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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 9 de maio, 2020
ALGARVE PREPARA-SE PARA UM VERÃO COM MENOS TURISTAS, MAS COM A MESMA QUALIDADE «CARTAS DE DAMASCO» | «SEATTLE» | «SEM RETORNO» 1 INFORMATIVO #247 «TEMPESTADE» | WALKING FESTIVAL AMEIXIAL | «A BALLETALGARVE STORY»
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98 - Walking Festival Ameixial
84 - «Tempestade» de Shakespeare ALGARVE INFORMATIVO #247
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OPINIÃO 114 - Paulo Bernardo 116 - Mirian Tavares 118 - Ana Isabel Soares 120 - Antónia Correia 122 - Fernando Esteves Pinto 124 - João Ministro 128 - Luís Matos Martins 130 - Augusto Pessoa Lima
60 - «Seattle»
48 - «Cartas de Damasco»
34 - «A Ballet Story»
14 - Algarve prepara-se para o Verão 7
72 - «Sem Retorno» ALGARVE INFORMATIVO #247
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ALGARVE PREPARA-SE PARA UM VERÃO COM MENOS TURISTAS, MAS COM A MESMA QUALIDADE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Rickytravel iniciou, no dia 6 de maio, uma série de conferências online com o intuito de prestar uma informação cuidada e credível aos seus clientes, bem como a todos aqueles que estejam a pensar passar férias do Algarve, para além de apoiar as unidades hoteleiras na ALGARVE INFORMATIVO #247
divulgação das medidas específicas que irão implementar no cenário de pandemia covid-19 que vivemos. Como será gerida a ocupação das praias? Que medidas de proteção para clientes e funcionários existirão nos hotéis? Qual a lotação e como serão os serviços de alimentação e bebidas? São, de facto, muitas as dúvidas que se colocam neste momento e, para 16
todas as pessoas, acreditamos que, a partir de meados de junho, já possamos ter praias abertas e unidades hoteleiras a funcionar. E, face a isso, nota-se um maior interesse por parte do mercado nacional no Algarve, apesar de esse interesse ainda não se refletir em novas reservas”, explica Ricardo Sobral. “Só tendo confiança no destino é que os clientes irão fazer as suas reservas, portanto, há que dizer concretamente aquilo que o Algarve está a preparar para o Verão, quais as novas regras que existirão. Mas transmitir confiança passa também por evidenciar que o Algarve continua a ser um destino de grande qualidade”, reforça o empresário. Ricardo Sobral recorda que os atrativos naturais da região e que a qualidade das infraestruturas e dos recursos humanos, que a riqueza das nossas tradições, história, cultura e gastronomia, não saíram beliscados com o drama do covid-19. “Convém responder a algumas delas, nesta manhã estiveram à conversa Isilda Gomes, Presidente da Câmara Municipal de Portimão, Fernando Rocha, Administrador do Grupo RR Hotels, Eliseu Correia, CEO da EC Travel e Ricardo Sobral, CEO da Rickytravel. “Se esta
pandemia continuar a evoluir de forma favorável, para o que é fundamental a responsabilidade de 17
lembrar que as unidades hoteleiras algarvias, e portuguesas, já há muitos anos que cumprem medidas bastante rigorosas em termos de higiene, limpeza e segurança alimentar, o que as deixa mais aptas para lidarem com as novas regras que terão que ser implementadas. Por ALGARVE INFORMATIVO #247
isso, há que passar esta informação aos clientes com honestidade e credibilidade”, sublinha o CEO da Rickytravel. “Este ano, as decisões dos clientes serão tomadas tendo em consideração três fatores-chave: preço, qualidade e segurança. Temos uma hotelaria extremamente empenhada e desejosa de reabrir para receber turistas de braços abertos, com qualidade e com todas as questões de segurança necessárias. Por outro lado, temos muitas pessoas que têm consciência de que, este ano, será bastante mais seguro gozar férias em Portugal do que ir para o estrangeiro”, acrescenta.
Depois, tivemos excelentes profissionais a cuidar dos infetados”, realça Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão. “Estamos
preparadíssimos para receber os turistas, mas isso não significa que o covid-19 entre em férias. Como tal, temos de ser todos responsáveis. Os que cá estão, para criar condições para
O concelho de Portimão foi o primeiro do Algarve a ser afetado pelo covid-19, mas é também um dos que, neste momento, apresenta uma situação mais favorável, graças às medidas que foram rapidamente introduzidas pela autarquia local. Uma boa notícia para os milhares de portugueses e estrangeiros que todos os anos elegem este território para os seus momentos de lazer. “Dos 35 infetados
que tivemos em Portimão – e a esmagadora maioria deles não apanhou o vírus cá – já só temos três, ou seja, recuperaram 32 pessoas. Isso demonstra o bom trabalho que foi feito, em termos de prevenção e proteção dos cidadãos. Fomos pró-ativos e as medidas que implementamos permitiram estancar a propagação do vírus. ALGARVE INFORMATIVO #247
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recebermos, o melhor possível e com toda a segurança, os visitantes. Quem nos visita, para cumprir com as regras estabelecidas para evitar a propagação do vírus”. As praias do concelho de Portimão são das mais procuradas pelos turistas durante o Verão, mas Isilda Gomes ainda não tem dados definitivos sobre quando reabrirão e como irão funcionar. “Mas as
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praias vão ser abertas, sem dúvida alguma. Não passa pela cabeça de ninguém que não possam ser frequentadas, embora saibamos que a carga terá que diminuir. Se terá que haver uma distância maior entre os cidadãos, é óbvio que não podemos ter 17 mil pessoas na Praia da Rocha”, reconhece a edil portimonense.
“Temos praias enormes no
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concelho de Portimão, das maiores de Portugal, portanto, acredito que não iremos ter problemas com essa carga, até porque, certamente, os turistas estrangeiros não virão todos este ano para o Algarve. Mas isso não acontecerá por falta de vontade deles”, salienta Isilda Gomes. “No mercado britânico, por exemplo, a imagem do Algarve é tão positiva que está a observar-se uma corrida às agências de viagens para se tentar marcar férias. O problema é que nem sabemos se o espaço aéreo vai ser reaberto até lá, portanto, só contamos praticamente com os portugueses. E, assim, naturalmente que haverá espaço para todos, não chegaremos
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ao ponto de precisarmos expulsar pessoas das praias”, acredita. Isilda Gomes indica ainda que Portimão não tem apenas praias paradisíacas, há muito mais encantos para se descobrirem, nomeadamente no interior, dando como exemplo a freguesia da Mexilhoeira. “É bom que
os turistas optem por conhecer o concelho na sua globalidade e não ir apenas à Praia da Rocha, Praia de Alvor ou Praia do Vau”, aconselha, anunciando, entretanto, que não deverão acontecer concertos de massas durante o próximo Verão em Portimão. “Acho que é algo
perfeitamente compreensível, porque os turistas não querem ir de férias para um sítio onde possam ser infetados. E, nesse sentido, os nossos hoteleiros 20
estão a fazer um trabalho extraordinário, a desenvolver respostas eficazes e eficientes e mostrando-se disponíveis para aplicar todas as medidas de segurança que sejam definidas pelas autoridades de saúde”, enaltece a autarca. “Durante a pandemia, a Subcomissão de Proteção Civil reúne-se todos os dias para que não fique nenhuma ponta solta, temos gente trabalhadora e dedicada na hotelaria e restauração,
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profissionais de saúde de alto gabarito, forças de segurança de enorme qualidade, portanto, estamos preparados para receber quem nos visita”.
HOTELEIROS APTOS PARA LIDAR COM A PANDEMIA O turismo foi, sem dúvida alguma, fundamental para Portugal ultrapassar a crise económica que nos afetou há alguns anos, o país estava na moda, somou inúmeros prémios e distinções
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internacionais, mas é também agora um dos setores mais afetados pelo coronavírus. Apesar disso, Fernando Rocha, Administrador do Grupo RR Hotels, entende que o Algarve será um dos destinos mais seguros do mundo, mesmo em contexto de pandemia, para se visitar neste Verão. “Todos os
hoteleiros estão habituados a este tipo de serviço e somos sempre rigorosos no controlo da segurança e higiene, seja dos clientes ou dos funcionários. Por outro lado, os operadores turísticos, as agências que nos trazem os clientes, também nos estão sempre a aconselhar quanto às melhores práticas para que tudo decorra na perfeição”, descreve o empresário, adiantando que os protocolos de segurança começarão ALGARVE INFORMATIVO #247
logo aquando da reserva dos quartos e apartamentos. “Certamente que se
terá cuidado para que haja uma intercalação entre os espaços ocupados pelos clientes. E nas receções existirão os acrílicos e toda a gente trabalhará com máscara”, ilustra. Fernando Rocha chama igualmente a atenção para o certificado de qualidade criado pelo Turismo de Portugal, o «Clean & Safe», onde estão elencadas uma série de exigências que garantem precisamente a segurança dos clientes dos estabelecimentos. “A limpeza
dos espaços comuns e dos quartos, por exemplo, será feita ainda com mais cuidado, para que, quem vier para um hotel, 22
desfrute de uns bons dias de descanso. A ideia é que os visitantes se abstraiam deste cenário em que vivemos, embora, claro, o coronavírus deva estar sempre nas nossas mentes, porque a segurança dos outros depende também de como nos comportamos”, salienta, voltando a elogiar os responsáveis autárquicos portimonenses pela forma célere como lidaram com o aparecimento do covid-19 no concelho. “2020 ia ser
um excelente ano turístico, com certeza melhor do que o ano passado. Até dia 15 de março tínhamos os hotéis praticamente cheios e, mesmo sem as novas medidas de segurança que vão ser
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introduzidas, não houve casos de coronavírus, portanto, as coisas funcionavam. Nisto tudo, a palavra mais importante é bomsenso, porque as pessoas querem vir para um hotel gozar férias e não para se sentirem como se estivessem num hospital ou unidade de cuidados intensivos”, aponta Fernando Rocha. Confiança nota-se igualmente em Eliseu Correia, CEO da EC Travel, falando de uma relação de amor entre os portugueses e o Algarve com muitas décadas de existência. “O Algarve
sempre acarinhou o mercado nacional, em 2019 ele até cresceu 20 por cento em termos de
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visitantes, portanto, este ano vai assistir-se a algo que não é novidade nenhuma. A única diferença será a forma como nos iremos relacionar”, antevê, não deixando de lançar algumas farpas àquela comunicação social nacional que pintou um cenário desastroso em relação ao Algarve.
