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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 25 de janeiro, 2020

TEATRO DE REVISTA DO CLUBE ARTÍSTICO LACOBRIGENSE ANDRÉ SARDET E JOÃO SÓ | TERESA ALEIXO | NÃO HÁ PLANETA B | FERNANDO LOBO 1 #233 LUÍS ENCARNAÇÃO | FESTA DAS CHOURIÇAS DE QUERENÇA | DIA DEALGARVE VILAINFORMATIVO DO BISPO


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32 - Fernando Lobo

82 - Não há Planeta B 70 - Festa das Chouriças em Querença

46 - Luís Encarnação ALGARVE INFORMATIVO #233

98 - André Sardet e João Só em Lagoa 8


110- Teresa Aleixo no Choque Frontal ao Vivo

58 - Clube Artístico Lacobrigense

142 - Eurorregião Alentejo/Algarve/Andaluzia 14 - Encontros Internacionais da Política e da Imagem em Lagoa

22 - Dia de Vila do Bispo

OPINIÃO 120 - Paulo Cunha 122 - Mirian Tavares 134 - Exposição vai recordar seis mil anos de história de Quarteira 124 - Ana Isabel Soares 126 - Fernando Esteves Pinto 128 - Vera Casaca 130 - Alexandra Gonçalves Rodrigues 9

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Luís Encarnação, Graça Fonseca e José Águas da Cruz

MINISTRA DA CULTURA ELOGIOU CASA DA CIDADANIA E ENCONTROS INTERNACIONAIS DA POLÍTICA E DA IMAGEM DE LAGOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina o âmbito da instalação da Casa da Cidadania nos antigos Paços do Concelho de Lagoa, a Câmara Municipal de Lagoa organizou os primeiros Encontros Internacionais da ALGARVE INFORMATIVO #233

Política e da Imagem de Lagoa – Política&Imagem, de 15 a 18 de janeiro. O intuito foi criar um espaço e um momento de reflexão na relação entre a política e a imagem no séc. XXI e o evento resultou de uma residência artística para a qual foram convidados quatro fotógrafos portugueses de 14


referência, que ali construíram um conjunto de projetos fotográficos que tiveram como objeto de trabalho o concelho de Lagoa. Nesse sentido, Paulo Catrica debruçouse sobre arquitetura e as formas de habitar, resultando este seu projeto na exposição «Prospectus». Augusto Brázio optou pelo turismo e a indústria turística e a sua exposição teve o título «Os filhos do sol: a busca do idílico». Lara Jacinto desenvolveu um projeto sobre trabalhadores migrantes que deu origem a «Paraíso». Já Valter Vinagre documentou as confissões religiosas presentes em Lagoa, em «Corações ao Alto». Para esta edição foi também convidado o fotógrafo João Pina, que deu a conhecer o trabalho que tem em curso na Colômbia sobre refugiados venezuelanos, sob a designação 15

«Caminantes». As primeiras três exposições estiveram patentes no Centro Cultural Convento de São José, ao passo que a de Valter Vinagre pôde ser visitada no Salão Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Luz, na Igreja Matriz de Lagoa, e «Caminantes» na Sala das Sessões dos antigos Paços do Concelho. A par das conferências com vários convidados portugueses e estrangeiros, sobre como documentar o mundo, o diálogo interconfessional e as migrações no séc. XXI, foram também lançados os cadernos da Casa da Cidadania com os projetos fotográficos resultantes das residências artísticas, e apresentada a medalha Cross-Border, da autoria do mestre-escultor e medalhista José Teixeira. O projeto da Casa da ALGARVE INFORMATIVO #233


João Pina, Paulo Catrica, Lara Jacinto, Augusto Brázio e Valter Vinagre

Cidadania foi divulgado pelo presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Luís Encarnação, no dia 16 de janeiro, data comemorativa da criação do Concelho de Lagoa, havendo ainda lugar à projeção de filmes de Sérgio Tréfaut, entre os quais «Raiva», o seu último e premiado filme. No final de quatro dias intensos “de

reflexão e partilha de visões e formas diversas de pensar o mundo que nos rodeia”, o sentimento de Luís Encarnação era de dever cumprido.

“Comemoramos publicamente e de forma alargada o 247.º aniversário do Município de Lagoa; reforçamos a presença de Lagoa no mapa cultural regional, nacional e ALGARVE INFORMATIVO #233

internacional; e criámos em Lagoa um fórum internacional onde a política foi discutida a partir de olhares como a filosofia, a antropologia, a arte, a comunicação e a informação; e criámos as condições para o encontro e o diálogo em torno das questões culturais, sociais e políticas, situando este concelho no mundo contemporâneo”, analisou o edil lagoense, aquando do encerrar dos Encontros, no dia 18 de janeiro. “Em 2020, quando se

comemora o bicentenário do constitucionalismo português, Lagoa assinala os seus 247 anos 16


de história municipal. Imbuída deste espírito de liberdade, de servir o interesse comum e de procurar o bem público, a Câmara Municipal de Lagoa assume como prioridade a construção da sua Casa da Cidadania e, com este projeto cultural, reforçamos a nossa política de cidadania”, salientou Luís Encarnação. 2020 é, de facto, o ano em que a Casa da Cidadania irá arrancar fisicamente, num projeto que partiu da intenção de dignificar o primeiro edifício construído em Lagoa para ali se exercer o poder local, “procurando assim valorizar os

lagoenses e os eleitos que, ao longo de 247 anos, têm servido Lagoa”. “Lagoa, com estes Encontros de 17

Política e Imagem e com a Casa da Cidadania, quer trabalhar em rede, como vem sendo a estratégia definida por este executivo em diversas áreas de atuação. Mas estes projetos em rede têm que contar, não apenas com as instituições locais e regionais, mas também com parcerias nacionais estratégicas. E a parceria do Ministério da Cultura e dos diversos organismos que se encontram sob a sua tutela assume a maior importância na consolidação deste projeto, que pretende colocar o exercício da cidadania

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no centro da discussão”, considera Luís Encarnação. Presente no último dia dos Encontros Internacionais da Política e da Imagem de Lagoa esteve precisamente a Ministra da Cultura, Graça da Fonseca, que deu os parabéns a Luís Encarnação pelo evento e pelo projeto da Casa da Cidadania.

“Promover e fortalecer a cidadania cultural tem sido uma das áreas que mais temos procurado trabalhar nos últimos anos. Na forma como vemos uma estratégia para política pública de cultura tem muita importância o papel de cada cidadão, das empresas e associações, do substrato da sociedade, e a forma como tudo ALGARVE INFORMATIVO #233

está entrosado na produção artística e no que acontece nos territórios em termos culturais”, sublinhou a governante. “Não apenas numa lógica de diversificação de fontes de financiamento, mas também da preservação do património cultural, da sustentabilidade das políticas, e isso passa muito pela forma como cada um de nós se relaciona com o património e a criação artística e como usufruímos da cultura. É isso que vai permitir que, no futuro, aquilo que vamos construindo ao longo do tempo nunca seja posto em causa”, justificou. 18


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Graça Fonseca admitiu que, nos tempos atuais, tudo em Portugal parece mais ou menos óbvio nestas matérias, “mas

tudo isto pode mudar um dia, consoante a forma como o Estado se organiza”, “Por isso, é bastante importante trabalharmos a relação de cada um de nós com o património e a cultura. Não temos receitas mágicas, não sabemos exatamente todas as respostas, temos algumas medidas equacionadas e pensadas para envolver os cidadãos com o seu património, mas há que garantir ALGARVE INFORMATIVO #233

que aquilo que queremos deixar para as próximas gerações esteja dinamizado, cuidado, valorizado. Acima de tudo, queremos que os cidadãos sejam embaixadores e defensores do seu património”, defendeu a Ministra da Cultura .

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VILA DO BISPO FESTEJOU FERIADO MUNICIPAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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o dia 22 de janeiro, Dia de São Vicente, Vila do Bispo festejou o seu feriado municipal com o tradicional hastear da bandeira e toque do hino nacional pela Banda Filarmónica 1.° de Maio de Lagos, a que se seguiu a Sessão Solene da Assembleia Municipal de Vila do Bispo. Uma oportunidade para Adelino Soares falar dos principais objetivos para o corrente ano, mas também para elogiar “a maturidade política” que se vive atualmente no concelho. “Vila do

Bispo, hoje, nada tem a ver, do ponto de vista da imagem, com o que era há 10 anos. Estamos muito melhores, bem mais atrativos e modernos, e isso deve-se ao esforço dos empresários, dos políticos e de todas as pessoas que se interessam 25

por este concelho. Somos também uma referência nacional a nível do turismo de natureza, na sustentabilidade do território e das finanças locais, na transparência municipal e na modernização administrativa. Em suma, falamos de investimentos públicos e nas nossas pessoas bem conseguidos”, declarou em início de intervenção. Resolver os problemas dos cidadãos foi a missão para a qual o executivo liderado por Adelino Soares foi eleito em 2017, com o edil vila-bispense a enumerar cinco objetivos principais para o corrente ano. “Vamos, sem

dúvida nenhuma, pagar toda a dívida da Câmara Municipal, o culminar de uma aposta feita há uma década. E só não ALGARVE INFORMATIVO #233


Adelino Soares, presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo

conseguimos saldar a nossa dívida no final de 2019 porque o Estado ainda nos deve um milhão e meio de euros. Com esse valor, que é nosso, da autarquia, teríamos superavit”, garante, considerando que essa concretização irá influenciar todas as políticas futuras da autarquia. Obra extremamente pertinente para Vila do Bispo é «O Celeiro da História», resultante da reabilitação do edifício dos antigos Celeiros em Vila do Bispo. “O

nosso concelho forneceu material para praticamente todos os museus ALGARVE INFORMATIVO #233

de Portugal, é um território com uma história importante para a própria Humanidade, e faz todo o sentido possuir um espaço museológico que nos identifique a todos nós, mas que também nos promova, em termos culturais e turísticos”, defendeu Adelino Soares. Continuar a investir na segurança e na sustentabilidade do território é outro dos propósitos para 2020, mas o autarca recordou as críticas de que a sua equipa foi alvo quando, no passado, despenderam dinheiros 26


camarário nessa matéria. “Não é, de

facto, uma competência das autarquias locais, mas hoje vemos muitos municípios a realizarem os mesmos investimentos que nós já efetuámos no passado. Porque a segurança é um fator primordial num concelho turístico como Vila do Bispo”, salientou, antes de falar da revisão do Plano Diretor Municipal. “Não nos podemos esquecer que há sete anos que estamos impedidos de construir no nosso território, fruto de um erro que foi a publicação de uma carta da Reserva Ecológica Nacional que nos tem prejudicado a nós, políticos, aos investidores e às pessoas que aqui vivem. Estamos agora a fazer a revisão da Reserva 27

