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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 1 de agosto, 2020

«A LOJA DOS BONECOS» DA DANCENEMA «VARIAÇÕES» E TIM NO «VERÃO EM TAVIRA» | ENOTURISMO | «MISTURA FINA» 1 ALGARVE INFORMATIVO #259 PORTIMÃO RECEBE FÓRMULA 1 | GONÇALO PESCADA E QUINTETO SULL’A CORDA


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56 - «A Loja dos Bonecos» da Dancenema

78 - Gonçalo Pescada e Quinteto Sull’a Corda ALGARVE INFORMATIVO #259

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OPINIÃO 102 - Ana Isabel Soares 104 - Augusto Pessoa Lima 106 - Nuno Campos Inácio 108 - Luís Matos Martins

34 - RTA e CVA juntas para promover o enoturismo

22 - Portimão recebe Fórmula 1

92 - Jazz dos «Mistura Fina» no Sítio das Fontes em Estômbar

68 - Tim no «Verão em Tavira» 11

44 - «Variações» no «Verão em Tavira» ALGARVE INFORMATIVO #259


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FÓRMULA 1 VAI MESMO ACELERAR NO AUTÓDROMO INTERNACIONAL DO ALGARVE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina epois de alguns meses de rumores, de notícias e mais notícias não confirmadas e de uma tremenda expetativa dos apaixonados pelos desportos motorizados, a tarde de 24 de julho foi de enorme festa para os portimonenses, para os algarvios e para os portugueses, com o anúncio oficial de que, 24 anos depois, a Fórmula 1 está mesmo de regresso a Portugal. Deste modo, o ALGARVE INFORMATIVO #259

Autódromo Internacional do Algarve vai acolher o Fórmula 1 Heineken Grande Prémio de Portugal, de 23 a 25 de outubro, e vai ser mesmo um dos primeiros a abrir as portas ao público, ainda que a lotação esteja dependente da evolução da pandemia da covid-19. Por isso, a capacidade final ainda não está definida, mas os bilhetes poderão ser adquiridos através do site do circuito algarvio, com os valores a irem dos 85 aos 650 euros, e a verdade é que o primeiro lote disponibilizado voou num instante. 22


Entusiasmo e euforia foram as emoções dominantes na conferência de imprensa que assinalou o regresso do pináculo do desporto motorizado a Portugal e Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão, foi disso um perfeito exemplo. “Conseguimos!”, expressou de braços no ar, antes de tecer fortes elogios a Paulo Pinheiro, um homem que ambicionou criar um circuito de corridas em Portimão e que, para o concretizar, se rodeou das melhores pessoas para o apoiar. “Sempre sonharam que

devíamos ter cá a Fórmula 1 e conseguimos partilhar este sonho com o nosso Primeiro-Ministro, há quatro anos, aquando da inauguração do Pestana Algarve Race Resort. Ficou completamente

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estupefacto, não fazia a menor ideia de que tínhamos uma estrutura destas em Portimão e no Algarve, e logo ali surgiu uma vontade e determinação em trazer a Fórmula 1 para a região”, recordou a edil portimonense. Um desejo que não foi possível concretizar, até à data, devido aos elevados custos envolvidos, mas este conjunto de boas-vontades acabou por «levar a água ao moinho», com Isilda Gomes a realçar igualmente o papel dos autarcas algarvios. “Têm dado,

ao longo de todos estes anos, uma prova de maturidade e de força para levar o Algarve por adiante, e juntaram-se à Câmara Municipal de Portimão para, com

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Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão

a sua quota-parte, ajudarem a concretizar este sonho. Porque a organização de uma prova destas é um orgulho para o Algarve e para Portugal, não é algo que só traz frutos a Portimão e ao Algarve”, sublinhou Isilda Gomes, aproveitando ALGARVE INFORMATIVO #259

para esclarecer que está pré-aprovado um apoio camarário de 200 mil euros à realização do Grande Prémio de Fórmula 1 no Autódromo Internacional do Algarve, sendo que mais 300 mil irão ser suportados pelas restantes autarquias algarvias de acordo com as suas disponibilidades financeiras. 24


Ni Amorim, presidente da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting

E sobre as dúvidas que se colocam à realização de um evento desta dimensão em tempos de pandemia, Isilda Gomes é perentória: “O Algarve tem sabido

controlar este problema, graças também à capacidade de resposta dos nossos profissionais de saúde e demais envolvidos”. “Esta «medalha de honra» vem trazer autoestima aos portugueses e, sobretudo, aos algarvios, numa fase tão má como aquela que todos temos passado, a nível mundial. No meio desta pandemia, temos todas as razões para nos sentirmos congratulados”, entende a presidente da Câmara Municipal de Portimão, lembrando ainda os benefícios para o destino turístico 25

«Algarve» advindos da projeção internacional da Fórmula 1. “Através

desta prova vamos chegar aos quatro cantos do mundo e mostrar que o Algarve é uma experiência inesquecível. São os bons hotéis, a gastronomia, os vinhos, as praias magníficas, assim como o interior, o património cultural, as marinas. Acima de tudo, a boa capacidade de acolhimento que os algarvios têm, a simpatia com que recebem toda a gente”, salientou Isilda Gomes. Numa região turística por excelência como é o Algarve, a autarca portimonense falou igualmente dos ALGARVE INFORMATIVO #259


seus níveis elevadíssimos de segurança.

