criação de quadros, estão disponíveis para os receber com melhores condições, pois o investimento neles até hoje foi zero. O mesmo acontece para as empresas que hoje estão a ser disputadas globalmente, pois o seu conhecimento e o seu potencial de criar emprego são uma mais-valia (…)

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Que diferenças podem existir entre Professor e O Professor? (…) Finalmente, a precariedade da carreira docente é uma dominante, particularmente do Professor contratado, que nunca sabe onde, quando e como vai iniciar a sua função pedagógica, na maioria dos casos as distâncias desenvolvem processos emocionais traumáticos que acabam por desencadear perturbações emocionais «silenciosas» (…)

ALGARVE INFORMATIVO #14 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Foto de capa: Luís da Cruz Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930 Diariamente, as notícias que marcam o Algarve em algarveinformativo.blogspot.pt ALGARVE INFORMATIVO #14

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CRÓNICA

UM XANAX NA CARTEIRA, DUAS ASPIRINAS NO BOLSO

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Daniel Pina Jornalista Danielpina@sapo.pt Algarveinformativo@sapo.pt

(...) não consigo perceber que o raio se passa na viagem de Lisboa para Sul, em que milhares de pessoas partem como cidadãos perfeitamente normais, uns com carteira recheada, outros sem um tostão para gastar, e chegam transformados em reis e rainhas, príncipes e princesas, cada um com o nariz mais empinado que o vizinho do lado, como se toda uma região tivesse que parar para atender os seus caprichos (…) ALGARVE INFORMATIVO #14

o início desta semana, depois de levar a filhota ao infantário, dei um pulo ao Pingo Doce para umas compras rápidas e deparei-me com um daqueles episódios que, infelizmente, já se tornaram habituais por esta altura do ano. Duas caixas abertas, ambas com grandes filas, alguns algarvios a fazer comprar, pelos vistos, para os seus restaurantes, de bico calado, uma ou outra «tia» de Lisboa, de permanente ainda fresca, cheia de creme para esconder as rugas, saco de praia ao ombro e a barafustar que aquilo não se admitia, que deviam estar mais caixas abertas, que na terra dela nada disso acontece. De repente acendeu-se uma luzinha na minha cabeça: ah, pois, começou ontem o Verão, nem tinha dado por isso. Ao mesmo tempo, e como alfacinha de nascença que sou, lembrei-me que, na encantada metrópole dos nossos sonhos que é Lisboa, há uma caixa aberta nos supermercados para cada cliente, há uma caixa de multibanco para cada cidadão, nunca há filas nos correios, nem nos restaurantes, nem nos estabelecimentos de fast-food. Depois, acordei do sonho, ou deixei de ser hipócrita, e lembrei-me que tudo isso acontece também em Lisboa, com a diferença de que, lá, essas «tias» de rugas disfarçadas estão de bico calado. Quando foi a minha vez de ser atendido, virei-me para a funcionária e disse, meio a brincar, meio a sério, “começou a temporada do xanax”. A rapariga olhou para mim, percebeu que era um cliente regular, da terra, o tal que compra muitos pacotes de fraldas, toalhetes e caixas de café, e deixou escapar um sorriso, como que a dizer “nem imaginas”. Só que não preciso imaginar, é uma realidade com que contato há mais de 15 anos, de tal modo que, muitas vezes, dou por mim a chamar uns valentes nomes a esses lisboetas, esquecendo que eu próprio sou dessa fornada. 6

É verdade que nem todos esses senhores e senhoras que fazem questão de vir azucrinar a cabeça dos algarvios durante o Verão são de Lisboa. Diz-me a experiência, porém, que os alentejanos são bem mais tranquilos e os nortenhos muito mais simpáticos e bem-dispostos nestas situações, portanto, o rótulo de «sacana do lisboeta» não deve estar muito desfasado da realidade. E como lisboeta que fui durante 23 anos, estava habituado a andar sempre a correr de um lado para o outro, aos encontrões nas ruas, apertado nos autocarros e no metro, a comer de pé nos fast-foods ou a ter que esperar pela minha vez de ser atendido nos restaurantes e nos correios como qualquer outra pessoa. Por isso, quando vim viver para o Algarve, não estranhei a maior confusão que se verifica um pouco por toda a região nos meses de junho, julho e agosto. Talvez por saber que, depois da debandada dos turistas, em finais de agosto, ficamos com este maravilhoso Algarve todo para nós e tudo regressa à normalidade. Não me causou espanto, por isso, que, passados alguns anos, já me começasse a considerar um «algarvio», importado, é verdade, mas «algarvio». E, como algarvio que me tornei, não consigo perceber que o raio se passa na viagem de Lisboa para Sul, em que milhares de pessoas partem como cidadãos perfeitamente normais, uns com carteira recheada, outros sem um tostão para gastar, e chegam transformados em reis e rainhas, príncipes e princesas, cada um com o nariz mais empinado que o vizinho do lado, como se toda uma região tivesse que parar para atender os seus caprichos. Felizmente, ainda não cheguei à fase de ter que andar com um xanax na carteira e duas aspirinas no bolso, basta-me um «sacana do lisboeta» para me acalmar. Mas quem está a atender tais majestades não pode propriamente dizer estas coisas, portanto, não têm outro remédio senão o tal xanax e aspirina, para gáudio dos laboratórios farmacêuticos .


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ENTREVISTA

TERTÚLIA ALGARVIA RESTAURANTE É APENAS A PONTA DO ICEBERGUE No centro histórico de Faro encontra-se o Restaurante Tertúlia Algarvia, espaço que procura aliar a vertente gastronómica à história e cultura da região. Contudo, o restaurante é apenas a face mais visível de uma associação dedicada a diversas atividades, desde a formação de profissionais à organização de workshops, da criação de conteúdos multimédia em torno da gastronomia, à divulgação de receitas típicas. O percurso foi, porém, bastante acidentado, pois apanhou o pico da crise económica e financeira, a introdução de portagens na Via do Infante e o aumento do IVA da restauração dos 13 para 23 por cento. Apesar disso, ninguém nega o sucesso do projeto e o futuro passa pela abertura de novos espaços e o aumento da componente de formação. Entrevista: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #14

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A

história da Tertúlia Algarvia começa, em 2005, dos encontros de um grupo de cerca de 15 empresários para pequenos-almoços madrugadores, pelas 6h30, no Hotel Ibis, em Faro, com o intuito de descobrir o que podiam fazer em conjunto para alavancar o gosto comum que tinham pela gastronomia, história e cultura do Algarve. Dos encontros informais surge a decisão de criar a Associação Tertúlia Algarvia – Centro de Conhecimento em Cultura e Alimentação Tradicional do Algarve, e um dos objetivos principais foi, desde logo, desenvolver espaços temáticos permanentes de divulgação da gastronomia, cultura e histórias algarvias. “Havia a noção de que, quando se recebia um grupo de turistas estrangeiros, era necessário levá-los a diversos locais para que ficassem com uma imagem abrangente da região. Tinham que ir a um restaurante para provarem a nossa comida típica, a um centro histórico para visitarem monumentos, e por aí adiante”, explica João Amaro, presidente da Direção da Associação Tertúlia Algarvia. “A ideia era encontrarem gastronomia, artes e ofícios e património histórico tudo no mesmo local”, acrescenta o empresário. A associação nasce formalmente em 2006 e as características desejadas para o primeiro espaço são concretizadas numa folha de papel: combinar o rústico com o inovador, representar bem a gastronomia e artes & ofícios, possuir uma componente de ALGARVE INFORMATIVO #14

restauração, mas também de formação, entre outros aspetos. “Essa folha A4 foi entregue a uma equipa de três jovens arquitetos, liderados pelo Gonçalo Vargas, que fizeram um estudo sobre a arquitetura tradicional do Algarve e nos apresentaram um estudo prévio do primeiro espaço, ainda que sem uma localização definida. Era uma coisa muito bonita, mas também bastante grande, com cinco mil metros quadrados, uma sala de refeições por cada concelho do Algarve, uma academia de formação, uma residência para chefes de cozinha, um auditório ao ar livre. Com esse estudo prévio, elaboramos igualmente o primeiro plano de negócios, no âmbito de uma cadeira de final de curso de Gestão Hoteleira de 9

um dos associados iniciais da Tertúlia”, relata João Amaro. Munidos destes dois documentos, a direção da associação entregou o seu plano de intenções a cada um dos 16 presidentes de câmara da região, com três simples pedidos: que ajudassem a identificar possíveis locais para implementar o projeto; que disponibilizassem os contatos dos agentes culturais do respetivo concelho; que fornecessem alguns livros, CD’s ou DVD’s que fizessem referência à história e gastronomia do Algarve. Como se adivinha, a resposta dos autarcas ficou aquém das expetativas e apenas quatro deram retorno aos pedidos da «Tertúlia Algarvia». “O presidente de Albufeira disponibilizava-se para ceder o direito de superfície de um


ENTREVISTA euros, a que se somaram outros 500 mil em recheio e equipamento, esses da nossa responsabilidade. Tivemos que adaptar o projeto inicial, porque não correspondia exatamente àquilo que pretendíamos, que também demorou bastante tempo a ser aprovado. Coincidiu com a fase em que as autarquias tinham muita procura, ou eram menos ágeis, e quando entramos na fase de arranjar financiamento, apanhamos com o pico da crise, com as torneiras terreno junto à Marina de Albufeira, fomos ver um edifício em Castro Marim e os responsáveis de Loulé e Faro também nos chamaram para vermos algumas hipóteses. Destes contatos, o espaço que mais nos interessou estava em Faro, onde hoje existe o Consulado do Brasil, mas o proprietário, um senhor irlandês, pedia 15 mil euros de renda mensal ou dois milhões de euros se quiséssemos comprar. Era o tempo das vacas gordas e desistimos mas, a partir desse momento, percebemos que o nosso projeto tinha que se inserir num centro histórico e, provavelmente, em Faro”, indica o entrevistado. Com as atenções focadas na capital algarvia, estava complicado encontrar o espaço ideal porque, ou eram muito pequenos, ou demasiado grandes, ou excessivamente caros, e o processo ficou em banho-maria durante alguns meses.