Ecológica Nacional e da Reserva Agrícola Nacional, a Avaliação Ambiental Estratégica e o Mapa de Ruído e vamos lançar em breve o procedimento da revisão do Plano Diretor Municipal”, revelou Adelino Soares. “O último documento, de primeira geração, data de 1995, levou estes anos todos até ser revisto, portanto, o que vamos agora decidir, do ponto de vista urbanístico, para o nosso concelho, será aquilo com que as pessoas terão que lidar nas próximas décadas”, avisou. A habitação foi o último item destacado por Adelino Soares na Sessão Solene da Assembleia Municipal, lembrando o esforço que foi ALGARVE INFORMATIVO #233


exigido à população, em termos de impostos, para que a autarquia conseguisse adquirir vários terrenos para esse efeito. “Queremos desenvolver

uma política de habitação como não se vê há várias décadas. Temos no concelho um forte investimento no campo do alojamento local, mas a primeira habitação é a nossa principal preocupação para este mandato, porque queremos fixar mais pessoas no concelho. E a nossa dedicação à causa pública será ALGARVE INFORMATIVO #233

inabalável, mesmo que isso afete a tranquilidade política que vivemos atualmente. Uma maioria absoluta não tranquiliza, assim como trabalhar em minoria não me assusta. Temos grandes desafios pela frente neste grande território que somos e acredito que cumpriremos com lealdade as funções que nos foram confiadas”, finalizou Adelino Soares. 28


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Fernando Lobo regressou ao seu Algarve com muitos projetos na manga Inaugurou, no dia 10 de janeiro, na Associação Re-Criativa República 14, em Olhão, a primeira exposição de Fernando Lobo no Algarve desde que regressou à sua terra natal em 2019. O farense tem vindo a acumular experiência no campo das artes gráficas ao longo de mais de 40 anos, dos quais 33 passados na Holanda, onde foi Diretor Artístico no departamento de publicidade do maior jornal local – De Telegraaf – para além de ter trabalhado noutras agências de publicidade. É igualmente um dos sócios fundadores da editora algarvia Arandis, juntamente com Nuno Campos Inácio e Sérgio Brito, e desde 2012 que trabalha como editor e designer, tendo paginado e publicado mais de duas centenas de livros de autores algarvios através desta chancela. Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO INFORMATIVO #233 #233 ALGARVE

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oi na Re-Criativa República 14 de Olhão que estivemos à conversa com Fernando Lobo, farense de gema, um sessentão que passou metade da sua vida na Holanda, onde exerceu, na maior parte do tempo, funções de Diretor Artístico no «De Telegraaf». Antes disso, porém, logo a seguir à Revolução dos Cravos, deu aulas de Design Gráfico, Desenho e Teoria do Design em Portimão. Em 1979 trabalhou numa reputada gráfica do Algarve e pode-se dizer que ali teve a sua verdadeira aprendizagem no ofício. “Em

1974 estava em Belas Artes, mas, com a revolução, qual era o jovem de 18 anos que ia às aulas? Eu queria era ir para a rua”, recorda, com um sorriso. Anos depois rumou à Holanda, não por motivos profissionais, mas atrás do amor, e nos Países Baixos constituiu família. E tudo corria de feição até aos atentados do 11 de setembro, altura em que muitas empresas encetaram um processo de reorganização e corte de efetivos. “A

certa altura, o departamento de publicidade do jornal foi parar à Índia e comecei a dedicar-me mais à minha expressão criativa. Já tinha muitas gavetas e pastas cheias de trabalhos, não queria perder a mão, o traço. Aliás, ando sempre com um caderno para fazer desenhos porque quero surpreender-me a cada momento. E, com quase 64 anos, se ainda tiver uns bons 20 ALGARVE INFORMATIVO #233

aninhos pela frente, quero vivê-los no Algarve”, afirma. “A Holanda pode parecer muito bonita à distância, mas o Algarve é bem melhor. Estamos aqui a falar sob este céu azul e este sol brilhante, é como se já estivéssemos na Primavera”. Há pouco mais de seis meses em Portugal, num instante Fernando Lobo se 34


apercebeu das diferenças culturais existentes entre os dois países e projetos não lhe faltam, garante. “Claro que vou

a mesma coisa”, distingue o

trabalhar muito para a Arandis na minha vertente de design gráfico e composição de livros, mas quero dar também o meu contributo para a produção artística do Algarve. Há muita cultura – cerveja é cultura, marisco é cultura, berbigão é cultura – mas cultura e arte não são

existência de Arandis já produzimos mais de 200 livros de algarvios ou de pessoas ligadas ao Algarve, portanto, há muito talento e expressão artística. E há bastantes equipamentos culturais. Posso dizer, inclusive, que não assisti, na Holanda, a tantos concertos de

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entrevistado, o que não significa que ela não exista. “Em sete anos de

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espaços e financiamentos para que tudo isso aconteça, mas na Holanda há empresas com lucros extraordinários que reinvestem na sociedade através da produção artística e, em Portugal, não vejo isso. Produção artística existe, mas desformatada, não académica. No final dos anos 70 já havia muita gente ligada à arte, há um mundo paralelo que ainda não encontrou voz e a comunicação social também tem culpa nisso, porque se foca nas coisas mais mainstream”, analisa o

música boa como o tenho feito no Algarve”, destaca. Fernando Lobo encontrou, então, muitas pessoas a produzirem boa música e poesia, mas nota que os responsáveis e decisores políticos falam com maior frequência dos equipamentos culturais do que de produção artística. “E o que me

interessa a mim é essa coisa mais subtil ligada à espiritualidade, o que é a arte, de onde vem a música. É óbvio que é preciso haver bons ALGARVE INFORMATIVO #233

artista, mostrando-se motivado para dar o seu contributo para uma alteração deste cenário, mas sem nunca esquecer as questões espirituais. “Nós

somos seres espirituais que estão a ter uma experiência física e não seres físicos que, depois de morrerem, vão ter uma experiência espiritual”, defende. Vida cultural há no Algarve, mas também está muito dependente da produção proveniente de outros pontos do país, lamenta Fernando Lobo. Porque são os nomes sonantes que atraem mais 36


público e os equipamentos têm que mostrar resultados, apresentar boas performances em termos de assistência, para justificar o investimento que foi neles realizado. “Acredito que há

interessam por cultura diferente das manifestações de massa. E em Olhão e São Brás de Alportel, por exemplo, há várias associações público para todos os produtos culturais com imensos cidadãos culturais, mas ele tem que ser estrangeiros, que, se calhar, até têm respeitado e levado a sério, não se um amor pelo Algarve superior ao deve apenas oferecer coisas de fácil dos próprios algarvios. É esse amor consumo. O Frank Zappa disse, nos que quero viver para mim e anos 60, que ia para o estúdio fazer espalhar à minha volta. O Sol olha à música e aquilo vendia bem. Depois, sua volta e só vê corpos iluminados, os tipos do marketing queriam que portanto, se espalharmos luz, ele fizesse a mesma coisa para recebemos luz de volta. Só que o continuar a vender bem. Aí acaba a pessimismo inato dos portugueses criatividade”, critica, entendendo que a chega a ser confrangedor”, desabafa. arte não deve ser feita com intuitos “Quando não estamos a olhar para comerciais. “Vejo que existe um o nosso umbigo, estamos a olhar público bastante eclético no para o lado negro das coisas”, Algarve, uma camada da população reforça. muito educada, pessoas que se 37

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Algarve tem muito entrevistado. “Há sempre tempo para mais para oferecer a entrar em contato comigo próprio Portugal do que o através do desenho e da pintura, o dinheiro do turismo que também tem uma função Do contato diário com o mundo real, com a fonte, nasce a criação artística de Fernando Lobo, mas sempre vista de uma forma espiritual, não se cansa de referir o ALGARVE INFORMATIVO #233

terapêutica. Quando dei aulas no Algarve e no Alentejo a seguir ao 25 de abril perguntava logo às crianças quais é que sabiam desenhar. No 38


e as imagens estranhas que lá estão”. São essas «imagens estranhas» de Fernando Lobo que estão expostas, até 11 de fevereiro, na Re-Criativa, em Olhão, a maior parte delas produzidas na Holanda, outras já feitas no Algarve, mas todas “made in Algarve”, aponta o entrevistado. “As pessoas estão a

ficar cada vez mais bairristas e os países estão a dividir-se em pequenas partes, mas há, por outro lado, uma maior unificação do que é ser humano. Porque, para sermos todos «um», primeiro temos que nos unificar a nós próprios, o que passa pelo reconhecimento da nossa espiritualidade. Continuo à procura de um estilo e de uma voz gráfica, uma busca que vai durar até ao meu último dia neste planeta. Mas é muito interessante olhar para dentro, porque é lá que estão armazenadas todas as nossas imagens e vivências e cada um de nós tem a sua vida e visão. Cada um ocupa o seu próprio espaço e tem a sua própria realidade”, acredita. final do ano letivo todos sabiam desenhar, e isso não se prende ao traço e à mão, mas a saber olhar para as coisas”, conta, com um sorriso. “No fundo, somos todos artistas, temos é que respeitar essa «mina preciosa» que temos dentro de nós

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Entende-se, por isso, que Fernando Lobo não está muito preocupado em seguir esta ou aquela corrente artística, tem o seu estilo próprio, seja no desenho ou na pintura. “Como dizia o Walt

Whitman, contemos multidões dentro de nós, pelo que é natural haver contradições. Trabalhar apenas num estilo limita-me, gosto ALGARVE INFORMATIVO #233


de fazer coisas sem carimbo”, sublinha, acrescentando que também não tem uma rotina diária para criar. “A

cabeça senta-se no trono e diz que ela é que manda, mas é o chakra do coração que comanda as mãos. Nunca tenho uma ideia préconcebida do que vou fazer, quero surpreender-me, e isso significa que tenho de chegar a um ponto em que existe um automatismo, uma espécie de transe, mas nada que seja fora do nosso alcance. Procuro aquele momento íntimo de diálogo interior e depois vejo o que acontece”.

