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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 8 de agosto, 2020
PETE THA ZOUK - SIMPLESMENTE O MELHOR JOANA GAMA & LUÍS FERNANDES | CAMPEONATO NACIONAL DE WINDSURF SLALOM 1 ALGARVE INFORMATIVO #260 «SAL CENTRÍPETO» | «MARAFADA QUARENTENA» DO BOA ESPERANÇA | «PAIÃO»
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30 - Campeonato Nacional de Windsurf Slalom
46 - «Marafada Quarentena» do Boa Esperança ALGARVE INFORMATIVO #260
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OPINIÃO 116 - Paulo Bernardo 118 - Mirian Tavares 120 - Ana Isabel Soares 122 - Adília César 124 - Fábio Jesuíno 126 - João Ministro 128 - Augusto Pessoa Lima
88 - Joana Gama e Luís Fernandes
98 - Ivo expõe «Sal Centrípeto»
22 - Secretário de Estado do Planeamento em São Brás de Alportel
62 - «Paião» no «Verão em Tavira» 11
72 - Pete Tha Zouk ALGARVE INFORMATIVO #260
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“A EN2 É UM «PRODUTO» APETECÍVEL, ÚNICO, AUTÊNTICO”, AFIRMA O SECRETÁRIO DE ESTADO DO PLANEAMENTO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Secretário de Estado do Planeamento, José Gomes Mendes, percorreu a Estrada Nacional 2 em bicicleta, um circuito longitudinal de mil quilómetros iniciado em Chaves e com término em Sagres, com o intuito de melhor conhecer ALGARVE INFORMATIVO #260
os prazeres desta mítica via de comunicação. Um percurso que o levou, no último dia do mês de julho, a passar por São Brás de Alportel, onde fez uma paragem no KM 722, em pleno coração da Vila, local em que a EN2 se encontra com a ER270. Recebido pelo executivo sãobrasense a tempo inteiro liderado por 22
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Vítor Guerreiro e constituído por Marlene Guerreiro, Acácio Martins e David Gonçalves, o governante não dispensou uma visita à futura Casa Memória da EN2, que está a ser preparada na antiga Secção de Conservação da EN2 e que abrirá portas ao público na segunda quinzena de agosto. “É um prazer percorrer um
autêntico, único e irrepetível, é um caminho que estamos menos habituados a trilhar e que agora decidi fazer, de bicicleta, porque é um meio que nos permite saborear melhor a paisagem e falar com as pessoas”, explicou
património que é de todos nós e que atravessa um Portugal ainda desconhecido de tantos portugueses. Conhecemos praticamente tudo o que existe junto ao litoral, porque a isso estamos obrigados em termos profissionais, mas aquele Portugal
José Gomes Mendes.
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Deliciado com alguns dos artefactos associados à manutenção da estrada que vão estar expostos neste polo cultural que servirá de acolhimento aos viajantes da EN2, o Secretário de Estado do Planeamento lembrou que muita da dinâmica económica do 24
Algarve passou por São Brás de Alportel noutras décadas. “A geografia da
economia foi-se alterando com o tempo, mas é importante recuperar e valorizar este património e mostrá-los aos portugueses e aos turistas internacionais. Por muito que gostemos das praias do litoral e das grandes cidades, também temos que conhecer os destinos do interior e São Brás de Alportel é, de facto, um concelho que vale a pena visitar”, afirmou, palavras partilhadas por Vítor Guerreiro. “Os municípios do interior carecem de maior visibilidade e de mais oportunidades para mostrarem as
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muitas maravilhas que possuem”, defendeu o edil. EN 2 que, sem dúvida, está na moda, nas bocas do mundo, facto que não espanta o governante, apesar de reconhecer que os portugueses optam mais pelas praias e por outros atrativos do litoral para gozarem as suas férias, ou mesmo pelo estrangeiro, do que propriamente pelos territórios do interior. “Mas às vezes é bom
irmos lá fora para depois compararmos, com conhecimento de causa, com aquilo que temos cá dentro. Muitas pessoas vão fazer a Route 66 nos Estados Unidos, que é bastante árida e longa, serve apenas para andar de automóvel, e existe em Portugal ALGARVE INFORMATIVO #260
algo com o mesmo tipo de valor, mas mais autêntico e nosso. Toda a minha vida andei pelo país inteiro, de norte a sul, e continuo a ser surpreendido por pequenos pormenores que vou encontrando, assim como pelo desenvolvimento, indústria, restauração, comércio que vai aparecendo”, referiu José Gomes Mendes, avisando que é importantíssimo ter a capacidade de nos reinventarmos. “Os portugueses
estão, de facto, a descobrir a EN2 e, quando vínhamos para baixo, encontramos muita gente a percorrê-la também, de carro e de moto, menos de bicicleta, porque exige outra preparação. É um «produto» apetecível, único, ALGARVE INFORMATIVO #260
autêntico e os municípios estão, e muito bem, a aproveitar essa oportunidade, valorizando a estrada, apostando na boa sinalização e na manutenção. Quando se fala na EN2, não estamos a falar da estrada propriamente dita, mas do país que conhecemos menos e que importa promover e desfrutar”, finalizou o Secretário de Estado do Planeamento, antes de receber o seu exemplar do Passaporte da EN2, devidamente carimbado pelo presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Vítor Guerreiro, a comprovar a sua passagem pelo concelho .
