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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 12 de dezembro, 2020
«A TI…DE MIM» DO GRUPO DE LEITORES «TEXTURES & LINES» | SURMA | «SEXTA-FEIRA 13» | PRÉMIOS CINETENDINHA 1 #275 «VIAJE A PANCAYA» | PRESÉPIO DE VRSA | PEDRO MOUTINHO EALGARVE ISAINFORMATIVO DE BRITO
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60 - «A ti… de mim» do Grupo de Leitores no ESTOJO do LAMA Teatro
20 - Maior presépio de Portugal está em Vila Real de Santo António ALGARVE INFORMATIVO #275
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OPINIÃO
74 - «Textures & Lines» no Som Riscado
120 - Paulo Cunha 122 - Mirian Tavares 124 - Ana Isabel Soares 126 - Adília César 128 - Fábio Jesuíno 130 - João Ministro
108 - Pedro Moutinho e Isa de Brito
48 - Surma no Cineteatro Louletano 96 - «Sexta-Feira 13» do Ao Luar Teatro
36 - Prémios Cinetendinha em Loulé 11
82 - «Viaje a Pancaya» ALGARVE INFORMATIVO #275
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VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO VOLTA A TER O MAIOR PRESÉPIO DO PAÍS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina maior presépio do país está de regresso a Vila Real de Santo António e voltou a bater mais um recorde, ao ultrapassar a fasquia das 5.600 figuras. Para dar vida a esta iniciativa, que atinge «a maioridade» em 2020, ao completar a sua 18.ª edição, foram necessários mais de 40 dias e 2.500 horas de trabalho, embora os preparativos já tenham começado há vários meses, mesmo perante a incerteza da pandemia da Covid-19. ALGARVE INFORMATIVO #275
Como vem sendo habitual, a lista de materiais utilizados na sua construção é extensa e incorpora mais de 20 toneladas de areia, 4 toneladas de pó de pedra, 3 mil quilos de cortiça e centenas de adereços. Todos estes esforços permitiram que o Presépio Gigante chegasse, uma vez mais, à meta dos 230 metros quadrados, ocupando toda a área expositiva do Centro Cultural António Aleixo, com milhares de figuras, muitas feitas de raiz pelos seus autores e outras que podem atingir as várias centenas de euros. 20
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Em 2020, a estrutura apresenta-se com nova configuração, mas volta a ter peças evocativas da região, nomeadamente a Praça Marquês de Pombal, as antigas cabanas da praia de Monte Gordo, as salinas, as tradicionais noras algarvias, assim como outros monumentos locais. As mais de 80 peças animadas e motorizadas, os quatro lagos e a iluminação cénica constituem «o segredo» do evento e são, simultaneamente, alguns dos pontos mais atrativos. Tudo isto assenta numa complexa base de suporte onde estão instalados os vários quilómetros de cabos que permitem dar vida a esta obra de arte e garantem, por exemplo, a circulação da água, a iluminação das casas e os efeitos cénicos. Estes elementos juntam-se à reconstituição de muitos episódios cristãos e pagãos associados à quadra natalícia - patentes no presépio - fatores que o distinguem de todos os outros existentes no país e são uma das razões do seu sucesso. A vertente ecológica também não foi esquecida, já que a maior ALGARVE INFORMATIVO #275
parte dos materiais são naturais ou foram reaproveitados, com destaque para a cortiça e musgo. Por outro lado, foram implementados, em muitas das peças, sistemas de iluminação led. O Presépio Gigante de Vila Real de Santo António tem a assinatura de Augusto Rosa e Teresa Marques, dois funcionários autárquicos que contaram com a colaboração de Joaquim Soares e António Bartolomeu. Pode ser visitado no Centro Cultural António Aleixo até dia 6 de janeiro de 2021, estando aberto diariamente, das 10h às 13h e das 14h30 às 19h. A entrada tem o valor de 0,50 euros. De forma a garantir todas as condições de segurança, este ano o presépio terá pontos de entrada e de saída diferenciados, tendo sido também estabelecida uma lotação máxima para assegurar a distância mínima de dois metros entre visitantes. O uso de máscara será obrigatório, assim como a desinfeção das mãos à entrada . 22
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PRIMEIRA EDIÇÃO DOS PRÉMIOS CINETENDINHA ACONTECEU EM LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ealizou-se, no dia 5 de dezembro, no Auditório do Solar da Música Nova, em Loulé, a primeira edição dos Prémios Cinetendinha, uma iniciativa da Academia Cinetendinha que contou com o apoio da Câmara Municipal de Loulé e do «Loulé Film Office». Rui Tendinha, jornalista e crítico de sétima arte, conduziu a cerimónia em que foram distinguidos os melhores filmes e atores nacionais e internacionais, escolhidos por críticos e jornalistas correspondentes de meios como o Diário de Notícias, Expresso, Jornal de Notícias, SAPO Mag, C7nema, Cinema 7.ª Arte, para além das atrizes Victoria Guerra e Mia Tomé, ALGARVE INFORMATIVO #275
contando ainda com os contributos do programador Manuel Dias (Curtas Vila do Conde), dos produtores António Costa Valente (Avanca) e Joana Domingues da Caracol Studios, do encenador João Lourenço, dos realizadores Leonardo António e Rita Nunes e de Migual Baptista do »Loulé Film Office». Já os troféus foram concebidos por André Sancho, um dos designers do Loulé Design Lab. «Tenet», de Christopher Nolan, foi eleito o Filme do Ano 2020, enquanto que «Listen», de Ana Rocha de Sousa, foi considerado o Filme Nacional e amealhou ainda o galardão de Atriz Nacional, atribuído a Lúcia Moniz. 36
