REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #269

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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 24 de outubro, 2020

TIAGO BETTENCOURT SEM FILTROS EM LOULÉ FESTIVAL DA COMIDA ESQUECIDA | CONCURSO CIDADES DO VINHO | JOÃO BARRADAS #269 «A1 PRESENÇA DAS FORMIGAS» | «O TOQUE EM TEMPOS ILÍCITOS» |ALGARVE JOSÉINFORMATIVO MARTINS


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22 - Lagoa vai receber Concurso Cidades do Vinho

32 - Festival da Comida Esquecida ALGARVE INFORMATIVO #269

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60 - João Barradas no Teatro Lethes

OPINIÃO 108 - Paulo Cunha 110 - Mirian Tavares 112 - Ana Isabel Soares 114 - Adília César 116 - Fábio Jesuíno 118 - Nuno Campos Inácio 120 - Augusto Pessoa Lima

92 - Finalistas de Artes Visuais da UAlg

48 - Tiago Bettencourt em Loulé

82 - José Martins apresentou livro 68 - «A Presença das Formigas» em Loulé no Teatro Lethes 11

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Sara Silva, José Calixto, Luís Encarnação e Pedro Ribeiro

MELHORES NÉCTARES DE PORTUGAL VÃO MOSTRAR-SE EM LAGOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e 26 a 29 de novembro, o Convento de São José, em Lagoa, vai ser palco do Concurso Cidades do Vinho, uma organização da Associação da Rota dos Vinhos de Portugal, da Associação dos Municípios Portugueses de Vinho (AMPV) e da Câmara Municipal de Lagoa que pretende promover os vinhos associados aos respetivos territórios nos quais são produzidos. O júri do concurso vai ser ALGARVE INFORMATIVO #269

presidido por António Ventura, expresidente da direção da Associação Portuguesa de Enologia e Viticultura, com a Comissão de Honra a ser presidida por Vasco D’ Avillez, que conta com mais de 40 anos dedicados ao setor do vinho, ao passo que o presidente da Comissão Científica é o especialista e investigador António Curvelo Garcia. Um aliciante extra é que todos os vinhos inscritos irão estar também presentes, em 2021, no Concurso Internacional Città del Vino, que se realizará, de 21 a 23 de maio, em 22


José Arruda, Secretário-Geral da AMPV, no uso da palavra

Castelvetro di Modena, em Itália. Os vinhos mais pontuados participarão igualmente num evento inédito realizado em Portugal, a Prova Nacional de Vinhos, na Anadia, em maio do próximo ano. “A

prova vai estar aberta a 500 pessoas, que terão a oportunidade de provar e votar nos vinhos brancos, tintos, rosés, espumantes e licorosos”, revelou José Arruda, Secretário-Geral da AMPV. O concurso foi apresentado publicamente, no dia 15 de outubro, na Quinta dos Vales, em Estômbar, sendo que Lagoa foi o município vencedor para acolher o evento, suplantando as candidaturas de Lamego e do Pico. As inscrições estão a decorrer até final de outubro e os vinhos deverão depois ser 23

entregues à organização até dia 16 de novembro, com José Arruda a antever cerca de seis centenas de néctares a concurso. “Em 2019 levámos 230

vinhos portugueses ao concurso europeu e acredito que, no próximo ano, teremos em Itália 600 vinhos, para continuarmos a ser fortes candidatos aos prémios”, referiu José Arruda. “O Concurso Cidades do Vinho é o único do mundo que associa vinhos e territórios, porque, para além dos produtores, estão também os municípios envolvidos. Esta ligação é importantíssima num setor onde a concorrência é enorme a nível mundial, e Lagoa é um dos ALGARVE INFORMATIVO #269


Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa

concelhos que, neste momento, tem mais vinhos inscritos no concurso”, sublinhou o dirigente, não terminando sem antes anunciar que Portugal é candidato para organizar, em 2022, o Concurso Europeu das Cidades do Vinho, no mesmo ano em que será também de Portugal a Cidade Europeia do Vinho. O primeiro Concurso Cidades do Vinho terá então lugar em Lagoa, para satisfação do edil Luís Encarnação, que lembrou a grande tradição deste território enquanto produtor de vinho.

“São mais de dois mil anos, com origem nos fenícios e cartagineses, depois os romanos e os árabes. Durante bastante tempo, Lagoa foi uma referência regional e nacional ALGARVE INFORMATIVO #269

pelos seus vinhos de enorme qualidade e queremos aproveitar esta oportunidade para mostrarmos como foi possível recuperar esse estatuto. O que é ainda mais importante numa região que vive essencialmente do turismo”, frisou o presidente da Câmara Municipal de Lagoa, entendendo que o enoturismo poderá dar um forte contributo para a mitigação da sazonalidade. “Existem

estudos que demonstram claramente que, hoje, há mais pessoas no mundo a viajar motivados pelo produto «gastronomia/vinhos» do que propriamente pelo sol e praia e pelo golfe, que são as principais 24


Pedro Ribeiro, presidente da Associação dos Municípios Portugueses do Vinho

ofertas do Algarve. É, portanto, uma oportunidade de negócio que não podemos descurar”, defende Luís Encarnação. O autarca acrescentou ainda que o vinho tem também a capacidade de fidelizar os turistas que chegam ao Algarve atraídos pelo sol e praia e pelo golfe, constituindo uma mais-valia em relação aos principais destinos concorrentes da Bacia do Mediterrâneo.

“No final de um dia de praia, ou de uma volta de golfe, nada melhor do que uma refeição com um excelente peixe grelhado da nossa costa, ou uma caldeirada ou cataplana, acompanhados por um magnífico vinho algarvio ou português. Esperemos voltar em breve a 25

acolher os muitos milhões que nos visitam, por isso, há aqui uma janela de oportunidade para os produtores nacionais puderem escoar os seus vinhos”, afirmou Luís Encarnação, aproveitando ainda para explicar que a candidatura portuguesa a acolher, em 2022, a Cidade Europeia do Vinho, resulta de uma parceria entre os Municípios de Lagoa, Silves, Lagos e Albufeira. Para Pedro Ribeiro, presidente da AMPV, reinventar tem sido a palavra de ordem de todos aqueles que estão ligados aos setores do turismo e do vinho nestes tempos de pandemia, considerando que os produtores de vinho reagiram bastante bem à covid19, apesar das perdas que existiram, ALGARVE INFORMATIVO #269


“mas com a consciência de que o caminho trilhado foi positivo e que, quando esta fase for ultrapassada, com toda a certeza que vamos ter muito mais para oferecer do que antes da pandemia”. “Como em tudo na vida, não fomos todos afetados na mesma dimensão. Os grandes produtores sentiram quebras nas suas redes de exportação, contudo, nas grandes superfícies comercializou-se mais e, por razões de escala e de competitividade de preços, são eles que têm acesso a esse canal de distribuição. Os pequenos produtores, mais ligados à restauração e hotelaria, sofreram na pele os efeitos da quebra do turismo”, apontou o presidente da

A criação de novos perfis de consumidor e de novos mercados neste período conturbado permitirá encarar, na opinião de Pedro Ribeiro, o futuro com esperança, recordando, por exemplo, as parcerias que surgiram para se criarem cabazes de produtos.