“É bom que tenhamos a capacidade de mostrar para o exterior aquilo que somos capazes de fazer. Tenho absoluta certeza de que vamos ter uma grande prova em outubro e que os pilotos e as equipas vão ficar com muitas saudades do Algarve e vão querer regressar no próximo ano”, antevê Isilda Gomes, manifestando ainda a vontade de levar o Autódromo Internacional do Algarve mais próximo do cidadão comum. “É um equipamento

que orgulha Portugal e que merece ser valorizado pelas entidades competentes, porque funciona praticamente todos os dias do ano. E a verdade é que, há quatro anos, o nosso Primeiro-Ministro não o ALGARVE INFORMATIVO #259

conhecia. Temos um trabalho ainda muito grande pela frente, mas acredito que o envolvimento dos meus colegas autarcas e dos responsáveis do turismo vai fazer toda a diferença daqui para o futuro”, afirmou. A satisfação era evidente também em Ni Amorim, presidente da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK), “num dos dias mais

felizes da minha vida, por conseguir contribuir para que haja um Grande Prémio de Fórmula 1 em Portugal”. Um trabalho que, revelou o antigo piloto, começou a ser feito em março, junto da Federação Internacional do Automóvel, 26


Paulo Pinheiro, CEO da Parkalgar S.A. e do Autódromo Internacional do Algarve

em consonância com o governo português e os responsáveis do Autódromo Internacional do Algarve.

“Apesar de sermos um país pequeno, temos um número muito significativo de provas FIA em Portugal e somos considerados um país de «boas contas». Quando vimos que a pandemia estava a provocar estragos, nomeadamente nos grandes prémios intercontinentais, lembrámos, em finais de março, princípios de abril, à FIA que tínhamos, em Portugal, uma infraestrutura absolutamente fantástica e que poderíamos cá receber a Fórmula 1, se necessário fosse”, contou Ni Amorim. “O Paulo 27

Pinheiro fez um excelente trabalho junto do promotor, das equipas, dos team managers. É um sonhador e um lutador e não tenho dúvidas de que vai correr tudo bem”, indicou, deixando ainda o desejo de que o Grande Prémio de Portugal não seja apenas uma prova de substituição. “Vamos ter uma prova

com público, o que é extraordinário. Sabemos que a vinda da Fórmula 1 a Portugal é muito cara, mas o caro é relativo, o que interessa é o custobenefício. E o benefício que Portugal vai ter como um todo, e o Algarve em particular, vai ser tão grande que, eventualmente, o ALGARVE INFORMATIVO #259


João Paulo Rebelo, Secretário de Estado da Juventude e Desporto

governo pode entusiasmar-se para que, no próximo ano, continuemos no calendário do Campeonato do Mundo, como já aconteceu nas décadas de 50, 80 e 90 do século passado”, expressou Ni Amorim.

“TEMOS A CORRIDA QUE QUERÍAMOS, NA DATA QUE ESCOLHEMOS E COM PÚBLICO” O homem por detrás do sonho, Paulo Pinheiro, administrador da Parkalgar, S.A., não escondeu a emoção nesta data histórica, um dia em que viu concretizado tudo aquilo com que pensou uma vida ALGARVE INFORMATIVO #259

inteira. “É um trabalho da nossa

equipa, somos cerca de 130 funcionários nas empresas, quase 60 aqui no Autódromo. Foram meses muito difíceis por causa da covid-19, mas, independentemente disso, eles estão sempre ali e isso faz com que nunca pensemos em desistir”, destacou o CEO do AIA. “Num momento bastante complicado para o mundo inteiro, esta equipa teve a atitude mental de ir atrás de algo que toda a gente dizia ser impossível. A Parkalgar conseguiu, o Município 28


Rita Marques, Secretário de Estado do Turismo

de Portimão conseguiu, as câmaras municipais do Algarve conseguiram, o Turismo de Portugal conseguiu, o governo português conseguiu. Conquistamos uma corrida de Fórmula 1 por direito próprio. Não somos uma corrida de substituição, escolhemos a data que queríamos”, esclareceu. Uma corrida que se vai disputar com público, respeitando todas as regras, processos e procedimentos sanitários.

“Não iriamos aceitar de bom grado ter uma corrida de Fórmula 1 novamente no nosso país, a primeira no nosso circuito, sem 29

público. Isso não seria uma festa”, justificou Paulo Pinheiro. “A FPAK foi nosso parceiro de mão-dada para começarmos este processo, o Município de Portimão, a DGS, o Turismo de Portugal e o Turismo do Algarve, estivemos todos juntos e conseguimos. Quero agradecer aos que estão cá e àqueles que já não estão connosco”, terminou, visivelmente emocionado. O governo português esteve representado pelo Secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, e pela Secretária de ALGARVE INFORMATIVO #259


Estado do Turismo, Rita Marques, com o primeiro a salientar o trabalho de parceria e articulação entre todos os envolvidos para que o Grande Prémio de Fórmula 1 de Portugal se tornasse uma realidade.

“É um reconhecimento da FIA, dos promotores internacionais, à excelente capacidade de organização que Portugal possui, nomeadamente no que toca a eventos desportivos. E também à forma como Portugal tem lidado com esta pandemia”, entende, lembrando, a esse propósito, que a Fase Final e a Final da Champions de futebol se vão disputar, em agosto, no nosso país.