“Passou uma reportagem na televisão cujo título dizia que os hotéis iam estar fechados no Verão, contudo, nessa mesma reportagem, nenhum empresário falou disso. Admito que os grandes grupos irão encerrar uma ou outra unidade para conciliar esforços e equipas de trabalho, mas isso é bem diferente do que transmitir a ideia de que o Algarve ia «fechar para balanço» este Verão”, critica. ALGARVE INFORMATIVO #247
À semelhança de Fernando Rocha, Eliseu Correia também presta homenagem os autarcas algarvios pelas regras de segurança que levaram a cabo nos respetivos concelhos, porque essas medidas de isolamento permitiram uma redução do contágio.
“Não hostilizamos ninguém, apenas se pediu às pessoas para ficarem em casa, tanto os residentes como os visitantes. A população do Algarve ronda o meio milhão de habitantes e não ultrapassamos os 350 casos de infetados com covid-19, o que significa que as medidas resultaram e que estaremos preparados para acolher quem nos visitar”, assume o empresário. E as novas medidas ditadas pela fase de 24
desconfinamento até nem deverão ser demasiado complicadas de cumprir, na ótica do participante desta webinar. “Vai
existir um ajustamento natural entre a procura e a oferta, porque teremos menos pessoas no Algarve neste Verão. As regras impostas não impedem que haja restaurantes para os turistas comerem, hotéis para dormirem, praias para frequentarem, e para todos os bolsos. Na gastronomia, vamos continuar a ter o hambúrguer com batatas fritas a quatro euros, bem como o menu de degustação da Vila Joia a 180 euros por cabeça. E 2020 até será o melhor ano de sempre para as pessoas nos visitarem, porque vão desfrutar dos mesmos serviços e produtos, com a mesma qualidade, provavelmente com
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preços mais atrativos ou com ofertas adicionais, e com uma tranquilidade que não existiu nos outros anos”, afirma Eliseu Correia.
O COVID-19 NÃO VAI DE FÉRIAS O Mercado Nacional representa sensivelmente 30 por cento das dormidas no Algarve, na ordem dos 21 milhões em 2019, ao passo que britânicos, alemães e espanhóis, todos somados, se cifraram nos 20 milhões de dormidas, contextualizou o moderador do webinar, Júlio Ferreira. Parece, por isso, perfeitamente natural a maior atenção que terá que ser dada a este segmento de mercado, o que passará, de acordo com Ricardo Sobral, por medidas concretas como a flexibilização dos prazos de pagamento ou de cancelamento de reservas. “Na
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Rickytravel, os clientes podem efetuar as suas reservas, até dia 31 de maio, sem necessidade de efetuarem qualquer depósito e podem pagar até 72 horas antes da data limite para cancelamento sem custos. Isso permite que as pessoas reservem com calma e que, mais ALGARVE INFORMATIVO #247
perto da data, possam analisar com segurança qual o cenário atual. Do mesmo modo, estamos a trabalhar na redução dos prazos de cancelamento. Até agora, podiam fazê-lo, sem custos adicionais, até 20 dias antes, ou um mês antes, do check-in. 26
a todos os espaços comuns, aos estabelecimentos comerciais e de restauração, e aí já entra em ação o poder público, nomeadamente as autarquias. Ora, como a lotação permitida dos restaurantes vai diminuir, a Câmara Municipal de Portimão aprovou o aumento do número de mesas nas esplanadas, desde que tal não origine problemas de segurança. “O grosso das medidas
Queremos que isso possa mudar para 48 horas ou uma semana antes da data de viagem”, revela o empresário. Claro que os turistas não vão permanecer a totalidade da sua estadia no interior dos hotéis, pelo que as medidas de segurança têm que se aplicar 27
a adotar serão idênticas nos 16 concelhos do Algarve porque, no âmbito da AMAL (Comunidade Intermunicipal do Algarve), trabalhamos todos os problemas em conjunto para arranjar as melhores soluções. E assim foi possível reunirmos mais de um milhão de euros para a aquisição de equipamentos de proteção individual para os nossos profissionais de saúde, assim como ventiladores para os nossos hospitais”, enfatizou Isilda Gomes. “A nível local, tenho estado a falar com os hoteleiros e as entidades de saúde para garantirmos que não haja mais infeções por covid19, por via da realização de testes aos trabalhadores. Em relação às praias, autorizei a aquisição de um drone com som para que, se forem detetados excessos de carga, se possa informar de imediato os cidadãos de que têm que se dispersar mais, ou procurar outra praia. Queremos que as pessoas se sintam seguras ALGARVE INFORMATIVO #247
em todo o concelho, nas praias, nos hotéis, nas ruas ou restaurantes, sempre com a noção de que o covid não está se férias, continua cá”, avisa a edil portimonense. Isilda Gomes não partilha, entretanto, da opinião de que o turismo seja dos últimos setores a recuperar da pandemia que afeta o planeta, porque, após o sofrimento em que todos vivemos, assim que for possível, todos vamos querer gozar férias. “Quando as dificuldades
passarem, as pessoas vão querer «partir para outra», relaxar, descansar”, garante a autarca. Só que, para isso, é preciso que os hotéis estejam abertos e a cumprirem com todas as regras de segurança, fator que, conforme ALGARVE INFORMATIVO #247
já referiu, não apoquenta em demasia Fernando Rocha. “O turismo é
confiança e bem-estar, não vale a pena inventar muitas histórias sobre esse assunto, e os hotéis vão reabrir quando estiverem reunidas todas as condições para tal, no dia em que as entidades responsáveis nos deem forças e haja reservas”, assegura o empresário. Sobre questões mais práticas como, por exemplo, a lotação de piscinas, Spas e ginásios, bem como os seus modos de funcionamento, Fernando Rocha espera que, dentro de duas semanas, existam dados mais concretos. “Após isso, precisamos 28
de algum tempo para realizar as necessárias adaptações, para que, em junho, possamos reabrir. Se calhar, alguns hotéis só o farão em julho e agosto. Vamos ter que arranjar soluções, com bom-senso, para muitas coisas, como o simples ato de ir comer ao buffet. No entanto, como os hotéis não vão estar esgotados, haverá menos pessoas para servir. Mesmo assim, se for preciso, criam-se dois ciclos de serviço dos pequenos-almoços, almoços e jantares”, diz. “Como é óbvio, nos buffets vão estar empregados com máscaras e viseiras, com acrílicos a tapar toda a comida, os clientes escolhem a comida, recebem o prato, vão para
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a mesa, onde estão os talheres todos preparados. Nas piscinas, as espreguiçadeiras vão estar mais afastadas umas das outras e irão ser desinfetadas assim que os clientes se forem embora. São mil pormenores que terão que ser reajustados, para que as pessoas se sintam em segurança”, frisa o CEO do Grupo RR Hotels. “E, para estarmos abertos, a funcionar, com o selo do «Clean & Safe», teremos que cumprir com todos os requisitados definidos pelo Turismo de Portugal e pela Direção-Geral de Saúde. Ter dispensadores de gel desinfetante à saída dos elevadores, nos corredores, nas
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receções, é o «a e i o u» desta situação”, reforça. Certificado «Safe & Clean» que é difícil de conquistar, alerta, entretanto, Eliseu Correia, falando de uma lista com 40 itens que têm que ser todos rigorosamente cumpridos. “É uma medida recente,
mas já temos dezenas de unidades hoteleiras certificadas ou em vias de serem certificadas. E é essa confiança que fará a diferença entre os turistas ficarem ou não em casa neste Verão”, manifesta o empresário. “Temos um Algarve todo pronto e unido com o intuito de proporcionarmos as melhores férias possíveis e imagináveis às pessoas, e em segurança, contando, para tal, ALGARVE INFORMATIVO #247
com o civismo de todos. Assim teremos um Verão de qualidade, algo que todos merecemos, hoje mais do que nunca. Pela informação que tenho, a 1 de junho abre a época balnear e há diversas unidades que já têm ofertas especiais para ir ao encontro das diferentes disponibilidades financeiras dos portugueses”. Sobre a animação turística, Eliseu Correia entende haver condições para se realizarem, à mesma, grandes concertos, ainda que num formato diferente. “Na Dinamarca e
Alemanha estão a organizar concertos «drive-in», ou seja, os 30
espetadores estão sentados, em segurança, nos seus carros. É algo que pode acontecer perfeitamente no Algarve, para dar palco e público aos músicos e dj’s que precisam trabalhar, assim como animação ao vivo aos turistas”, explica, ideia que Isilda Gomes não enjeita. “Vamos reativar o Teatro Municipal de Portimão e alguns polidesportivos, como o Pavilhão da Boavista, inaugurado em 2019, para que possam ser utilizados para fins de animação. Os concertos «drive-in» podem ser uma solução e até temos o Portimão Arena para esse efeito, devido ao seu amplo parque de estacionamento”, comenta a
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presidente da Câmara Municipal de Portimão. “Temos empresários de
todas as áreas muito conscientes das suas responsabilidades, temos dirigentes dos organismos públicos quase totalmente focados neste tema, pelo que as pessoas vão encontrar no Algarve um local favorável para gozarem as suas férias, onde possam esquecer um pouco estes meses bastante difíceis”, salienta a edil portimonense. “Da parte dos turistas, apenas precisamos que venham disponíveis para se divertir, cumprindo as medidas de segurança”, finalizou Isilda Gomes .
