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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 30 de maio, 2020

VÍTOR VAZ PINTO:

“ALGARVE TEM UM DISPOSITIVO ROBUSTO E EFICAZ PARA COMBATER OS INCÊNDIOS RURAIS”. BANDA ALHADA | CASA DA CULTURA DE LOULÉ | «CINEMA MIAMI» | «FOMe» 1 ALGARVE INFORMATIVO #250 «KARL VALENTIN KABARETT» | MUSEU ARQUEOLÓGICO VIRTUAL DO ALGARVE


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46 - Banda Alhada em Albufeira

100 - «Karl Valentin Kabarett» em Loulé ALGARVE INFORMATIVO #250

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OPINIÃO 114 - Paulo Cunha 116 - Ana Isabel Soares 118 - Fábio Jesuíno 120 - Adília César 122 - João Ministro 126 - Augusto Pessoa Lima

32 - Museu Arqueológico Virtual do Algarve 90 - «FOMe» em Faro

60 - Casa da Cultura de Loulé

74 - «Cinema Miami» em Quarteira 9

16 - Vítor Vaz Pinto ALGARVE INFORMATIVO #250


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“ALGARVE TEM UM DISPOSITIVO ROBUSTO E EFICAZ PARA COMBATER OS INCÊNDIOS RURAIS”, GARANTE VÍTOR VAZ PINTO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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oi apresentado, no dia 18 de maio, no Comando Regional de Emergência e Proteção Civil do Algarve, situado na Zona Industrial de Loulé, o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR) de 2020 para o Algarve, que contará com 833 operacionais e 206 meios terrestres, organizados em 166 unidades operacionais, complementadas por sete meios aéreos cujo raio de cobertura abrange toda a região. Tratam-se de quatro Helicópteros Bombardeiros Ligeiros, que operam a partir dos Centros de Meios Aéreos de Monchique, Loulé, Tavira (Cachopo) e Ourique (Distrito de Beja); um Helicóptero Bombardeiro Pesado, que atua a partir da Base de Helicópteros em Serviço Permanente de Loulé; e dois Aviões Bombardeiros Médios, que estarão na Base Aérea de Beja; contando ainda com uma rede de deteção precoce, assente em 12 postos de vigia estrategicamente colocados. Um DECIR que garantiu, no ano transato, o despacho de meios, após a localização do incêndio, em 49 segundos, a chegada do primeiro meio ao «teatro de operações» em 12 minutos, e a resolução das ocorrências em 36 minutos, das quais 96,6 por cento na fase de ataque inicial. Tudo isto com zero acidentes. O DECIR definido para o Algarve está consensualmente assumido por todas as entidades que concorrem para a defesa da floresta contra incêndios e foi ajustado à evolução da perigosidade, “com uma

organização flexível e diferenciada, face à probabilidade e histórico de ALGARVE INFORMATIVO #250

ocorrências, previsibilidade da intensidade de propagação e suas consequências, bem como o nível necessário de prontidão e mobilização das estruturas, forças e unidades de proteção e socorro”, explicou ao Algarve Informativo o Comandante Operacional Distrital da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, Vítor Vaz 18


Pinto, adiantando que este dispositivo, financiado pela administração central, local e entidades detentoras dos Corpos de Bombeiros, vem reforçar a Força Mínima de Intervenção Operacional existente em cada um dos 16 concelhos algarvios e afeta meios e recursos dedicados dos demais Agentes de Proteção Civil, Organismos e Entidades Cooperantes que, direta ou indiretamente, concorrem para o terceiro 19

pilar da Defesa da Floresta Contra Incêndios – o combate – com a finalidade de garantir, em permanência, a resposta operacional adequada e articulada a ocorrências de incêndio rural. Assim sendo, e atendendo aos bons resultados evidenciados no passado recente, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil vai ALGARVE INFORMATIVO #250


continuar a apostar na consolidação das Bases Temporárias de Estacionamento de Meios de Combate em locais estratégicos e com elevado perigo de incêndio rural, para pré-posicionamento e sustentação logística de unidades de reforço imediato, antecipando, deste modo, as ações de ataque ampliado. Estarão, então, no terreno duas Brigadas de Combate a Incêndios (BCIN Barlavento e BCIN Sotavento), e dois Grupos de Combate a Incêndios Florestais dos Bombeiros do Algarve e da Companhia de Ataque Estendido da Unidade de Emergência Proteção e Socorro da Guarda Nacional Republicana. Em paralelo, estarão duas Equipas de Reconhecimento e Avaliação ALGARVE INFORMATIVO #250

da Situação de nível regional, operacionalizadas pelos bombeiros, à ordem do Comando Distrital de Operações de Socorro, das 16 Equipas de Reconhecimento e Avaliação da Situação, uma por município, coordenadas pelos respetivos Serviços Municipais de Proteção Civil, bem como uma Equipa Auxiliar de Análise e Uso do Fogo e uma Equipa Tática de Empenhamento de Máquinas de Rasto, operacionalizada por bombeiros habilitados para o efeito. Apresentados, de forma resumida, os meios que estarão de prontidão para combater os incêndios rurais que 20


venham a deflagrar no Algarve neste Verão, Vítor Vaz Pinto mostra-se confiante na capacidade de resposta do dispositivo, um DECIR que foi montado, recorde-se, quando o país viveu um Estado de Emergência, agora Estado de Calamidade, com todas as restrições impostas pela pandemia que afeta o mundo. “É, de facto, a primeira vez

que experienciamos uma situação destas, mas o Algarve já tem uma maturidade ao nível da proteção civil que nos permite enfrentar estas ameaças com que nos vamos deparando com bastante eficiência. O DECIR oferece-nos toda a confiança para enfrentar uma campanha «normal», ou seja, um Verão sem condições meteorológicas extremas. Sabemos que haverá calor e vento e o dispositivo está preparado para isso, no entanto, está na sua capacidade máxima. No Algarve, não há meios disponíveis para ampliar este dispositivo sem colocar em causa as demais áreas de atuação”, refere o Comandante Operacional Distrital da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.

“Os meios são finitos, tanto em termos materiais como humanos, mas este dispositivo garante-nos condições para lidar mesmo com situações de exceção, com uma gravidade meteorológica grande, altura em que teremos que responder também com medidas de exceção”, acrescenta o entrevistado. 21

MANTER O SANGUE FRIO QUANDO O ATAQUE INICIAL NÃO É BEM-SUCEDIDO O DECIR do Algarve tem estado, sem dúvida, à altura das exigências e das necessidades, mas Vítor Vaz Pinto lembra que a região tem algumas particularidades climatéricas e geográficas que originam um desenvolvimento diferenciado dos incêndios. “Temos as brisas

marítimas e da montanha que criam uma rotatividade muito grande do vento, o que dificulta a tarefa dos comandantes das operações de socorro na definição estratégica dos planos de ação. Há, no Algarve, uma forte apetência para, em pouco tempo, ser afetada uma área muito grande antes dos meios lá conseguirem chegar”, reconhece, daí a importância da estratégia ser delineada por quem conhece o terreno como a palma das suas mãos.

