REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #278

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ALGARVE INFORMATIVO Revista semanal - 16 de janeiro, 2021

CUSTÓDIO MORENO: “PANDEMIA VEIO CONFIRMAR A FORÇA DO ASSOCIATIVISMO”. O QUE ESPERAM REINALDO TEIXEIRA, JOÃO SOARES E ELISEU CORREIA DE 2021? 1 ALGARVE INFORMATIVO #278 CINETEATRO LOULETANO E TEATRO LETHES REVELAM NOVAS PROGRAMAÇÕES


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62- Muito teatro, música e dança no primeiro quadrimestre de 2021 no Lethes

52 - Cineteatro Louletano com programação de referência a nível nacional ALGARVE INFORMATIVO #278

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OPINIÃO 86 - Paulo Cunha 88 - Mirian Tavares 90 - Ana Isabel Soares 92 - Adília César 94 - Fábio Jesuíno 96 - João Ministro

40 - Custódio Moreno

16 - O que esperam Reinaldo Teixeira, João Soares e Eliseu Correia de 2021? 9

76 - Concerto de Ano Novo em Loulé ALGARVE INFORMATIVO #278


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“NÃO QUERO ACREDITAR QUE 2021 POSSA SER IGUAL A 2020”, AFIRMA REINALDO TEIXEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina no novo, vida nova, assim desejam os portugueses, depois de um 2020 repleto de sofrimento devido à pandemia da covid-19. Mas será 2021 realmente diferente, apesar de já se ter descoberto a vacina para combater um coronavírus que, entretanto, já desenvolveu outra estirpe, ainda mais contagiosa?

“Ninguém contava, esperava ou merecia esta pandemia que surgiu ALGARVE INFORMATIVO #278

no mundo e o turismo está a sofrer bastante com a covid-19”, refere Reinaldo Teixeira, administrador da Garvetur | Enolagest, grupo fundado em março de 1983 e constituído por 41 empresas de diversos ramos de atividade ligados ao setor do turismo, desde a hotelaria e imobiliário ao aluguer de viaturas e trabalho temporário. Sem um guião que nos pudesse conduzir no dia-a-dia, o governo central, o poder local e o sistema 16


bancário foram tomando medidas para apoiar empresas e famílias, casos do layoff e das moratórias, ainda que Reinaldo Teixeira defendesse que, à falta de trabalho, as pessoas deveriam ir para o fundo de desemprego, com o compromisso de serem novamente contratadas assim que a economia começasse a funcionar. “Também

penso que o subsídio que foi dado às pessoas deveria ter sido entregue às empresas, para que mantivessem os seus funcionários em formação, de modo a estarmos melhor preparados aquando da retoma. É verdade que 2020 foi difícil, mas haverá, certamente, o dia pós-pandemia”, acredita o entrevistado. Lidar com a constante incerteza foi uma das principais dificuldades de quem está habituado a trabalhar com orçamentos e planos de atividades bastante rigorosos e que, de um momento para o outro, tiveram de ser todos reajustados. “Se,

para os empresários, têm sido momentos extremamente complicados, também o têm sido para o governo e para as autarquias. Mas tem sido a vontade de todos para ultrapassar as dificuldades que nos tem permitido ir encontrando soluções para gerir o dia-a-dia. Pensava-se que isto ia durar dois ou três meses, a situação foi-se prolongando e, volvidos nove meses desde que a covid-19 chegou ao Algarve, continuamos numa 17

indecisão que esperamos que passe nos próximo três ou quatro meses”, afirma Reinaldo Teixeira, voltando a elogiar a união e sensibilidade de todos os atores da sociedade civil e política para ajudar as empresas e famílias. “As receitas do

governo e das autarquias resultam da atividade económica normal, pelo que é desejável manter-se as empresas a funcionar e as pessoas a trabalhar”. Apesar do Algarve ter sido uma das regiões mais assoladas pelos efeitos da pandemia, devido à sua dependência do turismo e dos mercados externos, Reinaldo Teixeira sente que continua a ser um dos destinos mais procurados de Portugal, da Europa e do Mundo, o que possibilitará, assim se deseja, uma mais rápida recuperação. “O Algarve

não é denso e massificado, consegue-se respirar ar puro, tem uma qualidade de vida e segurança por todos reconhecida. Isso fez com que grande parte dos nossos clientes que têm a sua segunda residência no Algarve optassem por se mudar para cá durante a pandemia. E muita gente investiu e quer gradualmente voltar a investir no Algarve”, frisa o empresário. “Estamos convencidos que, com o aumentar da vacinação e da confiança advinda da imunidade de grupo, assim irá aumentar ALGARVE INFORMATIVO #278


também a confiança para se viajar e o Algarve vai dar um salto mais rápido do que outras regiões, embora de forma gradual. É verdade que o cenário é preocupante no nosso principal mercado emissor, o Reino Unido, mas o confinamento de seis semanas coincide com o período de menor ocupação turística do Algarve. Até junho, os desafios serão enormes, mas teremos um Verão em crescendo que nos permitirá ir esquecendo todas as maleitas da pandemia”.

aquilo que foi construído há 30 anos, tem de ser reconstruído, recuperado ou requalificado e que tem de ser mantido constantemente”, defende. “Os preços nas unidades com melhor qualidade no Algarve não são caros quando comparados com os destinos concorrentes, temos é que acompanhar isso com o serviço, de modo a que os clientes fiquem satisfeitos”, reforça.

Não basta, porém, estar vacinado e ter confiança para viajar, é preciso ter meios financeiros para tal, porque não se pretende um Algarve com reduções de preços na restauração e hotelaria. Reinaldo Teixeira admite que, no Verão do ano transato, aconteceram algumas promoções ou descontos pontuais para motivar os visitantes, mas acrescenta que as tabelas para 2021 estão perfeitamente definidas e são semelhantes a 2019. “O

Ninguém tem dúvidas de que a produtividade em 2020 foi inferior aos anos anteriores, mas Reinaldo Teixeira lembra que as despesas de muitas famílias também diminuíram, como comprova o aumento das poupanças na banca. Assim, apesar das dificuldades financeiras que acometem muitos portugueses, haverá outros com folga para voltarem a gozar férias mal as condições de saúde o possibilitem. “O ser humano quer

Algarve não é uma região cara e tem uma oferta diversificada para os vários segmentos de mercado, ou seja, para pessoas com médias, altas e baixas posses. Temos que continuar a apostar cada vez mais na qualidade do serviço, e isso significa que os empresários devem investir no melhoramento dos seus estabelecimentos, mas há que ter atenção igualmente aos espaços públicos. É preciso perceber que, ALGARVE INFORMATIVO #278

HÁ QUE SABER ATRAIR O INVESTIDOR

conhecer e viajar. Imagine viver num país onde raramente se vê o sol, onde imperam a chuva e o frio, e ter a hipótese de ir para um lugar onde anda de calção e manga curta o dia todo. Estou convencido de que vamos ter um Verão positivo, ainda que não ao mesmo nível de 2019”, volta a dizer o administrador da Garvetur | Enolagest. “Como tal, no dia em 18


