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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 14 de novembro, 2020
«AS PRIMAS DE GODOT» DA FOLHA DE MEDRONHO ANTÓNIO MANUEL RIBEIRO E JOÃO PEDRO PAIS | LAGOS RECORDOU FERNÃO DE MAGALHÃES 1 ALGARVE INFORMATIVO #271 STONE BREAKER | «SEIS MESES DEPOIS» DE OLGA RORIZ | AÍ ESTÁ O FESTIVAL SOM RISCADO
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22 - Executivo de São Brás de Alportel analisou mandato autárquico
86 - João Pedro Pais e António Manuel Ribeiro juntos em Pera ALGARVE INFORMATIVO #271
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OPINIÃO 98 - Stone Breaker em Loulé
114 - Paulo Cunha 116 - Mirian Tavares 118 - Ana Isabel Soares 120 - Adília César 122 - Fábio Jesuíno 124 - Vera Casaca 126 - João Ministro 130 - Augusto Pessoa Lima
34 - Lagos recordou 1.ª CircumNavegação de Fernão de Magalhães
54 - «Seis Meses Depois» de Olga Roriz
42 - Aí está o Festival Som Riscado 11
70 - «As Primas de Godot» da Folha de Medronho ALGARVE INFORMATIVO #271
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David Gonçalves, Marlene Guerreiro, Vítor Guerreiro e Acácio Martins
“JUNTOS VAMOS VENCER, VAMOS FICAR TODOS BEM”, ACREDITA O EXECUTIVO MUNICIPAL DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
S
ão Brás de Alportel foi incluído, no dia 31 de outubro, pelo governo, na lista dos 121 concelhos de Portugal que são considerados de alto risco de contágio para a Covid19, um facto que se justifica, na opinião do edil Vítor Guerreiro, pelos critérios que têm como base algumas especificidades, demográficas e da organização administrativa. “São Brás de Alportel ALGARVE INFORMATIVO #271
tem 10 mil e 500 habitantes e uma única freguesia, não estando integrado nos critérios de «territórios de baixa densidade». Considero que o governo deveria ter incluído outros critérios de ponderação, nomeadamente os casos que estão contidos e controlados, numa instituição, como um lar, não contarem para esta decisão. Sinto que o nosso 22
concelho pode vir a ser penalizado com as medidas especiais que se aplicam nesta classificação e que são desajustadas para a situação pandémica que estamos a viver de momento em São Brás de Alportel”, entende o presidente da Câmara Municipal. Dois dias antes, a 29 de outubro, no habitual encontro com a comunicação social para fazer o balanço de mais um ano de gestão autárquica, Vítor Guerreiro já tinha confirmado que 2020 se revelou um ano complexo e atípico, com o Município a ver-se confrontado com uma nova realidade recheada de desafios inéditos para os quais tem sido empenhado um esforço conjunto e articulado entre todos os setores e colaboradores da autarquia, em prol da segurança e bem-estar da comunidade.
“Para o efeito foi criada a Estratégia Municipal de Combate à Covid-19, logo a começar, no dia 3 de março, com a elaboração do Plano Municipal de Contingência, em conformidade com as orientações da Delegada de Saúde local, e a sua ativação dois dias depois. A 17 de março criamos o Grupo de Trabalho Covid-19, constituído por elementos de diversos serviços municipais, com a missão de responder a um cenário de epidemia pelo novo Coronavírus, nomeadamente elaborar e monitorizar o Plano de Contingência Municipal. Criou-se uma Subcomissão de Proteção Civil 23
dedicada em exclusivo à pandemia, coordenada pela Delegada de Saúde de São Brás de Alportel, que integra o Coordenador do Serviço Municipal de Proteção Civil, o Presidente da Câmara Municipal, o Comandante do Posto Territorial da GNR, o Segundo Comandante dos Bombeiros Voluntários e a representante da Segurança Social. Aprovamos um Fundo Municipal de Emergência, com meio milhão de euros, para implementação de um plano de ação de 50 medidas distribuídas por três pilares de ação para responder à pandemia: prioridade à prevenção, apoio às famílias e à comunidade e defesa da economia”, recordou Vítor Guerreiro. Desde então muitas foram as medidas aplicadas, como a aquisição de equipamentos de proteção individual para a máxima segurança dos trabalhadores e colaboradores do Município que se mantiveram em funções, no período de confinamento, para prestar os serviços básicos durante a pandemia do novo coronavírus; adequação dos serviços da autarquia após o desconfinamento; uma comunicação pertinente, permanente e transparente junto da comunidade do ponto da situação a cada dia; a desinfeção das ruas e criação de Zonas de Apoio à População; a Rede Solidária de Produção de Viseiras de Proteção Individual e de ALGARVE INFORMATIVO #271
Máscaras Sociais; repetidos testes à covid-19 a funcionários e utentes da Santa Casa da Misericórdia, bem como aos profissionais dos estabelecimentos escolares; apoio para aquisição de materiais e equipamentos médicos; criação de diversas medidas e serviços específicos de apoio económico às famílias e empresas do concelho, entre as quais o Programa de Recuperação Económica e Social de São Brás de Alportel e a Estratégia Municipal de Combate ao Desemprego. “Desde
ano de mandato autárquico tem, como se adivinha, dois períodos completamente distintos: um até 3 de março, antes da chegada da covid-19 ao Algarve; e um subsequente, no qual todos os objetivos e medidas que constavam do Orçamento e Programa para 2020 tiveram que ser adequados à nova realidade que todos vivemos há mais de oito meses. “Sempre com as pessoas como prioridade”, frisou Vítor Guerreiro.
março, o Município tem procurado também manter a rotina cultural possível, numa tentativa de manter viva a comunidade, defender a economia local e promover o bemestar da população. Com este objetivo, muito esforço e redobrados cuidados, mês após mês, mantivemos os principais eventos, realizando-os em formatos alternativos e seguros, fiel aos princípios e valores que norteiam cada iniciativa”, referiu Vítor Guerreiro,
MUITAS CONQUISTAS, APESAR DA PANDEMIA
dando os exemplos da realização online da Feira da Serra, do programa «Dias de Abril em Casa», da vivência alternativa e emotiva da «Páscoa em Casa», do Stock Out que trouxe as lojas para a rua, ou da Noite Prata que se desdobrou num Verão Prata. “Uma programação
alternativa que permitiu manter viva a identidade da comunidade são-brasense”, acrescentou. Numa conversa informal e transparente, o presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel admitiu que este terceiro ALGARVE INFORMATIVO #271
Muito embora todas as dificuldades surgidas com o eclodir da pandemia da covid-19, o executivo são-brasense mostrou-se satisfeito por ter alcançado importantes conquistas neste período, como foi o caso de abrir o novo ano letivo com o Parque Escolar 100 por cento livre de fibrocimento. Um feito resultante das obras de eficiência energética e remoção de fibrocimento nas Escolas EB 1 N.º 1 e EB 1 N.º 2, num investimento superior a 150 mil euros cofinanciado pelo CRESC Algarve 2020 – Medida de Eficiência Energética nas Infraestruturas Públicas da Administração Local, e que teve continuidade com a remoção das telhas de fibrocimento na Escola EB 2,3 Poeta Bernardo de Passos e na Escola Secundária José Belchior Viegas, obra financiada a 100 por cento pelo Programa Nacional de Remoção de Fibrocimento com amianto, num investimento de 200 mil euros, tendo sido São Brás de Alportel, um dos 24
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primeiros concelhos a executar este programa. Na mesma área, Vítor Guerreiro referiu a ampliação do «Vale + Educação» ao ensino secundário, uma medida do Plano de Apoio à Família Vale +, iniciada gradualmente em 2015/2016, que consiste na atribuição de vales de 25 euros a cada jovem estudante, de uso exclusivo nas papelarias do concelho.
