REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #273

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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 28 de novembro, 2020

«GERMINAÇÃO» DO TEATRO DE MONTEMURO «SOM RISCADO» | CAROLINA FONSON | «POETAS CANTADOS» | EDUARDO RAMOS 1 ALGARVE INFORMATIVO #273 SEM-ABRIGO VÃO TER MAIS RESPOSTAS SOCIAIS EM LAGOS, TAVIRA E VRSA


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16 - Sem-Abrigo do Algarve vão ter mais três respostas sociais

34 - «Vela 6911» abriu V SOM RISCADO de Loulé ALGARVE INFORMATIVO #273

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OPINIÃO 26 - A escassez de água no Algarve

118 - Paulo Cunha 120 - Mirian Tavares 122 - Ana Isabel Soares 124 - Adília César 126 - Fábio Jesuíno 128 - Júlio Ferreira 130 - Nuno Campos Inácio 132 - Augusto Pessoa Lima

48 - «Poetas Cantados» por Anapi

94 - Eduardo Ramos na República 14 78 - «Germinação»

106 - Carolina Fonson 11

60 - «Phobos» e «Pianoscópio» no SOM RISCADO ALGARVE INFORMATIVO #273


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SEM-ABRIGO DO ALGARVE VÃO TER MAIS TRÊS RESPOSTAS SOCIAIS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e o Gestor Executivo da ENIPSSA – Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, Henrique Joaquim, deslocaram-se a Faro, no dia 24 de novembro, para participarem na cerimónia de assinatura de três protocolos para o financiamento de projetos de apartamentos partilhados ALGARVE INFORMATIVO #273

para pessoas em situação de semabrigo, que serão dinamizados, respetivamente, pelo MAPS – Movimento de Apoio à Problemática da Sida, em Lagos e Tavira, e pela Delegação de Vila Real de Santo António da Cruz Vermelha Portuguesa em Vila Real de Santo António. Uma data particularmente feliz para Margarida Flores, Diretora do Centro Distrital de Segurança Social de Faro, conforme se percebeu pelas palavras emotivas que dirigiu à plateia. “Em

2016, quando assumi estas funções, existia um NPISA – 16


Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo em Faro, com cerca de 11 anos, e tive a sorte de conhecer o José Carlos Saldanha, um cidadão que se tornou famoso por interpelar o então Ministro da Saúde, pedindo-lhe que não o deixasse morrer e que tornasse universal o tratamento para a Hepatite C. Era um homem que amava o Algarve, passava cá três meses de férias por ano, um apaixonado por relógios Omega e meu «colega» de palhota na Praia das Cabanas. Foi a primeira pessoa que me disse que tinha que se fazer algo para apoiar os sem-abrigo”, recordou Margarida Flores.

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Em julho de 2017, José Carlos Saldanha partilhou a sua história de vida com todos os técnicos de ação social da Segurança Social de Faro, a experiência de uma década enquanto sem-abrigo. “Foi um momento

extraordinário que nos fez acreditar que é possível mudar e que fez toda a diferença na persistência com que nos CLAS (Conselhos Locais de Ação Social) se iniciou esta cruzada, junto com os restantes parceiros das Redes Sociais, para dar uma oportunidade a estas pessoas. Mas no princípio não foi fácil”, reconheceu Margarida Flores. “Hoje, temos NPISA em Faro, Tavira, Vila

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Real de Santo António, Loulé, Albufeira, Lagos e Portimão e desfez-se o mito de que, existindo estas estruturas, as pessoas em situação de sem-abrigo «invadiam» as cidades. Esta é uma questão de Direitos Humanos, uma matéria extremamente importante, e hoje é um dia histórico para nós”, enfatizou a Diretora do Centro Distrital de Segurança Social de Faro. “Nos

trabalhos das equipas de rua vemos pessoas com conversas sem nexo, simplesmente à procura de um mimo; algumas com mochilas cheias de livros e que, enquanto comiam a sua única refeição do dia, liam em ALGARVE INFORMATIVO #273

silêncio. Pessoas com uma cultura acima da média e que escolheram viver na rua. Nesses momentos sentimos que existe uma linha muito ténue que nos pode separar da certeza de termos um teto sobre as nossas cabeças e, de repente, deixarmos de o ter. E, em tempos de pandemia, faz muito mais sentido termos o apoio da tutela nesta questão”, agradeceu. Visivelmente emocionada, Margarida Flores entende estar-se a dar «um passo de gigante» na resolução deste problema com os apartamentos partilhados que fazem parte desta 18


nova solução. “O homem que eu via

muitas vezes sentado, à tarde, no banco de jardim, afinal, vivia mesmo ali. Estamos a ver a realidade de outra forma, a olhar para as pessoas. Os Municípios, apesar da grande falta de alojamento que se verifica no Algarve, vão abdicar de alguns apartamentos para estas pessoas, porque acreditam no projeto, assim como o MAPS e a Cruz Vermelha Portuguesa, que abraçaram connosco este desafio. E, claro, uma palavra para o grande incentivo do Henrique Joaquim, para a forma como trabalhou com o Algarve. Este dia é um marco na minha vida, estamos a iniciar um caminho que 19

me deixa particularmente feliz, porque é algo em que trabalho, desde 2016, nas Redes Sociais. Vamos dar às pessoas aquilo que elas merecem ter e é isso que faz de todos nós seres humanos melhores”, finalizou Margarida Flores.

DAR A MÃO A QUEM PRECISA No âmbito dos protocolos assinados vai ser concretizado, em Lagos e Tavira, o Projeto TMN – Tua, Minha, Nossa, pelo MAPS, que dará resposta a 10 pessoas sem-abrigo em cada concelho, ao passo que, em Vila Real de Santo António, a Cruz Vermelha Portuguesa vai implementar o Projeto Renascer, ALGARVE INFORMATIVO #273


que acolherá cinco sem-abrigo. Os protocolos têm a duração de 18 meses, sendo renováveis por mais 18 meses.

“Este é um projeto com o qual já sonhávamos há algum tempo e que contribuirá para que sejamos, cada vez mais, uma sociedade inteira e plena. Nunca seremos verdadeiramente uma sociedade enquanto não olharmos para todos aqueles que dela fazem parte e é importante dar oportunidade, às pessoas sem-abrigo, para regressarem a uma vida normal”, defendeu Sara Coelho, Vereadora da Câmara Municipal de Lagos, depois de assinado o protocolo com o MAPS. “Sem

um teto não se consegue dar apoio psicológico e uma alimentação consigna, nem promover a ALGARVE INFORMATIVO #273

reintegração social. É o pilar base para resolvermos, naquilo que nos for possível, este problema nacional”, acrescentou a autarca. Presente na cerimónia esteve também Ana Paula Martins, que destacou a constituição, em 2019, do NPISA de Tavira, “uma cidade

pacata onde, na altura, existiam muito poucas pessoas em situação de sem-abrigo”. “Quando começamos a abrir os olhos para esta realidade, já tínhamos duas dezenas de casos e resolvemos trabalhar ainda com mais empenho estas questões. Já temos um Regulamento de Residências Partilhadas, através do qual realojamos oito pessoas 20


e, na altura da pandemia, alojamos 26 pessoas em módulos tipo contentores para retirá-las das ruas, em parceria com a Rede Social”, lembrou a Presidente da Câmara Municipal de Tavira. Concelho que vai ter mais uma resposta social, um centro para pernoita, implementado em parceria com a Cruz Vermelha Portuguesa e com o Grupo BPI/la Caixa, para apoiar oito pessoas. “Com estas soluções vamos