“O setor sabia que não podia resolver sozinho os seus problemas e, quando a nossa vida retornar à normalidade, estes novos consumidores não vão desaparecer. E aqueles que tinham dúvidas sobre o potencial do enoturismo, em contexto de pandemia, mesmo com o país a passar por dificuldades, constataram que muitos visitantes estrangeiros optaram por este turismo de natureza, ao

Câmara Municipal do Cartaxo.

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José Calixto, presidente da Rede Europeia das Cidades do Vinho

ar livre, que convida à experiência”, declarou o presidente da AMVP. “O enoturismo tem a mais-valia de estar segmentado para um setor de poder de compra médio/alta, o que nos traz mais exigências ao nível da formação e da qualidade do serviço. Deixou de ser um produto associado ao género masculino, dos 30 e tal aos 50 e tal anos, que alugavam um autocarro com motorista para se «enfrascarem» uns com os outros num almoço bem regado e numa visita a uma ou duas adegas; e passou a ser uma experiência para o casal e seus filhos que consomem gastronomia, vinho, produtos regionais, desportos ao ar-livre. O enoturismo 27

tornou-se uma oferta diversificada que deixa muito mais valor no território”, garantiu Pedro Ribeiro, recordando ainda que, apesar da sua dimensão, Portugal é o terceiro país do mundo com maior número de castas, o 11.º produtor de vinho a nível mundial e o 8.º maior exportador do planeta. “É um setor

que já representa mais de 800 milhões de euros para as exportações portuguesas. O vinho e as atividades a ele associadas desempenham um papel importante para o futuro de Portugal, no entanto, para termos um país mais equilibrado, o mundo rural não pode estar tão abandonado”, destacou. ALGARVE INFORMATIVO #269


Elogios para Lagoa e para o executivo municipal liderado por Luís Encarnação chegaram de José Calixto, presidente da Rede Europeia das Cidades do Vinho, lembrando que Lagoa já foi Cidade do Vinho em Portugal, vai agora acolher o Concurso Cidades do Vinho e deseja ser anfitrião da Cidade Europeia do Vinho. Mas também enalteceu o excelente trabalho de Pedro Ribeiro à frente da AMPV, uma associação com quase 100 municípios que defendem, de forma acérrima, os seus produtos e territórios, e de Sara Silva à frente da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA).

“Naturalmente que iremos fazer tudo para termos muitas centenas de amostras de todo o país neste concurso para depois, em 2021, aparecermos em força em Itália, em Modena, e mostrar o que valem os vinhos portugueses. Já lá vai o

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tempo em que Portugal apenas produzia em quantidade, a qualidade agora é enorme e os prémios internacionais isso mesmo o demonstram. E o trabalho de um autarca também passa por valorizar o trabalho dos produtores dos seus concelhos”, disse o presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz. José Calixto recordou ainda que, em 2021, Reguengos de Monsaraz vai organizar a 5.ª Convenção Mundial de Enoturismo, mais uma oportunidade para se valorizar o setor. “Estamos a

percorrer um caminho com base em todos estes projetos e iniciativas, que dão muito trabalho, mas que depois geram uma imensa satisfação quando vemos Portugal a receber a

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Sara Silva, presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve

grande maioria das medalhas, per capita, de concursos internacionais”, comentou o autarca, antes de passar a palavra a Sara Silva, presidente da CVA. “Apesar de

vivermos tempos difíceis, os produtores continuam a querer participar nestas iniciativas que trazem uma maior notoriedade para os vinhos do Algarve e para a região como um todo. O enoturismo é um nicho de mercado que está a ser explorado de forma contínua pelos produtores algarvios, aliás, metade deles já possui essa oferta. Em termos de produção, a grande maioria é consumida no próprio Algarve, mas esta situação que vivemos permitiu que tivessem mais tempo para pensar na promoção e 29

comercialização através dos canais digitais, algo que era relegado para segundo plano no passado”, reconhece Sara Silva. “A nossa dependência face ao mercado regional tem a vantagem de, em anos bons para o turismo, os vinhos algarvios serem facilmente comercializados; em anos mais desafiantes, teremos todos que pensar em qual será o melhor caminho para os vinhos algarvios. A sua qualidade é reconhecida internacionalmente, face a uma maior comunicação e projeção das marcas, mas precisamos da ajuda de todos para chegarmos mais além”, concluiu a presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve .

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FESTIVAL DA COMIDA ESQUECIDA DESPEDIU-SE COM «MEMÓRIA» EM QUERENÇA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Vítor Pina/ Festival da Comida Esquecida

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primeira edição do Festival da Comida Esquecida chegou ao fim, no dia 17 de outubro, em Querença. O evento, que tanto tem trabalhado as memórias, não quis terminar sem deixar uma última memória aos seus participantes, através de uma refeição final que simbolizou os territórios e as heranças alimentares de quem neles vive. Em Querença, sede da organização do Festival, os participantes desfrutaram de mais um dia e refeição especiais, desta vez com três ementas diferentes à escolha, dedicadas a cada uma das três grandes regiões algarvias, tão bem representadas no concelho de Loulé: a Serra, o Barrocal e o Litoral. Além da refeição, o programa incluiu um percurso gastronómico guiado pela aldeia, para abrir todos os sentidos à riqueza da gastronomia algarvia, e ainda animação ALGARVE INFORMATIVO #269

diversa, com música, palavras e história ligadas à tradição cultural algarvia. O evento foi alterado e adaptado de forma a respeitar todas as atuais orientações da DGS e garantir a segurança de participantes e colaboradores, mas mantendo a sua identidade e essência, ligadas à celebração de tradições algarvias através de experiências gastronómicas inesquecíveis. O Festival da Comida Esquecida integra, o programa cultural «365 Algarve», uma iniciativa das Secretarias de Estado da Cultura e do Turismo, financiada pelo Turismo de Portugal e operacionalizada pela Região de Turismo do Algarve, pela Associação de Turismo do Algarve e pela Direção Regional de Cultura do Algarve. A entidade promotora do Festival da Comida Esquecida é a Cooperativa QRER, uma organização dedicada ao Desenvolvimento dos Territórios de Baixa Densidade . 34