Um projeto cheio de peripécias Em 15 de outubro de 2008, a Associação Tertúlia Algarvia ALGARVE INFORMATIVO #14

descobre finalmente o edifício onde se localiza atualmente o restaurante, numa altura em que todos os associados pagavam 25 euros de quota mensal, mas também já tinha havido algumas desistências face às dificuldades para o projeto arrancar. Tudo ia mudar, porém, nesta data, porque o proprietário do edifício, Guedes Vidal, já tinha intenção de fazer obras de remodelação para posteriormente o arrendar. “Quando contámos a história do projeto, ele ficou bastante interessado e, mais do que isso, disse que pagava as obras, que ficaram na ordem dos 500 mil 10

completamente fechadas da parte da banca”, recorda João Amaro. As peripécias pareciam, de facto, não terem fim, e o grupo de resistentes constatou que só conseguiriam obter algum dinheiro por via dos incentivos comunitários às empresas, não


multimédia. As obras também se foram arrastando, porque o edifício era antigo e, como se isso não bastasse, dois fornecedores foram à falência, um de equipamento e um eletricista. As obras andavam um pouco à velocidade do dinheiro, que não abundava, pelo que só conseguimos Chakal foi um dos chefs envolvidos no projeto Cataplana Algarvia abrir em final de agosto de havendo essa possibilidade para 2013, quando tínhamos pensado fazê-lo em 2011”, conta um dos associações. Nasceu assim a «Good Moments», composta por sócios da «Good Moments». cinco dos cerca de 15/16 Projetos que começaram por associados da Associação Tertúlia ser uma forma de financiamento Algarvia, ela própria sócia do para as obras do restaurante mas espaço comercial que é o que continuam a desenvolver-se restaurante, daí este ter adotado com grande dinamismo e com o nome da associação. A par dos diversos parceiros, entre eles um fundos comunitários chegaram em torno da cataplana algarvia, verbas de entidades bancárias, outro de promoção da dieta que se juntaram a fundos mediterrânica, outro ainda sobre próprias da associação, receitas tradicionais das aldeias resultantes de atividades que típicas do Algarve. Quanto ao desenvolvia no quotidiano. restaurante, conta atualmente “Sobretudo serviços de catering com 21 funcionários, entre e organização de eventos, pessoal de cozinha e serviço de porque tínhamos contratado mesa e sala. “Fechamos apenas pessoas para o restaurante, 17 dias por ano: metade do 17 nomeadamente um chefe de de agosto (data do nosso cozinha e dois ajudantes, mais aniversário), véspera de Natal e uma pessoa ligada à Dia de Natal, mais 15 dias em comunicação e outra à janeiro após a passagem de ano. ALGARVE INFORMATIVO #14

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Temos o serviço de restauração normal e o catering, organização de eventos, consultadoria nas áreas da gastronomia e vinhos, organizamos exposições, participamos em atividades de mobilidade internacional e já recebemos estagiários da Itália, Palestina, Israel, jovens de outros países que querem ganhar experiência no turismo e hotelaria”, descreve João Amaro. “Grande parte das atividades da associação são desenvolvidas aqui, outras não têm um local fixo, como é o exemplo do projeto da cataplana algarvia, em parceria com a Região de Turismo do Algarve. Está para sair um novo livro de receitas, produzimos oito vídeos com chefs como o Chakal, a Justa Nobre, o Henrique Leandro, o Augusto Lima, fizemos demonstrações a bordo da Caravela Boa Esperança e em locais de grande afluência de público em Sevilha, Barcelona, Madrid, Badajoz, no Aeroporto de Faro, nos Mercados Municipais de Loulé, Olhão e Portimão, na Feira de Arte Doce de Lagos. Outras ações tiveram alvos mais específicos, como jornalistas e operadores turísticos. Mais recentemente, efetuamos três ações de preparação, em Faro, Portimão e Vila Real de Santo António, em coordenação com a Escola de Hotelaria do Algarve, para capacitar pessoas de restaurantes e hotéis para desenvolver experiências à volta da cataplana. As pessoas vão com o chefe de cozinha ao mercado comprar os produtos, depois, vão para os locais onde terão as aulas de culinária, aprendem um pouco da sua história, confecionam a cataplana e comem-na”.


ENTREVISTA

O projeto Cataplana Algarvia a bordo da Caravela Boa Esperança

de Faro, só por si, tem uma O peso da fiscalidade grande capacidade de atração de turistas, o que facilita imenso é enorme o desenvolvimento da nossa atividade. Apesar disso, faz Inaugurado que foi o parte do objeto da associação Restaurante Tertúlia Algarvia, abrir novos espaços e também depois de um percurso cheio de ainda não implementamos obstáculos e imprevistos, totalmente a valência da facilmente se percebe que o formação. Temos levado a cabo espaço pouco se assemelha ao ações pontuais e para um projeto inicial, o que João Amaro público não profissional e entende como natural. “Foi uma esperamos criar, em 2016, um descida à terra e à realidade, se núcleo de investigação e bem que o primeiro projeto formação na área da dieta elaborado pelos arquitetos não mediterrânica. As Escolas de era para nós definitivo, era Hotelaria e outras organizações somente uma primeira fazem uma formação mais geral abordagem. Era uma coisa e queremos oferecer uma excessivamente grande, para um formação mais especializada, investimento à volta dos cinco bem como realizar investigação milhões de euros, e acabamos e desenvolvimento de novos por gastar apenas 10 por cento produtos associados à desse valor. Foi também uma gastronomia regional, produtos adaptação ao espaço físico que locais e dieta mediterrânica”, conseguimos arranjar”, justifica desvenda. o entrevistado, para quem a Para tal, a Associação Tertúlia alternativa de adquirir um Algarvia já iniciou o processo de espaço maior, mas fora do centro acreditação como entidade histórico, não era muito formadora e está a realizar apetecível. “O Centro Histórico parcerias com organizações ALGARVE INFORMATIVO #14

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externas, com particular destaque para a Fundação para a Dieta Mediterrânica, de Barcelona, e o Movimento Slow Food, de Itália. “Aparece muita gente a pedir estágios mas não estamos devidamente preparados para lhes darmos a formação mais adequada. Formação prática têm porque vão para a cozinha e para o serviço de sala, mas falta a componente teórica de suporte”, reconhece João Amaro, mostrando-se cauteloso quando se toca em mais investimentos financeiros. “O restaurante ainda está numa fase de consolidação, vai comemorar agora dois anos, e vamos esperar mais algum tempo antes de avançarmos para outros espaços. Isto também é maior do que parece, são quase 500 metros quadrados de área disponível e que não estão permanentemente ocupados”. E se todo o processo causou mais dores de cabeça do que o grupo de associados poderia


alguma vez imaginar, ter um restaurante de portas abertas ao público também trouxe dificuldades acrescidas. “Os problemas da fiscalidade realmente são enormes e a atividade sofreu dois processos que vieram dificultar muito a sua sustentabilidade económica. O aumento do IVA dos 13 para os 23 por cento é muito significativo se não for refletido no preço final, até porque a margem líquida numa atividade de restauração ronda os 15 por cento. Depois, houve todo um processo de legalização, pois grande parte dos estabelecimentos não estavam devidamente licenciados, não pagavam os seus impostos e não tinham os funcionários a contrato”, analisa João Amaro, observando dois modelos quase distintos de gerir estes negócios. “Há o modelo familiar, a forma mais fácil de rentabilizar o

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restaurante, porque é a própria família que trata de tudo, é quase como que uma segunda casa. E há o modelo empresarial, mais complicado, onde é necessário ter uma certa dimensão para se conseguir rentabilizar a atividade, que é sazonal, ao longo do ano e da própria semana. Não podemos dizer aos nossos colaboradores e ao senhorio que só pagamos ordenados e rendas no Verão, nem podemos contratar pessoal para trabalhar só à sexta-feira e ao sábado”. Desde modo, IVA, IRC e Segurança Social absorvem quase 40 por cento do volume de negócios, de acordo com o presidente da direção da «Tertúlia Algarvia», que fala ainda das inúmeras taxas e taxinhas, licença de música, licença de esplanada, licença de publicidade no exterior. “Desde o início que seguimos uma lógica

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de não sermos um estabelecimento caro, temos uma oferta competitiva, mas também não quisemos ir para a competição pelo preço. É um desafio constante e a boa notícia é que as outras atividades da associação permitem atenuar os momentos menos bons do restaurante”, indica, ao mesmo tempo que reconhece não ter uma noção do impacto da introdução de portagens na Via do Infante sobre o negócio. “Afeta todo o turismo, portanto, também nos deve afetar a nós, simplesmente não temos uma perceção direta do quanto. Para além do valor das portagens, coloca-se igualmente o problema do método de pagamento, mas temos conseguido ter resultados líquidos positivos desde que abrimos ao público e estamos a cumprir com os nossos compromissos. Não devemos


ENTREVISTA fizeram-nos descer um bocado à terra e rever todo o nosso plano de negócios”. Em jeito de conclusão de conversa, João Amaro considera que a «Tertúlia Algarvia» já faz praticamente tudo aquilo que se tinha proposto fazer, mas ainda de forma intermitente, exceção feita à vertente da restauração. Assim sendo, a aposta é intensificar as exposições e os workshops e Uma apresentação no mercado com o Chef Augusto Lima dar o pontapé de saída às dinheiro a ninguém, Os próprios farenses são ações de formação. “O futuro é fornecedores, pessoal, banco e frequentadores assíduos da incerto e passa por estar atento Estado”. «Tertúlia Algarvia», se bem que ao que vai acontecendo. Não muitos ainda desconheçam o acredito que as coisas vão Farenses regressaram espaço, mais um fator que João melhorar brutalmente, que as Amaro não estranha, pois o pessoas voltem a ter um grande ao Centro Histórico centro histórico esteve bastante poder de compra e que os tempo sem vida. “Penso que a impostos vão baixar. Se o IVA da Estar no centro histórico de realidade tem mudado nos restauração baixar, como Faro é considerado uma das últimos dois, três anos, porque propõe o PS, agradecemos e mais-valias pelos responsáveis do abriram novos será bem recebido, se não projeto, mas a verdade é que, estabelecimentos, os existentes baixar, temos que nos aguentar dos milhões de turistas que fizeram obras de requalificação à mesma. Fala-se também em chegam anualmente ao Algarve, e organizam-se mais eventos. O reduzir as contribuições para a via Aeroporto de Faro, apenas nosso espaço sempre pretendeu Segurança Social e, se isso uma reduzida percentagem fica ser para os residentes, até acontecer, vamos tentar que na cidade, com a esmagadora porque os turistas gostam de tenha algum reflexo no bolso maioria a rumar a outros pontos frequentar os locais onde se dos nossos colaboradores, da região. De qualquer modo, encontram as pessoas da terra”, porque as pessoas, João Amaro garante estar explica o empresário, admitindo genericamente, ganham mal impressionado com o número de que houve momentos em que o nesta atividade”, afirma, turistas que visitam esta zona da grupo esteve quase a desistir do completando: “Basicamente, é ir capital algarvia e que frequentam projeto. “A burocracia e a trabalhando e criando coisas o restaurante. “Há uma relação demora dos licenciamentos já novas porque, o que hoje é bom, direta com o início dos voos eram esperadas, tirando uma amanhã já é conhecido e não «low-cost» para Faro e tem-se coisa ou outra mais exagerada, causa novidade. É preciso ter notado um aumento e melhoria pelo que o Estado não foi «mais uma visão estratégica de médio da capacidade de alojamento. papista que o papa». Não e longo prazo mas, na hora da Ainda há poucos hotéis, mas esperávamos era tantas verdade, é ir dia-a-dia, semana a verifica-se uma dinâmica dificuldades com o semana, mês a mês. E, com a diferente das pessoas que têm financiamento bancário, pois os crise, as pessoas tornaram-se apartamentos para aluguer e bancos passaram da fase em mais seletivas e exigentes, dos próprios hostels. Claro que que «ofereciam» dinheiro para portanto, temos que oferecer há três ou quatro meses, de tudo para outra em que mais e melhor” . novembro a fevereiro, em que fecharam a torneira por se nota uma grande diferença na completo. Mas essas afluência de turistas”. dificuldades foram úteis, porque ALGARVE INFORMATIVO #14

