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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 25 de abril, 2020
CHOQUE FRONTAL AO VIVO ELEGEU OS MELHORES DE 2019 «A FREGUESIA» | «A CULPA É DO CU…META» | ZENTANGLE ALGARVE INFORMATIVO #245 FESTA DA MÃE SOBERANA | «MORREU PAVAROTTI»
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10 - Festa da Mãe Soberana de Loulé
72 - «A Freguesia» do Teatro do Eléctrico ALGARVE INFORMATIVO #245
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OPINIÃO 100 - Ana Isabel Soares 102 - Fernando Esteves Pinto 104 - Vera Casaca 106 - João Ministro 108 - Nuno Campos Inácio 110 - Luís Matos Martins 112 - Augusto Pessoa Lima
46 - Cineteatro Louletano reajusta programação face ao Covid-19
86 - «Morreu Pavarotti»
24 - «Choque Frontal ao Vivo» elegeu os melhores de 2019
58 - «A Culpa é do Cu…Meta» 5
34 - Zentangle ALGARVE INFORMATIVO #245
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FESTA DA MÃE SOBERANA ESTE ANO É VIRTUAL DEVIDO À PANDEMIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Festa da Mãe Soberana, em Loulé, foi este ano cancelada como medida preventiva para a propagação do surto do novo coronavírus, mas os louletanos não esquecem a sua Padroeira e, durante os 15 dias que corresponderam ao período entre a Festa Pequena (12 de abril) e a Festa Grande (26 de abril), a Câmara Municipal de Loulé, através do Museu Municipal promoveu, nas redes sociais, um conjunto de atividades que pretenderam reforçar esta ligação tão especial entre a comunidade local e a Nossa Senhora da Piedade. Nesse sentido, no Domingo de Páscoa, dia em ALGARVE INFORMATIVO #245
que tradicionalmente se realiza a descida da imagem da Mãe Soberana da sua Ermida até à Igreja de S. Francisco, a equipa do Museu Municipal de Loulé assinalou o momento com um vídeo de homenagem à Padroeira da cidade. Em simultâneo, foi lançado um desafio de expressão plástica aos mais novos a partir da «Lenda da Nossa Senhora da Piedade». Os 15 dias que se seguiram corresponderiam, numa situação normal, a um tempo em que a imagem da Mãe Soberana permaneceria na Igreja de S. Francisco, onde muitos fiéis iriam manifestar a sua devoção e assistir a momentos de liturgias. Apesar 12
das restrições impostas neste período de pandemia, o Museu Municipal de Loulé continuou a homenagear a Padroeira de Loulé através da rubrica «Flores para a Mãe Soberana», que deu a conhecer à comunidade todo o espólio dedicado à Nossa Senhora da Piedade e a esta festividade. Uma iniciativa que começou, desde logo, pela escultura da Padroeira, da autoria do artista Francisco José, que apresenta a imagem da Mãe Soberana aos ombros de oito Homens do Andor, assim como os crentes, no momento da procissão. Esta escultura, criada em 2014, faz parte do espólio de arte contemporânea deste equipamento cultural louletano e encontra-se exposta nos Paços do Concelho.
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Ao longo desta quinzena foram muitas as peças de arte, os documentos, as histórias e as estórias divulgadas nas redes sociais do Museu, à volta daquela que é a maior manifestação religiosa mariana a sul de Fátima e que atrai anualmente milhares de peregrinos a Loulé. A iniciativa culminou com um novo vídeo de homenagem que será apresentado no dia em que a procissão da Festa Grande sairia para a rua, a 26 de abril. Antes disso, porém, ficam aqui os registos captados pela objetiva do Algarve Informativo em 2019, uma forma de recordar momentos que voltarão, certamente, a ser vivenciados, em carne e osso, em 2021 .
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Choque Frontal ao Vivo distinguiu os melhores de 2019 Texto: Júlio Ferreira e Ricardo Coelho
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Ricardo Coelho e Júlio Ferreira
espeitando a recomendação da Direção-Geral da Saúde e tomando em consideração a evolução da infeção da Covid19 a nível de risco para saúde pública no Algarve e em Portugal, os apresentadores, realizadores e produtores do Choque Frontal ao Vivo, Ricardo Coelho e Júlio Ferreira, decidiram cancelar a segunda edição dos prémios com o mesmo nome, originalmente agendada para dia 14 de março. Mas isso não impede o Prémio Choque Frontal ao ALGARVE INFORMATIVO #245
Vivo de chegar, à mesma, das mais variadas formas aos grandes vencedores das diferentes categorias. Esta pequena peça de acrílico não é nada de especial, mas tem mais valor este ano em que muitos daqueles que ajudaram à realização do programa de rádio, gravado ao vivo no Teatro Municipal de Portimão, neste percurso de três anos, veem os seus espetáculos adiados ou cancelados e que, sem outras formas de rendimento ou subsistência, passam por dificuldades para pagar as suas contas ou mesmo para se alimentarem. Nem todos os que 26
trabalham no mundo das artes e espetáculos ganham cachets com muitos «zeros». O Prémio Choque Frontal ao Vivo foi idealizado com o principal objetivo de incentivar a atividade musical no Algarve e em Portugal, não esquecendo os outros tipos de arte. E, para a escolha dos vencedores, foram convidados a votar mais de 50 entidades públicas e privadas, entre órgãos de comunicação social, diretores de teatros e auditórios, agentes culturais e outros especialistas do Algarve. Na primeira edição destes prémios, realizada em 2019, os vencedores foram: Melhor Álbum Nacional - Pedro Abrunhosa; Melhor Álbum Algarve - Dino D’Santiago; Revelação Nacional – Matay;
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Revelação Algarve - Fernando Leal; e Melhor Música Algarve - «Barco de Papel», de Reflect. Fora do domínio da música, foram ainda distinguidos a Universidade do Algarve, na Categoria de Artes, Ciências, Cultura e Desporto, e o Refúgio Aboim Ascensão, na Categoria Mérito e Excelência. Em 2020 foi introduzida uma nova categoria, «Melhor Música Nacional», mas o processo foi o mesmo. Os jurados votaram nos 10 nomeados propostos para cada categoria, que foram igualmente divulgados nas redes sociais. Com a sua votação chegamos aos três mais votados de cada categoria, com Slow J e Noble a liderarem as nomeações à segunda edição dos prémios nacionais, reunindo duas cada. O rapper estava nomeado nas categorias «Melhor
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Álbum/EP nacional» e «Melhor Música Nacional». Já Noble e o seu «Honey» (a grande surpresa vinda do Norte e que alcançou o topo de vendas nacional) chegou aos três mais votados para os Prémios «Melhor Música Nacional» e «Revelação Nacional», a par de Bárbara Tinoco e Syro. Héber Marques em «Melhor Música Nacional», e os Capitão Fausto e Stereossauro em «Melhor Álbum/EP Nacional» tiveram uma nomeação cada. No que ao Algarve diz respeito, os destaques vão para as três nomeações de Teresa Aleixo - «Revelação Algarve», «Melhor Álbum/EP Algarve» e «Melhor Música Algarve» - assim como para as duas nomeações de Diogo Piçarra e Perigo Público&Sickonce, em «Melhor Música Algarve» e «Melhor Álbum/EP Algarve». Para além destes, estavam também nomeados, na categoria de «Revelação Algarve», as bandas Plasticine e Gaijas. Mas os Prémios Choque Frontal ao Vivo pretendem também distinguir ALGARVE INFORMATIVO #245
uma personalidade (individual ou coletiva) que se tenha destacado no ano anterior, noutra atividade, e que tenha contribuído para o enriquecimento e reconhecimento do Algarve no país e no estrangeiro, dai o surgimento da Categoria «Artes, Ciências, Cultura e Desporto». Aqui, os três mais votados foram o Festival MED, Portimão-Cidade Europeia do Desporto e João «Bento Algarvio». No que toca ao Prémio «Mérito e Excelência», a única categoria em que não são divulgados os três finalistas, é atribuído pela carreira, pela importância da sua atividade, influência e contributo para o reconhecimento da região algarvia a nível nacional e internacional nas mais variadas áreas. Conhecidos os nomeados, os grandes vencedores foram: Melhor Álbum/EP – Nacional: Stereossauro – Bairro da Ponte Melhor Música – Nacional: Héber Marques – Amor perfeito Revelação – Nacional: Noble - Honey 28
Melhor Álbum/EP – Algarve: Diogo Piçarra – South Side Boy Melhor Música – Algarve: Perigo Público & Sickonce – Benção Revelação – Algarve: Teresa Aleixo Quanto de mim
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Artes, Ciências, Cultura e Desporto: Cidade Europeia do Desporto 2019 Portimão - Desporto Prémio Mérito e Excelência: Festival MED .
