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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 21 de março, 2020
NÉLSON CONCEIÇÃO RECONHECIDO INTERNACIONALMENTE ANA CRISTINA OLIVEIRA LIDERA MÚSICA XXI | CASA DO POVO DE SANTO ESTÊVÃO 1 ALGARVE INFORMATIVO #241 «CASADOS E CANSADOS» | VII FESTIVAL DE CAMINHADAS | VIA ALGARVIANA
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76 - «Casados e Cansados»
42 - Ana Cristina Oliveira é a nova presidente da Música XXI
30 - VII Festival de Caminhadas de Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana ALGARVE INFORMATIVO #241
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OPINIÃO 90 - Mirian Tavares 92 - Ana Isabel Soares 94 - Fernando Esteves Pinto 96 - Júlio Ferreira 98 - João Ministro 8 - II Desafios da Água
18 - Via Algarviana
52 - Nélson Conceição
64 - Casa do Povo de Santo Estêvão 5
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«DESAFIOS DA ÁGUA» REGRESSA EM NOVEMBRO, PORQUE O FUTURO DO PLANETA ESTÁ NAS MÃOS DE TODOS NÓS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e «Águas do Algarve»
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«Águas do Algarve» vai levar por adiante, nos dias 5 e 6 de novembro, o II Encontro dos Desafios da Água, evento integrado e abrangente acerca da temática da água, mais concretamente sobre o seu Ciclo Urbano e os grandes desafios que o sector irá enfrentar nos próximos anos. A primeira edição deste acontecimento bianual teve lugar a 1 e 2 de março de 2018, tendo registado um amplo acolhimento e impacto, não apenas nacional, como também internacional, o que motivou novo episódio, precisamente no ano em que a «Águas do Algarve» assinala duas décadas de atividade, e com o mesmo palco, ou
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seja, o Palácio dos Congressos, na Herdade dos Salgados, em Albufeira. Recorde-se que a «Águas do Algarve, S.A.» é a detentora das concessões em «alta» de abastecimento de água para consumo humano e tratamento de águas residuais para os 16 concelhos que compõem a região do Algarve. Os Sistemas Multimunicipais de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais do Algarve são dos investimentos mais importantes realizados nos últimos anos no Algarve, dos pontos de vista do desenvolvimento sustentável e da diversidade e complexidade técnica, bem como da dimensão e extensão do investimento na região. “A empresa
tem como missão garantir o
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abastecimento de água para consumo humano e o tratamento de águas residuais de acordo com os mais elevados padrões de qualidade e fiabilidade, num quadro de sustentabilidade económica, social e ambiental. E a primeira edição dos Encontros Desafios da Água pretendeu mostrar, não só o trabalho desenvolvido ao longo daqueles 18 anos, como também discutir e sensibilizar o sector e a população em geral para os problemas e desafios que se 11
apresentam na atualidade. Foram focadas as áreas da gestão de recursos hídricos, a relação da água com a energia, a investigação e inovação neste sector, a segurança da água, a tão importante temática da reutilização, a inquestionável problemática das adaptações às alterações climáticas, a água enquanto produto que deve ser um direito para todos e, finalmente, mas não menos importante, a Comunicação e ALGARVE INFORMATIVO #241
Educação Ambiental”, lembra Teresa Fernandes. O evento de 2018 foi dedicado à problemática da disponibilidade e gestão sustentável da água e do saneamento para todos, estabelecido, em 2015, como um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pelas Nações Unidas e que engloba temas como a eficiência do uso da água nos diferentes sectores, a implementação da gestão integrada dos recursos hídricos e o reforço da participação das comunidades locais, na melhoria da gestão da água e do saneamento. E os «Desafios da Água» foram, de facto, um projeto internacional inovador, desenvolvido totalmente pela «prata da casa», isto é, pela própria estrutura e equipas técnicas da «Águas do Algarve», o que obrigou a um grande compromisso e motivação por parte de ALGARVE INFORMATIVO #241
todos os colaboradores da empresa.
“Tirar o melhor partido possível do seu capital humano foi um dos desafios da «Águas do Algarve» ao longo da organização deste evento e tal só foi possível graças à delegação de tarefas e poderes e ao envolvimento dos funcionários na tomada de decisões. Entendemos que uma equipa de sucesso não depende apenas das pessoas, mas, sobretudo, da capacidade de aproveitamento e rentabilização do seu potencial, concedendolhes, mediante trabalho preparatório, as competências necessárias para tomada de decisões futuras”, reconhece Teresa 12
Fernandes, responsável pela Comunicação e Educação Ambiental da «Águas do Algarve». “Foi necessário
um esforço adicional de todos, no seu dia-a-dia de trabalho, de forma a somar às suas tarefas diárias a organização de um evento tão exigente. Esta não é uma tarefa fácil e exigiu um enorme esforço de comunicação, mas conseguiu-se manter uma equipa unida, motivada e proactiva”, reforça a entrevistada. O ambicioso projeto internacional juntou no mesmo espaço a educação ambiental dos públicos mais jovens e intervenções dos grandes especialistas nacionais e internacionais em temas ambientais de âmbito mundial, tais como as alterações climáticas e a escassez da água potável. Mas a iniciativa da «Águas do Algarve» dirigiu-se a toda a comunidade, especialistas, não especialistas e jovens em idade escolar, com preocupações ou interesse na área ambiental. Para tal, contou com atividades tão variadas como uma ampla área de exposição, oficinas técnicas, sessões técnicas, mesas redondas, entre outras. “A adesão foi muito elevada,
tendo superado todas as nossas expectativas. Contamos com a participação de 950 congressistas vindos de diferentes partes do país, mas também de Espanha, Brasil e Itália, apenas no programa técnico. O espaço de exposição esgotou a sua capacidade e contou com a presença de empresas nacionais e estrangeiras a operar no mesmo 13
sector de atividade da «Águas do Algarve», num total de 52 expositores. Os 32 oradores presentes no evento foram selecionados de forma altamente criteriosa, com o objetivo de fazer deste encontro um evento que se destacasse pela qualidade dos seus intervenientes e pelo interesse das atividades desenvolvidas, e não apenas pela quantidade de participantes”, sublinha Teresa Fernandes. Mais do que ser uma mera data no calendário ambiental, pretendia-se que este fosse o Evento do ano e, para muitos, foi isso mesmo que aconteceu. E o espaço dedicado aos mais jovens foi, sem dúvida, um dos maiores desafios da organização, tendo sido criadas de raiz 30 oficinas técnicas que exemplificavam a atividade da empresa em linguagem educativa e através de experiências in loco. No âmbito da visita a estas oficinas foi desenvolvido um passaporte pessoal para cada um dos participantes, com uma breve apresentação de cada espaço. No final de cada visita, o passaporte era carimbado e deveria chegar ao final do percurso totalmente preenchido. Quanto aos projetos educativos desenvolvidos nestas oficinas, contemplaram espaços como a simulação de uma casa de família interativa e respetivo uso da água em contexto doméstico, laboratórios de análises à água, balanças de hidratação do corpo humano, maquetes 4 D do ciclo urbano da água, filmes animados ALGARVE INFORMATIVO #241
interativos, entre outros. “Foi uma
grande diversidade de experiências que agradou aos cerca de dois mil alunos oriundos do Algarve e Alentejo que passaram por este espaço, mas igualmente aos muitos adultos que o visitaram durante estes dois dias. A par de tudo isto, foi ainda desenvolvido um Concurso Escolar dirigido a todas as escolas do Algarve, do 1.º Ciclo ao Ensino Secundário, para sensibilizar os jovens em idade escolar para a importância da preservação do património água”, destaca Teresa Fernandes.
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Paralelamente ao evento físico foi criada uma Plataforma WEB, que ainda se mantém online – www.desafiosdaagua.com – que permitia um acompanhamento atualizado da sua evolução e que, após a sua conclusão, possibilitava aceder às apresentações dos oradores presentes. Também a cultura foi uma presença constante durante os dois dias do evento, com espetáculos musicais e dinamizações teatrais, entre outros. “A
«Águas do Algarve» disponibilizou este projeto a toda sociedade, à comunidade escolar e aos profissionais do sector, de forma totalmente gratuita, reforçando a
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difusão e a democratização do conhecimento e a sensibilização de públicos para as problemáticas ambientais como parte importante do ADN na nossa empresa. Este foi o formato por nós escolhido para a promoção e partilha de conhecimentos, e consequente enriquecimento pessoal e profissional de todos os participantes. Estamos cientes de que este projeto contribuiu decisivamente para o debate e para a partilha de informação relativa aos grandes desafios do ciclo urbano da água que iremos 15
enfrentar nos próximos anos”, entende Teresa Fernandes. “O comportamento de cada um de nós nas nossas próprias casas pode ajudar o mundo, pelo que não devemos pensar que o futuro do planeta está nas mãos dos governantes e das grandes empresas. E, nesse sentido, mais pertinente se torna um evento desta natureza, para que saibamos, precisamente, quais os comportamentos mais corretos a adotar”, acrescenta a responsável pela Comunicação e Educação Ambiental da empresa. ALGARVE INFORMATIVO #241
Os números do primeiro Encontro Desafios da Água não mentem, as expetativas de inscrições foram largamente ultrapassadas, todos os oradores convidados depressa responderam positivamente e o espaço destinado aos expositores esgotou num instante. Motivos mais que suficientes para a comissão organizadora voltar a reunir-se, em 2020, para nova edição que se espera igualmente bem-sucedida.