dar resposta às cerca de três dezenas de sem-abrigos sinalizados no concelho. É verdade que algumas destas pessoas são um pouco difíceis, mas outros precisam apenas que alguém lhes dê a mão para conseguirem, elas próprias, voltarem à normalidade. E vamos avançar com uma candidatura para um Lar Residencial no âmbito do PARES – Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais”, revelou ainda Ana Paula Martins. De Vila Real de Santo António veio a Presidente de Câmara Conceição Cabrita, que foi voluntária da Cruz Vermelha antes de ingressar na vida autárquica, pelo que conhece bem esta realidade. Por esse motivo alertou que qualquer pessoa se pode, de um momento para o outro, ver numa situação de sem-abrigo. “Temos

conseguido, ao longo dos anos, trabalhar com os sem-abrigo através de programas ocupacionais, dar-lhes refeições, facultar-lhes o acesso aos balneários municipais, e alguns foram reintegrados na 21

sociedade. Com a pandemia, notase, infelizmente, um aumento de cidadãos nesta situação e é importante termos respostas sociais para eles. Para já só conseguiremos apoiar cinco pessoas com este projeto, porque estamos num Município intervencionado e que continua com os seus problemas económicos”, frisou a autarca. Já Henrique Joaquim, Gestor Executivo da ENIPSSA – Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, sublinhou o tempo recorde em que estes protocolos foram assinados, depois das candidaturas terem sido realizadas em julho do corrente ano. “Os projetos

preconizam uma permanência de 6 ou 12 meses destas pessoas nos apartamentos partilhados porque o objetivo é que esta seja uma resposta temporária, antes das equipas locais encontrarem respostas mais definitivas. Mas o bom-senso nunca emigrou de Portugal e tenho a certeza que não é neste momento, perante condições excecionais, que isso vai acontecer. E uma das condições destes projetos liderados pelos NPISA é que o auxiliar da equipa técnica seja preferencialmente alguém que já foi sem-abrigo”, adiantou Henrique Joaquim. “Estas pessoas, se forem ALGARVE INFORMATIVO #273


minimamente capacitadas e enquadradas, farão toda a diferença na ajuda aos outros. Ficaria muito contente se, um dia destes, me pedissem para encontrar, dentro do IEFP, uma formação específica para estes cidadãos. E está para sair, dentro de dias, um aviso da CCDR que permitirá reforçar as equipas de rua. Estamos a lançar mão de todas as respostas possíveis para garantir que as pessoas, a partir do momento em que são sinalizadas, passem a ser acompanhadas. As ALGARVE INFORMATIVO #273

coisas não viram de um dia para o outro, mas as pessoas estão sempre em primeiro lugar nas nossas mentes”, reforçou o Gestor Executivo da ENIPSSA. A sessão foi encerrada por Ana Mendes Godinho, Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que salientou a importância de se ter foco e fazer coisas. “Não são precisas mais

estratégias, mas sim ações, identificar problemas, articular soluções, dinamizar redes locais, estar em permanente contato 22


Nestas situações, soluções massivas não resultam, não fazem a diferença, não acrescentam nada”, assumiu. Ana Mendes Godinho reconheceu também que o período conturbado que Portugal vive exige reações rápidas, e não processos complexos que demorem anos a ser implementados e que, quando tal acontece, já não vão responder às necessidades das pessoas. “Acredito muito na

com as pessoas, partilhar boaspráticas. Vivemos um momento em que é necessária, e essencial, a mobilização de todos, uma fase de mudança e transformação, até mesmo de colocar em causa alguns dos modelos que estavam instalados”, declarou a governante, na sede da Segurança Social do Distrito de Faro. “Há que derrubar muros

quando nos une a necessidade de uma resposta coletiva para quem precisa de ajuda e estes projetos revelam soluções individuais e personalizadas para cada pessoa. 23

simplificação como um instrumento decisivo para a inclusão. Quanto mais simples formos, mais conseguimos trazer as pessoas para dentro do sistema. A pandemia veio evidenciar a quantidade de situações frágeis e vulneráveis que estavam fora do sistema, às vezes porque o sistema é demasiado complicado para elas entrarem”, admitiu a Ministra, não terminando a sua intervenção sem elogiar o papel que a Segurança Social tem tido na resposta à crise gerada pela covid-19. “Num momento

dificílimo, perante um desafio brutal, conseguiu reinventar-se para dar resposta aos problemas concretos das pessoas. Através dos apoios extraordinários criados, a Segurança Social já pagou a cerca de 2 milhões e 300 mil pessoas, quase 25 por cento da população portuguesa” . ALGARVE INFORMATIVO #273


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“USAR BEM A ÁGUA É UMA OBRIGAÇÃO DE TODOS”, AVISA TERESA FERNANDES, DA «ÁGUAS DO ALGARVE» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Águas do Algarve uito embora, nos últimos meses, as atenções da esmagadora maioria dos portugueses estejam concentradas na pandemia provocada pela covid-19, há outros problemas estruturantes a afetar o dia-a-dia do país e, no caso concreto do Algarve, continua a fazer-se sentir, sobremaneira, a escassez de água, mesmo apesar das chuvadas ocorridas em novembro. Por isso, a «Águas do Algarve» prossegue o acompanhamento, com especial atenção e preocupação, da evolução das ALGARVE INFORMATIVO #273

disponibilidades hídricas na região, tendo em conta a resposta às necessidades de fornecimento de água à população algarvia para consumo humano – que correspondem a uma média de 72 milhões de metros cúbicos/ano – com a elevada qualidade com que já nos habituou, e nas quantidades exigidas, quer pela população residente, como pelos turistas que visitam o Algarve.

“Infelizmente este ano, devido à pandemia que nos assiste a nível mundial, estes têm sido em número significativamente mais reduzido, com resultados visíveis 26


também no consumo de água. A «Águas do Algarve» já passou por algumas situações graves de seca, como as verificadas em 2004/05 e 2011/12, o que nos permite ter um know-how enriquecedor significativo, nem sempre fácil, na gestão destes processos”, refere Teresa Fernandes. De acordo com a Responsável de Comunicação da «Águas do Algarve», as barragens que suportam o abastecimento público na região algarvia são «recarregadas» exclusivamente com água proveniente da chuva e, como é sobejamente conhecido, os anos de 2019 e 2020 têm sido marcados por uma fraca ou quase nula pluviosidade. “A parca

chuva que temos vindo a receber nestes dias é pouco significativa para este fim, de modo que as

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reservas superficiais estão abaixo do que seria ideal e desejável para todos os utilizadores, e não apenas para o consumo humano. A Barragem de Odelouca, localizada em Silves/Monchique, no Barlavento Algarvio, está com um volume útil aproximado dos 40 por cento, enquanto que Odeleite e Beliche, a Sotavento Algarvio, estão com um volume útil aproximado de 30 por cento”, revela Teresa Fernandes, adiantando ainda que, para além das águas superficiais, a «Águas do Algarve» conta com reservas de águas subterrâneas que trazem acréscimos às disponibilidades de água na região. Esta preocupação da «Águas do Algarve» é confirmada pelo IPMA – Instituto Português do Mar e da

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Atmosfera, para quem o Algarve continua em seca, daí que não seja de descartar o risco de vir a faltar água nas torneiras. “À

velocidade a que tudo está a acontecer, com mudanças climáticas tão significativas a nível global, onde também o ciclo global da água tem sofrido alterações – e no Algarve estas são bem visíveis – os especialistas nesta matéria entendem que a escassez de água na nossa região vai ser uma realidade, e num futuro não assim tão longínquo”, avisa Teresa

acontecer no curto prazo”. “Não nos podemos também esquecer de que estamos a iniciar um novo ciclo hidrológico, sendo expectável a existência de chuva para os próximos meses. Continuamos, contudo, atentos, e com uma gestão muito rigorosa de todos os recursos hídricos disponíveis, para atender às necessidades de consumo humano na nossa região”, garante a Responsável de Comunicação da «Águas do Algarve».