“Esta medida cativou nestes últimos três anos um investimento superior a 70 mil euros e visa nesta edição reforçar o apoio às famílias em contexto de crise, bem como ao comércio local”, destacou o autarca, que evidenciou igualmente a concretização do Plano «São Brás de Alportel Acessível para Todos» com a ampliação da rede de passeios acessíveis, a atingir perto de 10 quilómetros, a par da conclusão da requalificação do Troço Sul da Avenida da Liberdade, que veio finalizar o projeto global de requalificação do Largo de São Sebastião e ruas adjacentes e que tem continuidade nas obras a decorrer no troço central da Avenida. A Proteção Civil é sempre uma área chave da governação em São Brás de ALGARVE INFORMATIVO #271
Alportel, por se tratar de um concelho inserido em pleno coração da serra algarvia, dai o investimento na criação de faixas de limpeza e gestão de combustível, que vem reforçar a estratégia desenvolvida em conjunto com as entidades locais, regionais e de âmbito nacional e otimizar os recursos. A criação de um ponto de água, o apoio a uma nova equipa de intervenção permanente dos Bombeiros e o protocolo de vigilância com o Exército 26
foram algumas das ações que permitiram melhorar a capacidade de resposta e prontidão perante situações de risco. Mas Vítor Guerreiro falou ainda da Via Verde para o Desenvolvimento, que consiste na articulação plena dos vários setores da autarquia que podem ajudar à fixação de novas iniciativas empresariais no concelho de uma forma mais célere.
“Felizmente, temos vindo a ser cada vez mais procurados. Os investidores e os empreendedores, grandes ou pequenos, são nossos parceiros”, sublinhou o presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel. “O Município tem vindo a
desenvolver medidas, serviços e parcerias de apoio ao empreendedorismo no concelho, 27
entre as quais se incluem o Espaço de Coworking de São Brás de Alportel, recentemente inaugurado, e o futuro ninho de incubação de empresas, previsto inaugurar em novembro”, anunciou.
APOSTA NA HABITAÇÃO, TURISMO, DESPORTO E AMBIENTE Sempre com o foco nas pessoas, a Autarquia de São Brás de Alportel lançou o Programa de Apoio ao Arrendamento, para minimizar os efeitos do atual contexto de crise que acentuou ainda mais as situações de carência económica e social de muitas famílias. “O regulamento encontraALGARVE INFORMATIVO #271
se em vigor desde o dia 13 de agosto e visa apoiar famílias são-brasenses, em situação de vulnerabilidade que residam em casa arrendada no concelho, com a atribuição de um apoio pecuniário, num valor de cerca de ¼ do Indexante dos Apoios Sociais. E, em resultado do primeiro concurso, já estão a ser apoiadas mensalmente 20 famílias sãobrasenses”, indicou Marlene Guerreiro, acrescentando que foi lançado também o Programa de Apoio ao Arrendamento Jovem, destinado ao arrendamento de fogos de habitação do Município a agregados familiares jovens são-brasenses que enfrentam situações de carência económica e social, agravadas pela crise, e que dificultam o acesso ao arrendamento de uma habitação adequada às suas necessidades. “O
acesso à habitação é um dos principais pilares das políticas sociais do Município na construção ALGARVE INFORMATIVO #271
de uma sociedade cada vez mais justa e coesa e estamos a elaborar a Estratégia Local de Habitação de São Brás de Alportel, mediante candidatura aprovada a apoio do Instituto Nacional de Reabilitação, para termos acesso aos apoios do Programa «1.º Direito»”, adiantou a vice-presidente. 28
Marlene Guerreiro abordou novamente a abertura do Espaço de Coworking, a 12 de agosto, e o futuro Ninho de Empreendedorismo, uma aposta na Rede de Espaços de Incubação como um dos maiores reforços da Estratégia Municipal de Combate ao Desemprego. Mas a responsável pelos pelouros do turismo e património não esqueceu também a inauguração da Casa Memória da Nacional 2, a 22 de agosto, que em apenas dois meses já recebeu cerca de 1.500 visitantes, marcando um ponto de viragem na atratividade turística do concelho. “Este projeto está a 29
revelar-se um sucesso e, apesar de ter requerido um grande investimento municipal, tem demonstrado ser um projeto sustentável e com repercussão positiva na economia local”, frisou Marlene Guerreiro, considerando que o projeto veio consolidar a Rota da Memória que em breve integrará também o Núcleo Interpretativo da Serra do Caldeirão, “tendo por
estratégia valorizar o património local, na promoção territorial e turística do concelho”, enfatizou. ALGARVE INFORMATIVO #271
Prosseguindo com os destaques do terceiro ano de mandato, o Vereador Acácio Martins realçou a grande aposta na mobilidade, com a concretização, a bom ritmo, do novo Terminal Rodoviário,
“e todo um conjunto de investimentos que estão a mudar a imagem urbana e a dinâmica do núcleo urbano”. A criação do Geoportal, ferramental fundamental na área do planeamento e ordenamento do território que facilita o acesso à informação e incentiva o investimento no concelho, foi outro dos destaques elencados por Acácio Martins, que descreveu ainda o empenhado e avultado investimento que a Câmara Municipal de São Brás de Alportel tem efetuado na manutenção do Parque Desportivo do concelho, e que se mede também no crescimento consistente de praticantes de diferentes modalidades. “É uma
situação que desafia o município, mas que é sinal de hábitos saudáveis de vida no concelho”. A finalizar as intervenções, o Vereador David Gonçalves salientou a adaptação do Município ao combate às alterações climáticas, nomeadamente através da implementação do Plano Municipal de Poupança de Água. “Um trabalho
contínuo e que requer um empenho constante e alargado às suas múltiplas vertentes”, explicou o vereador, satisfeito com os resultados já alcançados com o programa de monitorização e controlo ativo de perdas e adoção de sistemas de rega urbana inteligentes e eficientes, o sistema de ALGARVE INFORMATIVO #271
telegestão, a substituição de contadores, a instalação de contadores na zona serrana e de medidores de caudal e de válvulas redutoras de pressão. A recente aprovação de uma candidatura na área ambiental e o «Selo de Qualidade Exemplar da Água para Consumo Humano», emitido pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, foram a primeira conquista escolhida pelo autarca. David Gonçalves realçou igualmente o pioneirismo da aplicação do Cheque Veterinário, através do qual o Município de São Brás de Alportel já investiu mais de 20 mil euros na esterilização de animais, “ação
fundamental para erradicar o drama dos animais abandonados”, de acordo com o responsável pelo pelouro do Bem-Estar Animal, no âmbito do qual tem também em marcha o projeto CED – Capturar, Esterilizar e Devolver, que tem sido determinante no controlo das colónias de felinos. A redução da sinistralidade do concelho foi o terceiro destaque do Vereador, mercê de um esforço contínuo na execução do plano de segurança rodoviária. A concluir, Vítor Gonçalves lembrou o Plano Municipal de Eficiência Energética, as conquistas registadas com as obras realizadas nas escolas básicas EB1 N.º 1 e EB1 N.º 2 e a instalação de baterias de condensação de energia num conjunto alargado de equipamentos municipais, assim como a recente candidatura que visa ter todas as lâmpadas das principais vias em LED .