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MARTIM MONTEIRO REVALIDOU TÍTULO DE CAMPEÃO NACIONAL DE WINDSURF SLALOM, EM VILA DO BISPO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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e 30 de julho a 2 de agosto, Sagres foi a capital portuguesa do windsurf, com a Praia do Martinhal a acolher o Campeonato Nacional de Slalom 2020, prova que colocou frente-a-frente os melhores atletas masculinos da modalidade. Tratou-se de uma prova única que decidiu o campeão nacional de 2020, organizada pela Associação Portuguesa de Windsurf e pelo Clube Naval da Fuzeta, com o alto patrocínio do Município de Vila do Bispo. Cerca de três dezenas de competidores vindos de todo o país e do estrangeiro rumaram ao extremo do barlavento algarvio para navegar com a conhecida «Nortada de Sagres», que proporcionou, sem dúvida, momentos de grande ação na baía da Praia do Martinhal. Entre estes ALGARVE INFORMATIVO #260
encontravam-se Mateus Isaac, atual líder do ranking brasileiro e 7.º do Ranking Mundial; Ben Proffit do Reino Unido; Camille Moret da França; Francesco Orzi de Itália; e Henning Voges de Espanha. A grande novidade deste ano foi, contudo, a atribuição de título nacional para jovens menores de 18 anos. Ao fim de quatro dias de windsurf de primeiro nível, mas também de grande convívio, o vencedor da geral foi, sem grandes surpresas, o brasileiro Mateus Isaac, seguido do espanhol Ludo Jossin e do português Martim Monteiro. Quanto ao Campeonato Nacional, Martim Monteiro, ator e modelo de Cascais, revalidou o título que já havia conquistado em 2019, com os restantes lugares do pódio a serem ocupados pelo algarvio Miguel Martinho e por Bruno Bértolo . 32
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NÃO É REVISTA À PORTUGUESA, É COMÉDIA TEATRAL, MAS O PAGODE É O MESMO COM O BOA ESPERANÇA DE CARLOS PACHECO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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ma das primeiras vítimas, em termos culturais, da covid-19 no Algarve foi a edição de 2020 da revista à portuguesa do Boa Esperança, «Com a Greta pelo ar…», que tinha estreia marcada para 14 de março. Quatro meses e meio depois, a 1 de agosto, Carlos Pacheco e companhia voltaram a pisar o palco, não da sua sede, mas do Teatro Municipal de Portimão, com «Marafada Quarentena». E, se é verdade que não estamos perante uma revista à portuguesa, mas de uma comédia teatral pura e dura, também é verdade que a boa-disposição está garantida do princípio ao fim. ALGARVE INFORMATIVO #260
O registo é diferente, não há uma constante mudança de cenário, nem sucessivas trocas de roupa, nem sketches avulsos a parodiar situações da atualidade, entrecortadas por momentos de dança e de música. Contudo, quando um artista é Grande, é Grande em qualquer formato e isso mesmo demonstrou, na noite de estreia, Carlos Pacheco, ator, dramaturgo, encenador e líder do Boa Esperança há largos anos. Deste modo, em «Marafada Quarentena» assistimos às peripécias de uma família tão hilariante quanto disfuncional, durante o período de confinamento. Um confinamento que começa quando Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão, decreta o 48
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Estado de Emergência em Portimão, com pesadas multas para quem não cumprir com as regras. O pânico instala-se então dentro do pequeno apartamento da família Sampaio, que se encontrava à beira do divórcio, quando as «escapadinhas» de Anatólio Sampaio (Carlos Pacheco) são descobertas pela esposa. A vida do bancário e chefe de família muda, de um momento para o outro, por causa da covid-19 e a situação é ainda mais dramática porque vai ter que conviver, 24 ALGARVE INFORMATIVO #260
horas por dia, com a sua sogra, que estava de visita aquando da declaração do Estado de Emergência, assim como a empregada de limpeza. Os episódios rocambolescos sucedem-se, as risadas multiplicam-se e, mesmo não sendo uma revista à portuguesa, Carlos Pacheco não perde uma oportunidade para um improviso ou outro em interação com o público. Para se ver, no TEMPO, até 31 de agosto, às quintas, sextas e sábados, às 21h30. Com o selo de qualidade do Boa Esperança, claro!. 50
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TRIBUTO A CARLOS PAIÃO AGITOU PRIMEIRA NOITE DE AGOSTO EM TAVIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova
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Parque do Palácio da Galeria, em Tavira, recebeu e vibrou, no dia 1 de agosto, com «Paião», um «supergrupo» que junta alguns dos nomes mais carismáticos do panorama musical atual, casos de Marlon (Os Azeitonas), Jorge Benvinda (Virgem Suta) João Pedro Coimbra (Mesa), VIA e Nuno Figueiredo (Virgem Suta/Ultraleve).
Festival da Canção, surgiu para homenagear a obra de Carlos Paião, resgatando todos os seus grandes sucessos, como «Play-Back», «Pó de Arroz» ou «Canção do Beijinho», mas ainda canções menos conhecidas como «Não Há Duas Sem Três», «Zero a Zero» ou «Trocas e Baldrocas». Temas que fizeram as delícias do público que esgotou a lotação do Parque do Palácio da Galeria, em mais uma excelente noite do programa cultural dinamizado pela Câmara Municipal de Tavira, o «Verão em Tavira» .