Fernandes, acrescentando, porém, que,

“sabendo-se quais são as necessidades de consumo e as atuais reservas de água disponíveis na região, não há qualquer previsão de que essa situação possa vir a ALGARVE INFORMATIVO #273

Tal não significa, todavia, que possamos continuar a usar a água sem quaisquer preocupações, alerta a entrevistada. “É importante

perceber que a água doce é um 28


bem cada vez mais escasso e que o valor da água é incomensurável. No contexto das alterações climáticas, a escassez tenderá a acentuar-se na nossa região, pelo que será necessário encontrar soluções de forma a assegurar as quantidades necessárias para todas as utilizações que lhe são dadas. Como bem sabemos, a água é essencial à vida e a todas as atividades económicas ou outras, quer da região, quer de todo o país”, salienta Teresa Fernandes, aproveitando para realçar a importância da literacia dos consumidores para o uso eficiente da água. “Até quando vamos continuar

a desperdiçar água? Até não haver mais? A população tem de se consciencializar de que usar bem a água é uma obrigação que cabe a todos nós. Se assim não for, toda e qualquer solução que se encontre será inútil”, avisa. Esta preocupação espelha o sentimento de é toda a empresa, daí que a «Águas do Algarve» tenha vindo a investir num maior reforço de comunicação nesta área, 29

Teresa Fernandes, responsável pela Comunicação da «Águas do Algarve

através das suas redes sociais e de outros meios atualmente disponíveis. Ao mesmo tempo, a empresa responsável pelo abastecimento de água, em alta, no Algarve, mantém uma atitude preventiva em todas as suas áreas de atuação, e o Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água do Algarve não é exceção.

“Existe um Plano de Eficiência Hídrica da Região Algarvia, desenvolvido por várias entidades da região, que foi aprovado e apresentado, em Faro, pelo Ministro do Ambiente, no qual a «Águas do Algarve» propõe ALGARVE INFORMATIVO #273


medidas a efetuar, e indica outras já concretizadas. É disso exemplo o investimento realizado, este ano, no reforço da capacidade de tratamento da ETA de Alcantarilha, e estamos a aumentar as captações de água subterrânea e as transferências de água tratada entre os Subsistemas através das Estações Elevatórias Reversíveis. Não podemos esquecer também a medida compensatória de utilização da água da albufeira do Funcho em janeiro 2020, o contínuo desenvolvimento de campanhas de comunicação/sensibilização junto dos vários atores utilizadores deste recurso, e a contínua manutenção ALGARVE INFORMATIVO #273

do investimento no combate às perdas, que na «Águas do Algarve» se situação na ordem de 1 por cento”, destaca Teresa Fernandes. A finalizar a conversa, a entrevistada sublinha que a escassez de água tem vindo a permitir à «Águas do Algarve» desenvolver um conjunto de estratégias de gestão integrada de recursos que constituem instrumentos essenciais para mitigar riscos e enfrentar novas situações de seca.

“Também a elaboração do Plano Estratégico para a Gestão de Recursos Hídricos em Cenários de Seca nos permitiu a implementação de um conjunto 30


de soluções de origens de água, tratamento e adução, que conferem atualmente ao Sistema Multimunicipal de Abastecimento 31

de Água do Algarve uma maior resiliência e garantia de eficácia no abastecimento público de água à região do Algarve”, assegura . ALGARVE INFORMATIVO #273


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«VELA 6911» DE VICTOR GAMA ABRIU 5.º SOM RISCADO DE LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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quinta edição do Som Riscado – Festival de Música e Imagem de Loulé, organizado pela Câmara Municipal de Loulé através do Cineteatro Louletano, arrancou, no dia 19 de novembro, com o concerto multimédia «Vela 6911» para orquestra de câmara e instrumentos contemporâneos, a cargo de Victor Gama, Salomé Pais Matos e Ensemble da Orquestra Clássica do Sul. O principal equipamento cultural do concelho de Loulé encheu, de acordo com a lotação definida pela DGS, para assistir à obra que Victor Gama estreou, em Chicago, nos Estados Unidos da América, em 2012, e que é baseada no diário da Tenente Lindsey Rooke, oficial da marinha sul-africana que participou num teste nuclear secreto, cujos efeitos foram ALGARVE INFORMATIVO #273

captados pelo satélite americano Vela 6911, em 1979, mas que só foi descoberto há alguns anos. Ao som do ensemble da Orquestra Clássica do Sul, dirigido pelo Maestro Rui Pinheiro, assistiu-se a um documentário em que a militar partilha, por via do seu diário, os sentimentos que a atormentaram por fazer parte de uma ação que tanto dano causou numa área que, até à data, estava praticamente virgem, intocada pelo ser humano. E, a par dos dois violinos, duas violas, dois violoncelos, fagote e percussão, escutou-se a mestria de Victor Gama em três instrumentos por si concebidos, o acrux, a toha e o dino. Toha, um género de harpa circular, em que contou também com a interpretação de Salomé Pais Matos . 36


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Teatro Lethes ouviu Poetas Cantados na voz de Anapi Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Teatro Lethes, em Faro, foi palco, no dia 20 de novembro, do concerto «Poetas Cantados», da responsabilidade de Anapi, que se fez acompanhar por Stelmo Barbosa (guitarra), Luís Monteiro (bateria) e André Rocha (violoncelo). Cantora e compositora com formação em Música e Novas Tecnologias, Anapi é também coreógrafa de performances de dança e percussão corporal com formação em movimento contemporâneo e foi docente de dança e expressão corporal do ensino básico e pré-escolar. ALGARVE INFORMATIVO #273

Desde 2004 que trabalha como criadora de oficinas e peças de teatro de sensibilização cívica e ambiental direcionado à faixa etária dos 3 aos 10 anos. Nesta noite de outono, Anapi e restantes músicos convidaram o público a encetar uma viagem etérea, onírica e romântica onde a poesia e a música eram o fio condutor. Um espetáculo em que se despertaram os vários sentidos, com o intuito de surpreender e agradar todos aqueles que, mesmo em contexto de pandemia, decidiram sair de casa para consumir cultura, e em total segurança. 50


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«PIANOSCÓPIO» E «PHOBOS» ENCANTARAM PARTICIPANTES DO SOM RISCADO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