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JOANA SANTOS TRAZ ZENTANGLE PARA PORTUGAL, UMA ARTE EMARANHADA COMO A NOSSA PRÓPRIA VIDA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Joana Santos
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Zentangle é um método fundado pelos norteamericanos Rick Roberts e Maria Thomas que permite a criação de imagens através do uso de padrões repetidos. Esta nova forma de arte é bastante fácil de aprender, divertida e relaxante, estimulando a atenção e a criatividade em simultâneo. E tudo surgiu quando a designer de profissão Maria contou ao marido Rick, que tinha passado um período da sua vida com monges ALGARVE INFORMATIVO #245
budistas, sobre a sensação de liberdade e bem-estar que a invadia quando desenhava padrões de fundo para um dos seus trabalhos, momentos em que, de facto, todos os pensamentos e preocupações ficavam de lado. Padrões «emaranhados» que a deixavam num estado de quase meditação, daí surgindo então o nome «zentangle», um sistema simples que se tem tornado muito popular nos últimos anos e que chegou recentemente a Portugal, mais concretamente ao Algarve, pelas mãos 36
de Joana Santos, terapeuta da fala na Fundação António Aleixo, em Quarteira.
“Há certa de três anos senti que precisava libertar a minha criatividade de alguma forma, tive aulas de teatro, depois fui para a pintura a óleo, foi uma altura de grande descoberta pessoal. Em 2018, frequentei um curso online de arte terapia, onde ouvi falar pela primeira vez do zentangle”, conta a entrevistada, que é natural de Coimbra. Joana Santos constatou, entretanto, que já existia uma forte comunidade dedicada ao zentangle em vários pontos do globo e decidiu aprofundar os seus 37
conhecimentos sobre o método.
“Gostei tanto dele que pensei imediatamente em trazê-lo para Portugal. Continuei a praticar cada vez mais e o ano passado fiz a formação oficial, tornando-me professora certificada em zentangle”, refere, garantindo que qualquer pessoa pode aprender o método, e não apenas aqueles com aptidões artísticas. Mas não basta, claro, pegar numa folha em branco e começar a desenhar uns rabiscos, esclarece a formadora. “Há quem
compare o zentangle ao doodling – esse sim é rabiscar de forma distraída – mas aqui existem ALGARVE INFORMATIVO #245
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padrões que, na hora da verdade, podemos encontrar em praticamente tudo o que existe dentro de nós, naquilo que nos rodeia, na natureza. Há alguns passos iniciais que devem ser seguidos, um ritual que é muito flexível, para que as pessoas não fiquem a olhar à toa para uma página vazia, sem saber o que fazer”, explica. Primeiro há que desenhar, então, a borda ou o limite dentro do qual serão feitos os padrões zentangle, normalmente uma forma quadrada, que deverá ser relativamente pequena, de 39
oito a 10 centímetros, para que se consiga completar de uma só vez. Depois, utilizando lápis, desenham-se arbitrariamente, dentro do quadrado, linhas e curvas, para se dividir o quadrado em pequenas secções. Após isso, preenche-se cada uma das subdivisões com o mesmo padrão, mas não é necessário pensar-se muito nos padrões a utilizar, qualquer coisa que nos venha à mente serve. E, por isso, são infinitas as possibilidades. Este passo deve ser repetido para cada secção do quadrado, podendo usar-me os mesmos padrões, variar os ângulos ou simplesmente fazer-se algo completamente distinto. E nada obriga a que o zentangle seja a preto e branco. “O resultado pode parecer
bastante complexo e difícil de ALGARVE INFORMATIVO #245
Assim sendo, se o doodling é algo inconsciente, no zentangle estamos perante um processo consciente e intencional, mas estas regras, estes passos, não chocam com a criatividade de cada praticante. “Ao princípio é
fazer, mas cada secção foi realizada individualmente. E o método acaba por ser uma metáfora para a própria vida, levando-nos a estar mais atentos aos padrões que nos rodeiam, às vezes até comportamentos que temos tendência para repetir com frequência. É uma arte emaranhada, assim como a vida é um emaranhado de relações com pessoas e com o meio-ambiente. Estamos todos interligados e, no zentangle, todas as secções, no fim, estão também interligadas”, compara Joana Santos. ALGARVE INFORMATIVO #245
sempre bom termos um fio condutor, algo que nos dê alguma estabilidade. Tendo uma base sólida que nos sustente, depois estamos à vontade para dar largas à imaginação, para extrapolar os conhecimentos e técnicas”, entende a formadora. “Quando estão a dar os primeiros passos, os alunos tentam naturalmente replicar aquilo que eu estou a fazer, contudo, com a prática, e com o mesmo padrão, são capazes de fazer coisas totalmente diferentes. É um verdadeiro paradoxo, porque a metodologia que está na base acaba por abrir portas para uma criatividade infinita”.