“Ninguém duvida que ter um conhecimento prévio do local onde as ocorrências se desenvolvem é uma mais-valia quando se faz o combate aos incêndios, para saber quais são as «janelas de oportunidade» e onde se devem concentrar os meios para se atacar o fogo de forma musculada. Mesmo assim, temos um ou dois grandes incêndios por ALGARVE INFORMATIVO #250


ano que são responsáveis pela quase totalidade da área afetada, incêndios que não conseguimos debelar logo na sua fase inicial. O problema é que, se colocamos todos os meios disponíveis nesse incêndio, perdemos a capacidade de acorrer a outras situações que surjam”, alerta o responsável da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil no Algarve. Nestas situações, a opção é retardar a progressão do incêndio da melhor forma possível enquanto os meios de reforço não chegam, mas nunca se pode perder o sangue-frio e a racionalidade, caso contrário, pode ficar o resto da região em perigo. E isso aconteceu, noutros tempos, com resultados trágicos, recorda Vítor Vaz Pinto. “Compreendo que a

população tenha dificuldade em perceber por que razão estão bombeiros nos quartéis ao invés de irem logo todos para aquele local, mas eles precisam estar disponíveis para responder a outros incêndios. Há meios afetos ao ataque inicial com o objetivo de chegarem o mais depressa possível ao «teatro de operações» e debelarem o incêndio. Facilmente se percebe que, enquanto o incêndio é pequeno, mais fácil é de apagar. Temos helicópteros em Loulé, Cachopo e Monchique e os seus raios de atuação primários cobrem em pleno toda a região. Quando nos chega a notícia de um incêndio, verificamos ALGARVE INFORMATIVO #250

logo se não é num local que normalmente produza fumos – fábricas ou telheiros – pois pode ser um falso alarme. Em regra, sai automaticamente um meio aéreo, um veículo de combate e o autotanque do corpo de bombeiros dessa área de atuação e mais dois veículos de combate dos dois corpos de bombeiros adjacentes. No mínimo, teremos sempre um meio aéreo, três veículos de combate e um autotanque nesse ataque inicial”, descreve o entrevistado. Quando a ocorrência tem lugar em freguesias prioritárias ou áreas com elevada perigosidade, saem logo dois meios aéreos, juntamente com os outros meios terrestres, de modo a que o ataque inicial seja eficaz. No entanto, nem sempre se consegue dominar o incêndio na sua fase embrionária e, quando assim é, esses meios aéreos saem do «teatro das operações», algo que a população tem muita dificuldade em assimilar, admite o Comandante Vaz Pinto. “Mas os helicópteros

têm uma determinada autonomia, precisam regressar à base para reabastecerem e devem, acima de tudo, estar disponíveis para ajudar no ataque inicial noutras ocorrências que surjam”, explica, aproveitando para lembrar que, quando a prevenção é eficaz, a probabilidade de existirem incêndios rurais é bem menor. “Se tratarmos

da floresta com uma silvicultura 22


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preventiva, com espaços rurais ordenados e compartimentados e mais resilientes ao fogo, a nossa missão é mais facilitada. Claro que este trabalho não se faz de um dia para o outro, demora décadas a ser efetuado e exige que haja continuidade nas políticas adotadas. Não adianta nada investir-se milhões de euros este ano e, no próximo, não se fazer nada”, defende Vítor Vaz Pinto. “Não somos especialistas na gestão das florestas, estamos cá para responder às ocorrências, no entanto, com florestas e espaços rurais mais resilientes, não precisaríamos constituir dispositivos tão expressivos como somos obrigados a fazer atualmente”.

dos combatentes, como da população. Depois estão os bens das pessoas e o ambiente. É evidente que o fogo é um inimigo que deixa marcas muito profundas. Há pessoas que trabalham uma vida inteira e que, em poucas horas, veem tudo isso ser completamente dizimado. Contudo, não podemos ter um bombeiro atrás de cada árvore, um helicóptero em cada freguesia e um militar em cada casa, portanto, as pessoas precisam ter noção do perigo a que estão expostas e adotar medidas de autoproteção. Se todos cumprirmos com aquilo que somos obrigados a fazer, a nossa missão fica mais facilitada, seja em incêndios rurais ou urbanos”, assume o entrevistado.

VIDA HUMANA - BENS MATERIAIS - AMBIENTE Dificuldades à parte, a esmagadora maioria dos incêndios rurais são debelados na sua fase inicial, alguns até nem são motivo de notícia na comunicação social. O pior são as tais exceções, as que dão origem a casos dramáticos, em que se perdem bens materiais, terrenos, animais e, por vezes, vidas humanas. Situações em que, para Vítor Vaz Pinto, não há qualquer hesitação na definição de prioridades. “O

nosso principal objetivo, em qualquer tipo de ocorrência, é sempre salvaguardar a vida, quer ALGARVE INFORMATIVO #250

O Comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil do Algarve admite, entretanto, que a situação, nos espaços urbanos e empreendimentos turísticos, está mais acautelada, fruto da região ser visitada por milhões de britânicos que têm, na sua maioria, bastantes preocupações quanto à sua segurança. “A nível de

segurança contra incêndios em edifícios, estou muito satisfeito com a realidade do Algarve, as unidades hoteleiras estão totalmente preparadas para receber os seus clientes. O mesmo não se passa nas florestas 24


e não é fácil para as pessoas compreenderem que o próprio clima está a mudar. Se os pais e os avós sempre fizeram as coisas de uma maneira, não percebem por que têm agora que fazer de maneira diferente”, desabafa Vaz Pinto, embora reconheça que, após as tragédias de 2017, as mentalidades começaram a mudar.

“Aceito o desespero das pessoas nessas situações, mas lamento que, por vezes, se tentem refugir no combate para justificar aquilo que não foi feito na prevenção. Todavia, todas as mulheres e homens que integram o dispositivo de combate a incêndios rurais e os outros 25

dispositivos são profissionais que fazem o melhor que sabem e podem”. Vítor Vaz Pinto lembra ainda que o DECIR é um complemento às forças mínimas de intervenção existentes em cada concelho para fazer face aos riscos naturais, tecnológicos e mistos nos seus territórios. Equipas que são depois reforçadas, pelo poder central, através da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, com meios aéreos – que são bastante caros – e os meios terrestres, e estes assentam no principal agente da proteção civil, os bombeiros. “Sejam profissionais ou

voluntários, os bombeiros são a ALGARVE INFORMATIVO #250


espinha dorsal de todo este sistema. E os voluntários são pessoas que, ao fim de um dia de trabalho, em vez de irem para casa para junto das suas famílias, vão ajudar num quartel ou fazer frente a incêndios ou outras ocorrências”, enaltece o entrevistado. “O Estado, em reconhecimento desta boa-vontade, altruísmo e abnegação, dá-lhes um prémio que é, no que toca ao Algarve, de três euros à hora. O poder central paga 54 euros por 24 horas de trabalho e os 16 municípios algarvios acrescentam mais 20 euros diários, porque, no período mais crítico dos incêndios, é também quando existe maior oferta de emprego na região”, explica.

