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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 18 de julho, 2020

«INSTRUÇÕES PARA ABOLIR O NATAL» DA ACTA CHEF ANDRÉ SANTOS | CLUBE NAVAL DA FUZETA | «SURICATA» NA REPÚBLICA 14 1 ALGARVE INFORMATIVO #257 RÉGIS VINCENT EXPÕE NO IPDJ | MUSEU MUNICIPAL DE ARQUEOLOGIA DE ALBUFEIRA


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44 - Chef André Filipe Santos ao leme do Restaurante «O Pic-Nic»

70 - «Suricata» ao vivo na República 14 ALGARVE INFORMATIVO #257

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OPINIÃO

34 - Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira

18 - Clube Naval da Fuzeta

104 - Mirian Tavares 106 - Ana Isabel Soares 108 - Alexandra Rodrigues Gonçalves 110 - Júlio Ferreira 114 - Nuno Campos Inácio 116 - Augusto Pessoa Lima

26 - Parque Municipal de Loulé

82 - Régis Vincent expõe no IPDJ

94 - «Paga Deus ou o Gorila» 11

56 - ACTA apresenta «Instruções para Abolir o Natal» ALGARVE INFORMATIVO #257


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Vítor Guerreiro, Graça Fonseca e Adriana Freire Nogueira

PRIMEIRA ESCOLA DE FORMAÇÃO DE KITEBOARD DE PORTUGAL NASCE NA FUSETA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Clube Naval da Fuzeta anunciou, no dia 11 de julho, a criação da primeira escola de formação de kiteboard do país, que irá funcionar nas instalações da sede provisória localizadas na Zona Ribeirinha da Fuseta, junto ao canal marítimo. A cerimónia, que contou com a participação de José Salvador Mendes Segundo, presidente do Clube, António Roquette, presidente da Federação Portuguesa de Vela, António Camacho, vereador da ALGARVE INFORMATIVO #257

Câmara Municipal de Olhão, Manuel Carlos, presidente da União de Freguesias de Moncarapacho e Fuzeta, e Fátima Catarina, vice-presidente da Região de Turismo do Algarve, entre outros convidados, serviu igualmente para falar da segunda edição do Campeonato Nacional de Kiteboard, a disputar-se, nos dias 12 e 13 de setembro, na Ilha da Armona, em frente à Fuseta. Kiteboard que é a nova designação para o kitesurf, porque este deixou de ser olhado simplesmente como uma 18


atividade de lazer e assumiu-se como modalidade desportiva federada e que fará parte, inclusive, dos Jogos Olímpicos de 2024. Razão que justificou também a criação, no concelho de Olhão, da primeira escola de kiteboard vocacionada exclusivamente para a formação, no seguimento do tremendo sucesso que teve, em 2019, o primeiro campeonato nacional de kiteboard, organizado pelo Clube Naval da Fuzeta. “Este ano

fomos novamente escolhidos para a organização da competição, nas classes de TT:R, o massivo, que toda a gente conhece, em formato slalom; de Foil, em formato race; e de Wingfoil, em formato race”, adiantou Ricardo Magalhães, o coordenador da secção vela neste clube algarvio.

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Com mais de três décadas de existência e um fôlego acrescido imprimido por uma nova geração de dirigentes, o Clube Naval da Fuzeta conta com 16 atletas federados em kiteboard, o que o torna um dos mais representativos desta modalidade a nível nacional, “porque a Fuseta

tem um potencial único para este desporto e uma massa considerável de jovens que estavam de costas voltadas para o mar, o que não se compreende numa terra de pescadores”, explica Ricardo Magalhães. “Tivemos um ano bastante intenso, com a criação desta sede provisória, que oferece todas as condições aos

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nossos sócios e atletas, mas também com a organização da primeira Pan do Campeonato Nacional de Windsurf, no Alqueva, e do primeiro Campeonato Nacional de Kiteboard, aqui na Fuseta. No final de julho, vamos ter o Campeonato Nacional de Windsurf Slalom, no Martinhal, no concelho de Vila do Bispo, e depois, em setembro, a segunda edição do Campeonato Nacional de Kiteboard”, evidencia o dirigente. O kiteboard está a tornar-se, de facto, numa modalidade desportiva muito exigente e profissional, mas Ricardo Magalhães defende que a componente de lazer nunca pode desaparecer. “As

pessoas primeiro experimentam, ALGARVE INFORMATIVO #257

numa toada de divertimento, para ver se gostam. Depois, uns fidelizam-se à modalidade e começam a competir. A grande mudança deu-se, sem dúvida, com a inclusão do kiteboard nos Jogos Olímpicos e o Clube Naval da Fuzeta foi pioneiro ao compreender a necessidade de apostar forte na formação. Somos o clube com maior número de licenças desportivas em Portugal, atletas que são do Algarve, mas de outros pontos do país também, até mesmo estrangeiros”, indica o entrevistado, um crescimento que se deve às condições excecionais da Fuseta para a prática desta modalidade, repete Ricardo Magalhães. “Conseguimos 20


abranger todos os tipos de atletas. Temos uma parte interior de Ria que permite aos mais novos darem os primeiros passos em total segurança e depois temos o mar para os mais velhos evoluírem. Estamos a 100 metros da Barra e do Mar e a Ria Formosa é um sítio fantástico para estes desportos”, garante o dirigente, acrescentando que qualquer pessoa se pode tornar sócio do Clube Naval da Fuzeta e ter uma primeira experiência no kiteboard. “Qualquer

desporto implica um investimento financeiro, mas não considero que, nesta modalidade, ele seja muito caro. Para além disso, o retorno, em termos de sensações, de prazer, é maravilhoso”.

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A importância do Clube Naval da Fuzeta no contexto nacional foi atestada pela deslocação, nesta manhã de sábado, diretamente do Porto, de António Roquette, presidente da Federação Portuguesa de Vela. “Há

que reconhecer o trabalho que o clube está a realizar, são 91 licenças desportivas. Apesar das suas dificuldades, tem vindo a criar um contexto muito agradável, tanto no windsurf, como no kiteboard. E, por isso, a Federação vai hoje oferecer mais quatro pranchas tecno ao Clube Naval da Fuzeta”, revelou. “A nossa vontade é levar a Paris, aos Jogos Olímpicos de 2024, um representante de kiteboard,

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masculino ou feminino, e é aqui que se vão formar os atletas do futuro. Um projeto olímpico não se faz em três ou quatro anos, mas sim em oito anos, temos que começar cedo a dar formação aos mais jovens. E o Algarve até já tem uma medalha olímpico de vela, com o Hugo Rocha e o Nuno Barreto”, recordou António Roquette. “São cerca de 12 clubes no Algarve com bastante atividade, provavelmente será a região de Portugal mais importante neste momento, em quantidade e qualidade”. No momento dos discursos oficiais, José Salvador Mendes Segundo lembrou que o Clube Naval da Fuzeta nasceu em 1986 e que teve uma vida risonha até ter ficado sem a sua sede, seguindo-se anos de

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alguma letargia. “Há quatro ou

cinco anos, a juventude começou a tomar novamente conta do clube e, desde que temos esta sede provisória na Zona Ribeirinha, nota-se um grande aumento de sócios e atletas, e de todas as idades. Temos algumas limitações, vamos falar com a Câmara Municipal de Olhão e com a União de Freguesias de Moncarapacho e Fuseta, com a Federação Portuguesa de Vela e com o Instituto Português do Desporto e Juventude, a ver aquilo em que nos podem ajudar”, afirmou o presidente do Clube Naval da Fuzeta, que possui, atualmente, 46 atletas federados, entre os quais 6 adultos e 8 jovens a

