ALGARVE INFORMATIVO #15

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SUMÁRIO

JOTAS PREPARAM-SE PARA O COMBATE POLÍTICO DO SÉCULO As próximas eleições legislativas prometem ser dos combates políticos mais interessantes dos últimos tempos, com o país ainda a sofrer os efeitos da crise económica e financeiro e da austeridade imposta pelos credores internacionais. De um lado a coligação de governo liderada por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Do outro, o PS de António Costa. Mas também os adversários do costume, PCP e BE, a que se juntam, desta vez, uma mão cheia de partidos e movimentos cívicos que têm nascido quase como cogumelos. No Algarve, as principais forças partidárias também já afiam as garras, até porque, depois das férias de Verão, vai haver pouco tempo para fazer campanha e conquistar o voto dos portugueses.

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PEDRO MARTINS

Depois de ter marcado presença nos Jogos Olímpicos de 2012, disputados na cidade de Londres, o algarvio Pedro Martins quer repetir a dose em 2016, desta feita com destino marcado ao Rio de Janeiro. Campeão nacional de badminton há vários anos consecutivos, é uma estrela nas competições internacionais em que defende as cores portuguesas e, se tivesse nascido na Dinamarca ou na China, por exemplo, seria idolatrado por milhões. Em Portugal, porém, Pedro Martins sofre do mesmo mal que centenas de campeões de múltiplas modalidades que vivem completamente à sombra do futebol.

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WILSON PIRES

A chegada dos dias e noites escaldantes convida a cocktails refrescantes e não admira, por isso, que o Verão seja um dos períodos do ano em que os barmans mais estão em destaque, seja nas principais unidades hoteleiras da região, ou nos inúmeros bares e discotecas de Sagres a Vila Real de Santo António. Claro que, como é óbvio, há barmans que se limitam a servir imperiais, vodkas redbull e whiskey cola, e há os famosos pela sua mestria em produzir e servir os cocktails mais indicados para cada época do ano e altura do dia e que mais se adequam ao perfil do cliente, homens ou mulheres, jovens ou menos jovens, latinos, britânicos, escandinavos, asiáticos, norte-americanos e por aí adiante. De repente, ser barman deixa de ser tão linear como aparenta e foi por isso que estivemos à conversa com Wilson Pires, o Barman do Ano 2014. ALGARVE INFORMATIVO #15

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OPINIÃO

Daniel Pina EU É QUE MANDO! MAS NEM SEMPRE… (…) Por essas e por outras, é sempre preferível falar a verdade, prometer apenas o que se tem para dar, dar o que se tem dinheiro para pagar, pagar o que se tem crédito para pedir e pedir apenas o que for estritamente necessário. Caso contrário, não há soberania nem casamento que aguente. Se os gregos têm razão nas suas queixas e lamentos e se o Tsipras está a ter uma postura séria e justificada, isso deixo para os analistas políticos e para os especialistas na matéria (…)

6 Paulo Cunha “… E JÁ AGORA: QUERIA PEDIR-TE UM FAVOR!” (…) Genuínas e simples ações, como o convidar para um evento, para um jantar em grupo ou para uma festa, trazem, por vezes, uma segunda intenção implícita. Já não falando no despudor, insensatez e falta de vergonha com que se usa a palavra «Convite» para levar os convidados a financiar a atividade para a qual foram convidados. Sou do tempo em que quem convidava, convidava porque podia e queria. Sem mais… (…)

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Paulo Bernardo E OS HELLÁS? (…) Nas escolas gregas são ensinadas danças tradicionais, como forma de educar os mais novos sobre as tradições do povo. Um povo que ainda tem muita gente viva que viveu o terror da segunda guerra mundial, que passa essas histórias aos seus descendentes.

28 Hélder Rodrigues Lopes

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UMA VIRAGEM PARA O ENSINO PROFISSIONALIZANTE. NEGLIGÊNCIA PERIGOSA OU NÃO? (…) Na atualidade, a generalidade da Organização Social assenta essencialmente na economia e nos mercados financeiros, sendo o acesso ao dinheiro o seu dominador. Assim sendo, a especulação, a manipulação e a exploração sobre os mais vulneráveis é essencial para a manutenção do enriquecimento dos grupos económicos dominantes (…)

ALGARVE INFORMATIVO #15 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Foto de capa: Vítor Rocha Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930 Diariamente, as notícias que marcam o Algarve em algarveinformativo.blogspot.pt ALGARVE INFORMATIVO #15

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CRÓNICA

EU É QUE MANDO! MAS NEM SEMPRE… hora que escrevo esta crónica ainda os gregos votam no referendo que pode alterar por completo o destino do seu país e, quiçá, da própria União Europeia. Não sou propriamente um analista político nem especialista em macroeconomia ou direito internacional, mas já deu para ver que a saída ou não da Grécia do Euro, e o cumprimento ou não das responsabilidades que assumiu para com os seus credores, tem muito pano para manga e podemos concordar ou discordar com quase tudo o que tem acontecido, dependendo da maneira com que se olhe para o assunto. Assim sendo, prefiro olhar para o assunto numa escala mais próxima do nosso dia-a-dia, da nossa própria realidade. Ora, se eu tiver dinheiro para comprar uma casa a pronto pagamento e se pagar todas as despesas correntes com o meu próprio dinheiro, se calhar sinto que posso fazer o que bem me apetecer dentro daquelas quatro paredes, sem com isso prejudicar os vizinhos ou atentar contra as leias da comunidade onde me insiro. Se, por outro lado, viver numa casa oferecida pelos meus pais e se as despesas correntes forem custeadas por uma mesada que receba deles, lá se vai o meu poder absoluto, pois arrisco-me a que me sejam cortadas tais benesses se sair da linha, se não corresponder às expetativas colocadas em mim pelos meus pais ou se não cumprir com condições pré-estabelecidas para usufruir de tais regalias. Como nem todos os portugueses têm pais ricos, eu incluído, não temos outro remédio senão pedir dinheiro emprestado para comprar a tal casa, normalmente a uma entidade bancária, sujeitando-nos às condições por ela impostas. É um género de casamento até que a morte nos separe, ou até que paguemos a totalidade do empréstimo e, a partir do momento em que colocamos a nossa assinatura naquele documento, não vale a pena reclamar ou chorar que não temos dinheiro para pagar. Apanhei com as taxas altas e pouco dinheiro sobrava ao fim do

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Daniel Pina Jornalista Danielpina@sapo.pt Algarveinformativo@sapo.pt

(…) Por essas e por outras, é sempre preferível falar a verdade, prometer apenas o que se tem para dar, dar o que se tem dinheiro para pagar, pagar o que se tem crédito para pedir e pedir apenas o que for estritamente necessário. Caso contrário, não há soberania nem casamento que aguente. Se os gregos têm razão nas suas queixas e lamentos e se o Tsipras está a ter uma postura séria e justificada, isso deixo para os analistas políticos e para os especialistas na matéria (…) ALGARVE INFORMATIVO #15

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mês para comer, agora as coisas estão mais controladas porque os juros estão baixos mas, se voltarem a subir, não posso decidir, de um momento para o outro, que já não me apetece pagar. Quer dizer, decidir posso, fico é sem a casa e vou para tribunal. Portanto, esta questão de soberania é muito bonita e legítima quando não devemos dinheiro a ninguém, e a nossa vontade deve ser respeitada, desde que, claro, também respeitemos as nossas responsabilidades e não lesemos os interesses dos nossos vizinhos. Fala-se também muito de promessas feitas e não cumpridas, de se estar a enganar o povo para ganhar o voto, de fazer o que se prometeu que nunca se iria fazer. Eu volto a olhar para a realidade do Zé e do Manel. Se andarmos de olho numa moça gira e vistosa e, para a conquistarmos, a convidarmos para ir jantar a restaurantes de luxo, levá-la às melhores festas, oferecer-lhe prendas caras, sempre ao volante dum Mercedes ou dum BMW, se a moçoila for dessas materialistas, provavelmente está o casamento garantido. Se, depois, já não tivermos dinheiro para mantermos a fachada e levarmos com um divórcio em cima, não nos podemos lamentar muito, porque prometemos, durante a fase do engate, o que não tínhamos modo de cumprir depois do anel posto no dedo. E ela também não pode reclamar muito e dizer que foi enganada, porque devia ter estranhado tamanha fartura em tempo de crise. Por essas e por outras, é sempre preferível falar a verdade, prometer apenas o que se tem para dar, dar o que se tem dinheiro para pagar, pagar o que se tem crédito para pedir e pedir apenas o que for estritamente necessário. Caso contrário, não há soberania nem casamento que aguente. Se os gregos têm razão nas suas queixas e lamentos e se o Tsipras está a ter uma postura séria e justificada, isso deixo para os analistas políticos e para os especialistas na matéria. Eu cá estou mais preocupado em pagar as contas ao fim do mês e manter um casamento saudável .


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ENTREVISTA

José Pedro Cardoso, presidente da JS/Algarve e Carlos Gouveia Martins, presidente da JSD/Algarve

JOTAS PREPARAM-SE PARA O COMBATE POLÍTICO DO SÉCULO As próximas eleições legislativas prometem ser dos combates políticos mais interessantes dos últimos tempos, com o país ainda a sofrer os efeitos da crise económica e financeiro e da austeridade imposta pelos credores internacionais. De um lado a coligação de governo liderada por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Do outro, o PS de António Costa. Mas também os adversários do costume, PCP e BE, a que se juntam, desta vez, uma mão cheia de partidos e movimentos cívicos que têm nascido quase como cogumelos. No Algarve, as principais forças partidárias também já afiam as garras, até porque, depois das férias de Verão, vai haver pouco tempo para fazer campanha e conquistar o voto dos portugueses. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #15

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asa Inglesa, zona ribeirinha de Portimão, 12h. Dá entrada o homem do canto laranja, Carlos Gouveia Martins, 28 anos, portimonense de nascença, membro do Gabinete de Relações Institucionais da Associação Nacional das Farmácias e presidente da JSD/Algarve desde maio de 2014. Juventude SocialDemocrata para onde entrou com 14 anos, sem o conhecimento do pai, Carlos Neves Martins, que era na época o presidente da secção do PSD de Portimão. Foi suplente, vogal, vice-presidente e presidente da JSD/Portimão de 2010 a 2014, antes de ser eleito líder dos jotas social-democratas algarvios, fazendo também parte da Comissão Política Nacional da JSD nacional desde Dezembro de 2014. Poucos minutos depois, chega o homem do canto rosa, José Pedro Cardoso, 28 anos, natural de Faro mas residente desde sempre em Portimão, Engenheiro Civil de profissão e presidente da JS/Algarve desde 2012. Tornou-se militante do PS em 2005, quando frequentava o Instituto Superior Técnico em Lisboa, onde integrou a associação de estudante por dois mandatos. De volta ao Algarve, assumiu a concelhia da JS/Portimão em 2010, antes de se candidatar à federação, no mesmo ano em que foi eleito para o Secretariado Nacional. Já em 2015, foi eleito como representante da JS na Comissão Nacional do PS, acumulando com as funções que exerce no PS/Algarve e