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par dos concertos musicais, o Som Riscado – Festival de Música e Imagem de Loulé também é conhecido por outras performances e instalações «fora da caixa» e a quinta edição do evento organizado pela Câmara Municipal de Loulé não foi exceção. Por isso, o dia 19 de novembro foi marcado também pela estreia do espetáculo «Pianoscópio», da responsabilidade da Companhia de Música Teatral, no Convento de Santo António. Perante alunos de algumas escolas de Loulé, os membros desta companhia, trajados de branco qual cientistas, deram a conhecer aos mais novos o piano por ALGARVE INFORMATIVO #273

outros prismas. Para tal socorreram-se de um piano concebido com alguns objetos e restos de outros pianos expostos e ligados a microfones de contacto, para explorar as suas diferentes componentes, desde as teclas às cordas e martelos. Para além de assistir, os jovens foram também desafiados a fazer parte, de forma bastante interessante, do espetáculo. Montada no bar do Cineteatro Louletano nos quatro dias esteve, entretanto, a escultura / instalação «Phobos», da Sonoscopia, um mecanismo constituído por autómatos percussionistas que produziam vários sons que podiam ser organizados e comandados pelo público . 62


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ALPINDO E BOLETA ENCANTARAM MIÚDOS E GRAÚDOS DE FARO COM «GERMINAÇÃO» Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina

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Teatro de Montemuro trouxe, desde Castro Daire até Faro, o seu espetáculo infantil «Germinação», que encantou a plateia do Teatro Lethes na manhã do dia 22 de novembro. Pais e filhos assistiram ao cruzar de dois inícios de histórias, de uma semente e de uma nação. Em palco dois atores, Abel Duarte e Dóris Marco, interpretaram Alpindo e Boleta, dois amigos gaiteiros e também pantomineiros, para quem a vida é jardinagem e uma constante viagem. Aliás, gostam tanto de histórias e de viajar que levam nas mochilas muito que contar. No Teatro Lethes, a dupla falou de reis da história de Portugal e de palavrinhas inventadas com sabor musical e fizeram germinar ideias como o rio dá lampreias. Das malas que traziam às costas saíram pequenas marionetas e objetos que se ALGARVE INFORMATIVO #273

transformaram em personagens e momentos das histórias que contaram.

“De um simples papel apareceu uma montanha, um rio e uma semente, tudo dentro de malas mágicas onde a arte de contar histórias tem como intuito plantar sementes que brotam e das quais mais tarde se virá a colher algo”, explica o encenador. Uma excelente peça direcionada para os mais jovens, mas que deixou também de olhos brilhantes os familiares que acompanharam os pequenotes. Com Texto de Abel Neves e Encenação de Paulo Duarte, a Direção Musical é de Fernando Mota e o Espaço Cénico de Sandra Neves. E assim se passou uma bela manhã de domingo na capital algarvia, em mais uma promoção da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve . 80


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REPÚBLICA 14 EMBARCOU NUMA VIAGEM MUSICAL COM EDUARDO RAMOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Associação Cultural Re-Criativa República 14, em Olhão, assistiu, no dia 14 de novembro, a uma autêntica viagem musical pela Península Ibérica, Médio Oriente e África a cargo de Eduardo Ramos. Em duas sessões com lotação esgotada, de acordo com as restrições definidas pela DGS em contexto de pandemia, o conhecido músico e compositor tocou vários instrumentos, desde o alaúde árabe, gambry de Marrocos e quissanje ao berimbau de África e flauta. A acompanhá-lo esteve Tiago Rêgo nas percussões, nomeadamente no darbuka e bendir. Músico autodidata e multiinstrumentista, Eduardo Ramos é cantor, compositor e executante de alaúde ALGARVE INFORMATIVO #273

árabe, tocando também viola, flauta, gambry de Marrocos e zukra da Tunísia e outros instrumentos africanos. Tem 11 discos gravados e realizado concertos em Portugal, Bélgica, Malta, Alemanha, Bulgária, Itália, Espanha e Marrocos, casos do «Festival Internacional des Cordes Pincées», em Rabat, e no «Festival Internacional das Músicas Sagradas do Mundo de Fez», Festival Otôno Sefardi e Festival Internacional de Música Sefardi em Córdoba, nos «Dias da Música» no Centro Cultural de Belém, entre outros. Acompanhou com o alaúde o grande poeta palestino Mahmoud Darwich, declamando poesia no Mosteiro da Arrábida e no Centro Cultural de Cascais. Atualmente, toca música medieval galaico-portuguesa, música árabe, sefardita e cantigas portuguesas tradicionais, bem como alguns poetas portugueses com música de sua autoria . 94


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Que noite do cacete!!! Texto: Júlio Ferreira | Fotografia: Vera Lisa

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oi tão bom! Que banda, que voz, que grande trabalho! Como a Carolina Fonson prometeu, foi uma «noite do cacete»!!! Mas foi igualmente estranho fazer um programa preocupados com o horário devido ao recolher obrigatório, sentir a falta de proximidade das pessoas, dos artistas. No final, sentimos a falta do convívio, do bom vinho e doces regionais. Claro que não têm sido dias fáceis os deste ano, andamos aqui todos a disfarçar mal, a sofrer escondidos para não ser pior ainda. Mas há coisas, algumas das melhores, que nunca mudam. O carinho que levamos sempre que fazemos um «Choque Frontal ao Vivo» é sempre das coisas que mais me emociona. ALGARVE INFORMATIVO #273

Se é verdade que o impacto económico da pandemia de Covid-19 é transversal a todos os setores de atividade, é igualmente verdade que a Cultura em particular, um setor já por natureza precário, foi atingida de forma extrema, com concertos, festivais, espetáculos e eventos cancelados. Lançar nesta altura um EP de originais só está ao alcance dos audazes, dos resilientes, daqueles que amam o que fazem e que sonham… As mulheres têm um papel central no R&B contemporâneo e a Carolina Fonson é um claro exemplo disso, de voz clara e poderosa, retratou em sons, um tempo que a própria linguagem falada e escrita tem dificuldade de transcrever. Este estilo clássico que já passou por inúmeras transformações desde que o termo de fato foi 106


oficializado, na década de 40, ao substituir o que chamavam de «race music». O R&B, inicialmente, era uma combinação de blues e jazz, e desde então foi difundido ao redor do mundo. Esta podia ser a razão principal para esta paixão de Carolina Fonson, mas não. Carolina canta, praticamente, desde que começou a falar e a ouvir os musicais da Disney. A presença da música na vida da artista foi sempre uma constante, por isso, a escolha da música como percurso de vida foi, como explicou, "quase inevitável". Foi no R&B que se encontrou enquanto aspirante a autora e cantora. Aquela mesma voz que parece mansa também tem um tom tenso, como um encantamento sedutor e maligno. Neste seu primeiro EP com seis temas, intitulado «Without Warning», Carolina Fonson e os seus apóstolos Vítor

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Bacalhau, Vasco Alessandro Moura, Ivo Ferreira e Bruno Vítor Martins têm uma pretensiosa e ousada missão em suas mãos: continuar a pregar o R&B. Nesta primeira viagem para difundir a Palavra do Senhor R&B, deixaram um TEMPO completamente rendido na noite de 19 de novembro. Esta sua estreia foi arrebatadora do início ao fim. Este «Without Warning», trabalho da cantautora – com a produção do músico Vítor Bacalhau e o artwork da responsabilidade de Camille Leon – é intimista e delicado, um registro pessoal, para ninguém colocar defeito, uma fundição de energias que parece ser a coisa mais fácil do mundo, uma viagem protagonizada por uma «menina» que parece um diamante por lapidar. Surpreende a cada momento e no fim deixa todos felizes. Nós não podíamos estar mais… .

