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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 5 de setembro, 2020

A COUDELARIA CASA MIRANDA DE IRIS E JOÃO PEDRO CINETEATRO LOULETANO E FOLHA DE MEDRONHO APRESENTAM NOVAS TEMPORADAS ALGARVE INFORMATIVO #263 JORGE PALMA, RICARDO RIBEIRO E CAMALEÃO AZUL EM TAVIRA | «CAMADA» NASCE EM FARO 1


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36 - CAMADA - Centro Coreogrรกfico abre em Faro

62 - Folha de Medronho apresenta nova temporada ALGARVE INFORMATIVO #263

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OPINIÃO 108 - Paulo Cunha 110 - Ana Isabel Soares 112 - Adília César 114 - João Ministro 118 - Nuno Campos Inácio 120 - Augusto Pessoa Lima

16 - Coudelaria Casa Miranda

48 - Nova temporada do Cineteatro Louletano

74 - Ricardo Ribeiro e Jorge Palma no «Verão em Tavira» 11

98 - Camaleão Azul em Tavira ALGARVE INFORMATIVO #263


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DEPOIS DO SUCESSO DA EQUIPA DESPORTIVA, JOÃO PEDRO E IRIS CRIAM A COUDELARIA CASA MIRANDA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Lusitanus Miranda Dressage Tream ALGARVE INFORMATIVO #263

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dvogado de profissão, mas apaixonado pelos cavalos desde tenra idade, João Pedro Miranda abriu-nos as portas da Coudelaria Casa Miranda, no Algoz, concelho de Silves, em plena preparação da Lusitanus Miranda Dressage Team para mais uma final do Campeonato Regional de Dressage, que tem lugar, no dia 27 de setembro, em Vilamoura. Mas, antes de avançarmos para a vertente competitiva, a conversa teria obrigatoriamente que começar pela criação da nova coudelaria. “Não era

um sonho daqueles que tínhamos muita pressa em concretizar, mas era algo que estava implícito em todo o percurso que eu e a minha ALGARVE INFORMATIVO #263

esposa Iris vínhamos fazendo há largos anos. Somos ambos profissionais de equitação e, mais do que ninguém, gostamos de sentir bons cavalos, a sua funcionalidade e montabilidade, o seu caracter. Em 2019, adquirimos uma égua com uma linhagem muito interessante e já tínhamos comprado outra, em 2018, da qual nasceram, no ano passado, uma poldra e um poldro. Foram os primeiros a levar o ferro da Casa Miranda”, conta o entrevistado, acrescentando que a nova égua também já foi «enchida» em 2020. “Se

tudo correr bem, em 2021 teremos mais três produtos da nova coudelaria, ficamos com 18


cinco, que já é um número considerável”. A cereja no topo do bolo para o casal seria conseguir montar, numa competição, um cavalo da sua criação, um percurso que está agora no início com o «enchimento» das éguas, uma ciência que, embora esteja bem mais evoluída do que no passado, não é exata, alerta o treinador de equitação e juiz nacional de provas. “A genética é algo muito

complexo e não há garantias de que uma égua boa engravidar de um cavalo bom se traduza num poldro bom. Nós temos a vantagem, enquanto cavaleiros, de possuir um

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melhor conhecimento daquilo que um cavalo nos pode dar no que toca à montabilidade. Depois, perante as características das nossas éguas e da sua linhagem, tentamos arranjar garanhões que preencham as suas eventuais lacunas físicas e psíquicas, em termos de tamanho e andamento, para sair um produto o mais perto possível do que gostaríamos de obter”, explica, recordando que, tanto ele como a esposa Iris, há mais de duas décadas que competem profissionalmente e dão consultadoria a coudelarias.

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Ora, se as rotinas do dia-a-dia não se terão alterado muito com o surgimento da Coudelaria Casa Miranda, é óbvio que ter o seu próprio «ferro» é diferente, daí um maior entusiasmo em tentar trazer para a casa produtos que sejam desportivamente aptos e também comercialmente apetecíveis para o mercado. Todavia, João Pedro Miranda deixa outro aviso, ser bom atleta e treinador não é sinónimo de ser um criador de sucesso. “A profissão de ALGARVE INFORMATIVO #263

cavaleiro é bastante absorvente e, para se ser criador, é preciso ter tempo para ir ver cavalos. Já para não falar das infraestruturas necessários, campos e paddocks onde os cavalos se possam desenvolver”, indica, adiantando que, neste cenário, 60 a 70 por cento dos criadores em Portugal acaba depois ter um cavaleiro que depois dá sequência aos produtos que criam, para lhes dar visibilidade em 20


Foto: Rita Fernandes

competições e apresentá-los em feiras com objetivos comerciais. O timing certo para avançar para a concretização do sonho deu-se, então, em 2019, e o casal não hesitou, porque os anos também vão avançando e qualquer projeto de criação de cavalos terá sempre que ser pensado a médio e longo prazo.

“As duas éguas foram «cheias» este ano, terão poldros em 2021, que ficam três anos a campo, ou seja, só 21

em 2024 é que vamos iniciar o trabalho com eles. Depois, há que conhecer o cavalo e verificar se tem facilidade em aprender. Só daqui a cinco ou seis anos é que conseguiremos saber se o produto que criamos tem condições de montabilidade e, se assim não for, correções ao processo terão que ser feitas”, relata João Pedro Miranda, lembrando que o clique para tudo isto foi a lesão ALGARVE INFORMATIVO #263


de uma égua com que normalmente participavam nos campeonatos. “Como

ela ia ficar parada temporariamente, aproveitamos esse interregno desportivo para tirar o primeiro produto com um cavalo que entendemos ser muito interessante, o Rubi, que foi aos Jogos Olímpicos e obteve uma classificação fantástica, montado pelo cavaleiro Gonçalo Carvalho. O ano passado compramos então a segunda égua, que tinha boas características para a nossa coudelaria, com uma linhagem muito boa, com vários garanhões recomendados pela Associação

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Puro-Sangue Lusitano na sua ascendência”.

UM PROCESSO RIGOROSO, ARRISCADO E MOROSO Os Puro-Sangue Lusitanos serão a prioridade de João Pedro e Iris Miranda, mas o casal cruzou este ano uma égua de raça warm blood com um cavalo lusitano, que dá origem ao chamado lusitano sport, muito em voga nos tempos correntes. Uma experiência que só mais tarde se verá ter sido ou não bem-sucedida, porque, convém dizer novamente, estamos perante um negócio com bastantes incertezas e que exige um investimento avultado, ainda que menos pesado do que no passado, reconhece o 22


entrevistado. “Hoje em dia, com o

avançar da tecnologia e com os meios veterinários que os criadores têm ao seu dispor, podemos usar sémen de garanhões de outras coudelarias para «encher» as éguas da nossa coudelaria. Há uns anos, tínhamos que comprar também um ou dois garanhões, agora, basta-nos adquirir as éguas. O esforço financeiro é menor, mas o risco continua a ser elevado”, indica João Pedro Mirando, dando o exemplo de uma égua que «encheram» em 2019 e cuja poldra nasceu morta. Menos incerto tornou-se, entretanto, fazer o casamento certo entre égua e poldra, uma vez que existe a Associação Puro-Sangue Lusitano, na qual estão cadastrados todos os garanhões desta raça, que passam por exigentes testes de passo, trote e galope, recebendo notas na morfologia e montabilidade. “O

cavalo é aprovado, ou não, com uma determinada pontuação, que é sempre subjetiva, mas tudo isso ajuda os criadores. Temos ao nosso dispor toda a base genética e histórico dos garanhões, assim como a sua pontuação para a parte morfológica e para os andamentos”, revela João Pedro Miranda, acrescentando que as éguas reprodutoras também carecem de aprovação da APSL para que os seus poldros possam ser considerados purosangue lusitanos. “O cavalo lusitano

só é puro se ambos os pais forem 23

lusitanos reconhecidos, não podemos inserir sangue de outras raças, caso contrário, passa a ser um cruzado”, esclarece. A pergunta que se segue é se, para um criador, é mais apetecível uma gravidez resultar num poldro ou égua, com João Pedro Miranda a responder que tudo depende dos objetivos da coudelaria. “Se a intenção é

comercializar os produtos, penso que o mercado absorve mais machos, mas não nos podemos esquecer da «Batuta», uma égua que deu cartas na Dressage e que foi vendida por um preço astronómico. Contudo, quando há interesse na genética de uma parelha, pode preferir-se ter uma égua na coudelaria que dê continuidade àquela linhagem”, explica, confirmando que há linhagens que também estão mais vocacionadas para determinadas modalidades desportivas do que outras. “No geral,

o cavalo lusitano tem mais aptidão, não só para a tauromaquia, mas também para a equitação de trabalho, onde somos muito fortes, com vários títulos europeus e mundiais. Nos últimos 15 anos, o cavalo lusitano começou também a dar cartas na Dressage, uma modalidade olímpica que em Portugal se chama equitação de ensino. Aliás, temos quatro cavalos lusitanos qualificados para os Jogos ALGARVE INFORMATIVO #263


Olímpicos de Tóquio”, destaca João Pedro Miranda. De acordo então com este apaixonado pela equitação, o Lusitano apresenta uma aptidão natural para o toureio e equitação clássica, mas também para as disciplinas equestres federadas como Dressage, obstáculos, atrelagem e, em especial, equitação de trabalho, encontrando-se no mesmo patamar que os melhores especialistas da modalidade.