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«A BALLET ST DE VICTOR HU Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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TORY», UGO PONTES
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o dia 28 de abril de 2018, o coreógrafo Victor Hugo Pontes apresentou, no Teatro das Figuras, em Faro, o fantástico «A Ballet Story», peça estreada, em 2012, por ALGARVE INFORMATIVO #247
ocasião de «Guimarães Capital Europeia da Cultura». «A Ballet Story» tem como ponto de partida o ballet Zephyrtine, de David Chesky. “No entanto, não
se trata da representação teatral ou da ilustração da história original – o exercício foi de 36
diferente”, explicou o coreógrafo. “Em «A Ballet Story», não sei se a história se ajusta à música ou se a dança se ajusta à história. Não se trata de uma articulação linear entre música, narrativa e dança, mas sim de um processo de influências mútuas e afinidades eletivas que originam uma peça manipulável de modos diversos e, tanto quanto possível, inteira. A narrativa será fabricada por cada espetador (ou não)”, acrescentou o diretor artístico. Com Música de David Chesky e Versão Musical pela Fundação Orquestra Estúdio, sob a direção do Maestro Rui Massena, «A Ballet Story» foi interpretada por André Mendes, Dinis Santos, Iuri Costa, João Dias, Joana Castro, Liliana Garcia e Valter Fernandes. A Cenografia foi de F. Ribeiro e a Direção Técnica e Desenho de Luz de Wilma Moutinho. Os Figurinos foram de Victor Hugo Pontes, com a Operação de luz nas mãos de Carlos Ribeiro, a Montagem de Cenografia da responsabilidade de João Soares e com Direção de Produção de Joana Ventura.
abstração e partiu do movimento dos corpos no espaço em articulação com a música. Não há contos de fadas, nem elementos do maravilhoso ou do fantástico. A moral é outra, o desenlace, 37
O espetáculo foi uma Coprodução da Nome Próprio, estrutura residente no Teatro Campo Alegre, no âmbito do programa Teatro em Campo Aberto com o apoio da República Portuguesa Ministério da Cultura / Direcção-Geral das Artes . ALGARVE INFORMATIVO #247
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«CARTAS DE DAMASCO» DE ANA LÁZARO DESPERTARAM JOVENS PARA O DRAMA DA SÍRIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Cineteatro Louletano apresentou, a 27 de fevereiro de 2018, a peça de teatro «Cartas de Damasco», de Ana Lázaro, em mais um momento do Ciclo «Estórias silenciosas» que cruzava a Sociologia, a Cultura e as Artes do Palco para abordar e questionar temas atuais ligados às sociedades contemporâneas, neste caso concreto o papel e visão da Mulher em diferentes culturas. ALGARVE INFORMATIVO #247
«Cartas de Damasco» é um projeto criado a partir da correspondência entre a criadora e autora Ana Lázaro e Leen Rihawi, uma jovem que cresceu e vive em Damasco, na Síria. A peça inspira-se na troca real de cartas entre estas duas mulheres, que vivem em lugares inversos do ponto de vista cultural, social e político. Em cena constrói-se um lugar que balança entre a realidade e a ficção, contudo, mais do que traçar um discurso expositivo sobre acontecimentos que nos são narrados quase diariamente acerca do 50
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conflito que persiste no Médio-Oriente, o espetáculo convida o público, tanto os mais jovens como os adultos, a descobrir cumplicidades entre as palavras que atravessam o globo. Na génese de «Cartas de Damasco» está um encontro entre Ana e Leen, em Barcelona, em 2013, num concurso para jovens escritores, conforme nos conta a autora após uma sessão direcionada para o público escolar. “Uns meses depois
começaram a chegar a Portugal notícias do Estado Islâmico que ia ocupando gradualmente o território da Síria e de todas as fações que estavam em conflito naquele país. Sugeri à Leen que me escrevesse com regularidade a narrar alguns episódios que iam acontecendo, uma tarefa que se tornou mais ALGARVE INFORMATIVO #247
complicada porque ela tinha receio daquilo que colocasse na internet. Não sei se os jovens têm a noção de que, quando escrevem uma coisa no Facebook, ela nunca mais desaparece e do peso que ela pode ter, sobretudo quando se está num país em guerra”, referiu Ana Lázaro. Desde o início que os relatos de Leen Rihawi tinham como objetivo dar corpo a um espetáculo de teatro, no entanto, «Cartas de Damasco» ganhou um caráter mais ficcionado para confrontar os jovens com a noção de que um conflito armado não é uma realidade tão descabida nos tempos atuais.
“Quis lembrar que já aconteceram em Portugal situações semelhantes, com as 52
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pessoas a viverem no medo, a não puderem falar à vontade. É um espetáculo feito para o público jovem, o que não significa que não possa ser visto por adultos. Simplesmente adaptei a linguagem a uma geração que está a crescer num mundo digital”, explicou Ana Lázaro. Linguagem, mas também imagens, porque «Cartas de Damasco» tem uma componente visual muito forte e impactante, mesmo não recorrendo a imagens demasiado gráficas como aquelas que nos entram em casa diariamente através da televisão. E a razão é simples: “Às vezes parece que
somos tão bombardeados com imagens de violência que elas perdem sentido, tornam-se banais e ALGARVE INFORMATIVO #247
adormecem-nos, ao invés de nos ativar. Pretendi fazer um paralelismo entre as duas realidades, para que os jovens percebam que a Síria não é um sítio fora deste mundo. Vivem lá miúdos como os nossos, a quem caiu uma guerra em cima, mas que continuam a tentar ir para a escola todos os dias e têm as mesmas crises com os namorados e por aí adiante”, sublinhou a entrevistada. Ana Lázaro recordou, entretanto, que a presente geração é o fruto e reflexo da educação que recebe, bem como da força que os mais velhos dão às coisas.
“Nós, como pais, como educadores, como mediadores, 54
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fazemos parte do que esta geração absorve, portanto, não podemos dizer que os miúdos, hoje em dia, estão colados ao computador e olham para a Guerra da Síria como um filme de Hollywood. Se isso acontece é porque a mediação não está a ser bem-feita”, considerou a autora. “As guerras não nascem apenas por questões políticas, nem acontecem somente no MédioOriente. Acabamos de passar por uma recessão económica brutal que interferiu com a vida de todos os portugueses. A função do teatro é motivar as pessoas a pensar, é colocar as pessoas a conversar
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umas com as outras. Na televisão, olhamos para as imagens, desligamos o aparelho e regressamos às nossas vidas”, comentou, na ocasião. “E fico muito feliz por ver equipamentos culturais com abertura para acolher espetáculos como o «Cartas de Damasco», para fomentar uma mentalidade de discussão. Não penso que deva haver temas proibidos e que o teatro para crianças tenha a obrigação de ser leve, porque elas são mais inteligentes e perspicazes do que nós imaginamos”, concluiu Ana Lázaro .
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JOÃO DE BRITO HOMENAGEOU CENA GRUNGE EM «SEATTLE» Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #247
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«sala do morcego» da Associação Recreativa e Cultural de Músicos de Faro foi o palco escolhido pelo ator e encenador farense João de Brito para a estreia, de 16 a 18 de maio de 2018, da mais recente aventura teatral, da época, do LAMA – Laboratório de Artes e Media do Algarve. «Seattle» oscila entre os desabafos e reflexões intimistas das quatro personagens, noutras ocasiões vive uma verdadeira explosão de emoções cruas e perturbadoras, pretendendo retratar a envolvência da cena grunge que nasceu nesta cidade norte-americana no final da década 80, início dos anos 90, do século passado e que ficou mundialmente famosa graças a bandas como Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Alice In Chains e tantas outras. Em palco, num misto de gaiola e garagem, encontravam-se Carlos Malvarez, Cristóvão Campos, João Pedro Dantas e Lia Carvalho, que tentavam transmitir a meteorologia própria de Seattle, “aquela gerida pela
paisagem interior das personagens”. “A dinâmica e o ambiente tchekhoviano apontam o frio, o passar dos dias-a-fio, sempre iguais, e o difícil divorciar dos espaços de recordação, de convivência e de partilha. Em Seattle, as mãos e os corações gelam, e a chuva que se impõe é uma tempestade da alma, a mesma que habita e inspira o espírito ALGARVE INFORMATIVO #247
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grunge que aqui se experimenta”, descreveu João de Brito, depois de terminada a peça. “Seattle é, para nós,
a metáfora dos sonhos, daqueles que apenas se apresentam como um lugar de memória que, afinal, nunca se habitou. A passagem do tempo e o ritmo dos dias apresentam-se como um escape paradoxal que apenas adia o confronto inevitável com a mudança. E isto somos nós, sem certezas, a praticar os 27 anos de quem já viveu e sentiu tudo, do lado de cá, o das sombras, da caverna a que chamamos casa”, acrescentou o encenador e ator.