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que voltar a haver turistas, as empresas e serviços, as pessoas e as equipas, todos devemos estar o melhor preparados possível para prestarmos um serviço de excelência. Mas também é importante que os governantes percebam que o país precisa de investimento e não devemos tomar medidas que desmotivem aqueles que querem vir viver para Portugal e aqui aplicar o seu dinheiro”, avisa o entrevistado. Nesse sentido, para Reinaldo Teixeira é crucial criar-se uma política «amiga» do investidor e que se diminua a burocracia, de modo a que todos os procedimentos sejam mais céleres, tanto no setor privado como no público. “A rapidez

tem de ser global, porque o dinheiro não desapareceu do mundo, portanto, temos que o saber cativar de melhor forma que os nossos concorrentes. Somos um povo afável, simpático, bom anfitrião, somos polivalentes e versáteis, mas há que simplificar as coisas, desburocratizar os processos”, salienta, falando mesmo de uma política fiscal que incentive o investidor. “O turista vem, conhece a

região, gostou do que viu, regressou e muitas vezes investe, nos seus consumos diários, mas também em imobiliário e noutros serviços. Isto faz com que tenhamos milhões de pessoas espalhadas pelo ALGARVE INFORMATIVO #278

mundo que são nossos embaixadores, que são nossos porta-vozes. Há destinos que têm o «tudo incluído» e, felizmente, o Algarve não tem seguido esse caminho, porque somos uma região segura em que o turista pode estar alojado no apartamento A ou no hotel B e pode circular à vontade de Vila do Bispo a Alcoutim, do litoral ao barrocal e à serra. Essa diversidade é uma mais-valia 20


tremenda que deve ser comunicada devidamente”, aconselha Reinaldo Teixeira. A par dos benefícios imediatos na economia local gerados por estes «novos» residentes, o empresário lembra que existem outras vantagens advindas da região ter mais massa crítica, como conquistar companhias aéreas de maior renome para o Algarve e que trazem consigo clientes de posses mais elevadas.

“Não deixando de reconhecer o papel importante que as «low-cost» têm desempenhado ao longo dos 21

anos, e o trabalho efetuado por todos os responsáveis e governantes, e pelo Aeroporto de Faro, para termos mais pontes aéreas com as principais cidades dos mercados emissores para a nossa região”, sublinha Reinaldo Teixeira, reiterando igualmente a importância de se ter uma ligação ferroviária mais rápida para Espanha.

“Outra infraestrutura que daria mais confiança e estabilidade seria, claro, o Hospital Central, porque não bastam apenas as maravilhas que a Natureza nos ALGARVE INFORMATIVO #278


deu. Este é um trabalho que depende de todos nós, não somente do poder central e local. A vida dos empresários é assumir riscos e, quando corre tudo bem, é uma alegria, fica toda a gente satisfeita com os milhares de postos de trabalho criados, com os milhões de euros pagos em ordenados e impostos. Por isso, quanto mais se motivar os empresários, aqueles que gostam de empreender e assumir riscos, melhor funciona a economia e mais a região cresce”, aponta o CEO da Garvertur | Enolagest. Por tudo isto, o Algarve deve ser promovido como uma região para se gozar férias, mas também para se investir, viver, trabalhar e estudar, e isso implica diversificar a atividade económica e aumentar também o parque habitacional a custos adequados. “Se

isto for feito em harmonia entre público e privado, teremos uma região que nos orgulhe cada vez mais. Mas, se é essencial a articulação entre os organismos públicos e os agentes privados, também é crucial que o mesmo aconteça entre o poder local e o poder central. Às vezes as coisas ficam paradas nalgumas gavetas e isso não beneficia ninguém”, lamenta Reinaldo Teixeira, acrescentando: “O turismo será

sempre a mola central da economia algarvia, mas há que criar outras atividades complementares”. ALGARVE INFORMATIVO #278

Este é, claro, o cenário que todos os portugueses desejam, mas o recente evoluir da pandemia não nos traz quaisquer garantias em relação ao futuro próximo. Apesar disso, Reinaldo Teixeira não quer acreditar num ano igual a 2020. “Todos aprendemos

com esta nova realidade e os cientistas têm feito um trabalho meritório, portanto, penso que estamos melhor preparados para lidar com a nova estirpe. Contudo, se as coisas correrem pelo pior, vamos ter que, todos em conjunto, «fazer das tripas coração» para arranjar soluções para os problemas e superar os desafios”, indica o empresário. “Além das medidas de restrição aplicadas pelo Governo, o ser humano está mais sensível e respeitador e isso fará com que este momento não se prolongue por muitos mais meses. Claro que cada vez as folgas são menores, pelo que, se o pior acontecer, teremos todos que nos reinventar e reduzir os custos. Houve muitos clientes que investiram em 2020, querem continuar a investir em 2021, a própria banca incentiva na compra de habitação. Como bons portugueses que somos, certamente que vamos ultrapassar as dificuldades que possam aparecer a seguir”, acredita Reinaldo Teixeira .

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“HOTÉIS NUNCA FORAM UM FOCO DE CONTÁGIO DE COVID-19”, SALIENTA JOÃO SOARES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina om Portugal a entrar em novo período de confinamento durante, para já, um mês, o caminho não se perspetiva fácil para a economia nacional e para o turismo em particular, nomeadamente para a hotelaria, a lidar com dificuldades severas devido aos ALGARVE INFORMATIVO #278

efeitos da pandemia no ano transato. Isso mesmo atesta João Soares, diretor do Dom José Beach Hotel, em Quarteira, e representante no Algarve da Associação de Hotelaria de Portugal, enquanto olhava para um Calçadão de Quarteira praticamente deserto, apesar do sol que brilhava no céu. “No

terceiro trimestre de 2020 começamos a criar alguma 24


esperança de que 2021 seria um ano de alguma retoma, principalmente a partir da Páscoa. As expetativas aumentaram quando o mercado inglês começou a ser vacinado contra a covid-19, mas esse sentimento desapareceu rapidamente, face aos números que têm vindo a ser anunciados em termos de pandemia e às restrições impostas”, admite o empresário. Estando o primeiro trimestre completamente perdido, João Soares antevê que a performance, no primeiro semestre de 2021, não vá ser muito diferente do que sucedeu em 2020, período em que, antes da chegada da pandemia ao Algarve, a hotelaria já tivera dois meses e meio de faturação. “Este

ano essa receita não vai existir. Hoje mesmo (11 de janeiro) a Jet2 cancelou toda a operação até 31 de março, a Ryanair já havia informado que existiam muitos condicionamentos até 30 de abril. O mercado inglês vai refletir-se disso e o confinamento vai tratar dos clientes nacionais”, observa, esclarecendo que, neste momento, muitos hotéis do Algarve estão de portas fechadas por motivos bem diferentes do que acontecia em anos anteriores.

“Grande parte da hotelaria do Algarve encerrava na época baixa porque as receitas da época alta assim o permitiam. Agora, foi obrigada a fazê-lo porque, pura e simplesmente, não havia clientes. E 25

tudo o que são obras de manutenção e requalificação das infraestruturas, bem como a formação dos funcionários, que normalmente acontecia nesta altura, vai ficar aquém do necessário, por falta de verbas”. O governo criou, entretanto, uma série de medidas para combater os efeitos da crise, mas João Soares explica que a hotelaria não se resume aos recursos humanos e que existe uma série de custos fixos, independentemente das unidades estarem a funcionar ou não. “E são

custos muito pesados, com a eletricidade, água, gás, os gasóleos de aquecimento no Inverno, manutenção de elevadores, segurança e higiene, HCCP, Sociedade Portuguesa de Autores, quotas de associações, todo o software que mantêm a máquina em andamento. Não podemos desligar a ficha a estes custos”, assegura o diretor hoteleiro, frisando que as ajudas nunca são suficientes para fazer face aos prejuízos. “Foram criados, no

início, apoios que foram positivos do ponto de vista burocrático, mas o programa de retoma progressiva é bastante complicado e depende de várias nuances. E, apesar de os apoios terem sido anunciados, ainda não saiu o decreto-lei e as empresas continuam à espera, embora ALGARVE INFORMATIVO #278