“Não é pelo facto de Portugal ser o país principal desta raça que a torna ALGARVE INFORMATIVO #263

especial, mas sim toda a história que esta tem para nos contar, para além do seu aspeto físico fantástico, que o torna bastante útil e um verdadeiro orgulho de se ter. Há mais de cinco milénios que o Lusitano é montado, sendo o cavalo de sela mais antigo do mundo, com o primeiro reconhecimento a ser feito por gregos e romanos, que o consideram, inclusive, o melhor 24


cavalo de sempre. Ao longo dos séculos, o Lusitano foi um cavalo, não só de guerra, mas também de caça, e a sua versatilidade é bastante útil para qualquer pessoa que participe em competições”, assegura João Pedro Miranda. E se não estamos perante uma raça em perigo de extinção, visto que cada vez há mais exemplares, o advogado de profissão lembra que apenas existem cinco mil éguas vivas de momento, metade delas em Portugal. 25

CONCILIAR A CRIAÇÃO COM A COMPETIÇÃO O êxito da Lusitanus Miranda Dressage Team não significa, entretanto, que a Coudelaria Casa Miranda pretenda especializar-se na criação de cavalos vocacionados para esta modalidade, pois o primeiro objetivo é ter produtos colaborantes e funcionais. “Depois, se tiver

aptidão para a Dressage ou para a ALGARVE INFORMATIVO #263


equitação clássica, as nossas duas especialidades e paixões, tanto melhor. O importante é que, na base, esteja um cavalo colaborante, dócil, nobre, com três andamentos corretos e que se deixe ensinar”, salienta o entrevistado, admitindo que, no futuro, pode vir a ter uma dor de cabeça acrescida: vender um bom cavalo para ter um retorno financeiro do investimento realizado; ou mantê-lo na equipa para sonhar com patamares desportivos mais elevados. “É o

contante dilema dos cavaleiros que têm a sorte de montar cavalos com ALGARVE INFORMATIVO #263

uma qualidade acima da média, porque, mais cedo ou mais tarde, alguém vai demonstrar interesse em comprá-lo. Nesse momento, o cavaleiro terá que analisar a idade do cavalo, a sua condição física, o seu potencial desportivo e margem de progressão e, claro, a proposta financeira. Já o criador tem que pensar também na eventual continuidade que esse cavalo pode ter na coudelaria para dar sequência a alguma linha genética. Há que ponderar 26


calmamente os prós e os contras, mas é sempre uma decisão complicada”, reconhece. João Pedro Miranda declara ainda que o mercado está inflacionado no que diz respeito aos puro-sangue lusitanos,

“face aos resultados que têm alcançado, fruto do trabalho fantástico de criadores, cavaleiros, veterinários e tratadores”. “Como têm tido maior visibilidade nas pistas internacionais, o valor sobe, mas os preços variam bastante, consoante a linhagem, o histórico 27

desportivo, o nível de ensino em que se encontram. Muitos estrangeiros vêm a Portugal comprar puro-sangue lusitanos para lazer, equitação de trabalho e Dressage, portanto, um cavalo com tamanho, bons andamentos, boa linhagem e potencial desportivo, pode valer imenso dinheiro. Um bom poldro pode custar 30 ou 40 mil euros e, quando estão ensinados, podem ser vendidos por 75, 100, 200 mil euros, até mais”. ALGARVE INFORMATIVO #263


Cavalos de manhã à noite, assim é o diaa-dia de João Pedro e Iris Miranda, que têm a vantagem dos filhos demonstrarem também gosto pelo meio. E é com olhos postos na final do Campeonato Regional de Dressage do Algarve, a disputar-se em Vilamoura, que o trabalho da equipa se intensifica para fazer jus aos resultados obtidos em 2019. “Foi uma época

bastante longa, sobretudo pelos muitos quilómetros percorridos, pois competimos desde Alter do Chão à Companhia das Lezírias, passando por Cascais, Lisboa, ao nosso Algarve, mas alcançamos a ALGARVE INFORMATIVO #263

40.ª Medalha FEP e dois títulos nacionais”, diz, orgulhoso. Com uma equipa constituída por elementos de todos os escalões etários, no Campeonato Regional de Dressage do Algarve a debutante e Iniciada Matilde Miranda conquistou, com «Vogal», a Medalha de Prata e sagrou-se ViceCampeã Regional do nível Preliminar, para além de ter obtido a qualificação para a final com outro cavalo. A Iniciada Leonor Coelho, igualmente na sela de «Vogal», tornou-se Vice-Campeã Regional do nível Elementar, também ela no escalão de Iniciados. No seu ano de debute, a Juvenil Letizia Lopes sagrou-se, com o seu «Indigo», Vice28


Campeã Regional do nível Elementar e venceu a 1.ª Taça de Dressage – Cidade de Albufeira, para além de se ter estreado em Concursos Nacionais de Dressage e de ter obtido a qualificação para a Final do Campeonato de Portugal de Dressage Open. Nos seniores, Iris Miranda, na sela de «Garbo», tornou-se uma vez mais ViceCampeã Regional do nível Complementar e João Pedro Miranda competiu no nível Preliminar com o Puro-Sangue Lusitano «Indigo», sagrando-se Campeão Regional após um campeonato muito regular. “A

Júnior Mariana Garcia, com «Camel», realizou uma bela temporada e ficou muito perto do Bronze na Final. Já Tiago Gonçalves, este ano com uma nova montada, a exigente «Greenvale Quick Carla», efetuou uma época de – para +, 29

acabando por vencer a final, mas isso não foi suficiente para alcançar os lugares do pódio, tendo-se posicionado, no 4.º lugar da classificação geral. No Campeonato Regional de Dressage do Algarve, os nossos sete cavaleiros obtiveram uma Medalha de Ouro e cinco de Prata e os únicos não medalhados posicionaram-se no lugar logo abaixo do pódio”, resume João Pedro Miranda, não esquecendo, claro, a Iniciada Leonor Coelho, que, com o seu Puro-Sangue Lusitano «Biomundo», se sagrou Campeã de Portugal, ao vencer os três dias de provas do Campeonato Nacional disputado, em outubro de 2019, em Lisboa.

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O SONHO DE MONTAR UM CAVALO «CASA MIRANDA» Todas estas conquistas já seriam mais do que suficientes para se considerar a época da Lusitanus Miranda Dressage Team como fantástica, mas estiveram também presentes no Campeonato de Portugal de Dressage Open com as cavaleiras Iris Miranda e Letizia Lopes. “A

Letizia, com o seu «Indigo», competiu numa série muito disputada e difícil e, mesmo assim, conseguiu a qualificação para a final com um 8.º lugar, terminado o Campeonato Nacional do nível Preliminar na 9.ª posição. A Iris, nas rédeas do Puro-Sangue Lusitano «Garbo», também numa série bastante competitiva, alcançou a Medalha de Prata e sagrou-se novamente Vice-Campeã de Portugal, desta vez do nível Complementar, ficando muito perto do Ouro”, conta João Pedro Miranda. “Tem sido um trabalho árduo e absorvente, porque isto não é uma atividade na qual se possa tirar uns dias de folga ou ir de férias. Alguém tem que trabalhar os cavalos, fazerlhes a cama, dar-lhes comida. Mas, como é a paixão que nos norteia e guia, acabamos por nos dedicar a isto de uma forma natural. Apesar de ser cansativo, é desafiante e preenche-nos a vida de uma maneira incrível”, assume, sorridente.

Quanto ao futuro, quais são os sonhos e ambições da Lusitanus Miranda Dressage Team e da Coudelaria Casa Miranda, questionamos. “Na equipa, é

prosseguir com o trabalho que temos desenvolvido deste 2012. Na altura, o objetivo era divulgar e fomentar a Dressage no Algarve, penso que temos contribuído para isso, e queremos continuar a ensinar cavalos e a levar cavaleiros para as pistas. Depois, tendo em conta o potencial do conjunto, teceremos os objetivos para cada um”, responde João Pedro Miranda.

“Temos cavaleiros cuja ambição é renovar o título de Campeão Nacional, outros almejam ir ao Campeonato Nacional, outros à final do Campeonato Regional e atingir os lugares do pódio. Com alguns cavaleiros da equipa que estão a ter bons resultados no plano nacional há a ambição de, em 2021, conseguir qualificações para provas internacionais, realizadas em Portugal ou no estrangeiro”. Olhando para a Coudelaria Casa Miranda, João Pedro Miranda repete o que já disse anteriormente, o objetivo é criar cavalos funcionais, dóceis, generosos, nobres e que sejam colaborantes. “Se conseguirmos

agarrar neles e termos resultados ALGARVE INFORMATIVO #263

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desportivos, melhor ainda. Os sonhos passam por montar cavalos da nossa casa, poder competir com eles, que eles se destaquem e nos orgulhem, sejam nas nossas mãos ou de outros cavaleiros. Claro que gostaríamos de ter um cavalo nos Jogos Olímpicos ou no Campeonato da Europa e do Mundo, mas vamos seguir a par e passo, com calma, porque se trata de um caminho longo, percorrido com muita paixão e sacrifício”, frisa o entrevistado, não escondendo ainda o desejo do casal de que o negócio depois seja prosseguido pelos filhos. “A nossa filha Matilde é

vice-campeã regional, tem 11 anos e começou a competir em 2019. Nasceu praticamente no meio, 31

desde cedo que nos acompanha para as provas e espetáculos. Tem revelado aptidão e gosto, se vai continuar ou não, não sabemos. Naturalmente que, quando decidimos avançar para a coudelaria, foi também a pensar nos nossos filhos. E, à medida que eu e a Iris formos amadurecendo, vamos montar menos a cavalo e dedicar-nos mais à coudelaria, que também não pretendemos que seja muito grande. A ideia, para já, é ter dois ou três cavalos por ano e, a pouco e pouco, irmos melhorando as infraestruturas e explorar mais a criação”, finaliza João Pedro Miranda .