“O desporto tem que ser visto nessa dupla vertente: naquilo que faz bem a nós, enquanto indivíduos e praticantes; e nos efeitos positivos para a saúde económica e financeira do país”. Já Rita Marques destacou que este é também o concretizar do sonho de todos os apaixonados pela Fórmula 1 e enfatizou que o turismo não está parado, ao contrário do que muitos dizem. “Têm

sido momentos difíceis, mas continuamos a trabalhar para atrair para Portugal eventos de referência que nos façam sentir orgulhosos e para que todos os visitantes verifiquem que somos um país de excelência que proporciona experiências inesquecíveis. Independentemente das decisões dos governos, Portugal é um país seguro, que acolhe grandes ALGARVE INFORMATIVO #259

eventos, porque os operadores económicos e o público assim o desejam”, frisou a Secretária de Estado do Turismo. No que toca ao retorno económico do Fórmula 1 Heineken Grande Prémio de Portugal, tudo vai depender da evolução epidemiológica do país e da região, contudo, “na pior das hipóteses,

estaremos a falar de um impacto na ordem dos 30 milhões de euros”. “Tenhamos todos a capacidade de cumprir as regras de segurança sanitária e estou convencida que, em outubro, teremos um Autódromo Internacional do Algarve bem recheado de paixão e emoção”. Por seu lado, João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve e da Associação de Turismo do Algarve, enalteceu a colaboração conjunta entre várias entidades que permitiu “transformar uma crise numa oportunidade”.

“Conseguimos demonstrar que este é um destino seguro, com um conjunto de infraestruturas de apoio de uma enorme qualidade e uma oferta turística diversificada que enriquece a estadia dos visitantes, e que é capaz de cumprir os elevados padrões exigidos para acolher aquela que é considerada a prova-rainha do desporto automóvel. Este é, sem dúvida, um sinal de confiança muito positivo que é dado à 30


região”, manifestou, acreditando que, para além da projeção da marca «Algarve» a nível mundial, este evento vem trazer um novo fôlego ao turismo da região. De facto, de acordo com o Turismo do Algarve, só no que diz respeito a receitas diretas, provenientes da organização e dos espectadores da prova, prevê-se que este evento venha a representar para a região um valor próximo dos 40 milhões de euros. Em termos indiretos, e tendo em conta o efeito multiplicador da receita gerada em torno da realização desta iniciativa, o impacto económico pode chegar aos 80 milhões de euros. Neste contexto, o Turismo do Algarve está confiante que o Grande Prémio de 31

Fórmula 1 irá ajudar a atenuar os efeitos que a pandemia teve neste setor e contribuir para que o último trimestre do ano registe resultados mais positivos. “Este evento pode

representar uma semana de agosto em outubro para o turismo da região, o que irá permitir assegurar a sustentabilidade de muitas empresas na época baixa”, assume João Fernandes. E, para além da prova principal, está já também garantida uma prova do circuito mundial da FIA Fórmula 2, estando ainda a ser negociada a possibilidade de realização de outras provas agregadas . ALGARVE INFORMATIVO #259


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André Gomes, Sara Silva, João Fernandes, José Arruda e Luís Encarnação

TURISMO DO ALGARVE E COMISSÃO VITIVINÍCOLA UNEM-SE PARA PROMOVER ENOTURISMO NA REGIÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Região de Turismo do Algarve (RTA) e a Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA) assinaram, no dia 23 de julho, um protocolo que pretende impulsionar o enoturismo numa região que conta com 30 quintas produtoras e assinala um ALGARVE INFORMATIVO #259

aumento considerável da área de vinha nos últimos anos. Promover a região vitivinícola do Algarve no mercado interno alargado (Portugal e Espanha), mostrando a residentes e turistas a qualidade dos vinhos de Denominação de Origem Lagos, Portimão, Lagoa e Tavira, é o desejo que estas duas entidades colocaram agora no papel, numa cerimónia que teve lugar nas 34


instalações provisórias do Posto de Turismo do Carvoeiro. “Na época pré-

covid, 90 a 95 por cento da atividade económica do concelho de Lagoa estava ligada ao turismo e, no pós-covid, acreditamos que o mesmo irá suceder, depois de ultrapassarmos estes momentos difíceis que todos vivemos. E, por isso, temos que receber bem quem 35

nos visita e dar-lhes todas as sugestões, conselhos e informações necessárias para que possam desfrutar ao máximo do concelho e da região”, começou por dizer Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, numa alusão às obras de requalificação que estão a ter lugar no Posto de Turismo original desta vila costeira.