“São imensas tarefas que estamos a acumular com as nossas funções habituais, uma vez que não contratámos ninguém para tratar da organização. Acreditámos desde o primeiro minuto de que aquilo que foi feito tinha muita qualidade e ALGARVE INFORMATIVO #241
de que as pessoas iriam gostar e sair diferentes de quando entraram, com maior sensibilidade para esta temática. Por isso, os «Desafios da Água» vão regressar mais frescos, com mais ofertas e novidades, nos dias 5 e 6 de novembro. Teremos sessões técnicas sobre Digitalização da Água, Gestão de Competências de Recursos Humanos, Energia e Inovação, Regulamentação da Qualidade da Água, Novas Origens da Água, Uso Eficiente da Água, Alterações Climáticas e muito mais”, adianta Teresa Fernandes .
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ALMARGEM DEU A CONHECER AS MARAVILHAS NATURAIS DA VIA ALGARVIANA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Associação Almargem apresentou, no dia 3 de março, Dia Internacional da Vida Selvagem, no Mercado Local de Castro Marim, os resultados do «Via Algarviana – Um Elogio à Natureza», numa sessão que contou com a presença dos diversos parceiros e participantes deste projeto desenvolvido entre setembro e novembro do ano transato. E, conforme declarou a Técnica de Marketing e Comunicação, Carina Santos,
“a iniciativa assentou numa estratégia regional de educação ambiental, valorizando a GR13 – Via Algarviana e a sua rede de ALGARVE INFORMATIVO #241
percursos complementares enquanto ferramenta pedagógica e de interpretação dos recursos naturais e culturais dos territórios de baixa densidade da região”. Na ocasião, Anabela Santos, coordenadora da Via Algarviana, enquadrou o projeto e explicou os vários objetivos de sensibilização ambiental e valorização, conhecimento e divulgação adequada dos territórios de baixa densidade, que motivaram a Almargem a apresentar uma candidatura, aprovada pelo Fundo Ambiental, que estava incluída no aviso «Educarte: Educar para o Território», no âmbito do programa de Estratégia Nacional de Educação Ambiental 2020. 20
“Pode-se pensar que uma grande rota pedestre serve apenas para caminhar, o que não corresponde à realidade. Tentamos mostrar as muitas valências da Via Algarviana e as suas potencialidades, num projeto que envolveu os Municípios de Alcoutim, Castro Marim, Monchique, Vila do Bispo e Aljezur, todos eles territórios de baixa densidade”, recordou Anabela Santos. “Foi uma grande maratona, a trabalhar de segunda a domingo durante quase dois meses, com um empenho imenso de todos os envolvidos, dos vários parceiros que alinharam na nossa «loucura» e que permitiram que ele fosse avante”, enalteceu a coordenadora, endereçando uma palavra especial às professoras que 21
participaram no «Via Algarviana – Um Elogio à Natureza». “Fiquei muito
feliz por termos realizado diversas ações junto da comunidade escolar”, reforçou. Um dos parceiros da Via Algarviana e deste projeto foi precisamente a Câmara Municipal de Castro Marim, com Filomena Sintra a realçar a importância e os contributos positivos que têm sido potenciados desde a génese da GR13. “Há 15 ou 20 anos,
era quase uma loucura pensar em percursos pedestres, em levar-se pessoas para caminhar no interior. Não havia GPS, andava-se pelo território com cartas militares a delimitar os trajetos. Mas é um produto em que o ALGARVE INFORMATIVO #241
Anabela Afonso, Filomena Sintra e Fátima Catarina
Algarve tem que claramente investir, porque traz outro tipo de visitantes, e com um respeito maior até pela verdadeira essência do «Algarve Interior». E se estes territórios não conseguirem preservar isso, com o decorrer dos anos perdem a sua autenticidade e passamos a ser iguais a todos os outros destinos. É um trabalho de formiguinha, mas importante para a sustentabilidade do território”, garantiu a vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Marim. ALGARVE INFORMATIVO #241
Filomena Sintra chamou ainda a atenção para as vantagens das autarquias trabalharem em rede para a concretização de projetos desta natureza, mesmo que, no início, não se tenha uma real noção dos seus benefícios futuros. “Mas há que dar
um voto de confiança às entidades promotoras, porque têm uma competência acumulada e resultados que comprovam o mérito das iniciativas que desenvolvem. Devemos ter consciência de que somos todos 22
feitos de emoções, portanto, temos que eternizar a passagem das pessoas pelo nosso território. Algo que não se faz com coisas plásticas, mas com autenticidade”, avisou. “Quando a Via Algarviana começou a ser «desenhada», só três ou quatro pessoas é que acreditavam que alguém ia fazer o Algarve Interior de um lado ao outro a pé ou de bicicleta. Hoje, organizam-se grupos enormes para percorrer esses troços. É óbvio que ainda persistem algumas debilidades, mas temos que continuar a resistir, mesmo que não existam mecanismos de apoio, de facilitação, ao desenvolvimento de atividades económicas no interior”, desabafou a autarca perante uma sala 23
repleta de técnicos camarários, docentes e dirigentes vindos de toda a região. “Temos que lutar mais
pelos nossos direitos enquanto cidadãos e algarvios e mostrar aquilo que somos capazes de fazer e a Via Algarvia é disso um bom exemplo”, sublinhou. Um sentimento partilhado por Fátima Catarina, vice-presidente da Região de Turismo do Algarve, que confirmou que o Turismo de Natureza e a Via Algarviana têm atraído cada vez mais visitantes à região durante o Outono, Inverno e Primavera, apresentando-se como complemento ao turismo de sol e praia e contribuindo para o colmatar da sazonalidade da região. “2019 foi um
ano cheio de desafios, com o Brexit, falência de companhias ALGARVE INFORMATIVO #241
aéreas e outros problemas, mas conseguimos superá-los com enorme sucesso, como demonstraram os principais indicadores da atividade turística. Precisamos de projetos de Turismo de Natureza, porque nos trazem visitantes na época baixa, e estes 300 quilómetros do eixo principal da Via Algarviana têm servido de estruturação para outros percursos. Estamos em plena revisão do Plano Estratégico de Marketing Turístico para o Algarve e o Turismo de Natureza vai continuar a ser uma das principais apostas”, garantiu Fátima Catarina. ALGARVE INFORMATIVO #241
UM GUIA PEDAGÓGICO DIGITAL E UM DOCUMENTÁRIO PARA O FUTURO Cumprindo um dos objetivos propostos pelo projeto, foram desenvolvidas 39 ações de capacitação destinadas a empresários e técnicos de administração regional e local. Estas ações temáticas, com saídas de campo nas áreas de turismo sustentável, geodiversidade, biodiversidade, botânica e património cultural, contaram com 203 participantes, envolvendo o tecido empresarial e decisores e técnicos de administração regional e local. E, durante a sessão do 24
dia 3 de março, no Mercado Local de Castro Marim, alguns dos dinamizadores e participantes nas ações falaram da sua experiência e confirmaram a relevância destas iniciativas para o enriquecimento e partilha de conhecimentos. Foi também realçada a atenção dada à sensibilização para os valores patrimoniais, ambientais e culturais da região e de como esta é essencial para as boas práticas do turismo da natureza e da correta difusão de informação por parte dos empresários do setor. No que toca ao público geral, foram promovidos 11 workshops temáticos, nos quais participaram 109 pessoas. Todas estas atividades foram gratuitas e levaram os participantes a caminhar por troços da Via Algarviana, guiados pelo olhar interpretativo dos parceiros do projeto, onde se incluíam, para além das 25
Câmaras Municipais de Alcoutim, Aljezur, Castro Marim, Monchique e Vila do Bispo, a Bird Land, o Centro Ciência Viva de Tavira, a Direção Regional de Cultura do Algarve, a GeoWalks & Talks, a Universidade de Évora e a Walkin’Sagres. Conforme referido inicialmente, também as escolas estiveram envolvidas, nomeadamente por via de ações de educação ambiental. Para tal, foram organizadas pequenas caminhadas na Via Algarviana que focaram principalmente os valores existentes ao longo de cada troço em termos de biodiversidade, geodiversidade e património cultural, com uma perspetiva de correta interpretação e valorização do território. Ao todo, participaram 246 alunos, professores e auxiliares de ALGARVE INFORMATIVO #241
quatro agrupamentos do 1.º Ciclo do ensino básico dos concelhos de Aljezur, Castro Marim, Monchique e Vila do Bispo. Uma das grandes novidades resultantes deste projeto é a disponibilização de um guia pedagógico de atividades, em ALGARVE INFORMATIVO #241
formato digital, para o público escolar do 1º Ciclo, com o desafio de levar os alunos a percorrer troços da Via Algarviana. O guia apresenta uma série de propostas completamente delineadas para explorar temáticas como fauna, flora e rochas e solo. 26
ainda apresentado o «Quiz da Via Algarviana», jogo didático com perguntas relacionadas com o património natural e cultural que pode ser encontrado na Via Algarviana. Este quiz pretende desafiar o público de todas as idades a testar os seus conhecimentos e pode ser acedido também online no mesmo sítio eletrónico. Foi também produzido um vídeo em formato documentário que funcionará como meio de divulgação destas iniciativas e da Via Algarviana através dos canais digitais e redes sociais da Via Algarviana e da Associação Almargem.