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Willem Dafoe venceu a distinção de Ator Internacional pelo seu papel em «O Farol», de Robert Eggers, enquanto que Saoirse Ronan, em «Mulherzinhas», de Greta Gerwig, ganhou o troféu de Atriz Internacional. No plano nacional, Ricardo Pereira foi o Melhor Ator pela sua participação em «Golpe de Sol», de Vicente Alves do Ó. Durante a gala, Vítor Norte foi laureado com o Prémio Cinetendinha Tributo 2020, num evento informal e bem-disposto cujas madrinhas foram as atrizes louletanas Victoria Guerra, que se destacou em «Um Ano da Morte de Ricardo Reis» e «Cosmos», e Maria Leite, conhecida pelas suas interpretações em «Mutant Blast» e «Os Tradutores». Daniel Kemish cantou ao vivo a imortal canção «It's a perfect day», de Lou Reed, que fez parte da banda sonora de «Trainspotting». O Cinetendinha é um shot de cinema que todas as semanas fala da sétima arte 39
e festivais e divulga entrevistas em exclusivo. E, por isso, a cerimónia deu também a conhecer as primeiras imagens de alguns dos filmes portugueses que vão chegar às salas de cinema em 2021, casos de «Mar Infinito», de Carlos Amaral, «Submissão», de Leonardo António, e «Um Fio de Baba Escarlate», de Carlos Conceição. Recorde-se que Rui Tendinha tem tido uma colaboração importante com a Câmara Municipal de Loulé, sendo o responsável pela programação e dinamização do ciclo de cinema integrado no Festival MED. A sétima arte tem estado, de facto, em foco no Município de Loulé nos últimos anos, através da criação do «Loulé Film Office» e do forte investimento que está a ser realizado por duas entidades britânicas (na ordem dos 60 milhões de euros) com vista à criação, na cidade de Loulé, de um complexo ligado aos audiovisuais . ALGARVE INFORMATIVO #275
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SURMA ABRIU APETITE PARA O NOVO DISCO NO FESTIVAL SOM RISCADO DE LOULÉ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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o dia 21 de novembro, o Som Riscado – Festival de Música e Imagem de Loulé foi agitado pelo espetáculo de Surma, que levou ao Cineteatro Louletano, como prometido, dois temas do novo disco que deverá ser editado no Outono de 2021. Em palco, a irreverente artista e compositora de Leiria interpretou temas de «Antwerpen», disco muito elogiado pela crítica especializada, um misto de pop e música eletrónica, num concerto que foi o resultado de uma residência artística com duas criadoras algarvias, ALGARVE INFORMATIVO #275
designadamente a artista plástica Inês Barracha e a fotógrafa e realizadora Camille Leon, que conceberam a paisagem que envolveu a sonoridade nesta noite especial. Com João Hasselberg a dar uma ajuda com o contrabaixo e eletrónica, Surma tocou caixas de ritmos e sintetizadores, guitarra e baixo elétricos, utilizou três microfones com banco de efeitos especiais, num concerto em que não faltou um tributo aos Velvet Underground, com uma versão de «Femme Fatale». Ficamos então à espera do novo disco . 50
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«A TI…DE MIM» DO GRUPO DE LEITORES ABRIU PROJETO ESTOJO DO LAMA TEATRO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina
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STOJO é um projeto educativo da responsabilidade do LAMA Teatro que pretende incrementar a participação dos jovens, através das artes performativas, numa ação comunitária que lhes dá voz. “Numa era em que o
acesso à informação não é um privilégio, mas um dado adquirido, em que no mesmo segundo em que uma bomba do outro lado mundo explode, qualquer jovem tem essa informação literalmente no seu bolso, verificamos uma diminuição de interação pessoal e um aumento de problemas mentais em idade escolar. O que fazer com o mundo que temos no bolso das calças, ALGARVE INFORMATIVO #275
como podem os jovens filtrar, questionar e apropriar-se dele?”, questiona João de Brito. «Se tivesses a possibilidade de falar dois minutos numa transmissão em direto, em que todo o mundo te estivesse a ouvir, o que dirias?», foi uma das premissas da qual se partiu para um trabalho, num período inicial de três meses, com grupos heterogéneos de jovens da cidade de Faro: Grupo de Leitores, Paná Paná e Teatro Improviso de Intervenção. Esta academia procura dar continuidade a grupos de teatro com jovens já existentes, promovendo assim a formação destes grupos, com base nas disciplinas do teatro: análise de texto, oralidade, movimento, improvisação, imaginação, assente nos métodos de trabalho de uma companhia profissional de teatro. 62
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ESTOJO “é um projeto virado para Atendendo ao público alvo, dos 13 aos 18 anos, a ideia do LAMA Teatro é que esta academia desenvolva o espírito crítico dos jovens envolvidos no projeto, estimulando a criação artística.
