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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 7 de março, 2020
VARIAÇÕES DESLUMBROU LOULÉ FICLO, ENCONTROS DO DEVIR E CENTRAL ARTES A CHEGAR | «ALFORGE E O CICLO DA Lû | GABRIEL DE ROSE 1 «PORCELANA» DE PERIGO PÚBLICO E SICKONCE | «ALGARVE CRAFT&FOOD» | VINHOS DO ALGARVE COM NOVA #239 IMAGEM ALGARVE INFORMATIVO
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70 - encontros do DeVIR
82 - «Variações» em Loulé
14 - CREPC e BAL inaugurados
36 - Central Artes arranca em cinco concelhos do Algarve ALGARVE INFORMATIVO #239
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132 - Portimão já tem rede de DAE 106 - «Porcelana»
48 - «Alforge e o Ciclo da Lã» 96 - «Choque Frontal ao Vivo»
140 - «Algarve Craft&Food»
60 - Vinhos do Algarve
OPINIÃO 122 - Ana Isabel Soares 124 - Alexandra Rodrigues Gonçalves 126 - Fernando Esteves Pinto 128 - Vera Casaca 28 - FICLO em Olhão 7
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ANTÓNIO COSTA INAUGUROU EQUIPAMENTOS REGIONAIS DA PROTEÇÃO CIVIL EM LOULÉ E QUARTEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Primeiro-Ministro António Costa, acompanhado pelo Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, pelo Presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, TenenteGeneral Carlos Mourato Nunes, e por vários Secretários de Estado, deslocou-se ALGARVE INFORMATIVO #239
ao concelho de Loulé, no dia 29 de fevereiro, para presidir à inauguração de dois equipamentos na área da proteção civil que irão servir o Algarve: o CREPC – Comando Regional de Emergência e Proteção Civil, em Loulé; e a BAL – Base de Apoio Logístico da Proteção Civil, em Quarteira. O CREPC passa a ser a nova «casa» da Proteção Civil no Algarve, substituindo 14
as antigas instalações que se localizavam na baixa da cidade de Faro. O edifício está situado num terreno cedido pela autarquia louletana naquela que é já chamada a «Cidadela da Segurança e Proteção Civil» que está a ser criada em Loulé, com uma centralidade única, acesso direto à Via do Infante e localização privilegiada, em frente à Base de Helicópteros e ao Quartel de Bombeiros de Loulé. Este equipamento reúne todas as condições para a coordenação institucional e comando de operações que decorram no Algarve e representou um investimento de cerca de 1 milhão e 250 mil euros, cofinanciado pela União Europeia em 85 por cento.
e suporte direto às operações de socorro em todo o Algarve. A unidade tem capacidade para albergar perto de 120 operacionais, assegurando o alojamento, alimentação, espaços administrativos (gestão e comunicações), armazenamento de equipamentos, abastecimento (exterior) e parqueamento de veículos. O edifício integra ainda uma unidade operacional da Força Especial de Proteção Civil e instalações para um destacamento do corpo de bombeiros municipais. A obra teve um custo que rondou 1,6 milhões de euros, com 85 por cento de financiamento comunitário.
Em Quarteira, a BAL permitirá o apoio, armazenamento de equipamento, estadia
Os dois novos equipamentos inseremse numa candidatura ao POSEUR, no
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âmbito do Fundo de Coesão da União Europeia, e vêm reforçar a rede estratégica de infraestruturas da Proteção Civil no Algarve, melhorando significativamente as condições de trabalho de todos quantos têm a responsabilidade de assegurar a proteção e o socorro das populações, a defesa do seu património e a salvaguarda do ambiente, numa região que se assume como um destino turístico que compete com os melhores do mundo. “É uma
satisfação e uma enorme alegria proporcionar, a partir de hoje, ao concelho de Loulé e à Proteção Civil do Algarve duas infraestruturas de grande qualidade e valor estratégico para o dispositivo de proteção e segurança das pessoas, dos seus bens e dos seus valores
ambientais. A segurança das pessoas tem sido uma preocupação constante desta autarquia e estes equipamentos que hoje inauguramos foram executados porque eram indispensáveis e porque se articulam com a visão que esboçamos em 1998, ano em que iniciamos uma trajetória de investimentos para a instalação de meios e capacidades para Loulé, mas também para a região, face à consciência dos riscos e das fragilidades com que nos deparamos na altura”, justificou Vítor Aleixo. O presidente da Câmara Municipal de Loulé lembrou ainda o aumento do
O Presidente da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Tenente-General Carlos Mourato Nunes
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Vítor Aleixo, Presidente da Câmara Municipal de Loulé
número de ocorrências, da intensidade e dos danos resultantes de desastres relacionados com o clima, enfatizando que as mudanças climáticas criaram uma real e urgente necessidade de articulação entre as escalas global, nacional, regional e local para a redução das catástrofes.
“Cabe ao poder local e às entidades responsáveis planearem ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação voltadas para a proteção e defesa civil, acautelando a sua integração nas políticas de ordenamento de território, do desenvolvimento urbano, da saúde, do meioambiente, da gestão hídrica, da geologia, das infraestruturas, da educação e ciência e das demais 17
políticas sectoriais, visando o desenvolvimento sustentável”, defendeu o edil louletano, motivo pela qual Loulé tem encarado de forma prioritária a prevenção de riscos coletivos, atuando rapidamente para a atenuação dos seus efeitos e consequências. Segundo Vítor Aleixo, e após uma priorização criteriosa, foram executados diversos projetos em áreas estratégicas, assim como importantes investimentos destinados a reforçar a segurança e a proteção de pessoas e bens. Disso são exemplos a assinatura de protocolos com a Autoridade Marítima Nacional para a construção de um novo Posto da Polícia Marítima e de uma Estação Salva-Vidas em Quarteira, a inauguração do Sub-Destacamento ALGARVE INFORMATIVO #239
Territorial da GNR em Quarteira e do Posto Territorial da GNR em Almancil, a que se somam agora o CREPC e a BAL.
“Mas a autarquia tem igualmente trabalhado para informar e envolver diretamente a população local, através da criação de uma equipa municipal operacional para planear operações, prevenir, sensibilizar e alertar para os riscos de cheias, inundações e incêndios rurais. Foi também lançado os programas «Aldeia Segura» e «Pessoas Seguras» e a população tem-se mostrado extremamente recetiva e colaboradora em todas estas ações”, enalteceu o presidente da Câmara Municipal de Loulé, recordando que, em 2019, em período de férias escolares, 68 jovens do concelho se
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disponibilizaram para ajudar a proteger a floresta, percorrendo o interior e interagindo com as gentes locais. E, desde 2015, ao abrigo de um protocolo assinado com 16 clubes de caça do concelho de Loulé, os praticantes desta modalidade passaram a constituir parte da equipa de defesa da floresta contra incêndios. “Cabe aqui também
relevar e agradecer o papel das Forças Armadas, que nos tem prestado uma ajuda preciosa para uma ação mais sistémica e mais eficaz. Precisamos da experiência, do conhecimento e da colaboração de todos”, frisou o autarca. À população de Quarteira e Vilamoura, Vítor Aleixo deixou as
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Eduardo Cabrita, Ministro da Administração Interna
garantias de que os Bombeiros Municipais passaram a estar dotados de instalações condignas e de meios humanos e técnicos capazes de fazer frente a qualquer situação de emergência médica e incêndios. “Ficarão estacionados na
BAL uma autoescada, um veículo de combate a incêndios urbanos, um veículo de combate a incêndios rurais, um autotanque e uma ambulância de emergência”, indicou. “Loulé é, hoje, um concelho e um território que atravessa uma boa fase do seu desenvolvimento económico, social e ambiental. Que é capaz de atrair investimento privado em montante significativo, estrangeiro e nacional, em áreas tao diversas como as tecnologias digitais, o imobiliário, o turismo de saúde e wellness e as indústrias 19
criativas nos campos das produções cinematográficas e de televisão. Esta atratividade cresceu nos últimos anos, na medida em que passamos a ser notados como um município que soube fazer, no tempo certo, as suas apostas estratégicas e os seus investimentos públicos municipais na ação climática, na segurança e proteção dos cidadãos, na cultura e valorização do património, e na inovação e investigação científica nas ciências biomédicas”, destacou o presidente da Câmara Municipal de Loulé. “Cá estamos e estaremos
para procurar fazer mais e melhor. Trabalharemos arduamente para aprofundar a ALGARVE INFORMATIVO #239
promoção de uma cultura de prevenção e segurança, através de um maior conhecimento dos riscos e vulnerabilidades do nosso território”, concluiu, antes de entregar as «Chaves do Humanismo» ao PrimeiroMinistro António Costa, a segunda personalidade a receber esta distinção, depois do Nobel da Paz Ramos Horta, assim como um exemplar das Atas de Vereação da Câmara Municipal de Loulé, as mais antigas de Portugal.