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competir em windsurf e 16 adultos a competir em kiteboard. Atletas que são treinados por Paulo Sousa, no windsurf, e Francisco Sousa, no kiteboard, coordenados por Ricardo Magalhães. Da parte da Câmara Municipal de Olhão, a resposta aos pedidos de apoio do Clube Naval da Fuzeta tem sido sempre positiva, recordou o vereador António Camacho, que não escondeu a satisfação de

“voltar a ver a Fuseta com uma forte dinâmica desportiva no âmbito das atividades náuticas”. “Nunca recusamos a nossa ajuda às suas ações, mas também à construção do seu espaço da sede, no âmbito dos contratos-programa de desenvolvimento desportivo que assinamos com vários clubes do concelho. E que se estendem à 23

organização de eventos como o Campeonato Nacional de Kiteboard”, afirmou o autarca. “É um ressurgimento feliz de um clube numa Fuseta que tanto o merece”, reforçou António Camacho. Já Fátima Catarina, vice-presidente da Região de Turismo do Algarve, sublinhou a importância do turismo náutico para o Algarve. “Para além

do «sol e mar», as atividades que se realizam no mar permitem atenuar a sazonalidade, uma vez que se praticam ao longo de todo o ano. Por isso, há que realçar esta nova dinâmica do Clube Naval da Fuzeta e ajudaremos na medida das nossas possibilidades, nomeadamente na divulgação dos eventos que organizam” . ALGARVE INFORMATIVO #257


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PARQUE MUNICIPAL DE LOULÉ «CRESCEU» PARA NORTE PARA FOMENTAR AINDA MAIS O CONVÍVIO E A ATIVIDADE FÍSICA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina oi inaugurada, no dia 13 de julho, a obra da segunda fase do Parque Municipal de Loulé, que assim cresceu na zona norte, junto ao Skate Parque. “Um momento de grande alegria e satisfação”, descreveu Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, perante vários dirigentes desportivos e atletas do concelho. “Apesar das circunstâncias ALGARVE INFORMATIVO #257

absolutamente excecionais, que são uma consequência da situação de saúde pública que vivemos, estamos aqui num dia maravilhoso, num espaço belíssimo, a celebrar mais uma obra pública”, reforçou o edil louletano. Numa cerimónia singela, mas em que se mostrou bastante emocionado, Vítor 26


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Aleixo não poupou elogios a mais um projeto relevante em termos da criação de espaços para o lazer e para a prática de atividade física na cidade de Loulé, uma intervenção que pretendeu ampliar o «pulmão» da cidade em cerca de dois hectares na zona norte confinante com a Circular, onde se localizou em tempos o «Bairro de Santa Luzia». Um projeto da autoria do arquiteto Paulo Viegas, que foi também o responsável pela primeira fase, pelo que foi mais fácil alcançar-se uma continuidade funcional e conceptual, nomeadamente no que toca à rede de caminhos, segurança, acessibilidade plena, às redes de infraestruturas, ao mobiliário e aos ajardinamentos.

“Quantas vezes é mal-entendido ou mal-interpretado o trabalho realizado pelo Departamento de Obras Municipais, mas, graças a eles, aqui estamos com mais uma obra pública municipal que está à disposição da comunidade louletana e de todos aqueles que nos visitarem. Um trabalho que é visível para todos, mas há o outro trabalho municipal invisível, aquele que prepara o futuro, de pensamento, de planeamento e conceptualização, que normalmente leva anos a conceber. Numa época em que se fazem juízos muito simplórios, tantas vezes injustos, é bastante duro ser autarca”, desabafou Vítor Aleixo. Esta empreitada veio reforçar os equipamentos ligados à atividade física informal, ampliando as possibilidades de ALGARVE INFORMATIVO #257

utilização por parte da população e aumentando a capacidade de resposta existente no parque. Deste modo, foi criado um relvado sintético, uma zona de street workout, uma pista de 100 metros com um pavimento em borracha mais amortecedora para os praticantes de corrida, uma plataforma para a prática de petanca e um campo com uma tabela de street basket, espaços que vêm enquadrar-se no compromisso com o desporto 28


assumido pela autarquia louletana ao longo dos anos e na dinâmica desportiva que é uma imagem de marca deste concelho. A intervenção passou igualmente pela plantação de mais árvores, dando uma estrutura tridimensional ao parque. Assim, arbustos e herbáceas foram colocados de forma a marginar limites, individualizar áreas e enquadrar esta ampliação do parque. Os trabalhos 29

contemplaram também uma pequena bolsa de estacionamento com 60 lugares para automóveis, três lugares para autocarros e três lugares destinados a pessoas com mobilidade condicionada. Tudo isto envolvendo um investimento público de 1 milhão, 417 mil e 501,11 euros. Vítor Aleixo recordou ainda que Loulé faz parte da Associação Internacional de Cidades Educadora e da Rede ALGARVE INFORMATIVO #257


Portuguesa de Municípios Saudáveis, para além de participar nos projetos europeus «Vital Cities» e «Healthy Cities», todos eles com uma filosofia inerente que se encaixa na perfeição com o Parque Municipal de Loulé.

“Espaços destes permitem-nos mudar o paradigma da nossa vida coletiva. Vivemos muito encerrados em casa, em frente aos ecrãs, e comunicamos através das novas tecnologias e das redes sociais. Esta obra não surge do acaso, há aqui uma intenção política clara de valorizar o espaço público urbano, para que as pessoas se habituem a conviver, a conversar, a tocar-se, a rir, para que possam praticar exercício físico. O convívio é essencial à espécie humana e tem sido bastante desvalorizado nos tempos modernos”, defendeu o presidente da Câmara Municipal de Loulé.

“Há coisas importantes na vida que é importante não perdermos, e passearmos e conversarmos uns com os outros são duas delas”, concluiu . ALGARVE INFORMATIVO #257

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MUSEU MUNICIPAL DE ARQUEOLOGIA DE ALBUFEIRA TORNOU-SE MAIS ACESSÍVEL E INCLUSIVO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina eabriu ao público, no dia 16 de julho, o Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira, após uma extensa intervenção para dotar o espaço e zona envolvente dos meios necessários à criação de um percurso acessível a todos os públicos, com interpretação e fruição em iguais circunstâncias, independentemente das suas aptidões ALGARVE INFORMATIVO #257

físicas, cognitivas, sociais ou culturais. Mas a aposta no turismo acessível do Museu pretende constituir igualmente um estímulo a outras entidades, públicas e privadas, no sentido da promoção do turismo inclusivo. “O

Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira completa, a 20 de agosto, 21 anos de existência e, desde então, não sofreu grandes alterações, quer físicas, quer na 34


sua coleção. Há sensivelmente três anos, o Turismo de Portugal lançou uma linha de apoio no âmbito do turismo acessível e entendemos que seria uma excelente oportunidade para alterarmos o nosso museu, que manteve o mesmo discurso – com pequenas modificações e correções históricas – mas totalmente acessível, seja em termos físicos ou intelectuais”, começou por dizer Carla Pontes, Chefe de Divisão de Turismo e Desenvolvimento Económico e Cultural da Câmara Municipal de Albufeira. De facto, durante a visita ao Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira constatou-se, por exemplo, que toda a informação passou a estar disponível em cinco línguas, para além de língua gestual em português e inglês, uma mais-valia 35

para uma cidade com um forte pendor turístico, sabendo-se que, na Europa, existem, neste momento, 120 milhões de pessoas com dificuldades de mobilidade. “As intervenções

incidiram essencialmente nas acessibilidades, com uma plataforma, algumas rampas e as casas-de-banho para aqueles com dificuldades motoras, mas também na introdução da linguagem braille para os invisuais, para além de outras línguas estrangeiras. Depois, foi o aproveitamento das novas tecnologias, com tablets a ajudarem-nos durante a visita; um quadro gigante que nos mostra, através do vídeo, a evolução do homem ao longo dos tempos; e ALGARVE INFORMATIVO #257