“Queremos levar os jovens a refletir sobre o mundo que os rodeia e a atualidade de uma realidade em constante mutação”, frisa o responsável da companhia teatral sedeada em Faro, acrescentando que ALGARVE INFORMATIVO #275
a autonomia em que os jovens se tornarão também os líderes dos seus grupos de teatro”. O objetivo é impactar o público em duas camadas: os jovens que participam ativamente no ESTOJO e cujas capacidades de argumentação, pensamento crítico e criatividade através das artes serão desenvolvidas; e o público que assistiu às 64
performances-objeto artístico feito por jovens para jovens, resultado de uma reflexão sobre o mundo. “Além das
consequências indeléveis e inquantificáveis do projeto, temos como objetos de impacto principais e passíveis de avaliação: continuidade autónoma do projeto, consequências nos hábitos de participação e fruição cultural, impacto na participação em movimentos sociais e associativos”, reforça João de Brito. O projeto educativo ESTOJO foi a cena, de 4 a 6 de dezembro, no LAMA Black Box, em Faro, e deixamos aqui o registo de «A ti...de mim», de Grupo de Leitores, com Coordenação, Direção e Dramaturgia de Erica Viegas e Manuel Neiva e Textos e 65
Interpretação de Ana Rainho, Beatriz Ruivo, Daniela Lopes, Erica Viegas, Gonçalo Pedrosa, Hugo Borreicho, Irina Marques e Margarida Nair. “De mim
para ti, de nós para vós: aos conhecidos e aos desconhecidos, dos adolescentes para todos os que vivem para morrer. Tens medo da morte? Como é que vives? O que é que te faz feliz? O que é que tens a dizer? Para onde é que foste? Do absurdo do quotidiano à complexidade das relações entre pares: os amores e as violências. Quando é que temos necessidade de parar? Do que me magoa ao que te faz avançar”, perguntaram e responderam os jovens atores .
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JOANA GAMA, LUÍS FERNANDES E DRUMMING GP ENCERRARAM EM BELEZA O V SOM RISCADO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes
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quinta edição do Som Riscado – Festival de Música e Imagem de Loulé chegou ao fim, no dia 22 de novembro, com o fantástico espetáculo «Textures & Lines» de Joana Gama, Luís Fernandes e Drumming GP, coletivo composto por Miquel Bernat, João Tiago Dias e Rui Rodrigues, a que se juntaram a ALGARVE INFORMATIVO #275
envolvência visual de Pedro Maia e o som de Suse Ribeiro. O resultado foi um Cineteatro Louletano ao rubro, demonstrando a importância de, ainda mais em tempos de pandemia, se continuar a apostar na cultura e em projetos artísticos, sejam tradicionais ou mais «fora da caixa», como são a maioria das propostas do Som Riscado, uma organização da Câmara Municipal de Loulé . 76
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TEATRO LETHES ACOLHEU «VIAJE A PANCAYA» DO TRANVIA TEATRO DE SARAGOÇA Texto: Daniel Pina Fotografia: Irina Kuptsova
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Circuito Ibérico de Artes Cénicas levou a cena, no Teatro Lethes, em Faro, no dia 30 de novembro, «Viaje a Pancaya», do Tranvia Teatro de Saragoça. A peça oferece-nos uma viagem àquela ilha fantástica e utópica em que o ser humano era feliz e vivia em harmonia, em que a comida e o teto se compartilhavam e o maior tesouro era o riso. E, num momento como o que temos vivido ao longo de 2020, as viagens, celebrações e refeições compartilhadas parecem, sem dúvida, memórias de outro mundo. Na peça apresentada pelo Tranvia Teatro encontramos personagens do Século XVII cujos problemas facilmente são transpostos para os tempos ALGARVE INFORMATIVO #275
modernos, numa proposta que vai muito além da reconstrução teatral. Uma viagem em que os espetadores foram acompanhados por Quiñones de Benavente, Agustín de Rojas, Juan del Encina, Quevedo, Calderón de la Barca, Cervantes e outros autores anônimos do século XVII, que colocaram em palco commedia dell’arte, farsa, comédia, música, instrumentos, máscaras e apetrechos de época. Com Dramaturgia e Direção de Cristina Yáñez, «Viaje a Pancaya» teve Interpretação de Jesús Bernal, Ana Cózar, Carmen Marín, Daniel Martos e Amanda Recacha, Espaço Cênico de F. Labrador, Desenho de Luz de Javier Anós, Composição Musical de Elena Olmos, Figurinos de Santiago Giner, Caracterização de Ana Bruned e o Alfaiate foi Jesús Sesma . 84
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«SEXTA-FEIRA 13» É A NOVA PEÇA DO «AO LUAR TEATRO» Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes
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ão foi nenhuma sexta-feira 13, mas sim um domingo, mais concretamente o dia 29 de novembro, a data escolhida para se conhecer, no Cineteatro Louletano, a mais recente produção do «Ao Luar Teatro», criada no âmbito da Bolsa de Apoio ao Teatro 2020 concedida pelo Município de Loulé às companhias teatrais do concelho. E, nesta comédia escrita por JeanPierre Martinez, Pedro e Cristina convidam um casal amigo para jantar, mas a mulher chega sozinha, desfeita. Acaba de saber que o avião onde vinha o seu marido se despenhou no mar. Acompanhando as notícias com a potencial viúva para saber se o seu marido faz ou não parte dos sobreviventes, Pedro e Cristina recebem a novidade de que foram os únicos vencedor do jackpot do Euromilhões de sexta-feira 13, só que têm de esconder a sua euforia. «Sexta-Feira 13» é, no entanto, recheado de reviravoltas num movimentado enredo que já conheceu teatros de todo mundo. Desta feita, em Loulé, teve Encenação de Rui Penas e Interpretação de Célia Martins, Daniel Romeiro, Mariana Justino e Rui Penas, com Figurinos de Berta Cardoso e Célia Martins e Cenografia de Luís Santos e Rui Penas, sendo João Baião o Técnico. ALGARVE INFORMATIVO #275
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PEDRO MOUTINHO E ISA DE BRITO ENCANTARAM CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina
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edro Moutinho apresentou o seu novo disco, «Um Fado ao Contrário», no Cineteatro Louletano, no dia 28 de novembro, numa tarde dedicada ao fado que contou também com a participação da quarteirense Isa de Brito. Lançado em 2019, este é o sexto álbum de um percurso artístico que começou, em 2003, quando recebeu o «Prémio Revelação» da Casa da Imprensa com «Primeiro Fado». Três anos depois surgiu «Encontro», que foi galardoado com o «Prémio Amália» na categoria de Melhor Disco. «Um Fado ao Contrário» tem produção de Filipe Raposo e apresenta fados clássicos, mas também novos ALGARVE INFORMATIVO #275
temas criados para a sua voz por compositores e/ou poetas como Amélia Muge, Maria do Rosário Pedreira, Márcia, Manuela de Freitas ou Pedro de Castro. Isa de Brito nasceu em 1984 e é licenciada em Educação Social pela Universidade do Algarve. A partir dos 6 anos de idade integrou o grupo das «Florinhas de Quarteira», organizado por freiras que davam ensinamentos básicos de música, dança e teatro a crianças. Participou em festivais de música infantil, interpretando temas originais, entre os quais o célebre «O Passarinho Branco», que a fez vencer os prémios de melhor letra e de 1.º lugar no Festival Infantil da Mexilhoeira 110
da Carregação, quando tinha apenas 10 anos de idade. Foi representante da vertente infantil, aos 13 anos, pela KISS FM, no concurso «Cidade contra Cidade» no programa de televisão Big Show SIC. Desde os 13 anos que participa como intérprete nas Marchas Populares de Quarteira, sendo que, nos últimos anos, tem interpretado a Grande Marcha, aquela que dá mote ao desfile das oito marchas que percorrem o Calçadão de Quarteira. Aos 15 anos começou a fazer parte do Grupo de Teatro Amador de Quarteira, como cantora e atriz e, aos 18, interpretou a personagem Amália Rodrigues num musical organizado pelo mesmo, tendo-se, nessa altura, 111
apaixonado pelo Fado. Por isso, passou a participar em concursos de fado amador, onde ganhou muitos prémios. Fez igualmente parte do Grupo Coral da Câmara Municipal de Albufeira e integrou o grupo «Al Mouraria» de 2005 a 2018. Em 2012, Isa de Brito gravou o seu primeiro CD a solo, «Sorriso da Alma», constituído na sua grande maioria com temas originais de poetas e músicos como Rosa Lobato Faria, Maria Manuela de Freitas, Paulo Abreu de Lima, Amália Rodrigues, Natércia de Aguiar, Lolita Ramirez, Carlos Manuel Proença, Valentim Filipe, Alain Oulman, Alfredo Marceneiro, Armando Machado, etc., além de alguns assinados pela própria fadista . ALGARVE INFORMATIVO #275
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OPINIÃO A morte chega cedo Paulo Cunha (Professor) or mais palavras e gestos, jamais estaremos preparados para a lancinante amputação que é a perda de alguém que colocámos no mundo e para o mundo ajudámos a crescer. Recordo a mágoa que, por mais que tentasse, não consegui minorar, muito menos sequer apagar, quando vi a minha mãe perder irremediavelmente do mundo dos vivos o seu filho primogénito. O concerto tinha acabado mais tarde do que o previsto e, fruto do desejo de conviver com o público, só cheguei a casa perto da uma hora da manhã. Na altura não havia telemóveis e a única forma de aceder às mensagens era um gravador de chamadas que, imóvel, me aguardava em casa. Ao atender a mensagem que então piscava no mostrador, percebi pela primeira vez, na voz e no choro soluçante da minha mãe, ao que soa a morte de um filho. No inevitável silêncio que antecedeu o pungente pranto - que nos abraçou na dor - pressenti a urgência de lhe dar o calor afetuoso do filho que restava. O tempo passou, mas, por mais que tentasse, jamais consegui substituir ou colmatar, com a minha reforçada e ALGARVE INFORMATIVO #275