O projeto, que teve a sua primeira aparição pública na edição de 2018 do ALGARVE INFORMATIVO #260
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EM DIRETO DAS PEDRAS AMARELAS PARA O MUNDO, PETE THA ZOUK DEMONSTROU QUE CONTINUA A SER UM DOS MELHORES DJS DA ATUALIDADE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #260
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ma estrela brilha com mais força e durante mais tempo quando se mantém fiel ao seu adn, à sua traça genuína. Quando não muda a sua maneira de ser à medida que o sucesso aumenta, quando não troca a humildade que tinha enquanto dava os primeiros passos na ALGARVE INFORMATIVO #260
música por tiques de vedeta, só porque passou a figurar regularmente nos tops mundiais e pelo seu nome ser conhecido um pouco por todo o planeta. Por isso, mais do que um simples trabalho, é sempre um verdadeiro prazer reencontrar o António Mendonça, o Tó P para os amigos de infância, que primeiro foi «zouky» quando tocava nos bares de Olhão, depois tornou-se Peter Tha Zouk 74
quando chegamos, no dia 31 de julho, ao restaurante «Pedras Amarelas», situado na praia com o mesmo nome do concelho de Albufeira, e o encontramos de volta do equipamento e à conversa com os técnicos de som, luz e vídeo que iam produzir mais um evento do «Albufeira Summer Live». Podia perfeitamente ter chegado um quarto de hora antes do início do livestream, tomar uma bebida refrescante e depois meter uma pendrive no computador e siga. Mas esse nunca foi o espírito de Pete Tha Zouk, que, mais do que um dj, é também um produtor de classe mundial que ama verdadeiramente aquilo que faz e que só fica satisfeito quando percebe que o público está, de facto, a vibrar com a sua atuação. Um público do qual agora sente bastante falta, reconheceu, à conversa antes de começar a pôr música. “É um Verão
quando animava as cabines de dj dos espaços noturnos da moda de Albufeira, antes de se afirmar, definitivamente, como Pete Tha Zouk. Na sua essência, um dos djs portugueses com maior projeção internacional de todos os tempos continua a ser um olhanense de gema, amigo dos seus amigos e super profissional em tudo o que faz. Portanto, não foi surpresa 75
completamente atípico, estamos todos a sofrer da mesma forma, mas acredito que a cultura poderia ser mais acarinhada, pois temos todas as condições para realizar excelentes eventos, ao ar livre e com o devido distanciamento”, referiu. “Olhando para aquilo que se faz noutros países, Portugal ficou com o carro nas boxes enquanto a corrida continua a andar. Penso que o governo assumiu uma postura demasiado exagerada que prejudica os artistas e todas as empresas que giram em torno da cultura, cultura que é ALGARVE INFORMATIVO #260
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fundamental para as pessoas se divertirem”. Para trás ficou uma agenda de 2020 que estava recheada de atuações, em Portugal e no estrangeiro, de janeiro a dezembro, com o primeiro semestre a desaparecer quase por completo, mas Pete Tha Zouk ainda teve a oportunidade de fazer parte do Verão de 2020 no Brasil, com muito trabalho durante o Réveillon e Carnaval, antes de cruzar o Atlântico e rumar ao Algarve. “Sabia que ia
colocar em risco o meu retorno financeiro, mas a situação pandémica estava a evoluir bastante na Europa e decidi regressar a casa. Depois, foi o Estado de Emergência e o Estado de Calamidade, já devíamos estar noutra fase, mas continuamos 77
todos a patinar um bocadinho, a «chover no molhado»”, desabafa o dj, um cenário que não deverá mudar muito nas próximas semanas. “Um
artista, músico, entertainer, vive da proximidade do público. É verdade que as novas tecnologias permitem aproximar as pessoas de forma digital, mas isso dura apenas alguns minutos. Fazem falta os eventos físicos, ainda que com redução de público para garantir todas as condições de segurança e higiene. Para além disso, o vírus não tem relógio, não começa só a funcionar depois das oito da noite, não compreendo as regras definidas para o funcionamento dos bares e discotecas”. ALGARVE INFORMATIVO #260
Como nunca foi de cruzar os braços e ficar à espera que as coisas acontecessem, Pete Tha Zouk aceitou o desafio do ilusionista Luís de Matos para, num drive in, fazer um espetáculo para 70 viaturas. Na zona de Vilamoura dinamizou o conceito de «sunsets» privados a bordo de iates de luxo, “um produto muito
exclusivo em termos financeiros e para o máximo de 10 pessoas”, explica, mas que se está a expandir para outros pontos do país, nomeadamente para o Rio Tejo e Rio Douro. Nada que afaste, porém, as saudades dos grandes festivais de Verão, das pistas de dança das discotecas gigantescas, de tocar para milhares de pessoas, ainda que ser dj já não seja a profissão glamourosa de outros tempos. “O mercado foi-se
saturando tanto com o decorrer dos ALGARVE INFORMATIVO #260
anos que o próprio coronavírus tem funcionado como um género de filtro. De repente desapareceram todos aqueles «wannabee djs» que andavam por aí a tocar por 40 ou 50 euros e que prejudicavam quem faz isto de forma profissional e que, como é óbvio, não pode cobrar esses valores”, comenta. Aprender a lidar com a «nova realidade» e reinventar-nos é o caminho a seguir, de acordo com Pete Tha Zouk, porque a covid-19 não vai desaparecer de um dia para o outro.
“Os primeiros passos têm que ser dados de forma mais abrupta, mas temos que retomar a normalidade. O perigo existe, mas 78
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também existe a educação e o bomsenso das pessoas para que consigamos coexistir todos até surgir a vacina para o coronavírus”,
Faria, uma dupla do norte de Portugal que tem muito para mostrar ao mundo”, acrescenta.