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Luís Encarnação que é, como se sabe, um forte entusiasta do enoturismo, devido ao seu enorme potencial para ajudar a mitigar a sazonalidade do Algarve e porque tem, igualmente, capacidade para aumentar o grau de fidelização dos turistas. “Não é a

mesma coisa acompanhar uma excelente cataplana de peixe que se faz maravilhosamente bem em Lagoa e no Algarve com uma cerveja ou com um vinho branco da região. Hoje, os turistas procuram experiências e estudos indicam que já existe mais gente a viajar pelo mundo motivada pela gastronomia e vinho do que propriamente pelo sol e mar”, afirmou o edil lagoense. ALGARVE INFORMATIVO #259

“Contudo, há um longo caminho a percorrer nesta matéria, porque é preciso que os profissionais do ramo possam saber educar os turistas a provar os nossos vinhos, a harmonizá-los com a nossa gastronomia. Em breve será assinado um protocolo entre o Turismo e o Instituto do Emprego e Formação Profissional para se dar formação aos profissionais da hotelaria que, muito provavelmente, alguns deles irão ficar sem emprego a seguir ao Verão. E isso é uma oportunidade para que saibam «vender» os vinhos do Algarve, porque quem 36


visita uma região quer provar os seus produtos endógenos”, defende Luís Encarnação. O protocolo agora assinado veio colocar, «preto-no-branco», uma parceria que já está no terreno entre a RTA e a CVA, recordou, entretanto, Sara Silva, acrescentando que o enoturismo tem vindo, de facto, a crescer no Algarve. “Já

metade dos nossos produtores têm alguma oferta de enoturismo, da simples prova de vinhos à experiência de colher as uvas e produzir o próprio vinho. Mas continua a ser muito importante a formação e a profissionalização deste setor”, sublinha a presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve. “Isso passa por atender em várias línguas, mas também por oferecer horários de visitas mais alargados, não só de segunda a sexta-feira. Há que trabalhar também com os residentes, porque temos algarvios que não sabem que os nossos vinhos existem e que possuem esta qualidade. O enoturismo tem o condão de conseguir criar fortes laços entre o produtor e o consumidor e, num mercado tão saturado e massificado como é o dos vinhos, esse contato mais próximo é fundamental”. Sara Silva destaca, igualmente, o facto de, em muitas das quintas existentes no Algarve, os visitantes terem a possibilidade de lidar diretamente com os 37

produtores, mas também a vantagem de se estar numa região turística por natureza. “Não precisamos chamar

os turistas, eles já cá estão, portanto, há que divulgar melhor a nossa oferta, e apresentarmos uma oferta qualificada e profissionalizada”, frisa, recordando que, neste momento, se produz vinho praticamente de uma ponta à outra da região. Já João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, considera que combater a sazonalidade e fomentar a coesão territorial tem que se traduzir em medidas concretas e não se ficar pelas palavras, daí que a gastronomia faça parte, há cerca de meio século, das campanhas promocionais deste destino. “A

relação com os produtores de vinho é mais recente e há que tentar incluir este néctar na cadeia de valor do turismo, nomeadamente na restauração, um trabalho que não tem fim. Mesmo nós, enquanto consumidores, temos a responsabilidade de chegar a um restaurante e perguntar qual o motivo de não ter vinhos algarvios, ou por só ter um vinho do Algarve. E o vinho deve tornarse o próprio mote da visitação, não ser apenas mais um fator de enriquecimento da visita”. Por isso mesmo, João Fernandes mostra-se satisfeito pela evolução verificada nas várias quintas produtoras de vinho no Algarve, ao ALGARVE INFORMATIVO #259


criarem espaços de visita à área da produção e pontos de venda, mas também integrando nas visitas eventos culturais. “Tudo isso pode,

ajudará a dinamizar ainda mais este produto”, aponta João

obviamente, constituir um motivo extra para se vir ao Algarve, normalmente fora da época alta e no interior”, salienta o presidente da

mudar o seu mindset para estar à frente no enoturismo. Vender na própria quinta permite oferecer preços mais competitivos, sem ter a concorrência agressiva de outros produtos, e ajuda a fidelizar melhor o cliente. E, quando colocamos o vinho algarvio à mesa de um restaurante, estamos a criar uma oferta mais identitária e diferenciadora” .

RTA, elogiando ainda a aposta dos empresários na qualidade do néctar e não na quantidade. “Isso foi fundamental

para se virar uma página no preconceito que existia em relação aos Vinhos do Algarve. Temos também vários investidores estrangeiros com experiência neste setor a apostar no território, o que ALGARVE INFORMATIVO #259

Fernandes, deixando ainda um conselho: “O produtor tem de

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«VARIAÇÕES» LEVOU PALÁCIO DA GALERIA, EM TAVIRA, AO RUBRO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Miguel Pires Feel Free Photography

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«Verão em Tavira» continua a dar que falar e, no dia 24 de julho, foi a vez do Parque do Palácio da Galeria receber a banda do filme «Variações», com Sérgio Praia (ator que interpreta o papel de António Variações), os músicos Duarte Cabaça, David Silva e Vasco Duarte e o produtor musical responsável pela banda sonora do filme, Armando Teixeira. O projeto marca a estreia de Sérgio Prata como cantor e o regresso aos palcos do músico, compositor e produtor Armando Teixeira, que, através das cassetes de António ALGARVE INFORMATIVO #259

Variações, deu corpo às músicas que ele gravara na garagem, com músicos amadores, no final dos anos 70. Foi mais uma noite fantástica e de casa cheia, sempre no total respeito pelas normas da Direção-Geral de Saúde, em que canções como «Toma o comprimido», «Teia», «Perdi a memória», «Canção do engate» ou «Quero dar nas vistas» (um inédito encontrado no espólio de António Variações) levaram ao rubro as largas dezenas de espetadores que disseram «sim» a mais esta proposta da Câmara Municipal de Tavira . 46