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CAMADA NASCE PARA DESENVOLVER AO MÁXIMO O POTENCIAL ARTÍSTICO DE QUEM GOSTA DE DANÇA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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briu as portas, no dia 2 de setembro, em Faro, o CAMADA – Centro Coreográfico, pelas mãos de Carolina Cantinho, Margot de Andrade e Maria Dias. A mais recente estrutura artística portuguesa vai dedicar-se à pesquisa, criação, produção e formação em dança, sendo a direção artística assumida por Carolina Cantinho e a direção pedagógica ficando a cargo de Margot de Andrade. “O CAMADA é um

espaço no qual acreditamos que todos podem desenvolver o seu máximo potencial enquanto pessoas e artistas”, começou por dizer Carolina Cantinho, que há cerca de 15 anos que é professora de dança contemporânea, intérprete e coreógrafa. A Diretora Artística da CAMADA vai assumir também as aulas de Dança Contemporânea e de Condicionamento Físico e tem, de facto, um currículo de excelência, tendo concluído, em 2012, o Mestrado em Criação Coreográfica Contemporânea, na Escola Superior de Dança de Lisboa. Desde então desenvolve o seu trabalho como coreógrafa independente, cocriando e interpretando os seus próprios espetáculos. Em 2017, foi convidada a coreografar para a companhia jovem Projecto Quorum, em Lisboa e, em 2019, a criar para os italianos do Opus Ballet, e para a AZul – Rede de Teatros do Algarve. No seu palmarés contam-se vários prémios de interpretação e coreografia em concursos internacionais, casos do «Most Innovative Choreography», na Dance World Cup ALGARVE INFORMATIVO #263

Bucareste, na Roménia, em 2015; o 1.º lugar no «Netherlands Choreography Competition», na Holanda, em 2017; e o «Best Choreography and Innovation Award» no VIBE, em Viena de Áustria, em 2019. O novo centro coreográfico situa-se no Alto de Rodes, em Faro, possuindo duas salas de ensino, numa área superior a 200 metros quadrados, e vem responder a um anseio de alguns anos de Carolinha Cantinho em ter uma estrutura própria que representasse as suas criações. Trabalhos que, no 38


Gonçalo Reis e Letícia Conduto durante a apresentação da CAMADA

passado recente, têm sido feitos em estreita colaboração com a irmã, Margot de Andrade, e com Maria Dias, pelo que a escolha das parceiras para esta aventura foi fácil de fazer. “Sempre

encontramos pontos comuns naquela que é a nossa visão para a dança e, este ano, decidimos dar um passo em frente”, explica Carolina, que foi bailarina, professora e coreógrafa residente na Companhia de Dança do Algarve desde a sua fundação, em 2002.

“Temos, em Faro, a CDA, uma grande escola que tem formado 39

imensas pessoas, e o CAPa, que faz um excelente trabalho de programação e traz vários artistas à região. A CAMADA pretende combinar a formação com a criação, feita por artistas algarvios ou que estejam estabelecidos no Algarve. Eu, por exemplo, fazia as minhas criações a título individual ou era acolhida por associações locais para esses projetos em concreto. A partir de ALGARVE INFORMATIVO #263


Margot de Andrade em «Maléfica»

agora existe uma estrutura própria especializada na dança e focada também na criação”, reforça a entrevistada. O corpo docente da nova estrutura conta com profissionais com experiência nacional e internacional em Dança Clássica, Dança Contemporânea e Hip Hop, mas terá também o complemento das disciplinas de Condicionamento Físico, Pilates Clínico (por Beatriz Gonçalves) e Yoga (por Nani Varela), para além de apoio de Fisioterapia, Nutrição e Psicologia. Juntam-se, portanto, os três estilos principais de dança, porque Carolina Cantinho entende que as danças urbanas podem ser uma mais-valia à tradicional formação de quem pretenda seguir dança clássica ou contemporânea.

“Acho que torna os bailarinos mais versáteis, dá-lhes outra musicalidade, coloca-os perante desafios diferentes. Nunca tive tempo para me formar nessa área, mas adoro o trabalho da Maria Dias, ALGARVE INFORMATIVO #263

uma professora que também comunica muito bem com os seus alunos. Já funcionávamos bem as três enquanto coreógrafas, de certeza que a nova estrutura também vai resultar”, acredita Carolina Cantinho. CAMADA que se vai dividir em três vertentes, nomeadamente a Formação, que pretende proporcionar a jovens bailarinos o seu desenvolvimento e transformação em artistas qualificados e conscientes; a Criação, em que um coreógrafo de renome e um artista associado da CAMADA irão trabalhar projetos com bailarinos profissionais e alunos da Formação Pré-profissional, sendo que o primeiro espetáculo será apresentado já em 2021; e o Acolhimento de um coreógrafo emergente e apoio à produção e divulgação do seu projeto de criação.

“A missão da CAMADA é proporcionar à comunidade em geral um maior acesso a 40


atividades artísticas, culturais e de formação, com o compromisso de contemplar um público variado. As atividades são dirigidas a iniciantes, estudantes de dança e das artes performativas, pesquisadores, profissionais da dança e interessados em geral”, indica, por sua vez, Margot de Andrade, que, para além da Direção Pedagógica, assumirá igualmente as aulas de Dança Clássica, Dança Criativa e Condicionamento Físico. Margot de Andrade que iniciou os seus estudos em Faro, na Escola da Companhia de Dança do Algarve, rumando depois para Amesterdão, na Holanda, para a Dutch National Ballet Academy, onde teve a oportunidade de trabalhar com coreógrafos internacionais como Jiri Kylian e Hans van Manen. Estagiou na Vortice Dance Company, na Companhia

Nacional de Bailado e no Dutch National Ballet e, em 2011, integrou a companhia de dança Ballett Kiel, na Alemanha, onde participou em bailados como «Nutcracker», «Swan Lake», «Romeo and Juliet», «Verdi Requium», «Three Sisters» e «Faust», sob a direção de Yaroslav Ivanenko, e ainda «Vor de Toer», de Natalia Horecna, e «Atys», com coreografia de Lucinda Childs. Regressada a Portugal, cocriou e interpretou «Ponto Zero» (2015), «Offline» (2016) e «Antifrágil» (2018) com Carolina Cantinho. Em termos de prémios de interpretação e coreografia em concursos internacionais, destacam-se, em 2019, o «Prix du Jury» e «Médaille d’or» no Concours International de Danse Principauté de Monaco, «Junior Outstanding Performance Grand Prix» no VIBE – Vienna International Ballet Experience e «Top 12 Ensemble» no Youth America Grand Prix, de Paris.

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Margot de Andrade e Maria Dias em «Antifrágil», uma criação de Carolina Cantinho

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Carolina Cantinho com Armando Correia e Pedro Pinto em «Diz-me, António!»

Conforme revelou Margot de Andrade na abertura da CAMADA, vão existir então quatro tipos de formação: a Pontual será dirigida à comunidade em geral para criação de novos públicos mais conscientes, através do contato com artistas de diversas áreas performativas, culturais e artísticas e seus processos criativos; a Regular está vocacionada para crianças, jovens e adultos que visam um conhecimento sólido nas disciplinas de dança, através de uma formação contínua de qualidade em Dança Clássica, Dança Contemporânea e Hip Hop, em combinação com outras disciplinas complementares; a Pré-Profissional destina-se a jovens com especial aptidão para a dança e que revelem interesse em preparar-se para uma carreira na dança, através de um treino diário e de um acompanhamento mais próximo do aluno, das suas aptidões, da sua visão, de forma a ajudá-lo a descobrir o seu percurso individual em que, a cada ALGARVE INFORMATIVO #263

semestre, é elaborado um plano individual de trabalho e são estabelecidas metas a alcançar (em articulação com o aluno e sua família); finalmente, a Profissional tem em mente os profissionais das artes performativas, de forma a complementar o seu treino regular, através de aulas semanais com professores convidados. Quanto a alunos, Carolina Cantinho afirma que Faro é uma cidade demasiado grande para ter apenas uma escola de dança e que é importante existir novas alternativas de ensino.

“Valores como a dedicação, responsabilidade, autodisciplina, reflexão independente e respeito mútuo estão no centro de todas as nossas atividades, a par de uma mente aberta, abordagem positiva, criatividade, sentido de humor, consciência e 42


determinação. Estas são as qualidades que consideramos essenciais para uma saudável aprendizagem nesta área e vamos focar-nos muito naquelas pessoas que ainda não sabem que gostam de dançar”, revela, adiantando ainda que o contato com artistas profissionais e os seus processos criativos também é fundamental para se criar novos públicos.

“Daí termos vários tipos de formação, tanto para aqueles que pretendem uma aprendizagem regular e continua, como para quem deseja apenas uma experiência pontual. Mesmo nós, profissionais de dança, professores e bailarinos, precisamos de aulas, de continuar a exercitar o nosso corpo. E essa oferta não existe no Algarve”,

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destaca Carolina, não escondendo a ansiedade de começar a ver as duas salas da CAMADA a fervilhar de movimento e energia e de se começarem a preparar as criações próprias da nova estrutura. “O que

temos em mente é fazer uma criação por ano, com alunos nossos ou com bailarinos profissionais, e combinando a dança clássica, a dança contemporânea e as danças urbanas. O hip hop tem vindo a contribuir para a evolução da dança contemporânea e vai ser um desafio engraçado descobrir como estes três corpos diferentes poderão dar origem a um espetáculo de dança contemporânea” .