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A criação de João de Brito e Statt Miller já estava na gaveta há algum tempo, à espera de estarem reunidas as condições para se tornar uma realidade, o que aconteceu finalmente em 2018. “Foram bandas que me
tocaram bastante, a mim e a todos os da minha geração. Não há aqui uma recriação direta de personagens, ninguém faz de Kurt Cobain, Eddie Vedder ou Chris Cornell, tentamos fazer um paralelismo com o que se passava no resto do mundo e, inclusive, em Portugal, porque existiam muito mais bandas de garagem
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naquele tempo do que nos dias atuais”, declarou o entrevistado, lembrando que, na época, só as bandas de Nova Iorque e Los Angeles é que interessavam e poucos auguravam qualquer futuro ao que emergia de Seattle. “Estavam fora do
mainstream e eles criavam a sua música sem quererem exibir o que estavam a fazer, mas, ao mesmo tempo, queriam ser ouvidos. Era 65
uma linha ténue que quisemos transportar para o espetáculo, daí os tempos de pausa, os silêncios algo inquietantes a que se assiste, porque os músicos não tinham necessariamente que estar sempre a compor”. No grunge de Seattle, as regras eram definidas pelos próprios músicos e, apesar de não o quererem, de não ser ALGARVE INFORMATIVO #247
essa a sua intenção, acabaram por se tornar vedetas à escala mundial, um “presente envenenado”, nas palavras de João de Brito.
“A sua música era tão boa que chegou ao mundo inteiro, teve uma repercussão brutal, e muitos deles não souberam lidar com essa fama inesperada. O principal «cabecilha» do movimento, o Kurt Cobain, cujo suicídio dita praticamente o fim do grunge, é disso um perfeito exemplo. Deixou de querer compor e tocar, fica o que está e pronto. Eles não se preocupavam muito com o que estavam a tocar, o que interessava era simplesmente tocar”, recordou o encenador. “É um espetáculo com muita energia e que promete amadurecer ainda mais com o tempo, porque os atores vão respirando melhor as personagens. E esta noite até tivemos morcegos a pairar sobre os atores para compor a cenografia”, terminou João de Brito, com um sorriso .
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«SEM RETORNO» RECORDOU MANUEL TEIXEIRA GOMES Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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blackbox do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão foi palco, no dia 23 de maio de 2018, da performece «Sem Retorno», a nova criação da Associação Cultural Dancenema que fez parte do Festival «Entre Mares». O espetáculo foi igualmente uma evocação de Manuel Teixeira Gomes, figura singular da história portuguesa nascida, a 27 de maio de 1860, em Portimão e que foi o sétimo Presidente da República Portuguesa, de 6 de outubro de 1923 a 11 de dezembro de 1925. “Numa altura em que Portugal se encontra submerso num clima de grande tensão política e agitação social, a figura que ocupa o mais alto cargo político opta pelo autoexílio e atravessa os mares em busca de silêncio, solidão e liberdade. Mas aprazia-me viver a minha vida e a meu modo, imperterritamente livre no vastíssimo jardim sem barreiras da minha solidão...", dizia Manuel Teixeira Gomes. «Sem retorno» foi, pois, uma reflexão sobre o estado de espírito, personalidade e introspeção acerca dos mundos vivenciados por esta personagem, desenvolvida sob o olhar contemporâneo das autoras. Com produção da Dancenema, teve Direção Artística e Direção de Cena de Nilsen Jorge e foi uma Cocriação de Ana Alberto e Thora Jorge, interpretada por Ana Alberto, Cristina Cláudio, Filipa Borges, Thora Jorge e Tiffanie Millenkka e com a participação de Beatriz Bernardo, Lara Guerreiro, Leonor Faria, Leonor Cavaco, Leonor Pires, Maria Duarte, Matilde Malveiro, Mariana, Raquel Dias, alunas de Dança Contemporânea da Escola de Dança de Portimão . ALGARVE INFORMATIVO #247
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CINETEATRO LOULETANO RECEBEU TEMPESTADE DE SHAKESPEARE Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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empestade, da Companhia João Garcia Miguel, subiu ao palco do CineTeatro Louletano, no dia 2 de junho de 2018, com os atores Sara Ribeiro, António Pedro Lima, David Pereira Bastos e Vítor Alves da Silva a darem corpo e voz ao texto original de William Shakespeare e Nuno Rebelo a musicar ao vivo o espetáculo. A obra de Shakespeare foi adaptada aos tempos modernos e encenada por João Garcia Miguel, tendo estreado, em junho de 2017, em Aveiro, passando depois pelo Festival de Teatro de Almada, Cine-Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, CineTeatro de Torres Vedras e Teatro Ibérico, em Lisboa. E, de facto, um dos propósitos do diretor artístico da companhia com ALGARVE INFORMATIVO #247
este trabalho de reinvenção de textos clássicos e de profunda criatividade teatral é levar a voz dos atores às cidades de Portugal e não ficar apenas na capital e no Teatro Ibérico, espaço que a sua companhia ocupa. De acordo com o encenador, “é no
confronto entre a performance e o texto que se ergue esta obra performativa que relê o texto clássico num ato de perversão dramatúrgica e, através das experiências subjetivas dos corpos, vai em busca da sua forma”. «Tempestade» é uma história de vingança e de amor que contém muitas histórias dentro de si. “É uma
história de conspirações oportunistas que contrapõe a 86
figura disforme e selvagem dos instintos animais, que habita o homem, à figura etérea, incorpórea das altas aspirações humanas. Contrapõe o baixo com o alto, a terra contra o céu. Contrasta os instintos aos desejos de liberdade. A investigação dessas emoções, desses pensamentos e das suas expressões físicas, são, desde logo, a matéria restante do nosso fazer artístico”, descreveu João Miguel Garcia. O espetáculo deu início, na altura, a um ciclo dedicado às emoções, ao amor, mas também ao ódio que se lhe opõe, “às
forças que nos assolam como tempestades e nos sustentam os
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caminhos”. “As tempestades ilustram, exteriormente, no mundo real, as forças da natureza, assim como as forças interiores. Energias que se chocam invisíveis, das quais os movimentos dos corpos são feitos afinal. Na força à solta, na tempestade, entrevêem-se os movimentos nervosos do corpo. É aí, nesses movimentos subtis e disruptivos, que este espetáculo se irá fundar. Nas forças opostas em confronto, nas zonas de contacto, entre a vida e a morte, na carne que se move por dentro do sonho inconsciente. São essas forças fundidas que emergem do
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nervo à carne, daí para a pele, e que, a pouco e pouco, se espalham pelo mundo que vamos em busca de interrogar”, sublinhou, acrescentando que cada um destes mundos é como uma ilha pessoal. “Para chegar ao outro
temos de naufragar e ser aniquilados pelo mar do ser desfeito”. Ao quebrar-se esta metáfora emocional da tempestade, perde-se, então, a sua condição destruidora e ganha-se em subtilezas. “Ali, na mudança de
qualidade, a tempestade encerra uma renovação. O inconsciente torna-se material visível, emerge e transforma os corpos em unidades vivas: espaço e sujeito. A tempestade causa estragos na ordem existente e traz destroços às ALGARVE INFORMATIVO #247
margens do conhecido, náufragos, memórias devastadas, amnésias como restos de navios tornam-se visíveis, pedaços do fundo do mar falam-nos, a matéria informe e irreconhecível traz sensações físicas renovadas de mistérios esquecidos”, frisou. “O reconstruir de uma certa ordem posterior é já um trabalho que reinventa o corpo, que tira das forças da tempestade o seu saber e o incorpora numa realidade transformada. É este desafio que propomos ao espetador que já conhece Shakespeare e o nosso trabalho. Uma reinvenção do nosso tempo comum”, salientou João Miguel Garcia .
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Um Festival com pernas para andar
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A pacata aldeia do Ameixial voltou a ser o centro das atenções, de 26 a 28 de abril de 2019, com a realização do WFA – Walking Festival Ameixial, um festival de caminhadas que trouxe meio milhar de inscritos de todas as idades e que deu outra vida à serra algarvia.