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um jogo interativo fantástico para cativar a atenção das crianças, porque os museus, que normalmente são muito herméticos e fechados em si próprios, não são muito atrativos para os mais novos”, descreveu José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira. O edil mostrou-se, por isso, bastante satisfeito pelo resultado da requalificação do Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira, que se insere, aliás, num projeto mais alargado que abrange toda a zona antiga da cidade. “Aqui mesmo

em frente temos vestígios milenares descobertos há alguns anos e que estão ao dispor dos visitantes, nas traseiras vai haver 37

outra obra importante e a antiga Igreja Matriz também está a ser alvo de uma importante recuperação. Albufeira é mais conhecida pelas praias, pelo seu magnífico património natural, mas temos que saber mostrar, que saber «vender», o nosso património edificado e cultural”, defendeu o autarca, lembrando que a intervenção do Museu rondou os 350 mil euros, dos quais 180 mil euros financiados pelo Turismo de Portugal.

“É um produto cultural e turístico bastante agradável. Não é museu muito grande, mas tem substância e conteúdo”, reforçou. Presente na cerimónia, Adriana Freire Nogueira, Diretora Regional de Cultura ALGARVE INFORMATIVO #257


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do Algarve, destacou igualmente a importância da cultura estar acessível a todos os públicos. “Todos nós somos

potenciais utilizadores de uma cadeira-de-rodas, pelo que rampas e elevadores são cruciais, do mesmo modo que poderemos ter, numa determinada fase da nossa vida, dificuldades em compreender coisas novas, podemos perder as nossas capacidades intelectuais”, alertou, concordando que todos têm a ganhar quando se oferece mais alternativas a quem visita a região.

“Quanto mais saberes recolhemos, mais percebemos que, afinal, não estamos tão distantes uns dos outros, que somos todos muito 39

parecidos. E isso é bom contra os racismos e preconceitos. Portanto, temos que preservar aquilo que temos e encontramos, aquilo que ainda não destruímos, classificá-lo, protegê-lo e torná-lo acessível a todos”, apontou. Para Ana Pífaro, vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira, o resultado desta requalificação servirá de exemplo para futuras obras que se façam no concelho, partilhando da ideia de que há que apostar forte no turismo acessível. “Temos praias

acessíveis, hotéis com condições para receber pessoas com dificuldades motoras ou ALGARVE INFORMATIVO #257


intelectuais, pelo que os nossos serviços públicos também se devem adaptar a essa realidade. Os museus e as casas de arte são fundamentais para termos turismo ao longo de todo o ano, não podemos olhar apenas para o «sol e praia». Estamos a reabilitar a zona histórica de Albufeira e em andamento já está, por exemplo, a obra que vai transformar o antigo tribunal na Casa das Artes de Albufeira”, indicou, antes de passar a palavra a Paulo Freitas, presidente da Assembleia Municipal de ALGARVE INFORMATIVO #257

Albufeira. “A cultura começa a ser

um ponto preponderante em Albufeira e são pequenos passos como este que ajudam a mudar mentalidades. O turismo continua a ser a principal atividade do concelho, mas vai tendo uma visão cada vez mais social e integradora. Albufeira é um centro de cultura e de vida e a cultura pode, sem dúvida, contribuir para o seu desenvolvimento mais sustentável”, acredita . 40


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«O PIC-NIC», MUITO MAIS DO QUE O TRADICIONAL RESTAURANTE DE PRAIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e André Filipe Santos

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Restaurante O PicNic, situado na Praia do Castelo, concelho de Albufeira, reabriu há mês e meio pelas mãos do jovem Chef André Filipe Santos, um albufeirense de 27 anos que respondeu ao desafio de dar seguimento ao negócio de família, isto depois de ter passado por hotéis de 5 estrelas no Algarve e pelo famoso Restaurante Belcanto, do Chef José Avillez, e com duas Estrelas Michelin.

“Sempre gostei de cozinhar e, em 2013, decidi ingressar num curso na Escola de Hotelaria e Turismo de Portimão. Terminei em 2016 e, desde então, tenho passado todos os dias na cozinha”, refere o entrevistado. Concluída a formação, seguiram-se então experiências profissionais no Pine Cliffs Hotel and Resort e no Anantara Vilamoura Algarve Resort, antes de rumar à capital para trabalhar no 42.º melhor restaurante do mundo, o «Belcanto», situado no Chiado. Pode parecer estranho, por isso, a aposta no «O PicNic», um restaurante de apoio de praia, mas a ideia de André Filipe Santos é precisamente contrariar esse cliché.

“Modernizei o espaço, a nível da decoração e da ementa, com pratos da nossa autoria, e a resposta da parte dos clientes tem sido muito positiva. É um caminho que implica regressarmos às origens, ir buscar os pratos dos nossos avós, e depois reinventá-los. Sem a base da ALGARVE INFORMATIVO #257

cozinha tradicional portuguesa não se consegue criar um bom prato”, acredita. “Apostamos no que é realmente nosso, nas nossas origens, e depois damos um cunho especial na confeção e empratamento. E isso aprende-se com a prática, no sair do trabalho às 11 da noite, chegarmos a casa e 46


acrescenta André Filipe Santos.

hoteleiras internacionais de cinco estrelas e com um dos melhores chefs do mundo. “Foi um choque, porque

O chef de Albufeira tece muitos elogios às Escolas de Hotelaria e Turismo de Portugal, mas considera que, de facto, é no dia-a-dia que se vai ganhando tarimba e crescendo enquanto profissional. E, no seu caso, teve a oportunidade de trabalhar em duas prestigiadas unidades

estamos habituados a uma realidade completamente diferente, àquelas oito horas de escola. No «Belcanto», por exemplo, entrava às 9h e saía às 0h00. Tinha pausa para o almoço e jantar, de resto, era sempre a

ainda irmos pegar nos livros ou inspirar-nos no que é feito lá fora”,

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trabalhar no duro. Mas é assim que nós aprendemos e que conseguimos ser bons”, assegura, enquanto ia preparando a sala do «O PicNic». Permanecer em Lisboa nunca esteve, porém, nos horizontes de André Filipe Santos, que ainda passou por um restaurante em Vilamoura antes de dar o «sim» ao negócio de família. “Estar com

o Chef José Avillez abriu-me os horizontes, fez-me pensar mais «fora da caixa»”, reconhece. Quanto à perceção que se tem dos novos chefs de cozinha e ao seu relacionamento com a «velha guarda», pensa que o que interessa é o trabalho que se faz. “Ou a

comida é boa, ou não é. Se formos bons profissionais e tivermos talento, a idade não é importante. ALGARVE INFORMATIVO #257

Já fui a bons restaurantes onde comemos maionese do pacote ou um molho que a base é feita com Caldo Knorr. Aqui, fazemos tudo de raiz, oferecemos ao cliente um sabor autêntico e fazemos questão de explicar, em cada mesa, o processo de confeção dos pratos”, sublinha. Não admira, por isso, que preparar uma ementa para um restaurante leve o seu tempo, há uma lógica a respeitar para se ter sucesso, ainda mais numa região como o Algarve que é sobejamente reconhecida pela qualidade da sua gastronomia. “Tento

usar o máximo de ingredientes regionais. O azeite, por exemplo, é Monterosa, de Moncarapacho”, 48


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com os pormenores mais burocráticos.