acreditemos que o governo não vai faltar à sua palavra. Mas tem sido dificílimo gerir esta situação no diaa-dia, porque há aberturas, temos que recrutar pessoal para fazer face a alguma procura que existe; depois somos avisados, dois ou três dias antes, que, afinal, vamos estar fechados e temos que mandar as pessoas outra vez para casa. O mesmo acontece com as comidas e bebidas e, por vezes, quem nos vendeu não quer receber as devoluções. Vamos continuar assim, não temos alternativa”, desabafa, com um encolher de ombros. João Soares indica que alguns hotéis conseguiram, de facto, financiar-se para manter os postos de trabalho e a sua atividade, dinheiro que vão ter que pagar no futuro próximo. Outros houve que não reuniram todas as condições necessárias para obter ajudas estatais, nem obtiveram financiamentos de outras entidades, e que terão bastante dificuldade para remunerar os seus funcionários. “Todos os apoios

chegam à posteriori. Primeiro pagamos, depois é que recebemos os subsídios do Estado, e muitos colegas não têm esse dinheiro para adiantar. Em paralelo, houve hoteleiros que não se quiseram comprometer com financiamentos ou apoios, pois implicavam não haver despedimentos, a par de outras condicionantes, e não sabiam se depois teriam possibilidade de ALGARVE INFORMATIVO #278

cumprir com essa realidade”, revela o representante da Associação de Hotelaria de Portugal. Hotelaria que, conforme já frisado, não é um negócio que se possa desligar da ficha, tem encargos 24 horas por dia, 365 dias por ano, pelo que deveria, na opinião de João Soares, ser defendida com mais garra. “Foi a

hotelaria, a restauração, todo o turismo, que levou o país para a frente nesta última década, portanto, não se pode deixar cair este setor. Toda a gente precisa de apoio, mas, quando houver a retoma, é o turismo que vai voltar a dar vida a Portugal. Isso merece medidas diferenciadas, mais apoios, até mesmo fiscais”, defende o entrevistado. “As coisas estão a ser adiadas, mas não estão a ser aliviadas. Também sabemos que Portugal é um país pobre e, se calhar, o governo não tem possibilidade de dar mais apoios, não consegue acudir a todas as empresas. Deste modo, quem não tiver uma boa saúde financeira, dificilmente aguentará os efeitos da pandemia”.

EMPRESÁRIOS TINHAM INVESTIDO PARA RESPONDER À PROCURA ELEVADA João Soares não se cansa de enumerar os elevados custos fixos da hotelaria, pelo que não basta dois ou 26


três anos de bom desempenho para os cofres ficarem recheados. Não estamos, garante, perante um «negócio da China».

“Um hotel tem um payback de 15 a 20 anos a partir do momento em que se faz o investimento, é um negócio para se pagar a muito longo prazo e que exige uma manutenção constante. E, se tivermos 70 ou 80 por cento de ocupação num ano, o desgaste é imenso. Basta pensar nas despesas que temos nas nossas casas – uma lâmpada fundida aqui, uma cadeira a abanar ali – imagine-se agora um hotel que todos os dias é ocupado, 27

desocupado, ocupado, desocupado”, esclarece o diretor do Dom José Beach Hotel. “É um negócio sustentável, caso contrário os empresários não investiam nele, mas que exige continuidade e, no Algarve, já tínhamos de lidar com a sazonalidade. É uma região com um preço médio muito baixo de outubro a março/abril e um preço relativamente bom em julho e agosto, portanto, os três ou quatro bons anos que tivemos não chegaram para equilibrar as ALGARVE INFORMATIVO #278


contas. Para além disso, todos os empresários investiram nos seus negócios, compraram mais hotéis para dar resposta à elevada procura que existia. Ninguém estava à espera que isto acontecesse”. As preocupações são muitas, ninguém tem certezas do que vai acontecer amanhã, mas João Soares prevê que os preços médios praticados na hotelaria vão baixar, porque a oferta vai ser bastante superior à procura. “A

sazonalidade também tem tendência para aumentar, porque as companhias aéreas vão fazer reestruturações e não vão apostar tanto na época baixa, devido à redução esperada da procura. Vai ALGARVE INFORMATIVO #278

ser uma recuperação lenta, mas é importante manter o ativo muito atrativo para que, quando vier a retoma, o cliente escolha o melhor produto ao melhor preço”, apela o empresário. “Sabemos que, se as medidas forem aliviadas e as pessoas viajarem em segurança, se todos continuarmos a cumprir com os procedimentos, que o mercado nacional vai reagir bem. As pessoas vão querer sair de casa e fazer férias e para isso vão procurar o Algarve. Em 2020 demonstrámos que fomos um ótimo destino para o mercado nacional, os clientes ficaram 28


bastante satisfeitos e o Verão acabou por ser interessante. Quanto ao mercado internacional, não temos qualquer ideia do que poderá acontecer, porque o sul da Europa, a Bacia do Mediterrâneo, vai arrancar toda ao mesmo tempo e não sabemos o que os nossos concorrentes vão fazer em termos de preços. E os grandes operadores turísticos vão posicionar-se em função dos preços. Se a oferta for melhor no sul de Espanha, na Grécia ou na Turquia, não se vão preocupar com o Algarve”, garante o entrevistado. E pode o Algarve competir com base no preço, questionamos João Soares. “Não

temos o mesmo volume de negócio que esses concorrentes, portanto, o apelo que faço aos meus colegas é para termos preços atrativos, mas sem reduções significativas, porque isso não nos vai trazer nenhum benefício. Um quarto ocupado a 100 euros é o mesmo que dois quartos ocupados a 50 euros cada um”, justifica, embora admita que, conforme atesta a história, o preço é algo bastante difícil de gerir, sobretudo nos períodos de maior crise. “Quando os hoteleiros

estão numa situação de desespero, os preços acabam por ser mais controlados pelos operadores e parceiros. Nesses momentos, ou temos uma estratégia e uma qualidade que justifiquem que o 29

cliente pague mais pelo serviço, ou não temos outro remédio senão ir atrás do preço, por mais que se diga que não se vai baixar os preços. E o meu receio é que isso depois se reflita na qualidade do serviço prestado”, sublinha. “Sabemos que as pessoas vão continuar a viajar, mas, se calhar, não com tanta frequência. O mercado britânico, por exemplo, viajava várias vezes por ano para diferentes destinos do sul da Europa, mas esta pandemia vai deixar muitas marcas financeiras. No entanto, a esperança é a última a morrer. O primeiro semestre vai ser bastante complicado, mas vamos continuar a apostar na segurança dos nossos hotéis e a cumprir com todas as regras, para que as pessoas, mesmo em tempos de pandemia e antes de estarem todas vacinadas, possam gozar férias. Não podemos baixar os braços, ainda que vejamos que, em termos europeus, as atenções estão mais concentradas na saúde do que na economia. E é importante lembrar que os hotéis nunca foram focos de contágio. Passamos 2020 sem um único caso de covid-19 na grande maioria dos hotéis do Algarve”, salienta João Soares .

