REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #265

Page 1

#265

ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 26 de setembro, 2020

«O REI NO EXÍLIO» PASSOU POR LOULÉ «AMÁLIA RODRIGUES - 100 ANOS» | «ISO[LADOS] | «ROTTWEILER» | CRISTIANO CABRITA 1 ALGARVE INFORMATIVO #265 «TURISMO» | LOULÉ E A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA | MARCELO INAUGUROU ESCOLA EM OLHÃO


ALGARVE INFORMATIVO #265

2


3

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

4


5

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

6


7

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

36 - Cristiano Cabrita

14 - Marcelo Rebelo de Sousa em Olhão ALGARVE INFORMATIVO #265

8


OPINIÃO 114 - Paulo Cunha 116 - Ana Isabel Soares 118 - Adília César 120 - Fábio Jesuíno 122 - João Ministro 124 - Augusto Pessoa Lima 24 - Transição Energética em Loulé

74 - «Turismo»

86 - encontros do DeVIR

102 - Exposição ISO[LADOS]

50 - «Amália Rodrigues - 100 anos» 9

622 - «Rottweiler» ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

10


11

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

12


13

ALGARVE INFORMATIVO #265


MARCELO REBELO DE SOUSA INAUGUROU «NOVA» EB1 N.º 5 DE OLHÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, veio à Cidade da Restauração, no dia 18 de setembro, para inaugurar a EB1 N.º 5 de Olhão, uma renovada escola que sofreu obras no valor de dois milhões de euros. A empreitada permitiu a remodelação das seis salas de aula existentes e foram construídas mais três salas de aula no edifício ao lado, onde antigamente funcionavam as salas de multideficiência. ALGARVE INFORMATIVO #265

Em simultâneo, foi construído um novo bloco, com melhores condições para as crianças com deficiência, um refeitório, uma sala polivalente e uma biblioteca.

“É um grande investimento da autarquia para este ano letivo e para este mandato, porque a Educação continua a ser para nós uma paixão que é preciso concretizar todos os dias. Estamos a criar excelentes condições para as novas gerações e a preservar a memória coletiva da cidade, ao modernizarmos as 14


15

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

16


escolas do Plano do Centenário. Não vai ser por falta de meios que os nossos alunos não vão ter sucesso escolar”, garantiu António Miguel Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão. Na inauguração marcou também presença o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que aproveitou para enaltecer o trabalho efetuado pelos Municípios no seu compromisso para com a Educação. “Esta é uma escola de

referência para as necessidades educativas específicas, possui condições especiais para receber todas as crianças, e estamos aqui a terminar uma semana de arranque 17

de um novo ano letivo que sabemos que vai ser atípico. No entanto, temos aqui a prova de que, entre todos, com exigência e compromisso partilhado, vamos seguir em frente”, afirmou o governante. “As famílias, os alunos, os docentes, os assistentes operacionais e técnicos, estão todos juntos nesta grande empreitada nacional que é retomarmos o ensino presencial, porque não há nada que o substitua. As regras são conhecidas, nenhuma delas pode ser dispensada, o seu cumprimento depende de todos ALGARVE INFORMATIVO #265


nós e, se assim o fizermos, diminuímos os riscos”, apontou Tiago Brandão Rodrigues. Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu que o início de um novo ano letivo é sempre um momento emocionante, este ano ainda mais perante a situação de pandemia que se vive. “Contudo,

quando há escolas renovadas, existe também um outro estímulo e mais esperança. Esta é uma obra municipal e um investimento muito importante e um sinal bastante positivo, porque a Educação é uma prioridade nacional e uma prioridade autárquica um pouco por todo o país”, frisou o Presidente da República, concordando com António Miguel Pina que, a par do combate à covid-19, a falta de água é o principal ALGARVE INFORMATIVO #265

problema do Algarve, não esquecendo igualmente as questões da saúde, da ferrovia e outros projetos estruturantes fundamentais. “Sobre o

começo deste ano letivo, quero agradecer aos pais e aos jovens portugueses, porque esta semana era uma incógnita para todos, mas a resposta foi muito positiva. Quero agradecer a vossa compreensão, abertura e disponibilidade, por participarem de forma intensa neste arranque de ano letivo”. À porta da EB1 N.º 5 de Olhão, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que a pandemia da covid-19 está bastante longe do seu término, não se sabendo, sequer, se já se chegou a metade desse 18


percurso. “Temos muitos meses pela

com mais casos”, antevê o

frente e esta fase vai ser mais difícil. Os números de novos casos vão subindo em Portugal, como sucedeu também noutros países, com a grande maioria a ser gente nova, mas verificamos que o Serviço Nacional de Saúde, neste momento, não demonstra sinais de stress em termos de internamento ou nos cuidados intensivos. O número de mortes também é relativamente baixo, mas é um momento complicado, daí estarmos num estado de contingência, mas a sua aplicação depende de todos nós. Depende de nós o sucesso deste regime, porque vêm aí semanas

Presidente da República, deixando uma palavra de apreço aos profissionais de saúde: “O pessoal de saúde foi

19

sempre excecional ao longo dos últimos meses e sabemos que o vai continuar a ser. Não falha, é do melhor e vai cumprir a sua missão”. Perante as questões do que irá acontecer se o número de novos casos continuar a subir de forma preocupante, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que a atividade económica não pode parar e que o ensino deverá continuar a ser presencial. “A

atividade económica, por si mesmo, provoca convivialidade,

ALGARVE INFORMATIVO #265


com todas as regras e distanciamento. O regresso às aulas gera uma grande probabilidade de haver mais casos. Temos que fazer um esforço para proceder a uma certa contenção fora das escolas e dos locais de trabalho, mesmo nos encontros familiares. Não vamos juntar, nos próximos meses, mais fatores de risco àqueles que são inerentes aos da vida social”, apelou o Presidente da República. “Já tivemos Estado de Calamidade e Estado de Emergência e todos queremos ALGARVE INFORMATIVO #265

evitar novos confinamentos totais. Para isso, vamos manter o trabalho do dia-a-dia próprio de uma sociedade que avança e o ensino presencial, com as precauções dentro e fora da escola, e vamos evitar as manifestações de massa, seja com muitos milhares ou com umas dezenas ou centenas de pessoas a confraternizar. É um esforço para o nosso bem e para o bem de todos”, enfatizou Marcelo Rebelo de Sousa .

20


21

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

22


23

ALGARVE INFORMATIVO #265


LOULÉ DEU A CONHECER AO SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DA ENERGIA A SUA ESTRATÉGIA PARA A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina concelho de Loulé foi visitado, no dia 18 de setembro, pelo Secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, com o intuito de conhecer, no terreno, os projetos, uns em preparação, outros já concretizados, da Câmara Municipal de Loulé no que toca à sua estratégia para a ALGARVE INFORMATIVO #265

transição energética. Uma visita que começou no Salão Nobre dos Paços do Concelho e prosseguiu com uma visita ao Mercado Municipal de Loulé para se apresentar as medidas de introdução das energias renováveis e de eficiência energética implementadas no âmbito do projeto de requalificação do edifício. De Loulé viajou-se para Salir, mais concretamente para a Escola EB Professor Sebastião Teixeira, para uma 24


visita à comunidade energética escolar e para a inauguração da central de produção de energia fotovoltaica. Depois do almoço, no Barranco do Velho, a comitiva rumou ao Auditório do NERA, na Zona Industrial de Loulé, para a apresentação da plataforma de gestão inteligente da energia, por Cláudio Correia, do Grupo Algardata, e Pedro Murta, da Câmara Municipal de Loulé. O derradeiro ponto de passagem foi Vilamoura, para a cerimónia de atribuição da certificação internacional gestão de energia (ISO 50 001) à Inframoura e mostra dos projetos levados a cabo no âmbito do desenvolvimento territorial sustentável deste famoso polo turístico da freguesia de Quarteira. “Loulé

considera a transição energética como elemento chave para o seu

25

desenvolvimento económico, é um grande desafio que temos pela frente. Loulé é o maior concelho do Algarve, com 763 quilómetros quadrados e mais de 70 mil habitantes. O nosso consumo de energia, em 2017, foi de 481GW, temos 72 mil e 500 postos de consumo instalados no concelho, representamos 20 por cento do consumo de energia no Algarve, temos 2.100 quilómetros de redes de baixa tensão e consumimos igualmente 20 por cento dos combustíveis no plano regional”, descreveu Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé.