“É a parte mais chata e complicada de tudo isto, algo de que não gosto muito, mas que tenho que fazer. Há toda uma logística e equipa envolvida nas tarefas do dia-a-dia, um elemento do staff que, de repente, não pode vir, um fornecedor que vem entregar mais tarde os ingredientes. Apesar disso, durante o serviço, ainda dá para «brincar» um bocadinho, para testarmos umas coisas”, aponta, com um sorriso.

PASSAR UM BOM MOMENTO À MESA «O Pic-Nic» que pretende, sem dúvida, ser diferente do típico restaurante de praia, com o peixe na grelha, batatinha e saladinha de polvo. “É óbvio que

preciso ter isso, mas alarguei bastante a nossa oferta. Tenho, por exemplo, uma sopa fria de melão, que vai com uns cubos de pepino e, na mesa, finalizo com uma espuma de mojito. Tenho tacos de atum mexicano e asiático e muitas mais surpresas”,

conta André Filipe Santos, admitindo também que ser chef de cozinha não significa apenas conceber e preparar pratos, mas gerir toda uma equipa e lidar ALGARVE INFORMATIVO #257

desvenda André Filipe Santos, admitindo que um dos seus maiores receios era precisamente a reação dos clientes a uma ementa diferente da usual nestes estabelecimentos.

“Felizmente, têm saído satisfeitos, o passa-a-palavra está 50


a ser excecional, está a correr tudo bem. Nota-se uma quebra nos turistas estrangeiros, o que é normal, devido à situação que atravessamos, mas já vão aparecendo muitos espanhóis desde que reabriram as fronteiras, para além de alemães e suíços. Tem sido 50-50 entre portugueses e estrangeiros”, observa o entrevistado. Situação atípica que, conforme sobejamente sabido, é o novo coronavírus da covid-19, algo que não estava nos horizontes de André Filipe Santos quando recebeu a proposta, em 51

janeiro do corrente ano, para liderar o «Pic-Nic». “Ia abrir o restaurante

em finais de março, precisamente quando entrámos todos em quarentena, tive que dar um passo atrás. Foi necessário adaptar um pouco o menu para controlar os custos, estamos a trabalhar com o mínimo de staff possível e mantenho um stock reduzido, o que me obriga a ir às compras todos os dias. Tem que ser assim, ninguém sabe como vai ser o dia seguinte”, desabafa. “Mas nunca pensei em desistir, aliás, até fiquei com mais «gana», ALGARVE INFORMATIVO #257


sempre foi um sonho ter um espaço próprio”. André Filipe Santos elogia, entretanto, a equipa fantástica que o acompanha, seja na cozinha ou na parte de sala e bar, o que não significa que seja fácil arranjar pessoal qualificado no Algarve.

“Conhecia-os todos antes de abrir o restaurante, uns já trabalharam comigo noutros espaços, outros não, mas estavam envolvidos na hotelaria e restauração. Confio plenamente neles para assegurarem o serviço nas alturas em que estou a tratar dos aspetos burocráticos no exterior. Mas, claro, nas primeiras semanas não saía de cá, para explicar como queria as coisas a funcionar na cozinha, como os empregados deviam apresentar os pratos e o couvert aos clientes. A máquina está afinada, estou descansado”, garante. Explicar ao cliente tudo aquilo que ele vai comer, ou degustar, que também é importante para André Filipe Santos, porque o objetivo não é despachar as ALGARVE INFORMATIVO #257

pessoas o mais depressa possível para preparar a mesa e ocupá-la novamente no espaço de minutos. “Queremos

que as pessoas desfrutem da experiência, que passem um bom momento à mesa. Em Albufeira, o panorama gastronómico não evoluiu muito, tirando uma casa ou outra e as unidades hoteleiras. A oferta está bastante vocacionada para o turismo, é quase igual em todos os restaurantes, e eu quero mostrar aos visitantes internacionais o 52


tarde toda, a comer e beber, em convívio com a família. Não vêm cá simplesmente para matar a fome”, relata. Os meses de confinamento ajudarem a máquina a ficar perfeitamente oleada, a que todos os aspetos fossem devidamente pensados e testados antes da abertura ao público, resta agora esperar pelo resto de julho e pelas enchentes de agosto. No entanto, André Filipe Santos sabe que nada será igual aos anos anteriores. “Estou

que é tipicamente nosso, os produtos regionais, tanto na comida, como no vinho”, aponta o Chef, adiantando que a carta de vinhos possui dois algarvios, dois alentejanos, um do Douro e outro do Dão. “Aqui,

privilegia-se a comida portuguesa, as cataplanas; uma salada de bacalhau que vai com um ovo cozinhado a cinco minutos, em que a gema fica líquida; uma salada de polvo. E a vista deixa qualquer um encantado, tenho clientes que ficam uma hora, uma hora e meia, às vezes entendem a refeição pela 53

com esperança que ainda vá mexer um bocadinho, mas a vida não vai ser fácil para todos os meus colegas. Eu estou num sítio onde não existe mais nenhum restaurante num raio de 600 metros, no entanto, na baixa de Albufeira, a oferta é bastante superior à procura. A minha ideia é fechar só de dezembro a fevereiro, altura em que as pessoas não vão muito à praia”, finaliza o Chef do «O Pic-Nic», que não enjeita a possibilidade de, no futuro, quando tudo regressar à normalidade, abrir mais restaurantes . ALGARVE INFORMATIVO #257


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TEATRO LETHES VOLTOU AO ATIVO COM «INSTRUÇÕES PARA ABOLIR O NATAL» Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve apresentou, no Teatro Lethes, em Faro, nos dias 11 e 12 de julho, a sua nova peça, «Instruções para abolir o Natal», que voltará a cena de 18 de setembro a 3 de outubro. Um excelente trabalho que tem como pano de fundo a crise financeira de 2008, mas também o Brexit, sendo dada aos espetadores a possibilidade de assistir ao que se passa por detrás das portas fechadas dos ALGARVE INFORMATIVO #257

gabinetes dos arranha-céus espelhados. O autor do texto, Michael Mackenzie, abre as portas de um desses gabinetes, que pode existir em qualquer lugar do mundo, e coloca-nos em plena reunião do ajuste de contas entre duas personagens em crise. Um financeiro, responsável por um fundo de risco, daqueles que garante lucros astronómicos, mas que, de um momento para o outro, pode descambar por completo. E um analista financeiro, um daqueles génios dos 58


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números, mas com dificuldades de foro cognitivo e psicológico, algo que não apoquenta o patrão, apenas interessado na aptidão natural do seu funcionário em perspetivar como vão funcionar os mercados financeiros mundiais. Algo aconteceu, porém, entre os dois, que despoletou uma crise emocional no funcionário, enquanto o patrão se debate com um divórcio violento em que a esposa lhe pretende ficar com quase tudo. É no meio deste tumulto pessoal que eventos externos colocam em causa a rentabilidade e viabilidade do fundo e se ALGARVE INFORMATIVO #257

percebe que muitos destes gestores financeiros não estão minimamente preocupados com as consequências, éticas e morais, dos seus atos, o que lhes interessa é a sua quota-parte do lucro, os prémios anuais de produtividade, as mansões luxuosas, as ilhas privadas e tudo o mais. Uma peça magistralmente interpretada por Luís Vicente e Sara Mendes Vicente, com encenação de Isabel dos Santos e cenografia de Jean-Guy Lecat, e que certamente vale a pena ver quando regressar a cena, de 18 de setembro a 3 de outubro . 60