BOM PARA A MOTIVAÇÃO E AUTOCONFIANÇA O produto final do zentangle são desenhos abstratos, não representam nada real, o que também deixa, na 40
opinião de Joana Santos, as pessoas mais soltas, porque qualquer coisa que seja feita, está boa. Para além disso, nem é obrigatória a utilização de linhas e traços geometricamente certinhos, não se busca a perfeição, e assim encontramos outra metáfora para a vida no método. “A meta final
em qualquer ser vivo é a morte, portanto, temos é que aproveitar o percurso, divertirmo-nos durante o trajeto. No zentangle, o processo é que interessa, havendo formas retilíneas ou circulares, padrões que nos fazem lembrar tudo e mais alguma coisa. É óbvio que não podemos descartar o resultado final, há que chegar a qualquer sítio, daí a importância de se ter aulas com professores certificados no método”, aconselha. A prática leva à perfeição, embora aqui não se busque a perfeição, no entanto, é 41
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relativamente fácil perceber o estado de evolução dos praticantes deste método, na confiança dos traços e na complexidade dos padrões. “Ao fim da
primeira aula qualquer pessoa é capaz de desenhar algo que nunca imaginou antes ser possível. É essa a magia do zentangle, porque tem efeitos na nossa própria confiança. E, se conseguimos fazer desenhos assim quando acreditávamos não ter jeito nenhum para isso, que mais coisas seremos capazes de realizar na vida se nos empenharmos nelas? ALGARVE INFORMATIVO #245
Vivemos com algumas crenças e nem sequer tentamos contrariá-las, invertê-las”, lamenta Joana Santos. Motivação, descontração, meditação, muitos conceitos holísticos se associam, se repente, ao zentangle, mas que destino se podem dar aos desenhos propriamente ditos, questionamos. “O objetivo
primordial é o bem-estar que o método nos traz, mas há pessoas que fazem coisas maravilhosas, verdadeiras obras de arte 42
inspiradas no zentangle, cada qual com o seu estilo. A criatividade é ilimitada, pode-se aplicar o método na pintura, madeira, em vários materiais. Não é preciso pertencermos a uma elite para sermos artistas. Todos nós criamos, conseguimos produzir arte”, defende a terapeuta da fala, que não esconde o sonho de levar o zentangle a outros pontos do país. “Para já, sou a única
formadora certificada em Portugal e tenho aproveitado o facto das pessoas estarem em casa, em 43
isolamento, para dar a conhecer o método através da internet. A reação tem sido bastante positiva e a ideia é, quando possível, dar aulas presencialmente, porque a experiência ao vivo é completamente diferente da virtual. Estou a lançar as sementes e espero que, no futuro, haja mais interessados em tornarem-se professores, porque sozinha não consigo ir a todo o lado”, declara Joana Santos . ALGARVE INFORMATIVO #245
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CINETEATRO LOULETANO INTEGRA NA SUA PROGRAMAÇÃO PARA 2020-21 TODOS OS ESPETÁCULOS SUSPENSOS DEVIDO AO COVID-19 Texto: Daniel Pina
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m virtude da covid-19, o Cineteatro Louletano suspendeu a sua programação entre 9 de março e 23 de junho deste ano, incluindo as comemorações do seu 90.º aniversário (1930-2020) previstas para 19 de abril. No entanto, este equipamento cultural do Município de Loulé começou desde logo a trabalhar na remarcação de todos os espetáculos previstos inicialmente, garantindo igualmente o cumprimento junto de artistas e estruturas de todos os compromissos financeiros associados aos mesmos, à luz, quer dos acordos que tinham sido definidos na altura da contratualização, quer da legislação específica entretanto produzida pelo Governo para minorar o impacto da ALGARVE INFORMATIVO #245
pandemia junto do sector cultural e artístico. Assim, em estreita articulação e diálogo com o setor artístico envolvido na programação que estava planeada, foi já definido um novo calendário para o reagendamento, com a maior celeridade possível, de todos os espetáculos a partir de setembro deste ano. Mais de 50 por cento dos eventos foram remarcados para a temporada entre setembro de 2020 e janeiro de 2021, e os restantes - por razões de disponibilidade de agenda do Cineteatro e dos artistas em causa foram marcados para a temporada que decorre de fevereiro a julho de 2021. As diversas encomendas e coproduções que estavam previstas para 2020 serão igualmente concretizadas nestes dois períodos temporais. Os bilhetes que 48
foram adquiridos para os espetáculos que já estavam à venda continuarão válidos para as novas datas, sendo que, ainda assim, o público poderá, caso o deseje, solicitar o reembolso do valor dos mesmos junto do Cineteatro. A apresentação desta reprogramação artística está dependente do evoluir da conjuntura geral relativa à pandemia e das orientações entretanto emanadas pelo Governo, pela Direção-Geral de Saúde e pela Autarquia louletana, mormente no que concerne aos moldes e regras de acesso do público a salas de espetáculo. Nesta medida, e para além da programação que já estava definida antes do surgimento da covid-19 para a temporada entre setembro deste ano e janeiro de 2021, relativamente aos espetáculos remarcados, está prevista a apresentação da peça «Turismo», de 49
Tiago Correia (uma coprodução do Teatro Municipal do Porto e do Cineteatro Louletano), sobre a pertinente temática da gentrificação como espetáculo de abertura da nova temporada a 12 de setembro. Ainda na área do Teatro, três peças das quais o Cineteatro é igualmente coprodutor vão transitar para 2021. Uma delas é a estreia a sul do país da nova criação da reconhecida dupla Inês Barahona & Miguel Fragata, intitulada «Fake», que terá duas apresentações a 16 e 17 de abril, numa coprodução do Teatro Nacional D. Maria II (Lisboa), Teatro Nacional São João (Porto) e Cineteatro Louletano. Já a reposição da «Soberana, Mãe Soberana de Loulé», criação de Ana Lázaro e Ricardo NevesNeves (uma encomenda do Cineteatro estreada em 2019), acontece a 2 e 3 de abril de 2021, num total de quatro ALGARVE INFORMATIVO #245
apresentações, em véspera do Dia de Páscoa. Ainda na vertente teatral, mas agora numa dimensão mais multidisciplinar, a 21 e 22 de maio o Cineteatro acolhe a peça «Perfil Perdido», de Marco Martins, com os prestigiados Romeu Runa e Beatriz Batarda, numa coprodução do Centro Cultural Vila Flor (Guimarães), Teatro Nacional São João, São Luiz Teatro Municipal (Lisboa) e Cineteatro Louletano. Ainda na vertente teatral, o espetáculo «Gulliver», um projeto de Tiago Cadete com Leonor Cabral e Bernardo de Almeida, destinado à comunidade escolar (2.º e 3.º ciclos), será igualmente remarcado ainda para este ano durante o mês de outubro, no âmbito da oferta regular do Cineteatro dirigida à infância.
dias 1 a 4 de dezembro deste ano, marcando o início de uma colaboração regular com o renomado Grupo Dançando com a Diferença (sediado na Madeira), reflexo da estratégia programática do Cineteatro de privilegiar esta área nas próximas temporadas, numa estreita articulação e envolvimento das instituições de cariz social do concelho de Loulé. Para 12 de maio de 2021, véspera do feriado municipal em Loulé, foi remarcada a peça «O lugar do canto está vazio», numa criação conjunta da Companhia Maior com a dupla Sofia Dias & Vítor Roriz (dança contemporânea), da qual o Cineteatro é igualmente coprodutor juntamente com o Centro Cultural de Belém.