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como deputado municipal em Portimão. Feitas as apresentações, e porque o combate político do século vai ser disputado por mais concorrentes, quisemos saber o motivo de não haver mais juventudes partidárias ativas no Algarve. Carlos Gouveia Martins revela que, por exemplo, no que toca à Juventude Popular, é necessário um número mínimo de concelhias ativas para existir uma estrutura distrital, o que não se verifica. “Em Portimão, há um representante da Juventude Comunista e do Bloco de Esquerda e a Juventude Popular, neste momento, não está em funções, mas teve sempre uma estrutura política nos últimos anos e, seguramente, será reativada no curto prazo”, observa o presidente da JSD/Algarve, pelo que perguntamos a José Pedro Cardoso se este fenómeno não é justificado igualmente pelo crescente afastamento das novas gerações de tudo o que diga respeito à política. “Não diria que o facto dos jovens se interessarem mais ou menos pela política faz com que só a JS e a JSD tenham estruturas regionais ativas e, depois, pontualmente, estruturas concelhias a funcionar. A verdade é que os jovens não

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estão conciliados com a política, nem com os políticos, porque também estão a sentir dificuldades muito grandes em frequentar um curso superior, em ter acesso a um emprego, até em ficar no seu próprio país. Neste cenário, os que ainda participam na vida da sociedade acabam por se identificar com as estruturas que são maiores e mais dinâmicas, por serem as que mais mobilizam e que estão mais perto dos jovens”, analisa o líder da JS/Algarve. A verdade é que o desligar das novas gerações face à política já se nota há algum tempo, antes mesmo do intensificar das dificuldades referidas por José Pedro Cardoso, e nessa altura o motivo mais falado prendia-se com a má reputação que a classe política tinha, e que teima em manter. “Não vou aqui defender a «dama» de ninguém, porque é uma realidade transversal a todas as forças partidárias. Temos consciência que o rótulo de «político» ficou mal conotado no passado recente e é muito difícil irmos para a rua tentar transmitir a nossa mensagem, até conseguir levar cinco, seis, sete jovens connosco. Eu e o José temos as nossas dificuldades, muitos amigos nossos têm problemas, portanto,


ENTREVISTA não pode ser prejudicial. “Mais preocupante do que haver partidos a mais é a abstenção e, quando um cidadão deixa de participar, é porque deixou de acreditar na política. Esse, sim, é o grande perigo. Os partidos representam as ambições, as vontades das pessoas de irem por um caminho, de dizerem o que querem para o seu modelo de vida e de sociedade, de dizerem o que está mal na sua terra, na sua cidade e país”, defende José Pedro Cardoso, entendendo que o surgimento de novos partidos e movimentos de cidadãos pode ser reflexo de algum «esgotamento» dos partidos tradicionais junto da opinião pública. “É muito complicado cumprir todas as expetativas que são colocadas pelo povo nos partidos que governam e, efetivamente, se o país não está bem, é porque todos nós falhámos um pouco. Infelizmente, a Democracia e o sistema políticopartidário estão em perigo, o próprio voto está a ser subjugado por outras forças que colocam a Democracia em segundo plano, como se constata pela crise que se vive na Europa, e tudo isto mina a confiança que as pessoas têm na política”.

não vamos ser utópicos e dizer que Portugal está perfeito”, frisa Carlos Gouveia Martins, enquanto o colega do canto rosa ia dando uma espreitadela ao noticiário que passava na televisão. “Sabemos que há muita coisa para fazer e que, o pouco que está a ser bem feito, ainda é pouco. Ora, o jovem sabe que vai levar logo com o tal rótulo e ainda se arrisca a ficar mal visto junto dos amigos, porque as irmãs estão desempregadas, os irmãos tiveram que sair de Portugal, os pais só agora é que começaram a receber subsídios, e ele vai meterse com os «políticos». Com tudo isto, já não podemos organizar ALGARVE INFORMATIVO #15

iniciativas e ficar sentados à espera que as pessoas apareçam, temos que ir atrás delas para saber o que está mal na vida delas, explicarlhes que não fazemos mal a ninguém, que temos a nossa ideologia e que queremos ajudar”, sustenta o farmacêutico de profissão. Curiosamente, as próximas eleições legislativas prometem ficar na história, talvez não pelo grau de abstenção que possam vir a registar, mas pelo número pouco comum de partidos e movimentos cívicos que pretendem ir a votos, pelo que perguntámos se esta dispersão de políticos e de votos 10

OS EXEMPLOS QUE CHEGAM DA GRÉCIA De forma impercetível, de um momento para o outro, e sem qualquer planeamento, o tom torna-se mais sério, deixa de ser uma simples conversa de café entre dois amigos. Ou talvez estas conversas mais acesas sejam habituais entre Carlos Gouveia Martins e José Pedro Cardoso, pelo que até haja quem lhes chame «um bloco central», simplesmente por falarem com naturalidade sobre as questões políticas que marcam a atualidade, na procura das melhores soluções para a sua terra e país, ainda que pertençam a


partidos diferentes e tradicionalmente adversários. O certo é que, de repente, os olhares desviam-se dos noticiários da televisão e os telemóveis ficam à distância de um dedo para rapidamente se tirar alguma dúvida através da internet. E tudo porque se falou na Grécia, o berço da Democracia. “Eu tenho que concordar com o Alexis Tsipras quando se assume, neste momento, como o defensor da Democracia na Europa. O que está a acontecer é fruto de uma certa ideologia que coloca o Estado Social e o Sistema Democrático em segundo plano perante os mercados e, hoje, a vontade soberana de um povo em seguir um caminho é suplantada pelos interesses económicos. Respeitamos os nossos credores e sabemos a importância que têm para o financiamento do nosso país e para a nossa vida enquanto União Económica e Monetária no seio da União Europeia, só que a

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UE aprofundou-se económica e monetariamente e não o fez politicamente”, dispara José Pedro Cardoso, não compreendendo como o Euro Grupo pode reunir-se à porta fechada para debater o futuro da Grécia, sem a presença do próprio Ministro das Finanças grego. “Quando dizem que o Euro Grupo é um grupo informal, que não precisa respeitar os tratados e as regras da União Europeia e que pode tomar decisões à margem de um país, estamos a subjugar a Democracia à Economia. Tem que haver um equilíbrio entre uma economia de mercado, em que a Social-Democracia Europeia sempre acreditou e que está na base na fundação da Europa, e um Estado Social onde a Democracia tenha, no mínimo, a mesma importância que a Economia em si”. Com a resposta do lado do canto laranja, Carlos Gouveia Martins recua um pouco na conversa para abordar a tal «pluri-democracia»

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resultante do nascimento de tantos partidos nos últimos meses. “A Democracia está feita para as pessoas poderem participar. Se entendem fazê-lo através da criação de um partido, desde que esteja legalmente fundado, não vejo qualquer problema nisso. Já acho mais estranho as pessoas estarem no partido A e entenderem, em determinada altura da sua vida, mudar para o partido B. Compreendo que um partido de matriz mais socialdemocrata como o PSD possa alterar-se com o tempo. Não compreendo como alguém que esteve na sua base, agora se reveja num partido que diz tudo ao lado”, refere o presidente da JSD/Algarve. “Quando entramos na democracia pensando apenas no nosso umbigo, para crispar, para levantar ondas e para ser contra o outro que está ao nosso lado, sem se preocupar com o país, isso é preocupante. A Joana Amaral Dias fundar o «Juntos Podemos», por


ENTREVISTA

estar em divergência com a estrutura do Bloco de Esquerda, também ele fundado há pouco tempo, isso é a democracia a funcionar. Já não entendo tão bem a troca de cadeiras de um lado para o outro quando mais lhe convém e há imensos casos desses, tanto à direita como à esquerda”. Se há muitos temas que reúnem o consenso de José Pedro Cardoso e Carlos Gouveia Martins, fica evidente que a Grécia, mais concretamente o líder do Syriza, não é um deles. “Alexis Tsipras é uma pessoa que tudo prometeu na caça incessante do voto, que enganou todo um país, e toda uma União Europeia, que confiou nele para cumprir com os deveres e compromissos assinados por ele próprio. Yanis Varoufakis, que era o consultor económico do PASOK, o verdadeiro Partido Socialista da Grécia, e que articulou e negociou o memorando até sair, provavelmente para dar umas voltas de mota - que acho que é aquilo que tem mais jeito para fazer -, agora vem dizer que é ALGARVE INFORMATIVO #15

contra tudo aquilo que disse na época. Em 2011/12, dizia que a Grécia não podia sair da Europa, agora, afirma que, se a Grécia ficar, sai ele”, acusa, visivelmente irritado com todo este processo. “São estes os líderes que a Grécia precisa? Que estão a pôr em causa, não só o país, mas toda a União Europeia? Acho que não”. Entretanto, o entrevistado do canto rosa já não aguentava muito mais tempo sentado na cadeira, sinal evidente de que não concordava com a opinião do amigo de longa data, agora na figura de adversário neste debate informal. “As propostas da Grécia não são radicais, aliás, podiam ser feitas pelo PSD/CDS se estivéssemos numa Europa baseada no verdadeiro projeto europeu, da solidariedade europeia. Quando Alexis Tsipras está a bater o pé à Europa e a defender a Democracia, está a defender a autodeterminação dum povo em escolher o seu caminho, porque a Grécia é o exemplo máximo do falhanço da austeridade. Depois, os 12

credores internacionais, as instituições europeias, o Euro Grupo, a União Europeia, não aceitaram o caminho que os gregos escolheram. Não nos podemos esquecer que a Alemanha, a seguir à Segunda Guerra Mundial, teve um perdão de muitos milhões de euros de dívida e, na década seguinte, o seu PIB duplicou. O povo grego está a passar por uma dificuldade brutal, problemas que afetam a Europa como um todo, e a intransigência dos mercados mostra o quão pouco conta, atualmente, o voto e que os mais fortes prevalecem sobre os mais fracos”, desabafa José Pedro Cardoso

AFINAL, SÃO OU NÃO MITOS URBANOS? Pegando nas palavras fortes de Carlos Gouveia Martins sobre Alexis Tsipras, José Pedro Cardoso lembra que o atual governo português apresentou-se a eleições numa época em que o país vivia uma


tremenda crise económica e financeira, fruto também de Portugal ter uma economia pouco estrutura e preparada para lidar com adversidades mais fortes, e que prometeu, sem hesitações, que não iria aumentar os impostos e que iria realizar reformas estruturais, tanto no Estado como na Economia. “Três ou quatro anos depois viu-se em que deram essas promessas”, indica o dirigente socialista, se bem que as últimas sondagens atribuam uma ligeira vantagem à coligação de poder nas intenções de votos dos portugueses. Tomando uso da palavra, Carlos Gouveia Martins ainda tem uma palavra a dizer sobre todo o assunto grego, antes de virar o foco da conversa para a atualidade nacional. “Concordo muito com o Secretário-geral do PS quando disse, recentemente, que o Syriza e Tsipras eram uma

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desilusão e que estavam completamente errados. O mesmo António Costa que, seis meses antes, estava eufórico com a vitória do Syriza, esquecendo-se que o seu congénere é o PASOK”, afirma, sorridente. E porque o motivo da entrevista era Portugal e as próximas eleições legislativas, o presidente da JSD/Algarve começa por chamar a atenção para alguns números que são bandeira do partido laranja. “O governo de coligação entrou em funções com o país na bancarrota, o que aconteceu pela terceira vez na sua história e, mais uma vez, devido a erros do PS. Isto é histórico, fatual e ninguém o pode desvirtuar. Entretanto, houve um memorando de entendimento assinado pelo PSD, PS e CDS/PP e há um partido que se esquece que o assinou. Olhando para o Algarve, tínhamos uma taxa de desemprego