participada presença, a perda do seu filho Rui. O primeiro filho a nascer e, após o marido, o seguinte a partir. Que raio!? Que profunda injustiça é assistir e participar na despedida daqueles a que demos vida e tornámos fonte de existência. Não sendo crente, percebo quem questiona um qualquer deus permitir um filho partir antes dos seus pais. Muito provavelmente como muitos de vós, não o podendo evitar, é este o meu maior pesadelo. Aquele que me faz acordar, levantar (aterrorizado) e desejar não voltar a repetir tal íncubo: a perda da minha maior riqueza - os meus filhos. Enquanto professor, quando olho para a quantidade de pequenos seres que tenho à frente, penso que não há no mundo instituição financeira que tenha tanta fortuna concentrada numa só sala. Basta perdê-la para perceber o quão inquantificável é. O que pode ser pior que a morte de um filho? Não há coração que sustenha tamanha e dilacerante dor – nenhum pai deveria sobreviver ao seu filho! Solidário com a eterna dor e angústia daqueles que viram partir os seus amados filhos, escrevo estas palavras 120
para quem, como eu, tem a felicidade de os ter no seu seio familiar. Não há idade para dizer aos nossos filhos “Amo-te”! Saber que enquanto cá estivermos, os nossos descendentes terão o calor dos nossos abraços, sentidos afagos e a certeza da nossa presença e apoio, ajudar-nos-á a minorar qualquer perda, seja ela qual for . A morte chega cedo, Pois breve é toda vida O instante é o arremedo 121
De uma coisa perdida. O amor foi começado, O ideal não acabou, E quem tenha alcançado Não sabe o que alcançou. E a tudo isto a morte Risca por não estar certo No caderno da sorte Que Deus deixou aberto. Fernando Pessoa (11-09-1933) . ALGARVE INFORMATIVO #275
OPINIÃO #2 The Gateway to the Stars – Pedro Cabral Santo Mirian Tavares (Professora Universitária) “Era questo un amore circolare, che non aveva tuttavia alcun punto di contatto o di corrispondenza – solo sfioramenti, sussurri, passaggi veloci come i desideri che si portano in grembo le stelle quando cadono e appare chiara ai nostri occhi tutta la loro bellezza mentre volano nell’aria ancora un po’, prima di morire o di finire chissà dove”. Le Cosmicomiche – Italo Calvino
artista é criador de coisas belas”, diz Oscar Wilde no prefácio d’O Retrato de Dorian Gray. Um prefácio que é, ao mesmo tempo, uma carta de intenções e um ajuste de contas com a sua época, com certas ideias que circulavam e com o desejo de defender a arte pela arte – uma existência que prescindia de justificações. Pedro Cabral Santo é um criador de coisas belas, mesmo que não defenda, como Wilde, a inutilidade da arte na sua aceção mais kantiana. A suas criações são discursivas, são metareferentes – não existem sem um contexto e exigem, do espetador, além do espanto, a adesão consciente num jogo de múltiplos sentidos e de significações diversas. Talvez falar de beleza pareça descabido ou anacrónico quando se trata de classificar, ou
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abarcar, a obra de um artista contemporâneo. Mas é de beleza que se trata quando lidamos com objetos e conceitos, ou com os objetosconceptuais deste artista: a busca do sublime está presente em cada peça e na sua conceção de espaço e do espaço sideral. O espaço existe, na obra de Pedro Cabral Santo, como parte da criação, pois nada é deixado ao acaso – há nele, consciente ou inconscientemente, um desejo de organizar o caos. E o caos é o princípio de qualquer criação, é o princípio da nossa história enquanto seres humanos num planeta a que chamamos de Terra, como chamamos de terra o solo que nos acolhe e que pode ser fecundado e dar frutos. E é na terra, solo e planeta, que muitos vivem, sem se preocuparem com tudo aquilo que está sobre nós, que nos circunda e envolve e que fazia parte de nós enquanto fomos caos – pó de estrelas, fragmentos, moléculas em 122
Foto: Victor Azevedo
movimento antes da grande explosão. E o artista olha para o espaço, para a imensidão inapreensível do que está acima de nós e cria a sua própria versão do mundo, ou do cosmos – palavra que nos remete à ideia de ordem, de harmonia e de beleza. O artista é criador de coisas belas porque é também criador de mundos, de novas cosmogonias e geografias. De novos mapas e de personagens que os habitam. A exposição #2 The Gateway to the Stars é um gesto de afirmação do artista enquanto criador – metafórica e plenamente. Os mistérios do universo, e da sua organização e harmonização, são mistérios que o fascinam. Em diversos momentos da sua obra, planeia invadir o infinito, com seus foguetões, com naves espaciais e seres estranhos que vai buscar ao universo da ficção científica 123