Na área da Dança, a realização do Fórum de Dança Inclusiva foi reagendada para os
Por seu lado, a Festa do Cinema Italiano, que em 2020 assinala a sua 13.ª
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edição, vai realizar-se nos dias 26 a 29 de novembro em Loulé, quer com uma homenagem a Federico Fellini a propósito do centenário do seu nascimento (19202020), quer com o melhor do novo e premiado cinema italiano. Já o Som Riscado – Festival de Música e Imagem de Loulé – evento com um conceito inédito a sul do país – transitou para os dias 19, 20, 21 e 22 de novembro, mantendo exatamente a mesma programação artística que estava inicialmente prevista e já anunciada, da qual constam os seguintes nomes: Surma com Camille Leon & Inês Barracha; os Drumming GP com Joana Gama, Luís Fernandes e Pedro Maia; Victor Gama com a Orquestra Clássica do Sul; Frankie Chavez & Peixe no projeto «Miramar» em parceria com Jorge Quintela; a estreia nacional do primeiro disco do projeto algarvio «Grafonola 53
Voadora & Napoleão Mira»; a nova criação dos Boris Chimp 504; a Sonoscopia; a Companhia de Música Teatral; e as bandas algarvias Kilavra, 2143, Mateus Verde e Heroin Holiday Big Band em colaboração criativa com alunos do curso de Imagem Animada da Escola Superior de Educação e Comunicação (ESEC) da Universidade do Algarve. No campo da Música, as três principais encomendas do Cineteatro, que já estavam anunciadas, serão realizadas nas seguintes datas novas: o Trio de Jazz de Loulé apresenta-se com Jorge Palma, num concerto inédito, a 30 de setembro deste ano, na véspera do Dia Mundial da Música; no mês seguinte, a 24 de outubro, outro momento muito aguardado com o ALGARVE INFORMATIVO #245
encontro entre a prestigiada cantora Sofia Escobar e um ensemble de docentes do Conservatório de Música de Loulé; e já em 2021, nos dias 5 e 6 de fevereiro, acontece a estreia nacional do espetáculo «Playing with Beethoven», que junta, num quarteto de luxo, Carlos Bica (contrabaixo), Daniel Erdmann (saxofone tenor), DJ Ilvibe (gira-discos) e João Paulo Esteves da Silva (piano). Ainda nos concertos, destaque-se a estreia a sul do país do novo disco, «Eva», de Cristina Branco, remarcado para 5 de outubro deste ano (feriado nacional), após uma residência artística realizada em Loulé em outubro de 2019 da qual resultou a edição de vários videoclipes filmados no concelho com temas do novo álbum, o qual contou assim com o apoio do Município de Loulé. Por seu lado, o espetáculo musical com o grupo «A Presença das Formigas» foi reagendado para o dia 17 de outubro, no âmbito do projeto intermunicipal «Central Artes – Programação Cultural em Rede», que integra as autarquias de Loulé, Faro, Albufeira, Tavira e Olhão. Já o X Fitualle (festival), da Tuna Universitária Afonsina de Loulé, ocorre a 5 de dezembro deste ano no palco do Cineteatro, numa noite em que se celebra o espírito académico com a participação de várias tunas convidadas . ALGARVE INFORMATIVO #245
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BOA ESPERANÇA APRESENTOU, EM 2019, «A CULPA É DO CU…META» Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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m 2019, a Revista à Portuguesa do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense estreou a 8 de março, sob o mote «A Culpa é do Cu…meta», “a desculpa mais usada pela nossa «Geringonça», onde os políticos nos dão tanga, com os bancos a falir, as portagens para pagar, a gasolina sempre a subir e a saúde a definhar … e assim vai o estado desta nação onde a culpa morre quase sempre solteira”, justificou o encenador e ator Carlos Pacheco. Com textos originais de Carlos Pacheco e Telma Brazona, estamos perante uma revista à portuguesa com crítica bem-humorada e que há muito deixou cair o seu teor mais local e ALGARVE INFORMATIVO #245
regional, porque o público chega de todo o Algarve e do resto do país e porque, depois de terminada a temporada no Boa Esperança, a revista vai por esse Portugal afora, de modo que as situações e personagens caricaturadas têm que ser facilmente identificáveis e assimiladas por qualquer espetador. No palco, ao lado de Carlos Pacheco e Telma Brazona estiveram Flávio Vicente, Sandra Rodrigues, Soraia Correia e Lurdes Carriçal, para além do corpo de bailarinos composto por Mariana Jobling, Filipa Goulart, Lewis Davies, Catarina Duarte e Lara Guerreiro. E o espetáculo, que voltou a dar nas vistas pela exuberância e 60
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glamour dos cenários e guarda-roupa, começou com os passageiros a embarcarem numa viagem rumo a Marte, esse planeta que está tanto na moda ao ponto de até se organizarem concursos para escolher qual a melhor receita para ali ser cozinhada. Entre os passageiros encontravam-se os inconfundíveis José Castelo-Branco e sua Betty, pelo que a revista começou logo com estrondo. Também num aeroporto aconteceu o segundo quadro, desta feita na Madeira, com uma turista dividida entre apanhar um tradicional táxi ou um veículo da uber. Depois entrou em cena a mãe do «nosso» Cristiano Ronaldo, exasperada com o rol 63
de ucranianas, italianas, brasileiras, norte-americanas e espanholas que só estão interessadas nas «bolas» do filho. E mantendo-se a toada no desporto rei, viajamos para a Academia de Alcochete, onde o ex-presidente leonino Bruno de Carvalho andava atarefado a preparar o famigerado ataque ao plantel do Sporting, saindolhe na rifa uns enviados do Centro de Emprego para a complicada tarefa. A finalizar a primeira parte, o Boa Esperança fez uma homenagem ao circo e seguiu-se um merecido descanso, para o elenco, mas também para o público, que pouco tempo de ALGARVE INFORMATIVO #245
pausa tem entre as múltiplas risadas. Porque Carlos Pacheco e Telma Brazona não davam realmente descanso à assistência, evidenciando uma química perfeita em cima do palco fruto dos vários anos que levam a trabalhar juntos. E se alguma figura lhes saltava à vista no meio da sala, seja por ser uma cara conhecida, ou pela roupa que levava vestida, ou pelo penteado que usava ou sei lá mais o quê, estava logo dado o mote para mais um improviso que não deixava ninguém indiferente. A segunda parte de «A Culpa é do Cu…meta» principiou numa escola de Ballet, com Carlos Pacheco, Telma Brazona e Flávio Vicente vestidos a rigor, três alunos de pernas tortas que não têm ALGARVE INFORMATIVO #245
jeito nenhum para dançar e que não percebem patavina do que a professora lhes tenta ensinar. A marioneta interpretada por Lurdes Carriçal deixou o público a pensar sobre o estado em que vai o nosso país, com afirmações que recolheram o aceno de cabeça de muitas pessoas. «PAN para toda a obra» retratou uma Corrida à Portuguesa onde os campinos e o cavaleiro não se entendiam sobre que termos utilizar na sua lide tauromáquica. E, antes da grande apoteose final, tivemos um fantástico «Desencalhados à Primeira Vista», com Carlos Pacheco e Telma Brazona a personificarem um casal que veio do Porto para a noite nupcial . 64