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de 40 por cento nos jovens até aos 35 anos. Hoje, temos um número enormíssimo, que nos causa bastante alarme, mas é de 24 por cento. A nível nacional, a taxa de desemprego estava nos 18 por cento, atualmente, está a fixar-se nos 13 por cento”, arranca Carlos Gouveia Martins a grande velocidade, com José Pedro Cardoso muito atento e à espera do momento certo para intervir. “Em 2011, a média de jovens até aos 35 anos a emigrar era de 28 mil, em 2012, com Pedro Passos Coelho, a média foi de 29 mil, mas voltou para os 28 mil logo em 2013. São números maus mas que são «mitos urbanos», como está na moda dizer, porque a emigração jovem já existia e os valores são iguais. Tivemos foi uma emigração de profissionais qualificados, que estão a valorizar o percurso académico dos portugueses lá fora,


ENTREVISTA e que esperamos que regressem”, salienta o portimonense. Como José Pedro Cardoso continuava à espera do melhor momento para contra-atacar, Carlos Gouveia Martins vira a atenção para a Saúde, área que conhece muito bem por motivos profissionais. “O Serviço Nacional de Saúde tinha uma dívida de 3,5 mil milhões de euros, uma herança do Eng.º José Sócrates, atualmente, está nos 600 milhões de euros. Fizemos um acordo com a indústria farmacêutica que fez baixar o preço dos medicamentos em 42 por cento e há genéricos no mercado. Neste período de dificuldades, foram abertos sete novos hospitais em Portugal. Conseguimos fazer a reforma educativa de tornar o 12.º ano obrigatório. Temos o maior investimento de sempre a nível portuário e de docas no Algarve. Temos 400 novas pequenas e microempresas ligadas à agricultura”, enfatiza, como que a dizer que Portugal está, sem sombra de dúvidas, a dar a volta, mas sem virar a cara aos erros que se cometeram também. “Reconheço que houve problemas graves na Educação e o Ministro não é isento de culpas. Na Saúde, houve dificuldades nas Urgências, mas também houve trabalho feito e que deve ser valorizado. No Turismo, porventura não houve uma aposta efetiva no Algarve mas, felizmente, não cometemos a gaffe histórica do «Allgarve», um programa que não beneficiou nenhum concelho do Algarve, um desvaneio, como foi igualmente o Parque Escolar. Atualmente, Portugal está a crescer a 1,4 por cento de média, mas o PS entende que é uma espiral recessiva que ninguém a vê. Os números ainda não são bons, mas são muito melhores do que eram quando entramos para o governo. Não podemos continuar a iludir as pessoas, embora isso custe a muita gente”. ALGARVE INFORMATIVO #15

Quando Carlos Gouveia Martins aponta a mira para António Costa e lembra que o atual candidato socialista a Primeiro-Ministro foi o número 2 de José Sócrates e, como tal, também foi responsável por muito do que foi mal feito no país durante a governação do PS, José Pedro Cardoso diz «Basta!». “O Carlos enganou-me, disse-me que isto não era uma conversa de política, que era uma conversa de amigos, e já está aqui a bater na malta toda”, diz, bem-disposto, antes de arregaçar as mangas e apresentar a sua visão. “Primeiro que tudo, o PS não se esqueceu que assinou o memorando da troika, concordou com ele e acreditava nele, mas este governo foi muito para além do que era exigido, como se vê no caso das privatizações, em que foi mais oito mil milhões de euros para lá do valor preconizado. Há pouco tempo, um relatório do Tribunal de Contas mostra que a privatização da REN e da EDP, não só não salvaguardou os interesses do estado português, como vai causar um prejuízo para os cofres públicos no valor de dois mil milhões de euros. Como é que se pode defender uma governação tão austera que apenas fez a reforma dos tribunais – e ainda hoje ninguém sabe se o Citius funciona ou não – e a reforma das 14

freguesias, a régua e esquadro, com o antigo Ministro Miguel Relvas”, questiona, frisando, por outro lado, os cortes efetivos nas pensões e reformas, na educação e na saúde. “São exemplos de uma governação com uma insensibilidade social brutal”. Quanto à vantagem que a mais recente sondagem atribui ao PSD/CDS/PP, José Pedro Cardoso não fica surpreendido e entende que se deve a um género de «síndrome de Estocolmo», passando a explicar. “Esta coligação tem um discurso de ausência de alternativa, de que não há outro caminho, de que é preciso fazer todos estes sacrifícios porque não há dinheiro e as pessoas, que sentiram na pele esses cortes, olham para as suas vidas e dos seus familiares e verificam que, de facto, não há dinheiro. Quase que são forçadas a concordar com o que o governo está a dizer, porque estão fracas, sem capacidade de resposta. Os idosos estão com pensões miseráveis, as pessoas estão desempregadas, os jovens estão a emigrar”, aponta o socialista, acrescentando que a emigração aumentou sete por cento na Irlanda, 27 por cento na Espanha e 150 por cento em Portugal. “Isto é que são os «mitos urbanos». Nos últimos anos emigraram 300 mil pessoas do país


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ENTREVISTA

e, na década de 60, saíram 60, 70, 80 mil. Na década de 2000, emigravam cerca de 20, 30, 40 mil pessoas”, ataca José Pedro Cardoso. “O desemprego jovem baixou, mas continua quase 20 pontos percentuais acima da média europeia, dados da OCDE e, no meio desta governação toda, a única coisa que recuperamos foi a confiança dos nossos credores, porque Portugal está a seguir um caminho com o qual eles concordam. E nem isso foi feito por este governo, porque os juros da dívida só dispararam para baixo quando o Banco Central Europeu começou a comprar dívida pública dos países em dificuldade. Ou seja, depois de três anos de aplicação de um memorando, que era mau e que nós assinámos, de um conjunto de políticas que foram para além desse memorando, sem recuperação à vista, sem sinais de melhoria da qualidade de vida das pessoas, os únicos indicadores que melhoraram são da responsabilidade do Banco Central Europeu”.

HÁ OU NÃO «EFEITO SÓCRATES»? A conversa aqueceu rapidamente quando se começaram a abordar ALGARVE INFORMATIVO #15

questões concretas que dizem respeito diretamente aos portugueses, mas era hora de espicaçar ainda mais os dois líderes das juventudes partidárias. Por isso, lembramos a euforia generalizada dos socialistas quando António Costa resolveu quebrar o tabu e assumiu-se como candidato a Secretário-Geral do PS, vencendo depois o anterior líder António José Seguro e, por essa via, constituindose como candidato a PrimeiroMinistro. Do outro lado da barricada, se calhar, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas rogavam pragas, por acharem que António Costa seria um osso mais duro de roer nas Legislativas do que António José Seguro. Volvidos estes meses, será que as opiniões são as mesmas, tanto da parte dos socialistas como dos socialdemocratas? “Nenhuma eleição são favas contadas quando as pessoas estão em confrontação com a política, mas António Costa foi eleito como Secretário-Geral do PS numa das maiores participações cívicas numa eleição democrática, com quase 200 mil pessoas da sociedade civil a participarem nas Primárias do PS para escolherem o candidato. Também não nos podemos esquecer que um exPrimeiro-Ministro do PS foi detido na semana a seguir e, não falando 16

em teorias da conspiração, claro que isso afeta o PS, que tem que redobrar esforços para passar a sua mensagem, que aquilo que está verdadeiramente em causa são as suas propostas, mostrar o caminho diferente que tem para este país e fazer perceber que este governo enganou as pessoas”, defende José Pedro Cardoso. Sobre as propostas socialistas, o presidente da JS/Algarve frisa que António Costa fez uma agenda para a década onde se trabalhou as ideias que tinha para Portugal, depois fez um estudo macroeconómico, com economistas independentes, das suas propostas, e daí surgiu o seu Programa de Governo. “Apresentamos um caminho diferente, que foi estudado e validado e somos a alternativa. Somos o PS, acreditamos no equilíbrio entre a economia de mercado e o estado social e queremos voltar a dar dignidade ao Estado. Queremos que o Estado seja um potenciador da recuperação económica e que consiga colmatar todas as desigualdades estruturais que existem na sociedade. Por isso, temos uma visão diferente da deste governo, e da maioria da Europa, onde o estado social fica em segundo plano perante a economia”, reforça o engenheiro civil. Volta o microfone às mãos de Carlos Gouveia Martins, que aproveita para dar mais uma pincelada nos números do desemprego e da emigração. “O José falava dos 150 mil jovens que emigraram nos últimos anos e eu sei perfeitamente quem eles são: são os 150 mil novos postos de emprego que José Sócrates prometeu antes e que não cumpriu”, diz, em tom de brincadeira, com um sorriso.


Quanto a António Costa, lembra que o Estado pagou 43 por cento da dívida da Câmara Municipal de Lisboa em finais de 2012, quando o candidato socialista era o presidente dessa autarquia. “Depois, teve aquela taxa turística que a ANA paga à Câmara Municipal de Lisboa e não vi o PS defender uma proposta semelhante para o Algarve, como o fez o PSD/Algarve. O António Costa tem muitas coisas boas e, pelo menos, negociar sabe”. Sobre se ainda é o adversário temido que se julgava há alguns meses, Carlos Gouveia Martins reconhece que é um dirigente político com um percurso assinalável, mas acredita que António José Seguro também teria toda a legitimidade para continuar à frente do PS e que teve excelentes resultados nas últimas Eleições Europeias. “Acredito que o PS esteja unido em torno do António Costa, mas como é que o PS ia defender o Estado Social se o Serviço Nacional de Saúde tivesse fechado em 2011, e se deixasse de pagar à função pública, caso não se fizesse o pedido de resgate? António Costa, para nós, PSD, é um autarca que fez o seu percurso, teve uma vitória histórica na Câmara Municipal de Lisboa, mas acho que, neste momento, já não é tão temido como era porque começou a falar e as pessoas começaram a conhecer o António Costa, que hoje é azul, amanhã é preto, que hoje é sim, amanhã é não, que não se pode fazer cortes, mas ele fazia-os em Lisboa, que para Lisboa deve ser feito um ajuste da taxa do Aeroporto, mas isso já não pode ser feito nas outras zonas do país”, nota. Carlos Gouveia Martins destaca ainda que, atualmente, António Costa tem piores resultados nas sondagens do que António José Seguro, que chegou a ter 39 por cento, contra os 26 por cento da coligação. “Agora, desceu o PS e a coligação galopou. Apesar disso, claro que António Costa é temido, ALGARVE INFORMATIVO #15

porque é o candidato do maior partido da oposição e seguramente que o PS voltará a ser governo, porque é assi que funciona o ciclo político em Portugal. Na minha opinião pessoal, quanto mais ele fala, menos temido é. Mais vale quem diz a verdade, mesmo que não seja aquilo que os portugueses querem ouvir, que é o caso do Pedro Passos Coelho e do Paulo Portas”.