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NOITE MARAVILHOSA NA REPÚBLICA 14 COM «SURICATA» DE TÉRCIO FREIRE E PEDRO GIL Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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epois do sucesso do concerto das Moçoilas, a 4 de julho, a Re-Criativa República 14, em Olhão, voltou a viver, uma semana depois, mais uma excelente noite, desta feita com o projeto «Suricata», de Tércio Freire, mais conhecido por Nanook, e Pedro Gil. Em palco estiveram dois virtuosos das guitarras, Pedro Gil com a sua guitarra elétrica e Tércio Nanook com a sua guitarra barítono, a quem se juntou também Paulo Franco nas percussões, que emprestaram um colorido ainda mais especial a este trabalho de originais. E o ALGARVE INFORMATIVO #257

produto final foi, sem dúvida, cinco estrelas, proporcionando um serão maravilhoso às várias dezenas de espetadores que praticamente encheram o pátio exterior desta associação cultural da cidade cubista. No respeito por todas as normas de segurança e higiene impostas pela Direção-Geral de Saúde em contexto de covid-19, os clientes deleitaram-se com a extraordinária música de Nanook e Pedro Gil, uns bebericando o seu copo de vinho ou whiskey, outros desfrutando do seu cigarro ou charuto, numa plateia composta por pessoas de várias idades e nacionalidades. E o que 72


escutaram foi, de facto, sublime, o que só constituiu uma surpresa para quem ainda não conhecia o trabalho do transmontano Pedro Gil e do açoriano Tércio Freire, ambos radicados no Algarve há largos anos. Por isso mesmo, a música de Suricata é um encontro de diversas influências, do Fado ao Jazz e Blues, paisagens sonoras que nos transportam entre o mar e o

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deserto, num diálogo entre guitarras que cruzam os sons do tradicional com o moderno. E, aos temas que compõem o EP de estreia da dupla, somaram-se outros temas originais de Tércio e Pedro enquanto guitarristas a solo, mas também músicas tradicionais das suas regiões de origem. Resultado: uma noite inesquecível para quem rumou à República 14 na noite de 11 de julho .

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RÉGIS VINCENT EXPÕE NO IPDJ DE FARO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova

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em Título (mas uma coisa diferente)» é a exposição que Régis Vincent, um jovem residente no Algarve, apresenta ao público na galeria de exposições da Direção Regional do Algarve do Instituto Português do Desporto e Juventude, até 31 de julho. Régis Vincent (1989, Longjumeau, França) iniciou o seu percurso artístico ao entrar para o curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve em 2009/2010. Proveniente de uma geração influenciada pelo hip-hop/graffiti, a sua evolução neste curso de Artes fez com que começasse a explorar outros meios de expressão visual. “Passando pela pintura e

desenho, multimédia e ilustração, o ALGARVE INFORMATIVO #257

artista veio a encontrar a sua linguagem artística em formas orgânicas onde o movimento se repete uma e outra vez, imitando os ciclos que se repetem uma e outra vez na Natureza. Nestes trabalhos, o artista tenta transpor uma barreira imposta pelo suporte que usa, procurando criar uma ilusão de desenho no espaço, um espaço que se encontra para lá da superfície plana a que se sujeita”, descreve o curador da exposição, Leandro Marcos. A exposição pode ser visitada na Galeria da Direção Regional do Algarve do IPDJ, na rua da PSP, em Faro, de segunda a sexta, das 10h às 17h . 84


Custódio Moreno, Régis Vincent e Leandro Marcos

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«PAGA DEUS OU O GORILA» FEZ-NOS PENSAR SOBRE O FIM E A ESPERANÇA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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oi a cena no Teatro das Figuras, em Faro, nos dias 21 e 22 de novembro de 2018, inserido no Ciclo Às Quintas no Teatro, a nova produção da companhia te-Atrito, intitulada «Paga Deus ou o Gorila». Com argumento e encenação de Pedro Monteiro, a peça coloca em palco dois mendigos – interpretados pelo próprio Pedro Monteiro e por André Canário – que se encontram à porta de uma igreja e conversam sobre as suas vidas e a miséria do mundo. Dois mendigos não, porque um, segundo o próprio confessa, até é um milionário que tem como hobbie pedir esmolas. No decorrer da conversa percebe-se que, afinal, aquilo que se entende por «realidade» é só uma perspetiva, muitas vezes uma alucinação, e pode-se sempre tentar descobrir como é que o mundo veio a ser como é e como é que cada um se pode tornar naquilo que é. Uma conversa que tem por interlocutores os dois «mendigos», mas também um gorila que é, imagine-se, um filósofo. “Haverá esperança para o Fim ou estaremos numa época em que se vive o fim da Esperança", pretende fazer pensar «Paga Deus ou o Gorila». ALGARVE INFORMATIVO #257

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OPINIÃO Cozinhar - Um ato de amor Mirian Tavares (Professora) O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Adélia Prado inha mãe aprendeu a cozinhar depois dos 40 anos. Nunca foi algo de que gostasse especialmente, mas aos poucos tomou-lhe algum gosto. A minha avó cozinhava muito bem, mas só o fazia em dias de festa. Para ela, a cozinha era parte da sua veia artística: criava bolos confeitados, com cenários de filmes ou de livros. A cozinha diária era um aborrecimento que ela conseguiu evitar durante toda a vida. Tenho uma irmã que cozinha muito bem e que adora inventar pratos. Qualquer coisa que lhe passa pelas mãos, transforma-se numa iguaria. Eu já sou mais da equipa da mãe e da avó – aprendi a cozinhar quando saí de casa e durante alguns anos só sabia fazer noodles. Com o tempo aprendi mais um ou dois pratos. Quando era pequena não me deixavam chegar perto da cozinha – eu era destinada aos livros e não tinha jeitinho nenhum. Lembro-me de andar a borboletear à volta da mana, ou de Bazinha (que cozinhou muitos anos para nós), quando elas estavam a preparar a ALGARVE INFORMATIVO #257

comida, sobretudo na hora dos bolos. Gostava de rapar o tacho e de meter a mão na massa ainda quente, mal saída do forno. Quando estava na faculdade, a centenas de quilómetros de casa, tive de aprender muita coisa. Partilhava o apartamento com uma amiga que me disse um dia: tens tanto acessório de cozinha, mas só te vejo fazer arroz com ovo. E eu disse – os acessórios foram mandados pela mana, mas faltou ela vir junto, pois eu, da cozinha, só gosto mesmo é de comer! Muito mais tarde, nasceu o filho. Aí tive mesmo de me esforçar para fazer belas sopas. Hoje continuo a não ser uma grande cozinheira, faço algumas coisas bem, mas de resto, quando tento alçar voos mais altos, o resultado é um desastre. Sigo a receita, mas gosto de fazer adaptações, e elas nunca funcionam. Tentei um dia fazer um Red Velvet e o resultado foi um bolo castanho que sabia a beterraba. Mas sou boa a fazer bolo de cenoura, desde que não tenha de desenformá-lo, pois nem sempre esta parte corre bem. Não digo que não gosto de cozinhar, mas, para mim, ir para a cozinha, é um 104