ALGARVE INFORMATIVO #265


Autarquia louletana que consome cerca de 22GW, a que se associa a produção de seis mil toneladas de gás carbónico, “e é

aqui que queremos dar uma valente dentada nos próximos anos”, explicou Vítor Aleixo, falando ainda numa despesa anual de 4,3 milhões de euros do Município com os consumos de energia.

“Estamos apostados em reforçar a aposta nas energias renováveis; em gerir de uma forma muito mais eficiente o consumo de energia; em reforçar os sistemas de monitorização; em promover a mobilidade elétrica; e, desde o primeiro momento, em informar, capacitar e criar uma consciência pública muito atenta à importância que todos nós temos nesta matéria”, afirmou o edil, acrescentando ALGARVE INFORMATIVO #265

que um objetivo que pretende cumprir até ao final do corrente mandato é alcançar-se uma capacidade instalada de produção de 2MW, através de unidades de produção de autoconsumo localizadas em escolas, edifícios municipais, piscinas e pavilhões municipais, nas empresas municipais, nas IPSS do concelho, nas estações elevatórias de tratamento de água e nos novos projetos que vão ser desenvolvidos no concelho, casos do Mercado de Quarteira e dos vários equipamentos de saúde à espera de iniciar obra. Vítor Aleixo informou que o Mercado Municipal de Loulé já produz, desde 2019, 50MW anuais, em virtude dos seus 234 painéis fotovoltaicos, o que levou a uma redução anual da emissão de 23 toneladas de CO2. Na EB 26


Professor Sebastião Teixeira encontra-se uma comunidade escolar para a produção e autoconsumo de energia com 140 módulos, que gera 105MW de produção anual e menos 30 toneladas de CO2 emitidas para o meio ambiente. “E é

uma dinâmica participativa entre alunos, professores e encarregados de educação que decide o que se vai fazer com o dinheiro que não é pago à EDP, desde o reforço da iluminação LED ao aumento do conforto térmico da escola, ou seja, a poupança gerada é investida para se obterem ainda mais ganhos de eficiência energética”, destacou, sorridente, o presidente da Câmara Municipal de Loulé.

27

Sobre a certificação internacional ISO 50 001 conquistada pela Inframoura, Vítor Aleixo lembrou que esta será uma das raras empresas municipais do país a ter a norma que atesta a qualidade da gestão de energia, o que foi possível graças a uma série de painéis fotovoltaicos que permitem uma produção de 30KW. A central fotovoltaica da Infralobo produz igualmente 30KW por ano, com a Infraquinta a reduzir também significativamente a sua fatura energética. Em fase de projeto estão as Piscinas de Quarteira, que vão produzir 110KW, ao passo que as Piscinas Municipais de Loulé têm uma capacidade instalada de 50KW.

“Vamos poder aquecer a água da piscina descoberta através desta ALGARVE INFORMATIVO #265


obra que se iniciou há poucos dias”, salientou o autarca, adiantando ainda que foi criado um mecanismo que disponibiliza, a fundo perdido, um montante até 30 mil euros às IPSS a operar no concelho que pretendam instalar painéis fotovoltaicos. “Estamos

cá para agir rapidamente, para ações concretas, e só não apoiamos com mais dinheiro porque isso implicaria uma maior potência instalada e maiores complexidades burocráticas”, justificou Vítor Aleixo. Centrais fotovoltaicas que já estão a funcionar, por exemplo, na Fundação António Aleixo e na Casa da Primeira Infância, mas o grande projeto futuro que ALGARVE INFORMATIVO #265

está no horizonte diz respeito à Aldeia de Alte. “Já foram identificados os

principais locais onde podem ser instalados os painéis e estamos muito empenhados em ter toda uma aldeia a produzir e consumir a sua própria energia, com uma capacidade instalada de 100KW”, revelou Vítor Aleixo. “Neste momento possuímos já uma potência instalada de 295KW no concelho e estão mais 30 projetos na calha e em concurso, com 380KW. Começamos com a escola de Salir, mas abrimos um concurso de 330 mil euros para instalar mais painéis noutras seis 28


escolas do concelho. O investimento municipal rondará 1,1 milhões de euros, que será recuperado ao fim de cinco ou seis anos, por via da diminuição da fatura energética. E, com isto, pouparemos cerca de 750 toneladas de CO2”, salientou o autarca louletano. Vítor Aleixo recordou que Loulé é um dos oito Municípios comprometidos em cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pelas Nações Unidas, com um foco especial nas Energias Renováveis e Acessíveis e na Ação Climática, “com uma política

municipal bastante ativa e a andar em velocidade de cruzeiro”. “Já reparamos, contudo, que não basta

29

fazer, é preciso quantificar e comunicar, para que as medidas não sejam desvalorizadas. A nossa sociedade é assim, há uma espécie de sacralização do número, e por isso desenvolvemos um observatório municipal de ambiente e território com indicadores em vários setores”, desabafou o edil. Olhando para a frota municipal, 10 por cento já é elétrica, existem no concelho 30 postos de carregamento elétrico e está a ser criado um Regulamento Municipal para a Mobilidade Elétrica.

“Um projeto bastante ambicioso e que tem levado muito tempo é o sistema partilhado de bicicletas elétricas, com 560 bicicletas que

ALGARVE INFORMATIVO #265


vão circular em Loulé, Vilamoura, Quarteira, Almancil, Quinta do Lago e Vale do Lobo, e que só ainda não avançou devido à incerteza subjacente à evolução económica do país e do concelho. O valor base deste concurso é de 6,5 milhões de euros, daí termos decidido fazer um compasso de espera”, indicou Vítor Aleixo, lembrando-se da contestação pública que houve aquando do arranque da mobilidade ciclável em Loulé.

“Tivemos partidos políticos do atual sistema democrático na rua a «cavalgar» o efeito de novidade, de incompreensão das pessoas, foi ALGARVE INFORMATIVO #265

uma tristeza. Foram momentos muito difíceis quando, no âmbito de uma candidatura ao Fundo Ambiental, instalámos em Quarteira o Laboratório Vivo para a Descarbonização e 700 ou 800 metros de ciclovias. Foi um motim popular impulsionado por quem não deveria ser, porque os partidos têm a responsabilidade de partilhar valores, independentemente das suas orientações políticas”, criticou Vítor Aleixo. “Há valores que devem ser transversais a todos os partidos 30


políticos democráticos, não foi isso que se verificou em Loulé, mas ganhamos essa batalha porque não desistimos das boas causas”, enfatizou o edil. Depois de assistir à apresentação de Vítor Aleixo, o Secretário de Estado Adjunto e da Energia demonstrou a sua satisfação por assistir a um município assim tão mobilizado para uma causa que é nacional, mas que só tem a ganhar se for implementada com este vigor a nível local e regional. “Tudo isto tem que

ser feito em rede, com o envolvimento de muita gente, portanto, os meus parabéns pelo trabalho que têm desenvolvido nesta matéria”, disse João Galamba. “Obviamente que os territórios não

31

têm todos as mesmas características ou recursos, mas o importante é que todos queiram desempenhar o seu papel na transição energética, olhar para os recursos que possuem ou que podem vir a ter – humanos, naturais ou geográficos – e depois, com políticas bem desenhadas e uma estratégia coerente e firme, produzir maisvalias para as pessoas e instituições. Estamos a falar de criação de riqueza local, porque o meu rendimento tanto pode aumentar se o meu salário subir 10 por cento, como se as minhas despesas baixaram 10 por cento”, sublinhou.

