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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 15 de fevereiro, 2020
OUT.LAND ADRIANA FREIRE NOGUEIRA | «CANTO DA EUROPA» | «ISTO SÓ NESTE PAÍS» ACADEMIA ILUMINARTE | «FROM LONDON TO HOLLYWOOD» | MIGUEL CHETA 1FESTIVAL AL-MUTAMID | ROTA DA LARANJA DE SILVES | GEOPARQUE ALGARVE INFORMATIVO #236 ALGARVENSIS
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76 - Festival Al-Mutamid em Loulé
114 - Miguel Cheta
34 - Adriana Freire Nogueira
22 - Mostra da Academia IluminArte da Satori ALGARVE INFORMATIVO #236
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140 - Geoparque Algarvensis
102 - «Isto só neste país»
88 - From London to Hollywood
46 - «Canto da Europa»
132 - Rota da Laranja de Silves
60 - «Out.Land»
OPINIÃO 122 - Mirian Tavares 124 - Ana Isabel Soares 126 - Adília César 128 - Fábio Jesuíno 12 - Cinema anima Carnaval de Loulé 7
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LOULÉ VAI VIVER A MAGIA DE HOLLYWOOD NO SEU CARNAVAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Município de Loulé promoveu, no dia 11 de fevereiro, uma visita da comunicação social à Oficina/Museu do Carnaval, onde decorrem a grande velocidade os últimos preparativos para um dos principais cartazes turísticos do concelho e da região, o Carnaval de Loulé, que este ano acontece nos dias 23, 24 e 25 ALGARVE INFORMATIVO #236
de fevereiro com o tema «Era uma vez em… Louléwood». O cinema vai ser o mote para uma festa esplendorosa com 14 carros alegóricos decorados com um milhão de flores de papel, 11 grupos de animação representados por associações do concelho, três escolas de samba, bailarinas de corpos pintados, animadores, fanfarras, cabeçudos, gigantones e muito mais, num total de cerca de 600 figurantes que irão desfilar ao longo da Avenida 12
José da Costa Mealha. “Tudo é feito
por um coletivo coordenado pelo criativo máximo Palhó, um trabalho bastante cuidadoso e meticuloso. É graças a esta gente muito experiente que o Carnaval de Loulé continua a ter o sucesso a que já habituou o país e que o torna no melhor de Portugal”, não hesitou em dizer Vítor Aleixo, durante a visita às instalações localizadas na Zona Industrial de Loulé. Algumas películas marcantes da história da sétima arte estarão em destaque e as suas principais personagens vão confundir-se com figuras da política nacional e internacional, do desporto ou da vida social, que protagonizaram momentos mediáticos nos últimos meses. 13
A sátira volta a ser o ingrediente preferido dos artistas que idealizaram o corso e estão garantidos momentos hilariantes em pleno «sambódromo louletano». Dois super-heróis da Banda Desenhada irão defrontar-se numa luta contra as alterações climáticas: de um lado, o «Capitão Trampa» (Donald Trump), o grande produtor de petrodólares, responsável por uma fatia significativa da poluição mundial, após ter rasgado o compromisso assumido no Acordo de Paris para a redução das emissões de CO2; do outro lado, o grande defensor do Planeta, o líder da ONU, António «Gulkterres», aqui representado pela imagem do Incrível Hulk, o gigante verde que com a sua força defende o futuro da Terra.
“Temos vários eventos de enorme qualidade em Loulé, que ALGARVE INFORMATIVO #236
contribuem para a sua notoriedade externa, para a atratividade de turistas, para um impacto muito positivo na economia local, desde a restauração à hotelaria. São diversos acontecimentos de ALGARVE INFORMATIVO #236
diversão, cultura e entretenimento, mas diria que, a par da manifestação religiosa da Mãe Soberana, o Carnaval de Loulé é o mais tradicional e que melhor caracteriza a cidade 14
louletana”, referiu Vítor Aleixo, revelando que, pela primeira vez, foi inserida uma rubrica específica para o Carnaval de Loulé no Orçamento Municipal. “É um investimento de 375
mil euros, à semelhança do que tem acontecido nos anos anteriores. 15
Existem outras manifestações de natureza cultural e entretenimento como a Mãe Soberana, o Festival MED, a Noite Branca, as Marchas Populares de Quarteira, que atraem muitos ALGARVE INFORMATIVO #236
visitantes e há que ter um critério rigoroso na alocação de verbas a todos eles, sendo certo que o retorno para a economia local é largamente superior ao investimento realizado”. A sátira ao Brexit, um dos episódios mais marcantes da atualidade política internacional, não podia faltar no mais importante corso da região, até pelo número significativo de residentes britânicos no Algarve e no concelho de Loulé. O Primeiro-Ministro Boris Johnson encarna em Loulé o famoso detetive de romances policiais, Sherlock Holmes, que procura, com sucesso, descobrir não um ALGARVE INFORMATIVO #236
crime, mas um acordo de saída do Reino Unido da União Europeia. Neste filme rodado em terras da sua Majestade não faltam duas atrizes secundárias: a anterior PrimeiraMinistra britânica, Theresa May, e a chanceler alemã, Angela Merkel, que representa a grande força da Europa. Em território nacional, ou antes, em águas portuguesas, o destaque vai para o «Pirata das Caraíbas», em que o protagonista não será o ator Johnny Depp, mas sim o Ministro das Finanças, Mário Centeno - o Jack Sparrow da Ribeira do Cadoiço - que tenta controlar os «ataques» às finanças do país. As bandas desenhadas invadiram 16
nos últimos tempos o cinema e vão invadir também o Carnaval de Loulé. Num dos carros alegóricos, os super-heróis são comparados aos políticos da «Geringonça» que nos últimos quatro anos sustentou a governação política em Portugal: o «Super-Costa», o «Jerónimo Thor» e a «Catarina Wonder Woman». Com os seus superpoderes, este trio conseguiu dar a volta à crise em que o país estava mergulhado, resgatando a confiança dos portugueses na política e na economia nacional. «Jesus sambou no Flamengo» é o nome da película que retrata a aventura do treinador Jorge Jesus no Brasil, no comando técnico do clube carioca 17
Flamengo, que naturalmente inspirou os criativos deste Carnaval. Depois de «ter passado» pelo corso louletano quando estava ao serviço do Benfica e do Sporting, Jesus regressa vestido com as cores do «Mengão» e com uma Taça dos Libertadores da América na mala. Futebol, samba e sol são temáticas presentes neste carro alegórico onde é também feita uma alusão ao filme de animação «Rio», protagonizado por uma arara azul que é levada de uma floresta próxima do Rio de Janeiro para os Estados Unidos. O evento continua a ter o carimbo EcoEventos que premeia o desempenho ambiental, ALGARVE INFORMATIVO #236
nomeadamente pela utilização de copos de papel 100 por cento biodegradáveis, reutilizáveis e compostáveis, que serão distribuídos pelos bares existentes no recinto, numa clara aposta na redução do plástico no recinto. Os bilhetes para o Carnaval mantêm o valor de dois euros, tal como a componente solidária: as verbas arrecadadas serão distribuídas por instituições particulares de solidariedade social do concelho e pelas coletividades que participarão nos grupos de animação do corso louletano. “É uma boa
tradição do Carnaval de Loulé que é para continuar, claro”, frisou Vítor Aleixo, destacando ainda as preocupações ambientais do evento.