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Algo de Macbeth

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CINETEATRO LOULETANO REGRESSA COM PROGRAMAÇÃO DE REFERÊNCIA A SUL Texto: Daniel Pina

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Cineteatro Louletano retoma, no início de setembro, a sua programação artística com propostas que refletem uma aposta ambiciosa, exigente e muito vincada na pluralidade musical, na integração do meio artístico louletano e da região, bem como um enfoque muito significativo nos seus cinco principais eixos estratégicos de programação: arte para a infância; cruzamento entre criadores locais e reconhecidas figuras do panorama nacional através de encomendas musicais; arte inclusiva através da dança contemporânea, com envolvimento ativo das IPSS’s locais; diálogos experimentais e multidisciplinares entre som/música e imagem, aliados a abordagens

ALGARVE BichosINFORMATIVO (Fórum#263 de Dança Inclusiva)

exploratórias em torno da arte sonora (festival Som Riscado); e uma auscultação artística de médio-longo prazo (numa visão que convoca o teatro e a fotografia) do território louletano no que toca às suas identidades, dinâmicas e devir sociológico. De salientar que o equipamento cultural propriedade da Câmara Municipal de Loulé apresentou, nos meses de maio, junho e julho, uma programação online de estímulo e apoio financeiro ao meio artístico local, a qual obteve um assinalável impacto e registou perto de 170 mil visualizações nas áreas da música e teatro/performance (envolvendo 15 artistas em nome individual e cinco estruturas associativas), além de mais de sete mil visualizações no campo do cinema (numa parceria com a associação algarvia «Plutão de Verão»

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Aldebarã

em torno do universo das curtasmetragens). A nova temporada do Cineteatro arranca com o ciclo «Implikação» e centrase numa reflexão pertinente e urgente em torno do fenómeno turístico e das consequências da covid-19 nessa área e no que está a mudar nas cidades. A 8 de setembro, pelas 18h, no Palácio Gama Lobo, o encenador Tiago Correia, a arquiteta Teresa Valente e o fotógrafo Filipe da Palma debatem esta temática, seguindo-se, a 12 de setembro, pelas 21h30, no Cineteatro, o primeiro espetáculo da temporada com a inquietante peça de teatro «Turismo», numa coprodução com o Teatro Municipal do Porto. No campo teatral, destaque ainda para as estreias nacionais de duas peças de estruturas profissionais sediadas em 51

Loulé: a Mákina de Cena com a criação «Dois perdidos no horror elíptico da sobremodernidade», a 26 de setembro; e a Folha de Medronho – Artes Performativas, com «As Primas de Godot», a 6 de novembro (ambas integradas na Bolsa de Apoio ao Teatro 2020 dinamizada pela autarquia louletana). A ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve também marca presença no palco do Cineteatro com a peça «Instruções para abolir o Natal» e o JAT – Janela Aberta Teatro apresenta «Algo de Macbeth», uma sátira sociopolítica do nosso tempo numa coprodução do Cineteatro com o Teatro das Figuras. Quanto à área musical, realce para a estreia absoluta no palco do Cineteatro, a 20 de setembro, às 19h, da banda da nova música portuguesa mais aclamada e premiada dos últimos ALGARVE INFORMATIVO #263


Cristina Branco

anos: Capitão Fausto. Igualmente imperdíveis são os concertos do Trio de Jazz de Loulé com Jorge Palma (celebrando o Dia Mundial da Música a 1 de outubro) e de Sofia Escobar com um ensemble de docentes do Conservatório de Música de Loulé – Francisco Rosado a 24 de outubro, ambos encomendas e integrando o ciclo «O Longe é Aqui». O ecletismo musical da agenda passa ainda por nomes como Cristina Branco (que faz a estreia nacional no Cineteatro do seu novo disco «Eva» após uma residência artística em Loulé em 2019), Tiago Bettencourt, Orquestra Clássica do Sul, Pedro Moutinho com Isa de Brito, 5.ª Gala dos Fadistas Louletanos, Tuna Universitária Afonsina de Loulé, Orquestra de Jazz do Algarve (com ALGARVE INFORMATIVO #263

convidado especial), MorTais e Stone Breaker, esta última com estreia nacional do seu primeiro disco «Hopes & Dreams» no ciclo «Ilustres Desconhecidos», no Auditório do Solar da Música Nova, a 7 de novembro. Destaque ainda para o Festival Jovens Músicos 2020, numa parceria do Município de Loulé com a Antena 2 e a RTP, que traz a sul dois projetos da nova música erudita com talentos musicais de elevado nível: Tomás Marques Quarteto e Quarteto Tejo, respetivamente a 23 e 25 de setembro. No que toca à dimensão multidisciplinar, entre 19 e 22 de novembro acontecerá o Som Riscado – Festival de Música e Imagem de Loulé, 52


Capitão Fausto

evento com um conceito inédito a sul do país e que mantém exatamente a mesma programação artística que estava inicialmente prevista e já anunciada, da qual constam os seguintes nomes: Surma com Camille Leon & Inês Barracha; os Drumming GP com Joana Gama, Luís Fernandes e Pedro Maia; Victor Gama com a Orquestra Clássica do Sul; Frankie Chavez & Peixe no projeto «Miramar», em 53

parceria com Jorge Quintela; a estreia nacional do primeiro disco do projeto algarvio «Grafonola Voadora & Napoleão Mira»; a nova criação dos Boris Chimp 504; a Sonoscopia; a Companhia de Música Teatral; e as bandas algarvias Kilavra, 2143, Mateus Verde e Heroin Holiday Big Band em colaboração criativa com alunos do curso de Imagem Animada da Escola ALGARVE INFORMATIVO #263


Do bosque para o mundo

Superior de Educação e Comunicação (ESEC) da Universidade do Algarve. Na oferta para a comunidade educativa, Marco Paiva apresenta a peça de teatro «Aldebarã» em contexto escolar, numa intervenção que inclui um atelier de expressão dramática para docentes e profissionais da área artística. A prestigiada Companhia de Música Teatral apresenta o projeto «Mil Pássaros», que irá envolver 10 jardins de infância do concelho de Loulé com performances, formação, instalações e espetáculo final durante os meses de outubro, novembro e dezembro, numa articulação inédita do Cineteatro com a comunidade pré-escolar louletana. A dupla Miguel Fragata & Inês Barahona traz a Loulé, em estreia absoluta a sul do país, a criação «Do Bosque para o Mundo», abordando a temática dos refugiados para os mais ALGARVE INFORMATIVO #263

novos e famílias, entre 9 e 14 de novembro. Em dezembro, de 7 a 11 de dezembro, numa coprodução do Cineteatro Louletano com o Centro Cultural de Belém, o espetáculo «Assim devera eu ser» (com um elenco de luxo: Catarina Moura, Sara Vidal, Celina da Piedade e Ricardo Silva) revisita a vida e obra de Amália Rodrigues no ano em que se comemora o centenário do seu nascimento, aqui a pensar no público pré-escolar, mais uma vez numa estreia a sul. Na dança, a 6.ª edição do Festival encontros do DeVIR – Resgate, uma organização do CAPa – Centro de Artes Performativas do Algarve, acontece a 18 de setembro e 9 de outubro com grandes nomes da cena nacional e internacional: Eduardo Fukushima (Brasil), Gregory Maqoma (África do 54


Encontros do Devir - Entre contenções

Festival Jovens Músicos - Tomás Marques Quarteto

Sul) e Francisco Camacho (Portugal). Já a realização do Fórum de Dança Inclusiva foi reagendada para os dias 1 a 4 de dezembro, marcando o início de uma colaboração regular com o renomado Grupo Dançando com a Diferença (sediado na Madeira), reflexo da estratégia programática do Cineteatro de 55

privilegiar esta área nas próximas temporadas, numa estreita articulação e envolvimento das instituições de cariz social do concelho de Loulé. A dupla Diletta Bindi e Sara Montalvão traz a Loulé o projeto «Sombras», uma coprodução do Cineteatro que revisita a dança contemporânea para a ALGARVE INFORMATIVO #263


Festival Jovens Músicos - QuartetoTejo

comunidade escolar, e, entre 27 e 31 de outubro, Loulé dedica uma semana aos 25 anos da Companhia Olga Roriz, com estreia a sul da nova criação «Seis meses depois», coprodução que o Cineteatro também integra juntamente com o Teatro Nacional D. Maria II e a Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. No cinema, o grande destaque vai para a XIII Festa do Cinema Italiano, que se realiza entre 13 e 15 de novembro, para além do «Filme Francês do Mês», numa parceria da autarquia com a Alliance Française Algarve, à segunda terça-feira de cada mês no Auditório do Solar da Música Nova. No que toca à rubrica regular «Conversas à Quinta», os convidados são o coreógrafo Rui Horta e a dupla Nuno Catarino e Márcia Lessa, esta última a propósito do seu livro «Improvisando – A nova geração do Jazz ALGARVE INFORMATIVO #263

português». A não esquecer ainda o ciclo de residências de apoio à criação artística nacional, que em 2020 envolve o coletivo composto por João Pedro Leal, Eduardo Molina e Marco Mendonça (teatro), Catarina Miranda (dança), Amarelo Silvestre (teatro), Pauliana Pimentel, Alex Cassal e Nuno Lucas (estes três criadores no âmbito do festival «Verão Azul», organizado pela Casabranca) e o Mário Laginha Trio. Toda a programação artística a realizar seguirá as regras de higiene e segurança emanadas pela DireçãoGeral de Saúde, estando os equipamentos Cineteatro Louletano e Auditório do Solar da Música Nova também já oficialmente credenciados com o Selo «Clean & Safe» do Turismo de Portugal . 56