Todas as atividades estão preparadas com os devidos materiais de apoio e adaptadas às várias idades dos alunos do 1º Ciclo e o guia pode ser consultado e descarregado gratuitamente no website da Via Algarviana, em www.viaalgarviana.org. Na sessão foi 27
A manhã encerrou com a inauguração da exposição temática «Via Algarviana - Um Elogio à Natureza: Os Ofícios Tradicionais», composta por seis painéis que documentam as artes e ofícios dos territórios de baixa densidade abrangidos pelo projeto e que propõem uma viagem pela cultura e património singular do Algarve, desenvolvidos em parceria com o projeto TASA .
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Festival de Caminhadas voltou a animar Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana Texto: Daniel Pina| Fotografia: Município de Alcoutim e parceiros ALGARVE INFORMATIVO #241
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e 6 a 8 de março, os Municípios de Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana organizaram o VII Festival de Caminhadas, integrado no Algarve Walking Season, programa apoiado pelo Turismo de Portugal e pelo Turismo do Algarve, com ALGARVE INFORMATIVO #241
os percursos de ambos os lados do Rio Guadiana a atraírem largas dezenas de apaixonados pelo turismo de natureza e pela atividade física. O festival voltou a crescer em número de participantes, colaboradores e experiências únicas no território, desde a Serra do Caldeirão ao Rio Guadiana, sempre valorizando o património natural, cultural, histórico, gastronómico e etnográfico. 32
com Rita Sales, exclusiva para as escolas do concelho. “A caminhar
exploramos o mundo à nossa volta, encontramo-nos com o outro, e voltamos a nós, descobrindo-nos um pouco mais. O ato de caminhar ativa em nós a atenção, a sensibilidade e a imaginação, alimentos nutritivos para contarmos e escutarmos histórias. Nesta sessão de contos, caminhamos em grupo, partilhamos aventuras de viajantes, desvelamos mistérios do mundo natural, e descobrimos segredos dos tempos antigos”,
Foram três dias de atividades que, de uma forma sustentável, apaixonaram o visitante, permitindo-lhes descobrir as maravilhas da região com caminhadas associadas à boa comida, aos encantos da paisagem, às atividades agropastoris, às artes e tradições das suas gentes. E, logo na sexta-feira, aconteceu a «Quanto mais se caminha, mais o conto se imagina», 33
explicou Rita Sales, artista, facilitadora de processos de aprendizagem nãoformal e contadora de histórias que tem participado em encontros de contadores, festivais e feiras do livro por todo o país, em Espanha, Cabo Verde e Timor Leste. Também na sextafeira decorreu o «Entardeceres de Alcoutim desde Sanlúcar de Guadiana», uma caminhada desde Sanlúcar de Guadiana, com subida ao Castelo de San Marcos, donde se seguiu até à Ribeira Grande a Sul, regressando-se pela margem espanhola do Rio Guadiana, com vistas da vila de Alcoutim. No final, houve lugar à degustação de uma tapa típica espanhola e bebida. O sábado começou com o «Passeio do Pão Quente e do Queijo Fresco», um percurso pelos caminhos em torno da aldeia de Vaqueiros com paragem para pequeno-almoço na Fonte da Parra, junto à Barragem da Aldeia. Também ALGARVE INFORMATIVO #241
de manhã decorreu o «Serpenteando pela GR 15 entre Guerreiros do Rio e Alcoutim», uma caminhada por parte do setor 4 da Grande Rota do Guadiana, desde a povoação piscatória de Guerreiros do Rio até Alcoutim. As vistas sobre o Rio Guadiana e a vizinha Espanha e a passagem por várzeas, hortas, campos de oliveiras seculares e muros de pedra ajudaram a conhecer as formas de povoamento e de utilização dos campos do baixo guadiana. O «Alentejanices» foi um percurso de uma beleza única junto ao rio Guadiana em direção a norte, pelo setor 5 da Grande Rota 15 e rumo à região vizinha do Alentejo, à povoação da Mesquita, no concelho de Mértola. A caminhada teve um reforço de fruta e bebida a meio do percurso e um almoço alentejano na Venda da Prima Mariana, na Mesquita, ALGARVE INFORMATIVO #241
com animação musical de cante alentejano acompanhado de viola campaniça com o artista Paulo Colaço. O regresso a Alcoutim fez-se em viaturas 4x4, seguindo a antiga estrada Mértola - Alcoutim (não alcatroada), com travessia da Ribeira do Vascão e visita aos Menires de Lavajo e Castelo Velho de Alcoutim. «Por Trilhos do Mel» propôs um passeio/experiência pelas redondezas do Monte do Laborato, topónimo único no país. Labora nesta povoação um apicultor que acumula várias décadas de experiência, pois, para Manuel Simão, o mundo das abelhas encerra um fascínio e paixão encantadores. Ao longo do percurso, os caminhantes passaram pelos Barrancos dos Pegos, Grande e da Fonte do Barranco e, sensivelmente a meio, fez-se uma 34
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paragem para visitar um apiário com demonstração do maneio apícola pelo apicultor. Já com «Manhã com o Pastor», os participantes aprenderem a arte ancestral de pastorear com um verdadeiro pastor, aproveitando a beleza e tranquilidade que a serra algarvia nos proporciona, numa caminhada com um rebanho de Cabras de Raça Algarvia pelos trilhos da serra, tendo a oportunidade de conhecer aspetos do seu comportamento, hábitos alimentares, tradições e a história desta raça em vias de extinção. No final, num piquenique, os participantes tiveram oportunidade de degustar o afamado Queijo de Cabra Fresco típico da Serra Algarvia. À tarde teve lugar o «Na Rota das Plantas no Sítio do Pontal», um convite para partir à descoberta de cantos e ALGARVE INFORMATIVO #241
recantos onde crescem árvores, ervas e plantas que nos despertam os sentidos e nos aguçam o apetite. O percurso iniciou-se e terminou no miradouro do Pontal, onde foi realizada uma degustação de alguns produtos da gastronomia local com plantas usadas nas cozinhas e mezinhas das gentes alcoutenejas. «Caminhar em paisagens de camponeses e metalúrgicos» foi um percurso no extremo oeste do concelho em terras de pão e pastorícia milenar. A caminhada atravessou a Ribeira da Corte junto do Monte da Estrada, para se ir conhecer a Tholos do Malhanito, um monumento funerário ocupado sucessivamente desde a idade do cobre até à idade do ferro. A experiência finalizou ao pôr-do-sol com visita de demonstração do funcionamento do moinho de vento do 36
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Pereirão e degustação de um prato típico da gastronomia local, acompanhada de um momento musical de modas tradicionais. Em «Moinhos e Histórias pela Ribeira do Vascão» caminhou-se pela Ribeira do Vascão, atentos aos moinhos e às suas memórias. Partiu-se do Moinho das Relíquias pela margem do Algarve, para 2,5 quilómetros depois se chegar perto do crepúsculo ao Moinho do Alferes. Pelo caminho foi-se ouvindo falar de moinhos e, numa qualquer encruzilhada, uma contadora de histórias fez a sua aparição para surpreender os participantes com as lendas do universo dos moleiros. Chegados ao Moinho, fez-se uma visita interpretativa e ouviu-se contar e partilhar conversas. O regresso, já de ALGARVE INFORMATIVO #241
noite, foi feito pela margem norte até ao ponto de partida. No dia 8 de março, desfrutou-se do «Algarve, com aroma a Alentejo e Espanha», uma das caminhadas emblemáticas do Festival. Com saída de Alcoutim em barco até ao Pomarão (Mértola), e caminhada até Sanlúcar de Guadiana pelo Caminho Natural do Guadiana, as vistas sobre o Grande Rio do Sul são impressionantes. Fez-se uma paragem para merenda no antigo porto mineiro de La Laja e, já em Sanlúcar de Guadiana, houve uma degustação de uma tapa típica espanhola. «Entre Montes e Alcarias» levou os participantes à aldeia do Pereiro, local central no concelho de Alcoutim, localizada no grande planalto entre as 38
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ribeiras do Vascão, a Norte, e da Foupana a Sul. As achadas, em torno da povoação, sempre foram ricas em caça, atraindo figuras ilustres destacando-se o Rei D. Carlos. As jornadas cinegéticas do monarca terão impelido a construção da primeira estrada no concelho, ligando Alcoutim a Pereiro no final do séc. XIX. Esta caminhada teve como objetivo mostrar as magnificas paisagens deste território, desde as achadas passando pelas Alcarias, seguindo por Barranco da Barrada até à Ribeira da Foupana. O regresso foi marcado pela ascensão aos cumes acentuados, na envolvente da ribeira, onde se abrem panorâmicas inesquecíveis. «Pelos Trilho dos Pastores e dos Moinhos» aconteceu junto à Ribeira do Vascão, uma das mais encantadoras ALGARVE INFORMATIVO #241
ribeiras do Baixo Guadiana. Seguiramse os trilhos das cabras e dos pastores ao longo da ribeira, desde a aldeia de Clarines até à Ponte de Giões. Fez-se uma paragem nas antigas termas de Águas Santas para repor energias e seguiu-se depois ao encontro de mais vestígios dos nossos antepassados. Nova «Manhã com o Pastor» foi realizada, assim como «Os Pássaros à nossa volta», pois, na vila de Alcoutim, nas suas ruelas, no rio, na sua várzea e nos quintais em redor, há muito que ver, aves, umas mais discretas, outras menos, que fazem a sua vida e apresentam-nos a sua paleta de cores. De volta ao festival esteve ainda «Senderkayak», que une o prazer de caminhar com o descobrimento das águas do Rio Guadiana e da Ribeira Grande de Sanlúcar em kayak . 40