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Sara Coelho, José Marques e Isabel Fonseca, Diretora de Planeamento e Logística de Filatelia dos CTT - Correios de Portugal
LAGOS RECORDOU PRIMEIRA CIRCUM-NAVEGAÇÃO DE FERNÃO DE MAGALHÃES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Centro Cultural de Lagos acolheu, no dia 22 de outubro, uma iniciativa inserida nas comemorações dos 500 anos da descoberta do Estreito de Magalhães, que principiou com a sessão infantojuvenil «A Viagem», pelo Centro de Ciência Viva de Lagos, no qual se abordou a construção da caravela, os instrumentos ALGARVE INFORMATIVO #271
de navegação e os mapas, mas também as especiarias achadas ao longo da viagem de Fernão de Magalhães que permitiu ligar o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico. Já no interior do auditório, Sara Coelho, vereadora da Câmara Municipal de Lagos, recordou que Lagos é a Cidade dos Descobrimentos, profundamente ligada ao mar, à ciência e a tudo o que diz respeito à descoberta de novos mundos e paragens. “Lagos 34
simboliza esta procura de riqueza, conhecimento e aventura e Fernão de Magalhães provou que era possível ir mais longe do que aquilo que era imaginável. Os mais céticos ainda não estavam convencidos de que o planeta era redondo, pese embora Cristóvão Colombo o tenha demonstrado cerca de 30 anos antes. E Magalhães evidenciou igualmente que o mundo tem muito mais água do que terra, portanto, o seu feito trouxe uma série de consequências, até do ponto de vista científico”, salientou Sara Coelho, que manifestou ainda o desejo de que “a lição que tiramos do passado se repita no futuro”. “O mundo tem ainda muito por descobrir e espero
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que se mantenha vivo o bichinho do tentar perceber aquilo que ainda hoje não se compreende. Só assim a espécie humana poderá evoluir e salvaguardar o planeta, que é a nossa casa comum”, afirmou a autarca. O enquadramento das comemorações foi feito por José Marques, presidente da Estrutura de Missão do V Centenário da Primeira Circum-Navegação, que confirmou que Lagos foi “o centro nevrálgico do
cluster do conhecimento sobre o mar”. “Daqui se partiu à descoberta e daqui se partiu também para o desenvolvimento do conhecimento científico e náutico, sobre as correntes, a
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geografia, a astronomia. E a expedição de Magalhães acontece porque ele é portador do conhecimento de todos aqueles que o antecederam”, sublinhou José Marques. “Era um entusiasta, um curioso, um explorador, um visionário, um referencial dos grandes navegadores que buscavam fortuna, glória e riqueza. E foi um homem de uma coragem extraordinária, com uma capacidade de liderança e um tremendo engenho, que lhe permitiram, num prazo recorde, preparar a viagem”, elogiou. José Marques recordou que Fernão de Magalhães saiu de Portugal, em outubro de 1517, devido ao seu desentendimento ALGARVE INFORMATIVO #271
com o Rei D. Manuel I e foi para Espanha, o principal adversário de toda a estratégia lusitana de expansão, tendo, em poucos meses, «desenhado» a expedição. “Em março de 1518
estava a assinar um contrato de patrocínio com Carlos I, Rei de Castela, o que comprova um espírito absolutamente notável”, disse o especialista, voltando a enaltecer a importância de se celebrar os 500 anos desta viagem que abriu as portas do Oceano Pacífico ao mundo.
“Fernão de Magalhães nunca poderia chegar às Molucas se não conseguisse encontrar esta passagem e a verdade é que, após uma viagem bastante atribulada, atingiu o seu objetivo. E é esta passagem que permite perceber a 36
Alcides Gama, do Conselho de Administração da Imprensa Nacional Casa da Moeda
intercomunicabilidade entre os oceanos e que, na prática, só existe um Mar. Com esta passagem Magalhães origina uma nova conceção do que é o Mundo porque, com a travessia do Pacífico, dá a conhecer 50 por cento do planeta”. José Marques não duvida que a primeira circum-navegação foi a génese das navegações dos tempos contemporâneos, uma vez que o mar, que antigamente separava os povos, passou a unir todos os locais do mundo.
“Foi através do mar que se começaram a desenvolver as correntes comerciais e culturais, todo um conjunto de interações que 37
deram lugar à globalização”, frisa o presidente da Estrutura de Missão do V Centenário da Primeira CircumNavegação, defendendo que as celebrações devem servir para aprofundar e partilhar conhecimentos, mas, sobretudo, para fazer aprendizagens. “Magalhães dá-nos
a primeira visão global e integral do Mundo, um mundo de diversidade humana e natural, um mundo oceano que é a casa da humanidade. 500 anos depois, ainda não temos outra casa, mas como é que está agora o nosso Mar, a fonte de vida da humanidade? Hoje percebemos que esta intercomunicabilidade entre os oceanos também tem ALGARVE INFORMATIVO #271
O historiador José Manuel Garcia
impacto, por exemplo, nas alterações climáticas que vivemos atualmente, pelo que é fundamental refletirmos sobre o mundo que herdamos e sobre aquele que queremos construir”. Embora todas as atenções estejam atualmente concentradas na pandemia covid-19, José Marques falou da sustentabilidade do planeta, do modo como se gerem os recursos, dos problemas globais de natureza económica, social e cultural. “Hoje,
nenhum país tem capacidade para resolver estas questões por si só. Se temos problemas globais, precisamos encontrar soluções globais e isso só é possível através ALGARVE INFORMATIVO #271
de estratégias de rede, de parcerias”, defende, dando o exemplo da Rede Mundial de Cidades Magalhânicas e da Rede Mundial de Universidades Magalhânicas. Após o visionamento do vídeo da Estrutura de Missão do V Centenário da Primeira Circum-Navegação, houve ainda tempo para se conhecer as edições comemorativas de Numismática e de Filatelia alusivas à viagem de Fernão de Magalhães, da responsabilidade, respetivamente, da Imprensa Nacional Casa da Moeda e dos CTT - Correios de Portugal. A sessão terminou com a apresentação do livro «Fernão de Magalhães – Herói, Traidor ou Mito», do historiador José Manuel Garcia . 38
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IV SOM RISCADO CHEGA COM CRIATIVIDADE E SEGURANÇA A LOULÉ Texto: Daniel Pina
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e 19 a 22 de novembro está de regresso um dos mais singulares e irreverentes festivais a sul do Tejo, o Som Riscado, trazendo consigo muitos espetáculos, instalações, formações e debates. O evento organizado pelo Município de Loulé, através do Cineteatro Louletano, volta a apostar numa programação arrojada e inovadora, assente em diálogos experimentais entre música e imagem e em novas explorações ao nível da arte sonora. Face à conjuntura atual da pandemia por covid-19, foram reforçadas as medidas de higiene e segurança, transpondo para todos os eventos as normas sanitárias que têm garantido ao Cineteatro Louletano a manutenção do selo «Safe & Clean».
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Este ano estão confirmados nomes de referência na área da música experimental, como Surma no dia 21, às 20h30, com a previsível apresentação, em pré-estreia nacional, de alguns temas do novo disco e de uma nova formação em palco, mas também Joana Gama, Luís Fernandes e Drumming GP, no dia 22, às 18h, acompanhados pelo artista visual Pedro Maia, sediado em Berlim, num espetáculo de grande impacto em estreia a sul. O programa inclui ainda a contagiante dupla Frankie Chavez & Peixe com o projeto «Miramar», no dia 20, às 19h, considerado pela revista Blitz como o terceiro melhor disco nacional de 2019. O Som Riscado traz algumas referências mundiais, casos de Victor Gama (dia 19, às 19h30, a abrir a
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programação do evento), que tem trabalhado um pouco por todo o mundo e é reconhecido internacionalmente no campo da investigação e experimentação sonoras. A proposta chama-se «Vela 6911» e aborda as temáticas nuclear e ecológica. Em Loulé, vai acontecer um encontro inédito entre Victor Gama, acompanhado da harpista Salomé Pais Matos, e um ensemble da Orquestra Clássica do Sul dirigido pelo Maestro Rui Pinheiro, num espetáculo multimédia que já foi apresentado nalgumas das principais salas a nível mundial. Estão ainda previstas performances multidisciplinares integradas em instalações interativas, quer dirigidas à comunidade escolar, como ao público em geral e famílias, com a Sonoscopia (Porto) no Cineteatro e a Companhia de Música Teatral no Convento de Santo António. A componente de encomenda volta a ser 47
central, com a participação de vários artistas e estruturas de ensino sediados no Algarve. São disso exemplo a dupla Camille Leon (nome artístico de Joana Gomes) e Inês Barracha, que vão trabalhar com Surma; e dos alunos do curso de Imagem Animada da Escola Superior de Educação e Comunicação (ESEC) da Universidade do Algarve, que vão colaborar com quatro bandas algarvias, designadamente 2143, Heroin Holiday Big Band, Kilavra e Mateus Verde, numa curadoria do Caribe Ibérico/Miguel Neto, em apresentações a acontecer às 16h dos dias 21 e 22, no Auditório do Solar, com entrada livre. No dia 21, às 19h, espaço ainda para Boris Chimp 504 com «Vanishing Quasars», numa performance multimédia ao vivo, bem como para a estreia de «Lugar Nenhum», novo disco da Grafonola Voadora & Napoleão ALGARVE INFORMATIVO #271