VENTO É O PRINCIPAL INIMIGO, NÃO AS TEMPERATURAS ALTAS Municípios que são parceiros fundamentais em todas as atividades da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil e Vítor Vaz Pinto garante que “os 16 autarcas algarvios

sempre estiveram do lado da solução e não do problema”. “Estou cá desde agosto de 2004, quando houve aquele grande incêndio que desceu do Alentejo e só parou no Barranco Velho. Em 2012, foi o grande incêndio de Catraia e, em 2018, em Monchique e, em ambos os casos, zero mortos, zero feridos. ALGARVE INFORMATIVO #250

Mas nota-se sempre uma tremenda dificuldade em as pessoas compreenderem por que razão têm que sair das suas casas, ao invés de ficarem a proteger os seus bens”, indica, voltando a chamar a atenção para os bons resultados que se têm verificado no combate aos incêndios rurais na região na 26


esmagadora maioria das situações. Por isso mesmo, não há grandes alterações do DECIR de um ano para o outro, ainda que exista a perceção de que as alterações climáticas se estão a fazer sentir, sobremaneira, nas condições meteorológicas. “Temos ali um

período de 10 dias com condições 27

muito gravosas e severas, em que qualquer ignição que aconteça será muito mais difícil de conter do que num dia normal. Não é pelo facto de termos temperaturas superiores aos 35ºC que vai haver incêndios, a dinâmica dos incêndios é ALGARVE INFORMATIVO #250


sobretudo influenciada pelo vento. No dia 3 de maio, em que os combustíveis tinham muito mais água do que agora, tivemos um incêndio em Vila do Bispo, e foi afetada uma área superior a 25 hectares por causa do forte vento que se sentia. O fogo dava saltos”, recorda Vítor Vaz Pinto. Pessoas, bens, ambiente, assim é a ordem das prioridades de qualquer comandante de bombeiros quando deparado com um incêndio, e as populações devem compreender, de uma vez por todas, que, quando as coisas correm menos bem, isso não acontece por falta de competência, empenho ou vontade dos «soldados da paz». “As

equipas de postos de comando do Algarve são muito especializadas e experimentadas e estiveram nos «teatros de operações» mais complexos que ocorreram em Portugal nos últimos anos. Convém lembrar que não temos a capacidade científica e financeira dos Estados Unidos da América e outros países, o que não significa que eles também não tenham incêndios e com resultados dramáticos. Portugal viveu a tragédia de 2017, mas penso que o país encetou um conjunto de procedimentos de então para cá, ao nível legislativo, de meios, de ordenamento, para que isso não se repita. Contudo, ninguém no seu perfeito juízo pode garantir que isso ALGARVE INFORMATIVO #250

não possa acontecer novamente”, avisa o Comandante da Proteção Civil do Algarve. “Podemos ter os meios

de combate que quisermos, mas, em determinadas situações, só conseguimos atacar o fogo quando ele deixa, e não quando queremos. E se é ali e naquele momento que temos que intervir, por este ou aquele fator, é ali e naquele momento que devemos concentrar os meios. Quando se perde essa «janela de oportunidade», aplica-se o Plano B e é isso que as populações nem sempre compreendem”. A terminar a conversa, Vítor Vaz Pinto enfatiza que o Algarve possui meios aéreos de ataque inicial para cobrir toda a região, o mesmo se passando com os meios aéreos de ataque ampliado, que permitem retardar a progressão dos incêndios até os meios terrestres estarem posicionados. “A

população pode ficar descansada porque o DECIR que temos no Algarve já provou a sua eficiência perante situações muito complicadas, com condições meteorológicas das mais gravosas desde que há registos. Merece toda a nossa confiança e é constituído por pessoas que, sendo profissionais ou não, exercem esta atividade de forma profissional e empenhada” .

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O ALGARVE SEMPRE FOI UMA GEOGRAFIA DE CONFLUÊNCIAS DE VÁRIAS CIVILIZAÇÕES E O SEU ESPÓLIO ARQUEOLÓGICO É RIQUÍSSIMO”, INDICA ISMAEL MEDEIROS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Rede de Museus do Algarve ALGARVE INFORMATIVO #250

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Museu Arqueológico Virtual do Algarve é uma ambição antiga da Rede de Museus do Algarve que se vai finalmente tornar realidade, fruto de uma parceria estabelecida com o Museu Nacional de Arqueologia. E, nesse sentido, já começaram os trabalhos, centrados nos sítios identificados e nos materiais recuperados por Sebastião Phillipes Estácio da Veiga no âmbito da sua carta arqueológica para a região algarvia, que resultou na abertura do efémero Museu Arqueológico do Algarve e na produção da volumosa obra «Antiguidades Monumentaes do Algarve». “Ele sempre sonhou que os

materiais que recolheu nas suas campanhas pudessem ficar expostos no Algarve. Ainda chegaram a estar, durante poucos meses, em Lisboa, mas o Museu Arqueológico do Algarve foi fechado, depois o espólio veio para Faro, até que grande parte foi resgatada pelo fundador do Museu Nacional de Arqueologia, na altura Museu Etnográfico, o José Leite Vasconcelos, que os levou novamente para Lisboa”, conta Ismael Medeiros, Técnico Superior da Câmara Municipal de Lagoa, membro do Grupo de Arqueologia da Rede de Museus do Algarve e coordenador do Grupo de Trabalho para o Museu Arqueológico Virtual do Algarve, do qual fazem parte ainda Rui Parreira (Direção Regional de Cultura do Algarve), Rui Roberto de ALGARVE INFORMATIVO #250

Almeida (Câmara Municipal de Loulé), Sandra Cavaco (Câmara Municipal de Tavira), Vera Teixeira de Freitas (Câmara Municipal de Portimão) e Alexandra Grandim (Câmara Municipal de Alcoutim). De facto, desde meados do século XIX que há recolhas de espólios em sítios arqueológicos do Algarve por parte de investigadores portugueses e 34


estrangeiros, conjuntos, alguns deles numerosos, que integram acervos de museus de fora da região, nomeadamente o referido Museu Nacional de Arqueologia, e a sua segmentação, nos tempos que correm, em coleções menores para serem incorporados nos museus da geografia de proveniência afigura-se improvável. Contudo, muitos destes bens culturais são representativos da ocupação humana 35

no território algarvio em diferentes cronologias e não se encontram musealizados, estudados ou sequer inventariados. “Os espólios são

depositados num museu, numa primeira instância, a título provisório, e depois podem ser incorporados definitivamente. Quando assim acontece, só podem ir para outra entidade se o ALGARVE INFORMATIVO #250


museu abdicar deles, o que é difícil. Em Lagoa, por exemplo, a esmagadora maioria do nosso espólio arqueológico encontra-se espalhado por vários museus regionais e nacionais, normalmente espaços que reúnem as condições necessárias para tal e que são

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reconhecidos pela Rede Portuguesa de Museus”, explica o entrevistado. Deste modo, partindo da máxima «Passado virtualizado em Futuro», o Museu Arqueológico Virtual do Algarve terá por missão divulgar os «característicos» do passado e da identidade do Algarve que se encontram depositados nesses 36


que correm. E o aproveitamento da informação disponibilizada vai fazer-se a três níveis: científico, pois a concretização do projeto representa um acréscimo do conhecimento existente para a caracterização da evolução da ocupação humana na região; sociocultural, promovendo a aproximação das populações locais à sua cultura e passado; e turística, sendo o Museu Virtual um veículo de atratividade para os visitantes da região algarvia. Os museus do Algarve têm os seus próprios espólios e espaços de atuação e o museu virtual poderia, no futuro, receber esses contributos”, entende o técnico superior. Espólio arqueológico que é, sem dúvida, muito vasto e rico, garante Ismael Medeiros, “porque o Algarve

museus, sistematizando toda a informação associada, consubstanciada na construção de discursos explicativos sobre a evolução dos povos que habitaram o extremo sul do país, dos seus modelos de organização social e atividades económicas praticadas. “É

óbvio que um museu virtual tem as suas limitações, mas também tem mais-valias, ainda mais nos tempos 37

sempre foi uma geografia de confluências de várias civilizações ao longo de milhares de anos”. “Estácio da Veiga centrou-se mais nos tempos pré-históricos, que têm um espectro cronológico bastante grande e com uma diversidade de cultura material muito vasta. Mas, mesmo num período mais contemporâneo, há achados valiosíssimos”, atesta, frisando que o Museu Arqueológico Virtual do Algarve falará da ocupação do território do Algarve ao longo de ALGARVE INFORMATIVO #250


milhares de anos, com uma maior incidência no litoral, mas também da serra e barrocal. “Por isso, esperamos

que todos os municípios do Algarve possam depois contribuir com material para a plataforma”, declara.