“PRIMEIRO PASSO PARA A SEGURANÇA É TER CONSCIÊNCIA DOS RISCOS EXISTENTES” Depois de ter estado em Almancil, no dia 14 de fevereiro, para a abertura do novo posto da GNR daquela freguesia,
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Eduardo Cabrita, Ministro da Administração Interna, regressou ao concelho de Loulé, agora para a inauguração do CREPC e BAL, e elogiou a forma como no Algarve se tem identificado a necessidade de uma visão global integrada em termos de segurança. “Conhecemos muitos
locais na Bacia do Mediterrâneo com boas condições naturais e infraestruturas, património cultural, uma meteorologia igualmente agradável, mas em que o fator segurança condiciona a sua escolha como destino de férias. É a segurança interna que faz a diferença, antes de mais, na qualidade de vida de todos os portugueses, é um elemento essencial de coesão social e
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O Primeiro-Ministro António Costa
territorial, de competitividade, de atração de turistas e investimento, de fator de identidade”, garantiu o governante. Fundamental para a segurança de Portugal é também a Proteção Civil, porque “qualquer incêndio rural,
risco sísmico, ciclone ou epidemia são graves para o país e terão a solidariedade e intervenção atenta do governo”. “Sabemos que uma ocorrência deste tipo no Algarve chega mais longe e mais depressa, pelo boca-a-boca de todos os que visitam a região e pela sua projeção mediática. Por isso, este investimento de cerca de 2,6 milhões de euros no Comando Regional de Emergência e Proteção 21
Civil e na Base de Apoio Logístico da Proteção Civil foi considerado um projeto de interesse nacional, com 85 por cento de financiamento comunitário e os restantes 15 por cento assumidos pela Câmara Municipal de Loulé”, apontou Eduardo Cabrita, confirmando a vontade de se criarem cinco estruturas regionais deste tipo que permitam uma resposta mais eficaz às ocorrências. “É um modelo que
possibilita uma coerência territorial que antigamente não existia e traz um conhecimento fundamental em tempos de mudança. Em 2018 e 2019 tivemos cerca de 70 por cento de redução de área ardida relativamente à década anterior, mas isto só ALGARVE INFORMATIVO #239
reforça o nosso empenho e determinação em mobilizar todo o sistema para ir ainda mais além”. Já António Costa enalteceu a articulação tripartida entre a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, o Município de Loulé e a União Europeia, que permitiu viabilizar dois investimentos da maior importância para a região e para o país.
“É um excelente exemplo para aqueles que temem a Descentralização e para aqueles que desconfiam da União Europeia. Sabemos bem que é fundamental a segurança como fator de desenvolvimento coletivo, e o primeiro passo para a segurança é ALGARVE INFORMATIVO #239
termos consciência dos riscos que existem em cada território. Um risco natural e histórico do Algarve é o sísmico, mas as alterações climáticas têm vindo a criar novos riscos e a agravar riscos pré-existentes, como a erosão costeira, a seca e os incêndios”, alertou o PrimeiroMinistro, recordando que a Proteção Civil não existe apenas para combater os incêndios florestais, mas sim, essencialmente, para desenvolver uma cultura de segurança, assente na prevenção, proteção de pessoas e bens e de reação perante situações de catástrofes. “É nos dias de chuva
que prevenimos os incêndios de 22
Verão e nunca podemos esquecer que é uma responsabilidade de todos nós acautelar esse risco. Claro que essa missão é também do Estado e finalmente obtivemos o visto do Tribunal de Contas para um conjunto de empreitadas para construir e executar um Plano Nacional de Faixas de Interrupção. Mas é um trabalho que recai também sobre os proprietários de cada parcela”, indicou António Costa. O Primeiro-Ministro defendeu igualmente que os melhores resultados de 2018 e 2019 nesta matéria não são sinónimo de que os riscos desapareceram, portanto, há que continuar a trabalhar na limpeza, a tempo e horas, das matas e florestas.
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“Contudo, sabemos que, por melhor que seja a prevenção, o risco não desaparece e, quando a tragédia surge, é necessário responder. Daí ser fundamental o esforço de qualificação da nossa estrutura de combate a qualquer calamidade na área da proteção civil”, salientou. “Precisamos ter melhores meios e recursos, mas também uma boa capacidade de planeamento, de comando e controlo, de logística para sustentar estas operações. Com os equipamentos hoje inaugurados estamos a dotar a Proteção Civil com uma capacidade de planeamento, comando e controlo de operações
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de que até agora não dispunha e essa mais-valia fará a diferença no dia em que for preciso responder a qualquer tragédia”, garantiu António Costa. “Estamos a preparar-nos para o momento de ação. O país, os Municípios e a União Europeia estão a investir para dotar o sistema de melhor capacidade de previsão e de resposta, caso tal seja necessária, porque temos que ganhar essas batalhas, em nome da proteção da vida e da segurança individual de cada ser vivo, em nome da proteção dos bens da região e de cada pessoa e família, em nome da proteção dos bens naturais desta região. Porque a economia nacional cresceu, em 2019, acima de todas as previsões, ALGARVE INFORMATIVO #239
graças à capacidade de investimento dos empresários e de trabalho dos portugueses, mas também graças às condições institucionais que criamos para gerar confiança internacional e atrair investimento. O turismo tem uma capacidade extraordinária de mobilização de toda a cadeia económica nacional, da agricultura à indústria, da construção ao comércio e serviços. Por isso, quando estamos a investir em segurança no Algarve, também estamos a investir no desenvolvimento económico e social da região e do país”, concluiu o Primeiro-Ministro António Costa .
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SEGUNDA EDIÇÃO DO FICLO APOSTA NO GRANDE CINEMA ITALIANO E TEM VÁRIAS ESTREIAS NACIONAIS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e FICLO
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á se conhece a programação da segunda edição do FICLO – Festival Internacional de Cinema e Literatura de Olhão, que terá lugar, de 28 de março a 5 de abril, em diferentes espaços da cidade cubista e que apresentará cerca de 40 obras de ficção, animação e documentário, com foco na obra do realizador catalão Albert Serra, no ciclo gótico tropical e nos grandes clássicos do cinema italiano. O evento promove seis estreias nacionais e várias atividades paralelas dedicadas à escrita, debate e aprofundamento das conexões entre o cinema e a literatura, como são disso exemplo os passeios performáticos por Olhão ou a leitura encenada por Rogério de Carvalho do argumento escrito em residência pelo realizador Tiago Hespanha. A apresentação do programa aconteceu, no dia 4 de março, no Auditório Municipal de Olhão e percebese que foi dado pela organização – Cineclube de Tavira e Município de Olhão, ALGARVE INFORMATIVO #239
com o apoio do «365 Algarve» – um destaque especial à competição internacional, que integra, este ano, nove obras de produção recente que exploram as formas diversas de relato fílmico, todas elas vertebradas pela viagem como temática da literatura universal ao longo dos séculos. Candela Varas, do Cineclube de Tavira, realçou ainda os filmes que abrem e encerram a edição de 2020 do FICLO, «Adoration» e «Valley of Souls», respetivamente, “com uma
estrutura de conto e viagem dantesco, envolvidos, porém, por uma atmosfera poética muito poderosa”. Concordando com Pérez Reverte que defende que a viagem é sobretudo um exercício sentimental, nota especial da organização para «There Was a little Ship», de Marion Hänsel, «Out Stealing Horses», de Hans Petter Moland, e ainda o périplo pela consciência dividida e anulada em «The Good Girls», de Alejandra Márques Abella. 30
Graça Lobo, João Fernandes e António Camacho, Débora Pino Mateus e Candela Varas
Mas há espaço ainda para revisitar «Campo», de Tiago Hespanha, uma história que tem a natureza humana como ponto de partida. Anunciado foi também o foco nos filmes italianos, que
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desde o pós-guerra levam a narrativa contemporânea ao cinema, com uma proposta visual cinematográfica específica. O ciclo integra, pois, grandes clássicos de Rossellini,
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Visconti, Antonioni e Pasolini, propondo uma lista de filmes que se valem da estrutura narrativa e da temática da viagem para a exploração da identidade, outro dos grandes assuntos da literatura contemporânea. No programa nota-se igualmente um foco especial no Gótico Tropical, assim como a retrospetiva de Albert Serra e o seminário que o realizador orientará, em Olhão, entre 4 e 6 de março. Ao longo da semana de festival, o FICLO vai ainda propor outros espaços de debate com os realizadores presentes e uma mesa redonda em torno do tema «Cinema, literatura e alteridade – os Monstros como metáfora do Outro». Na ocasião, João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, lembrou que o «365 Algarve» investiu, nos últimos quatro anos, cerca de seis milhões de euros em programação cultural no Algarve, a partir dos elementos identitários do território.
“Conhecemos bem vários exemplos ALGARVE INFORMATIVO #239
de filmes que acabaram por destacar a oportunidade de visitar um determinado espaço e realidade, portanto, ele não deve ser negligenciado. E o cinema sai ainda mais enriquecido quando o seu argumento tem por base a literatura. Esta segunda edição do FICLO vem, portanto, consolidar esta aposta no cinema e literatura, mas as várias vertentes do festival não se encerram naquilo que o público tem possibilidade de ver durante o certame”, frisou João Fernandes, recordando a open call feita a filmes que não estão em distribuição em Portugal, mas também a residência criativa de um realizador que está a fazer um argumento sobre Olhão. “Há
uma série de iniciativas que juntam toda a massa crítica destas 32
Graça Lobo, João Fernandes e António Camacho
duas grandes artes e dessas conversas e simbioses sairão, certamente, frutos que perdurarão por muito tempo. E é um festival que não se centra apenas em locais convencionais como os auditórios e salas de cinema”, declarou. O interesse do FICLO para a Direção Regional de Cultura do Algarve é evidente, garantiu Graça Lobo, acreditando que o enfoque na literatura gótica poderá ir ao encontro dos gostos das camadas mais jovens. “Saudamos a
ideia de existir um serviço educativo no âmbito do festival, assim como uma carrinha com livros que vai percorrer o concelho de Olhão. Há também masterclasses e workshops que podem ser usufruídas pela 33
população local e visitantes, pelo que não há, em Portugal, nenhum festival com estas características”, frisou a professora, antes de passar a palavra a António Camacho, vereador da Câmara Municipal de Olhão, que desde logo evidenciou a aposta desta autarquia em diversificar as ofertas culturais do concelho. “O FICLO não é um mero
festival de cinema, como existem de norte a sul de Portugal, promovendo um casamento perfeito entre duas artes que são essenciais na vida humana e que combinam sempre muito bem. Estão todos os ingredientes reunidos para que seja uma aposta ganha”, anteviu o responsável autárquico .