Mira, no dia 20, às 20h30, um trabalho apoiado pelo Município de Loulé, ambos a acontecer no Cineteatro Louletano. Está prevista igualmente uma talk, no dia zero do festival, dia 18, às 18h30, no Gato Maltês (Café Calcinha), moderada pelo reconhecido crítico Rui Miguel Abreu (Rimas e Batidas), que junta diversos artistas participantes na edição deste ano e que serve sobretudo como aperitivo para toda a programação performativa que se segue. ALGARVE INFORMATIVO #271
O acesso por parte do público a toda a programação prevista no festival está sujeito ao uso obrigatório de máscara e ao distanciamento social e lotação limitada previstos nas regras de higiene e segurança da DGS, tendo sido ainda alterados os horários dos espetáculos noturnos, no sentido de toda a programação terminar, no máximo, às 22h00, inclusive ao fim de semana . 48
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LOULÉ RECEBEU ESTREIA A SUL DE «SEIS MESES DEPOIS» DE OLGA RORIZ Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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epois da estreia, em setembro, em Lisboa, no Teatro Nacional D. Maria II, Olga Roriz, uma das mais prestigiadas coreógrafas em Portugal, trouxe a Loulé, no dia 31 de outubro, «Seis Meses Depois», uma peça cheia de ação, luz e energia. “Seis
meses depois começou por envolver uma semana de escrita, das personagens, das relações entre elas, dos contextos que as envolvem. E ao fazê-lo, em conjunto, pensei que é quase como se escreve um guião de cinema”, explicou Olga Roriz, que com este espetáculo assinala os 25 anos da companhia com o seu nome. Segundo a coreógrafa, a peça desenrola-se no futuro, no ano 2307, no Planeta Terra 3, e é como se fizéssemos ALGARVE INFORMATIVO #271
fast-forward, se saltássemos para a frente sem que existisse memória de quem somos, do que já fomos ou já fizemos. “As personagens têm de
redescobrir tudo: o seu próprio corpo, o corpo dos outros, o som, a luz. O que sentiria alguém, um ser humano, ao ouvir Vivaldi ou música barroca pela primeira vez?”, questiona Olga, lançando uma das interrogações que serviu de base ao argumento da peça. E se, no anterior espetáculo, «Autópsia», Olga Roriz refletia sobre o impacto negativo que o ser humano tem vindo a causar ao planeta, agora, “em «Seis meses
depois», existe uma reflexão sobre a humanidade que perdura em cada um de nós, apesar de uma sociedade em que todos são consumidores mas também consumidos, formatados e massificados” . 56
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FOLHA DE MEDRONHO ESTREOU «AS PRIMAS DE GODOT» NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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ntegrado no primeiro andamento da sua programação de 2020/21, a «Folha de Medronho – Artes Performativas» estreou a sua sexta criação/teatro, «As primas de Godot», de Pedro Malaquias, no Cineteatro Louletano, a 6 de novembro. De acordo com o encenador, João de Mello Alvim, “as primas de
Godot esperam o fim do mundo, ouviram dizer que ele vinha aí, e que podia ser a qualquer momento”. “Que era só uma questão de tempo. Por isso ALGARVE INFORMATIVO #271
esperam. E esperam sem esperança de que alguma coisa, ou alguém possa aparecer de repente para o evitar. E esperam só que, ao menos, seja uma coisa espetacular, grandiosa, digna da grande tragédia humana. Mas também isso não é certo”, explica um dos cofundadores da Folha de Medronho. João de Mello Alvim refere que pode bem acontecer que o fim do mundo nem sequer chegue, ou que sejamos nós todos a acabar primeiro, depois de 72
termos tornado o mundo inabitável para todas as formas de vida existentes e conhecidas. “Pode bem acontecer
que esse final não tenha nada de grandioso. Que seja apenas uma asfixia lenta, um definhar progressivo de toda a vida. Pode ser que depois do fim reste apenas um planeta povoado de fantasmas”, alerta. Ora, perante esta inevitabilidade anunciada, as primas de Godot preferem esperar sentadas e, para elas, é como se o tempo não existisse. “Talvez ainda não
se tenham dado conta de que cada segundo que passa é um segundo a menos da vida que lhes resta. Olhos
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que não veem, coração que não sente. O que mais lhes dói é esta espera. Não se mexem sequer para ir tentar ver o que se passa, ou tentar mesmo evitar o fim anunciado. Nada. Esperam. E a elas, a espera, dá-lhes fome”, conta o encenador. Com Texto de Pedro Malaquias e Encenação, Dramaturgia e Ambiente Plástico de João de Mello Alvim, a Interpretação de «As Primas de Godot» está a cargo de Anália de Pina Manuel (estagiária) e Alexandra Diogo. A sexta criação da Folha de Medronho teve financiamento e apoio à produção da Câmara Municipal de Loulé e do Cineteatro Louletano, no âmbito da
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ANTÓNIO MANUEL RIBEIRO E JOÃO PEDRO PAIS FANTÁSTICOS NUMA CONVERSA MUSICADA EM PERA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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Centro Pastoral de Pêra recebeu, no dia 8 de novembro, uma sessão muito especial do «Lado B», com os músicos António Manuel Ribeiro, líder carismático dos UHF, e João Pedro Pais, numa iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Silves que juntou em palco duas das maiores referências do pop-rock português. António Manuel Ribeiro soma mais de quatro décadas anos de carreira, enquanto que João Pedro Pais se aproxima a passos largos do quarto de
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século a dar cartas, ainda que de forma mais discreta, na música nacional. João Pedro Pais que foi um dos convidados, no final de 2018, dos concertos na Aula Magna, em Lisboa, e na Casa da Música, no Porto, realizados para festejar os 40 anos de existência dos UHF, a par de Paulo Furtado (The Legendary Tigerman) e Frankie Chavez. Em Pera, perante uma plateia que cumpriu a dimensão e regras impostas pela Direção-Geral de Saúde face à pandemia da covid-19, a dupla apresentou-se num registo acústico e com uma postura bastante informal, quase como se fosse uma conversa com algumas dezenas de amigos. E se a
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maioria das pessoas se deslocou a esta freguesia do concelho de Silves naquela tarde chuvosa de Outono por causa de António Manuel Ribeiro, depressa se percebeu que também ali se encontravam muitos fãs de João Pedro Pais. Entre uma música e outra, os dois cantores e compositores não se cansaram de falar com a assistência, explicando o que motivou a criação de cada tema e partilhando, de forma desinibida, histórias e experiências das suas carreiras, sobretudo de episódios acontecidos na estrada, antes e depois dos concertos, nos bastidores dos grandes palcos ou já nos quartos de hotel. Muito se falou de cantautores eternos da música portuguesa como Zeca Afonso, José Mario Branco, Fausto, Sérgio Godinho ou Jorge Palma, mas também de ícones do rock português como Zé Pedro, “um 89
homem que era incapaz de dizer «não» a qualquer pessoa, por não querer ferir os sentimentos de ninguém”, recordou João Pedro Pais. Emocionado, João Pedro Pais lembrou que escreveu «És do Mundo» para o ex-guitarrista dos Xutos & Pontapés em março de 2017, quando o músico já se encontrava bastante doente, e que este, quando ouviu o tema, disse logo que gostaria imenso de fazerem um dueto ao vivo depois do disco sair. Um desejo que não se concretizou, uma vez que viria a falecer em novembro desse ano. Um ano em que, curiosamente, tanto João Pedro Pais e António Manuel Ribeiro perderam as suas mães, revelaram, perante uma plateia que sorvia, avidamente, cada palavra que lhes ALGARVE INFORMATIVO #271
chegava do palco, fosse nas canções ou entre os temas. António Manuel Ribeiro, mais à vontade a falar com grandes massas, foi partilhando histórias das suas quatro décadas de carreira, dos finais de tarde e inícios de noite passados no Café Snob, em Lisboa, frequentado por todos os «intelectualóides» da época, nomeadamente políticos e jornalistas, e que deu origem à canção «Noites Lisboetas»; ou das noitadas na discoteca «A Pantera Cor-de-Rosa», em Almada, cidade berço dos UHF; ou mesmo da primeira vez que escutou uma música de Zeca Afonso na Rádio Renascença, ainda antes do 25 de Abril de 1974. Sobre os tempos mais recentes, várias vezes abordou a saída de Donald Trump da Presidência dos Estados Unidos da América e mostrou-se particularmente preocupado com a delicada situação que ALGARVE INFORMATIVO #271
vive a generalidade dos artistas portugueses – e porque não dizer todos os portugueses – devido à covid19. Preocupações partilhadas por João Pedro Pais, que tinha pensado lançar um novo disco em 2021, precisamente para comemorar os 25 anos de carreira, uma vontade que esmoreceu porque ninguém sabe o que o futuro nos reserva. A tarde terminou em grande estilo com «Na Tua Cama», interpretada por António Manuel Ribeiro e João Pedro Pais, mais uma canção de amor no repertório escolhido pelos dois para o mini-concerto em Pera, e ambos avisaram que nunca como agora fez tanto sentido o amor pelo próximo.