salienta o entrevistado. Entretanto, se o dj teve menos trabalho, a quarentena não foi um período de férias para o produtor Pete Tha Zouk, que, 20 anos após ter gravado, com Bruno Marciano, o tema «The First Tribal Feeling», relançou remixes com Saeed Younan, de Nova Iorque. “Foi o disco que me deu a
A conversa chegou, entretanto, ao fim, porque Pete Tha Zouk foi tratar dos últimos pormenores, seguindo-se uma hora inesquecível, daqueles momentos em que, por muito que tentemos, por uma questão de brio profissional, é impossível ficar parado. Num cenário idílico, e com muitas pessoas que tinham passado a tarde na praia e que ali permaneceram já depois do pôr-do-sol para desfrutar do concerto inesperado, foi realmente um luxo e um prazer assistir à atuação de um dos melhores djs do mundo e que,
conhecer ao mundo, de repente, a minha música era tocada por grandes nomes como Erick Morillo e Bob Sinclar”, recorda o olhanense. “É uma coprodução com os Mayze
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em boa hora, decidiu largar o curso de Engenharia Elétrica e Eletrónica da Universidade do Algarve e dedicar-se à música. Vivia-se a última década do século passado, os anos de ouro dos djs, antes destes começarem a «nascer como cogumelos» devido à enorme procura que existia da parte do mercado. Desses, 83
ficaram apenas os Cristianos Ronaldos e os Messis, entre os quais se inclui Pete Tha Zouk, nesta noite ao vivo, das Pedras Amarelas, no concelho de Albufeira, para todo o mundo. Sempre de sorriso nos lábios, a curtir o momento, a fazer aquilo que mais gosta de fazer. Obrigado pela noite! . ALGARVE INFORMATIVO #260
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QUANDO O PIANO SE CRUZA COM A MÚSICA ELETRÓNICA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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nquanto não abre portas, o Museu Zer0 vai dinamizando vários eventos um pouco por todo o Algarve para divulgar a arte digital, como é o caso do ciclo de concertos de música eletrónica nos Claustros do Convento do Carmo, em Tavira. Um ciclo que arrancou, na noite de 5 de agosto, com a brilhante atuação de Joana Gama e Luís Fernandes, que cruzam o universo do piano com o da eletrónica, e que, após várias colaborações, regressaram ao formato de duo para apresentar material novo. Para trás ficaram «At the still point of the turning world», criado para piano, eletrónica e ensemble, que teve como 91
base um poema do escritor britânico de origem norte-americana T.S. Elliot, sobre a passagem do tempo; e o projeto Quest, em parceria com o violoncelista Ricardo Jacinto, que deu origem a «Harmonies», álbum em torno do repertório do compositor francês Erik Satie. E, nesta noite quente e inspiradora, o público deixou-se levar por Joana Gama, consagrada pianista com experiência na música erudita, e por Luís Fernandes, fundador dos «Peixe:Avião» e com trajeto na música pop rock, que começaram a trabalhar juntos depois de se terem conhecido numa iniciativa dedicada a John Cage. E ainda bem que assim o fizeram, diriam as dezenas de pessoas que esgotaram a lotação dos Claustros do Convento do Carmo, em Tavira . ALGARVE INFORMATIVO #260
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IVO EXPÕE «SAL CENTRÍPETO» NA ASSOCIAÇÃO 289 Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #260
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stá patente, até dia 20 de setembro, na Associação 289, no Sítio Pontes de Marchil, em Faro, a exposição «Sal Centrípeto», de Ivo. “A
arte, um rizoma aglutinador, une múltiplos pontos de diferentes situações, para criar um território. A arte é uma ressonância, uma caixa de ampliação das nossas vivências. A arte torna visível o desconhecido, revelando-o. Entre silêncio e caos ALGARVE INFORMATIVO #260
surgem movimentos contraditórios numa ação endógena/exógena, que no fim, tornam-se um só”, descreve o pintor. “Da ionização da água surge o Sal. O sal conserva e destrói. Realça ou estraga o sabor dos alimentos. Podemos dizer que o sal é constituído da mesma matéria que as estrelas. As estrelas podem-nos cegar, guiar ou iluminar. Sonhei com um 100
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coelho que corria desenhando um círculo. Estava atrasado para o trabalho. Então, corria, corria não se apercebendo que, mesmo que corresse mais, permanecia no mesmo sítio. Então, num movimento centrípeto encontrou o seu objetivo, desenhando uma nova linha para o seu percurso”, acrescenta Ivo. Enquanto aluno da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, Ivo é cofundador ALGARVE INFORMATIVO #260
do grupo «Homeostético», participando em todas as suas exposições, já depois de terminada a licenciatura. Além de manter uma atividade bastante profícua enquanto artista, Ivo leciona ao longo dos anos em diversos locais, como por exemplo no Ar.Co (Centro de Arte e Comunicação Visual) ou na Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa. Desde os anos oitenta, Ivo já realizou mais de 25 exposições individuais e participou em muitas outras coletivas. 102
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OPINIÃO Osgas e Porcas-Saras Paulo Bernardo (Empresário) história era-me contada pelo meu pai em relação a um tio dele. A sua esposa, portanto, minha tia, dizialhe, como qualquer boa mulher cá do reino, que ele passava muito tempo na «venda» (aquilo que hoje poderíamos chamar de loja de conveniência, pois vendia tudo para além de ser um local de networking) e ele respondia-lhe que em casa o que lhe podia cair em cima eram osgas e porcas-saras, era na venda que ele arranjava trabalho. O meu tio era jornaleiro ou ganhão, ou seja, trabalhava ao dia, geralmente na agricultura, hoje, poderíamos dizer que era um freelancer. Assim, o meu tio tinha que estar na «venda», pois era o local onde podia encontrar quem necessitasse dos seus préstimos. Nos últimos tempos tenho-me lembrado muito desta história, porque eram uns tios de quem eu gostava muito, e nesta altura do ano, quando era criança, era comum as idas à praia com um valente picnic. A outra questão é a minha visão cada vez maior que já não é só em casa que nos caem osgas e porcas-saras, o Algarve hoje também é ALGARVE INFORMATIVO #260