HÁ DÉCADAS QUE SE ESQUECEM DO ALGARVE Seja como for, o líder da JSD/Algarve não acredita que seja possível alcançar uma maioria absoluta nas próximas Legislativas e o mesmo devem achar os socialistas, a ver pelas múltiplas viagens que António Costa tem feito por todo o país para conquistar a confiança dos portugueses, entre eles os algarvios. “O Carlos diz que as pessoas já conhecem o António Costa, mas também já conhecem Pedro Passos Coelho e Paulo Portas e sabem que pouco fizeram daquilo que prometeram fazer. Mentiram descaradamente aos portugueses e, se estes estão descontentes e se acham que Portugal não está bem, têm a oportunidade de provar isso nas próximas Legislativas”, apela José Pedro Cardoso, satisfeito por António Costa visitar várias vezes a região algarvia. “Ele tem a perfeita consciência de que o Algarve tem problemas gravíssimos, problemas que o atual governo prometeu resolver e nada fez para tal, por isso, não segue pelo mesmo caminho de prometer tudo a todos sem saber quais as condições de Portugal quando chegar a PrimeiroMinistro. Acha que é uma vergonha a EN 125 ainda não ter sido requalificada, quer investir nos portos, dar atenção ao Hospital Central do Algarve, ao produtores do barrocal e da serra, ao turismo, à universidade. É necessário recuperar especialidades que se 17

perderam nos Hospitais de Portimão e de Faro, aumentar a Rede de Cuidados Continuados, promover uma contratação de técnicos, médicos e enfermeiros. António Costa e o PS/Algarve querem o mínimo de portagens na Via do Infante e, se possível, tirálas por completo, mas é preciso ver que tipo de negociações e de contratualizações podem ser feitas para libertar os algarvios deste flagelo”. José Pedro Cardoso enfatiza que o Algarve dá muito mais a Portugal daquilo que recebe depois via Orçamento de Estado e chega mesmo a perder fundos comunitários por ter uma riqueza per capita acima da média, mas que é gerada quase toda abaixo da EN125 e graças ao turismo. “É considerada uma região rica quando não é e António Costa está consciente disso. Aliás, duas das suas principais bandeiras são fulcrais no Algarve: a redução do IVA da restauração para os 13 por cento e a reabilitação urbana. O seu trabalho em Lisboa nesse campo está à vista de todos e a construção civil é um setor importantíssimo na nossa região e perdeu 300 mil postos de trabalho. O setor tem que deixar de estar dependente da construção nova e do imobiliário e virar-se para a reabilitação, para depois reanimar toda a economia local”, expõe o engenheiro civil, colhendo, desta vez, um sinal de concordância de Carlos Gouveia Martins. “Somos os dois acérrimos defensores da região, concordo muitas vezes com o José Pedro e nem sempre subscrevo o que é dito pelo meu próprio partido. O Centro Hospitalar do Algarve teve muitas dificuldades e carece de um forte contributo do Estado para se conseguir reerguer. Sobre a requalificação da EN 125, este governo disse que não podia fazer esse esforço financeiro por causa do memorando, o anterior governo disse que o ia fazer, o anterior o


ENTREVISTA mesmo, ou seja, já no governo de António Guterres se falava nisto. Houve sempre impedimentos e por isso também critico Durão Barroso, Santana Lopes e Pedro Passos Coelho, embora entenda que este último foi o que teve menos liberdade para avançar com essa obra”, dispara o presidente da JSD/Algarve. Colocando os partidos de lado, Carlos Gouveia Martins não entende como não existe uma política comum a todos os concelhos em matéria de turismo e animação, com cada um a «roubar» clientes aos vizinhos. “Houve uma tentativa muito mal feita e que caiu ao lado, o «Allgarve», por ter sido feita à pressão, mas o Algarve tem que se unir neste tema e não ficar à espera que seja o governo a fazer tudo. Hoje, no mesmo dia em que há uma iniciativa grande em Albufeira, há outra em Loulé, Faro ou Vila Real de Santo António e quem perde com isto são as autarquias e os algarvios. Acho muito bem que António Costa venha muitas vezes ao Algarve para conhecer a nossa realidade, e Pedro Passos Coelho também o tem feito em diversas ocasiões. Falar lá de cima sem cá vir é fácil e o Algarve é muito mais do que sol e praia. Espero que António Costa não venha agora só quando houver uma Convenção do PS no Algarve, e que Passos Coelho não venha só para a Festa da Coligação no Verão, a substituir a Festa do Pontal”. Com a conversa a caminhar a passos rápidos para o final, Carlos Gouveia Martins lembra ainda a “vergonhosa” Rede Ferroviária na região e a total falta de ALGARVE INFORMATIVO #15

coordenação entre os vários meios de transportes. “Um jovem vai de comboio para Faro e, quando lá chega, já os autocarros partiram, por falta de entendimento entre as duas entidades. O que vai valendo ao Algarve é aquilo que o homem não precisa construir, o ambiente, as praias, a serra, mas o resto também conta e isso tem sido esquecido ao longo de décadas”, desabafa o farmacêutico, num bairrismo partilhado por José Pedro Cardoso. “Os municípios têm que se entender, não é preciso irem para uma feira de turismo «vender» só este ou aquele concelho, para se ganhar efeito de escala. Também não concebo que, durante o Verão, não se exporte os nossos produtos tradicionais da serra, do barrocal algarvio e do litoral, para os três ou quatro milhões de turistas que cá estão. O Algarve precisa de capacidade de promoção e de criação de eventos, mas têm que estar bem estruturados e o «Allgarve» trouxe muitos turistas à região, especialmente na época baixa. Tem que se eletrificar a Rede Ferroviária de Lagos até Vila Real de Santo António, criar novas rotas aéreas para Faro, criar uma ligação de Lisboa a Sevilha, passando por Faro 18

e Huelva. Infelizmente, parece que, às vezes, somos 16 reinos com 16 sultões a gerir a região, mas António Costa quer dar alguns passos nesse sentido, dando mais competências à CCDR. Nós sabemos o que precisamos e, se tivermos os recursos, se calhar conseguimos fazer mais e melhor do que se estivermos sempre dependentes das transferências do Orçamento de Estado”, assinala José Pedro Cardoso. Em nota de rodapé, o líder da JS/Algarve apela a uma maior participação e interesse dos jovens na política, com a consciência de que são os únicos que podem mudar as suas vidas. “A política não é má, é o poder mais importante que temos numa sociedade democrática, através do qual podemos escolher quem nos representa e vai decidir por nós”, justifica. “Os jovens devem interessar-se pelo Algarve e orgulhar-se de serem algarvios. E há pessoas que têm vontade de mudar as coisas, de dar o seu contributo, mas tentam ser o soldado solitário, vão à luta sozinhos. Não podemos ser utópicos, ninguém consegue mudar o mundo sozinho”, finaliza Carlos Gouveia Martins .


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CRÓNICA

“… E JÁ AGORA: QUERIA PEDIR-TE UM FAVOR!” Paulo Cunha

(…) Genuínas e simples ações, como o convidar para um evento, para um jantar em grupo ou para uma festa, trazem, por vezes, uma segunda intenção implícita. Já não falando no despudor, insensatez e falta de vergonha com que se usa a palavra «Convite» para levar os convidados a financiar a atividade para a qual foram convidados. Sou do tempo em que quem convidava, convidava porque podia e queria. Sem mais… (…) ALGARVE INFORMATIVO #15

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unca vos aconteceu olhar para o visor do vosso telemóvel e, identificando quem vos está a telefonar, questionarem-se: “o que será que ele/ela me vai pedir?”… É um facto indesmentível, à medida que os anos vão passando, diminuem os contatos com os outros «apenas» com o intuito de dar, partilhar e conviver. A juventude ficou para trás e com ela a forma desprendida e ingénua de contactar e convidar pelo simples prazer de estar com... Eis senão quando, com a velhice, ressurge a vontade de rever, de procurar, de estar, de partilhar e de mostrar. Já sem a pressão dos dias cheios e ávidos de tarefas e prossecução de objetivos, onde os sorrisos e risos francos andam arredios e o simples prazer de desfrutar da companhia de alguém é quase proibitivo. Outro sintoma desta forma de «consumir» a vida, em vez de vivê-la com e para os outros, é a facilidade com que se chama «amigo» a simples conhecidos, retirando à palavra a sua carga efetiva e afetiva, vulgarizando-a e substituindo emoções por racionalizações. Genuínas e simples ações, como o convidar para um evento, para um jantar em grupo ou para uma festa, trazem, por vezes, uma segunda intenção implícita. Já não falando no despudor, insensatez e falta de vergonha com que se usa a palavra «Convite» para levar os convidados a financiar a atividade para a qual foram convidados. Sou do tempo em que quem convidava, convidava porque podia e queria. Sem mais… 20

Hoje, os «Convites» têm (quase) todos um preço. O preço para quem os pede, o preço para quem os dá e o preço para quem os aceita. Atente-se nos eventos públicos que são apoiados e financiados com dinheiros de todos nós e para os quais estão sempre reservados lugares para convidados que, de uma forma ou de outra, pagaram ou pagarão o convite a quem os convidou. Num tempo cada vez mais mercantilista e consumista, as trocas de favores têm outro nome e fazem-se de variadíssimas formas. É o tempo que temos, o tempo onde a finança e a política ditam as regras sociais! Observo, nada impávido nem sereno, os comportamentos de gente que transmite às gerações vindouras, procedimentos em que a deturpação e banalização de condutas que garantiam idoneidade, competência, honestidade e amizade, são agora uma constante. Não estou aqui a tentar arvorar-me em moralista, nem defensor acérrimo dos bons costumes. Não é essa a minha intenção, nem o meu estar na vida… de modo algum! Não posso é passar pela vida sem questionar, nem refletir sobre quais foram as razões que levaram os valores que me foram incutidos no seio familiar a ser adulterados pela minha geração. Continuo a achar que não vale tudo para lá chegar… Até porque o «lá» afasta-nos dos de cá, e nada poderá ser pior para quem cá está do que perder a «ligação à terra». Esta Terra de gente feita! .


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ATUALIDADE

TEATRO DAS FIGURAS ASSINALOU UMA DÉCADA DE EXISTÊNCIA AO SERVIÇO DA CULTURA

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Teatro das Figuras festejou, a 1 de julho, o seu décimo aniversário, com dois dias de comemoração que tiverem como momento alto a Gala Figuras, realizada no dia 30 de junho. Na Gala, apresentada pela atriz Filomena Cautela, o Teatro das Figuras distinguiu com os Prémios Figuras os dez artistas, companhias e produtoras que marcaram a atividade desta sala de espetáculos e que fizeram parte do seu percurso. Foram distinguidas com o Prémio Figuras o Cineclube de Faro, o Folkfaro – Folclore Internacional Cidade de Faro, a Companhia de Dança do Algarve, a Orquestra Clássica do Sul, a Rede Movimentate – Trajectórias de Programação Cultural em Rede, a produtora UGURU, o artista ALGARVE INFORMATIVO #15

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brasileiro Tom Zé, o ator Diogo Infante, a Companhia Nacional de Bailado e o músico Rodrigo Leão. Os prémios foram entregues pelo Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, pelo Diretor Delegado do teatro, Joaquim Guerreiro, pelo executivo da Câmara Municipal de Faro e pelo seu Presidente, Rogério Bacalhau. No discurso de abertura da Gala Figuras, o edil farense enalteceu o trabalho realizado nestes dez anos de atividade e evocou a memória de António Rosa Mendes, personalidade incontornável da cultura algarvia e presidente da estrutura de missão de Faro, Capital Nacional da Cultura 2005, no âmbito da qual foi inaugurado o Teatro das Figuras. Na Gala Figuras, o público, que encheu a sala para ouvir Michael Nyman, teve a oportunidade de apreciar ao vivo o trabalho sublime de um dos compositores mais inovadores da atualidade, considerado um dos ícones culturais mais fascinantes e influentes de nosso tempo. Michael Nyman interpretou algumas das peças mais marcantes da sua carreira, entre os quais é impossível não destacar os temas da banda sonora do filme «O Piano». As celebrações do aniversário estenderam-se ao dia seguinte, 1 de julho e encerraram com um DJ set de Xinobi, que a partir das 22h transformou o foyer do Teatro das Figuras numa improvável pista de dança, na qual o público pode desfrutar deste espaço de uma forma muito diversa da habitual e na qual ainda foi possível cantar os parabéns ao Teatro das Figuras e partilhar o seu bolo de aniversário .