“Se amarmos os outros e não pensarmos apenas em nós, de certeza que o mundo será bem melhor”, garantiram . 90
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STONE BREAKER APRESENTARAM «HOPES & DREAMS» NO AUDITÓRIO DO SOLAR DA MÚSICA NOVA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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sétimo episódio do «Ciclo Ilustres Desconhecidos» do Cineteatro Louletano levou, no dia 7 de novembro, ao Auditório do Solar da Música Nova, em Loulé, a banda portimonense «Stone Breaker», que apresentou, pela primeira vez ao vivo e com um público pela frente, o seu novo álbum «Hopes & Dreams». Um disco com 11 faixas que foi gravado e produzido nos estúdios Moby Dick Records, em Braga, sob a batuta de Budda Guedes – o mesmo produtor responsável pelos trabalhos dos Mundo Cão, Maria João Budda Power Blues, Monstro Mau, entre outros – e lançado em abril do corrente ano em todas as plataformas digitais, mas a eclosão da ALGARVE INFORMATIVO #271
pandemia da covid-19, levou ao cancelamento da tour de promoção. Os Stone Breaker são formados por Ray van Duijvenbode, Vasco Moura, Bruno Vítor Martins e Ricardo Batista e possuem um som que lembra o rock dos Led Zeppelin dos 70's, os Soundgarden & Black Crowes dos 90's e os Queens of the Stone Age ou Rival Sons dos tempos atuais. Em Loulé, para casa cheia, de acordo com a lotação e regras de segurança definidas pela Direção-Geral de Saúde, deram a conhecer temas que são um verdadeiro retrato das suas viagens, das experiências conjuntas na estrada, das gargalhadas e lágrimas, das noites ébrias, da paternidade e amor, dos lugares e de como veem o mundo . 100
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OPINIÃO Toda a vida a crescer Paulo Cunha (Professor) a mesma forma que não aprendemos a ser pais antes de o ser, só aprendemos a ser filhos sendo-o. Vivendo, aprendemos naquela que muitos citam como uma das suas principais fontes de aprendizagem: a «Escola da Vida». Aprendemos a ser e a comportar-nos como filhos enquanto dependemos dos nossos pais e, inevitável e consequentemente, essa aprendizagem acompanhar-nos-á pela vida fora. Embora o crescimento nos proporcione a independência física, continuaremos emocionalmente dependentes dos nossos progenitores até ao seu fim físico. Sendo comum considerar que enquanto os filhos crescem os pais e os avós envelhecem, questiono se não continuaremos todos a crescer, mesmo na velhice? Numa sociedade cada vez mais virada para o culto da beleza e da perfeição, onde se vive para perseguir e encontrar o elixir da eterna juventude, facilmente se vilipendia o crescimento intelectual dos mais velhos. Quem disse que o saber, a cultura e a inteligência, apesar do avolumar da idade, não tornam as pessoas mais apelativas e atraentes? ALGARVE INFORMATIVO #271
Vivemos em Portugal a realidade da «geração-sanduíche», em que a população adulta tem, simultaneamente, de prestar cuidados aos pais, que perdem autonomia e ficam dependentes, e aos filhos, ainda crianças ou adolescentes e, por isso, com necessidades de acompanhamento e cuidado. É impossível negar que temos uma população cada vez mais envelhecida e que se debate com diversos problemas: poucas respostas e apoios (quer para os mais velhos, quer para as famílias), a sobrecarga dos cuidadores e a idade cada vez mais tardia em que se tem filhos. Ao contrário do que muitos pensam, ser velho não é sinónimo de ser solitário! O envelhecimento pode levar a alguma alteração de rotinas que não têm de se traduzir em isolamento ou em incapacidade de acompanhar a evolução dos tempos. Na própria relação dos mais idosos com a família, nomeadamente com os netos, há todo um capital de saber e experiência que torna fundamental o convívio, sobretudo em termos de identidade e coesão familiar. Segundo os especialistas, não há uma idade cronológica para sermos considerados velhos. O envelhecimento é um processo gradual, onde se registam 114
alterações físicas, psicológicas, de motricidade e mentais. A reforma, a viuvez e o chamado síndrome de ninho vazio (quando os filhos saem de casa) são algumas ocorrências que podem precipitar algumas destas alterações. É, por isso, importante que à medida que envelhecemos não nos deixemos enredar nas malhas do isolamento social, da inatividade ou da (falsa) perceção de inutilidade social. Não podendo combater o envelhecimento, uma vez que é um processo natural, podemos combater a degradação de determinadas capacidades através da implementação de hábitos saudáveis, não apenas na fase do envelhecimento, mas em todas as idades, de forma a projetarmos uma melhor vivência do envelhecimento. É também importante incentivar os mais velhos a não pararem no tempo. Como? Conversando com eles, adotando atitudes que não os infantilizem, valorizando-os e não fazendo escolhas por eles. Os mais velhos precisam de se sentir protegidos, acarinhados e respeitados na sua dignidade e poder de decisão! Os pais e avós são os nossos grandes referenciais de segurança e proteção e são, sobretudo, a nossa ligação com a infância. Reconhecer o envelhecimento e a perda é como reconhecer que vamos perder uma parte do que somos, que nos estamos a tornar «outros» e que, envelhecendo, iremos, necessariamente, confrontarmo-nos com a nossa própria finitude e mortalidade. 115
Tal como os pais cuidaram dos filhos, caberá aos filhos cuidar dos pais na velhice. É um dever moral, social e legal! Os filhos deverão acautelar a progressiva dependência causada pelo envelhecimento dos seus progenitores, procurando soluções de cuidado formal (lares ou apoio domiciliário e/ou acompanhamento) ou informais (familiares ou amigos de confiança). Sei que, mesmo envelhecendo, enquanto cá estivermos continuaremos a crescer, mas para que tal aconteça condignamente é imperioso que nos preparemos para o envelhecimento ao longo da vida, sem preconceitos em relação à passagem do tempo e investindo e munindo-nos dos recursos afetivos, emocionais e sociais certos. Por isso, no aniversário dos meus amigos, independentemente da sua idade, por escrito, costumo brindá-los com a seguinte frase: “No crescimento dos meus amigos, cresço com eles. Vê-los felizes faz-me feliz. Por isso, aqui vão os meus parabéns e o desejo que a vida seja pródiga em felicidade”. Por e para todos vós, faço votos que assim seja! . ALGARVE INFORMATIVO #271
OPINIÃO Para que serve a Arte? Mirian Tavares (Professora Universitária) “Muita gente parece não perceber que a primeira coisa que desaparece quando estão transformando um país num estado totalitário é a comédia”. Groucho Marx
o início do século XXI a artista norte americana Vanalyne Green descreveu a situação dos artistas ativos, e conscientes, como ela, como politicamente deprimidos (politically depressed). As décadas de 80 e 90 marcaram uma nova era no universo das artes através da ampliação dos meios de difusão e criação tecnológicos, o que permitiu o nascimento da ideia de uma arte «global». Mais do que o plano modernista de uma mundialização e, porque não, mundanização da arte, a arte contemporânea está marcada por elementos comuns que atravessam fronteiras rapidamente. Fronteiras físicas e virtuais. Culturais e de caráter particular. Talvez haja motivos para esse sentir-se politicamente deprimido do/no mundo das artes, porque assistimos, nos últimos anos, a um discurso paradoxal, quiçá esquizofrénico, que defende o papel do artista na sociedade e a importância das artes, mas que não apoia à criação nem aos criadores na ALGARVE INFORMATIVO #271