UM MUSEU VIRTUAL QUE INCENTIVE A VISITA AOS MUSEUS FÍSICOS Não existindo, na época, um espaço no Algarve onde pudessem ficar guardadas todas as descobertas arqueológicas que se iam fazendo na região, a melhor opção foi, de facto, ceder o espólio a equipamentos de outros pontos do país. Vivia-se a segunda metade do século XIX, a arqueologia começava a aparecer como disciplina científica, derivada do colecionismo. E Ismael Medeiros fala, por exemplo, de Júdice dos Santos, colecionador da Mexilhoeira da Carregação que ajudou parte das descobertas de Estácio da Veiga a regressarem ao sul do país quando o Museu de Arqueologia do Algarve fechou portas na capital. A realidade atual é bastante diferente, esclarece o entrevistado, e, quando é aprovada uma campanha arqueológica, é também logo definida, pela tutela, qual a entidade que acolherá os achados que forem feitos. Quanto ao Museu Arqueológico Virtual do Algarve, funcionará, então, como plataforma digital que convida a circular e a conhecer o território do Algarve e os seus museus, sítios e monumentos. Será também um repositório para a cartografia e inventário ALGARVE INFORMATIVO #250

de sítios arqueológicos dos 16 concelhos algarvios, constituindo uma ferramenta para os projetos de investigação e de dinamização cultural que se debrucem sobre o património arqueológico regional. “A Rede de

Museus do Algarve congrega a maior parte dos municípios, a par da Direção Regional de Cultura e da Associação de Defesa de Património de Aljezur, e penso 38


que é mais fácil ser ela a avançar para este projeto do que uma autarquia individualmente. Para além disso, provavelmente será necessário contratar recursos humanos para levar por adiante a inventariação de todo o espólio, embora, numa primeira fase, os técnicos das várias câmaras 39

municipais envolvidas possam dar esse input”, indica o entrevistado. De facto, o projeto é estruturado em fases, seguindo-se, então, a de levantamento e inventário das coleções reunidas por Estácio da Veiga que se encontram à guarda do Museu Nacional de Arqueologia, tanto as que o próprio depositou, como as que José Leite de Vasconcelos, criador e ALGARVE INFORMATIVO #250


primeiro diretor da instituição, adquiriu posteriormente. Uma inventariação que, para já, está um pouco condicionada pela pandemia que o país vive, mas também há que ter cuidados acrescidos com os sítios arqueológicos a trabalhar, evitando, por enquanto, aqueles que deem origem a um manancial de informação demasiado extenso. “Ainda não estamos a

discutir quais as funcionalidades que o site do Museu Arqueológico Virtual do Algarve terá, mas acredito que possuirá todas as valências que, hoje, são essenciais, como visitas virtuais e objetos tridimensionais. Na génese estará sempre uma base informativa a partir da cultura material, dos objetos, mas queremos transportar para o território esse mapeamento e cruzá-lo com o conhecimento ALGARVE INFORMATIVO #250

oficial da Direção Geral do Património Cultural, através do portal do arqueólogo. Há materiais, estruturas, sítios, documentação associada, não falamos apenas dos objetos por si só”, esclarece Ismael Medeiros. “Os objetos são o ponto de partida para se contar a pré-história do Algarve, temos noção do que existe, em termos genéricos, no Museu Nacional de Arqueologia, mas precisamos de confirmar tudo no terreno. Depois então definiremos o modelo pretendido para o site e, posteriormente, irá avançar-se com uma eventual candidatura a fundos comunitários”, refere Ismael Medeiros. 40


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Certo é que o Museu Arqueológico Virtual do Algarve não deverá direcionarse apenas para os académicos, para os estudiosos da arqueologia, mas também para os interessados em cultural em geral. “Poderá ser visitado em

internet, mas a ideia é que funcione igualmente como um museu de território e que motive nas pessoas a vontade de frequentar, fisicamente, os museus municipais e regionais

qualquer local do mundo através da ALGARVE INFORMATIVO #250

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Ismael Medeiros

existentes, assim como os sítios musealizados e monumentos”, defende o técnico do Município de Lagoa, acrescentando que é difícil avançar com uma data concreta para a «abertura» do Museu Arqueológico Virtual do Algarve.

“Deverá acontecer daqui a três, quatro ou cinco anos, porque há 43

toda a fase da inventariação, depois a definição do modelo de plataforma a adotar e ainda a candidatura a programas de apoio, mas poderão também ser definidas outras estratégias ou fontes de financiamento. Para já, trata-se apenas de uma manifestação de intenções, acreditamos que vai ser uma realidade e contaremos com todo o apoio necessário do Museu Nacional de Arqueologia. Estamos todos entusiasmados, mas sabemos que as coisas, às vezes, não andam tão depressa como desejamos e todos nós temos também as nossas responsabilidades nas autarquias em que trabalhamos”, conclui Ismael Medeiros .

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BANDA ALHADA ATUOU A PARTIR DO AUDITÓRIO MUNICIPAL DE ALBUFEIRA PARA TODO O MUNDO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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uita festa e animação com música portuguesa do Minho ao Algarve foi a proposta da Banda Alhada para mais um capítulo do ciclo «Proximidades», promovido pela Câmara Municipal de Albufeira, e que teve lugar no dia 23 de maio. O concerto realizou-se no Auditório Municipal de Albufeira, sem a presença do público face à pandemia da covid-19 que se vive atualmente, e foi transmitido em direto através do canal youtube «albufeiraPT». Com um reportório musical na área da world music, a Banda Alhada é uma banda de «Música Portuguesa Planetária», como os próprios se autointitulam, ALGARVE INFORMATIVO #250

proporcionando um espetáculo bastante animado, repleto de força e sentimento, com uma linguagem poética e musical portuguesa totalmente contemporânea. Em palco juntam-se os sons dos adufes, sarronca, ferrinhos, pandeireta e bombos, as harmonias da viola clássica, da braguesa, do cavaquinho, dos acordeões, do baixo e do bandolim, para transmitir uma dinâmica diferente aos cantares tradicionais da nossa Terra. E, claro, a esplendida voz da convidada especial Raquel Peters. E o resultado foi um excelente espetáculo que deliciou todos quanto tiveram oportunidade de o acompanhar através do Youtube, com a esperança de voltarem novamente a assistir a um concerto ao vivo, com os artistas bem perto deles, em carne e osso . 48


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CASA DA CULTURA DE LOULÉ RECORDOU PEÇAS QUE PASSARAM PELO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina | Vídeo: João Espada

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nserido na programação online do Cineteatro Louletano em tempo de pandemia, a Casa da Cultura de Loulé apresentou, no dia 27 de maio, «Viagem ao palco do Cineteatro Louletano», uma produção do TAL – Teatro ALGARVE INFORMATIVO #250

Análise de Loulé protagonizada pelas atrizes Manuela Teiga e Maria João Catarino e com encenação de Mariana Teiga. Uma performance de vídeo gravada e editada por João Espada, com assistência de Fátima Guerreiro e Sérgio Sousa, que pretendeu recordar 62


as várias peças que esta estrutura cultural levou a cena na mais importante sala de espetáculos do concelho de Loulé. Ao longo de um descontraído lanche numa bela tarde de maio, Manuela Teiga e Maria João Catarino recordam, 63

divertidas, as produções da Casa da Cultura de Loulé que, nas últimas décadas, estrearam no Cineteatro Louletano, casos do «Eurofestival da Cançanita Louletana», «Zeca maior que o pensamento», «Amanhecer na Rotunda», «Prima da América» e «Auto ALGARVE INFORMATIVO #250


da Vida e da Morte», as primeiras quatro com textos originais de António Clareza e José Gonçalves, a última com base na obra do poeta António Aleixo. Mas também se levantou o véu para os próximos desafios da estrutura, revelou ao Algarve Informativo Fátima Guerreiro.