Editora, Fernando Lobo já colaborou com o poeta Joaquim Morgado com os seus desenhos e, no final de janeiro, sairá outro livro feito em parceria com Adalberto Alves. “Ofereci-lhe um livro

com as minhas aguarelas e ele escreveu poemas para elas. Há aquela ideia de que o artista gráfico ilustra as palavras, neste caso, são as palavras que vêm ilustrar as aguarelas”, revela o entrevistado, julgando que criar no Algarve será bem diferente do que fazê-lo na Holanda, ainda que com o Algarve no pensamento.

“Tenho amigos estrangeiros que se fixaram no Algarve simplesmente por causa da luz algarvia, que é muito especial. Estou expetante Entretanto, a par dos desejos e pinturas, para ver o que me vai acontecer daqui para a frente. Durante mais e da composição de livros para a Arandis ALGARVE INFORMATIVO #233

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“A cabeça senta-se no trono e diz que ela é que manda, mas é o chakra do coração que comanda as mãos. Nunca tenho uma ideia pré-concebida do que vou fazer, quero surpreender-me, e isso Expetante, mas sem ter expetativas, prefere não esperar nada, porque assim significa que tenho de pode acontecer tudo, assim fala Fernando chegar a um ponto em que Lobo. “Se não me surpreender todos existe um automatismo, os dias, não sei para que é que uma espécie de transe, acordei e sai da cama. Não tenho mas nada que seja fora do expetativas, mas preciso ter nosso alcance. Procuro consciência, aquilo que nos situa no aquele momento íntimo tempo e no espaço, que nos mostra de diálogo interior e de onde vimos e para onde vamos. Quero conhecer e dar a conhecer a depois vejo o que maior parte do Algarve”, assume, acontece”.

de 150 anos, fomos o Reino de Portugal, do Brasil e dos Algarves e é dessa essência algarvia que andamos todos à procura. Esta região tem mais a oferecer a Portugal do que apenas o dinheiro do turismo”.

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aproveitando para desvendar alguns dos projetos que tem em carteira. “Há

planos para iniciar uma tertúlia no Café Calcinha, em Loulé, com escritores algarvios e os seus livros. Queremos também dar maior projeção à Arandis a nível nacional, porque, como estamos à margem, não somos muito reconhecidos por todo o trabalho que já fizemos nestes sete anos. E queremos desmistificar um bocadinho a nossa herança árabe. Foram, de facto, os árabes que cá estiveram, mas a sua cultura veio da civilização persa”, distingue o farense. “No plano dos livros, há um projeto interessantíssimo que quero trazer à boca de cena, uma colaboração com o Adalberto Alves, o maior ALGARVE INFORMATIVO #233

arabista da Península Ibérica e premiado pela UNESCO que celebra, em 2020, 40 anos de escritor. Será um livro com textos do Adalberto e desenhos feitos pelo investigador, arquiteto, artista, escultor e Homem da Renascença, Vítor Borges, sobre o levantamento que efetuou sobre a Silves Islâmica. D. Afonso III chegou de espada em punho e destruiu, ou assimilou, uma cultura que esteve cá durante mil anos. Córdoba era, na altura, provavelmente a maior cidade da Europa, e Silves era a segunda mais importante. É um livro bastante importante para a história do Algarve” .

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LAGOA VAI SER CIDADE SUSTENTÁVEL NO ANO EM QUE AVANÇA TAMBÉM A CASA DA CIDADANIA Depois de ter sido Cidade Educadora, Inclusiva e Inteligente, Lagoa vai dedicar 2020 ao tema «Cidade Sustentável», com a Câmara Municipal liderada por Luís Encarnação a pretender ser uma organização piloto ao nível das políticas públicas responsáveis. Mas 2020 é também o ano da Casa da Cidadania, um projeto que reforça a política de cidadania assumida nos últimos ciclos de gestão e refletida nas prioridades concedidas às áreas da educação, inclusão, solidariedade, cultura e promoção de saúde e bem-estar das pessoas. Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Município de Lagoa deu a conhecer, no dia 18 de janeiro, o mote do seu ano temático em 2020, «Lagoa – Cidade Sustentável», numa estratégia implementada, em 2017, que já incluiu os temas «Cidade Educadora», «Cidade Inclusiva» e «Cidade Inteligente», mas sempre com um particular realce para a questão da educação. Porque, em Lagoa, procura-se criar sistematicamente uma melhor conjuntura para o acolhimento de pessoas de todas as idades e condições socioeconómicas, com diferentes culturas e formas de estar e viver a cidade, que se pretendem manter ativas e saudáveis,

“num concelho que se deseja sustentável e vivido”, explica Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa. “Vamos agora

trabalhar a sustentabilidade e a construção de uma cidade sustentável em três dimensões: económica, social e ambiental. O objetivo está perfeitamente definido, tornar o nosso território cada vez melhor para se viver, estar, trabalhar e visitar, sempre com a «Cidade Educadora» como âncora da nossa atuação”. E se é verdade que a sustentabilidade é daquelas palavras que, na última década, faz parte do discurso de todos os políticos, em Lagoa ela é encarada bastante seriamente, assim como a Agenda 2030 e os seus 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável. “De há

uns anos a esta parte que levamos a ALGARVE INFORMATIVO #233

cabo várias iniciativas e trabalhamos diversas matérias que se enquadram nesta dinâmica. Quando se fala em sustentabilidade, pensa-se logo na questão ambiental, mas vamos focar-nos em projetos e ações que contribuam para a saúde e educação de qualidade (ODS 3 e 4), que garantam a igualdade entre mulheres e homens nas diferentes esferas da vida (ODS 5), que facultem energias renováveis e acessíveis (ODS 7), que reduzam as desigualdades (ODS 10), que construam uma cidade e comunidade sustentáveis (ODS 11), que incentivem a produção e consumo sustentáveis (ODS 12), que contribuam para uma ação climática (ODS 13), que favoreçam a paz e instituições eficazes (ODS 16) e que mobilizem parcerias para a implementação destes objetivos (ODS 17)”, adianta o edil, acrescentando que o objetivo global, conforme referido, é melhorar as condições de vida das pessoas, preservando, simultaneamente, o meio ambiente a curto, médio e longo prazo. Luís Encarnação recorda, por exemplo, que a Câmara Municipal de Lagoa dinamiza um programa de educação ambiental que partilha com todas as escolas do primeiro ciclo do concelho, porque os desafios dos tempos modernos exigem uma mudança de mentalidades. “É muito 48


difícil procurar alterar hábitos que já estão enraizados na sociedade, mas os nossos jovens estão bastante mais abertos a estas questões, a aceitarem estes princípios, a compreenderem que há que modificar as estratégias dos indivíduos e das famílias. Se continuarmos com este estilo de 49

vida, o planeta não vai aguentar”, alerta o autarca lagoense. “Ainda recentemente desenvolvemos com as EB1 o projeto «O mar começa aqui», em que nos focamos nas sarjetas da cidade de Lagoa, porque aquilo que colocamos nos nossos pluviais vai invariavelmente parar ao oceano. ALGARVE INFORMATIVO #233


Mas Lagoa foi também pioneira ao criar, no Sítio das Fontes, em Estômbar, um medidor da pegada ecológica, para sabermos que recursos vamos consumindo no diaa-dia. Para além disso, no concelho de Lagoa, quase 25 por cento das luminárias já têm tecnologia LED e, deste modo, vamos eliminando gradualmente o vapor de sódio e o vapor de mercúrio, que consomem muito mais recursos e são prejudiciais para o ambiente”, indica o entrevistado, revelando ainda a intenção do Município de Lagoa adquirir 10 viaturas elétricas para começar a remodelar a frota da autarquia. “É um

sinal que queremos dar aos lagoenses de que esse é o caminho a seguir. Para já vamos criar postos de abastecimento para as viaturas elétricas da câmara municipal, mas estamos igualmente a avaliar algumas propostas no sentido de se implantarem postos no concelho para os próprios cidadãos abastecerem as suas viaturas particulares”. Ao longo da conversa com Luís Encarnação constatamos que a Câmara Municipal de Lagoa fomenta também políticas no âmbito da prevenção e promoção da saúde e bem-estar biopsicossocial das pessoas, integrando, inclusive, a Rede Portuguesa de Municípios Saudáveis; tem uma programação desportiva adaptada às necessidades de cada pessoa ou grupo; ALGARVE INFORMATIVO #233

subscreveu a Carta das Cidades Educadoras, em 2018, e atribui uma importância central à educação, formação e qualificação ao longo da vida; desenvolveu Planos Municipais para a Igualdade e Cidadania e adotou uma Política de Conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal; está apostada em garantir o acesso de todas as pessoas à habitação, serviços 50


básicos e sistemas de transportes seguros, acessíveis e sustentáveis. E tudo isto é feito de forma harmoniosa num concelho conhecido pela sua multiculturalidade, assegura o entrevistado. “Hoje, as preocupações

da sustentabilidade são transversais a todas as sociedades, países e culturas. E escolhemos estes 10 ODS 51

para atuarmos mais incisivamente tendo em conta precisamente a realidade do concelho de Lagoa, este seu aspeto cosmopolita recheado de diferentes culturas. Não nos podemos esquecer que 18 por cento da nossa população residente, mais de quatro mil ALGARVE INFORMATIVO #233


pessoas, são cidadãos estrangeiros”. Luís Encarnação frisa ainda que o Município de Lagoa não partiu do zero em nenhum dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável preconizados pela Agenda 2030, havendo agora uma vontade de se sistematizarem procedimentos para se obterem resultados ainda mais positivos.

“Queremos dar um sinal forte à comunidade de que isto não se trata apenas de uma medida da autarquia, mas que deve ser um ALGARVE INFORMATIVO #233

desígnio de toda a cidade e concelho”, aponta o edil, esclarecendo ainda que não estamos a falar de obras físicas, de construção de novos equipamentos. “Trata-se,

sobretudo, de trabalhar mentalidades e comportamentos. Não temos muita coisa para construir em 2020, mas iremos desenvolver várias campanhas de comunicação e sensibilização junto da população, como é o caso concreto do consumo da água. Existem também medidas 52


internas que já estavam pensadas e que vão agora avançar para se evitar ou reduzir as perdas reais de água devido a problemas que estão devidamente identificados”.