um local onde nada acontece. Para que algo aconteça, temos que sair ir à procura da nossa «venda» onde possamos encontrar oportunidades de fazer coisas. O Algarve não tem poder para tomar qualquer decisão, quem manda é sempre Lisboa, um técnico em Lisboa tem mais poder que alguém que foi eleito pelo seu município ou pela sua região. São esses técnicos que decidem o que se pode ou não fazer no Algarve entre uma bica e um pastel de Belém, sem grandes preocupações ou reflecções, apesar de termos bons eleitos a tentar que as coisas mudem, mas Lisboa não deixa que nada mude. A nossa atividade económica, para além do turismo e construção – e ainda bem que a temos – não passa disso. Sempre que se pensa em algo diferente, ou não pode ser feito por mil limitações, ou não se deixa que se faça por inveja. O turismo e a construção funcionam porque os clientes nos chegam sem pedir licença e a máquina burocrática está feita para que funcione, pois só assim se alimenta uma classe que nunca fez nada, mas vive de vender favores para que o restaurante possa abrir, para que o bar encerre mais tarde, para que o 116
hotel possa ter mais uns quartos. Mas, mesmo assim, esta máquina já foi tomada em muitos casos por Lisboa, se não vejamos os estabelecimentos de diversão que abriram como cogumelos no que era um Verão Algarvio normal, para gáudio de alguns e desespero de quem trabalha por aqui o ano todo. O resto da atividade que não vive alicerçada no turismo ou construção, vive muito à custa do Estado, basta ver as receitas das empresas vindas do setor público. Nada contra, mas, no mínimo, é estranho quando são sempre as mesmas ano após ano. Será que mais ninguém vende o que eles vendem? Parece-me que existe algum cartel em algumas atividades. Não é necessário olhar para os escândalos nacionais, bancos, combustíveis ou operadoras de telecomunicações, basta consultar quem vende para o Estado no Algarve e depois logo me dizem se não existe cartel. Acredito que no resto do país também, mas, como Algarvio, as minhas dores estão aqui. Os técnicos de Lisboa não deixam o Algarve crescer e localmente não existe força para que as coisas mudem, pois, 117
como disse, a máquina burocrática está oleada para o que sempre se fez. A vinda constante do Presidente Marcelo não é mais que essa demonstração, parece que não conseguimos ter ideias próprias, tem que vir o pai da pátria falar com os campesinos para que possamos ver a luz. Espero que estas vindas semanais pelo menos sirvam para mais que promover a nossa gastronomia. Temos bons profissionais localmente, temos bons técnicos públicos, temos bons políticos, ou seja, somos bons. Até quando vamos estar reféns da decisão de um técnico da centralidade, que o que conhece do Algarve é o que se passa em agosto e acredita que quem cá vive, está de férias todo o ano . ALGARVE INFORMATIVO #260
OPINIÃO Antes muerta que sencilla Mirian Tavares (Professora Universitária) “A mim que desde a infância venho vindo como se o meu destino fosse o exato destino de uma estrela apelam incríveis coisas: pintar as unhas, descobrir a nuca, piscar os olhos, beber”. Adélia Prado amiga pergunta, na sua timeline do Facebook, se fica melhor loura ou ruiva. E cai-lhe em cima a patrulha ideológica – imagina, falar de cabelos na ápoca em que vivemos. E eu fico furiosa. Porque nada me enfurece mais que esse moralismo parvo que tomou conta de nós. Ninguém me pode roubar o direito à futilidade, porque o contrário de fútil é útil e recuso-me a ser reduzida à dimensão da utilidade. Eu sou eu e as minhas incertezas, unhas feitas, causas, sobrancelhas arranjadas, medos. Não me venham cobrar vigilância e coerência 24 horas por dia todos os dias. Não tenho de estar, constantemente, abraçada a causas ou a justificar-me.
faz de tudo uma questão moral. Que culpabiliza tudo e todos”. As redes sociais, que podem ser lugares de afetos, são também o lugar do controlo. São dispositivos de confirmação e de vigilância. Giorgio Agamben faz uma releitura do conceito de dispositivo, de Michel Foucault, ressaltando a importância da precisão terminológica. O que é, afinal, um dispositivo? O dispositivo não é um aparelho ou um evento discursivo. Não é um edifício nem uma proposição filosófica, é, em suma, a rede que estabelece um diálogo entre todos estes sistemas, reais e virtuais, e que tem um papel estratégico relacionado sempre com uma vontade de poder. E muitos usam esse dispositivo para vigiar e punir. Imbuídos da nova moral baseada nos velhos costumes.
Bernard-Henry Lévy disse, recentemente, que estamos numa época “particularmente moralista. Que
Um amigo espanhol disse-me um dia: antes muerta que sencilla! Reconheço que sou vaidosa. A minha mãe era uma
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Foto: Victor Azevedo
mulher muito vaidosa. Aos 80 anos voltou a usar pulseiras e explicou: assim as pessoas olham para as pulseiras e não para a pele sem elasticidade do braço. A mãe de um amigo sofreu de Alzheimer e a última coisa de que se esqueceu foi do número do seu cabeleireiro. Ambas eram mulheres cultas e inteligentes, que passaram por muito, mas que gostavam 119
de se ver bem ao espelho. Não me empunhem bandeiras nem me obriguem a abraçar causas, pois eu abraço as que quiser. E não me venham com discurso moral de pacotilha – o mundo não está bem, disso sabemos todos. O que não nos impede de tentarmos ficar um bocadinho melhor . ALGARVE INFORMATIVO #260
OPINIÃO Do Reboliço #96 Ana Isabel Soares (Professora Universitária) o tempo em que vivia o moleiro, já descansado das moengas do Moinho Grande, mas não das rodas em que sempre anda o pensamento, gostava de passar horas a vigiar o céu e a reconhecer as carreiras dos aviões. Dias havia em que era um corrupio: passavam para Norte, passavam para Sul, deixavam de branco traçado o azul, quantas vezes se enchia lá o cimo com as patas prolongadas dos Xis, giz naquela ardósia leve, cruzou um, cruzou outro, sem se cruzarem na passagem, mas no passado de um o presente do outro, e as marcas deixavam inscritas, que de cá de baixo o moleiro as visse. Ele lá as via, analisava, registava: em havendo quem o escutasse, algum neto, algum moço dos do vizinho, relatava: “Aquele é o das nove e meia: vem de Lisboa, vai para a América. Ali passou o que veio do Porto e foi para Faro: Sabe que um filho meu trabalha em Faro?”, misturava ele, entre a fantasia das muito verosímeis rotas que achava para as aeronaves. As que mais o fascinavam eram as da aviação comercial: outras também as conhecia bem: mais miudinhas, voavam mais baixo, a qualquer hora do dia, às vezes já de noite, e não eram regulares como as ALGARVE INFORMATIVO #260