“Pretendemos juntar várias gerações que nos vão falar de quais eram os seus sonhos quando tinham 15 anos, e como imaginavam que seria o mundo no futuro, num trabalho que ainda não sabemos se será apresentado ao vivo com público ou num formato online. E, quando começou a quarentena, estávamos a ensaiar uma peça infantil integrada no «Cenários», o «Rei e a Sereia», que deverá ir a cena em setembro ou outubro deste ano”, adianta Fátima. ALGARVE INFORMATIVO #250

A Casa da Cultura de Loulé foi fundada a 13 de abril de 1987, culminando um processo que se iniciou, em 1979, com a formação da Associação Pró-Casa da Cultura de Loulé. Ao longo de 41 anos, tem dinamizado imensas atividades culturais e desportivas e, no domínio da formação e criação artística, movimenta atualmente dezenas de colaboradores ativos no teatro e clube de escrita. Promove igualmente eventos de grande dimensão, como o Festival Internacional de Jazz de Loulé.

“Porque a dinamização cultural também passa por fazer coisas diferentes, multidisciplinares e abrangentes. Fazer ganhar hábitos culturais é o trabalho da Casa da Cultura de Loulé”, explicam .

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CINEMA MIAMI TAMBÉM DISSE «NÃO» AO PETRÓLEO NO ALGARVE Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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Jardim Filipe Jonas, palco da nova Feira de Verão de Quarteira, acolheu, nos dias 16 e 17 de julho de 2018, «Cinema Miami», o primeiro espetáculo do Grupo de Teatro Comunitário - Quarteira Fora da Caixa, composto por membros da comunidade quarteirense, e arredores, que fazem do teatro um espaço de encontro, convívio, reflexão, criatividade, jogo e crescimento pessoal. A divertida comédia conta a história de uma comunidade que vê o seu cinema fechar, com a decisão a ser comunicada, durante uma sessão tripla que incluía os filmes «Tarzan», «Romeu e Julieta» e «Titanic», pelo próprio ALGARVE INFORMATIVO #250

governador local, para ali se iniciar uma operação de exploração de petróleo. Em palco estiveram 22 jovens atores amadores que interpretaram personagens típicas de Quarteira, desde lavadeiras e pescadores até uma madre superiora, mas também os habituais turistas que esgotam a cidade costeira do concelho de Loulé durante os meses quentes de Verão. O objetivo dos encenadores Miguel Martins Pessoa e Diana Bernedo foi resgatar a memória destas figuras do quotidiano quarteirense de outros tempos – porque um povo sem memória não tem identidade – mas também fazer o espectador viver um momento de ritual e reflexão, abordando temas atuais que dizem respeito a todos nós. 76


O projeto é da responsabilidade do Colectivo JAT – Janela Aberta Teatro, de Miguel Martins Pessoa e Diana Bernedo, contando com o apoio da Junta de Freguesia de Quarteira e com a parceria da Associação Akredita em Ti e da Câmara Municipal de Loulé. Atualmente tem cerca de 35 membros ativos, vizinhosatores de todas as idades, dos 5 aos 83 anos, que todas as quintas-feiras se reúnem no edifício da Junta de Freguesia de Quarteira para ensaiar e brincar juntos.

“A criação do grupo de Teatro Comunitário teve como grande propósito oferecer um espaço de criação e expressão à comunidade de Quarteira, mas também de encontro entre vizinhos e para

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vizinhos, pois todos temos direito à criatividade, à imaginação e ao desenvolvimento humano. Com a evolução do mundo moderno e tecnológico, as pessoas encontram-se cada vez menos umas com as outras. Vivemos em pequenos mundos, isolados e muitas vezes de costas voltadas para o próximo”, explicaram Miguel Martins Pessoa e Diana Bernedo, acrescentando ainda que “o Teatro,

por natureza, é celebração e festa, um espaço de encontro e de expressão através da arte, e um dos rituais mais antigos que a humanidade nos deixou” .

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MARIONETAS ANDARAM À SOLTA EM FARO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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m 2018 aconteceu a primeira edição alargada do FOMe – Festival de Objectos e Marionetas & Outros Comeres, uma iniciativa organizada em rede pelos municípios do Algarve Central – Olhão, Faro, Loulé, Albufeira, S. Brás de Alportel e Tavira – e programada e produzida pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve. E, numa tarde bastante animada de setembro, o Jardim Manuel Bívar, em Faro, foi palco de três performance que fizeram as delícias de miúdos e graúdos.

Irene Vecchia. O Guarattelle é a forma tradicional napolitana de teatro de rua, criada com a técnica de bonecos de luva e transmitida oralmente há mais de 500 anos em Itália. A personagem principal - Pulcinella - é um ser livre que, com a sua voz mágica, encena o eterno conflito entre o bem e o mal. Pulcinella representa as emoções da vida humana em que cada espetador se vai reconhecer e é esse precisamente o segredo de uma tradição oral antiga, num espetáculo social e sempre vital, numa representação irónica e numa sátira do ser humano.

A tarde começou com o divertidíssimo «Pulcinella», trazido ao FOMe pela italiana

Uma hora depois o público, maioritariamente constituída por

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crianças e pelos pais, porque as marionetas agradam a todas as gerações, teve oportunidade de assistir a «Punch and Judy», trazido de Inglaterra pelas mãos do categorizado Clive Chandler. O marionetista, com mais de 30 anos de experiência, é um líder deste tipo de teatro tradicional em Terras de Sua Majestade e apresentou uma performance muito ritmada e engraçada, com uma série de marionetas de luva que incluem o Polícia e o Crocodilo e em que, no final, o Diabo é derrotado. A tripla sessão de marionetas terminou com a companhia Lafontana – Formas 91

Animadas e o seu «Mamulengo Capiroto», uma forma de teatro tradicional brasileira praticada, na sua essência, por artistas do povo, de características genuinamente populares, onde os atores são bonecos que falam, dançam, brigam e, quase sempre, morrem. «Mamulengo Capiroto» vem dar continuidade ao projeto de investigação que o grupo vila-condense tem vindo a realizar sobre este teatro ao longo dos últimos 15 anos, refletindo e revelando de modo singular a relação entre esta manifestação brasileira e os seus congéneres em Portugal . ALGARVE INFORMATIVO #250