RECORDAR OS LAGOENSES DO PASSADO Obra física é a Casa da Cidadania, um projeto coordenado cientificamente pelo antropólogo Paulo Lima e que vem sendo trabalhado internamente na Câmara Municipal de Lagoa, nas áreas da cultura, educação, igualdade e cidadania, em particular, mas cujo alcance é bem mais abrangente. “É um espaço para

exposições sobre o que é isto da cidadania, da participação pública e da política. Ao mesmo tempo, teremos uma plataforma digital para nos contar a história, o MuCid – Museu Digital da Cidadania e dos Movimentos Sociais, com recolha de testemunhos da história oral. Iremos também evidenciar figuras ligadas ao concelho e, através delas, marcar a história local, nacional e internacional”, explica Luís Encarnação. A Casa da Cidadania vai dar vida aos antigos Paços do Concelho, o primeiro edifício construído em Lagoa para o exercício do poder local, e o entrevistado espera que o novo equipamento possa vir a ser inaugurado em janeiro de 2021.

“Hoje é muito difícil para um autarca fazer este tipo de previsões 53

Luís Encarnação: “É muito difícil procurar alterar hábitos que já estão enraizados na sociedade, mas os nossos jovens estão bastante mais abertos a estas questões, a aceitarem estes princípios, a compreenderem que há que modificar as estratégias dos indivíduos e das famílias. Se continuarmos com este estilo de vida, o planeta não vai aguentar”. com algum grau de certeza, porque nunca sabemos se os concursos vão ficar desertos ou receber candidaturas, ou quanto tempo é que os projetos vão ficar no Tribunal de Contas a aguardar luz verde”, comenta. “Este ano vamos desenvolver o projeto museológico, lançar e iniciar a obra, com o objetivo de, daqui a um ano, estarmos a inaugurar a Casa da Cidadania. A nossa dúvida inicial, quando pensamos em criar um museu em Lagoa, é se iriamos fazer «mais do mesmo», encontrar um espaço onde ALGARVE INFORMATIVO #233


Luís Encarnação: “Trata-se, sobretudo, de trabalhar mentalidades e comportamentos. Não temos muita coisa para construir em 2020, mas iremos desenvolver várias campanhas de comunicação e sensibilização junto da população, como é o caso concreto do consumo da água. colocaríamos achados e artefactos do passado que contassem uma história e que pudessem ser visitados por quem se interessa por esta matéria; ou se iriamos optar por um projeto diferenciador e inovador. Nas várias conversas e reflexões que fomos fazendo, ainda na altura do presidente Francisco Martins, chegamos à conclusão que seria melhor apostar em algo diferente”, relata Luís Encarnação. “É um projeto museológico, porque nos remete para os lagoenses que cá estiveram antes de nós, aqueles que mais se distinguiram, que foram os autarcas que tomaram as decisões, que tiveram os seus atos de gestão e democracia. Mas também lá terão lugar as sessões da Assembleia Municipal e as sessões ALGARVE INFORMATIVO #233

de Câmara, ou seja, os atos de cidadania dos tempos modernos”. O equipamento será, portanto, mais um sinal dado pelo Município de Lagoa à sociedade para a importância dos princípios defendidos pela Cidade Educadora, Inclusiva, Inteligente e Sustentável. “Ninguém pode ficar

para trás, todos contam verdadeiramente, e o ato de cidadania é participarmos de forma positiva, dando o nosso contributo para criarmos uma sociedade cada vez melhor. Queremos que os lagoenses saibam que existe um local físico onde podem encontrar os valores e princípios que definem as sociedades modernas”, frisa Luís Encarnação, sublinhando que 2020 será um ano de consolidação da estratégia prosseguida por este executivo camarário no passado recente.

“Iremos ainda continuar a procurar melhorar e embelezar o espaço público e ser mais eficazes na recolha dos resíduos urbanos. Os lagoenses merecem ter um espaço público bem cuidado, o que também é crucial num concelho cuja atividade económica gira toda ao redor do turismo. E manteremos, claro, a nossa aposta na cultura, educação, ação social e desporto”, assegura o presidente da Câmara Municipal de Lagoa .

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TEATRO DE REVISTA DO CLUBE ARTÍSTICO LACOBRIGENSE FEZ RIR CENTRO CULTURAL DE LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #233

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boa-disposição esteve à solta, de 9 a 11 de janeiro, no Centro Cultural de Lagos, com a ida a cena do Teatro de Revista do Clube Artístico Lacobrigense. O espetáculo apresentou uma panóplia de artes cénicas que foram desde o canto à dança e à representação teatral, sempre com momentos hilariantes de crítica social enriquecidos por alegres bailados e canções, como manda a tradição da Revista à Portuguesa. Fundado a 24 de agosto de 1872, o Clube Artístico Lacobrigense depressa assumiu um papel de destaque no panorama ALGARVE INFORMATIVO #233

associativo lacobrigense, contribuindo para o incremento cultural e recreativo do concelho de Lagos. Nascido simplesmente pela vontade e determinação de um pequeno número de lacobrigenses, os «Artistas» conheceram, como qualquer instituição com estas características, momentos altos e outros de fraca incidência, numa existência que já ultrapassa o centenário de atividade ininterrupta. Mas, a julgar pelo talento e dinamismo que pisou o palco do Auditório Duval Pestana nestas três noites, o Clube Artístico Lacobrigense está de regresso à boa-forma. E a cultura de Lagos agradece .

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FESTA DAS CHOURIÇAS EM QUERENÇA HOMENAGEOU S. LUÍS E PROMOVEU GASTRONOMIA SERRANA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Irina Kuptsova

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uerença voltou a ser palco, no dia 19 de janeiro, da tradicional Festa das Chouriças em Honra de S. Luís, naquele que é um dos principais eventos gastronómicos do interior algarvio. A festa arrancou na véspera à noite com uma grandiosa Noite de Fados, na Casa do Povo de Querença, em que participaram os fadistas Melissa Simplício, Luís Manhita e Filipa Nobre, acompanhados na guitarra portuguesa por Valentim Filipe e na viola por Tiago Valentim. No domingo, a partir das 11h e durante a tarde, o visitante pôde degustar a chouriça assada nos vários estabelecimentos de Querença. No Largo ALGARVE INFORMATIVO #233

da Igreja, a animação esteve a cargo do Grupo Coral e Instrumental Costa Azul e não faltou, claro, o habitual e sempre animado leilão de chouriças, no qual o público em geral teve a possibilidade de adquirir a rainha da festa, a chouriça. As celebrações religiosas tiveram início com uma eucaristia na Ermida do Pé da Cruz, presidida pelo Padre Carlos Matos, a que se seguiu a procissão solene com a imagem de S. Luís até à Igreja de Nossa Senhora da Assunção. Houve ainda um mercadinho com exposição e venda de artesanato e produtos locais, representativos da região algarvia. Ao final da tarde, as atenções viraram-se para o baile no Salão de Festas da Casa do Povo de Querença, animado pelo acordeonista Silvino Campos. A Festa das Chouriças foi promovida pela Comissão de Festas da Paróquia, 72


com o apoio da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, da Câmara Municipal de Loulé e da Casa do Povo de Querença, e é um dos mais emblemáticos eventos desta zona serrana do Algarve, aliando a gastronomia a uma forte componente religiosa, em que as tradições do Algarve rural estão bem presentes. As raízes desta festividade remontam a uma época em que, no interior algarvio, as famílias tinham o hábito de criar o seu porco para sustento ao longo do ano. Era igualmente tradição pedir a S. Luís, patrono dos animais, que conservasse em boas condições o porco, para garantir a alimentação do agregado familiar. Em forma de gratidão, as famílias ofereciam depois ao Santo Protetor as melhores chouriças caseiras . 73

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«NÃO HÁ PLANETA B» SENSIBILIZOU LAGOS PARA O FUTURO DO PLANETA TERRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Centro Cultural de Lagos assistiu, no dia 17 de janeiro, a um remake de «Não Há Planeta B», pelo Estúdio de Ballet Gwen Morris. O espetáculo de angariação de fundos para a Associação Dança Ibérica teve como objetivo sensibilizar para o meio ambiente, as alterações climáticas, a pegada humana e o futuro do Planeta Terra e juntou em palco alunas e professoras da mais antiga escola de dança de Lagos. O Estúdio de Ballet Gwen Morris segue o método R.A.D., que apresenta um dos sistemas de ensino mais prestigiado, seguro e reconhecido a nível mundial. E o trabalho da Gwen Morris assenta num método holístico que acompanha o ALGARVE INFORMATIVO #233

crescimento de cada aluno, fomentando a graciosidade, espírito desportivo e qualidades artísticas. Porque a dança ajuda a criança a desenvolver as suas capacidades psicomotoras, cognitivas, socio-afetivas e psicológicas. Gwen Franco formou-se como bailarina profissional e professora no Reino Unido pela «Hammond School», com docentes da Royal Ballet School em Ballet Clássico e na Dança Moderna pela I.S.T.D. O trabalho da escola é 70 por cento dedicado ao Ballet Clássico, usando o sistema R.A.D., com 15 por cento dirigido às Danças Tradicionais, nomeadamente aos estilos húngaro, polaco e russo, e 15 por cento à Dança Livre, baseado no estilo de Isadora Duncan, que facilita os vários estilos de dança moderna e contemporânea . 84


