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ALGARVE INFORMATIVO
Revista semanal - 10 de outubro, 2020
CRISTINA BRANCO NUMA NOITE APAIXONANTE EM LOULÉ PROJETO SUSTOWNS | ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO DE PORTIMÃO | «ÁGUA» 1 INFORMATIVO #267 «02 OXIGEN» | «ATEMPO» | «TERRAS» | JORGE PALMA E TRIO DEALGARVE JAZZ DE LOULÉ
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18 - Escola de Hotelaria e Turismo de Portimão
26 - Adão Flores lidera projeto SuSTowns no Algarve ALGARVE INFORMATIVO #267
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OPINIÃO 116 - Paulo Cunha 118 - Ana Isabel Soares 120 - Adília César 122 - Fábio Jesuíno 124 - Augusto Pessoa Lima 40 - «Terras» em Portimão
104 - »Água» em Lagos 78 - Cristina Branco em Loulé
52 - Jorge Palma e Trio de Jazz de Loulé
92 - «02 Oxigen» em Lagos 11
64 - «Atempo» em Carvoeiro ALGARVE INFORMATIVO #267
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Isilda Gomes, Luís Araújo e Rita Marques
NOVA ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO DE PORTIMÃO DEVE ABRIR PORTAS EM MARÇO DE 2022 Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Teatro Municipal de Portimão foi o local escolhido para acolher, no dia 7 de outubro, a cerimónia de assinatura do contrato de construção da nova Escola de Hotelaria e Turismo de Portimão, pelas mãos do presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, e de Alexandre Jaime Boa-Nova dos Santos e Maria João Alves Canha, respetivamente o presidente e a vice-presidente do Conselho de Administração da ESTAMO – Participações Imobiliárias, SA, a empresa proprietária do antigo Estabelecimento ALGARVE INFORMATIVO #267
Prisional de Portimão, situado na Rua Professor Doutor Montalvão Marques, e que será alvo de obras de adaptação para instalação e funcionamento da nova unidade de ensino. Um imóvel localizado numa zona nobre da cidade de Portimão e que se encontrava desaproveitado, para pena de Isilda Gomes, presidente da Câmara Municipal de Portimão. “Era algo que
não orgulha ninguém e era um desperdício, tendo em conta a funcionalidade que pode vir a ter. Todos sabemos que a nossa Escola de Hotelaria e Turismo, 18
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apesar das dificuldades inerentes ao espaço físico, tem desenvolvido um trabalho magnífico. Os nossos profissionais são reconhecidos em todo o Algarve e Portugal, por isso, é um orgulho ter uma Escola de Hotelaria com essa capacidade de formação e preparação de homens e mulheres para a sua atividade profissional”, enalteceu a autarca. Entendendo que Portimão merece uma nova Escola de Hotelaria e Turismo, Isilda Gomes agradeceu à ESTAMO pela disponibilidade que teve para, conjuntamente com o Turismo de Portugal, a Secretaria de Estado do Turismo e a Câmara Municipal de Portimão, ali se instalar “uma valência que vai fazer toda a diferença”. “O
Algarve tem que ser competitivo e isso não pode acontecer apenas ALGARVE INFORMATIVO #267
pelas suas praias e hotéis, mas sobretudo pelos seus profissionais. É pela preparação dos nossos trabalhadores que ganhamos competitividade e a Universidade do Algarve e o Instituto do Emprego e Formação Profissional também desempenham um papel importante nessa matéria”, frisou a edil, confiante de que este investimento na formação vai dar frutos no futuro. “Muitos dos meus
colegas autarcas vieram passar férias ao Algarve este Verão e garantiram que nunca se sentiram tão bem como este ano, porque havia menos gente, mas, especialmente, pela forma como foram recebidos. O futuro é construído por nós, somos nós, 20
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Rita Marques e Pedro Moreira, diretor da Escola de Hotelaria e Turismo de Portimão
algarvios, que temos que ser o motor do Algarve, naturalmente com o apoio do poder central e de quem possui os meios financeiros para nos ajudar a ultrapassar os constrangimentos. Estou ansiosa por ver os nossos alunos fazerem a sua formação numa nova Escola de Hotelaria e Turismo de Portimão”, concluiu Isilda Gomes. Também a Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, se mostrou feliz por este momento, por considerar que
“as Escolas de Hotelaria e Turismo são viveiros de sonhos”. A governante recordou que, quando assumiu funções, uma das suas primeiras iniciativas foi conhecer in loco as Escolas do Turismo de Portugal e confessou ter ficado preocupada quando visitou a de Portimão. “As condições não são, ALGARVE INFORMATIVO #267
seguramente, as melhores, os alunos merecem muito mais, portanto, é para mim uma enorme felicidade estarmos aqui a assinar este contrato. Este ano tivemos números extraordinários, são 3.150 novos alunos que se vão juntar à grande família do turismo, um sector que comporta 400 mil profissionais. É verdade que vivemos uma situação particularmente difícil, mas não podemos perder esperança no futuro e isso exige investimento nos nossos jovens. São eles que nos fazem ser mais ambiciosos e sair da zona de conforto, são eles que podem mudar o mundo para melhor. Por isso, este investimento faz todo o sentido”, assegurou Rita Marques .