ALGARVE INFORMATIVO #265


De acordo com o governante, este tipo de projetos também fortalece os próprios laços entre as comunidades. “Mais do

que discursos moralistas, interessa é criar dinâmicas desta natureza, porque, se a Câmara Municipal, as empresas e as instituições estiverem empenhadas, reforça-se o sentimento de comunidade”, acredita João Galamba. “Vem aí um novo quadro financeiro com bastante dinheiro para a transição energética, para a eficiência energética, para a produção e autoconsumo, portanto, podem contar com o Governo para as ALGARVE INFORMATIVO #265

vossas iniciativas. Nos próximos três, quatro, cinco anos, Portugal tem de dar passos ainda mais firmes na transição energética e ação climática e contamos, obviamente, com o dinamismo das autarquias para esta estratégia de desenvolvimento social e económico. Há aqui também uma extraordinária oportunidade, mas é preciso saber agarrá-la”, considerou o Secretário de Estado Adjunto e da Energia, antes da comitiva se dirigir para o Mercado Municipal de Loulé .

32


33

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

34


35

ALGARVE INFORMATIVO #265


“NÃO HAVENDO VACINA DISPONÍVEL EM 2021, ALGARVE TEM QUE CONSEGUIR DEMONSTRAR QUE É UM DESTINO SEGURO”, DEFENDE CRISTIANO CABRITA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #265

36


37

ALGARVE INFORMATIVO #265


sol brilhava forte sobre o Pau da Bandeira, em Albufeira, no primeiro dia de Outono, mas a capital do turismo, e todo o Algarve, não tem motivos para sorrir depois de um Verão a meio-gás marcado pela pandemia da covid-19. E se, em julho e agosto, as pessoas se concentraram quase exclusivamente em trabalhar o máximo possível para fazer face às contas dos seus negócios e casas, agora começam a ter uma consciência mais real daquilo que as espera daqui para a frente. Neste contexto, Cristiano Cabrita, Doutorado em Ciência Política e Relações Internacionais, Licenciado em Relações Internacionais, Pós-Graduado em Estudos Europeus e Mestre em Relações Internacionais, não tem dúvidas de que o Algarve precisa, urgentemente, de um verdadeiro plano de recuperação económica que tenha em conta as especificidades de uma região que depende praticamente a 100 por cento da atividade turística, à semelhança do que sucede com os arquipélagos da Madeira e Açores. “E não serão certamente os

300 milhões de euros que o Ministro da Economia anunciou há largas semanas que vão resolver os problemas do Algarve. É preciso uma grande sensibilidade, do ponto de vista social, em relação àquelas pessoas que vão passar tremendas dificuldades a partir de outubro e novembro, assim como uma discriminação positiva para as micro, pequenas e médias empresas ALGARVE INFORMATIVO #265

do Algarve, porque são elas que garantem o vencimento a inúmeras famílias da região. O Algarve precisa de medidas muito específicas, porque o impacto que a covid-19 já teve na nossa economia não é comparável ao que aconteceu em Lisboa ou Porto”, defende o presidente do PSD/Albufeira. Cristiano Cabrita lembra que a época turística do Algarve só arrancou praticamente em julho, o que significa que muitas empresas vão estar quase um ano sem faturar a níveis normais que lhe assegurem a sustentabilidade financeira. “Há hotéis em Albufeira

que abriram com índices de ocupação de 30 ou 40 por cento, pelo que entendo que, dentro da própria região, deverá haver uma discriminação positiva em relação aos concelhos mais afetados pela pandemia. Recorde-se que cerca de 65 por cento dos turistas que visitam Albufeira são provenientes do Reino Unido, o que fez com que tivéssemos mais problemas do que, por exemplo, Portimão ou Lagos. Diria que aqueles 300 milhões de euros anunciados pelo Ministro da Economia seriam um bom início de conversa para as efetivas necessidades das empresas algarvias”, frisa o professor universitário e investigador, avisando que, quando começar a chover, será 38


quase como um «fechar de portas» para o Algarve. “E a nova época só vai

começar em março ou abril de 2021, se começar. Como é que empresas que não faturaram nestes meses todos e pessoas que estão desempregadas desde fevereiro ou março deste ano, vão conseguir aguentar”, questiona Cristiano Cabrita. O dirigente partidário não poupa, entretanto, elogios às autarquias algarvias pelos apoios que criaram e que rapidamente implementaram para ajudar as famílias e empresas dos seus concelhos, assumindo competências que são do Governo. “O Estado devia

desenvolver medidas concretas de ajuda ao Algarve, contudo, têm sido as câmaras municipais a desempenhar esse papel, mas elas 39

não têm fundos ilimitados. O Município de Albufeira atribuiu um milhão de euros, a fundo perdido, para ajudar as empresas e empresários liberais do concelho, para além de todas as outras medidas sociais que já rondam os 10 milhões de euros em apoios. Felizmente que tem capacidade financeira para o fazer, mas isso implica o adiar de obras que estavam programadas para este mandato”, indica Cristiano Cabrita, criticando também o poder central pela não realização de obras estruturantes para toda a região.

“Basta pensar no estado degradante da EN 125, no Hospital Central do Algarve que não existe, na situação débil que se assiste nos Centros de Saúde, da ALGARVE INFORMATIVO #265


não existência de um plano de mobilidade integrado. As autarquias continuam a fazer o seu trabalho e, se comunicarem bem que não estão a realizar obras estruturantes para, ao invés disso, valorizarem mais a vertente social, acredito que as pessoas vão aceitar isso com naturalidade. Hoje, entre construir o Hospital Central do Algarve e apoiar as pessoas que não conseguem colocar comida na mesa para os seus filhos, a escolha é fácil de fazer”, garante o comentador televisivo. De facto, cedo os presidentes de câmara do Algarve afirmaram que, mais depressa paravam com obras municipais em curso, do que deixavam os seus concidadãos passarem necessidades, mas não nos ALGARVE INFORMATIVO #265

podemos esquecer que 2021 é ano de Eleições Autárquicas. Cristiano Cabrita acredita, porém, que o não cumprimento de algumas promessas eleitorais não será usado como «arma de arremesso» pela oposição quando a campanha eleitoral for para a estrada.

“Os eleitores estão mais bem informados hoje do que antigamente, até porque as autarquias têm mecanismos de informação quase diários. As pessoas fazem as suas opções de uma forma mais consciente, mas julgo também que a oposição deve ser responsável. Não vale tudo em política. Se uma obra não avançar agora, avança daqui a uns meses, porque o alcatrão e os tijolos não têm coração nem emoções, o que interessa são os seres humanos”, declara. 40


Cristiano Cabrita salienta, entretanto, que o Algarve continua a ter pouco peso eleitoral no contexto nacional, o que leva a região a ficar, sucessivamente, fora das prioridades do poder central. “Tem sido

o nosso grande handicap desde o 25 de Abril e basta lembrar quando é que a autoestrada para o Algarve foi construída. Sempre foi uma zona esquecida pelo Estado, apesar de representar 4 ou 5 por cento do Produto Interno Bruto e do enorme impacto positivo que tem na própria imagem de Portugal em virtude da indústria do turismo”, critica o docente universitário. “O Algarve é excecional e os nossos deputados na Assembleia da República deveriam ter uma maior capacidade para reivindicar aquilo que é necessário para a região. Há quanto tempo é que andamos a debater o Hospital Central do Algarve? Já nem se trata de uma questão do governo ser PS ou PSD. Não temos uma linha férrea eletrificada; não há uma ligação de comboio entre o Aeroporto e a cidade de Faro; as obras no aeroporto demoraram o tempo que demoraram a ser feitas, quando é um eixo estratégico fundamental para alavancar o nosso destino. Acredito que os nossos deputados lutem pela região, mas o Algarve vai sendo esquecido ano após ano”. 41

EVENTOS “COMPLETAMENTE HORRENDOS” ABALARAM IMAGEM INTERNACIONAL DE PORTUGAL Descontente com a forma como o «seu» Algarve tem sido tratado ao longo das últimas décadas, Cristiano Cabrita fala também dos famigerados corredores aéreos e não hesita em afirmar que o Ministério dos Negócios Estrangeiros esteve bastante mal nesta matéria. “Devíamos ter sido

suficientemente fortes, do ponto de vista político, para chegar a uma solução diferente para o Algarve, porque sempre foi uma região segura, ainda mais se compararmos com o que se passava com outros destinos europeus. Espanha tinha 20 vezes mais infetados por 100 mil habitantes do que Portugal. O Reino Unido abriu o corredor aéreo em finais de agosto, mas isso já não serviu para nada”, critica o especialista em política internacional. “Se Lisboa e Vale do