Instruções para abolir o Natal

MorTais

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Sombras

Trio de Jazz de Loulé

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Seis meses depois, Companhia Olga Roriz

StoneBreaker

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FOLHA DE MEDRONHO COM VÁRIAS PROPOSTAS DE TEATRO, DANÇA, MÚSICA E ARTES PLÁSTICAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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epois dos meses de interregno ditados pela pandemia da covid-19, a Folha de Medronho, associação cultural radicada em Loulé e dedicada às artes performativas, iniciou, em agosto, o primeiro andamento da sua programação para 2020/2021, tendo já decorrido uma oficina de teatro numa coprodução com a Escola de Artes Performativas «Cacau», de São Tomé e Príncipe, e uma residência artística, em São Miguel, nos Açores, integrada na criação de «As Primas de Godot», numa coprodução com a Associação Cultural «O Corredor». Segue-se, a 19 de setembro, «Sensação e Movimento» um workshop orientado pelo bailarino e coreógrafo Francisco Camacho, no Palácio Gama Lobo, em Loulé e, a 26 de setembro, a Folha de Medronho vai animar a cerimónia de entrega de prémios do 4.º Concurso Literário Sophia de Mello Breyner Andresen, uma iniciativa das Câmaras Municipais de Loulé e Lagos através das suas bibliotecas. A 3 de outubro tem lugar o concerto com «O Gajo», no Auditório do Solar da Música Nova e, a 6 de novembro, acontece então a estreia de «As Primas de Godot», com texto de Pedro Malaquias e encenação de João de Mello Alvim, no Cineteatro Louletano. De 15 de novembro a 15 de dezembro, a sala de ensaios da associação acolhe ainda a exposição fotográfica «Depois da Serra o Mar» de Diogo Aleixo e será publicada a terceira edição «Novas Dramaturgias Portuguesas», numa colaboração com a Companhia «Lendas d’Encantar». ALGARVE INFORMATIVO #263

Propostas diversificadas e para vários públicos preparadas por Alexandra Diogo e João de Mello Alvim, os rostos mais visíveis da Folha de Medronho, a que se juntou recentemente mais um terceiro «rosto», Cristina Ramos, num trabalho que sofreu, como se adivinha, alterações tendo em conta o novo mundo em que vivemos atualmente.

“No fundo, desde março que não estamos a trabalhar, se pensarmos somente naquela atividade prática, presencial, com público. Mas estivemos sempre a trabalhar o «outro» lado, aquele que está nos bastidores e que as pessoas não conhecem, a pensar no que poderíamos realizar, com a consciência de que tudo pode mudar de um momento para o outro. Nesta reprogramação tivemos a preocupação de manter ativas as nossas parcerias, ligações com outras associações e colegas que estão a atravessar as mesmas dificuldades que nós”, refere Alexandra Diogo, à conversa na sede da Folha de Medronho, no Largo de São Francisco, em Loulé. Parcerias que, conforme se percebe, não se limitam ao Algarve, mas envolvendo associações de outros pontos do país e, inclusive, do estrangeiro. Houve, contudo, iniciativas que estavam previstas e que não foram possíveis de realizar, como foi o caso de uma animação de rua com marionetas de tamanho humano. 64


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Outras, porém, foram reagendadas, embora tendo lugar noutros espaços, nomeadamente o Solar da Música Nova, o Palácio Gama Lobo e o Cineteatro Louletano, uma vez que a sala de ensaios da Folha de Medronho ainda não reúne as condições necessárias para tais eventos em contexto de pandemia. Alexandra Diogo destaca, entretanto, a mostra de fotografias de Diogo Aleixe, porque vai de encontro a uma das preocupações da associação: o respeito pela natureza e o ALGARVE INFORMATIVO #263

clima. “Procuramos despertar

sensibilidades nas pessoas, naquelas que nos são próximas e nas outras, para que, quando deparadas com determinado tipo de imagens, pensem nas suas atitudes no dia-a-dia em relação à nossa Terra”, justifica. Com apenas três anos de existência, a Folha de Medronho tem conseguido, 66


também conhecemos por linhas cruzadas e o trabalho internacional está relacionado com o Festival Tanto Mar e que vinha a ser desenvolvido há muitos anos. O mais complicado é, efetivamente, o trabalho de bastidores, não visível, até da própria arrumação da associação, como foi a aquisição de equipamento de luz durante o período de confinamento. Faltanos recuar a parede para aumentarmos o tamanho da sala de ensaios, e tratarmos da parte do som. E, com três anos, também já possuímos um arquivo significativo que exige uma boa organização”, descreve João de Mello Alvim.

de facto, envolver grandes nomes das artes performativas, algo que João de Mello Alvim explica pelo percurso que a dupla tem efetuado, ao longo das últimas décadas, no meio cultural noutros pontos do país e além-fronteiras. “A atividade

da Folha em Loulé é recente, mas alguns dos seus elementos têm um vasto know-how e uma grande rede de contatos. O Francisco Camacho é um velho companheiro, o «Gajo» 67

Trabalho que atravessa fronteiras, até porque João de Mello Alvim é curador de um circuito internacional de teatro, o que implica regulares deslocações ao Brasil e ao continente africano. Em Portugal, para além das boas-relações com o Cineteatro Louletano, o entrevistado realça a parceria com o Festival Internacional de Teatro do Alentejo, de Beja, por via da qual vai ser publicada a terceira edição de «Novas Dramaturgias Portuguesas». “A nossa

programação vai de setembro de 2020 até julho de 2021 e estará dividida em vários andamentos. Este que agora apresentamos é o primeiro, não sabemos com 100 por cento de certeza como será o ALGARVE INFORMATIVO #263


A atriz brasileira Tânia Farias encantou na primeira edição do Tanto Mar e regressa em 2021

segundo, mas não podemos estar de braços cruzados. O Tanto Mar, por exemplo, já tem datas agendadas e grupos confirmados, ainda que esteja tudo dependente do evoluir da situação pandémica”, sublinha o encenador e dirigente associativo.

CRIAR PÚBLICOS É SEMPRE DIFÍCIL, COM OU SEM COVID O destaque deste primeiro andamento vai, sem dúvida, para «As Primas de Godot», uma produção da Folha de Medronho que contará com a interpretação de Alexandra Diogo e Anália Manuel. Uma peça que surge num momento em que a covid-19 veio acentuar questões como o distanciamento e isolamento. “É curioso ALGARVE INFORMATIVO #263

que, de forma não concertada, a Mákina de Cena e o Teatro do Improviso também estejam a trabalhar, neste momento, o universo do absurdo de Samuel Beckett e a abordar esse eterno esperar do Godot, que é uma maneira muito passiva de se viver. Isto não acontece à toa, é demonstrativo dos processos de pensamento, análise e perceção das estruturas artísticas, daquilo que observam na sociedade e no ser humano enquanto indivíduo, desta voracidade do querer mostrar. Há aqui uma vertigem que nos impede de viver com mais calma, que nos permita parar e pensar no momento que 68


vivemos e nas atitudes que devemos ter perante tudo isto”, lamenta Alexandra Diogo. João de Mello Alvim revela, entretanto, que esta peça estava prevista ir a cena em junho do corrente ano, mas os timings foram modificados devido aos constrangimentos impostos pela covid-19.

“Agora ia ser montado um espetáculo encenado pela Tânia Farias, atriz brasileira que esteve em Loulé na primeira edição do «Tanto Mar» e que marcou toda a gente. Tínhamos planeado encontrar-nos todos em Luanda, no tal circuito internacional de teatro, e depois ela vinha para Loulé connosco e estava um mês e meio a 69

montar um espetáculo sobre a condição da mulher. Com tudo o que sucedeu, passamos «As Primas de Godot» para agora e o espetáculo da Tânia Farias transita para março de 2021”, esclarece, com Alexandra Diogo a adiantar que o elenco das duas produções será, em princípio, o mesmo. Para encontrar a segunda «prima de Godot» houve lugar a um casting, para o qual concorreram muitas pessoas, com e sem formação de representação, de Loulé, Faro, Lisboa e Alentejo. “A escolha não foi difícil”, garante Alexandra Diogo, indicando que o objetivo da Folha de Medronho não é trabalhar com quem tem toda a ALGARVE INFORMATIVO #263


formação do mundo, mas sim com

“seres humanos com práticas conscientes e empenhadas”. “Há pessoas com menos formação, mas que evidenciam uma maior entrega e interesse por aquilo que se propõem fazer, enquanto outras, provavelmente, pensam que não precisam trabalhar tanto por causa da experiência ou currículo que possuem”, comenta a atriz. O primeiro andamento da programação de 2020/2021 da Folha de Medronho está pois no terreno e, à medida que se vão aproximando as datas, vai aumentando a habitual expetativa e nervosismo miudinho, com Alexandra Diogo a salientar que criar público para as artes performativas é sempre difícil, com ou sem covid-19. “No teatro e dança ALGARVE INFORMATIVO #263

parece-me essencial a presença de público, a transmissão de energia entre as duas partes. Por muito bem que esteja preparado, se não estiverem pessoas na plateia, o espetáculo não tem a mesma magia, não se dá da mesma maneira. Claro que, agora, temos mais esta dificuldade de lidar com a covid-19. «As Primas de Godot» vão estrear no Cineteatro Louletano e a ideia inicial era depois repor a peça na nossa sala, o que, este ano, não deve ser possível, devido à sua dimensão”, reconhece a entrevistada. “Por muito que esta questão da covid seja uma experiência indesejável em diversas frentes, também pode, por outro lado, 70


desenvolver no ser humano algumas coisas positivas, nomeadamente no que toca ao relacionamento entre as pessoas”, acrescenta. Quanto aos outros andamentos, o segundo está praticamente fechado e o terceiro tem já ideias bastante bem definidas, comprovando que, mesmo que não se veja, a Folha de Medronho nunca está parada. “Nas artes sempre houve

esse problema, só o trabalho braçal é entendido como trabalho. Contudo, se não se fizer todo o trabalho de bastidores, o resto não existe. E, antes da prática, ainda temos a teoria, a leitura e preparação de textos”, frisa Alexandra Diogo, mostrando-se bastante orgulhosa da programação que têm

