ALGARVE INFORMATIVO
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DÁRIO GUERREIRO É MESMO UM MÔCE DUM CABRÉSTE
COMPANHIA DE DANÇA DO ALGARVE
30 ANOS DE FESTIVAL DO MARISCO 1
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SUMÁRIO
FESTIVAL DO MARISCO
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DÁRIO GUERREIRO
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ALGARVE INFORMATIVO #20 PRODUZIDO POR DANIEL PINA (DANIELPINA@SAPO.PT); FOTO DE CAPA: DANIEL PINA CONTATOS: ALGARVEINFORMATIVO@SAPO.PT / 919 266 930 AS NOTÍCIAS QUE MARCAM O ALGARVE EM ALGARVEINFORMATIVO.BLOGSPOT.PT TAMBÉM DISPONÍVEL ATRAVÉS DO ISSUU E DROPBOX ALGARVE INFORMATIVO #20
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OPINIÃO
NAS PONTAS É QUE SE ESTÁ BEM…
DANIEL PINA
(…) quando se vem para o Algarve com o único intuito de ir para a praia ou para um parque aquático durante o dia, à noite frequentar uma discoteca da berra onde se anda aos encontrões com as pseudovedetas das telenovelas e depois voltar para a sua terrinha com o plafond do cartão de crédito esgotado, realmente, é no meio que está a virtude (…)
Jornalista
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ostuma-se dizer que no meio é que está a virtude mas eu cá sou da opinião que no Algarve, em agosto, nas pontas é que se está bem e bastou uma viagem até Vila do Bispo para comprovar esse meu pensamento. Depois de meia hora em velocidade moderada pela Via do Infante até Lagos, onde, infelizmente, a A22 termina, seguiu-se mais outra meia hora até chegar-se à sede deste concelho da Costa Vicentina. Uma meia hora que serviu para espairecer as ideias, sem arranha-céus à vista, sem grandes centros comerciais a brotar da paisagem qual cogumelos, sem filas de trânsito de irritar os nervos. É verdade que encontrei mais rotundas do que da última vez que fui para aquelas paragens, mas nota-se que são rotundas, não para gastar dinheiro em esculturas de artistas de nome pomposo, mas para «obrigar» os condutores a seguir dentro dos limites de velocidade e para facilitar a entrada nas diversas localidades que irradiam na EN125. E depressa comecei a cheirar o «outro» Algarve, aquele que não é invadido pelo turismo de massas, precisamente porque não existem os tais blocos de apartamento encavalitados uns nos outros. Seja porque o território está inserido numa reserva agrícola ou num parque natural, ou porque os construtores preferiram focar as suas atenções na zona entre a Praia da Rocha e Quarteira, a verdade é que não há aberrações de betão, a paisagem está preservada e os resorts existentes são de luxo e virados para um conceito mais familiar, para o turismo de bem-estar e saúde e para o turismo de natureza. Os autarcas da nova geração também não andam em constantes lamúrias porque os constrangimentos ambientais não os deixam construir nada, e ainda bem porque, se tal fosse permitido, teríamos outras versões da Praia da Rocha, Armação de Pêra, Quarteira e Monte Gordo e, depois dos erros cometidos, dificilmente se consegue voltar atrás. Assim, temos um concelho como Vila do Bispo, que foi nomeado Município do Ano 2015, com praias paradisíacas, um ou outro campo de golfe
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de alta qualidade, resorts cinco estrelas de fazer inveja aos melhores do mundo, eventos a promover a gastronomia local, as tradições, a natureza, sem esquecer o património histórico e arquitetónico, como é o caso mais emblemático da Fortaleza de Sagres. O resultado é que os turistas aparecem em quantidade e, acima de tudo, com qualidade, daqueles que gastam dinheiro, que comem nos restaurantes da zona, que compram recordações nas lojas. Não daqueles que chegam aos hotéis e de lá só saem para ir para a piscina ou para a praia do outro lado da rua, ou dos portugueses que alugam um apartamento durante uma semana, fazem as suas compras em supermercados que não deixam dinheiro nenhum na região, e a rotina é casa/praia/casa e regresso às origens. E tenho a forte convicção que, se viajarmos em sentido inverso, para a outra ponta do Algarve, com destino a Castro Marim, Alcoutim, mesmo Vila Real de Santo António e Tavira, vamos encontrar idêntico cenário, com muitos tesouros paisagísticos que escaparam à construção desenfreada das últimas décadas do século XX, em busca do lucro fácil dos prédios de muitos andares uns a cortarem a vista dos outros, com hotéis descaracterizados, em tudo semelhantes ao que se encontram no centro de Lisboa ou do Porto, e que pouco ou nada contribuem para os referidos concelhos atraírem turistas de qualidade. Por isso, quando se vem para o Algarve com o único intuito de ir para a praia ou para um parque aquático durante o dia, à noite frequentar uma discoteca da berra onde se anda aos encontrões com as pseudovedetas das telenovelas e depois voltar para a sua terrinha com o plafond do cartão de crédito esgotado, realmente, é no meio que está a virtude. Quem quiser um local mais tranquilo para descansar com a família, longe da maluquice e da azáfama em que se está habituado a viver todo o ano nas grandes metrópoles, então, é nas pontas que se está bem… .
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REPORTAGEM
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REPORTAGEM
O Festival do Marisco de Olhão assinalou os 30 anos de existência com várias novidades ao nível do recinto, um cartaz de luxo e, acima de tudo, a qualidade sobejamente reconhecido dos produtos da Ria Formosa, que atraíram dezenas de milhares de turistas portugueses, espanhóis, franceses, italianos e britânicos ao longo de uma semana. A crise, como é óbvio, influenciou as escolhas e quantidades consumidas pelos visitantes mas todos os intervenientes são unânimes em destacar o impacto económico que o evento tem sobre todo o concelho e na projeção da marca «Olhão» além-fronteiras. REPORTAGEM: DANIEL PINA
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REPORTAGEM dos Mercados de Olhão, até se fixar finalmente no Jardim Pescador Olhanense. Por esta altura, já a autarquia tinha tomado as rédeas da iniciativa e o Festival ganhou uma projeção ainda maior, recebendo os principais nomes da música portuguesa e internacional ao longo das últimas três décadas. Sempre com o intuito de promover a Ria Formosa, a cidade e o concelho de Olhão e dar a conhecer o saber das suas gentes e ninguém desmente os benefícios para toda a O Presidente da Câmara Municipal de Olhão, António Miguel Pina, com Maya e Manuel José economia local ao longo da semana em que decorre a e 10 a 15 de agosto foram várias iniciativa. E a receita de sucesso foi mantida na as dezenas de milhares de 30ª edição, com o campeão de vendas Anselmo pessoas de todas as Ralph a abrir o Festival do Marisco no dia 10 de nacionalidades que rumaram ao agosto, seguindo-se Fado & Further com Júlio Jardim Pescador Olhanense por Resende, Ana Moura e Ana Bacalhau (11 de ocasião da 30ª edição do Festival do Marisco de agosto), Richie Campbell (12 de agosto), Mickael Olhão. Os mariscos e bivalves da Ria Formosa são Carreira (13 de agosto) José Cid (14 de agosto) e, o principal chamariz do maior certame para finalizar com chave de ouro, o «furação da gastronómico do género a sul do Tejo, mas o Bahia» que é Daniela Mercury (15 de agosto). cartaz musical de excelência também ajudou à Com o 30.º Festival do Marisco a chegar ao fim, festa e, curiosamente, até foram as condições António Miguel Pina, presidente da Câmara climatéricas que impediram uma maior afluência Municipal de Olhão tecia um balanço positivo, em alguns dias. apesar de ainda não ter os números finais ao O evento organizado pela FESNIMA, com o nível de visitantes e de consumos. “O tempo apoio da Câmara Municipal de Olhão, apresentou pregou-nos uma partida em alguns dias, não foi um espaço com um design diferente e mais amplo, mas também se notaram diferenças na própria forma de comunicação do Festival, mais moderna, atual e fresca. Uma evolução tremenda desde os tempos em que a organização pertencia a dois clubes da terra, o Sporting Clube Olhanense e o Marítimo Olhanense, na época na Avenida da República. Depois, com o aumento da popularidade e a maior adesão de público, o Festival do Marisco mudou-se para o Estádio Padinha e para junto
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REPORTAGEM o grande agosto que estávamos todos à espera, mas o evento correu bem, porque o Festival do Marisco de Olhão é uma marca consolidada e a qualidade do nosso marisco é reconhecida por todos. O cartaz de artistas também foi excelente, o que garantiu uma afluência significativa”, analisou o autarca. Uma edição onde se notaram alguns melhoramentos no recinto, como é habitual, nomeadamente mais cerca de 400 lugares sentados junto ao palco, de modo que as pessoas pudessem comer e assistir aos espetáculos em simultâneo, para além de outras novidades aqui e ali. “Os comerciantes são os mesmos dos outros anos, o