Tejo tivesse um rácio de infetados menor do que a média nacional, acredita que não haveria um esforço para se criar uma solução diferenciada”, pergunta Cristiano Cabrita. “A verdade é que o nosso Governo, quer falemos mais ou menos abertamente, está amordaçado pelas esquerdas e, como disse o Marcelo Rebelo de Sousa disse, isto é tudo uma ALGARVE INFORMATIVO #265


questão de perceção. Quando saímos do confinamento, éramos um exemplo internacional no combate à pandemia, chamavamnos o «bom aluno», falavam do «milagre português». Depois, tivemos a manifestação do 1.º de Maio, uma coisa completamente horrenda. Seguiram-se outras manifestações, mais à direita e à esquerda, que potenciaram uma imagem negativa, e o facto é que aumentaram exponencialmente os infetados na região de Lisboa”. Ao mesmo tempo que aconteciam estes eventos de massas, Cristiano Cabrita lamenta que o governo português não tenha tido capacidade para explicar que a subida dos rácios de infetados também se devia ao grande aumento do número de testes efetuados, e que estes eram bastante superiores aos que eram feitos, por exemplo, em Espanha, França ou Itália. “Não sou Ministro dos

Negócios Estrangeiros, mas o que eu faria era explicar ao Foreign Office que o nosso índice de testes diários correspondia à realidade, ao passo que outros países deturpavam claramente os números para não prejudicarem o turismo durante o Verão. O Reino Unido tomou decisões com base na informação que possuía, Portugal é que devia ter tido a capacidade de colocar em cima da mesa índices comparativos reais. A alta política ALGARVE INFORMATIVO #265

não se compadece com mensagens menos conseguidas”. A crise de saúde pública continua preocupante, como todos bem sabemos, mas as autarquias também não se cansam de alertar para a crise social e económica que já se sente e cujos efeitos serão nefastos para a generalidade da população. Avisos que não se têm notado com tanta intensidade da parte do governo, concorda o entrevistado. “António

Costa teve o mérito de conseguir, razoavelmente, gerir bem a crise, 42


apesar de estar dependente da esquerda para a aprovação do Orçamento de Estado para o próximo ano. Claro que é muito difícil voltarmos a parar o país, isso significaria mergulharmos numa crise económica ainda pior. Também não nos podemos esquecer que, em 2021, teremos Eleições Autárquicas e António Costa está, de certa maneira, a passar algumas das decisões mais complicadas para os Municípios, para que o ónus da 43

negatividade seja absorvido pelo poder local, o que terá depois consequências nas Autárquicas. Penso que devemos encarar isto com sentido de estado, ou seja, não fazer bandeiras da política e ideologia, quando aquilo que está em causa é o bem-estar da nossa população e a recuperação económica de Portugal”, frisa Cristiano Cabrita, não compreendendo o motivo de os portugueses terem ficado vários meses confinados em casa com os filhos e, depois, permitir-se ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

44


a realização da Festa do Avante ou da Manifestação do 1.º de Maio.

é pródigo na realização de planos que, por muito bons que possam parecer, acabam por nunca sair da gaveta.

O presidente do PSD/Albufeira chama ainda a atenção para a enorme importância que as Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia têm no dia-a-dia dos portugueses, pelo que não aceita a «baixa política» de se tentar ganhar votos a todo o custo. “Ninguém quer saber de

“Temos um plano de recuperação da TAP com valores astronómicos e nem sequer entro na história dos bancos, portanto, o Governo tem que olhar para o Algarve, a Madeira e os Açores de uma forma diferenciada. Metade da população algarvia vive do turismo o ano inteiro e não podemos deixar desaparecer aquelas microempresas familiares e as pequenas e médias empresas. E todas elas precisam de injeção de capital para fazer face às suas despesas, porque o mês de agosto foi uma ilusão”, dispara Cristiano Cabrita. “É certo que o Algarve teve muitas pessoas durante o Verão, mas o consumo foi bastante inferior ao de outros anos e as unidades hoteleiras também tiveram que baixar o preço médio de estadia. Estávamos a vender o Algarve, em agosto, se calhar a preços de maio e junho”, explica. “Quando os poucos turistas que ainda estiverem no Algarve se forem embora, vamos ter um problema terrível. Mesmo a Fórmula 1 e o MotoGP no Autódromo Internacional do Algarve terão um impacto menor junto do mercado estrangeiro do que aconteceria numa situação

uma nova conduta de água para um prédio quando as escolas não têm condições para assegurar a distância social dos nossos filhos, quando não existem auxiliares suficientes, quando não há transportes escolares à altura das necessidades. As autarquias têm que valorizar mais as pessoas, as famílias, os jovens, porque os tijolos podem-se meter hoje ou daqui a dois meses. O fundamental, agora, é criar-se uma sociedade mais equitativa a nível local, sermos solidários uns com os outros, para que se possam menorizar os impactos negativos desta pandemia. Arrisco-me a dizer que metade da população ativa do Algarve vai estar no desemprego a partir de outubro ou novembro”, antevê o entrevistado.

“AGOSTO FOI UMA ILUSÃO” Perante tudo isto, parece uma «verdade de la palisse» que o Algarve carece de um plano de recuperação económica adaptado à realidade da região e, inclusive, de cada concelho, mas Portugal 45

ALGARVE INFORMATIVO #265


normal. E não teremos também os «balões de oxigénio» do Réveillon”. Com o previsível encerramento de grande parte dos estabelecimentos de comércio local, restauração e hotelaria nas próximas semanas, Cristiano Cabrita questiona o que será de uma região que só irá começar a faturar novamente em março ou abril, isto se existir confiança suficiente para se retomar a atividade turística. “Precisamos ser realistas e

racionais, porque nada nos garante que, em março, já tenhamos uma vacina contra a covid-19. Como é que vamos lidar com a nossa projeção turística? Vai haver corredor aéreo para o Reino Unido? Se não houver, o que será do Algarve”, questiona o professor universitário e investigador, acrescentando que as próprias autarquias não têm fundos ilimitados e que as suas receitas, em 2020, serão muito inferiores às que estavam inicialmente previstas.

“Depois, há imperativos legais que impedem os Municípios de facultar mais apoios diretos, mesmo que o queiram e possam fazer. O Estado tem que olhar para o Algarve e criar um plano efetivo de recuperação”, volta a exigir Cristiano Cabrita. “As pessoas têm que ser ajudadas em todas as vertentes, assim como as associações culturais e desportivas, caso contrário, não haverá nada para oferecer, no Algarve, para além do sol e mar”.

cinzentos para os algarvios, mas há que criar um Plano B e um Plano C para evitar que 2021 seja um ano mesmo negro, e disso o governo pouco tem falado. “Não havendo uma vacina

até ao próximo ano, temos que nos habituar a viver com esta realidade e sermos capazes de mostrar aos mercados turísticos que o Algarve é um destino seguro, porque o somos efetivamente. E foi isso que o Ministério dos Negócios Estrangeiros não conseguiu fazer este Verão”, lamenta o entrevistado. “Existe um perigo em todo o mundo que se chama covid-19, mas o Algarve, comparativamente com outros destinos turísticos, é mais seguro. Os Municípios e a Hotelaria conseguiram adaptar-se a esta realidade, mas o Governo devia ter implementado um sistema de testes rápidos e validados, fosse no Aeroporto ou na zona envolvente do Estádio do Algarve, para que cada turista que saísse do Algarve tivesse um comprovativo de que não estava infetado e, desse modo, já não precisava cumprir quarentena. Se não se fizer nada, em 2021 vai acontecer exatamente o mesmo que este ano no que toca aos corredores aéreos”, avisa Cristiano Cabrita em final de conversa .