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UM TURISMO MAIS SUSTENTÁVEL E DE MAIOR QUALIDADE ESTÁ A SER «DESENHADO» EM LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Universidade do Algarve integra o projeto «SuSTowns - enhancing SUStainable tourism attraction in small fascinating med TOWNS», desenvolvido na Eslovénia, Grécia, Albânia, Itália, Espanha, Croácia e Portugal, com o objetivo de participar na definição de programas e políticas que promovam um turismo sustentável e de qualidade, preservando as tradições locais e o património cultural. Com este projeto pretende-se ainda intervir na definição dos fluxos turísticos desejados, garantindo que as cidades mantêm os mais altos fluxos, mas evitando, ao mesmo tempo, qualquer risco de alteração dos seus frágeis ecossistemas. Os resultados irão constituir ferramentas de gestão e planeamento do Turismo no Mediterrâneo que promovam certos destinos turísticos e, simultaneamente, evitem o seu declínio, preservando as tradições locais e o património cultural. E a Universidade do Algarve escolheu Lagos como cidade-piloto para o projeto devido ao ser potencial turístico muito elevado, mas que, se não for devidamente planeado, poderá correr o risco de colapso dos serviços oferecidos pela antropização excessiva. A equipa da Universidade do Algarve integra investigadores de dois centros de investigação e é liderada por Adão Flores, professor da Faculdade de Economia e membro do Centro de Investigação em Turismo, Sustentabilidade e Bem-Estar (CinTurs), contando ainda com a participação de outros investigadores do CinTurs, casos de Elsa Pereira, da Escola ALGARVE INFORMATIVO #267
Superior de Educação e Comunicação, Joaquim Contreiras e Paula Serdeira Azevedo, da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo, Jorge Andráz, da Faculdade de Economia, e Manuela Rosa, do Instituto Superior de Engenharia. Um coletivo de especialistas de peso reunido com a consciência de que a sustentabilidade é fundamental nos dias que correm, mas também com a noção de que, apesar de fazer parte do discurso dos 28
decisores políticos, tem sido um pouco desvalorizada. “Quando se fala muito
de consumismo, entre outras questões”, alerta Adão Flores, à
e se faz pouco, as coisas perdem significado e simbolismo, contudo, a sustentabilidade é, atualmente, um imperativo em todas as áreas das sociedades modernas. Estamos num ponto em que temos que olhar a sério para o impacto das alterações climáticas e do excesso
conversa no polo de Portimão da Universidade do Algarve.
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Falar de sustentabilidade que, no caso do Algarve, nos leva logo a pensar no turismo, a principal atividade económica da região, sendo que este projeto Interreg agrupa cidades e zonas de sete países da orla mediterrânica e pretende, ALGARVE INFORMATIVO #267
precisamente, passar da teoria à prática.
“O SuSTowns procura desenvolver uma experiência de implementação ou progressiva evolução para uma cidade mais sustentável à volta do turismo e, em Portugal, vai ser aplicado em Lagos, na Ilha da Culatra e em Cuba, no Alentejo, três realidades diferentes. Queremos investigador formas de lidar com os problemas do turismo, todos os seus impactos, positivos e negativos, em destinos turísticos costeiros e mais ou menos maduros, mas a sustentabilidade não tem apenas a ver com o ambiente”, explica o entrevistado, realçando igualmente o património histórico e a identidade cultural e social de Lagos.
“Uma cidade mais sustentável ALGARVE INFORMATIVO #267
significa uma cidade melhor para se viver, em todas as suas múltiplas dimensões”, reforça. Com um horizonte temporal que termina em junho de 2022, Adão Flores reconhece que não é em dois anos que se faz a transição para uma cidade sustentável, mas a ideia é desencadear esse movimento de evolução. “A
sustentabilidade ambiental tem a ver com a preservação dos recursos, a biodiversidade, a natureza, a fauna e flora, o domínio público marítimo por causa dos habitats costeiros. Ora, as comunidades vivem numa cidade e deixam marcas que, se ultrapassarem um determinado limite, causam fortes impactos 30
ambientais. No Algarve, como temos uma grande concentração de pessoas num curto espaço de tempo, durante o Verão, os impactos negativos ambientais são elevados e há que encontrar um equilíbrio”, indica o professor e investigador. Sustentabilidade que deve ser também social e cultural, porque aquilo que distingue os destinos turísticos uns dos outros é a sua identidade, a sua traça genuína, o seu ADN. “Praias existem
em todo o lado, património edificado também, o que não há é o modo como cada comunidade estrutura a sua identidade e a sua
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autenticidade de maneira a proporcionar uma experiência diferente. A moderna civilização tem tendência para massificar a personalidade das pessoas, os gostos e consumos, e nós pensamos que uma sociedade ou pequena comunidade, para ser sustentável, não pode esquecer a sua cultura, os seus valores, a sua identidade. E, quando isso não se faz, se calhar temos que reinventar essa identidade e cultura, esses valores e tradições”, defende Adão Flores, chamando ainda a atenção para a importância da sustentabilidade económica. “Não podemos cair no
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extremo de dizer que precisamos proteger a todo o custo os recursos e o património por causa das gerações vindouras, porque as gerações atuais também têm direito a uma vida equilibrada. Isto significa que as empresas que dinamizam a fileira do turismo, as empresas que são fornecedoras do sistema turístico, sejam da agricultura ou da indústria, necessitam de ser viáveis em termos económicos. Normalmente, as empresas da hotelaria e restauração, os souvenirs e experiências, os guias turísticos e operadores, lidam com produtos locais, estão em contato ALGARVE INFORMATIVO #267
direto com a natureza, com impactos positivos e negativos no mundo que nos rodeia, e as pessoas pensam que a sustentabilidade económica e ambiental são contraditórias, o que não é verdade”, garante.