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TIAGO BETTENCOURT DEU A CONHECER NOVO DISCO EM LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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iago Bettencourt, voz inconfundível do panorama musical português, está a promover o seu novo álbum de forma original, com oito espetáculos fora das grandes metrópoles em que utiliza apenas uma guitarra, um gira-discos e uma planta. A estreia desta «Listening Party» aconteceu no Cineteatro Louletano, no dia 19 de outubro, para um número limitado de participantes, uma vez que, ao contrário dos espetáculos habituais, Tiago não quis que houvesse venda de bilhetes, decidindo antes oferecê-los, através de passatempos na Rádio Comercial, ALGARVE INFORMATIVO #269

parceira do projeto, das redes sociais do músico e ainda para uma seleção aleatória de utentes com cartão de amigo do Cineteatro Louletano. Num formato intimista, Tiago Bettencourt embarcou numa viagem tranquila pelo seu novo disco «2019 Rumo ao Eclipse», em que falou sobre cada música, sobre o que o inspirou e sobre o seu processo criativo. Uma noite em que, conforme tinha adiantado, não houve «pompa e circunstância», mas sim uma celebração honesta da verdade por detrás das canções, uma conversa sobre as palavras, sons e histórias à volta do sétimo disco da sua carreira . 48


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MAGISTRAL JOÃO BARRADAS ENCANTOU TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova

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epois de ter promovido, na noite anterior, no Clube Farense, a estreia mundial do Trio Allurement, o Algarve Music Series, festival de música de câmara organizado pela violoncelista Isabel Vaz e pelo pianista Vasco Dantas, apresentou, no dia 16 de outubro, no Teatro Lethes, em Faro, o consagrado acordeonista português João Barradas, que interpretou obras de Keith Jarrett, Bach e Scarlatti. João Barradas é, sem dúvida, um dos mais conceituados e reconhecidos acordeonistas europeus, movendo-se ALGARVE INFORMATIVO #269

entre a música clássica, o jazz e a música improvisada. Venceu alguns dos mais prestigiados concursos internacionais, dos quais se destacam o Troféu Mundial de Acordeão por duas vezes, o Coupe Mondale de Acordeão, o Concurso Internacional de Castelfidardo e o Okud Istra International Competition. Tem-se apresentado nas maiores salas de concerto do mundo e, enquanto intérprete, teve a seu cargo dezenas de estreias mundiais de solos para acordeão escritos para ele por alguns dos mais destacados compositores europeus, como Yann Robin, Tuomas Turriago, Nuno da Rocha, Dimitris Andrikopoulos ou Jarmo Sermila. 62


Em 2016, João Barradas gravou, com a editora nova-iorquina «Inner Circle Music», o seu primeiro álbum enquanto líder. «Directions» conta com a produção de Greg Osby e foi considerado um dos melhores álbuns do ano pela revista «Downbeat», aparecendo na sua prestigiada lista «Best Albums of The Year». Em simultâneo, começou a ser mencionado por alguns dos maiores nomes do jazz americano, como Joe Lovano, Nicholas Payton, Randy Brecker, Lenny White ou Walter Smith III.

diversos músicos de renome, nomeadamente com Greg Osby, Mark Turner, Peter Evans, Aka Moon, Mike Stern, Gil Goldstein, Fabrizio Cassol, Mark Colenburg, Jacob Sacks, Miles Okasaki, Rufus Reid, Jerome Jennings, Stephanne Galland, Michel Hatzigeorgiou, entre muitos outros. Foi nomeado ECHO Rising Star pela European Concert Hall Organization para a temporada 2019/2020, no mesmo ano em que a prestigiada BBC Music Magazine o nomeou como um dos seus Rising Stars .

João Barradas tem colaborado com

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«A PRESENÇA DAS FORMIGAS» VISITOU AUDITÓRIO DO SOLAR DA MÚSICA NOVA, EM LOULÉ Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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Presença das Formigas», projeto de referência ligado à música de raiz tradicional, constituído por André Cardoso (violino e bandolim), Manuel Maio (guitarra) e Sara Vidal (voz e percussão), estreou-se em Loulé com um concerto no Auditório do Solar da Música Nova, no dia 17 de outubro, numa visita a terras algarvias que começou, da parte da tarde, com um workshop gratuito e aberto a toda a comunidade sobre Canto Tradicional. Depois, à noite, entre temas originais do grupo e arranjos especiais de grandes canções da música popular e tradicional portuguesa, os participantes do workshop tiveram a oportunidade de

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subir ao palco como coristas em duas canções «A Presença das Formigas» é um dos cinco espetáculos da programação da Central Artes, que esteve inicialmente prevista para o primeiro semestre deste ano, mas que, devido à pandemia, teve de ser reagendada. A oferta cultural inserida no projeto inclui sempre, para além de espetáculos de valor internacional e nacional, uma vertente de formação/mediação criativa e interação com os públicos, com workshops nos mesmos dias dos espetáculos com as várias companhias e artistas envolvidos na programação. Incluem-se atividades de música instrumental (didgeridoo), dança contemporânea, canto tradicional 70


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português, construção de máscaras e cante alentejano dirigidas ao público em geral. Estas ações, bem como os espetáculos, terão entrada livre limitada (requerendo inscrição prévia), e respeitando as regras de higiene e segurança em vigor emanadas da Direção-Geral de Saúde. A Programação Cultural em Rede é uma ação conjunta de cinco municípios do

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Algarve Central, que inclui Loulé, Albufeira, Faro, Olhão e Tavira. O projeto envolve os cinco municípios durante dois anos (2020 e 2021) e explora diversos quadrantes das artes performativas, com direção artística, conteúdos e produção a cargo das empresas Eventors’Lab e Spira – Revitalização Patrimonial, tendo a programação como mote a temática da «Cultura da Sustentabilidade» .