“Cada vez mais o Município de ALGARVE INFORMATIVO #236
Loulé introduz nos seus acontecimentos uma forte componente ecológica. Somos um concelho fortemente comprometido com a adaptação às alterações climáticas e isso significa gastar água racionalmente, não utilizar plástico, usar copos de água biodegradáveis, captar energia solar como fonte energética, introduzir papeleiras compactadoras. É um ponto de honra deste executivo e que já faz parte da nossa cultura”, reforçou o presidente da Câmara Municipal de Loulé . 18
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SATORI MOSTROU OS NOVOS TALENTOS QUE ESTÃO A CRESCER NA ACADEMIA ILUMINARTE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Academia IluminArte, projeto de Inovação Social da Associação Artística Satori, apresentou, no dia 9 de fevereiro, no Cineteatro Louletano, em Loulé, a sua primeira Mostra de Trabalho Formativo e Artístico desenvolvido nas áreas do Teatro, Artes Circenses e Street Art. Com um relevante percurso de duas décadas pela Arte, feito de dinamismo, resiliência, inovação e atenção ao ser humano e à sua harmoniosa integração social e profissional, a Satori deu a conhecer, numa bela tarde de domingo, os primeiros resultados desta nova etapa encetada em 2019 com a abertura da Academia IluminArte em pleno coração da cidade de Loulé. ALGARVE INFORMATIVO #236
O acolhimento do público no exterior do Cineteatro esteve a cargo da 1.ª Trupe com intervenções ligadas a várias disciplinas circenses, enquanto que, no foyer, esteve exposto um trabalho de arte urbana concebido pela 1.ª Crew. Já no palco, a dimensão teatral foi da responsabilidade da 1.ª Companhia, que, baseada no trabalho de corpo e voz, pretende colher a empatia e entusiasmo do público, privilegiando-se uma utilização minimal de recursos materiais em cena. A Associação Artística Satori nasceu, em 1999, no concelho de Loulé e, no ano a seguir, arrendou o seu primeiro lagar de azeite, situado na Ponte da Passagem, em Querença. Após a reconstrução do espaço durante 12 meses, deram-se os primeiros passos 24
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artísticos com música ao vivo, exposições e performances. Em 2002 surge a Arte Circense e a Arte Urbana e a Satori começou a expandir o seu talento e a sua localização no interior algarvio não impediu que muitos artistas nacionais e internacionais a ela se juntassem, tendo havido muita criação e abertura de horizontes. De 2007 a 2012, a Satori manteve a sua dinâmica e conseguiu juntar recursos para, em 2012, iniciar a reconstrução de um outro lagar de azeite situado na Ponte de Salir, também na zona serrana do concelho. Atualmente, a associação ALGARVE INFORMATIVO #236
dispõe de um vasto leque de serviços e atividades fruto da sua organização humana e artística, sendo constituída por 160 membros – ou «guerreiros de arte», como são apelidados na instituição, com destaque para a organização de eventos de maior escala com a participação de um elevado número de elementos em palco. A Satori tem ainda como objetivo formar e dar oportunidade a artistas não reconhecidos, dinamizar o interior algarvio, reforçar a ação social e a intervenção do ponto de vista ambiental . 26
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“A CULTURA É VAGAROSA, NÃO SE CONSEGUEM RESULTADOS A CORRER”, AFIRMA ADRIANA FREIRE NOGUEIRA Abriram, no dia 2 de fevereiro, as candidaturas para os apoios à Ação Cultural da Direção Regional de Cultura do Algarve referentes a 2020, sendo que decorrem, também, as inscrições para a programação deste ano do DiVaM – Dinamização e Valorização dos Monumentos, alusiva ao tema «Direitos Humanos, Igualdade e Não Discriminação». Apenas dois dos assuntos abordados numa simpática conversa com Adriana Freire Nogueira, numa manhã solarenga de Inverno, nas Ruínas Romanas de Milreu. Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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té 13 de março, as associações culturais do Algarve podem candidatarse ao Programa de Apoio à Ação Cultural da Direção Regional de Cultura do Algarve, sendo critérios de elegibilidade prioritários o combate à exclusão social e à desertificação do interior do Algarve; o reforço do papel das artes e da cultura na sensibilização para questões como o respeito pelos direitos humanos, a igualdade e não discriminação, a integração das comunidades ciganas, a promoção da participação dos jovens, os desafios colocados pelas migrações e integração sócio territorial; a educação para a cultura e para as artes; a valorização do património imaterial do Algarve e preservação das tradições, memórias e identidade, incluindo a revitalização de núcleos e centros históricos; a inovação cultural, projetos multidisciplinares e multiculturais. Abertas estão também, até 29 de fevereiro, as candidaturas para a programação DiVaM – Dinamização e Valorização dos Monumentos para 2020, sob o mote «Direitos Humanos, Igualdade e Não Discriminação», porque, mesmo nas democracias mais consolidadas, se assiste ao reaparecimento de movimentos extremistas, de violência e de incitamento ao ódio, que tendem a bipolarizar as sociedades e a normalizar um discurso que ataca as minorias. Assim, pretende-se questionar quais as responsabilidades das entidades culturais naquilo que é o pensamento, o debate e a prática, no âmbito da nossa vida em comum, na nossa região e no mundo. Do ALGARVE INFORMATIVO #236
mesmo modo, procura-se saber como pode o património e a sua dinamização ajudar a dar resposta às violações de direitos humanos que acontecem todos os dias e tão perto de nós. Perante isto, avizinham-se semanas muito preenchidas para Adriana Freire Nogueira, Diretora Regional de Cultura 36
do Algarve, mas assim exigem os monumentos sob a sua alçada e que registaram, em 2019, uma subida significativa de visitantes. Um desempenho que apenas foi beliscado pela queda de afluência na Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, em Vila do Bispo, “porque um operador turístico deixou de passar por lá”, 37
explica a entrevistada. Ao todo, quase meio milhão de pessoas visitaram, no ano transato, a Fortaleza de Sagres (454.190), a Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe (7.344), os Monumentos Megalíticos de Alcalar (9.643) e a Villa Romana de Milreu (19.414), o que obriga a cuidados constantes com a sua manutenção. “Estamos a falar de ALGARVE INFORMATIVO #236
ruínas e de espaços que estiveram soterrados mais de um milénio e até a chuva – que tanta falta nos faz – é destrutiva de toda esta beleza”, afirma, enquanto mirava a tranquilidade das Ruínas Romanas de Milreu, em Estoi.