grandalhonas. Saíam da Base Aérea, onde tinham começado operações ainda antes de 1970 (o ano em que, num só mês, o moleiro teve duas netas e um neto e a borrega lhe pariu seis borreguinhos) e andavam ali em volta, ou lá uma vez por outra desapareciam da vista. Eram avionetas alemãs, quase todas de instrução. Uns anos depois, começaram a ser mais frequentes as de lançamento de adubos ou outros químicos para as culturas da vizinhança. Tudo apreciava o moleiro, nas horas em que saía da casa para fazer companhia ao moinho – não se convencesse ele, por deixar de ter grão entre as pedras, que o tinham abandonado. Entrava no piso térreo e lá de dentro tirava um banquinho de campanha (dois aros retangulares de metal, que abria noutro Xis, o assento uma tela prendida de cada lado, de cotão como era o cotão das velas). Sentado, o cajado para apoiar o queixo, chapéu na cabeça, ali fincava as botas, do lado da sombra – o Reboliço, já se sabe, escolhia o lugar ao lado do velho, o lombo a acastanhar a cal da torre, e seguia com os caninos olhos o par de olhos humanos que tinha por cima. Fosse hoje, entreter-se-ia o moleiro menos com os aviões e ficaria, calado, a espantar-se com a carreirinha 120
Foto: Vasco Célio
ininterrupta de carros na estrada. Volta não volta até se abria uma estrada nova, ou se retomava um caminho, como foi o caso do que agora leva até à nova praia, na albufeira dos Cinco Réis: já o sol se pôs e ainda se vê virem da pândega estival os faróis acesos, uns atrás dos outros, pelo curso que antes era o caminho de ferro do Algarve. “Olha, ali vem mais um”. O Moinho Grande fica junto a uma das rotundas que distribuem trânsito para muitos lugares diferentes: para Lisboa, para Évora, para Espanha: seja de dia, seja de noite, carrinhas e camiões são o que mais passa ali – mas o maior ruído é o das 121
motas de cilindrada alta e o das sirenes das ambulâncias, dos carros de bombeiros, dos carros da guarda ou da polícia. Devagar, mas levantando o pó das terras na berma da estrada, passam tratores. Vai tudo num afã que deixa zonzo o bicho e deixaria o moleiro estafado de os olhar. “Que andará aquela gente a fazer, que parecem as formigas, agora para diante, agora para trás, a levar cargas de um lado para o outro, canseiras, canseiras, canseira” . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. Escrevo a partir desse olhar canino. ALGARVE INFORMATIVO #260
OPINIÃO Eu sei lá - Radiografia de uma canção Adília César (Escritora) árbara Tinoco nasceu em Lisboa em 1998. Em 2018 vimo-la nas provas cegas do The Voice Portugal, onde cativou o júri e o público cantando uma canção de sua autoria, depois de saber que não tinha superado a prova. A perseverança autodidacta da encantadora Bárbara na actividade musical a nível da composição, execução e interpretação, desde os treze anos (guitarra e canto), aliada aos actuais estudos superiores de Ciências Musicais, fazem adivinhar um futuro promissor no meio artístico. Força de vontade, estudo, talento – Bárbara Tinoco tem tudo para ser um caso de sucesso, estando já marcados dois concertos para o mês de novembro de 2021 nos míticos Coliseus dos Recreios de Lisboa e do Porto. Este é o tempo de Bárbara, que já conta com mais de sessenta e dois mil seguidores no Instagram, na sua maioria jovens. As estações de rádio passam frequentemente canções suas que eu ouço com prazer. E, todavia, há algo que me incomoda na canção Eu sei lá: Eu sei lá, em que dia da semana vamos/ Sei lá, qual é a estação do ano/ Sei lá, talvez nem sequer queira saber/ Eu sei lá, ALGARVE INFORMATIVO #260
porque dizem que estou louca/ Sei lá, já não sou quem fui sou outra/ Sei lá, pergunta-me amanhã talvez eu saiba responder. E eu juro, eu prometo e eu faço, e eu rezo/ Mas no fim o que sobra de mim?/ E tu dizes coisas belas, histórias de telenovelas/ Mas no fim tiras mais um pouco de mim/ Então força leva mais um bocado/ Que eu não vou a nenhum lado/ Leva todo o bom que há em mim/ Que eu não fujo, eu prometo, eu perdoo e eu esqueço/ Mas no fim o que sobra de mim? Mas tu sabes lá, das guerras que eu tenho/ Tu sabes lá, das canções que eu componho/ Tu sabes lá, talvez nem sequer queiras saber/ Mas tu sabes lá, da maneira que te amo/ Tu sabes lá, digo a todos que é engano… Longe de ousar fazer qualquer tipo de censura à actividade criadora de Bárbara Tinoco, que nem sequer se justifica neste caso, não posso deixar de comentar a natureza do amor que envolve a protagonista numa canção que é bonita por fora, mas que se a olharmos por dentro vemos qualquer coisa que não bate certo, como uma discrepância nos valores considerados adequados para os relacionamentos humanos. Há uma mulher. Diz que ama e perdoa. Não vai a lado nenhum, apesar do seu parceiro estar a contribuir para a desconstrução 122
fatídica do seu eu interior, uma vez que ela é capaz de dar tudo por amor e nada receber em troca. Em suma, ela dá todo o bom que possui e o parceiro vai retirando bocados. O refrão insiste no processo destrutivo da mulher e finaliza com a pergunta crucial: Mas no fim o que sobra de mim? Olha Bárbara, eu sei lá. O que eu sei é que a violência no namoro e no casamento ainda está muito longe de ter fim. Não sendo um fenómeno implicado directamente pelas canções que ouvimos, também é verdade que Eu sei lá induz em erro e implica um estado de rendição ao inadmissível. Já se percebeu que é uma bonita canção, mas também é preciso implicar o poder de uma lírica na intervenção social, no sentido de alterar essa rota humana tão ameaçada pela violência psicológica. Mais do que fazer 123
perguntas é preciso ter a coragem de dar as respostas. E voltamos sempre ao círculo vicioso e desgastante da natureza do amor. Na verdade, só amar não basta: é preciso amar e ser amado. É preciso cantar bem alto a reciprocidade do amor. E não permitir que alguém leve de nós, mulheres, o bocado que nos resta . ALGARVE INFORMATIVO #260
OPINIÃO Como ser um influenciador digital Fábio Jesuíno (Empresário) proliferação dos meios digitais veio mudar a forma como comunicamos em sociedade para sempre, resultando numa transformação de comportamentos de compra e consumo. A evolução tecnológica, em particular a Internet, veio permitir o acesso rápido e em grande escala a todo o tipo de informação, criando necessidade de haver filtragens, que podem ser por meio de motores de busca ou nas redes sociais através da partilha de conteúdos e opiniões dos seus utilizadores.