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OPINIÃO Feliz por vê-los felizes! Paulo Cunha (Professor) uase a perfazer quatro décadas a ensinar quem quis aprender, olho para o presente e, na felicidade daqueles que através da música consegui tocar, sinto-me satisfeito e orgulhoso por vê-los bem e realizados emocional e profissionalmente. Independentemente do caminho que trilharam, fez-me e continua a fazer-me bem poder acompanhar o seu percurso e vê-los bem!

professor é ajudar a moldar o futuro, inspirar e formar cidadãos. É aos professores a quem se confia a missão de formar as gerações mais novas, as tais que terão a tarefa de construir o futuro da nossa sociedade. Sendo os professores os primeiros detentores e transmissores de conhecimento, têm um papel crucial e indispensável na organização de uma sociedade sã, harmoniosa e justa. Mas como assumir esse papel em Portugal, quando os professores se dizem pouco reconhecidos, injustiçados e se queixam de falta de prestígio profissional e social?

Devido às redes sociais abriram-se pequenas pontes de contacto com centenas de alunos que, entre os milhares que conheci, quiseram comigo continuar a manter contacto. E que bom que foi, e continua a ser, reconhecê-los e acompanhar os altos e baixos que os moldaram. É, sem margem para qualquer dúvida, a par de continuar a atualizar-me e a aprender com a sua juventude, uma das maiores recompensas que a vida de professor me trouxe – usufruir dos momentos de felicidade daqueles que conheci como alunos.

O desempenho de um professor é um dos fatores fundamentais para garantir aprendizagens de elevada qualidade. É por isso que, um pouco por todo o mundo, os responsáveis pelas políticas públicas de Educação se têm focado na formação dos professores. Sabendo que nos próximos 10/15 anos, 45 por cento dos professores do ensino público irão aposentar-se, a seleção, a formação e o recrutamento de novos professores deveriam ser uma das prioridades das políticas públicas de Educação. A falta de professores é um problema que se agrava ano após ano e as consequências podem ser variadas e complexas em várias zonas do país, já a curto prazo.

Poderá constituir uma formulação um pouco idealista e até romântica, mas ser ALGARVE INFORMATIVO #273

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Sendo as causas conhecidas, o que tem sido feito e o que falta fazer?

o prazer que aqui relato ao ver o sucesso dos meus alunos?

A instabilidade de uma colocação, de um horário, de um vencimento, as exigências de resposta a outras atividades que ultrapassam a função docente, a falta de condições laborais, a distância da residência, a falta de apoios financeiros para as deslocações, a degradação e desrespeito pelo estatuto profissional e social dos professores e a desinformação têm sido os motivos, mais do que suficientes, para perceber as razões para que nenhum dos meus alunos queira abraçar a profissão de professor.

Para que não se repita o que aconteceu nas décadas de 70/80 do século passado, quando houve a necessidade de contratar pessoas com habilitações académicas multidisciplinares (insuficientemente ou deficientemente qualificados e sem conhecimentos pedagógicos para a docência), urge desfazer o que foi (mal) feito e fazer o que não foi feito. Qualquer pessoa mais ou menos atenta sabe do que falo e ao que me refiro.

Numa profissão altamente desprestigiada e desgastante, em que, aos olhos dos nossos alunos, ser professor é ter grandes responsabilidades e obrigações, aturar muito desrespeito e ter pouca ou nenhuma valorização, como poderei eu incentivar os mais novos a experienciar 119

Sei quem são, mas não me interessa, nem quero, apontar culpados. Sei que faço parte de uma geração que está a «dar as últimas», por isso me preocupo com o futuro dos filhos e dos netos dos meus alunos. Porque – principalmente – os quero ver felizes, todos. Como se isso não fosse razão suficiente para continuar esta cruzada!? . ALGARVE INFORMATIVO #273


OPINIÃO Zoom me out! Mirian Tavares (Professora Universitária) ornou-se lugar comum a reafirmação da presença como uma necessidade básica e vital. Antes não era preciso falar sobre isso porque estávamos, quase sempre, em presença – no trabalho, nas ruas, na vida. Com o confinamento e o medo (real) do contágio, fomos substituindo a presença dos corpos pela virtualidade da voz, e da imagem, num ecrã. A única forma de continuarmos a ser produtivos num mundo caindo aos bocados. Seguir em frente, ocuparmo-nos, não desistir e, sobretudo, produzir. As plataformas digitais converteram-se no pão nosso de cada dia e vamos ficando mais íntimos das suas peculiaridades que incluem defeitos e virtudes. Eu, particularmente, prefiro trabalhar no zoom. Já ensaiei outras hipóteses, mas nenhuma me pareceu tão friendly e funcional. No entanto, seja no zoom ou noutra plataforma qualquer, estamos sujeitos a ausência do outro, dos outros, e estamos obrigados a ver-nos a nós mesmos em infinitas repetições. E ninguém resiste a tal escrutínio – ficamos todos com cara de tacho. O resto do corpo, preso à cadeira, vai-se desfuncionalizando e parece que somos só um rosto e uma voz, muitas vezes ALGARVE INFORMATIVO #273

descompassados, quase sempre em delay. Outro dia uma professora dizia, e muito bem, que precisamos criar novas formas de usar as plataformas, temos de sair do determinismo oitocentista, centrado no professor e na sua fala e abrir espaço para as entradas dos alunos, para a utilização de novos modelos mais de acordo com o tempo em que vivemos. Concordo totalmente. Mas gostaria que alguém, me dissesse como provocar essa revolução através do Zoom, Google Meets, Microsoft Teams, ou quaisquer outras plataformas, se nem sempre a rede permite os saltos, as idas e vindas, a naturalidade do discurso, o fluxo desencontrado e refeito. cada mudança de documento para apresentação, perdemos tempo, nem sempre se consegue projetar imagens em movimento, os alunos estão com as câmaras desligadas, é difícil perceber quem fala quando não nos vemos. Há estratégias, bem sei, mas o estar juntos a construir o conhecimento, a pensar em conjunto, a derivar à procura de respostas ou de mais questões, não acontece, pelo menos não com a mesma intensidade e ritmo, nas aulas e conferências remotas. Outro dia uns alunos, de uma turma de 80, perguntavam-me qual era o meu plano naquela disciplina. E eu tentei perceber 120


Foto: Victor Azevedo

o que me queriam dizer. Pedi-lhes que me explicassem, que falassem comigo, que tirassem as dúvidas. O único que me pediram foi um power point com mais texto, ou melhor, com resumos da matéria, e as perguntas do teste. Nunca, numa disciplina, fui confrontada com essa questão: qual é meu plano. Porque, ao vivo, as falhas de comunicação, e de compreensão, são mais facilmente evitáveis e contornáveis. À distância, 121

protegidos pelos ecrãs, a comunicação pode diluir-se e o à-vontade que temos de perguntar, de falar, de participar, torna-se menos fluido. É um mal necessário, bem sei. Mas não me parece que a presença «presente», que os corpos no mesmo espaço e tempo, em convívio, em contacto, criando afetos e conexões, possam ser substituídos pela frieza da imagem num ecrã . ALGARVE INFORMATIVO #273


OPINIÃO Quinta tabuinha - Veneza (Parte 1) Ana Isabel Soares (Professora Universitária) Para a Alda Rodrigues, que me inspirou a revisitação. (Para a Luísa Isabel, que viaja comigo. Para o João Gabriel, que me chama. Para a Maria Gabriela, guardiã de um cavalo-marinho).