Texto: Vico Ughetto | Fotografia: Vico Ughetto
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á ia na sétima edição e claramente que é um festival de referência no panorama das caminhadas, uma atividade que vai granjeando adeptos e praticantes de forma crescente e que se afirma também como uma opção turística e de desenvolvimento de territórios do interior ou de zonas com menos apetência turística de massas. Em alternativa, as caminhadas são também uma forma de complementar um turismo mais focado no lazer à beira-mar. A prova disso é que tem surgido várias empresas e guias dedicados a este novo mercado turístico. A aposta está aí e nota-se. Em 2019, esteve presente um dos responsáveis do Turismo de Portugal, especialmente dedicado ao Turismo de Natureza, a designação mais ampla e da qual as caminhadas ou percursos pedestres são um dos principais pilares de apoio. ALGARVE INFORMATIVO #247
O Turismo do Algarve já está a fazer esta aposta, não só ancorado no Turismo de Portugal e na dinâmica nacional que ele aporta, mas também a nível regional, como lhe compete. É um dos claros e fortes apoiantes do WFA e um dos parceiros do AWS - Algarve Walking Season, um projeto liderado pela Cooperativa QRER – que igualmente organiza o WFA – e cujo mote é promover e integrar os três principais festivais de caminhadas do Algarve num único calendário e promoção. O WFA é obviamente um deles, sendo os outros dois o Festival de Caminhadas de Alcoutim e Sanlucar (março) e o Barão de S. João Walk & Art Fest (novembro). Esta promoção integrada é pioneira e poderia ser uma ideia para muitos eventos, que se digladiam entre si sem necessidade. Em feiras e promoções nacionais e internacionais, surge a 100
Otília Pereira e José Luísa (centro) com Marco Santos e Susana Martins, da Barroca produtos culturais e turísticos, os coordenadores do workshop 101
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José Carrusca (esq.) foi o guia local da marcha noturna, ao lado de João Ministro da Proactivetur, um dos rostos do evento ALGARVE INFORMATIVO #247
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O presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, participou numa caminhada temática, aqui ao lado de Dália Paulo, Diretora Municipal
marca AWS a promover três eventos na região, sob o mote «Algarve, uma região para caminhar todo o ano». O que faz muito sentido de um ponto de vista comunicacional e de otimização de meios. Aliás, é nesta vertente de cooperação que o ano passado a organização do WFA convidou os promotores do Walking Weekend – realizado na Pampilhosa da Serra – para intercâmbio de contactos e partilha de conhecimento. Este ano, a aposta foi mais longe com uma comitiva de Cabo Verde, da organização do Meetup Trekking, um Festival que decorreu de 15 a 17 de novembro e que teve por mote «São Nicolau, o tesouro mais bem guardado de Cabo Verde». Esta rede informal de promoção de festivais internacionais abrange ainda o Gran Canaria Walking Festival (Canárias), aos quais se irá juntar brevemente a comarca de Lérida nos Pirenéus (Catalunha).
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As condições climatéricas estiveram de feição para a organização e participantes. A chuva da semana anterior e o tempo fresco seguraram o pó e, o mais importante, deram vida à Serra, com as estevas e a profusão de coloridas flores e verdejantes ervas, a palpitarem pelas encostas serranas. Ao mesmo tempo, trouxe alguma água extra para as ribeiras e um caudal mais generoso para o rio Vascão e muitas das ribeiras e riachos que derivam do seu nome numa terminologia muito algarvia, como é exemplo o Vascanito. Por curiosidade, refira-se que o Vascão é o rio mais longo português, no sentido de não ter interrupções artificiais (barragens, etc.) durante o seu percurso. Apesar de o WFA ter um arranque morno no dia 26, servindo a parte da tarde para organizar a receção e afinar as inscrições, este ano teve a inovação ALGARVE INFORMATIVO #247
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Escrita do Sudoeste foi tema de atividades
de um peddy-papper, organizado por alunos da ESEC da Universidade do Algarve, no curso de Desporto. Digamos que foi para abrir o apetite para o jantar, porque à noite houve lugar para o tradicional percurso noturno pelo Ameixial, desta feita liderado pelo próprio presidente da Junta do Ameixial, José Carrusca. No final dos quase sete quilómetros de caminhada sob um céu exemplarmente estrelado que a Serra proporciona, o regresso à base no Salão de Festas trouxe uma surpresa saborosa com umas tibornas e umas costas doces, tudo caseiro e feito na hora no forno comunitário da Aldeia pelo Renato Leote, que tem a paixão pelas massas caseiras feitas à moda tradicional e que este ano lhe saíram divinalmente bem. Há quem diga que foi da caminhada que abriu o 105
apetite, mas não custa nada dar crédito ao padeiro de serviço. O Festival assume-se cada vez mais também como um momento familiar e de convívio. Há inúmeras atividades para crianças e jovens que vão para além das caminhadas, com vários ateliers e percursos dedicados à exploração da natureza e da fauna. Da parte da tarde, no sábado, é o momento de descanso e de atividades paralelas que vão desde o ioga, às palestras e workshops, sobre temas úteis aos caminhantes como por exemplo: preparar snacks saudáveis. Todo o evento tem um mote geral que é a escrita do sudoeste, ainda não decifrável e uma das primeiras manifestações escritas da península ibérica, remontando da idade do ferro e cujos vestígios foram encontrados na ALGARVE INFORMATIVO #247
Já é um clássico a foto de grupo com todos os participantes e guias
serra algarvia em variadas estelas. Foram inclusive os carateres desta escrita que inspiraram o logotipo do WFA, pois é notória a semelhança visual de alguns deles com o nosso alfabeto. Em 2019, o Festival alargou o seu conceito, passando a integrar uma vertente ainda mais ecológica, com a ALGARVE INFORMATIVO #247
inclusão de um saco de pano e um copo de barro no kit de inscrição, evitando criar resíduos supérfluos com a passagem do evento. Associado a isto, a organização voltou a dinamizar transportes coletivos com a ajuda da Câmara Municipal de Loulé, e lançou um manifesto que apela à sensibilização ambiental, tendo 106
promovido, pela primeira vez, duas caminhadas designadas por «plogging», que resultam da conjugação da palavra pick up litter e jogging, uma modalidade com origem na Suécia e que procura aliar a atividade física ao ato ecológico de apanhar o lixo ao longo do percurso. O guia do evento referiu, no final, que nos caminhos mais interiores a quantidade de 107
lixo era muito residual, mas que junto à EN2 era notória a presença de objetos, sobretudo garrafas e latas de bebidas, deitadas essencialmente por veículos que circulam ao longo da agora famosa EN2, que atravessa o Ameixial e que tem sem dúvida visto aumentar o tráfego turístico nos últimos anos. Pena é a falta de sensibilidade ALGARVE INFORMATIVO #247
Alita Dias de recém-criada Associação de Turismo de S. Nicolau, apresentou a segunda edição do «festival irmão» do WFA em Cabo Verde ALGARVE INFORMATIVO #247
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Palheiro Circular típico da Serra Algarvia viu a cobertura recuperada graças ao WFA
ambiental, que o plogging pode minimizar, mas não corrigir. Um dos workshops mais originais do evento foi sem dúvida a recuperação da cobertura de um palheiro circular de pedra, uma construção típica que se encontra muito na serra algarvia, mas que vai perdendo espaço para outras soluções menos etnográficas. A ideia surgiu pela utilização regular que os donos ainda fazem do espaço para a guarda de forragens animais e também pelo espírito do Festival de em cada evento, deixar uma marca e um contributo para a valorização da cultura local, do património e do bem-estar da população. Apesar de os donos saberem trabalhar os materiais, o problema está em ter acesso a eles, pois a palha usada não pode ser uma qualquer. Tem que ser de centeio (mais duradoura) e apanhada à mão. Antigamente era fácil por estas bandas, esta teve que ser vir de Covelas 109
(Porto) e das esteiras que foram produzidas foi efetuada a cobertura do palheiro, dando novamente utilidade ao palheiro localizado na Corte d’Ouro. Para o ano já está na ideia desenvolver o ciclo do centeio, uma cultura cerealífera com tradição, mas que tem perdido muita expressão. Infelizmente, a pandemia do covid-19 acabaria por ditar o cancelamento do festival, como bem se sabe. Foram três dias que ficaram na memória, sobretudo para aqueles que puderam usufruir de percursos fantásticos pela serra e que conviveram com a população local, ainda uma sólida representante do bem receber das gentes algarvias. Este turismo de natureza não dá para grandes negócios, mas é uma ajuda e promove de forma responsável, dignificando e reconhecendo o território tal como ele é, e de forma sustentável . ALGARVE INFORMATIVO #247
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OPINIÃO Será que sou trabalhador? Paulo Bernardo (Empresário) ste ano, graças à quarentena, o dia 1 de Maio ganhou mais o seu significado político que primaveril. Não vou falar se a CGTP esteve bem ou mal, esse é um tema que não interessa nada aqui para a minha reflexão. Contudo, olhando apenas para o dia 1 de Maio como o Dia do Trabalhador, onde é que eu me situo? Como empreendedor, empresário, patrão, o que me quiserem chamar, não devo ser trabalhador, presumo que devo ser outra coisa. Pois trabalhadores são as pessoas que eu chamo colaboradores, mas podemos chamar empregados ou trabalhadores. Isto deixa-me baralhado, pois eu dedico-me à empresa que tenho com mais três sócios a maior parte do meu tempo, passo muito tempo longe da família e dos amigos, passo noites a dormir mal. Isto que eu faço, se não é trabalho, chama-se o quê? Esta pergunta tem-me andado a deixar um pouco atormentado nos últimos dias. Depois, comecei a olhar à volta e existe muita gente que não é trabalhadora. A minha mulher, que sai ALGARVE INFORMATIVO #247
de casa às oito da manhã e chega às oito da noite para gerir o seu negócio, presumo que também não está a trabalhar. É aquilo que podemos chamar de patroa. A minha contabilista, que também se dedica bastante à sua atividade, presumo que também não seja trabalhadora. A senhora do restaurante onde eu almoço muitas vezes, também não trabalha. Os meus amigos barbeiros presumo que, quando me cortam o cabelo, também aquilo não é trabalho. O rapaz onde eu vou comprar pão também não está a trabalhar. No café ao lado do escritório, a senhora que me atende logo cedo não está a trabalhar. Sinceramente, estou muito baralhado, contudo, assumo que estas pessoas efetivamente não estão a trabalhar porque, se por qualquer motivo tiverem que fechar a sua atividade, vamos imaginar por uma pandemia, não recebem subsídio de desemprego, mesmo pagando impostos como os colaboradores, funcionários, trabalhadores a quem empregam. Isto só me faz pensar que, efetivamente, os empreendedores, empresários, patrões não trabalham. Se não trabalham, então o que faço eu e as pessoas que atrás referi. Não sei, 114
não sei mesmo, e não estou a ser irónico. Não sei mesmo o que se chama ao que nós fazemos.
