ALGARVE INFORMATIVO #16

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SUMÁRIO

GATO MALVADO

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O fado realmente já não é o que era mas, felizmente, os «velhos do Restelo» já deixaram de levantar as mãos ao céu e pedir perdão a Deus sempre que algum «herege» da nova geração comete a ousadia de dar uma roupagem mais moderna a temas que os seus antepassados cantaram durante anos e décadas a fio sempre da mesma maneira. Nomes como Mariza, Ana Moura e Cuca Roseta facilitaram o caminho graças ao sucesso que alcançaram além-fronteiras, mas há projetos que vão bem mais longe na interpretação da canção nacional e disso são exemplo o «Gato Malvado Ensemble», um grupo de instrumentistas de pendor mais clássico que convidam cantadeiras para atuações inesquecíveis e que conquistaram rapidamente o público nacional.

MIGUEL MARTINHO

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Portimão foi palco, de 3 a 5 de julho, da 2ª Prova de Apuramento Nacional de Formula Windsurfing e Miguel Martinho voltou a demonstrar que continua a não ter concorrentes à altura no plano nacional, ao vencer 10 das 12 regatas disputadas durante os três dias de prova. Antes disso, o portimonense já se tinha sagrado Campeão Nacional de Formula Windsurfing, título que alcança pela 17ª vez desde que subiu ao escalão sénior. Infelizmente, o 3.º melhor Master do Mundo não consegue viver apenas da prática desportiva em terras lusitanas, ao mesmo tempo que avisa que a próxima geração vai dar cartas na modalidade e ultrapassar rapidamente os atuais craques.

FILIPE MARTINS Filipe Martins tornou-se conhecido dos algarvios graças ao Bolo-Rei e ao Folar gigantes que produz do Natal e da Páscoa e que atrai milhares de curiosos e gulosos à cidade de Olhão nestas alturas do ano. Mais do que apresentar as suas criações de chef pasteleiro, o jovem empresário denota as suas preocupações solidárias ao apoiar os mais necessitados. Também como empreendedor que é, já vai na terceira pastelaria em funcionamento na capital da Ria Formosa, motivos para o Algarve Informativo ir conhecer um pouco melhor Filipe Martins. ALGARVE INFORMATIVO #16

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OPINIÃO

Daniel Pina JÁ NÃO SE VENDE SAÚDE A FIADO… (…) Sigam as palavras do Senhor, juntem-se e multipliquem-se. Palavras fáceis de debitar para senhores doutores que recebem milhares de euros de ordenado por mês. Para senhores doutores que, ao fim de 15 ou 20 anos de atividade, se reformam com pensões vitalícias de de centenas de milhares de euros anuais. Para senhores doutores com motorista à porta para levar a querida esposa e os maravilhosos rebentos para um hospital particular sempre que os filhotes tossem ou lhes rebenta uma borbulha (…)

6 Paulo Cunha ALGARVE TODO O ANO?... OBVIAMENTE! (…) Mas atentai, senhores decisores, diretores, administradores e governantes: quem trata desta joia preciosa é quem cá vive, e se quem cá vive se sente abandonado, subalternizado, enganado e esquecido durante todas as outras estações do ano para que nos meses de verão seja então canalizada grande parte dos respetivos orçamentos com o único intuito de agradar e fidelizar quem vem de fora, é natural que não goste (…)

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COLEÇÃO MIRÓ NO CONVENTO DE SÃO FRANCISCO EM COIMBRA!? E PORQUE NÃO! (…) Surge publicamente, se não estou em erro, a primeira proposta real para aplicação e enquadramento de uma coleção que tem dado que falar nos últimos longos meses. Naturalmente, a ideia defendida pela CDU terá que ser discutida e bem refletida. Estudada a melhor formar e viabilidade de se tornar real. Sendo certo que tal medida poderia contribuir para que o futuro Centro fosse um projeto Cultural de sucesso à nascença, tendo logo à partida um grande núcleo de atratividade (…)

Hélder Rodrigues Lopes O AMOR, UM ESTRANHO ESTADO DE ESPÍRITO (…) O Amor é capaz de influenciar toda a flora fisiológica, desregula a respiração, provoca a taquicardia, arrepia a pele, faz-nos suar, modifica o fluxo intestinal, faz com que se tropece nas palavras, acelera ou retrai as ideias, troca os movimentos dos membros superiores e inferiores. O Amor Romântico é um estado emocionalmente desordenado, um fervilhar de sentimentos de ternura, sexualidade, exaltação, dor, ansiedade, alívio, altruísmo, ciúme (…)

ALGARVE INFORMATIVO #16 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Foto de capa: Eric Bellande Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930 Diariamente, as notícias que marcam o Algarve em algarveinformativo.blogspot.pt ALGARVE INFORMATIVO #16

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CRÓNICA

JÁ NÃO SE VENDE SAÚDE A FIADO…

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elo que parece, o stock da BCG, vacina antituberculose que deve ser ministrada aos recém-nascidos nos dois primeiros meses de vida, entrou em rutura há três meses e, como é natural, os pais dos bebés que não estão a ser vacinados estão bastante preocupados. Como também se adivinha, as autoridades de saúde vêm logo garantir que não há perigo, dada a baixa incidência de tuberculose no país. E, para animar ainda mais os portugueses, a Direção Geral de Saúde afirma que está mesmo a ponderarDaniel Pina se a retirada da BCG do Programa Nacional Jornalista de Vacinação, ou seja, é mais uma que Danielpina@sapo.pt deixa de ser comparticipada e, se os pais Algarveinformativo@sapo.pt quiserem precaver a saúde dos seus filhos, que paguem da sua carteira algumas dezenas de euros. Belo país o nosso em que a saúde das novas gerações é colocada em segundo plano e refém da bonança financeira dos agregados familiares. Um país cujos índices de natalidade teimam em cair a pique, onde os governantes não se cansam de incentivar os homens e mulheres desta nação para ter mais filhos, porque Portugal (…) Sigam as palavras está a envelhecer perigosamente, porque nascem cada vez menos crianças, porque do Senhor, juntem-se e emigram cada vez mais jovens adultos, multipliquem-se. porque até os imigrantes de leste já começam a regressar aos seus países de Palavras fáceis de origem, um caminho que os brasileiros já debitar para senhores seguiram há algum tempo. doutores que recebem Sigam as palavras do Senhor, juntem-se e milhares de euros de multipliquem-se. Palavras fáceis de debitar ordenado por mês. Para para senhores doutores que recebem senhores doutores que, milhares de euros de ordenado por mês. ao fim de 15 ou 20 anos Para senhores doutores que, ao fim de 15 ou 20 anos de atividade, se reformam com de atividade, se pensões vitalícias de de centenas de reformam com pensões milhares de euros anuais. Para senhores vitalícias de de centenas doutores com motorista à porta para levar a querida esposa e os maravilhosos de milhares de euros rebentos para um hospital particular anuais. Para senhores sempre que os filhotes tossem ou lhes doutores com motorista rebenta uma borbulha. Conselhos menos fáceis de seguir para à porta para levar a quem está desempregado ou recebe o querida esposa e os ordenado mínimo. Para quem não tem maravilhosos rebentos dinheiro para pagar a casa ao banco, para um hospital quanto mais para comprar fraldas e leite particular sempre que os em pó. Para quem não tem direito a abono de família porque o governo cortou nos filhotes tossem ou lhes escalões. E se não tem dinheiro para pôr rebenta uma borbulha comida na mesa, como é que vai pagar (…) vacinas que custam dezenas de euros? Mas ALGARVE INFORMATIVO #16 6

o governo continua a cortar nas comparticipações porque, supostamente, como somos um país moderno e civilizado, há menos riscos de se contrair determinadas doenças, portanto, não vale a pena as vacinas permanecerem no Plano Nacional de Vacinação. Se, por algum azar, a criança até contrair uma doença e, por falta de vacina, morrer, temos pena, dá-se uma palmadinha nas costas dos pais, foi um caso lamentável, mas isolado. Casos isolados que se podem evitar se não se seguir uma política insana de cortar a torto e a direito na Saúde, porque é uma área com eterno défice e é preciso cumprir com os requisitos dos credores internacionais. Mas há outras áreas com défices sistemáticos que os governantes não insistem tanto em combater, porque não lhes dá jeito, porque vai chocar com interesses de terceiros, das grandes empresas onde, depois de saírem do governo, têm cargos de administradores ou consultores à espera, para continuarem a ter o tal motorista à porta para levar os rebentos a correr para o hospital particular ao mínimo sinal de alarme. Para os outros há sempre duas possibilidades: ou alinham numa de serem pais inconscientes, têm filhos quando não têm dinheiro para os criar e educar, mas chutam a bola para a frente e ficam à espera que saia o euromilhões; ou são casais conscientes, fazem as contas à vida, não se fiam no tradicional desenrascanço dos portugueses e vão adiando a decisão de ter filhos até chegar uma altura em que percebem que já é tarde demais para trazer uma criança ao mundo. Enquanto isso, os governantes continuam a incentivar os portugueses para terem filhos, porque Portugal precisa de sangue novo, mas nem sequer têm dignidade para explicar que os stocks dos medicamentos, ou das vacinas, neste caso concreto, não se esgotam por acaso. Esgotam-se porque o governo, em primeira instância, e os hospitais e os centros de saúde como resultado disso, não honram os seus compromissos com a indústria farmacêutica, com os laboratórios, que têm contas enormes à espera de serem pagas pelo Estado e que, em bom português que toda a gente entende, deixaram de vender fiado. E assim vai a Saúde neste belo Portugal .