O que são influenciadores digitais? Os influenciadores digitais são pessoas, personagens ou grupos que ganharam grande popularidade nas redes sociais. Estes influenciadores criam uma grande variedade de conteúdos que acabam gerando um número de fãs que seguem as suas atividades com grande interesse e eventualmente partilham com outras pessoas.
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Estas celebridades digitais destacam-se pela criação de conteúdos criativos para os seus blogs e nas redes sociais que atingem diversos públicos e que normalmente falam sobre temáticas genéricas, como a sua própria rotina diária. Ser influenciador digital está ao alcance de qualquer um, é uma profissão com grande crescimento em termos mundiais e Portugal não é exceção, comprovando isso é o crescimento do recurso ao marketing de influência, sendo muito procurada pelas empresas, principalmente em nichos de mercado muito difíceis de alcançar. Um influenciador digital não se resume unicamente ao elevado número de seguidores, havendo influenciadores com comunidades pequenas de fãs que são muito relevantes em determinados nichos de mercado.
Como ser um influenciador digital? Para ser um influenciador digital, o primeiro passo é estudar as melhores formas de comunicar nas redes sociais e sobre a temática que será abordada nos seus conteúdos. Segundo passo é definir 124
uma estratégia focada no mercado alvo que será alcançado. O terceiro passo é escolher os meios, seleção das redes sociais e utilização de blog ou web site. Ser um influenciador digital é demorado, no início é importante haver criação de conteúdos de grande qualidade e que sejam relevantes para o público alvo, de forma a criar uma comunidade que se interesse e que interaja. Devem sempre apostar na originalidade e criatividade, de forma a se destacarem na multidão. Ser muito persistente vai ajudar muito na fase inicial, onde os resultados podem ser menos animadores. Devem criar parcerias com outros influenciadores que estejam na mesma área de forma a conseguirem juntos chegar a mais pessoas.
A importância dos influenciadores digitais! Os influenciadores digitais estão entre os elementos decisivos no momento de 125
uma compra, permitindo uma aproximação entre uma marca e o seu público alvo. Vários estudos demonstram que a maioria dos consumidores utiliza as redes sociais como guia nas decisões de compra, o que torna os influenciadores digitais mais importantes neste processo .
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OPINIÃO O Interior, prioritário, mas esquecido João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) momento é agora. A oportunidade é única. Como vulgarmente se diz no seio da astronomia, «os astros estão alinhados». E, como tal, sendo a ocasião rara, tem ser aproveitada. As circunstâncias que ditam hoje importantes mudanças ao nosso estilo de vida e que irão orientar os modelos de desenvolvimento das sociedades no futuro próximo, focam, directa ou indirectamente, os territórios do interior (ou de baixa densidade) com particular relevância, sob vários desígnios e perspectivas, sejam de natureza ambiental, económico, social ou cultural. Não há no presente momento um plano ou uma estratégia em vigor - ou em elaboração - que não reconheça no Interior um papel determinante nos objectivos a alcançar ou na mudança de paradigma de desenvolvimento a imprimir. Veja-se o caso da habitação. Com a crise da covid-19 e o crescimento do teletrabalho, a procura por casas no campo, em locas seguros e tranquilos, aumentou significativamente. Os dados das imobiliárias assim o confirmam. Não é apenas para a busca de ambientes rurais e naturais. É também pelo acesso a moradias de maior dimensão, a preços mais reduzidos - comparativamente aos ALGARVE INFORMATIVO #260
das cidades - ou na obtenção de um estilo de vida mais saudável. A agricultura tem aqui um contributo também ele singular. A procura por produtos locais, distribuídos em circuitos de proximidade, biológicos ou tradicionais, é um aspecto que ganhou mais relevância neste período de pandemia e que motivou um olhar renovado para esses espaços outrora esquecidos e ignorados. O combate às alterações climáticas é outro exemplo deste peculiar momento. Que território mais estratégico para contrabalançar todos os impactos da actividade humana sobre o clima que não o Interior? As cidades - como referi no artigo anterior - têm igualmente um papel estruturante, até porque é aí onde se desenvolve a grande maioria da actividade causadora das emissões carbónicas. Mas é no interior onde ainda se preservam e podem revitalizar grandes áreas florestais ou onde se estão a instalar centrais de energias renováveis (ex. solares e eólicas). É também ali onde nascem os rios que nos fornecem o tão precioso recurso Água, hoje sujeito a tão especial atenção e preocupação. A estratégia europeia para a conservação da biodiversidade tem igualmente um foco especial nestas regiões. Espécies como o Lince-ibérico, a Águia-imperial ou o Lobo-Ibérico, símbolos nacionais da nossa fauna 126
silvestre, habitam nesses territórios, juntamente com centenas de outras que devem ser salvaguardadas. O turismo de natureza, que busca precisamente estas e outras singularidades da nossa biodiversidade, tem no interior o maior terreno de expansão. E este é um sector que nos próximos anos é visto como prioritário. Basta consultar o recente relatório de António Costa Silva («Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030») e o que refere na componente «Cultura, Serviços, Turismo e Comércio», ou ainda o «Plano de emergência social e económico para o Algarve» no ponto 9. Ambos identificam esse segmento turístico enquanto actividade de elevado potencial e de urgente reforço. Ora, tendo o Algarve um litoral esgotado (na sua maioria), massivamente ocupado e fortemente transformado, onde está esse potencial de desenvolvimento? No Interior, claro. Como facilmente se percebe, os territórios de baixa densidade não são meros apêndices de uma região dita desenvolvida (e hoje caída em desgraça). Ou simples espaços para touring de fim de semana. São centrais e fundamentais para o futuro sustentado do Algarve. Em todos os capítulos inscritos nesse desejado objectivo. E se assim é, coloca-se a pergunta: o que estamos a fazer por esse interior, além de o estar a conduzir a um quase despovoamento irreversível e ao abandono geral? Deixo a resposta ao caro leitor. Por fim, uma nota de curiosidade final sobre o já referido plano de recuperação económica de Portugal, no que à coesão territorial se refere. O autor destaca 127
vários exemplos de cidades e regiões que estão a percorrer um caminho interessante no combate às assimetrias territoriais. Destaca também o potencial de desenvolvimento em torno de diversos aspectos, nomeadamente da mobilidade inteligente, transição energética, inovação biomédica, termalismo, do turismo de natureza, entre outros. Sobre o Algarve, um total silêncio. Não há um projecto ou iniciativa que mereça especial menção no documento. Nem sequer uma pista orientadora. Poderá dever-se a uma inerente necessidade de resumo. Ou então por não se reconhecer na região um projecto ou iniciativa, de médio e longo prazo, planeada para estes territórios. Eu inclino-me mais para esta opção. E o leitor? .