que sempre o encantou. As memórias da infância e da adolescência: os filmes, as BDs, as músicas e os brinquedos, são convocados em forma de homenagem a um tempo, que existe e sobrevive para além da cronologia dos relógios e para um espaço que está dentro e fora de nós. Nos anos 60 o escritor italiano Italo Calvino escreveu uma série de contos que mais tarde foram convertidos num livro – Le Cosmicomiche. Com muito humor, Calvino nos fala do princípio de tudo, quando sequer havia a ideia de princípio, antes mesmo de haver qualquer coisa – um amálgama de pontos que existiam em simultâneo e que vagavam no espaço, com nomes impronunciáveis, porque tudo aconteceu antes do nome das coisas e das próprias coisas. E, no entanto, havia a palavra e o gesto que movimentava cada ponto em direção ao outro, um gesto circular e sutil, que se reproduzia em milhares de gestos, em poesia antes da poesia nascer. E é este gesto entre o humor e a poesia, entre a ficção e a realidade que sustenta essa obra. Que é, como tudo mais que faz parte da obra de Pedro Cabral Santo, uma coisa bela. Porque é fresca, como um mundo novo . ALGARVE INFORMATIVO #275
OPINIÃO Sétima tabuinha - Veneza (Parte 3, última) Ana Isabel Soares (Professora Universitária) erão estas as imagens que retenho da cidade? É impossível saber se me recordaria delas sem as fotografias do álbum. Se fechar os olhos e tentar recordar lugares ou pessoas, momentos que não fotografei, sobram algumas memórias de andar a pé: fixou-se-me indelevelmente o muro de pedra (seria o reboco gasto da parede de um palacete?) junto ao qual decidimos que no sábado jantaríamos num restaurante mais caro, para comer peixe bom. Talvez a decisão tenha demorado mais do que uns minutos e, por isso, tenha retido dela o cenário. Do restaurante propriamente dito não me ficou a lembrança das paredes – só de alguns, poucos, gestos do empregado de mesa a desossar o peixe (um pargo?) na mesinha de apoio; estaria mais alguém comigo, além da Luísa e do João? (Não fizemos fotos dessa noite: o mais provável é que a máquina nem luz de flash tivesse: seria das descartáveis, uma porcariazinha que agora se reflete nas páginas do álbum de capa cinza escura, com letras pretas ao alto: «PHOTO»). Nem da loja de máscaras – tão pequena e tão bonita, numa via estreita onde não sei dizer se haveria outras lojas (certo é que, além do mau tempo, por aquela altura nem todo o comércio estaria aberto num ALGARVE INFORMATIVO #275
sábado à tarde). De lá veio uma máscara artesanal, a cabeça verde de um cavalo marinho em papier-mâché, que ainda hoje, de olhos vazios e um sorriso que vai do focinho às orelhas, decora uma das prateleiras na sala da minha irmã. Naqueles dias de 1997, Veneza não teve música – não no sentido em que Manhattan, ou a Manhattan construída por Woody Allen, tem Irving Berlin ou o piano de Erroll Garner. Havia os sons da chuva, das nossas risadas e dos nossos passos a ecoar nas ruas, que eram corredores entre as casas: o João e os amigos enganavam-nos, distraindo-nos com a conversa e quase nos fazendo cair ao Canal, quando avançávamos à frente deles. A ópera, que é a música de Veneza? Mas ali nada houve de dramático, de operático – foram três dias numa cidade europeia, uma cidade encerrada na antiguidade dos muros, das infinitas (400?) pontes sobre um canal aquático, animado pelos círculos da chuva na superfície que, em tempo seco, é estagnada, é o aperto sinuoso de um mar. Além de alterar o cenário que víamos, a chuva impunha essa banda sonora abafada, feita de ressonâncias, de sussurros. Numa ou noutra praceta encontrámos crianças a brincar: mal se ouviam, como a evitar perturbar a paz da cidade esvaziada. No domingo, enquanto 124
Foto: Vasco Célio
carregávamos as malas pelas piazze e pontezinhas até ao autocarro, que se toma na Piazzale Roma e que depois leva ao aeroporto, passámos por embarcações atracadas no canal: bancas de legumes e de fruta, onde tudo se mercadejava em surdina, como se não houvesse ninguém e os produtos passassem dos caixotes às sacolas sem a interferência de mãos humanas. Sei que ia a rir, ao atravessar uma dessas pontes: é o que se vê numa das duas fotografias em que alguém me apanhou desprevenida; na margem que estamos prestes a pisar, uma das vendas flutuantes mostra o castanho claro das tábuas das caixas, uma ou outra a pontuar de vermelho a sequência, folhas verdes e as esferas claras das cebolas, tudo coberto com uma lona estendida a sombrear mais ainda o escuro daquele dia: é preciso olhar com atenção para distinguir na imagem o que pode ser o 125
vendedor: de casaco escuro, ficou quase invisível contra uma porta da mesma cor – o mesmo se passou com alguém que caminhava, envergando roupa branca (claro vestuário mal visto num dia de chuva) e sobre a parede igual. Mal me percebo a mim mesma: numas fotografias, trago uma gabardina transparente; noutras, o kispo amarelo do meu irmão – sempre me disseram que somos parecidos e, ali, eu de cabelo curto, ambos quase sempre de gorro de lã, demoro uns segundos a perceber qual de nós está retratado: a turista breve que fui ou o irmão dela, habitante apaixonado de Veneza, que deixou cair às águas do canal um par de óculos e, nisso, lá abandonou uma parte da sua visão. (A Parte 1 e a Parte 2 deste texto podem ser lidas, respetivamente, aqui e aqui.) .