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ENTREVISTA

O NOVO FADO DOS GATO MALVADO O fado realmente já não é o que era mas, felizmente, os «velhos do Restelo» já deixaram de levantar as mãos ao céu e pedir perdão a Deus sempre que algum «herege» da nova geração comete a ousadia de dar uma roupagem mais moderna a temas que os seus antepassados cantaram durante anos e décadas a fio sempre da mesma maneira. Nomes como Mariza, Ana Moura e Cuca Roseta facilitaram o caminho graças ao sucesso que alcançaram além-fronteiras, mas há projetos que vão bem mais longe na interpretação da canção nacional e disso são exemplo o «Gato Malvado Ensemble», um grupo de instrumentistas de pendor mais clássico que convidam cantadeiras para atuações inesquecíveis e que conquistaram rapidamente o público nacional. Texto: Daniel Pina Fotografia: Academia de Música de Lagos ALGARVE INFORMATIVO #16

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Gato Malvado Ensemble é uma das atrações especiais de mais uma edição do Festival Al-Buhera, que vai animar a cidade de Albufeira nos últimos dias de julho, e tudo nasceu da iniciativa de João Rocha, um lisboeta de 38 anos que dividiu a sua vivência entre a capital, o Alentejo e o Algarve e que dedicou toda a sua vida à música. Trompetista residente da orquestra de Herman José há vários anos, pertence a vários projetos de pop/rock a nível nacional mas é no campo clássico que mais tem estado em evidência no Algarve, desde a sua chegada ao agrupamento de conservatórios da Academia de Música de Lagos (Lagos, Lagoa, Portimão e Loulé), onde é responsável pelos agrupamentos orquestrais e profissionais. “A Academia é, sem dúvida, a maior instituição cultural a sul do país e quem continua a alavancar boa parte do

património cultural musical do Algarve”, destaca João Rocha. Entretanto, em 2010, juntamente com Vasco Ramalho, decidiu criar um novo projeto musical que abraçasse várias sonoridades, desde a música portuguesa à música do mundo, a chamada world music, e o resultado foi um novo fado. “Foi necessário encontrar uma formação estável e que nos desse garantias para aquilo que queríamos fazer e a grande curiosidade é que não temos uma vocalista fixa, trocamos de cantadeira de concerto para

João Rocha e Pedro Frias ALGARVE INFORMATIVO #16

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concerto para nos estimularmos a nós próprios na busca de novos repertórios, nos arranjos e nas sonoridades que pretendemos. Em simultâneo, é uma forma de apresentarmos sempre programas novos para não saturar o público”, explica. A João Rocha (trompete) e Vasco Ramalho (percussão) juntaram-se Tiago Sequeira (piano), Pedro Frias (guitarra), Bruno Vítor (contrabaixo) e José Alegre (guitarra portuguesa) e nota-se que não houve a tentação de recrutar alunos da Academia de Música de Lagos para este projeto sui generis. Entre as cantadeiras com quem têm trabalhado, contamse nomes como Filipa Sousa, Cátia Alhandra, Inês Santos, Ana Pinhal, mas o futuro, desvenda o fundador, deverá passar por ter uma vocalista residente, até porque assim aconselham algumas editoras nacionais que querem editar álbuns dos Gato Malvado. “Para a maioria das bandas, a grande dificuldade é chegar à gravação de um disco e


ENTREVISTA em função das experiências acumuladas dos diversos instrumentistas. “Regra geral, os temas surgem de uma forma bastante democrática, em conversas minhas com o Frias, mas olhando sempre para as especificidades de cada cantadeira. Um problema que acontece a nível nacional, e não só no Algarve, é que temos muita gente a cantar, mas poucas pessoas a fazê-lo num patamar profissional e a realidade, por vezes, é bastante dura quando comparamos com distribui-lo através de uma parte principal do projeto, como aquilo que existe noutros lados. São pessoas com muita editora importante mas, para tal, têm que ser cantoras que qualidade, mas faltou-lhes ter nós, isso é o mais fácil. Ainda dominem minimamente essa formação durante algum não temos é uma vontade muito linguagem, essa forma de forte de caminharmos dessa expressar. Houve uma época em tempo”, verifica João Rocha. “A nossa missão é também tentar forma, porque isso implicará que não se podia fugir um «refundar» o projeto quase milímetro aos padrões do fado, passar um pouco mais da parte técnica e de experiência de todo e formatá-lo para esse tipo depois, as novas gerações palco que sentimos que falta a de percurso. Não é algo que quiseram experimentar coisas está fora de hipótese, antes diferentes, e a nossa fusão tem quem está a cantar”, reforça. pelo contrário, porque a vida é resultado de forma bastante feita de experiências e, nos harmoniosa”, sublinha o O FADO OU EVOLUI últimos dois anos, fizemos uma guitarrista. E se a vocalista é uma OU ACABA POR MORRER série de concertos bastante variável assumida, os repertórios interessantes. Já pusemos o também variam consoante o Da conversa com João Rocha e Gato Malvado com orquestra, conceito estético que se Pedro Frias compreende-se que com cantadeiras diferentes, pretenda dar a cada concerto e agora vamos tocar com um coro alentejano no Festival Al Buhera, portanto, está a chegar a altura de seguir noutra direção”. O que depressa se constata é que boa parte das cantadeiras que deram voz ao Gato Malvado Ensemble são ou foram fadistas, observação que é confirmada por Pedro Frias. “O fado é a ALGARVE INFORMATIVO #16

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cada atuação dos Gato Malvado é como que um projeto isolado, preparado intensamente durante algumas semanas e, depois do espetáculo terminar, há como que um formatar do disco, um reset do computador, recomeçando todo o processo de escolher a cantadeira e o repertório para o concerto que se segue. “Fugimos muito ao tradicional, o fado mais batido não nos interessa tanto. A Mariza, a Ana Moura e a Cuca Roseta têm vozes e interpretações fantásticas e estão demasiado balizadas para que nós consigamos que, quem nos está a ouvir, se distancie delas. Procuramos poetas e compositores que nos transmitam alguma coisa especial e tentamos imprimir o nosso cunho pessoal, para que a sonoridade e os arranjos do Gato sejam únicos. Aliás, já ouvimos coisa que chegaram ao mainstream e onde se notam influências dos Gato Malvado”, frisa João Rocha. Quanto à peculiaridade de só definirem o alinhamento depois de estar escolhida a cantora, Pedro Frias encara isso com naturalidade. “É mais fácil para

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nós, instrumentistas profissionais, adaptar-nos ao estilo da cantora, do que tentar fazer dela algo que não é. Primeiro, tentamos perceber o estilo da cantadeira, o que ela tem e o que nos pode dar. Depois, preparamos um repertório com que ela se consiga identificar em palco, com que se sinta à vontade. Muitas delas são fadistas, mas não vão interpretar o típico fado que cantam nas outras noites e estão a experienciar uma fusão diferente de instrumentos e estilos”, salienta Pedro Frias. “Daí começar a ser importante manter qualquer coisa. É divertido mandar os temas fora

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depois de um espetáculo e avançar para outros, não há monotonia, mas também não há uma consistência que nos permita atingir patamares mais elevados”, acrescenta. A rotatividade de cantadeira tem estado em foco na conversa com João Rocha e Pedro Frias mas o certo é que a hipótese de não haver, pura e simplesmente, uma vocalista, nunca esteve em cima da mesa, por ser um entrave ao crescimento do projeto, na ótica dos dois entrevistados. “A música instrumental é extremamente interessante só que, de tão interessante que é, acaba por tocar num nicho de mercado bastante residual. A música contemporânea e erudita são formas com que nós, pessoalmente, nos identificamos mas, neste binómio músico/público, quem manda é o público e temos que estar onde ele nos gosta de ouvir. Já estivemos duas vezes numa sala no mesmo mês, reconhecemos muitos rostos comuns aos dois programas e sabemos que as pessoas vãonos ver porque gostam da espontaneidade e da diferenciação que aplicamos em


ENTREVISTA

cada espetáculo. Claro que isso não é possível se estivermos apenas baseado na música instrumental”, frisa João Rocha. E como é, então, a experiência deste novo fado tocado por instrumentos de origem mais clássica, quisemos saber. “O fado tem que ser cantado e tocado com a alma, não interessa se é trompete, trombone, rabecão, marimba ou guitarra. Há uns anos, na apresentação de outro projeto onde participei, o «Rosa Negra», o Carlos do Carmo disse-me que aquilo tocava numa fase sensível do fado e eu respeito todas as opiniões. O fado é um dos expoentes máximos da cultura portuguesa, mas continuo a ver muita necessidade de surgirem novas visões, porque, quer queiramos, quer não, «Lisboa já não cheira muito a craveiros numas águas furtadas». Existem coisas novas e o fado tem que saber, forçosamente, adaptar-se a isso. Se tornarmos o fado uma língua morta, ele vai acabar por desaparecer e isso não pode acontecer a ALGARVE INFORMATIVO #16

um Património Imaterial da Humanidade”, alerta João Rocha. Este perigo não deve existir apenas na cabeça de João Rocha e o facto é que o tabu de se mexer no fado tradicional tem vindo a perder cada vez mais força. Exemplo disso são as diversas solicitações que o Gato Malvado Ensemble recebe para subir a palcos, normalmente de auditórios e teatros municipais, o que é gratificante, reconhece Pedro Frias. “A Academia de Música de Lagos é a produtora deste projeto e tem conseguido colocar-nos em vários palcos do

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Algarve, onde temos encontrado um público maioritariamente estrangeiro, que certamente acha menos monótono um concerto de fado com todos estes instrumentos. Para eles, a verdadeira riqueza é a cantora, a maneira como interpreta o tema, como aquele «ai» aparece nas vocalizações da cantora. No entanto, para quem não percebe a língua, ouvir uma hora e meia de fado tocado apenas por três instrumentos vai soar bastante igual”, aponta Pedro Frias. “A internacionalização da cultura portuguesa através da música tem que ser feita de uma forma mais abrangente e, como não somos oriundos do fado, podemos quebrar com algumas tradições”.