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ANDRÉ SARDET E JOÃO SÓ BRILHANTES NO AUDITÓRIO CARLOS DO CARMO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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ardet não está Só» foi o concerto que juntou, de forma surpreendente, André Sardet e João Só no palco do Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa, no dia 18 de janeiro, no âmbito das comemorações do 247.º aniversário da criação do Concelho de Lagoa e na sequência da abertura do Ano Temático Lagoa Cidade Sustentável. André Sardet e João Só, o primeiro um artista consagrado da praça nacional, o segundo já com passos sólidos no que se afigura também uma carreira auspiciosa, são dois amigos de longa data que têm, ao longo da última década, partilhado palcos, estúdios e momentos de composição, mas cada um mais focado na sua própria carreira. No entanto, a proximidade entre ambos tem feito com que Sardet e Só, apesar de serem de diferentes gerações, e também de diferentes estilos musicais – um mais pop, o outro mais rock – tenham desenvolvido muitas afinidades musicais e pessoais. De facto, ambos pedem frequentemente opinião um ao outro cada vez que se aproxima o dia de tomar uma decisão importante nas suas vidas e essa cumplicidade foi bem evidente em Lagoa. O lado visível de uma «coligação» musical duradoura e profícua mostrou-se em palco de uma forma bastante descontraída e bemdisposta, com André Sardet e João Só a darem a conhecer ao público que esgotou o Auditório Carlos do Carmo todos os projetos em que ambos participaram, para além, claro, de apresentarem os seus temas mais reconhecidos e versões de algumas pérolas da música moderna portuguesa. E a reação da assistência foi fulgurosa, cantando constantemente os refrões, o que deixou os dois cantores de coração cheio e alma plena de recordações para mais tarde recordarem . ALGARVE INFORMATIVO #233

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Teresa Aleixo deslumbrou no Choque Frontal ao Vivo Texto: Júlio Ferreira| Fotografia: Vera Lisa

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oram quase duas horas cheias, vivas, comoventes, de puro deslumbramento, de surpresa consecutiva e de intensa criatividade. Convidados de «excelência»!!! A palavra excelência significa «qualidade do que é excelente; qualidade muito superior». E não me ocorre outra, quando penso na noite de 17 de janeiro de 2020. Excelência, pelo feliz encontro de itens que nem sempre coincidem no tempo e no espaço: qualidade da música e de quem a executa, relação emocional forte com a audiência e uma consistência global de um espetáculo narrado por uma voz quase celestial de Teresa Aleixo. A Teresa Aleixo é a mesma miúda que nasceu a gostar de música e que começou ALGARVE INFORMATIVO #233

a aprender piano aos seis anos de idade. E a quem os anos e as mais variadas experiências musicais deram maturidade, sabedoria, virtuosismo e, por outro lado, doses generosas de humildade e talento, bem patente neste seu primeiro álbum «Quanto de mim», produzido por Tércio Freire e gravado na nossa região, mais concretamente no «BoxMusic Estúdios» de Luís Rocha. A genuína felicidade com que Teresa Aleixo se apresentou no meio do gigantesco «circo» montado à sua volta foi comovente. A forma como se deu ao público e quebrou a natural distância entre um palco e plateia, foi um manifesto de inteligência e sensibilidade. O resto, bom, o resto foi só talento, energia, amor à música e uma coleção de grandes canções: «Império Quimera», «Viagem», «Paraíso», «Quanto de mim», 112


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«Palavras», «Pudesse eu». Cada canção foi em si um concerto, um episódio completo. Entre a Teresa Aleixo e os músicos (Paulo Franco, Nanook, Pedro Gil, Nuno Campos e Bárbara Santos) nós e o público que encheu o Pequeno Auditório do TEMPO – houve mais do que empatia. Comunhão parece-me a palavra justa. Teresa Aleixo deu o melhor que tinha. Deu tudo. A cada momento parecia que explodia de alegria. Parecia uma «criança» num palco pequeno demais para todo o

seu talento. Um génio que pediu desculpa por improvisar genialmente o inédito «Vagabundo» no piano, que arrepiou e comoveu. Vimos uma sequência musical combinada na perfeição, criando momentos de energia seguidos de momentos de contenção e emoção, implacáveis no rigor e na capacidade de agarrar o público. Vimos uma cantora ALGARVE INFORMATIVO #233

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perfeita, sem falhas, mas também sem que lhe faltasse sentimento, entregue à sua paixão, acompanhada por um conjunto de músicos competentes, rigorosos, empenhados. Vimos uma plateia rendida, cúmplice, que puxava pela cantora e por ela se deixava levar. Saímos todos em estado de graça. Eu e o Ricardo sinceramente emocionados, agradecidos e felizes pelo gesto que teve 115

e o tempo que perdeu ao imortalizar a sua passagem pelo Choque Frontal ao Vivo: A sul, nas terras do mar, há artistas que teimam em contar Toda a arte que guardam no peito. Mas os caminhos que percorrem complicam-lhes a jornada E p’ra muitos de fé não sobra nada. ALGARVE INFORMATIVO #233


“Não a percam, artistas!” - ouve-se alguém exclamar. “Estamos aqui nós para vos encaminhar, que nesta terra a sul de Portugal Todos precisam de um Choque Frontal Para a alma poder falar!” Vimos e vivemos, em resumo, um momento único de boa música, uma noite que encheu as medidas. Das melhores noites que a música portuguesa nos deu nos últimos anos. E eu fiquei a pensar na palavra «excelência» e como ela aqui faz todo o sentido. Quando ouvirem o nome de Teresa Aleixo… Comprem! Contratem! Oiçam! Vejam! Prestem muita atenção e não tenham dúvidas, porque é sinónimo de excelência! .

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OPINIÃO Molduras humanas Paulo Cunha (Professor) comum escutar e ler certas notícias em que é empregue o termo «moldura humana» para divulgar e evidenciar um qualquer acontecimento ou evento. Sendo o propósito do uso de uma moldura (peça lisa ou trabalhada, geralmente de madeira ou metal) guarnecer, enfeitar e embelezar o contorno de pinturas, retratos e espelhos, é natural que grande parte das pessoas as use de forma a dar um maior destaque, imponência e importância ao objeto a emoldurar.

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Mas será que uma obra, já por si bela, precisa de uma moldura? Tal como para quase tudo, o gosto adquire-se através de vários processos e meios e, quando adquirido, inculca-se de tal forma que se torna difícil abstraí-lo do nosso comportamento. É tal o grau de formatação estética que, para muitas pessoas, é difícil observar e apreciar a beleza unicamente através da peça exposta, simples e despojada de adornos supérfluos. Há pouco tempo, quando visitei a Galeria Nacional de Arte Moderna e Contemporânea, em Roma, estava longe de imaginar que iria ter o privilégio e a satisfação de «dar de caras» com o ALGARVE INFORMATIVO #233

quadro do pintor austríaco Gustav Klimt que mais aprecio: «As três idades da mulher». Tendo em conta este novo tempo, em que para se chegar aos outros temos de sobrevalorizar tudo, surpreendeu-me o local onde estava exposto, a ausência de destaque, a acessibilidade e a simples moldura que o enquadrava. Refleti sobre o assunto e, obviamente, a resposta à razão da simplicidade na apresentação da obra encontra-se na extrema originalidade, qualidade e beleza da pintura. Para quê destacar o que, por si, já destacado está? Se extrapolarmos este conceito figurativo de moldura para o nosso quotidiano, rapidamente veremos a quantidade de pessoas que connosco priva e que não prescinde das várias molduras que, aos seus olhos, as engradece em relação ao mundo. Molduras em forma de bens de consumo e de ostentação (casas, carros, roupas, adornos, viagens, etc.) onde o ter é sempre mais 120


importante do que o saber e o ser. É verdade: os autenticamente grandes não precisam de molduras autoimpostas para se destacarem! E o que dizer de todos aqueles que, sempre que podem, recorrem aos outros para granjear protagonismo e arrecadar apoios? É interessante observar as estratégias que as máquinas de propaganda partidária usam para «embrulhar» os seus candidatos, chamando jovens, velhos, multiétnicos, artistas, desportistas e alguns «figurões» para emoldurar as suas iniciativas mediáticas. Já em diversas ocasiões da minha vida senti um certo sabor agridoce ao ser convidado para integrar variadas iniciativas, ficando na dúvida se

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teria sido pelo meu mérito ou unicamente para fazer número e/ou para abrilhantar as referidas atividades. Saber dizer não a certos convites, mesmo que tentadores e estimulantes para o ego, é algo que o tempo nos vai ensinando. Vejam lá para o que me havia de dar: um ensaio com algumas nuances metafóricas em torno das molduras. Porquê? Porque somos a melhor moldura de nós mesmos. Para quê? Para que continuemos a brilhar pelo que somos e não em proveito dos que nos utilizam para se destacar. Molduras? Sim, mas só para certos «quadros»: os que realmente precisam!.

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OPINIÃO De que somos feitos Mirian Tavares (Professora) “And now, the end is near And so I face the final curtain My friend, I'll say it clear I'll state my case, of which I'm certain I've lived a life that's full I've traveled each and ev'ry highway And more, much more than this I did it my way”.

inha mãe morreu no dia 5 de abril de 2013. Um dia antes dos meus anos. Uma morte anunciada e esperada. O que não diminui, em nada, mesmo passado o tempo, a dor. Lembro-me sempre da música My Way, quando penso na mulher que ela foi: viveu como quis, à sua maneira. Irónica, inteligente, determinada. São muitas as lembranças que guardo dela, ao longo dos anos. Quando ainda era muito nova, lembro-me da sua ausência, estava sempre na rua e era parte da sua vida este contacto constante com amigos, com pessoas. Não tinha sido traçada para uma vida doméstica. A casa era um espaço onde ela passava as refeições e onde queria que estivéssemos todos, além de metade da rua que se enfiava pelos quartos e pelas áreas, pois ela sempre ALGARVE INFORMATIVO #233

preferiu que se trouxesse os amigos para dentro de casa do que fôssemos incomodar as pessoas nas “casas alheias”. Sempre havia um grande burburinho de meninos a brincarem, ou falarem, pela casa dentro. E ela não se importava com isto. Lembro-me da costureira que ia, vez em quando, fazer-lhe vestidos e da sua aflição no dia em que fui atropelada aos três anos. Mais tarde, já noutra vida, noutro lugar, lembro-me da sua presença. Das tranças que me fazia e da vitamina que me levava, algumas manhãs, antes de eu sair para a universidade. Lembro-me de sua mania de trocar de lugar os móveis da sala e de gostar muito de plantas. Tinha um belo jardim. Também aturava os meus gatos, bichos abandonados que ao longo dos anos eu trazia debaixo do braço, para casa. Aprendeu a cozinhar muito tarde. E tivemos que aguentar muita carne 122


moída e feijão ralo. Mas depois esmerouse e, quando queria, fazia grandes pratos. Quando queria era doce, mas só quando queria, porque é isto que a define, uma mulher que, na medida do possível, viveu como quis. Não era muito simpática, mas sempre teve uma legião de fãs, de todas as idades e feitios. Lembro-me de ter contado que um senhor lhe perguntou a idade e ela, sem pestanejar, responde: meu filho, sou tão velha, que fui garçonete da ceia larga! Era uma mulher vaidosa, sempre saía de

batom e unhas feitas. Não gostava de repetir roupas e me ensinou muito sobre valorizar-me e não deixar que nada, nem ninguém, visse em mim menos do que eu era. Um dia ela me disse que uma parte dela sentia-se realizada através de minhas viagens, de minha errância, de minhas escolhas. E eu fiquei muito feliz por, de alguma maneira, ter deixado que ela vivesse, o que não viveu, através de mim. Ela viveu como quis. À sua maneira.