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“SÓ QUERO QUE 2021 PASSE DEPRESSA”, DESABAFA ELISEU CORREIA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina ano de 2020 terminou sob o auspício da vacina contra a covid-19 e parecia que se ia aplicar o ditado «Ano Novo, Vida ALGARVE INFORMATIVO #278

Nova», mas as primeiras semanas de 2021 não estão a ser animadoras, pelo que Eliseu Correia, fundador e administrador da EC Travel, opta por outro ditado popular, o «vira o disco e toca o mesmo». “Até

setembro/outubro, estava mais 32


Numa conversa ocorrida precisamente no dia seguinte ao anúncio, por Boris Johnson, do lockdown no Reino Unido até dia 15 de fevereiro, Eliseu Correia revela que as poucas reservas que existiam desapareceram num ápice. “O ser

humano está mentalmente preparado para enfrentar muitas coisas, mas não sei se estávamos preparados para que acontecesse tudo ao mesmo tempo. Em 2020, ainda contámos com a faturação de janeiro e fevereiro e parte de março, o que não vai acontecer em 2021. Se tivermos março, será com o mercado nacional, porque a Alemanha, Irlanda, Reino Unido, Holanda e Espanha também estão a passar por sérias dificuldades, devido a uma nova estirpe que se propaga ainda mais depressa que a original”, analisa o entrevistado.

ou menos convencido que a Páscoa seria o turning point do Algarve, o momento em que iriamos atingir alguma normalidade, dentro daquela que será a nova normalidade para o resto das nossas vidas. No entanto, descobrimos rapidamente que o processo de vacinação é muito moroso e que esta nova vaga ainda é mais nefasta que a primeira”,

A forte dependência do Algarve do turismo e, nomeadamente, do turista britânico traz outro problema acrescido e que tem sido remetido para segundo plano pelo covid-19, o Brexit, a par de um desemprego galopante e de uma libra que, acredita Eliseu Correia, vai desvalorizar bastante em relação ao euro. “Isso significa que todos os

destinos turísticos que não têm o euro, casos do Egito e da Turquia, vão ser beneficiados, por muito que as pessoas gostem do Algarve. Eu posso amar um avião,

explica o profissional de turismo. 33

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mas não consigo comprar um. Não havendo muito dinheiro disponível, os britânicos vão ter que fazer as suas escolhas mediante os preços oferecidos”, avisa Eliseu Correia,

em momentos de crise, os turcos e egípcios jogam os preços para a cave, pelo que as diferenças vão ser ainda maiores”.

lembrando que, em tempos normais, alguns concorrentes da Bacia do Mediterrâneo já ganham a Portugal quando se olha para os preços praticados.

Pegando noutro ditado popular, o «quem não aparece, esquece», Eliseu Correia indica que outros países europeus, mesmo em situações complicadas, apostam em campanhas

“E todos sabemos muito bem que, ALGARVE INFORMATIVO #278

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contar apenas com eles, é a história da nossa vida, contudo, numa altura desta, deviam-se dar sinais claros para o exterior, e mesmo internamente, do que é o destino «Algarve», mas nada”, critica. O processo de vacinação vai avançando, com mais ou menos celeridade, um pouco por toda a Europa, mas há que tratar também da saúde económica das populações, porque Eliseu Correia volta a frisar que o Algarve não consegue lutar, de igual para igual, com os seus principais concorrentes quando o principal fator de escolha é o preço. “Podia-se

promocionais para dar sinais de vitalidade, para que, “quando surgir o primeiro raio de sol, possam ir a jogo”.

“Em Portugal, não se passa nada. Está toda a gente deprimida e recolhida algures no bem-estar das suas funções, e da estabilidade do ordenado que nos falta a nós. Isso assusta-me bastante”, reconhece. “Os privados estão habituados a 35

pensar que, bastava-nos ajustar os preços, e garantíamos volume, mas isso é mentira. A vacina, até ser produzida, demora tempo e a imunidade de grupo funciona quando cerca de 70 por cento da população estiver vacinada. Em Portugal, se estivermos nesse patamar em dezembro, já não será mau”, dispara o fundador da EC Travel. “Estamos nas mãos da ciência e o que nós precisávamos mesmo era de um medicamento eficaz para a covid-19, mas as pessoas só falam da vacina. E muitas pessoas nem sequer acreditam nas vacinas, enquanto que toda a gente toma medicamentos com perfeita normalidade”, refere o entrevistado. “Não percebo nada de medicina, ALGARVE INFORMATIVO #278


mas espanta-me ver todas as armas apontadas para as vacinas e não se ouvir falar de um medicamento real para lidar com os sintomas da covid19”.

“QUEM NOS DEVIA AJUDAR SÓ COMPLICA” Enquanto aguardamos pelos avanços da ciência, vamos todos aguardando também pelas decisões dos governos, numa constante incerteza que não facilita, em nada, a vida dos empresários.

“É incrível a velocidade com que se mudam os cenários, e às vezes sem qualquer lógica”, afirma Eliseu Correia, recordando que a EC Travel é uma intermediária, vendendo aos clientes serviços prestados por outros, sejam hotéis, restaurantes, rent-a-car, etc. “Na

restauração, por exemplo, anunciaram-se as regras para o Natal e o Réveillon e os desgraçados dos empresários foram comprar comida, contratar animação e reforçar o staff. Duas semanas depois dizem que, afinal de contas, a passagem de ano termina às 22h30. Quase podíamos pensar que alguém quer acabar com as pequenas e médias empresas, porque são exatamente elas que mais sofrem com tudo isto, as que menor capacidade têm para se defender”, observa o entrevistado. “A partir do momento que um governo anuncia publicamente que se vai ALGARVE INFORMATIVO #278

entrar, daqui a duas semanas, em Estado de Calamidade ou Estado de Emergência, os turistas, que não são especialistas na matéria, pensam logo que já existe um problema grave que se vai tornar ainda mais sério, portanto, cancelam logo as suas reservas para o imediato”. Com mais de três décadas de carreira neste ramo, Eliseu Correia recorda que o turismo tem sido apontado como o grande motor da economia portuguesa, pelo que não compreende os estragos que estão a ser feitos pelas instâncias superiores. “Tudo o que é

decidido em Lisboa tem sempre consequências nefastas para o Algarve. Supostamente, quem deveria estar ao nosso lado a combater o «inimigo», só complica, porque não são pessoas que estão no terreno e que percebem o que o turismo é. Devíamos pegar nos grandes empresários que saíram do ativo e colocá-los nas posições-chave para aproveitarmos o seu knowhow. Infelizmente, escolhem-se «filhos» do aparelho partidário que andam a «brincar» com folhinhas de Excel e que acham que aquelas ideias são muito giras”, critica, com a sua habitual frontalidade. E porque muitas turistas que elegem o Algarve para gozar férias não 36


pretendem passar o dia inteiro na praia e depois irem para casa dormir, Eliseu Correia critica a discriminação de que foi alvo a animação noturna. “Ninguém vai

passar férias num cemitério, as pessoas querem divertir-se, portanto, são precisos bares e discotecas de qualidade e a noite contribuiu imenso para o crescimento do Algarve. Eu não vendo uma refeição num restaurante, um quarto num hotel, um carro ou uma praia, vendo uma 37

emoção, uma experiência, num destino turístico chamado Algarve, e a animação noturna é uma das grandes armas que temos para nos diferenciarmos dos nossos concorrentes… porque é uma noite extremamente segura e de enorme qualidade”, justifica o administrador da EC Travel.

“Qualidade não é apenas ter uma bandeira azul hasteada na praia ou vender Bolas de Berlim certificadas por algum ALGARVE INFORMATIVO #278


organismo. Precisamos de oferta para quem busca tranquilidade e que, às 21h, quer ir para a cama, mas também para aqueles que depois querem ir beber um copo e ouvir música em segurança e num sítio agradável. Para fazer exatamente o mesmo que em casa, então não precisam viajar”, avisa. Entretanto, os dias passam e as incertezas mantêm-se, não se sabendo como vão estar as companhias aéreas e os operadores turísticos daqui a umas semanas ou meses, nem qual será o poder de compra do consumidor final.