O FUTURO PASSA POR ORIGINAIS E UMA CANTORA FIXA Ao ouvir Pedro Frias dizer que boa parte do público dos espetáculos dos Gato Malvado são estrangeiros, vem à calha os


festivais de Verão que se realizam de Sagres a Vila Real de Santo António e cujos cartazes e artistas contratados raramente reúnem consensos, por pouca visibilidade darem à prata da casa. Pedro Frias prefere não discutir as escolhas dos programadores desses eventos e diz apenas que há público para todos os géneros musicais. “Os estrangeiros que assistem a um concerto de auditório de Gato Malvado Ensemble, que tem uma nuance muito forte de fado, obviamente que procuram absorver um pouco da cultura portuguesa através da música. Para esses, é uma luva que lhes serve perfeitamente, mas turistas ingleses de 20 anos já não se interessam pelo nosso estilo”, considera Pedro Frias. João Rocha é que já não sente pudor em meter-se nestas questões mais «políticas», até porque está a tirar um mestrado que aborda bastante a vertente de programação de eventos. “Para boa parte dos municípios portugueses, programar é, nada mais, nada menos, do que gastar o dinheiro que se tem, o que fez com que muitos pelouros culturais das autarquias chegassem ao estado em que hoje estão. Falta de estrutura, de um projeto de médio e longo prazo, de um plano financeiro que tornasse os eventos minimamente sustentáveis e, acima de tudo, falta de programadores que saibam o que estão a fazer”, critica, sem hesitações. “Às vezes saio de reuniões em algumas câmaras municipais e não sei se ria ou chore. Se

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estamos a definir um programa de cariz clássico com um programador que, teoricamente, deverá saber o que está a dizer, e se, para tirarmos as dúvidas, abordamos a possibilidade da orquestra X interpretar a 10ª Sinfonia de Beethoven e verificamos que aquele «profissional» não faz a mais pálida ideia de que Beethoven só escreveu nove sinfonias, está tudo dito. O mais preocupante é que este tipo de situações ocorre frequentemente de norte a sul de Portugal, as pessoas que lá estão não fazem a mínima ideia do que estão a fazer”, desabafa. João Rocha não se admira, por isso, de encontrar políticas culturais sem nexo, empobrecidas e que nem formam públicos, nem criam marcas consistentes e credíveis. “O município de Portimão teve durante muito tempo uma programação cultural bastante riquíssima, houve muito dinheiro esbanjado, mas com a ideia clara de construir uma marca. Estou desconfiado que, se a crise internacional não

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tivesse batido à porta, e se eles continuassem a empurrar o problema financeiro com a barriga, mais cedo ou mais tarde teriam conseguido dar a volta à situação”, entende o trompetista, antes de abordar o futuro concreto dos Gato Malvado, nomeadamente as possibilidades de adotar uma cantadeira residente, de criar temas originais e ir para estúdio gravar um disco. “O sucesso no mercado discográfico, atualmente, não existe, as pessoas fazem discos apenas porque são uma ótima maquina de promoção. Temos que trabalhar mais na vertente dos originais antes de decidirmos darmos o próximo passo, porque temos editoras e produtoras interessadas e os nossos próprios estúdios para gravar. Não creio que surja um disco dos Gato Malvado com covers”, preconiza o fundador do projeto em final de conversa, com os outros elementos do ensemble à espera para mais um ensaio com vista à atuação do dia 24 de julho no Festival Al Buhera .


CRÓNICA

ALGARVE TODO O ANO?... OBVIAMENTE!

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Paulo Cunha

(…) Mas atentai, senhores decisores, diretores, administradores e governantes: quem trata desta joia preciosa é quem cá vive, e se quem cá vive se sente abandonado, subalternizado, enganado e esquecido durante todas as outras estações do ano para que nos meses de verão seja então canalizada grande parte dos respetivos orçamentos com o único intuito de agradar e fidelizar quem vem de fora, é natural que não goste (…) ALGARVE INFORMATIVO #16

verão chegou e com ele, em proporção direta, um turista por algarvio. Será que o vosso já chegou? Se ainda não, habituem-se à ideia: ele vem aí! É claro que não se distribuem de forma uniforme e equitativa pelos belos recantos do «nosso» Algarve, e ainda bem, pois felizmente vem «ao de cima» o espírito gregário e de «rebanho» tão característico do comportamento humano… E como dizia o outro: “Deixaios vir, que eu sei para onde ir!”. Felizmente esta «ilha» com o Alentejo de premeio é suficientemente grande para fugirmos e nos defendermos de toda a pressão, tensões e stress acumulados que quase todos que nos visitam nesta época querem afogar nas cálidas e transparentes águas da costa algarvia. A questão é que por mais atrativa e apelativa que seja esta região, não é a mesma, por si só, que opera o milagre terapêutico de fazer «recarregar as baterias», a frase preferida proferida por tantos turistas que cá chegam com as «baterias» repletas de energias negativas e, sem darem conta, continuam a carregá-las apenas através do polo negativo, ao mesmo tempo que as distribuem - negativamente - por todos à sua volta. Basta estar atento aos comportamentos dos muitos visitantes que, trazendo consigo o peso de onze meses de trabalho árduo e mal pago, de mágoas, de angústias, de desilusões e de depressões encapotadas, não conseguem, em menos de um mês, despir este fato que lhes cai tão mal num sítio onde: “Quanto menos roupa, melhor”! Quem cá vive (Algarve) sabe que, querendo e sabendo aproveitar, o Algarve tem outro encanto quando, 14

noutro tempo e noutra altura, o sol continuando a brilhar, o mar continuando calmo e o campo continuando florido nos proporcionam a paz e a serenidade suficientes para vivermos bem connosco e com os que nos rodeiam. Sem concentrações, sem massificações e sem pressões. O outro Algarve que só quem já não está dependente e obrigado pelas contingências laborais e escolares conhece. Esse sim: o verdadeiro Algarve. Entretanto… nestes meses de verão que venham muitos e que venham por bem! O Algarve, enquanto região, tem no turismo a sua «galinha dos ovos de ouro». Para um país que se habituou a ver sair em vez de entrar, este é um capital precioso. Um capital de todos nós, portugueses. Mas atentai, senhores decisores, diretores, administradores e governantes: quem trata desta joia preciosa é quem cá vive, e se quem cá vive se sente abandonado, subalternizado, enganado e esquecido durante todas as outras estações do ano para que nos meses de verão seja então canalizada grande parte dos respetivos orçamentos com o único intuito de agradar e fidelizar quem vem de fora, é natural que não goste. Até porque algarvio que se preze é filho de boa gente! Assim sendo: “Bem-vindos caros turistas. Férias à vossa medida e não deixem de aproveitar uma das melhoras características desta região: os algarvios!”. Encontramo-nos então nesta enorme esplanada chamada Algarve! .


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CRÓNICA

João Espada Professor, Artista Plástico e Presidente da Casa da Cultura de Loulé Joao_espada@hotmail.com

(…) Surge publicamente, se não estou em erro, a primeira proposta real para aplicação e enquadramento de uma coleção que tem dado que falar nos últimos longos meses. Naturalmente, a ideia defendida pela CDU terá que ser discutida e bem refletida. Estudada a melhor formar e viabilidade de se tornar real. Sendo certo que tal medida poderia contribuir para que o futuro Centro fosse um projeto Cultural de sucesso à nascença, tendo logo à partida um grande núcleo de atratividade (…) ALGARVE INFORMATIVO #16

COLEÇÃO MIRÓ NO CONVENTO DE SÃO FRANCISCO EM COIMBRA!? E PORQUE NÃO!

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ecentemente defendi nesta mesma secção um acolhimento num espaço público da coleção de 85 obras do pintor surrealista espanhol, Joan Miró, atualmente na posse das sociedades de capitais públicos Parvalorem e Parups, que gerem os ativos do extinto BPN. Pois bem, foi apresentada na Assembleia Municipal de Coimbra, pela mão da bancada da CDU, uma sugestão de acolhimento das obras de Miró para o Convento de São Francisco, em Coimbra, cujas obras de adaptação a Centro de Convenções e Espaço Cultural devem terminar no final do ano. Além da natural visibilidade internacional, a iniciativa poderia certamente mexer com a economia regional. A ideia mereceu ainda, e bem, um destaque na impressa nacional. Surge publicamente, se não estou em erro, a primeira proposta real para aplicação e enquadramento de uma coleção que tem dado que falar nos últimos longos meses. Naturalmente, a ideia defendida pela CDU terá que ser discutida e bem refletida. Estudada a melhor formar e viabilidade de se tornar real. Sendo certo que tal medida poderia contribuir para que o futuro Centro fosse um projeto Cultural de sucesso à nascença, tendo logo à partida um grande núcleo de 16

atratividade. "Uma coleção pública deve ser acolhida num equipamento público", defendeu ainda o diretor do Conservatório de Coimbra, Manuel Rocha, sublinhando a necessidade de "descentralização dos bens de cultura". Com esta máxima não só se contribui para o enriquecimento Cultural Público, mas também ajudará certamente a alavancar outros sectores económicos ligados ao turismo, que beneficiaram com a suposta chegada desta coleção. Assim, o Centro de Convenções e Espaço Cultural do Convento de São Francisco, que se projeta com a construção de um auditório com mais de 1100 lugares, salas de conferências e reuniões, restaurante, café-concerto e estacionamento, um projeto do arquiteto Carrilho da Graça, poderá acolher uma importantíssima coleção de pintura surrealista que irá certamente fomentar muitas ideias e projetos culturais à sua volta, como será igualmente uma grande atração turística, levando seguramente muitos turistas à cidade de Coimbra, ajudando-a a desenvolver-se Culturalmente e Economicamente. Este é um dos «grandes poderes» que uma obra de arte poderá ter. Aos que nos governam: por favor não a subestime! .