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TEATRO DO ELÉCTRICO LEVOU «KARL VALENTIN KABARETT» A LOULÉ E QUERENÇA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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m 2018, o Teatro do Eléctrico regressou ao concelho de Loulé com o fantástico «Karl Valentin Kabarett», nos dias 9 e 10 de agosto, na Cerca do Convento Espírito Santo, em Loulé, e nos dias 16 e 17 de agosto, no Largo da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, em Querença. Com textos originais do dramaturgo Karl Valentin e encenação do quarteirense Ricardo Neves-Neves, o espetáculo reuniu 16 curtas peças do autor que ficou conhecido como o «Chaplin Alemão», protagonizadas por 11 atores, entre eles os «históricos» Fernando Gomes e Elsa Galvão, cruzando-as com o repertório musical popular alemão, pela voz de um coro polifónico de atores/cantores e um quarteto de saxofones. O espetáculo representa a celebração do teatro de Karl Valentin (1882-1948), o comediante e dramaturgo bávaro que é reconhecido, hoje, como um dos mais influentes do século XX. Às peças curtas, repletas de humor e de absurdo, o encenador Ricardo NevesNeves juntou um conjunto de temas do repertório tradicional alemão do final do século XIX e princípio do século XX, cantados ao vivo em alemão pelos 11 atores e um cantor lírico, acompanhados de uma orquestra de dez elementos, e o resultado final é um entusiasmante espetáculo de cabaret, a lembrar o imaginário fervilhante da Alemanha de Weimar . ALGARVE INFORMATIVO #250

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OPINIÃO “A Cultura custa dinheiro. A falta da Cultura custa ainda muito mais!” Paulo Cunha (Professor) nquanto produtor e consumidor de cultura, tenho-a na minha vida como uma companhia, um estímulo de bemestar, uma referência de vida e, principalmente, uma fonte de felicidade e enriquecimento intelectual. Sei que assim é, também, com muitos de vós! Aliás, nestes meses de reclusão forçada, o que teria sido da nossa vida, confinados entre quatro paredes, sem a bendita Cultura? Em tempo de reclusão antipandémica, muitos agentes da cultura aumentaram, graciosamente, o acesso às suas várias formas de arte. Basta fazermos um pequeno exercício de memória, para quantificarmos o número de acessos a filmes, séries, concertos, peças de teatro, documentários, bailados, apresentações circenses, programas de humor, etc., que nos ajudaram a, literalmente, suportar a ausência de contacto com o exterior. Para nós, consumidores, foi bom, sem qualquer margem de dúvida! Mas o que dizer dos imensos profissionais da Cultura que a viram disponibilizada - gratuitamente ALGARVE INFORMATIVO #250

por todos nós, sem disso terem retirado algum usufruto material? Por muitos «likes» e palavras de reconhecimento, apreço e apoio que tenham recolhido nas redes sociais, não foram eles que pagaram e continuarão a pagar as rendas, os empréstimos, as contas de casa (água, eletricidade e gás), o supermercado, as refeições, a educação dos filhos, o combustível das viaturas, os impostos, etc. Grande parte a «recibo verde», são profissionais que, todos os dias, dão tanto e recebem tão pouco. Vítimas e reféns duma precariedade que, ao mínimo percalço, os atira por terra, terão que imperiosamente - unir-se por forma a bater o pé e falar a uma só voz a quem deles, em proveito próprio, só se aproveita. Tutelados, desde sempre, por Secretarias de Estado e Ministérios da «Cultura à Medida», os agentes da Cultura continuam a ser vítimas de quem, por várias formas, ajudaram a eleger. Numa altura de «vacas magras», em que vários tipos de carência já se fazem sentir na pele e no coração dos profissionais das artes performativas 114


(produtores, companhias independentes, atores, bailarinos, performers, músicos, técnicos e todos os profissionais de palco), penso que é chegado o momento de, mais do que estender a mão, fechá-la e, dando um murro na mesa, unirem-se por um objetivo comum. É um facto indesmentível: a Cultura não é um luxo, e quem assim pensa não é digno da nossa consideração nem apoio! Solidário com todas as vigílias que os diversos operários e artesãos das artes desenvolveram e possam vir ainda a desenvolver, espero, sinceramente, que a atual situação de desalento e impotência lhes permita perceber que tem sido, também, a desunião entre os vários membros desta enorme família um dos fatores que potencia a precariedade a que foram sujeitos. Urge 115

aprender com os erros do passado e, todos dias - vigilantes e atuantes -, dar (com classe) um sentido à grande classe da artes. Não é nas redes sociais que se demonstra união, é no terreno. É imperioso que estejamos - efetivamente - unidos na ventura, como forma de precaver desventuras inesperadas. Porque a desunião de uns é a força e o ganho de outros! Quando o vendaval amainar, espero e desejo que todos (público e profissionais das artes) possam fazer parte da solução. Para que, juntos, consigamos criar mecanismos que consigam fazer face a estas intempéries, que, tudo leva a crer, continuarão a fustigar-nos. É caso para dizer: “Casa roubada, trancas à porta!” .

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OPINIÃO Do Reboliço #86 Ana Isabel Soares (Professora) aiu a calma, pesada, sobre o socalco do Moinho Grande. Seis da tarde e ainda se custa a respirar, que o ar nem truz: é como se não houvesse. O Sorna, cão pachola que veio de visita, tem estendido à sombra ainda assim quente do cilindro o corpanzil de pastor coberto com a samarra branca decorada com estrias de melaço. Os olhos são doces também, mas agora estão escondidos; das orelhas, mal se lhe vê o rosado de dentro – seja como for, não há ruídos que o obriguem a ligar os sonares. Está como morto. Sai-lhe da coleira uma corrente longa, que dá a volta quase completa ao moinho (é para não abalar, que ali não há vedações e o bicho tem espírito andadeiro). Pensa, naquele torpor de fim de tarde, que tem pela frente mais umas três horas de absoluta imobilidade, de total não se mexer. Venham trazer-lhe o perfume da comida, ponham-lhe ao lado o balde com a água fresca. Venham os moços pequenos – que já aí soam – chamá-lo para brincar, a dona cantar-lhe com voz meiga, venha a promessa de o soltarem. Nada. Enquanto a noite não baixar, não sai da sombra da parede. Não se torce nem se amolga. De cá de baixo, da calçada em frente à casa, o Reboliço tem dó do grande. Com a ALGARVE INFORMATIVO #250

fresquidão dos vasos, a sombra da parreira e o mais curto do pelo, sofre-se menos, pensa. Durante todo o dia nem se percebeu o círculo do sol: só um céu muito branco de encandear e, lá por lá, um raiozinho que às vezes sobrasse, por uma espécie de hérnia do nublado sufocante. Na rua do moinho, desde manhã cedo que não se viu ninguém: à tardinha já, parecem as formigas a sair, a medo, do formigueiro. Mas andam encostados às paredes, ainda a negociar as sombras para não torrarem – e o Sorna, nem meia. Quando a tarde aliviou, veio um curioso assomar-se à brancura do moinho e falar com o moleiro, contando de onde vinha, porque parara ali. “Ai, não é de cá? Pois foi, sim senhor, hoje esteve aí grande calma. A gente já estamos habituados a isto, a gente aqui pró Alentejo já estamos habituados a isto. Em Beja, é mais mau de se aguentar que no Inferno – lá para a capital não é tanto assim, não é? Mas, então, olhe, não tem dúvida, isto vai-se passando. A mulher diz que é bom para a roupa, que num instante seca. O pior é os canitos, dá-me uma paixão vê-los assim, mas daqui a nada, em se pondo mais fresco, já arrebitam!” . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo.