“Nem sequer que produto o Algarve vai ter para oferecer aos turistas, e em que condições”, alerta Eliseu Correia. “Nós trabalhamos no Verão para sobreviver no Inverno até à Páscoa, no entanto, em 2020 tivemos 365 dias de sofrimento e, quem tinha poupanças, queimou-as para se aguentar em atividade. No início do Verão anunciou-se um Plano de Emergência para o Algarve, estamos em janeiro de 2021 e ainda ninguém viu nada, mas todos tivemos que continuar a comer todos os dias. Muitos dos meus colegas estão, neste momento, no dilema de pagar aos seus funcionários ou pagar ao Estado”. Perante tudo isto, Eliseu Correia confessa que o seu único desejo é que 2021 passe depressa, porque o cenário ALGARVE INFORMATIVO #278

afigura-se ainda pior do que no ano transato. “Só a partir de maio ou

junho é que vamos recuperar alguma normalidade, mas não tivemos receitas em janeiro, fevereiro ou março como em 2020. E dar 40 mil euros a uma empresa que fatura 30 milhões de euros é o mesmo que colocar um penso rápido num doente terminal. Em 2021 vamos estar mais descapitalizados e muito fragilizados após um ano de luta que nos desgasta psicologicamente. Recebemos 50 reservas, cancelamos 100; temos uma semana que promete ser boa, depois, algum governante decide alterar as regras do jogo e cai tudo como um castelo de cartas”, indica o empresário, revelando que, em 2020, faturou menos de um terço do que era habitual no passado recente. “Portugal foi o

aluno exemplar na luta contra a covid-19, estivemos semanas a fio à frente do pelotão e, quando chegou a altura de abrir as fronteiras e receber turistas, o Reino Unido colocou-nos na lista negra, quando os espanhóis e italianos, de repente, deixaram de ter casos. Esses países perceberam que, ou iam a jogo, ou ficavam de fora e morriam”, analisa o entrevistado, voltando a desejar de 2021 passe o mais depressa possível . 38


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“PANDEMIA VEIO CONFIRMAR A FORÇA DO ASSOCIATIVISMO”, REVELA CUSTÓDIO MORENO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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pesar da pandemia, a vida não parou na Direção Regional do Algarve do IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude, como bem atestam as amplas obras de remodelação de que está a ser alvo a sede situada em ALGARVE INFORMATIVO #278

Faro. E outra coisa não seria de esperar da dinâmica equipa liderada por Custódio Moreno, sempre incansável a trabalhar em prol do associativismo e do desporto jovem. O que não significa que não tenham existido muitas dificuldades “numa guerra mundial

contra um inimigo invisível, contra o maldito bicho”, diz 42


contratualizou todos os protocolos previstos no âmbito do PAJ – Programa de Apoio Juvenil, do Programa Nacional de Desporto para Todos e do PRID – Programa de Reabilitação de Instalações Desportivas. Na formação desportiva, voltamos a ter quase 60 candidaturas e apoiamos na ordem de 40 clubes, com valores que rondam algumas centenas de milhares de euros. E fez-se um aditamento à legislação para que 30 por cento das despesas elegíveis pudessem ser referentes a gastos com a covid19”, explica o entrevistado, recordando que, antigamente, só se apoiava, no plano de uma atividade desportiva, por exemplo, os recursos humanos, o equipamento que se comprava e as deslocações.

Custódio Moreno, antes de enaltecer a

“enorme capacidade do movimento associativo para se redimensionar, reorganizar e reinventar”. “O que fica de 2020 é uma grande capacidade do ser humano para dar resposta ao que acontece e não se ficar pelo «muro das lamentações». Sinal disso é que o IPDJ do Algarve 43

Apesar de ter sido um assunto pouco abordado ao longo de 2020, Custódio Moreno diz que o IPDJ trabalha regularmente, no Algarve, com mais de 800 associações desportivas e juvenis, e que grande parte delas possui um ou dois funcionários ou colaboradores com alguma remuneração. “E isso é

importante para a sustentabilidade da própria associação. Um dirigente associativo pode ser um apaixonado pelo que faz, um carola, como se dizia antigamente, mas precisa de alguém que trate das questões ALGARVE INFORMATIVO #278


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burocráticas, que abra a porta da sede, que mantenha o serviço a funcionar. Muitas dessas associações conseguiram aguentar-se em 2020, mas não sabem se têm almofada para lidar com um 2021 igual”, avisa, preocupado. Por isso mesmo, apesar de, quando a covid-19 chegou ao Algarve, em março do ano transato, já os planos de atividade e orçamento terem sido aprovados, houve flexibilidade da tutela para se efetuarem os reajustes necessários. “Em todos os programas

alargamos os prazos para se reverem as candidaturas. Nós mesmo tínhamos coisas agendadas para março e, de repente, tivemos que cancelar tudo e reunir as tropas para ver o que iriamos fazer”, conta. Tivemos todos que nos adaptar à nova realidade e o próprio IPDJ do Algarve não foi uma exceção, com Custódio Moreno a dar o exemplo das ferramentas do teletrabalho e as videoconferências, que agora se tornaram normais, mas que na altura ainda não eram dominadas por todos. “Numa

primeira fase criamos duas equipas e introduzimos os horários desfasados, antes de termos todos que ir trabalhar para casa. O próprio instituto passou por uma grande reorganização”, reconhece o Diretor Regional, assegurando, todavia, que o IPDJ nunca «fechou» para o associativismo. “Estivemos sempre «on»,

disponíveis através dos contatos pessoais dos funcionários e de mais um número de telefone que criámos para esse efeito. Até a nossa newsletter regional, que era mensal, passou a ser quinzenal, porque as coisas aconteciam tão depressa que a informação não podia tornar-se desatualizada e obsoleta. O próprio site institucional do IPDJ foi totalmente remodelado em abril do ano passado”, indica. Em plena pandemia nasceram, entretanto, dois novos programas, o «Ser Jovem em Casa» e o «Ser Ativo em Casa», em que o primeiro fornecia sugestões e motivações para 45

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que as novas gerações pudessem ocupar os seus tempos livres de forma salutar durante a interrupção das aulas.

“Convocámos o associativismo para este desafio e, se quiséssemos, tínhamos «entupido» as redes sociais, tantas foram as ideias que nos apresentaram, e com grande qualidade. E isso não foi nenhuma surpresa para nós, apenas veio confirmar a capacidade do associativismo”, frisa Custódio ALGARVE INFORMATIVO #278

Moreno. No que toca ao «Ser Ativo em Casa», eram disponibilizadas, quer a nível central, como regional, diversas iniciativas e propostas para se praticar desporto em casa. “A nossa forma

de trabalhar no IPDJ não passa por estar fechados em gabinetes apenas a mandar e-mails, fazemos questão de andar no terreno, por isso, sabemos o que custa estarmos privados de sair à rua”. 46


Peça importante na atuação do IPDJ são as parcerias e Custódio Moreno enaltece o relacionamento existente com o poder local, sendo que, em conjunto com as Juntas de Freguesia do Algarve, se implementou o «Apoio Maior», programa que nasceu no Alentejo, desceu até ao sul e depois se espalhou rapidamente pelo resto do país. “Todos os presidentes

de Junta foram contatados, realizamos sessões de esclarecimento e tivemos mais de metade das Freguesias do Algarve envolvidas. Tenho que agradecer à ANAFRE – Associação Nacional de Freguesias e ao seu presidente no Algarve, Carlos Saúde, que foi espetacular em todo o processo. E conseguimos reunir largas dezenas de jovens que, a partir do dia 17 de abril, começaram a levar medicamentos e comida a casa dos idosos”, expõe o entrevistado, louvando igualmente o contributo fundamental das próprias câmaras municipais para o sucesso do «Apoio Maior».