Avizinham-se, portanto, meses ALGARVE INFORMATIVO #265

46


47

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

48


49

ALGARVE INFORMATIVO #265


TEATRO MUNICIPAL DE PORTIMÃO FESTEJOU 100 ANOS DE AMÁLIA Texto: Som Direto | Fotografia: Vera Lisa

ALGARVE INFORMATIVO #265

50


51

ALGARVE INFORMATIVO #265


ara assinalar o centenário de nascimento da rainha do fado, o Grande Auditório do TEMPO Teatro Municipal de Portimão recebeu, no dia 12 de setembro, o espetáculo inédito «Amália Rodrigues - 100 Anos». E felizes podem-se considerar aqueles que conseguiram bilhete, pois a lotação esgotou praticamente assim que os ingressos foram colocados à venda, também devido às restrições da DGS que reduziram o número de lugares na sala. Os nomes exibidos no cartaz prometiam um grande espetáculo, mas foi muito mais de que se esperava, a alegria dos participantes, público e artistas era evidente, a vontade de sair de casa e ALGARVE INFORMATIVO #265

participar em eventos culturais é muita, sendo que este era bastante especial para as duas partes: era dia de homenagear a nossa diva da canção nacional. O trio de guitarristas, Ricardo J. Martins, Luís Trindade, Cláudio Sousa, abriram a noite com um medley de temas da diva do fado e acompanharam a jovem promessa do fado Luana Velasquez, que se prepara para lançar o seu primeiro registo discográfico. O virtuoso pianista nascido em Olhão, Júlio Resende, revisitou Amália Rodrigues como só ele o sabe fazer, o público deixou-se levar pelo som que lhe parece magicamente sair das pontas dos dedos. «Medo», o dueto com Amália, fechou a atuação, mas mal os presentes sabiam que Júlio Resende 52


53

ALGARVE INFORMATIVO #265


iria voltar. Laura Abel encheu o palco ao som de «Uma Casa Portuguesa» num momento de dança contemporânea de imensa beleza. Teresa Aleixo, acompanhada pelos Suricata, tinha um dos trabalhos mais difíceis neste contexto e que suscitava maior curiosidade, desconstruir os temas de Amália de uma forma informal ao seu jeito e dos seus companheiros de palco. O resultado foi simplesmente divino, ouviram-se «Nem às Paredes Confesso», «Au Bord do Tage» e «Maria Lisboa», versões que superaram todas as espectativas e mereceram o reconhecimento do público. Um dos nomes mais esperados do espetáculo, Marco Rodrigues, um dos mais reconhecidos fadistas nacionais e que foi artista revelação dos Prémios Amália Rodrigues em 2008, interpretou «Estranha Forma de Vida» e «Senhor Vinho» e, para surpresa de todos, convida

ALGARVE INFORMATIVO #265

para o palco Júlio Resende, que o acompanhou em «Acho Inúteis as Palavras» e «Fadinho da Tia Maria Benta», proporcionando um dos mais surpreendentes momentos da noite. Honras que fecho para quem foi Amália durante três anos nos palcos de Filipe La Feria. Alexandra tem como referência a diva do fado e mostrou-o como só ela o sabe fazer em «Lágrima», «Ai Maria», «Gaivota», «Povo Que Lavas no Rio» e no encore final para terminar em festa, «Tirana», com toda a gente a cantar e a aplaudir. O espetáculo não podia ser melhor, algumas das mais belas canções da nossa música foram vividas de uma forma intensa e de rara beleza, quem esteve presente viveu momentos irrepetíveis que vão ficar na memória para sempre .

54


55

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

56


57

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

58


59

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

60


61

ALGARVE INFORMATIVO #265


«ROTTWEILER» DO TEATRO DO NOROESTE FOI A CENA NO TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

ALGARVE INFORMATIVO #265

62


63

ALGARVE INFORMATIVO #265


Teatro Lethes, em Faro, recebeu, no dia 12 setembro, a peça «Rottweiler», do Teatro do Noroeste. Com dramaturgia e encenação a cargo de Ricardo Simões a partir de um texto de Guillermo Heras e interpretado por Alexandre Calçada e ALGARVE INFORMATIVO #265

Tiago Fernandes, em palco assistiu-se a uma entrevista, num local secreto, entre um jornalista de um programa de televisão e um homem cognominado «Rottweiller», em que o tema central foi o recurso à violência por parte de pessoas relacionadas com a extrema direta e a gestão informativa desses acontecimento na vizinha Espanha . 64


65

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

66


67

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

68


69

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

70


71

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

72


73

ALGARVE INFORMATIVO #265


«TURISMO» DE TIAGO CORREIA MOTIVOU REFLEXÃO EM LOULÉ SOBRE O QUE ESTÁ A MUDAR NAS CIDADES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

ALGARVE INFORMATIVO #265

74


75

ALGARVE INFORMATIVO #265


Cineteatro Louletano abriu a sua nova temporada, no dia 12 de setembro, com a peça «Turismo», do dramaturgo e encenador portuense Tiago Correia, um dos mais reconhecidos da nova geração, numa coprodução com o Teatro Municipal do Porto. A apresentação fez parte do ciclo «Implikação», criado para celebrar os 90 anos do Cineteatro Louletano (1930-2020) e para contribuir para a produção de ALGARVE INFORMATIVO #265

pensamento e reflexão crítica em torno das temáticas que integram a sua programação artística para o biénio 2020-2021 e que se revistam de manifesta atualidade e pertinência. Depois de um pré-arranque da temporada a 8 de setembro, com uma talk, esgotada, em torno do triângulo «turismo, arte e pandemia» (em que participaram o encenador Tiago Correia, o fotógrafo Filipe da Palma e a arquiteta e docente universitária Teresa Valente), a apresentação desta inquietante criação veio colocar a 76


tónica no que está a mudar nas nossas cidades. A nova criação de Tiago Correia para a companhia «A Turma» pretende explorar os efeitos colaterais do turismo e a sua influência nas relações humanas, como seja a gentrificação, muito observável já em núcleos urbanos como Lisboa ou Porto. “É talvez o processo que melhor materializa a luta de classes no espaço urbano contemporâneo, porque a substituição social faz-se ao nível de classe numa determinada comunidade”, refere a sinopse. 77

«Turismo» nasceu de um processo de investigação e experimentação transdisciplinar, desenvolvido entre Porto, Loulé (onde o encenador e o realizador Francisco Lobo estiveram em residência artística no verão de 2019) e Barcelona, emergindo daí uma nova dramaturgia nascida de premissas plurais partilhadas, quer com profissionais de outras áreas artísticas e científicas, quer com múltiplos interlocutores locais . ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

78


79

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

80


81

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

82


83

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

84


85

ALGARVE INFORMATIVO #265


ENCONTROS DO DEVIR LEVARAM FRANCISCO CAMACHO E EDUARDO FUKUSIMA AO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

ALGARVE INFORMATIVO #265

86


87

ALGARVE INFORMATIVO #265


diados devido à pandemia da covid19, os encontros do DeVIR regressaram, no dia 18 setembro, com duas performances no Cineteatro Louletano. «Entre Contenções», solo de Eduardo Fukushima, tornou-se num trabalho icónico de um dos mais destacados/premiados coreógrafos da dança contemporânea brasileira. “Desde

a sua criação tem vindo a ser ALGARVE INFORMATIVO #265

apresentado ininterruptamente, o que se justifica pela sua qualidade e simplicidade e pela verdade que nos transmite. Resultou de uma pesquisa de linguagem muito pessoal, um vocabulário simples e cru que joga com a desarmonia e o confronto”, explica a organização. O solo «Entre Contenções» representa um dos momentos da pesquisa de linguagem em dança contemporânea que Eduardo Fukushima vem realizando desde 2007, 88


89

ALGARVE INFORMATIVO #265


com base em questões e sensações autobiográficas. A dança é a própria pergunta, como vontade de potência e geradora de movimento. Este trabalho faz uso do mínimo possível de recursos cénicos, gerando uma dança que acontece na crueza do espaço. Francisco Camacho é um Portugal adiado que somos todos nós, que vive na promessa do retorno, descreve a organização dos encontros do DeVIR.