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«A FREGUESIA» DO TEATRO DO ELÉTRICO RECORDOU OS 100 ANOS DE QUARTEIRA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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m 2017, os festejos do centenário de Quarteira concluíram, a 13 de abril, com «A Freguesia», preparada pelo Teatro do Elétrico de Ricardo Neves-Neves, quarteirense radicado há mais de uma década em Lisboa. O espetáculo contou com 15 atores em cena, uma orquestra de 15 elementos, vídeo-projeção de um cenário desenhado ao vivo, e envolveu também artistas da terra, nomeadamente a fadista Isa de Brito e a cantor de hip-hop Perigo Público. Vários palcos dispostos na Praça do Mar prenderam a atenção do público e criaram uma dinâmica viva nas apresentações, numa peça de teatro sobre a Identidade, a Tradição e a Contemporaneidade de Quarteira que foi ALGARVE INFORMATIVO #245
encomendado a Ricardo Neves-Neves pela Câmara Municipal de Loulé. “É
uma homenagem aos quarteirenses onde damos a voz às gentes da terra. O texto está construído sob a forma de depoimento e cada personagem fala da sua vida em Quarteira, seja agora ou antes do boom do turismo”, explicou o encenador, indicando que foram feitas imensas entrevistas pessoais a cidadãos da freguesia. A esse trabalho no terreno somou-se uma investigação sobre todos os momentos relevantes da história de Quarteira e utilizou-se algum material da autoria de Raul Brandão, de quem se celebra, em 2017, os 150 anos do 74
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nascimento. “O seu livro «Os
Pescadores», apesar de não ser passado em Quarteira, refere-se às pessoas do Algarve e à dureza da relação das gentes da pesca com o mar e com todas as condicionantes que eram impostas pelo clima. De repente estavam 20 dias impedidas de irem ao mar por causa do mau ALGARVE INFORMATIVO #245
tempo, sem terem qualquer sustento”, contou. A poesia de José Gomes Ferreira, mais conhecido como Poeta Pardal, de Quarteira, também se encontra no enredo de «A Freguesia», com este «cozinhado» a ser complementado com textos originais do próprio Ricardo Neves-Neves. Depois, em palco, estiveram os atores Ana Valentim, 76
destino turístico de massas. “É o
momento em que perde a sua identidade, em que vê as suas tradições irem por água-abaixo, numa viragem menos feliz que a cidade continua a enfrentar, de uma certa desorganização urbanística em que se destruiu o velho para se construir o novo. Contudo, há o «velho» e o «antigo» e há tradições que se devem manter e uma identidade que há que preservar para deixar testemunho”, distinguiu. As palavras do dramaturgo e encenador confirmam que, apesar de ser o encerrar de um programa comemorativo, não houve a tentação de se romantizar a história de Quarteira, de tornar tudo «ouro sobre azul». “Não há nenhuma cidade ou
Bruno Xavier, Catarina Rôlo Salgueiro, Elsa Galvão, Joana Almeida, Joana Campelo, Joana de Carvalho, Márcia Cardoso, Rafael Gomes, Rita Cruz, Rui Melo, Sílvia Figueiredo, Tadeu Faustino e Vítor Oliveira, com a participação especial de Maria João Luís, para além de uma orquestra montada de propósito para este espetáculo e de uma banda de metal, os «Sinistro», que assinalaram a viragem da pequena aldeia de Quarteira para 77
pessoa cujo percurso seja todo bonito e temos que contar as grandes aventuras, as histórias de amor, os falhanços e as conquistas. Tudo isso está neste espetáculo porque não queríamos estar aqui a contar uma mentira”, frisou Ricardo Neves-Neves. “Estamos em Quarteira e vemos as dificuldades que a cidade ainda apresenta, os problemas que ainda estão por resolver, mas também a enorme qualidade de vida que tem. Vivo em Lisboa há 13 ou 14 anos e sei perfeitamente
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o que só encontro aqui, na terra onde nasci”, reforçou o entrevistado. Dezenas de elementos em ação constante, entre atores e músicos, mas nada de bastidores, porque não se tratava de um espaço cultural tradicional, ou seja, tudo foi feito a céu-aberto, para todos verem. “O dispositivo cénico é
num primeiro plano muito simples, não há hipóteses de fazer uma composição complexa em termos de dinâmica de espaços. Mesmo assim, usámos quatro planos: o estrado que é o palco principal, que contempla também uma elevação, para além do terraço da galeria e do terraço de uma casa privada. Foi uma sucessão de várias cenas, de diferentes histórias, com os atores sempre em palco. Mesmo que só ALGARVE INFORMATIVO #245
estivesse a falar um, havia sempre qualquer coisa a acontecer e todas as personagens tinham uma vida própria”, indicou. Um espetáculo difícil que começou a ser ensaiado, em Lisboa, em fevereiro desse ano, depois de ter terminado a fase de investigação e conceção do texto, que durou quatro meses. Já em terras algarvias, seguiram-se três dias de intensos ensaios no Cine-Teatro Louletano, antes do ensaio geral na quarta-feira, na Praça do Mar. Um regresso que, apesar do ritmo frenético, era há muito aguardado por Ricardo Neves-Neves. “Estava com
bastante vontade de fazer um espetáculo sobre Quarteira e em Quarteira, embora já tivesse trazido outras peças a Loulé”, rematou o entrevistado .
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OFICINA DE FORMAÇÃO DE ATORES DO TEATRO DAS FIGURAS DEU ORIGEM A «MORREU PAVAROTTI» Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #245
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á coisa de dois anos estreou, a 24 de abril, «Morreu Pavarotti», o resultado de sensivelmente um ano de Oficina de Formação de Atores sob a orientação dos formadores Miguel Martins Pessoa e Diana Bernedo e com coprodução do Colectivo JAT - Janela Aberta Teatro. A criação foi inspirada em notícias de jornais, uma série de trabalhos ALGARVE INFORMATIVO #245
realizados nas aulas, de géneros e estilos diferentes, combinando muito humor e poesia visual. Depois, em palco, vivenciaram-se histórias reais que convivem com o turbilhão do dia-adia, com interpretação de Ana Lima, Anabela Ribeiro, Carolina Teixeira, Cristiana Reis, Gina Menau, Graça Madeira, Joana Santos, Manuel Soares, Marco Martins, Maria Cristina Silva, Nuno Murta, Nuno Ribeiro, São Rua, Sónia Fialho e Suzzane de Sousa . 88
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OPINIÃO Do Reboliço #81 Ana Isabel Soares (Professora) s aguaceiros de abril são a alegria do Inverno a brincar com a Primavera: o cinzentão anda feliz, que larga o turno; ela, ansiosa por se exibir, chega feliz, e competem na dança. “Traz-me dessa água”, diz a Primavera, “para pintar estas flores todas”. O Inverno manda-lha, despachando as gotas que sobraram, ou nem se dignaram a cair no tempo anterior, no tempo delas (como se não fosse da água todo o tempo, o tempo todo), e nisto ambos se alegram. Quem não tem a vida facilitada, claro está, é o Reboliço. Salta o sol a acender o dia inteiro, abre a rua, as pedras, o trigo a crescer, e o cão quer sair a cheirar as flores novas e a adivinhar-lhes a cor. Abala, estrada abaixo, coto de cauda no ar, alegria colada à sazonal alegria. Se é de tarde, deixa-se encantar com a iridescência dos lírios do campo – vê os roxos, o pequeno dentro das pétalas de risco preto e amarelo, vê uns poucos branquinhos – antes de os virem destruir aqueles escaravelhos compridos e articulados a que chamam arrebentabois; detém-se porque todas as Primaveras o intriga a humildade das folhas, de unida cor monótona, que só na forma variam e deitam, no tempo em que ALGARVE INFORMATIVO #245