“Neste momento está a decorrer a fase de requalificação da Casa Rural em Milreu e, em breve, começa a segunda e última fase de requalificação dos mosaicos. Tentamos manter tudo da maneira mais agradável possível para os visitantes e de modo a que eles não coloquem em causa os próprios monumentos. As pessoas gostam imenso desta vila romana porque é bastante percetível, conseguem distinguir os vários espaços que aqui existiam”, aponta, sempre sorridente. Requalificações acontecem igualmente na Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, através de um programa relativo às acessibilidades e apoiado pelo Turismo de Portugal, com sinalética melhorada e uma forma diferente de se transmitir informação ao público. Acessibilidades que foram também melhoradas na Fortaleza de Sagres, lembra Adriana Freire Nogueira. “A
entrada foi renovada e existe um caminho que permite aos visitantes com mobilidade reduzida percorrerem mais facilmente o monumento. Faltam ainda os áudioguias em várias línguas e estão em curso os processos de obra no ALGARVE INFORMATIVO #236
Centro Expositivo, mas nota-se já uma grande diferença em relação ao passado”, garante. “Algumas coisas têm de continuar tapadas, é uma prática corrente em qualquer parte do mundo, porque as condições atmosféricas podem ser muito agressivas em relação a este património. As Ruínas da Villa Romana de Abicada, por 38
exemplo, não estão em condições de serem visitadas, mas os mosaicos já foram todos retirados e tratados e estão no Museu Municipal de Portimão. De Milreu já muita coisa foi retirada no passado e está no Museu Nacional de Arqueologia, mas a intenção agora é tentar preservar o que aqui se encontra e
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estamos a estudar a melhor forma de o mostrar aos visitantes”. Adriana Freire Nogueira esclarece, contudo, que a ideia não é massificar as visitas aos monumentos à responsabilidade da Direção Regional de Cultura do Algarve. “A tendência
nunca será duplicar o número de visitantes, mas gostaríamos de ALGARVE INFORMATIVO #236
ter, de facto, mais portugueses nestes monumentos. Em 2019, a proporção foi de 84,14 por cento de estrangeiros para 15,86 por cento de portugueses. Só em Alcalar o cenário foi diferente, com 52 por cento de público nacional e 48 por cento internacional”, revela a entrevistada, acrescentando que os monumentos do Algarve não ficam atrás da generalidade dos situados noutros pontos do país em termos de afluência de público. “Sem dúvida que a Fortaleza
de Sagres é o nosso grande monumento, mas os outros vão subindo também e há, sem dúvida, procura para este género de produto cultural. Claro que não é o turismo de massas do «sol e praia», mas há muitas pessoas que gostam de realizar rotas para ver os percursos romanos ou os monumentos islâmicos, e outras preferem simplesmente consumir cultura dentro de portas. As entradas também são gratuitas, durante o ano todo, para os residentes nos concelhos onde estão os monumentos e gratuitas para todos os residentes em Portugal, sejam portugueses ou estrangeiros, aos domingos, até às 14h. Às vezes as pessoas retraem-se um pouco no acesso à cultura por não saberem quanto é que isso custa, mas não será pelo preço dos bilhetes que as pessoas não visitam ALGARVE INFORMATIVO #236
os monumentos do Algarve”, defende.
DISTRAIR AO MESMO TEMPO QUE SE ENSINA Não basta, todavia, abrir-se portas e ficar à espera que os «clientes» apareçam, reconhece Adriana Freire Nogueira, daí a importância de se realizarem parcerias com os estabelecimentos de ensino, as associações culturais e até com os agentes turísticos. “As escolas
realizam muitas atividades nas Ruínas Romanas de Milreu e o próprio DiVaM tem iniciativas vocacionadas para as crianças, porque as associações estão bastante envolvidas com esta temática. No fundo, queremos fomentar uma ligação mais estreita das pessoas com os seus monumentos. Vamos lançar, em breve, um concurso de fotografia nos vários monumentos classificados do Algarve para depois implementar todo um projeto regional de educação para o património”, adianta a Diretora Regional de Cultura do Algarve. Adriana Freire Nogueira assegura também que as várias iniciativas dinamizadas com crianças são sempre muito bem-sucedidas, demonstrando que a cultura e o património não são uma «seca» para esta geração habituada a lidar com as novas 40
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tecnologias de informação e entretenimento. “O Dia da Pré-
História em Alcalar, por exemplo, é sempre bastante concorrido, no ano passado teve mais de 1.600 participantes. As crianças mexem no barro e no tear, puxam as cordas, fazem força, percebem como seria a vida naquela época pré-histórica. Em Milreu fazem-se coisas com ervas aromáticas e as tecelas, aqueles quadradinhos com que se constroem os mosaicos. São iniciativas que distraem ao mesmo tempo que ensinam”, descreve. Como é sabido, o prato forte da dinamização cultural destes monumentos é o DiVaM, cujo tema, em 2020, é «Direitos Humanos, Igualdade e Não Discriminação», “pois a cultura é um
meio de transmissão dos direitos humanos”, salienta a entrevistada, recordando que existe ainda outro programa de apoio à ação cultural, esse sim com algumas diferenças no regulamento em relação ao ano transato.
“No DiVaM, as atividades têm de ser realizadas nos monumentos afetos à Direção Regional de Cultura do Algarve, enquanto que, no Apoio de Ação Cultural, essa limitação não existe, as iniciativas podem-se desenvolver em qualquer local. Cada associação só pode ter, no máximo, duas propostas apoiadas pelo DiVaM e todos os anos têm surgido novos concorrentes. Em 2019, por exemplo, o Club Farense ALGARVE INFORMATIVO #236
apresentou duas propostas excecionais, uma aqui em Milreu, outra na Fortaleza de Sagres. As pessoas vão percebendo o que podem fazer nos monumentos que frequentam enquanto consumidoras de propostas de outras associações, compreendem que não precisam 42
ficar «fechadas» nos seus próprios espaços”, observa Adriana Freire Nogueira, sublinhando ainda que os candidatos devem ter, pelo menos, um parceiro nos projetos que submetem a apoio. “Isso faz com que as
associações sejam mais autossustentáveis, que procurem outras fontes de financiamento. Sabemos que a cultura é vagarosa, 43
não se conseguem resultados a correr, mas acredito que, com o tempo, veremos mais pessoas a frequentar monumentos e a dinamizar atividades no seu interior. Temos tido propostas bastante interessantes, que não são «mais do mesmo», e o público adere” . ALGARVE INFORMATIVO #236
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PEÇA DE JACINTO LUCAS PIRES FALOU SOBRE A EUROPA NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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escritor Jacinto Lucas Pires voltou a vestir a pele de encenador e apresentou, no dia 7 de fevereiro, no Cineteatro Louletano, em Loulé, a peça «Canto da Europa», numa coprodução que envolve a Associação Ninguém, o Teatro Nacional D. Maria II, o Cineteatro Louletano e o Teatro Aveirense. A peça conta a história de 24 horas de vida de uma cidade que é um continente e revisita, num formato ficcional, os temas da cidadania, imigração, economia, burocracia, realização profissional e outras questões da vida privada que são públicas. Em palco, o Coro lança uma palavra para a cabeça dos espetadores e começa uma história feita de histórias. Deirdre é uma ALGARVE INFORMATIVO #236
rapariga irlandesa que decide ser atriz ao ver passar na rua Michel Piccoli. O que lhe irá acontecer neste Canto da Europa? E a Robert, cuja filha fugiu para a Síria? E a Paola, que anda a aprender a ser avó? E à santa Ingrid, e à amiga Alice, e ao preso Manos, e à apaixonada Cátia, e ao Gabriel feliz? Advogando uma maior imaginação e criatividade quando se fala de política, inclusivamente no meio artístico, e chamando a atenção para as vantagens da periferia em que Portugal está (e não apenas para as suas fragilidades), Jacinto Lucas Pires coloca nesta peça várias questões e avisos, através de um coro que muitas vezes não está em uníssono, em que as vozes individuais o estilhaçam e em que o próprio coletivo parece, não poucas vezes, não ter consciência de si próprio enquanto voz 48
única. Também no espetáculo, inserido no ciclo de programação «Implikação» que o Cineteatro Louletano leva a cabo nesta temporada, se aborda a ideia de que o coletivo, a cidade, o projeto europeu, muitas vezes se configura como um espaço que não potencia o indivíduo, nem o que ele tem de melhor e único. Jacinto Lucas Pires assina o texto e encenação do «Canto da Europa», com interpretação de Anabela Faustino, André Simões, Carolina Passos Sousa, Diana Sousa Lara, Isaías Viveiros, Ivo Alexandre, Joana Pialgata, José Neves, Lúcia Maria, Paula Diogo, Paula Mora e Pedro Moldão. A cenografia e figurinos são da responsabilidade de Sara Amado e o desenho de luz de Nuno Meira, com produção executiva de Margarida de Lopes Grilo e Tiago da Câmara Pereira. 49
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FESTIVAL ENTRELAÇADOS LEVOU «OUT.LAND» AO TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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xcelente serão de sextafeira, 7 de fevereiro, aquele que teve o público que praticamente esgotou o Pequeno Auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, para assistir ao espetáculo de dança contemporânea «OUT.LAND», inserido na quarta edição do Festival Entrelaçados da Associação Dancenema. Com coreografia de Miguel Ramalho e Gonçalo Andrade, o espetáculo questiona ALGARVE INFORMATIVO #236
quão grande é o espaço na perspetiva do ser que o habita. “De respiração
em respiração passamos de animais independentes, a vítimas da nossa existência. O momento incerto, em que na penumbra de um homem vive a alma do outro e a incessante disputa entre a angústia de ficar e a alegria de partir”, descreve o coreógrafo Miguel Ramalho .
