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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 6 de junho, 2020
LUÍS ENCARNAÇÃO:
“TÃO PERIGOSO COMO A COVID-19 É O VÍRUS DO DESEMPREGO, DO DESESPERO, DA ANGÚSTIA, DA FOME E DA MISÉRIA”. «ANTIFRÁGIL» | «THE BRIDE» | «UM SOLO PARA A SOCIEDADE» 1 ALGARVE INFORMATIVO #251 «INSUFLÁVEL» | 106 ANOS DE CONCELHO DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL
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90 - «Antifrágil»
54 - «Insuflável» ALGARVE INFORMATIVO #251
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OPINIÃO 104 - Mirian Tavares 106 - Ana Isabel Soares 108 - Vera Casaca 110 - Nuno Campos Inácio 112 - Luís Matos Martins 114 - Augusto Pessoa Lima
14 - ABC - Loulé Health and Research Center
66 - «Um Solo para a Sociedade»
22 - Dia de São Brás de Alportel
78 - «The Bride» 7
40 - Luís Encarnação ALGARVE INFORMATIVO #251
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“ABC – LOULÉ HEALTH AND RESEARCH CENTER É O PROJETO MAIS APAIXONANTE QUE LOULÉ TEM, NESTE MOMENTO, ENTRE MÃOS”, ASSUME VÍTOR ALEIXO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina anuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, deslocou-se a Loulé, no dia 1 de junho, para uma reunião de trabalho com o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, e representantes do ALGARVE INFORMATIVO #251
ABC – Algarve Biomedical Center, afim de perceber qual o ponto de situação do desenvolvimento do ABC – Loulé Health and Research Center. O projeto representa um importante investimento da autarquia louletana, em parceria com o ABC, numa forte aposta na melhoria das condições de saúde da população e prestígio de todo o Algarve na área da inovação e 14
investigação científica. “É o maior
desafio e o projeto mais apaixonante que o Município de Loulé tem, neste momento, entre mãos. Consideramos que este projeto, dadas as suas características inovadoras na região e a capacidade que terá de alavancar outros setores da economia, nomeadamente a ligada ao bem-estar e ao turismo de saúde e à investigação científica, gerará boas consequências para o nosso futuro”, afirmou o edil louletano.
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Vítor Aleixo recordou que esta caminhada começou, em 2018, em resposta a um desafio lançado pelo presidente da Assembleia Municipal de Loulé, Adriano Pimpão, a que se seguiu uma reunião no Ministério da Saúde, e desde então não mais se parou de trabalhar. “Em 2019 assinamos mais
um protocolo para a instalação de uma rede de desfibriladores automáticos externos no concelho de Loulé, que foi interrompido por causa da pandemia, mas que em breve será
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Paulo Águas, Adriano Pimpão, Manuel Heitor, Vítor Aleixo e Nuno Marques
publicamente anunciado, porque todos os projetos que realizamos com o ABC são sempre entusiasmantes e têm dado bons resultados. Neste momento, mais de mil pessoas receberam formação através da Faculdade de Medicina da Universidade do Algarve, será um projeto pioneiro em Portugal e tenho a certeza de que mais concelhos irão seguir o caminho aberto e apontado pelo Município de Loulé”, referiu Vítor Aleixo. ALGARVE INFORMATIVO #251
Durante a apresentação ao Ministro Manuel Heitor, o presidente da Câmara Municipal de Loulé admitiu que o edifício do ABC – Loulé Health and Research Center exigiu mudanças na estrutura viária da própria cidade, sendo que ficará localizado num terreno junto ao Estádio Municipal de Loulé e relativamente perto do eixo viário que liga Loulé a Faro. “Será
uma via urbana consentânea com os valores ambientais que cada vez mais defendemos, executada em mais de 14 mil metros 16
quadrados de terreno, com um custo orçamento em cerca de um milhão de euros”, adiantou Vítor Aleixo. No que toca ao edifício propriamente dito, terá dois pisos abaixo do solo, destinados a estacionamento e arrumos, e quatro pisos acima da quota zero, com valências para a investigação e docência. “O anteprojeto está já num
grau de conceção bastante evoluído e vai ser implantado num terreno com 2 mil e 25 metros quadrados. E queremos que seja um edifício exemplar na cidade, marcante, que consiga dialogar com as modernas e incontornáveis exigências ambientais. Vai ter uma cobertura com verde, que vai tombar sobre um dos alçados, e estamos também em fase de preparação dos projetos
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técnicos para que possa ter uma central fotovoltaica, de modo a ser o mais autossuficiente possível do ponto de vista energético”, destacou Vítor Aleixo. Ainda de acordo com o projeto, as fachadas do edifício serão ventiladas, com sombreamento a partir do exterior, e o parque interior será abundantemente verde, para que esteja fortemente adaptado ao aquecimento global. Um projeto que servirá, igualmente, para
“homenagear um grande algarvio, um homem a quem a ciência tanto deve, o professor Mariano Gago”. “Queremos que este centro de investigação científica sirva a saúde pública,
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sempre em articulação com a Universidade do Algarve, e que possa atrair jovens investigadores e médicos. Queremos virar uma página naquela que é a perceção nacional do que é o Algarve, uma zona de férias que não tem mais nada para dar ao país. No Algarve há muitos mais valores do que aqueles que se confinam apenas à atividade turística”, garantiu Vítor Aleixo, lembrando que o ABC – Loulé Health and Research Center tem um custo estimado de 11 milhões e 165 mil euros. “Estamos a pensar concorrer
a fundos comunitários para que o esforço municipal possa ter adaptado à nossa capacidade financeira. Este projeto tem vindo a ALGARVE INFORMATIVO #251
ganhar espaço e compreensão na consciência pública, contudo, num primeiro momento, nem toda a gente percebeu a importância deste investimento em ciência para o futuro da região. Estamos seguros do bem que estamos a fazer, mas, às vezes, as outras pessoas podem não entender o mesmo”, desabafou o autarca. No uso da palavra, o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, sublinhou a importância de se preparar as futuras gerações, frisando que “só
se combatem as incertezas com conhecimento e que não há conhecimento sem pessoas”. Mas 18
também enalteceu o contributo do ABC, da relação do Centro Académico Clínico com a Universidade do Algarve e a Câmara Municipal de Loulé, no combate à pandemia da covid-19. “Se, há 10 anos,
não tivesse existido um investimento no Curso de Medicina da Universidade do Algarve, nada disto seria possível. E não há mais ensino sem existir mais investigação e ligação à sociedade, pelo que o projeto do ABC – Loulé Health and Research Center é, não só oportuno, mas também urgente”. Manuel Heitor aproveitou ainda a ocasião para lançar dois desafios: aumentar o número de estudantes de Medicina no Algarve, o que implica a
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existência de mais investigadores e docentes médicos; e envolver mais a ciência e a investigação com as forças vivas da sociedade. “Dar cultura
científica às pessoas é extremamente importante, pelo que a relação com a comunidade é crítica. É um esforço fundamental para as próprias universidades, porque não há investigação científica sem as pessoas perceberem o que ela”, defendeu o governante. “Este projeto não aparece por acaso, é o culminar de muita seriedade, de se olhar para o futuro”, concluiu o Ministro, antes de rumar ao local onde ficará situado o ABC – Loulé Health and Research Center .