que é outra garantia da qualidade oferecida e que é a nossa principal preocupação. Temos orgulho em dizer que, em 30 anos de evento, nunca tivemos uma queixa dos visitantes ou problemas gastrointestinais”, destaca. Olhando aos artistas que pisaram o palco instalado no Jardim Pescador Olhanense pode-se considerar, de facto, um cartaz de luxo e ao alcance de poucos festivais, o que justifica um apoio especial da autarquia à organização da FESNIMA. “A Câmara atribui um subsídio na ordem dos 150 mil euros para cobrir a diferença entre as despesas e as receitas. Há uma série de festivais que foram proliferando nos últimos anos, não se respeitando e atropelando os já existentes, mas nenhum apresenta um cartaz artístico com estes nomes e também não é fácil para o público assistir a espetáculos destes artistas a estes preços”, frisa António Miguel Pina. “Ver o Anselmo Ralph por 12 euros é quase metade do que ele cobra noutros espaços, ver a Daniela Mercury, que há uns anos enchia por completo o Pavilhão Atlântico, hoje MEO Arena, por apenas nove euros, é um forte chamariz para as pessoas que estão de férias no Algarve virem a Olhão nesta semana e o efeito económico que gera na cidade acaba por ultrapassar a verba do subsídio que atribuímos”. 11
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REPORTAGEM
COMERCIANTES DE OPINIÕES DIVIDIDAS No périplo pelos postos de venda de marisco e outros petiscos, estivemos à conversa com José Pinto, responsável pela Churrasqueira Franguinho e que há vários anos participa no evento, entendendo que a afluência de clientes tem sido menor que noutros tempos. “Há menos pessoas, provavelmente porque a entrada é paga e a crise não ajuda. Vem uma família com quatro ou cinco famílias e, pelo dinheiro que gasta à porta, pode ir comer marisco a um restaurante”, refere, indicando que, no seu stand, estão a trabalhar 24 pessoas, a que se juntam mais duas no armazém. “Ainda não fizemos dinheiro para pagar sequer o marisco que se comprou, quanto mais as restantes despesas, vamos ver como correm estes últimos dois dias. No entanto, não podemos olhar só para o lucro ou prejuízo e sentirmo-nos derrotados porque um ano corre pior que os outros. Tudo isto faz publicidade à minha casa, o festival é uma tradição da nossa terra e temos que levar o cavalo às costas”. Quanto aos clientes, indica que pedem um bocadinho de tudo, do camarão mais barato ao arroz e paella mas, infelizmente, não nas quantidades necessárias para tornar o negócio lucrativo. “Não se queixam do preço, há é poucas pessoas. Não sei se por haver outros festivais antes ou por coincidir com a mudança de quinzena, depois, os outros são de entrada gratuita. Para além dos portugueses, há muitos italianos, mas faltaram os
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REPORTAGEM qualidade. Consegue aguentar seis dias fora de água e vem limpinha, é só colocar no tacho e cozinhar”, assegura, pelo que não compreende os problemas colocados às vezes pelos responsáveis ambientais e que impedem a apanha de marisco em determinadas alturas. “Eles é que são biólogos, fazem análises às águas e ao marisco, dizem que têm toxinas, isto e aquilo e fica tudo parado durante uma semana. Olhão é uma terra de pescadores, na Ria Formosa, 90 por cento das pessoas são viveiristas, o restante são mariscadores, homens e mulheres que perderam o emprego e vão à ria apanhar ameijoas ou berbigões para sobreviver”, salienta Lucílio Russo. Mais ao lado foi a vez de ouvir Miguel Calado, mais outro olhanense de gema, chefe de cozinha do pavilhão dos «Aromas Consistentes». “Noto menos gente a consumir, vê-se que as pessoas têm pouco dinheiro e, com as entradas pagas, torna-se um pouco caro para uma família vir ao Festival. Por isso, a maior parte dos visitantes são turistas de fora, por se tratar do maior
espanhóis, se calhar por causa das portagens na Via do Infante”. No stand ao lado falamos com Lucílio Russo, da Cooperativa dos Viveiristas da Ria Formosa, para quem os dias fortes intercalaram com outros mais fracos, situação que não atribui ao custo das entradas. “O problema é o de sempre, há muitas festas no Algarve ao mesmo tempo e as pessoas acabam por se espalhar por todos. Mas o Festival do Marisco é único, espetacular”, defende, observando muitos portugueses, espanhóis e ingleses no recinto, uns já com os pedidos na ponta da língua, outros sem saber bem o que experimentar. “Temos muita variedade e, inclusive, a mariscada, onde entra de tudo um pouco, desde o ligueirão às ostras, ameijoas, sapateira, camarão tigre. É ótimo para quem ainda não conhece muitos tipos de marisco”, aconselha o viveirista de profissão. Dos preços praticados não recebe queixas, porque são idênticos aos dos restaurantes tradicionais. Mais complicado é gerir a vasta equipa, uns voluntários, outros sócios da Cooperativa, mas a publicidade feita ao marisco da Ria Formosa compensa o cansaço desta semana. “Muitas pessoas não sabem, por exemplo, que a nossa ameijoa é a melhor do mundo, a nível de sabor e 13
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REPORTAGEM e regulares. “Já vêm cá há muitos anos e sabem bem o que querem. Pedem arroz de marisco, cataplanas, camarão frito, camarão tigre, carabineiros e não se queixam do preço, que é semelhante ao dos anos anteriores”. Sobre o cartaz, não hesita em dizer que é maravilhoso. “Com artistas para todos os gostos, o que é importante que aconteça e é bom que se repita nos próximos anos. Não se pode contratar só artistas a pensar nos mais novos e esquecer os velhos”, defende, dando o exemplo concreto daquela noite, em que José Cid ia subir ao palco dali a pouco tempo. E o certo é que o
certame gastronómico a sul do país, se calhar de Portugal inteiro. A Câmara Municipal faz todos os possíveis para trazer artistas bons e atrativos, mas estes também pedem mais dinheiro durante o Verão, o que encarece tudo”, aponta, indicando que as paellas são as preferidas do público. “Este ano vejo menos espanhóis mas mais italianos, que gostam bastante destes eventos, outros franceses e britânicos, porque Olhão está na moda. Esses têm mais dinheiro para gastar, têm é algum receio com aquilo que comem em eventos de rua. Mas, depois de provarem, voltam para buscar mais, são clientes fáceis de agradar”. Sobre contas finais, prefere nem fazê-las, estão no Festival há 30 anos e já é uma tradição participar. “É um prazer e uma festa. Sobra alguma coisa no fim, mas não é nada de especial”. Figura carismática é Januário Amador, proprietário de dois restaurantes em Olhão e participante desde sempre no Festival do Marisco, considerando que as coisas estavam calmas mas boas. “Temos trabalhado bem, graças a Deus, com muita gente e menos confusão. Tiraram o restaurante que estava aqui no meio da praça e isso trouxe mais espaço para as pessoas circularem e comerem”, explica, entendendo que a maior parte dos visitantes são portugueses
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recinto encheu por completo e a noite de Daniel Mercury também ajudou, certamente, os comerciantes a terminarem a semana com mais sorrisos nos lábios e a dizer, de olhos brilhantes, «Até para o ano» . 14
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OPINIÃO
ENFANT TERRIBLE
É SÓ FESTA (…) Não entendo é como se continua a gastar tanto dinheiro público para fazer uma quantidade industrial de eventos que não trazem mais-valias ao Algarve. Deveria sim investir-se na época dita baixa para poder trazer pessoas para a região. Não se entende como não existe uma boa feira de golf, uma boa feira sobre a floresta, para dar alguns exemplos (…)
PAULO BERNARDO Empresário
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ossivelmente sou o único que fica incomodado com o número de festas e eventos que acontecem no Algarve entre 15 de julho e 15 de Setembro, dois meses de grande e forte investimento público na grande parte e também algum privado. O privado entendo, mas fico escandalizado com os cogumelos que vão lixando a vida a quem todo o ano tenta manter as suas casas abertas, mas parece que este mal vem para ficar. Sou do tempo em que a noite era gerida pelas mesmas pessoas ao longo do ano, eram amigos que lá estavam de inverno e de verão. Hoje, os «empresários» chegam de mansinho qual abutres e sacam o que há para sacar, sem muitas vezes cumprir os seus deveres com os fornecedores e o estado. Como fornecedor para estes negócios, já há algum tempo que não vendo, pois nunca pagavam. Em relação ao dinheiro publico, ai a história é outra. Posso entender eventos que já tem alguma história, Festival do Marisco, Festival da Sardinha, FATACIL, Feira da Serra e Dias Medievais de Silves e Castro Marim. Esses fazem parte de um roteiro que sempre me lembro, hoje surgem mais alguns fora da época chamada alta e que têm todo o sentido, lembro-me das Terras de Maio, Feira da Perdiz ou a Feira do Presunto. Não entendo é como se continua a gastar tanto dinheiro público para fazer uma quantidade industrial de eventos que não trazem mais-valias ao Algarve. Deveria sim investir-se na época dita baixa para poder trazer pessoas para a região. Não se entende como não existe uma boa feira de golf, uma boa feira sobre a floresta, para dar alguns exemplos.