mesma medida. Há uns anos, numa reunião com entidades externas, um reitor disse que as artes eram muito importantes. Afinal, elas eram responsáveis pelo entretenimento. Levantei-me, imediatamente, e muito indignada rebati a afirmação que foi dita por alguém que costumava dizer o que pensava. Muitos pensam o mesmo, mas não o dizem de forma descarada. Fingem que a Arte, ou as Artes são fundamentais. Não sabem bem para quê, se calhar para entreterem, como dizia o outro. Durante anos, e ainda hoje em muitas escolas, as aulas de artes funcionavam como uma espécie de terapia ocupacional ou como espaço de manufatura de prendas para as festividades. Nas universidades, as Escolas, Faculdades ou cursos de Artes, permitem-se experimentar, ousam criar artistas, ou ajudá-los a encontrar o seu caminho. Resistem diante da burocracia e do pensamento neo-liberalizante e empreendedorístico que vem transformando o ensino superior em cursos de formação profissional, que prescindem alegremente do pensamento reflexivo ou abstrato, e 116
apostam na Foto: Victor Azevedo capacidade de gerar alunos aptos a entrar no mercado de trabalho. Nada contra o mercado de trabalho e muito menos contra a possibilidade de termos os nossos alunos todos empregados. Mas tudo contra o desmanche da instituição que nos permitia dar azo ao livre pensar. Se as coisas não se encontram facilitadas para as áreas todas em geral, mesmo as das ciências, imaginem o que não se passa no campo das artes. Muitos não assumem o que pensam em relação ao papel das artes, e vamos brincando de valorizar as artes e os artistas. No discurso, mas raramente em ações concretas e concertadas que se convertam num incentivo permanente à criação. De uns anos para cá a ideia de criatividade, que antes estava destinada ao campo das artes, expandiu-se e todos devem, de alguma forma, ser criativos: do empresário ao engenheiro, do CEO ao vendedor de aspiradores porta-aporta. A criatividade vai salvar o mundo. Certamente não o mundo das artes, pois dele é retirado aquilo que interessa e o resto é deitado fora, sem grandes problemas de consciência. A Arte incomoda, provoca, chateia. Os artistas não sabem ficar quietos, calados, bemcomportados. Quando a Arte não se conforma em ocupar o lugar que lhe 117
destinam - a mesa das crianças num jantar de adultos, fica de castigo. Porque a Arte é sempre uma atividade política, quando se entende política como algo que está relacionado com a polis, com a comunidade e que diz respeito a todos e não apenas aos que estão direta, ou indiretamente, ligados ao aparelho do Estado. A política nasce da e na polis, no espaço urbano em que as relações são mais complexas e múltiplas. E tem-se preferido, num universo que se pretende global, apagar a complexidade. É mais fácil legar às artes o lugar do entretenimento – útil, utilitário, fácil e lucrativo, por vezes. Porque, de outra forma, não sabem muito bem onde colocar os artistas. E assim promove-se o espetáculo em detrimento da cultura, ou das culturas. Mas a Arte resiste. E continua, teimosamente, a exigir o seu lugar . ALGARVE INFORMATIVO #271
OPINIÃO Quarta Tabuinha - Freeze Ana Isabel Soares (Professora universitária) uando a estrada se faz larga, largo. Ao volante é como quem voa – quase sempre apressada. Dentro do carro, a estrada a correr à frente, a estrada a correr atrás, correm mais depressa os pensamentos. Volta o caminho que do dia foi feito até ali, abrese a imagem do que ainda virá. A estrada, como o tempo, é para percorrer. Com música. (Habituo-me a ligar o rádio numa estação que se ajuste à velocidade do pensamento; a única predeterminação são os seis canais programados no aparelho, ligações diretas através de um clique num botão do «cérebro eletrónico»). Corria em bom andamento, mas o caminho obrigava-me a sair da estrada por onde seguia, passar o ramal e entrar na seguinte: desacelerei para sair, assinalei a manobra, comecei a levar o carro para o braço de estrada secundária entre as guias de proteção. À minha frente, quase no começo da saída, vi o que de início me pareceram dois ou três automóveis em marcha lenta. Ao fim de poucos segundos, era evidente que havia dois, não três, e que estavam parados na berma. Parados na berma da saída da autoestrada, mal encostados, cada um ALGARVE INFORMATIVO #271
com os quatro piscas ligados. Imóveis, não fosse pelo tremer que o motor ligado lhes imprimia e por um balanço quase impercetível de cada vez que, no troço principal, passava um veículo maior. “Merda. Já bateram. É isto todos os dias, não há meio. A sorte foi estar a passar agora: não tarda nada, está uma fila de horas”. (Se a estrada vai limpa, o pensamento foge dela; assim que há ocorrências, converge para o canal que os olhos veem, entre as linhas brancas paralelas, como se o mundo todo fosse só ali, espírito e forma: todos os pensamentos se compõem de frases idênticas, repetidas, sempre as mesmas, fórmulas de frases.) “É isto, a estrada: uma roleta-russa: saber se chego cedo ou não depende da fortuna, de um fado, do destino – dos outros”. Nestas alturas, é raro não blasfemar, não usar em silêncio os nomes torpes que conheço, não os dedicar, em silêncio, a quem quer que esteja a existir para fazer mais demorado o caminho. O carro aproximou-me, comigo nele, dos dois encostados à berma: dentro do pensamento, fundo no lugar das fórmulas, à medida que os podia ver mais de perto, e sem querer olhar, as invetivas ganhavam volume, o silêncio tomava corpo, como a fazer-se sentir dentro do crânio. A estrada avançava agora para trás, a velocidade reduzia-se e os carros 118
Foto: Vasco Célio
da berma aumentavam no espaço visível entre as quatro linhas do vidro da frente. Reforcei o praguejar, quando verifiquei que estavam ambos demasiado perto da saída da estrada, em cima dela, que quase a fechavam. Obrigavam-me a reduzir com a caixa de velocidades, em vez de deixar a macieza do ponto morto, na já baixa velocidade, levar o automóvel sem quase eu dar por ele. Impediam-me de avançar suave, lentamente, despreocupadamente. A música marcava os compassos dos impropérios, as mãos cerrava-as à volta do volante, os músculos do rosto, do corpo todo, contrariados, contraíam-se. A caixa prendia a velocidade do carro, retendo-a, prendia nervos e músculos, em mim os retesando.
parados na berma. Eram dois automóveis, um parado atrás do outro, cada um a piscar nas quatro esquinas, intermitências brilhantes que me faziam supor uma avaria, um acidente pouco aparatoso, agora visto de perto. Na lentidão, entre os dois carros, vi a cena: de pé, dois jovens abraçados afagavamse: tinham pressa nos gestos, a pressa que me haviam obrigado a ceder, a velocidade da forma a acelerar o pensamento, o que lhes iria no espírito, onde estavam, que já não era ali? Tinham os gestos rápidos da velocidade que não exibiam – vi-os como na cena congelada de um filme, um segundo de imagem parada. Dentro do carro em andamento, as mãos caíram do volante, os músculos libertaram-se. O silêncio do pensamento tomou a estrada .