deitam, a concorrer com veemência, tanta, ao mundo tão diversa coloração. Distrai-se com a desventura de cada flor e mais o distrai o canto aquático da codorniz (soa-lhe a um soluçar debaixo de água), que nem dá pelo ar que arrefeceu um grau pequeno e ventou. É quando está já longe da casa que escuta o bruááááá de um trovão a aproximar-se e o bicho todo se retesa, no pavor que tem às trovoadas – abre os olhos, admirado da sua própria distração, gira o corpo para o lado contrário àquele para onde continuava a seguir, e trota de regresso ao monte do Moinho Grande, aflito por ver que a terra seca do caminho se vai inçando de redondéis: cada gota grossa que cai escurece o pó, nada tardará a unirem-se gotas a gotas, medalhas às antigas medalhas que fazem iguais as pedras, covas, lesmas, escaravelhos e caracóis, e ele a sentir as almofadas das patas cada vez mais frias. Ah!, quem me mandaria a mim largar de ao pé do lume, quando há pouco me pareceu tontice do moleiro acendê-lo num dia tão aberto? Já a água lhe passa do pelo à pele, da pele aos nervos, dos nervos aos ossos e o Reboliço, arrefecido, olha à volta a procurar para onde terá fugido a Primavera, que não há nada de tempo ali estava (escondeu-se do Inverno, o bicho é que não sabe do jogo). À chegada está o 100
Foto: Vasco Célio
dono do lado de dentro e abre a porta ao suplicante olhar. “Por onde andarias tu, desassossegado...? Raios partam o cadelo, que só quer é andar aos cheiros!”. Sentada a atiçar o lume, a mulher do moleiro volta-se para a janela e vê entrar o clarão gigante de um relâmpago. O Reboliço baixa a cabeça, esconde-a entre 101
as patinhas da frente e ouve-a dizer: “Ainda bem que ele já veio: agora deu em caírem os perigos” . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #245
OPINIÃO Libertem-se uns aos outros Fernando Esteves Pinto (Escritor) “O homem é livre; mas ele encontra a lei na sua própria liberdade”. Simone de Beauvoir
ensagem do Papa Francisco em oração na Praça de São Pedro deserta: não é preciso entrar numa igreja para rezar. O espaço do sagrado está no vosso espírito. Um homem num mundo vazio. Não se trata de uma lamentação universal, embora os seres humanos fossem retirados do mundo. Mas não há razão para entrar em pânico: o sentimento prossupõe que ainda há uma profundidade. A oração contém algo de assimilação gratificante. Uma fantasia religiosa. Uma possibilidade de fé absurda. Ao mesmo tempo é um grande elogio humano: dareis tudo para ver o vazio, assim como eu vos vejo através da ausência. Ainda não houve multidões destinadas a este ofício de escutar o tempo a falar por si: este vazio tão cheio de vidas. Ideologia: a democracia não é uma vacina contra a pandemia. A soberania é pouco tolerante para com a liberdade. É tudo menos uma coisa democrática. É um constrangimento que nos justifica perante a realidade. Um acanhamento de viver numa situação de responsabilidade ALGARVE INFORMATIVO #245
colectiva. Porém, a agradável esperança é que a razão individual descobre os seus valores nos significados interiores: uma coisa tão óbvia como ter pensamentos. Não tenho a certeza de ser livre. Há uma lei muito impaciente a consertar as minhas acções. Há duas liberdades: o direito e o dever; a razão e a diferença ou irrealidade. O desafio é ir até ao fim do caminho e voltar a pensar nas coisas perdidas e conquistadas. Às vezes, ter razão é fugir dela: ser livre é abominar obstáculos e resistências. Eliminar opções, vontades poderosas, desprezar certas ambições. Nenhuma sociedade reconhece a liberdade inocente. Uma liberdade a partir da vida zero; da vida primária. O homem suficientemente forte é o mais inocente. A sua individualidade é incógnita, enormemente identificada com o seu espírito. Ninguém adivinha um espírito e lhe dá a devida importância. Na verdade, a sociedade teme a individualidade; teme quem se declara inocente, propriedade de si próprio, anónimo e livre; consciente da sua verdade: é no zero que se é mentalmente sensato.
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Outra ideologia: em nome da democracia, uma multidão domina a liberdade individual. A inteligência da contaminação. É o início de um acidente moral: o poder ilegítimo de decidir cruzar as fronteiras das nossas diferenças e ocupar o nosso espaço. Numa multidão o que está em causa é o direito à consciência do outro. É uma composição 103
favorável à maldição, sob a influência de uma natureza que sempre negou a ordem e as formas normativas da própria existência. Os actos simbólicos não têm de ser contínuos: o desejo de querer excessivo é um sério inimigo. Permeiam no mesmo espaço de liberdade a honra e a calamidade colectiva .
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OPINIÃO A verdadeira importância de Festivais e Mostras de Cinema Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) á faz algum tempo que vi o filme «Amor, Avenidas Novas». Foi uma curtametragem que passou em várias sessões no IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema.
participar e/ou ganhar prémios em festivais, estes promovem um leque de oportunidades únicas.
Ter tido a possibilidade de ver este filme que gostei tanto fez-me refletir sobre a importância dos festivais de cinema. Afinal, se não tivesse estado presente neste evento, provavelmente nunca veria esta pequena pérola.
A primeira que quero frisar é a possibilidade de mostrar filmes independentes a espetadores que normalmente não teriam possibilidade e/ou interesse em os ver. Ou seja, sabemos que as grandes produtoras – geralmente americanas – investem imenso na promoção dos seus filmes e blockbusters. As suas campanhas são moldadas para atingir o mundo. Desta forma, a maior parte das salas de cinema apostam em filmes «mais seguros» e que prometem um bom retorno. Filmes mais experimentais ou curtas-metragens encontram limitações para chegarem ao público geral. Mas com os festivais e mostras de cinema, estes conseguem assim, apesar de uma forma seminuclear, serem vistos. O que pode acontecer posteriormente, se a receção for positiva, é esse filme encontrar a possibilidade de uma distribuição em maior escala. O que me faz passar para o ponto seguinte.
Embora acredite piamente que o valor de um filme não se mede unicamente por
A grande parte de quem faz questão de ir a festivais de cinema é pessoal que
Esta deliciosa curta, realizada por um jovem chamado Duarte Coimbra, conseguiu encher o Cinema São Jorge em Lisboa de gargalhadas sonoras e ainda arrecadou o prémio «Novo Talento» no Festival. Este filme de 20 minutos é descrito como: “Uma encantadora fábula sobre o romantismo: Manel atravessa Lisboa com um colchão às costas e decide fazer uma pausa. Nem de propósito, entra na rodagem de um filme onde conhece Rita e tudo volta a fazer sentido”.
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carreira», mas ir com um espírito aberto e procurar também o que podemos fazer pelos outros e como relações mutuamente benéficas podem gerar novos projetos criativos. Outro elemento importante é a aprendizagem. Mais e mais festivais decidem incluir ciclos formativos, masterclasses e workshops no seu programa. Alguns apresentam um caráter mais técnico e específico, enquanto outros são mais gerais. Ou seja, não são exclusivos «para quem está na área», muitos workshops são abertos ao público, o que é maravilhoso.