SENSIBILIZAR OS TURISTAS PARA CONSUMIR O QUE É NOSSO Menos debatida é ainda a sustentabilidade política, mas deve haver, na opinião de Adão Flores, da parte de quem governa, seja a nível nacional ou local, vontade e visão para se passar das palavras aos atos. Por 32
isso, o SuSTowns assenta numa plataforma entre os poderes públicos e os agentes económicos privados com vista a uma política local para a sustentabilidade futura consensual e partilhada. “Um dos
grandes desafios das instituições é fomentar a participação coletiva das comunidades, que não se pode resumir ao voto. Estes problemas que dizem respeito ao nosso dia-adia devem ser amplamente participados, discutidos e consensualizados. Se as pessoas não forem informadas, continua-se a «descarregar» tudo nos nossos legítimos representantes, que não estão habituados a «prestar contas». Ser eleito de quatro em quatro anos não significa ter «carta
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branca»”, salienta o docente da Faculdade de Economia da UAlg. “As pessoas são cada vez mais conscientes e responsáveis e devem participar nesta grande revolução a nível mundial, por causa das alterações climáticas e da vida um bocado bizantina que levamos nas modernas sociedades”, apela. Turismo sustentável que pretende, assim, evitar os excessos de carga que já se verificam em algumas cidades europeias, mas também a uniformização das ofertas a quem nos visita, embora Adão Flores frise que vai haver sempre lugar no Algarve para o turista inglês estandardizado que gosta dos «fish & chips», de ir à praia durante
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o dia e frequentar bares e discotecas à noite. “Mas é possível «educar» as
pessoas para experimentarem a comida tradicional algarvia, aliás, há outros segmentos de turistas que não consomem produtos e serviços diferentes porque, se calhar, eles não lhes são oferecidos. Temos que descobrir caminhos para sensibilizar os turistas para consumirem aquilo que é genuinamente nosso, porque Portugal, do ponto de vista gastronómico, tem uma riqueza absolutamente extraordinária e o Algarve começa a mostrar também a sua polivalência”, aponta o entrevistado. Com tudo isto em mente, um dos grandes outputs do projeto SuSTowns será a criação de um plano de ação para a sustentabilidade a nível local que seja depois implementado pela comunidade e pelas entidades locais, mas também se vão propor produtos turísticos mais sustentáveis para a cidade e para o concelho, ou seja, que reforcem a componente ambiental e a ligação ao património natural, mas também a tal identidade cultural e social de Lagos. “Às
vezes não nos damos conta que certos tipos de atividades económicas são, por si só, atrativos para os turistas. O Vale da Lama, em Odiáxere, é uma zona de produção de ameijoa e a visita aos viveiros pode constituir um produto turístico. Assim como tomar banho nas salinas ou ir a uma quinta de ALGARVE INFORMATIVO #267
agricultura biológica ou a uma vinha apanhar as uvas e «pisá-las» na adega. Para nós, que ainda temos alguma ligação ao campo, essas coisas não são nada de especial, mas para turistas urbanos são experiências inesquecíveis”. Resta saber se os empresários, no seu corre-corre para maximizar as receitas durante a época alta do turismo algarvio, estarão depois recetivos para embarcar nestas experiências-piloto.
“No fim de contas, o grande beneficiário do turismo é a comunidade residente, pois quem cá vive é que tem mais a ganhar com melhores práticas. As pessoas precisam ter qualidade de vida, que também tem que ser construída de forma progressiva por via dos serviços públicos, de melhores processos de gestão, de combate ao desperdício”, responde Adão Flores. “As câmaras municipais precisam liderar este processo, o que não passa apenas por fornecer água, luz e esgotos às populações, mas também por fomentar o desenvolvimento económico local. E os agentes económicos devem perceber que podem introduzir, a pouco e pouco, medidas que são mais amigas da natureza, boas-práticas ambientais, sem perder dinheiro”, declara, lembrando que muitos turistas 34
que visitam o Algarve, provenientes de países como Alemanha, Holanda, Bélgica, Suíça, têm uma maior consciência ambiental do que os próprios portugueses. Referindo-se ao impacto das alterações climáticas no nosso dia-a-dia, algo que é de agora, e não do futuro, Adão Flores avisa que a sobrevivência dos sistemas económicos depende da sua capacidade para se adaptarem à nova realidade. E ter um destino mais «verde» até pode ajudar a combater a eterna sazonalidade do turismo algarvio e a atrair clientes com maiores posses financeiras, concorda o investigador. “Não podemos
continuar a dizer que o Algarve é apenas um destino de «sol e praia». Claro que esse é o principal móbil de atração da região, mas as 35
pessoas são cada vez menos monolíticas no seu consumo. Em Lagos, por exemplo, temos visitantes mais focados nas praias, mas também é uma das cidades com maior concentração de bares do Algarve. Isso traz turistas jovens que criam uma vida noturna que se tornou, ela própria, um polo de atração”, descreve. Parecem, então, óbvios os benefícios e o mérito do SuSTowns, com o projeto a entrar agora quase numa luta contra o tempo, uma vez que a pandemia da covid-19 veio colocar uma série de entraves à sua normal implementação.
“Queremos uma comunidade que participe ativamente em todo o ALGARVE INFORMATIVO #267
processo e os surtos de coronavírus geram bastantes limitações. Como bons latinos e portugueses que somos, desejamos que as pessoas se sentem à volta de uma mesa, que troquem experiências, que discutam problemas, numa dinâmica interativa que não se consegue obter através das plataformas online”, desabafa o líder da equipa da Universidade do Algarve envolvida no projeto. “A ideia é propor
um plano de ação, um pacote de produtos e experiências turísticas mais sustentáveis e polivalentes e um plano de marketing para «vender» esta abordagem mais verde do concelho e da cidade. Depois, o objetivo é que, nos ALGARVE INFORMATIVO #267
próximos anos, esta estrutura continue a ser alimentada pelos agentes locais e a trabalhar para colocar no terreno as várias iniciativas. Estão em curso 18 projetos-piloto em sete países e vai ser a equipa da Universidade do Algarve que depois vai agarrar nos relatórios e sintetizar tudo num grande documento de recomendações, a nível local, de novas políticas para um turismo sustentável na área do Mediterrâneo que será entregue à Comissão Europeia, com vista ao Interreg 20-30”, revela ainda Adão Flores em final de conversa .