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ATUALIDADE

MILHARES DE PESSOAS VISITARAM O FESTIVAL INTERNACIONAL DO CARACOL

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ilhares de pessoas acorreram à edição de maior sucesso do Festival Internacional do Caracol em Castro Marim, realizada de 3 a 5 de julho, com chefs de cozinha de Espanha, França e Marrocos, novas receitas deste afamado petisco e muita música popular portuguesa, mas também flamenco, marroquina e cubana. “A mudança de maio para julho foi decisiva para o sucesso desta edição, conseguimos beneficiar do facto do Algarve ter agora o dobro da população, grande parte de férias”, referiu o presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Francisco Amaral. O folhado com recheio de caracol, «Çahroi», foi a grande novidade deste ano na ementa do Festival Internacional do Caracol em Castro Marim, mas a inovação não se ficava por aqui. Uma grande diversidade de aromas e sabores

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fizeram as delícias dos visitantes, desde o bombom de caracol ou pastel de nata de caracol às Caracoletas à Bulhão Pato, especialidades trazidas pelo restaurante Apolo

78, entre muitas outras. Aos principais ingredientes do Festival Internacional do Caracol juntou-se a excelente localização do evento, na Colina do Revelim de Santo António, em Castro Marim, um miradouro privilegiado para o território, com visibilidade a 360º. Grande estímulo ao comércio local e coletividades locais, que se fazem representar nas tasquinhas do evento, o Festival Internacional do Caracol tem o propósito de afirmar Castro Marim como destino dos melhores caracóis do Algarve e potenciar os produtos tradicionais, a cozinha e a cultura mediterrânicas .

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SELOS EM DESTAQUE NA CASA DO SAL

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aconteceram de 6 a 11 de julho, todos os dias pelas 17h. Nos dias 11 e 12, uma Feira de Colecionismo integrou o evento com diversos temas e a história postal do país, um contributo importante não só na divulgação da filatelia, mas também na promoção da cultura portuguesa. Aproveitando ainda a passagem da Algarpex’2015 pela Casa do Sal, a Câmara Municipal de Castro Marim desenvolveu, no âmbito das Férias Ativas, ateliers de filatelia e colecionismo, onde crianças e jovens poderão aprender o que é e quais as técnicas da filatelia. Um dos principais momentos da Algarpex’2015 aconteceu na manhã de dia 12 de julho , com um Posto de Correios a funcionar na Casa do Sal, numa iniciativa assegurada pelos CTT de Portugal. Neste dia, todos os interessados podiam expedir a sua correspondência a partir da Casa do Sal de Castro Marim, com o novo selo comemorativo do salineiro. Castro Marim e Vila Real de Santo António. Em A Algarpex teve a sua primeira edição em exposição até ao dia 12 de julho, a 2010 e resulta de um protocolo assinado entre Algarpex’2015 apresentou nesse dia o carimbo as coletividades filatélicas existentes no Algarve comemorativo dos CTT especial para esta e o Circulo Filatélico y Numismático de Huelva. exposição, uma homenagem ao salineiro de Este acordo tem como principal objetivo a Castro Marim, “que transforma a água do mar participação e troca de experiências filatélicas em sal, um dos mais apreciados do mundo”, entre filatelistas do Algarve e da Andaluzia num como se lia no catálogo da mostra, numa certame filatélico anual a realizar reprodução de um quadro das salinas de Castro alternadamente em cada uma das províncias de Marim, da autoria de Hélène de Beauvoir. Portugal e Espanha . A iniciativa é marcada também pelas Conversas sobre Colecionismo, que Casa do Sal, em Castro Marim, inaugurou, no dia 3 de julho, a exposição Filatélica do Algarve – Algarpex’2015, numa colaboração da Câmara Municipal de Castro Marim e da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila Real de St. António. A exposição conta mais de 60 participações dos mais diversos ramos da filatelia, que ocupam cerca de uma centena de expositores, com cerca de 150 coleções. Na 6ª Exposição Filatélica do Algarve, a faina do sal é o mote principal e a inspiração nasceu nos mais de 300 hectares de salinas no Sapal de

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ATUALIDADE

FARO É A MELHOR CIDADE ALGARVIA PARA VIVER, VISITAR E INVESTIR

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aro é um dos municípios em destaque no Portugal City Brand Ranking 2015, da responsabilidade da consultora Bloom Consulting, consolidando a liderança na região do Algarve e ocupando agora a 11ª posição de entre os 308 municípios portugueses, de acordo com a sua performance nas vertentes de Investimento (Negócios), Turismo (Visitar) e Talento (Viver). O bom resultado, de acordo com a consultora, advém sobretudo da liderança regional averbada nas categorias Negócios e Viver, onde Faro se assume como

uma das melhores a nível nacional – é a 12ª melhor cidade do País para se viver e a 15ª

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marca para investir. Na categoria Visitar, a capital algarvia surge na 10ª posição nacional, 5ª do Algarve. Denominada «Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking©», esta classificação analisa a eficácia dos 308 municípios portugueses e é comandada, sem surpresas, pela cidade de Lisboa, seguida do Porto e de Braga. O ranking baseia-se em estatísticas oficiais e em pesquisas online e analisa variáveis como o número de novas empresas, as taxas de ocupação hoteleira, desemprego, criminalidade e poder de compra, em cada um dos municípios em comparação com a média nacional .

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LAGOA ASSOCIOU-SE ÀS COMEMORAÇÕES DO DIA NACIONAL DO VINHO

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omo forma de prestar uma homenagem ao vinho e com o objetivo de o promover, bem como o território vitivinícola português, comemorou-se de norte a sul do país, no dia 5 de julho, o Dia Nacional do Vinho. No âmbito dessas comemorações e do «Ano do Vinho e da Vinha», tema escolhido para 2015 no Concelho de Lagoa, a autarquia lagoense, em parceria com o Centro de Ciência Viva do Algarve, promoveu, no dia 3 de julho, uma observação astronómica noturna com prova de vinhos. O local escolhido foi a Quinta Monte dos Salicos, uma das produtoras de vinho no concelho de Lagoa, com aproximadamente 13 hectares onde o clima tipicamente mediterrânico e os solos argilocalcários formam um excelente «terroir» para as castas tradicionais, bem como para as internacionais. Situada perto de Carvoeiro, e graças ao investimento que está a ser feito, prevêse não só uma melhor e maior produção, mas também a aposta em diferentes variedades de vinho, nomeadamente brancos e rosés. Em plena vinha, os participantes tiveram a oportunidade de provar os preciosos néctares ALGARVE INFORMATIVO #16

desta Quinta, provenientes das melhores castas (Aragonês, Touriga Nacional, Syrah e Cabernet Sauvignon) e em simultâneo observar as constelações caraterísticas da época, nomeadamente as de Sagitário e Escorpião, devidamente apresentadas pelos monitores do Centro de Ciência Viva. Por se comemorar o Dia Nacional do Vinho, a grande atenção recaiu sobre a 4ª estrela mais brilhante do céu – Arcturus – pertencente à constelação do Boieiro, distante da Terra mais de 36 anos luz. O brilho vivo e a cor avermelhada de Arcturus sempre atraíram as atenções e tornam esta estrela visível mesmo aos clarões da aurora, facto já notado por Homero. De acordo com a mitologia grega, Arcturus representa Icário, a quem Dionísio – deus grego equivalente ao deus romano Baco – escolheu para ensinar à humanidade a arte de fazer o vinho. Foi neste cenário que os participantes, quer a olho nu, quer através dos dois telescópios disponíveis, realizaram uma pequena viagem pelas maravilhas que o céu contém mas que a luz urbana teima em esconder .

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ATUALIDADE

LAGOA RECONHECIDA COMO AUTARQUIA ATIVA

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tenta à tendência de aumento de peso verificado em Portugal, nomeadamente nas camadas mais jovens, a Câmara Municipal de Lagoa aderiu ao Projeto Escola Ativa - Ativix desde o seu início no ano letivo de 2008/2009 quando, no âmbito do Programa de Combate à Obesidade Infantil na Região do Algarve, a Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve concebeu a «Escola Ativa». Este projeto foi implementado em articulação com a Direção Geral de Estabelecimentos Escolares - Direção de Serviços Região Algarve, Administração Regional de Saúde do Algarve em parceria com os agentes locais, Agrupamentos de Escolas e Câmaras Municipais, que o operacionalizam junto da comunidade, com o objetivo de melhorar a qualidade e quantidade da atividade física e desportiva dos alunos, através de estratégias cognitivo-comportamentais e da sensibilização de toda a comunidade educativa para a problemática do sedentarismo infantil e de uma alimentação desequilibrada.

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Este ano, no Concelho de Lagoa, estiveram envolvidas cerca de 1200 crianças, tendo a Festa de Encerramento decorrido nos dias 3, 4 e 5 de junho em Lagoa, no Pavilhão Municipal Jacinto Correia. Numa cerimónia realizada, no passado dia 1 de julho, nas instalações da Direção Geral de Estabelecimentos Escolares Direção de Serviços Região Algarve em Faro, a Câmara Municipal de Lagoa recebeu o 3.º prémio de Autarquia Ativa. O Agrupamento de Escolas Rio Arade foi também distinguido, bem como os Coordenadores das Escolas do Agrupamento Rio Arade - EB de Ferragudo e do Agrupamento ESPAMOL - EB de Lagoa. O Agrupamento Rio Arade recebeu ainda o prémio ao nível dos Professores e Alunos ativos, sendo a primeira vez também atribuído o galardão às crianças envolvidas neste Projeto de âmbito regional. A bandeira prateada, que simboliza este galardão, será hasteada no Pavilhão Municipal Jacinto Correia, em Lagoa, simbolizando o envolvimento marcante de toda a comunidade neste Projeto .