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ATUALIDADE

XXI FESTIVAL INTERNACIONAL DE JAZZ DE LOULÉ AO VIRAR DA ESQUINA

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oi apresentado oficialmente, no último dia do Festival MED, o XXI Festival Internacional de Jazz de Loulé, pelas mãos do diretor artístico Mário Laginha, do presidente da Direção da Casa da Cultura de Loulé, João Espada, e do presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo. O mais antigo evento do género do país arranca, no dia 25 de julho, com o concerto da tÉssa e a banda troilarÉ (Jazz Kids), no Parque Municipal de Loulé, pelas 11h. No mesmo

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dia, acontece um Sunset Jazz, no «11 da Praia», na Praia do Ancão, às 18h. Antes disso, no dia 11 de julho, será a vez da exibição do filme «Bird», de Clint Eastwood, no Cineteatro Louletano, às 21h30. A apresentação do filme está a cargo de Vítor Reis Bapista, da ESEC/UAlg. Os pratos fortes do XXI Festival Internacional de Jazz de Loulé estão reservados para o dia 31 de julho, com o concerto de Carlos Martins «Absence» e TcheKa e, no dia 1 de agosto, de Carlos Bica – Trio Azul e Julian Argüelles Tetra, ambos na Alcaidaria do Castelo, a partir das 22h. O Festival Internacional de Jazz de Loulé é uma organização da Casa da Cultura de Loulé, com o alto patrocínio da Câmara Municipal de Loulé e o patrocinador oficial Associação Mutualista Montepio. O evento conta ainda com os apoios da Delegação Regional de Cultura do Algarve, Loulé Jardim Hotel e Cyber Systems e as parcerias da UAlg/ESEC, Cineclube de Faro e «11 Gourmet» . 24


SALIR REGRESSA AO PASSADO

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os dias 10 e 11 de julho, a vila de Salir volta a ser palco de mais uma edição do «Salir do Tempo», evento que proporciona uma experiência de regresso ao passado vivenciada intensamente pelos muitos visitantes que se deslocam a esta zona do interior do Concelho de Loulé, através da projeção de elementos vivos de uma época longínqua. O evento ganhará este ano uma nova dinâmica, com a redistribuição dos espaços e introdução de novas das atividades, promovendo-se uma maior dinâmica e interação com o público. Ponto estratégico durante o período da Reconquista, quando a transição do domínio muçulmano para o cristão deu origem às mais variadas demonstrações de força, Salir viveu também momentos intercalados pelas permanentes tentativas de normalização do quotidiano, em que as Artes tinham um papel importante na sociedade de então. É neste contexto que surge o «Salir do Tempo». Entre cristãos e muçulmanos, neste Festival de Artes do século XIII coabitam músicos, atores e artistas. O programa de animação integra grupos de música medieval, espetáculos circenses e cénicos, teatralizações, torneios de armas apeados e a cavalo, animação itinerante, grupos de dança medieval, treinos militares, demonstrações bélicas, encantadores de serpentes, falcoaria, dromedários, acampamentos medievais católicos e muçulmanos, gastronomia medieval e a recriação do mercado Promover o conhecimento da importância histórica do território e contribuir para o desenvolvimento turístico e cultural do Concelho de Loulé, pela valorização do seu património material e imaterial, pela sua função pedagógica e visibilidade aos agentes criativos locais e regionais são os objetivos inerentes ao evento .

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ATUALIDADE

PORTIMÃO COM MAIS CAPACIDADE PARA RESPONDER A INCÊNDIOS

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ecorre, de 1 de julho até 30 de setembro, o período crítico da Defesa da Floresta Contra Incêndios e, nesse sentido, o município de Portimão já anunciou que vai aumentar a capacidade de resposta em ataque inicial, assegurando o funcionamento de um destacamento do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF), na antiga Escola Primária da senhora do Verde, localizada na zona do barrocal de Portimão e mais próximo da zona de maior perigo de incêndio florestal no concelho, reduzindo em cerca 10 minutos a chegada do 1.º meio ao teatro de operações. Na ocasião foram igualmente apresentados os trabalhos em curso de realização de 54 hectares de faixas de gestão de combustível, medida essencial na proteção da nossa área rural, e para quem tem de combater eventuais incêndios florestais. A sessão prosseguiu no Porto de Lagos, onde a presidente da autarquia entregou 100 equipamentos de proteção individual para todos os Bombeiros do quadro ativo, num investimento total de 35 mil euros e que resultou de um protocolo com a Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Portimão (AHBVP).

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Esta medida vem garantir que todos os Bombeiros de Portimão, sem exceção, desempenham a sua missão com um nível de proteção adequado ao risco, e que além do fato de proteção, botas, luvas e capacete, importa sublinhar ainda a atribuição individual de uma mascara de partículas, que vem introduzir uma proteção respiratória, até ao momento inexistente em cenário de incêndio rural. Seguiuse o ato de ingresso no Quadro Ativo, quer na carreira de oficial-bombeiro (22 elementos), bem como na carreira de bombeiro (17 elementos). Na sua intervenção a Presidente da Câmara Municipal de Portimão referiu que, num espaço de um ano, o Serviço Municipal de Proteção Civil e os Bombeiros de Portimão passaram a ser uma referência no país, sendo uma das corporações com melhores meios técnicos e humanos ao seu serviço. Lembrando igualmente que a Segurança e a Capacidade de resposta em termos de saúde são fatores basilares na escolha de um destino turístico, Isilda Gomes aproveitou para saudar os novos Bombeiros e agradecer em nome da população de Portimão o seu empenho nas novas funções .

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CRÓNICA

E OS HELLÁS?

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Paulo Bernardo Empresário pb700123@gmail.com

(…) Nas escolas gregas são ensinadas danças tradicionais, como forma de educar os mais novos sobre as tradições do povo. Um povo que ainda tem muita gente viva que viveu o terror da segunda guerra mundial, que passa essas histórias aos seus descendentes. Por favor, não julguem os gregos pelas notícias, nem pelas histórias que se ouvem um pouco por todo o lado. Será como julgar pensar que todos os portugueses tem bigode ou que todas as portuguesas vestem de preto(…) ALGARVE INFORMATIVO #15

e existe um povo que eu admiro é o Grego, pelo que foi e pela forma como me tratou durante os meus tempos de estudante na Grécia. Fico incomodado e escandalizado por tantos palpites cá do burgo, fico triste pelo serviço que alguns portugueses estão a prestar a interesses estranhos. Opiniões essas que ficam muito mal na boca dos nossos governantes e não entendo como é possível o nosso primeiro-ministro ou o nosso viceprimeiro ministro terem opiniões em relação a um povo que apenas foi vítima dos seus políticos e dos grandes lobbys do dinheiro. Só consigo entender estas opiniões como favores que se fazem hoje para poderem receber algo amanhã. Fico triste por ter políticos deste calibre a governar o meu país. Os gregos são um povo com uma coragem brutal e um orgulho enorme, por isso, o que sair deste referendo vai ser uma decisão certa tomada por um povo maduro e habituado a resistir. Nas escolas gregas são ensinadas danças tradicionais, como forma de educar os mais novos sobre as tradições do povo. Um povo que ainda tem muita gente viva que viveu o terror da segunda guerra mundial, que passa essas histórias aos seus descendentes. Por favor, não julguem os gregos pelas notícias, nem pelas histórias que se ouvem um pouco por todo o lado. Será como julgar pensar que todos os portugueses tem bigode ou que todas as portuguesas vestem de preto. Conto uma história do meu amigo Stelios, grego de Salónica, que durante a 28

guerra na ex-Jugoslávia sempre apoiou os Sérvios. Desde receber na sua casa crianças sérvias na época natalícia, como alterando a sinalização para que a NATO se atrasasse na chegada à Servia. E apoiava os sérvios porque estes tinham ajudado os gregos na segunda guerra mundial. São uns tipos estranhos os amigos gregos. Saia o que sair do referendo, espero que a Grécia volte à paz. Nota da semana: O custo do Novo Banco, que supostamente não teria custos. Nem uma palavra sobre este tema pelos responsáveis deste país, fica estranho esta gestão de recuperar bancos e afundar famílias. Fico apreensivo sobre como vai ficar o deficit, já se fala de 6%. Se tal acontecer, vai ser mais um problema grave para a nossa economia e, por conseguinte, para o povo. Vamos aguardar. Figura da semana: Miguel Relvas – voltou a aparecer com todo o seu glamour durante o lançamento do seu livro, onde explica como acabou com inúmeras freguesias por esse país fora. Reforma que eu sempre fui contra pois acabou com uma quantidade de serviços de proximidade para as populações mais necessitadas. Fico satisfeito por os amigos do Miguel terem aparecido em peso, desde Pedro Passos Coelho a Durão Barroso, o que demonstra que o Miguel é mais um exemplo de empreendedor, juntamente com o já famoso Dias Loureiro .


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CRÓNICA

UMA VIRAGEM PARA O ENSINO PROFISSIONALIZANTE. NEGLIGÊNCIA PERIGOSA OU NÃO?