Passei, por fim, ao lado dos carros 119
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OPINIÃO Notas Contemporâneas [5] Adília César (Escritora) “As cinco tiras de papel ali estão sobre a mesa, lívidas, irónicas, vazias: e é necessário enchê-las todas, de alto a baixo, com coisas extraídas do nosso interior”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma)
ORIGEM implica todas as percepções relativas aos acontecimentos. Não é possível queimar etapas. Volto atrás para compreender como tudo começou. Um flashback – como se diz em português? – um flechebeque, pois, um regresso, um retorno, um retrocesso. Súbito de luz que não se apaga. * A MINHA MÃE foi durante muito tempo uma leitora assídua da biblioteca municipal da cidade onde vive há mais de 60 anos. Ultimamente, o seu ritmo de leitura era de cerca de três livros por semana. Alguns problemas degenerativos de visão vieram impedir essas horas diárias de felicidade e assim, quando posso, ofereço-lhe não só o livro, como antes, mas também tempo de leitura em voz alta. Ao ler poesia para a minha mãe deime conta de uma intimidade única, ALGARVE INFORMATIVO #271
muito nossa, na experiência de leitura e de comunicação sentimental - amor, solidariedade e fruição estética. Na verdade, é muito comovente. Já me têm perguntado para que serve a poesia: não sei, talvez sirva para recriar o meu cordão umbilical com aquela mulher espantosa que me deu a sua e a minha vida inteira. Hoje, dei-lhe uma hora do meu tempo. Quanto tempo tem uma hora? * A VIDA é uma miragem dos sonhos quando o tempo não dá tempo para olhar o passado e nos obriga a aceitar que o fluído temporal não é um horóscopo de filtros cor de rosa. Outras cores tingem a espuma dos dias. Perante o desconhecido, fugimos dos acontecimentos como se nos desviássemos daquelas pequenas ondas de um mar de outono. Frio, sombrio, perturbador, mas ainda não fatal. E caminhamos enquanto nos sugam a energia e a paciência. 120
* A OVELHINHA e o lobo estão em cena no mesmo plano ficcional. A ovelhinha existe porque o lobo a deseja. O lobo existe porque a ovelhinha o deseja. Mas ela tem medo. E ele gosta que ela tenha medo. A ovelhinha não sabe que pode saltar para as costas do predador. Não sabe que tem tempo, muito tempo, para aprender a dar o salto até àquele lugar que se chama lonjura, longe dos dentes afiados que lhe rasgam a voz. "A lonjura não existe", diz a ovelhinha. "O eco de uma existência banal é silencioso", responde o predador. E ambos se calam para sempre. O silêncio da morte é tão concreto como a vida que o antecedeu. O vencedor será sempre a voz que conta a fábula. * POETIZAR é um verbo decadente. Nas mil páginas escritas pelos outros, de acumulação coerciva do discurso, lanço a ousadia do escárnio. Rir é o melhor remédio. Rir dos sentires das almas bafejadas pela inspiração divina ao encherem cinco páginas de coisa nenhuma. O silêncio é dizer o nada, porque tudo já foi dito, noutros silêncios, com outras linguagens. * DE REPENTE alguém rompe o seu espírito e derrama naquele lugar o pensamento, a loucura, o suor, a utopia, a pretensão. O seu 121
corpo é um prolongamento da razão e emoção, concretizadas, de algum modo muito particular e original, na obra de arte. A mão que se impõe é a própria vida e a possibilidade criativa no presente projecta o imaginário numa memória futura: este é o artista. Um dia, o imaginário do espectador será preenchido pela estética do criador. No momento dessa compreensão entramos livremente num universo desconhecido, de olhos fechados, inundados de luz: esse quarto escuro onde brincamos com o corpo todo. * E SE embrulhássemos bagos de uva em papelinhos de rebuçados? As uvas recriam um travo doce na nossa língua amargurada. De tão amarga. E por fim, ainda não será o fim . ALGARVE INFORMATIVO #271
OPINIÃO As feiras agora são em directo no Facebook Fábio Jesuíno (Empresário) s crises são momentos desafiantes e cheios de dificuldades que, para serem superados, os negócios têm de se reinventar das mais diversas formas. Em todas as áreas de negócios existem vários exemplos positivos e inovadores de superação das dificuldades, utilizando as redes sociais e com muita criatividade conseguem grandes sucessos, como está a acontecer com os feirantes. Uma das actividades económicas mais afectadas são as feiras e mercados, onde muitos foram proibidos e outros condicionados, o que fez com que alguns feirantes se reinventassem através da utilização das «lives» para conseguirem vender e até atingirem o seu mercado alvo, chegando a mais pessoas. As «lives» estão presentes nas principais redes sociais e em várias plataformas online há vários anos, tinham algum sucesso entre os adolescentes, mas, devido à covid-19, tiveram um grande impulso na ALGARVE INFORMATIVO #271
generalidade dos públicos e estão cada vez mais a chegar a diversas áreas de negócio com grande êxito. Os feirantes, uma profissão muita das vezes menos valorizada, são na sua maioria grandes empreendedores e com capacidades de comunicação únicas e de venda muito desenvolvidas e aprendidas na prática e, em alguns casos, ensinamentos passados de geração em geração. Estas capacidades são agora transferidas para as redes sociais, principalmente no Facebook. As «lives» dos feirantes permitem aprender a vender melhor, como, por exemplo, estabelecendo uma relação de confiança com o cliente, respondendo às necessidades através do chat e mostrando à audiência exemplos de sucessos. Outro dos exemplos é a simpatia e a boa disposição no momento do directo, criando uma ligação com o público agradável. Os vídeos em directo multiplicam-se pelas redes sociais, tornando-se comum haver «lives» a qualquer hora do dia, com os mais diversos objectivos e os feirantes vieram para conquistar o seu espaço com sucesso .
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OPINIÃO É o fim do cinema? Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) o outro dia, vi um produtor de cinema, numa entrevista que passava na televisão. «Protestava» com a potencial ambivalência das medidas do governo português face à pandemia. Questionou o facto de as pessoas poderem reunir-se em determinados locais ou não e da restrição da liberdade de horários e do recolher obrigatório implementado em muitos concelhos. Não me oponho nem apoio as medidas do governo, assim como também não tomo partido do produtor de cinema, porque honestamente considero a magnitude da situação de proporções tão dantescas que me é difícil formular uma opinião do que está certo ou errado. Contudo, levou-me a pensar no inevitável: o que vai acontecer ao cinema? E quem fala do cinema, fala dos concertos, do teatro e outros eventos que na sua essência dependem de um ajuntamento de pessoas durante um par de horas. Não sou uma pessoa negativa, mas, tentando ser pragmática, como é que a longo prazo, com tanta restrição – e não ALGARVE INFORMATIVO #271
me refiro apenas à governamental, mas também à natureza do vírus em si e pelo medo real ou percecionado das pessoas – vamos continuar a ir ao cinema? Se as idas às salas já se encontravam em descida – com várias salas de cinema com dificuldade em resistir aos novos tempos, o que nos reserva o futuro? O produtor na entrevista tocou num ponto interessante: o facto de o recolher obrigatório afetar as sessões de cinema, que são, na maior parte, por voltas das 21 horas. Sim, algumas pessoas vão a matinés, mas são uma minoria, visto que a maior parte da população adulta trabalha das 9 às 5. Se tem havido uma revolução das plataformas de conteúdo de cinema e séries online a conquistar o mundo com subscrições de 10 ou 20 euros/mês, irá um casal ou uma família pagar o triplo por uma noite no cinema? Afinal, o número de desempregados subiu. E será que essa família não terá medo de «arriscar a apanhar o covid» com as suas pipocas? Será interessante (e provavelmente triste) ver como certos hábitos ou atividades irão hibernar ou morrer, ou então, verbalizando isto de forma menos fatídica, transformar.
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Por outro lado, e esta é a minha parte favorita, a positividade: sabemos que a seguir às tempestades vêm as bonanças. Também sabemos que depois do PS vem o PSD e vice-versa, por isso, quem sabe se, ao sermos privados do contacto social, quiçá iremos fazer uma desforra total? 125
Faz parte do nosso DNA confraternizar, estarmos juntos – até os introvertidos sentem por vezes necessidade de estarem com pessoas! Assim, termino de escrever este artigo com um sorriso carregado de esperança de que as salas irão encher e iremos celebrar todos ao molho e fé em Deus o regresso em força do «going to the pictures» . ALGARVE INFORMATIVO #271
OPINIÃO Natureza (des)protegida João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) m dos fenómenos que pouco têm contribuído para a boa salvaguarda do nosso património natural – e, já agora, cultural – é a ineficiência legal da sua protecção, por mais estranho que pareça. Não é por falta de leis. Existem bastantes até. A começar na nossa principal: a Constituição da República Portuguesa. Ao ler o Artigo 66º percebe-se como está explicito, e bem, essa obrigação. Daí partimos para uma miríade de decretos sectoriais e específicos que garantem – ou deveriam garantir – a efectiva protecção dos valores e a aplicação de punições aos prevaricadores. A entrada na CEE, mais tarde União Europeia, veio incrementar esse rol legislativo, com a introdução de numerosas directivas, nomeadamente a da Água, dos Habitats, entre outras. Contudo, a realidade revela-nos avanços tímidos, incoerentes até, na aplicação de tais diplomas. Tão rica é esta nossa realidade em casos absurdos, onde a lei peca por defeito, por estar incompleta ou simplesmente não se aplicar, que passou a assumir-se a prevaricação como uma atitude quase normal, sem consequências maior.