“Não nos faltaram jovens”, garante Custódio Moreno, não escondendo o orgulho que sente em relação ao voluntariado no Algarve. E isso mesmo se constatou aquando do Grande Prémio de Fórmula 1 no Autódromo Internacional do Algarve, em que se inscreveram 430 jovens para 100 voluntários que eram precisos para dar apoio logístico na receção das pessoas. “Na ocasião,

tanto o Ministro da Educação como o Secretário de Estado da 47

Juventude e Desporto elogiaram a postura dos jovens, e os jovens revelaram que a experiência tinha sido bastante gratificante. Muitos concretizaram o sonho da vida deles, ao mesmo tempo que foram úteis e participaram num evento mundial. Foram quatro dias em que tinham que se concentrar todos num local a alguns quilómetros do Autódromo para entrarem ao serviço às oito da manhã, portanto, veja-se a que horas alguns se tinham que levantar e sair de casa”. Custódio Moreno aproveita para dizer que há mais de mil jovens inscritos na Base de Dados Regional de Voluntariado Jovem do IPDJ do Algarve, prontos para auxiliarem no que for preciso. “É verdade que,

hoje, as novas gerações são mais consumistas, porque os aliciantes são maiores e constantes, mas, quando são chamados para ajudar, os jovens continuam a dizer «sim» e os desafios colocados pela covid-19 demonstraram isso mesmo. Os participantes no «Apoio Maior», mesmo estando protegidos e a cumprirem todas as normas de segurança, estavam a colocar a sua saúde em risco ao andarem na rua”, sublinha o dirigente, o mesmo sucedendo com a iniciativa ALGARVE INFORMATIVO #278


desenvolvida pela Federação Nacional das Associações Juvenis, com o apoio do IPDJ e da Federação das Associações Juvenis do Algarve, em algumas praias da região durante o Verão.

DESPORTO DE FORMAÇÃO É QUEM MAIS SOFRE Com mais ou menos dificuldades, as associações juvenis do Algarve ALGARVE INFORMATIVO #278

conseguiram adaptar-se aos efeitos da pandemia e manter a sua atividade, mas o outro braço do IPDJ – o desporto jovem – sofreu mais com a covid-19, com a formação a parar por completo, assim como as modalidades amadoras e as profissionais consideradas de maior risco para a saúde dos envolvidos. Um problema confirmado por Custódio Moreno, que começa logo por falar de uma das «meninas dos olhos» do IPDJ do Algarve, o Calendário 48


domingo de manhã, mas todos os dias”, aconselha o entrevistado. No que toca ao desporto de formação, Custódio Moreno recorda que houve maior margem de manobra para o retomar da atividade nas modalidades individuais do que nas coletivas, muito embora os clubes tenham dinamizado algumas iniciativas online para manter o foco e motivação dos praticantes. “O desporto de

Regional de Marcha e Corrida. “Tivemos

que suspender o programa até junho e, em setembro, lançamos o Guia Online dos Percursos de Marcha e Corrida, com diversas propostas para cada concelho da região e para os três níveis de dificuldade – pequena, média e alta intensidade. Porque o desporto não é apenas para se praticar ao 49

competição deixou de existir, mas era necessário acautelar a saúde pública e isso mesmo compreenderam os dirigentes dos clubes e das associações”, destaca o dirigente do IPDJ. “Muitos dos projetos de clubes desportivos que apoiamos prendem-se com a sua ida às escolas para captar novos praticantes, o que não é possível em contexto de pandemia. Os clubes tiveram que «inventar» novas formas de chegar aos atletas, mas é óbvio que 2020 não foi um ano de aumento de praticantes e de eventos desportivos. Eu fui treinador durante 20 anos antes de ingressar no IPDJ e o «bichinho» ainda cá está, portanto, acredito que, apesar dos muitos meses de inatividade, os atletas não vão perder o gosto pelo desporto que praticam”. Enquanto não há «luz ao fundo do túnel», vai-se pensando em como atuar ALGARVE INFORMATIVO #278


na rentrée, nas melhores formas de tentar recuperar o tempo perdido, e Custódio Moreno garante que isso não depende, exclusivamente, dos apoios financeiros que são concedidos pelo IPDJ.

“Para mim, mais importante do que o dinheiro, é a facilidade que a tutela, ou seja, os responsáveis a nível nacional pela definição das políticas de desporto e juventude, tem para se redimensionar e adaptar para rentabilizar os meios existentes. E a grande maioria das pessoas que praticam desporto fazem-no por prazer, porque só uma pequena minoria é que chega à elite do desporto profissional”, frisa o Diretor Regional do IPDJ de Faro. Se, em 2020, cada dia trazia desafios inesperados e andávamos quase todos a navegar à vista, ao sabor dos ventos e marés, que podemos esperar então de 2021, perguntamos a Custódio Moreno.

“Os grandes eventos que o IPDJ organiza anualmente foram realizados mesmo em tempo de pandemia, num formato online. Assim aconteceu com o «Música JÁ», com as inaugurações das exposições, com as IV Jornadas Associativas, com a VI Semana Europeia do Desporto, com a entrega do Prémio de Boas-Práticas Associativas. Tudo isto deu-nos uma grande experiência e bagagem para lidar com os desafios que teremos pela frente este ano”, assume o

novas portarias de apoio ao associativismo jovem já foram publicadas em dezembro de 2020 e que vão abrir, ainda em janeiro, as candidaturas para mais uma edição do PRID. “O IPDJ não funciona das 9

às 5, porque todos os técnicos colocaram os seus números pessoais de telemóvel ao serviço de quem precisa, nomeadamente os dirigentes associativos, o que torna mais fácil a resolução dos processos. Esse acompanhamento constante e apoio personalizado é uma mais-valia tremenda”, assegura. “Não tenho conhecimento de que tenha desaparecido, em 2020, alguma associação juvenil no Algarve. Ninguém «jogou a toalha ao chão», como se costuma dizer no boxe. Acho que ninguém duvida da importância que este setor tem, seja para a economia nacional ou para a sociedade civil. Esta reaprendizagem e reorganização de toda a estrutura associativa foi um ganho único que tivemos com a covid-19, porque tivemos que aprender, com a prática, a resolver os problemas à medida que iam surgindo. Não podemos relaxar e afrouxar os cuidados, mas acredito na vacina e que isto vai melhorar”, conclui Custódio Moreno.

entrevistado, lembrando ainda que as ALGARVE INFORMATIVO #278

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CINETEATRO LOULETANO COM PROGRAMAÇÃO DE REFERÊNCIA EM 2021 Texto: Daniel Pina

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m 2021, a programação do Cineteatro Louletano trará um vasto leque de estreias com foco na qualidade, inovação e pedagogia cultural. No ano que se avizinha, e em que se comemora uma década da reinauguração do equipamento após obras de restauro, a programação volta a ter o melhor do teatro nacional com propostas inéditas a sul, tais como a peça «A margem do tempo», naquela que será a despedida de palco da atriz Eunice Muñoz, «Festa de 15 anos» de Mickael de Oliveira com Albano Jerónimo, «Perfil Perdido» de Marco Martins com Beatriz Batarda e Romeu Runa e «Cenas da vida conjugal», de Rita Calçada Bastos com Ivo Canelas. No âmbito da colaboração com a ACTA – Companhia de Teatro do Algarve, o

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Cineteatro acolherá, em 2021, «A noite de Molly Bloom» e «Um gajo nunca mais é a mesma coisa». Já no ciclo «Implikação», iniciado em 2019, continua-se com a programação implicada e de escuta sobre a nossa sociedade: «Engolir Sapos», da Amarelo Silvestre, sobre o tema da inclusão social e das minorias, nomeadamente da comunidade de etnia cigana; «Fake», de Inês Barahona & Miguel Fragata, sobre o tema da verdade/mentira e das fake news; «Diário de uma República – I», da Amarelo Silvestre, sobre a justiça; «Catarina ou a beleza de matar fascistas», de Tiago Rodrigues, sobre o poder; «Do bosque para o mundo», de Inês Barahona & Miguel Fragata, sobre a temática dos refugiados; «Romeu e Romeu» de João de Brito; «Cordyceps», de João Pedro Leal, Eduardo Molina e Marco Mendonça, sobre a democracia; e «Monólogo de uma mulher chamada