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PANDEMIA OBRIGOU A SUSPENDER ALGUNS INVESTIMENTOS, MAS SÃO BRÁS DE ALPORTEL CONTINUA COM OS OLHOS POSTOS NO FUTURO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #251 ALGARVE INFORMATIVO #251
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pesar da pandemia que Portugal e o Mundo atravessam, São Brás de Alportel preparou um programa especial para comemorar, no dia 1 de junho, os 106 anos da sua elevação a concelho. Um programa que teve início, logo pelas 9h30, com a tradicional Romagem ao Mausoléu de João Rosa Beatriz, fundador do concelho, em formato mais restrito. A Cerimónia Protocolar de Hastear da Bandeira aconteceu às 10h, no exterior dos Paços do Concelho, com a colaboração da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de São Brás de Alportel e da Banda Filarmónica de São Brás de Alportel – ACREMS. Com vista a garantir as regras de distanciamento e segurança dos intervenientes, a habitual Sessão Solene ALGARVE INFORMATIVO #251
mudou-se do Salão Nobre da Câmara Municipal para o Cineteatro São Brás e contou com a presença da Secretária de Estado da Ação Social, Rita da Cunha Mendes, que teve oportunidade de conhecer os muitos projetos de apoio social em curso neste concelho da Serra do Caldeirão. Uma sessão onde foram entregues insígnias municipais a mais de uma dezena de projetos solidários e comunitários que constituem um relevante contributo para o bem-estar, saúde e segurança da população, mas também foram entregues equipamentos de proteção individual aos profissionais de saúde do Centro de Saúde de São Brás de Alportel, assim como equipamentos informáticos ao Agrupamento de Escolas José Belchior Viegas, no âmbito do projeto «Informática Solidária», que teve por objetivo disponibilizar meios informático a todos os alunos 2.º e 3.º 24
Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel
ciclos e secundário, para melhor acompanhamento da escola à distância. Perante a plateia presente no Cineteatro São Brás e aqueles que assistiam à Sessão Solene através das redes sociais do Município, Vítor Guerreiro lembrou o quadro de calamidade pública que se vive e que já foi precedido de um Estado de Emergência, em que, “para se
defender a saúde de todos, foi necessário fixar limites e condicionamentos ao exercício dos direitos, liberdades e garantias 25
consagradas na Constituição da República”. “Mas tal facto foi determinante para que possamos declarar que vencemos a primeira batalha do confronto com a ameaça invisível do coronavírus. Para o futuro fica o legado de que, quando a saúde e a vida de muitos portugueses foram colocadas em causa, todos – órgãos de soberania, poder local, empresas, associações, cidadãos em geral – trabalharam em ALGARVE INFORMATIVO #251
conjunto em defesa da vida e do interesse nacional. É o reflexo de uma sociedade coesa, solidária e de uma democracia madura e consolidada”, frisou o edil sãobrasense. Vítor Guerreiro enalteceu o espírito altruísta e solidário da comunidade de São Brás, assim como a sua capacidade para se adaptar e inovar num contexto bastante adverso. “Mais uma vez os
são-brasenses fizeram jus à sua história e ao legado do seu fundador, João Rosa Beatriz. Nesta comemoração prestamos, acima de tudo, homenagem à comunidade são-brasense, à forma como se uniu, organizou e cooperou para criar redes solidárias de suporte e projetos inovadores que permitem superar as dificuldades provocadas ALGARVE INFORMATIVO #251
pela pandemia e conter a propagação do vírus”, afirmou o presidente da Câmara Municipal, não esquecendo igualmente todos os profissionais de saúde, das forças de segurança, da proteção civil e autarquias locais que estiveram, e ainda estão, na linha da frente do combate à pandemia. Para fazer face às consequências sociais e económicas da covid-19, o Município de São Brás de Alportel aprovou, a 17 de abril, a constituição do Fundo Municipal de Emergência Covid19, para o qual foi mobilizado cerca de meio milhão de euros e que assentou em três áreas principais: reforço de meios de combate à propagação do coronavírus e dos cuidados de saúde; solidariedade e medidas sociais de apoio às famílias; apoio à economia local. “São Brás de Alportel
contribuiu ainda, a par dos outros 26
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15 municípios do Algarve, com 75 mil euros para a aquisição de ventiladores e equipamentos de proteção individual para reforçar os serviços públicos de saúde da região, tendo já sido entregues 20 dos 30 ventiladores que foram comprados”, destacou Vítor Guerreiro. “Toda esta dinâmica e investimento só são possíveis graças à excelente qualidade das redes de parcerias existentes no nosso concelho, nomeadamente nas IPSS e nas associações de solidariedade social, e à profícua e contínua relação institucional com o Centro Distrital da Segurança Social do Distrito de Faro e com a Administração Regional de Saúde do Algarve”, salientou. 29
Diversas medidas de estímulo à economia local estão, entretanto, em curso, como sejam um novo serviço de apoio ao empresário, a criação de uma rede de empreendedorismo local que fomente a economia circular, e a aposta forte na dinamização do comércio local. “Este Fundo de
Emergência representa um grande esforço financeiro para o nosso Município e, para o viabilizar, foi necessário fazer escolhas e tomar decisões difíceis, como adiar a concretização de algumas obras e projetos. Apesar de importantes para o desenvolvimento do nosso concelho, passaram para segundo plano, em face da crise social e económica que temos que ALGARVE INFORMATIVO #251
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combater desde já, porque está a afetar o Algarve de uma forma bastante acentuada”, avisou Vítor Guerreiro. Apesar disso, a Câmara Municipal de São Brás de Alportel vai avançar com muitos dos investimentos que estavam planeados, com a acessibilidade e a mobilidade urbana a figurarem no rol das prioridades, para melhorar a qualidade de vida da população local. “O futuro
Terminal Rodoviário, com um custo próximo do meio milhão de euros, vai redefinir a estratégia de mobilidade e crescimento sustentado do centro urbano da nossa vila. Está igualmente em curso a obra de requalificação do primeiro troço da Avenida da Liberdade, integrada no Plano de 31
Ação de Renovação Urbana, no qual São Brás de Alportel lidera a região algarvia em termos de eficiência e concretização destas ações. É uma obra crucial, no seguimento da requalificação do Largo de São Sebastião e da Rua Gago Coutinho, e vamos mesmo abranger a EM 513, com passeios acessíveis, mais amplos e largos, a colocação de novo mobiliário urbano e a pavimentação total da Avenida da Liberdade”, apontou Vítor Guerreiro. Em fase de conclusão de projeto está a obra de renovação do centro urbano e das artérias centrais envolventes ao Mercado Municipal e que ligam a Avenida da Liberdade à Rua João de Deus. No âmbito da Educação, estão em curso as obras de melhoria da ALGARVE INFORMATIVO #251
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eficiência energética da EB1 N.º 2, com colocação de painéis fotovoltaicos que permitirão, inclusive, a colocação de ar condicionado nas salas de aula, uma intervenção que já foi realizada, em 2019, na EB1 N.º 1. Foi ainda submetida ao CRESC Algarve 2020 a candidatura para a ampliação do Jardim-de-Infância de São Brás de Alportel, fundamental para se aumentar o número de salas de préescolar num concelho que tem crescido bastante em termos populacionais. Olhando para o desenvolvimento económico, Vítor Guerreiro salientou a Área de Serviço de Autocaravanas, já em fase de conclusão. Terminadas estão as obras de reconversão de dois edifícios muito importantes para o concelho e que abrirão as suas portas brevemente, designadamente, a Casa Memória da EN 2 e o Centro Interpretativo da Serra do Caldeirão, em Parises. Outra área 33
prioritária para o executivo sãobrasense é a social e está prevista a cedência, até final de 2020, de um terreno municipal situado junto à Avenida da Liberdade à Santa Casa da Misericórdia, para ali se construir, futuramente, um Lar Residencial e Centro de Atividades Ocupacionais,
“uma resposta essencial para as pessoas com deficiência”, considera Vítor Guerreiro. “Estamos igualmente empenhados em colaborar com a Santa Casa da Misericórdia de São Brás de Alportel na ampliação e remodelação do edifício da estrutura residencial para pessoas idosas, um investimento bastante grande, mas necessário, para que esta instituição possa continuar a melhorar a excelente resposta ALGARVE INFORMATIVO #251
que dá a toda a comunidade, seja na Terceira Idade como na Primeira Infância”. Projetos não faltam, nem vontade para os concretizar, garantiu Vítor Guerreiro durante a Sessão Solene comemorativa dos 106 anos de São Brás de Alportel.