a penúltima página do pequeno álbum de cartão onde guardo as fotografias que tirei em Veneza, enfiei um postal ilustrado – não é uma fotografia, mas o desenho de uma montanha, o sol radioso ao cimo, no centro (só uma nuvem o atravessa, a sublinhar os raios que dela se escapam), a iluminar três dos mais altos picos das Tatra, nos Cárpatos. Nunca visitei os Cárpatos. Tenho a vaga ideia de ter achado o postal numa lojeca de Praga, onde só passei uma vez, e cujas ruas (magna heresia) confundo com outras de outros lugares. O postal mostra as montanhas em modo estival em baixo, nevadas no topo, com pormenores de árvores altas, casinhas baixas, bicicletas e estandartes de tamanhos fora de escala. Não é Veneza. As estradas, traços brancos entre o castanho e verde das árvores, desenham os contornos dos serros e, isso sim, parecem correr com a imagem invertida do ondulado Grande Canal veneziano. Na primeira página desse álbum, colei a ALGARVE INFORMATIVO #273

parte do mapa turístico que usei durante os poucos dias em que estive em Veneza: redundância, memória. Na última página colei o recorte que fiz de um jornal português de 19 de agosto de 2001: uma semana depois de regressar de dois meses noutra cidadepostal, Nova Iorque; pouco menos de um mês antes de ela e de o mundo como o conhecia mudar mais bruscamente do que o normal (surpreende-me como não se degradaram as cores do papel nem das ilustrações – a verdade é são poucas as vezes em que volto a abrir o álbum e a deter-me sobre estas recordações). Leio: Veneza A fotografia foi tirada há quase um ano – a 27 de Novembro de 2000 –, mas só ontem foi conhecida. Mostra Veneza tal como é capaz de a ver o satélite IKONOS. Um milagre de definição, já que a resolução é de apenas um metro. Dá para distinguir as mais pequenas das mais de 400 pontes que, na cidade dos doges, cruzam os seus 114 canais. Tudo isto fotografado a mais de 600 quilómetros de distância, por um aparelho que se desloca a quase 30 mil quilómetros por hora. 122


Foto: Vasco Célio

Três anos antes de ser tirada essa fotografia a partir do IKONOS, três anos precisos antes, foi quando visitei Veneza a primeira vez (até ver, a última). Dos meus, safaram-se – mal – 86 instantâneos, os que ali guardo – estou convencida de que estão todos a mais. Só em 17 deles aparece alguém do grupo de pessoas com quem conheci a cidade e, desses retratos, apenas em nove me mostro (dois foram claramente batidos à traição). Como hei de dizer? – Todas estas fotografias são desinteressantes: tecnicamente, nem uma se aproveita, 123

entre desfocagens, longes e pertos trocados, ausências de luz, irritantes contraluzes, enquadramentos sem motivo nem propósito. Seria quase um mistério perceber quem nelas se retrata, não fosse ser gente que, na sua maioria, continua a habitar-me os dias. E, não fora a fama daquele lugar, o facto de já qualquer pessoa ter visto, no cinema, em revistas, cada pedra de Veneza, cada plano fotografado de Veneza, dificilmente ela, a cidade, nelas se reconheceria. Apesar disto tudo, estas são das fotografias que mais gosto de rever . ALGARVE INFORMATIVO #273


OPINIÃO Notas Contemporâneas [6] Adília César (Escritora) “A galope, a galope, ó Fantasia, Plantemos uma tenda em cada estrela!” Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma)

STOU AQUI em frente ao espelho a olhar para dentro há algum tempo. Não vejo a nitidez do que estou a pensar. A máscara é a minha cara, agora, durante o tempo todo. Não gosto. Hoje, logo de manhã, deixei cair a máscara ao chão quando tentava colocá-la. Olhei-a demoradamente e, em vez de a apanhar para a deitar no lixo, pisei-a como se fosse um escorpião venenoso. Não é. A máscara é o meu rosto de todos os dias, o rosto oculto, a espessura protectora face ao agente infeccioso. Onde havemos de deitar a inquietação, se a visão periférica da patologia atordoa os nossos sentidos? Resta-nos olhar em frente, mas sem a distracção dos espelhos. * ESTOU AQUI perante a percepção de um número infindável de corpos reais, irreais e a-reais que possuo. Alguns servem-me na perfeição como uma segunda pele e outros não cabem nesta forma disforme que se transformou em salina. Os corpos ALGARVE INFORMATIVO #273

não estão todos vivos. Caminho por entre os mortos com o meu corpo imaginário, despido de nobreza e de afectos permitidos. Apenas uma enorme compaixão anónima e universal por aquilo que consigo ser, a personificação da tragédia, quando as palavras arrefecem abruptamente e congelam naqueles gritos silábicos, fonemas condensados em alturas tonais fortificadas nos medos: uma sinfonia harmónica do terror da morte afogada no sofrimento. Caminhamos agora todos juntos outra vez e o que não vemos é o que sabemos não nos pertencer, a fisicalidade perene dos corpos vivos. Talvez os deuses nos esperem. Talvez os demónios sombrios sejam cegos na sua fome de maldade e não reconheçam os sinais de quem aceitou a fatalidade enquanto passeia serenamente sobre as águas. Talvez a vida seja isto. Um oceano infinito de paz, ao alcance do nosso corpo imaginário, sem nome, longe dos trópicos do medo. * ESTOU AQUI numa fuga à percepção viva do que julgo ser a minha realidade, através de um 124


escrever um longo conto sobre, precisamente, o tempo de confinamento. Decerto, um tema pouco original. Esta vontade abrupta de dizer qualquer coisa, levada ao seu expoente máximo, como um galope da fantasia que quer entender a realidade. Então, um dia, as palavras escreveram-se sozinhas: - Lá fora, os outros. E eu, cá dentro, a viver uma não-vida, pensando, lendo, escrevendo. Lá fora, os outros, alguns atentos e tantos distraídos. O acto público de exposição do pensamento criativo está cravejado de estrelas cintilantes que os outros adoram ou ignoram. Eu escrevo, tu escreves, ele escreve, nós escrevemos, vós escreveis, eles não lêem. Ponto final. imaginário emocional de nevoeiro melancólico. A vida, antes fantasiada - a fuga à realidade impõe-se através da fantasia - torna-se agora estéril e imutável, pela impossibilidade de existência no meu mundo que penso ser real, através dos arrepios de frio. A essência do que sinto não existe, apenas insiste num gesto de telepatia espiritual – a realidade inatingível do universo dos outros, antes irreal e idealista, torna-se agora «a-real». No entanto, desenvolver conceitos abstractos é agora uma tarefa árdua e irrelevante: há dias que são apenas dias parecidos com os anteriores; há um frio que é apenas o frio que me obriga a vestir um casaco; há um tempo de confinamento forçado que me leva a 125

* FICO POR AQUI porque hoje não consigo ir mais longe. Os dias são, na verdade, provisórios e possuem uma fronteira demagógica em relação ao corpo das notícias elevado até ao expoente do absurdo: números, estatísticas, orientações, restrições, contradições. E depois ainda mais números, mais estatísticas, mais orientações, mais restrições, mais contradições. E depois… O melhor é não pensar mais nisto em que estou a pensar. Partir o espelho, quebrar a muralha da inquietação . ALGARVE INFORMATIVO #273