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TEATRO MUNICIPAL DE POR
UM INQUIETANTE E PROFUN Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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NDO «TERRAS»
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ERRAS é a nova criação da Kale Companhia de Dança no âmbito do projeto «Regard Croisés» e que viajou até ao Algarve, mais concretamente ao Teatro Municipal de Portimão, no dia 3 de outubro, como parte do Festival VENTANIA. Esta ode à Terra como inesgotável fonte de vida é um espetáculo em formato triplo, com criações de Companhia La Tierce (França), de André Mesquita (Portugal) e da Matxalen Bilbao (Espanha).
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O «Regards Croisés» assume-se como um projeto de cooperação coreográfica para a difusão da dança contemporânea e a promoção de encontros entre o público, artistas e estruturas educativas, segundo a prática de três criadores oriundos de realidades geográficas distintas, nomeadamente Portugal, Espanha e França, e com diferentes visões artísticas e culturais. É promovido desde 2012/13 pelo laboratório de pesquisa coreográfica LE LABO da Companhia Malandain | Ballet Biarritz,
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com direção artística de Gael Domënger, e coopera com a Kale Companhia de Dança desde 2018.
Moreira e Inês Negrão, com Direção Artística de Joana Castro e Consultoria Artística de Gael Domenger.
A Kale Companhia de Dança propõe-se ser o veículo criativo de um espetáculo que junta em palco jovens bailarinos em diferentes estádios da sua carreira de formação e profissional, com coreógrafos também eles em etapas distintas da sua carreira artística, com visões próprias e única da linguagem da dança contemporânea. O espetáculo TERRAS foi protagonizado por bailarinos da Kale Companhia de Dança, ensaiados por Sara
A Gestão do Projeto coube a Daniela Tomaz, num projeto que é cofinanciado pelo Governo de Portugal através do Ministério da Cultura e da Direção Geral das Artes. Já o VENTANIA está inserido no Programa 365 Algarve, estrutura financiada pelo Turismo de Portugal, com o acolhimento dos Municípios de Vila do Bispo, Lagos, Portimão e Lagoa, e Direção Regional de Cultura do Algarve e Águas do Algarve SA .
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CICLO «O LONGE É AQUI» JUNTOU JORGE PALMA AO TRIO DE JAZZ DE LOULÉ Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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16.º capítulo do ciclo «O Longe é Aqui» traduziu-se numa noite verdadeiramente espetacular, no dia 1 de outubro, precisamente o Dia Mundial da Música, com Jorge Palma e o Trio de Jazz de Loulé a subirem ao palco do Cineteatro Louletano. O ciclo desafia, através da encomenda, músicos/projetos da região a apresentar concertos inéditos com reconhecidos músicos do panorama nacional, assumindo-se como um dos vetores centrais da programação deste equipamento municipal desde 2016. Desta feita juntaram-se dois nomes que já integraram este ciclo musical: Jorge Palma foi o convidado do primeiro ALGARVE INFORMATIVO #267
episódio, em maio de 2016, com a Banda Filarmónica Artistas de Minerva; quando ao Trio de Jazz de Loulé, partilhou o palco com Pedro Abrunhosa num concerto memorável em maio de 2017. Jorge Palma reuniu-se agora com o Trio para, numa abordagem jazzística, celebrar o Dia Mundial da Música reinventando grandes canções de compositores e intérpretes que marcaram a história da canção socialmente empenhada, casos de Zeca Afonso, Vitorino, João Mário Branco, entre outros. Composto por João Pedro Coelho (piano), António Quintino (contrabaixo) e João Pereira (bateria), o Trio de Jazz de Loulé deu o primeiro concerto em julho de 2016, aquando do encerramento do 21.º Festival de Jazz 54
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de Loulé, nascendo de uma iniciativa da Câmara Municipal de Loulé e após uma seleção, entre várias candidaturas, que teve como júri Mário Laginha, Pedro Moreira e Hugo Alves. O Trio foi uma novidade no panorama cultural algarvio e pretende cimentar o trabalho de duas décadas desenvolvido na área do jazz no maior concelho da região, possibilitando, quer a constituição de uma oferta regular na área, quer a sua apresentação em contextos nacionais e internacionais, promovendo-se assim a tradição jazzística e a dinâmica cultural ligada ao concelho de Loulé. Quanto a Jorge Palma, aos 70 anos de idade, dispensa quaisquer apresentações. Com mais de quatro décadas de carreira, é um nome incontornável do panorama musical português, com canções
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transversais como «Frágil», «Deixa-me Rir», «Dá-me Lume» ou «Encosta-te a mim», que se tornaram hinos intemporais. Compositor, poeta, intérprete e exímio pianista, tem um percurso de vida sempre com a música a seu lado. Começou a aprender piano com seis anos de idade, depois percorreu a Europa de guitarra em punho, e terminou o Curso Superior de Piano em 1990. Desde então editou vários discos de originais, somou discos de ouro e atingiu a dupla platina com «Voo Nocturno». Venceu o prémio José Afonso em 2002 e, em 2008 e 2012, conquistou o Globo de Ouro na categoria de melhor intérprete individual. O seu álbum «Com Todo o Respeito» foi ainda galardoado pela Sociedade Portuguesa de Autores com o prémio Pedro Osório .