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Hélder Rodrigues Lopes

(…) Na atualidade, a generalidade da Organização Social assenta essencialmente na economia e nos mercados financeiros, sendo o acesso ao dinheiro o seu dominador. Assim sendo, a especulação, a manipulação e a exploração sobre os mais vulneráveis é essencial para a manutenção do enriquecimento dos grupos económicos dominantes (…) ALGARVE INFORMATIVO #15

semana começa com a notícia que um número significativo de alunos está a optar pelo Ensino Profissionalizante, será isto o resultado de uma negligência perigosa, ou não? Não considero importante estar contra ou a favor. O que entendo determinante é as Famílias e os Alunos terem acesso a todos os elementos para poderem decidir em consciência. Para isso, aproveito a oportunidade para por aqui mesmo colocar algumas considerações sobre este tema. Já escrevi que a Nova Liberdade está diretamente relacionada com o Conhecimento, isto é, a capacidade e habilidade conseguidas em cada indivíduo para adquirir conhecimento novo terá como consequência a Liberdade para a decisão. Esta concetualização deve de comandar todas as decisões das Famílias e dos seus Alunos. Analisemos pelo quadrante da Organização Social. a Globalização é um facto e o acesso ao Trabalho cada vez mais restrito, por esta razão, cada Indivíduo deve de estar preparado para o Trabalho cada vez mais especializado e competitivo que pode ou não estar no seu meio ambiente. A tomada do Poder pela Economia e Mercados Financeiros tornou a Sociedade mais vincada nas suas divisões sociais. Os ricos cada vez mais ricos e em menor número e os pobres cada vez em maior número e mais vulneráveis e sobre isto há muito pouco discutir, pois é um dado explícito. Na atualidade, a generalidade da Organização Social assenta essencialmente na economia e nos mercados financeiros, sendo o acesso ao dinheiro o seu dominador. Assim sendo, a especulação, a manipulação e a exploração sobre os mais vulneráveis é essencial para a manutenção do enriquecimento dos grupos económicos dominantes. Mas também o conhecimento, a preparação, a exigência, a competição e a competência estão presentes e são elementos determinantes no acesso à prosperidade de cada Indivíduo. Quer isto dizer que o que hoje parece ser benéfico, num futuro muito próximo pode tornar-se fortemente prejudicial. Os cursos profissionalizantes trazem um sucesso essencialmente virtual, a preparação é fraca 30

sobre os temas abordados, mas mais grave é a fraca competência e habilidade adquiridas para aquisição de conhecimento novo. Esta tipologia de ensino serve particularmente os interesses dos grupos económicos porque, desta forma, tem acesso a um maior número de pessoas vulneráveis, logo, mais e melhor manipuladas. Analisemos finalmente pelo quadrante do desenvolvimento cognitivo de cada Indivíduo. O acesso ao conhecimento pelo desenvolvimento das capacidades e habilidade para Aprender deve ser tomado logo desde cedo e as Famílias tem um papel fulcral neste caminho. Neurobiologicamente, o Aprender interfere na dinâmica funcional do sistema nervoso central e o inverso também. Os estudos mais recentes focam-se em dois grupos de questões: as bases celulares e moleculares da plasticidade neuronal e a organização cerebral no contexto dos comportamentos e respostas do Aprender. As alterações comportamentais e/ou de resposta condicionada e a evolução da sensibilização estão correlacionadas com as modificações rigorosas do circuito neuronal envolvido no estímulo/resposta, cuja consequência é a facilitação pré sináptica, o crescimento dos locais recetores e das zonas ativas membranárias, o aumento das trocas iónicas transmembranais e o aumento das transduções intracelulares. Um outro tipo de facilitação sináptica é a potencialização a longo prazo, que é conceptualmente aceite como um mecanismo essencial nos processos de aprendizagem. A disponibilidade de cada um para Aprender está relacionada com a amplitude da potencialização e a facilidade da indução, por outro lado, a indução de uma potencialização favorece as aprendizagens posteriores, também a aprendizagem favorece o desenvolvimento da potencialização. Em forma de conclusão, e sem entrar em considerações sobre o valor pedagógico deste tipo de formação e muito menos sobre o trabalho que é meritório dos professores responsáveis por esta formação, o desenvolvimento de motivações para a aprendizagem é o elemento fulcral na formação dos Novos Indivíduos e não o facilitismo dos processos formativos .


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ENTREVISTA

PEDRO MARTINS CAMPEÃO NACIONAL DE BADMINTON QUER IR AOS JOGOS OLÍMPICOS DO RIO DE JANEIRO Depois de ter marcado presença nos Jogos Olímpicos de 2012, disputados na cidade de Londres, o algarvio Pedro Martins quer repetir a dose em 2016, desta feita com destino marcado ao Rio de Janeiro. Campeão nacional de badminton há vários anos consecutivos, é uma estrela nas competições internacionais em que defende as cores portuguesas e, se tivesse nascido na Dinamarca ou na China, por exemplo, seria idolatrado por milhões. Em Portugal, porém, Pedro Martins sofre do mesmo mal que centenas de campeões de múltiplas modalidades que vivem completamente à sombra do futebol. Texto: Daniel Pina Fotografia: Vítor Rocha ALGARVE INFORMATIVO #15

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ortugal continua nas bocas do mundo graças ao brilharete que os Sub-21 fizeram no Campeonato da Europa de futebol realizado na República Checa e onde, para não variar, sucumbiram na final na lotaria das grandes penalidades. Quis o destino, porém, que Portugal estivesse em evidência também pelos excelentes resultados alcançados nos Jogos Europeus que tiveram lugar em Baku, capital do Azerbaijão, onde os atletas lusitanos conquistaram 10 medalhas em oito modalidades distintas. E ditou a sorte que Miguel Oliveira vencesse também o Grande Prémio da Holanda de Moto3. Resumindo, por algum alinhamento extraordinário das estrelas ou planetas, a comunicação social foi «forçada», de modo geral, a abrir os olhos para o que se passa para além do futebol, porque parecia mal engrandecer os Sub-21 por serem vicecampeões europeus e não darem igual destaque a atletas de outras modalidades pelas vitórias e medalhas que trouxeram para Portugal. Quis o azar, contudo, que Pedro Martins não disputasse nenhum torneio de badminton nesta semana cor-de-rosa para o desporto nacional, pois teria, também ele, o merecido reconhecimento. Assim, o facto de ser campeão nacional há vários anos consecutivos, ter estado nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, e brilhar em diversos torneios internacionais permanece praticamente desconhecido da opinião ALGARVE INFORMATIVO #15

pública, um facto a que o portimonense de 25 anos já está habituado. A completar o terceiro ano do curso de Educação Física e Desporto no Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, Pedro Martins começou a praticar desporto aos seis anos e logo no badminton. Ainda chegou a experimentar o futebol e até lhe disseram que tinha jeito, mas os horários dos treinos eram incompatíveis com a sua verdadeira paixão. “O

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Parchal sempre teve uma grande tradição nesta modalidade e a malta toda que vive nesta freguesia praticou no Che Lagoense, o mesmo acontecendo com o meu pai. É um desporto que tem velocidade, força, técnica e fiquei logo fascinado”, explica. “No início, os miúdos jogam com um volante de plástico, mais adaptado às características das crianças, e é bastante fácil ter-se logo sucesso. Depois, com o


ENTREVISTA

desenvolver do corpo e das nossas capacidades físicas, passamos para os volantes de penas, que são mais rápidos. Não é uma modalidade estanque, há sempre desafios e aspetos a melhorar e, como é bastante tecnicista, requer muitas horas de treino, portanto, não nos conseguimos fartar dela”. Com apenas 15 anos, Pedro Martins é convocado para a Seleção Nacional de Seniores

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europeu de juniores. No meu último ano como júnior fui também campeão nacional de seniores, o que me deu uma motivação extra para continuar”, recorda o jovem. Continuou e muito bem, de tal modo que defendeu as cores portuguesas nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, o ponto mais alto da carreira de Pedro Martins até à data. “Chegamos a um nível onde somos todos muito bons física e tecnicamente e a diferença entre o ganhar e perder é a parte psicológica e a tática. Temos que ser persistentes e não desistir à primeira ou à segunda derrota ou percalço, porque ninguém chega a campeão do mundo do dia para a noite”, avisa Pedro Martins. O problema é que, à medida que a idade avança, aumenta o chamamento de outras atividades ou prazeres, as idas à praia, os namoricos, as saídas noturnas com os amigos, já para não falar, claro, das tarefas escolares. “Vinha de um torneio e na mesma semana tinha três ou quatro testes, porque os professores precisavam lançar as notas. Felizmente que consegui o estatuto de alta para disputar um campeonato competição, o que me facilitou da europa, numa altura em que imenso a vida ao nível da já participava regularmente em calendarização dos exames, outras provas internacionais, mas havia sempre aqueles mas como júnior. “Ao encontrar professores que diziam que a adversários com 18 ou 19 anos, vida é feita de escolhas e que ao princípio foi complicado gerir eu não podia andar dividido essa diferença de nível, mas entre os estudos e o desporto. consegui adaptar-me Eu sempre tentei gerir essas rapidamente e obter sucesso duas vertentes e penso que me nesse escalão superior. Comecei sai bem”, refere, com um a ganhar com naturalidade os encolher de ombros. torneios onde ia e liderei, durante dois anos, o ranking

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POUCO APOIO PARA UMA MODALIDADE QUASE DESCONHECIDA Apesar disso, sabendo-se que a parte psicológica é uma das pedras chaves do sucesso no badminton, havia momentos mais difíceis de ultrapassar do que outros, confirma Pedro Martins. “Às vezes estava no treino e a pensar na escola e vice-versa, nunca estava 100 por cento concentrado. A família foi um apoio essencial, nunca me deixou desistir na escola e ainda bem, porque ter só uma atividade acaba por ser mais saturante”, destaca, acrescentando que a ida para o ensino superior não trouxe problemas de maior porque escolheu uma universidade perto de casa e continuava a ter um pavilhão disponível para treinar 24 horas por dia. “Os professores eram compreensivos, mantinha o estatuto de atleta de alto rendimento, só que tive um acidente de carro a fazer uma prova de orientação na escola. Fiquei impedido de treinar e parei de competir quase um ano e meio. Não conseguia agarrar a raquete porque afetou-me o sistema nervoso central na zona cervical e foi uma recuperação complicada. Só com o apoio da família, dos amigos e do médico é que venci essa batalha”, lembra, consciente de que a sua carreira desportiva podia ter terminado ali. A recuperar a forma e empenhado em garantir a presença em mais uns Jogos Olímpicos no próximo ano, na cidade de Rio de Janeiro, não nos podemos esquecer, todavia, do outro lado da moeda, da ALGARVE INFORMATIVO #15

parte dos apoios e patrocínios, das questões logísticas e administrativas, sabendo perfeitamente que, em muitas modalidades, esse é o calcanhar de Aquiles dos atletas. “Infelizmente, não somos tão profissionais como deveríamos ser nesse aspeto. Ainda muita gente não sabe o que é o badminton, a modalidade não é divulgada, não há ajudas financeiras e, por isso, há 35

jovens que nem sequer querem tentar a sua sorte”, desabafa. Este sentimento de desalento cresceu de forma abrupta quando teve contato com os praticantes de outros países, que iam para os torneios internacionais com uma comitiva a seu lado, entre treinadores, dirigentes, preparadores físicos e tudo o mais. “Eu vou sozinho à maioria dos torneios, mais uma colega,


ENTREVISTA

o que é bastante ingrato. Enquanto os adversários estão a descansar nos quartos, eu tenho que tratar do alojamento, dos voos, ir à reunião de treinadores para saber o horário dos treinos e dos autocarros, ir às compras ao supermercado”, descreve. O problema, contudo, não é pertencer a um clube de cariz regional, advém, sim, do facto de Portugal só prestar atenção ao que acontece no futebol, o que impede os atletas de outras