Foto: Victor Azevedo

gesto de amor. Gosto de fazer, pelos que amo, algo que os surpreenda, ou alimente, gosto de partilhar com eles algo que não me dá sempre prazer, mas que se torna prazenteiro enquanto gesto para o outro. Como a minha mãe, que aprendeu a cozinhar pela família e a minha avó, que dava corpo às fantasias dos netos através dos bolos, aprendi a cozinhar porque queria fazer sopas e comida saudável para o filho. A mana, que também participou da sua criação, fazia-lhe todas as vontades culinárias e seus pratos são o resultado do seu amor pela cozinha e, principalmente, por nós. 105

A cozinha, no quotidiano, é desgastante e não tenho especial paciência para este ato diário e obrigatório. Mas, quando é preciso, faço. E é preciso muitas vezes. Por sorte, o marido cozinha muito bem e o filho já sabe fazer muitas coisas. Assim, partilhamos esta tarefa. A cada refeição, agradecemos ao cozinheiro da vez, pois sabemos que o gesto de ir à cozinha, depois de um dia extenuante, é sempre um gesto que demonstra o profundo amor que nos une .

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OPINIÃO Do Reboliço #93 Ana Isabel Soares (Professora) Perdida foi a cadelinha da tia Mariana e do tio Xico, da Luísa e do Henrique. Viveu com eles na casa da aldeia, tinha ali um mundo amplo. Jamais lhe faltou de comer, de beber, de onde se abrigar, desde que a recolheram da vizinhança da morte. Agradeceu todos os dias da vida extensa que levou. Agradecia em modo de dançar o corpo, quando andava; agradecia em modo de seguir de perto quem lhe levasse a comida – sem grandes confianças, mas sempre sorria; agradecia em modo de ganir e de latir, que era o conversar dela: se a alguns bichos parece que só lhes falta falar, a Perdida tinha conversa de sobra. Era só porem-se à escuta. Durante uns poucos de anos, a sua figura diminuta teve a companhia imensa do pachola do Sorna: este começou por ser criado num apartamento que, apesar de não muito estreito, se tornou pequeno: o Sorna ganhava corpo e alma de pastor, ao mesmo tempo que o lar encolhia para ele e se tornava estranho. Assim, enquanto não se erguia a casa e não crescia o rebanho humano que ele haveria de guardar, guardaram-no no quintal da tia Mariana, nos domínios da Perdida. Ela é que se importava... Se ALGARVE INFORMATIVO #257

aquilo era um universo! Era horta, era jardim e oficina, cantos de acoitar, verdura e sombra, e tudo entre os protetores muros altos de onde conseguia ouvir os vizinhos e ver passar os gatos, a cobertura do casão, debaixo da qual faziam ninho as andorinhas, e de onde as via sair a amanhecer o céu e a rasar sobre o telhado largo da casa. Tudo era vasto, grande: nas raras vezes em que espreitava à rua, o que a Perdida via eram os automóveis a passar sobre rodas pequeninas; no seu quintal – em parte uma oficina de tratores –, cada pneu que vinha ao conserto tinha o tamanho de um monstro gigante. Por aí via ela que o lugar onde vivia dava para lá morarem outros bichos iguais a si, e maiores até – que era o caso do Sorna. (Pensaria, talvez, a Perdida que, ao transpor a porta para dentro daquele salvífico quintal, qualquer ser ou elemento inchava, aumentava de tamanho). Enfim, mesmo com a diferença de tamanhos, o Sorna e a Perdida conviviam bem: ela, feliz nos seus passeios permanentes e autónomos. Ele, pobre bicho grande e aventuroso, porque não tivera os medos que o sofrimento dera a conhecer à cadelinha, queria era ver-se na rua onde ela não ia. Volta, meia volta, se o tempo estivesse 106


Foto: Vasco Célio

menos quente, lá se safava o Sorna, pesado e lento, pelo portão – às vezes horas, outras alguns dias, andava a povoar a aldeia ou a farejar todos os recantos e a descobrir de que raças eram os que os tinham farejado antes. Quando voltava ao quintal da Perdida, ela saltava ao lado dele, a tentar chegarlhe às orelhas para lhe perguntar sobre as coisas do mundo da rua. Não demorava muito até ele se espapaçar à sombra do casão, derreado – e, então, 107

bastava à Perdida encostar todo o seu corpo à cabeça do Sorna (ela e a cabeça dele tinham praticamente a mesma dimensão), para lhe ouvir os relatos e sobressaltar-se com as aventuras. Tem um décimo do tamanho do bicho, mas um colossal coração – e curioso . * Ver os textos «Do Reboliço» #33, #34 e #92. ** Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. Escrevo a partir desse olhar canino. ALGARVE INFORMATIVO #257


REFLEXÕES, OPINIÕES E DEMAIS SENSAÇÕES… O Algarve precisa de líderes! Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) s acontecimentos dos últimos dias, esta incompreensível sucessão de más noticias para o Algarve e suas gentes, fizeram-me perder a vontade de escrever. Não era nada que não estivesse à espera, confesso. Mas olhar para a coisa em direto e a cores fez-me levar um choque de realidade que me deixou sem vontade de enfrentar esta folha branca durante alguns dias, apesar da insistência do meu caro Daniel Pina. Uma espécie de letargia, condição semelhante ao de algumas pessoas (de todas as cores, altura, tamanhos e feitios), que representam esta região que tanto amo, de passado glorioso, presente insidioso, mas com um futuro muito duvidoso. O que falta então ao Algarve? Muito simples. Esta região precisa de líderes! Com raras exceções, sempre assim foi. Mas é por isso que talvez valha pena não desistir, de incomodar, de agitar as águas. E o mais incrível é que ALGARVE INFORMATIVO #257

eles/elas existem, meus caros amigos, tenham esperança porque ainda sobram uns raios de luz. Eu conheço, reconheço e já tive a ousadia, inocência ou mesmo parvoíce de o dizer a algumas pessoas, porque revejo nelas essa capacidade, essa coragem e visão. A grandeza de um líder é determinada pela amplitude dos seus gestos! É a velha história da árvore e da floresta. O liderzinho preocupa-se com as pequenas coisas e, portanto, a amplitude dos seus gestos é bastante reduzida. O liderzão está preocupado com a floresta e os seus gestos revelamno: são largos, extensos, focados no futuro, mas sem danificar o presente. Mais uma vez dou como exemplo o caso do nosso Afonso Henriques. Ele tinha uma visão: «um reino, um povo, um rei». Não era uma visão muito original, mas pronto, era a sua visão. Esta foi a sua motivação, quando mandou um par de chapadas à mãe e percebeu que estava ali um pedaço de terra que não interessava a ninguém. Afiambrou-se a ele e deu-lhe o pomposo nome de reino. A visão de Afonso Henriques foi-se cumprindo geração após geração. A fundação como garante de expansão e de crescimento da nação, que ainda hoje 108


mostrar-lhe que há mais árvores para além daquela, e que o seu conjunto forma uma massa maior e mais complexa. Não querem saber porque sentem que teriam de dar a mesma atenção a cada uma daquelas outras árvores e sabem que não conseguiriam fisicamente, despender o mesmo carinho que dedicam à sua árvore.