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«CENTRAL ARTES» OFERECE UMA PROGRAMAÇÃO CULTURAL DIVERSIFICADA E EM REDE EM CINCO MUNICÍPIOS ALGARVIOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Central Artes
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oi formalmente apresentada, no dia 2 de março, no Auditório do Solar da Música Nova, em Loulé, o «Central Artes», uma rede de programação cultural que envolve os municípios de Loulé, Faro, Albufeira, Olhão e Tavira e que levará a cabo, nos próximos dois anos, 11 espetáculos nacionais e internacionais, um programa de base comunitária e 40 workshops. “Os eventos terão lugar
em vários pontos dos cinco ALGARVE INFORMATIVO #239
concelhos, em diversos contextos e com diferentes formatos”, explicou Dália Paulo, Diretora Municipal da Câmara de Loulé e coordenadora deste projeto que resultou de uma candidatura ao CRESC Algarve 2020, num investimento de perto de 400 mil euros. A responsabilidade da programação cabe às empresas «Eventors’ Lab» e «Spira», entidades conhecidas por organizar, por exemplo, o LUZA – Festival Internacional de Luzes e a 38
identidade através das artes. Trabalhar em rede hoje não faz sentido se ela não estiver agarrada ao território, às gentes, se não pensarmos o que é que queremos transformar com esta programação cultural”, reforçou a coordenadora do programa.
Bienal Ibérica do Património Cultural. Mas só ao terceiro concurso público internacional lançado é que surgiu uma proposta capaz de abraçar o ambicioso desafio de garantir a direção artística e conteúdos da programação, revelou ainda Dália Paulo, durante a sessão de apresentação do «Central Artes». “Esta é
a segunda geração dos projetos Algarve Central, que começaram em 2016, com cinco municípios que pensam este Algarve Central em rede e que pensam a nossa 39
A abrangência das manifestações artísticas englobadas pelo programa é precisamente uma das notas dominantes, com a Dança, Música, Teatro, Novo Circo, Literatura, Performance ou Manualidades a marcarem presença neste «Central Artes». E, depois do sucesso dos projetos comunitários «Paris, Praia do Havai» e «Vale», em 2011/12, com o projeto «Movimenta-te», que tiveram uma forte participação das populações locais, pretende-se que esta volte a ser uma
“programação arrojada, que vai deixar sementes e que toque as pessoas”. “Vamos fazer um pouco daquilo que já tínhamos começado na primeira geração da Algarve Central. Queremos voltar a chamar as pessoas ao palco, para que elas possam sentir outra vez o que é um processo de criação”, indicou Dália Paulo, entendendo ainda que esta programação “fará, certamente, ALGARVE INFORMATIVO #239
Dália Paulo
toda a diferença” no que concerne à candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura 2027. O mote desta programação é «Cultura da Sustentabilidade», que estará patente em todos os espetáculos e workshops propostos, adiantou, por sua vez, Ana Fernandes, da Eventors’Lab. “Iremos
trabalhar a sustentabilidade de vários prismas, do ponto de vista alimentar, da cultura local, da arquitetura local. Tentámos conjugar a sustentabilidade nestas diferentes dimensões envolvendo a Música, a Dança, as Artes Circenses. Quisemos criar uma linha condutora para esses espetáculos e, por isso, ALGARVE INFORMATIVO #239
fomos à procura de companhias que trabalhassem essas artes”, referiu Ana Fernandes. Já o anfitrião da cerimónia, o presidente da Câmara Municipal de Loulé, salientou as virtudes do trabalho em rede. “Juntos
valemos muito mais do que isolados, algo que tem vindo a ser demonstrado, não apenas na cultura, mas também noutras áreas e projetos. O Algarve atingiu um nível de maturidade e desenvolvimento que precisa cada vez mais de se capacitar, no sentido de se projetar no país, como um conjunto de municípios que sabem e cultivam uma atitude colaborativa, e esta programação 40
Ana Fernandes
é mais um exemplo disso”, confirmou Vítor Aleixo, falando ainda da importância desta rede dentro da génese e do clima que se vai criando para que a candidatura de Faro possa ser bem-sucedida. Presente na sessão, a Diretora Regional de Cultura, Adriana Freire Nogueira, sublinhou que as temáticas inerentes a este projeto são de extrema importância para a região, nomeadamente a conservação, proteção, promoção e desenvolvimento do património cultural e natural, a promoção turística e a realização de eventos culturais. “Apesar
de tudo isto ser transversal, sentimos a individualidade de cada município”, apontou, salientando igualmente a integração da área da 41
literatura na arte. Por sua vez, Carlos Cruz, da CCDR Algarve, recordou os cerca de 800 projetos apoiados pelo CRESC Algarve 2020, sendo que a área da cultura e das indústrias criativas é uma das mais importantes para este programa. “É fundamental que os
resultados e a sustentabilidade existam para que o nosso crédito perante a União Europeia seja uma alavanca para outras iniciativas e investimentos na área cultural no futuro”, avisou. Quanto a Ana Pífaro, vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira, também confirmou a importância de se trabalhar em rede para se alcançar
“uma região mais forte e mais capaz de divulgar o que tem de ALGARVE INFORMATIVO #239
Adriana Freire Nogueira, Carlos Cruz, Vítor Aleixo e Ana Pífaro
bom para oferecer, não só aos seus residentes, mas também àqueles que nos visitam, porque a cultura desempenha um papel essencial na luta contra a sazonalidade”.
visita a cada um dos municípios participantes onde o público será convidado a trabalhar os vegetais locais”, desvendou Ana Fernandes, da
O programa do «Central Artes – Programação Cultural em Rede» arranca já no dia 14 de março, no Mercado da Ribeira, em Tavira, com um espetáculo diferenciador e surpreendente com os austríacos «The Vegetable Orchestra», que se apresentam com instrumentos musicais produzidos com vegetais frescos, criando um universo musical esteticamente único. No final haverá uma sopa comunitária distribuída ao público, confecionada com os vegetais utilizados no espetáculo. “Este momento
Deste modo, a construção de instrumentos com vegetais originará também um workshop em cada um dos municípios envolvidos: dia 12 de março, em Albufeira e Loulé, dia 13 de março, em Olhão e Faro, e dia 14 de março, em Tavira. Em maio começam os cinco espetáculos nacionais, no território de cada um dos parceiros, antecedidos também de workshops. “Serão as
inaugural será antecedido por uma ALGARVE INFORMATIVO #239
«Eventor’s Lab».
próprias companhias e os artistas a trabalhar com a comunidade”, declarou Ana Fernandes. O primeiro acontece no Cineteatro Louletano, a 12 42
de maio, com «A presença das formigas», um trio que aborda a música tradicional e popular portuguesa com influências do jazz, música erudita e músicas do mundo. Será antecedido por um workshop de canto tradicional português. As atenções voltam-se depois para Faro, no dia 16 de maio, com a Companhia Instável a proporcionar «Percursos pela Arquitetura». Com o intuito de encontrar uma forma de diálogo com espaços urbanos em que a arquitetura, as histórias e os destinos por eles oferecidos sejam o ponto de partida para a criação, os «Percursos pela Arquitetura» consistem na construção de pequenas peças coreográficas através da exploração de diversos locais e contextos não formais para a Dança, com o público a ter a possibilidade de descobrir e estabelecer 43
novas relações com o espaço habitado. Antecede este momento um workshop de «Dança Contemporânea em espaços urbanos». Celina da Piedade sobe ao placo do Auditório Municipal de Albufeira, a 23 de maio, para um concerto em que o acordeão é o protagonista. Numa viagem pelas memórias da música de raiz portuguesa e um sentir mais moderno e universalista, a artista desenha uma música cheia de alma e de personalidade que, no palco, ganha com a sua formidável presença. Antes do concerto decorrerá um workshop de cante alentejano. A performance/instalação «Passagem», pela companhia PIA Projetos de Intervenção Artística, vai ALGARVE INFORMATIVO #239
passar pelo Jardim da Igreja de S. Francisco, em Tavira, a 30 de maio, mas antes haverá um workshop das atividades circenses, aberto ao público em geral. Trata-se de uma performance que conta a história de quatro velhos viajantes que caminham por entre um universo de objetos suspensos, onde através das memórias do passado, que lhes embrulharam a vida, encontram o início de uma nova jornada, contemplada por uma instalação sob forma de interferências poéticas, que exploram no lugar comum o que de nele melhor existe, a sua multiplicidade de sensações e sentidos, tornando-a única pelo meio que a envolve, emergindo-a do esquecimento e da rotina, transformando-a num efémero lugar de contemplação.
Olivetreedance, a 31 de maio, na Praceta de Agadir, em Olhão, com um dia inteiro dedicado à percussão e a workshops para o público – bateria, percussão corporal, didgeridoo e percussão geral – que terminam com um concerto da banda de «Trance Orgânico» que, em 2020, celebra 15 anos de carreira. Na segunda fase do projeto, ainda durante o presente ano, haverá um workshop «Pinto-me dançando», da Mundo Património, projeto da Spira, que irá também percorrer os cinco municípios, com workshops para o público infantojuvenil e para os adultos: Faro (26 de outubro), Loulé (27 d outubro), Tavira (28 de outubro), Albufeira (29 de outubro) e Olhão (30 de outubro).