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CRÓNICA

(RE)DESCOBRIR O JAZZ EM LOULÉ João Espada Professor, Artista Plástico e Presidente da Casa da Cultura de Loulé Joao_espada@hotmail.com

(…) Muitas surpresas estão guardadas para esta edição e contamos naturalmente com a presença do nosso público, que já alguns anos nos segue, pois sem ele não faria sentido criar este festival (…) ALGARVE INFORMATIVO #14

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oderá parecer um pouco imodesto da minha parte comentar abertamente, aqui neste espaço, um evento musical no qual estou intimamente ligado. Mas não resisto a fazê-lo. Hoje (dia 28 de junho de 2015) arranca a formalmente o Festival Internacional de Jazz de Loulé com a apresentação do seu cartaz pelo diretor artístico Mário Laginha, acompanhado do músico Tcheka (Cabo Verde). A Casa da Cultura de Loulé, associação sem fins lucrativos, mostra mais uma vez que é possível organizar um evento desta dimensão pela 21ª vez sem interrupções (sendo neste caso o festival mais antigo do país com estas características). Neste contexto devo prestar justamente a devida homenagem ao Eduardo Manuel, um histórico dirigente da Casa da Cultura de Loulé, que sonhou com este movimento cultural há 20 anos atrás. Começando, como um «coisa pequenina», no Castelo de Loulé, que logo ganhou o devido reconhecimento e aos poucos foi crescendo e conquistando mais públicos. Nomes como a Maria João, Richard Galiano, Mário Laginha, Zé Eduardo, Júlio Resende, Herbie Hancock, Tuniko Goulart, Kenny Barron, Carlos Bica, Franco Ambrosetti, Carlos Barreto, Dewey Redman, Chick Corea, Ray Brown, Pat Martino e Bernardo Sassetti, entre outros mais fizeram a história deste festival. 16

Presentemente, e com imenso orgulho, vejo a Casa da Cultura de Loulé apresentar a 21ª edição do Festival no Castelo de Loulé (local do seu nascimento), com um cartaz composto pelo Carlos Martins, Tcheka (31 de julho), Carlos Bica e Julian Argüelles (1 agosto). A novidade deste ano será o pré-jazz, um conjunto de iniciativas previstas para o mês de julho que têm como objetivo fomentar o gosto pelo jazz. No dia 11 de julho, será exibido o filme «Bird», de Clint Eastwood, no Cineteatro Louletano, às 21h30, estando a apresentação ao cargo de Vítor Reis Baptista, da ESEC/UAlg. No dia 25 de junho, pelas 11h, no parque municipal de Loulé, a tÉssa e a banda troilarÉ fará a delícia dos mais novos com apresentação do seu concerto em formato Jazz Kids e, por fim, no mesmo dia, acontece um Sunset Jazz, no «11 da Praia», na Praia do Ancão, às 18h. Aproveito o momento para expressar o meu profundo agradecimento à Câmara Municipal de Loulé pela confiança e apoio depositada e ao Banco Montepio pelo seu patrocínio. Muitas surpresas estão guardadas para esta edição e contamos naturalmente com a presença do nosso público, que já alguns anos nos segue, pois sem ele não faria sentido criar este festival. “Até Jazz”! .


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CRÓNICA

FARO CAPITAL NACIONAL DA CULTURA 2005 – 10 ANOS DEPOIS…

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Paulo Cunha

(…) A falta de estruturação atempada da programação e o favorecimento de uma programação centralizada em detrimento das propostas dos agentes culturais da região foram as principais causas para que a FCNC tenha deixado poucas raízes no tecido cultural algarvio. Teriam sido as forças culturais da região, atuantes, conhecedoras da realidade local e independentes do poder que, através dos seus projetos, poderiam ter alargado a oferta com iniciativas estruturantes na contínua formação de públicos (…) ALGARVE INFORMATIVO #14

inda a estrutura de Missão «Faro Capital Nacional da Cultura 2005», a minha amiga Ana Oliveira fez-me, em jeito de balanço, três perguntas, às quais respondi sucintamente na qualidade de exconselheiro cultural da referida estrutura e, na altura, presidente da direção da Associação Cultural Música XXI. Não sei se as respostas foram publicadas ou não na imprensa. Pouco importa, já é história…! Assim sendo, faça-se história com as mesmas perguntas e as mesmas respostas dadas há nove anos: 1 – Considera que FCNC cumpriu os seus objetivos, na medida em que se propunha ser um evento estruturante para a região, em termos de mudanças de hábitos culturais? Conseguiu, com alguns eventos mais mediáticos que realizou, mostrar aos autarcas da região que eventos culturais também servem para «vender» as suas localidades. Tenho vindo a constatar que o modelo de programação que foi então levado à prática (principalmente na vertente musical) é aquele que neste momento mais é aplicado pelas várias autarquias da região: programar em função do gosto vigente, baseado na escolha «à la carte» das propostas existentes nos múltiplos catálogos culturais que por cá proliferam. A falta de estruturação atempada da programação e o favorecimento de uma programação centralizada em detrimento das propostas dos agentes culturais da região foram as principais causas para que a FCNC tenha deixado poucas raízes no tecido cultural algarvio. Teriam sido as forças culturais da região, atuantes, conhecedoras da realidade local e independentes do poder que, através dos seus projetos, poderiam ter alargado a oferta com iniciativas estruturantes na contínua formação de públicos. Pensadas, estruturadas e 18

realizadas por gente do sul, provavelmente, essas iniciativas seriam hoje uma marca cultural da região… 2 – De que forma a Música XXI participou em FCNC? Participou na elaboração duma série de projetos que foram entregues, em devido tempo, aos seus programadores, não tendo nenhum deles merecido qualquer atenção e apoio. Participou também «cedendo» o seu presidente para integrar o Conselho Consultivo da FCNC, facto que não surtiu qualquer efeito prático na programação da FCNC. A única colaboração foi a colagem da FCNC a uma produção nossa, já implementada e com assinalável êxito: a exposição «World Press Photo», realizada em Portimão. 3 – Qual seria o formato ideal de uma capital da cultura? O formato ideal seria a realização de uma capital da cultura completamente independente de interesses políticos (partidários), sem condicionalismos estruturais e conjunturais e onde os programadores olhassem para a cultura como um fim e não um meio. Uma década depois, gostaria de poder, numa roda de amigos, confraternizar, debater e «tertuliar» com o homem que ainda tentou fazer algo para que as minhas queixas não tivessem, ontem e hoje, razão de existir… mas, vítima de contingências várias, então tal não conseguiu. Foi através desta iniciativa que António Rosa Mendes entrou - pela porta grande - na minha vida. Figura central, comissariou como soube e lhe deixaram uma Estrutura de Missão tardiamente estruturada por quem a decretou e financiou. Quis o destino, cruel, levá-lo do mundo dos vivos. Para ele, onde quer que esteja, vai o meu reconhecimento por, mal ou bem, ter tentado dar à nossa capital de distrito, capital importância! .


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ATUALIDADE

ALBUFEIRA DISTINGUIDA COM GALARDÃO «AUTARQUIA DESPORTO ESCOLAR»

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presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Carlos Silva e Sousa, o Coordenador Nacional do Desporto Escolar, Paulo Gomes, e o Delegado Regional de Educação, Francisco Manuel Marques, presidiram à Cerimónia Final do Desporto Escolar Algarve 2015, que teve lugar no passado dia 23 de junho, no Auditório Municipal de Albufeira. Para além da distinção de dirigentes, alunos e professores do concelho de Albufeira, a Câmara Municipal voltou a receber, pelo segundo ano consecutivo, o galardão de Autarquia Desporto Escolar» como reconhecimento pelo apoio logístico, ao nível de transportes e promoção que o Município concede às escolas. “Estamos orgulhosos por ver a comunidade escolar de Albufeira aqui reconhecida, fruto de um intenso trabalho em prol da juventude, da educação e do desporto. O ALGARVE INFORMATIVO #14

futuro é investir na juventude e por isso esta cerimónia faz todo o sentido, já que distingue publicamente aqueles que deram e continuarão certamente a dar um grande contributo para formar os nossos jovens”, salientou Carlos Silva e Sousa. Recorde-se que Albufeira acolheu, de 19 a 23 de junho, as Finais dos Campeonatos Nacionais Escolares de Iniciados que reuniram perto de um milhar de jovens de várias escolas do País. “Albufeira ficará na história do Desporto Escolar com a realização deste Campeonato Nacional dedicado ao escalão de Iniciados, que já não se realizava desde 2004 e, por isso, agradeço ao Município de Albufeira a total disponibilidade e apoio prestado a este evento”, destacou Paulo Gomes, que referiu que a cerimónia regional tem o intuito de agradecer todo o trabalho feito ao longo do ano letivo 2014/15: “São estes exemplos que gosto de ver e transmitir a todas as escolas do País e que nos fazem trabalhar afincadamente para que o Desporto Escolar seja uma realidade nas escolas. O Algarve tem feito um trabalho meritório e extraordinário ao nível do Desporto Escolar”. Durante a cerimónia, o vice-presidente e vereador da Educação da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo, entregou a distinção de «Dirigente Desporto Escolar» à professora Sofia Mendes, do Agrupamento de Escolas de Ferreiras. Este agrupamento foi o que recebeu mais galardões, nomeadamente as distinções de «Grupo Equipa Coletivos» entregue à equipa de andebol, de «Aluno Desporto Escolar» entregue a Joana Reigado, e uma menção honrosa de «Aluno Desporto Adaptado» recebida por David Martins Roque. O Agrupamento de Escolas Albufeira Poente também recebeu uma menção honrosa na categoria de «Projetos Complementares» .