“Estamos a planear e a projetar o futuro do nosso concelho, a médio e longo prazo, preparando os nossos instrumentos de planeamento do território de âmbito local para aproveitarmos as oportunidades que o novo Quadro de Apoios Comunitários nos trará. Respeitamos o passado e planeamos, no presente, um futuro ALGARVE INFORMATIVO #251
que construímos todos os dias com trabalho, dedicação, empenho, rigor e responsabilidade, mantendo sempre uma gestão financeira equilibrada e rigorosa, aproveitando as oportunidades de investimento com comparticipação de fundo comunitários, para acrescentarmos mais riqueza e valor ao nosso concelho. Sei que, juntos, vamos continuar o percurso de desenvolvimento sustentável que queremos para São Brás de Alportel” .
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“TÃO PERIGOSO COMO A COVID-19 É O VÍRUS DO DESEMPREGO, DO DESESPERO, DA ANGÚSTIA, DA FOME E DA MISÉRIA”, AVISA LUÍS ENCARNAÇÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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agoa foi um dos primeiros concelhos do Algarve a sentir o flagelo da covid-19, «importando» um caso do foco inicial que surgiu em Portimão, mas rapidamente conseguiu atacar o novo ALGARVE INFORMATIVO #251
coronavírus, apesar de duas pessoas acabarem por perder a vida. Uma realidade que apanhou praticamente todos de surpresa, do cidadão comum aos responsáveis do poder local, regional e nacional, sobretudo por se tratar de um inimigo invisível de quem pouco ainda se conhece. “Quando, 42
do primeiro caso, do nosso professor Manuel, que viria a falecer. Nesse momento, arrancou uma nova etapa na vida do nosso concelho e do Algarve, que ainda estamos a viver e que mudou por completo tudo aquilo a que estávamos habituados”, reconhece Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa. Um vírus que teve um impacto «pernicioso» neste território, por que não dizer de toda a região, uma vez que a principal atividade económica de Lagoa é o turismo. “Com os aviões
em terra, as fronteiras fechadas, os hotéis e restaurantes encerrados e as pessoas confinadas, não existe turismo e a economia praticamente parou”, descreveu o edil, admitindo que as primeiras semanas foram bastante complicadas de gerir, uma vez que não existia um guião de como combater a covid-19. “Foram momentos de
no final de 2019, começamos a ouvir de um surto numa aldeia na longínqua China, do outro lado do mundo, ninguém imaginou que esse vírus iria alterar tão profundamente as nossas vidas. Em Lagoa, no dia 9 de março, tivemos conhecimento 43
muita dúvida e incerteza, por estarmos a lidar com algo que desconhecíamos, e a nossa primeira preocupação foi, obviamente, proteger os lagoenses. Colocamos o nosso foco em proteger os nossos funcionários, as suas famílias, os nossos cidadãos”, recorda o entrevistado. Avançaram então campanhas de sensibilização para informar os ALGARVE INFORMATIVO #251
lagoenses de que se estava perante um assunto extremamente sério, que era uma luta de todos, e que era fundamental seguir as indicações da Direção-Geral de Saúde e das outras entidades competentes. “As pessoas precisavam
compreender a importância do distanciamento social, de ficarem em casa, de respeitarem a etiqueta respiratória e a higienização e, posteriormente, de usarem a máscara para se protegerem a elas próprias e a quem as rodeia. Hoje, olhando para o número de casos que tivemos em Lagoa, podemos dizer que esse objetivo foi, de alguma maneira, conseguido. Não chegámos a números preocupantes, porque o objetivo, de toda a região, era que se conseguisse acompanhar todas as pessoas infetadas, que os meios do Serviço Nacional de Saúde não se tornassem insuficientes para lidar com a situação”, destaca Luís Encarnação. O presidente da Câmara Municipal de Lagoa não entra, contudo, em grandes euforias, porque, embora a primeira batalha possa ter sido vencida, “a
guerra está longe de estar ganha”. “Continuamos a viver momentos de incerteza, angústia e preocupação e que, se calhar, vão aumentar, a partir do dia 6 de junho, quando se iniciar a época balnear, a partir do dia 15 de junho, quando grande parte das companhias aéreas vão retomar as suas operações para o ALGARVE INFORMATIVO #251
Aeroporto de Faro e, a partir do dia 1 de julho, quando os portugueses começarem a rumar ao Algarve para gozarem as suas férias”, alerta Luís Encarnação. Numa primeira fase, o foco incidiu, então, sobre as questões de saúde, de proteção dos cidadãos, mas depressa se começou a percecionar a magnitude da crise económica e social que se seguiria, o que motivou o Município de Lagoa a aprovar, logo em março, um pacote de medidas extraordinárias de apoio às famílias, às empresas e às IPSS do concelho. Medidas como o reforço do Fundo de Emergência Social em cerca de 80 mil euros para responder às pessoas que se encontrassem em situação de carência económica emergente e pontual, ou do Programa de Apoio ao Arrendamento para Famílias Carenciadas, em 20 mil euros.
“Trabalhamos em articulação com os demais municípios do Algarve para criar medidas que fossem transversais a todo o território, embora, claro, elas depois fossem adaptadas às especificidades de cada concelho. E percebemos que as Instituições Particulares de Solidariedade Social iriam ser chamadas para prestar um apoio mais incisivo à população, o que teria um impacto muito sério nas suas tesourarias. A nossa preocupação foi garantir-lhes o apoio necessário para que não tivessem que colocar nenhum funcionário em lay-off ou, se o 44
fizessem, fosse no menor número possível, mas também para que pudessem desonerar as famílias de alguns dos seus compromissos mensais”, explica Luís Encarnação.