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FESTIVAL AL-MUTAMID COMEMOROU 20 ANOS COM UM ESPETÁCULO ESPECIAL NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes
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o dia 8 de fevereiro, o Festival de Música AlMutamid, a comemorar este ano duas décadas de existência, rumou a Loulé para um espetáculo muito especial com o grupo Wayam Ensemble no palco do Cineteatro Louletano. Pela primeira vez na história do festival nesta cidade, o Cineteatro recebeu dois bailarinos sírios que apresentaram, em simultâneo, ao vivo danças espirituais e folclóricas de estilo turco, egípcio e sírio, acompanhados por grandes músicos. O Wayam Ensemble, formado por quatro músicos provenientes de Marrocos e Síria, levou consigo o perfume e encantamento das músicas e danças do Magrebe e Médio Oriente, fazendo-se acompanhar também por uma bailarina de dança oriental que reflete através das suas danças o testemunho da herança de Al-Andaluz .
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ALBUFEIRA EMBARCOU NUMA VIAGEM FANTÁSTICA ATRAVÉS DE BANDAS SONORAS DE FILMES COM A ORQUESTRA FILARMÓNICA PORTUGUESA AO LEME Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Pavilhão Desportivo de Albufeira «vestiuse» a rigor para receber o espetáculo «From London To Hollywood», um concerto que levou centenas de pessoas numa fantástica viagem pela grande música que foi imortalizada também através do cinema. E nem faltou uma entrada pomposa a lembrar o «red carpet» da cerimónia de atribuição dos Oscars, com feixes lumiosos a apontar ao céu, onde uma lua espreitava misteriosa por detrás de uma nuvem. “Dos estúdios de Hollywood a Londres, ALGARVE INFORMATIVO #236
relembramos algumas das mais famosas bandas sonoras de filmes”, explicou Osvaldo Ferreira, maestro da Orquestra Filarmónica Portuguesa, num serão que contou igualmente com interações de personagens do «Star Wars» e «Piratas das Caraíbas» com o púbico. Foi, de facto, uma noite mágica, com a Orquestra a interpretar as conhecidas bandas sonoras de «Guerra das Estrelas», «Harry Potter», «Pirata das Caraíbas», «Pantera Cor de Rosa», «007», «New York, New York» e o incrível «Um Americano em Paris», entre muitos outros êxitos, acompanhadas das imagens dos filmes projetadas num ecrã gigante. 90
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Fundada em 2016 pelo maestro Osvaldo Ferreira e Augusto Trindade, a OFP rapidamente captou a atenção do meio musical e artístico nacional, sendo já amplamente reconhecida, pelo público e pela crítica, como uma das melhores orquestras sinfónicas do país. O elevado padrão de exigência que apresenta desde a sua génese faz com que integre um conjunto de músicos de elevado nível técnico e artístico, como sejam artistas premiados em concursos nacionais e ALGARVE INFORMATIVO #236
internacionais, ex-participantes da Orquestra Jovem da União Europeia e músicos estrangeiros residentes em Portugal. A OFP produz concertos sinfónicos, ópera e promove ligações a outros géneros artísticos, numa busca constante do desenvolvimento de eventos e espetáculos diferenciadores e únicos. Conta com a direção artística do maestro Osvaldo Ferreira, um dos mais representativos maestros nacionais da atualidade . 92
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HUGO VAN DER DING BRILHOU EM LOULÉ NUMA IMPROVÁVEL TERÇA À NOITE Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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nserido na rúbrica «Terças Improváveis» do Cineteatro Louletano, o Auditório do Solar da Música Nova, em Loulé, assistiu, na noite de 4 de fevereiro, ao excelente «Isto só neste país», do humorista Hugo van der Ding. Uma agradável surpresa para quem não o conhecia, a confirmação do seu talento para quem já o acompanha através das célebres tiras «A Criada Malcriada» e «Cavaca a Presidenta» ou do ALGARVE INFORMATIVO #236
programa radiofónico «Vamos todos Morrer». O espetáculo incluído no ciclo «Implikação» debruçou-se sobre a Europa e, ao longo de mais de uma hora, fomos conhecendo melhor a forma como o Velho Continente foi evoluindo desde os tempos dos romanos até à atual União Europeia, com Hugo van der Ding a pegar em pormenores menos divulgados pelos 104
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historiadores tradicionais, sempre com uma ironia bastante afiada, de modo que, quem lá esteve, dificilmente continuará a olhar para a Europa da mesma maneira. Porque o autor explica-nos o que tinham em comum Carlos V, Napoleão, Hitler e Jean Monnet, figuras que sempre sonharam com uma Europa unificada. No espetáculo percebe-se que a ideia de um bloco europeu já é muito antiga, mas nem os césares romanos, nem Alexandra Magno, nem Napoleão, nem sequer Hitler (felizmente), conseguiram almejar o que o industrial Jean Monnet tornaria realidade já no século XX, ao dar os primeiros passos na direção da União Europeia pela via económica. Porque, até aqui, as tentativas ALGARVE INFORMATIVO #236
de unificação da Europa faziam-se por via do sangue, fosse por uma rede de casamentos de interesse ou por conflitos armados. "É uma viagem de
mil anos que aqui fazemos, incluindo os pormenores todos de como o fizeram, como ganharam e perderam e, sobretudo, quem se deitava com quem", explica Hugo van der Ding, que até teve tempo para falar de Isabel dos Santos e de outros milionários cujas fortunas nasceram e cresceram sabe-se lá como. Ou melhor, até se sabe, mas é melhor nem pensar e falar sobre o assunto .