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DESPORTO NACIONAL ESCOLAR CELEBRADO EM ALBUFEIRA

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s Finais dos Campeonatos Nacionais Escolares de Iniciados reuniram, durante quatro dias, em Albufeira, perto de um milhar de jovens de várias escolas do País, num programa competitivo entre os vencedores dos Campeonatos Regionais nas modalidades de Atletismo, Badminton, Futsal e Voleibol. A iniciativa, organizada em parceria pela Direção-Geral de Educação, Direção de Serviços da Região do Algarve do Ministério da Educação e Ciência e Município de Albufeira terminou em grande com uma visita e almoço de despedida no Zoomarine. As competições decorreram no domingo e na segunda-feira (21 e 22 de junho) em vários Pavilhões Desportivos do concelho. O evento incluiu ainda a Cerimónia de Boas Vindas e a Cerimónia de Entrega dos Troféus e Medalhas, ambas no Pavilhão Desportivo de Albufeira. Os participantes tiveram possibilidade de assistir à atuação da Secção de Acrobática do Imortal Basket Clube, da Associação Soul e do Rancho Folclórico de Olhos de Água. Além do programa competitivo, os participantes tiveram possibilidade de viver um conjunto de ALGARVE INFORMATIVO #14

experiências inesquecíveis, como foram uma noite da Discoteca Kiss, uma ida à Praia com aulas de Zumba e ainda uma manhã no Zoomarine. O presidente da Câmara Municipal de Albufeira destacou a capacidade e a disponibilidade de Albufeira para promovermos eventos que apoiem a nossa Juventude. “Albufeira tem excelentes condições para acolher estes grandes eventos e, nesse sentido, daremos a devida atenção e prioridade ao apoio a atividades que tenham a ver com os mais jovens”, frisou Carlos Silva e Sousa, endereçando uma palavra de reconhecimento aos professores e aos familiares dos jovens atletas que todos os dias os incentivam e ajudam a alcançar as suas metas, quer a nível escolar quer competitivo. “O melhor investimento que se pode fazer é nos jovens, porque eles são o futuro deste País. Este é um momento marcante na vossa vida, aproveitemno com sabedoria, mais do que competir é importante saber competir com fairplay, o que vocês souberam demonstrar aqui de forma exemplar”, prosseguiu o autarca . 21


ATUALIDADE

VERSÃO FINAL DO PDM DE LAGOS APROVADA EM REUNIÃO DE CÂMARA

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Câmara Municipal de Lagos deliberou, em reunião pública ordinária de 23 de junho, submeter à aprovação da Assembleia Municipal a versão final do Plano Diretor Municipal (PDM) de Lagos já aprovada na Reunião de Câmara de 17 de junho. Esta é a última etapa de um processo que decorre há 13 anos, altura em que Lagos viu o seu PDM anulado. Depois da aprovação do Relatório de Ponderação da Discussão Pública e do projeto da versão final do PDM, aprovada na Reunião de Câmara de 17 de junho, o documento foi de imediato enviado à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, que analisou e emitiu parecer favorável ao projeto. Sublinhe-se que este parecer final foi enviado após o período de discussão pública do plano, ocorrido entre os dias 15 de janeiro e 4 de março, e a conclusão do relatório da ponderação dos respetivos resultados. De acordo com a CCDR, e na sequência do período de discussão pública, a autarquia introduziu ligeiros ajustamentos na proposta os quais não constituem alterações substanciais à mesma, e muito menos às opções estratégicas e ao modelo territorial definidos, sendo suscetíveis de merecer o devido ALGARVE INFORMATIVO #14

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reconhecimento da sua conformidade legal e regulamentar. Refira-se que esta proposta deverá ser obrigatoriamente aprovada no dia 29 de junho, na reunião da Assembleia Municipal de Lagos, uma vez que só dessa forma poderá beneficiar do regime transitório da nova lei de bases gerais da política pública de solos, de ordenamento do território e de urbanismo (Lei n.º 31/2014, de 30 de maio). Na sequência da aprovação por aquele órgão, a Câmara Municipal remeterá o Plano para publicação no Diário da República, de acordo com o artº. 81º. Do Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial. Sublinhe-se que o objetivo genérico central do PDM é o de concretizar uma política de ordenamento do território segundo as orientações do Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve (PROTAL), bem como de outras indicações constantes nos demais planos e estudos de incidência territorial, reforçando simultaneamente a imagem do Concelho de Lagos como território inovador e competitivo, socialmente coeso e ativo cultural e cientificamente, na linha da sua tradição histórica e marítima de relação com o Mar e de sede dos Descobrimentos Portugueses .


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ATUALIDADE

ÁREA DESPORTIVA DA PRAIA DA ROCHA COM SUPER PROGRAMA

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e 29 de junho até 31 de agosto, a Área Desportiva da Praia da Rocha vai ser o ponto de encontro privilegiado para aqueles que desejam passar o seu tempo livre de verão a praticar desportos de praia ou a experimentar atividades como o fitness, o yoga, a zumba e a hidroginástica. Cada uma das propostas é devidamente apoiada por instrutores credenciados e funciona em horários específicos. De segunda à sexta estão marcadas aulas de fitness e hidroginástica às 10h e às 11h, às 18h30 de segunda, quarta e sexta realizam-se aulas de zumba e às terças e quintas o dia começa com a atividade de yoga às 8h45. O patrocinador oficial da Área Desportiva da Praia da Rocha, DECATHLON Portimão, também marca presença, todas as segundas feiras, com uma atividade de running. Para além das atividades regulares, estão agendados para o mês de julho, nos dias 18 e 19, a Etapa do Circuito Nacional de Gira Praia da Associação de Voleibol do Alentejo e Algarve, os Jogos na Praia de 18 a 24, organizados pela United Beach Missions, o 2.º Encontro de Surf Adaptado da Praia da Rocha, marcado para o dia 31, com organização da Câmara Municipal de Portimão e de 31 de julho a 2 de agosto a Fase Final Circuito Nacional de Andebol de Praia da Federação de

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Andebol de Portugal. O mês de agosto inicia a sua programação no dia 1 com a XXV Prova de Mar da Praia da Rocha, organizada pela Portinado, seguida do Sunset Fitness Party e da Fase Final do Circuito Regional de Voleibol de Praia agendados para o dia 8, enquanto o Dia Internacional da Juventude será assinalado a 12, nos dias 22 e 23 de Agosto terá lugar o XII Torneio Internacional Voleibol Praia «João José», organizado pelos Amigos do Voleibol de Portimão. Neste verão, a DECATHLON Portimão será o patrocinador oficial da Área Desportiva da Praia da Rocha, que conta também com o apoio da Marina de Portimão e do Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes. Neste equipamento inaugurado pela Câmara Municipal de Portimão, em 2008, também é possível praticar gratuitamente futebol de praia, voleibol de praia, basquetebol, futvolei e ténis de praia .


MEMÓRIAS DE LAGOS EM DESTAQUE NA ARTE DOCE

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XXVIII edição da Feira Concurso ARTE DOCE vai decorrer no último fim de semana de Julho (24 a 26), entre as 18h e as 24h. Nestes dias, a doçaria tradicional do Algarve ocupará o lugar de destaque, mas a feira conta, igualmente, com a presença de vários artesãos locais e da região. A animação musical será este ano uma vertente bem marcada, com concertos já previstos da banda «Pulso», José Cid e «The Black Mamba». «LAGOS: MEMÓRIAS da CIDADE» foi o tema obrigatório escolhido para esta edição e que permitirá às doceiras participantes pôr a imaginação e memória à prova. Para que Lagos seja cada vez mais uma aventura de descoberta destas memórias e deste importante património imaterial, pretende-se contribuir para a preservação desta memória coletiva e para a valorização da identidade local e de aspetos que podem estar ligados a uma lembrança pessoal, um lugar de infância ou a uma atividade tradicional. «LAGOS: MEMÓRIAS da CIDADE» terá como ponto de partida estas memórias individuais,

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convidando-se as doceiras a retratar, em doce, aspetos ou lugares que tenham vivenciado no seu passado e/ou que, eventualmente, possam não ser do conhecimento dos visitantes da Feira, ou das gerações mais novas. Além da constante animação musical e de um espaço próprio da Biblioteca Municipal para os mais pequenos ocuparem o seu tempo de forma divertida e educativa, haverá um espaço dedicado aos comes e bebes, com tasquinhas .


CRÓNICA

E OS LUCROS?

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Paulo Bernardo Empresário pb700123@gmail.com

(…) o mundo não é justo como todos sabemos. Assim, hoje, numa economia global, somos assediados por países que, não investindo na criação de quadros, estão disponíveis para os receber com melhores condições, pois o investimento neles até hoje foi zero. O mesmo acontece para as empresas que hoje estão a ser disputadas globalmente, pois o seu conhecimento e o seu potencial de criar emprego são uma maisvalia (…) ALGARVE INFORMATIVO #14

os lucros meus amigos, para onde vão, o que lhe fazer? Pergunta aparentemente sem sentido quando eles não existem. Contudo, gostava de lhes contar uma história. Nos últimos meses deste ano tenho andado um pouco pelo mundo fora a promover o meu negócio, trabalho árduo, dispendioso e de lento retorno. Contudo, vou, cheio de vontade e motivação, pois está nos genes de ser Português. Hoje, não posso criticar o nosso Primeiro-ministro por ter motivado os Portugueses a sair do pais, quer sendo a emigrar para trabalhar por conta de outrem, quer sendo emigrante como eu, que vou levando o que a minha empresa produz no Algarve e vamos vendendo pelo mundo. Hoje, para além de parceiros de negócio, vou tendo amigos nos quatro cantos do mundo, com eles tenho aprendido novas formas de trabalhar, diferentes leis laborais, diferentes maneiras de relacionamento com o governo. Hoje, sou um empresário bem mais completo, bem mais capaz de enfrentar os desafios globais que nos são impostos todos os dias. Por isso, quero agradecer o desafio lançado por Passos Coelho para sermos mais empresários globais do que locais. Contudo, volto à questão inicial dos lucros, pois os lucros são uma questão que vou tentar explicar. Com a globalização fiquei a conhecer diferentes cargas fiscais e passei a conhecer o que só era possível para as multinacionais, que tanto são criticadas por recorrerem a mecanismos de colocar as suas sedes em países com cargas fiscais mais vantajosas. Diferentes cargas fiscais ocorrem por várias razões, são perfeitamente 26

injustas, pois não garantem igualdade de concorrência entre países. Contudo, o mundo não é justo como todos sabemos. Assim, hoje, numa economia global, somos assediados por países que, não investindo na criação de quadros, estão disponíveis para os receber com melhores condições, pois o investimento neles até hoje foi zero. O mesmo acontece para as empresas que hoje estão a ser disputadas globalmente, pois o seu conhecimento e o seu potencial de criar emprego são uma mais-valia. Silenciosamente está a acontecer uma revolução de passagem de atividade para fora de Portugal, fruto deste apelo fiscal. Deste modo, a internacionalização está a motivar uma fuga indireta de capitais, pois exportamos os produtos mas não importamos os seus lucros. Gostaria que os nossos políticos entendessem isto e tentassem arranjar uma solução para este problema, que eu pessoalmente tenho dificuldade em entender como se resolve. Facto da Semana: A confusão na Europa, que caminha a passos largos para uma desarticulação que nos deve preocupar a todos. Espero para a semana não estar a escrever sobre a saída desta do euro. Julgo que não vai acontecer mas, se acontecer, é melhor prepararem-se para tempos estranhos. Figura da Semana: Maria Barroso, sem dúvida tenho que destacá-la hoje. Tive o privilégio de privar com ela num final de tarde que me tratou de uma forma impar própria de uma grande senhora. Um exemplo de Mulher de estado, uma verdadeira representante do país. Que recupere rápido .