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JOSÉ MARTINS APRESENTOU O LIVRO QUE DEU ORIGEM AO ARREPIANTE «IMPROVÁVEL» DA ACTA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #269

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streou, no dia 25 de abril de 2019, no Teatro Lethes, em Faro, a peça «Improvável», que juntou pela primeira vez em palco Luís Vicente e Pedro Monteiro, o primeiro um torturador da PIDE, o segundo um torturado pela PIDE. A 76.ª produção da ACTA descreveu o reencontro improvável de dois homens que antes se haviam cruzado num momento e numa circunstância bastante particulares das suas vidas, em lados opostos de uma mesa de ferro durante os interrogatórios, e de uma cela escura em que um prisioneiro era observado diligentemente pelo seu carcereiro. Eram na época dois jovens e conheceram-se na tristemente célebre Rua António Maria Cardoso, a sede da famigerada PIDE/DGS. ALGARVE INFORMATIVO #269

Pedro Monteiro interpreta um prisioneiro político, uma estrela na faculdade pelos seus discursos inflamatórios de contestação ao Estado Novo que depressa ficou sob o radar da PIDE. Luís Vicente é o seu algoz, curiosamente filho de um agente do poder instalado que até tinha algumas tendências comunistas. Pedro foi torturado, Luís torturou e, numa primeira parte, a peça é marcada por dois monólogos interiores em que as personagens, quase às escuras no palco, falam de si, da sua vida passada e presente. Depois, num novo cenário proporciona-se o reencontro entre extorturador e ex-torturado, entre exPIDE e ex-preso político, e dá-se o embate das suas distintas realidades atuais, com a ação a decorrer poucos 84


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dias antes dos 45 anos do 25 de Abril de 1974. O ex-torturado padece de cancro e caminha para o final da sua vida. O extorturador anda à procura de redenção, de expiação para os pecados cometidos ao serviço do Estado Novo. Na génese de «Improvável» esteve um texto original de José Martins que veio a dar origem a «Encontro Improvável do penitente com o arrependido», publicado, em 2020, pela editora «Guerra e Paz» e que foi apresentado, pelo autor, no dia 13 de outubro, precisamente no Teatro Lethes e com os atores Luís Vicente e Pedro Monteiro a seu lado. “Um dia

encontramo-nos nas nossas aventuras da televisão e ele disseme que tinha escrito uma coisa que gostava que eu lesse para lhe dar a minha opinião. Enviou-me umas 300 páginas, que li com um entusiasmo 87

crescente. Referi logo que aquele texto dava uma bela peça de teatro”, recordou Luís Vicente. “Fiz uma amputação do texto e depois convoquei o meu colega e amigo Pedro Monteiro para participar nesse espetáculo. Após as leituras em voz alta, decidimos fazer mais uma amputação, pelo que o romance do José Martins é muito mais rico do que a peça de teatro que levamos a cena”, garantiu o responsável máximo da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve. José Martins é um homem do teatro há várias décadas, tendo fundado o Grupo de Teatro de Campolide, que posteriormente transitou para a Companhia de Teatro de Almada. Publicista e jornalista, trabalhou para a Ceara Nova, Musicalíssimo e Cinéfilo, ALGARVE INFORMATIVO #269


com uma enorme experiência de escrita que agora se materializou “num grande romance”, descreveu Luís Vicente.

apeteceu-me mesmo muito”,

“Não estou a vender «banha da cobra», gostei muito do texto quando o li pela primeira vez, depois, quando o li em voz alta, ainda me soou melhor”, assegurou o ator e encenador. “O «Improvável» corresponde à leitura que o Luís fez daquilo que eu escrevi, e foi uma leitura de tal modo criativa que houve alguns aspetos fundamentais da peça que quase me fizeram alterar o texto original. Resolvi manter essa diferença entre o espetáculo e o romance, mas

romance sobre o medo, mas que fosse também uma viagem e um ajuste de contas aos últimos 50 anos da minha vida”. “Queria também questionar como é que alguém que foi torturador viveu estas quatro décadas. O que é feito dessas pessoas? Como é que elas conseguiram sobreviver? Qual foi o seu quotidiano? E também me interessava saber o que é que levava dois jovens a seguir estes caminhos, um a ser um agente da PIDE, o outro que transforma a sua revolta em ação.

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confessou José Martins, explicando que a sua ideia era fazer “um

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com um desses agentes, que me deu apenas uma estalada. O romance não é a minha história, mas é o resultado desse encontro”, contou o escritor, acrescentando que tudo o resto é ficção. “Uma das minhas

Conheci alguns agentes da PIDE, cara-a-cara, mas eu estava do outro lado, por isso, socorri-me da minha experiência teatral para escrever este texto”, referiu o autor. Respondendo às questões que eram lançadas pela plateia, José Martins lembrou que, antes do 25 de abril, era jornalista, sendo que “os agentes mais

famosos frequentavam os mesmos cafés que nós, provocavam-nos, estavam constantemente a exercer o seu poder prepotente sobre o nosso quotidiano”. “Tive um pequeno confronto de várias horas, numa sala fechada na António Maria Cardoso, tinha eu 19 anos, 89

convicções é de que a Besta é sempre humana e o que me preocupou neste romance foi mostrar que aquelas bestas são iguais a nós. É o ser social que os empurra para aquela situação. Não nasceram assim, fizeram-se assim, tal como cada um de nós se fez assim. Estamos a viver situações bastante complicadas no mundo, nomeadamente, de há uns anos para cá, nos Estados Unidos. Olhamos para aquele presidente e achamos que ele é horrível, porém, não é ele que me inquieta, mas sim as pessoas como nós que o apoiam, e que não são bestas”, declarou José Martins. “Não sou psicólogo, sociólogo ou antropólogo, sou escritor e encenador de ficção, mas interessa-me perceber o que leva alguém como eu a torturar outra pessoa, quaisquer que sejam as razões. Numa guerra, são pessoas como nós que estão dos dois lados da barricada”, reforçou o autor de «Encontro Improvável do penitente com o arrependido» .

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FINALISTAS DE ARTES VISUAIS DA UNIVERSIDADE DO ALGARVE EXPÕEM EM LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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stá patente, até dia 15 de novembro, no Convento de Santo António, em Loulé, uma exposição de trabalhos dos finalistas da Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, da Universidade do Algarve. Num ano letivo particularmente condicionado e complexo, estes jovens artistas escolheram afirmar, no título da exposição – «O Toque em tempos ilícitos» – a perplexidade e o assombro que os acometeu durante a pandemia. Através da arte, cada um deles tentou expressar um sentimento que é comum: “Que tempos são estes? De que forma e quando, voltaremos a ser como antes?”. A arte foi uma saída possível para a afirmação da liberdade imprescindível para a criação. Através do toque, trabalharam a matéria, os materiais, transformaram as ideias em obras e criaram a exposição possível nos tempos que correm. Essa exposição integra, na sua lógica interna, a arquitetura complexa do edifício, a sua história, as memórias e procura ir ao encontro do espetador para o envolver e tocar de alguma forma, já que o toque, na era da pandemia, foi decretado «ilícito». A Licenciatura em Artes Visuais da Universidade do Algarve dá acesso a uma formação inter e multidisciplinar, permitindo que os alunos experienciem o desenho, a pintura, a escultura, a fotografia, a videoarte e a arte digital/multimédia. A cada fim de ciclo de estudo, os alunos são convidados a expor o seu trabalho, a partilhar com a ALGARVE INFORMATIVO #269

comunidade o que ensaiam, experimentam, apreendem e produzem. “Completamos, com

esta exposição, mais um ciclo de estudo no domínio das artes visuais e apresentamos mais um grupo de artistas promissores. Esperamos sempre que a comunidade os acolha e que perceba a importância das artes e da produção que é feita no 94