MUITOS EMPREGOS NÃO SE VÃO RECUPERAR Depois de garantir a subsistência das IPSS, que estas tivessem todas as condições para prosseguir com o seu 45
trabalho meritório, o executivo lagoense virou as atenções para as empresas e empresários em nome individual, muito embora o governo tivesse avançado igualmente com medidas de apoio direcionadas para esse fim. “Atuamos à escala local,
no âmbito das nossas competências e das nossas receitas próprias”, frisa Luís Encarnação, dando como exemplos a flexibilização do pagamento das faturas de água e a isenção das rendas ALGARVE INFORMATIVO #251
dos espaços municipais concessionados, até setembro de 2020; a isenção de taxas de ocupação de espaço público, bem como das taxas fixas de água, resíduos sólidos urbanos e saneamento, incluídas nas faturas de fornecimento de água; e a isenção da taxa de publicidade, para as empresas ou empresários em nome individual que encerrassem parcial ou totalmente a sua atividade em consequência da situação de pandemia. De volta às famílias, Luís Encarnação fala de um aumento «brutal» do número de apoios dados em sede do Fundo de Emergência Social, cerca de 1.445 entre 1 de abril e 15 de maio, daí ter-se justificado o reforço da verba destinada para esta matéria. “É um
trabalho que está longe de terminar, a ver-se pelo aumento significativo do desemprego no concelho e na região. Temos perfeita consciência de que muitas empresas não vão voltar a abrir as suas portas, que há empregos que não se vão recuperar. Os restaurantes, cafés e hotéis estão a retomar a sua atividade, contudo, face ao Verão que se perspetiva no Algarve, muito provavelmente não vão recrutar os mesmos efetivos que em anos anteriores, o que significa que diversas famílias vão ver reduzidos os seus rendimentos. Mas um dos desígnios assumidos pelo Município de Lagoa é não deixar nenhum ALGARVE INFORMATIVO #251
lagoense para trás e estaremos preparados, com as nossas equipas, para apoiar quem precisa de auxilio”, assegura o entrevistado. Reforçar as verbas destinadas ao apoio social económico de famílias e empresas, ao mesmo tempo que se abdica de várias receitas fiscais, tem, 46
como se adivinha, um forte impacto no orçamento municipal, uma ginástica financeira que não foi fácil de concretizar, admite Luís Encarnação. “Já fizemos
duas revisões orçamentais, a primeira das quais para realizar ajustamentos face às necessidades iniciais geradas pela pandemia. A segunda revisão foi aprovada, no 47
dia 3 junho, em Assembleia Municipal, e é mais cirúrgica, tendo a ver com as obras municipais que iremos lançar para melhorar o nosso concelho e estimular a economia local”, explica o entrevistado. E, de acordo com o edil, no final do primeiro quadrimestre, a Câmara Municipal de ALGARVE INFORMATIVO #251
Lagoa ainda não tinha registada nenhuma quebra de receitas comparativamente ao mesmo período de 2019. “Tínhamos até
um ligeiro aumento das receitas municipais, que são responsáveis por 95 por cento do total do nosso orçamento. Ainda não possuo os números finais referentes a maio, no entanto, a julgar pelos apoios que temos dado – e que vamos continuar a dar – para mitigar os efeitos da pandemia, é natural que essa situação se inverta. Já para não falar dos decréscimos significativos que se perspetivam em termos de ALGARVE INFORMATIVO #251
IMI e IMT. Por isso, no final de 2020, estimamos que haja uma quebra de 15 a 20 por cento em termos de receitas, o que nos forçou a reformular o Orçamento Municipal”, assume Luís Encarnação. Parte dessa reformulação assentou, por exemplo, numa rúbrica que tem sido uma forte aposta do concelho de Lagoa de há vários anos a esta parte – a vida cultural – diminuindo-se os apoios aos eventos desportivos, culturais e de animação. Nesse sentido, ainda mesmo antes do governo ter proibido a realização de grandes eventos até final 48
de setembro, a autarquia já tinha cancelado a maior parte dos seus eventos âncora, como o «Lagoa Wine Show», a «Noite Black & White», o «Mercado de Culturas à Luz das Velas», o «Lagoa Jazz», a «Mostra de Doce Conventual». O último grande evento, talvez o mais mediático, a ser adiado para 2021 foi a FATACIL, e todas essas verbas foram transferidas para o apoio social às famílias e IPSS,
“para ajudar os lagoenses que precisam de nós neste momento difícil”.
O MAIS IMPORTANTE ERA NÃO TER PRAIAS ENCERRADAS Terminado o Estado de Emergência entrou-se num Estado de Calamidade e iniciou-se o desconfinamento, mas isso não significa que o pior tenha passado, que tenham desaparecido todas as preocupações em matéria de saúde pública, antes pelo contrário, alerta Luís Encarnação. “Temos pela frente um
tremendo desafio. Há que dinamizar a economia, porque, como alguém disse, «se não morremos do mal, não podemos agora morrer da cura». Tão perigoso como a covid-19 é o vírus do desemprego, do desespero, da angústia, da fome e da miséria, e não há nenhum país, grande ou pequeno, que consiga sobreviver com a sua economia parada e com todas as pessoas fechadas em casa. A pouco e pouco temos que retomar as nossas vidas, mas com segurança, para que não 49
haja nenhum retrocesso, para que depois não tenhamos que dar dois ou três passos atrás”, alerta o entrevistado. Outro desafio bem concreto é como o Algarve vai lidar com as limitações impostas com o desconfinamento, seja na lotação de hotéis, restaurantes e similares, mas, sobretudo, no usufruto das praias. “Foi muito importante
que não tivéssemos nenhuma praia encerrada no concelho de Lagoa. Com a experiência que temos do terreno e com um forte sentido de responsabilidade, ajudamos a Agência Portuguesa do Ambiente a corrigir alguns dos valores que nos tinham indicado. A Praia da Albandeira, por exemplo, estava sobreavaliada, não tem capacidade para receber 70 pessoas, do mesmo modo que a Praia do Carvoeiro leva, seguramente, muito mais do que 130 pessoas. De uma forma geral, as propostas da autarquia foram aceites, a APA corrigiu o que havia para corrigir e estamos disponíveis para implementar estas medidas, com a consciência de que este Verão vai ser diferente. O mais importante para nós era que, para além de todos os constrangimentos que os empresários e os hoteleiros já sentem, não tivéssemos praias encerradas”, afirma Luís Encarnação. ALGARVE INFORMATIVO #251
“Seria um golpe bastante duro para um concelho que vive do turismo, do sol e mar, e que tem das praias mais bonitas do mundo. Aliás, não faria sentido nenhum que os lagoenses não pudessem desfrutar do seu património natural, do que mais belo têm no nosso concelho. Em termos de promoção externa, também seria prejudicial existirem praias interditas no Algarve, praias que, pela sua beleza, estão sempre nos spots publicitários da região e do país”, reforça o presidente da Câmara Municipal de Lagoa. Lagoa e o Algarve preparamse, então, para receber os habituais turistas de Verão, em muito menor número do que seria normal, e essencialmente portugueses, mas Luís Encarnação está confiante de que vai imperar o bom-senso para que não aumentem os focos de contágio da covid-19.
“Temos preparadas ações de sensibilização, em articulação com a autoridade local de saúde, com a Capitania do Porto de Portimão e com a APA, para que as pessoas compreendem que é necessário cumprir-se com todas as regras estabelecidas. Confio no ALGARVE INFORMATIVO #251
sentido de responsabilidade dos portugueses, que vão ser a maioria dos turistas que teremos no Algarve este Verão, apesar de 40 por cento do parque habitacional de Lagoa ser de segunda residência e com um 50
grande peso de cidadãos estrangeiros. Acredito que as pessoas vão perceber que este vai ser, forçosamente, um ano diferente, para bem de todos. Quanto a nós, executivo municipal, vamos continuar a trabalhar, com 51
empenho e dedicação, falando claro com os lagoenses, explicando o que estamos a fazer, quais são as nossas dificuldades, quais são os desafios que enfrentamos”, declara Luís Encarnação .