Foto: Victor Azevedo

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OPINIÃO Do Reboliço #69 Ana Isabel Soares (Professora) orque há árvores que resistem mais tempo do que outras, não é, Reboliço? Olhas-lhes para o tronco e nele isso mesmo divisas. É como nas pessoas: fazem-se umas mais velhas do que parecem, parecem mais antigas que o que são, engelham e dobram antes de tempo, ou demoram a engelhar. Será para as árvores igual o tempo ao que é para as pessoas – as outras e as caninas? É deitado sobre as pedras da calçada da rua, frente à porta da cozinha, que nisto cisma o Reboliço: porque vê em primeiro plano o tronco da romãzeira, pendido cada dia mais, tanto que tiveram de lhe encostar uma trave ao lado de fora (o lado de foram de uma árvore qual é, se à sua volta tudo anda sem esquina que se entenda?) – e agora, como o pastor que de ao cajado se encostar já leva no peito uma cova, está naquele lugar do tronco áspero e estreito uma marca encovada, jeito de estar; em segundo, logo imediato plano a copa da loureira, tão magnânima que faz esquecer-lhe o tronco e lá ao fundo o reino da figueira grande, que dá ares de secular e tem talvez pouco menos de cem anos de vida. Parece o tronco desta figueira ampla um cemitério de patas de elefante. É nisso ALGARVE INFORMATIVO #233

triste e grandioso, mormente nos Invernos secos: patorra encastrada no solo, é um rosto de borbulhas sobressalientes, ou bolas de cauchu. Os galhos são-lhe que nem as unhas compridas de um feiticeiro antiquíssimo, mas a quem falte a barba, braços longos a querer esconder a rotunda de automóveis, a cidade ali próxima, mas, enquanto não se espraiam as folhas, debalde. Os troncos das figueiras crescem baixos, não sobem do solo muito: esta é uma bicha atarracada que não deixa com gosto sentarem-se debaixo dela os homens a jogar à carta (já os cães estenderem-se ali no Verão, a dormir à sombra do cheiro das folhas largas e dos figos a amadurecer…). Mas se tem força. A loureira tem sido conhecida quase toda a vida como loureiro, nome macho, neutra ideia – até que alguém passou no monte e informou terem estas árvores dois sexos, como nos bichos é vulgar, e serem fêmeas aquelas que dão semente (o que está conforme também à fauna geral). Desde aí, é loureira para os amigos. Numa ou noutra encarnação de conhecimento, perenemente dá folha, solta bolinhas de semente, cheira mais na altura em que o faz, mas não se esquiva ao perfume quando não, ri da vida que não lhe custa e a que quase nada exige, sabe bem e é feliz. 124


Foto: Vasco Célio

Quem te dera, Reboliço, como te dá agora, seres estas árvores e ao mesmo tempo o perro a gozá-las que és . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. 125

** “É com a totalidade do seu corpo e do seu ser, sem distinção de forma ou de função, que as plantas se abrem ao mundo e se fundem nele.” (Emanuele Coccia, A Vida das Plantas: Uma Metafísica da Mistura, Fundação Carmona e Costa/Documenta, 2019, p. 70.) ALGARVE INFORMATIVO #233


OPINIÃO As palavras Fernando Esteves Pinto (Escritor) “Como podemos nos entender (...), se nas palavras que digo coloco o sentido e o valor das coisas como se encontram dentro de mim; enquanto quem as escuta inevitavelmente as assume com o sentido e o valor que têm para si, do mundo que tem dentro de si?”. Luigi Pirandello

á palavras de morrer quando são escritas. Num poema, ou numa passagem de um romance, a agitação acumula-se, somos transportados para outro mundo, as palavras forçam o silêncio, raramente sentimos um bom estado de espírito, e o grande fantasma da linguagem ocupa a mente toda. Tudo isto põe na escrita uma consciência que nos puxa para dentro do abismo. Há palavras impuras que calam o poeta; palavras como coisas ainda sem nome, pedindo forma de viver; e ainda: palavras-guias para pensar simplesmente, sem plano nem lugar no acto de as escrever. Não há palavras tão completas e inteiras como as que existem em nítido arrebatamento e revelação. O que ainda não existe é a imagem esquiva da expressão invulgar: a escrita preenche o tempo; no entanto, escrever é um acto de ausência; tão sábia solidão, que a voz do poeta é uma sombra que murmura com firmeza na luz do que está a ser ALGARVE INFORMATIVO #233

criado. Sentir tanto tem a espessura do que é mais profundo; e as palavras pesam a vida toda: são essas palavras que se afiguram luminosas e previdentes, destinadas a dar uma escrita feliz às formas e planuras do mundo. Voltemos, então, à linguagem: sempre em busca de um primeiro plano muito escarpado, muito distorcido; de uma beleza bravia, como um galope que obedece ao chicote do inconsciente e leva o poeta para longe, fragmentado e impreciso, até se confundir numa imensa escuridão. Escrever é ir assim em infinito medo de nunca mais regressar à claridade. Como luz capaz de morrer pelas palavras, o poeta também dá a vida por todas as coisas íntimas e inteiramente silenciosas. Contudo, lúcido é o poeta que não dá um fim ao poema, porque terminar um poema é matá-lo, e um infinito silêncio não extingue o vazio que as palavras possam significar. As últimas palavras apertam o coração do poeta; deixam-no exausto, e uma força estranha e 126


impaciente empurra-o vivamente para uma escrita inconsciente, diminuída se explicada como uma necessidade de conceber existência ao que ainda não tem vida: há palavras que passam a vida sem nunca serem escritas. Uma tragédia de escrever sem sentir um raio de luz que cada palavra deixa no pensamento. É então no pensamento que as palavras se pronunciam em falso efeito de presença, sugerindo apenas a sua grandeza de expressão, o seu desejo insaciável de tomar parte do escrito: daí o bloqueio impiedoso que certas palavras impõem ao poeta, e este continuará sempre a procurar a tragédia nos rudimentos da linguagem. A pressão, a intensidade – escrevendo pensa-se todas as coisas. E tudo explode assim num acidente de emoções e conflitos. Porque na verdade, há palavras que deixam no poeta uma sensação de demência irreparável. A palavra tortuosa, delirante, quebra o pensamento. Também é verdade que as pequenas coisas que caem do mundo deixam na escrita vestígios de lucidez, 127

mas aquele que escreve em grande esforço de sentido e significado é assombrosamente agrilhoado à linguagem até ficar à beira do aniquilamento absoluto. Por isso mesmo, é terrível o carácter negativo que a palavra transmite quando é escrita em plena linguagem de poesia. Mas a palavra foi dada ao poeta para expressar os sentidos inquietos, mais do que revelar a dimensão da sua presença . ALGARVE INFORMATIVO #233


OPINIÃO O Cinema e a Palestina Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) á umas semanas atrás fui ao «Jantar do Cinematógrafo», organizado pelo Cineclube de Faro. Este jantar decorre na noite de 28 dezembro, pois marca o dia 28 de dezembro de 1895, quando decorreu a primeira sessão de «cinema comercial», organizada pelos irmãos Lumière. 33 pessoas estiveram no Grand Café em Paris a assistir à primeira exibição de um filme onde foram cobrados bilhetes. E assim, todos os anos, jantamos 33 pessoas no IPDJ, a casa do Cineclube de Faro, para comemorarmos este evento. Num ambiente descontraído e com uma ementa «à la francesa», conversamos de… obviamente, cinema. A conversa desviou-se um pouco e falei com um rapaz que começou os seus estudos em Lisboa - Ciências Políticas se a memória não me falha. Disse-me que tinha uma cadeira dedicada ao conflito israelo-palestino. Desde criança que me lembro de ouvir falar desta guerra, sem nunca entendê-la muito bem. Chega a um certo ponto que parece que ficamos completamente insensíveis quando nos jornais relatam sobre bombas e de mortos. É triste, mas é verdade. Imediatamente lembrei-me de um filme ALGARVE INFORMATIVO #233

que vi de uma realizadora chamada Anaïs Barbeau-Lavalette. Anaïs nasceu em 1979 em Montreal, Canadá. Filha de pais cineastas: Manon Barbeau e Philippe Lavalette. Formou-se em Estudos Internacionais e mais tarde estudou na Palestina. Anaïs realizou vários documentários, escreveu alguns livros e também uma longa metragem de ficção chamada «Se Deus Quiser», ou, no original, «Inch’Allah» - palavra «oxalá» utilizada na língua portuguesa. Neste filme assistimos ao conflito de Chloé, uma médica que trabalha na Palestina e à noite regressa a Jerusalém. Chlóe desenvolve uma amizade com uma paciente, Rand, e com a sua família muçulmana. Aos poucos os laços emocionais dividem Chloé sobre o conflito entre as duas partes. O filme, com momentos muito bonitos e simultaneamente duros, coloca o espectador no lugar de Chloé. Quem está certo? Quem está errado? Tudo vale em tempos de guerra? O filme teve uma receção positiva e abordou o tema de forma real, usando a simbiose entre o conflito externo e interno da personagem para contar uma história relevante. Nós enquanto espetadores ficamos 128


determinado tema, ouso dizer que é um filme bem executado. Não pensei que fosse um filme a fazer-me pensar com uma maior seriedade sobre este conflito entre Israel e a Palestina. Um conflito que me parece tão distante como monstruoso. Mas talvez seja por esta mesma razão. Nas notícias, as vítimas são completamente despersonalizad as. Tornam-se números. Em filmes ou documentários, os sujeitos são o fio condutor que nos leva a empatizar.

igualmente divididos, logo direi que, independente das nossas convicções políticas, se nos leva a remoer sobre um 129