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“O GRANDE GANHO DAS ARTES É HAVER UMA CONFLUÊNCIA DE VONTADES PARA O MESMO OBJETIVO”, DEFENDE ANA CRISTINA OLIVEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #241
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Associação Cultural Música XXI assinalou, em fevereiro, duas décadas de atividade dedicadas às artes, num momento que serviu, igualmente, para a tomada de posse dos novos corpos sociais para o triénio 20202022, liderados por Ana Cristina Oliveira, a que se junta Vera Rocha (VicePresidente), Patrícia Neto Martins (Tesoureira), António Gamboias (Secretário) e João Neves dos Santos (Vogal) e os dois suplentes Albano Neto e Igor Martins. Uma associação criada por Paulo Cunha, Mário Silva e Adriano St Aubyn, “motivados pelo respeito
pela música e pela cultura, e pela necessidade que vários artistas sentiam para dar a conhecer as suas obras, para que o público pudesse fruir daquilo de bom que se faz no Algarve”. “A associação tem sido discreta, mas as pessoas reconhecem o seu valor, porque os grupos associados são realmente bons, compostos por músicos de excelência, que têm feito um enorme trabalho em prol da cultura ao longo destes 20 anos”, refere a nova presidente, que já fazia parte da anterior direção comandada por Patrícia Neto Martins. O sentimento de missão e de serviço pela causa pública levou-a, entretanto, a aceitar o desafio de liderar uma associação pautada por valores tão nobres e que não se encerra apenas na ALGARVE INFORMATIVO #241
música, como se poderia pensar devido à sua designação. “Desde a
fundação que o Paulo Cunha teve o cuidado de lembrar que «mousiké» era o nome dado às musas, que englobavam a totalidade das artes. Claro que a música tem um papel importante nesta associação, mas também o têm a fotografia, o teatro, a dança e a edição de discos e livros. Tudo aquilo que está ligado às artes tem lugar na Música XXI”, garante Ana Cristina Oliveira. Uma abrangência que, à partida, poderia dificultar o dia-adia de uma associação que, à semelhança de tantas outras, vai caminhando graças à carolice dos seus membros e sempre com orçamentos contados ao cêntimo. “Mas torna-se
fácil quando os artistas e os grupos têm algo dentro de si que querem partilhar. É o caso da Coral Outras Vozes, os Vá-de-Viró, o Teatro 2+1 ou sócios que editam livros com o nosso apoio e chancela. Há um entrosamento de vontades que permite que a Música XXI tenha toda esta atividade anual”. E vários têm sido, sem dúvida, os momentos marcantes da vida desta associação, como é o exemplo do «Música de pais para filhos», projeto que fez história na região durante muitos anos e que levou diversas autarquias e entidades a criarem programas idênticos. Mas também o Festival de Órgão atesta a qualidade 44
dos eventos organizados pela Música XXI, assim como projetos levados a cabo no âmbito do DiVaM, programa da Direção Regional de Cultura do Algarve. “A
dinamização de monumentos a partir das propostas culturais dos 45
nossos criadores é algo que me toca pessoalmente. Esta associação tem todos os ingredientes necessários para cruzamentos disciplinares, com o ALGARVE INFORMATIVO #241
teatro, por exemplo, a misturar-se com a música dos Al-Fanfare ou das Outras Vozes. Somos um palco privilegiado para juntar-se a poesia com a música”, descreve a entrevistada. Percebe-se, assim, que boa parte da atividade anual da Música XXI é delineada pela sua direção, mas uma fatia significativa provém da própria iniciativa dos associados. E Ana Cristina Oliveira assegura que o background dos dirigentes não dita uma maior aposta nesta ou naquela arte, ou seja, ter uma presidente atriz e encenadora não significa que agora se pense apenas em teatro. “A
arte é transversal e há suportes artísticos que são desencadeadores de vontades. O teatro é um suporte, assim como a música ou a fotografia, portanto, vai estar na associação com o papel que sempre lhe coube, um papel digno, mas sem um maior enfoque do que o normal. Estamos, por exemplo, a pensar fazer um workshop de fotografia de moda, a partir dos conhecimentos do João Neves dos Santos, e outro de preparação da voz para o canto”, adianta a dirigente. No que toca à edição de discos e livros, que músicos e escritores vão «bater à porta» da Música XXI, questionamos.
“Artistas e autores que veem nesta associação um coletivo de pessoas interessadas e que olha para o trabalho dos criadores com carinho, ALGARVE INFORMATIVO #241
e não com o intuito de ter lucro. Na cultura, não devemos pensar apenas no prejuízo ou lucro, porque, quando criamos alguma coisa, queremos que ela veja a luz do dia, que vá para o mercado. Nós ajudamos a cruzar essa difícil ponte”, responde Ana Cristina Oliveira, acrescentando que assim têm chegado ao público trabalhos de imensa qualidade que, se calhar, por via das editoras mais comerciais, não estariam ao dispor dos cidadãos. Uma postura que dá credibilidade à Música XXI, acredita a presidente, pelo que os apoios para os eventos organizados pela associação têm sido sempre reunidos, com maior ou menor dificuldade. “Já temos um certo
peso, um nome reconhecido entre as instituições culturais e o poder local, porque sabem que também aplicamos um filtro de qualidade àquilo que apresentamos e preparamos”, justifica, confirmando que, na Música XXI, não há dirigentes profissionais, a tempo inteiro, remunerados pelo exercício das suas funções. “Todavia,
depois de sairmos das aulas, e depois de prepararmos tudo para o dia seguinte, ainda há uma urgência de trabalharmos para uma causa nobre, a cultura, e encontramos sempre um tempo para nos reunirmos”, salienta Ana Cristina Oliveira.
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“SOMOS UMA CASA DE CRIADORES” Produzir arte continua, porém, a ser complicado num país onde os investimentos na cultura não são prioritários, daí a importância de ter por detrás uma associação com o currículo e selo de qualidade da Música XXI. O que não significa que seja tudo «ouro sobre azul» para a própria associação, esclarece Ana Cristina Oliveira. “Temos uma sala
de ensaios que é manifestamente pequena para prepararmos uma peça de teatro, mas, comparando com muitas outras associações culturais, somos uns privilegiados. Não temos tido portas a fecharemse às nossas propostas, mas há que ser ambiciosos, querer sempre mais e exigir também, de quem está à frente dos desígnios das suas autarquias, apoios para estas entidades locais. Apesar de tudo, as autarquias têm sido bastante generosas, por exemplo, no apoio ao Festival de Órgão, o que nos permitiu trazer organistas de primeira água, tanto portugueses como estrangeiros”, enaltece a entrevistada. Sobre o «Música de pais para filhos», Ana Cristina Oliveira recorda que os municípios algarvios sempre acolheram com carinho uma iniciativa que partiu, de forma espontânea, de uma série de músicos que tinham filhos pequenos.
“Começaram a tocar para os filhos, ALGARVE INFORMATIVO #241
notaram que existia interesse da parte deles, e pensaram em fazer o mesmo para os filhos dos amigos, de outras pessoas. Hoje, muitas associações especializaram-se nessa atividade”, aponta, pelo que esse «produto» da Música XXI passou a ser menos requisitado. “Somos uma
casa de criadores e é assim que vamos continuar a ser. Quem tem propostas, apresenta-as e nós vemos como as podemos concretizar, seja no teatro, na música, na dança, em que arte for. A nossa perspetiva é sempre enriquecer a cultura, não especializar-nos nesta ou naquela área. O grande ganho das artes é haver uma confluência de vontades para o mesmo objetivo”, defende. Duas décadas depois, o núcleo duro que deu origem à Música XXI continua bastante envolvido no dia-a-dia da associação, até porque fazem parte de grupos que editam os seus trabalhos com esta chancela. Mas há sangue novo a entrar, frisa Ana Cristina Oliveira, nomeadamente estagiários das Escolas Secundárias Pinheiro e Rosa e Tomás Cabreira, de Faro. “São
jovens que encontraram aqui uma associação que alberga os seus projetos e eles ficam entusiasmados com essa possibilidade de os tornar realidade. É sempre um grande 48
esforço monitorizar estagiários, ensiná-los a fazer produção numa associação cultural, como é que se desenvolve um projeto ao longo de um ou três meses, uma visão completamente diferente daquela que têm na escola. E esses jovens vão passando palavra a outros jovens, que vão apresentando os seus projetos”, descreve a professora e encenadora. “Estamos sempre de braços abertos para ajudar os outros a concretizar as suas ideias”, garantiu. No que toca aos próximos três anos, Ana Cristina Oliveira vai dar continuidade ao que de bom foi feito pela sua antecessora, mas vai tentar cruzar mais áreas culturais, nomeadamente ao nível 49
da música, teatro e fotografia.