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Deveríamos ter uma organização regional que mantivesse um calendário anual de eventos onde os públicos deveria servir de parceiros dos privados e assim poder ser um verdadeiro fator de atração de turistas. São ideias minhas possivelmente erradas, pois as eleições tem que ser ganhas e o povo gosta é de festa. Gostava também que não se deixasse cair a Via Algarviana, projeto que tem grande relevância no Algarve e que vale muito mais que muitas festas. Não sei quem pode pegar neste projeto, mas que não deve cair não deve. Nota da semana: A Supertaça Cândido de Oliveira, não pelo futebol, pois foi fraquinho, e ainda por cima o meu clube não ganhou, mas pela organização. Público muito bom, misturado mas sem grandes problemas, segurança que funcionou bem, acessos bons. Prova que o Algarve tem todas as condições para ter futebol ao mais alto nível, agora, a nível económico, não temos capacidade para ter uma equipa com capacidade para nos fazer sonhar. Figura da semana: Figuras, pois quero felicitar todos os partidos que conseguiram colocar figuras incontornáveis da região como cabeças de lista, não deve ter sido fácil, mas desta vez todos o conseguiram. Vamos ver depois se nos vão representar ao melhor nível, mas isso também cabe a todos nós pedir-lhes responsabilidades .
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OPINIÃO
UM ALGARVE ÚNICO NUM PORTUGAL CREDÍVEL
CARLOS G. MARTINS
(…) Temos um Algarve que sustenta o esforço que o País e os portugueses fizeram. Somos um exemplo de credibilidade, com a humildade de uma região mundialmente conhecida, mas acima de tudo com os olhos postos no futuro com esperança no que temos no presente. Honrando o passado, pensando no presente iremos construir um futuro credível para este Algarve Único. Para isso, que os portugueses e Portugal sejam credíveis (…)
Farmacêutico Presidente da JSD/Algarve
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m altura de rentrée política é inevitável pensarmos na proximidade temporal que começa a existir para as eleições legislativas de 4 de Outubro. Entendo que a seriedade, na vida e na política, deve ser sustentada com a credibilidade que os nossos atos lhe conferem. Por estes dias, vindos de todos os quadrantes, surgem os típicos políticos de ocasião. Nascem, aparecem e multiplicam-se de uma forma assustadoramente impressionante! Passam por períodos de três anos de isolamento, gestão milimétrica de silêncios e sem emitir uma única opinião. Depois aparecem, para deter toda a verdade e conhecimento ocasional da totalidade dos factos. Não é credível. Não é credível apelar à participação quando não participamos, quando não demos o exemplo que a sociedade atual, afastada e descrente da participação política, precisa. A credibilidade é conquistada quando damos a cara na rua todas as semanas, quando apresentamos propostas durante todos os ciclos políticos (mesmo em dias posteriores a algumas derrotas eleitorais que todos atravessamos) sem ser em vésperas de eleições, quando reunimos com as entidades fora dos períodos de campanha eleitoral e, principalmente, quando queremos construir o futuro no presente com soluções e não quando a necessidade ocasional nos obriga. Mas a credibilidade também tem que ser validada politicamente com factos e números. E não é credível ser intelectualmente desonesto e enganar todo um País que tanto se esforçou como a atual oposição faz, mal, ou tenta fazer, às vezes ainda pior. Sejamos sérios: Vivemos atualmente num País que voltou a crescer economicamente, inclusive acima da média da união europeia. Um país que criou mais empresas e fechou cada vez menos. Um Portugal que diminuiu o custo dos medicamentos e que ainda diminuiu a dívida do Serviço Nacional de Saúde de 3.5 mil milhões de euros para cerca de 400 milhões de euros, abrindo
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ainda sete novos hospitais. E em época de aperto, de constrangimento financeiro estrutural do País, o desemprego (ainda elevado) é hoje de 11,9 por cento, ou seja, menor do que quando entrou a atual liderança de Pedro Passos Coelho e muito menor que os 18 por cento de herança dos atuais profetas da desgraça. A credibilidade, nacional e internacional, faz-se de sustentabilidade factual e numérica. Hoje, Portugal voltou a ser credível. A sustentabilidade e serenidade do atual Governo de Portugal, demonstrou por factos que o País retomou o ciclo de crescimento e de estabilidade política e social. No nosso Algarve, que também é de barrocal, serra e interior e não apenas os ¾ de território ocupado populacionalmente nas zonas litorais que fazem parte do tremendo orgulho do quase meio milhão de algarvios, nascidos, e mais aqueles que escolheram ser algarvios, os números também mudaram. Também são exemplos de credibilidade. O desemprego diminuiu para números historicamente baixos, situando-se nos 10,8 por cento e comparativamente a períodos homólogos de época alta do turismo. Vimos serem criadas centenas de micro e pequenas empresas ligadas ao sector primário, assegurados pela ótima matéria-prima que a região algarvia nos dá, desde a doçaria até à cortiça. Temos taxas de ocupação turísticas a níveis superiores aos melhores das últimas décadas e não temos algarves fraturados em projetos Allgarviados para inglês ver. Temos um Algarve que sustenta o esforço que o País e os portugueses fizeram. Somos um exemplo de credibilidade, com a humildade de uma região mundialmente conhecida, mas acima de tudo com os olhos postos no futuro com esperança no que temos no presente. Honrando o passado, pensando no presente iremos construir um futuro credível para este Algarve Único. Para isso, que os portugueses e Portugal sejam credíveis . 18
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CASTRO MARIM ASSUMIU PRESIDÊNCIA DA EUROCIDADE DO GUADIANA
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astro Marim assumiu a presidência da Eurocidade do Guadiana, numa cerimónia realizada no dia 8 de agosto, na Colina do Revelim de Santo António, e que contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Francisco Amaral, do presidente do Ayuntamiento de Ayamonte, Alberto Fernandez Rodriguez, do vereador do Município de Vila Real de Santo António, João Rodrigues, do vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, Nuno Marques, e Fátima Ruíz-Granados, da Junta de Andaluzia. “Hoje inicia-se uma nova etapa desta Eurocidade”, declarou o agora também presidente da Eurocidade do Guadiana, Francisco Amaral, acrescentando que pretende realizar um amplo debate e ouvir a sociedade civil, numa reflexão sobre o rumo da Eurocidade e o
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seu aproveitamento máximo para o desenvolvimento dos três municípios. “Estou absolutamente convencido que o futuro da Eurocidade nas mãos do presidente Francisco Amaral só nos trará boas coisas e mais qualidade de vida”, declarou, por sua vez, o presidente cessante, Alberto Rodriguez, do Ayuntamiento de Ayamonte. Os municípios fronteiriços de Vila Real de Santo António, Castro Marim e Ayamonte constituem a primeira Eurocidade do Sul da Península Ibérica. O protocolo de colaboração que deu origem à criação da Eurocidade do Guadiana – inicialmente composta pelos municípios de Vila Real de Santo António e Ayamonte – foi formalizado no dia 9 de janeiro de 2013. Na sequência das relações de proximidade territorial e cultural existentes, o município de Castro Marim juntou-se à Eurocidade, no dia 9 de maio de 2013, numa cerimónia decorrida no Revelim de Santo António, em Castro Marim .