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Maria com a sua patroa», de Sara Barros Leitão, sobre o tema da emancipação do feminino, ela que ganhou em dezembro de 2020 o Prémio Revelação Ageas Teatro D. Maria II. Incidindo sobre projetos de maior experimentação e inovação estética, a programação do Cineteatro Louletano terá vários espetáculos que cruzam teatro e performance conferindo ainda uma maior contemporaneidade à programação, tais como «Antes», de Pedro Penim, do Teatro Praga e «Triste English in Spanish», de Sónia Baptista. A reposição de uma encomenda que toca a alma de todos os louletanos - a peça de teatro «Soberana», em torno das celebrações religiosas da Mãe Soberana subirá ao palco pelo Teatro do Eléctrico com encenação de Ricardo Neves-Neves, agora com quatro apresentações depois do sucesso em 2019. 55

2021 continuará o trabalho na área da Dança, a começar pelo Fórum de Dança Inclusiva pelo Grupo Dançando com a Diferença que introduz um novo vetor estratégico a nível da programação regular do Cineteatro, centrado na dimensão inclusiva da Dança. Vai congregar, não só as instituições do concelho de Loulé e da região que trabalham com pessoas com deficiência (motora, intelectual), como a restante comunidade ao nível das escolas e dos projetos sociais da autarquia desenvolvidos com a população sénior. Também merecem destaque a estreia a sul da nova criação da Companhia Paulo Ribeiro, em que o Cineteatro Louletano é coprodutor; a nova criação do coreógrafo David Marques, «Mistério da Cultura», que aborda o mundo da arte e os meandros da burocracia cultural; uma peça da ALGARVE INFORMATIVO #278


reconhecida dupla São Castro e António M Cabrita, «Last», que opera uma releitura da obra de Beethoven para o mundo da dança contemporânea, com a atuação ao vivo do prestigiado Quarteto de Cordas de Matosinhos; quatro criações da IN TRANZ YT Cia.Jovem, de Cristina Pereira e Vasco Macide, trazendo a Loulé vários talentos promissores da cena nacional e internacional, em estreia a sul; e o espetáculo «O lugar do canto está vazio», da prestigiada dupla Sofia Dias e Vítor Roriz em parceria com a Companhia Maior, numa coprodução do Cineteatro Louletano. Em 2021, a música continua com um lugar especial na programação. No dia da cidade de Loulé, atua Mário Laginha e o seu trio, compositor e pianista,

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assinalando também os 10 anos da reinauguração do Cineteatro Louletano (2011-2021), em fevereiro, mas também Teresa Salgueiro (ex-Madredeus), Cuca Roseta, estreia a sul do novo disco sobre Amália, Capicua, e o contrabaixista Carlos Bica com uma encomenda, «Playing with Beethoven», em que junta Daniel Erdmann, DJ Illvibe e João Paulo Esteves da Silva para uma gravação de um disco ao vivo. Tiago Bettencourt vem a Loulé apresentar o novo disco, Márcia, Cati Freitas, e Mila Ferreira, todos eles vão contribuir para um ano em cheio no palco de uma casa que conta já com 90 anos de existência e que se tem afirmado como um equipamento de excelência no Algarve e a nível nacional. Honrando esse espírito, o equipamento acolhe o prestigiado Prémio Jovens Músicos Antena 2/RTP, dá ar ao Festival Internacional de Trompete, acolhe Amélia Muge & Filipe Raposo, o recital sobre Strauss do pianista Nuno Vieira de 57

Almeida com o ator Albano Jerónimo e o Festival de Música Al-Mutamid. E abre de novo as portas aos projetos «made in Algarve», tais como Paulinho Lêmos, Osmose, Carolina Fonson, estes dois no ciclo ilustres desconhecidos, Zé Francisco & Vitorino, e Nelson Conceição (Garvefole) ou ainda a Gala dos Fadistas Louletanos e a estreia nacional do CAL Jazz Colective, composto por alguns dos músicos mais virtuosos da nova geração sediados a sul. Para além do Teatro, da Música e da Inclusão pela Dança/Movimento, um outro vetor estratégico da programação do Cineteatro consiste nos cruzamentos interdisciplinares. 2021 traz consigo a sexta edição do Som Riscado – Festival de Música e Imagem de Loulé, com diversos concertos, debates, instalações interativas e formações de referência a ALGARVE INFORMATIVO #278


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sul do país. Mas também o Festival Verão Azul, organizado pela Associação CasaBranca, e o Fome – Festival de Objectos e Marionetas & Outros Comeres, produzido pela ACTA numa lógica em rede e o Central Artes – Programação cultural em rede, numa aposta dos vários municípios do Algarve Central. Dando seguimento ao forte envolvimento com as associações locais e a comunidade escolar, várias criações, quase todas em absoluta estreia a sul do país e a maioria delas coproduzida pelo Cineteatro Louletano, englobam essa preocupação e terão interação com esses agentes específicos: «Engolir Sapos», «Romeu e Romeu» de João de Brito, «O Céu por cima de cá» da Companhia de Música Teatral, «Fake», «Assim devera eu ser» de Catarina Moura, Celina da Piedade e Sara Vidal, sobre a vida e obra de Amália, «Diário de uma República – I», «Do bosque para o mundo», «Aldebarã» de Marco Paiva e uma nova ópera infantojuvenil de Ricardo Neves-Neves com Martim Sousa Tavares. A tudo isto 59

somam-se os três concertos «Promenade» que a Orquestra Clássica do Sul vai realizar, num ambiente de informalismo e proximidade destinado às famílias, sensibilizando os mais novos para a riqueza da música erudita. O cinema também continuará a projetar-se na sala do Cineteatro Louletano. Assim, a Monstrare – Mostra Internacional de Cinema Social, agora na sétima edição, irá trazer o melhor do cinema que trata e pensa as questões da atualidade no mundo, com alguns dos melhores realizadores e talentos ao nível do filme e documentário. Também a Mostra de Cinema da América Latina, que vai para a sua 11.ª edição, ou ainda a clássica Festa do Cinema Italiano, que coloca Loulé no roteiro nacional que engloba várias cidades terão lugar no grande ecrã . P.S. A programação sofreu, entretanto, algumas alterações devido à entrada de Portugal no Estado de Emergência no dia 15 de janeiro. ALGARVE INFORMATIVO #278


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PRIMEIRO QUADRIMESTRE DO TEATRO LETHES COM MUITO TEATRO, MÚSICA E DANÇA Texto: Daniel Pina | Fotografia: ACTA

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o contrário do que vinha sendo hábito nos últimos anos, a ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve optou, em 2021, por dar a conhecer, para já, apenas a programação do primeiro quadrimestre do Teatro Lethes, depois de, em 2020, ter sido forçada a cancelar ou adiar diversos espetáculos devido à pandemia da covid19. “Neste infelizmente continuado

ano da máscara, vemo-nos na contingência de adotar uma estratégia cautelosa no que respeita à forma e conteúdo da nossa agenda. Por isso, entendemos que seria prudente dividir a tradicional agenda anual por três quadrimestres, para evitar o que ALGARVE INFORMATIVO #278

nos aconteceu no ano transato: vimos mais de dez mil agendas serem inutilizadas pelo Covid-19. E o bicho ainda por cá anda, devastador”, justifica Luís Vicente, diretor da ACTA, acrescentando, contudo, que “temos concluída a nossa programação anual”. Apesar das dificuldades por todos sentidas, a que não escapa, como bem sabido é, o setor cultural, os conteúdos da programação da ACTA para o emblemático Teatro Lethes, na capital algarvia, continuam a assinalar “um

critério de continuidade, mas também de inovação, procurando sempre corresponder às espectativas e necessidades dos diversos públicos”. “Continuamos 64


cá para vos servir”, garante Luís Vicente, não escondendo a tristeza por ter sido cancelada a sessão de apresentação da programação, agendada para 8 de janeiro, e que incluía um espetáculo com Rão Kyao e Custódio Castelo. “Este é um momento festivo

e cancelá-lo foi uma medida que nos causou grande dor e transtorno, mas havemos de ter dias melhores”, acredita o ator e encenador. “Os tempos estão difíceis, mas com a vossa colaboração havemos de conseguir. Tudo! Sobretudo trabalho honesto. Dignidade. Futuro”, reforça Luís Vicente. A programação do Teatro Lethes arranca, então, a 22 de janeiro, às 21h, com o «Lethes'blues», uma iniciativa da Blues a Sul – Associação de Blues do 65