OPINIÃO As tendências do Marketing Digital para 2021 Fábio Jesuíno (Empresário) importância do Marketing Digital tem crescido muito nos últimos anos e estar informado das suas principais tendências é fundamental para uma definição clara e objectiva das estratégias de comunicação. Como é tradição, decidi novamente escolher e analisar as principais tendências de marketing digital para o próximo ano: Micro influenciadores digitais Considero a principal tendência para o próximo ano, a utilização dos micro influenciadores digitais é cada vez mais forte nas estratégias de marketing digital das marcas, tonando-se fundamental devido aos resultados gerados. Os micro influenciadores digitais vão ser os principais impulsionadores das marcas do futuro. Os micro influenciadores digitais são pessoas aparentemente comuns que têm uma boa reputação num nicho específico. Possuem em média, entre cinco a 20 mil seguidores nas redes sociais e geram normalmente mais ALGARVE INFORMATIVO #273

identificações e, consequentemente, mais atenção e engagement. Normalmente partilham conteúdos que gostam e de uma forma natural e atraem pessoas com os mesmos interesses. A maioria torna-se especialista numa determinada temática muito especifica, atraído dessa forma as marcas do mesmo segmento de mercado. Lives As lives estão presentes nas principais redes sociais e em várias plataformas online há vários anos, tinham algum sucesso entre os adolescentes, mas devido ao isolamento social provocado pelo covid 19, tiveram um grande impulso na generalidade dos públicos. Os vídeos em directo multiplicam-se pelas redes sociais, tornando-se comum haver lives a qualquer hora do dia, com os mais diversos objectivos, desde a partilha de conhecimentos, publicidade de serviços, entretenimento e espectáculos ao vivo de música. As lives vieram para ficar, são sem dúvida uma grande tendência para o próximo ano, importantíssimas para a divulgação de uma marca, por via de

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patrocínio de uma live ou por iniciativa própria. Conteúdos Os conteúdos são essenciais para as marcas construírem progressivamente um relacionamento de confiança com o seu público alvo e dessa forma conquistarem a preferência, principalmente no momento atual, com a procura de conteúdos online a aumentar.

de uma estratégia focada no mercado alvo, porque nem todos os conteúdos que se criam são relevantes para obtenção de bons resultados em termos de posicionamento nos motores de busca, redes sociais e na credibilidade do negócio. Estas são as três tendências principais que na minha opinião vão fazer a diferença no próximo ano na área do marketing digital e impulsionar em grande escala os resultados das empresas e organizações .

É sempre importante a implementação 127

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OPINIÕES, REFLEXÕES E DEMAIS SENSAÇÕES Somos todos figurinhas de presépio… Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) malta está tão habituada ao frenesim de Natal que, este ano, não interessa nada que não haja dinheiro para comprar as prendas de Natal, que este vírus continue a infetar e a matar milhares de pessoas. O que interessa mesmo é sentir o frenesim e, se for só no fim de semana até às 13h, melhor. E aí vão eles, nós todos, os tugas, tudo ao monte (porque o Covid-19 só começa a infetar a partir do início da tarde) a encher lojas e centros comerciais, cheios de frenesim, mas de carteira vazia, numa perfeita simulação do que seria o Natal se o Covid-19 não tivesse aparecido. Neste passado domingo, era vê-los com um olhar perdido e sem sacos de compras nas mãos, a chocar uns com os outros como se tivessem pressa de chegar a algum lado. Invadidos por um sentimento generalizado de paz e harmonia, ouvindo sinos e cânticos por todo o lado. Na sua maioria (e pelas publicações no Facebook) já têm a árvore de Natal montada e a piscar, imponente, na sala de jantar desde que ALGARVE INFORMATIVO #273

acabaram as férias de Verão. Muitos até já obrigaram os seus filhos a escreverem cartas a uma figura fictícia que supostamente vive na Gronelândia a explorar duendes miseráveis que lhes fabricam os brinquedos em horários laborais inexplicáveis e a abusar do trabalho precário das renas (onde está o PAN quando os animais mais precisam?). Ao assistir a tudo isto enquanto bebia o meu café, antes de mergulhar no mar de gente e após fazer o meu 7.º (sétimo) teste ao Covid, tive finalmente a revelação celeste (ao fim de alguns anos) de qual é a verdadeira finalidade do Natal. Não serve, de maneira nenhuma, como pretexto para reunir à mesa uma família, não serve também para festejar o nascimento da criancinha (senão chamava-se festa de anos e não consoada), mas que vivemos todos, num presépio povoado de figurinhas de barro, pintadas toscamente, que desempenham ano após ano os mesmos papéis. Em Portugal, tal como num presépio, nunca nada muda, quando não é o Covid é a Troika, quando não é a hipocrisia da época, é a nova música da Maria Leal ou outra coisa qualquer. 128


De repente, no meio desta alucinação, tudo se confunde e tudo faz sentido. Assim como se fosse uma espécie de universo descodificado, tudo faz sentido como num sonho. Algumas das figurinhas mais importantes são sempre as mesmas, dispostas nos mesmos sítios e fazem sempre a mesma coisa, ou seja, pouco ou nada. Estão para ali com um ar petrificado, eternamente imobilizadas 129

em torno de uma cabana com um burro, uma vaca, e um casal que admiram incompreensivelmente uma criança loira estiraçada num berço feito de palhas. Todos os anos há, subjacente a tudo isto, uma expectativa qualquer que nenhuma das figurinhas entende. Uma expectativa de mudança e de melhoria gerada pelo nascimento da criança de cabelos loiros. Mas é uma expectativa cristalizada no próprio presépio. Daqui por um ano continuarão as principais figuras do presépio, a criancinha continuará espojada no seu leito de palhas, numa gruta privatizada, rodeada por dois pastores no desemprego, três anjos (ainda) em teletrabalho e dos Reis «magros». Leram bem sim, «magros», porque a crise também chegará a eles. Já não terão, nem de perto nem de longe, o mesmo nível de vida descrito no Evangelho. Saudoso tempo em que os três excêntricos compinchas gastavam balúrdios em ouro, incenso e mirra para venerar a criança de cabelos loiros. Resumindo e concluindo, tudo continuará na mesma, na expectativa de mudança e de melhoria, que nunca mais chega. O costume… . ALGARVE INFORMATIVO #273


OPINIÃO Um novo hospital para o Algarve Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) stou convencido de que, se perguntassem a todas as pessoas da Terra se gostariam de ter um novo hospital na sua região, pelo menos 99 por cento dos inquiridos responderiam afirmativamente. Também eu, e certamente todos os leitores deste artigo de opinião, estaremos em uníssono com essa afirmação. Quando, genericamente, todos concordam com uma determinada decisão, o diabo costuma estar escondido nos detalhes e, como não poderia deixar de ser, é nos detalhes que um projecto há muito ambicionado por todos os algarvios poderá levantar algumas questões. Quando em 2013, após larga polémica, foi criado o Centro Hospitalar do Algarve, fundindo os vários hospitais do Algarve sob a mesma administração, tal foi justificado com uma questão que, na altura, achei compreensível: a falta de médicos. Numa reunião em que participei, o Administrador explicou que o Algarve tinha um grave problema hospitalar, que só poderia ser ultrapassado com a fusão dos hospitais. Com a autonomia dos hospitais de Faro e do Barlavento, devido à falta de médicas e à elaboração de turnos, havia ALGARVE INFORMATIVO #273