A primeira fase da «Central Artes» termina com o concerto dos
Em 2021, a programação será feita entre janeiro e maio. Ao longo do
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primeiro trimestre haverá um trabalho a ser desenvolvido com a comunidade que culminará com um espetáculo em cada um dos municípios e, no final, acontecerá uma reunião entre todos os participantes para levantamento das conclusões e da abordagem que cada um dos municípios e grupos teve com o trabalho da produção artística. «Agentes Internos», de Ana Borralho & João Galante, é o nome desta produção que estará a cargo da casaBranca. Em maio de 2021, decorrerão cinco semanas com cinco espetáculos internacionais, todos em áreas diferentes, de companhias diferentes do Brasil, França, Alemanha, Itália e Espanha, nas áreas da Dança, Teatro de Rua, Música, cumprindo aquilo que era a «obrigatoriedade» do programa concursal. Também nessa altura a programação será acompanhada com 45
workshops com a comunidade. A agenda será a seguinte: Faro (30 de abril 2021), Olhão (8 de maio 2021), Albufeira (15 de maio 2021), Tavira (22 de maio 2021) e Loulé (29 de maio 2021). Para além dos locais habituais de espetáculos como auditórios e teatros municipais, esta programação estará em espaços públicos, e em cada um dos territórios irão trabalhar o mais próximo possível da comunidade. Relativamente aos workshops que acontecem em 2021, uma parte será dedicada à literatura, e a «Central Artes» estará nas bibliotecas municipais de cada um dos concelhos, pelo menos com dois workshops em cada ano. De referir ainda que todas as iniciativas são de entrada livre . ALGARVE INFORMATIVO #239
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«ALFORGE E O CICLO DA LÃ NA CASA DO SAL EM CASTR Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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û EM EXPOSIÇÃO RO MARIM
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naugurou, no dia 29 de fevereiro, a nova exposição da Casa do Sal - «Alforge e o Ciclo da Lã», que traz mais de 100 alforges numa narrativa de cores, usos, costumes e tradições que permite um melhor entendimento e acolhimento do território e do legado patrimonial, nomeadamente do interior, e que também revela a história económica e social do Algarve, formas de estar e viver. A mostra resulta de um trabalho de pesquisa e recolha desenvolvido pelo Município de Castro Marim, em colaboração com a Associação Cultural Amendoeiras em Flor, e será dinamizada com o contributo da Estação das Artes, Universidade do Tempo Livre de Castro Marim e a «Tecelã», com uma agenda de workshops nos quais se reproduzirá a ALGARVE INFORMATIVO #239
confeção do alforge, mas que pretende também reinventar esta peça, dandolhe inclusive novas utilizações, como, por exemplo, a de arrumação de brinquedos. A exposição estará patente até ao dia 12 de abril e pode ser visitada todos os dias, entre as 10h e as 13h e das 14h às 18h. A inscrição nos workshops é gratuita, no entanto, o número de vagas é limitado, pelo que deverá inscrever-se previamente através no Gabinete de Apoio ao Munícipe ou através do n.º 281 510 778. No dia 14 de março será alusivo ao Ciclo da Lã, a 21 de março debruça-se sobre a Confeção de Alforges e, no dia 11 de abril, abordase o Lavrar do Alforge. Acontecem sempre entre as 10h e as 12h . 50
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VINHOS DO ALGARVE TÊM NOVA IDENTIDADE E ESTÁ A CAMINHO UM ESPUMANTE ALGARVIO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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Comissão Vitivinícola do Algarve apresentou, no dia 2 de março, no Museu Municipal de Portimão, a sua nova estratégia e identidade para os Vinhos do Algarve, num evento dirigido à comunicação social e ao Canal Horeca. Participaram perto de 20 produtores algarvios, que deram a provar os seus excelentes vinhos, pois a iniciativa teve também como objetivo promover uma maior presença dos néctares regionais nas cartas dos restaurantes e hotéis do Algarve. Conforme revelou Sara Silva, presidente da CVA, serão desenvolvidas ao longo do ano outras ações para estimular a comercialização dos Vinhos do Algarve no ALGARVE INFORMATIVO #239
Canal Horeca, nomeadamente o Dia Aberto das Quintas, previsto para 23 de março, e que contará com 18 produtores, mas também formações direcionadas para este público-alvo, em parceria com a Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve. “Há registos
arqueológicos que comprovam a presença dos Vinhos do Algarve desde as várias civilizações que passaram por este território, dos fenícios e cartaginenses aos romanos. Existiram também momentos marcantes como a época dos Descobrimentos, com os vinhos algarvios a abastecerem as caravelas que partiram de Sagres e Lagos. No século XX, as adegas cooperativas tiveram uma grande projeção, contudo, a 62
Sara Silva, presidente da CVA - Comissão Vitivinícola do Algarve
pressão imobiliária decorrente do fenómeno turístico foi-lhes retirando destaque e levou à queda da produção”, recordou Sara Silva. Virado o milénio, a chegada de novos produtores particulares veio dar um novo fôlego aos Vinhos do Algarve, nomeadamente a vinhos de qualidade certificados. Quanto à CVA, existe desde 63
1994, com o objetivo de controlar e certificar os produtos com Denominação de Origem e Indicação Geográfica «Algarve». “Atualmente,
90 ou mais por cento do vinho produzido e certificado pela CVA é «Vinho Regional Algarve» e estamos a desenvolver vários trabalhos para a revitalização das Denominações de Origem, para ALGARVE INFORMATIVO #239
termos uma região sólida e com produtos diversificados e de cariz mais regional. E o nosso próximo projeto passa pela extensão da nossa acreditação para o vinho espumante”, declarou a dirigente, indicando ainda que estão em atividade, no momento, 45 produtores no Algarve, cerca de 40 por cento deles de origem estrangeira, o que depois se reflete igualmente no produto final. “Há quem
aposte sobretudo nas castas mais autóctones como a negra mole, e nas castas nacionais, como o crato branco, arinto, trincadeira, touriga nacional ou castelão, e outros optam por castas internacionais como o chardonnay, syrah, cabernet ALGARVE INFORMATIVO #239
sauvignon, aragonês e alicante bouschet”. De acordo com dados fornecidos pela CVA, a última produção vitivinícola do Algarve foi de 1 milhão e 300 mil garrafas, média que se tem verificado no passado recente, porque “um
crescimento gradual garante a qualidade do produto”. “Só assim é que nos podemos destacar dentro do território nacional, que é tão abastado de vinhos de outras regiões”, justifica Sara Silva, aproveitando para elogiar a revitalização da negra mole, a casta autóctone do Algarve, por parte de diversos produtores. “Nem sempre é 64
fácil de trabalhar, mas produz vinhos que harmonizam muito bem com a nossa gastronomia e clima. E 65
são vários os prémios obtidos pelos Vinhos do Algarve nos últimos anos, normalmente até ALGARVE INFORMATIVO #239
mais distinções internacionais do que nacionais”.
gastronomia e arquitetura do Algarve, e tudo isso entra no novo logotipo”, descreve a presidente da
No que toca à nova imagem, concebida pela empresa «Nuts», Sara Silva esclareceu que ela será utilizada pela CVA em eventos de promoção dos Vinhos do Algarve no seu todo, e não propriamente pelos produtores individuais. “Todos
Comissão Vitivinícola do Algarve.
eles têm a própria sua imagem comercial. Nós pretendíamos ter uma imagem coletiva para que as pessoas mais facilmente identificassem os Vinhos do Algarve e, para isso, a equipa de design fez um levantamento daquilo que era a região. Dessa pesquisa confirmouse a grande diversidade existente, tanto ao nível de produtores de vinho, como do próprio terroir, ALGARVE INFORMATIVO #239
A par do Dia Aberto das Quintas, a 23 de março, em que os produtores vão abrir as suas explorações ao público, está na forja a 13.ª edição do Concurso dos Vinhos do Algarve, a acontecer em maio, e a realização de umas jornadas sobre o setor, em junho. “A
campanha deste ano está muito boa, os produtores cada vez se interessam mais em ter produtos diversificados e prova disso é que temos vários preparados para a certificação de espumante algarvio”, concluiu Sara Silva .