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MIGUEL CHETA INAUGUROU EXPOSIÇÃO E DINAMIZA OFICINAS COM JOVENS EM LOULÉ Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina exposição «Todos nós nascemos originais e morremos cópia» foi inaugurada, no dia 8 de fevereiro, no CECAL - Centro de Experimentação e Criação Artística de Loulé, no seguimento de um convite que o Município de Loulé recebeu, da parte do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, para integrar o projeto «PORTUGAL Entre/PATRIMÓNIOS». O projeto tem como base a sustentabilidade cultural e propõe-se ter um carácter experimental que pretende, entre outros objetivos, proporcionar processos de criação artística como sinónimo de futuro nos processos de mudança dos territórios, assim como questionar a complexidade da sociedade contemporânea através de leituras do património material e imaterial. Integrado neste projeto, o Município de Loulé, por via das suas Galerias Municipais, desafiou o artista Miguel Cheta a refletir sobre as questões dos processos colaborativos, dos diálogos (im)possíveis, dos conflitos latentes (ou não) entre públicos e artistas, do que é a arte colaborativa, do papel do artista na 115
transformação dos territórios, e assim nasceu esta exposição que vai estar patente ao público até 4 de abril. “Mas
haverá igualmente uma forte componente educativa e participativa, através de 15 oficinas em que vamos falar do imaginário do Carl Jung – o autor da frase que dá nome à exposição – e dos artistas que ele influenciou, artistas que foram fundamentais para chegarmos à contemporaneidade”, esclareceu Miguel Cheta ao Algarve Informativo, antes da abertura de portas ao público. No fundo, vão-se dar ferramentas aos participantes nas oficinas para que compreendam o porquê de se fazer arte, nos dias modernos, desta maneira e não de outra qualquer. E esta é a primeira vez que Miguel Cheta trabalha neste formato, ou seja, respondendo a um desafio concreto de uma entidade – a Câmara Municipal de Loulé – para preparar uma exposição com um título que serviu de mote ao processo criativo. “Tive toda a liberdade
para desenvolver o projeto expositivo, foi cerca de um ano a ALGARVE INFORMATIVO #236
pensar, preparar e produzir o que se pode ver agora no CECAL. Há apenas uma peça que já tinha estado patente ao público, todas as restantes foram criadas propositadamente para esta ocasião, o que me permitiu explorar um novo corpo de trabalho. Novas direções que, provavelmente, se não tivesse surgido este convite, não teria trilhado”, reconhece o artista visual. Tal não significa que Miguel Cheta não se sentisse perfeitamente à vontade com o desafio que lhe foi confiado, pois já está habituado a trabalhar em projetos que conciliam a arte com a educação. “Falo
do «Arte Vezes Educação», da Câmara Municipal de Loulé, que ALGARVE INFORMATIVO #236
nasceu a partir do 10x10 da Fundação Gulbenkian e que está de muito boa saúde no concelho louletano. Aliás, desejaria bastante que esse projeto se pudesse implantar a nível regional”, confessa o entrevistado. Quanto às oficinas, serão frequentadas por jovens do 2.º ciclo ao Ensino Secundário, com o intuito de os familiarizar mais com a arte e todo o processo criativo. “A primeira
questão que nos devemos colocar nos tempos atuais é o que é um curso «normal» e que nos dá garantias de sucesso para o futuro. É a motivação que existe dentro de cada pessoa que a faz atingir patamares superiores e a nós cabe-nos dar-lhes 116
ferramentas para que possam descobrir as suas paixões. E transmitir-lhes a noção de que estamos a trabalhar num território em que falta fazer muita coisa. Temos um curso de Artes Visuais na Universidade do Algarve, mas falta 117
criar todo o dia seguinte à universidade, para além de educação para o público em geral”. Porque, avisa Miguel Cheta, a arte está sempre à frente do seu tempo, e não apenas a contemporânea. “Os ALGARVE INFORMATIVO #236
artistas têm a obrigação de questionar o mundo e tudo o que os rodeia, caso contrário, não estão a cumprir com o seu papel primordial. Depois, quando essas propostas são digeridas pelo público, passam a fazer parte da normalidade, mas é uma construção que demora tempo”, indica o artista, realçando ainda a importância do apoio do poder central e local ao processo criativo. “No Algarve
não conheço muitos espaços expositivos que tenham uma programação contínua, feita de forma rigorosa, inteligente, atual. São todas muito intermitentes e não podemos educar se não houver matéria para confrontar as pessoas que queiram ser «educadas». E era bom que existissem apoios que não estivessem dependentes de arte de
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palco, porque não há dinheiro que pague a construção de cultura no imediato. É um processo longo, cauteloso e que deve ter bons alicerces”, defende Miguel Cheta. Sobre a exposição «Todos nós nascemos originais e morremos cópia» em concreto, o autor espera que as pessoas se possam encontrar a elas próprias durante a visita. “Se
percebermos um bocadinho quem foi Carl Jung e o que escreveu, aquilo que teorizou, seguindo Freud, verificamos que ele fala sobre nós próprios, sobre a complexidade de sermos quem somos. Esta exposição fala da formação do «eu» e este confronto de quem somos neste meio de massas em que vivemos”.
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OPINIÃO The eyes are not here - Exposição de Orlando Franco Mirian Tavares (Professora) Between the conception And the creation Between the emotion And the response Falls the Shadow Life is very long T. S. Elliot
echa os olhos e vê, diz Joyce na abertura do seu épico romance Ulisses. Georges Didi-Huberman traz-nos Joyce, e suas inquietações modernistas, quando reflete sobre o paradoxo da visão, ou daquilo que é visível: vemos o que nos olha. Movimento duplo em que “o ato de ver só se manifesta em dois*”. Ao lutar com as palavras, e ao reinventálas, Joyce começa por falar da inelutável modalidade do visível: o olhar não é apenas um gesto, o resultado de sinapses na fisiologia humana, muito menos, o simples reconhecimento de formas apre(e)endidas, é um ato físico que precisa superar a volumetria do real, daquilo que se dá a ver, que se põe diante dos nossos olhos. A visão, e o visível, são matérias caras ao universo da arte, afinal não é a criação artística fruto da luta humana contra o esquecimento? Que podemos também ALGARVE INFORMATIVO #236
chamar, de forma mais apropriada, desvanecimento? Convocar Joyce para falar de uma exposição de artes visuais não é apenas um exercício de retórica. Orlando Franco, o artista, convoca-o na sua obra porque comunga com ele a mesma preocupação – como vencer a inelutável modalidade do visível? Como atravessar as superfícies e realmente VER? Esta exposição faz parte de um conjunto de trabalhos que aparecem, pela primeira vez, em Burnout (2013), exposição realizada na Plataforma Revólver e continua no trabalho de curadoria artística que realiza em 2019 com a exposição Wait (Museu Coleção Berardo). Segundo o artista, o que estes projetos têm em comum é “o facto serem planeados e montados/instalados de uma forma potencialmente cénica e cinemática”. O potencial cénico e cinemático das obras está presente no romance modernista de James Joyce e na poesia de T.S. Elliot, a quem Orlando Franco pede emprestado o 122
Foto: Victor Azevedo
semelhante ao do cinema. As imagens cinemáticas organizam-se e seguem a lógica das imagens que são impressas, por segundos, na nossa retina e que permitem assim dar sentido ao mundo, ao visível. E a ambivalência do ver e ser visto na arte é uma preocupação constante deste artista. No seu projeto curatorial, Wait, recorre uma vez mais à literatura, neste caso de Samuel Becktt, que pre-viu, com seus textos, o vazio que reinou no pós-II Grande Guerra. Um vazio que gerou pessoas vazias: hollow people. E pessoas vazias não veem, porque o olhar tem corpo, tem volume, tem de atravessar algumas grades para chegar cá fora, como escreve Joyce. E o que Orlando Franco nos oferece é uma imersão num dispositivo cinemático que exige de nós a predisposição de fechar os olhos para finalmente ver.