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PEQUENO AUDITÓRIO DO TEMPO TRANSFORMOU-SE NA LOJA DOS BONECOS DA DANCENEMA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Pequeno Auditório Nuno Júdice do Teatro Municipal de Portimão recebeu, no dia 23 de julho, a mais recente produção da Associação Cultural Dancenema, com coreografia de Nilsen Jorge e interpretação dos bailarinos Thora Jorge, Tiffanie Jorge, Laura Abel, Sara Pina e Lewis Davies, que também foram cocriadores do espetáculo. «A Loja dos Bonecos» conta a estória de Anita, uma menina muito pobre cujos pais não tinham dinheiro para lhe comprar uma boneca. Todos os dias, no caminho ALGARVE INFORMATIVO #259

para a escola, Anita passava por uma loja cheia de bonecos de todo o tipo, desde uma dama antiga a uma bailarina e um palhaço. Anita passava e ficava a admirar os bonecos, desejando poder ter somente um. Um dia, Anita deixouse ali ficar, na vitrina da loja, a admirar os bonecos, durante muito tempo … e sonhou e sonhou. De repente, os bonecos começaram-se a mexer e a dançar para a Anita, envolvendo-a na sua brincadeira. Uma ternurenta história direcionada para um público mais jovem que, juntamente com os seus progenitores, esgotou a lotação definida para o Pequeno Auditório do TEMPO . 58


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TIM APRESENTOU-SE A SOLO NO «VERÃO EM TAVIRA» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Miguel Pires Feel Free Photography

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o ano em que celebra 60 anos, o vocalista dos Xutos & Pontapés, Tim, apresentou-se em nome individual, no dia 25 de julho, no Parque do Palácio da Galeria, em Tavira, com o álbum «20 – 20 – 20». “Três-

vintes era uma marca de tabaco sem filtro, dos mais baratos, embalagem de papel pardo, que trazia escrito no maço a definição do produto: 20 cigarros, 20 gramas, 20 centavos. Simples e direto”, recorda o cantor e compositor, acrescentando que esse conceito de simplicidade foi aplicado à sua música: “Um tema musical, um

assunto de conversa ou um sentimento, um arranjo e pronto”. Colaboram neste projeto Moz Carrapa (guitarra), Nuno Espírito Santo (baixo) e ALGARVE INFORMATIVO #259

os filhos de Tim, Vicente (teclas) e Sebastião Santos (bateria). Uma formação que foi desafiada, pelo músico, a trabalhar em vários locais,

“já que os temas, embora simples, eram diversos e podiam ter desenvolvimentos diferentes, uns bucólicos, outros mais ativos, outros mais íntimos”. Para Tim “possivelmente os sítios poderiam contribuir para essa diferenciação”. A lotação máxima do Parque do Palácio da Galeria foi reduzida de acordo com as normas da Direção-Geral de Saúde e os planos de contingências criados para o efeito, em mais uma noite bastante agradável que comprovou que é possível, e desejável, manter-se uma vida cultural mesmo em tempos de pandemia . 70


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GONÇALO PESCADA E QUINTETO SULL'A CORDA ENCANTARAM REPÚBLICA 14 Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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Re-Criativa República 14, em Olhão, está a tornar-se rapidamente num dos espaços de animação mais em voga do Verão algarvio, graças a um espaço exterior preparado a rigor para enfrentar os desafios impostas pela pandemia da covid-19. De facto, uma quadrícula pintada no chão divide o amplo quintal desta associação cultural da cidade cubista em quadrados de 1,5 metros, tornando bastante fácil o cumprimento do distanciamento exigido pelas normas em vigor. Para além disso, a circulação é feita por circuitos separados que evitam o cruzamento entre o público. ALGARVE INFORMATIVO #259

À segurança juntou-se um programa bastante diversificado e de enorme qualidade e que incluiu, no sábado, 25 de julho, o inesquecível concerto do acordeonista Gonçalo Pescada e do Quinteto Sull'a Corda inteiramente dedicado à música de Astor Piazzolla. O grande mestre argentino que revolucionou a linguagem do tango foi aqui magistralmente recordado por um quinteto de cordas composto por Pedro Sá e Marta Justino nos violinos, Elisabete Martins na viola de arco, Bárbara Santos no violoncelo e Bruno Vítor Martins no contrabaixo, sob a batuta do inconfundível Gonçalo Pescada. Sublime, numa palavra, se descreve a noite . 80


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JAZZ DOS «MISTURA FINA» ANIMOU SÍTIO DAS FONTES DE ESTÔMBAR

Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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rganizado pela Câmara Municipal de Lagoa, o Festival «A Cultura Sai À Rua – Verão 2020» proporcionou, na noite de 23 de julho, no Sítio das Fontes, em Estômbar, um excelente serão ao som do jazz da banda «Mistura Fina», que ALGARVE INFORMATIVO #259

integra Tó Cruz na voz, António Palma nos teclados e Rogério Pitomba na bateria. Numa envolvente natural de parar a respiração e com uma temperatura extraordinária, ninguém resistiu aos sucessos intemporais dos grandes mestres do jazz de todos os tempos, aqui com uma roupagem muito própria a cargo do produtor António Palma . 94