nos orgulhamos pertencer. Mas, passados tantos séculos, o mundo continua dividido entre as pessoas que olham para a árvore e as pessoas que olham para a floresta. Os que olham para a árvore, normalmente reparam em pequenos pormenores, pequenos detalhes, que não deixam de ser importantes por serem pequenos. Sabem quando a árvore precisa de ser podada, quando lhe falta água, quando é necessário colher o fruto. Mas não se apercebem que a árvore faz parte de uma coisa maior, a que chamamos de floresta. Não estão interessados em entender o que é a floresta, mesmo quando tentamos 109

E depois há os outros, aqueles que nos fazem (ainda) ter esperança num futuro melhor para esta região, aqueles que têm que ser diferentes, pensar de forma diferente e agir de forma diferente, que sejam resilientes, que trabalhem com paixão, que tenham capacidade de adaptação, que coloquem os interesses do coletivo em primeiro lugar, contra tudo e contra todos. Aqueles que olham para a floresta como um todo harmonioso e complexo, e têm dificuldade em focar-se numa árvore específica. É a totalidade das árvores que para eles faz sentido, o efeito que a floresta tem como um todo, equilibrando o ecossistema em variados aspetos. Veem a floresta como um único e articulado ser. Cheguei à conclusão que vivo numa região de gente míope, cheia de árvores e florestas bonsai. Não se consegue ver a árvore nem se vislumbra o que poderá ser a floresta. Para já pode não haver remédio, mas há sempre essa eterna esperança, esse sonho. É a maravilha deste Algarve, que de tudo recupera . ALGARVE INFORMATIVO #257


OPINIÃO O Algarve nunca visto, ou déjà vu Alexandra Rodrigues Gonçalves (Directora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve) uem o viu e quem o vê…este é o Algarve do nosso contentamen to? O Verão está aí! Sem moderação, muito rude nas temperaturas e altamente agressivo em eventos que nos marcam pela negativa (não só associados à Pandemia). A quebra é assombrosa, sim ASSOMBROSA! Não vou ser moderada ou comedida nas palavras, ou estilo «Português Suave», como alguns gostam de dizer. Não consigo perceber como se continuam a promover visitas para aparecer na televisão, ao lado das figuras da política nacional e em reuniões para marcar a Agenda, a dizer que estão a discutir a situação e as medidas a implementar, enquanto o número de falências aumenta, o número de pessoas no desemprego não pára de subir, e são cada vez mais os empresários que dizem que vão passar diretamente do lay off para o desemprego.

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Leiam-se os jornais e as manifestações das associações empresariais sobre a desadequação de algumas das medidas do Programa de Estabilização Económica e Social. Vejam-se as medidas de incentivo e motivação para viajar de outros países, como os vouchers para hotelaria, restauração e monumentos, que procuram estimular e apoiar as viagens. Analisem-se os números da hotelaria e da restauração a nível nacional e regional, com quebras de mais de 80%. Conheçam os problemas de tesouraria e liquidez das PME (Pequenas e Médias Empresas) e também da maioria da administração pública, e, por consequência, das pessoas. As medidas de hoje não podem ser as mesmas da crise financeira, pois os efeitos desta crise sanitária são muito mais profundos e são globais. Os hóspedes e as dormidas registam reduções históricas. Alguém poderia pensar que o fecho de fronteiras e o isolamento praticado não iam ter estes efeitos? Dificultando mais ainda estes impactos negativos, continuamos com uma União Europeia em que prevalece o poder de alguns, em vez da fraternidade entre países, que também acentua a desigualdade por falta de regulação e por falta de 110


decisões que estabeleçam os regimes de apoio à crise. O país não aguenta outro confinamento. O país aguenta-se sem o Algarve? O Algarve aguenta-se sem o país? Perante o descalabro da economia nacional e regional, começa-se a sentir aquilo que estava anunciado, vamos ter o maior défice e retracção económica das últimas décadas. Todavia, o discurso é o habitual: clarificação de regras, simplificação administrativa, cooperação interinstitucional e público-privada, programas de formação … 111

Este é o ano do nosso maior descontentamento. Não há Marcelos que nos valham. Há um sentimento de medo entre todos os Algarvios, perante a situação económica e social mais grave de que temos memória. Falamos de quatro épocas (muito) baixas consecutivas. As desigualdades sociais estão a acentuar-se a olhos vistos. O número de pessoas a pedir ajuda alimentar está em grande crescimento e a animação sazonal que se esperava, não aconteceu. Sucederam-se também falhas diplomáticas e de relacionamento internacional dos nossos políticos e uma falta de pro-actividade que não se ALGARVE INFORMATIVO #257


entende. Sim, acredito que as vozes de liderança não se fizeram ouvir atempadamente e convincentemente. Para remediar, fala-se em mercados alternativos…estratégias de diversificação…requalificação dos recursos humanos… Por favor, façam e refaçam. Oiçam as pessoas, sem estigmas, ideologias políticas ou outros preconceitos. Unam-se e discutam a sério, esquecendo o protagonismo individual. A sociedade digital também está distante de ser efetiva para muitos, e no ensino, apesar do salto verificado, grandemente suportado individualmente pelas pessoas, sentiu-se bem a necessidade de formação, de atualização e de preparação. Os idosos, os jovens, as famílias estão a ser postos à prova de uma forma muito dura, com efeitos psicológicos enormes. As fragilidades da nossa sociedade e da nossa economia estão todas a revelar-se: na saúde, na assistência social, no emprego, na educação, na habitação, nos serviços... A crise é uma realidade e a centralidade do trabalho tem de estar na Agenda principal. Os sectores do turismo, hotelaria e restauração foram grandes impulsionadoras da nossa economia e dos seus resultados nos últimos anos, e agora são os mais fustigados pela Pandemia e pelo Estado de Emergência. Juntemos a ALGARVE INFORMATIVO #257

estes, todos os outros serviços que também beneficiam dos efeitos multiplicadores destes sectores, como é o exemplo do comércio, e percebe-se como o buraco negro e o declínio da situação, sobretudo em termos regionais, são uma realidade. A nossa vulnerabilidade económica e humana está aqui bem demonstrada. Venha a habitual resiliência para nos reinventarmos. Venham também os devidos apoios que o Algarve necessita e deixem de pensar nesta região com uns dias de férias paradisíacos à beira mar plantados, que também é. Somos pessoas, somos famílias, somos sentimentos e sobretudo somos «marafados». Faltam-nos os voos da TAP para Faro, que todos nós pagamos com os nossos impostos, e o transporte ferroviário do Algarve continua a vergonha que se conhece. Para não falar do célebre Hospital que tantas vezes viu lançada a primeira pedra. A sociedade civil terá na sua criatividade a capacidade de encontrar caminhos para se reinventar*. «Recomeçar e Reconstruir» é o tema da reflexão da Conferência Episcopal Portuguesa que propõe uma reflexão onde repensa as bases da sociedade em que vivemos, reforçando o valor inestimável de cada vida humana . *Veja-se a campanha assertiva e positiva #AlgarveSomosTodosNós, da Ricky Travel e EC travel, como um exemplo de grande resiliência. 112


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OPINIÃO Quando a estupidez chega ao poder, nem os Deuses nos podem valer Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) s momentos mais dramáticos da história política e social da humanidade têm como factor comum a chegada ao poder de hordas de estúpidos, ou o endeusamento de um estúpido-mor. Incapaz de lidar com a crítica e o confronto de ideias, o estúpido é, por natureza, intolerante e ditatorial. O seu primeiro objectivo, quando consegue atingir o comando, é silenciar as vozes discordantes, de modo a que apenas a sua ou a dos seus ecos sejam audíveis para o colectivo. Há muitas formas de silenciar as vozes discordantes, mas o esforço de silenciamento dos outros, normalmente, é proporcional ao grau de estupidez dos detentores do poder e é a não reacção por parte do cidadão comum que permite que democracias se transformem em ditaduras, não pela revolução armada, mas pela alteração gradual das regras do jogo, até garantir que apenas o estúpido consegue jogar e vencer.