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Vejamos alguns casos paradigmáticos. A pernoita de autocaravanas em locais sensíveis da orla costeira. Um tema hoje ao rubro na região. Especialmente na área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Há poucos dias, uma contagem feita por um cidadão preocupado revelava mais de 200 destas viaturas - muitas delas de natureza «transformada», ou seja, carrinhas de passageiros convertidas em casas ambulantes – em apenas cinco praias no Concelho de Vila do bispo. Todas ali a pernoitar. E daí todo o resto: fogueiras, sujidade, lixo, ocupação de espaços públicos, etc. Pois bem, a lei proíbe a pernoita destas viaturas junto das praias, mas os casos repetem-se com uma naturalidade quase rotineira. A GNR, juntamente com os Vigilantes da Natureza do ICNF, tem actuado com frequência junto destes, aplicando contra-ordenações. Onde é que a lei falha? Numa simples questão: na não obrigação do pagamento imediato, no local, da coima, tal como acontece com as multas de trânsito, por exemplo. As contra-ordenações emitidas são entregues aos infratores, na sua grande maioria de nacionalidade estrangeira, que seguem a sua vida e não as pagam. Mudam de praia e continuam a sua bela rotina de ocupação, ao arrepio das queixas e denúncias de quem se 126
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preocupa com o estado de conservação destes sítios sensíveis. Outro caso curioso: a venda de armadilhas para a captura de aves selvagens. Todas as aves em Portugal estão sob algum estatuto de protecção nacional ou internacional. Nalguns casos pode haver controle de populações, de algumas espécies daninhas, mediante licenças e projectos especiais. Mas a grande maioria esta integralmente protegida. Directiva Habitats/Aves, Convenção de Berma ou Bona ou ainda a Lei da Caça, são exemplos desses instrumentos de protecção. Porém, a venda de engenhos, redes e outros dispositivos específicos para a sua captura e morte é permitida. E à vista de todos, seja em feiras e mercados ou em plataformas digitais. Incoerente no mínimo. Recentemente, após denuncia junto da GNR de um caso destes, a resposta obtida foi “A GNR reconhece a existência da venda de tais objectos (…) no entanto, a venda não se encontra proibida, até porque os mesmos são por vezes utilizados como elementos decorativos e referem-se por vezes a uma representação simbólica da cultura tradicional…”. Imaginem como seria se uma metralhadora ou uma caçadeira fossem também consideradas expressões culturais… enfim, se há realmente vontade em proteger as espécies selvagens, comece-se por algo simples e óbvio: proibir a venda destes objectos. Ou seja, corrija-se a lei e legisle-se nesse sentido. Os exemplos, infelizmente, multiplicam-se em vários recantos do nosso pequeno território. E a ALGARVE INFORMATIVO #271
perplexidade com que assistimos aos desfechos dos mesmos, mesmo quando a infração é flagrante, está a tornar-se de tal forma banal que hoje quase nem estranhamos esses delitos. Lembra-se do caso de poluição do rio Tejo pela Celtejo em 2018? Descargas a céu aberto, filmadas e verificadas no local por inspectores? Com episódios recorrentes? Condenação em tribunal com multas de 12.500 euros (!!) a serem convertidas em simples admoestação escrita? Ou mais recentemente a pavimentação de uma estrada em plena praia de Fonte da Telha, pelo município de Almada, contra todas as regras de ordenamento em vigor? Depois da obra feita, a CCDR e a APA chumbaram a mesma e exigem correcção do erro. Coima possível até 5 milhões de euros. O que acham que vai acontecer? E o que dizer da atroz destruição de uma anta, um monumento arqueológico do neolítico, em campo agrícola perto de Évora, mesmo estando esta referenciada e à vista de todos, incluindo o próprio proprietário do amendoal intensivo? Sejamos claros: se queremos preservar o nosso património, seja ele natural ou cultural, classificado ou não, mas de interesse público, temos de ser mais eficientes na forma como aplicamos a lei e «convincentes» junto dos prevaricadores. Caso contrário, não só assistiremos à perda gradual dos mesmos derivada da «normal» actuação das entidades gestoras do território, como também de acções dirigidas e propositadas de flagrante delito. Assim não há natureza que resista, por mais protegida que esteja . 128
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OPINIÃO Temos que dar crédito à nossa esperança. Não ao desespero sem razão nem travão. Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) em ou mal, os restaurantes foram sobrevivendo às crises que vieram para ficar, mas agora, com todas as restrições impostas pelo Governo na luta contra o Covid-19, mais a natural possibilidade de muitos que iam conseguindo frequentar restaurantes e similares, deixarem de o fazer, por terem perdido o trabalho ou começado a pensar em amealhar, ou ainda com real medo de vir a ser contaminado, ou, paralelamente, os proprietários de restaurantes terem sido obrigados a fechar por falta de clientes ou de recursos financeiros, ou mesmo um total não senso, na gestão desta doença, a restauração vive hoje dias de amargura e falência. Mais do que reagir, é preciso agir, e isso é o que têm feito as empresas, adaptando-se, criando sinergias, encontrando novas formas de chamar a si as vendas. Às associações e instituições governamentais e privadas, àquelas que se dizem de interesse público, é pedido que analisem a
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informação gerada e que corrijam hoje, para que não se volte a repetir. Fazem? As regras impostas pela DGS, face a um vírus que se espalha por contacto, vieram tirar lugares aos restaurantes, criando distanciamento entre as mesas e as pessoas, mas criando um espírito de alívio e sensação de segurança, colmatada por um conjunto de outras regras, umas com real interesse, outras demagógicas, sem praticidade ou mesmo tomada por gente incompetente. Mas não podemos ignorar que algumas destas regras só vieram repor a importância das boas práticas, a nível de saúde, em termos financeiros, como, por exemplo, limpar/desinfetar mesas e cadeiras antes e depois dos clientes se terem nelas estado/sentado ou a ambição desmedida da existência de um grande número de mesas em salas atafulhas de gente, sem conforto, que fomentam mau serviço, na sala e na cozinha. Leis feitas sem equidade, demagógicas, num atropelo claro à democracia, onde existem modelos de fórmulas diferenciados, para uma mesma situação, colocando grupos de 130
interesse debaixo das asas protetoras do governo, sem noção do que isso irá fazer à economia, com a grande fatia dos que contribuem para a percentagem do PIB, em Portugal, serem as PME, das quais fazem parte os restaurantes. Não precisaríamos certamente de que a mais ativa instituição avaliadora de risco, dissesse isso mesmo, sobre as medidas que estão a ser tomadas por parte dos governantes de países similares a Portugal. Nós, graças a políticas de facilitarismos e do enorme desrespeito que empresas e pessoas têm pela Qualidade, permitimos a venda de gato por lebre em cada esquina, que pague o justo pelo pecador, que se feche os olhos a injustiças, em nome de uma amizade ou troca de favores, ignorando o controle, a garantia e a gestão dessa mesma Qualidade. E o que dizer dos inúmeros sindicatos de trabalhadores e de patrões que metem tudo no mesmo saco, como se todos fossem iguais, agarrando-se a favores e mordomias e se vergarem às decisões dos partidos políticos. Não existe estrutura ou sequer se afere a responsabilidade real que as diferentes empresas devem ter para com o público, sendo que os sucessivos governos têm permitido essa anarquia. E isto continuará a acontecer, enquanto supermercados poderem 131
confecionar comida, pastelarias, confecionar pratos do dia, restaurantes, confecionar comida sem cozinheiros habilitados e responsáveis, ou mesmo clientes, que julgam com direito a tudo, inclusive difamar restaurantes com profissionais fervorosos, enquanto as autoridades permitem que se brinque aos restaurantes, em cozinhas que são verdadeiros pesadelos e que se fabriquem chefes em concursos televisivos. Ao fecho desta crónica, foram anunciados pelo governo, medidas reais de ajuda aos restaurantes. Veremos se não serão mais uma mão cheia de nada que, em vez de trazer esperança e crédito à esperança, traga desespero sem travão . ALGARVE INFORMATIVO #271
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