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PONTE D. MARIA REABRIU AO TRÂNSITO
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Ponte D. Maria reabriu ao trânsito no final do dia 10 de Agosto, depois de uma obra reabilitação de importância vital para o Município, uma vez que, para além de consolidar a coesão urbana da própria cidade, vem facilitar a todos a circulação entre as duas margens, constituindo uma mais-valia para o turismo e para os milhares que todos os anos visitam Lagos. A obra, cujo valor total ultrapassou o milhão de euros, foi comparticipada em cerca de 65 por cento por fundos comunitários (operação financiada no âmbito do PO Algarve 21 – Eixo 3 – Valorização Territorial e Desenvolvimento Urbano / Mobilidade Territorial), sendo o restante valor assegurado pela autarquia. A Presidente da Câmara Municipal, Maria Joaquina Matos, voltou a manifestar uma enorme satisfação por se ter conseguido dar resposta a um grande anseio da população, recordando que, para este desfecho, muito contribuiu o facto de se ter conseguido a aprovação da candidatura apresentada e a estreita colaboração entre os serviços da Câmara, a empresa municipal Futurlagos, o empreiteiro Extraco - Construccións e Proxectos, S.A, a firma de fiscalização, GSET - Global, Serviços e Engenharia Total, Lda, a equipa projectista, Consulmar – Projetistas e Consultores, Lda e outros consultores que participaram em diversas áreas da intervenção. A autarca aproveitou esta oportunidade para agradecer a colaboração das várias entidades em todo o decorrer do processo, nomeadamente a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional do Algarve, a Agência Portuguesa do Ambiente, a Direção Regional de Cultura do Algarve, a empresa Águas do Algarve e a EDP. No que diz respeito às vertentes mais importantes da obra, assinalam-se as seguintes: o reforço estrutural dos pilares da Ponte através da execução de microestacas, a reabilitação arquitetónica da obra de arte, a construção de um novo tabuleiro e o reposicionamento sob o mesmo das condutas de águas e esgotos e das infraestruturas de telecomunicações. A solução desenvolvida para a geometria do novo tabuleiro da Ponte D. Maria apresenta agora uma largura total de 11,75m, compreendendo uma faixa de rodagem bidirecional com 6,50 metros de largura útil, passeios de dimensão generosa de ambos os lados, permitindo, assim, a opção mista pedonal/ciclovia. Os passeios foram nivelados com a faixa de rodagem, mas separados fisicamente da mesma, solução que apresenta flexibilidade para, em caso de necessidade, reformular o espaço sobre o tabuleiro e criar mais uma faixa de rodagem .
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OLHÃO LIDERA SUBIDA DOS PROVEITOS NA HOTELARIA A NÍVEL NACIONAL
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m estudo da Pordata recentemente divulgado revela que foi no concelho de Olhão que os proveitos totais de estabelecimentos hoteleiros mais aumentaram. Os dados resultam de um estudo efetuado entre 2009 e 2013 nos 308 concelhos de Portugal continental e ilhas. A Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, trabalha dados estatísticos de turismo desde 2013 mas, este ano, decidiu analisar os dados por municípios, divididos em três grandes áreas: Alojamentos Turísticos, Ocupação de Alojamentos Turísticos e Receitas de Alojamentos Turísticos. Olhão destaca-se pela positiva, liderando o ranking dos concelhos onde
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as receitas do setor hoteleiro mais subiram neste período. Estes números referem-se aos proveitos totais, ou seja, englobam não só os proveitos com as dormidas, mas também as refeições e outros serviços. Dos 308 municípios, apenas 47 acompanham Olhão nesta tendência positiva no período em causa. Ainda de acordo com a Pordata, globalmente a maioria dos turistas hospedados em Portugal são estrangeiros, embora só em 34 municípios tal se verifique. As regiões com maior percentagem de hóspedes estrangeiros são a Região Autónoma da Madeira, o Algarve e a Área Metropolitana de Lisboa .
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CINCO FAMÍLIAS SÃO-BRASENSES RECEBERAM HABITAÇÃO SOCIAL fundamentados por informações técnicas, e dá continuidade a todo o trabalho desenvolvido na área social, em seguimento à atribuição, em 2014, de 10 atribuições, no sentido de proporcionar a estas famílias a oportunidade de iniciar uma vida nova. A política de atribuição de fogos de habitação social cumpre um conjunto de critérios de prioridade, nomeadamente: a existência de situações de emergência social; perigo para a saúde pública ou risco para a segurança pública; a gravidade das situações de vulnerabilidade social e económica das famílias; as situações de saúde e ainda a existência de menores, deficientes e dependentes. Quatro destes fogos sociais localizam-se no Bairro Social Municipal, estando o outro localizado no centro histórico sãobrasense. “Trabalhamos sempre no presente, a pensar no futuro. O bem-estar das famílias sãobrasenses é a nossa preocupação maior e fazemos os possíveis, dentro das nossas limitações, para responder às necessidades e dificuldades que dia-a-dia partilhamos num trabalho social de proximidade, com um enorme empenho da pequena equipa dos serviços sociais municipais, num trabalho difícil, para o qual nos orgulhamos de poder contar com a preciosa colaboração de todo um conjunto de entidades locais e de parcerias informais da comunidade”, destacaram na ocasião o Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro e a Vereadora da Ação Social, Marlene Guerreiro .
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poiar as famílias mais vulneráveis na construção de uma comunidade com qualidade de vida para todos é a prioridade da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, que atribuiu, dia 11 de agosto, habitações sociais a quatro famílias sãobrasenses economicamente desfavorecidas e possibilitou ainda a mudança de outra família para uma casa mais adequada à composição e necessidades do agregado familiar. A sessão de entrega das chaves decorreu no Salão Nobre da Câmara Municipal, sendo que um dos agregados familiares abrangidos por esta medida residia na única habitação abarracada existente no concelho, e poderá a partir de agora viver com a dignidade que merece. A atribuição destes fogos sociais resulta da aprovação unânime do executivo municipal, na reunião de Câmara do passado dia 30 de julho, de uma proposta apresentada pela Vereadora da Habitação Social, aprovada previamente em sede de Comissão Municipal de Habitação, reunida a 15 de julho. Esta proposta teve por base um conjunto de pareceres emitidos pelos Serviços Sociais do município, devidamente
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AUTARCAS PREOCUPADOS COM O CENTRO DE MEDICINA E DE REABILITAÇÃO DO SUL
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ntregue à gestão da Administração Regional de Saúde (ARS) desde novembro de 2013, o Centro de Medicina e de Reabilitação do Sul, em São Brás de Alportel, tem vindo a perder capacidade de resposta face às necessidades da população da região e do país. Na atualidade, o Centro depara-se com a escassez de profissionais e de meios, funcionando o internamento apenas a 50 por cento da sua capacidade e o ambulatório a 30 por cento, entre muitos outros constrangimentos. Perante esta situação e após uma nova solicitação de reunião com o Ministro da Saúde, a 12 de maio do presente ano sem qualquer resposta, apenas o encaminhamento da mesma para o Secretário de Estado da Saúde, o Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel solicitou uma reunião à entidade gestora do espaço, ARS, a fim de avaliar o ponto de situação do funcionamento desta unidade de saúde. A reunião decorreu no dia 10 de agosto, no referido Centro, e contou com a participação do edil Vítor Guerreiro, do Presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve - AMAL, Jorge Botelho, do Presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, entre outros autarcas locais, e do representante da Administração Regional de Saúde, Nuno Ramos. Na ocasião, Vítor Guerreiro manifestou a sua profunda preocupação sobre o funcionamento deficitário que o Centro apresenta. Constituindose como uma unidade hospitalar de reconhecimento internacional pela qualidade
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dos serviços prestados e importante entidade empregadora no município, Vítor Guerreiro questionou a demora na resolução de um problema que se arrasta há dois anos. “As respostas e garantias que nos foram dadas infelizmente ainda não se concretizaram, esta demora numa resposta célere está a degradar as condições de funcionamento do Centro. É impreterível resolver esta situação o quanto antes, pois é a saúde dos cidadãos que está em causa”, frisa o autarca são-brasense. Jorge Botelho, Presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve, sublinhou ainda que “o Centro está a morrer aos poucos”. “Há mais de um ano que se fala na abertura do concurso para a adoção de um novo modelo de gestão, mas até à data ainda não aconteceu nada. É uma demora excessivamente longa quando se fala num bem essencial e de direito que é a saúde”, considera o também presidente da Câmara Municipal de Tavira. Por sua vez, Nuno Ramos, vogal da ARS e responsável pelo Centro, justificou a situação por questões burocráticas
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associadas à contratação de pessoal, sublinhando que foi pedida uma autorização excecional para contratação e que esta foi aceite para a necessidade de 32 profissionais de saúde, contudo, atualmente já saíram mais 12 profissionais, cuja reposição não foi contemplada nessa autorização. Face às questões relacionadas com o modelo de gestão, adiantou que até ao final do mês de agosto será aprovado em Conselho de Ministros a concessão desta
unidade hospitalar num Concurso Público Internacional, para que possa vir a ter uma gestão privada. Vítor Guerreiro reiterou a urgência de revitalização do Centro e deixou uma mensagem de esperança. “Espero sinceramente que a garantia que agora nos chega se concretize, pois já a recebemos anteriormente. O que nos preocupa e motiva é o funcionamento pleno do Centro de Medicina e de Reabilitação do Sul, que é de extrema importância para o concelho, sua economia local, e para toda a região. Mas, mais importante de tudo, o fundamental é assegurar a prestação destes cuidados de saúde diferenciados a quem deles precisa, uma vez que semanas de espera podem ser determinantes na evolução da sua recuperação, por isso entendemos que este Centro deve ser encarado como uma prioridade na área da saúde” .