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COMPANHIA VAYA REFLETIU SOBRE A EVOLUÇÃO DA HUMANIDADE COM «ATEMPO» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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segunda edição do VENTANIA – Festival de Artes Performativas do Barlavento levou, na tarde de 3 de outubro, ao Auditório do Forte da Nossa Senhora da Encarnação, em Carvoeiro, a Companhia VAYA, que apresentou o seu «Atempo». Trata-se de um espetáculo de circo contemporâneo cheio de energia, humor e poesia que tem como enredo a evolução do ser humano e uma reflexão sobre a humanidade, sob a forma de ALGARVE INFORMATIVO #267
impressionantes acrobacias de forças combinadas, de dança e de teatro físico, ao serviço de uma interpretação original a cargo de Berna Huidobro e Tim Belime. A produção foi da responsabilidade do TEL – Teatro Experimental de Lagos, em mais um excelente momento do VENTANIA, festival que faz parte da quarta edição do programa «365 Algarve», estrutura financiada pelo Turismo de Portugal, e que percorreu, de 26 de setembro a 4 de outubro, os concelhos de Vila do Bispo, Lagos, Portimão e Lagoa . 66
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CRISTINA BRANCO APRESENTOU, EM ESTREIA NACIONAL, E BASTANTE EMOCIONADA, O SEU NOVO DISCO EM LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Cineteatro Louletano foi palco, no dia 5 de outubro, da estreia nacional de «Eva», o novo álbum de Cristina Branco, no qual a cantora assina a ALGARVE INFORMATIVO #267
produção musical em conjunto com os seus músicos, Bernardo Couto (guitarra portuguesa), Bernardo Moreira (contrabaixo) e Luís Figueiredo (piano). O disco conta com composições de nomes da atualidade musical portuguesa como Francisca Cortesão, Pedro da Silva Martins e Luís José 80
Globos de Ouro (SIC/CARAS) e «Melhor Álbum de Fado» nos PLAY – Prémios da Música Portuguesa em 2019. O vídeo de «Delicadeza», single de estreia de «Eva», assim como o de «Prova de Esforço» e «Mau Feitio», foram realizados por Joana Linda, e rodados em Loulé e no Louisiana Museum of Modern Art na Dinamarca, no âmbito de duas residências artísticas que Cristina Branco efetuou entre novembro e dezembro de 2019. Em «Eva» é aprofundada a parceria com a realizadora e fotógrafa Joana Linda, que assina capa de disco, vídeos, fotos e uma leitura estética sobre o «novo normal» de Cristina Branco nos últimos anos.
Martins, Márcia, Filipe Sambado e Kalaf Epalanga, entre outros. «Eva» sucede a «Menina» (2016) e «Branco» (2018), que conquistaram prémios como Melhor Disco de 2017 pela Sociedade Portuguesa de Autores e nomeações para «Melhor Intérprete» nos 81
Cristina Branco que é, sem dúvida, uma das mais importantes personalidades da música portuguesa dos últimos tempos, com um trajeto que continua a ser reconhecido além-fronteiras. Isso mesmo comprovam os espetáculos que se multiplicam por toda a Europa e evidenciam que a designação de «fadojazz» vem fazendo cada vez mais sentido .
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P.I.A. DEU A CONHECER «O2 OXIGEN» NO ESPAÇO JOVEM DE LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Catarino
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P.I.A. – Projectos de Intervenção Artística deu a conhecer, no dia 2 de outubro, no Espaço Jovem de Lagos, o seu «O2 Oxigen», uma performance de teatro de rua que, através das linguagens do Teatro Físico e das Formas Animadas, convida o espetador a uma reflexão distópica sobre a sobrevivência da sociedade num momento onde a tecnologia desvanece as relações humanas e onde o acesso ao oxigénio se torna um luxo. Este foi o resultado de um projeto de arte pública intercultural que nasceu na cidade de Macau, em 2018, onde registos de níveis alarmantes de partículas poluentes começam a ser recorrentes.
Artística e Plástica de Pedro Leal e Direção de Produção e Audiovisuais de Helena Oliveira, «o2 Oxigen» foi interpretado por Ana Andrade, Helena Oliveira, Manuel Amarelo, Mafalda Cabral, Sara Araújo e Tiago Augusto. O evento fez parte do II VENTANIA – Festival de Artes Performativas do Barlavento, que percorreu, de 26 de setembro a 22 de novembro, os concelhos de Vila do Bispo, Lagos, Portimão e Lagoa. O festival pretende ser uma ação de ativismo artístico sobre temas de ecologia social e cidadania global e inseriu-se no Programa 365 Algarve, estrutura financiada pelo Turismo de Portugal, com o apoio dos Municípios de Vila do Bispo, Lagos, Portimão e Lagoa, e da Direção Regional de Cultura do Algarve e Águas do Algarve SA .
Com Autoria, Encenação e Direção ALGARVE INFORMATIVO #267
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FESTIVAL VENTANIA CHEGOU AO FIM COM «ÁGUA» DA CIRCOLANDO Texto: Daniel Pina | Fotografia: João Catarino
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GUA da Circolando, foi o espetáculo que deu por terminada a segunda edição do Festival VENTANIA, animando o Espaço Jovem de Lagos, no dia 4 de outubro, numa dupla sessão. O cruzamento entre instalação, arte pública e performance parte de três iglos singulares que ocupavam este espaço público da cidade lacobrigense. O conceito propõe três universos, três abordagens e o convite à circulação, com fragmentos, escolha, pontas soltas, proximidade e a água refletida em vários estados e emoções. Em suma, são microhistórias construídas em torno do imaginário ligado ao elemento água e às alterações climáticas.