Quando viajo para outro país, deve ser como uma visita de estudo, pois tem muito divertimento.
Possivelmente, e agora falo por mim, o que eu faço deve ser brincar, pois brincar é o que as crianças fazem, onde se divertem, aprendem, trocam experiências, riem, cansam-se. Deve ser isso que eu faço todos os dias, uma brincadeira para adultos digamos assim.
Só pode ser, as pessoas que referi só podem brincar. A senhora do café que abre muito cedo vem brincar para o café. Os meus amigos barbeiros, quando me cortam o cabelo, é uma brincadeira. Quando vou almoçar ao local do costume, quem cozinha também está a brincar.
Quando eu me sento em frente ao computador e respondo ao correio eletrónico, deve-se comparar a um jogo online de estratégia. Quando tenho uma reunião, é mais jogo de tabuleiro. 115
Muito interessante a minha reflexão. Eu, como empreendedor, empresário, patrão, não trabalho, eu brinco . ALGARVE INFORMATIVO #247
OPINIÃO O novo normal Mirian Tavares (Professora) “Eu quero aproximar o meu cantar vagabundo Daqueles que velam pela alegria do mundo Indo mais fundo Tins e bens e tais”. Caetano Veloso os poucos vamos ensaiando passos. Tímidos, nalguns casos, noutros mais ousados. Tentando, no entanto, manter a distância de segurança e usar o novo acessório fashion: a máscara. Aos poucos parece que as coisas retomam seu curso, pelo menos em Portugal, pelo menos no Algarve. Estamos muito longe de voltarmos ao que era antes de estarmos confinados, ensimesmados – da cama ao sofá, do sofá à cozinha. Da televisão ao computador, do computador ao telemóvel. O dia passado entre ecrãs e móveis, mais ou menos confortáveis. Contando, claro, com infindáveis visitas ao frigorífico ou à despensa. Saídas higiénicas à parte, passeios pela mata, à beira da Ria, nos parques. A pé, de bicicleta, devagar ou a correr. Agora já nos é permitido sair sem cães, que se fartaram de tanto passeio para levar os donos à rua. Pensei em levar os ALGARVE INFORMATIVO #247
gatos, mas não me parece que estivessem para aí virados. De qualquer forma, saí para caminhar, respirar, não enlouquecer. Fui uma vez por semana, religiosamente, ao supermercado. Prevariquei, é certo. Fui algumas vezes mais que as absoluta e inegavelmente necessárias. Tentei fazer compras online e não resultou. Ou melhor, resultou – perdi dinheiro e a minha prenda de anos nunca chegou. Se calhar ainda vem para o ano. Cozinhei, inventei receitas, fiz bolos e arrumei a casa. Fiz uma lista de textos que me esperam, de trabalhos a fazer, de aulas a preparar. Fiz uma lista que diminui e volta a crescer todos os dias. Trabalho de Sísifo. Dei aulas à distância, e ainda me faltam umas quantas. Descobri um botãozinho fabuloso no zoom – que melhora a nossa imagem, uma espécie de Photoshop discreto. Criei fabulosos power points de imagens e algum texto para acompanhar as aulas, tentei fazer com que os alunos participassem mais, mesmo à distância. Tentei fazer dieta, ginástica, perder peso. Tentei ser 116
produtiva dentro de quatro paredes, no tal isolamento social. Que no meu caso nem era tanto, ainda bem. Foi um isolamento bem acompanhado. E agora voltamos, aos poucos, a ensaiar passos fora de casa. Já fui à universidade, fazer exame no hospital. Muitos líricos previram que íamos todos mudar, que o mundo ia mudar para melhor – menos Foto: Victor Azevedo corrida, menos poluição, menos consumismo. Mais sem ter o que comer. Muita gente solidariedade, tolerância, amor ao morreu, adoeceu, ficou pelo caminho e próximo. Os pessimistas sempre tantas outras ainda podem sofrer de acharam que tudo ia correr mal, mesmo perto as consequências da crise – quando estava a correr bem. E eu financeira, social, psicológica e sanitária. sempre achei que os líricos, infelizmente, estavam errados. Não sou Espero que a maior parte de nós, se pessimista e acho que vamos voltar ao não mesmo todos, fiquemos bem. que chamamos de normalidade. Pode Espero que este ensaio de passos, ser depois de amanhã ou daqui a um ano discretos, tímidos, mascarados, não ou dois. sofra um recuo. Mas não acredito que esta pandemia tenha mudado as Por enquanto, os primeiros passos que pessoas nem que provoque, por si ensaiei lá fora, deparei-me com pessoas mesma, uma revolução. Como disse a egoístas, como antes, sem grande escritora/realizadora Marguerite Duras, respeito pelo próximo, mais as revoluções só acontecerão quando ensimesmados, achando que o resto da mudarmos, profundamente, primeiro cidade é um prolongamento do seu dentro de nós. E não me parece que isso sacrossanto lar. Mas também me tenha acontecido. Mas não me deparei com sorrisos de reencontros, desespero, porque mesmo o velho mesmo que sem abraços ou beijinhos, normal me bastava. E se tiver de com pessoas atenciosas e com uma aprender novos passos, ainda cá cidade limpa e em movimento. Muita gente perdeu o trabalho, muita gente estamos, prontos para o ensaio . perdeu rendimentos, muita gente ficou 117
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OPINIÃO Do Reboliço #83 Ana Isabel Soares (Professora) som da Primavera é o som da água a deslizar. “Já correm os regos”, diz-se de dentro da casa. Antes, tinha sido a incredulidade: “Isto é água que nem chega a entrar na terra, já passa”. Mas soara o trovão, rebentara o relampejar da luz e a chuva persistira. Descera pelos vales entre as telhas, alçara-se em piruetas beiral abaixo, solta ou conduzida pelas caleiras improvisadas até aos baldes que, na rua, a caçavam, e conforme caía mais grossa, fora-se escapando pelas folhas da parreira, pelas folhas dos jarros, abaixo até às pedras, pelos vasos, pelo chão. Da portada de vidro, o Reboliço olha e vê o baço da terra ficar brilhante e ganhar volume o brilho, e movimento. Com o som, um gorgolejar, ou gorjeio – que o leva para o cantar da codorniz, ou ela o traz a ele. Passam instantes lentos até que o escuro da chuva se esclareça e, clareando, dê intermitência às gotas: o som permanece, já não de cima para baixo, já não a esbofetear, já nem a acariciar o telhado, mas de um lado para o outro, de trás para a frente, pelo solo, em ondas de rumor e regueiros no pó, a resvalar por onde pode antes de ser absorvida. ALGARVE INFORMATIVO #247
Quando a terra deixa de conseguir guardar toda a água da chuva, junta os dorsos de duas mãos, enche as palmas com plantas a quem não incomoda sustentar-se num declive de terreno, faz um vê-zinho e deixa-a rolar. É assim nos córregos, nos corgos, assim nos barrancos. O Reboliço sai pelos caminhos, pateando a lama, e viaja até ao Barranco da Corte: tantos Invernos depois de lhe ver o fundo, e secos, nas suas margens, os agriões e orégãos, tantos janeiros na procura vã pela torrente clara onde lavar as tripas para os enchidos, tantas vezes a aproximar-se dele como se fosse de um mar que se aproximasse, mas que à chegada, lhe dava nada mais que o barulho de ondas, marejadas cá em cima, pelos eucaliptais da estrada – o Reboliço aproxima-se do viaduto e espreita lá para baixo. Rápida, lesta sem se preocupar com as pedras que leva adiante, corre a água cheia do barranco. De um lado dele e do outro correm moças e moços, vê o Reboliço, rindo e atirando uns aos outros jorros transparentes, folhas arrancadas, pétalas às cores e torrõezinhos de lama. Tudo corre, tudo rumoreja e ecoa, nesse vale do barranco em que as pessoas são como as formiguinhas dos regos na rua da casa do Moinho Grande (o Reboliço não ouve o que dizem as formigas, o que 118
Foto: Vasco Célio