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ENCONTROS DO DEVIR REGRESSAM A 13 DE MARÇO SOB O TEMA «RESGATE» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Encontros do DeVIR
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sexta edição dos Encontros do DeVIR, que se realiza entre 13 de março e 30 de maio, apresenta 28 criações e 12 reflexões, entre espetáculos, exposições, colóquios e performances em vários espaços dos concelhos de Faro, Loulé e Lagos. Este ano, a programação do festival é concebida em torno do tema «resgate», uma vez que recupera obras e criadores que são marcos da história da dança contemporânea nacional e internacional, presta homenagem à coreógrafa alemã Pina Bausch e propõe igualmente uma reflexão sobre diferentes caminhos para resgate do Planeta. “Este festival
temático tem o propósito de pensar ALGARVE INFORMATIVO #239
o nosso território, aliando o social ao cultural, o ecológico, o científico e político ao artístico, recorrendo ao trabalho de investigadores e cientistas e a encomendas de criação a escritores, a artistas das artes visuais e a criadores das artes do espetáculo”, explica José Laginha, diretor artístico dos Encontros do DeVIR. A abrir o festival, no dia 13 de março, no CAPa – Centro de Artes Performativas em Faro, vão ser apresentadas duas versões de «Sagração da Primavera», célebre tema do compositor Igor Stravinsky: uma pelo conceituado 72
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coreógrafo francês Xavier Le Roy, cuja estreia decorreu na Bienal de Veneza em 2018; e outra pelo criador espanhol Roger Bernat, em que os espectadores são os protagonistas do espetáculo. No dia 2 de maio, no Teatro Municipal de Faro, é apresentado SACRE, uma versão atípica do coreógrafo israelita Emanuel Gat, que prova que é possível dançar salsa com a música de Stravinsky. Este espetáculo é constituído por SACRE e mais três duetos: Milena & Michael, Sara & ALGARVE INFORMATIVO #239
Thomas e Geneviève & Karolina, três reflexões sobre o ato de dançar. O ciclo «Pina Bausch» é uma homenagem a uma das maiores coreógrafas e bailarinas do século XX. Dele faz parte «Nelken Line», um workshop dirigido à comunidade onde todos, com ou sem experiência, podem experimentar dançar Pina Bausch, realizando-se em espaços públicos de Faro, Loulé e Quarteira e 74
aproveitando as paisagens urbanas, transformando-as em cenários de criação. O resultado final será apresentado no dia 14 de março, no Cineteatro Louletano, em Loulé, e no dia 21 de março, no CAPa, em Faro. Seguidamente, Raphaëlle Delaunay, exbailarina do Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, apresenta «Debout!», uma obra com claras referências ao trabalho com Bausch enquanto sua intérprete, que levanta questões como: qual o papel do bailarino/intérprete no trabalho desenvolvido com os coreógrafos? Raphaëlle Delaunay vai também estar à conversa com o público português sobre como é trabalhar com Pina Bausch e depois vão ser exibidos os filmes «Sagração da Primavera» e «Pina», realizado por Wim Wenders, para melhor conhecer o trabalho da coreógrafa alemã desaparecida em 2009. 75
No dia 27 de março, no Teatro das Figuras, em Faro, Vera Mantero regressa ao festival para apresentar «Talvez ela pudesse dançar primeiro e pensar depois», um espetáculo de 1991 que marcou decisivamente o percurso da coreógrafa portuguesa e que foi apresentado pelo DeVIR em 1994. Logo de seguida, o libanês Bassam Abou Diab apresenta «Under the Flesh», obra que narra as vivências de um povo em guerra desde 1993 e que questiona os movimentos migratórios políticos que têm como destino a Europa. Também esta obra já tinha sido apresentada nos Encontros do DeVIR. Doze anos depois da sua primeira apresentação em Portugal pela DeVIR, é apresentado «Beautiful Me», um solo do coreógrafo e bailarino sulALGARVE INFORMATIVO #239
africano Gregory Maqoma, que partilha palco com quatro músicos que prometem contagiar o público com a sua música africana. Este espetáculo conta ainda com a leitura de um texto inédito de João Tordo sobre o resgate em resposta a uma encomenda destes encontros, com ilustração de Mantraste em tempo real. «Beautiful Me» é um espetáculo para ver nos dias 3 de abril, em Loulé, e no dia 4 de abril, em Lagos. Do Brasil chega «Entre contenções», um solo de Eduardo Fukushima, um dos mais premiados coreógrafos da dança contemporânea brasileira. Depois, Francisco Camacho apresenta «O Rei no exílio — remake», a reposição de um solo marcante da dança contemporânea portuguesa, que se centra na figura de D. ALGARVE INFORMATIVO #239
Manuel II, o último Rei de Portugal, e que faz o retrato dum país por vezes irónico, por vezes controverso, mas onde a solidão é permanente. No dia 9 de maio, no Cineteatro Louletano, é apresentado «ANIMALE», uma obra que estreou na Biennale Danza Venezia 2018 e com a qual Francesca Foscarini recebeu o prémio de coreógrafa emergente. É o resgate da natureza e do humano no que tem de sublime e de animalesco, é a dança no absoluto. No mesmo dia, a coreógrafa suíça Tabea Martin apresenta «Dueto para dois bailarinos», uma criação sobre a liberdade de escolha, onde dois homens procuram encontrar-se nas muitas perguntas que assaltam os intérpretes de dança contemporânea. 76
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No dia 21 de março vai ser apresentado, em Faro, «Retrospective» de Jérôme Bel, um dos mais desconcertantes e surpreendentes criadores do nosso tempo. Este espetáculo, que estreou no Festival de Outono 2019, em Paris, é um manifesto contra as alterações climáticas e conta ainda com a leitura de um texto inédito de Jacinto Lucas Pires sobre o tema do festival e com a ilustração em tempo real de Marc Parchow. Ainda neste contexto, vai realizar-se, no dia 23 de maio, um colóquio e um atelier para refletir sobre a era do Antropoceno e mostrar caminhos de transformação para o resgate do Planeta, particularmente no território português, envolvendo o público, investigadores, cientistas e fotógrafos . ALGARVE INFORMATIVO #239
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CINETEATRO LOULETANO VIBROU COM AS MÚSICAS ETERNAS DE ANTÓNIO VARIAÇÕES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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asa a romper pelas costuras, no dia 1 de março, no Cineteatro Louletano, em Loulé, para se assistir ao espetáculo musical criado no âmbito de «Variações», o filme de tributo a António Variações, do realizador João Maia, que chegou às salas de cinema a 22 de agosto do ano transato e que teve, como seria de esperar, um sucesso estrondoso. Um êxito que agora se estende à banda do filme «Variações», que junta Sérgio Praia (ator que interpreta o papel de António Variações no filme) aos músicos Duarte Cabaça, David Silva, Vasco Duarte e Armando Teixeira, o produtor musical responsável pela banda sonora do filme. O projeto marca a estreia do ator Sérgio ALGARVE INFORMATIVO #239
Praia como cantor, mas também o regresso do músico, compositor e produtor Armando Teixeira, que, por via das famosas cassetes de António Variações, deu corpo às músicas que ele gravara na garagem, com músicos amadores, no final dos anos 70. E a reação do público de várias gerações que esgotou o Cineteatro Louletano no primeiro dia de março foi estrondosa. «Toma o comprimido», «Teia», «Perdi a memória», «Canção do Engate», «Maria Albertina», «O Corpo é que paga», «É p’rá amanhâ…» ou «Quero dar nas vistas», um tema inédito encontrado no espólio de António Variações, são algumas das canções que compõem a banda sonora do filme e que foram interpretadas, ao vivo, de forma magistral, num espetáculo que se mostrou único e repleto de emoções . 84
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GABRIEL DE ROSE, O VERDADEIRO VENCEDOR!!! Texto: Júlio Ferreira| Fotografia: Vera Lisa
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rivilegiados aqueles que puderam assistir, na noite de quarta-feira de cinzas, no TEMPO – Teatro Municipal de Portimão, ao primeiro concerto de Gabriel De Rose, brilhantemente acompanhado por Ricardo Talhadas. Sim, leram bem! Foi o primeiro espetáculo ao vivo após a sua brilhante prestação no concurso televisivo «The Voice Portugal», e logo no 3.º Aniversário do Choque Frontal ao Vivo. Todos ficámos a conhecer, não apenas o génio, a virtuosidade e a criatividade do músico, cantor e compositor, como
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obviamente nos tivemos que render à sua cultura e ao seu apuradíssimo sentido de humor. Nervoso e genuinamente agradecido, é notório que este sul africano (mais algarvio de que há memória), entrega o coração em tudo o que faz. É a sua verdade, sem artifícios, que o pode tornar num caso único no mundo da música portuguesa e esse será o seu maior trunfo, numa carreira que se prevê de muito sucesso. No jantar, Gabriel ficou espantado por conhecer pessoas que vieram de Paderne e Faro para o ver e ouvir. Já nos bastidores, perto de uma sala repleta, havia uma evidente excitação
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no ar, entrou, sentou-se e atirou-se imediatamente aos hits que interpretou naquele programa televisivo, em que para nós Gabriel De Rose foi o grande vencedor. Com várias influências musicais, passou por Londres e Boston, para estudar música e canto e reforçar a sua humildade. Ficou demonstrado que a sua já vasta experiência, apesar dos seus 28 anos, culmina num controlo vocal inigualável associado a um timbre único, muito característico e raro em Portugal, constantemente elogiado. A sua essência esteve naquele palco e na forma emotiva como transmitiu a mensagem de cada uma das músicas que interpretou, que 99
arrepiou e emocionou quem o ouviu ao vivo, ali, a poucos metros de distância, pela primeira vez ao vivo e não na caixa que mudou o Mundo. «Preso» como muitos, a quem quer dominar tudo e todos, neste Mundo da música supercompetitivo. É caso para perguntar. Para onde vai a carreira de Gabriel De Rose? Neste momento é bem difícil dizê-lo. Nem o próprio terá uma resposta fácil e certeira. Estamos em crer que a Liberdade que terá em breve, seja bem aproveitada e que faça só o que melhor sabe, cantar e encantar naquela humildade muito característica de quem ainda não teve a consciência do que lhe aconteceu. ALGARVE INFORMATIVO #239
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A verdade é que merece ir longe e ter toda a sorte do Mundo, porque estamos perante alguém que começou a fazer música em casa, influenciado pelo pai, como quis, misturando todas as referências (e são muitas) que lhe apeteceu misturar, cantando o que lhe apeteceu cantar, com meios relativamente rudimentares (beneficiário, como mil e um outros, da facilidade de transformar um telemóvel em gravador e um computador em estúdio). Já não é propriamente um miúdo, não começou agora, e ao contrário do que alguns possam pensar, não vem de um meio cheio de amizades «na imprensa» ou na elite artística e intelectual. Alguém autodidata é agradecido à família e amigos, com quem aprendeu tudo. A escassos minutos das quase horas de concerto, sai do palco com a mesma 101
tranquilidade com que entrou, para os braços do seu público, debaixo das maiores ovações de que há memória no Choque Frontal ao Vivo. Tudo funcionou, e foi muito bonito. Estou certo de que foi especial também para as restantes 125 almas que tiveram o privilégio de lá estar e de saborear momentos especiais que nem tão cedo se irão repetir. Vocês que estiveram lá, sabem do que vos falo… Aos que sempre nos apoiaram (e aos outros também) nestes três anos desta magnífica aventura, aqui fica o nosso reconhecimento, o nosso muito obrigado, pelo vosso carinho e apoio! E fica a promessa que… “Enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar…” Jorge Palma . ALGARVE INFORMATIVO #239
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PERIGO PÚBLICO E SICKONCE LEVARAM «PORCELANA» AO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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o dia 29 de fevereiro, o Cineteatro Louletano recebeu um magnífico espetáculo de hiphop com Perigo Público & Sickonce e seus convidados, com o objetivo de dar a conhecer ao grande público «Porcelana», o mais recente trabalho discográfico desta dupla algarvia. ALGARVE INFORMATIVO #239