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CRÓNICA

QUE DIFERENÇAS PODEM EXISTIR ENTRE PROFESSOR E O PROFESSOR?

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Hélder Rodrigues Lopes

(…) Finalmente, a precariedade da carreira docente é uma dominante, particularmente do Professor contratado, que nunca sabe onde, quando e como vai iniciar a sua função pedagógica, na maioria dos casos as distâncias desenvolvem processos emocionais traumáticos que acabam por desencadear perturbações emocionais «silenciosas» (…) ALGARVE INFORMATIVO #14

a passada quinta-feira li no sítio das amizades, mais particularmente na página do meu caríssimo amigo Paulo Cunha, a referência a um Professor que marcou a maioria dos seus alunos, o Professor Vítor Picanço Mestre, o Professor de Geometria Descritiva que dava as aulas sempre com um sorriso largo e expressivo e que, através do ensinar, passou muitas mensagens para Vida. Lembrei-me entregar a vós, caros leitores, esta reflexão de Carl Rogers, que é considerado um representante da Psicologia Humanista e da corrente humanista para a Educação. Que diferenças podem existir entre Professor e O Professor. A identidade do Professor é observada pela sua competência para facilitar a Aprendizagem, medida pela coerência dos seus atos e sentimentos, consciência plena das atitudes que assume e ainda pela capacidade de sentir-se recetivo por aquilo que é, e não, pela ativação de máscaras mais ou menos eficientes para os objetivos desejados. O Professor deve assumir-se o mais real na relação com os seus Alunos, só assim pode conseguir a implementação do modelo da Aprendizagem Significativa conceptualizado por Carl Rogers, isto é, o Professor, ao ser capaz de aceitar o Aluno tal como ele é, compreendendo-o através dos sentimentos manifestados, reconhecendo e aceitando-o incondicionalmente, a aprendizagem torna-se autêntica e resistente ao Tempo. Neste modelo teórico, a relação Professor – Aluno está alicerçada na tendência natural por parte dos Alunos na necessidade de afirmação. O contato direto com os Acontecimentos da Vida, o querer aprender, o crescer, a necessidade da descoberta e o querer criar, tudo isto subentende a necessidade forte para a construção de uma confiança como outro baseado na pessoa. Podemos concluir que o Professor, ao desencadear uma relação pessoal com seus alunos que possibilite a 28

realização natural destas tendências, torna-se um facilitador da aprendizagem significativa, isto é, assume-se como mais um elemento do grupo, promovendo as relações interpessoais e intergrupais. Neste tipo de relação, o Professor e o Aluno são corresponsáveis pela aprendizagem e o Professor facilitador deixa sempre memoria sólida que não se gasta com o Tempo. Em Portugal, a relação Professor - Aluno teve uma evolução desde o antigo regime para os novos tempos que é identificada por vários autores como um «abismo». De facto, a democratização da sociedade pós 25 de Abril de 1974 veio extremar os processos relacionais entre ProfessoresAlunos. Hoje, vários fatores têm vindo a contribuir para a diferenciação comportamental e relacional dos Professores, a precariedade profissional, o restrito acesso à profissão de vocação, ou as alterações abruptas no caminho profissional, também e de uma forma muito vincada a estrutura de personalidade ou no outro extremo as alterações de personalidade desencadeadas por acontecimentos de vida dramáticos ou muito dramáticos. Finalmente, a precariedade da carreira docente é uma dominante, particularmente do Professor contratado, que nunca sabe onde, quando e como vai iniciar a sua função pedagógica, na maioria dos casos as distâncias desenvolvem processos emocionais traumáticos que acabam por desencadear perturbações emocionais «silenciosas». Todos estes fatores contribuem para a criação de uma ligação emocionalmente viva, capaz de superar o Tempo e contribuir para a formação de personalidade do Novo Individuo. Atualmente, já não basta ter vocação, tem que se ter muita resistência .


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ENTREVISTA

JOÃO FRADE

A DEFENDER A CULTURA ALGARVIA AO SOM DO ACORDEÃO O acordeão é um dos instrumentos típicos portugueses mais fortemente implantados no Algarve, pelo que não admira que a região tenha variadíssimos executantes de topo internacional, como atestam os múltiplos títulos alcançados, tanto na vertente Clássica como na Varieté. Entre eles, nota de destaque para o albufeirense João Frade, que foi campeão do mundo no virar do milénio e nunca mais parou de viajar pelo mundo, impressionando tudo e todos com o seu estilo pessoal, mas sem nunca esquecer as raízes algarvias. Entrevista: Daniel Pina Fotografia: Luís Da Cruz, Ana Solinis Avila e Marco Guerreiro ALGARVE INFORMATIVO #14

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e regresso do Canadá e com nova viagem marcada para dali a alguns dias, desta feita rumo à Suíça, fomos encontrar João Frade na «Taberna da Maré», o emblemático restaurante de Zeca Pinhota situado da zona ribeirinha de Portimão. A visita não teve como propósito apreciar uma bela sardinhada, mas sim gravar um videoclip com Zé

primeiro na Escola de Música da Casa do Povo de São Bartolomeu de Messines, depois na sede do Rancho Infantil de Loulé, mais tarde em São Brás de Alportel. “Andei alguns meses apenas com a formação musical para ter as bases teóricas e depois passei para o instrumento, o acordeão. O meu pai conhecia o Hermenegildo Guerreiro de uns bailaricos à moda antiga em que participava e, no fundo, acho que ele gostaria de ter aprendido,

demonstrar o seu talento e, com 12 anos, já ganhava concursos na Feira Popular de Lisboa. Em 1997, mais uma vitória, no Concurso Nacional do Corridinho de Setúbal, e sagra-se campeão Ibérico na categoria de Varieté, seguindo-se a representação de Portugal no Troféu Mundial realizado em Andorra. Um ano em alta que terminou com novo triunfo, no concurso de acordeão do Alto Minho, em Viana do Castelo. A veia vitoriosa de João

Manel Martins, ao som do tema «Para Chico», mais um exemplo das imprevisíveis parcerias que o premiado acordeonista tanto gosta de fazer para explorar outros estilos musicais. Terminadas as filmagens, foi tempo de conversar um pouco com o albufeirense de 32 anos, que iniciou os estudos musicais logo aos oito anos, sob a alçada Hermenegildo Guerreiro,

mas não teve possibilidade para isso. Eu tinha o bichinho do acordeão desde os três, quatro anos, devo ter visto alguém tocar e tentava imitá-lo, primeiro com almofadas, depois com um acordeão daquelas da feira”, recorda João Frade como tudo começou. O acordeonista, que tem a particularidade de ser canhoto, não demorou muito para

Frase não abrandou e, em 1998 e 1999, ganha duas vezes o concurso de acordeão de Santiago da Guarda, no Pombal, depois, o concurso da Pedra Mourinha, em Portimão, e um concurso de Corridinhos Inéditos. Em 2000, volta a dominar o concurso de acordeão do Alto Minho e, no ano seguinte, ganha o Festival de Artes Infantil e Juvenil de Albufeira e o VII Troféu

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ENTREVISTA Nacional de Acordeão de Alcobaça. Curiosamente, João Frade reconhece que, na fase inicial, não era um grande estudioso do instrumento, postura que se alterou quando teve acesso aos primeiros discos de Richard Galliano, acordeonista que o influenciou bastante por altura dos seus 15/16 anos. “Fiquei fascinado com a componente harmónica e a música improvisada, que estavam presentes em mim desde novo, mas não sabia bem como as

desenvolver. Andei nos ranchos folclóricos de Messines e Loulé, tive a fase das bandas e cheguei a tocar bateria, gosto bastante da percussão. Comecei a acreditar que era possível aspirar a uma carreira de músico quando fiz um estágio de uma semana numa escola francesa, a C.N.I.M.A., onde puxaram muito por mim”, frisa. Esta experiência internacional aconteceu num momento decisivo para muitos jovens artistas, a altura em que têm que decidir, de uma vez por todas, se

seguem para um curso universitário tradicional e relegam a música para segundo plano, ou se dão um passo rumo ao desconhecido, ao futuro incerto. “Era um aluno normal, até um pouco preguiçoso, mas passei sempre de ano. Estava no 12.º quando fiz esse estágio e já nem fui fazer uma série de exames nacionais. Comprei um bilhete de avião para França, basicamente sem os meus pais saberem, e não acharam muita piada à minha decisão, por temerem pelo meu futuro”, admite João Frade, não poupando nos agradecimentos à família, que foram fundamentais para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. “Desde miúdo que toquei em vários pontos de Portugal e o meu pai sempre fez os possíveis para me acompanhar. Estava ocupado quase todos os fins-de-semana e já a ganhar cachets, uns melhores do que outros”, conta, com um sorriso, lembrando também os muitos concursos em que participou, quase sempre como vitorioso. “Para mim, a música não é uma competição e até sou um pouco contra os concursos e os seus critérios de avaliação mas, se não os tivesse ganho, se calhar não tinha acreditado tanto no meu próprio valor”.