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«INSUFLÁVEL» DE JOÃO DE BRITO INTEGRA PROGRAMAÇÃO DO TEATRO D. MARIA II Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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espetáculo «Insuflável» integra, a partir do dia 1 de junho, Dia Internacional da Criança, a programação da iniciativa «D. Maria II em casa», que o Teatro Nacional D. Maria II promove desde que se viu forçado a encerrar, devido à pandemia provocada pelo Covid19. Criado de raiz por João de Brito, com dramaturgia de Joana Bértholo e coprodução do Teatro Nacional D. Maria
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II e do Teatro Virgínia, a peça baseia-se num questionamento intemporal das várias fases do crescimento, dos 6 aos 12 anos, em que já existe um confronto com a palavra escrita e o início da compreensão de alguns conceitos educacionais de como «estar» neste mundo. O novo trabalho do ator e encenador farense teve a sua estreia absoluta no CAPA - Centro de Artes Performativas do Algarve, em Faro, nos dias 22 e 23 de
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março de 2019. E, de acordo com João de Brito, os deuses da antiguidade clássica insuflavam os humanos com um «sopro da vida», pelo que insuflar pode dar forma e pode dar vida. “São curiosas, as
aventura, ou melhor, três, uma para cada um dos personagens, interpretados por João Pedro Dantas, Leonor Keil e Manuela Pedroso, “que foram parar a um
palavras: «aspiração» significa movimento respiratório que absorve o ar, mas também desejo ou anseio. Será que desejar tem algo a ver com respirar? Podemos insuflar os nossos sonhos como quem enche um balão? E se os largarmos, será que voam? Onde vão parar”, questiona.
mundo temporário, cuja natureza só vamos desvendar no final da viagem”. “Nem eles sabem bem o que são e o que estão ali a fazer. Mas vão descobrir que o que os leva ali é de suprema importância. Trata-se da força que comanda a vida, o tal sopro que gera as coisas novas”, descreve João de Brito.
A história é, por isso, uma grande 57
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MIGUEL SANTOS INTERPRETOU Um Solo para A Sociedade no Teatro das Figuras Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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partir do monólogo «O Contrabaixo», de Patrick Süskind, António Cabrita e São Castro aprofundam, em «Um Solo para a Sociedade», a reflexão sobre como as pessoas ocupam um território comum, abordando problemáticas que norteiam a condição humana; ampliando o gesto como movimento elaborado e exteriorizado dessa reflexão. Este confronto do eu e dos outros, do barulho e do silêncio, em som visível no corpo, foi magistralmente interpretado por Miguel Santos, no Teatro das Figuras, em Faro, no dia 20 de setembro de 2018, em mais um espetáculo integrado no Festival Dance, Dance, Dance desse ano. Acima de tudo, estivemos perante um solo diante da sociedade, o público, que observava o indivíduo, um intérprete que, por sua vez, observava a sociedade, explicou a dupla de coreógrafos, que são, igualmente, os diretores da Companhia Paulo Ribeiro, de Viseu. “O nosso
movimento é muito complexo do ponto de vista técnico, motivo pelo qual a peça é praticamente toda escrita ao pormenor, tirando algumas partes em que o Miguel tem liberdade para brincar com as coisas”, indicou António Cabrita, lembrando que «O Contrabaixo» é do mesmo autor do conhecido livro e filme «O Perfume». “A obra teatral é um
monólogo em que ele está em cena e em constante comunicação com o ALGARVE INFORMATIVO #251
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público. Assume que está em palco, é essa a sua casa, e passa a peça toda a falar diretamente com a assistência e achamos que seria interessante manter essa relação de proximidade. No fundo, o contrabaixo é um elemento que passa quase despercebido numa orquestra, mas é totalmente imprescindível, é ele que dá a base, toda a parte grave”, referiu António Cabrita. «O Contrabaixo» pretende ser, então, uma sátira à sociedade perfeitamente dividida em classes, esquecendo-se, porém, “que todos os indivíduos têm a sua importância”, entende Miguel Santos, confessando que o regresso a Faro foi um momento especial, de nervosismo e de tremenda responsabilidade, depois de ter estudado na Companhia de Dança do Algarve.
“Foram muitos anos nesta casa e quase todas as pessoas que estão na assistência tiveram algum tipo de relacionamento comigo no passado. Os artistas aprendem imenso com aquilo que veem e trabalhar diariamente com a São Castro e o António Cabrita permitiu-me crescer, a nível pessoal e profissional, de uma forma bastante repentina”, destacou o bailarino. Elogios foram dados, também, por António Cabrita a Miguel Santos. “Está
no Top 3 nacional, a sério. Ele consegue apanhar o conceito muito ALGARVE INFORMATIVO #251
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facilmente e não temos que estar sempre a corrigir a essência do movimento. Preocupamo-nos mais com a interpretação e a microdinâmica do movimento e quisemos que esta peça fosse altamente desenhada do ponto de vista da motricidade fina”, revelou António Cabrita. “É sempre difícil passar a nossa linguagem a outros intérpretes, há uns que têm mais ALGARVE INFORMATIVO #251
facilidade do que outros para compreender aquilo que queremos, e também depende de cada obra. Escolhemos o Miguel para «Um Solo para a Sociedade», vai trabalhar agora com o Henrique Rodovalho e vai colaborar igualmente com o Paulo Ribeiro”, concluiu, na altura, o coreógrafo .
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The Bride estreou no Teatro das Figuras Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Teatro das Figuras, em Faro, assistiu, no dia 20 de setembro de 2018, à estreia do solo «The Bride», interpretado pela bailarina coreana Hyaejin Lee, que mostrou, pela sua graciosidade, expressividade e mensagem, que não são as diferenças de género, culturais ou outras, que afastam os povos, assim que estiverem resolvidas as quezílias políticas comuns às pessoas, a cada região ou país.