“Muito poucas vezes a dança portuguesa espelhou tão bem a nossa identidade histórica. «Um Rei ALGARVE INFORMATIVO #265

no Exílio» é a recriação, o resgate de um solo marcante da dança contemporânea portuguesa, que se centra na figura de D. Manuel II, o último Rei de Portugal, exilado em Inglaterra em 1910. É um retrato dum certo Portugal, por vezes irónico, por vezes controverso, onde a solidão é permanente”. Um universo grotesco, obscuro, sensual que justapõe a intimidade, os vícios do coreógrafo/intérprete e a figura iconográfica do Rei. “Passado e

presente confundem-se numa 90


91

ALGARVE INFORMATIVO #265


personagem, que vive distintas histórias centradas em gestos e ações simbólicas do quotidiano masculino”. Nos últimos 27 anos, e depois de apresentações na Europa, África e América, o remake deste solo continua a expor uma personagem dividida entre a ALGARVE INFORMATIVO #265

passividade e a ação, que hesita em envolver-se na luta pelo poder e rodeiase de prazeres triviais. Uma figura histórica, expõe-se aqui um corpo presente, preso na dialética entre razão privada e razão de Estado, entre poder e potência, envolto num manto de ironia que mais amplifica na atualidade o apelo particular desta obra marcante da história da dança portuguesa . 92


93

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

94


95

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

96


97

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

98


99

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

100


101

ALGARVE INFORMATIVO #265


OPEN CALL DA MÁKINA DE CENA DEU ORIGEM À EXPOSIÇÃO ISO[LADOS] Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

ALGARVE INFORMATIVO #265

102


103

ALGARVE INFORMATIVO #265


stá patente, até 24 de outubro, no CECAL – Centro de Experimentação e Criação Artística de Loulé, a exposição coletiva de fotografia ISO[LADOS], que resultou de uma opencall lançada pela associação Mákina de Cena, entre abril e maio do corrente ano, com o objetivo de valorizar olhares criativos sobre a realidade do isolamento social provocado pelo novo coronavírus. A adesão foi maciça e a mostra heterogénea de imagens conta com participantes de norte a sul do país, e muitos deles fizeram questão de comparecer à inauguração, no dia 11 de setembro, momento que contou, igualmente, com a presença de Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé.

confinamento e selecionadas por um júri composto por profissionais da área, de autoria de Beatriz Pequeno, Fernanda Serra Gondim, João Carlos Oliveira, João Serrão, João Tiago da Silva Ferreira, Malgorzata Stryjek, Manuel Amorim, Mariana Charrua, Miriam Rodrigues Estêvão, Nuno Murta, Olga Matviychuk, Paulo de Magalhães Almeida (FRAGMA), Pedro Gonçalves, Pedro Paulino, Pedro Rolo, Rita Isabel Pereira Colaço, Sara Afonso, Sara Araújo Silva, Tata Regala e Tomás Novais de Castro. A iniciativa contou com o apoio da Câmara Municipal de Loulé, do IPDJ Faro / Iniciativa Ser Jovem em Casa, e com o apoio à divulgação de Loulecópia e Panóplia.Lx. A exposição pode ser visitada até dia 24 de outubro, de terça a sexta-feira, das 10h às 13h30 e das 14h30 às 18h, e aos sábados, das 10h às 16h30 .

Estão expostas 30 fotografias, executadas durante o período de ALGARVE INFORMATIVO #265

104


105

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

106


107

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

108


109

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

110


111

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

112


113

ALGARVE INFORMATIVO #265


OPINIÃO Censura a gosto Paulo Cunha (Professor) uando, há cerca de dez anos, decidi integrar a rede social Facebook, fi-lo com a intenção de partilhar a minha forma de pensar e de estar no mundo, tentando receber o mesmo em troca. Sem reservas, encontrei pares nos meus interlocutores, umas vezes na concordância, outras na discordância esclarecida e pedagógica. Embora de uma forma cada vez mais reduzida, tive, durante quase uma década, o prazer de dar e de receber. Achava então estranho como é que tinha alguns «amigos do Facebook» que nunca partilhavam uma ideia ou um comentário, limitando-se, a coberto das poucas imagens onde se deixavam descobrir, a ter uma atitude passiva e «voyeurista» em relação ao que acontecia nessa pretensa rede social. Foi preciso passar uma década para, finalmente, os entender! Se, antes do advento das redes sociais, já tinha escrito em várias publicações físicas (jornais e revistas), o facto de expor as minhas ideias e ideais ao escrutínio público numa rede social fez com que fosse convidado para escrever nalgumas publicações digitais. Aceitei ALGARVE INFORMATIVO #265

alguns convites, em boa hora. Outros não! Passada uma década, para além de muitas outras manifestações tão profundamente humanas, constatei que também a censura herdada pelos nossos pais e avós ainda prevalece em muitos que se outorgam e proclamam livres. Escrevendo o que vivencio, sinto e penso, obviamente desnudo-me perante quem me lê. Nada de especial, sempre assim foi e assim será com todos os que ousam! Por isso, não me obriguem a explicar o que não precisa de explicação. Posso estar errado, mas só peço que respeitem o meu direito a errar. Mas, para que tal aconteça, não podemos amordaçar quem pensa o contrário ou diferente de nós. Respeito e agradeço a quem, por motivos variados, se revê em determinadas publicações e, subscrevendo-as, partilha-as. Da mesma forma, respeito quem nas suas publicações escreve o que assimilou e aprendeu com as publicações de muitos outros. Embora muitos assim se achem, ninguém é uma ilha, pois muitas correntes moldam o nosso ser. Entristece-me, por isso, ver a forma como tantos lidam com a diferença de outros tantos.

114


Tendo o privilégio e o prazer de, com as minhas palavras e alguns silêncios, contribuir para a reflexão de quem em mim vê algum sentido, não hesito em partilhar as minhas publicações em determinados grupos (ligados às redes sociais) que se proclamam relacionados a áreas que me são queridas, e assim chegar a mais leitores. Eis senão quando, ao serem analisados por alguns dos seus administradores/moderadores, alguns artigos não merecem o direito de ser partilhados, pois, segundo eles, por já terem sido publicados, constituem promoção para o autor e para as revistas regionais onde foram publicados. Permitindo as publicações de quem, a reboque e com a âncora de alguns artigos divulgados na imprensa nacional e institucional, exala desconfiança, 115

discordância e maledicência, não se coíbem de chamar publicidade e promoção às opiniões de quem não coabita na sua bolha ideológica. São atitudes que mais parecem remoques inquisitoriais de quem aspira à institucionalização da verdade única. Não é difícil entender as razões que levam ao progressivo desinteresse pela interatividade nas redes sociais. Finalmente, grande parte dos seus utilizadores descodificaram os sinais da premissa que se oficializou nas redes sociais: “Quem não alinha comigo, obviamente, só pode estar contra mim!”. E não é que a história se vai repetindo com a soma de tantas estórias?! .

ALGARVE INFORMATIVO #265


OPINIÃO Do Reboliço #100 Ana Isabel Soares (Professora Universitária) nde tens tu a cabeça, Reboliço...? Não fosse estar agarrada a esse cachaço de pelinho baixo e gordura pouca, sairia pelo ar atrás das nuvens, parvejando como quando tentas correr pelas estradas das borboletas e te alegra e entristece vê-las escaparem-sete do alcance, da boleia. Não é figura em que gostes que te apanhem: o moleiro ri-se, a mulher sorri, tu achas-te só tolo, baixas o focinho até à terra e finges que era para as formigas, para as formigas que olhavas, não para as mariposas. No delírio, ainda saltas – mas não és gato, Reboliço, não se te dobra a malota como desejas e os vês fazer, que parece que nem esqueleto têm, os diabos. Saltas até o toutiço dar com dor num tronco mais baixo da figueira – e também ela se ri de ti. És o que és, bicho, que cada um é como cada qual e cada qual é como a mãe que o pariu, para evitar o vernáculo que não compreendes. (Parir por parir, aí tens a gata vadia, que em ano bissexto vai na segunda ninhada nascida e parece seguir na boa vida, mesmo quando mia os lamentos mais sentidos que o monte do Moinho Grande já escutou. Mas se até essa, famélica que só na barriga tem ALGARVE INFORMATIVO #265

volume, se esgueira por onde quer e até onde as borboletas vão). Um dia destes, voarás – que por certo o temos todos os bichos do mundo. Mas voarás todo por todo, e de um todo: irá a cabeça, o tronco, as patas de pontinha branca, o focinho afilado e os olhos finos. Quando deres por ela, estarás a olhar para os degraus do socalco sem os pisares, para o chão adro circular à volta da torre do moinho: subirás a ver para dentro das janelas de umbral de pedra, e abrirás o sorriso porque, sobre o soalho, os raios do sol dão vida às teias, à poeira enfarinhada e o ar parecerá uma multidão de pirilampos. Tomarás as certas proporções do Rafael, assentado na montada, e verás que mais se assemelha ao moleiro do que ao seu ajudante amigo – que o ferro negro do catavento é estreito e mal amanhado, assim ao pé, e, subindo mais, deixarás de o distinguir porque tem o tom igual ao do cone do telhado, que quase em nada será um círculo achatado que os olhos te dizem ser um buraco na terra mas o coração ainda te garante ser forma de furar o céu. Saberás que o caminho de ida passa pela berma da cidade, entre os ciprestes onde deitaram o moleiro (mas ele continua lá no monte, mais a mulher: saíram da casa, olharam para ti, deitado 116