“Vamos manter o Festival de Órgão e os concertos dos nossos associados, montar pelo menos uma produção teatral por ano, continuar com a ligação da música à poesia e, caso as autarquias estejam interessadas, dinamizar mais sessões do «Música de pais para filhos» e outras iniciativas que promovam a visão cultural na infância. Gostávamos também de organizar um grande encontro com os Coros de Faro, unir em torno do mesmo objetivo várias vozes com os seus estilos próprios. Ao longo destes três anos, vamos ter, certamente, várias ideias e as vontades para as colocar de pé” . ALGARVE INFORMATIVO #241
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ACORDEONISTA NELSON CONCEIÇÃO À CONQUISTA DO RECONHECIMENTO INTERNACIONAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Dqniel Pina
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conceituado acordeonista e professor Nelson Conceição está nomeado para os International Portuguese Music Awards (IPMA) 2020, cujos vencedores ALGARVE INFORMATIVO #241
serão conhecidos, a 25 de abril, no estado norte-americano do Massachusetts. Mas o feito do algarvio é ainda maior porque o seu nome figura em duas categorias: «Best Instrumental Performance» com «Mister Machado»; e «Best Traditional Performance», com «Charolesca». 54
Nelson Conceição é e foi, das suas raízes e influências, com temas que retratam as suas vivências, numa homenagem à sua construção enquanto músico. Um músico de 41 anos de idade que começou a ser «desenhado» ainda em miúdo, aos oito anos, quando se iniciou no acordeão. “Já levo 33 anos de
carreira, estive foi quase 15 anos para editar este CD. Gravei muitos discos para outras pessoas, participei em diversos álbuns de outros artistas, mas o meu foi sempre sendo adiado”, confessa o entrevistado. E, de facto, «Descobrindo-me» foi um disco «arrancado a ferros», com uma história que hoje Nelson Conceição recorda com um sorriso. “Salvo erro,
Foi há sensivelmente um ano, a 17 de março de 2019, que o Cineteatro Louletano acolheu o concerto de apresentação de «Descobrindo-me», disco que tem tido uma aceitação extraordinária, tanto pelo público como pela crítica. Uma retrospetiva do que 55
em agosto de 2018, tive uma reunião com a Dália Paulo (Diretora Municipal da Câmara Municipal de Loulé), pergunteilhe da possibilidade da autarquia apoiar o meu disco e de se fazer um concerto de lançamento em Loulé. Ela sempre acompanhou o meu percurso, desde os tempos em que foi Diretora Regional de Cultura do Algarve, e mostrou-se logo disponível para isso, com o 17 de março de 2019 a ficar marcado como uma data prevista para esse eventual espetáculo”, conta. Nelson Conceição saiu da reunião com motivos para sorrir, mas com a ideia de que se iria falar ainda mais ALGARVE INFORMATIVO #241
detalhadamente sobre o assunto. Entretanto, na sua azáfama diária de músico, compositor e professor, os meses foram-se passando até que, em novembro de 2018, é contatado pelo Cineteatro Louletano para que enviasse com urgência fotos de promoção e a sinopse do espetáculo. “Fui apanhado de
surpresa, nunca mais tinha pensado no assunto. Tive que me enclausurar no estúdio durante umas semanas, foi tudo sobre «brasas». Alguns temas já existiam – o mais antigo tinha 15 ou 16 anos – estavam guardados no baú. Outros fiz durante as gravações, as ideias iam surgindo enquanto estava sozinho no estúdio”, refere. O objetivo, porém, não era ter um disco com Nelson Conceição sozinho com o seu acordeão, pelo que, neste período, falou com músicos que admirava e com os quais tinha bastante confiança. “Fui
compondo para violino, viola de arco, baixo e guitarra e mandavalhes o material, ao mesmo tempo que ia alinhando as minhas ideias. Foi tudo assim muito a fugir, mas, como eram músicos de enorme competência, quando chegaram ao estúdio, tinham o trabalho de casa feito. Claro que foi um processo um bocadinho sofrido e podíamos ter feito algumas coisas diferentes, mas isso acontece sempre, mesmo quando se está a gravar um disco durante um ano, com todo o tempo do mundo”, garante, deixando ainda ALGARVE INFORMATIVO #241
uma palavra de apreço para os seus alunos, pois teve que desmarcar muitas aulas para se conseguir focar no disco. Neste revisitar do baú, Nelson Conceição encontrou temas que já não refletiam o que ele é atualmente, mas desde cedo teve também a intenção de juntar outros instrumentos ao seu acordeão, o que aumentava o desafio.
“Já tinha a experiência de escrever e tocar para ensembles e a paixão de misturar um corridinho, um género bem popular, com instrumentos mais clássicos, o que gera um ambiente sonoro completamente diferente. Quanto aos temas mais antigos, sofreram, efetivamente, algumas transformações, porque o Nelson de agora pede outras coisas, tem outras ideias. Mas a base ficou lá”, descreve. Esta mistura do acordeão com instrumentos de cordas, sopro ou percussão tem sido cada vez mais frequente no passado recente, num «casamento» muito gratificante, mas que, na opinião de Nelson Conceição, não é crucial para a sua sobrevivência.
“Digamos que alarga os horizontes ao público. É importante introduzir novidades, mas o acordeão continua a ter o seu próprio espaço. No meu disco, os outros instrumentos servem de suporte, não têm um protagonismo assim tão forte. Em «Descobrindo-me», o 56
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acordeão é como se fosse o cantor, mesmo não existindo letra. É quem toca a melodia principal, está sempre por cima, mas há alguns diálogos com o violino, a guitarra, o baixo e a bateria. Noutros temas, toco mesmo sozinho, como é o caso
de «O último adeus», dedicado à minha avó materna. Retrato o momento em que a minha avó morreu junto a mim, todas as emoções que senti quando toquei para ela, sentado ao lado da sua cama no hospital”, conta, emocionado.
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«Descobrindo-me» é de tremenda qualidade e a reação do público tem sido à altura, mesmo daqueles que estão mais habituados a ver Nelson Conceição como professor de música. “Tem sido
muito mais positivo do que esperava, porque o disco tem temas que fogem um pouco ao popular, ao acordeão tradicional, ao som que o grande público está mais habituado a ouvir. Havia algum receio da minha parte por causa disso, mas o feedback tem sido excecional e vendo discos para todo o mundo. Ao vivo sucede a mesma coisa, o que me deixa imensamente feliz”, assume o algarvio. Felicidade e surpresa foi também o que sentiu ao ser nomeado para os International Portuguese Music Awards, por entender que o acordeão é um instrumento um pouco «ingrato» aos olhos de algumas pessoas. “Há quem
A CAMINHO ESTÃO NOVAS MÚSICAS, MAS TAMBÉM POEMAS Seja com o acordeão sozinho ou acompanhado, o resultado final em 59
pense que é um instrumento «menor», quando é precisamente o contrário, tem enormes potencialidades. Para além disso, não sou assim muito conhecido, mas a música acabou por falar por ela própria e estou nomeado em duas categorias”, diz Nelson Conceição. “Um dos temas mais interessantes do disco é a «Charolesca», que não podia encaixar na categoria «Best Instrumental Performance» por ter uma pequena quadra, de seis ALGARVE INFORMATIVO #241
segundos, de homenagem às charolas. Já na categoria da «Best Traditional Performance», eles dão muita importância à voz e à letra e, pelos vistos, esses mesmos seis segundos foram bastante valorizados. Penso que é o único disco a ter duas nomeações com duas músicas diferentes”. A grande gala de atribuição dos International Portuguese Music Awards foi, entretanto, substituída por uma gala virtual em que serão dados a conhecer os vencedores de cada categoria. E todo este reconhecimento aguça o apetite para o que o futuro nos reserva, com Nelson Conceição a revelar que, durante a gravação de «Descobrindo-me», ficou outro disco praticamente pronto. “Nunca
vou descurar os meus alunos, porque é uma responsabilidade enorme quando um pai me entrega o seu filho para aprender o acordeão. Há mães que ainda têm o filho na barriga e me dizem que querem que ele seja meu aluno, quando tiver seis ou sete anos, às vezes mais cedo. É um trabalho individual que se faz até eles irem para a universidade. No que toca às ALGARVE INFORMATIVO #241
músicas, ao abrir o baú das recordações descobri muitos outros temas que não entraram neste disco. De há uns anos a esta parte sinto igualmente uma grande vontade de gravar um CD com temas cantados, porque tenho também um gostinho especial pela poesia e algumas das minhas letras até já andam por aí com outros artistas”, adianta o entrevistado, acrescentando que poderá ainda ir buscar alguns poemas de seus conterrâneos.