Algarve, dentro da Universidade. Apesar de fisicamente distantes, continuamos a trabalhar e os jovens artistas a produzir, pois, se há algo que talvez nos possa salvar da incerteza e do distanciamento social, é a Arte que nos toca profundamente, mesmo em tempos ilícitos”, adiantam os responsáveis pela exposição. 95

Os trabalhos expostos são da autoria de De Borj@, Gonçalo, Joana Bento, Lorena, Manu, Margarida Lopes, Mariana Domingos, Miguel Costa e Sofia Cardoso, a curadoria está a cargo dos professores Bertílio Martins, Mirian Tavares, Pedro Cabral Santo, Rui Sanches, Susana de Medeiros, Tiago Batista e Xana. A exposição pode ser visitada, de segunda-feira a sábado, das 10h às 16h30 . ALGARVE INFORMATIVO #269


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OPINIÃO Morram os velhos? Paulo Cunha (Professor) uanto mais enrugados, mais sábios! Quanto mais grisalhos, mais pacientes! Quanto mais vagarosos, mais serenos! Gente que nos construiu e apontou o caminho e, por isso e muito mais, é merecedora de todo o nosso respeito e consideração. Ser idoso é ter idade para merecer a gratidão e o reconhecimento de quem também o virá a ser!”. Quando, no primeiro dia de outubro de 2012, escrevi este meu estar e sentir, estava longe de imaginar como, alguns anos depois, grande parte da população mundial teria de lidar com a previsível e iminente perda prematura de um valioso e insubstituível património: os seus familiares mais idosos.

Sabendo que os mais velhos, acumulando várias patologias, são mais suscetíveis de poder vir a falecer quando expostos a vírus invasores, tem sido por e para eles que, em plena pandemia, várias medidas têm sido tomadas. Os especialistas aconselham-lhes o isolamento social, permitindo apenas que alguém lhes leve os medicamentos e a alimentação, a manter uma boa ALGARVE INFORMATIVO #269

hidratação, uma alimentação variada e, sobretudo, a resistirem à tentação de sair de casa ou de receber familiares ou estranhos. Mas como explicar a quem já tem menos tempo para viver que deverá passar sozinho e preso às suas memórias o tempo que lhe resta? Por não ter acesso à internet e aos meios de comunicação social, grande parte da população mais idosa, sendo doente e tendo o sistema imunitário comprometido, necessita de conhecer as consequências de se expor a possíveis infeções virológicas. É, por isso, imperioso que sejam as suas famílias a darem-lhes esse tipo de informações. Perante o número de focos de infeção pela Covid-19 surgidos em instituições (lares de idosos), muitas vezes dou por mim a pensar no que sentem os seus utentes, que em quarentena são impedidos de ter as suas referências pessoais, permanecendo em quartos onde não têm os seus pertences e não podendo receber visitas dos seus familiares. Gente que, em caso de lotação das unidades de intervenção do SNS e em função dos princípios éticos inerentes à proporcionalidade do nível de cuidados médicos prestados em cenário de pandemia, provavelmente passará para o fim da lista dos pacientes 108


a serem internados e a beneficiar de meios de suporte de vida.

aquilo que, não tendo a coragem de verbalizar, muitos pensam!

Custa-me constatar que há gente que acha que este tipo de situações limite são necessárias para equilibrar as contas da Segurança Social, retirando das folhas de pagamento de subsídios e reformas o nome daqueles que, pela sua fragilidade e cormobidade, estão mais expostos às consequências terminais de um vírus que veio para ficar. Ainda um destes dias, numa publicação numa rede social, li a seguinte opinião: “Os velhos e os doentes é que têm a obrigação de se proteger a si próprios. Os mais novos e saudáveis têm o direito de viver a sua vida em pleno e não abdicar dela por causa dos outros. A própria vida é uma seleção natural, quem tiver de morrer, morre. Para os restantes a vida segue em frente”. Confesso que me custou ler

Neste novo tempo, feito de velhas histórias que teimam em repetir-se, continuam a ser os mais frágeis, desprotegidos e abandonados aqueles que estão mais expostos à desumanidade, ao egoísmo e à indiferença dos que apenas vivem para o presente: o seu. Já não tendo os meus «velhos» comigo, como muitos de vós, valorizo o património humano com que a vida me presenteou. É a eles, familiares e amigos mais velhos, que devemos agradecer, em vida, a vida que todos os dias nos proporcionam. Como? Dandolhes - apenas - o que queremos receber quando chegarmos à sua idade. O que, não parecendo, afinal é tanto! .

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OPINIÃO Da errância Mirian Tavares (Professora Universitária) Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto É que Narciso acha feio o que não é espelho E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho Nada do que não era antes quando não somos mutantes (…) Caetano Veloso

o final dos anos 70 foi pedido à Caetano Veloso um depoimento sobre a cidade de São Paulo. Ele respondeu em forma de canção – Sampa, que se tornou uma espécie de hino à e da cidade. Na letra, Caetano fala do espanto/assombro/assoberbamento que sentiu quando, pela primeira vez, pisou as avenidas paulistanas. Uma cidade dura, sem o charme do Rio de Janeiro, sem a beleza de Salvador, composta por altos edifícios e sem o mar à vista. Uma cidade em constante burburinho, em que tudo corre, em que todos correm e se cruzam sem ter tempo de parar. São Paulo, para mim, foi um desejo e uma miragem. Tinha de ir lá viver e assim o fiz, no final dos anos 90. Fui estudar semiótica e morava em plena Av. São João. Senti na pele a música do Caetano – não vi o meu rosto espelhado naquela cidade completamente outra, totalmente diferente daquelas por onde ALGARVE INFORMATIVO #269

passara. Mas apaixonei-me por ela, vivi intensamente as suas ruas e avenidas. Os seus museus, cinemas e galerias. As suas feiras e, sobretudo, a sua dureza. Nelson Rodrigues escreveu um dia que “a maior forma de solidão é a companhia de um paulista”. Não posso concordar com o grande dramaturgo e cronista, carioca da gema, que confrontava a aparente frieza do paulistano ao, também aparente, calor dos nascidos na cidade do Rio de Janeiro. Mas, São Paulo foi o lugar onde experienciei a solidão em todas as suas dimensões e formatos. O que me fez mais dura e resistente. Depois de mim, o dilúvio, proclamou Luís XV. Parafraseando o rei francês, posso afirmar que depois de São Paulo, o dilúvio. Qualquer lugar era possível e habitável. Viajamos muito, vivemos em muitos lugares, e no fundo o que procuramos está em nós. Por isso, mesmo no mais exótico e distante dos lugares, buscamos o conhecido. Temos uma tendência a repetir a frase (com diversas variações): pois, mas onde nasci 110