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DÁRIO GUERREIRO É MESMO UM MÔCE DUM CABRÉSTE Começou na brincadeira a gravar uns sketches com os amigos de infância, à laia dos «Gato Fedorento», foi para a faculdade tirar um curso ligado às letras, passou a escrever textos humorísticos e, de repente, as suas crónicas semanais no You Tube eram um sucesso. Era o pontapé de saída do fenómeno do «Môce dum Cabréste», uma persona que assenta como uma luva ao portimonense Dário Guerreiro, sempre de língua afiada para dar opiniões politicamente muito incorretas e com um forte sotaque algarvio, daqueles que já pouco estamos habituados a ouvir. Crónicas para a imprensa já escreveu, programas de rádio também, mas desistiu porque é um moço que gosta pouco de acordar cedo. Por isso, é aos espetáculos ao vivo e às crónicas do You Tube que se dedica de corpo e alma e a ambição agora é apurar-se para a Liga dos Campeões da stand-up comedy. E talento não falta para isso a Dário Guerreiro, mais conhecido como «Môce dum Cabréste». TEXTO E FOTOGRAFIA: DANIEL PINA 27
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omo dizem os «bifes» do Reino Unido, «Back to Portimão», desta vez com conversa marcada com Dário Guerreiro, mais conhecido como «Môce dum Cabréste», um portimonense de gema de 26 anos que fez de tudo um pouco antes de aterrar no mundo da stand-up comedy. Depois de concluir o secundário, ingressou no curso de Cozinha da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, mas depressa percebeu que aquela não era a sua
entrar nesse universo, mas confesso que não tirei o curso com o objetivo de ter essa profissão específica. O plano curricular cativoume bastante, tinha cadeiras que incidiam sobre literacia e literatura, estudos literários, correção, ortografia, gramática. Posso dizer que dei-me ao luxo de tirar um curso superior apenas pelo prazer de aprender e também não queria ser o único desempregado no país sem um canudo”, refere, em pleno chá das 5 na Casa Inglesa.
cena. A paixão pela escrita, mais concretamente pela poesia, levou-o a frequentar a licenciatura de Ciências Documentais e Editoriais na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve, que terminou em 2010. Contudo, não conseguiu arranjar colocação nessa área profissional, onde o principal empregador é o Estado, através das bibliotecas e arquivos municipais. “Quando não se conhece alguém que nos abre as portas, é complicado
Ora, como Dário não nasceu em berço de ouro, teve que fazer-se à vida, trabalhou numa loja de roupa num centro comercial, esteve numa imobiliária, agarrou o que ia aparecendo, mesmo que não tivesse nada a ver com a sua verdadeira vocação. Vocação que deu frutos logo aos 17 anos, altura em que a Câmara Municipal de Lagoa publicou um livro com os seus poemas, e com uma tiragem razoável. “Não era uma poesia muito profunda, mas já com algumas
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características em comum com aquilo que escrevo atualmente, com um certo cuidado ao nível da métrica e da rima”, recorda, explicando que a comédia foi surgindo com o tempo. “Não acordei um dia com vontade de ser humorista. Sempre fui uma pessoa bastante alegre, animada e feliz e a comédia foi uma consequência natural dessa boa-disposição”. Para atestar isso, em 2006, Dário Guerreiro, Márcio Nuno, Tiago Prata e Dino, quatro amigos com pouca coisa para fazer, começaram a gravar pequenos sketches sob influência do fenómeno dos «Gato Fedorento», projeto que durou até 2010 e que os tornou bastante conhecidos no You Tube. “Os Gato estavam na moda, mas o objetivo de fazermos os vídeos era para nos divertirmos aos quatro e não propriamente para mostrarmos a alguém o quão talentosos eramos, porque tínhamos consciência que não o eramos”, conta. “Nessa tenra idade, consumíamos aquilo que dava nas televisões públicas, o Herman José, Maria Rueff, Ana Bola e por aí fora, dificilmente tínhamos contato, por exemplo, com os Monty Python”. Na época ainda não existia o «Môce dum Cabréste», poucos ou nenhuns cuidados havia com os guiões, os jovens limitavam-se a ligar a máquina e começar a gravar, em jeito de improviso. “Eram ideias tão estúpidas como o comprador ambulante, uma personagem que batia à porta das pessoas para lhes comprar a mobília que tinham em casa. Outra personagem só conseguia falar de boca cheia. O conceito existia, depois, inventávamos a partir das ideias, pouco preocupados com recursos metafóricos, estilísticos, humorísticos”, lembra, acrescentando que o quarteto acabou por separar-se quando entraram para as respetivas universidades. “O Márcio ficou em Portimão, eu fui para Faro, o Prata para Lisboa e o Dino para Vila Real, tornou-se difícil conciliar as nossas agendas e o projeto foi morrendo pouco a pouco até ao verão de 2010”.
O PRIMEIRO ALGARVIO COM TEMPO DE ANTENA A separação dos amigos não esmoreceu, contudo, a veia humorística de Dário Guerreiro, que em Fevereiro de 2010 criou o canal do You Tube «Môce dum Cabréste» para não estar dependente dos três compinchas sempre que quisesse partilhar algo da sua autoria e ao seu próprio ritmo. Um pouco à semelhança do que faziam os youtubers norte-americanos, arranca com um programa semanal aos domingos à noite e a persona ganha cada vez mais popularidade. 29
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“Os ancestrais chamavam «môce dum cabréste» às crianças traquinas e reguilas, mas eu não me tento esconder por debaixo de uma maquilhagem ou peruca. É uma persona que, se calhar, tem capacidade para fazer chegar a sua voz mais além do que o Dário Guerreiro, e que é reconhecida pelo seu sotaque e pelas parvoíces todas que diz”, descreve, confessando que recuperar expressões algarvias em desuso não era um objetivo pré-definido. “Não foi um processo consciente, quando dei por mim já estava a desempenhar esse papel de tentar preservar o património oral algarvio e recuperar expressões que tinham caído no esquecimento. Foi um bónus, porque o principal fio condutor do meu trabalho é o humor”. Em atividade permaneciam, entretanto, os melhores humoristas que ficaram famosos por ocasião do «Levanta-te e Ri» da SIC, mas aparecer em programas televisivos também nunca passara pela cabeça do jovem portimonense, ia andando ao sabor do vento, para onde o dia-a-dia o levava. “Foi um boom relativo, deu a conhecer a Portugal cerca de 10 ou 15 comediantes, mas só os realmente bons e consistentes é que continuam a fazer espetáculos, como o João Seabra, Serafim,
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Fernando Rocha, Nilton ou Bruno Nogueira, que já não faz tanto stand-up comedy mas continua a ser uma mente brilhante do humor português”, observa, confessando que, na primeira vez em que subiu a um palco, nem sabia bem o que estava ali a fazer. “Dois anos depois de ter o canal no You Tube recebi um convite do Teatro Municipal de Portimão para fazer standup comedy e eu, estupidamente, de forma muito ingénua, disse que sim, pensava que não tinha nada a perder, mas fiquei em palco a cantar umas músicas e a contar umas piadas que estavam na moda”, recorda. A experiência serviu, de qualquer forma, para despertar o bichinho do palco, mas com a consciência de que tinha que escrever textos específicos e ter um alinhamento diferente do que fazia habitualmente nas crónicas semanais no You Tube. “O humor tem o mesmo valor, porque envolve a mesma capacidade de escrita, mas são formas de trabalhar completamente distintas. Adoro a reação imediata das pessoas numa atuação ao vivo, mas também não me imagino a deixar as crónicas do You Tube, onde demora mais tempo a saber qual o impacto junto da população”, compara, sem esconder a vontade de realizar espetáculos ao vivo fora da 30
ENTREVISTA região. “Mas tenho que respeitar os timings porque, mesmo aqui no Algarve, onde as pessoas me conhecem bem, não há garantias de que estejam dispostas a pagar um bilhete para me ver em cima dum palco. Há coisas que gostava de fazer, como é óbvio, e sei que, para ser financeiramente autónomo, tenho que sair das fronteiras, mas já dei espetáculos em Lisboa e no norte do país. Lá em cima, o meu sotaque acaba por ser exótico e, como falo muito rápido, as pessoas têm que estar bastante atentas”. Um sucesso além-fronteiras, ainda que regionais, para já, que acontece pela primeira vez a um comediante algarvio, pelo que a reação quando se escuta o sotaque e as expressões tipicamente algarvias tem sido sempre positiva, enaltece o entrevistado. “O alentejano, por exemplo, sempre foi alvo de sátiras, seja em anedotas ou em programas de televisão como «Os Malucos do Riso»”, indica, acrescentando que os espetáculos têm uma espinha dorsal idêntica, sejam dados no Algarve ou noutros pontos de Portugal. “Os vídeos funcionam muito na base do atual, do que acontece no quotidiano, mas também abordam coisas mais subjetivas como as pessoas que são azelhas na estrada, porque pode haver uma semana onde não acontece nada de especial. Os espetáculos
ao vivo são mais estruturados e, neste momento, estou a escrever um novo para estrear no final de 2015, início de 2016”, desvenda.