“Esta matriarca representada por nós como a noiva é uma personagem forte, organizada, determinada e corajosa que nos irá 81
permitir utilizá-la como fio condutor para a nossa apresentação”, descreveram os encenadores Hyaejin Lee e Sérgio Miguel Mendes. «The Bride» foi uma coprodução do Teatro das Figuras e da Molecule Kingdom – Associação Artística e Cultural, com Encenação e Coordenação Artística de Hyaejin Lee e Sérgio Miguel Mendes, Composição e Direção Musical de Hyaejin Lee, Cenografia de Sérgio Miguel Mendes, Figurinos e Adereços de Hyaejin Lee e Sérgio Miguel Mendes e Luz de Sérgio Miguel Mendes . ALGARVE INFORMATIVO #251
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CASA CHEIA NO TEATRO DAS FIGURAS PARA ASSISTIR A «ANTIFRÁGIL» DE CAROLINA CANTINHO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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edição de 2018 do Festival Dance, Dance, Dance terminou da melhor forma, no dia 27 de setembro, com uma lotação praticamente esgotada nas bancadas do Teatro das Figuras, em Faro, para se assistir a «Antifrágil», da coreógrafa Carolina Cantinho. Em palco, Beatriz Gonçalves, Letícia Conduto, Margarida Cantinho, Margarida Girão e Maria Dias são personagens numa atualidade onde tudo parece mudar e em que a vida se nos apresenta instável e imprevisível. “Como
atuamos perante o inesperado? Como integramos o incerto? A adversidade revela-se a oportunidade ideal para a autossuperação, e o crescimento ALGARVE INFORMATIVO #251
interno, face a situações de risco, torna-nos Antifrágil”, descreveu Carolina Cantinho, que também assinou a Direção Artística. Antifrágil teve Desenho de Luz de Jorge Pereira; Sonoplastia, Figurinos e Produção Executiva de Carolina Cantinho e Consultoria Artística de Gil Silva. O espetáculo foi uma coprodução do Teatro Municipal de Faro, SM e BCC – Beliaev Centro Cultural e contou com os apoios da Direção Regional da Cultura do Algarve, da Câmara Municipal de Faro e da Companhia de Dança do Algarve. Depois da estreia nacional, em Faro, seguiu para Almada, mais concretamente ao Teatro Municipal Joaquim Benite, para uma atuação, no dia 4 de outubro, integrada na Quinzena de Dança de Almada . 92
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OPINIÃO O Momento preciso - ou a precisão do instante Mirian Tavares (Professora) Um dia, há muito tempo, dei com a fotografia do último irmão de Napoleão, Jerônimo (1852). Eu me disse então, com um espanto que jamais pude reduzir: “Vejo os olhos que viram o imperador”. Roland Barthes á, na fotografia, uma ideia de presença que mesmo o digital não conseguiu apagar. A foto será sempre o «isso foi», a presença diante dos olhos da câmara. A presença que olha, ou que foge, do registo perene de um instante, por natureza fugaz. Tenho alguma dificuldade em apreciar a fotografia no campo da arte, excetuando aqueles artistas que usam a fotografia como suporte ou medium, que atuam sobre a imagem capturada, que transformam o instante numa performance, caso, por exemplo, da obra do João Tabarra. Os outros artistas, que são fotógrafos apenas (e neste apenas cabe todo um universo de nuances) nem sempre arrancam de mim a admiração mais genuína, aquela que tenho diante de um quadro ou de uma escultura. ALGARVE INFORMATIVO #251
O problema é meu, não dos fotógrafos. Sou eu que tenho de resolver esta relação com a imagem fotográfica ao ponto de deixá-la impressionar-me. E ela me impressiona, diversas vezes. Muitas delas pelo motivo que a foto do irmão do Napoleão impressionou ao Barthes – por ter diante de mim uma imagem, mesmo que em reprodução, de alguém que esteve ali, naquele momento preciso em que a fotografia se deu. Italo Calvino, no conto «A Aventura de um fotógrafo» fala sobre o bando de pessoas que saíam de câmara em punho para captar as delícias do fim-desemana: “(…) e somente quando põem os olhos nas fotos parecem tomar posse tangível do dia passado (…).” Talvez por isso, no universo da fotografia, as que mais me assombram são aquelas feitas para tornar tangível o visível, ou melhor, para perenizar a inefabilidade do instante. 104
move. Da narrativa curta de um olhar, dos milhares de histórias que se podem contar sobre alguém que passa, sobre um carro parado no semáforo, sobre um velho sentado num banco tendo apenas o vazio à sua frente.
Foto: Victor Azevedo
Fui acometida deste assombro diante das fotos de Cinda Miranda (https://www.cindamiranda.com/streetphotography), sobretudo daquelas tiradas nas ruas que apanham os transeuntes e, mais que isso, apanhamnos num instante banal que se converte em imagem e que permanece. Um homem que tapa os olhos, como quem rejeita o olhar da câmara, uma mulher que nos olha diretamente, sem medo. Alguém que parece escapar do enquadramento e outros que permanecem, sentados. A sua fotografia, para mim, recupera a ideia de Barthes que se punha ao lado da fotografia contra o cinema. Ao lado da imagem estática e não daquela que se 105
Somos nós que contamos as histórias da foto. Ela é um índice, um signo indicial, segundo Charles S. Peirce, trata-se dos signos que atuam sobre o concreto, sobre o palpável, sobre a tangibilidade do real. Que experimentam o peso, a resistência das coisas do mundo e que, mesmo assim, transcendem a condição de meros objetos e se convertem em signos, sinais, indícios. O isso foi barthesiano – a marca da presença, mesmo que agora ausente, de quem esteve ali, no momento preci(o)so e irrepetível. E é esta a arte de Cinda Miranda – captar, de forma concreta, o inefável. Tornar preciso o impreciso trânsito da vida. E fazer da fotografia uma arte que nos leva a pensar com ela, a estar com ela, a ver através dos seus olhos. E nestes momentos me reconcilio com a fotografia, pois a obra de Cinda foge da banalidade das imagens nos tempos que correm . ALGARVE INFORMATIVO #251
OPINIÃO Do Reboliço #87 Ana Isabel Soares (Professora) porta da casa, desviado do tapete e do poial para não ser pisado pelos pés que incessantemente o transpõem, o Reboliço ouve ruídos familiares. Uma das orelhas arrebitase, depois a outra e, ao fim de poucos segundos, o focinho toma a direção do som, volta-se para o moinho. Ao cimo das escadas do socalco, só lhe vê as pernas a desaparecer pela porta escura, o moleiro acabou de armar a última vela, retirou do arganel a grossa corda que termina em corrente de ferro, atirou-a para diante das varas e largou o moinho. Pôr o moinho a funcionar é coisa que não precisa de nada: se o cheiro do vento lhe chegou, ao moleiro, se as mãos que há mais de três lustros se adestraram a abrir as velas ao tamanho certo, o ferro da corrente arrastado sobre as pedras com pontilhos de erva ruim soa ao Reboliço como um recado que lhe dessem: olha agora: é só com o sopro do ar. Como é que o homem vira as costas ao vento, às velas, às varas, ao mastro, ao monstro que gira sozinho?, pergunta-se o bicho, de cada vez que pressente, porque ouve, porque vê nas pernas do dono os movimentos conhecidos que anunciam o trabalho do moinho. Tirado o cabresto, nem um empurrão dá à vara que tem mais
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próxima, nem um afago na vela: o vento faz tudo sozinho. Até ali, percebe então o canito, o trabalho do homem foi todo para proteger a máquina de sair pelos ares: travar, recolher, prender. (No piso de topo, uma cela circular corrida por um banco de madeira a toda a volta, os cabos de corda que travam o telhado são mais grossos que os braços de um marinheiro do pão e desenham bonitos ús na parede – nas poucas vezes que lá têm entrada, os netos do homem abrem os olhos de desejo e de surpresa entristecida, quando percebem que aqueles baloiços, com o branco das paredes logo em fundo atrás, não servem a brincadeira de balouçar). É ilusão que o moinho seja um barco ancorado: a força que o moveria sobre as ondas revê-se, duplicada, na velocidade das velas e pede ao homem a bruteza do travão. Para o Reboliço, o som das velas a girar (o som das cantarinhas que cantam) é sinal de passagem proibida: se se chegasse ao degrau de cima da escada que leva ao socalco, ainda que de longe, bem teme o bicho que uma lufada o empurrasse de volta às pedras frente à casa, onde a raiz da buganvília se perderia a rir da queda e as folhas da parreira aplaudiriam o aparato. Até lhes daria, de bom grado, a palhaçada, mas desapetece-lhe o lombo dorido, prefere ver de longe e dar à 106
Foto: Vasco Célio
parreira carregada e à buganvília florescente o sorriso que sobra de quando vira para as velas o respeito do focinho. Há de ser por esta maldade do vento, que o moleiro labora em dominar, que a moenda tantas vezes tem má fama. Quanto não ouve o Reboliço à mulher do moleiro, chegando-se ao fogão a queixar-se da impertinência de um dos moços pequenos, “Se é moedor, este objeto!”, ou rogar, num dia mais frágil, que “Não me moam”. Ele, pobre bicho, 107
que pouco mói a paciência dos donos, prefere a frase que ouve quando alguém critica a alguém outro a imobilidade, o não querer mexer-se de onde está: “Aquele? ‘tá bem... – mói-te, Zé Cuco! Não mexe uma palha”. Põe-no a pensar com compaixão nesse Zé infeliz, que todo se gasta, debalde, em fazer trabalhar o outro . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. É a partir do seu olhar que aqui escrevo. ALGARVE INFORMATIVO #251
OPINIÃO Arte e a necessidade de Foco Profundo Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) enho a certeza absoluta que não sou a única que anda numa corda bamba à procura da poção mágica para encontrar a minha «zona de génio». «Zona de génio» referese a um estado mental no qual conseguimos prosperar, ou seja, um espaço mental onde nos sentimos vivos, onde cultivamos a nossa paixão e nos sentimos produtivos para trabalhar no nosso ofício.