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OPINIÃO Notas Contemporâneas [7] Adília César (Escritora) “Assim a ciência vai usurpando as mais preciosas funções da poesia. São agora os astrónomos, e não os poetas, que penduram sonhos na Lua e nos raios das estrelas. E é um velho filósofo que se torna bucólico e que celebra as glórias da rosa”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) ARECIA UM SONHO. A cidade, um lugar onde eu já estive. A montra suja está decorada com sapatos fora de moda e alguns almanaques Borda D’Água amarelados. A humidade ondulou as páginas do tempo, arruinou os caminhos. Sei que já estive naquele lugar, é tão nítida a percepção de estar dentro de um filme exibido na tela do mundo. Contudo, nada será como dantes. Agora é um sonho de gente encapuçada e ninguém recorda com a veemência necessária, porque ainda está ali. Acordo. Continuo por dentro do sonho e volto a adormecer. Os meus sapatos velhos ficam presos na lama e eu descalçoos, abandono tudo e imagino que há uma porta que se abre para um mundo morno. Sei que esse mundo existe porque conheço pessoas reais – a mãe, o irmão, as filhas, os netos, o companheiro – a quem ofereço tanto amor sem qualquer máscara. Olho-os nos olhos, sem filtros. Na rua, as máscaras negras escondem as más caras que compõem o teatro do quotidiano. ALGARVE INFORMATIVO #275
* SOMOS TODOS estrelas, rosas e outros rescaldos presos numa rede tecida pela vaidade ou a discrição de cada um. Parece não haver meio termo, parece não haver bom senso, parece não haver comunicação. Na verdade, os avatares não se entendem entre si: o que uns emitem não é entendível pelos outros que recepcionam. Partilhar, gostar, comentar… e o que resta, na maior parte das vezes, é um pigarro desagradável na garganta com sabor a morte. A morte noticiada e partilhada. Constato que a morte está na moda, tendo sido iniciada uma muito consistente e elaborada necrologia facebookiana, que atravessa vários níveis de dificuldade e requinte nos inúmeros obituários à disposição do freguês: a notícia mais ou menos assolapada da morte de um familiar, bem como a memória recorrente do seu desaparecimento, ano após ano; a desconstrução exaustiva da morte trágica de uma figura pública, bem como as 126
tentativas patéticas de fazer humor com a dor alheia. Se o primeiro nível de actividade necrológica não me choca e até colaboro no processo enviando sentidas condolências, já o segundo nível deste jogo perigoso deixa-me em estado de náusea emocional: explora-se a morte de uma figura pública até à exaustão, até ao ridículo, até à indecência de não se respeitar a dor de uma família quando morre um filho. Mas afinal, qual sofre mais, a família mediática ou a família incógnita? Isto é uma não-questão (que desconforto)! Vejo uma frágil humanidade nesta inclemência virtual e tento aprender qualquer coisa de útil para os poucos anos que ainda me restam. Não sendo possível renegar a rede (os processos virtuais para a comunicação atingiram-nos como um meteorito disfarçado de cometa, mas fazem parte da vida contemporânea e terão alguns benefícios) parece-me que um perigo maior reside, precisamente, na adoração pagã das múltiplas janelinhas virtuais do nosso dia-a-dia. * POR MUITO que me custe, antes de partilhar algo de que me arrependa mais tarde, penso primeiro, para avaliar o meu impulso. Uso os meus filtros. Na rede social onde os «amigos» são, quase todos, desconhecidos entre si, o que significa essa «amizade» para cada um de nós? A rede pode ser muita coisa, mas não é a cura para as nossas pequenas-grandes tragédias interiores. E o ruído virtual é tão incomodativo como uma sirene de ambulância que nos sobressalta de madrugada. Continuo a usar os meus filtros e vou desistindo de criaturas que gritam, esperneiam, agridem, desabafam 127
imundices, lugares comuns e auto-retratos flagelados pela realidade. Abandono-as porque ignorá-las não é suficiente. Fazer de conta que não vejo não é suficiente. Tentar ser tolerante com a oferenda inquinada não é suficiente. Ou então são elas que me abandonam. * E calo-me. Ainda estou ali, presa na teia, mas a serenidade que ofereço a mim mesma é real e quase libertadora, sem chicotes de demagogia. O silêncio é o meu botão de pânico. Porque sei que não falar não é o mesmo que estar calada. O silêncio assumido é uma apoteose do pensamento, é a minha rosa sem espinhos. E leio poesia filosófica. A poesia é o meu botão de vida . ALGARVE INFORMATIVO #275
OPINIÃO As tendências de empreendedorismo para 2021 Fábio Jesuíno (Empresário) empreendedoris mo é um dos principais fatores de criação de emprego e inovação, sendo neste momento a melhor forma de combater a crise económica. Empreender não se trata necessariamente da criação de um negócio, mas ter iniciativa e audácia. Pessoas de todas as idades possuem sonhos, o caminho pela conquista desses sonhos é o que determina ser uma pessoa empreendedora. Para fomentar o espírito empreendedor, reuni as principais tendências de empreendedorismo para o próximo ano: Educação Online Considero uma das maiores tendências para o próximo ano, que tem apresentado um grande crescimento, tornando-se cada vez mais acessível e fácil de implementar. É a melhor forma de democratizar o conhecimento. ALGARVE INFORMATIVO #275
O desenvolvimento tecnológico e o crescimento da Internet têm sido os grandes impulsionadores da educação online, tornando-a mais interativa e aumentando a sua utilização. Já era uma tendência em crescimento, que neste momento, devido à pandemia, teve um impulso inimaginável. No futuro, muito próximo, a maioria da educação será online e disponível a qualquer momento. Produtos artesanais Uma tendência com elevado crescimento nos últimos anos que não tem tido muita projeção mediática, mas com impacto na nossa sociedade, contribuindo cada vez mais para a criação de novos negócios de sucesso. As pessoas gostam cada vez mais de serem diferentes, ter produtos personalizados, únicos de pequenas produções, os quais são cada vez mais procurados, criando uma grande oportunidade de negócio. Os produtos artesanais como as 128