título desta exposição The eyes are not here, verso do poema The Hollow Man. A visão apocalíptica do poeta, cuja fortuna crítica, de tão vasta não merece a pena ser aqui repetida, deixa marcas profundas num século que presenciou duas Grandes Guerras e tantas outras mais. Não é por acaso que a personagem de Marlon Brando, no filme Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola, repete os versos que encerram o poema de T.S. Elliot: This is the way the world ends. Da mesma forma que o poeta nos questiona sobre o que fica depois, quando deixarmos de ver, ou seja, quando morrermos, Orlando Franco põe em causa a nossa capacidade de ver para além do visível, de enxergar com nossos olhos que possuem uma fisiologia própria, que veem para dentro – pois não são os olhos que veem, é o cérebro, mas sem eles não alcançamos o que está diante de nós. O princípio do funcionamento do nosso aparato, ou dispositivo, visual, é 123
Deixarmo-nos afetar pela atmosfera criada e enxergar as peças – vídeos, gravuras, imagens em diversos registos que põem em causa o estatuto mesmo do visível, ou da visibilidade. É preciso que os nossos olhos sejam vistos pelas obras que, contemporâneas, se ligam indelevelmente ao modernismo – ao momento da História da Arte e da Cultura em que se reconheceu a fratura do humano e que produziu objetos que falam sobre a impossibilidade da criação, que refletem a perda, que se concentram no vazio. Esta exposição tenta, de alguma maneira, dar resposta às inquietações de Didi-Huberman. “O que é um volume portador, mostrador de vazio? Como mostrar um vazio? E como fazer desse ato uma forma – uma forma que nos olha?**” . * Georges Didi-Huberman (1998). O que vemos, o que nos olha. São Paulo, Ed. 34, p. 29. ** Didi-Hubernman, p. 35. ALGARVE INFORMATIVO #236
OPINIÃO Do Reboliço #72 Ana Isabel Soares (Professora) o mundo do Reboliço, cada canito tem o seu lugar, o ponto onde se acoita, a casa que sabe ser a sua. O que não significa que não passeiem por todo o lado, a espalhar presença como quem conhece, a reconhecer como quem vive nas esquinas do mundo inteiro, nos poiais de cada porta, encostados ao lume da lareira, aninhados numa cova por eles escavada até acharem a frescura da terra nos dias quentes, ou à sombra grande do cilindro de um moinho. Onde quer que se enrolem ou estirem é bom lar (numa casa vazia, quando não se sabe onde se há de pôr a cadeira de descanso, o banco para repousar os pés, é ver onde se deita um cão). Em descanso, estão de atalaia: dormem com um olho aberto e outro fechado, as orelhas em igual função repartida (para que haveriam de ter duas, se não servissem para se renderem uma à outra?) e o focinho aberto aos cheiros que passam pelo ar. Veem-se de longe e farejam o vento, à procura de reconhecer quem se aproxima. Lá terão os seus catálogos de odores, a camisola que ficou de noite pendurada no espaldar de uma cadeira e ganhou cheiro de sono, qualquer coisa da humidade que a tijoleira velha fez subir; as tábuas ALGARVE INFORMATIVO #236
enfarinhadas de uma carroça para onde se carregue a saca do trigo moído, ou de onde se fizeram descer os grãos soltos da espiga ou no ramo ainda; o arame do pelo de um canino companheiro que alguém traz de visita, e então o ladrar é rápido, continuado e acompanha o ritmo da cauda. O Reboliço deixa o canto sossegado e sai ao caminho de quem chega: a carroça, um lavrador ou padeiro, e o seu cão. O cumprimento que fazem espelha o dos homens. É porque sempre o viram ser feito, boinas retiradas, mãos apertadas em passou-bem, as livres a ajustar ombros a ombros, a máquina gente a ativar sorrisos. O ladrar do Reboliço não dá só as boasvindas: serve de alarme na altura de dizer quem mora aqui. Se os cães do monte vizinho aparecem a acompanhar o dono, para assistir à conversa entre os homens, o Reboliço faz a cortesia e senta-se, como eles ao lado do pastor, a ladear o moleiro: olham-se, cheiram-se, silenciosos, lá se deitam, se as falas se alongam, mas nada de brincadeiras, não se dão confianças. Se calha vir um que seja, desacompanhado do dono, leva corrida do canito meia-leca: não há cá disso, invasor, pensas que quê?, vai lá buscar quem te traga e não te deixe, que aqui temos à vondo de cães. Persiste no latido até que o dono o chame, “Vamos lá a ver 124
Foto: Vasco Célio
a barulheira, tal ‘tá o bicho...”. Normalmente, é quanto basta para o outro girar o sentido, apontar à estrada e abalar. Às vezes, porém, quem se achega é cachorro – mal ainda aprendeu de territórios: nessas alturas, o Reboliço enche-se do brio de professor, carrega de mel o ladrar, mas sem deixar de ser do 125
rijo, e enxota-o enquanto ouve o brado do moleiro, igual ao “Qu’é da rua!” que dá aos gatos se entram na casa – “Qu’é do teu monte!” . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #236
OPINIÃO Patalogia da arrogância Adília César (Escritora) (…) pessoas que pensam que tudo lhes é devido, que o mundo existe para lhes prestar vassalagem. (…) Enfim, tudo isto é velho como o mundo, mas tem dias em que aparece cru. Anabela Mota Ribeiro
atologia da arrogância. Esta não é uma expressão frequente na linguagem comum do dia-a-dia. Mas pensando bem, há muitas pessoas que sofrem ilusões de grandeza. Esses seres «iluminados» acreditam que são famosos, ricos, inteligentes; estão convencidos que são superiores aos outros; esforçam-se por nos subjugarem à sua perfeição, são manipuladores exímios através de meios persuasivos e magnetizantes. Cuidado, essas pessoas têm, na verdade, um grande poder – o de sugar a energia alheia. Do ponto de vista psicológico, podemos aceitar que alguns destes indivíduos sofrem de Transtorno da Personalidade Narcisista (TPN), ao sobrevalorizarem as suas próprias características na importância e singularidade, quando ao mesmo tempo não aceitam como válido o êxito pessoal ou profissional dos que os rodeiam. Pensam que tudo está mal e que eles próprios teriam a solução para os ALGARVE INFORMATIVO #236
problemas da sociedade. Os arrogantes não admitem a culpa e querem manter as aparências a todo o custo. Eles são insuportáveis… No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM – IV a patologia é caracterizada por sentimentos exagerados de autoimportância, uma necessidade excessiva de admiração aliada a uma falta de compreensão dos sentimentos dos outros. Mas afinal, seremos todos um pouco doentios, do ponto de vista da autoestima? Desejamos conhecer a nossa importância como indivíduos? Sim. Necessitamos de alguma admiração por parte dos outros? Sim. Falhamos frequentemente perante os sentimentos alheios? Sim. Parece que o maior desafio tem a ver com a pressuposta fronteira entre o aceitável e o patológico. E acredito que todos ultrapassamos esses limites, pelo menos de vez em quando… II No Jornal Expresso de 8 de Fevereiro de 2020 pode ler-se uma reportagem de 126
Ferreira Gular, ou Rubem Fonseca, aquele que teve mais títulos excluídos: 19. (…) Também Aurélio Buarque de Holanda, autor do mais referenciado dicionário brasileiro e primo do autor e cantor Chico Buarque, tem obras retiradas do ensino público. Mas nem só autores brasileiros são censurados, também nomes universais como Franz Kafka ou Edgar Allan Poe foram rejeitados. (…) Rondónia é governado pelo coronel Marcos Rocha, seguidor da orientação ideológica de Olavo de Carvalho, considerado o mentor do Presidente Jair Bolsonaro. A ordem para retirar os livros terá vindo do secretário da Educação, Suamy Vivecananda, que classificou os livros incluídos na lista como tendo «conteúdos inadequados a crianças e adolescentes»”. Chistiana Martins, após o episódio da criação de um index que proíbe a divulgação de clássicos da literatura do Brasil nas escolas públicas do estado de Rondónia: “O governo do estado de Rondônia, no extremo norte do Brasil, determinou a recolha de 43 obras literárias por considerá-las «conteúdo inadequado» para as escolas da rede pública. Entre os livros censuradas estão clássicos da literatura brasileira de autores como Machado de Assis, Euclides da Cunha, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues, 127
III Primeiro proíbem os livros, depois queimam as ideias e… O que se seguirá é uma incógnita porque a patologia da arrogância é um fenómeno de fácil propagação e nunca será travado. Que havemos de fazer com tudo isto? Tirar a casca e comer cru? Ou devemos assumir o medo que temos do escuro, para enfrentarmos o negrume da censura e saltarmos no vazio metafórico do pensamento e da linguagem, acreditando que temos asas e conseguiremos voar? . ALGARVE INFORMATIVO #236
OPINIÃO As profissões do futuro na era digital Fábio Jesuíno (Empresário) ivemos numa era digital cheia de novos desafios e de uma transformação da sociedade em todos os níveis, principalmente em termos laborais. Nos próximos anos, as profissões vão ser muito diferentes daquilo que são hoje, as competências dos funcionários vão mudar radicalmente, alguns estudos indicam que cerca de mais de metade das profissões que serão mais procuradas dentro de 10 anos ainda não existem atualmente. Com base em várias informações e estudos, criei uma lista com as profissões do futuro:
disponibilizamos online. Estes profissionais vão garantir a segurança das informações mais sensíveis nas empresas.