De mente aberta a todos os estilos Os concursos ajudaram a projetar, sem sombra de dúvidas, o nome de João Frade e a galvanizar o jovem para o que o futuro lhe podia trazer, mas também deram para perceber que o albufeirense se dava ALGARVE INFORMATIVO #14

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melhor na vertente Varieté do que na Clássica. E, por ocasião da sua segunda estada na C.N.I.M.A., o algarvio participa em três concursos internacionais, o World Trophy, a Coupe Mondiale e a competição Castelfidardo, vila italiana onde estão concentradas quase todas as fábricas de acordeão. “Contra as minhas expetativas, ganhei e foi o clique que faltava. Trabalhei muito nessa escola francesa, estudava nove, 10 horas por dia e cimentei a minha aspiração de ser músico, de conviver com outros instrumentos, de partilhar ideias”, sublinha. Deixar de ser mais um acordeonista para ser um músico na verdadeira aceção da palavra acabou por acontecer de forma natural e muitas vezes sem planeamento. Depois de mais alguns meses em França, regressou ao Algarve com 19 anos e começou a frequentar o Jazz Clube de Vilamoura, onde travou amizade com diversos músicos radicados na região, casos de Tuniko Goulart, Paulinho Lemos, António Mesa, Paulo Rosa Martins, Sávio Araújo, entre outros. “Comecei a tocar, de forma improvisada, com eles, depois, iam-me chamando para acompanhá-los em concertos e apareciam solicitações de outros artistas de Lisboa. Nunca tive preconceitos, tocava todos os estilos de música”, indica, o que explica a sua polivalência e a forma como encanta, com o seu acordeão, apaixonados de sonoridades tão distintas como o jazz, música portuguesa e brasileira, até música de dança. Ora, como qualquer músico, também João Frade queria criar ALGARVE INFORMATIVO #14

a sua própria identidade, daí ser mais adepto da vertente Varieté do que da Clássica, onde há menos espaço para o improviso e há que seguir as pautas de forma mais rígida. “Com a experiência, fui polindo, naturalmente, a minha identidade musical. As minhas maiores influências são os meus amigos e as pessoas com quem já toquei e tive a sorte e o prazer de o fazer com praticamente todos os meus ídolos, tanto portugueses como estrangeiros, nomes como Pedro Jóia, Maria João e Mário 33

Laginha, Carminho, Jorge Pardo, Omaro Portuondo, Carlos Benavent, Paulo de Carvalho, Tcheka, Carmen de Sousa, Mayra Andrade e muitos outros”, destaca, acrescentando que, neste percurso, nunca esqueceu as suas raízes algarvias. “Sempre gostei dos corridinhos, tocados à minha maneira especial, com o meu sabor. Também sempre compus, mas só comecei a ganhar mais confiança, a ter menos dúvidas, com o avolumar da experiência”.


ENTREVISTA Kyao, que toca três acordes na flauta e eu fico impressionado”, admite, sem pudor, esclarecendo que ser artista itinerante não é para qualquer um. “No início não foi fácil, porque é preciso plantar antes de colher, e nesse período foi essencial o apoio dos meus pais. Só que, quando fazemos as coisas com amor, dedicação e a nossa identidade, os frutos começam a aparecer. Devo ser o único acordeonista em Portugal que não dá aulas, que só depende dos concertos ao vivo e das gravações, um mercado que se abriu recentemente para mim”.

Sem medo de desafios Dar aulas que acaba por ser o destino de muitos acordeonistas que, no tal momento decisivo, preferem ir pelo caminho menos incerto do que arriscar numa carreira de artista, mas João Frade não critica essa opção. “Ser músico itinerante é muito instável e desgastante. Hoje, estou no Algarve, amanhã, posso estar a dois mil quilómetros de casa, mas temos que tocar para ganhar a vida e isso pode intimidar muita gente. O fruto mais recente da veia acordes e as músicas apareciam Eu próprio não esperava ter criativa de João Frade é o CD rapidamente. O disco é mais um feito aquilo que já fiz, ter tocado «Piriquitos & Botonetes», com registo de ideias e a partir dele é com determinados artistas e ido Munir Hossn, onde o processo de que encontramos o caminho a certos países, mas dou sempre composição dos temas e para desenvolver o nosso o peito às balas e aceito os gravação demorou apenas projeto”, analisa o entrevistado. desafios. Ainda agora estive 20 quatro dias. “Ele andava em tour O futuro deixou, assim, de ser dias no Canadá, a trabalhar de com a Mayra Andrade, foram tão incerto e há bastante tempo manhã à noite, a compor em tocar a Setúbal e veio depois que João Frade vive somente da estúdio e a tocar ao vivo”, para o Algarve. Tem um tema música, fruto de manter uma revela. tradicional do Algarve, o mente aberta a todos os estilos e Depois de ter descoberto a sua «Laurinda», e outro do Jorge de nunca fechar logo a porta a identidade musical e da sua Amado, o «Alegre Menina», mas nenhuma parceria. “Houve uma polivalência e mente aberta tudo o resto foi construído do época em que só ouvia punk e serem sobejamente zero. Ia no carro com uma hardcore, noutra fase era só reconhecidas pelo mercado, João melodia na cabeça, mostravajazz, hoje, adoro o canto Frade vê a sua carreira ser lhe, ele começava a meter uns alentejano e artistas com o Rão impulsionada por outro ALGARVE INFORMATIVO #14

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fenómeno, a popularidade que a dita «world music» alcançou de um dia para o outro. “O acordeão beneficiou um pouco com as «músicas do mundo», assim como a guitarra portuguesa. De repente, comecei a ser chamado para uma série de projetos, uns simplesmente porque o acordeão passou a estar na moda, não tentavam desenvolver propriamente a música. Tudo funciona por ciclos e, nos anos 70, havia muito acordeão no fado, com o Carlos do Carmo e a Cidália Moreira”.

monetários é que não há para quase nada e tem-se assistido a uma certa morte cultural do Algarve”, critica, comparando com a dinâmica cultural que há em Lisboa. “Não ponho em causa a qualidade dos músicos que andam por aí, felizmente que há bastantes pessoas a quererem fazer coisas interessantes, mas raros são os apoios concedidos a projetos algarvios, e não só de música. Tivemos o fenómeno dos IRIS e dos Entre-Aspas, agora a Viviane, os Marenostrum já andaram um pouco por todo

programação dos festivais deixa muito a desejar, na sua opinião. “Compreendo que não seja tão apelativo apostar na prata da casa, mas podiam dar-lhes mais condições para construírem projetos credíveis e coerentes e que pudessem ter sucesso fora da região. O Algarve tem imenso potencial cultural e os turistas estrangeiros preferem ver artistas da terra do que cantores dos seus países. Quando vão a Lisboa, procuram uma casa de fados. No Algarve, não há nenhum local onde se possa

Infelizmente, nem tudo são rosas, e João Frade lamenta que se continue a dar pouco apoio aos artistas locais e o resultado é que a cultura algarvia vai definhando. “Existem imensos apoios logísticos e é fácil ter-se acesso a um auditório ou a outra sala de espetáculos, o que não acontecia antigamente. Apoios

país, e temos o nosso camarada Dino. Tirando estes exemplos, parece que as portas estão fechadas ao Algarve em termos culturais”. João Frade não esconde a sua tristeza pelo poder local e central só se lembrar de alguns artistas, grupos ou associações nos seus aniversários e mesmo a

ouvir música algarvia”. Seja como for, parece que a moda do acordeão não vai desaparecer e João Frade é o exemplo perfeito de que este instrumento não se encaixa apenas em ranchos folclóricos ou para interpretar temas clássicos. “Um primo meu teve um bar em Albufeira que andou na berra

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ENTREVISTA

quando surgiu a house music e ainda fiz umas apresentações com o DJ, depois é que apareceram os violinistas e os saxofonistas. E quando andei na Escola Superior de Música, em Lisboa, tive aulas de jazz com um pianista, o João Paulo Esteves da Silva, que era um ídolo para mim, e vi que o importante é a música, o instrumento é apenas um veículo de comunicação”, lembra, voltando a sublinhar que andar constantemente na estrada, de um ponto do globo ao outro, implica um grande desgaste. “Às vezes dou por mim a pensar se ainda quero ser um performer, um artista que percorre o mundo, ou se prefiro ser um produtor, arranjador e compositor, onde já fiz bastantes trabalhos. Quiçá até dar aulas, é uma hipótese que não coloco de parte, mediante algumas condicionantes. Tenho o meu mercado, apesar de ser escasso para todos os artistas, mas ALGARVE INFORMATIVO #14

entrego-me de corpo e alma em tudo o que faço. Se, eventualmente, o acordeão passar de moda, o que conta é a música, não o instrumento, e dentro dela posso exercer muitas atividades”. João Frade não está, assim, excessivamente dependente dos concertos, que são reduzidos em Portugal, mas em largo número do resto do mundo, como se comprova pelos últimos anos e pelos inúmeros carimbos que tem no seu passaporte. “Vou estar sempre ligado ao acordeão mas poderá haver uma fase em que queira abrandar o ritmo e tocar menos, ou que toque menos porque assim o mercado dita. Para desanuviar, toco guitarra, baixo e bateria, até campainhas de porta, o que interessa é a música”, frisa, bem-disposto. O futuro próximo será, todavia, ligado ao acordeão, acalmem-se os fãs, e João Frade já está a

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trabalhar no segundo disco com Munir Hossn, com uma linha mais definida e a participação de alguns convidados surpresa. Em simultâneo, está a desenvolver um trabalho com Marito Marques, baterista residente em Toronto, no Canadá, um apanhado da música portuguesa de norte a sul e onde se recuperam algumas tradições orais. Toca ainda com o Pedro Joia Trio, que deverá gravar um CD para breve. “A solo, quero fazer uma coisa diferente do habitual acordeonista, explorar um pouco de eletrónica, pedais e loops, uma música mais minimalista. Concertos, vou agora para a Suíça e Brasil com o Munir, depois China e Macau com o Pedro Joia, regresso ao Canadá e, no Inverno, conto estar no Algarve para avançar com calma com as minhas gravações” .