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dinamizado ao longo destes últimos três anos. “Temos contado desde o

início com o apoio da Câmara Municipal de Loulé e do Cineteatro Louletano e, apesar das limitações da associação, sobretudo em termos humanos, fazemos sempre mais do que está programado. Por isso, ainda neste primeiro andamento, estão outras coisas na calha”, aponta, com João de Mello Alvim a enfatizar ainda que a reprogramação imposta pela covid-19 conseguiu, mesmo assim, tocar todas as áreas de atuação da Folha de Medronho: “Temos formação,

criação, produção e animação, com um plano A e um plano B, consoante seja o estado da pandemia” .

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TAVIRA VIBROU COM O ETERNO JORGE PALMA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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ra um dos momentos mais aguardados do «Verão em Tavira», programa cultural organizado pelo Município de Tavira, e não defraudou as expetativas. Igual a si próprio, sem formalidades e discursos politicamente corretos, Jorge Palma, músico, cantor e compositor que ficará certamente nos anais da história portuguesa, esgotou por completo o Parque do Palácio da Galeria, em Tavira, demonstrando que, apesar dos seus 70 anos de idade, continua cheio de força e

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vontade de transmitir a sua mensagem através da música. Com mais de 40 anos de carreira, Jorge Palma é um nome incontornável do panorama musical português, com uma extensa obra onde se incluem, por exemplo, canções como «Frágil», «Deixa-me Rir», «Dá-me Lume» ou «Encosta-te a mim». Venceu o prémio José Afonso, em 2002, assim como o Globo de Ouro de Melhor Intérprete Individual, em 2008 e 2012. O seu álbum «Com Todo o Respeito» foi ainda galardoado pela Sociedade Portuguesa de Autores com o Prémio Pedro Osório. Na sua atividade mais recente destacam-se projetos como «Juntos», em que partilha o palco com Sérgio Godinho, e a celebração dos discos «Bairro do Amor» e «Só» .

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«VERÃO EM TAVIRA» ENCERROU COM CONCERTO FANTÁSTICO DE

RICARDO RIBEIRO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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o dia 29 de agosto, Ricardo Ribeiro deu por concluído o programa cultural «Verão em Tavira», dinamizado pela Câmara Municipal de Tavira em julho e agosto, com um excelente concerto no Parque do Palácio da Galeria, em Tavira. Após vários meses de inatividade devido à pandemia da covid-19, o conhecido fadista não escondeu a satisfação por estar novamente em cima de um palco e com público pela frente, mas revelou que não esteve parado durante o período de confinamento, aproveitando para transformar o pessimismo generalizado que se viveu, e ainda vive, em diversos poemas. O fadista participa, desde 2001, em festivais nacionais e internacionais de música e, em 2004, lançou o seu primeiro álbum. Em 2002 e 2011 recebeu o prémio ALGARVE INFORMATIVO #263

Revelação Masculina da Fundação Amália Rodrigues. Em 2008, juntamente com o alaudista/compositor libanês Rabih Abou-Khalil, gravou «Em Português», eleito «top of the world album» pela revista inglesa Songlines. Dois anos depois, o álbum «Porta do Coração» acolhe a mesma distinção e é disco de ouro. Em 2013 sai o seu quinto registo discográfico, «Largo da Memória», que também foi disco de ouro. Em abril de 2019, Ricardo Ribeiro apresentou o seu mais recente trabalho, «Respeitosa Mente», em que se junta ao pianista português de jazz João Paulo Esteves da Silva e ao percussionista norte-americano Jarrod Cagwin num registo memorável. E foi um pouco de tudo isto que o público de Tavira escutou neste espetáculo, numa noite ventosa e friorenta, mas ninguém arredou pé da sua cadeira, tal a qualidade de Ricardo Ribeiro . 88


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VIVIANE E TÓ VIEGAS RECORDARAM SUCESSOS DO «CAMALEÃO AZUL» EM TAVIRA Texto: Daniel Pina| Fotografia: Município de Tavira

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olvidos 16 anos depois da sua última aparição, o «Camaleão Azul» voltou a escutar-se, ao vivo, pelas mãos de Viviane e Tó Viegas, e diversos convidados, num eletrizante espetáculo, no dia 28 de agosto, no Parque do Palácio da Galeria, ALGARVE INFORMATIVO #263

em Tavira. O projeto resulta do diálogo entre a música e a poesia e é caraterizado por se dedicar a musicar poesia algarvia com uma roupagem que reúne sonoridades eletrónicas que se misturam com outras de cariz mais tradicional e acústico. Uma noite repleta de saudosismo, escutando-se temas de outras épocas, mas sempre atuais . 100


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OPINIÃO O civismo como arte contra a pandemia Paulo Cunha (Professor ) onfesso: depois de ter padecido duma pneumonia no início de março e, devido à malfadada covid-19, ter continuado confinado em casa até ao início de maio de 2020, jamais pensei que conseguiria ter umas férias grandes parecidas com as que gozei em toda a minha vida. Felizmente para a economia e para a nossa saúde mental, o desconfinamento aconteceu e as almejadas (e merecidas) férias também! Conjuntamente com todos os acessórios e material necessário para quem sai de férias, este ano toda a minha família muniu-se dos preceitos recomendados por quem sabe, está mandatado e zela pela segurança e saúde alheias. Fizemo-nos à estrada com a absoluta convicção que na nossa segurança sanitária residia a segurança da nossa e da vossa família, sobretudo dos mais idosos e fragilizados. Não nos impondo, encontrámo-nos com quem se sentiu confortável com a nossa presença e, assim, seguimos viagem com a ALGARVE INFORMATIVO #263

absoluta convicção que deixámos um rasto de segurança e tranquilidade por onde passámos. Cruzando-nos com gente de origem e proveniência variada, constatámos que cada zona tinha diversos comportamentos em relação aos princípios preconizados como forma de luta contra a disseminação do vírus SARS-CoV-2 pelas várias províncias de Portugal. Percebemos que muitos autóctones de diversas aldeias (grande parte, idosos), apesar da visita de muitos familiares emigrados, continuavam a ver a sua terriola como um espaço imune a esse «vírus das grandes cidades». Talvez por isso não seja de estranhar o surgimento de alguns surtos epidemiológicos em locais menos populosos. Embora muitos não o achem, o contágio não escolhe entre o campo e a cidade, bastando o descuido no incumprimento das normas sanitárias para disseminar um vírus que para uns é assintomático e que para outros é um agente aniquilador. Fazendo um balanço do que me foi dado a observar e a sentir nos vários locais por onde passei neste agosto 108


de 2020, posso, orgulhoso, satisfeito e grato, congratular-me com a forma cívica, cumpridora e ordeira como muitos profissionais do turismo, da hotelaria, da restauração, das autarquias e da cultura retomaram as suas atividades após a paragem laboral a que foram obrigados. Cumprindo os conselhos e diretivas emanados pela Organização Mundial da Saúde e pela Direção Geral da Saúde, proporcionaram a todos que fizeram férias cá dentro uma sensação de segurança e de bemestar, que, a vários níveis, nos fez recuperar de um confinamento inesperado e obrigatório.

dentro e de fora do país, têm sabido conter e manter os níveis de propagação virológica dentro dos níveis esperados. Não são os poucos incumpridores que serão a peneira que tapará o sol que, num ano com vários motivos para esquecer, nos aquece ainda a alma. À falta de vacina que nos imunize, imunizemo-nos com o civismo que, também neste caso, servirá como arma contra os vários males (naturais ou provocados) que nos assolam e continuarão a assolar. Assim sendo, e esperando que daqui uns meses este texto continue a fazer sentido, desejovos: “Saúde!”.