“Bordeira é um grande centro de poesia e música. Muita gente desconhece que o próprio António Aleixo fez letras para músicas e, como passava tanto tempo em Bordeira, fez a letra da Marcha de Bordeira, do Hino de Bordeira e do Hino da Sociedade de Bordeira, com músicas de José Ferreiro Pai. São três ícones do primeiro grande acordeonista de Portugal e do maior poeta popular português. Bordeira tem enormes poetas na sua história e penso homenageálos no meu próximo disco”, desvenda, em final de conversa . 60
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CASA DO POVO DE SANTO ESTÊVÃO É UM CASO SÉRIO NO PANORAMA CULTURAL ALGARVIO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina, Miguel Pires Feel Free Photography e Luís Rodrigues Photography
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Casa do Povo de Santo Estêvão celebrou, no dia 7 de março, o seu 77.º aniversário com o fantástico concerto de Manel Cruz, que encerrou com «chave de ouro» o ciclo «Acordes na Aldeia». Mais uma noite inesquecível nesta pequena freguesia rural do concelho de Tavira que voltou a receber a visita de pessoas de todo o Algarve e do Baixo Alentejo e que tornam esta instituição, liderada pelo presidente Sérgio Jesus e pelo vicepresidente Miguel Rodrigues, num verdadeiro case study de programação cultural em territórios de baixa densidade. Um sucesso que começou a desenhar-se, em 2004, quando José Barradas viajou até Barcelona no âmbito de uma Pós-Graduação que frequentou ALGARVE INFORMATIVO #241
no ISCTE de Gestão Cultural. “Eu e
mais uns colegas fomos conhecer o modelo de desenvolvimento cultural da Catalunha, nomeadamente para as zonas rurais ou mais distantes dos grandes centros urbanos, dentro do que é uma Política Cultural Municipal. Nas freguesias até três mil, 3.500 habitantes, eles têm pequenos espaços municipais mais ou menos com as características da Casa do Povo de Santo Estêvão, para 150 ou 200 pessoas, que depois entregam à iniciativa privada, a empresas de gestão cultural, que têm profissionais dentro das várias áreas da cultura. Porque fazer 66
programação, produção e comunicação, por exemplo, são coisas totalmente diferentes”, avisa o colaborador da Casa do Povo de Santo Estêvão. Por essa altura existiam já fundos comunitários direcionados precisamente para os territórios de baixa densidade e que, por falta de propostas ou candidaturas, tinham uma reduzida taxa de execução, ou seja, o dinheiro era devolvido à União Europeia. A direção da Casa do Povo de Santo Estêvão aproveitou, contudo, a oportunidade e, em conjunto com a Câmara Municipal de Tavira, criou-se a atual sede – bem como um programa estruturado abrangendo a formação, uma biblioteca escolar, um espaço internet e outras valências – e que abriu ao público em agosto de 2007. 67
“Nasci e fui criado em Santo Estêvão, cresci com um grande sentido de comunidade e de cidadania, valores partilhados por um grupo de amigos que, em 1997, decidiu agarrar na Casa do Povo. No início predominavam as atividades recreativas, depois avançamos para o desporto e conseguimos, inclusive, federar uma equipa de futsal que, em 2009, foi Campeã do Algarve, venceu a Supertaça do Algarve e andou na terceira divisão do campeonato nacional”, conta José Barradas, indicando ainda que ao futsal juntou-se o BTT, com atletas de Santo Estêvão, treinados por Nuno Loureiro, professor da Universidade do Algarve, ALGARVE INFORMATIVO #241
BTT nas variantes de Downhill, Cross Country e Dual”, relata. Depois, a crise financeira e económica que afetou a Europa a partir de 2008 ditou o abandono do futsal, mas ainda hoje atletas e técnicos se reúnem, volta-emeia, para celebrarem o título de campeão regional alcançado por esta pequena aldeia.
José Barradas
a sagrarem-se campeões nacionais e a disputarem o Europeu da modalidade.
“Em 2000 organizamos, em parceria com a Câmara Municipal de Tavira e a Federação Portuguesa de Ciclismo, o Campeonato Nacional de ALGARVE INFORMATIVO #241
Perdeu algum fôlego a componente desportiva federada, mas não a cultural, com 13 anos bastante gratificantes, assegura José Barradas, o rosto mais visível de uma extensa equipa de profissionais que decidiram dar algo de si à comunidade. “Isto só funciona por
se tratar de uma associação sem fins lucrativos, onde nenhum de nós tem qualquer tipo de remuneração, é cidadania pura. 68
Na direção existe um agricultor, um mecânico, um técnico de saúde, um engenheiro informático, pessoas de várias áreas que dão o seu contributo dentro da disponibilidade de cada um. E a vontade foi ter uma programação cultural regular com a preocupação de envolver as pessoas da comunidade e desenvolver um trabalho consistente e contínuo direcionado para diversas faixas etárias e que tivesse a capacidade para atrair público de outros pontos do concelho de Tavira e da região”, sublinha o entrevistado. E, de facto, vai-se a Santo Estêvão de propósito, não é um local de passagem, o que obriga a uma programação cuidadosa 69
e com fins bem delineados, até porque existe um protocolo com a autarquia tavirense que exige que o edifício esteja aberto ao público e a funcionar.
“Na época obtivemos um financiamento comunitário de 500 mil euros, dinheiro que foi totalmente investido na sede e nos equipamentos, e que nos permitiu avançar com ações de formação em vários campos, ter um posto clínico para as pessoas fazerem as suas análises, uma biblioteca escolar, um espaço internet e uma programação cultural adaptada às características do espaço e do próprio território e que não pretende entrar em conflito com aquilo que já é feito ao nosso ALGARVE INFORMATIVO #241
redor”, reforça José Barradas. “Temos os bailes tradicionais, o Carnaval e o São João, típicos de associações desta natureza, e depois temos um programa forte entre outubro e maio desenhado por ciclos e por géneros artísticos, o que depois facilita toda a comunicação e promoção”. Desde o início houve, igualmente, a preocupação de se trabalhar em rede com espaços de semelhantes características, com 150 a 200 lugares, que podem receber projetos culturais mais intimistas, músicos a solo, duos ou trios. “Nada foi feito sem uma
intenção, num espaço de cidadania
dirigido com grande profissionalismo por pessoas que não são profissionais deste ramo. Há uma enorme preocupação na definição dos projetos programáticos, na forma como recebemos as pessoas, na maneira como comunicamos, e penso que temos tido sucesso na nossa missão. Se calhar vivem 30 ou 40 pessoas no centro de Santo Estêvão. A aldeia parou, apesar de ali terem sido realizados vários investimentos por parte da Câmara Municipal de Tavira. Mesmo agora está a ser construída uma escola primária”, refere José Barradas.
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PROGRAMAR NOS MEIOS RURAIS Reportando-se novamente ao exemplo da Catalunha, José Barradas conta que existem diversos espaços culturais da dimensão da Casa do Povo de Santo Estêvão que alimentam freguesias que, por sua vez, fornecem público a teatros municipais já com 300 ou 400 lugares que, por sua vez, servem de alicerce a teatros regionais com lotações quase a chegar às mil pessoas. “É toda uma
política regional que tem como objetivo gerar hábitos culturais. Há pessoas que julgam, por falta de conhecimento, que determinados 71
eventos não são para elas, mas, como eles acontecem na sua esfera de contatos e visitas diárias, até vão ver. Depois, quando outro projeto daquele artista ou companhia for ao teatro municipal, já não se autoexcluem. E, quando surgir um projeto idêntico que exige um espaço ainda maior, também vão ver”, indica o entrevistado. “A Casa do Povo de Santo Estêvão é o que é, movida por um grupo de pessoas que estão juntas há cerca de 20 anos, que trabalham naquilo que acreditam, no que acham que é correto, e que ALGARVE INFORMATIVO #241
tentam arranjar os financiamentos necessários para que tudo isto funcione. A engenharia financeira da programação é crucial, temos apoios da Câmara Municipal de Tavira – como acontece com outras associações do concelho – mas também concorremos aos apoios da Direção Regional de Cultura do Algarve, da Junta de Freguesia e de outras entidades. E todos os eventos têm pagamento de bilheteira, os clientes dão o seu contributo para ajudar a pagar o cachet do artista e a produção do espetáculo”, declara o programador cultural. Certo é que, apesar dos constrangimentos financeiros e até ALGARVE INFORMATIVO #241
geográficos, a Casa do Povo de Santo Estêvão acolhe com regularidade concertos de nomes sonantes do panorama nacional. Facto que José Barradas explica com facilidade, porque aqui não há segredos ou cartas escondidas na manga. “Desde o
arranque da programação que temos vindo a integrar várias redes e também fomos ganhando alguma notoriedade ao longo dos anos. Mas não vamos a um cardápio de artistas ou ouvimos a RFM e selecionamos nomes, porque a nossa instituição tem uma missão a concretizar, o edifício tem uma programação e esta programação tem uma intenção específica”, esclarece. “De outubro a maio, a generalidade 72
dos artistas tem menos trabalho e, por serem formações mais pequenas, os cachets também são inferiores. E temos tido a compreensão de muitos desses artistas, que até se repetem de um ano para o outro, mas com projetos diferentes. Há aqui uma reciprocidade e amizade que é bastante gratificante, acabam os concertos e ficamos todos à conversa”, salienta o entrevistado. “Ainda agora o Manel Cruz dizia que gosta imenso destes espetáculos, por estar junto daqueles que apreciam realmente a sua obra. São estas pessoas que o seguem desde o início, que o ajudaram a construir a sua carreira. E o mesmo aconteceu com o Custódio Castelo, Pedro Joia, Lula Pena, Kepa Junquera, JP Simões, Vitorino e tantos outros”. Assim vai ganhando nome a Casa do Povo de Santo Estêvão, com muitas pessoas a partirem à descoberta de uma nova aventura no meio da ruralidade, a mergulharem de cabeça no desconhecido, e tudo isso enriquece a experiência. Porque, embora possam sabem quem é o artista que os faz sair de casa naquela noite específica, às vezes tudo o resto é uma incógnita, até mesmo o caminho para se chegar a Santo Estêvão. E, neste caso concreto, a cultura tem servido de dínamo económico para esta aldeia do concelho de Tavira. “Para
já, os artistas e os técnicos têm de comer em algum lado. Na noite com 73
o Manel Cruz, os três restaurantes de Santo Estêvão esgotaram, fruto de 200 ou 300 pessoas que decidiram ir comer ao Barrocal para depois chegarem mais cedo ao concerto. No fim-de-semana anterior, se calhar esses estabelecimentos tiveram 10 ou 15 clientes. Temos tido, sem dúvida, muito sorte com o público, porque são as pessoas que fazem os espaços”, considera José Barradas. Entretanto, Portugal vive a situação que todos conhecemos, portanto, que cultura, e que Casa do Povo de Santo Estêvão, vamos ter no futuro, questionamos o experiente programador cultural. “Não vejo o
futuro da Casa do Povo muito diferente do cenário atual, porque nunca fizemos nada acima das nossas possibilidades e, os valores que temos pago até agora pelos espetáculos, acredito que os vamos conseguir continuar a pagar. E os artistas também precisam de tocar nestes espaços mais pequenos durante o Outono/Inverno para se prepararem para o Verão, porque esse, sim, é o seu verdadeiro mercado”, explica, lamentando não poder adiantar quais os nomes que compunham a nova edição dos «Serões da Primavera» que arrancava a 28 de março. “Posso apenas dizer,
porque a própria artista já o tinha ALGARVE INFORMATIVO #241
anunciado, que o ciclo começava com a Márcia, uma grande cantautora e compositora que escreve para muita gente, e que viria tocar no nosso humilde pequeno espaço”. Já o panorama geral preocupa mais José Barradas, porque a cultura sempre teve as suas dificuldades, logo a começar pelo enorme desafio de fazer as pessoas sair de casa. “Mas nada
substitui a experiência. Ir a um concerto, a um espetáculo de dança, a uma peça de teatro, é um verdadeiro ritual. As pessoas gostam de estar, de presenciar ao vivo. Por muitas boas séries que existam na televisão, é necessário sair de casa, quando o tempo for oportuno, quando a normalidade regressar”, defende, aproveitando para elogiar todos os programadores culturais que não têm receio de apostar em produtos diferentes do habitual. “Se não
arriscarmos em introduzir novos projetos, amanhã ou depois, os que existem desaparecem e não há uma continuidade. O público tem que praticar esse ritual de sair de casa, por melhores que sejam os conteúdos que existam na televisão ALGARVE INFORMATIVO #241
ou na internet. Nada substitui a experiência da participação efetiva das pessoas na construção de uma sociedade que se quer cada vez melhor. E cultura não é só animação, também é educação, e tem que ser praticada ao vivo. O digital é uma ferramenta importante nos dias modernos, neste momento todos devemos ficar em casa, mas temos de voltar rapidamente ao dia-a-dia normal, porque a vida é feita de contato humano, de presença física, de participação em carne e osso. A cultura é fundamental para o equilíbrio que todos nós necessitamos, para uma vida saudável, para uma comunidade melhor e mais coesa”, afirma José Barradas .