UM PAÍS PIMBA E SENSACIONALISTA Com opiniões muito fortes sobre o que acontece no dia-a-dia, Dário Guerreiro não é daqueles comediantes que conta piadas escritas por outros, porque também tem capacidade para transformar o que pensa em textos humorísticos, fruto das ferramentas adquiridas no curso superior. Um pormenor a que, na hora da verdade, o público está completamente indiferente, garante o portimonense. “As pessoas consomem aquilo que lhes metem à frente e a prova disso são as audiências das televisões generalistas e dos jornais com maior tiragem. Infelizmente, os portugueses cada vez perdem mais a capacidade de pensar por eles próprios, mas ainda há aqueles poucos que não estão interessados em conteúdos pimba e é esses que quero alcançar. Contudo, Portugal, regra geral, sempre gostou muito do que é sensacionalista, do sexo, sangue e violência”, desabafa, com um encolher de ombros e num registo mais sério do que estaríamos à espera.
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ENTREVISTA “Enquanto as pessoas não exigiram um tipo diferente de jornalismo e de conteúdos nas televisões, jornais e revistas, as coisas não vão mudar, é a lei da oferta e da procura”. Uma realidade que, engane-se, não torna mais fácil a tarefa de escrever piadas, porque Dário Guerreiro não é propriamente um comediante de estilo brejeiro, mas também não pode adotar uma linha mais intelectual. “Não podemos esquecer que o objetivo é fazer rir as pessoas que estão à nossa frente e, neste braço de ferro, temos que ceder um pouco. Há que tentar passar a nossa mensagem, mas não com um discurso absolutista que deixe toda a gente de cara séria a olhar para nós”, aconselha, não negando que tem muito material “estúpido” e inúmeros “inuendos sexuais” no seu repertório. “Eu conto a minha história com uma roupagem humorística em cima. Falo da minha família, das minhas relações amorosas e do que me acontece e isso acaba por ser mais engraçado do que o humor político, onde os protagonistas mudam, mas as piadas são sempre as mesmas. Vão continuar a ser uns sacanas e uns corruptos, só as caras é que são diferentes”, explica. Diferentes são, como já frisou anteriormente, os temas abordados nos vídeos do You Tube e nos espetáculos ao vivo, mais uma tragédia que atormenta a vida dos comediantes, na opinião de Dário Guerreiro. “Nas bandas, queremos ouvir sempre os mesmos êxitos, nos humoristas, queremos ouvir sempre coisas novas”, sustenta. Quanto ao maior stress do agosto algarvio, não é nada que modifique as rotinas do Môço dum Cabréste, pois tem sempre uma crónica semanal para colocar no ar e espetáculos ao vivo para planificar. “O chato é quando saio de casa, não tenho muita paciência para este trânsito todo e para as pessoas que entopem os supermercados, embora isso se repita todos os anos. Mas, como sou um bom observador, estou atento às figuras tristes que algumas pessoas fazem e utilizo isso depois para sketches ou piadas”. E outros formatos que não os vídeos e as atuações no palco, estão nos planos de Dário, perguntamos, ao que descarta de imediato os programas de televisão. “A televisão é cada vez menos importante, os patrocinadores estão todos a emigrar para a internet e eu, como
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rapaz da nova geração que sou, acredito que o futuro da televisão é deixar de existir ou sobreviver apenas junto da população mais envelhecida. Basta ver os programas da manhã e da tarde, sobretudo direcionados para idosos, malta da minha idade não se revê nesses conteúdos”, destaca o entrevistado, avisando que as pessoas de idade mais avançada vão deixar, mais cedo ou mais tarde, de caminhar neste planeta e as televisões poderão seguir o mesmo caminho. “A minha geração está habituada a procurar o que quer, quando quer e ao ritmo que quer, na internet, portanto, não vai voltar para a televisão”. Outro motivo para não sonhar com um programa de humor na televisão é estar mal habituado a não ser censurado e a dizer aquilo que pensa. “Não me ia dar bem com os «pis» e a bolinha no cantinho do ecrã. Os palavrões e o material obsceno são uma falsa questão, impedem que haja programas de humor em canal aberto, mas depois vemos filmes onde espirra sangue por todo o lado e desenhos animados que só incitam à violência”, critica Dário Guerreiro, já para não falar do que se ouve quando se fazem diretos à porta dos estádios de futebol. Programas de rádio também já teve às segundas-feiras, mas terminou o projeto em janeiro deste ano, com uma justificação bastante simples: “Quando há muita gente a ouvir rádio é na altura em que eu não estou disposto a estar acordado, a menos que me compense financeiramente. Confesso que sou muito inimigo das manhãs, porque também só começo a trabalhar quando a malta lá em casa já foi toda dormir”. E como está na moda os humoristas também escreverem crónicas, umas mais a sério do que outras, Dário Guerreiro garante que não teria dificuldades em fazê-lo, mas isso obrigaria a assumir compromissos que, depois, poderia não conseguir cumprir. Ou seja, com apenas 26 anos, o portimonense já tem a certeza dos formatos nos quais sente mais prazer a trabalhar, portanto, a meta agora é atingir um patamar financeiramente mais gratificante, o que ainda não conseguiu. “Em Portugal, infelizmente, não existe uma classe média de comediantes. Há aqueles em início de carreira, onde me incluo, apesar de já estar numa fase transitória, e esses 32
ENTREVISTA têm que mostrar o seu trabalho ao vivo a que preço for, muitas vezes à borla e em locais sem quaisquer condições, com som deficiente e público que não está minimamente virado para a comédia”, lamenta. “Para sermos bons em palco, temos primeiro que ser maus e os portugueses não tem paciência para isso. Depois, há aqueles que ganham num espetáculo aquilo que os outros recebem em três meses, porque têm uma enorme projeção na televisão e na internet. Ganho o suficiente para não depender financeiramente da minha mãe, mas não o suficiente para ter casa própria e essas coisas todas, estou neste limbo”. Por este motivo, Dário Guerreiro aconselha prudência aos jovens que querem ser comediantes e, se calhar, o melhor é terem outra atividade profissional nos primeiros tempos e encararem o humor como um hobby. “Será o caminho mais seguro para não comprometerem a saúde financeira do agregado familiar. Eu, felizmente, tive a sorte de, a dada altura, soltar o paraquedas e mergulhar e só faço isto na vida, mas, enquanto não se consegue largar as rodinhas da bicicleta, o ideal é conciliar o humor com algo que lhes dê maior segurança e estabilidade”, defende, adiantando que viver no Algarve tem vantagens e desvantagens. “Não tenho quase concorrência nenhuma na região, o mais perto será o Serafim,
de Beja, mas esse está noutro patamar e não trabalha pelos mesmos valores que eu. Se estivesse num meio urbano como Lisboa, seria mais um igual aos outros”, explica, finalizando com a notícia de que está para breve o lançamento de um livro de poesia humorística da sua autoria .