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CRÓNICA

O AMOR, UM ESTRANHO ESTADO DE ESPÍRITO

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Hélder Rodrigues Lopes

(…) O Amor é capaz de influenciar toda a flora fisiológica, desregula a respiração, provoca a taquicardia, arrepia a pele, faz-nos suar, modifica o fluxo intestinal, faz com que se tropece nas palavras, acelera ou retrai as ideias, troca os movimentos dos membros superiores e inferiores. O Amor Romântico é um estado emocionalmente desordenado, um fervilhar de sentimentos de ternura, sexualidade, exaltação, dor, ansiedade, alívio, altruísmo, ciúme (…) ALGARVE INFORMATIVO #16

or estes dias, numa das minhas consultas, alguém pediu-me para explanar sobre o Amor e o Amar. Não sendo fácil, concordei pois, ao longo do meu caminho, foi um conceito que me suscitou dúvida e um misto de sentimentos que tem vindo a estimular uma reflecção. O Amor, o amar, as diferenças e os comuns observados nos géneros, nas idades e nos contextos são elementos que suscitam interesse. A Psicologia tem sido prudente em abordar este conceito, deixando o lirismo fazer lindas recitações sobre este, essencialmente, estranho estado de espírito. Apesar de algum distanciamento e questionamento, Sternberg (1986) um conceituado psicólogo distingue diferentes tipos de Amor e de Amar justificado pela presença ou ausência de três elementos fundamentais para a efetivação da presença deste estado de espírito entre as pessoas: a intimidade, a paixão e o compromisso. Atualmente, é aceite pela comunidade científica a existência de dois grupos abrangentes, o do Amor Romântico e o do Amor Companheiro. O Amor é capaz de influenciar toda a flora fisiológica, desregula a respiração, provoca a taquicardia, arrepia a pele, faznos suar, modifica o fluxo intestinal, faz com que se tropece nas palavras, acelera ou retrai as ideias, troca os movimentos dos membros superiores e inferiores. O Amor Romântico é um estado emocionalmente desordenado, um fervilhar de sentimentos de ternura, sexualidade, exaltação, dor, ansiedade, alívio, altruísmo, ciúme. Este Amor é precário e vulnerável a um conjunto de múltiplos fatores. O Amor Companheiro, mais resistente, sólido, maduro e consequentemente mais longo, acontece após o atenuar da paixão e obsessão do Amor Romântico. O Amor Companheiro é confirmação que as pessoas envolvidas têm os seus caminhos entrelaçados. O Amor é uma resposta, fruto de uma conjugação de sentimentos tais como o encantamento, a paixão, a cumplicidade, a coincidência de gostos e vontades, por 24

vezes de caminhos iguais ou semelhantes, embora percorridos em partes distintas, que faz desencadear comportamentos próprios. O Amor acontece por encontros ou simplesmente por encontrões. O Amor também se repete, mesmo que o Tempo tenha sido longo. O Amor, não esquecendo, perdoa, mas o Amor sem condição existe, é o da Mãe e do Pai, e ambos podem matar e destruir, desde que seja pelo seu amado rebento. O Amor pode ser fugaz, irrefletido, fruto da sedução, ou o de menor Tempo e, por isso, o mais violento na cura, curado muitas vezes erradamente com o Amor do enganado. O primeiro Amor, o mais perigoso de todos, deixa sempre marca, o que é capaz de matar a si próprio ou uma boa parte de si. O Amor é a paixão focada e dirigida a apenas um objeto ou a vários. O Objeto sobre o qual se foca a paixão tem a amplitude total de 360°, o que quer dizer que o Homem pode Amar com igual intensidade um qualquer Objeto (uma pessoa, um animal e um objeto no sentido literal do termo). Nem só o Homem é capaz de Amar, mas só Homem é capaz de Amar um seu diferente. O Amor é uma atitude reflexa. Existe o primeiro momento do Amor quando, ao nascermos, somos colocados sobre o peito da Mãe, contudo, a ausência deste comportamento por condicionalismos vários será sempre influenciador no comportamento posterior de cada um. A Mãe é sempre o Amor Primeiro. A Mãe é a mais forte e significativa fonte de aprendizagem sobre o Amor e os seus processos comportamentais de relação. Por reflexo deste Amor Primeiro somos capazes de Amar; os nossos, os outros, ou até nem Amar ninguém, nem a nós próprios. O Amor é um sentimento estranho, mas necessário, capaz de fazer … transformações. Sobre o Amor já muito se escreveu, mas muito mais ainda se vai continuar a escrever, porque o Amor alimenta a Vida .


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ENTREVISTA

MIGUEL MARTINHO NÃO DÁ HIPÓTESES NO WINDSURF

Portimão foi palco, de 3 a 5 de julho, da 2ª Prova de Apuramento Nacional de Formula Windsurfing e Miguel Martinho voltou a demonstrar que continua a não ter concorrentes à altura no plano nacional, ao vencer 10 das 12 regatas disputadas durante os três dias de prova. Antes disso, o portimonense já se tinha sagrado Campeão Nacional de Formula Windsurfing, título que alcança pela 17ª vez desde que subiu ao escalão sénior. Infelizmente, o 3.º melhor Master do Mundo não consegue viver apenas da prática desportiva em terras lusitanas, ao mesmo tempo que avisa que a próxima geração vai dar cartas na modalidade e ultrapassar rapidamente os atuais craques. Texto: Daniel Pina / Fotografia: Eric Bellande ALGARVE INFORMATIVO #16

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á foi na década passada que conversamos a última vez com Miguel Martinho mas parece que, apesar do avançar da idade no cartão de cidadão, pouco ou nada mudou em termos desportivos para o portimonense de 39 anos, pois voltou a sagrar-se Campeão Nacional de Formula Windsurfing, no passado mês de Maio. É o 17.º título desde 1997, um facto realmente surpreendente, mas Miguel Martinho não é daqueles craques em terras lusitanas que depois deixa a desejar nas provas internacionais, como atesta o estatuto de 3.º melhor do Mundo na categoria Masters. Uma qualidade que ficou demonstrada no fim de semana de 3 a 5 de julho, em que o atleta do Clube Naval de Portimão dominou quase por completo a 2ª Prova de Apuramento Nacional de Formula Windsurfing, levando a melhor sobre a concorrência em 10 das 12 regatas disputadas em Portimão. No total, foram perto de 25 atletas, com meia dúzia de espanhóis entre eles, numa prova bastante bem disputada e que comprova o aumento da qualidade, mas Miguel Martinho continua a estar num patamar superior e é um dos principais candidatos a ficar, mais uma vez, no topo do ranking nacional quando falta acontecer apenas a ALGARVE INFORMATIVO #16

etapa em Viana do Castelo. Em Outubro, segue-se o Campeonato de Espanha e o único resultado negativo da temporada foi o 16.º lugar na categoria Open do Campeonato do Mundo. “Fui com a esperança de andar nos cinco primeiros e tive algumas regatas boas mas, no final, não consegui obter o resultado mais desejado. Era um local bastante técnico ao qual não me adaptei bem, mas ainda fiquei no Top 20. Em Masters, fiquei em 3.º

categoria Optimist, a mais acessível às crianças, mas depressa deu o salto para o windsurf por causa do padrinho, que era praticante da modalidade. “Ele ia normalmente à praia connosco e eu ia logo brincar com a prancha dele, com nove, 10 anos, e foi sempre a progredir desde então. Também pratico surf mas apenas por lazer, sem qualquer ambição competitiva”, assegura a grande referência do Clube Naval de Portimão, clube

lugar, apesar de não ter competido no primeiro dia de prova por estar doente. Foram três regatas que não disputei e, portanto, estava logo afastado do título mundial”, relata, adiantando que falta ainda realizar-se o Campeonato da Europa, em setembro, na Grécia, competição que também já ganhou em 2005 e 2013, a que se soma o título de Campeão do Mundo em 2006. Com um palmarés invejável, Miguel Martinho recorda que começou a praticar vela na

a quem se tem mantido fiel apesar dos múltiplos convites para representar outros emblemas e, inclusive, para se naturalizar espanhol. “Nunca é uma decisão fácil de tomar, se bem que, no início, como era mais novo, as propostas eram bastante tentadoras. Pagavam muito, mas o dinheiro não é tudo na vida e temos que olhar para outros valores”, frisa, confessando alguma pena de, na época, ter de colocar os estudos um pouco de parte. “Para ir às provas não podia ir às aulas e

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ENTREVISTA acabava por chumbar por faltas, não havia as facilidades de agora para se estudar e competir em simultâneo”. Uma opção tomada unicamente pelo amor ao windsurf, pois Miguel Martinho nunca teve ilusões de ficar rico através da prática desportiva. “Essa ambição de ser famoso e

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ganhar grandes ordenados é natural no futebol mas, noutras modalidades, o que conta é o amor à camisola e o gosto pelo que se está a fazer. Mas não estou arrependido do caminho percorrido e, se pudesse voltar atrás, provavelmente faria exatamente o mesmo. Os meus pais sempre me apoiaram e,

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mesmo hoje, nenhum atleta consegue progredir sem uma base financeira que o suporte”. O sucesso não foi, porém, imediato para Miguel Martinho, que ficava habitualmente em último lugar nos primeiros anos de competição, mas a vontade de ir mais além, a ambição de ser melhor, o gosto por crescer em cima da prancha, nunca o deixaram baixar os braços. Surge, então, o primeiro título de campeão nacional de senior, aos 18 anos, no Guincho, depois de já ter sido campeão nacional de juniores nas duas temporadas anteriores. “Nunca pensei em desistir mas, sem a ajuda dos pais, nada tinha sido possível no início. O windsurf exige muita prática, com ela vem a técnica e, quando tens as duas coisas, consegues ir longe. No surf, a prática e a técnica também são importantes, mas há outros fatores que influenciam o rendimento, a condição do mar, as ondas, o que torna a evolução mais complicada”, explica o instrutor, prosseguindo com as suas dicas. “No windsurf, se fores navegar duas horas, são duas horas que estás a velejar. No surf, em duas horas, se calhar estás dois minutos em pé na prancha e em cima da onda”. Tal não impede que o surf seja mais acessível aos mais jovens, até por uma questão de custos, mas, à medida que os anos vão passando, os saltos evolutivos tornam-se mais espaçados. “É sempre muito engraçado aquele convívio na praia com os outros praticantes e a solidão dentro de água, em que ninguém te chateia, mas não é com isso que cresces”, garante,


avisando ainda que o treino tem que ser feito no mar, em condições reais, não numa piscina, o que é outra condicionante. “O difícil é atingir o topo, é um clique entre o ser amador e profissional, depois, é fácil manter-se no mesmo patamar. Quando somos amadores, a persistência é essencial para agarrarmos a oportunidade quando ela aparece, se aparecer. Chegados ao topo, só desces se quiseres, tens é que continuar a treinar”.