capacidade de nos focarmos por completo sem distrações superficiais que nos arranquem desse tal estado de graça.
Embora cada um de nós seja diferente e cada artista beba de fontes diferentes para nutrir a sua arte, existem vários estudos que indicam que a necessidade de isolamento pode ser essencial para gerar verdadeiras ideias originais.
A ideia de escrever este artigo surgiu quando há umas semanas fiz um «detox» do Instagram e de outras redes sociais. Apercebi-me que me distraía demais, não estava a conseguir resistir à tentação de deslizar o dedo de forma inconsciente, perdendo tempo desnecessário a ver o que os outros estavam a fazer. Não acredito que o Instagram em si seja mau, mas em demasia pode levar a distrações e comparações fúteis.
Cal Newport, um jovem professor académico, com apenas 37 anos, já publicou uma série de livros, sobre sucesso, capacidade de foco, minimalismo digital, importância do desenvolvimento de capacidades e afins. No seu livro «Deep Focus» (trd. «Foco Profundo»), Cal apresenta-nos o seu ponto de vista, assim como estudos que comprovam que a produtividade é gerada através da capacidade de concentração máxima. Esta é a ALGARVE INFORMATIVO #251
Outro ponto importante que é frisado é que, sendo esta capacidade cada vez mais escassa, Newport defende que quem conseguir dominar este «superpoder» não apenas produzirá trabalho de alto calibre qualitativo, mas também terá vantagem nas atuais sociedade e economia - cada vez mais competitivas.
Resultado? Estou bem, estou viva. Sim, no início, tal como uma droga, sente-se a falta, mas, conforme os dias passam, uma pessoa vai preenchendo esses momentos com coisas mais úteis e produtivas. Li imenso, liguei mais aos 108
meus amigos. Em vez de likes, peguei mesmo no telefone e fiz chamadas para ouvir a sua voz. Incrível, não é? Entretanto, já voltei às redes sociais, mas agora faço-o de uma forma mais pontual e consciente. Outra coisa que notei foi que consegui escrever mais e apontar mais ideias para novos filmes, que é o que me deixa feliz. Vejamos o caso de sucesso profissional de Woody Allen. Polémicas à parte, em cerca de 40 anos realizou mais de 40 longa-metragens. O seu hábito? Fácil: escreve todos os dias, é sagrado. Pega na sua máquina de escrever e bem, escreve. Woody não tem redes sociais, mas tem vários Oscars e faz aquilo que gosta. Isto devia dizer-nos alguma coisa: “Foco profundo”. E vocês? Qual é a vossa zona de génio? Como nutrem o vosso espírito criativo? 109
Como produzem originalidade? Como conseguem submergir no vosso mundo onde o tempo e espaço apenas a vós vos pertence? . ALGARVE INFORMATIVO #251
OPINIÃO Vamos transformar o Algarve num grande hotel? Nuno Campos Inácio (Escritor e Editor) credito que, para as gerações actuais, seja difícil imaginar que alguma vez o Algarve tenha sobrevivido sem turismo mas, na realidade, este sector económico só adquiriu primazia na economia regional há pouco mais de meio século. Como um eucalipto, o sector turístico foi absorvendo quase tudo à sua volta, destruindo praticamente toda a actividade industrial, agrícola, pecuária e pesqueira. Em abono da verdade, devemos avançar que tal não se deveu a um qualquer acto premeditado, mas, principalmente, à falta de mão-de-obra e à baixa rentabilidade das outras actividades comparativamente ao turismo. Se, ao longo das últimas décadas, a solução foi importar mão-de-obra, que se transformava em população residente, contribuindo para a economia e para o desenvolvimento regional, uma alteração profunda na actividade turística, baseada na obtenção do máximo lucro no mais curto espaço de tempo, aproveitando o efeito do ALGARVE INFORMATIVO #251
denominado turismo de massas, aprofundou drasticamente os efeitos da sazonalidade na região. Enquanto há uma década a maioria dos hotéis abria antes da Páscoa e encerrava em Outubro, deixando os trabalhadores numa situação de desemprego durante três ou quatro meses, mas assegurando a contratação para a época seguinte, neste momento, a maioria dos grandes grupos hoteleiros encerra as suas unidades durante mais de seis meses, importando a maioria da sua mão-deobra, sem qualquer formação em hotelaria, directamente de outros países e obrigando a população local, altamente qualificada, a emigrar, pela falta de estabilidade laboral e económica das famílias. Com esta alteração, este tipo de unidades hoteleiras deixou de cumprir um dos objectivos principais de qualquer actividade económica: contribuir para a melhoria das condições de vida das populações. Actualmente, apesar de sabermos que a maioria das grandes unidades hoteleiras da região funciona menos de seis meses por ano; que não contribui para a diminuição do desemprego regional, continuando o Algarve a 110
desenvolvimento local, que não é real, porque raramente se efectiva.