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Concebido por André Braga e Cláudia Figueiredo a partir de um objeto de Pieter ALGARVE INFORMATIVO #267
van der Pol, teve cocriação e interpretação de Gil Mac, Graça Ochoa, Patrick Murys e Cláudio Vidal, sendo a realização plástica da responsabilidade de Nuno Brandão, com a colaboração na construção de Nuno Guedes e Vítor Costa. O evento inseriu-se na segunda edição do VENTANIA – Festival de Artes Performativas do Barlavento que percorreu, de 26 de setembro a 22 de novembro, Sagres, Lagos, Portimão e Lagoa. Esta ação de ativismo artístico sobre temas de ecologia social e cidadania global, promovido pelo TEL – Teatro Experimental de Lagos, fez parte do programa 365 Algarve, estrutura financiada pelo Turismo de Portugal, com o acolhimento dos Municípios de Vila do Bispo, Lagos, Portimão e Lagoa, e da Direção Regional de Cultura do Algarve e Águas do Algarve SA . 106
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OPINIÃO Más caras Paulo Cunha (Professor)
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om a máscara social que, obrigatoriamente, se colou à minha pele profissional, finalmente vivenciei o que grande parte das mulheres islâmicas sente ao usar os véus islâmicos (burca, niqab, chador, al-amira, hijab e shayla). Por vontade própria, por doutrina, por fé, por imposição, por tradição ou por questões culturais, fazem-no durante toda a sua vida. Ora, tendo esta malfadada pandemia empurrado grande parte do planeta para o uso obrigatório desta espécie de véu sanitário, estamos, hoje, a experimentar a falta dos vários tipos de liberdade que o uso de uma máscara impõe. Se, há pouco tempo, o provérbio «Quem vê caras, não vê corações» fazia todo o sentido, o que dizer agora, que nem a cara dos nossos interlocutores vemos? Continuarão os olhos ainda a ser o espelho da alma? São questões que todos os dias me coloco, ao conviver com mais de duzentos alunos, dos quais só conheço o olhar e a voz metamorfoseada. Escondidos, protegem-se, quando vigiados, de algo que lhe dizem ser pernicioso para si e para os seus. Não vendo, nem sentindo a fonte de tal maleita, por falta de informação adequada, acham que o
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vírus maléfico está no ar e não nos colegas, dos quais se aproximam, interagindo e tocando-os amistosamente. Havendo quem advogue que as crianças e os jovens são naturalmente assintomáticos, não manifestando a sintomatologia associada aos mais velhos (pais e avós), é natural que os funcionários que exercem múltiplas funções nas escolas estejam mais sujeitos ao caldo infetológico em que os seus locais de trabalho se transformaram. Tal como os exemplos que a história nos recorda, obviamente, não será o regresso dos alunos à escola que nos irá colocar de má cara em relação ao aumento dos infetados pela covid-19. Será a forma displicente, confiante, desafiante e arrogante como muitos, nas relações que mantêm com quem lhes está mais próximo, estão a encarar a sua aparente e pretensa imunidade, sorte e invencibilidade perante o vírus. Como tantos outros, sendo um profissional atreito a vários contágios, não sou imune ao que todos os dias assisto em contexto escolar e extraescolar. Por isso, curvo-me respeitosamente perante todos os profissionais da educação que, apesar 116
das turmas continuarem a ter um número excessivo de alunos, tudo fazem para manter, hora após hora, os vários espaços das escolas portuguesas o mais limpos, desinfetados e seguros possível, evitando assim que, ao regressar a casa, os alunos transportem consigo hospedeiros indesejáveis. Mas o que fazer quando, nos curtos intervalos, os alunos mais novos tiram as máscaras para comer e beber e confraternizam como se não houvesse amanhã? E o que dizer dos alunos mais crescidos, que, nos períodos entre as aulas, povoam, aos magotes, os espaços de acesso às escolas e, sem máscaras, trocam conversas, fumaças, afagos e alguns 117
fluidos? Meus caros: esta é a verdade escolar. O resto é «música» para os portugueses se entreterem! Tal como muitos de vós, no hall de entrada de casa juntei às chaves uma máscara. E no porta-luvas do automóvel outra. Um utensílio que espero, brevemente, venha a cair em desuso. Não sendo uma pessoa que precisa de máscara para se esconder, uso-a, neste momento, apenas para vos e me proteger e defender. Espero também que o façais, porque, apesar de todos os desconfortos, todos preferimos as máscaras às más caras! . ALGARVE INFORMATIVO #267
PRIMEIRA TABUINHA Incandescência Ana Isabel Soares (Professora Universitária) uando cheguei ao campus da Universidade de Stanford, em 2007, carregava o pequeno esforço do quilómetro e meio a pé desde o apeadeiro ferroviário de Palo Alto, os primeiros dois terços à sombra de palmeiras altas e o resto debaixo de sol. Era janeiro, aproximava-se fevereiro, mas fazia sol. Carregava o peso avassalador de estar ali, que me tornava pequena perante as palmeiras, os caminhos largos, os edifícios oitocentistas, ainda que estes fossem construídos numa arquitetura a que chamaria «neo-hispânica», em que cada volume – ou seja, cada departamento da universidade –, relativamente baixo, se dispunha como se fosse mais um anexo no complexo de uma missión colonial (coisa que se vê muito pelos lados da Califórnia). O dia em que cheguei era o primeiro de três jornadas dedicadas a discutir questões de teologia e de política na Idade Média: um dos motivos que justificavam o interesse que vi nos muitos e muito variados assistentes (desde alunos de primeiro ano a veteranos e catedráticos) era a aproximação das eleições presidenciais em França, país cujo destino ALGARVE INFORMATIVO #267