SEM APOIOS NÃO HÁ CAMPEÕES Dicas mais fáceis de dizer do que propriamente seguir, pois

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cada prova é diferente e até um craque como Miguel Martinho pode sentir dificuldades inesperadas numa competição, como sucedeu no recente campeonato do mundo disputado nos Açores. “Não é só

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a condição do mar ou a tua preparação física que contam, mas também a tua disposição psicológica. O estado do mar pode ser um bocadinho diferente aqui ou ali e, se as primeiras regatas correm mal e


ENTREVISTA a parte psicológica não está a 100 por cento, não se consegue dar a volta. Ouvimos as críticas que os «treinadores de bancada» estão constantemente a fazer aos desportistas, mas não é pelo facto do Cristiano Ronaldo ser o melhor do mundo que corre sempre tudo bem. Há altos e baixos nas carreiras de todos os desportistas”, salienta o entrevistado. Percalços ou não, Miguel Martinho tem-se mantido no

anos. “Estão miúdos novos a entrar cheios de garra e moral e não me vejo com força para lhes ganhar daqui a alguns anos. E aparecem poucos porque a vela continua a ser um desporto elitista e dispendioso e, para se praticar, tem que haver um apoio grande dos pais ou dos clubes”, justifica, de forma clara, habituado que está a transmitir estas noções aos jovens da terra. “Uma coisa é pores a prancha de surf debaixo do braço, o fato na mochila e

podes guardar o equipamento todo, tens a vida facilitada, como foi o meu caso aqui em Portimão. Caso contrário, não consegues praticar nem ir às provas”. E porque os custos são sempre importantes para a adesão a qualquer modalidade, Miguel Martinho adianta que um conjunto de equipamento completo e competitivo ronda os quatro, cinco mil euros. “É óbvio que, à medida que fores avançando, queres ter os

topo a nível nacional há praticamente duas décadas, porque a concorrência também não é muito grande, admite o próprio, situação que se deve alterar nos próximos dois ou três

ires para a praia surfar. Outra coisa é teres prancha, mastros, velas, brancas. Se o teu pai gostar da modalidade, é capaz de te levar à praia. Se tiveres um clube perto da água onde

tamanhos quase todos para não falhar nada mas, para andar num campeonato nacional, basta um conjunto para fazeres a festa. Quando começas a competir no estrangeiro, já

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precisas fazer um investimento maior porque, se o equipamento não ajudar, não vais lá fazer nada, só gastar dinheiro e perder tempo”, garante, reconhecendo a importância do apoio do Clube Naval de Portimão no seu trajeto vitorioso. “É um apoio que, sinceramente, não vejo muitos clubes darem a outros atletas, que precisam sempre de um ombro amigo. Mesmo tendo a carteira cheia, não é fácil se estiveres sozinho, porque há pormenores burocráticos e questões logísticas para tratar”. Miguel Martinho não poupa palavras de elogio à postura do Clube Naval de Portimão e não tem dúvidas de que, se esse exemplo fosse seguido por outros, haveria muitos mais atletas de alto gabarito em Portugal. Infelizmente, nem todos pensam da mesma forma e, claro, os clubes também

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precisam ter os seus apoios e patrocínios. “Com a crise que se levantou, é difícil para um praticante de windsurf arranjar os seus próprios patrocinadores e mesmo no surf isso já foi mais fácil. No surf conseguem-se apoios para os eventos, para os atletas é mais bicudo. No windsurf, há a dificuldade acrescida de não ser um desporto de massas, de ser mais elitista”, distingue Miguel Martinho. Concorrentes de peso chegam atualmente de Cascais e Viana de Castelo e Miguel Martinho está convicto de que a nova geração vai baralhar por completo as contas, desde que, claro, chegue a aparecer e não se perca pelo caminho. O que não se pode comparar é as mentalidades, verifica o portimonense, que começou a praticar numa altura em que o surf e o windsurf eram novidades. E se compararmos

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com as realidades de outros países, mais diferenças se encontram e mais ajudas se dão aos atletas de qualidade superior, pelo que não é de admirar que Miguel também dê aulas aos mais novos e tenha ficado com a exploração do bar do Clube Naval de Portimão para ajudar no orçamento mensal. “Tento juntar o útil ao agradável, treinar e competir, em paralelo com o trabalho e a vela é um desporto que se pode praticar até uma idade mais avançada. A técnica é o fundamental, portanto, dá para ir até aos 50 anos e há diversas categorias onde podes competir. Pena é que Portugal não seja um país virado para o desporto, nem para a alta competição, e tens que ter muita força para ires a algum lado, não bastam as palmadinhas nas costas”, conclui .


ENTREVISTA

FILIPE MARTINS O REI PASTELEIRO DE OLHÃO Filipe Martins tornou-se conhecido dos algarvios graças ao Bolo-Rei e ao Folar gigantes que produz do Natal e da Páscoa e que atrai milhares de curiosos e gulosos à cidade de Olhão nestas alturas do ano. Mais do que apresentar as suas criações de chef pasteleiro, o jovem empresário denota as suas preocupações solidárias ao apoiar os mais necessitados. Também como empreendedor que é, já vai na terceira pastelaria em funcionamento na capital da Ria Formosa, motivos para o Algarve Informativo ir conhecer um pouco melhor Filipe Martins. Entrevista: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #16

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ncontramos Filipe Martins, um olhanense de 27 anos, numa verdadeira rodaviva logo pela manhã, dividido entre as três pastelarias que possui, duas na cidade de Olhão, outra na Fuzeta, a ver se estava tudo pronto para receber os muitos clientes fiéis aos bolos e gelados deste jovem chefe pasteleiro. Um percurso de volta dos fornos que começou aos 14 anos, primeiro como um parttime durante o Verão para ganhar uns trocos, depois mais a sério à medida que o bichinho se transformava em paixão. “Sempre trabalhei na parte da fábrica, a minha família também gostava bastante de cozinhar, mas foi um pouco chato no princípio. Os meus amigos gozavam comigo porque só ganhava 250 euros, enquanto eles recebiam 600. Eram 10/12 horas por dia, eles iam para a noite, eu ia trabalhar, foi complicado”, recorda, confirmando que, se o gosto não fosse enorme, provavelmente teria desistido.

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Os conhecimentos ganhou-os no terreno, com a prática, de tal modo que, quando se decidiu a tirar uma formação complementar na Escola de Hotelaria, em regime póslaboral, já sabia praticamente tudo o que era ministrado pelos docentes. Mais formações tirou no polo de Loulé do Centro de Formação Profissional para o Setor Alimentar, sediado na Pontinha, em Lisboa, mas o grande salto na carreira surge quando participou no Festival Internacional de Chocolate de Óbidos, em 2010, e venceu o Concurso Chocolatier Português

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do Ano. “Ainda não tinha muitas bases e o Tiago Faustino preparou-me durante dois meses, mas fui mais pelo convívio e por ser uma experiência nova. Levei bombons flor-de-sal, bombons de piripiri, bombons com limão e bombons com canela, uma escultura de uma pirâmide azteca e mais umas sobremesas algarvias e as pessoas gostaram muito do meu trabalho. Recebi 500 euros e um forno e utilizei o dinheiro para comprar formas e livros em França para aprender mais”, conta.


ENTREVISTA portugueses. “Quando abri o primeiro espaço fiz só pastelaria francesa, mais fina, mas a experiência durou três ou quatro dias, porque reparei que não tinha aceitação por parte das pessoas. Introduzi logo a pastelaria tradicional e deixei a mais elaborada como complemento para os clientes que querem algo diferente”, indica, revelando que fez os seus primeiros bolos em casa, há cerca de sete anos, para ter um rendimento extra, num período em que os patrões estavam com dificuldades para assegurar os ordenados dos seus empregados. Uma situação mais tremida que levou o jovem a equacionar emigrar para a Suíça, onde tinha trabalho e um ordenado chorudo à espera.