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ENTREVISTA

Sérgio Brito e Nuno Campos Inácio, dois dos sócios da Arandis Editora

ARANDIS EDITORA UM FAROL QUE ILUMINA O CAMINHO DOS ESCRITORES ALGARVIOS O Algarve sempre teve um forte pendor literário, sobretudo na vertente da poesia, contudo, se perguntarmos ao cidadão comum, poucos são os nomes de escritores naturais da região que estão na ponta da língua. Infelizmente, o problema não é, nem nunca foi, falta de matéria-prima, simplesmente, as portas das grandes editoras nacionais estavam fechadas aos autores pouco mediáticos e sem muito dinheiro para investir na máquina promocional. Tudo isso mudou há três anos com o nascimento da Arandis Editora, direcionada para a prata da casa, para pôr no papel, e ao dispor do grande público, as histórias, mensagens e saberes dos algarvios que estavam, na maior parte dos casos, esquecidas no fundo de alguma gaveta. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #14

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uma tarde escaldante de Verão encontrámos dois homens ligados à escrita de volta de um dos nomes mais consagrados da poesia algarvia, António Aleixo, não em pessoa, mas da sua estátua na esplanada do Café Calcinha, em Loulé. O primeiro era Nuno Campos Inácio, licenciado em Direito, um Oficial de Justiça que, em determinada fase da sua vida, decidiu sair dos tribunais e dedicar-se ao projeto da Geneologia do Algarve, para além de escrever obras de ficção e outras sobre história e investigação. O segundo era Sérgio Brito, gerente bancário de profissão, que conheceu Nuno Campos Inácio quando realizou um trabalho sobre a guerra civil e a chegada das tropas do Remechido a Albufeira. “Verificamos que havia muita dificuldade no Algarve para se editar um livro em papel e, como tínhamos mais obras na calha, juntámo-nos ao Fernando Boto, o homem responsável pela paginação e pelas artes gráficas, e criámos a Arandis Editora. Em 2012, lançámos o «Duas Históiras do Algarve», da minha autoria e, no ano seguinte, editamos logo 50 trabalhos, o que demonstra a quantidade de livros que há na região à espera de verem a luz do dia”, indica Sérgio Brito, que dá um especial ênfase à proximidade da nova editora com os seus autores. ALGARVE INFORMATIVO #14

Com mais de 70 títulos publicados em três anos, fazem parte das fileiras da Arandis Editora 68 autores, a que se somam muitos outros que colaboram em prefácios ou produzem artigos isolados, num total que chega aos 160. O número não surpreende, todavia, Nuno Campos Inácio, antes pelo contrário. “O Algarve sempre foi uma região ligada à cultura e à literatura, desde os tempos da presença islâmica. Além dos poetas, temos grandes romancistas, aliás, os dois primeiros portugueses finalistas do Prémio Nobel da Literatura foram algarvios: o João Bonança e o Júlio Dantas. Temos um dos maiores pedagogos de sempre, o João de Deus. Já para não falar das ligações genealógicas próximas com o Algarve do Fernando Pessoa, do Carlos Drummond de Andrade, do Eça de Queirós, do Ramalho Urtigão. Resumindo, quando falamos dos grandes vultos da literatura nacional, quase todos têm relações familiares com o Algarve”, garante o investigador. Perfeitamente convicto do valor literário existente na região, Nuno Campos Inácio explica que o que se perdeu foi a possibilidade das pessoas mostrarem o seu valor e quase que desapareceu o orgulho de ser algarvio. “Perto de dois terços da população atual da região não são originários do Algarve, trazem uma série de novas culturas e formas de estar 39

e de ser, e os algarvios ficaram, de repente, em minoria. As editoras nacionais raramente pegam em temas locais e o aparecer da Arandis fez com que estes escritores começassem a sentir vontade de mostrar o seu valor, que perdessem um pouco a vergonha de apresentar os seus trabalhos. Nas nossas apresentações, nota-se muitos autores a apoiar os que estão agora a lançar-se na escrita e esta dinâmica já deu origem a três encontros de escritores, em Monchique, Messines e Lagos, seguindo-se Lagoa no próximo ano. Desenvolvemos também uma série de iniciativas a combinar música e poesia, já fomos convidados para dinamizar eventos na Feira do Livro do ISMAT, criamos tertúlias e debates com autores e outras pessoas”.

Nem tudo deve ser publicado Num curto espaço de tempo, e quase sem se dar por isso, a Arandis deixou de ser uma simples editora, procurando promover com todas as suas forças os valores do Algarve e congregando em seu redor muitos cidadãos anónimos que partilham do mesmo espírito. Quanto aos escritores que buscam a Arandis para editar as suas obras, Sérgio Brito indica que aparece de tudo um pouco, como se adivinha. “A autora


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mais nova tem 22 anos, o mais velho tem 82. O Algarve continua a ser um ninho de poetas, mas surgem todos os géneros literários, umas obras mais bem preparadas, outras, nem por isso, portanto, a maior parte do trabalho gráfico tem que ser desenvolvido por nós. Obviamente que temos que fazer uma triagem do que merece ser editado e, quando vemos que não têm a qualidade necessária, falamos com os autores e tentamos melhorar a obra em conjunto”, refere o gerente bancário, que prefere não seguir a política de algumas editoras que publicam tudo desde que o orçamento seja aceite pelo autor. “Os nossos livros podem ficar ao sol dentro do carro que não desaparecem, a qualidade é uma das nossas marcas registadas”, diz, com um sorriso. Mas, apesar do tom bem-disposto, Sérgio Brito lamenta que muitas editoras de âmbito nacional não se pautem pelos mesmos critérios, enviando logo orçamentos aos autores sem se preocuparem em aferir da qualidade literária dos ALGARVE INFORMATIVO #14

projetos que lhes chegam às mãos. “Nós queremos crescer e editar com os pés bem assentes na terra e sem desvirtuar o nosso espírito”. Fiel ao seu teor regional, a Arandis só edita autores algarvios ou temas que tenham a ver com o Algarve, que podem ir desde teses de mestrado e doutoramento até à poesia popular. “O género literário não é limitativo, o que é diferente de dizer que editamos tudo. Quem assim pensa, não tem a mínima noção dos trabalhos que nos aparecem”, esclarece Nuno Campos Inácio. “A raiz poética continua muito vincada no Algarve e foi isso que nos levou a criar o Poeta Literário Manuel Neto dos Santos. Antes disso, editamos o Prémio Literário Manuel Teixeira Gomes e temos uma série de parcerias, através das quais publicamos, por exemplo, uma revista de geneologia e é provável que passemos a publicar também as teses de mestrado e doutoramento do ISMAT”, adianta o escritor, reconhecendo que a Arandis não 40

cresce mais depressa por não possuir uma estrutura logística e administrativa montada. “Bastaria que um de nós recebesse um salário na Arandis para a editora já não conseguir sobreviver. Damos um pouco do nosso tempo para esse projeto, retirando-o às nossas atividades profissionais, famílias e vida social. Não há aqui aquela ideia de lucro que normalmente está subjacente às grandes editoras. Fazemos edições a partir dos 200 exemplares, portanto, qualquer pessoa que saiba fazer contas percebe que não ficamos ricos com isto, quando os custos de produção e distribuição são avultados”. Custos e etapas inerentes ao processo produtivo com os quais, há que reconhecer, muitos autores não estão familiarizados, de tal modo que alguns entregam o rascunho das obras e pensam que podem ter o livro físico nas mãos volvido um punhado de dias. De qualquer modo, Sérgio Brito frisa que as burocracias e exigências legais para se publicar uma obra tendem a ser mais rápidas de ultrapassar. “Em dois dias temos esses pormenores tratados, o que demora mais é o trabalho gráfico, que depende sempre do modo como o texto chega até nós e do formato que se pretende que a obra final tenha. Depois, temos feito praticamente todas as edições aqui no Algarve, o que diminui o tempo que leva os livros a chegarem ao editor”, afiança Sérgio Brito. Quanto a valores, o


entrevistado confirma que se pode arranjar sempre orçamentos mais baratos, mas isso depois reflete-se na qualidade. “Curiosamente, já tivemos algumas críticas de abusarmos na qualidade, mas é isso que queremos e, se vendemos um livro de 15 a 20 euros, é porque tem qualidade para isso. Às vezes, vemos livros de outras editoras no mercado ao mesmo preço e nem metade da qualidade têm, seja no papel ou no trabalho gráfico”, avisa.

Escrever sem pensar no dinheiro Independentemente destas considerações de qualidade gráfica ou literária e do preço a que as obras chegam às prateleiras das livrarias, a verdade é que os livros também sofreram os efeitos, por um lado, da crise, por outro, das inovações tecnológicas e, na hora de cortar despesas do orçamento familiar, foram dos primeiros sacrificados. Não que as pessoas tenham, pura e simplesmente, deixado de ler, apenas mudaram os moldes em que o fazem, virando-se para obras digitais que, à semelhança

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dos filmes e dos álbuns de música, proliferam pela internet de forma gratuita. O fenómeno não preocupa, porém, os dois entrevistados, devido ao carater regional da Arandis Editora. “O nosso mercado é o Algarve, os amigos dos autores e aquelas pessoas que se dedicam à leitura de temas que tenham a ver com a região, porque há colecionadores de escritores e temas algarvios espalhados por esse mundo fora. Na venda ao público geral, tudo depende do título e do tipo de livro, mas não nos podemos queixar, pois mais de metade das nossas edições é vendida e temos obras já com várias edições”, sublinha Nuno Campos Inácio. “É verdade que houve muita gente que se virou para o digital, por ser mais prático, mas depois voltou ao livro físico, pelo cheiro, pelo desfolhar, pelo ter à cabeceira”, acrescenta Sérgio Brito. Fruto do trabalho desenvolvido nestes três anos, a Arandis Editora também já consegue entrar no mercado das grandes superfícies e ter uma distribuição de âmbito nacional, mas isso não significa que vá descurar a vertente dos eventos e da proximidade. “No início,

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nessas ações, levávamos os livros todos e vendia-se bastante, agora, é mais complicado porque já são muitos títulos. Os eventos são fundamentais porque as pessoas conhecem-se todas, é quase uma família, e todos os dias recebemos telefonemas dos nossos autores”, salienta Sérgio Brito, acrescentando que, em dois anos e meio, já terão passado por estas apresentações cerca de 12 mil pessoas. “Infelizmente, esta crise levou ao desaparecimento de muitas ações culturais e ainda ontem alguém disse, num encontro em Portimão, que a Arandis é um farol que vai iluminando a parte cultural do Algarve, porque tudo o resto está um pouco parado”. E se as iniciativas culturais diminuíram, já os apoios estatais à publicação de livros desapareceram quase por completo, confirmam os dois editores. “Entre todos os nossos títulos, apenas meia dúzia recebeu apoios públicos. Os restantes, ou tiveram algum apoio privado, ou foram todos suportados pelos autores e pela editora. A Direção Regional de Cultura tem um método de apoio a obras que não se