os Estados Unidos seguem com uma particular forma de carinho atento, ou atenção carinhosa, desde que existem como país, como forma de reconhecer a cumplicidade dos gauleses aquando da sua independência (a Declaração de Independência e a Tomada da Bastilha são praticamente gémeas). À entrada da sala, encontrei o meu mentor, Sepp Gumbrecht, a pessoa que me convidara e cujas aulas seguiria durante aquele semestre. Cumprimentámo-nos e explicou-me que se sentia particularmente feliz porque, apesar de fatigado por nos meses anteriores ter dado, além das suas, as aulas de um colega que fora internado à conta de uma síncope cardíaca que quase o levou daquela para outra que tendemos a considerar melhor, estava prestes a começar a preleção, precisamente, desse colega, que via recuperado e em grande forma. Seria este a abrir as hostes: dele sabia eu que era especialista em estudos italianos, medievalista, e, agora, uma espécie de devolvido à vida. Já sentada, vi entrar Robert Harrison: alto, de cabeleira farta, roupas elegantes, apesar de informais, trazia o ar jovial de quem ressuscitou, ou de quem está prestes a sentar-se à mesa para comer com amigos que não vê há muito tempo. Tinha achado incrível a narrativa que o Sepp contara: 118
Foto: Vasco Célio
mais ainda me custava a crer, perante a prova de vida de Robert, no fulminante do ataque. Afinal, via-o ali tão capaz e tão vivo a discursar, a discorrer – sem o apoio sequer de um bloco de notas – com a clareza e a claridade dos iluminados geniais, sobre Dante, sobre a ideia de uma república, sobre o apelo e o perigo de imperialismos políticos e religiosos, sobre as lições que se pode tirar no presente (e para o presente), a partir de um passado tão cheio e tão romantizado. Fiquei, entretanto, a saber que o ar de hippie discreto correspondia ao fã e ao praticante de música rock que Robert também era, e que tinha na rádio KZSU um programa de entrevistas sobre os temas mais variados (de pendor predominantemente literário e filosófico), «Entitled Opinions», que continua a transmitir e que continuo a ouvir. Na 119
manhã seguinte, ainda assarapantada, consegui agradecer-lhe de voz viva pelo que dissera e pelo modo como o pronunciara. Era o primeiro exemplo que ali encontrava da genialidade do pensamento a vencer a força com que a vizinhança da morte nos faz desejar viver. (Robert Harrison, nascido em Esmirna, na Turquia, há 66 anos, é Professor da cátedra Rosina Pierotti de Literatura Italiana no Departamento de Estudos Franceses e Italianos da Universidade de Stanford. É autor de vários livros, entre os quais The Body of Beatrice [1988], Forests: The Shadow of Civilization [1992], Rome, la Pluie: A Quoi Bon Littérature? [1994], The Dominion of the Dead [2003] ou Gardens: An Essay on the Human Condition [2014]). ALGARVE INFORMATIVO #267
OPINIÃO Cenas Contemporâneas [3] Adília César (Escritora) “A rotina, numa das suas formas mais estúpidas, é a persistência caturra numa primeira impressão. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma)
CEGUEIRA é uma forma de desver. Olhamos e somos olhados nas colecções privadas da existência. Porque é do foro essencialmente humano que se trata, a matéria emocional assume-se como sendo da maior importância. Mas os estímulos visuais cansam-nos. Quantas vezes desviamos o olhar desse instante fugidio de miséria nos outros? Vemos a pedra, a árvore, o pássaro, a nuvem. Perdemo-nos num céu tão engrandecido pelo nosso sonho que se torna impossível organizar a nitidez das estrelas que o compõem. E de repente, eis uma pequena luz que se amplia e nos ilumina: é o desconhecido à nossa frente, na rua, no noticiário, no filme, no livro, no pensamento, no espelho. É aquele desvisto vezes sem conta, dia após dia na vida sobrevivida a tanto custo: é o meu vizinho, é o meu irmão, sou eu. ALGARVE INFORMATIVO #267
* O ENSIMESMAMENTO das impressões causadas pelo quotidiano esmeram-se na possibilidade infinita de pormenores. Queremos ser o outro: aquele que é mais magro, mais rico, mais belo, mais talentoso do que nós. Tornamo-nos açambarcadores de ambição. O espelho volta sempre em cada dia que, logicamente, pode ser o último, mostrando a rotina do nosso rosto que parece nunca mudar na sequência breve do tempo. Demoro-me na visão desta longa caminhada, mas volto sempre a mim mesma. Retiro a poeira dos olhos e esqueço o sol e a lua. Componho o cenário antes da desilusão. * DE VEZ EM QUANDO a vertigem assoma-se no preâmbulo da tragédia sempre anunciada. É um cenário disponível para todos os seres vivos, inertes, colocados em frente ao écran. Tombam as pálpebras sobre a 120
indisposição passageira, mas rapidamente se abrem perante o anúncio publicitário e manipulador. O que resta? A rotina da infelicidade dos outros ou o vislumbre nítido da nossa própria bondade? Ah, se as duas coisas fossem uma só, jamais adiada para o dia seguinte… Quantos de nós seriam capazes de tal proeza?... * UM LUGAR de surpresas. Imagino o mapa que me atravessa de lés a lés. Ele percorre as minhas estradas sem pressa, os faróis acesos para aceitar o desconhecido, mas ainda assim, perde-se para me encontrar. O caminho percorrido é, em cada noite, o caminho já percorrido numa outra noite. A isto chamo de amor, verdade, inocência. * NO OUTRO LADO do mundo, um homem escuta a sua música favorita num gira-discos tão velho como ele. Este tem sido o seu despertar rotineiro desde há muito tempo. Porque haveria hoje de ser diferente? Porque a explosão bélica se aquietou, por fim, no quarto destruído onde um velho liquefeito na cama não chegou a acordar e vai dormir eternamente naquela posição impossível? Não se vê o seu sangue na imagem a preto a preto, mas sei que o vermelho existe. Invento outras posições mais humanas para devolver 121
dignidade àquele corpo, mais próximas do rigor necessário à redenção, mas não há dignidade na morte arrancada a ferros. O velho homem não entende o meu esforço e insiste em desfazer-se, confundindo-se com as ruínas da melodia. E eu, tão inútil na minha pretensão, adormeço exactamente à mesma hora em que todo o mundo acorda. O passado, esse espaço-tempo de incompreensão, rodeia-me através de um círculo sonoro de onde não pretendo sair. No sonho, sei que não pertenço a este monstro que agora acordou. No meu sonho, sei que sou a loba destemida que rompe os limites do impossível . ALGARVE INFORMATIVO #267