Foto: Vasco Célio

ao sol na terra que há bocado tinha sombra, perguntaram-se “Está parvo, o cão?...”, temeram, durante dois instantes, um cada um, saber a razão de não te mexeres, de não fazeres o que mais sensato há na vida de um bicho, que é procurar a sombra; e aproximaram-se de ti sem dares rego, e com a ponta do pé, docemente, te tocaram, e com a ponta da língua, com doçura, te chamaram, “Reboliço...?”, “Preguiçoso...?”, e com as pontas dos olhos, humidamente, dois pares de 117

olhos se entenderam, Reboliço, então, mas ele já tinha quantos?, olha, pronto. Vamos lá tratar de enterrar o bicho, coitado, nunca foi ruim) e seguirás ao encontro dele, sabendo, como se sabe quando tudo se sabe, que a cada manhã te esperará a melhor das saudações e a bolachinha maria . * Reboliço é o nome de um cão que o meu avô Xico teve, no Moinho Grande. Escrevo a partir desse olhar canino.

ALGARVE INFORMATIVO #265


OPINIÃO Notas contemporâneas [2] Adília César (Escritora) A ciência realmente só tem alcançado tornar mais intensa e forte uma certeza: - a velha certeza socrática da nossa irreparável ignorância. De cada vez sabemos mais - que não sabemos nada. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) DEMAGOGIA é uma doença assintomática e conduz o ser humano a um estado letal de ignorância e até de indiferença perante o mundo. Estamos todos doentes, mas ninguém o admite. Uma quantidade enorme de informação rodeia-nos por todos os lados, é como um oceano de plástico. Está ali por via da nossa própria insensatez, mas parece não nos dizer respeito. Compadecemo-nos dos pobres animais marinhos presos no lixo que lançamos às águas, vistos com os nossos olhos lacrimosos no documentário televisivo, e depois comemos uma bela sandes muito bem embrulhada em papel de alumínio e acondicionada dentro de um saco de plástico, enquanto molhamos os pés na babuja da praia mais próxima, para onde nos deslocámos no nosso BMW a gasóleo e gastamos meia hora, às voltas, à procura de um sítio para estacionar. É só esta vez, pensamos. E o mar, tão puro na relação que estabelece com todas as criaturas que serpenteiam por entre as algas, ainda cumpre a sua intenção de vida: ALGARVE INFORMATIVO #265

o vai e vem das marés é isso mesmo, a oscilação da sua luta inglória nas correntes de vida, de morte e de demagogia. Quais serão as correntes mais fortes? Siza Vieira disse que “nenhuma árvore ou pedra arrancada à natureza nos é restituída”. Eu diria que o planeta é um parceiro de peso neste desumano jogo de xadrez: a causa e o seu efeito, tão conhecidos e ao mesmo tão ignorados em cada jogada. * A VIDA tem os seus próprios direitos, mas nem sempre deles goza. Cometem-se crimes, mas o que mais impera são as absolvições. Tudo é perdoado, tudo é passível de um qualquer esquema de subterfúgios lamechas. É só esta vez, pensou ela quando ele lhe deu a primeira bofetada. Mas ele gostou da sensação que o ciclo de violência lhe soprou ao ouvido: a mão que bate é a mão que acaricia e limpa as lágrimas. É a mesma mão feita de osso, sangue, força bruta e adrenalina. Ela também gostou desta espécie de desamor, porque a face é feita de medo e o medo alimenta-se do ensimesmamento da rotina diária do crime 118


e da sua inevitável absolvição. Ela acredita no seu precioso pensamento de luxo e adorna o seu pescoço, a sua garganta, a sua voz com um colar de pérolas feito de ideias nocivas: é melhor ter uma desilusão do que não ter coisa nenhuma. * O SER HUMANO está a transformar-se no seu maior inimigo. Somos indivíduos predadores em relação a todas as outras criaturas vivas, o que quer dizer que também somos autodestrutivos. Lutamos pela terra, pela água, pela comida, pelos valores em que acreditamos. A cidadania tem muitos apelidos: somos feitos de sonhos, queremos ir mais rápido e mais longe, possuir mais coisas: equipamentos mais eficientes e gagdets com mais funcionalidades, comida rápida, medicamentos para curar todas as doenças, objectos essencialmente inúteis para usar e deitar fora. Não olhamos a meios para atingirmos os fins – corrupção política, destruição planetária e desigualdade social em larga escala. Mais, mais, mais. E se o futuro for mais do mesmo, não haverá um ponto sem retorno em que a única velocidade seja, inevitavelmente, a da câmara lenta? Menos, menos, menos, por favor. Nós, os humanos e a nossa irreparável ignorância num mar de destruição. * A FUTUROLOGIA define cenários possíveis, prováveis, desejáveis. Hoje em dia somos todos peritos. Cada um invoca o seu oráculo: uns, consultam a sua divindade favorita e outros, leem a legenda curta que aparece a correr na parte inferior ou superior do ecrã da televisão durante a emissão do 119

telejornal. Qual será a informação mais fiável? Só o futuro o dirá. Vamos ficar todos bem? Isto vai piorar e muito? Vem depressa, espírito (o futuro não tem corpo), ajuda-me a contar essa história. A invocação do real é erro, pavor. E mortalidade suspensa sobre as nossas cabeças. A ciência como cura para todos os males, enfiada na nossa carne através do buraco feito por uma agulha. É mesmo isso que querem? Um deplorável mundo novo? Na verdade, faltam poucos meses para acontecer a melhor coisa deste ano: o fim dele. E depois, na medida do possível, tudo irá recomeçar num novo ciclo temporal mergulhado no mesmo molho agridoce. Mais do mesmo. E ainda assim, não escaparemos ilesos . ALGARVE INFORMATIVO #265


OPINIÃO A rainha empreendedora Cristina Ferreira Fábio Jesuíno (Empresário) ristina Ferreira tem sido, nos últimos anos, uma das personalidades com mais destaque em Portugal, conseguindo ser a rainha em várias áreas de negócio. O efeito Cristina Ferreira tem contagiado o nosso país, devido à sua capacidade de inovação, tem conseguido em várias atividades, desde as redes sociais, televisão, moda e passando pela imprensa escrita, transformar mentalidades e alcançar vários sucessos. A Cristina Ferreira é uma das maiores empreendedoras portuguesas, devido ao seu percurso de superação e de acreditar que é possível alcançar os seus sonhos sem medo de correr grandes riscos, um verdadeiro exemplo para as gerações futuras. É importante analisar alguns aspetos do seu percurso que foram decisivos. O primeiro que gostaria de destacar aconteceu em 21 de maio de 2013, com o lançamento do blog de lifestyle «Daily ALGARVE INFORMATIVO #265

Cristina», num grande evento de entretenimento ao estilo de Hollywood no Hotel Pestana, sendo a primeira celebridade nessa área em Portugal a lançar um blog, que logo no primeiro dia foi abaixo com mais de cinco mil visitantes. Esse lançamento mostrou a sua visão do futuro, com uma aposta no digital em várias plataformas, aproveitando já a notoriedade que tinha na televisão. O seu blog foi, sem dúvida, a base da construção da sua marca pessoal, criando uma estratégia e uma equipa profissional para a ajudar nessa tarefa. Pouco tempo depois lançou um perfume, sendo a primeira embaixadora local de uma marca internacional, a LR Health & Beauty, ao lado de grandes celebridades internacionais, como Bruce Willis e Karolina Kurkova. Seguindo-se o lançamento de uma marca própria de calçado, com um grande sucesso. Outro marco importante foi o lançamento da uma revista em nome próprio, que foi desde o início um grande sucesso, com várias edições esgotadas, permitindo que a sua marca ganhasse ainda mais notoriedade. Na 120


altura do lançamento, só havia no mundo uma celebridade com uma revista, era a Oprah, um pormenor claro do espírito de empreendedora de Cristina, que em Portugal arriscava num projeto editorial muito desafiante.