E é assim que com estes momentos que nos lembramos e sentimos na pele que o cinema não serve apenas para entreter. Pode ser um potente veículo de reflexão e, neste caso, serviu para compreender e refletir sobre a Palestina e Israel . ALGARVE INFORMATIVO #233


OPINIÃO Inteligência no Turismo, no Algarve! Alexandra Rodrigues Gonçalves * (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve) isboa tem o Web Summit. Nós vamos ter o T-Forum. Esta conferência internacional do Turismo, que acontece a cada dois anos em destinos de referência mundiais, este ano vai acontecer no Algarve, de 18 a 21 de março (para mais informações contactar: tforum2020@ualg.pt). Tourism Intelligence Forum ou Fórum da Inteligência do Turismo – T-Forum – é um movimento de escala global que procura promover o desenvolvimento da inovação no turismo pela criação de grupos de ação locais em que participam diferentes atores, de diferente natureza, empresarial e institucional. Este movimento inclui vários centros de investigação e diversas universidades consagradas na área do turismo. Estabelecer pontes entre a academia, a investigação e a prática é um dos seus principais objetivos. As parcerias estão em crescimento e um movimento muito positivo está a ser criado. No programa que pode ser consultado em https://www.tforum2020.org estão incluídos alguns dos mais prestigiados ALGARVE INFORMATIVO #233

investigadores, gestores e editores a nível mundial do turismo, destacando-se no âmbito internacional: Sara Dolvicar da Universidade de Queensland na Austrália virá revelar como é possível reduzir custos operacionais e ser sustentável; Geoffrey Lipman que já foi presidente do WTTC (Conselho Mundial das Viagens e Turismo) e Diretor Executivo da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA) é um especialista em avaliação de impactos, na promoção de ambientes de inovação e em sistemas de medida no turismo; Noel Scott, por sua vez, tem dedicado muitos anos de investigação à experiência turística, procurando estudar e melhor compreender a psicologia dos turistas, os seus comportamentos, e o tipo de experiência que procuram, propondo mesmo medidas concretas para experiências de sucesso; e da Croácia marcará presença Renata Tomljenovic que no Instituto do Turismo da Croácia tem trabalhado temas como a estratégia e o planeamento, mas também os recursos humanos. Ficam por desvendar vários outros convidados e participantes de merecido mérito, com uma especial referência para o nosso Chair, Professor Doutor João 130


Esta é uma grande oportunidade de repensar o que fazemos, de discutir novas soluções, de conhecer outras abordagens, pelo que, será fundamental que a indústria do turismo esteja presente. A aproximação do sector empresarial à investigação e desenvolvimento em turismo é urgente, e vice-versa.

Albino Silva, Professor Catedrático da Universidade do Algarve, que abordará a questão como conhecimento e do desenvolvimento sustentado. O Programa inclui ainda workshops de interação em que se procura a verdadeira transferência de conhecimento e troca de experiências entre teoria e prática. Também será o momento da Universidade do Algarve atribuir o título Doctor Honoris Causa ao Professor Jafar Jafari, um dos co-fundadores do T-Forum e durante vários anos, o editor-chefe de um dos maiores Jornais Científicos de Turismo a nível internacional, o Annals of Tourism Research. 131

A academia forma profissionais para o setor do turismo e da hotelaria, a nossa economia é extremamente dependente destes setores que evoluem muito rapidamente. As necessidades de formação, investigação, inovação e transformação da indústria das viagens e do turismo condicionam fortemente a competitividade da região e do país perante os mercados emissores de turistas e outros destinos internacionais. Meet Tourism Inteligence@Algarve, um desafio que deixamos aos empresários e associações, numa Região que tem no turismo a sua principal força motriz. Porque não se sabe tudo, porque se está sempre a querer inovar, porque se quer aprender, encontramo-nos no TForum!. * Organizing Committee Co-chair, Industry Liaison do T-Forum ALGARVE INFORMATIVO #233


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António Carvalho, Telmo Pinto, Vítor Aleixo, Adriana Freire Nogueira e Rui Parreira

EXPOSIÇÃO VAI RECORDAR SEIS MIL ANOS DE HISTÓRIA DE QUARTEIRA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oram assinados, no dia 14 de janeiro, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, entre a Câmara Municipal de Loulé, a Direção Geral de Património Cultural e a Direção Regional de Cultura do Algarve, dois protocolos com vista à preparação ALGARVE INFORMATIVO #233

da exposição «Com os pés na terra e as mãos no mar – 6 mil anos de História de Quarteira», que será inaugurada, a 13 de maio de 2021, na antiga Lota de Quarteira (Largo das Cortes Reais), num espaço carregado de simbolismo para um território desde sempre virado para o mar e para a economia a ele associada. Durante um ano e meio será 134


feito um importante trabalho ao nível da inventariação e estudo de bens culturais para integrar a exposição e serão dinamizadas sessões com a população para que esta seja uma mostra que se constrói colaborativamente, numa exposição que terá curadoria de Rui Parreira e que vai envolver dezenas de investigadores.

segue a mesma filosofia da Exposição «LOULÉ - Territórios, Memórias e Identidades» que, entre 2017 e 2019, esteve patente ao público no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, dando a conhecer o período entre os mais antigos vestígios da ocupação humana no atual Concelho de Loulé até 1384, data das mais antigas Atas de Vereação conhecidas em Portugal. “É

Quarteira é um território que conta com assinaláveis vestígios do período romano, tendo sido durante séculos uma vila piscatória até à explosão do turismo algarvio, sendo hoje um dos mais procurados destinos para quem visita a região. A iniciativa do Município de Loulé

um projeto ambicioso em que o Município de Loulé se propõe, mais uma vez, celebrar o seu património de uma maneira que seja visível para toda a gente. E tenho que destacar uma pessoa

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em particular, o Isidoro Correia, um homem simples e apaixonado pela sua terra, um autodidata e um verdadeiro guardião da história de Quarteira. Sempre percebeu que Quarteira era muito mais do que turismo, que tinha uma memória e um passado, e que precisava que a sua raiz fosse mostrada”, frisou Vítor Aleixo, após a assinatura dos protocolos. O presidente da Câmara Municipal de Loulé nunca escondeu que a exposição «LOULÉ - Territórios, Memórias e Identidades» foi a realização que mais o satisfez pessoalmente no seu mandato anterior, dai surgir com naturalidade uma segunda mostra de características semelhantes, agora focada em Quarteira.

“Porque o turismo é uma atividade ALGARVE INFORMATIVO #233

económica que apareceu, nos anos 60, com uma energia e velocidade extraordinárias, num território onde a vida corria quase em total harmonia com o meio envolvente e a comunidade, e tudo se alterou. Ocupou o território de uma maneira extensa, transplantou hábitos, pessoas e realidades que eram desconhecidas numa pacata vila piscatória, de tal modo que «tapou» a realidade anterior”, analisou o edil louletano, recordandose da construção maciça que aconteceu em Quarteira e, por vezes, sem grandes cuidados do ponto de vista urbanístico.

“Mas o turismo, que nos trouxe tantas coisas boas, hoje também 136


precisa de assentar a sua oferta na valorização do património, nos hábitos, costumes e pessoas. O turismo é uma atividade que igualiza tudo e muitas vezes esconde aquilo que há de mais importante e que deve ser sempre salvaguardado, a nossa identidade cultural”, acrescentou Vítor Aleixo. O autarca mostrou-se ainda satisfeito pela inauguração de um espaço onde as reservas do Museu Arqueológico de Loulé vão estar devidamente cuidadas e classificadas, “com todo o carinho

que devemos dedicar aos vestígios da passagem humana pelo nosso

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território”. A terminar a sua intervenção, Vítor Aleixo anunciou a constituição de uma Comissão de Honra com alguns quarteirenses, de modo a envolver a população nos trabalhos que serão conduzidos.

“Quando a comunidade local está envolvida nos projetos, traz sempre contributos valiosos e, se não tivermos o cuidado de os ouvir, os resultados normalmente são mais pobres”. O Município de Loulé conta com dois parceiros fundamentais que trarão todo o conhecimento técnico e científico a este projeto, nomeadamente em termos do

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empréstimo de bens culturais, tratamento dos mesmos ou divulgação desta exposição comissariada por Rui Parreira, diretor de serviços da Direção Regional de Cultura do Algarve. “Um

arqueólogo que, para além da sua sabedoria e bom senso, junta a noção do local e a sua integração no todo nacional e internacional”, frisou o Diretor do Museu Nacional de Arqueologia, António Carvalho, a representar a Diretora-Geral do Património Cultural, Paula Araújo da Silva, nesta sessão. “O que fizemos em

Lisboa é único e não se repete. Tivemos cerca de 400 mil visitantes nessa exposição e, esta parte final, nomeadamente o último meio ano, ALGARVE INFORMATIVO #233

contribuiu para que o Museu Nacional de Arqueologia fechasse 2019 com 236 mil e 650 visitantes, um número fantástico na sua história”, sublinhou António Carvalho, para quem esta mostra que deu a conhecer o período entre os mais antigos vestígios da ocupação humana no atual concelho de Loulé até 1384 foi apenas “a face visível de um iceberg”. Entre outras ações igualmente importantes neste âmbito foram, por exemplo, a atualização da Carta Arqueológica do Concelho, a campanha de restauro dos bens culturais, o lançamento de publicações, catálogos e textos ou a virtualização da própria 138


exposição. Também a exposição de Quarteira terá essa «face invisível», nomeadamente na articulação que haverá com a população local, a recolha de bens que não se encontram na posse do Município ou a valorização do património imaterial da atual cidade.

“Há seis mil anos o mundo estava numa fase de grande desenvolvimento, as pessoas estavam a descobrir mais formas de se relacionar com este território. Esta exposição vai fazer com que as pessoas olhem para a sua terra de outra forma. É uma terra que tem um passado, não nasceu do nada, e isto vai ser também bom para o turismo cultural”, disse, por sua vez, a

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Diretora Regional de Cultura do Algarve, Adriana Freire Nogueira. Também Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, enalteceu a iniciativa e a sua importância para as gentes locais.

“Esta exposição vai ser o reflexo de uma cultura que existe, mas que, se calhar, está na casa das pessoas e vai fazer crescer Quarteira, tanto localmente, como no que toca a quem cá vem, que tem mais uma oferta turística”, considera o autarca, que sublinhou ainda o facto de tratar-se de uma iniciativa há muito desejada pela população. “A partir desse

momento, Quarteira ficará com um assinalável espólio” .