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Foto: Vasco Célio 117

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OPINIÃO A era do teletrabalho vai provocar a saída de pessoas das cidades para o interior Fábio Jesuíno (Empresário) evido à pandemia da covid-19, vivenciamos a maior experiência de trabalho remoto de sempre, com impactos significativos na sociedade e na economia. Primeiro de tudo, é importante perceber a origem e em que consiste o teletrabalho, que surgiu por volta dos anos 50, com as experiências do matemático Norbert Wiener sobre a cibernética, num momento de transição entre a economia industrial e a economia baseada no conhecimento. O teletrabalho consiste na realização de uma atividade profissional à distância. Nos últimos anos, o teletrabalho tem ganho força em algumas empresas da área tecnológica, mas sempre com muitas resistências por parte das empresas e dos seus funcionários. A pandemia veio mudar tudo, com a experiência em grande escala, não intencional de teletrabalho, vivenciada globalmente por centenas de milhões de pessoas, que permitiu que fossem ALGARVE INFORMATIVO #250

descobertas as suas vantagens e desvantagens e, na minha opinião, o teletrabalho será usado com muita mais frequência globalmente. É, sem dúvida, uma das principais tendências para os próximos anos, começando já a dar sinais efetivos, como acontece com o Twitter, uma das principais redes sociais do mundo que autorizou que os seus funcionários pudessem trabalhar de forma permanente a partir de casa, caso seja essa a sua vontade. A experiência não agrada a todos, existem bastantes desafios que precisam ser ultrapassados e muitas empresas não têm perfil nem aptidão para optarem por este regime, principalmente devido à sua atividade não possibilitar que os funcionários trabalhem em casa e não haver ajudas de custos de forma a cobrir o aumento das despesas do funcionário na sua casa. Na minha ótica, o regime de teletrabalho vai possibilitar que muitas pessoas deixem de viver nas cidades e rumem ao interior, onde os custos de vida são muito mais baixos e com uma 118


maior qualidade de vida. Algo que já se começa a verificar em todo o Mundo, e Portugal não é exceção. O interior tem sido abandonado e desvalorizado por todos, chegou o 119

momento de viragem, com a chegada de pessoas vai ganhar importância e destacar as suas potencialidades. Vai ter também um impacto positivo nas cidades, como a redução da poluição . ALGARVE INFORMATIVO #250


OPINIÃO Algumas proposições com crianças* Adília César (Escritora) A criança está completamente imersa na infância a criança não sabe que há-de fazer da infância a criança coincide com a infância a criança deixa-se invadir pela infância como pelo sono deixa cair a cabeça e voga na infância a criança mergulha na infância como no mar a criança é o elemento da criança como a água é o elemento próprio do peixe a criança não sabe que pertence à terra a sabedoria da criança é não saber que morre a criança morre na adolescência Se foste criança diz-me a cor do teu país Eu te digo que o meu era da cor do bibe e tinha o tamanho de um pau de giz Naquele tempo tudo acontecia pela primeira vez Ainda hoje trago os cheiros no nariz Senhor que a minha vida seja permitir a infância embora eu nunca mais saiba como ela se diz *Título de um poema de Ruy Belo, in ‘Homem de Palavra[s]’ uando olhamos uma criança, para a vermos de modo completo e holístico, temos de ser capazes de descobrir o outro lado do espelho onde mora a sua infância; recordar a nossa própria

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infância que se perdeu no horizonte dos deveres de adulto. A infância vem de longe, é um país em construção onde o para sempre ganha contornos definitivamente provisórios. É o caos da abertura ao novo, à surpresa, à aventura. É a frontalidade de combater o tédio, a coragem de ter febre de viver, ainda que as feridas nos joelhos façam chorar lágrimas verdadeiras. É brincar, brincar, brincar. O acto de brincar como verdade ancestral chega do primeiro século da nossa história e é repetido em cada primeiro dia de um bebé recém-nascido.

A infância está na origem do processo de fazer acontecer a heterogeneidade, a multiplicidade, a complexidade, a mobilidade, a criação lúdica: tantos caminhos em redor e sobre o mundo, em completa liberdade, porque o brincar não tem metodologias. As palavras são o nosso melhor instrumento para explicar tudo: ideias, actos, sonhos, receios, causas e consequências; servem para descodificar 120


a vida e a morte das pessoas. Contudo, na criança o discurso linguístico é quase insuficiente, apresentando-se através de um vocabulário e de uma construção frásica ainda simples. Assim, ela utiliza outras construções criativas para se definir como pessoa. O tempo da infância corresponde, de certo modo, ao período iniciático a partir do qual a criança toma consciência de si enquanto ser humano. A infância como cultura fundamental do ser, do estar e do saber fazer é livre, criativa, expansiva, e eminentemente espiritual. É um voo avassalador sobre as nossas cabeças velhas. A abertura das creches e dos jardins-de-infância neste tempo pandémico assombrado pela Covid-19 colocou as crianças no centro de uma situação de cariz existencial, com consequências devastadoras no futuro dos humanos, a começar nesta geração que agora acolhemos nas instituições educativas. É um processo instituído pelo Governo que vai originar mais prolemas do que aqueles que resolve. Ao brincar, a criança transforma e transforma-se. Os gestos lúdicos do pequeno ser, numa profunda proximidade relacional com os seus pares, são a verdadeira autenticidade do conteúdo do intensamente humano que carregamos dentro de nós. A creche e o jardim-de-infância adulterados com regras de distanciamento entre as 121

crianças, isolamento de grupos, ausência de materiais pedagógicos, inexistência de partilhas e desinfecções sobre desinfecções são ambientes destruidores dos afectos, da liberdade e do respeito pelo outro. Nestas circunstâncias paradoxais, o outro é exactamente isso na percepção da criança: - Aquele ser distante já não é meu amigo e não brinca comigo. Estou sozinha. As creches e os jardins-de-infância vão abrir e acolher as crianças. As crianças vão ficar ali, estranhas umas às outras. A tristeza é uma doença. É só isto que eu tenho para dizer . ALGARVE INFORMATIVO #250


OPINIÃO Acção, necessita-se João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) poucas semanas da chegada oficial da época balnear e das férias de muitos portugueses, vemos-nos num mar de incertezas e preocupações sobre o que o futuro nos brindará do ponto de vista económico e social. Os cenários não são brilhantes, ainda que o negrume instalado sobre as nossas vidas já não seja tão denso e terrífico como era há um mês atrás. Porém, não nos iludamos: as dificuldades vão manter-se e o regresso aos «velhos» tempos antes da Covid-19 vai demorar. O impacto da pandemia será tanto maior ou menor tendo em conta a nossa capacidade, enquanto sociedade, de nos reinventarmos, adaptarmos ou resistirmos. Mas também da efectividade das medidas de apoio que vão surgindo. Sobre estas últimas, importa não negligenciar o papel dos municípios. A reacção destes perante o controle da propagação do vírus, especialmente ao acorrer junto das comunidades de risco, da oferta de materiais e equipamentos ou da realização dos testes serológicos, foi célere e na maioria dos casos eficaz. Nada a dizer. Apenas a elogiar. ALGARVE INFORMATIVO #250