cantam, nem como são os gritos de um lado para o outro da sua água – o tamanho dos corpos reduzindo-se, reduz-se-lhes o volume do som até desaparecer). Tudo bole, com o vento nas ramas das folhas longas do eucalipto, desde lá de cima, como veio a chuva, até ao fundo pedregoso do Barranco da Corte. Os únicos seres inertes, imóveis – porque abandonados nas margens da corrente ao brilho 119
salpicado da água – são as bicicletas adormecidas entre as ervas, pintalgadas de terra, de verde e de botões de malmequeres e papoilas, presos e arrastados nos aros das rodas, antes de lhes florescer a Primavera . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #247
OPINIÃO Regresso ao novo Normal Antónia Correia (Professora e Investigadora) e repente, o mundo dos nossos jovens parou. As escolas foram fechadas, o isolamento social foi decretado. Amigos, professores, matérias e sonhos foram adiados. Nas notícias, a ameaça dum vírus fatal vetou todos os vossos sonhos. O medo de verem as vossas vidas terminadas antes do tempo, gerou uma reação que a vossa idade não faria antever. O esforço de readaptação que foram capazes de abraçar é louvável, confinados ao isolamento lutaram para manter de pé sonhos que os adultos há muito esqueceram. 45 dias volvidos de confinamento, as regras alteram-se. É tempo de voltarem às escolas, é tempo de se readaptarem a uma vida que vos foi retirada. Regras e pressupostos desse retorno tardam em surgir, a incerteza paira no ar, ninguém esclarece as vossa dúvidas e receios, mas esta nova geração tem uma capacidade de adaptação e resiliência sem precedentes. Máscaras, proibições sociais e muitas incertezas é o que o vosso país tem para vos oferecer. Tranquilos não fazem perguntas, aceitam o que vos impõem, ALGARVE INFORMATIVO #247
porque, afinal, em menos de mais 45 dias, estarão a fazer exames para concretizar os vossos sonhos de entrada num mundo melhor. É tempo de voltar à escola, com novos professores ou talvez não, aos quais vão ter que se readaptar para aulas que durarão menos de um mês e meio, é tempo de manter o distanciamento social dos colegas e, mais do que tudo, é tempo de redefinirem rotinas, mas sempre concentrados nos desafios que os exames de acesso exigem. Certezas! Ninguém tem! Quanto tempo vão ficar nas escolas, ninguém sabe! Sabemos que a vossa maturidade e resiliência é muito maior do que a nossa! Se alguém tem dúvidas, eu não tenho, os nossos jovens são muito mais maduros do que nós, que incapazes de decidir em contexto de incerteza, sujeitamo-los à readaptação permanente. Não seria mais sensato e mais fácil, manter a preparação para os exames no formato em que as aulas vão decorrer – à distância? Não seria mais sensato não reconvocar os nossos filhos para mais uma readaptação agora num modelo híbrido apimentado pelo receio do contacto social? Ficam as questões para quem pode decidir .
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OPINIÃO O medo do ar ou o medo de respirar Fernando Esteves Pinto (Escritor) Há pessoas que vêem as coisas como elas são e que perguntam a si mesmas: ''Porquê?'' e há pessoas que sonham as coisas como elas jamais foram e que perguntam a si mesmas: ''Por que não?''. Bernard Shaw
sta nova realidade é apenas um campo de treino para o nosso exercício de viver diário. É preciso adaptar a imaginação a este cenário imprevisto, quase da ordem do insociável. O que era normal no quotidiano com todos os hábitos comportamentais revelou-se agora uma ilusão. Nada persiste; tudo está a mudar. O triunfo da vida aproxima-nos do pesadelo, da preocupação, do desespero. A sociedade irá ficar condensada num único propósito: a obediência ao medo. Estamos a viver já perto da poesia do absurdo e do não-sentido. O mundo colocou a sua máscara; talvez procure assim ocultar-se também desse demónio que nos intimida. A verdade é que a vida parece toda ela dominada por alguma coisa invisível e repleta de fragilidades e monotonias. Uma pobreza interior: a massa humana perdeu o rosto, a expressão, e só lhe resta a evidência de um olhar para oferecer aos outros. As emoções mergulharam na obscuridade. ALGARVE INFORMATIVO #247
Só podemos tentar adivinhar estados esplêndidos de felicidade e tristeza extrema, condicionados pelas distâncias sociais. A realidade já não é forma de sentir; é vestígio de existir em limitada normalidade. Se o corpo humano é um tormento em termos de cuidados de vária ordem, o esforço de viver torna-se agora cada vez maior. A narrativa da vida tem capítulos estranhíssimos, sobressaltos de histórias que não adivinhamos o fim. Passamos com a cabeça a correr pelo mundo e esquecemos que a nossa vida é um arpão que a dado momento fica preso em tão pequeno espaço de uma sociedade exausta e moribunda. Nada é imenso e duradouro, e isto é a natureza a falar-nos. A mudança é justamente um polimento; uma mistura de opostos; um acordo equilibrado entre harmonia e tumulto. A metodologia da nova guerra: o medo do ar ou o medo de respirar. O fluido das coisas vitais é agora uma ameaça; a existência mais humana de um toque, de uma conversa presencial – sentindo um 122
arrebatamento sem correr o risco da vida em perigo –, fechou as suas fronteiras e limitou o contacto social espontâneo e descuidadamente feliz e tranquilo. A visualização é a filosofia dos 123
novos tempos: aprender a ver e responder por aquilo que se vê. Eis a sociedade civilizada cujo olhar é poder, recolhimento e concentração num mundo até então desconhecido . ALGARVE INFORMATIVO #247
OPINIÃO O Lado B João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) m tudo o que fazemos há dois lados da escolha que assumimos, tal como numa moeda. A «cara e a coroa». O mesmo se verifica com os fenómenos que nos afectam. Há o lado mais visível e impactante e o lado menos conhecido, apreciado ou valorizado. Mas ambos existem. E quando tendencialmente nos focamos mais no lado A, não significa que o B seja irrelevante. Pelo contrário. A actual realidade que vivemos tem sido marcada maioritariamente pela tónica do impacto na saúde, na economia das pessoas e das empresas, bem como nas consequências junto do emprego ou nos níveis de pobreza. É normal que assim seja e é obviamente importante que seja esse o foco prioritário, no sentido de agir para a mitigação desses problemas. Mas existe um lado B da pandemia que não é negativo de todo. Uma face imbuída de positivismo, com capacidade de gerar efeitos práticos observáveis na qualidade de vida das pessoas e no estado do planeta em geral. Um lado que importa também relevar para que possamos com ele aprender e a ele ajustar o nosso comportamento em prole de um bem maior. Deixo aqui ALGARVE INFORMATIVO #247
alguns desses aspectos, já conhecidos de muitos de vós, que podem (e devem) ser motivo de mudanças estruturais na região, na senda de uma melhor qualidade de vida e de um desenvolvimento mais sustentado. Redução da circulação automóvel Foi preciso uma paragem drástica do tráfego motorizado no estado de Punjab, norte da India, imposta pela quarentena preventiva ao coronavírus, para que, ao fim de 30 anos, a população pudesse novamente admirar os Himalaias. A notícia foi partilhada em todo mundo e mostra como a «paragem» da actividade humana resultou num benefício claro na qualidade do ar e na brutal redução das emissões de carbono. O Algarve tem, no geral, uma boa qualidade do ar, excepto nalguns momentos do dia e em determinadas localidades. Contudo, reduzir o tráfego automóvel na região, dentro das cidades, mesmo que temporariamente, só pode ser encarado como fundamental e prioritário no futuro próximo, numa altura em que ambicionamos reduzir a nossa peugada carbónica e em que temos à «porta» o Green Deal Europeu.