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CINETEATRO LOULETANO VIVENCIOU DRAMA DE UM CASAL ANGOLANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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e 4 a 7 de março realizou-se, em Loulé, a segunda edição do «Tanto Mar» – Festival Internacional de Artes Performativas, uma iniciativa da associação Folha de Medronho, em coprodução com o Município de Loulé, que teve este ano Cabo Verde, Angola e Brasil como países representados através de espetáculos de teatro, dança e performance com reconhecidas companhias. O objetivo do festival foi, segundo os organizadores, “manter os
seus dois eixos principais: completar a oferta regional e desenvolver o trabalho de cruzamento entre os criadores dos países onde o Português é a língua oficial”. No dia 6 de março, foi a vez de subir ao palco do Cineteatro Louletano «Casados e cansados», do grupo angolano Enigma Teatro, vindo de Luanda, que retrata o último e mais dramático pesadelo de um casal à beira da separação. “Carolina,
uma jovem de princípios que leva uma vida aparentemente tranquila e marcada por meras questões domésticas, sente-se agastada com a falta de atenção do marido «Dragão», que leva uma vida boémia. Para ambos, o único meio de sobrevivência à angústia da relação é entregar-se à vida, transformando assim a história de uma vida modesta num fascinante jogo intelectual de gato e rato, onde nem tudo é o que parece”, descreve a companhia . ALGARVE INFORMATIVO #241
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OPINIÃO Don’t fence me in Mirian Tavares (Professora) “O give me land, lots of land, and the starry skies above Don't fence me in Let me ride through the wide-open country that I love Don't fence me in” Cole Porter m 1934, Cole Porter escreve um dos clássicos da música mundial que será consagrado pela voz de Frank Sinatra e de grandes mitos da música norte-americana: Don’t fence me in. Baseado num poema do engenheiro de estradas Bob Fletcher, que vivia no estado do Montana e, provavelmente, não se sentia preso, mas celebrava este espírito indomável dos pioneiros que desbravaram aquele país e que foram representados no cinema pelos cowboys. Roy Rogers, um dos maiores cowboys hollywoodianos, gravou esta música em 1945 para um filme homónimo realizado por John English. Em 1954, Rogers e seu famoso cavalo Trigger, subiram as escadarias do Hotel Adelphi, em Liverpool, onde ficaram hospedados. O ator e sua mulher foram afetados pela «influenza» e obrigados a ficar de cama, em isolamento, mas recebiam a visita do cavalo que subia e descia as escadas do extravagante e gigantesco Adelphi. Confinados, mas com classe e com direito a receber flores trazidas pelo fiel Trigger ALGARVE INFORMATIVO #241
enquanto convalesciam. Esta música é uma das minhas preferidas do Cole Porter e gosto particularmente da versão do David Byrne dos anos 90. Não tenho, e nunca tive, desejos de perder-me nos campos e dormir sob as estrelas. Nunca acampei na vida e pensei mesmo em mandar fazer uma t-shirt a dizer: vá acampar e não me chame! Sou basicamente um animal urbano. Mas a ideia de ficar presa, confinada, sem ter permissão para sair, nem que seja para ver as ruas da cidade ou espreitar as montras, deixa-me em desespero. Sou claustrofóbica e ouvi muito, na minha infância, o poema de José Régio recitado por Maria Bethania, «Cântico Negro»: (…) Quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) E cruzo os braços, E nunca vou por ali... Neste caso, nunca fico ali. Mas neste momento somos obrigados a ficar reclusos, a não circular livremente, a evitar contactos sociais e a não podermos calcorrear as ruas das cidades. 90
Foto: Victor Azevedo
Sorte daqueles que vivem isolados nos montes. Estes poderão sair e contemplar as estrelas ou simplesmente perder-se pelos caminhos cercados apenas de mato e de prováveis animais que por ali ousam passear. Temos de ficar reclusos, confinados, restritos no nosso direito de ir e vir por uma boa causa – a saúde de todos, a luta contra um vírus. O que me incomoda mais, além do facto de estar obrigatoriamente em casa, é que, apesar de tudo, eu tenho uma mata à porta, quintal e açoteia. E os que vivem em apartamentos exíguos? São poucos os que terão o espaço do Adelphi que 91
conseguiu hospedar um cavalo. Grande parte de nós vive num T1, T2 ou num quarto alugado. Sem falar dos que nem casa têm. Fico muito preocupada com meus alunos, sobretudo os que estão longe de casa, muitas vezes mal acomodados. E, por isso, espero que esta medida extrema tomada pelo governo, a pedido de muitos, seja eficiente e que não se prolongue por mais de 15 dias. E desejo a todos coragem para suportar esta grande provação e resistirem salvos, mas principalmente, sãos .