dias em que muitas especialidades só funcionavam num dos hospitais, outros em que funcionavam em ambos e outros em que não funcionavam em nenhum, obrigando a deslocações de pacientes para Lisboa. Com a fusão anunciada, o Administrador garantia que todas as especialidades teriam funcionamento diário, sendo criado um plano semanal em que os médicos estariam uns dias em Faro e outros em Portimão, assegurando que não havia uma primazia de um hospital relativamente ao outro. De boa fé acreditei que seria assim, mas rapidamente acabei por perceber que tinha sido aldrabado, como todos os algarvios que acreditaram na bondade da decisão. O que se passou foi que as especialidades acabaram por ser praticamente todas transferidas para Faro, superlotando essa unidade hospitalar e transformando o Hospital do Barlavento numa unidade hospitalar de segunda linha. Mas, mais grave do que isso, foi chegarmos ao ponto de termos dias em que determinadas especialidades não funcionaram em nenhum dos hospitais, mostrando-se necessária a transferência de doentes para Beja, Évora e Lisboa. Nascer no Barlavento passou a ser uma questão de sorte e gente de Aljezur, Vila do Bispo, Monchique, Lagos, Portimão, passaram 130


unidades de cuidados continuados e paliativos, ou simplesmente encerram? Parece-me um detalhe importante.

a ter de percorrer meio Algarve para uma consulta de especialidade ou para uma simples visita a um familiar internado. A justificação volta a ser a mesma. Há falta de médicos que queiram vir para o Algarve. Efectivamente, os concursos vão ficando sucessivamente desertos, não só para os hospitais como para os centros de saúde. Sendo assim, e não se negando essa realidade, se actualmente não existem médicos para garantir o funcionamento dos hospitais existentes, como é que se garante a funcionamento de mais um hospital central? Obviamente que a resposta está ao alcance de qualquer pessoa de bomsenso. Não se garante, o que significa que as unidades hospitalares actuais terão de deixar de funcionar no modelo vigente. Resta saber, e ainda não ouvi ninguém explicar, no que é que os hospitais de Faro e do Barlavento serão convertidos com a criação do Hospital Central do Algarve. Transformam-se em centros de saúde de grandes dimensões, em unidades de internamento, em 131

Outro detalhe importante é o hospital ser construído numa parceria públicoprivada que, já em 2012, o Tribunal de Contas chamava a atenção para o facto de custar mais 100 milhões de euros do que se fosse uma obra exclusivamente pública. Será que uma região que contribui anualmente com 7 mil milhões de euros para a riqueza nacional não é digna de merecer o investimento público numa área tão básica como é a saúde? Ainda mais sabendo-se, como bem refere o Tribunal de Contas, que sairá mais caro em parceria do que em investimento público directo? Se a justificação para a construção do novo Hospital Central do Algarve também se alicerça na beneficiação e promoção do Curso de Medicina ministrado pela Universidade do Algarve, então talvez fosse mais benéfico para todos que o Estado fizesse a obra pública e entregasse à universidade os 100 milhões que poupa com a parceria público-privada, porque essa instituição tiraria muito melhor proveito desse investimento, para a saúde, mas também para o conhecimento científico regional . ALGARVE INFORMATIVO #273


OPINIÃO A diferente entre Restaurantes e Salas de Jantar Augusto Pessoa Lima (Cozinheiro, Consultor e Formador) empre se falou disto, apesar de noutro contexto, mas acredito que num mundo em transformação, de falsas obviedades, de frases sem emoção e conceitos sem alma, haverá necessidade de classificar diversamente, que mais não seja, de forma espiritual, esta cada vez maior diferença entre o óbvio e o transcendental, que se comporta da mesma forma, relativizando o luxo, dos locais mais simples, aos sumptuosamente belos, fazendo-nos crer que o belo/grandioso estrará sempre ligado ao Bom, à Qualidade. No princípio, para além das salas de jantar das nossas casas, os hotéis, ofereciam também uma sala de refeições, com muito mais movimento ao Jantar, fornecendo um serviço de refeições «como lá em casa», sem grande pretensão, que não fosse satisfazer o gosto do cliente que iria dormir nas suas instalações, cujas diretorias pretendiam que fossem similares às suas casas, criando um bem natural, convidando-o a permanecer mais um dia. ALGARVE INFORMATIVO #273

Mas a praticidade das coisas, a sua rentabilidade, fez com que tudo isso se perdesse, sem real justificação. Hoje, assistimos a chefes de cozinha, de hotéis, que são tudo menos Cozinheiros, não que não o sejam, de facto, mas pela imposição da diretoria que os tornaram «homem de contas», em chefes de economato ou mesmo em técnicos de F&B, fazendo com que já não consigam estar com as suas brigadas, de criar laços que só se encontram no trabalho de equipa, chefiada, colocando essa responsabilidade e pressão no Cozinheiro que entrou mesmo à pouco e que «tem que ler o calhamaço das fichas técnicas», mesmo que não tenha tido tempo de o fazer, antes de confecionar um prato, pedido à carta. Aquela que ele não conhece ainda. Nem a filosofia por detrás, que não existe. O chefe? Não está presente. Está a descansar, assim como o subchefe, para que tudo volte ao mesmo no dia seguinte. Entrar num espaço que nos transporta no tempo para a Sala lá de casa, para a Sala de Jantar, será por certo o caminho a seguir, porque em restauração nada está finalizado, nem a comida, nem a 132


cozinha, nem a forma como se serve a comida nela confecionada. Nunca entendi muito bem, e acredito ser um defeito meu, a capacidade que alguns chefes têm de estar em todas, de possuir vários estabelecimentos. Não estou, sinceramente a criticar, como disse, acredito que seja defeito meu, pensar que são as mãos, o tique, a graça, o riso, a presença que faz a diferença. E entrar num espaço que nos coloca na Sala de Jantar, será por certo um desafio enorme a colocar aos restauradores, mais que aos Chefes, porque teriam que mandar escrever nos reclames luminosos – Sala de Jantar em lugar de Restaurante, e perceber, mais do que escrever, qual a diferença, correndo o risco de comparação ao agora lugar-comum, «eu cozinho com muito amor». Uma Sala de Jantar teria que obrigatoriamente abraçar, no espaço pensado para os clientes, um novo padrão de projeto, desafiando arquitetos e desenhadores e comtemplar na cozinha, a necessidade de cozinhar refeições «caseiras», como faria, a mãe ou a avó, com o Cozinheiro criativo a criar envolvências com o tema, mas sem aniquilar a capacidade de trabalhar a Cozinha de autor. Um bom projeto, enquanto bem novo, diferente, seja ele qual for, deve ser negociado não como uma necessidade 133

material ou espiritual mas uma história, que se quer bem contada, urdida, de modo a criar vontade, comparação. Um dia, eu estive num espaço, que tornei meu, onde os clientes, não o eram, sem deixarem de o ser, obviamente, mas sim convidados para um jantar como «lá em casa», onde até tiravam os sapatos e calçavam umas confortáveis pantufas, escolhiam, a música que queriam ouvir, ajudavam a fazer a salada ou mesmo o pão, ao momento, abriam as garrafas de vinho e se sentiam na sala de jantar lá de casa, fora de casa. Infelizmente foi um sonho que terminou, por incompreensão da coisa. É que na vida, ou seguimos os outros, ou desbravamos novos caminhos. Boas comidas! . ALGARVE INFORMATIVO #273


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #273

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