OPINIÃO Tendências do marketing de influência para 2021 Fábio Jesuíno (Empresário) marketing de influência tem vindo a ganhar destaque nas estratégias das marcas. As empresas começam a perceber a importância do uso do marketing para transformar novos consumidores em defensores das suas marcas, usando influenciadores para atingirem esses objectivo. Dessa forma, identifiquei três tendências para o próximo ano para a indústria do marketing de influência: A importância dos micro influenciadores Os micro influenciadores digitais são pessoas aparentemente comuns que têm uma boa reputação num nicho específico. Possuem em média, entre cinco a dez mil seguidores nas redes sociais e geram normalmente mais identificações e, consequentemente, mais atenção e engagement. Normalmente partilham e criam conteúdos que gostam e de uma forma natural atraem pessoas com os mesmos ALGARVE INFORMATIVO #267
interesses. A maioria torna-se especialista numa determinada temática muito específica, atraindo dessa forma as marcas do mesmo segmento de mercado A tendência da utilização dos micro influenciadores digitais é cada vez mais forte nas estratégias de influência das empresas, tonando-se quase obrigatória devido aos resultados gerados. Os micro influenciadores digitais vão ser uns dos grandes impulsionadores das marcas do futuro. Conteúdos autênticos dos influenciadores Os influenciadores digitais são, acima de tudo, criadores de conteúdo, que devem ser reais e autênticos, conseguindo dessa forma gerar mais entusiasmo e um maior envolvimento do seu público. A autenticidade é um dos factores mais importantes para o sucesso de uma campanha de marketing de influência, onde a mensagem deve ser passada de uma forma natural e criativa, através de conteúdos orgânicos e de qualidade, 122
direcionados para o público alvo da marca. Os influenciadores devem optar por conteúdos originais, de forma a exporem o seu ponto de vista sobre um determinado assunto, conseguindo atrair mais atenção e gerar mais sucesso, não devem criar conteúdos publicitários em excesso, para possibilitar uma comunicação mais natural e transparente. Influenciadores a longo prazo As empresas estão a transformar os influenciadores em embaixadores das suas marcas, criando parcerias a longo prazo, focadas num relacionamento, mas flexível para o desenvolvendo de ideias criativas, tornando os resultados mais consistentes e duradouros, é das tendências com maior crescimento actualmente.
mundo do marketing de influência em 2021. Tenho a convicção que o marketing de influência vai atingir valores recordes de investimento no próximo ano, visto que já ultrapassou os canais tradicionais em eficácia .
Estas são as três tendências que, na minha opinião, vão fazer a diferença no 123
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OPINIÃO Quais os anseios dos cozinheiros? (1) Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) ão muitos, de vária ordem e têm tendência a serem esquecidos e constantemente atropelados. A grande maioria deve-se à falta de ética que se espalhou um pouco por todo o mundo, dando lugar ao politicamente correcto, ao assobiar para o lado ou simplesmente à falta de caracter ou de vergonha na cara, ou ainda de profissionalismo. – Sentir respeito por parte de directores/recrutadores/patrões Posso começar por enumerar a falta de respeito em não se responder aos emails, entrega de currículos. Entregar um CV numa caixa de correio de um director/angariador/chefe de uma qualquer empresa de contratação, restauração/hotelaria é praticamente a mesma coisa que a colocar num CAIXOTE DO LIXO. Em primeiro lugar anula-se uma coisa primária para quem busca solução para os seus problemas, a fé, a esperança, no sistema, na vida, nos homens. Em segundo lugar, perde-se uma oportunidade fácil de procurar novos colaboradores, de uma bolsa de trabalhadores. Em se tratando de profissionais competentes, com muitos anos de ALGARVE INFORMATIVO #267
serviço, então, é literalmente obliterado, sem se partilhar com colegas que poderiam estar interessados. E porquê? – Já sabe de mais, – Já não o podemos enganar tão bem, – Despedi-lo depois será bem mais difícil, – Este vai-me trazer exigências e problemas que dispenso. Observação – Estes indivíduos esquecem que ninguém nasce ensinado e que são os mais velhos, na profissão, os que têm maior experiência em formar os mais novos, que os moldam para o sucesso. E isto, tendo em conta que a grande parte dos cozinheiros /pasteleiros não tem formação adequada ou suficiente e entraram na área, como oportunidade, quase sempre sem vocação. – Sentir respeito por regras e leis, coerências e obviedades A prepotência de alguns chefes/patrões/donos de restaurantes/cozinhas de hotel pregam o abusivo – Eu mando, – Porque eu quero, – Faz como te digo, – Aqui é assim, se não queres a porta está aberta. Isto traz àqueles que tentam/querem trabalhar com paixão, uma enfadonha e miserável condição de mau estar, que corrói e, em alguns casos, faz com que muitos desistam. Observação – Poderia neste capítulo escrever dezenas de casos/exemplos similares que colocam o bem estar, o ensino da profissão, o gosto pela 124
competência e pelo simples facto de se estar a trabalhar «em um local capaz», criando vontade, sinergias, crescimento, prazer. – Sentir que estão num local de trabalho, sério, competente E não num lugar de recreio, de brincar aos restaurantes, sem competência, geridos por profissionais e patrões incompetentes, destruidores da profissão, da missão de ensinar, de empregar, de aumentar a massa empresarial qualitativa e quantitativamente e de treinar futuros profissionais 125
Observação – Nunca serão demais as vezes que tenho afirmado que os donos/patrões de ERB’s – Estabelecimentos de Restauração e de Bebidas, deveriam ter experiência comprovada ou fazer formação adequada, antes de abrir seja o que for. A culpa não é só do empresário, mas dos organismos, ou da falta deles, que deveriam verificar/instituir REQUISITOS OBRIGATÓRIOS. Falta legislação apropriada e ORGANISMOS e SINDICATOS geridos por quem sabe e deu provas e não «Jobs for the Boys», diria mesmo, «Toys for boys on the system» .
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #267
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