Foto: Victor Azevedo

não era assim. Quando ouço isso tenho sempre vontade de dizer – então não saísse de lá. Meu nomadismo começou na tenra infância, levada pelas mãos dos meus pais. Nasci no Cariri, região do sul do estado do Ceará e há uma música que diz: “quem sai da terra natal, em outro canto não para. Só deixo meu Cariri, no último pau-de-arara”. Se calhar, por ter saído muito cedo de lá, aos 6 anos, demorei muito a parar noutro canto. E não me considero habitante permanente de lugar nenhum. Apaixona-me a ideia de mudança, do desconhecido, do novo. A mãe contava a 111

história de um vizinho que se mudava tanto que quando chegava ao quintal as galinhas já se punham de pés para o ar. Prontas a serem carregadas. São Paulo não foi nem a primeira nem a última cidade por onde passei. Mas foi o maior desafio. E ensinou-me que, o melhor dos lugares é serem diferentes, serem outros, diversos daquele de onde partimos. Mesmo que não nos reconheçamos, a chegada, aprendemos novos gestos, perdemo-nos um pouco e voltamos a nos encontrar – mais ricos, mais sábios. E certamente mais fortes . ALGARVE INFORMATIVO #269


SEGUNDA TABUINHA Paz Ana Isabel Soares (Professora Universitária) ão memórias tão vagas e tão precisas. Tenho 17 (ou 18) anos, vivo numa cidade pequena – conheço poucas além daquela, mas é demasiado apertada para aquilo que pressinto fora dela e ainda não vi. É um lugar seguro: caminho sozinha por ela nos fins de tarde, já noite, de Inverno; fico na rua, com outros da minha idade e mais novos, até ser tarde de noite, no Verão (nas Festas dos Santos Populares, faz-se uma fogueira com ramos de alecrim que um dos pais trouxe dos campos à volta: é no meio da rua que se acende o fogo – são poucos os carros estacionados, muito poucos – e fica-se a saltar e a gritar lengalengas, na maioria coisas inventadas, quase impercetíveis entre o riso, as gargalhadas que se ouvem, o medo da labareda, o coração a acelerar, estão todos a ver, estão todos a ver, e se caio?, aqui vou eu, transponho as chamas, nem me tocaram, passei outra vez. Vai no meu pensamento, vai no pensamento de cada uma das pessoas novas que ali se juntaram, e que gritam, excitadas, para que não se ouça o que nos pensamentos lhes vai). O Verão tem as noites mornas e ruidosas. O som das noites no Inverno é a chuva que o completa, que lhes impede o silêncio. ALGARVE INFORMATIVO #269

De dia, especialmente no tempo bom – quase o ano inteiro –, chegam à cidade os curiosos turistas. Vêm às compras: os sábados de mercado têm fama, há boas sapatarias, os locais (os lugares e as gentes) são simpáticos. Vêm a falar línguas diferentes e gosto de lhas ouvir: se vou na rua, fazer mandados, chegome às passadas deles e tento apurar o ouvido para perceber de onde vêm, o que dizem, o que querem dizer. Chegam de fora da cidade, passaram por lugares que ainda não vi e quero, que hei de conhecer. Emissários de reis desconhecidos, cumprem... – e vigio-os, ansiosa por ver eu os caminhos que tomaram, por pisar eu as pedras de onde vieram. Vou no sentido da praça – comprar pão ou leite, ou nalguma outra tarefa que dignifico com as histórias daqueles seres que cruzam a rua ao mesmo tempo que eu, depois de o sinaleiro fazer parar os automóveis e nos dar passagem. “Desculpe”, diz-me uma jovem ao meu lado, mesmo antes de atravessarmos – fala inglês, que percebo bem, mas consigo entender que não é a sua língua. “Yes”, respondo. Quer saber onde fica a estação dos correios. Vou para aqueles lados, se quiser, acompanhe-me, mostrolhe onde é. Ganham ligeireza os meus passos, na felicidade de ter transposto o 112


Foto: Vasco Célio

muro da fala. No meu caminho, a leitaria fica antes dos Correios – mas não tem mal, é perto, acompanho-a e ajudo-a. Terá comprado selos para os bilhetes postais que mandaria para casa? “Sou da Alemanha”. Que feliz acaso, penso – aprendo alemão na escola. Fico a imaginar que um dia visitarei aquele país como esta moça hoje visita o lugar onde moro. Enquanto fazemos o caminho de volta, faço-lhe perguntas – é mais alta do que eu, levanto os olhos para ver como responde. Ri-se: tem um riso largo, dentes muito certos e, na pele branca do rosto, a felicidade tem só um sinal de nascença a dizer que não está completa: o companheiro teve de ir a outro lugar, ela veio à cidade fazer tempo até que regresse. Cometo, nesse instante, a ousadia maior que o entusiasmo ditou (o medo da labareda, o coração a acelerar, 113

estão todos a ver, estão todos a ver, e se caio?, aqui vou eu) e convido-a a subir aonde moro. Estou com a minha mãe e a gata Carolina. Talvez estejam os meus irmãos também, se já voltaram da escola. Entre o tanto que não recordo (o nome dela, o dia do ano, o lugar de onde veio), estão, como pedrinhas a brilhar, memórias precisas: o pelo creme e muito macio da gata Carolina de costas para nós, as orelhas espetadas a olhar para o movimento da cidade, o quarto morno – do sol que nele entrou toda a manhã –, eu à secretária, a ler alguma coisa que teria de saber nas aulas do dia seguinte. A jovem alemã, sentada na beira da minha cama, a sorrir e a tricotar, tem ao lado dela os postais coloridos que acabou de escrever .