CRIAR NOVOS HÁBITOS NÃO É FÁCIL

Se o que tinha começado como um simples part-time de Verão já era encarado como uma carreira de futuro, com mais confiança ficou ainda Filipe Martins para desbravar caminho e continuar com as suas experiências e os estudos tradicionais ficaram definitivamente postos de parte. “Não quero que o meu filho faça isso, mas também vemos que, hoje, o canudo não é garantia de nada. Não estou arrependido das minhas escolhas, terminei ALGARVE INFORMATIVO #16

posteriormente o 12.º e, no futuro, quero tirar um curso de gestão, porque uma coisa é fazer bolos, outra é gerir uma empresa”, frisa o entrevistado, à conversa na esplanada na Kubidoce junto à Igreja Matriz de Olhão. Entretanto, apesar de nunca descurar a pastelaria normal, Filipe Martins queria ir mais além e apresentar bolos mais elaborados, mas depressa constatou que este tipo de produto tem um mercado reduzido por falta de hábito dos 34

Motivos pessoais fizeram, contudo, com que Filipe Martins ficasse por Olhão e, quando surgiu a oportunidade para ficar com uma pastelaria, não hesitou, mesmo sabendo que Portugal estava a viver uma grande crise e que a vida não estava fácil para os empresários. “Nunca pedi muito dinheiro emprestado aos bancos porque os fornecedores já me conheciam há alguns anos, confiavam em mim e permitiam que eu pagasse faseadamente os equipamentos e o material”, destaca, reconhecendo que ser patrão acarreta dores de cabeça diferentes do que ser um pasteleiro. “Temos que nos adequar ao mercado, perceber quem são os nossos clientes e onde estamos inseridos. Não


podemos forçar nada, é preciso ir dando a conhecer gradualmente as novidades e eles, com o tempo, acabam por aceitá-las”, aconselha. E se há negócio onde a força do hábito dita regras é este, com os clientes a chegarem ao balcão e a pedirem automaticamente um café e um pastel de nata ou outro bolo tradicionalmente português, sem sequer olhar para a montra para ver que outras alternativas existem. “Tem que ser o pessoal do balcão a desafiá-los a provar coisas diferentes e com os bolos de aniversário acontece o mesmo, só se pedia ovos-moles e pão-de-ló. Foi difícil convencer as primeiras pessoas a experimentar o nosso bolo, que leva pão-de-ló, crocante praliné, doce de morango, creme russo, tudo em várias camadas finas. É um bolo fresco que não é enjoativo e, agora, toda a gente adora”, afirma. Satisfeito por ir conseguindo, gradualmente, criar novos hábitos nos olhanenses, Filipe Martins não pode descurar a vertente de gestor e, por isso, já não pode estar a 100 por cento na vertente da padaria e pastelaria, concentrando as atenções na parte dos chocolates e gelados. “A fábrica está na Almirante Reis, aqui nesta (Igreja Matriz) fazemos os chocolates e os gelados são criados na pastelaria da Fuzeta e já chega. É um rodopio gerir três lojas, pessoas, encomendas, fornecedores, financiamentos, fazer pagamentos. Fui chefe nas escolas de hotelaria durante três anos, também estive no Instituto do Emprego e Formação Profissional, e sou o ALGARVE INFORMATIVO #16

primeiro a entrar na brincadeira mas, quando é para trabalhar, é para trabalhar. O rigor tem que estar sempre presente”, destaca. Filipe Martins que ganhou um mediatismo maior quando se propôs a produzir um bolo-rei gigante, desafio que foi prontamente abraçado pelo presidente da Câmara Municipal de Olhão, um género de última cartada numa fase em que o

conquistar algo mais, mas a minha mulher prefere que não me meta em mais nada, caso contrário, não passo tempo nenhum em casa”, justifica, com um sorriso. “Há as fases do investimento, de ir pagando os empréstimos, de rentabilizar e, só depois, avançar para outra coisa, portanto, temos que ir com calma e não dar um passo maior que a perna”. Bolo-Rei Gigante que

negócio não ia de feição. “Falei com os funcionários, expliquei que, se corresse bem, continuava com a pastelaria, de outra forma, pagava os ordenados, fechava a porta e ia-me embora para a Suíça. Felizmente que o projeto resultou em pleno, aumentamos logo a venda de padaria e tive que adquirir mais espaços para rentabilizar a fábrica que tinha”, explica, respondendo de imediato que criar uma rede franchising não lhe passa pela cabeça. “Sou bastante ambicioso, gosto de fazer coisas diferentes e

antecedeu o Folar Gigante e mais uma vez ficou vincada a veia solidária de Filipe Martins, com as pessoas a darem um euro para ajudar instituições do concelho. “Com a rotina vamos corrigindo o que corre menos bem e, da nossa parte, demora um mês a organizar cada evento, a que se segue a parte logística das bancadas e das autorizações para se fechar a rua. O bolo leva dois dias a preparar, sem dormir, depois, é ir montando as peças e, da última vez, quase que demos a volta à igreja”, descreve o entrevistado, que nunca teve a

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ENTREVISTA intenção de bater recordes do Guiness. “O Bolo-Rei e o Folar não são reconhecidos no mundo inteiro, portanto, nem sequer são elegíveis para esse género de recordes”. Bolos tradicionais a que, mais uma vez, Filipe Martins dá o seu cunho pessoal, o que gerou algumas reticências nos mais conservadores. “Eu agarro no tradicional e acrescento algo, mas nada com sabores esquisitos, sou contra radicalismos. Adicionamos o chocolate, o figo, a amêndoa, a alfarroba e a laranja, tudo sabores algarvios que se enquadram nas nossas receitas”, aponta, confessando que é no chocolate que mais gozo lhe dá criar coisas novas, o mesmo acontecendo, mais recentemente, com os gelados. “A Gelvi é uma referência da cidade de Olhão e do Algarve e não quero competir com eles, nem nunca vou chegar ao mesmo patamar deles, porque são uma casa com 30 ou 40 anos”, esclarece.

Tens a parte criativa do pasteleiro e a parte económica do gestor e o que não se vende acaba por ir para o lixo. É preciso passar a mensagem a todos os funcionários que as coisas, quando aqui chegam, têm um custo e não se pode andar a jogar material fora. Se as coisas não se vendem, deixam-se de fazer, temos que ir ao encontro dos desejos dos clientes”, evidencia. Mensagens e pensamentos que também transmitia aos mais novos quando deu formação na Escola de Hotelaria e no IEFP e A MODA DO que continua a passar aos seus EMPREENDEDORISMO colaboradores, sem medo de que possam ir trabalhar para a Colocando-se na faceta de concorrência ou abrir os seus criador, Filipe Martins confirma próprios negócios. “Os meus que dá bastante trabalho livros de receitas estão à mostra produzir peças de chocolate de de todos e ninguém é melhor do maior dimensão e que o custo que os outros. Eu só não gosto final torna-se muito elevado, o da concorrência desleal e, se um que afasta a maior parte dos bolo custa 50 cêntimos e potenciais clientes, pelo que a alguém vende a 40, não acho Kubidoce está mais especializada isso correto”, defende Filipe na bombonaria. “Não podemos Martins, que ganhou, em 2014, fazer coisas só para ter na um prémio de Jovem montra e tenho dois bichinhos Empreendedor. “Na minha na cabeça – o pasteleiro e o opinião, muitos empregados gestor – e, às vezes, não lidam deviam ser patrões durante seis muito bem um com o outro. meses, para terem a noção das ALGARVE INFORMATIVO #16

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responsabilidades. Agora está na moda a palavra «empreendedor» e isso significa agarrar numa ideia e colocá-la em prática, mas depois é preciso ser empresário, ver se vai ter ou não sucesso, se vai conseguir ou não pagar aos empregados, fornecedores e bancos”, alerta. Quanto ao futuro, Filipe Martins entende que só quem gosta mesmo desta atividade é que consegue superar todos os obstáculos e ter sucesso. “Há 10 anos estava na moda ser barman, agora, toda a gente quer ser chef de cozinha por causa dos programas de televisão, mas não mostram as horas que se perdem em frente aos fornos. Tive muitos alunos que chegavam à escola e diziam logo que queriam ter estrelas Michelin. ‘E fritar ovos não queres, ou descascar batatas?’, perguntava-lhes eu. Tenho exalunos que estão em grandes cargos, mas a pastelaria ainda não está tão mediatizada. São muitas horas no calor e dá bastante trabalho agarrar em farinha, açúcar e ovos e transformar num bolo”, deixa o aviso, sem papas na língua .


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ATUALIDADE

MONCHIQUE TERÁ LEVANTAMENTO GENEALÓGICO GLOBAL

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partir do próximo dia 19 de Julho ficarão de livre acesso ao público a informação histórica e genealógica do Município de Monchique, com a apresentação do Levantamento Histórico e Genealógico da Freguesia do Alferce, no Centro Multiusos do Alferce, pelas 17 horas. Elaborado pelo genealogista, escritor e editor algarvio Nuno Campos Inácio, a informação relativa aos 22.110 indivíduos do concelho de Monchique já estudados, - 11.400 dos quais da freguesia do Alferce -, ficará acessível, numa primeira fase, através do portal de genealogia www.genealogiadoalgarve.com, estando toda a informação compilada num livro que já conta com mais de 1.500 páginas, a publicar brevemente. À semelhança do que acontece nos levantamentos sistemáticos realizados por Nuno Campos Inácio, a informação disponibilizada contempla nome, filiação, data de nascimento, local de nascimento, data de casamento, data de óbito, local de residência, profissão, estatuto social, notas biográficas, fotografias e toda a informação relevante de cada indivíduo, num total superior a 150 mil dados informativos só para a freguesia do Alferce. Graças a este estudo, que conta a história das localidades pessoa a pessoa, é possível conhecer a genealogia dos originais da freguesia do Alferce desde o Século XVI (em alguns ramos), até à atualidade, informação que pode ser mostrada numa árvore genealógica de até 20 gerações. Também é possível conhecer as relações familiares entre indivíduos, através de listagens de descendência. Percebe-se de onde vieram as famílias que ALGARVE INFORMATIVO #16

povoaram o Alferce e para onde foram os seus descendentes. Os dados a apresentar relacionam-se com os demais já constantes do Portal de Genealogia do Algarve, que conta atualmente com cerca de 190 mil indivíduos e perto de dois milhões de dados informativos. O Projeto de Genealogia do Algarve foi criado em 2009 e conta presentemente com a informação relativa aos municípios de Albufeira, Lagoa, Monchique e Portimão .