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também lhe dizia para ir jogar à bola, porque tinha mais futuro e apoios. O mais importante devia ser a criança gostar do que está a fazer e não o dinheiro que vai ganhar. Com ou sem apoios, eu cheguei onde queria porque batalhei sempre, nunca desisti, porque gosto verdadeiramente desta modalidade”, frisa Pedro Martins. Batalhar dentro, mas também fora das linhas do court, porque é preciso manter a condição física, ir ao ginásio, seguir uma alimentação saudável, não beber nem fumar, não exagerar nas saídas noturnas, o costume para quem quer ser um atleta de sucesso. Sacrifícios conhecidos, mas que nem todos conseguem fazer, observa o entrevistado. “Eu, como tinha tanta coisa com que me preocupar, nem pensava nessas tentações. Hoje, sei que perdi muitas noitadas com os amigos por causa dos torneios mas, no final de tudo, valeu a pena. Com o badminton conheci o mundo e outras pessoas e, lá fora, o meu valor é reconhecido”, assume, respondendo que, apesar de todas as adversidades, nunca modalidades de alguma vez pensou sair do Parchal e do Che serem profissionais a 100 por Lagoense. “Ainda hoje recebo cento. “Qualquer clube da convites para representar segunda liga de futebol tem outros clubes, mas prefiro patrocinadores, até os clubes manter as condições de treino mais pequenos dos distritais, e que tenho e estar perto da um praticante de badminton minha família, do que ir lá para que vai aos Jogos Olímpicos não fora ganhar mais dinheiro. Há recebe ajudas nenhumas”, atletas que mudaram por lamenta o campeão nacional, questões financeiras, chegaram avisando que, assim, não é fácil aos novos clubes e constataram cativar as novas gerações, que que queriam aproveitar-se do buscam um reconhecimento seu talento para elevarem a mais rápido dos seus feitos. “Se fasquia dos seus próprios tivesse um filho, se calhar atletas e do seu país. Somos

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utilizados para fazer crescer os outros e, por causa disso, deixamos nós próprios de evoluir”. Como Pedro Martins pretende ficar junto dos seus e sabe que, em Portugal, não pode viver só do desporto, está a tirar um curso universitário, mas ainda não pensou se, depois de arrumar a raquete, se vai tornar treinador ou dirigente. “Neste momento, só penso em jogar badminton e sei que ainda tenho muito para dar à modalidade. Tenho experiências e conhecimentos para partilhar, mas isso faço-o normalmente nos treinos com os mais novos. Fui tirar um curso de Desporto para me completar enquanto atleta, não para preparar o salto para treinador ou dirigente”, explica, já de olhos postos no Rio de Janeiro, pois o período de

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qualificação arrancou no passado mês de abril. “Até abril de 2016 tenho que participar em 10 torneios pontuáveis para o ranking mundial e só vai o melhor de cada país. Posso ser campeão nacional nos últimos anos, mas isso não significa que tenha o meu bilhete garantido, o que conta são as competições internacionais para subir no ranking”. Com torneios realizados em todo o mundo, os mais fortes disputam-se na Ásia, onde há uma grande tradição em desportos de raquete e onde Pedro Martins mais sente a diferença de condições. “Para ir a um torneio na Ásia, gasto três ou quatro vezes mais do que se for a uma prova na Europa, portanto, não há grande escolha a fazer. Mas é óbvio que era mais vantajoso para mim ir aos torneios asiáticos,

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porque é a competir com os mais fortes que também evoluímos”, salienta, mas a verdade é que o dinheiro pesa mais e nem sempre as despesas são todas asseguradas pelos clubes. “Espero estar nos próximos Jogos Olímpicos, mas esta qualificação vai ser mais difícil, pois existem muitos jogadores a alcançarem bons resultados. Isso obriga-me a ir ao máximo de torneios possíveis, porque as coisas podem correr menos bem num e tenho que compensar noutro”, finaliza antes de iniciar mais um treino, não sem antes agradecer os apoios da Câmara Municipal de Lagoa, do Che Lagoense, da GFI Medicine, à professora Carla Martins, ao treinador Pinto Leite e a todos os seus colegas .


ENTREVISTA

WILSON PIRES A ARTE DE BEM RECEBER É O MAIS IMPORTANTE PARA O BARMAN DO ANO A chegada dos dias e noites escaldantes convida a cocktails refrescantes e não admira, por isso, que o Verão seja um dos períodos do ano em que os barmans mais estão em destaque, seja nas principais unidades hoteleiras da região, ou nos inúmeros bares e discotecas de Sagres a Vila Real de Santo António. Claro que, como é óbvio, há barmans que se limitam a servir imperiais, vodkas redbull e whiskey cola, e há os famosos pela sua mestria em produzir e servir os cocktails mais indicados para cada época do ano e altura do dia e que mais se adequam ao perfil do cliente, homens ou mulheres, jovens ou menos jovens, latinos, britânicos, escandinavos, asiáticos, norte-americanos e por aí adiante. De repente, ser barman deixa de ser tão linear como aparenta e foi por isso que estivemos à conversa com Wilson Pires, o Barman do Ano 2014. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #15

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22 de julho do ano transato, a vida mudou, quase de um dia para o outro, para Wilson Pires, ao ser eleito o Barman do Ano na 1ª edição do Concurso Nacional de Barman. Depois de ter superado três etapas de apuramento, o profissional do Conrad Algarve, na Quinta do Lago, levou à final três cocktails, «Sem Stress», «Caixa do

surpresa. Para além do título, o farense de 25 anos foi premiado com um curso na «Bols Bartending Academy», em Amsterdão, uma Tour com Pedro Paulo pelos melhores bares de Londres e formação na fábrica da holandesa Libbey. Recuando alguns anos percebemos, porém, que o rumo do jovem podia ter sido bem diferente pois, apesar da licenciatura em Turismo tirada na Universidade do Algarve,

chegaram a augurar um futuro promissor e da qual fazia parte também Diogo Piçarra, agora uma estrela pop a solo. “Quando somos miúdos, o sonho é ter uma banda, ser ator ou jogador de futebol, ou seja, algo que nos permita ser famoso e que, à partida, parece não dar muito trabalho. Demos mais de 200 concertos pelo país todo e era eu que tratava do agenciamento da banda, da comunicação para o

Mistério» e «Saudade», um Gin Tónico, um cocktail de autor e o último elaborado utilizando exclusivamente os ingredientes contidos num cesto

estava bastante inclinado para seguir uma carreira ligada à música e pertenceu, durante quatro anos, aos «Fora da Bóia», banda a quem muitos

exterior, das entrevistas, da organização dos concertos, tratar das deslocações, refeições e estadias. Isso fez-

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ENTREVISTA

me crescer muito a nível pessoal”, recorda Wilson Pires. Contudo, e apesar de ter havido algumas oportunidades para dar o salto para um patamar superior, os «Fora da Bóia» deram por finda a sua existência e cada elemento seguiu o seu próprio caminho profissional. E o caminho de Wilson levou-o a trabalhar mais uma vez num bar durante o Verão para ganhar dinheiro para ajudar com as despesas da universidade. “O espaço tinha os cocktails tradicionais, os mojitos e caipirinhas, e apaixonei-me pela possibilidade de misturar sabores e criar novas bebidas que nunca ninguém tinha imaginado antes de mim. Não houve qualquer tipo de influência, os meus pais estavam ligados a setores completamente distintos, mas trabalhar num bar era uma forma fácil de ganhar dinheiro ALGARVE INFORMATIVO #15

nas férias e de ter contato com imensa gente”. Wilson Pires confirma que, na época, os bartenders eram verdadeiras estrelas, como se fossem músicos ou atores a pisar um palco, um pouco à imagem da personagem interpretada por Tom Cruise no filme «Cocktail», e lembra que Portugal teve, nos anos 80, três campeões mundiais nesta atividade. “Ser bartender faz parte da nossa tradição, depois, cada um decide o quanto quer estudar para se tornar um expert na arte de bem receber. Claro que o concurso «Barman do Ano» deu outra visibilidade à profissão, temos o World Class, cuja final aconteceu esta semana, e imensas competições que estão a apostar em Portugal”. Ser o melhor de todos nunca foi, contudo, a pretensão de Wilson Pires à medida que ia 40

dando passos sólidos na carreira de barman, estava sim preocupado em aprender cada vez mais e melhorar continuamente. “A minha grande paixão sempre foi viajar e sabia que, na indústria hoteleira, se formos bons – não é preciso ser o melhor – conseguimos trabalhar em qualquer parte do mundo. Compreendi que estava numa profissão onde me conseguia divertir, que até gostava de fazer e que me permitia conhecer outros países e continentes. Foi essa motivação que me levou a estudar sempre mais e mais, mas nunca pensei que pudesse chegar onde cheguei, e muito menos num tão curto espaço de tempo”, admite Wilson Pires. Conhecimentos que recolheu graças a muita pesquisa em livros da especialidade e na internet, mas também do


convívio e a trabalhar com outros colegas, porque teve a sorte de encontrar profissionais mais experientes e que não tinham medo de partilhar o seu saber. “Aprendi a perguntar «porquê» e «como é que se faz» e fui abençoado por trabalhar com pessoas magníficas e que tinham gosto em passar o seu conhecimento”, enaltece o entrevistado, adiantando que a sua «universidade» foram os sete meses que passou nos cruzeiros. “Comecei como empregado de mesa, depois fiz um exame para subir para bartender e foi nesse período que aprendi a arte de bem receber, que é o mais importante do mundo da hotelaria e num bar”.

saúde. Há cocktails mais indicados para os dias e noites quentes de Verão e outros

ideais para as temperaturas mais frias de Inverno. Há bebidas específicas para servir à noite, outras para o resto do dia. Mesmo homens e mulheres, jovens e menos jovens, têm gostos tradicionalmente diferentes, UMA PROFISSÃO para o que contribui, EM CONSTANTE MUTAÇÃO igualmente, as próprias nacionalidades, e tudo isso um Ser barman é, de facto, uma barman de elite tem que saber. profissão visualmente vistosa, “Não é uma profissão tão linear os malabarismos que executam como se possa imaginar e faz com as garrafas e copos, os parte do nosso trabalho tentar movimentos de corpo enquanto perceber o paladar das misturam ingredientes, os pessoas. A própria música do olhares de galã com que bar influencia, às vezes, as brindam, por vezes, as clientes escolhas dos clientes e o nosso femininas, mas muito mais há objetivo é proporcionar-lhe a por detrás do espetáculo. Na melhor experiência possível. E hora da verdade, há misturas a «gorjeta» não é só a que não se devem fazer, não só gratificação em dinheiro, é o por causa do sabor final do cliente dizer que foi o melhor cocktail, mas porque podem, cocktail que bebeu na sua vida, inclusive, causar problemas de que vai voltar àquele local e ALGARVE INFORMATIVO #15

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que vai recomendá-lo aos amigos”. O problema é que um barman

nunca pode pensar que já possui todos estes conhecimentos, porque há sempre bebidas novas a aparecer no mercado, novos ingredientes, novos copos de cocktail, novas técnicas, ou seja, é uma profissão que exige uma atenção permanente. “Os próprios artistas estão sempre a surgir com ideias e gostos novos que geram diferentes tendências e podemos aprender igualmente com os cozinheiros e pasteleiros com as suas técnicas de confeção, a forma como misturam ingredientes, como lidam com os frutos e vegetais”, sublinha o entrevistado, chamando ainda a atenção para outro aspeto fundamental nos dias que correm, a gestão dos próprios stocks do bar. “Não podemos chegar só 15 minutos antes de entrar ao serviço, vestir a farda