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COMPANHIA DE DANÇA DO ALGARVE prepara arranque do novo ano letivo
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Um pouco à imagem das escolas tradicionais, também os alunos da Companhia de Dança do Algarve estão a gozar um merecido descanso, o que não significa que esta esteja inativa. De facto, o Verão é sinónimo de workshops com conceituados coreógrafos internacionais e de preparação para o próximo ano letivo e setembro arranca logo com a segunda fase das audições, pois a exigência, o rigor, o profissionalismo e a qualidade são pedras chaves da equipa liderada pelo russo Evgueni Beliaev. REPORTAGEM: DANIEL PINA
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Companhia de Dança do Algarve nasceu por iniciativa de Evgueni Beliaev, um russo que iniciou a sua caminhada nesta forma de expressão artística logo aos oito anos, no Centro Cultural de Ivanovo. Aos 12 anos, integrou a Companhia de Dança Internacional da Rússia e, em 1980, concluiu a sua formação na Escola Superior de Dança de Ivanovo, que lhe conferiu a qualificação de Bailarino Profissional, Coreógrafo e Professor de Ballet. Desde então, integrou várias companhias de Moscovo, com particular destaque para a Companhia de Dança Contemporânea «Rythms of the Planet» e a Companhia Militar do Exército Vermelho, sempre como bailarino principal, e divulgou a dança contemporânea em países como os Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França, Inglaterra, Bélgica e Espanha. Nesse périplo pela Europa conheceu Portugal, onde se fixou em 1992, tendo primeiro dirigido várias classes de dança contemporânea no norte do país. Em 1997 chega ao Algarve para dar aulas no Conservatório Regional do Algarve e na Sociedade Recreativa Artística Farense, antes de criar, no ano letivo de 2002/2003, a sua própria
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escola de dança, em Faro. Os muitos workshops de dança organizados com bailarinos e professores russos, o concurso «Dançarte» que promove anualmente para jovens bailarinos de todas as nacionalidades e o Festival Internacional de Dança serviram, depois, de alicerce para a constituição da Companhia de Dança do Algarve, onde é o Diretor Artístico e principal coreógrafo. Figura importante na vertente administrativa é Laura Andrade, cujas filhas eram alunas de Evgueni Beliaev e que se prontificou, de imediato, em ajudar no processo de criação da Companhia de Dança do Algarve. “A companhia foi uma evolução natural, o dar um nome formal ao grupo de alunos que tinham acompanhado o Evgueni quando ele saiu do Conservatório Regional do Algarve”, explica a médica de profissão. Por seu lado, o coreógrafo aponta a necessidade de um ensino mais profissional e consistente como a grande motivação para o nascimento da CDA. “Os nossos alunos têm recebido inúmeros prémios ao longo destes anos, participado em imensos espetáculos, sejam da nossa companhia ou de outras. Para muitos destes jovens, a dança
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deixou de ser um hobby, conseguiram dar seguimento à sua paixão e tornar-se bailarinos profissionais”, frisa o russo. De acordo com a dupla, no virar do milénio existia apenas o Conservatório Regional do Algarve como estrutura de ensino propriamente dita, proliferando, depois, aulas de dança em associações ou coletividades recreativas, com o problema de, em ambos os casos, a rotatividade dos professores ser enorme. Laura Andrade e Evgueni Beliaev são os principais responsáveis “Havia uma ex-bailarina da pelo sucesso da Companhia de Dança do Algarve Gulbenkian enquanto estive intensivos de duas semanas durante as férias no Conservatório, o resto dos docentes não sei de Verão, com professores de outros estilos, de onde vieram e todos os anos eram diferentes”, recorda Evgueni. “Isso levava a que para dar mais riqueza aos nossos alunos e a outras pessoas que chegam de todos os pontos a dança fosse encarada mais como uma do país”, indica Laura Andrade. ocupação dos tempos livres, não havia uma continuidade de trabalho”, prossegue Laura No que toca à atividade regular, a Companhia Andrade, o que não beneficiava a evolução dos de Dança do Algarve possui cerca de 150 alunos, alunos. “O Conservatório tinha boas condições com idades a partir dos cinco anos, e Evgueni para se dar aulas e um auditório onde se podia Beliaev garante que o objetivo é ter qualidade e montar espetáculos, mas faltava uma equipa não quantidade, daí que, de há alguns anos para de professores”. cá, já tenham que realizar audições para admitir novos alunos. “Queremos crianças que tenham capacidade para aprender e que possam ter futuro nesta carreira”, frisa o professor, com SÓ CORPO NÃO BASTA, Laura Andrade a seguir pela mesma batuta. “Se É PRECISO CABEÇA aceitarmos alunos com pouco potencial, não conseguem acompanhar os restantes na Em 2003, chega da Rússia a professora Natalya evolução e acabam por ficar desmotivados e desistir”, avisa, isto porque, depois dos oito ou Abramova para dar aulas de dança clássica e nove anos de idade, as aulas começam a ser dança de caráter, Carolina Cantinho, uma das bastante puxadas, com três ou mais horas filhas de Laura Andrade, prossegue os estudos, diárias. “Para além disso, há avaliações tira um mestrado em Coreografia e passa a dar constantes, com notas afixadas na parede para aulas de dança contemporânea e pilates e Evgueni Beliaev assume a dança educativa, a par os alunos verificarem como a aprendizagem está a correr”, reforça Evgueni. da dança de carácter e da dança Um grau de rigor e exigência que tem que ser contemporânea. Estava assim constituído um assimilado pelos próprios pais, sabendo-se que corpo docente multifacetado e que permitia muitos deles chegam a acalentar sonhos mais criar um plano curricular consistente ao longo elevados que os filhos. “São poucos os que têm dos anos e sempre atento às novas técnicas de transmitir conhecimentos aos mais novos. “Para conhecimentos sobre o ensino da dança e depois constatam que isto é mais a sério do além do trabalho anual que os três que pensavam quando inscreveram as crianças. desenvolvem, realizamos sempre workshops 37
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funciona de uma maneira completamente diferente da de uma criança mais nova. Um aluno pode ser muito dotado e ter um grande potencial físico mas, sem capacidade mental e vontade de trabalhar, não se vai a lado nenhum”, destaca Laura Andrade. E quando lançamos a pergunta da praxe sobre os sacrifícios que é preciso fazer para se ter sucesso nesta carreira, Evgueni Beliaev encolhe os ombros e deixa escapar um sorriso. “Hoje em dia, quem é que não bebe ou fuma? Comida, há quem possa comer tudo e nunca engorda, outros, comem um bolo e aumentam logo de peso. Os próprios corpos mudam com a idade de forma natural, não há nada que consiga impedir isso”, explica, com Laura Andrade a adiantar ainda que ninguém está impedido de ir à praia ou à discoteca com os amigos. “É tudo uma questão de organização. Aliás, os nossos alunos são excelentes na escola, porque aprendem a gerir o tempo e não perdem tempo com coisas que não interessam”. E sobre esse aspeto particular,
Por volta dos 14 ou 15 anos, há alunos que decidem ficar mais dois ou três anos só para terminarem a formação, outros desistem, pura e simplesmente, porque reconhecem que não vão conseguir ser bailarinos profissionais. O amor de dançar com tutu e fazer pontas pode desaparecer quando aparecem as primeiras lesões, quando a dor aumenta devido aos exercícios serem mais exigentes”, observa o profissional russo, entendendo que esta idade é crucial para os jovens definirem o seu futuro. “Há muitos que gostam de dançar, ficam ligados à escola, participam nos convívios que organizamos anualmente com os finalistas, mas seguem outras profissões”, atesta Laura Andrade. E começar bastante cedo é importante, mas não fundamental para se ter sucesso na dança, defende a dupla, dependendo sempre da fisionomia de cada um, se é rapaz ou rapariga, se pratica alguma atividade física. “Há rapazes que aparecem com 14, 15 anos e o trabalho pode ser mais difícil em termos físicos, mas a cabeça
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e de sorriso nos lábios, Evgueni Beliaev relata a história de alguns pais que tiraram os filhos da Companhia de Dança do Algarve por temerem que o grau de exigência depois atrapalhasse os estudos normais e a verdade é que, depois de o fazerem, as notas não melhoraram, antes pelo contrário, baixaram ainda mais.