trabalha na área. Para além dos realizadores dos filmes, encontramos os seus amigos e família, mas também técnicos, diretores de fotografia e som, atores, produtores e distribuidores. O que torna os festivais extremamente apelativos para criar novas relações profissionais. Sabemos que fazer filmes é um tipo de arte coletiva, logo, este tipo de eventos é ideal para expandirmos o nosso círculo de conhecidos. Não me refiro a ir só com o intuito de «ver o que conseguem fazer por mim e pela minha 105
E, por último, seja qual for o género, horror, comédia, drama, político, documentário, animação, etc., os filmes lançam sempre achas na fogueira. Podem ajudar-nos a abstrair do nosso quotidiano, permitem-nos assistir a brilhantes interpretações, melhoram a compreensão do mundo e podem servir como ponto de partida para conversas mais profundas sobre assuntos que nos rodeiam. Por isto e por muito mais. Obrigada a todos os que trabalham, muitas vezes em modalidades voluntárias, na organização e execução de festivais e mostras de Cinema pelo nosso país . ALGARVE INFORMATIVO #245
OPINIÃO O Momento é Agora! João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) uma recente conferência sobre turismo, ouvi uma interessante expressão que ficou gravada na memória: “Para mudar o rumo de um curso de água, é melhor fazê-lo quando este estiver seco”. Uma analogia bastante pertinente e adequada aos tempos que vivemos hoje. É geral (ou quase) o sentimento colectivo de que existe uma excessiva dependência económica do Algarve pelo sector do Turismo. E, claro, subsequentemente quando este «treme», há toda uma cadeia de valor que vacila ou simplesmente desmorona. O impacto do coronavírus tem amplamente evidenciado esse fenómeno. Basta analisar os recentes números do desemprego divulgados pelo IEFP ou da quantidade de empresas algarvias que recorreram às ajudas do governo para mitigar a crise instalada. Economistas, empresários e investigadores têm vindo a sensibilizar e apelar ao longo de vários anos, para a necessidade da região redefinir o seu modelo de desenvolvimento e encontrar um caminho menos submisso de um único sector. A estas vozes, outras ainda se têm juntado, advogando um caminho ALGARVE INFORMATIVO #245
mais sustentável para o próprio turismo. Mas as mensagens têm caído, na sua maioria, num esquecimento atordoante, irritante até. Por muito urgente que achemos essa mudança necessária, há todo um status quo que ninguém parece querer ou atrever alterar. Apesar da desgraça geral deflagrada pelo Covid-19, há pelo menos um aspecto positivo que o mesmo nos impôs: a obrigação em reflectirmos sobre o nosso modo de vida. Na prática, a quarentena decretada, junto com o estado de emergência, transportou-nos para um momento de «pause» e «reset» de muita da actividade profissional e social da região, dando espaço a uma paragem (involuntária) que pode e deve ser aproveitada para levar por diante essa reflexão e, sobretudo, para iniciar a construção de um modelo de desenvolvimento mais equilibrado e sustentável. Como? Uma simples e complexa pergunta, sem dúvida. Mas certamente com opções de resposta. Basta para tal que os organismos responsáveis pelas várias pastas governativas (Turismo, Ambiente, Agricultura, etc.), munidos de técnicos competentes e dedicados, formulem uma estratégia participada 106
para o Algarve, assente num novo paradigma onde se privilegie a sustentabilidade territorial, a qualificação, a cultura, a valorização do património, a inovação e a criatividade, o conhecimento, a coesão, a solidariedade, a partilha, entre outros valores que contribuam para um Algarve moderno e digno de uma Europa do século XXI. Não podemos continuar a promover um turismo desregrado, onde o imobiliário impere e mande, onde o emprego continue precário e desqualificado, onde a agricultura não tenha em conta os limites impostos pela natureza, nomeadamente ao nível da disponibilidade dos seus recursos, onde o transporte ferroviário é aquilo que todos sabemos, onde a diferença entre litoral e interior continue abismal, entre muitas outras questões. Tal como na expressão referida no início, estamos a viver um momento de «seca» no qual podemos mudar o rumo 107
do «curso de água». Senão todo, pelo menos de uma parte. E isso já seria uma excelente conquista do enorme esforço de isolamento e privação a que fomos (e estamos) sujeitos. Mas tem de ser agora. É este o momento . ALGARVE INFORMATIVO #245
OPINIÃO Onde reside a liberdade? Nuno Campos Inácio (Escritor e Editor) Edifiquei a minha casa sobre o nada. Por isso o mundo inteiro é meu. stas palavras de Goethe transportaram-me para outros tempos, inspirando o artigo desta semana. Por breves momentos recordei a evolução humana desde a Pré-história até ao Renascimento e, em todos os percursos, em todas as sociedades e civilizações, encontrei o Homem na sua vertente de «peregrinus», de homem livre em terra alheia, «que viaja para longe». É certo que o desenvolvimento humano esteve dependente da sedentarização, mas essa fixação do Homem à terra deveu-se mais a uma questão de comodidade do que a uma real necessidade ou apego aos bens materiais que, na maioria das sociedades, eram propriedade de poucos privilegiados. A ausência de uma casa própria e de bens materiais, incentivava o Homem à demanda, em busca de um maior conforto e da sensação de uma maior felicidade. Todas as religiões foram fundadas por desenraizados em peregrinação; exércitos tomaram territórios e criaram estados; famílias inteiras deslocaram-se em busca de um ALGARVE INFORMATIVO #245
paraíso na Terra. Peregrinos Fenícios, Egípcios, Gregos, Celtas e Cartagineses estabeleceram antigas colónias na região algarvia; peregrinos romanos aí fundaram cidades; peregrinos Suevos e Visigodos destruíram o império; peregrinos Árabes conquistaram o território; peregrinos Francos e dos antigos Reinos Ibéricos fundaram Portugal; peregrinos portugueses e castelhanos conquistaram o Algarve; peregrinos portugueses e algarvios desbravaram o mundo, em busca de riquezas. No entanto, o sonho da acumulação de riqueza, com vista à obtenção de melhores condições de vida e de uma maior liberdade, produziu efeito contrário. Na verdade, quanto maior a riqueza acumulada, maior é a sua prisão e mais limitada fica a sua peregrinação. Se, antigamente, o ser humano deslocava-se em busca de melhores condições de vida, actualmente está confinado à sua casa e ao seu património material. É com base na localização da sua riqueza material, que o Homem das ditas sociedades modernas e desenvolvidas organiza a sua vida, limitando as suas escolhas de emprego, de constituição de família, as suas projecções, os seus horizontes e, 108
necessariamente, todo o seu mundo. O Renascimento, com o denominado «Humanismo», deu ao Homem a possibilidade de adquirir tudo o que o dinheiro pudesse comprar, mas passou a amarrar a vida de cada humano a tudo o que ele adquirir. Hoje o Homem pode viajar mais, pode ir trabalhar para longe, mas está sempre obrigado ao regresso para junto do que diz ser seu, mas que jamais levará consigo no término da vida. Muitos são os viajantes, mas poucos são os «peregrinus», que ainda habitam na Terra. Em verdade, só quem não possui nada de seu, ainda se poderá sentir livre para caminhar. Fazer do mundo a nossa casa e não da nossa casa o mundo, será talvez o desafio de libertação mais difícil e importante para as gerações futuras. O mundo precisa urgentemente de novos «peregrinus», de homens livres em terra alheia, porque todos os recantos da Terra passaram a ter um dono. A humanidade necessita de novas luzes que guiem o 109
caminho dos estáticos, que abram novos horizontes civilizacionais. Há muito que está estipulado que a vida humana não tem preço, mas ainda está por deliberar que a manutenção da vida humana não deverá ter um custo. A civilização futura terá de passar pelo centrar toda a riqueza no Homem e não todo o homem na sua riqueza . ALGARVE INFORMATIVO #245