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OPINIÃO Os 10 mandamentos do Cozinheiro Profissional - Parte II Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) – Rentabilização do tempo É obrigatório que o cozinheiro faça com que o seu trabalho seja rentável e a sua produção, financeiramente lucrativa, já que a rentabilização do seu tempo aumenta a eficiência, logo, a produtividade. Quando falamos em tempo de trabalho, falamos em usá-lo da melhor forma, em não o desperdiçar, visto que tempo é dinheiro, sem entrar filosoficamente no porquê da frase. E se tempo é dinheiro, usando-o a meu favor, estou a valorizar o meu trabalho, a dar um valor. Podemos ainda dizer que – O valor do tempo de trabalho é igual ao volume de trabalho e à qualidade do mesmo. Ao contrário de algumas profissões e às recomendações de alguns especialistas na utilização do tempo, a Cozinha é o local onde se pode e deve fazer várias coisas ao mesmo tempo, desde que impere a ética profissional do fazer bem. Dando um exemplo, um profissional pode, ao mesmo tempo, estar a cozer batatas, a branquear legumes, a assar uma proteína, a fazer ALGARVE INFORMATIVO #260
um estufado, a colocar alimentos em vácuo, a fazer um guisado e a fazer um molho. E conseguirá ainda, dependendo do quê, fazer algo mais. E pode/consegue fazer isto ao mesmo tempo, porque, primeiro, são coisas que se conseguem produzir em diferentes tempos e, segundo, porque dispõe de máquinas que o ajudam a fazer. Já não conseguiria fazer ao mesmo tempo, por exemplo, cozer batatas, grelhar peixe, saltear legumes, fritar batata palha, porque, apesar de continuar a dispor de máquinas, aquelas operações requerem um tempo e atenção precisos. Para os menos habituados, ajudará escrever um roteiro de trabalho, antes de iniciar a produção. Devemos sempre iniciar o trabalho, executando a tarefa que demora mais tempo, e em último aquela que necessita de menos tempo, mas mais precisão. Outra questão que se prende com uma boa utilização dos meios técnicos da cozinha e rentabilização da ementa na sua confecção, é a capacidade técnica de compor uma Ementa que possa ser confecionada utilizando todos os meios/fontes de calor existentes – fogão, forno, fritadeira, grelha. Exemplificando, se uma cozinha dispõe 128
das quatro equipamentos/fontes de calor e é composta maioritariamente de salteados, está errado, pois não haverá rentabilização do trabalho, a demora na confeção será maior, a insatisfação do cliente aumentará e a produtividade dos empregados diminuirá. 6 – Um caminho sem atalhos Aposte em si, primeiro. Faça uma revisão escrita do que gosta realmente de fazer, onde se manifesta mais o seu prazer. Na Cozinha ou na Pastelaria? A fazer Cozinha regional, ou internacional? A valorizar o que é local, numa Cozinha de autor ou a fazer uma Cozinha de fusão? Morrer na praia, ou interromper um processo pode não ser mau, se no final o foco for fazer sempre o melhor, trilhando o mesmo caminho. Nem todos podem ser Chefes. O bem mais precioso de uma cozinha é um profissional focado. Devemos ser sempre bons artesãos, uns serão criativos, outros reprodutivos, mas excelentes executantes. Da mesma forma se deve agendar um determinado dia/hora para receber vendedores, pois a conversa dispersa que se gera só fará com que a qualidade e a quantidade de produção sejam menores. 7 – Menos é mais ou o Bom é inimigo do óptimo Uma boa ementa não tem que ser grande, pois corre o risco de ser grande, 129
mas não grande coisa. Uma boa gestão do tempo, aliada à existência dos equipamentos, será sempre mais. Eu aprendi à minha custa, que o bom é inimigo do ótimo e esta frase pode até parecer contraditória, se não a entendermos. Eu não a entendi da primeira vez que a ouvi, de um amigo, no meu primeiro projecto. Já o filósofo e escritor francês, Voltaire, uma das proeminentes figuras do iluminismo, século XVII, dizia – “Não deixe o perfeito ser inimigo do bom”. Na cozinha, como em tudo, arrisque, não deixe de fazer, só por entender que nunca ficará bem. A prática traz a perfeição, lembre-se. Não espere conseguir altura ou o saber ideais para fazer algo, pois elas podem nunca chegar e você terá perdido oportunidades de ouro. Mas atenção, arrisque, sabedor dos riscos e da sua quantidade e ainda do grau de eficiência do que se prepõe fazer . ALGARVE INFORMATIVO #260
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #260
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