Saúdo também o comportamento exemplar de grande parte dos turistas que, provenientes de 109

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OPINIÃO Do Reboliço #99 Ana Isabel Soares (Professora Universitária) abes, Reboliço?, há um poente que não é braço na rosa dos ventos. O moleiro, por exemplo: se queres virar o focinho e farejar o ar do lado onde ele foi deitado, é ao Sul que te voltas, o poente dele, onde jaz de frente para o seu moinho. Assim como o sol demora a deitar-se, alenta no cair, muda ao céu as feições, assim fez o moleiro, mudando o que estava à volta dele à medida que decaía. Primeiro, largou os trabalhos do Moinho Grande: indo-se do corpo as forças, que não do espírito, tem um homem de se poupar – e os cabos, as mós, as velas, as varas, o girar todo daquele topo, as sacas com o trigo, seriam já para jovens, esses que se tinham ido, um a um, à procura de menos esforçados labores e mais rápidos a devolver conforto e grão de comer. O trigo deixou de render, sabes? Mais de vinte anos moeu o Moinho Grande ao lado das grande fábricas de moagem, e com brio. (Hoje, chamavam-lhe um figo, anda tudo à procura da moenda tradicional.) Mas sem gente não há moinhos. Vês esses dois aí ao lado, desdentados, destelhados, num sofrer que lhes dói menos do que a quem assim os olha: passa-se-lhes ao lado, ladram os cães acorrentados às pedras, um Inverno, mais uma estação de secura, vão ALGARVE INFORMATIVO #263

escorregando: se se olhar bem, vê-se que só não os engole a terra porque tem dentes de pedra e a boca encerrada, os lábios ressequidos da falta de chuva. Fosse a planície mais lodo, mais misericordiosa, haveria de os esconder dentro de si, de lhes dar o colo final e ao horizonte retirar a dor. Assim, ali estão – e o Grande, cuidado, altivo, coberto, o mastro como uma gravata posta e direita, baixa os olhos se calha a virar-se para os cadáveres sobreterrâneos (como tu fazes, Reboliço), a querer esquecer a lembrança dos dias em que lhes ouvia as gargalhadas do trabalho: as velas a girar ao mesmo tempo dos três, ora um ora outro aos “Ganho eu!, ganho eu!”, as rajadas da ventania a ajudar a festa do trio de torres, as cantarinhas com mais guinchos que cantares, da pressa e da alegria. Eram três, agora é um. O moleiro velho lá se foi, também, como antes foram outros, mas este o último a ir. Antes de morrer, porém, antes de abalar do Moinho Grande, quando já não conjurava forças para o manobrar (mas ainda as juntava, fazendo do cajado, preso na grade da cama, alavanca para o chão, todas as manhãs), construiu um moinho pequeno: pegou num dos bidões de combustível que ali se desperdiçavam e fez dele a torre; pegou noutro e cortou dele uma faixa que enrolou para ser 110


Foto: Vasco Célio

telhado (não teve manejo, nos velhos ossos deformados das mãos, para recortar o catavento com o Rafael e a sua montada – saiu uma bandeira simples, igual de função); recortou na torre a porta e uma janela: às restantes desenhou-as com tinta preta (um escuro como o do Moinho Grande nos dias de sol aos gritos). Mas depois fez a surpresa: o telhado, amovível, revela mecanismos, em pequeninos, iguais aos do Grande que o moleiro conhecia melhor do que ao seu próprio corpo; os cabos, agora baracinhos 111

finos, pendem e amarram como o cordame que ali está do lado de dentro das paredes; os camarõezinhos metalizados são os arganéis das prisões (um moleiro é carcereiro do vento). As mós fez ele de círculos talhados em cortiça: assim vingou toda a força que lhe exigiram, e as aligeirou . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. Escrevo a partir desse olhar canino.

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OPINIÃO Notas Contemporâneas [1] Adília César (Escritora) “Nada facilita mais uma civilização que um bom clima”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) SOM predestina-se ao desprezo. Não ao ruído de fundo, sim à escuta. Estas teias de pequenos massacres diários cansam-me. E de repente, na cidade saturada de sons, há qualquer coisa que se sobrepõe ao resto: é a mansidão do bando de pardais que se recolhe na folhagem fresca. Agora mesmo: olho, mas nada vejo, apenas sinto o essencial. O coração é o ouvido absoluto da existência.

O *

A MÚSICA CLÁSSICA tem uma relação imediata com a saudade que sinto pelo meu pai, essa linha efémera de água a brilhar ao sol, ao alcance da melodia da vida. E depois outras gotas vão passando pelo mesmo lugar, dando de beber à sede das memórias da infância. Não é uma tristeza verdadeira, nem sequer um desalento perante a respiração da ausência. A morte do meu pai aconteceu há muito ALGARVE INFORMATIVO #263

tempo. Hoje, ele é este leve peso interior, como se fosse um acorde perfeito que se ouve com o coração. O andamento lento da vida perante a inevitabilidade da morte. Há vida para além de tudo o que nos atormenta. * O RITMO incentiva a velocidade até ao infinito. Um calendário não mede apenas a passagem do tempo. Afinal, os dias são provisórios, efémeros, tornam-se passado, mas também são o futuro comprometido com a tragédia humana. Que fazer com os dias? Têm assim tanta importância? Sim, os dias são meus, guardo-os amorosamente na carta sem princípio nem fim que escrevo aos meus herdeiros. Quero difundir a ideia banal, mas tão verdadeira, sobre a urgência de ter opinião formada sobre as vicissitudes que transformaram o tecido social, no sentido de cada um optar por uma atitude cívica perante si e perante os outros. Hoje, mais do que nunca, não há «bolhas» individuais: o colectivo impera nestes dias tão definitivos. 112


* O TEMPO passa por nós ou nós levamos o tempo connosco: há duas velocidades (podendo ser um processo rápido ou lento), mas não há duas medidas: é preciso decidir, logo desde o início, que tipo de vida queremos viver. A obrigação de ter um espírito positivo, a toda a hora, é tão entediante como um ramo de flores de plástico na montra de um talho. Num mundo onde nos atiram com uma enjoativa diversidade de mensagens positivas, sublimares e explícitas, pensar sobre a depressão é ainda um preconceito; e admiti-la parece constituir uma fraqueza do próprio espírito. * O CLIMA predispõe-se a amuos e incongruências. As estações do ano exibem visíveis devaneios, bem diferentes de outros tempos. Este fenómeno climatérico influencia, em larga escala, as mentes caprichosas dos criadores de canções populares. Até a fadista Mariza canta Quem me dera/ abraçar-te no outono, 113

verão e primavera/ quiçá viver além uma quimera/ herdar a sorte e ganhar teu coração. O inverno desapareceu da equação amorosa, vá-se lá saber porquê. Matias Damásio, o autor da canção, provavelmente não gosta do inverno, estando em perfeita sintonia com Eça de Queirós, quanto este afirma: Nada facilita mais uma civilização que um bom clima

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OPINIÃO Planos Mil João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) ente acompanhar-me: Planos Directores Municipais (16), Plano Regional de Ordenamento do Território (1), Planos de Ordenamento da Orla Costeira (2), Plano Regional de Ordenamento Florestal (1), Planos de Gestão de Regiões Hidrográficas (1), Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas (3), Planos Sectoriais da Rede Natura (vários). Continua por aí? Sigamos então: Planos de Ordenamento das Albufeiras de Águas Públicas (5), Planos Municipais de Adaptação às Alterações Climáticas (vários) e o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas (1). Existem muitos outros cujo âmbito, porém, não se relaciona directamente com a gestão territorial (ex Plano Regional de Inovação do Algarve). Temos ainda as «estratégias». Esses compêndios de orientações mais ou menos abstratas para os territórios, acompanhados ou não de propostas concretas, em torno de uma visão definida para os mesmos. Estas abrangem vastas áreas, incorporam vários temas e não poucas vezes sobrepõem-se entre si. A Estratégia de Desenvolvimento do Algarve (1), as ALGARVE INFORMATIVO #263

Estratégicas Locais de Desenvolvimento (3) ou a Estratégia de Sustentabilidade do Concelho de Loulé são apenas alguns exemplos. Temos, portanto, um rico manancial de documentos técnicos e orientadores, produzidos, aprovados e partilhados, alguns em execução outros em revisão, para a região do Algarve. Faltarão outros, certamente. E outros ainda estão em elaboração, como o Plano Regional de Eficiência Hídrica. Que sobressaí desta listagem? Que somos uma região planeada, ordenada e, consequentemente, eficiente, produtiva e sustentável? Não, errado. Infelizmente. Errado em muitos aspectos. Aspectos estes amplamente comprovados, documentados e denunciados, tanto por especialistas, como pela própria população residente na região. Vivemos uma realidade diferente daquela que nos é indicada em planos. Dizem-nos, por exemplo, que os terrenos agrícolas de elevada aptidão e qualidade devem ser preservados, em sede de Reserva Agrícola Nacional, acautelando um banco estratégico de solos que propicie o desenvolvimento da actividade agrícola, o equilíbrio ecológico e outros interesses públicos. Veja-se Vilamoura – ou antiga Quinta de 114


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Quarteira – e o que lá se vai passando e projectando. Dizem-nos que o território deve ser ordenado, evitando a construção dispersa, a sobrecarga junto do litoral ou a construção em zonas de cheia. Basta uma simples viagem virtual pelo litoral e o barrocal algarvio, usando imagens de satélite, e verificar como tal não podia estar mais longe da intenção enunciada. Dizem-nos que devemos fazer um uso sustentável dos recursos hídricos, sabendo que vivemos numa região semi-árida, com os períodos de seca cada vez mais frequentes e a abundância de água cada vez mais limitada e a determinados períodos do ano. Porém, veja-se como se propagam os imensos campos intensivos de abacate, laranjeiras e outros projectos fortemente consumidores de água, recorrendo a captações subterrâneas. Temos um problema crónico com a implementação de planos. E em particular, com a sua monitorização e avaliação. Também o temos com os respectivos processos de actualização. Dos 16 Planos Diretores Municipais do Algarve, por exemplo, 15 têm mais de 20 anos de vigência, tendo ultrapassado há muito os respectivos prazos de revisão. Ou, veja-se ainda o caso da Estratégia de Sustentabilidade do Concelho de Loulé, elaborado entre 2005 e 2006, com indicações específicas de revisão a cada três anos, algo que nunca aconteceu. Aliás, o próprio plano em si não «aconteceu»! Porém, implicou custos associados à sua elaboração e muitas horas de participação pública.

Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Algarve). Um documento elaborado por uma vasta equipa de especialistas e consultores, fortemente assente em dados técnicos e científicos, com propostas concretas aprovadas em sede de workshops participativos com numerosos stakeholders da região, incluindo os decisores políticos, e no entanto, passados 18 meses, pouco ou nada se vê concretizado. Nem sequer o «Conselho Regional de Acompanhamento» iniciou funções, pese embora tenha sido constituído. Tudo isto revela bem a nossa incapacidade de concretização, mesmo perante situações urgentes e vitais, como a gestão sustentável dos recursos hídricos na região e a minimização dos efeitos derivados das alterações climáticas. Estar escrito e aprovado sob a forma de plano não significa, por aqui, a real e imediata aplicação. Significa tudo o resto, incluindo a necessidade de desenvolver outros planos. Assim se ganha tempo. E assim se afastam responsabilidades. Um jogo perigoso que não raro as vezes culmina na adopção de medidas reactivas – externas aos planos - de emergência imediata face à ocorrência de situações de catástrofe. Esperemos que tal não aconteça e que tudo isto não seja mais do que uma ilusão e cisma minha. Assim gostaria que fosse. Mas temo que não. Os planos estão aí, não aos mil, mas às dezenas. E os resultados também .

O caso mais recente e paradigmático, porém, prende-se com o PIAAC (Plano ALGARVE INFORMATIVO #263

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OPINIÃO O direito a estacionar Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) os últimos dias surgiu na cidade de Portimão o rumor de que os residentes no centro da cidade, que tem há décadas o estacionamento tarifado, estariam prestes a perder o dístico de morador, que lhes permitia o estacionamento gratuito na sua área de residência. Esta situação levanta uma dúvida: será moralmente legítima a cobrança de estacionamento aos residentes nas zonas de estacionamento tarifado? O veículo automóvel é, de longe, o bem móvel mais despesista para o seu proprietário e aquele que é mais onerado em termos fiscais, sendo que, actualmente e na maioria dos casos é uma necessidade e não um luxo. Quem adquire um automóvel tem de pagar, além do IVA, um Imposto Sobre Veículos no momento da aquisição, a que acresce anualmente um Imposto Único de Circulação. Para circular terá de abastecer com combustível, pagando sempre que abastece, além do IVA, o Imposto Sobre Produtos Petrolíferos, que em conjunto correspondem a 52,3% do preço do combustível. Dependendo da idade do carro poderá estar ainda ALGARVE INFORMATIVO #263

sujeito a uma taxa encapotada pela designação de «Inspecção Periódica», para não falarmos em todas as despesas inerentes à manutenção e consumíveis. Isto só para ter direito a circular. E para estacionar? Nas cidades, o volume de veículos que acorrem aos centros origina muitas vezes o colapso no estacionamento público, não apenas pela quantidade de carros, mas porque muitas ruas tornaram-se pedonais, ficando impedida a circulação e o estacionamento automóveis. A solução que tem sido encontrada é a construção de parques de estacionamento pagos e a criação de zonas de estacionamento tarifado. A filosofia é a de que, quando alguém se desloca para fora da sua área de residência, deverá pagar para estacionar, o que, na prática, se traduz em mais um «imposto», agora para estacionar, acto que está inerente ao de circular. Quem vive em zonas de construção mais recente, quando compra a sua habitação está também a comprar um lugar de estacionamento privado, mais uma despesa que o veículo acarreta. No entanto, para quem vive nos centros das cidades, tradicionalmente com 118


construções mais antigas, não pode alterar a habitação para criar uma garagem, sendo certo que os seus moradores têm o direito a ter carro próprio, a circular e a estacionar na sua área de residência, em pé de igualdade com os que vivem fora dos centros. E esse direito tem sido tão inquestionável, que, quando a gestão do estacionamento é exercida por empresas privadas, estas são obrigadas a atribuir dísticos de isenção aos residentes da zona tarifada. Então porque deverão perder esse direito quando essa gestão deixa de ser privada e passa a ser pública? Que legitimidade tem uma empresa pública para sugerir aos residentes que passem a estacionar fora da sua área de residência ou para usarem abusivamente terrenos privados para estacionamento selvagem, quando o espaço público, que deve ser de fruição de todos, está a ser taxado? Numa altura em que se pede a reabilitação dos centros históricos, este é um dos sinais contraditórios para aqueles que ainda teimam em dar vida às cidades. Os centros despovoados acabam por se transformar em centros de marginalidade, contribuindo para a insegurança colectiva. Os municípios podem ter zonas de estacionamento tarifado, o que não podem é limitar o 119

estacionamento livre a famílias que habitam nessas zonas tarifadas há décadas e que sempre aí estacionaram livremente, como aqueles que vivem afastados do centro o fazem à distância de um ou de dois quarteirões. Se quiserem retirar os dísticos de isenção aos moradores, deverão criar bolsas de estacionamento alternativo para esses, uma vez que a esses está vedado o direito de criarem estacionamento privado nos seus edifícios . ALGARVE INFORMATIVO #263


OPINIÃO Associativismo e Sindicância 1 Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) e entre as Associações e Sindicatos nacionais existentes, não existe nenhum particularmente, que de forma singular e excepcional, defenda especificamente a classe dos Cozinheiros. Por isso entendo que é legítima, a vontade de ver isso acontecer e por variadíssimas razões, desde culturais, sanitárias, deontológicas, de ensino e aprendizagem e da defesa e valorização da classe. Desde cedo percebi que juntos, podemos fazer mais. Em 1981, fundei o Objectiva – Grupo Cénico de Gouveia. Quis o destino que após a primeira estreia (o médico à força, de Molière) rumasse ao norte, para trabalhar na Restauração, destino já traçado, onde viria alguns anos depois a trabalhar como Cozinheiro, aquilo que sempre, inconscientemente adoptei como uma verdade. Em 1982, fundei um Grupo musical, o Duo Psicosonata, que deu origem a uma banda, que me vim a desligar uma vez mais pelo destino, que me resolveu trazer ao Algarve, já cozinheiro, de onde não saí até hoje.

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Praticante e amante do Associativismo, fundei em 1991, o Núcleo Sul da ACPP – Associação dos Cozinheiros e Pasteleiros de Portugal, que mais tarde deu origem à ACPS – Associação dos Cozinheiros e Pasteleiros do Sul onde assumi o cargo de Presidente. Esta instituição viria a dar lugar em 2003 à ACPA – Associação dos Cozinheiros e Pasteleiros do Algarve, com presidência do Chefe Henrique Leandro, no tempo, coordenador chefe da Escola de Hotelaria de Portimão e onde desempenha até 2015 a função de Secretário-geral e posteriormente a sua presidência. A ACPA já não existe, fruto de varridíssimas coisas, nomeadamente participação dos membros da direcção, sendo este, o item negativo mais importante de qualquer associação. Quando digo que sou amante e praticante do associativismo, acredito também ter competências para dinamizar grupos de trabalho e de incentivar com o meu carácter, liderança e pró atividade, pessoas que comungam dos mesmos interesses. Acredito que a cozinha/gastronomia são Cultura e que devem ter um papel cada vez mais relevante na dinamização do Turismo de uma região como a nossa e que sofre de um problema cíclico que é a sazonalidade. Acredito que através de manifestações gastronómico culturais, se 120


podem desenvolver ciclos constantes de interesse e procura para além das bandeiras do Sol, praia e Golf. O facto de na região se encontrar associações ou delegações como o Slowfood, o Slowmed o Slowcittás, o facto de Tavira ter sido uma das cidades organizadoras do projeto «Dieta Mediterrânica, um património imaterial da Humanidade» e ter visto esse propósito reconhecido pela UNESCO para além da região ser detentora de um peculiar tradicional pomar de sequeiro, ter tradições na pesca do atum e industria Conserveira, na recolha de sal, azeite, vinho e outras peculiaridades mediterrânicas, para além de alguns exemplares de produtos autóctones e endémicos, torna-a num mar de oportunidades executáveis em forma de eventos, associações e empresas com interesse na recolha de um vasto património de aspetos culturais únicos. Como associativista consigo facilmente imaginar parcerias com as instituições de cariz Social, na recolha de receitas, ditos e atividades já extintas ou em vias de extinção, com Centros Culturais, IPSS’s, Câmaras Municipais e diversos organismos públicos e privados, no sentido de se valorizar o Património gastronómico, os Produtos Algarvios e seus operadores, produtores e cozinheiros. As parcerias que se estabelecem entre estes organismos encontram sempre vontades e gostos idênticos com vontade de concretização. Da palavra à ação, 121

muitas vezes resultam verdadeiras proezas como a que se conseguiu em 2012, quando enquanto membro ativo do Slowfood Convivium Algarve, consegui reunir de entre associações, câmaras municipais e empresas Algarvias, um total de 650 quilogramas de produtos regionais, com que valorizei a cozinha Algarvia e mediterrânica em palestras, jantares e Oficinas do gosto, durante o evento conjunto do Terra Madre e Salone del Gusto em Turino, Itália, do movimento mundial e associação Slowfood. Em 2013, também tive a oportunidade de reunir produtos e material de trabalho e estudo de entre várias instituições e empresas, de modo a estar presente num evento organizado pela Universidade de Ciências gastronómicas do Slowfood, em Polenzo, Itália . ALGARVE INFORMATIVO #263


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Lusitanus Miranda Dressage Team A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #263

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