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OPINIÃO Do Reboliço #95 Ana Isabel Soares (Professora) um nefelibata, este Reboliço. Não fosse ter de comer, não fosse obedecer sem pestanejar ao chamamento do dono, são assim os reflexos dos cães e ele bem o sabe – não fosse caírem as foscas noites da Lua Nova, que tudo oculta no céu e debaixo dele – e passaria a vida a olhar para as nuvens. Sem fazer mais nada. Daria algum trabalho, alguma dor de lombo, alguma torção forçada do olhar, ou do focinho, na hora da folga: mas faria do Reboliço um bicho mais feliz ainda, mais satisfeito, se tal existe como possibilidade neste horizonte canino. Fica-se quanto pode no intervalo das inapeláveis vontades a observar o curso nebuloso. No seu céu de Verão, porque o branco delas contrasta de maneira mais evidente com a cúpula de onde se sustentam, aparecem para enfeitar de branco o dia e ajudar a aplacar a força do calor. Custa ao canito decidir quais são as que mais aprecia, mas parece-lhe que tem de passar como se fosse por uma decisão assim, simplesmente pelo facto de elas não pararem de passar: “Esta é tão linda... Ah!, mas agora esta, que perfeição!... Oh, a desfazer-se, não há nada igual...”. Passam as nuvens enquanto passa no enevoado pensamento do cão o cortejo de pensamentos sobre as nuvens;

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esfarrapam-se elas, vão-se fragmentando aqueles dentro da pequena caixa de osso alongada. Os dias sem nuvens não o encantam assim: sente, como tudo sente, o prenúncio do preenchimento, venha água, venha vento; mas custa-lhe o tempo da antecipação, a hora imóvel, a vida suspendida, pendurada, impotente entre o polegar e o indicador de um deus curioso. É o movimento do céu que o anima: o Reboliço encosta o pelo à cal fresca da torre do Moinho Grande, semicerra os olhos e levanta o focinho: quem para ele olhasse, acreditaria estar o bicho a farejar o ar à volta, o rebuliço das poeiras que a aragem traz, palhas soltas e os mais ligeiros insetos – mas não é isso, ou não é isso só. O que o Reboliço faz, em estreitar assim o fio do olho entre cada par de pálpebras, é fechar as nuvens no seu ocular canto e concentrar-se no aglomerado de fiapos brancos que passam no céu neste instante agora. À imagem assim emoldurada na linha dos olhos corresponde, vê o bicho, um arrastado caminhar de nuvens; a marcha deste andamento condiz com o ruído do catavento no topo do telhado do moinho – condiz com rigoroso e necessário desacerto: a velocidade do vento perto do cão é maior do que aquela a que vê passarem as nuvens. Já 102


Foto: Vasco Célio

ouviu dizer aos homens que aqueles montes de algodão delido correm, que lá, onde estarão, se atropelam apressadas, mais do que deslizam: mas é deslizantes que as percebe, é lentas que as vê – ou é ele que é lento a vê-las, de 103

passeio na tarde sempre vagarosa do seu monte . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. Escrevo a partir desse olhar canino. ALGARVE INFORMATIVO #259


OPINIÃO Os 10 mandamentos da Cozinha Profissional - Parte I Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) oderíamos dizer que não precisaríamos de dez mandamentos, que bastava apena um para sermos – Bons cozinheiros, mas não seria verdade. 1 – Limpeza. Teremos sempre que encarar a limpeza como o primeiro dos mandamentos, sendo que – Quem não for limpo, não deverá/poderá ser Cozinheiro. A limpeza inclui não só as mãos, fundamentais para quem cozinha, como o cabelo, protegido, e o vestuário e calçado exigido, de uso único, assim como a manipulação de alimentos crus e cozinhados, a guarda de alimentos em armários refrigeradores ou congeladores, as temperaturas de cozimento entre um número enorme de regras conhecidas como Boas Práticas de Higiene e Segurança Alimentar, que todo e qualquer manipulador de alimentos deveria conhecer, antes de executar qualquer tarefa numa cozinha, nem uma tão aparentemente simples, como guardar alimentos numa prateleira de economato. Mas chegará isto, para se ser Cozinheiro? Obviamente que não, ALGARVE INFORMATIVO #259

mormente seja um detalhe que não se pode suprimir. 2 – Os três níveis do saber. O saberser/saber-estar, o saber-saber e o saberfazer. O primeiro compreende o domínio sócio-afectivo, aquele que reúne as aprendizagens realizadas no domínio social e afectivo, as atitudes, comportamentos e a capacidade de enfrentar desafios, o de agir como um profissional, fazendo de facto aquilo que o meio que nos rodeia, espera. O segundo, trata do domínio Cognitivo, aquele a que corresponde a aprendizagem através da verbalização do conhecimento e do pensamento lógico. Como exemplo, eu diria que um Cozinheiro profissional deveria saber descrever, por exemplo, os métodos culinários, saltear ou guisar, antes de os executar. O terceiro, o saber-fazer, abarca o domínio psico-motor, com a mimica, o movimento do esqueleto em relação à capacidade de manipular ferramentas e utensílios variados na execução de uma determinada tarefa, cuja continuidade trará inevitavelmente a destreza motora especializada., como por exemplo, no acto de dar fio a uma lâmina ou usando um sertã adequada, 104