cervejas, queijos, sabonetes, perfumes, roupas e jóias são alguns exemplos que se destacam pela qualidade superior. Artigos em segunda mão Os negócios relacionados com artigos usados estão em grande expansão, este tipo de negócio ganha relevo principalmente em momentos de crise onde as famílias contam com menos dinheiro e aumentam os níveis de poupança, procurando produtos com valores mais baixos. 129
Os negócios em segunda mão relacionados com telemóveis e roupa são os que mais se destacam, com vários exemplos de lojas de sucesso especializadas neste tipo de produtos. Estas são as três tendências que, na minha opinião, vão fazer a diferença no próximo ano na área do empreendedorismo e impulsionar a criação de negócios em Portugal e no mundo . ALGARVE INFORMATIVO #275
OPINIÃO Um Turismo para o Território ou um Território para o Turismo? João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) ma pergunta aparentemente simples, de resposta óbvia para muitos, mas questionável para outros. Uma interrogação estrutural nos tempos que correm. Como nunca antes. Num momento tão delicado em que a incerteza entrou na nossa rotina diária e em que o acto de viajar viu-se fortemente afectado, deveremos repensar a actividade turística no Algarve ou deixar o curso dos acontecimentos seguir o seu livre caminho? Deveremos planear uma actividade mais resiliente e fortemente articulada com outras expressões económicas da região ou desejar regressar rapidamente ao «antigamente», vulgo, antes-da-covid19? Nunca até hoje o debate sobre o futuro do Algarve se tornou tão necessário e urgente. E, obviamente, falar do futuro desta região passa necessariamente por discutir o turismo. O que queremos ALGARVE INFORMATIVO #275
promover, como e a quem? Que prioridades? Que produtos? Que ajustes a fazer perante a catástrofe da pandemia? Que focos e estratégias? Que investimentos? Que intervenientes e responsabilidades? Quais os prazos? E, claro, como equilibrar esta actividade com a de outros sectores, tornando a economia da região mais forte e menos dependente do turismo. Queremos um território «dado» ao turismo a seu belo prazer ou, por outro lado, queremos um turismo planeado de acordo com o território que temos, suas apetências e valores? São demasiadas questões. Muitas sem resposta fácil. Mas estarei a deambular em pensamentos utópicos? Não me parece. Basta acompanhar, ainda que tenuamente, as mensagens que chegam de fora. A Organização Mundial de Turismo (OMT), por exemplo, declarou no passado dia 27 Setembro – Dia Mundial do Turismo – 2020 como o ano do Turismo e o Desenvolvimento Rural. 130
Alguém ainda se lembra disso? Duvido. No entanto, é para os espaços rurais, menos densificados, que muitos turistas quererão viajar em 2021. As próprias orientações da OMT sobre esse desígnio dizem claramente, e cito, “In the context of the COVID-19 pandemic, the role of tourism in rural development is more relevant than ever. Tourism in rural areas offers important opportunities for recovery as tourists look for less populated 131
destinations and open-air experiences and activities” ou ainda “(…) this crisis is also an opportunity to rethink how tourism interacts with our societies, other economic sectors and our natural resources (...)”. Neste contexto não deveríamos estar a olhar com mais atenção para o nosso território rural e florestal? Como está preparado, ordenado, planeado e capacitado para ir ao ALGARVE INFORMATIVO #275
encontro destas ambições? A investir mais esforço na sua boa gestão para que outros segmentos turísticos – e não só – emerjam e fortaleçam a atractividade regional? Segmentos que tenham o seu enfoque no aproveitamento sustentável dos valores do território e que estabelecem fortes conexões com as actividades locais? Deveríamos, pois. Então porque continuamos a ignorar o interior? Ao ponto de hoje começarmos a assistir a uma lenta «favelização» suave de vários locais? Com casas amovíveis, cabanas ou contentores instalados ao seu livre arbítrio. Ilegalmente, claro. Basta visitar a União de freguesias de Querença, Tôr e Benafim, a de S. Bartolomeu de Messines ou o vale do Guadiana e contar os casos flagrantes. Ou assistir ainda a uma lenta e gradual destruição da nossa paisagem mediterrânica? Veja-se a zona de Alte, por exemplo, e os extensos campos de citrinos e de abacates ali instalados e/ou em instalação. Ou ainda a monocultura do eucalipto em Monchique? Alguns hoje em conversão natural para acaciais, dado o abandono a que assistimos do espaço florestal depois dos incêndios. Ou também a destruição de caminhos rurais ancestrais, alguns medievais, perante a incessante vontade de levar o carro a todo o lado? Sem falar da acumulação de lixo e entulhos que continuam a surgir a olhos vistos em vários locais. Ou, não nos esqueçamos, do contínuo despovoamento, das dificuldades ALGARVE INFORMATIVO #275
em fixar novos habitantes ou da tremenda especulação imobiliária existente. Mesmo em aldeias semiabandonadas. E não é através de mega empreendimentos, réplicas de mau gosto do esgotado «modelo costeiro» – como ilustra bem o caso conhecido em Querença – com enormes impactos ambientais e paisagísticos, que vamos resolver estas carências e estes problemas. Hoje, mais do que nunca, o território tem de ser planeado e organizado, com base nas suas valências, características e potenciais. E deve ser alvo de uma visão estratégica de longo prazo que olhe para o futuro sem esquecer a necessidade de respeitar quem lá vive, os seus laços culturais e sociais, os valores da biodiversidade e os recursos abióticos, solidamente alicerçada nos princípios de sustentabilidade e nas agendas internacionais de protecção ambiental. Deve igualmente saber tirar-se proveito das circunstâncias e atrair novos agentes mobilizadores. Um Território deixado ao sabor do esquecimento acaba, mais tarde ou mais cedo, por ser aquilo que menos se ajusta à sua natureza. E hoje, mais do que nunca, é algo com que não podemos compactuar. Fonte: https://www.unwto.org/worldtourism-day-2020 132
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