Especialista em inteligência artificial A inteligência artificial é uma das áreas com maior crescimento nos próximos anos, vão ser necessários profissionais altamente qualificados para criar sistemas inteligentes e em machine learning, função usada para preparar as máquinas a simularem os processos de decisão do cérebro humano.
Especialista em impressão 3D O potencial da impressão 3D é enorme e a sua abrangência em vários sectores de atividade é clara, fazendo com que a procura destes profissionais seja muito elevada.
Especialista em ciber-segurança A proteção e privacidade de dados pessoais e empresariais é algo cada vez mais importante atualmente, devido essencialmente às informações que ALGARVE INFORMATIVO #236
Criador de conteúdo online São os responsáveis pela criação e edição de artigos, vídeos e imagens para web sites ou plataformas online, muitos são influenciadores digitais nas redes sociais. É claramente uma profissão em crescimento atualmente. Operador de drones O crescimento da indústria de drones vai ser elevado no futuro. A utilização de drones é cada vez mais popular, principalmente na área de fotografia e vídeo e no envio de encomendas.
No futuro, muitos dos trabalhos vão ser substituídos por robôs, muito devido ao desenvolvimento da inteligência artificial, mas será também uma oportunidade para o nascimento de novas profissões e negócios para os empreendedores de sucesso . 128
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ROTA DA LARANJA: UMA NOVA FORMA DE SE DESCOBRIR O CONCELHO DE SILVES, DESDE A SERRA ATÉ AO MAR Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oi apresentada, no dia 7 de fevereiro, a «Rota da Laranja», com a missão de promover, de forma diferente e integrada, o concelho de Silves e a marca «Silves Capital da Laranja», dando a conhecer o território que vai desde a serra até ao mar. Património histórico, adegas, gastronomia, experiências de apanha de ALGARVE INFORMATIVO #236
laranja e visita a pomares e a instalações de embalamento são os grandes atrativos desta proposta da Câmara Municipal de Silves cuja grande inovação é a possibilidade de se utilizar uma aplicação que integra tudo o que esta rota tem para oferecer, criando percursos adaptados a cada utilizador, à sua disponibilidade de tempo e vontade de conhecer. Conversas com personagens históricos, fotografias 132
360º e total customização dos itinerários garantem igualmente uma singularidade das experiências. A «Rota da Laranja» foi divulgada à comunicação social numa road trip que começou na Quinta de Santo Estêvão e será mais um instrumento de promoção do território e de valorização da principal atividade comercial e económica do concelho, que procura refletir a identidade de Silves, o seu património material e imaterial e a capacidade de acolhimento da população. Será também um complemento à marca e eventos criados em torno da laranja, como a «Mostra Silves Capital da Laranja» e o «Fim-de-Semana com Sabor a Laranja», que acontecem todos os anos no mês de fevereiro. “Silves é um território com
679 quilómetros quadrados de 133
imensa tradição e património e que concentra 60 por cento da produção de citrinos no Algarve e 40 por cento da produção nacional. Somos o maior produtor algarvio e do país deste tipo de fruta (Citrus Sinensis L.) originário da Ásia e o segundo mais consumido no mundo, logo a seguir à maçã”, referiu Rosa Palma, presidente da Câmara Municipal de Silves. Silves é um concelho que tem de tudo um pouco, enfatizou a edil silvense, mas faltava uma ferramenta que ajudasse os turistas nas suas visitas, e assim surgiu a «Rota da Laranja», uma proposta que permite a interação com vários atores (alojamento, transportes e outros serviços complementares), ALGARVE INFORMATIVO #236
numa utilização expansiva do território e dos seus recursos. “A marca «Silves,
potenciar toda a economia local do concelho”, reforçou a autarca,
Capital da Laranja» envolveu de forma mais próxima todos os nossos produtores locais com a autarquia, na Mostra queremos que eles partilhem informações e experiências que envolvam este setor, mas faltava ainda mostrar às pessoas aquilo que existe no nosso território. E esta «Rota da Laranja» vai de Armação de Pêra a São Marcos da Serra. Não se trata de destacar apenas um produto de excelência que é a laranja, mas um território no seu todo e as pessoas que o constituem”, frisou Rosa Palma. “Com este chapéu a que chamamos «Rota de Laranja» desejamos
A «Rota da Laranja», para além de permitir um contacto com a realidade da citricultura em Silves, dará a descobrir o património e a história de uma forma criativa, atual e recorrendo a ferramentas tenológicas inovadoras. Experiências como conhecer um monumento, ou visitar um pomar e apanhar laranjas, ou provar produtos feitos com laranja, sempre numa interação harmoniosa entre visitantes e residentes. Só que o perfil do turista moderno exige que os destinos estruturem atrações diferenciadoras na sua essência, na sua divulgação e
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durante a visita que passou também por locais icónicos como a Casa-Museu João de Deus e o Museu do Traje e que terminou no Centro Histórico de Silves.
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realidade aumentada (ativados através de QR code, de georreferenciação ou de mobiliário específico), em localidades diferentes do concelho, dando a conhecer de forma única e distinta a história e o património, sempre com uma ligação direta à laranja”, explicou João
experimentação. Por isso, neste projeto, a inovação incide no momento de preparação da visita e também na experiência da própria visita. Algo que acontece por via de uma aplicação que pode ser descarregada para qualquer smartphone ou tablet e que coloca nas mãos do visitante a possibilidade de escolher aquilo que vai ver, conhecer os vários aderentes desta rota, selecionar as experiências que fará. “Esta aplicação
oferece ainda a possibilidade de experimentar oito pontos de 135
Monsanto, da «Larm (I)Realities», a empresa que concebeu a aplicação. Imagine-se, então, a chegar à estação de Tunes e, nesse local, através da aplicação e recorrendo à realidade aumentada, descobrir um chefe de estação de outros tempos, que fala da importância do transporte para o desenvolvimento da agricultura local. Ou chegar ao Castelo de Silves e ser cumprimentado pelo Rei Poeta Al-Mutamid, ou em Alcantarilha saber, pela boca de D. Sebastião, como esta vila foi seu local de passagem, antes de desaparecer no norte de África. E conhecer João de Deus, na casa onde este viveu, em São Bartolomeu de Messines. Em todo o território, onde cada visitante poderá criar o seu próprio percurso, mais ou menos longo, há pontos onde existem imagens 360º, que são também uma forma de descobrir o que Silves tem de melhor e ALGARVE INFORMATIVO #236
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mais bonito. Para além disto, a «Rota da Laranja» disporá de um planeador de viagem (Travel Planner), desenvolvido pela empresa algarvia «Visual Forma», que permitirá, através do site da autarquia, descobrir todas as possibilidades de visita a realizar. Com recurso a estas ferramentas inovadoras, o turista poderá ajustar a sua visita em função de fatores diversos, como o tempo disponível, os principais interesses, o meio de transporte ou o orçamento disponível, entre outros. Um projeto ambicioso, daí o entusiasmo, e algum nervosismo também, demonstrado por Rosa Palma aquando da apresentação pública da «Rota da Laranja», cujos objetivos passam por melhorar a atratividade do território, atenuar a sazonalidade e promover os produtos locais, contribuindo, deste modo, para que exista uma visão sustentável de todas as atividades ligadas a este produto turístico. “Isto faz com que esta
proposta se enquadre, não apenas na estratégia do Município, mas também na estratégia desenvolvida para a promoção da região, sendo mais uma oferta que nos pode promover nacional e internacionalmente enquanto destino diferente e com propostas 137
inovadoras”, assegura a presidente da Câmara Municipal de Silves. São ainda importantes objetivos da «Rota da Laranja» contribuir para a coesão territorial, atenuando as assimetrias que o território apresenta; e preservar o património imaterial, mantendo para as gerações futuras as tradições, os costumes e os saberes populares das gentes de Silves. Deste modo, a «Rota da Laranja» pretende constituir-se como mais um referencial ALGARVE INFORMATIVO #236
patrimonial e identitário para o concelho de Silves, permitindo que se trabalhe na promoção do território e das atividades que nele se desenvolvem, uma vez que o envolvimento dos atores na dinamização do tecido económico local reforçará a revitalização de tudo o que está associado à citricultura, ao mesmo tempo que se fomenta a sua atratividade, bem como a preservação e difusão de conhecimentos e tradições associadas à temática. Simultaneamente, tornar-se-á mais atrativa a estadia no concelho e, logo, aumentar-se-á o tempo de permanência e de interesse em relação à oferta gastronómica, de dormida, de comércio, de património, melhorando o tecido empresarial e contribuindo de forma ativa para que o mesmo seja estimulado a produzir produtos de maior qualidade e relevância para o visitante.