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MAIS DE 200 KG DE ALIMENTOS RECOLHIDOS E DOADOS DURANTE O FESTIVAL MED

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Festival MED 2015 associou o Movimento «Zero Desperdício» ao evento, pretendendo doar toda a comida não consumida durante os dias do festival a famílias em situação de maior vulnerabilidade do concelho. Esta ação contou com a participação de todos os stands alimentares e restaurantes existentes no recinto do festival, que prontamente aderiram à iniciativa, tendo doado durante o festival um total de 205,272 Kg de alimentos prontos a consumir. A operacionalização da ação ficou a cargo de uma equipa de voluntários da Refood; do Banco Local de Voluntariado de Loulé; do Centro Paroquial de São Clemente e São Sebastião, bem como de técnicos da Divisão de Intervenção Social e Voluntariado do Município, que durante a noite fizeram a recolha do excedente, garantindo todos parâmetros de segurança exigidos pela ASAE. A adesão a esta causa revelou-se muito positiva,

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tendo respondido de forma muito imediata a meia centena de pedidos de apoio alimentar. Com este tipo de iniciativas, o Município de Loulé minimiza o impacto ambiental causado pelos desperdícios alimentares, assim como permite o acesso à alimentação nas famílias em situação de maior vulnerabilidade socioeconómica .

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ATUALIDADE

PARTICIPANTES NA GYMNAESTRADA 2015 RECEBERAM BANDEIRA DE SILVES

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s 29 atletas da Casa do Povo de São Bartolomeu de Messines que participarão na Gymnaestrada 2015 receberam, no dia 7 julho, das mãos da Vereadora do Pelouro do Desporto, Luísa Conduto Luís, uma bandeira do Município de Silves, para que possam levar até Helsínquia as cores silvenses. Luísa Conduto Luís, que esteve acompanhada do Presidente da Assembleia Municipal de Silves, Analídio Braz, destacou a importância da prática desportiva como componente da formação integral dos seres humanos e referiu, como sendo de grande relevância, o papel desempenhado por todos os que estão na retaguarda dos atletas: professores, dirigentes desportivos e, sobretudo, as famílias, que muito se sacrificam para que os jovens possam ter todas as oportunidades. A 15ª Gymnaestrada Mundial, considerado o maior evento de ginástica não competitiva do mundo, terá lugar em julho, em Helsínquia e a classe de ginástica da CPSBM participará neste evento que promove o espírito desportivo, a união

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entre nações, a criatividade e os benefícios da prática desportiva. A classe de Ginástica da CPSBM existe há já 10 anos, agrega muitas crianças e jovens da freguesia de São Bartolomeu de Messines e circundantes, estando dividida em três grupos: Iniciação, Desenvolvimento e Competição. Ao todo, conta com 88 praticantes, entre os 4 e os 18 anos de idade. Estes atletas têm tido participações em provas nacionais, alcançando vários títulos regionais e nacionais, de onde se destacam os de Campeões Nacionais no escalão de infantis femininos em Minitrampolim e de Campeã Nacional Individual, no escalão de iniciados femininos, igualmente em minitrampolim. A somar a estes, registaram-se mais seis títulos de campeões regionais e 113 medalhados em todas as competições oficiais. Para além das participações em provas nacionais e regionais, a classe tem participado em diversos festivais gímnicos de norte a sul do país, entre os quais se destacam as Festas Nacionais da Ginástica, realizadas em Guimarães (2013) e Maia (2014) .


VILA DO BISPO VENCEU PRÉMIO MUNICÍPIO DO ANO 2015

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Município de Vila do Bispo venceu o «Prémio Município do Ano 2015» com o projeto «Festival de Observação de Aves & Atividades de Natureza de Sagres», tendo sido distinguido em duas categorias: o primeiro prémio a nível nacional e a distinção a nível regional. O projeto apresentado é promovido pela Câmara Municipal de Vila do Bispo, em parceria com a Associação Almargem e a SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Nesta iniciativa foram submetidas 80 candidaturas, das quais foram nomeados 36 projetos para uma iniciativa que concede dez distinções regionais e uma distinção nacional. A gala de entrega dos prémios decorreu no dia 9 de julho, no Theatro Circo em Braga, onde a Câmara Municipal de Vila do Bispo se fez representar pelo seu presidente, Adelino Soares, e pela vereadora, Rute Silva, para receber os respetivos galardões. Esta iniciativa organizada pela Universidade do Minho, através da sua plataforma UM-Cidades, visa reconhecer e premiar as boas práticas em projetos implementados pelas autarquias com

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impactos assinaláveis no território, na economia e na sociedade, e que promovam o crescimento, a inclusão e a sustentabilidade dos municípios. O júri foi constituído por José F. G. Mendes, presidente do júri e vice-reitor da Universidade do Minho; Catarina Selada, diretora da Unidade de Cidades da Inteli e coordenadora da plataforma Smart Cities Portugal; David Pontes, jornalista, subdiretor do Jornal de Notícias; José Rio Fernandes, professor da Universidade do Porto e especialista em Território; João Fernando Ramos, jornalista da RTP, coordenador do Jornal2 da RTP2; Fernando Nunes da Silva, professor no Instituto Superior Técnico e ex-vereador da Câmara Municipal de Lisboa; João Guerreiro, professor e ex-reitor da Universidade do Algarve; e Vitor Cavaleiro, professor e ex-vice-reitor da Universidade da Beira Interior. De recordar que, em 2014, na primeira edição do «Prémio Município do Ano», Vila do Bispo já tinha sido nomeada entre os 28 finalistas apurados entre 98 candidaturas, tendo vencido a cidade de Lisboa .

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ATUALIDADE

VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO VAI CANDIDATAR-SE A PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE

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município de Vila Real de Santo António vai candidatar o núcleo pombalino do seu centro histórico e a vila de Cacela Velha à Lista Indicativa do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). No caso de Vila Real de Santo António, a candidatura tem em consideração o facto de o seu núcleo histórico constituir, na atualidade, um dos melhores exemplos da arquitetura e do urbanismo do século XVIII – trata-se de uma cidade fábrica, fundada de raiz nos ideais iluministas –, cuja importância está identificada e preservada no Plano de Pormenor de Salvaguarda do Núcleo Pombalino de VRSA. Relativamente a Cacela Velha, a candidatura tem em consideração a singularidade e o grau de preservação do seu núcleo histórico (já classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º2/96 de 6 de Março), a riqueza e antiguidade dos achados arqueológicos, a sua localização e enquadramento paisagístico, bem como a existência de um projeto consolidado de investigação histórica e arqueológica com mais de 15 anos. “Estas duas candidaturas dão ainda mais força à estratégia desenvolvida, nos últimos 10

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anos, ao nível da conservação do património, facto que levou a que a VRSA fosse a primeira cidade do país a ver aprovada uma Área de Reabilitação Urbana, tenha criado um Plano de Pormenor de Salvaguarda do Núcleo Pombalino e posto em marcha o maior plano de requalificação do seu Centro Histórico, avaliado em 1,5 milhões de euros”, entende Luís Gomes, presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António. “Quer a paisagem urbana de Vila Real de Santo António, quer a paisagem histórica e natural de Cacela Velha, na sua configuração atual, apresentam um elevado nível de autenticidade e de investigação, correspondendo aos critérios definidos pela Unesco no que se refere à Convenção para a Proteção do Património Mundial”, nota o autarca. Nas próximas semanas, o município de VRSA irá igualmente definir os membros da comissão científica que irá acompanhar a candidatura, reunindo associações, entidades públicas e privadas, moradores e comerciantes num processo que pretende consolidar a autenticidade e originalidade do concelho, ampliando o seu estatuto como destino turístico e patrimonial de excelência .


HUGO SANTOS VOLTA A VENCER ESTORIL PGA OPEN

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ugo Santos conquistou pela segunda vez na sua carreira um mesmo torneio em três anos consecutivos, ao sagrar-se, no dia 7 de julho, tricampeão do Estoril PGA Open, o torneio de 6 mil euros em prémios monetários, que a PGA de Portugal organizou no Club de Golf do Estoril. Em outubro do ano passado, o n.º1 da Ordem de Mérito da PGA de Portugal em 2011, 2012 e 2013 tinha-se sagrado pela primeira vez tricampeão no Açores PGA Open, no Batalha Golf Course. O algarvio de 35 anos partiu para a última volta três pancadas atrás do líder, o amador João Ramos, e acabou por carimbar um triunfo por dois shots sobre António Sobrinho, de 44 anos, o recordista de 11 títulos de campeão nacional. Hugo Santos totalizou 133 pancadas, cinco abaixo do ALGARVE INFORMATIVO #16

Par, com voltas de 69 e 64, provando uma vez mais o que tem dito várias vezes, que adora jogar no Estoril, um campo que conhece bem. E por pouco não era o seu melhor resultado da época. A caminhada para o título começou com um eagle no buraco 6 e depois houve uma série no back nine de quatro birdies em seis buracos, entre o 12 e o 17. No total do torneio, Hugo Santos somou um eagle, sete birdies e quatro bogeys. António Sobrinho e Tiago Cruz, que tal como Santos saíram para a última volta com três pancadas de atraso em relação a Ramos, assinaram cartões de 66 e 68 para assegurarem, respetivamente, o 2.º e o 3.º lugar, enquanto Ramos, o líder aos 18 buracos, não conseguiu melhor do que 73, sofrendo quatro bogeys nos últimos seis buracos .

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