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Uso da Bicicleta Várias cidades na Europa viram o uso da bicicleta «disparar em flecha»! Em Inglaterra, por exemplo, a venda de bicicletas aumentou em 200 por cento e toda a cadeia de actividade em torno destas (ex. oficinas, lojas de aluguer) estão com níveis de procura como nunca antes. A insegurança das pessoas no uso dos transportes públicos colectivos é uma das razões apontadas. Noutros países, como na Alemanha, Itália, França ou Escócia, várias cidades estão a aumentar a rede local de vias cicláveis (ex. Paris atingirá os 650 quilómetros), a aumentar o espaço destinado à circulação de utilizadores de bicicleta, bem como de peões. O impacto destas medidas reflecte-se em vários níveis, não apenas na segurança das pessoas. E no Algarve? À excepção de alguns troços, a Ecovia do Litoral não existe e é uma ilusão. A maioria das cidades não tem vias para bicicletas e o que foi feito nalguns locais, é anedótico. Há que aproveitar o momento e agir rapidamente em torno da mobilidade verde, porque há maior pre-disposição da sociedade, tal como se assiste um pouco por toda a Europa. Teletrabalho Esta é, talvez, a mudança imposta pelo Covid-19 que mais fortemente se vai implementar na nova normalidade da sociedade. E com claras vantagens, a vários níveis: menos deslocações automóvel e aérea, e consequentemente menor emissão de gases de estufa e menor gastos em combustível; maior produtividade em ALGARVE INFORMATIVO #247
reuniões; maior conforto e alcance dos eventos on-line (bem como menores custos); maior rentabilidade no trabalho em casa (dependendo, claro, da disciplina de trabalho e das distrações). Também há obstáculos e dificuldades, naturalmente. Mas, no geral, o teletrabalho veio para ficar e vamos todos adoptá-lo com maior ou menor grau. E o futuro será nesse sentido, queiramos ou não. Valorização do campo e do interior Esta é, também, uma consequência positiva do covid-19. A quarentena a que fomos sujeitos e a nova conduta social que teremos de manter, incutiu em todos nós uma grande ansiedade e vontade em ir para o campo e locais sossegados, onde a natureza impere e onde estejamos seguros e em tranquilidade. O campo voltou a ganhar admiração, não apenas como local de fruição, mas também no fomento da agricultura de proximidade que mais estratégica se tornou nos tempos recentes. E o interior do país, em particular do Algarve, tem agora uma oportunidade única de valorizar essas suas valências e ver alguns dos seus «velhos» problemas, como o do despovoamento, serem mitigados. Estamos numa fase de grande interesse por estes locais, seja para ali viver, visitar ou trabalhar e há que não desperdiçar o momento. Maior reconhecimento pelo Turismo de Natureza É praticamente unânime por parte dos especialistas internacionais, que o 126
dos turistas. Assim o dizem diversos opinion leaders, assim o descrevem vários operadores internacionais. O Algarve tem que aproveitar o momento para se afirmar como destino de excelência neste segmento. Tem de mostrar o que de excepcional tem e que vai ao encontro das actuais expectativas do mercado. O Algarve não é apenas seguro, amplamente certificado pelo selo «Clean and Safe» do Turismo de Portugal (iniciativa louvável e estrategicamente valiosa), mas é belo, rico em espaços e valores naturais, em infra-estruturas ideais para a prática de actividades de baixa densidade e em serviços de qualidade, sejam de restauração, alojamento ou animação.
turismo de massas, de eventos e congressos, vão a curto e médio prazo ser encarados com desconfiança e perder muito do seu público tradicional. A aposta está agora na busca dos tais espaços de menor concentração de pessoas, em elevado valor natural, puros, seguros, onde se concilie a tranquilidade, o bem-estar, a actividade física e o contacto com o território. O turismo de natureza está bem posicionado para ser o primeiro a recuperar e a responder às necessidades 127
O Covid-19 reforçou, também, mudanças emocionais e afectivas entre as pessoas. Mais solidariedade, sentimento de partilha e entre-ajuda. Sentimentos que já existiam, mas que emergiram novamente neste período de crise. Aproveitemos então o que de bom se gerou nesta pandemia e façamos do desastre uma oportunidade para um melhor futuro. Mostremos que o Lado B merece também a devida atenção e que não cairá em vazio. O nosso esforço colectivo assim o exige . ALGARVE INFORMATIVO #247
OPINIÃO As competências do novo presente Luís Matos Martins (Empresário e Docente Universitário) assaram-se quase dois meses desde que foi decretado o estado de emergência em Portugal, algo que não acontecia desde 1975. Para muitas gerações atuais, esta é a primeira vez que vivenciam uma situação como esta, o que se revela um grande momento de mudanças, não só ao nível da vida profissional e familiar, mas também a nível pessoal e emocional, desafiando toda a população a redefinir o seu modo de estar e de agir e quebrando e reformulando todas as suas rotinas. Surge agora o regresso à vida dita «normal», sendo que esta normalidade não será, de todo, igual ao «normal» a que estávamos habituados. As empresas e as suas equipas serão, agora, colocadas à prova de formas nunca colocadas e, por isso mesmo, este novo «presente» irá exigir coisas que antes não lhes eram exigidas. Para a recuperação e superação dos desafios colocados por esta pandemia, venho propor seis competências que deverão estar na base de toda a ALGARVE INFORMATIVO #247
atividade empreendedora e empresarial e que acredito que serão os elementos chave para o novo sucesso que todos os negócios pretendem alcançar: Inovação, Resiliência, Cooperação, Sedução, Inteligência Emocional e Meditação. A Inovação poderá passar por reinventarmos os nossos modelos de negócio e identificar novos canais de distribuição, atualizando o plano estratégico aos desafios atuais e atuando sob uma resposta eficaz às necessidades do negócio. Por outro lado, a Cooperação permitirá, através do trabalho em rede e em parceria, superarmos os desafios com mais facilidade e conseguirmos desenvolver novos e melhores produtos e serviços. A Resiliência e a Inteligência Emocional serão as competências que farão destacar os colaboradores com maior capacidade de adaptação, permitindo superar estes momentos mais duros com alguma tranquilidade e bem-estar. A inteligência emocional, enquanto capacidade de reconhecer o que determinados acontecimentos provocam na nossa forma de estar, vai permitir a todos os colaboradores e 128
chefias perceberem como se podem adaptar aos desafios colocados e encontrarem alternativas que os façam conseguir enfrentar esses mesmos desafios. A Sedução, seja de parceiros ou de fornecedores, vai contribuir para que também estes players continuem a querer trabalhar connosco, e que, aliada à nossa Inteligência Emocional, Resiliência e espírito de Cooperação, os vai inspirar a eles próprios a trabalharem estas competências nas suas equipas. Resta-nos a Meditação, não numa vertente espiritual, mas sim mental, que ajudar-nos-á a «parar» para depois «avançar». Com isto quero dizer que, face à mudança constante de paradigma, provocada por esta nova normalidade no ecossistema empreendedor e empresarial, será essencial refletirmos sobre os progressos feitos até ao momento e qual a melhor forma de agir face aos recursos e potenciais que temos nas nossas empresas.
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Cada Empresa tem a sua identidade, e esta identidade é formada e construída por todas as identidades das pessoas que a constituem e que todos os dias dão a cara e voz pela missão da empresa. Acredito que será através das pessoas que as empresas poderão alcançar o sucesso e poderão reinventar os seus negócios, adaptando-os a esta nova realidade .
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OPINIÃO Restaurar Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) o longo do tempo, Restaurar foi sempre uma preocupação, mesmo obrigação, mas adiada constantemente por falta de vontade política, de zelo, de diretrizes de instituições locais, governamentais ou não, de organismos que deveriam se preocupar com a coisa pública, como bem maior de todos nós. Há muito que a Restauração se encontrava apodrecida, envolta em teias obscuras, entre a ilegalidade e o salve-se quem poder, minada de gente medíocre, de marginais ao sistema, que sabiamente se aproveitam do pouco conhecimento do cliente e dos meandros legais e burocráticos que quase tudo permite. Ora, isto não é saudável para o sistema económico, oculta casos de insalubridade laboral, familiar e na Qualidade daquilo que produzimos. E, de repente, entramos em confinamento social e toda a atividade comercial que envolve o trânsito e contacto entre pessoas é fechado, como parte do problema e a nação mergulha num limbo e dentro do casulo, no escuro, obrigada, aguarda o momento de voltar.
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Entretanto, quem deveria ter arregaçado as mangas e editado de forma célere um documento justo e apropriado, não o faz e deixa circular montanhas de notícias falsas, induzindo os menos preparados gestores a avançarem para gastos supostamente necessários. Mas a sociedade está atenta e alguns de nós podem encontrar aqui e agora uma oportunidade de fazer melhor. Em Comportamento Social, o uso da máscara é aceite como a melhor solução, em detrimento da viseira, e que uma não substitui a outra. E em ambiente de trabalho, como os Cozinhas, onde alguns profissionais têm que falar em quantidade e qualidade, para além de terem que provar o que cozinham, qual a solução? Isto, partindo do princípio que só pode trabalhar quem não está doente, ou não é assintomático, ou seja, quem não está doente ou é provavelmente imune. Em tempo de retorno à atividade económica, não seria importante e prioritário a obrigação do despiste de imunidade, através dos testes sorológicos e que esses testes fossem pagos pelo SNS? Medidas como atrás descrevi, aliadas à simplicidade, à renovação de ementas, 130
estabelecimento de normas, da compreensão e divulgação massiva do que é a Qualidade, podem atenuar as percas previstas para o setor, que teme, mais do que tudo, a dúvida, se vale a pena reabrir, porque, tal como a doença infeciosa que nos atinge, o problema mal curado pode voltar com maior poder destrutivo. As feridas económicas não se curam com o tempo, mas com medidas efetivas, criadoras de alívio fiscal, de cedências por parte das autoridades, do uso correto da vistoria.
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Em tempo de crise abrem-se portas e oportunidades, as associações e entidades que zelam pela união de interesses devem aligeirar procedimentos e burocracias e avançar para novos modelos. O «leve pronto» e o «entregamos em casa» passarão a ser sérios candidatos à restruturação de empresas do ramo da restauração, a par dos restaurantes tradicionais, onde a experiência, os maneirismos, a qualidade, a confiança e o sorriso, agora oculto, só tem que continuar a apostar no trabalho desenvolvido. Agora, mais do que nunca, comer fora tem que ser Uau! . ALGARVE INFORMATIVO #247
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #247
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