CRESCER DEMASIADO PREJUDICA A QUALIDADE DO ENSINO Depois de vários anos a frequentar a Companhia de Dança do Algarve, estes jovens ficam com ferramentas mais do que suficientes para ingressar posteriormente numa Escola Superior de Dança e tirar o desejado canudo, mas tornar-se bailarino profissional é uma batalha à parte, porque o mercado nacional é reduzido. “Eles chegam aqui com cinco ou seis anos e normalmente saem por volta dos 17/18 anos, porque entram em universidades de Lisboa ou Porto. Aqueles que estão interessados em ser bailarinos profissionais, se calhar têm que procurar trabalho fora de Portugal. As próprias companhias de dança que
existem no país optaram por despedir os bailarinos fixos e funcionar com freelancers, consoante os espetáculos que apresentam, um pouco como aconteceu com as companhias de teatro”, revelam Evgueni e Laura, tristes por andarem a formar bailarinos para exportar. Uma realidade que, como é óbvio, os alunos conhecem sobejamente e que leva alguns a desistir antes de completarem a sua caminhada na Companhia de Dança do Algarve, por saberem que, depois, não têm a tal possibilidade de se lançarem numa aventura além-fronteiras. Independentemente deste cenário cinzento, transversal a grande parte das carreiras em Portugal, a Companhia continua a organizar os seus espetáculos, que servem de montra ao trabalho que é realizado todos os dias nas salas de aulas. O expoente máximo é o concurso internacional promovido desde 2004 e que atrai alunos de todas as escolas de dança de Portugal e de outros países, da mesma forma que os alunos da CDA participam regularmente em outras competições internacionais e regressam com bastantes troféus na bagagem. “Quem aqui consegue atingir bons resultados, normalmente dá boa conta de si em provas disputadas no 39
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estrangeiro e eles precisam de se compararem uns com os outros para saberem o que mais é possível fazer, até onde podem melhorar”, salienta Laura Andrade, com orgulho. E se o futuro dos bailarinos é sempre incerto, que se pode esperar da Companhia de Dança do Algarve, com mais de uma década de provas dadas na região. “Ninguém consegue sentar o rabo em duas cadeiras, portanto, o objetivo é concentrar as atenções onde estamos, fazermos um trabalho com qualidade e, talvez, aumentar o número de salas e de professores para abarcar outros estilos de dança”, responde Evgueni Beliaev, com Laura Andrade a avisar que, se o número de alunos ultrapassar um determinado patamar, não se consegue depois manter a mesma qualidade de ensino. “Há muitas escolas que oferecem os estilos todos, depois, alguns alunos fazem só salsa, outros, só hip-hop, e não há um ensino sistematizado. Aqui, são «obrigados» a fazer dança clássica e contemporânea, para além de dança de carácter. Os restantes estilos podem experimentar nos workshops e absorvem-nos com facilidade porque têm as bases bem cimentadas”.
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Este domínio das vertentes mais clássicas e a rápida aprendizagem de novos estilos nem sempre são, no entanto, por si só suficientes para abraçar a carreira de bailarino profissional, esclarecem os dois entrevistados, visto que a Companhia de Dança do Algarve não dá um diploma com equivalência a formação superior. “É certo que há muitos bailarinos que não têm diploma de uma escola superior de dança, contudo, aos 17/18 anos, ainda não estão suficientemente maduros, precisam de algo mais”, equaciona Laura Andrade, adiantando que o passo seguinte tanto pode ser uma escola formal ou uma companhia de dança onde prosseguir a aprendizagem. “Seja como for, os nossos finalistas conseguem entrar nas melhores escolas e companhias e o balanço do projeto só pode ser positivo. Claro que todos os anos são diferentes e há alunos mais fortes do que outros, mas os melhores servem de incentivo para os menos bons. E eles percebem cedo se o caminho passa pela dança clássica, pela contemporânea ou por outra profissão qualquer que nada tenha a ver com a dança”, finalizam Evgueni Beliaev e Laura Andrade .
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DESPORTO
XIV PROVA DE NATAÇÃO DOS LEÕES DO SUL FOI A MAIS CONCORRIDA DO CIRCUITO ALGARVIO
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s Leões do Sul Futebol Clube organizaram, no dia 9 de agosto, na Praia da Alagoa/Altura, a 14ª Prova de Natação de Mar «Vila de Castro Marim», no âmbito do 23.º Circuito de Natação de Mar do Algarve, que contou com cerca de 300 participantes, tendo sido esta a competição mais concorrida do circuito algarvio. A competição possuiu duas vertentes: os atletas federados no circuito de Águas Abertas (prova oficial), que percorrem uma distância de 1500 metros de mar, enquanto os atletas não federados participam na prova popular de divulgação da modalidade, numa distância de 800 metros. A prova oficial contou com cerca de 200 participantes e foi conquistada pelos nadadores Rafael Lourenço Gil (1.º lugar), Tiago Filipe Campos (2.ºlugar, Scalabiswing de Santarém) e João Luís Serra (3.ºlugar, Atlético Clube Montemor-o-Novo). No setor feminino, Kelly Jaffary atingiu o 1.º
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lugar, em 2.º lugar ficou Paula Segovia Carballo e, em 3.º lugar, Catarina Costa Fernandes, da Associação Cultural Colégio Bernardette Romeira, em Olhão. A prova de divulgação teve como finalistas Francisco Zamudio Rodriguez (1.º lugar), João Francisco Lopes (2.º lugar) e André Morais Correia Sousa (3.º lugar). Na categoria feminina, Femke Spiering foi a vencedora, seguiu-se Isis Sousa Severino (2.º lugar, Louletano) e Joana Sales Amaral, com o 3.º lugar. A iniciativa dos Leões do Sul Futebol Clube contou com os apoios da Câmara Municipal de Castro Marim, da Junta de Freguesia de Altura, da Junta de Freguesia de Castro Marim, da Capitania do Porto de Vila Real de Santo António, dos Bombeiros Voluntários de VRSA, do IDP- Algarve, da Associação de Natação do Algarve, da Associação Naval do Guadiana, do restaurante «Sem Espinhas» (Retur), do Hotel Vasco da Gama, «Veia & Calados, Lda», das zonas concessionadas e da Cruz Vermelha – Núcleo de Tavira .
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DESPORTO
II ETAPA DO CAMPEONATO NACIONAL DE FUTEVÓLEI 2015 DISPUTOU-SE NA PRAIA GRANDE
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ob a organização da Federação Nacional de Futevólei e com o apoio da Câmara Municipal de Lagoa, Junta de Freguesia de Ferragudo e outros parceiros locais, a Praia Grande recebeu mais uma jornada do 10.º Campeonato Nacional de Futevólei. Participaram 18 equipas, envolvendo 36 atletas de todo o país, bem como duas duplas espanholas. A experiente dupla portuguesa constituída por Miguel Pita
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DESPORTO e Calita, representantes do Imortal DC, foi a grande vencedora desta 2ª etapa. O evento teve início no sábado, com as equipas a discutirem o apuramento, divididas em quatro grupos. Numa primeira fase, as dez duplas menos cotadas no ranking discutiram o acesso ao Qualifying, após o que as restantes oito duplas mais cotadas iniciaram a sua participação. Já com as quatro primeiras duplas apuradas para os quartos-de-final, o primeiro dia de prova fechou com o apuramento das outras quatro. O último dia da etapa teve o seu início pelas 15h30, com oito equipas a medir forças nos quartos de final, de que resultou o apuramento para as Meias-Finais das duplas Bruno Xavier/Xande (Bellavista DC), Miguel Pita/Calita (Imortal DC), Marco Gamito/Frank Tavares (Imortal DC) e André Gomes/Ruben Santos (Estoril Praia), os vencedores da I etapa, em Quarteira. Nas Meias-Finais, Miguel Pita/Calita e André Gomes/Ruben Santos, venceram os seus adversários em dois sets sem resposta.
Em clima de festa, num excelente ambiente e animação, chegou-se à discussão da grande Final da etapa, com excelente começo da dupla algarvia, que acabou por dar alguma segurança ao seu jogo, fechando o 1.º set em 15x11. Sem qualquer margem para novo deslize, André Gomes/Ruben Santos não conseguiram impor, contudo, o seu jogo, acabando por perder novamente no 2.º set, dando a vitória à dupla portuguesa Miguel Pita e Calita, representantes do Imortal DC .
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DESPORTO
100 MIL PESSOAS PASSARAM PELO AIA NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2015
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Autódromo Internacional do Algarve registou nos primeiros sete meses deste ano uma taxa de ocupação superior aos 90 por cento, tendo acolhido um conjunto de grandes eventos mundiais que trouxeram até ao circuito cerca de 100 mil pessoas, projetando o nome de Portimão e da região além-fronteiras. Por isso, assume-se como um dos principais circuitos do mundo graças, não só às condições técnicas do traçado, como também às condições climatéricas da região onde se situa, merecendo o reconhecimento de equipas, técnicos e clientes convidados pelas grandes marcas de automobilismo, e o destaque de fotógrafos e jornalistas que acompanham os diferentes eventos.
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Do calendário que marcou a primeira parte do ano, fizeram parte não só provas desportivas do calendário internacional mas também testes de equipas do Mundial SBK, da Bentley HTP Motorsports, bem como apresentações de grandes marcas mundiais como é o caso da Porsche, Mercedes e Audi que contam, em média, com a presença de 300 jornalistas vindos de todo o mundo, para além dos convidados e toda a equipa responsável pela organização de cada um dos eventos que, durante o mês em que decorre a ação permanecem na região. Aos eventos de maior impacto que marcaram o calendário até ao momento, acrescem ainda outros de menor dimensão que somados representam um importante fator de desenvolvimento económico na região .
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