exportar mão-de-obra qualificada; que não toma qualquer medida de combate à sazonalidade; que não compensa minimamente a região pelo exercício da sua actividade, nem em termos de impostos, que são pagos na localidade da sede dos grupos; somos frequentemente confrontados com notícias de projectos de construção de novas unidades hoteleiras, em espaços que deveriam ser de protecção ambiental. Em troca, prometem a criação de centenas de postos de trabalho (temporários ou preenchidos por imigrantes sem qualificações, que prestam mau serviço e mancham a imagem da região); o aumento da oferta de alojamento (a ser ocupado massivamente durante três meses e encerrado por seis meses); a dinamização da economia local (quando a restauração, o comércio, os serviços e os equipamento não têm capacidade de resposta, desde logo pelas limitações de espaço); e o contributo para o 111
Esta situação obriga a uma tomada de posição firme por parte das autoridades locais, regionais e nacionais. O Algarve não pode ser transformado num hotel de grandes dimensões, que tenha como único objectivo garantir o lucro rápido dos grandes grupos hoteleiros em troca de um vencimento temporário que mal abrange a população residente. Uma das medidas a aplicar deveria ser a inviabilização de qualquer projecto de construção de novas unidades hoteleiras enquanto as existentes não garantirem o funcionamento das suas unidades durante pelo menos nove meses por ano. Se esta medida drástica não for tomada, o Algarve, na próxima década, será uma região com nove meses de inverno e três meses de inferno, afugentando a população residente e o turismo de qualidade, aumentando ainda mais os problemas com que a região se confronta actualmente, mas com a agravante de diminuir ainda mais a possibilidade de vir a recorrer a outra actividade económica quando a actividade turística sofrer uma crise como a que atravessamos actualmente. ALGARVE INFORMATIVO #251
OPINIÃO A covid-19 tornou o interior mais competitivo Luís Matos Martins (Empresário e Docente Universitário) pesar de o interior do país oferecer melhor qualidade de vida e oportunidades diversificadas dos centros urbanos, a verdade é que há muito se verifica a desertificação destas regiões. Muitos jovens acabaram por deixar as suas terras em busca de novas oportunidades de emprego, levando consigo as suas famílias. Surge agora uma nova oportunidade para todos os cidadãos ativos retornarem às suas terras. Penso que poderemos encontrar na pandemia da Covid-19, e na mudança de comportamentos que ela está a induzir, uma oportunidade para lograr o regresso dos jovens e adultos ativos aos territórios do interior do país. A verdade é que ao longo dos anos, e com o avanço da tecnologia, começaram a surgir os primeiros nómadas digitais, desenvolvendo o seu trabalho remotamente e para qualquer parte do mundo, o que lhes deu maior liberdade de escolha quanto ao local onde iriam ALGARVE INFORMATIVO #251
viver e trabalhar. Se, por um lado, isto lhes permitia viver em qualquer lugar do mundo, ao mesmo tempo que desenvolviam a sua carreira profissional (e, efetivamente, muitos optaram por viver noutros países), observou-se, também, um regresso gradual às regiões de origem de muitos dele, procurando estar mais perto das suas famílias e amigos e, ao mesmo tempo, contribuindo para a repovoação destes territórios. O ano de 2020 trouxe-nos mais um fenómeno com implicações radicais na vida social e profissional de todos os portugueses. A transformação digital acelerou dez anos face àquilo que previam os investigadores da área, fazendo com que mais de 64 mil quadros de todo o país que desenvolviam habitualmente trabalho presencial, se vissem sob o desafio de trabalhar remotamente. Este facto veio impulsionar um êxodo urbano, fazendo com que muitas pessoas que estão hoje em regime de teletrabalho tenham voltado às suas terras, pelo conforto e segurança que estas lhes transmitem, levando consigo as suas famílias. 112
Uma forma de incentivar este retorno ao interior pode passar por medidas específicas, que permitam a empresas já constituídas, nomeadamente as que se encontram sediadas em grandes centros urbanos, manterem os seus colaboradores nas terras das suas escolhas trabalharem remotamente. O Governo pode tem um papel fundamental neste processo, desenvolvendo políticas de contratação e incentivos para as empresas que atuem neste sentido. Estas medidas poderão passar pela isenção das contribuições à Segurança Social durante os primeiros três anos de atividade do colaborador numa determinada empresa, atenuando os encargos financeiros e podendo levar a um aumento da contratação. Outras 113
medidas podem passar pela atribuição de uma bolsa ao colaborador contratado neste regime, permitindo-lhe, por exemplo, aceder a espaços de «coworking» que lhe garantam condições físicas e estruturais para desenvolver o seu trabalho. É preciso saber ler os sinais e as novas tendências, potenciando o que estas têm de positivo. O interior de Portugal mostrou-se um conjunto de regiões quase imune à Covid-19, o que aumentou a sua competitividade enquanto território. Esta mais-valia sanitária tem de ser posta ao serviço da fixação de pessoas nos seus territórios de origem, da aceleração da economia local e da criação de novas oportunidades para setores muito qualificados da sociedade portuguesa . ALGARVE INFORMATIVO #251
OPINIÃO Deixar de brincar aos Restaurantes Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) hora de a lei mudar e declarar que os Restaurantes são para os Restauradores, Cozinheiros e Empregados de mesa, e para mais ninguém! A triagem deveria ser logo iniciada com um inquérito prévio, que decidiria a anulação ou a continuação do pedido. Qual a sua profissão? O que pretende abrir e em que lugar? Quantos espaços semelhantes ao seu existem? Porque acha que faria a diferença? Tem algum curso/experiência na atividade que vai desenvolver? Se não tem, tem interesse em frequentar um curso de introdução? Se não vai chefiar as diferentes secções, tem interesse em contratar profissionais experientes? Porque teimam em abrir restaurantes e similares, sem perceberem do assunto? Os Restaurantes precisam de profissionais, de gente que queira aprender, dedicada, humilde, Não de invasores, sabichões e indiferenciados que acreditam saber e poder. Por isso, o Saber-Estar e o Saber-Saber ALGARVE INFORMATIVO #251
são tão importantes antes do SaberFazer. É hora de patrões, mais que Restauradores, aceitarem que devem fazer um Curso, de como Ser/Estar na Restauração e de como aprender mais nas áreas que não dominam, como Gestão, Cozinha, Sala, Marketing. O Patrão julga que sabe de tudo – de Gestão, de Sala, Cozinha, Marketing, RP. O Restaurador sabe que precisa aprender o que não sabe. É hora de perceber que, quando se passa um alvará a um estabelecimento, ele é vistoriado, entre outras entidades, pelo Delegado de Saúde da área, ou seja, é assumido logo à partida que o estabelecimento será um transformador de alimentos, e nele trabalharão manipuladores de alimentos, logo, um local onde a saúde é posta em prática diária. E depois do alvará passado? Inspeções, muitas vezes ridículas, com agentes sem preparação para o assunto – Comida. Leis, muitas vezes amorfas e ridículas, como recentemente – as mesas não podem ter nada em cima (eu confesso que gosto do tratamento minimalista). Mas…quem garante ao cliente que se higienizou? Restauradores profissionais 114
sabem o que fazer para garantir a segurança e o bem-estar dos seus clientes e colaboradores. É hora de associações como a AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, começarem a fazer um bom serviço, ou seja, ajudarem realmente os associados a serem melhores Restauradores e não, simplesmente, somarem sócios, que a troco de uma mensalidade colocam nas suas vitrinas um emblema, como um livre-trânsito para poderem fazer de tudo, quase sempre mal feito. Uma Associação que se diz, de Restauração e Hotelaria deveria ser apartidária, não a favor do governo, com propostas claramente a roçar o ridículo e nada a favor do associado. E, meus senhores, pastelarias não são restaurantes, quanto muito equiparadas a Snacks. Quem paga impostos por ter uma atividade aberta como restaurante não pode permitir que uma outra não equiparável possa fazer o que a primeira faz. É tempo de perceber que quem deve desenhar/idealizar cozinhas industriais, são cozinheiros, não projetistas sem conhecimento, excetuando os que têm, obviamente. Uma cozinha é um local de trabalho, de muitas horas, de demasiadas horas. Por norma, mas mal feito, os 115
restaurantes têm uma sala de comer, maior do que a cozinha, que por vezes é ridiculamente pequena para uma atividade que se pretende sã, com luz, espaço e equipamento mínimo para se desenvolver uma atividade que é de pressão. Há cozinhas escuras e de ar rarefeito que mais parecem corredores de minas e de trabalho escravo, sem respeito pela vida de quem nelas vive, trabalhando. Outras, onde tudo se encavalita e se operam milagres diárias da multiplicação de tudo. É tempo de, sem medos, os Restauradores se unirem a uma só voz, de imporem vontades, de deixar a inércia e de brincar aos Restaurantes . ALGARVE INFORMATIVO #251
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #251
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