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OPINIÃO Notas Contemporâneas [4] Adília César (Escritora) “Ora, fazer rapidamente, e cada semana, esta simplificação concentrada da história, como o Tempo detidamente a faz através dos séculos vagarosos, é tarefa mais arquejante do que fabricar uma nobre teoria social ou desenrolar uma nova fórmula de arte”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) HISTÓRIA da humanidade está cheia de pontos de exclamação. O Bem e o Mal, Deus e o Diabo, Eu e Tu. O que parece ser nome de oposição é, afinal, complementar, deliberativo; tantas margens para a mesma ponte que tentamos atravessar durante as nossas vidas coexistentes: nós e os outros. Como reconheceríamos uma boa nova, se a malignidade não existisse na comparação das respectivas consequências das nossas acções? Como invocaríamos um qualquer deus, se queremos fugir dos diabos a todo o custo? E, por fim, mas talvez o mais importante, quem sou eu sem ti, nesta trama social onde construímos lugares mentais em constante movimento, nem sempre devidamente registadas nos arquivos do tempo? * ALGARVE INFORMATIVO #269

A ARTE é uma tautologia. A arte existe na arte, é arte enquanto processo e produto (criativos), está omnipresente no ser humano, perpetua-se a si mesma numa projecção eterna. A arte, nas suas diferentes manifestações, é tudo aquilo a que chamamos arte. Insisto na arte da mesma maneira que pareço ansiar por uma doença, um eczema incomodativo: sinto um ímpeto e escrevo compulsivamente, mas não quero apesar de querer. A experiência estética vai muito além do mero entretenimento, da compreensão natural de um fenómeno artístico, causando-me, por vezes, uma espécie de náusea emocional. A obsessão pela escrita perdura para lá de um frágil equilíbrio, atravessa uma fronteira que eu nem sabia que existia. Escrever porquê? Só tenho uma "não-resposta": escrevo porque tenho que escrever, escrevo porque sim. Escrevo a minha escrita e chamo-lhe arte. Porque sim. 114


* A IGNORÂNCIA sabe que tem um destino oculto. O dorso macio e morno, os olhos pestanejantes e assombrosos, o discurso fácil e comovente. De vez em quando volta-se do avesso: crescem-lhe cornos na cabeça, saem-lhe espinhos das mãos, torna-se cega e muda. E fica muito quieta, à espera dos incautos que caem na sua armadilha. A ignorância pode surgir na forma de uma ideologia política, uma religião, um provérbio popular, mas nunca é uma distracção ou um acidente de percurso. Pelo contrário, é uma tenacidade voluntária fundamentada na incompetência colectiva e no medo face ao poder – formal ou informal – instituído. Aceitar a ignorância, sem esforço de contestação, é uma espécie de morte. É um crime. * O QUOTIDIANO é superlativo. Noticiários infindáveis, decalcados uns nos outros, fazem a história da actualidade pandémica. As imagens e os sons passam a galope, parecem dirigir-se a mim, mas passam mesmo ao lado, sem deixar rasto. Por vezes, ocorre-me a infeliz ideia de que essas notícias não conseguem comunicar comigo porque eu não sou deste mundo. Não sou daqui, ocupo este lugar por mero engano cósmico. Não, eu 115

não posso ser daqui quando não posso ausentar-me para parte incerta, longe dos velhos que morrem entubados, sozinhos; longe das barrigas inchadas por hérnias que parecem querer explodir sem que o SNS intervenha; longe das mãos estendidas; longe das obrigações impostas. A máscara não cobre apenas a boca e o nariz: é uma outra face total deste abominável mundo novo que nos caiu em cima da cabeça. A máscara serve para ocultar a tristeza. Eu agora uso máscara e assumo esta crua consciência de que sou de um país que ainda não existe . ALGARVE INFORMATIVO #269


OPINIÃO Notícias falsas, um vírus na era da internet Fábio Jesuíno (Empresário) internet revolucionou a forma como comunicamos, permitiu dar voz a qualquer indivíduo de uma forma livre, mas, ao mesmo tempo, essa liberdade deu voz também a campanhas de desinformação através das «fake news». O termo «fake news», ou notícias falsas, ficou popular em 2016, durante as eleições dos EUA, devido às polémicas que foram criadas nas redes sociais envolvendo vários políticos e até governos externos. Foi um momento que ficou marcado pela confusão que gerou na sociedade norte-americana e influência que teve nos resultados nas eleições. As «fake news» são graves ameaças às democracias e muitas vezes utilizadas como meios de interferência nos processos eleitorais, que se vieram a verificar depois nas eleições presidenciais brasileiras de 2018 e, como está a acontecer novamente, nas eleições presidenciais dos EUA, onde um dos candidatos é um dos seus grandes impulsionadores.

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O vírus das notícias falsas voltou a atacar em força, devido à pandemia da covid-19, houve um grande aumento do número de «fake news» cada vez mais sofisticadas e difíceis de identificar, mesmo para os jornalistas, que muitas das vezes são enganados e replicam essas mesmas notícias falsas. A internet, que deu origem às plataformas digitais, como o Facebook, YouTube e Twitter, está a transferir o poder dos governos para a sociedade civil. Fazendo com que alguns países ataquem a liberdade da internet, como acontece na Rússia, China, Cuba e Turquia, que censuram claramente a internet e promovem campanhas de «fake news» internamente e externamente. Os meios de comunicação social independentes ganham actualmente, maior importância na nossa sociedade, mesmo passando por dificuldades, são na sua maioria uma plataforma de confiança e de liberdade, principalmente neste mundo cada vez mais digital. As notícias falsas são um vírus, que só pode ser combatido por uma vacina chamada educação digital, neste mundo cada vez mais conectado . 116


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OPINIÃO A Peste do século XXI Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor)

A

sociedade venera os mártires e, talvez por isso, adora martirizar.

A humanidade é, ciclicamente, confrontada com a repetição de ocorrências, que metem à prova o seu estado evolutivo. Podemos dizer que as sociedades evoluem quando, confrontadas com as mesmas circunstâncias do passado, alteram a sua conduta, de modo a obterem um efeito diverso. Sempre que foi confrontada com pandemias, a sociedade reagiu com o isolamento e a marginalização. Os infectados, tratados como impuros, eram expulsos de casa, apedrejados, banidos para terrenos baldios e entregues à sua sorte. Foi assim com a Lepra, a Peste Negra, a Varíola, a Cólera, ou a Tuberculose. As portas das casas de contaminados eram tingidas, os corpos putrefactos acumulavam-se nas ruas, perdiam-se os sentimentos que dão humanidade aos seres humanos. Chegamos ao Século XXI, depois de conhecermos um notável avanço científico, principalmente ao nível clínico e dos serviços de saúde. Hoje