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OPINIÃO Do Reboliço #77 Ana Isabel Soares (Professora) À Fernanda e à Maria Manuel. lembrares-te dos goivos, Reboliço...? Eram a flor preferida da mulher do moleiro (cuja identidade não se ficava por ser alguém de alguém – o busílis estará em querer atribuir-lhe uma só função, uma arte apenas: quando se fazia necessário, era moleira; padeira, em fazendo falta o pão; modista, se era de roupas que a família carecia, diariamente cozinheira, diariamente copeira, lavadeira, educadora de infância, tratadora de animais, jardineira ou hortelã). Eram uma das – as sardinheiras eram outras (ditas também malvas, que ela fervia para limpar com a água delas o rosto, os olhos; como fervia na água o alecrim com que se banhava o moleiro, e que deixava a casa inteira a cheirar a verde fresco), e outras ainda eram os rapazinhos. Havia em qualquer uma destas plantas, quando floresciam, um tão ervidente contraste entre o verde da folha e a cor da florescência, que alegrava um espírito mais chegado à bruma, mais cabisbaixo ou mais meditabundo. As malvas pareciam conversadeiras irrequietas, ao lado da sobriedade dos goivos. Mas era a flor dos rapazinhos que ensinava aos netos, sempre como se lhes ensinasse ALGARVE INFORMATIVO #241
pela primeira vez: o Reboliço ia atrás da velhota assim que a via agarrar na mão de um dos moços pequenos. “Anda já com a avó, que ela mostra-te ali uma coisa bonita”. Tlim-tlim-tlim-tlim, a cada patadinha na terra, como se fosse o regozijo da mulher ou a ligeireza dos pequenos, a esquilinha do cão acompanhava-lhes os passos até ao arbusto que se encostava à rede do carunchoso. (Uma vez, ouviu um visitante chamar à planta salvia microphylla, “É uma sálvia, sabia, D. Custódia?” – “São rapazinhos”, respondeu ela, a sorrir com os olhos lavados das malvas e a encolher, com jardinal simpatia, os ombros). Aos netos, a explicação científica que dava era sobre o modo de apreciar aquela flor (“São flores com pouco interesse ornamental”, diziam, isso diziam, mas a horta se ficava linda, pontuada pelas chaveninhas rosa escuro dos rapazinhos...): “Pegas assim numa das flores, apertas-lhe a coroa entre os dedos e tira-la do verde. Agora, levas-lhe o pezinho branco à boca. Sem morder, agora suga o pé, a parte mais branquinha da flor, a que ficou à mostra quando a arrancaste”. A esquilinha do Reboliço, então, silenciava-se, cumpria o sagrado daquele minuto: o focinho dele muito atento, e os olhos, tudo subido no sublime da hora, enquanto os dedinhos 92
Foto: Vasco Célio
do neto tremiam só um nada, a ver se não esmagavam nas manitas a fragilidade da flor, e a levavam aos lábios: e estes, por mais ansiosos que se vissem, cediam em espanto à surpresa frágil, à tão breve surpresa do doce trazido do branco pé mínimo das flores. 93
(Mas – e os goivos, Reboliço? Viste os goivos? Vai lá ver, que já te esqueceste deles outra vez) . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #241
OPINIÃO Recolhimento Fernando Esteves Pinto (Escritor) “As pessoas comuns pensam apenas como passar o tempo. Uma pessoa inteligente tenta usar o tempo”. Arthur Schopenhauer e o Diabo fosse inteligente, e tão demoníaco como nos quer fazer crer, permitianos que subíssemos num ápice uma montanha para depois nos fazer cair lá do alto, sem contemplações. Seria uma queda violenta, letal, mas cujo simbolismo é a glória da insensatez. Contudo, Deus é mais compassivo e ponderado: está sempre a pôr pequenos obstáculos na nossa vida, avisos e sinais, para termos em conta a prudência. Em situações adversas, os meus pais eram os meus deuses; para me livrarem do mal e das contrariedades aconselhavam-me a refugiar-me nos meus pensamentos. A leitura, e depois a escrita, foram, à época, a minha montanha; e eu escalava-a com a certeza do amparo que só um filho pode sentir quando são os pais a segurar as cordas para o proteger. Recolhimento é o que se impõe nestes tempos em que a massa humana se vê impedida da sua mobilidade social. Não se trata de isolamento – este estado em que somos postos a um canto da vida e impedidos de receber informação, sem ALGARVE INFORMATIVO #241
convivência e incomunicáveis. O recolhimento apela a uma vida recatada, não dispersa: sermos capazes de construir um lugar de acolhimento e respeito também pelos outros; um lugar propício à reflexão, e que seja possível concentrar no espírito as compensações de uma vida interior. Mas a verdade é que criámos mais dispositivos de defesa em relação aos nossos semelhantes – o Homem – do que contra um batalhão de agentes epidémicos. O ser humano sempre se preocupou em travar ideologias, atrasando-se na luta contra as ameaças biológicas. O armamento nuclear disseminado pelas grandes nações supera a existência de equipamentos hospitalares. Será sempre uma guerra perdida, desigual e escandalosa, com vidas humanas a traçar os gráficos cuja leitura entre vítimas infectadas e mortais só pode significar mais uma tragédia da nossa civilização. Este inimigo anti-social – Covid-19 – veio instalar no nosso mundo uma nova noção de tempo. A velocidade com que então se vivia foi travada contra a vontade dos indivíduos, e isso causou ansiedade e 94
desorientação colectiva. Aqueles que confundem tempo com movimento e acção revelam em si estados mais vulneráveis; a impaciência domina-os e as rotinas entram num ciclo disfuncional. A incapacidade de adaptação a uma sociedade transfigurada por um vírus inclemente vem criar uma certa 95
percepção de pânico à escala mundial. O poder escapa-se à ordem humana. E perante a ameaça de contágio a que todos estamos sujeitos, só nos resta a consciência de que somos simplesmente humanos; seres prisioneiros nesta bolha que é o mundo, mas também um sério inimigo . ALGARVE INFORMATIVO #241
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OPINIÃO - Reflexões, opiniões e demais sensações… (in)conscientes Júlio Ferreira (Inconformado encartado) u queria começar por dar a minha opinião, ao deixar bem claro que, lá porque critiquei a nossa triste e vil nacionalidade, quando «fomos» para a praia e beber copos em plena «Guerra», isso não significa que a desdenhe (ao contrário de muitos tugas que andam por aí, nas redes sociais). Não meus caros, eu tenho muito «orgulhe» e gosto de sobremaneira de fazer parte de um país cuja fundação começou com um belo par de chapadas dadas por um filho de uma mãe; orgulho-me diariamente de um gajo que prometeu pagar uns trocos ao Papa vigente para transformar este território num país, e que depois o enganou à campeão e nunca lhe deu um chavo. «Orgulhe» dos outros tugas que contribuíram para este projeto. A padeira algarvia que ostentava uma destreza letal com a pá. Os «inconscientes» que se puseram a fundar além-mar em casquinhas de noz. Os tugas que enganaram os castelhanos em Tordesilhas. «Orgulhe» naquele tipo de um olho só, que idealizou e escreveu uma nação que não estava lá. É claro que depois destes anos áureos já não me orgulho de grande coisa, até aos dias de hoje!!! Ao longo da vida, e muitos nos últimos anos, tenho conhecido gente que dedica parte do seu tempo ou todo o tempo que 97
tem, para ajudar quem precisa. Num regresso aos mais básicos valores da vida em sociedade, daquilo que deve ser a humanidade como um todo, a solidariedade, o altruísmo e a coragem são, creio, o melhor exemplo que podemos deixar para todas as gerações que virão. Que esta condição de aflição coletiva que mostra, uma vez mais, como somos todos tão parecidos, nas nossas coisinhas, nos inspire, nos faça a todos melhorar, que saibamos unir esforços. O que está a acontecer no Mundo, e numa Europa atrapalhada e aflita, é um teste à civilização em que acreditamos. Saibamos, todos, estar à altura deste problema, enquanto cidadãos, enquanto países, enquanto seres humanos. Evitemos propagar o vírus e o pânico, atentemos para os fatos, busquemos e estimulemos a esperança. Que se dê, de uma vez por todas, o aplauso e a ajuda devida a médicos, enfermeiros, técnicos de saúde, farmacêuticos, bombeiros, forças de segurança e todos os profissionais que estão na primeira linha do perigo, sem vacilar. Como eu e tu, todos têm família, todos têm medo. Mas a lição de coragem que nos dão é inspiradora. Saibamos todos ser dignos do seu exemplo e que, quando isto passar, porque vai passar, todos nós possamos sair mais fortes deste horror .
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OPINIÃO Reerguer uma região João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) o tema do momento. Impossível não falar dele quando toda a sociedade se viu fortemente afectada no seu modo de funcionamento. O Covid-19 veio e as suas marcas irão perdurar no tempo. Quanto? Não sabemos, mas que será provavelmente longo, será. A região que vive em torno dos serviços, em particular dos associados ao turismo, levou um rude «golpe no estômago», ao ponto de ficar quase inconsciente. Milhares de reservas foram canceladas, causando impactos directos e profundos em centenas de pequenas e médias empresas que viram as receitas e as expectativas de crescimento caírem a zero. Outras, que vivem da presença regular de turistas nas cidades, nomeadamente as do comércio local, foram igualmente arrastadas nesta «maré negra», vendo-se também a braços com uma crise financeira complicada. Para algumas poderá significar mesmo o encerramento permanente da actividade. Para outras, o recomeçar do início e o longo percorrer do caminho de regresso à normalidade.
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O governo anunciou, entretanto, um pacote de ajudas às empresas, bastante ALGARVE INFORMATIVO #241
necessário e urgente. Vamos ver como se processará e como atenuará o impacto gerado pela pandemia. Porém, que mazelas ficarão gravadas? Retomaremos a normal actividade após a passagem mortal deste vírus? Voltará a região a antever os níveis de crescimento como se previam até há dois meses atrás? Recuperarão os turistas a sua confiança e segurança necessárias para retomarem as suas viagens e estadias? Assim o esperamos. Mas tomará o seu tempo. Dados avançados por algumas das principais organizações mundiais de turismo, nomeadamente a WTTC (World Travel and Tourism Council), revelam a magnitude dos estragos. Estima-se, por exemplo, uma perda de 50 milhões de postos de trabalho directamente relacionados com a indústria do turismo em todo o mundo, sete deles na Europa. Alguns especialistas apontam o regresso à normalidade somente dez meses após o término da epidemia - mas há quem só perspective a normalidade turística em 2023. As companhias aéreas reduziram a sua actividade a mínimos quase históricos e prevêem perdas de receitas na ordem dos 100 mil milhões de euros a nível mundial (dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo).
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Estes são apenas alguns exemplos que mostram como o Turismo irá sofrer, certamente, um rombo como há muito não sentia. E, talvez por isso, esta seja também a oportunidade de repensar o seu modelo global e local. As catástrofes, ao fim e ao cabo, serviram sempre para gerar mudanças nos paradigmas de desenvolvimento, na relação com o planeta e na celebração de sentimentos positivos que as sociedades quase se esqueceram, como sejam as da partilha, da solidariedade, da colaboração e da entre-ajuda. Haverá vontade e espaço para essa mudança? Não saberemos. Mas que serão esses sentimentos as forças-motriz que ajudarão a reerguer uma região como a nossa, que desejamos rapidamente pujante, sustentável e desenvolvida, sem dúvida. 99
É este o meu voto e, naturalmente, a de melhoras na saúde para quem tenha sido apanhado nesta tempestade virológica . ALGARVE INFORMATIVO #241
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #241
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