121

Hoje, quer se goste ou não, Cristina Ferreira, é a diretora de entretenimento da TVI, acionista e administradora da Media Capital e uma das pessoas mais empregadoras de Portugal e no futuro vai ser ainda mais surpreendente. Parabéns empreendedora Cristina! . ALGARVE INFORMATIVO #265


OPINIÃO 300 João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) ão, o título em nada se relaciona com o famoso livro de Frank Miller sobre a Batalha das Termópilas. Nessa fantástica história, baseada em acontecimentos reais ocorridos no ano 480 A.C, um pequeno destacamento militar de 300 guerreiros, liderados pelo general Léonidas, conseguiu suster durante vários dias o avanço do exército persa, com 300 mil homens. 300 para 300 mil. O que traz à conversa os 300 milhões da UE destinados ao Algarve, como reforço especial das ajudas financeiras para fazer face aos enormes prejuízos causados pela covid-19 na região e em particular ao sector do turismo. Resta saber, contudo, se 300 milhões conseguem minimizar ou estancar sequer o impacto que ascende, segundo vários especialistas, a muito mais do que esse montante e, mais importante, como irão ser aplicados.

questionáveis quanto aos resultados esperados, bem como aos impactos gerados (nomeadamente ambientais).

A resposta a esta última questão não é ainda conhecida, mas a dispersão de opiniões já vai sendo conhecida nos jornais regionais. E, como esperado, a pulverização de ideias é tal que poucos são os pontos em comum. E em cima disso, muitas delas são, no mínimo,

Porém, parece cair no esquecimento o objectivo para qual foi este fundo de emergência criado.

ALGARVE INFORMATIVO #265

Misturam-se obras estruturais há muito reclamadas pelos algarvios - como a requalificação da linha ferroviária - com caprichos municipais pouco relevantes do ponto de vista de desenvolvimento regional. Propõem-se obras de enorme envergadura - que num ápice consumiriam na integridade o montante em causa - e em paralelo avançam-se com chavões como «diversificação da economia», mas sem mencionar nada em concreto. A variedade das vontades é grande e chegar a um consenso na aplicação deste dinheiro não será uma tarefa fácil. Há, porém, uma tónica repetidamente anunciada: execução de obras. Desde construir a barragem da Foupana, a requalificar a EN125 ou à instalação de novas estradas, são muitas as ideias para gastar dinheiro em projectos de engenharia civil. «Tradição» está tão bem conhecida no Algarve.

Ele surge num contexto muito específico, originado pelo forte impacto da pandemia na região, em particular na 122


actividade económica associada ao turismo. E é aqui que a discussão deveria estar centrada: como tornar esta actividade mais resiliente? Como apoiar as empresas e os profissionais? Como adaptar a região para um turismo mais sustentável, qualificado e orientado para as tendências de futuro? Como diversificar a base económica do Algarve, fugindo da dependência excessiva do turismo? Como melhorar as condições da região para fixar e gerar novas actividades empresariais geradoras de riqueza orientada para os desígnios do Pacto Verde Europeu? Ou a própria Estratégia de Desenvolvimento Regional do Algarve 2030? Como esbater as assimetrias territoriais, entre o litoral e o interior? Quero acreditar que estas e muitas outras questões estarão na base do plano que irá concretizar a aplicação dos 300 milhões na região. Mas, já agora, onde está esse plano? Não deveria ser sujeito a consulta pública? Esperemos que sim. Pior que 300 milhões mal gastos, são 300 milhões mal gastos ao arrepio do 123

conhecimento da população. E isso não é tolerável nos dias actuais! Aguardemos então por novidades deste plano e das suas propostas. Não saberemos se serão 300, mas muitas serão certamente .

ALGARVE INFORMATIVO #265


OPINIÃO Associativismo e Sindicância III Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) que é um Sindicato, para que serve, qual a importância? O sindicato começou por ser um local onde alguns trabalhadores especializados se juntavam para em conjunto orquestrar medidas de acção na luta contra as injustiças existentes no desempenho das suas funções, que mais tarde, viria a dar lugar a grupos de trabalho compostos por trabalhadores mais velhos ou com mais experiencia e anda com garra de defender para si e seus iguais, um conjunto de propostas, defendidas e aprovadas em reunião e lideradas por alguém idóneo e conhecedor da realidade e anseios dos trabalhadores que se viam representados por aquela associação. O movimento em Portugal iniciou-se após a revolução do 25 de Abril, na conquista de melhores condições de trabalho/regalias, horários e salários e teve no período chamado de Gonçalvismo uma fase menos abonatória, muito por causa da ligação e acção dos partidos de esquerda e extrema esquerda, tendo desde essa época, havido sempre conotação politico partidária entre os sindicatos e ALGARVE INFORMATIVO #265

os partidos políticos, hipoteticamente por pensarem que assim teriam mais força, fazendo da luta dos trabalhadores, também uma luta politica. Falando da luta dos trabalhadores da Indústria hoteleira, especificamente, podemos de forma sucinta dizer que após um período de muita contestação confundida e mesclada com ideias políticas, onde se verificaram episódios de relevo, foram fundadas os seguintes Sindicatos – Sindicato Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Sul, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Algarve e o Sindicato da Hotelaria do Algarve, mas nenhum deles, especificamente dedicado aos Cozinheiros. Eu entendo que o Sindicalismo pode e deve existir apenas pela defesa dos profissionais de uma classe, sem qualquer conotação política, religiosa ou outro dogma e baseada numa – Carta de intenções, clara e objetiva e ainda suportada por um – Manual de procedimentos e um – Código Deontológico, muito para além das normais lutas por melhores salários. 124


Os sindicatos podem e são a melhor expressão do ditado «a união faz a força», já que representam a consciência de classe, solidariedade e unidade em volta de uma causa comum, estimulando os profissionais para a importância do associativismo e do seu papel na construção de melhores condições parta a classe. Qual o papel do Sindicato? Representar a classe em propostas ao governo e a organismos patronais, defendendo o seu profissionalismo e fazer observar a realidade actual e para assuntos importantes que possam pôr em causa o seu bem-estar, desempenho, fazendo ou recusando acordos e ainda promovendo palestras e encontros variados, cursos de aperfeiçoamento e formação, visando estabilidade, saber, união, respeito. Qual a importância Por dos profissionais junto ao sindicato? Sendo filiado ao sindicato, o profissional será representado por uma entidade e não precisará se expor de maneira isolada para enfrentar um problema, pois a oposição é coletiva, garantindo judicialmente qualquer tipo de perseguição, valorizando o respeito, valores e direitos.

Através da filiação, pagando a quota que for implementado, o que lhe dá acesso a benefícios diversos como assistência jurídica, plano de saúde, cursos, entre outros para além de e de igual importância, estar a contribuir para a defesa e promoção dos seus interesses e da sua classe. Como se tornar um dirigente do sindicato? Estar filiado ao organismo, pois só assim se pode votar e ser votado, comparecer às reuniões e disputar as eleições para a direcção. Deve, após eleito, participar ativamente do sindicato, estando muito bem informado sobre os temas de interesse da classe .

Como pode um profissional participar do/no sindicato? 125

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

126


127

ALGARVE INFORMATIVO #265


DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #265

128


129

ALGARVE INFORMATIVO #265


ALGARVE INFORMATIVO #265

130


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.