Editado pela label independente algarvia «Kimahera», o álbum foi lançado em novembro do ano transato, mas não é um disco convencional, nem do ponto de vista musical, nem ao nível do próprio suporte físico. Depois dos dois singles anteriormente divulgados e do lançamento do álbum nas plataformas digitais, o disco foi agora apresentado pela primeira vez ao vivo, em Loulé, num palco que a dupla artística conhece bem e numa noite que contou com vários convidados 108
acompanhadas de um código que conduz ao site onde consta toda a informação relativa ao projeto musical, com informação dos artistas, o álbum propriamente dito nos diversos formatos-áudio, vídeos, instrumentais, letras cantadas a capella e outros conteúdos. Um projeto que nasce do facto dos seus criadores acreditarem que cada ser humano deve ser tratado como a mais delicada peça de porcelana. “Cada indivíduo é, no
seu íntimo, uma sensível peça de porcelana, capaz de resistir ao tempo, de preservar o som, mas, no entanto, não deixa de ser frágil, bela e delicada, tal como cada um de nós”, explica a dupla de músicos. Pretende-se com este disco, composto por 16 faixas, proporcionar uma viagem entre as mais diversas sonoridades urbanas, tendo sempre o hip-hop como pano de fundo. «Porcelana» é, por isso, mais do que um projeto unicamente musical, “é o especiais, casos de Tributo, Sacik Fragas, Iniciado, APC, Sam Alone, João Frade, Patty & Bonny e Biex(m.d.a). E foi também nesta noite que «Porcelana» deu mais um passo em direção ao conceito total, com uma edição especial, limitada, de peças únicas (azulejos) criadas pela artista plástica Inês Barracha, cuja união formará um mural de azulejos de porcelana. Cada azulejo comporta-se, não só como uma peça de arte, mas também representa o CD. E as peças vêm 109
culminar de uma visão reformadora assente na ideia central de que todos os indivíduos que se encontrem, de alguma forma, em situação de fragilidade social podem e têm o direito de se erguer e viver com dignidade”, sintetizam Perigo Público & Sickonce. E ao longo da noite foram, de facto, muitas as mensagens deixadas por Perigo Público à assistência, numa interação permanente que enriqueceu ainda mais o concerto . ALGARVE INFORMATIVO #239
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OPINIÃO Do Reboliço #75 Ana Isabel Soares (Professora) li está a romãzeira, em frente à casa. Todo o ano deita as folhas, toda a vida oferece sombra: ofereceua à mulher do moleiro, enquanto a via lavar os panais, esfregar fraldas de moços, lençóis de dormir, ceroulas e outras peças, oferecea hoje a quem se senta à mesa redonda (que o moleiro compôs, montando sobre uma estrutura de madeira a carga de um círculo de betão apertado num aro de ferro). Na estação certa, bota flores, uns botões de coroazinha, e, já entrado o Inverno, o fruto real. Ali está, resistente, a romãzeira. Tem o tronco cada dia mais torcido, mais deitado para o lado da rua, para as pedras de escora de mármore que a rodeiam, para o descanso horizontal. Parece, nesse aproximar-se à terra, pedir licença para, lentamente, se deitar. O Reboliço observa-a: não dá pelo pendor encarquilhado a cada dia, mas vai reparando, passados os meses, no encurtar da distância entre a lisura do mármore e a rugosidade daquela sorridente casca velha. Há algum tempo, alguém encaixou entre o chão e a dobra mais saliente do tronco uma estaca de madeira idosa como ele, talvez menos, porque já desenraizada. Um cajado para ALGARVE INFORMATIVO #239
a arvorezinha, um bordão para a avó romã – e ali persiste. São bichos engraçados, as árvores, pensa o canito, deitado debaixo dela e deitando para cima o olhar curioso: aqui ao lado do braço envelhecido do tronco, espetando-me as costelas e não me deixando encostar o lombo totalmente, sobem uns burricos, ramos da árvore que são como seus trinetos que a rodeassem, vivazes, alegres, mas tão finos... Romperam à sua volta, um, mais outro, outro e mais um, e dali sobem. O costume seria, como se faz às oliveiras para que se não lhe disperse a fortidão, esburricar a árvore: limpá-la da irreverência destes rebentos, do indómito querer subir. O viço das árvores velhas é mais certo se um tronco só subir, se um braço único se sustentar da terra e suportar copa, ramos, folhas, fruto. Se só o tronco mestre subsistir. Em se deixando medrar aqueles insubordinados galhos que sobem do chão e sugam do tronco grande a força da sua seiva, é sabido que vai a árvore antiga decair, de sedenta, de ceder aos novos a vida. Por entre a miudeza de folhas da romãzeira antiga, os vestígios dos frutos que este Inverno houve, vai brincando o sol de março, alfinetando bocadinhos do 122
Foto: Vasco Célio
pelo do bicho e fazendo piscar os olhos ao Reboliço. Assim de olhar meio cego, o cão sorri para a árvore e percebe que a velha romãzeira vive na operação do legado: dobrando o tronco para alcançar a terra, encerrando as veias do canal maior e fazendo-as divergir para a finura 123
dos finórios raminhos eretos (um só há de ficar, há de vingar). Dali engrossará a nova árvore, reforçada para ser ela a acolher frutos, folhinhas, as flores . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #239
OPINIÃO O desafio de ser Guia no Algarve Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve) Guia Intérprete é o profissional que acompanha turistas em viagens e visitas a locais de interesse turístico, tais como, museus, palácios e monumentos nacionais, prestando informação de carácter geral, histórico e cultural, cuja atividade abrange todo o território nacional. Não é guia turístico (livro sobre lugares turísticos), nem guia de turismo (ainda que esta designação possa ser utilizada). Com a entrada na «Era da Liberalização» (2010 em diante) foram eliminados os cursos de formação obrigatória, os certificados de aptidão profissional e as carteiras profissionais, com o objetivo declarado de facilitar o acesso às profissões. Ao que se veio juntar a aprovação de um novo decretolei em 2015 que previa o novo regime de acesso e exercício de profissões, e atividades profissionais, que, todavia, até hoje não foi revisto para a introdução de requisitos para o exercício da profissão. Falamos com frequência do Turismo como de uma “indústria de pessoas, ALGARVE INFORMATIVO #239
para pessoas”, mas ao longo dos tempos o turista assumiu a sua própria viagem de uma forma extremamente individualista, criando novos desafios à profissão de Guia-Intérprete. Alturas houve em que não havia excursões que não fossem acompanhadas por guias intérpretes. O SNATTI - Sindicato Nacional da Atividade Turística, Tradutores e Intérpretes e a AGIC - Associação Portuguesa dos Guias Intérpretes e Correios de Turismo, tiveram nesse período um papel preponderante na credibilização e defesa da profissão. Hoje, a sensibilidade e a volatilidade do Turismo obrigam a que se olhe para os números mais recentes como preocupantes. Estamos também na proximidade da Bacia do Mediterrâneo, em que sabemos que a sazonalidade é uma dificuldade. A qualidade da formação dos profissionais do turismo é essencial. Fala-se hoje de uma mediação virtual e de base tecnológica, todavia o turismo é uma «constelação de serviços», de pessoas para pessoas, pelo que as experiências de turismo que têm uma base na interação humana continuarão 124
constante, sobre várias áreas. Possui inclusive um código de ética bastante rigoroso e têm de ter preocupações diversas com o público a que se dirigem, ultrapassando qualquer divergência de orientação política, religiosa ou social.
sempre. O guia-intérprete é um mediador de paisagens culturais e é, por isso, um elo determinante entre o destino e os visitantes.
A AGIGARVE, constituída no dia 21 de fevereiro, tem cerca de 70 associados e é uma oportunidade de afirmação da profissionalização do Turismo. Reconhece-se que o guia intérprete exerce uma profissão de enorme riqueza e com grandes vantagens – não há monotonia no local de trabalho, nos grupos de turistas ou até nos patrões. O aumento da mediação virtual e automática dificultaram o trabalho humano nos dias de hoje, mas não há comparação com uma experiência com base na interação humana.
A viagem para o turista é sempre algo especial, um momento em que procura criar memórias agradáveis. O guiaintérprete assume, desta forma, um papel liderante na construção do olhar do turista, pelo que será fundamental valorizar e reconhecer a importância da qualificação dos profissionais da informação turística. Esta importância deve ter o reconhecimento refletido na legislação em vigor e na oferta formativa em Turismo.
O grande desafio que possui a recente Associação é criar novas formas de comunicar com os vários interlocutores e decisores da cadeira de valor do turismo e demonstrar a mais valia de ter uma visita guiada pela voz de um guia intérprete.
O papel do Guia Intérprete é muito mais complexo do que se pode percecionar à primeira vista*. É uma profissão de estudo e atualização
*Estas palavras foram parte da Palestra proferida no dia internacional do Guia Intérprete em que foi feita a apresentação púbica da Associação de Guias Intérpretes do Algarve – AGIGARVE, em 21 de -fevereiro de 2020.
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Como diria José Saramago, é preciso recomeçar a viagem sempre (1995, Viagem a Portugal). Parabéns às Guias Intérpretes do Algarve .
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OPINIÃO O Estado dos livros para amanhã Fernando Esteves Pinto (Escritor) “Os homens só podem compreender um livro profundo, depois de terem vivido pelo menos uma parte daquilo que ele contém”. Ezra Pound uito por culpa dos livros, a minha adolescência tornou-se um longo caminho. Toda a viagem foi uma aventura e um método que me permitiu andar pelo mundo. Viajar na cabeça dos meus autores permitiu-me também despertar para as coisas luminosas que já havia na minha. Eu sentia tudo estremecidamente, até as coisas vulgares do quotidiano, as conversas mais íntimas, os pequenos temas da vida, os comportamentos involuntários com consequências sufocantes que me restringiam ao silêncio. Mas eu sentia-me bem, continuamente, a puxar o fio do silêncio para desatar as primeiras palavras acumuladas na minha mente. Numa tal felicidade de leitura, a minha voz já tinha a narrativa dos primeiros escritos; não querendo parecer tão intenso, direi apenas que existia um resumo de poesia no meu espírito. Os livros são pura arquitectura; havia imensas peças a erguer-se nos meus pensamentos. Qual é a palavra-objecto para escrita? Eu ALGARVE INFORMATIVO #239
abria a cabeça para as coisas entrarem em sua casa. Os livros nunca esgotam as histórias que têm para contar. Da poesia ao romance, um apontamento de ensaio, compreendi, finalmente, que o leitor deve preservar a cena de leitura ainda que a sua interpretação da obra se torne extensiva a outros sentidos não contemplados pelo autor. Ler é como viver em dois níveis; é em parte uma questão de mecanismo de ideias e palavras que nos puxa para dentro do livro. Será isto o texto: uma força capaz de mover de tão longe um outro mundo ainda mais profundo. Há livros que fazem parte de uma biblioteca de vidas paradas no tempo. São livros em sofrimento, sem triunfo, que não testemunharam possivelmente a dura convicção que os seus autores pretenderam, e por isso só lhes resta o estranho sono do silêncio; a indiferente ausência e o vazio. Inquilinos amargurados jogados de lugar em lugar; errantes; perpetuamente expostos ao pó dos ventos que não viram nenhuma página. Na realidade, o leitor é a outra metade do escritor. Mas quem pode evitar o 126
desencontro, a falha? E assim começa a horrível impressão do destino: de objecto, o livro passa a um nada-humano. A ironia da ignorância não deixa de ser racional, mas o livro é esvaziado na sua autenticidade por falta de leitura. E ainda: os erros dos leitores deixam as suas marcas nos livros; alguns são um estorvo duradouro, sobretudo iluminados por
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exames de extrema indelicadeza sentimental. Removidas as peças da ponte que liga um livro a todos os livros, num infinito esforço de compreensão, e ao mesmo tempo o gigantesco salto do leitor por cima dos livros que nunca lerá, o vazio inculto torna-se perigosamente influente e excitante. E o prazer da leitura irrompe numa hemorragia livresca .