fazer saltar alimentos ou rodar uma omeleta. 3 – Saber ler, compreender e executar. Apesar de estes conhecimentos estarem directamente ligados ao Saber Saber, são tão importantes que resolvi colocá-los numa etapa própria. Tendo já feito a análise de receitas a concurso, através da leitura de fichas técnicas, como estágio primeiro de passagem ou não para a fase seguinte, deparei-me com algumas situações em que a descrição dos ingredientes não correspondia à acção do – Como confecionar, ou mesmo, as quantidades anunciadas não corresponderem ao número de pessoas para as quais estava descrita a ficha técnica, ou ainda a descrição errada da acção ou do prato, como por exemplo, visto muito recentemente – “o prato leva duas formas de batata e um caldo perfumado a berbigão tendo como guarnição cebola, de puré de cebola e tomate, neste prato tive em atenção de destacar o peixe é muito importante na zona do algarve relembro- me das tradições piscatórias”. 4 – Metodologia. A Segunda maior característica de um cozinheiro profissional é tornar-se um metodólogo. Da planificação à mise-en-place, nada pode ficar sem análise, desde a escolha da proteína e do hidrato para um serviço de bufete, ao tipo de carnes que serão usadas num churrasco. Planificar/Planear – Em cozinha, como em qualquer outra profissão, para que o trabalho nos corra de feição, temos necessariamente de planear todas as etapas e de preparar 105

com antecedência algumas delas. Quando se pretende atingir determinado objetivo, importará fundamentalmente: Saber o que realmente se quer fazer, fazer bem o que se deseja, querer o que se pode e não mais. Antes de tomar uma iniciativa ou de começar a fazer alguma coisa, urge planear a respetiva ação por fases, desde o primeiro momento, que deve ser bem escolhido. Mise-en-place – O termo tanto pode ser utilizada na Restauração como em qualquer outra profissão. É uma palavra francesa que, traduzida, quer dizer – ação de colocar no lugar, de antecipar. E, preparar com antecipação, alimentos e materiais, estamos a rentabilizar o nosso tempo. Uma das acções imprescindíveis no dia a dia de um cozinheiro, é trabalhar segundo um manual de Miseen-place diária, para serviço á la carte, por exemplo . ALGARVE INFORMATIVO #259


OPINIÃO Poderá o Algarve viver sem autonomia? Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) regionalização, nunca implementada, está prevista na Constituição da República Portuguesa desde 1976. O modelo programático do pais previa a criação de dois poderes de nível local (municipais e regionais), mas apenas a parte do poder autárquico foi implementada. Paralelamente foi criado um sistema eleitoral de eleição pelo denominado «Método de Hondt» aplicado não a um círculo eleitoral único, mas a cada um dos círculos eleitorais distritais, sistema este que inutilizou o voto de mais de seiscentos mil portugueses, que se deslocaram às urnas, que não contribuíram para eleger ninguém. Esta divisão política distrital fez com que tenha sido criado um verdadeiro «monstro» político e administrativo, com o círculo eleitoral de Lisboa a eleger 48 Deputados, ou seja, mais do que a soma de todos os eleitos pelos distritos de Faro, Beja, Évora, Portalegre, Setúbal, Castelo Branco, Guarda e Vila Real. Ou seja, o peso eleitoral do Distrito de Lisboa é o mesmo de todo o território nacional a sul do Tejo e de todo o interior e isto tem consequências no ALGARVE INFORMATIVO #259

momento da tomada de decisão. Naturalmente que todos os governos têm como primeira prioridade agradar o eleitorado da região de Lisboa e, só depois, se sobrar alguma fatia de bolo, atirar umas migalhas para as outras regiões. Isto não é mais do que a aplicação da «Lei da Sobrevivência», neste caso política. Este modelo de organização política provoca o natural desinvestimento, ou mesmo o abandono de uma parte substancial do país e, o desinvestimento e abandono, provocam o desinteresse, a deslocalização e o empobrecimento dos territórios e, consequentemente, do país. Deste modelo centralista ficaram de fora, logo em 1976, as regiões autónomas da Madeira e dos Açores e o então território de Macau. Curiosamente (ou talvez não), as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores foram os dois únicos distritos portugueses que convergiram com a média da União Europeia, tendo todos os outros ficado abaixo da média europeia. Isto demonstra que o problema não está na cor partidária dos governantes, mas no modelo político centralista do país. Também a Espanha previu a 106


regionalização do país após o fim da ditadura franquista, mas, ao contrário de Portugal, implementoua em 1982, cortando com o centralismo de Madrid, com resultados positivos em todas as regiões e a nível nacional. A Andaluzia, uma das regiões mais pobres de Espanha, passou a ter o 3.º maior PIB de Espanha, logo atrás dos de Madrid e da Catalunha. O Território de Macau, sob administração portuguesa até 1999, nestes 20 anos manteve a sua estrutura base, tendo tido um incremento populacional de apenas cem mil pessoas. No entanto, o PIB de Macau, fortemente incrementado pelo negócio do jogo, passou de 6.491 milhões de dólares em 1999, para 55.080 milhões em 2018, ou seja, o PIB de Macau representa hoje o mesmo que ¼ do PIB português. O que provocou este desenvolvimento? Basicamente ficou-se a dever à decisão da China (defensora do modelo monopolista) de liberalizar o negócio do jogo, que Portugal (defensor da liberdade de mercado) tinha monopolizado em Macau, como ainda tem no país. E quanto ao Algarve, poderá viver neste modelo? Depende da definição de viver. Se for vista como mera sobrevivência, segundo os critérios da economia doméstica, de respirar, ter o coração a bater e cumprir as actividades normais do dia-a-dia, o Algarve poderá continuar a viver com o modelo actual de sobrevivência. 107