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Francisco Serra, Juan Moreno e Roberto Grilo, presidentes da CCDR Algarve, Junta de Andaluzia e CCDR Alentejo, respetivamente

PRESIDÊNCIA DA EURORREGIÃO ALENTEJO-ALGARVE-ANDALUZIA TRANSITOU PARA ESPANHA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Algarve (CCDR Algarve), Francisco Serra, passou, no dia 16 de janeiro, o testemunho da liderança rotativa da Eurorregião Alentejo Algarve Andaluzia (EuroAAA) para o Presidente da Junta de Andaluzia, Juan Moreno, numa sessão ALGARVE INFORMATIVO #233

que contou com a participação de Isabel Ferreira, Secretária de Estado da Valorização do Interior. O V Conselho da EuroAAA, realizado em Faro, serviu para fazer um balanço das atividades desenvolvidas entre 2013 e 2019 e apresentar os resultados do trabalho realizado, bem como para lançar novos desafios e oportunidades territoriais e efetuar uma abordagem das perspetivas de futuro. Para esse 142


efeito contou com as intervenções dos representantes máximos das três regiões e com contributos de Paulo Águas, Reitor da Universidade do Algarve, João Assunção, Gestor do Parque do Alentejo de Ciência e Tecnologia, João Queirós, Cônsul Geral de Portugal em Sevilha, e de Carmen Crespo Díaz, Conselheira de Agricultura, Pecuária, Pesca e Desenvolvimento Sustentável da Junta de Andaluzia. Na ocasião, Francisco Serra destacou a importância da EuroAAA e da cooperação institucional transfronteiriça iniciada há mais de 30 anos entre o Algarve e a Andaluzia, de extrema relevância na aproximação e no enriquecimento cultural, social e económico, dando como exemplos de cooperação os trabalhos desenvolvidos no contexto da Estratégia de Especialização Inteligente – RIS3

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Transfronteiriça (RIS3AAA), a melhoria da navegabilidade no Rio Guadiana até ao Pomarão (em curso), os inúmeros projetos cofinanciados pelo Interreg Espanha – Portugal (POCTEP), e as intervenções do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) do Guadiana, que junta os municípios raianos de Ayamonte, Castro Marim e Vila Real de Santo António. “A

constituição da EuroAAA marcou o início de uma nova etapa de relacionamento entre o Alentejo, o Algarve e a Andaluzia e pretende fomentar o diálogo, a colaboração e a coordenação entre os agentes e as entidades públicas e privadas que possam contribuir para o desenvolvimento e promoção

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deste território, não só na zona da fronteira, como o seu conjunto. A EuroAAA pretende ainda converter em oportunidades económicas as componentes de identidade e singularidade destas três regiões”, afirmou. Francisco Serra lembrou que, em julho de 1995, foi assinado, em Sevilha, o primeiro protocolo de colaboração entre o Algarve e a Andaluzia, que criou a segunda comunidade de trabalho entre Espanha e Portugal da altura. “Foi de

primordial importância por dar o enquadramento necessário à execução dos primeiros programas de cooperação transfronteiriça entre as duas regiões, consubstanciado no Interreg 1 (1991 ALGARVE INFORMATIVO #233

a 1995) e no Interreg 2 (de 1996 a 1999). Mais tarde, as regiões do Alentejo e da Andaluzia formalizaram a sua própria comunidade de trabalho bilateral, mediante a assinatura do protocolo de colaboração transfronteiriça em 2001”. Entretanto, com a necessidade de se adaptar estes protocolos ao Tratado de Valência de outubro de 2002, e a fim de dar um novo impulso ao trabalho desenvolvido pelas três regiões, foi criada a EuroAAA, por protocolo assinado, a 5 de maio de 2010, em Faro.

“Ao longo dos diferentes programas de cooperação já foram desenvolvidos centenas de projetos conjuntos das mais diversas áreas de atuação e 144


poderiam ter sido muitos mais, caso a dotação financeira fosse mais substancial”, garantiu Francisco Serra. Para o presidente da CCDR Algarve, uma das realizações mais importantes da EuroAAA foi a formalização da sua Estratégia de Especialização Inteligente Transfronteiriça, enquanto instrumento de valorização das capacidades e dos recursos específicos de cada região, cuja primeira versão do documento foi entregue a 25 de março de 2015, tendo ficado concluída em junho desse mesmo ano. “Desde então, constitui um 145

elemento fundamental para a apreciação das candidaturas apresentadas no âmbito do Programa Operacional Interreg V-A (2014-2020). A cooperação permite-nos colaborar de uma forma muito estreita uns com os outros, respeitando as diferenças e valorizando o que temos em comum. A intensa cooperação entre o Alentejo, o Algarve e a Andaluzia tornou a nossa fronteira mais permeável, criando ALGARVE INFORMATIVO #233


um território de oportunidades cujo êxito passa por utilizar os recursos endógenos, colocando em valor as suas diversidades”, entende Francisco Serra. “Os setores como o turismo, o mar, a agroindústria, as energias renováveis, devidamente suportados pelo conhecimento, podem nortear o papel que a eurorregião detém e que pode vir a reforçar, pela sua inserção competitiva em escalas superiores, seja no contexto ibérico, no espaço mediterrânico, no continente ALGARVE INFORMATIVO #233

europeu ou na fachada atlântica”. Mas a sociedade civil também constitui uma prioridade nos desígnios da EuroAAA, sublinhou Francisco Serra.

“A cidadania é uma preocupação transversal da nossa estratégia, traduzida no compromisso assumido pelas três regiões para reforçar a cooperação em áreas como a saúde, a proteção civil, a ação social e muitas outras, com incidência direta na qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos do Alentejo, do Algarve e da 146


Andaluzia”, declarou, a terminar a sua intervenção.

EUROAAA COM MUITOS DESAFIOS PELA FRENTE Depois de concretizada a transição da liderança, o novo presidente da EuroAAA, Juan Moreno, defendeu que a estrutura

“deve ser mais ambiciosa, saber jogar bem as suas cartas e fazer-se notar com maior ambição na Europa”, acrescentando que “a unidade e a colaboração fazem-nos mais eficazes e uma boa 147

demonstração disso é o Centro Ibérico para a Investigação e Luta contra os Incêndios Florestais (CILIFO), uma nova forma de prevenir e atuar com tecnologias de ponta”. “Vamos propor ao Governo de Espanha albergar durante a nossa presidência a próxima Cimeira Ibérica EspanhaPortugal e devemos ser pontas de lança do desenvolvimento sustentável, das energias renováveis e da economia azul”, reforçou o presidente da Junta da Andaluzia. ALGARVE INFORMATIVO #233


Isabel Ferreira, Secretária de Estado da Valorização do Interior, reconheceu que a EuroAAA tem vindo a apresentar um trabalho bastante relevante, conforme atestam as largas dezenas de projetos desenvolvidos nos últimos cinco anos e que mobilizaram cerca de 118 milhões de euros, com mais de 88 milhões de euros financiados pelo FEDER. “Nesta

eurorregião existe uma grande similaridade entre os desafios sociais e demográficos das regiões portuguesas e espanholas, o que faculta uma base sólida para o desenvolvimento de ações integradas de resposta aos problemas específicos identificados. A montante de ALGARVE INFORMATIVO #233

qualquer atividade integrada estará sempre a criação de oportunidades económicas, a melhoria da conetividade de banda larga e a facilitação de acesso a serviços”, considerou a governante, acreditando ser muito importante reforçar as dimensões locais e territoriais, “respeitando a

perspetiva de valorização do interior e garantindo o envolvimento dos atores locais, usufruindo do seu conhecimento das especificidades do território”. “As áreas a merecer destaque nos instrumentos financeiros do próximo Programa Quadro de Apoio Comunitário deverão estar 148


relacionadas com aquelas que estão incluídas nas estratégias de especialização inteligente. Apesar da sua concretização depender de cada contexto geográfico, é previsível e desejável que os setores incluam, desde logo, todo o setor agroalimentar, reforçando a inovação e o uso das novas tecnologias, e focado na perspetiva de economia circular”. Uma saúde de proximidade, um turismo com uma componente forte de experimentação, investigação e transferência de tecnologia, assim como a gestão de património cultural e ambiental, a digitalização para a capacidade de inovação e o planeamento, coordenação e implementação de 149

melhores transportes, deverão estar também no foco das atenções nos próximos anos. “No domínio do

emprego local ou transfronteiriço, o papel das políticas de educação é obviamente fundamental, pois temos que adaptar a formação às necessidades de mercado e implementar ações de formação linguística a nível local e regional, e também programas de coordenação que permitam um melhor alinhamento entre a procura e a oferta de trabalho”, defendeu Isabel Ferreira, antevendo que as áreas naturais e da biodiversidade conhecerão igualmente uma grande expansão no curto prazo. ALGARVE INFORMATIVO #233


“Para a sua manutenção serão privilegiados projetos integradores, baseados na produção energética a partir de fontes renováveis, aproveitando os melhores pontos de distribuição da rede elétrica, a melhoria da gestão de resíduos, as medidas de prevenção de adaptação climática, a promoção de abordagens de gestão da proteção da natureza e do regime de proteção de espécies”. A finalizar a sessão, a Secretária de Estado da Valorização do Interior manifestou que a EuroAAA, agora presidida pela Andaluzia, deverá dedicar esforços à identificação, atenuação ou eliminação dos principais obstáculos operacionais e ao aproveitamento do potencial até agora por explorar, ligado à resolução das limitações para o mercado ALGARVE INFORMATIVO #233

de trabalho transfronteiriço, à melhoria do serviço de saúde e da rede de transportes públicos, ao domínio da língua portuguesa e do castelhano, à assunção de políticas de proximidade e com representação de todos os setores relevantes, à melhoria do acesso ao financiamento e à criação de muitos projetos-pilotos no território. “Nas

eurorregiões estão incluídas pessoas com enorme experiência e conhecimento, fundamentais para o desenvolvimento de programas de cooperação em todas as suas fases. E o governo português está muito empenhado em tudo o que são estratégias de cooperação territorial, em particular a cooperação transfronteiriça”, concluiu Isabel Ferreira .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #233

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