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OPINIÃO O amor pela literatura tingiu-me os filmes Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) ão sei se já vos contei, mas fica aqui registado. Lembro-me de ter cerca de 16,17 anos e estar no meu quarto na Fuseta. Andava há vários dias a ler «Por Quem os Sinos Dobram», em inglês «For Whom the Bell Tolls», de Ernest Hemingway. Esta obra considerada dos melhores romances do século XX, retrata a história de um jovem americano que combate em Espanha durante a guerra civil espanhola que decorreu entre 1936 e 1939. Sinceramente, não me recordo exatamente do desfecho da história, mas posso dizer-vos que não deve ter sido muito bom, pois caiam-me as lágrimas quentes e grossas, enquanto a angústia se adensava como um nevoeiro. Talvez estivesse triste, talvez estivesse com síndrome pré-menstrual, talvez me tenha agarrado demasiado às personagens ou às suas circunstâncias ingratas. Mas foi uma experiência tão horrífica que nunca mais me atrevi a pegar neste livro. Lembro-me de o lençol ficar molhado com as minhas lágrimas, tal era o pranto. ALGARVE INFORMATIVO #239
Isto tudo para dizer que a leitura tem sido pessoalmente um fator determinante no que faço. Gabriel Garcia Marquez é provavelmente o meu escritor favorito. As suas histórias e personagens são tão caricatas que me fascinam. Desde o famoso «100 Anos de Solidão», «Amor em Tempos de Cólera» até à «Crónica de uma Morte Anunciada», há qualquer coisa de coscuvihice, misturada com crenças supersticiosas e muita «realidade mágica». Talvez por ter vivido numa vila onde há versões destas personagens na vida real me sinta constantemente a gravitar para os mundos de Marquez. Em retrospetiva, o filme «Ao Telefone com Deus» filmado na Fuseta, bebe um pouco dessa fonte: algures num mundo fantástico, um humilde camponês, decide trocar a sua égua, Pestana, pela mão de Adélia. Contudo, o mundo de Bartolomeu é virado do avesso quando Pestana desaparece e este se cruza com um misterioso homem que alega poder falar com Deus... ao telefone. De forma distinta, as coletâneas de Arthur Conan Doyle e de Agatha Christie, com os seus Sherlock Holmes e Hercule 128
Poirot respetivamente, estamparam-me de forma inconsciente. Eram o CSI antes de haver o CSI. Os mistérios, a capacidade dedutiva e inteligência destes detetives embrenhavam-me pelas noites adentro enquanto segurava os livros bafientos. E assim, de uma memória apaixonada escrevi «Se Poirot Estivesse Aqui», onde temos Ermelinda, uma personagem lunática obcecada com teorias de conspiração. Ou seja, apesar de já ter lido estes livros há 20 anos, os diferentes autores verteram a sua magia de uma forma ou de outra nos filmes que criei. Nunca pensei que livros que li há tanto tempo fossem uma inspiração desfragmentada para estes dois filmes. O curioso é só me aperceber disso depois das curtasmetragens estarem terminadas. Num mundo onde parece que ler se está a tornar algo obsoleto e onde a ideia de se ficar em silêncio durante um 129
longo período de tempo com um livro causa ansiedade, dou por mim a retornar ao hábito de ler mais. É uma forma tão bonita de se nutrir o intelecto. Experimentem, pois também faz bem à alma . ALGARVE INFORMATIVO #239
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PORTIMÃO CRIA REDE MUNICIPAL DE DESFIBRILHADORES AUTOMÁTICOS EXTERNOS PARA QUE TODOS OS CIDADÃOS POSSAM SALVAR VIDAS Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oi apresentada e inaugurada, no dia 28 de fevereiro, a Rede Municipal de Desfibrilhadores Automáticos Externos de Portimão, uma atividade integrada nas comemorações do Dia Internacional da Proteção Civil, que se assinala a 1 de março. Na sessão, que teve lugar na Câmara Municipal de Portimão, foi divulgada a localização das seis cabines instaladas na via pública, quais os ALGARVE INFORMATIVO #239
equipamentos municipais que também estarão apetrechados com os desfibrilhadores, quem está habilitado a manobrar estes dispositivos e de que forma os munícipes interessados poderão adquirir competências na matéria. Foram igualmente entregues três desfibriladores automáticos às forças de segurança com atividade no concelho, designadamente a Polícia de Segurança Pública, a Guarda Nacional Republicana e a Polícia Marítima. 132
Na ocasião, o Coordenador Municipal da Proteção Civil, Richard Marques, recordou que Portimão assinou um compromisso com as Nações Unidas no sentido de tornar Portimão um concelho mais resiliente, sendo este um dos projetos criados para esse fim. “São levadas a
cabo, diariamente, mais de 400 ações de proteção civil em Portimão e este sistema pretende fomentar também a sensibilização e autoproteção dos nossos cidadãos. O Programa Municipal de Desfibrilhadores Automáticos Externos (DAE) começou a implementar-se em Portimão em 2016, atualmente conta com uma autonomia total e todos os dias 133
marca a diferença no terreno. Mas, em 2020, queremos ter mais operacionais de DAE e consolidar o projeto com as forças de segurança”, frisou Richard Marques, realçando a importância de se reduzirem os tempos de chegada do pronto-socorro às vítimas, neste caso, de paragens cardiorrespiratória. Para que esta máquina «oleada» são realizados treinos trimestrais com todos os operacionais DAE e os diversos edifícios municipais vão ter um DAE instalado durante o decorrer do presente ano, fruto da implementação das medidas de autoproteção no âmbito da segurança contra incêndios em edifícios, ainda que tal não seja legalmente exigido. Em paralelo, os ALGARVE INFORMATIVO #239
meios operacionais da Proteção Civil e Bombeiros de Portimão estão também apetrechados com DAE, “o que já
permitiu reverter três paragens cardiorrespiratórias fora de ambulâncias, ou seja, com DAE instalados em veículos de intervenção de combate a incêndios e em motociclos de emergência”, revelou Richard Marques. “E desde 2014 que todos os alunos saem das escolas de Portimão a saber fazer ALGARVE INFORMATIVO #239
suporte básico de vida, algo que só neste ano letivo se tornou obrigatório nos planos educativos do 9.º ano de escolaridade. Fazemos também uma ou duas ações mensais de mass training para públicos específicos da população, com o apoio do Corpo de Bombeiros e da Cruz Vermelha Portuguesa, que tem sido um parceiro fundamental”, destacou. 134
Nas paragens cardiorrespiratórias, o tempo é fundamental e em 57 por cento dos casos presenciados não são realizadas quaisquer manobras de reanimação. Existe também apenas um DAE por cada 10 mil habitantes em Portugal, sendo que, em Portimão, esse rácio é de 6 por cada 10 mil habitantes. O orçamento municipal nesta matéria já ultrapassou os 50 mil euros e vai continuar a evoluir, porque queremos ter uma rede de DAE que efetivamente marque a diferença na cadeia da sobrevivência”, justificou Richard Marques. E salvar vidas é, sem dúvida, o que aqui está em causa, começou logo por reforçar Isilda Gomes. “Quando se
Richard Marques sublinhou ainda que os edifícios municipais e escolas do concelho de Portimão possuem pessoal com formação em primeiros-socorros, o que não impede a forte aposta da autarquia local na criação desta Rede Municipal de Desfibriladores Externos Automáticos. E as razões são simples, explica o Coordenador Municipal da Proteção Civil de Portimão. “Em Portugal ocorrem
mais de 10 mil casos anuais de morte súbita por causa cardíaca. 135
tem um problema destes, normalmente estamos a falar de uma «morte anunciada», e só com a atuação rápida de todos os meios é que conseguiremos revertê-la. Duvido muito que haja um município com a mesma capacidade de resposta que Portimão possui neste assunto e isso dá-me um imenso orgulho”, assegurou a presidente da Câmara Municipal de Portimão. “Quando
queremos, as coisas acontecem. É também extraordinária a forma como as forças de segurança aderiram a este projeto e se ALGARVE INFORMATIVO #239
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disponibilizaram para fazer parte desta rede de salvadores, de cidadãos que têm condições para salvar vidas”. Por isso, Isilda Gomes entende que os 50 mil euros aplicados neste projeto foram muito bem empregues, já que a vida humana não tem preço, não escondendo o orgulho que sente por Portimão ter capacidade para prestar cuidados aos seus cidadãos desta forma tão dedicada e empenhada. “Temos um Serviço
Municipal de Proteção Civil do mais alto nível e temos uma Associação Humanitária de Bombeiros constituída por elementos altamente profissionais, mesmo
aqueles que são voluntários, porque assumem por inteiro as suas obrigações, enquanto cidadãos que estão ao serviço dos outros”, elogiou a edil portimonense. “Esperemos que não, mas, se houver um problema num recinto desportivo ou cultural em Portimão, existirá imediatamente uma resposta adequada. Damos aqui mais um sinal da nossa preocupação com a saúde e o bem-estar dos nossos concidadãos, mas também dos turistas, que podem vir para Portimão com toda a tranquilidade”, garantiu Isilda Gomes.