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Vem isto a propósito de um acontecimento político recente, que passou completamente despercebido ao cidadão comum, uma vez que todos os holofotes estão direccionados para outras questões certamente mais urgentes, mas não mais importantes, uma vez que está em causa o sistema político e a democracia. Refiro-me à aprovação da proposta para que as petições públicas passem a necessitar de 15.000 assinaturas para serem discutidas em plenário, em vez das 4.000 que são exigidas actualmente. Alegam, para justificar a bondade desta medida, que as novas tecnologias facilitam a obtenção dessas assinaturas e, por isso, é preciso dificultar porque, afinal, o fim da política não é facilitar a vida dos cidadãos, mas antes atrapalhá-la, limitá-la, impedir a participação do cidadão comum na vida política, exercida em exclusividade pela vanguarda esclarecida da partidocracia. Num momento em que o país apresenta os níveis mais elevados de formação académica, de cultura, de acesso à informação e ao esclarecimento, a partidocracia que se alimenta da inércia social e do alheamento da população, temendo a 114


concorrência na iniciativa política, o debate de assuntos fracturantes, o ter de tomar posições públicas em temas que são tabu, arranja uma forma engenhosa de manter o seu monopólio, impedindo a participação cívica dos cidadãos e limitando a possibilidade de ser importunada por iniciativas populares e independentes. Afinal a partidocracia é, por princípio, contrária à independência. Tudo poderá ser debatido, desde que intermediado pelos partidos, os gestores da política e da sociedade. A provar esta teoria está o facto de, para ser debatida uma petição pública em plenário, ser necessário recolher o dobro das assinaturas que são necessárias para criar um partido político. Para criar um partido político são necessárias 7.500 assinaturas, mas, para debater em plenário uma petição para a defesa dos golfinhos do Sado serão necessárias 15.000. Assim sendo, para contornar a possibilidade de a estupidez se enraizar no poder, secando tudo à volta como o eucalipto, resta aos cidadãos comuns unirem-se e criarem partidos. Só quando o número de partidos políticos for tão absurdo que ponha em causa a própria existência da partidocracia poderemos evoluir para uma verdadeira democracia, baseada no pilar essencial de qualquer sociedade: a pessoa!

tempo a pedir referendos ou com petições, basta criar o MAR (Movimento Autonómico Regional); e para as touradas, para a requalificação das estradas, para a proibição das antenas 5G, pela não exploração de lítio ou de petróleo, pela requalificação da linha férrea…

Querem a legalização da prostituição? Não façam uma petição, criem um partido pró-prostitutas; Querem que a freguesia de Estoi seja restaurada? Desistam da petição e criem o partido das freguesias; Querem debater a regionalização? Não vale a pena perder

Por favor, não incomodem os detentores do poder, porque eles estão muito ocupados a resolver todos os problemas da sociedade e não podem desviar atenções. As petições são prejudiciais à harmonia partidocrática. Criem partidos e juntem-se a eles .

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OPINIÃO A Cultura come-se? Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) im, come-se, de manhã à noite, literalmente. Para além de nos saciar a fome, a comida também é comida, mordida ou sorvida em gestos repetidos por séculos e é cultura porquanto o ciclo da vida do alimento, desde a escolha da semente, à plantação, à rega, à recolha, à guarda, à venda e à transformação dos alimentos, é feita por um universo de pessoas com tradições, religiões e condicionalismos vários, e ainda servida numa miríade de artefactos, mímicas e posturas religiosas, simbólicas ou sociais que fazem com que todo este processamento possa ser assumidamente diferente, apaixonante, apreciado. Para quem viaja e gosta de o fazer pela descoberta, como uma acção cultural, é prazenteiro verificar a diferença, por exemplo, entre os pães que vamos apreciando à mesa, com as formas e constituintes diversos ou então nos pequeno almoços, nessa hora sagrada e mágica em que, deixado o leito do repouso físico, se tem que voltar a alimentar o corpo, num processo de maneirismos, escolhas e de utilizações ancestrais ou modernas, consoante as ALGARVE INFORMATIVO #257

regiões e países, entre um queijo local, a forma de fazer o chá e os bolos regionais com os seus ingredientes tão diversos. A Cozinha é cultura e arte em movimento. Cozinhar pode ser arte, o Cozinheiro, um artista, mas a Gastronomia é Cultura. E nesse processo, a culinária existe porque há memória num processo que se iniciou há muito, onde o homem, passando a viver em sociedade, adquiriu identidade própria, incluindo a comida e a forma de a fazer. Se ainda ninguém pensou em cozinhar dentro de uma instalação cultural, um museu talvez, deixo aqui a ideia, pois acredito ser fazível e passível de criar empatia e público vasto. Quantas vezes dei por mim, a observar Mãe e Avó e outras pessoas de mais idade, a cozinhar? E me lembro bem, de outras tantas vezes, eu próprio observado, por gente admirada, genuinamente, por todo um conjunto de mímicas que não carecendo da fala, nos transporta ao passado e nos embala numa recordação. A arte de fazer pão tem esta capacidade, do maneirismo da amassadura à reza, antes de levedar no alguidar ou na amassadeira de madeira, ao relento ou junto à chaminé. 116


Há tanta beleza na forma e harmonia que damos às coisas e aos alimentos quando cozinhamos ou mesmo quando os comemos, que em cada confecção ou mastigação, somos invadidos por uma colecção enorme de memórias que nos transporta e nos transforma por instantes em antropólogos, filósofos, moralistas e actores, preservando no tempo, gestos e sabores. Quando como peixe, na companhia de batatas, feijão verde e ovo cozido, não o faço nunca sem antes ter esmagado dois dentes de alho em azeite, e misturado a gema, numa maionese rudimentar que me transporta à minha meninice e à explicação do meu Pai. Noutro apontamento de memória, me lembro sempre do porquê, que tenho que fazer Formigos no Natal ou ainda, porque tenho de, obrigatoriamente desenhar, usando a arte da canelografia, em tabuleiros de arroz doce e aletria, perpetuando a memória da minha Avó Emília. E quando entretemos com a cozinha? Ficará a arte da gastronomia irremediavelmente perdida? Será a Cultura um dia substituída pelo entretenimento? Não acredito, porque na arte de cozinhar, a culinária foi sempre actor principal em peças com público atento. Contudo, temos sempre que saber utilizar/escolher actores com 117

experiência, onde a arte de cozinhar não seja adulterada por não se ter saber e arte de representar. E isto, sim, é preocupante e está patente em muitos vídeos cujos artesãos não tem saber e sem ele não pode haver transmissão de cultura. Devo realçar aqui um livro – Festa da Gastronomia e das Receitas Típicas das Aldeias do Algarve – à Descoberta dos Sabores Tradicionais, numa iniciativa da CCDR Algarve, 2005, como um trabalho inteligente da cultura gastronómica, das gentes e das tradições . https://www.ccdr-alg.pt/site/sites/ccdralg.pt/files/publicacoes/livro_gastronomi a.pdf ALGARVE INFORMATIVO #257


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #257

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