ENTREVISTA e picar o ponto. Há cuidados que é necessário ter com os frutos frescos e há barmans que fazem os seus próprios sumos, purés e compotas caseiras, bem como o vermute e o gelo. Estamos ao nível dum chefe de cozinha no que toca ao material e condições do local de trabalho”, garante Wilson Pires. Resta saber se, face a todas estas exigências e responsabilidades, compensa ser barman ou se as entidades patronais não reconhecem a mais-valia de ter ao ser serviço um profissional que assuma todas estas tarefas. “Tudo depende, realmente, do local de trabalho e do patrão, mas quem tem todo este conhecimento, mais cedo ou mais tarde acaba por conseguir demonstrá-lo e ser valorizado por isso. Infelizmente, às vezes, falta uma pontinha de sorte para um profissional de topo encontrar um local onde seja remunerado de forma justa e, noutros casos, há quem não mereça o que está a receber”, observa, garantindo que, no seu caso, não tem motivos de queixa. “Claro que há aqueles que, por muito que ganhem, dizem sempre que podiam receber um bocadinho mais. Eu estou a ser pago por fazer aquilo que mais gosto e também dou bastante importância às condições de trabalho, ao apoio que a entidade patronal nos dá, ao carinho com que nos tratam, ALGARVE INFORMATIVO #15

ao relacionamento com os colegas”. E ser «Barman do Ano 2014» que trouxe de diferente à vida de Wilson Pires, questionamos. “Eu nunca quis ser o melhor, mas sempre desejei servir de inspiração para alguém e o título deu-me exposição mediática para o conseguir fazer. Criei uma identidade própria, um estilo, uma linha e, através desse momento mágico, consegui chegar a

nome –, mas Wilson Pires não tem uma resposta concreta para dar, porque nunca imaginou que a sua vida mudasse tanto num ano. “Temos que adaptar os projetos ao que a vida nos dá e se, hoje, estamos bem, amanhã podemos estar melhor ou pior. A minha vontade era, de seis em seis meses, mudar de país e continuar a conhecer pessoas e a aprender técnicas e sabores novos. No final do dia, é a

inúmeras pessoas que me dão os parabéns pela lufada de ar fresco que trouxe a esta profissão”, refere, sem falsas modéstias, reconhecendo que o título também lhe dá uma responsabilidade acrescida quando vai a algum concurso ou exibição. “Não posso levar uma coisa mais ou menos, estão todos à espera para ver que novidade vou introduzir”. Neste contexto, que mais se pode esperar de um jovem que atingiu um patamar tão elevado com apenas 25 anos - continuar na hotelaria, abrir o seu próprio bar ou restaurante, dar aulas numa academia com o seu

experiência que faz de nós uma pessoa melhor”, considera, prosseguindo: “Não preciso abrir uma academia para transmitir os meus conhecimentos, basta chegarem ao pé de mim e perguntarem-me que eu explico, da mesma maneira que fizeram comigo quando era mais novo. Também não sei se um dia terei um bar ou uma casa de música. Para já, quero apenas continuar a crescer, como bartender, como profissional e como pessoa. Depois, de ano para ano, logo se vê o que esta viagem me vai trazendo” .

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12.º FESTIVAL MED FICA PARA A HISTÓRIA singular de antigos artefactos sonoros asiáticos como o haegeum (um parente próximo do violino), o piri (um instrumento de sopro) e o geomungo (uma cítara atacada por paus que ora servem de baqueta como de palheta) com um rock puro e duro, criaram um momento verdadeiramente entusiasmante junto do público. De destacar ainda nesta noite o regresso dos Babylon Circus ao Festival MED, uma verdadeira festa em palco que se estendeu à plateia, tal como os Skip&Die, com a vocalista Cata.Pirata a juntar-se ao público para celebrar esta festa de sonoridades.

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urante três dias sons, cores, cheiros e sabores de todo o mundo estiveram presentes na Zona Histórica de Loulé, naquela que foi uma das melhores edições do Festival MED, evento de World Music que assinalou 12 anos de existência. Tal como em 2009, ano em que os cubanos Buena Vista Social Club foram cabeças-de-cartaz atraindo uma verdadeira multidão, também na presente edição a lotação do MED esteve esgotada, sobretudo na noite de sábado, ficando assim para a história deste festival. O ambiente mediterrânico das típicas ruas e ruelas e as temperaturas elevadas que se registaram nos últimos dias, a par do cartaz artístico de elevada qualidade, criaram a atmosfera ideal para concertos com o que de melhor se faz atualmente na área das músicas do mundo, e o público respondeu a estas atuações com muita animação. Em termos musicais, o grande destaque da primeira noite, quinta-feira, foi para a fadista Carminho, com uma plateia composta não só por portugueses mas também pelos muitos estrangeiros que estiveram no recinto. À semelhança do que aconteceu em 2014, com uma presença explosiva da Ásia representada pelos japoneses Turtle Island, este ano coube ao grupo sul-coreanos Jambinai representar o continente asiático. A mistura ALGARVE INFORMATIVO #15

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típica cada de fados onde o público pôde assistir a espetáculos protagonizados por fadistas locais e, ao mesmo tempo, degustar petiscos bem portugueses. Integrado na animação de rua, o Cante Alentejano marcou presença através de quatro grupos que levaram os sons e indumentárias desta tradição do Alentejo. Por outro lado, a Dieta Mediterrânica esteve representada sobretudo no Open Day, domingo, dia de entrada livre dedicado especialmente à gastronomia, em Também de regresso a Loulé, pela terceira vez, os que os espaços de restauração apresentaram criações originais com base em ingredientes e israelitas Balkon Beat Box foram os protagonistas produtos genuinamente mediterrânicos. daquele que foi considerado por muitos como o melhor concerto desta edição. Máquina de ritmos A título de balanço, o diretor do Festival, Hugo e de uma multiplicidade de sonoridades onde a Nunes, sublinhou os fatores que contribuíram para música cigana dos Balcãs e o klezmer judaico, a o sucesso desta edição: “um cartaz fabuloso e o música árabe e grega, o rocksteady e o dub, o tempo que deu uma ajuda e que fez com que as house e o tecno, o rock e o funk ou o gnawa e o pessoas tivessem vindo em massa”. E porque não bhangra convivem livremente, os Balkon Beat Box é só o público que ganha com o Festival MED, o não deixaram ninguém indiferente. Na noite de vice-presidente da Câmara Municipal de Loulé sexta-feira o destaque vai também para os salientou a importância do evento para a peruanos Cumbia All Stars, que tão bem dinamização da economia local e regional, representaram o ritmo quente e sensual da nomeadamente nas áreas da hotelaria e cumbia. A nigeriana Nneka era, à partida, um dos restauração. Depois do sucesso deste ano, as nomes mais sonantes do cartaz musical deste ano expetativas estão elevadas para a próxima edição do Festival MED. Com a responsabilidade de ser e, nesse sentido, Hugo Nunes adiantou que a considerada uma referência no panorama das organização está já a trabalhar para que em 2016 o músicas do mundo, com concertos e vários Festival MED continue com os mesmos níveis de galardões, a artista atuou no sábado no Palco adesão do público e a mesma qualidade artística . Matriz e fez jus à sua notoriedade, levando a Loulé a sua música mas também os eus propósitos políticos e sociais. E porque o MED não é só música mas uma fusão cultural onde há espaço para as artes plásticas, gastronomia, artesanato ou animação de rua, este ano a organização do evento quis também prestar homenagem a três Patrimónios Imateriais da Humanidade – Fado, Cante Alentejano e Dieta Mediterrânica – criando para tal novos espaços e momentos únicos. Os Claustros do Convento transformaram-se numa ALGARVE INFORMATIVO #15

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ATUALIDADE

CLUBE ORIENTAL DE PECHÃO CONQUISTOU TÍTULOS NACIONAIS

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o Campeonato Nacional de Juvenis, que decorreu no final de junho em Fátima, os atletas do Clube Oriental de Pechão (COP) – Iniciados e Juvenis – conquistaram quatro títulos como campeões nacionais (três individuais e uma estafeta). Uma das atletas em destaque foi a Iniciada Fatoumata Diallo, que obteve o título nos 300 metros planos (40,58), assim como a medalha de bronze nos 200 metros (25,69), conquistando assim dois recordes regionais; contribuiu igualmente de forma significativa para a conquista da Medalha de Ouro da Estafeta Medley: Carla Unguêm fez os 100 metros; Emaly Barbosa os 200 metros; Inês Farias os 300 metros e Fatoumata os 400 metros, obtendo 2.23,26 (novo recorde do Algarve). Com estes resultados, Fatoumata Diallo está pré-convocada para o Festival Olímpico da Juventude Europeia (FOJE), que se realiza em Tiblisi (Geórgia) no final de julho.

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Nos 5.000 metros marcha, o COP conquistou os dois títulos (feminino e masculino). Carolina Costa realizou 25.41,00 (atleta que já tem mínimos para a participação no Campeonato do Mundo de Juvenis, que decorrem em Cali (Colômbia), neste mês de julho, aguardando ser selecionada, e Rodrigo Marques fez 23.48,95. Coletivamente, o COP obteve uma das melhores classificações de sempre para o atletismo algarvio, tendo a equipa feminina conquistado um honroso 4.º lugar (73 pontos), logo atrás do Benfica (185 pontos); Vidigalense-Leiria (139,5 pontos); e Sporting (94 pontos). Neste campeonato nacional participaram 14 atletas do COP, todos com muito bons resultados. Para além dos já citados, destaque ainda para as prestações de Ana Pateira, Andreia Pimenta, Catarina Guerreiro, Lúcia Santos, Ednice Barros, Ana Vicente, Bruna Colónia, Tatiana Cabecinha e Aires Rodrigues.

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Também no Campeonato Nacional de Juvenis (2ª Divisão), que se realizou em meados de junho em Vagos (Aveiro), o COP alcançou um brilhante quinto lugar. Com uma equipa muito jovem (sete atletas juvenis, dos quais cinco de 1.º ano e quatro atletas juniores e apenas três atletas seniores), graças ao empenho e entrega de todas as praticantes, que procuraram sempre superar os seus limites, foi possível chegar a um honroso quinto lugar nacional, com um recorde regional e cinco recordes pessoais. Ana Cabecinha esteve em destaque com duas vitórias (5.000 metros e 3.000 metros planos); Edna Barros venceu os 3.000 metros marcha e foi 6ª nos 800 mettros; Ana Pateira foi 7ª nos 400 metros barreiras; Andreia Pimenta 7ª nos 100 metros barreiras; Carina Rodrigues 6ª no dardo; Carla Unguêm 8ª nos 100 metros e 7ª nos 200 metros; Catarina Guerreiro 5ª nos 1.500 metros; Catarina Marques 6ª no comprimento e 4ª no salto com vara; Cláudia Pereira 6ª no lançamento do

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martelo e 4ª no peso; Emaly Barbosa 7ª nos 400 metros; Lúcia Santos 4ª no disco; Marta Vargues 4ª no salto em altura e 4ª no triplo salto; Vanessa Conduto 6ª nos 3.000 metros obstáculos; na estafeta 4x100 metros as atletas Ana Pateira, Andreia Pimenta, Inês Guerreiro e Carina Rodrigues conquistaram o 6.º lugar e na estafeta 4x400 metros ficaram em 50 Edna Barros, Marta Vargues, Catarina Marques e Emaly Barbosa. Na 1ª fase também participaram Janice Conceição e Laura Leal .


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