OPINIÃO Uma salva de palmas a todos os Municípios Luís Matos Martins (Empresário e Docente Universitário) imos de um contexto de incêndios, onde só em 2019 foram registadas mais de 10 mil ocorrências, resultando em mais de 41 mil hectares de área ardida. Os municípios rapidamente desenvolveram planos de contingência que permitissem a preservação dos territórios, tendo capacidade de resposta face aos desafios. Estamos agora perante uma nova realidade, provocada por este inimigo invisível que é o COVID 19, face à qual autarcas e técnicos de município se anteciparam na identificação de soluções que pudessem dar aos cidadãos a continuidade das suas rotinas. Não fosse eu empreendedor, aproveito para tirar partido da oportunidade de escrever este artigo para reconhecer o trabalho exímio de autarcas e técnicos de município a nível nacional que tiveram a capacidade, mais uma vez, de desenhar planos de contingência para algo que ninguém estava preparado num ápice de um caso por território. Por isso, estou muito grato, enquanto cidadão, por todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido: ALGARVE INFORMATIVO #245
pela criação de hospitais de campanha, donativos, apoio financeiro disponibilizado pelas autarquias para dar resposta às necessidades dos hospitais públicos, contribuindo para o aumento de ventiladores disponíveis. Não querendo ser excessivamente otimista ou mal-interpretado por alguns autarcas, creio que esta será uma oportunidade única para liderar a mudança e ter impacto na sociedade e na população local. Vamos continuar a focar-nos na solução e não no problema, não só ao nível da saúde pública, mas também tendo um olhar sobre as questões relacionadas com a atividade empreendedora e empresarial. Devemos começar a preparar o regresso dos munícipes às suas atividades comerciais, continuando a afirmar cada território com a sua identidade. Estou convencido de que os municípios deverão liderar este regresso, ao facilitarem a criação de algumas medidas, não só ao nível dos serviços, mas também ao nível do associativismo, sugerindo algumas práticas e procedimentos que garantam as condições de higiene e segurança. Creio que todos os territórios deverão ter um plano estratégico, não só ao nível da sua visão e propósito, mas 110
também ao terem várias medidas de ação a curto prazo e de efeito imediato. Estes planos estratégicos deverão ser compostos por ações específicas e focadas para este primeiro ano. A ideia será que os municípios possam criar uma equipa responsável pela implementação deste plano, à semelhança de um gabinete de intervenção em crise, onde nos primeiros seis meses estarão focados na época alta e no segundo semestre terão o seu foco na época baixa. Destaco algumas providências como os turnos rotativos e a calendarização de diferentes dias de trabalho para diferentes equipas de projeto e a criação de procedimentos de entrada e saída dos edifícios, das viaturas e da utilização dos equipamentos. Vivemos num país onde o turismo representa uma das maiores forças económicas, representando cerca de 12% do PIB nacional e com receitas a rondarem 111
17 mil milhões de euros anuais. Saliento que esta pandemia já provocou uma queda elevada na hotelaria, onde 80% dos hotéis estão fechados e mais de 90% das unidades avançaram com o layoff. Assim, devemos estar conscientes de que, se antes as pessoas procuravam «boa cama, boa mesa» aquando da escolha dos seus destinos de férias, agora procurarão «Safe and Clean», tal como sugerido pelo Turismo de Portugal com a criação deste novo selo de qualidade. Assim, os turistas estarão interessados em ver qual estratégia do local para onde pretendem ir a nível de higiene e segurança. Acredito que o território que se conseguir destacar mais por ter uma atitude «Safe and Clean» será aquele que terá maior predominância no mercado e aquele mais se conseguirá afirmar .
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OPINIÃO A retoma da restauração - o que vai/precisa mudar Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) universo de alguma forma nos mantém «espertos», cuidando para que nos renovemos ou nos adaptemos. Parar é morrer e acreditar no sim, nós podemos, faz toda a diferença entre agir e ficar «especado», à espera que a chuva passe e com ela a oportunidade de voltarmos às nossas vidas da melhor forma possível. “Nada será como antes” não me parece demasiado forçado e castrante, pois, se quisermos vencer e vender, teremos que Ser, não Parecer. A vigilância de quem nos visitar doravante será cada vez maior, querendo certezas quási absolutas. Acredito que a dimensão dos restaurantes não será de alguma forma a condição – sem a qual não pode ser – para que se faça negócio na área da restauração, mas sim a capacidade de mostrar sem sombra de dúvida o quanto respeitamos os nossos clientes. Há muito que desejava que a ação de separar o trigo do joio acontecesse, mas, ALGARVE INFORMATIVO #245
de forma natural, teria que eu que esperar sentado, pela incúria do estado e leviandade humana. O COVID19 veio trazer uma janela de oportunidade a todos, restauradores, cozinheiros, indústria da restauração em geral, mas também aos amantes da cozinha e das experiências gastronómicas, às famílias, aos consumidores em geral. Do nosso lado, profissionais / restaurantes / restauradores: - Teremos todos de valorizar em cada detalhe a oferta; - De nos abrirmos a não tão novos conceitos, como o takeaway e outras plataformas; - De darmos formação às equipes e de as valorizarmos; - De uma vez por todas percebermos a importância da gestão financeira dos restaurantes; - De preferirmos, de uma vez por todas, ter menos mesas e mais satisfação, melhor serviço, percebendo que menos pode ser mais; - De termos melhor e maior respeito pelas regras e pelos clientes; 112
- De entendermos o que é a concorrência e como podemos tirar partido dela; - De como os clientes entenderão que entre eles serão também uma ameaça à sanidade, haverá necessidade de, cumprindo a regra do distanciamento, aumentar o intervalo de espaço entre 113
mesas e de introduzir, realçar e melhorar a prática das reservas e dos horários/turnos para comer e ainda de criamos alternativas às ementas e a forma de as vermos e de escolhermos o que queremos; - Precisaremos de mostrar de forma bem visível e inequívoca, quantos ALGARVE INFORMATIVO #245
trabalhadores temos, quem são e de que forma se encontram em relação ao COVID19 ou outras doenças, comprovadas com testes indicativos de recuperação – se não fomos contagiados, se ganhamos imunidade, se recuperamos de contágio. Testes como os que se faziam antigamente a doenças respiratórias, serão ativados; - Atenção especial a restaurantes que trabalham em modo Bufete, onde a comida deverá obrigatoriamente estar visível, mas de utilização direta vedada ao consumidor, sendo o serviço de colocar no prato ter que ser feito por empregados; - A verificação de cumprimento de todas as diretrizes já anunciadas ou anunciar sobre o distanciamento entre mesas, higienização, etc.; - Imposição a todos os manipuladores de comida ou transporte da mesma (serviços de entrega e venda de alimentos); - Muito provavelmente a não possibilidade de mais do que quatro pessoas /clientes na mesma mesa. Do lado dos clientes: - Valorizarão muito mais o conceito de cozinha aberta, ementa pequena e em transformação; - Terão mais atenção nas datas, nos acontecimentos e nas regras, elogiando e preferindo equipas alegres, com brio pela farda, de touca e EPI – equipamentos de ALGARVE INFORMATIVO #245
proteção individual, como luvas, mascaras e viseiras*; - Verão com melhores olhos a prática do «comer local» da «Cozinha da mãe e da avó», de uma cozinha feita sem muita manufaturação (entenda-se, uso desmesurado das mãos) e de uma cozinha feita com produtos da região, mais simples, menos sofisticada. * Sobre as máscaras, talvez sejam interessantes para quem não tem necessidade de falar e não usa óculos. Já para quem tem necessidade de falar (comandar, instruir), verá que terá muita dificuldade em respirar e até de ver, já que os óculos se tornarão baços pelo vapor libertado. A viseira, sim, será um elemento essencial e dinâmico. Só teremos que escolher o mais versátil e apropriado às diversas funções. As regras sempre foram necessárias e o uso e cumprimento delas ditarão a diferença. Desta vez, terá que haver obrigatoriedade, já que as sementes das consequências desta pandemia servirão para nos proteger de qualquer uma que possa vir. Um abraço com esperança de retoma rápida. Saudações gastronómicas .
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #245
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