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João Amaro, Sara Fernandes e João Fernandes
«ALGARVE CRAFT&FOOD» QUER VALORIZAR ARTESANATO E GASTRONOMIA DA REGIÃO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina artesanato local e os produtos alimentares típicos algarvios vão estar em evidência no «Algarve Craft&Food», apresentado, no dia 27 de fevereiro, pela Região de Turismo do Algarve, com o objetivo de valorizar e promover as tradições, a gastronomia, a cultura e o património natural como ativos para ALGARVE INFORMATIVO #239
potenciar a oferta de turismo cultural e criativo. Desenvolvido em parceria com a Tertúlia Algarvia, a QRER – Cooperativa para o Desenvolvimento dos Territórios de Baixa Densidade e a Associação Turismo do Algarve, o projeto pretende criar e promover experiências turísticas diferenciadoras, de cariz sustentável, sobretudo em locais tradicionalmente com menor afluência, como as zonas rurais e o interior algarvio. 140
O «Algarve Craft&Food» vem apoiar a preservação e a revitalização de práticas e costumes tradicionais, aumentando as fontes de rendimento de artesãos e dos produtores alimentares locais. Para tal, será desenvolvido um conjunto de atividades que, além de permitirem divulgar a oferta da região no segmento do turismo cultural e criativo, junto dos mercados nacionais e internacionais (EUA e Europa), vem em simultâneo capacitar artesãos e produtores agroalimentares locais para que, em conjunto com designers e Chefs de cozinha, apostem na inovação e no desenvolvimento de produtos e de programas com potencial turístico. “Já houve projetos que
versaram a enologia e a culinária, outros que casaram a lógica do turismo criativo com os nossos traços identitários, este incide sobre o artesanato e vem enriquecer a proposta do Algarve como um todo. Vão ser desenvolvidas várias ações de disseminação para tentar envolver um conjunto vasto de parceiros que possam contribuir para os resultados do projeto, nomeadamente artesãos, produtores agroalimentares locais, designers, Chefs de cozinha. No fundo, não queremos olhar apenas para as tradições como elas existem e dar-lhes vida, mas também darlhes uma nova vida, servirem de estímulo à criatividade”, explicou João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve e da Associação Turismo do Algarve. 141
Entre as ações a realizar estão residências criativas e workshops técnicos para artesãos, designers, produtores agroalimentares locais e Chefs de cozinha; laboratórios criativos de gastronomia tradicional algarvia; um seminário sobre internacionalização de artesanato e produtos alimentares locais; e o desenvolvimento de cinco novos produtos de artesanato e de dez novos programas de turismo cultural e criativo focados nestes produtos. As distintas iniciativas contemplam também ações de capacitação destes agentes e a internacionalização em mercados europeus como Espanha e mercados emergentes como os Estados Unidos da América e a criação do «Prémio Craft&Food». “É um
projeto estratégico cofinanciado pelo CRESC Algarve 2020 e, ao dinamizar as nossas tradições no artesanato e na gastronomia, vem enriquecer a visita, contribuindo para valorizar o interior do território algarvio e, ao mesmo tempo, diversificar a oferta, atenuando a sazonalidade e reforçando a conquista de novos mercados. Este projeto é também especialmente relevante porque vem colocar o Algarve na vanguarda das tendências no setor do turismo, nos conceitos de slow made e slow food”, sublinha João Fernandes. “Sabemos que o Algarve tem uma sazonalidade demarcada e um processo de litoralização da ALGARVE INFORMATIVO #239
procura e pretendemos, não perder a procura que temos, mas reforçá-la na época baixa, tornando mais sustentável a atividade económica e mais viáveis os empregos menos precários e as empresas capazes de melhor remunerar os nossos cidadãos. Para isso, há que desenvolver novas ofertas e promovê-las no exterior, como temos feito no turismo de natureza, no turismo cultural, no turismo náutico, nos congressos e incentivos, no golfe. E os resultados estão à vista”, frisa o homem forte do Turismo do Algarve. Um dos parceiros do projeto é a QRER, cuja presidente não tem dúvidas de que ALGARVE INFORMATIVO #239
“aliar a riqueza cultural da região a uma oferta turística de qualidade é algo valioso para o posicionamento do Algarve nos principais destinos turísticos internacionais”. “É também uma abordagem estratégica na valorização do nosso património imaterial que precisa de encontrar mecanismos que lhe garantam um futuro sustentável. Este projeto pretende contribuir para esta visão, aliando o artesanato tradicional e a gastronomia à inovação, ao design e à criatividade, contribuindo para a dinamização dos territórios do interior 142
algarvio. É nossa ambição que esta iniciativa possa também posicionar ainda mais o interior algarvio numa oferta global de turismo cultural e criativo, e que tal se reflita num crescimento da atividade económica da região”, afirmou Sara Fernandes. A dirigente recordou ainda que os mercados considerados emergentes já valorizam imenso o trabalho desenvolvido pelos artesãos algarvios, do mesmo modo que existe toda uma nova geração de portugueses interessada em envolver-se nas artes e ofícios. “Ao criar-
se esta estrutura, estamos a apoiar o nascimento de novos artesãos. Há matérias-primas que estão intimamente ligadas à gastronomia, como a olaria, a cortiça, o cobre, a cana, a empreita, o vime, que vão encontrar aqui um potencial de experimentação na região, mas também em todos os turistas que vão poder usufruir destas oportunidades de «saber fazer», através de experiências marcantes e memoráveis”, adianta Sara Fernandes. Já João Amaro, diretor executivo da Tertúlia Algarvia, declarou que este projeto é “provavelmente o primeiro
passo da região para a criação de uma relação virtuosa entre o setor das Artes e Ofícios (artesanato) e o setor agroalimentar, associando-os à promoção turística através do desenvolvimento de programas de turismo cultural e criativo”. 143
João Amaro falou da reconhecida diversidade, qualidade e autenticidade dos produtos de artesanato e agroalimentares algarvios e da crescente procura turística de experiências genuínas e autênticas, do turismo criativo – considerado pela UNESCO como a nova geração do turismo – e das várias iniciativas e entidades que já estão no terreno no Algarve, casos do CREATOUR, Loulé Criativo, Design & Ofícios, TASA, Proactivetour, Barroca, Odiana, In Loco, Algarve Eating Tours, Algarve Cooking Vacations, Rota da Laranja e Rota da Cortiça, entre outras. “Nota-
se um significativo envolvimento dos agentes locais e o reconhecimento de que a criatividade é um importante recurso para a geração de valor da oferta turística. Não partimos do zero, há coisas a acontecer no território, o que queremos é capitalizar ainda mais este tipo de iniciativas. O objetivo do «Algarve Craft&Food» é estimular o desenvolvimento e internacionalização das indústrias culturais e criativas baseadas no artesanato e produtos agroalimentares locais do Algarve”, reforçou João Amaro, acrescentando que o projeto tem um horizonte temporal de 24 meses e conta com um investimento total de 724 mil e 234,80 euros, com financiamento de 70 por cento do CRESC Algarve 2020. ALGARVE INFORMATIVO #239
Para que esta missão tenha um final feliz há, primeiro que tudo, atrair artesãos e produtores agroalimentares locais e outros parceiros importantes, de modo que serão realizadas várias ações de apresentação do projeto, no sotavento e barlavento, e visitas a produtores e artesãos. “Participar no projeto
significa ter vontade de, para além das suas atividades normais, estabelecerem parcerias e terem condições logísticas para permitir que aquilo que fazem possa ser uma experiência turística, que façam parte de programas de turismo criativo. E o nosso pressuposto inicial em quase tudo aquilo que fazemos na Tertúlia Algarvia é de que sabemos pouco sobre o assunto, motivo pelo qual estão previstas várias ações de capacitação, um seminário sobre internacionalização, workshops técnicos, para saber o que se deve e não deve fazer”, referiu João Amaro. O passo seguinte será, obviamente, criar, desenvolver e experimentar os novos produtos de artesanato e programas de turismo criativo, com um mapeamento de temas e recursos, residências criativas com artesãos, designers e Chefs de cozinha, preparar protótipos de novas peças de artesanato para alimentação tradicional algarvia e dinamizar laboratórios criativos de gastronomia tradicional algarvia.
“Depois, há que produzir conteúdos para que tudo possa ser promovido ALGARVE INFORMATIVO #239
e o derradeiro objetivo do «Algarve Craft&Food» é a internacionalização dos produtos criados, com participação em feiras internacionais de turismo, organização de fam e press trips, campanha de comunicação internacional, entre outras ações”, revelou João Amaro, acrescentando que a ideia é envolver o maior número de entidades, pois não se trata de um projeto fechado à Região de Turismo do Algarve, QRER e 144
Tertúlia Algarvia. “Queremos é que
aconteçam mais coisas no Algarve e estamos recetivos a todas as ideias, propostas e contributos. No final deste projeto precisamos ter 10 bons ou muito bons programas de turismo criativo e o importante é que eles depois tenham sustentabilidade”, enfatizou o diretor executivo da Tertúlia Algarvia, com João Fernandes a reforçar precisamente essa perspetiva de médio e longo prazo. “Não 145
queremos que esses programas terminem quando o «Algarve Craft&Food» chegar ao fim. Já vimos muitos projetos nascerem, crescerem e morrerem assim que termina o financiamento. A nossa vontade é que estas apostas se perpetuem no tempo e tenham uma capacidade de melhoria contínua”, assegurou o presidente da Região de Turismo do Algarve e da Associação Turismo do Algarve . ALGARVE INFORMATIVO #239
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #239
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