Mas os municípios têm igualmente um papel importante no apoio à economia local. E é a recuperação desta que vai ditar, em última instância, o regresso aos tempos ditos «normais». Contudo, o que temos vindo a assistir é pouco. E lento. No entanto, a proximidade e o célere poder de decisão, são factores determinantes que tornam o papel dos municípios extremamente valioso, especialmente junto das micro empresas. Num simples exercício de opinião, aqui deixo um conjunto de sugestões, sem qualquer ordem de prioridade, que podem ajudar na mitigação da crise económica gerada pelo coronavírus. - Implementação de um incentivo junto dos funcionários públicos para consumirem na restauração local, por via de vouchers de refeição, durante determinado período. Objectivo: apoiar a actividade de muitos pequenos restaurantes que actualmente se vêem aflitos sem clientes, até que a retoma da actividade ocorra; - Lançamento imediato de pequenas obras publicas nos respectivos concelhos, para estimular a actividade das empresas, sejam elas da construção 122


civil, limpezas, requalificação de espaços, iluminação, jardinagem, entre muitas outras. Há sempre pequenos trabalhos a fazer nos espaços urbanos e rurais que podem ajudar a manter a actividade de micro empresas e, com isso, ajudar na preservação de pequenas cadeias de valor locais; - Apostar num calendário de eventos de pequena escala, de forte promoção cultural e ambiental, distribuídos pelo território, com os devidos cuidados de segurança, com capacidade de apoiar a economia local, nomeadamente alojamento, restauração, bem como os agentes culturais; - Aquisição de serviços a empresas de animação turística, no sentido de promoverem programas de descoberta, interpretação e usufruto dos valores do território, ao ar livre, nesses municípios, durante os períodos de férias, descanso ou fins-desemana;

através de mecanismos de promoção e informação, entre outras;

- Apoio ao consumo de proximidade, reforçando a ligação entre produtores locais e consumidores, nomeadamente

- Criação de banco de solos, para fomentar a actividade agrícola de pequena escala, que, como se verificou

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nesta pandemia, teve um crescimento significativo. Esta acção tem um papel estratégico, não apenas na recuperação de solos ou no estímulo à agricultura, mas também na requalificação e regeneração de zonas rurais, no estímulo à protecção da biodiversidade, na redução da peugada carbónica, entre outros aspectos; - Requalificação, recuperação e melhoramento de espaços de interesse ambiental e social, dentro e fora das localidades, como forma de fomentar a atração de visitantes aos mesmos, mas também como forma de contribuir para a qualidade de vida dos residentes, a valorização paisagística e apoio à preservação da biodiversidade. Hoje como nunca foi tão importante agir em torno da revitalização destes espaços e da sua aproximação às comunidades; - Fomento do autocaravanismo, através da implementação de Áreas de Serviços de Autocaravanas, em particular no interior, como forma de fixar turistas nesses territórios nos períodos de época baixa, bem como para contrariar a ocupação ilegal, nomeadamente de zonas costeiras e sensíveis; - Colocar a tecnologia digital ao serviço do desenvolvimento local, seja através de plataformas para conectar produtor – consumidor, seja para promover e divulgar os serviços locais, para atrair visitantes ALGARVE INFORMATIVO #250

ou para dar a conhecer os territórios e seus valores (ex. virtual tours); - Fomento do uso da bicicleta nas cidades, através da implementação de vias ciciáveis, do estímulo à redução do uso do automóvel, na instalação de sistemas de partilha de bicicletas, entre outras medidas criativas e eficientes que potenciem a mobilidade sustentável e saudável nos aglomerados urbanos; - Inventariação, limpeza e recuperação de caminhos rurais, outrora ligações entre povoados, mas ainda hoje de uso público, potenciando a criação de itinerários pedestres de descoberta do mundo rural, de contemplação da natureza e de fomento da actividade física; - Criação de bolsas de emprego imediato de curta duração, por exemplo, em campanhas de vigilância e prevenção de fogos florestais; Haverão certamente muitas mais medidas de caracter local, promovidas pelo municípios, que podem ter um impacto positivo na vida das pessoas e na sua actividade económica. Podem ser outras e muito diferentes. O importante é que sejam implementadas rapidamente. A acção precisa-se e já. É essa a mensagem desta reflexão! .

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OPINIÃO Quem diria não a uma oferta destas? Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) ozinhar comida linda e boa, servi-la com um sorriso franco num ambiente espetacular e a um preço razoável, deveria ser a vontade de todo o proprietário. Quem diria não a uma oferta destas? Esta é uma realidade que todos aceitamos, mas o proprietário tem que ter em conta um grande número de outras realidades, que são os gastos fixos e os que flutuam muito, sem nos apercebermos, como a eletricidade, a água, o gás, ou seja, as energias que têm um custo. Uma carta grande e muito variada, feita ao sabor da moda, sem uma noção mínima da engenharia da ementa, vai, com certeza, aumentar os gastos com matéria-prima. Se as contas não forem bem-feitas, ele irá, literalmente, cair num poço sem fundo. E de nada valerá ter a casa cheia se o volume de negócio gerado não for suficiente para cobrir os gastos. Há muito que analistas e pessoas ligadas ao mundo da consciência universal vêm a dizer que pouco, por vezes, é muito. Pouco esforço nunca poderá gerar muito cansaço, mas pouco investimento pode trazer muito retorno. Há quem compare o negócio de um restaurante a qualquer outro, um erro tremendo, já que os restaurantes vendem ALGARVE INFORMATIVO #250

comida, um bem perecível antes e depois de confecionado. A rede de frio custa dinheiro, nem sempre compatível com a realidade. Viver a restauração, apostando numa concorrência franca, apostando na diferença e na qualidade, sempre foi o objetivo de quem entra no negócio da restauração pelo prazer de fazer a diferença, de gostar do que faz. As principais críticas do sector da restauração sobre as regras instaladas pós confinamento são a drástica diminuição da lotação. Cheguei mesmo a ouvir várias vezes a frase – muitas vezes os restaurantes cheios não dão lucro, quanto mais com um terço da lotação. Se pegarmos nesta frase e esmiuçarmos para ver se encontramos alguma verdade, é, de facto, um erro generalizado pensar que Restaurantes cheios são os que mais ganham, pior ainda, se esse pensamento vier do Restaurador/Proprietário/Gestor. Muitos vêm a questão dos turnos como uma desinstituição do normal, mas pensemos juntos – Quantas vezes já muitos disseram qualquer coisa como “Aqueles clientes a ocupar tantos lugares e sem consumirem nada de jeito e eu a precisar das mesas”. Não acredito ser nenhuma maçada, o facto de existirem dois turnos, de só se pode comer entre as 19h e as 21h e das 126


21h30 às 23h30. Eu acredito que esta rotatividade contribui para melhores resultados, quer em termos de faturações, como em satisfação generalizada. Mais tempo, melhor serviço, menos stress. Os meios de comunicação estão aí ao nosso dispor para isso mesmo. Outro não senso é o de sempre ouvirmos dizer que “as reservas só atrapalham, o melhor é virem todos ao mesmo tempo que cá nos arranjamos”. Cá nos arranjamos? Quem? Só se houver um Menu igual para todos, aliás, uma grande ideia cada vez a ser mais aplicada e com resultados fantásticos em todas as vertentes. 127

Outro chavão, se não errado, pelo menos duvidoso: “Os negócios não foram feitos para dar nada a ninguém”. Isto tem muito que se diga, digo eu! Todos conhecem o famoso cartão de fidelização e as vantagens que eles agregam. Premeie os clientes por regressarem. Faça as suas contas e veja o que lhes pode oferecer, mas sem perder dinheiro, claro. Negocie com os fornecedores, reaproveite matéria-prima, compre conscientemente, reduza a oferta, valorize a experiência que ambos podem ter, o Restaurador, o Restaurante e os clientes . ALGARVE INFORMATIVO #250


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #250

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