“Queremos dar maior notoriedade ALGARVE INFORMATIVO #236
ao produto laranja, emblemático deste concelho, e aos seus produtores, reforçando, no consumidor regional, nacional e internacional, o seu carácter e identidade únicos. Mais do que isso, desejamos que este produto possa assumir um posicionamento favorável, associando-o ao nome «Silves», reconhecido como local onde os patrimónios material e imaterial assumem uma relevância e um valor claramente indissociável da excelência e em que a laranja assume características de qualidade únicas e reconhecidas, há longos anos”, declarou Rosa Palma .
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Rosa Palma, José Carlos Rolo e Vítor Aleixo
Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Geoparque Algarvensis já foi aceite como Geoparque Aspirante à Rede Global de Geoparques da UNESCO, sendo um projeto de desenvolvimento integrado do território que, partindo do património geológico, ALGARVE INFORMATIVO #236
pretende dar novas vidas ao interior dos concelhos de Loulé, Silves e Albufeira, tornando-os num destino apetecível para investir, viver e visitar de modo sustentado e alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas. Para dar a conhecer o projeto foi preparada a exposição itinerante «Vamos ser 140
Geoparque Algarvensis: o que é isso?» que, depois de ter passado por Loulé e Salir, chega agora ao concelho de Albufeira, mais concretamente a Paderne (de 8 a 14 de fevereiro no edifício da Junta de Freguesia), Ferreiras (de 15 a 21 de fevereiro, no edifício da Junta de Freguesia) e a Albufeira (de 22 de fevereiro a 3 de março, nos Paços do Concelho). No que diz respeito a Albufeira, o que está em foco é o Planalto do Escarpão, maioritariamente em Paderne, sendo o local do Algarve Oriental com o corte geológico mais completo e representativo do Jurássico Superior, não só pela unidade geológica dos Calcários do Escarpão, mas por ali se poder estudar cinco formações geológicas distintas: a mais antiga é a do Peral, seguindo-se as 141
da Jordana, do Cerro da Cabeça, do Escarpão e dos Calcários com Anchispirocyclina lusitânica. Este local foi, há milhões de anos, um espaço de mar, tendo os seus sedimentos dado origem a estas formações geológicas, havendo assim no território excelentes vestígios desse mar do tempo dos dinossauros. “Esta candidatura
surgiu por iniciativa do presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, que depois contatou os seus congéneres de Silves e Albufeira, mas é um processo moroso que exige paciência da parte de todos. De qualquer modo, temos que ir já sensibilizando as pessoas para as potencialidades de se ter um ALGARVE INFORMATIVO #236
geoparque no Algarve, de se criar mais motivos de interesse para visitar o barrocal, uma zona da região desertificada e tantas vezes desprezada”, frisou José Carlos Rolo, aquando da inauguração da exposição.
“É um projeto que pode fomentar o turismo, a restauração, o artesanato, a agricultura, toda a economia local. A nossa vontade é que o Algarve não seja apenas o «sol e praia» do litoral, mas que seja complementado pelo interior. Tenho elevadas expetativas de que possamos ter aqui um ponto de interesse que consiga fixar pessoas e que torne a vida mais agradável e
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sustentável”, reforçou o presidente da Câmara Municipal de Albufeira. José Carlos Rolo esclareceu, contudo, que o sucesso da candidatura não depende apenas dos autarcas envolvidos, mas de toda a população, dos contributos que possam dar para enriquecer um projeto que será coordenado, a nível das três câmaras municipais, por Luís Pereira (Albufeira), Dália Paulo (Loulé) e Francisco Lopes (Silves). Curiosamente, três autarquias todas de partidos diferentes, respetivamente PSD, PS e CDU, com Rosa Palma a declarar que “aqui não
se trata de cores políticas ou áreas administrativas, mas sim de valorizar o interior”. “Este projeto
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é feito de pessoas, por isso, pedimos que nos falem das suas tradições, que partilhem as suas canções e lengalengas. A geologia tem um papel muito importante num geoparque, mas queremos que as rochas comecem a «falar» através das vozes das gentes locais. Daí levarmos a exposição a vários pontos dos três concelhos, para que as populações tenham conhecimento do que é um geoparque. Porque, antes de podermos transmitir algo aos visitantes, temos nós próprios que compreender as mais-valias dos nossos territórios”, salientou a presidente da Câmara Municipal de Silves.
“Este processo não é estático, vai 143
ser sempre a crescer, das pessoas para as pessoas”, acrescentou. No uso da palavra, Vítor Aleixo admitiu estar-se perante um projeto bastante ambicioso, de importância e ressonância global, por estar sob a tutela da UNESCO, “mas não tenho a
menor dúvida de que esta candidatura vai ser rapidamente coroada de êxito”. “Tantos e tão diversos e ricos são os objetos e manifestações nestes três territórios, e tal é a vontade e união destes três autarcas e das equipas que com eles trabalham, que acredito que, daqui a três ou quatro anos, teremos nesta zona do Algarve Central um Geoparque Mundial sob a chancela da ALGARVE INFORMATIVO #236
UNESCO”, assumiu o presidente da Câmara Municipal de Loulé, que voltou a apelar ao envolvimento das pessoas.
“Sem as comunidades locais, as escolas, as associações e agentes culturais, os agentes económicos, não haverá geoparque, porque todos os seus contributos são fundamentais para mostrarmos ao mundo a identidade única deste território, que assenta, não só na geologia, mas também na paisagem, na cultura, nas tradições, em tudo”, destacou o edil louletano. “O interior destes três concelhos ostenta sinais de envelhecimento da população, há poucas empresas para fixar as pessoas, há falta de energia e dinâmica económica e ALGARVE INFORMATIVO #236
social, e este projeto pode muito bem ser a solução para estes problemas. Depende de nós voltamos a ter uma região com juventude e empresas, porque muita gente de todo o mundo virá visitar este território, assim saibamos trabalhar, gostar da nossa terra e amar as nossas tradições”, concluiu Vítor Aleixo. Após a inauguração da exposição itinerante, na Junta de Freguesia de Paderne, houve lugar a uma palestra, no Salão D. Paio Peres Correia, na Caixa de Crédito Agrícola de Paderne, onde se falou do papel dos parceiros do Arouca Geopark, designadamente do Hotel S. Pedro e do Clube do Paiva . 144
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