Se, pelo contrário, o conceito de viver for mais abrangente, passando pelo desenvolvimento, pelo investimento, pela livre iniciativa, pela diferenciação e pela diversificação, tal só poderá ser alcançado com a autonomia regional. E não é preciso inventar nada de novo, basta olhar e aplicar os modelos já existentes na Madeira, nos Açores, ou, se preferirem uma inspiração internacional, na Andaluzia . ALGARVE INFORMATIVO #259


OPINIÃO Retenção de talento no interior do país Luís Matos Martins (Empresário e Professor Universitário) forma como vemos o mercado está a mudar, e com isso torna-se emergente a mudança de perspetiva sobre as organizações e o seu capital humano. Revejo-me na abordagem do relatório do Linkedin Talent Solutions, onde indicam que a tendência para esta nova década será colocar a experiência humana no centro das decisões de contratação e retenção de talento dos Recursos Humanos das organizações. Mas mais do que refletir sobre as tendências mundiais no recrutamento, sou da opinião que, ao percebermos de que forma estas tendências poderão impactar o interior do país, onde existe um desafio acrescido nos processos de contratação, poderemos tirar partido de algumas das estratégias para o sucesso dos negócios e para a retenção de talento nestas regiões. Uma delas passa pelo Recrutamento Interno. A possibilidade de um colaborador poder progredir na carreira dentro da empresa dá-lhe motivação e compromisso, sendo promotor direto da mudança organizacional e aumentando o desempenho das suas áreas de trabalho. Assim, mais do que procurar recursos ALGARVE INFORMATIVO #259

qualificados no exterior, apostar no potencial interno da empresa pode ser uma forma de crescer de forma consolidada, através de Planos de Carreira ajustados ao perfil de cada colaborador, levando-os a almejar outras funções no futuro e outras competências, o que já tem vindo a ser feito pelos colaboradores neste período de mudança (73,5% de acordo com o estudo da Michael Page). Mais do que atrair recursos externos para a organização, é fundamental que as empresas reconheçam e valorizem o potencial interno, dando as condições para que o colaborador escolha ficar. Se há umas décadas víamos a relação empregado-empregador de forma unidirecional, atualmente a empresa trabalha, também, para o colaborador. Numa fase de mudança, em que 61,2% dos colaboradores a nível mundial aponta o apoio dado pelas suas chefias durante o processo de adaptação, resultante da situação de confinamento, como motivo para ficar, acredito que é fundamental trabalhar na Experiência do Colaborador, respondendo às necessidades condicionadas pelo seu desempenho profissional, como flexibilidade de horário, trabalho remoto, oportunidade de dar a conhecer a sua visão, ou até mesmo poder ter autonomia nas decisões respeitantes à 108


sua função. Desta forma, estamos mais próximos de conseguir reter o seu talento e melhorar a marca da empresa, reduzindo a rotatividade e melhorando processos. E se o aumento da idade da reforma é uma realidade nacional, esta é ainda mais evidente no interior do país com a permanência das gerações mais antigas nos territórios e saída das gerações mais jovens para centros urbanos. Começamos a observar uma maior disparidade na idade das equipas, por termos colaboradores mais sénior, com vários anos de carreira na mesma empresa, e porque os «novos» colaboradores são de gerações mais jovens, muitos sem experiência na área. A chegada da Geração Z, caracterizada pela sua capacidade inata de utilizar as tecnologias nos contextos pessoal e profissional, traz-nos o desafio crescente de integrar Equipas Multigeracionais. Aliado ao crescente interesse das gerações mais jovens em (re)tornarem ao interior do país, esta pode ser uma oportunidade para as empresas revolucionarem as suas equipas de trabalho, ao fundirem a experiência de uma vida dos seus colaboradores sénior com os conhecimentos vanguardistas de elementos mais jovens, desenvolvendo novas ferramentas e métodos de trabalho que permitam tirar partido do potencial de cada geração. Deste modo, acredito que aumentaremos a motivação e a entrega dos colaboradores, tanto ao nível do colaborador sénior, por se ver numa posição de valorização do seu 109

conhecimento e a responsabilidade de o passar às novas gerações, através de Planos de Formação On Job, como ao nível das gerações mais jovens, ao confrontarem-se com métodos para o quais não têm tanta habilidade, tornando-se recursos mais capacitados e adaptados ao contexto da organização, além de implementarem a novidade e a tendência. Sabemos que a era digital veio acelerar a economia mundial e, consequentemente, veio provocar uma necessidade crescente para a mudança organizacional. Perante a situação que vivemos provocada pela COVID-19, tornase preeminente a aceleração das empresas, a nível digital e do melhoramento dos processos. Tirar partido do potencial interno, associado à diversidade de oferta de competências do capital humano, poderá ser a chave para enfrentarmos esta nova realidade que vivemos no ecossistema empreendedor e potenciarmos o desempenho das nossas organizações. ALGARVE INFORMATIVO #259


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #259

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