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conhecemos a causa das doenças, a forma como se transmitem e achamonos bastante evoluídos socialmente, chocando-nos os relados da Antiguidade ou da Idade Média. Poderíamos ter essa convicção, se não fossemos confrontados por uma realidade diversa. A verdade é que, conhecida a pandemia de Covid-19, a humanidade não despertou para uma nova era, recolheuse nas suas defesas ancestrais, talvez instintivas, impregnadas no ADN de antepassados que não chegamos a conhecer, mas que transportamos em nós mesmos. Só esse instinto de defesa justifica a ocorrência de casos próprios da antiguidade mais remota ou da idade das trevas. É verdade que hoje ninguém pinta a porta da casa dos contaminados, mas procura-se saber pelas notícias, nas redes sociais, ou nas conversas dos cafés que ainda podem estar abertos, onde residem os contaminados mais próximos; é certo que os doentes não têm de andar com campainha para anunciarem a sua aproximação, nem tal é necessário, porque as fotografias correm virtualmente, ao ponto de, por mera suspeita de contágio, serem expulsos dos transportes públicos, terem os carros vandalizados, serem ameaçados ou até algemados a um corrimão. É certo que as cidades não têm de colocar a bandeira negra que 118


anunciava uma contaminação, hoje ela é isolada por decisão do Conselho de Ministros e a informação difundida em segundos à escala planetária. Hoje não temos de cobrir o rosto com um lenço quando passamos por alguém, somos obrigados a ter uma máscara permanentemente. Hoje não precisamos de chamar os médicos a casa, somos deixados num sítio específico ao cuidado deles. As pessoas já não têm de se fechar em casa, morrendo de fome, por medo de virem a morrer infectados pelo vírus eventualmente letal, agora são obrigadas a ficar em casa, independentemente das suas condições de vida, perdendo muitas vezes, mais do que o alimento, as condições de subsistência. Como sempre fizeram no passado, hoje ainda continuamos a culpar os outros pela incúria, pelo desleixo e, até, pelos pecados que cometeram. Continuamos a ser governados ao sabor das circunstâncias de cada dia, sem uma visão global e de futuro, que só está ao alcance dos grandes líderes e não dos governantes de circunstância. No Século XXI, mais do que individualistas, tornamo-nos globalmente isolados. Confrontados com as mesmas ocorrências e os mesmos cenários do passado, chamados a demonstrar que fomos capazes de dar o salto civilizacional, reprovamos no exame. Isolamo-nos, fechamo-nos, desconfiamos dos outros, culpamos os outros, martirizamos os outros. 119

Continuamos a dividir o mundo entre nós e os outros, aquela palavra indefinida, que representa uma soma de individualidades humanas, como nós. Depois, quando tudo tiver passado, quando soubermos quantos sucumbiram, diremos: Coitados! Que pena! Grande martírio. Esses serão os mártires a venerar nos tempos mais próximos . ALGARVE INFORMATIVO #269


OPINIÃO Quais os anseios dos Cozinheiros? (3) Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) Continuação…

Direito a 40 horas semanais

É um facto e tem 101 anos, o decreto-lei, publicado a 7 de maio de 1919, que confere que o período de trabalho diário, não pode ultrapassar as oito horas, nem 40 horas semanais, quer seja trabalho diurno, noturno ou misto. É também um facto que, exceptuando, os que de nós trabalham em hotéis (e que possuem dois dias de folga, há muito assegurados pela implementação da lei e gestão dos recursos humanos), a grande, enorme maioria de todos os outros que trabalham em restaurantes e similares, não gozam desta realidade há uma eternidade.

– Nota O CCT diz que os profissionais de Restauração e Hotelaria devem usufruir das quarenta horas semanais em cinco dias, podendo ainda ser praticados horários de quarenta horas semanais em seis dias, desde que haja acordo individual e por escrito. E ainda que, em termos médios, por referência a um período máximo de quatro meses, podem os trabalhadores praticar ALGARVE INFORMATIVO #269

horários diários até doze horas, sem que o trabalho semanal exceda sessenta horas ou exceder 50 horas em média num período de dois meses, só não contando para este limite o trabalho suplementar prestado por motivo de força maior, previsto no mesmo. Diz ainda, sobre os Intervalos de horário de trabalho, que o período de trabalho diário é intercalado por um descanso de duração não inferior a uma hora, nem superior a cinco horas e que, em acordo com a entidade empregadora, o trabalhador poderá usufruir de dois períodos de descanso, cuja soma não poderá ser superior a cinco horas, e ainda, que o período destinado às refeições não é considerado na contagem de tempo de descanso, salvo quando este seja superior a duas horas. Considera-se ainda tempo de trabalho o período em que o trabalhador exerce a sua atividade profissional. Para além do trabalho efetivo, o tempo de trabalho inclui ainda: a interrupção ocasional para satisfação das necessidades pessoais inadiáveis do trabalhador (idas à casa de banho); a interrupção ocasional resultante do consentimento do empregador; a interrupção do trabalho por motivos técnicos (limpeza, 120


manutenção de equipamento, quebra de encomendas ou falta de energia, por exemplo); e o intervalo para refeição, mas apenas se o trabalhador tiver de permanecer no seu espaço habitual de trabalho ou próximo dele, para, se lhe for pedido, prestar trabalho. Nos restantes casos, o intervalo para refeição não é contabilizado como tempo de trabalho, sendo considerado tempo de descanso: A interrupção ou pausa no período de trabalho imposta por normas de segurança e saúde no trabalho; e a deslocação de trabalhadores sem local de trabalho fixo ou habitual até aos clientes designados pela entidade empregadora; Sobre o descanso semanal, diz a lei afeta aos trabalhadores da Restauração/hotelaria, que têm direito a pelo menos um dia, que poderá não coincidir com o domingo. – Observação Facilmente podemos verificar que aos profissionais de cozinha não têm sido aplicadas estas regras e que, sobre horários e dias de folga, existe um grande número de infrações, sendo as horas de refeição, o caso mais gritante por sistematicamente serem acrescidas ao tempo de trabalho. Os mais antigos de nós começam a repensar o porquê do seu esforço diário e já não aceitam que apenas por serem Cozinheiros, têm que 121

suportar muitas horas de trabalho sem retorno salarial ou benefícios acordados. Os mais novos desistem após a conclusão do Curso profissional ou período de estágio por entenderem, e bem, que também têm direito, tal como qualquer outro trabalhador, ao descanso de qualidade, de poder estar com a família, acompanhar os filhos no seu crescimento e educação. Por norma sabemos, esperamos, pelo dia da folga para se resolver um número grande de coisas ligadas ao banco, finanças, médico, concerto do automóvel, e sem tempo efetivo de descanso . Bibliografia Boletim do Trabalho e Emprego, n.º 15, 22/4/2017, em https://ahresp.com https://www.montepio.org/ei/pessoal/empre go-e-formacao ALGARVE INFORMATIVO #269


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #269

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