ENTREVISTA coaduna com a forma de trabalhar da Arandis Editora, pelo que nem batemos a essa porta. O que já aconteceu foi concorrermos a concursos públicos de edição de livros, em Lagoa, Alcoutim, Pêra e Carvoeiro, e ganharmos por termos a proposta mais baixa. Lá está mais uma vez provado que não temos o lucro como objetivo”, aponta Nuno Campos Inácio. Neste panorama, chega-se à conclusão que publicar livros não dá dinheiro a ganhar, nem às editoras com o espírito da Arandis, nem aos próprios escritores, mas essa realidade não é de hoje, nota Nuno Campos Inácio. “O Fernando Pessoa não teve nenhum livro editado, em vida, que fizesse mais de 200 exemplares. Pode parecer pouco fazer uma edição de 200 livros, mas isso permite a publicação da obra e nada impede que, daqui a uns anos, alguém não olhe para elas e lhes dê o destaque merecido. Quando o Hélio Pereira veio falar connosco pela primeira vez, já tinha 18 romances, com 300 e tal páginas cada, para publicar, com uma qualidade elevadíssima e nunca tinha pensado sequer apresentá-los a uma editora. Estas obras, ou são publicadas em vida, ou não são. Essa história de colocar os livros da gaveta que, quando morrer, alguém os publica, não existe”, garante, avisando que muitas obras literárias acabam por ir ALGARVE INFORMATIVO #14

parar ao lixo durante os processos de partilha. Para além de assegurar que os livros dos seus autores não desaparecem, Nuno Campos Inácio chama a atenção para outra mais-valia da Arandis Editora, a de preservar algumas tradições de cariz mais local. “A Dona Teresa Dias, uma poetisa popular, foi contando a história de Monchique em verso. Não é um trabalho que tenha, de facto, uma grande relevância cultural para o Algarve, mas para Monchique tem. O António Ventura também fez uma recolha de uma série de tradições orais de Monchique e, daqui a 100 ou 200 anos, se alguém for à Biblioteca Nacional, vê naquele livro como era viver em Monchique no princípio do século XX. Estamos a criar um acervo documental que permitirá a investigadores, no futuro, olhar para um passado, que é o nosso presente”. As mais-valias da Arandis Editora não escapam a ninguém, sobretudo aos mais ligados à 42

vida cultural, no geral, e ao mundo da escrita, em particular. Os três sócios já sentem, eles próprios, o peso da responsabilidade, face ao papel importante que desempenham no Algarve, o que os obrigará a olhar para a editora de uma forma mais dinâmica. “Criar a tal estrutura que ainda não temos e que é necessária porque cada vez temos mais trabalhos em mãos. O problema é que somos umas ricas pessoas, mas não somos pessoas ricas”, refere Sérgio Brito. “Temos uma relação de parceria, de confiança, com os nossos autores, que recebem logo a sua quota-parte dos direitos de autor, mesmo antes dos livros serem vendidos. Temos ideias realmente muito boas e algumas delas surgem do nada, como é o caso agora do «Algarve Discovery» e do lançamento do guia turístico de praias do Algarve, que esperamos que seja um sucesso, para nós e para a região” .


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BOMBEIROS DE OLHÃO TESTAM NOVAS VALÊNCIAS

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Município de Olhão, através do seu Corpo de Bombeiros, reforça o dispositivo de Proteção e Socorro Municipal durante os meses de julho, agosto e setembro, com os soldados da paz a testar duas novas valências: uma Equipa de Apoio Logístico e a Brigada Pré-Hospitalar, aumentando desta forma a segurança a residentes e aos muitos visitantes que procuram o concelho. No decorrer da Fase Charlie, entre 1 de julho e 30 de setembro, a altura mais crítica para os incêndios florestais, o Corpo de Bombeiros Municipais de Olhão irá dispor de uma Brigada especialmente vocacionada para o ataque aos incêndios florestais, constituída por dois veículos de combate e um veículo de apoio, num total de 12 homens 24 horas por dia durante os sete dias da semana, integrados no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) da Autoridade Nacional de Proteção Civil. Em Moncarapacho, ficará ALGARVE INFORMATIVO #14

em pré-posicionamento uma equipa com cinco bombeiros e um veículo de combate, com o objetivo de se conseguir uma maior eficiência no ataque inicial aos fogos nas freguesias mais distantes da sede do concelho. A equipa ficará instalada diariamente na freguesia e, conforme a gestão operacional diária, contará com o apoio da Casa do Povo e da Cruz Vermelha de Moncarapacho. Na Ilha da Armona estarão em permanência dois bombeiros no período diurno, de forma a garantir a proteção e socorro na referida ilha, em julho e

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agosto, e de acordo com a gestão operacional diária. Neste sentido, e de forma a ser dada uma eficiente resposta na Emergência Pré-Hospitalar, o Corpo de Bombeiros será reforçado, com o apoio de um Desfibrilhador Automático Externo (DAE), cedido pelo INEM. Este equipamento será uma mais-valia num local com as vicissitudes inerentes ao facto de se estar numa ilha. Nos próximos três meses, o Corpo de Bombeiros

resposta ainda mas eficiente e com grande versatilidade, mobilidade e autonomia a acidentes graves ou catástrofes, nomeadamente com multivítimas, constituída por 12 bombeiros devidamente equipados e formados, três veículos e um reboque, podendo esta configuração ser aumentada conforme o cenário, com todo o equipamento necessário ao reforço dos teatros de operações nos momentos iniciais aos incidentes.

irá testar a operacionalidade da nova equipa logística que apoiará as operações de proteção e socorro no Município de Olhão, constituída por dois veículos de apoio e até cinco bombeiros. Este novo projeto visa proporcionar as condições necessárias à sustentação das operações de socorro, tendo capacidade para a alimentação de 50 operacionais, suprimindo desta forma uma carência verificada no passado, podendo no futuro ser alargada a outras valências, nomeadamente repouso e recuperação física e psicológica dos Bombeiros. Nos meses de julho, agosto e setembro o Corpo de Bombeiros irá operacionalizar uma nova Brigada de Emergência Pré-Hospitalar com o objetivo de dar uma

Esta equipa já efetuou o seu primeiro teste operacional no acidente verificado no dia 17 de junho, na A22, envolvendo um pesado de passageiros, tendo sido integrada no grupo de reforço num total de 31 bombeiros e 12 veículos (7 ambulâncias e cinco viaturas de apoio) .

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SÃO BRÁS DE ALPORTEL PROSSEGUE RENOVAÇÃO URBANA

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ara complementar a obra de reabilitação da Entrada Nascente de São Brás de Alportel, uma obra que avança a bom ritmo, constituindo a última fase do Plano de Reabilitação das Entradas da Vila, a Câmara Municipal de São Brás de Alportel procederá previamente a uma intervenção fundamental, ao nível da renovação da rede de abastecimento de água. Os trabalhos integram a renovação da rede de abastecimento de água e da instalação de uma ilha ecológica. A obra tem como objetivo efetuar a renovação de um troço da rede de abastecimento de água existente, sendo substituída a antiga tubagem em fibrocimento por equipamentos em novos materiais, na Rua José Dias Sancho, entre o entroncamento com a Rua 5 de Outubro e o entroncamento com a Rua Rosalina Passos. A intervenção integra ainda a instalação de um ecoponto subterrâneo composto por três cubas

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para recolha seletiva de resíduos e uma cuba para recolha de resíduos urbanos indiferenciados. A obra foi adjudicada à empresa Eduardo Pinto Viegas, pelo valor de 23.790,53€, e a assinatura do contrato teve lugar no passado dia 18 de junho. Entretanto, no âmbito do Plano de Reabilitação e Manutenção dos Equipamentos Desportivos, encontra-se em execução a remodelação da rede de águas dos balneários e instalação de equipamentos de aquecimento solar, no complexo das Piscinas Municipais Descobertas de São Brás de Alportel. Esta obra surge no seguimento da aquisição de aquecimento solar para as águas dos balneários, integrando a Estratégia Municipal de Eficiência Energética. A implementação de painéis solares em infraestruturas desportivas, com vista a reduzir a pegada ecológica e o consumo energético, tem vindo a ganhar cada vez mais expressão no município são-brasense, com mais de 10 espaços devidamente equipados . 46


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VILA DO BISPO NOMEADA PARA MUNICÍPIO DO ANO

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elo segundo ano consecutivo, Vila do Bispo encontra-se nomeada para os «Prémios Município do Ano Portugal 2015», da UM-Cidades (Universidade do Minho), desta feita com o projeto «Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza de Sagres». Dos 36 finalistas, haverá dez distinções regionais e uma distinção nacional, com Vila do Bispo nomeada na categoria Região Algarve, a par de Aljezur, Monchique e Vila Real de Santo António. A esta iniciativa foram apresentadas 80 candidaturas onde um júri nacional, constituído por oito personalidades independentes e provenientes de áreas diversas, avaliou as candidaturas e selecionou as 36 que, no próximo dia 9 de julho, aspiram à conquista do prémio regional e do prémio nacional. A candidatura de Vila do Bispo apresenta a observação de aves (birdwatching) como uma atividade integrável no Turismo de Natureza e com excecional potencial na região de Sagres, reconhecida pelo facto de apresentar valores naturais e condições no terreno que podem competir com vantagem face a outros destinos semelhantes, como é o caso de Espanha. Portugal dispõe de inúmeros locais com interesse para a prática da observação de aves, porém, existem algumas regiões privilegiadas a este nível, por exemplo o Algarve e, concretamente, a região de Sagres. Localizado no Concelho de Vila do Bispo e integrado no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, Sagres é um local de destaque para a avifauna nacional, pois aqui podem ser observadas praticamente todas as espécies presentes no país, acolhendo ainda espécies únicas. Na verdade, ALGARVE INFORMATIVO #14

Sagres apresenta-se como palco de um fenómeno natural que, em Portugal, não encontra semelhante – a grande migração outonal de passeriformes, rapinas diurnas e noturnas, aves marinhas e, de forma mais emblemática, as grandes aves planadoras. De agosto a novembro, esta zona torna-se no ponto de congregação de aves migratórias no nosso país. Neste enquadramento tão especial, Sagres tem vindo a ser progressivamente procurada, sobretudo nas duas últimas décadas, por turistas e investigadores da ornitologia provenientes de todo o mundo. Os «Prémios Município do Ano Portugal 2015» visam reconhecer e premiar as boas práticas em projetos implementados pelos municípios com impactos positivos e significativos ao nível do território, na economia e na sociedade, que promovam o crescimento, a inclusão e a sustentabilidade do município. Dar visibilidade e reconhecer, em diferentes categorias, realidades diversas que incluam as cidades de maior dimensão, mas também os territórios de baixa densidade nas diferentes regiões do país são outros dos objetivos desta iniciativa instituída pela Universidade do Minho, através da sua plataforma UM-Cidades .

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