Algarve em parceria com a ACTA e o Teatro Lethes, que visa manter viva a presença dos Blues num dos corações culturais da cidade de Faro. Este evento conta com a participação dos Blues do norte de Portugal com o showcase acústico do duo portuense «The Smokestackers», num formato intimista e informal. Segue-se, a 29 de janeiro, às 21h, «Desastre Nu», uma tragicomédia do Teatro Art’Imagem onde as personagens estão presas a situações sem solução. “Homens e mulheres

num limite extremo, solitários e expostos de forma agressiva numa crítica feroz à sociedade. Quatro atores vão interpretar nove personagens em estado neurótico e louco, promovendo ALGARVE INFORMATIVO #278


uma espécie de psicose coletiva que as faz chegar ao limite emocional e que tem como consequência a revolução de si mesmo dentro de uma sociedade que se encontra em crise”, diz a sinopse da peça. No dia 4 de fevereiro, às 19h, o Ciclo Lethes Clássico da Orquestra Clássica do Sul leva ao Teatro Lethes «Recordações de Itália». “Goethe refere-se à Música

de Câmara como uma conversa estimulante entre pessoas inteligentes, cuja audição podemos esperar sair enriquecidos. Ainda que a música seja uma linguagem universal, sempre existiu uma adequação aos diferentes públicos e a influências regionais. Assim, ALGARVE INFORMATIVO #278

podemos, na história da música, falar de escolas nacionalistas, que pelas suas características são atribuídas a determinada região. Neste ciclo seremos guiados por elementos da Orquestra Clássica do Sul numa viagem a cinco dos mais representativos destinos musicais”, adiantam a ACTA e a Orquestra Clássica do Sul. A 19 de fevereiro, pelas 21h, a Grafonola Voadora & Napoleão Mira apresentam o disco «Lugar Nenhum». O projeto de Napoleão Mira, Luís Galrito e João Espada procura criar, de um modo original, diferenciador e com um cariz declaradamente interdisciplinar, um diálogo permanente entre a imagem, a música, 66


e a palavra dita/cantada. Isto num percurso que (re)constrói uma geografia afetiva, simbólica, visual e musical de quadros audiovisuais referentes a lugares comuns do ser humano. “Viajando

visual e musicalmente por espaços urbanos, rurais, marítimos numa busca de ambientes naturais, e culturais ligados ao património material e imaterial de todos nós”, descrevem os artistas. O Festival Internacional de Música Barroca de Faro promove, no dia 21 de fevereiro, pelas 11h, «Sarau Musical no Final do Antigo Regime». Recorda a organização que a sociabilização nos contextos dos salões da burguesia de inícios do Séc. XIX em Portugal incluía um conjunto de atividades nas quais a Música desempenhava um papel preponderante. 67

Por isso, a sétima edição do Festival Internacional de Música Barroca de Faro apresenta alguma da música que se praticava nestes contextos, articulada por um texto semi-encenado que o tenor Mário Alves elaborou para o efeito. O espetáculo, com uma estrutura de diálogo entre dois cantores solistas e dois cravos, cruza o popular, o erudito, o patriótico, as tão apreciadas modinhas e a música instrumental. De 12 a 27 de março, a ACTA apresenta «A Noite de Molly Bloom», encenada por Luís Vicente e interpretada por Glória Fernandes e Bruno Martins. “No último capítulo

do Ulisses, de Joyce, o senhor Leopold Bloom, depois de deambular 20 horas por lugares ALGARVE INFORMATIVO #278


de Dublin, regressa a casa a fim de se deitar com a sua esposa. Deita-se e logo adormece. É durante o sono do senhor Bloom que a esposa, Molly, desvenda facetas da personalidade dele e da sua própria. É um solilóquio torrencial, fragmentado, com frases ligadas ininterruptamente por associações de pensamentos, sonhos e fantasias eróticas que assolam esta mulher durante a insónia”, conta Luís Vicente. Para comemorar o Dia Mundial do Teatro, assim instituído, em 1961, pela UNESCO, no dia 27 de março o Teatro Lethes volta a estar aberto para visitas guiadas. No dia seguinte, o V Festival Internacional de Guitarra de Faro apresenta, às 18h, o Duo Andaluz e Trio In Breve. A abertura do evento está então a cargo de um requintado duo de piano e guitarra, sendo que ambos os artistas contam com uma extensa carreira ALGARVE INFORMATIVO #278

artística que os levou a auditórios prestigiados em todo o mundo. Na segunda parte, o Trio In Breve oferece um programa em quatro partes (Clássica, Ópera, Jazz e Música para Cinema), apresentando temas já consagrados, pertencentes ao património musical coletivo. A 8 de abril, às 19h, regressam os «Concertos das Nações» inseridos no Ciclo Lethes Clássico, desta feita dedicados ao Modernismo Francês. Já no dia 10 de abril, às 21h30, o Teatro de Montemuro dá a conhecer «Futebol», cuja dramaturgia se desenha a partir do livro «A História Natural do Futebol», de Álvaro Magalhães, tendo o autor sido desafiado a escrever um texto teatral onde o lado ancestral e antropológico da relação do ser humano com uma bola se misture com o futebol dos nossos dias e questione os contrastes entre a beleza do jogo e a violência que o rodeia; as paixões 68


clubísticas que juntam classes, faixas etárias e gerações tão diferentes com a corrupção, o crime e a suspeição que desvirtua a característica essencial da relação primordial: o ser humano e uma bola.

caso, através da música ibérica”, explica a organização. O teatro regressa a 16 de abril, às 21h30, com «Falar Verdade a Mentir» do Teatro do Noroeste. “Num mundo (o

No dia 11 de abril, às 16h, Marta Menezes dá um recital de piano no Teatro Lethes, cujo ponto de partida foi a palavra «Eroica», sinónimo de heroísmo, grande coragem, alguém que enfrenta o perigo com valentia, que revela grandeza de espírito, força de carácter. “Uma

nosso) de fake news, perguntamos: Na vida, o que é a verdade? E no teatro? O teatro a fazer-se vida, será espaço de mentira? O ator para mentir, terá de ser verdadeiro? Haverá mentiras piedosas”, questiona o

escolha que celebra a coragem e força necessárias para lidar com situações inesperadas. Mas também uma escolha que denota esperança e que celebra o encontro com as nossas raízes mais próximas, neste

mentira para atingir os fins desejados: e ninguém fica

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encenador António Capelo, depois de pegar num texto original de Almeida Garrett. Em palco veremos, então, um confronto da mentira das personagens para a verdade dos atores. “Usa-se a

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impune! Usa-se a mentira, como hoje se abusa da mentira. Ela fez o seu caminho entre nós e com ela se atingem os fins mais obscuros na história da humanidade”, aponta o Teatro do Noroeste. De 20 a 22 de abril teremos teatro para a infância pelas mãos da Rituais Dell Arte, desta feita com «Peter Pan e a Ilha dos 3 Olhos». Na história, os manos Xande e Babuxa estão em risco de ser entregues para adoção, se os pais não regressarem após dois anos de ausência a trabalhar na ALGARVE INFORMATIVO #278

Índia. Muito tristes e já sem esperança, conhecem Peter Pan e a Fada Sininho, que os vão ajudar a descobrir uma forma de trazer os seus pais de volta. Partem assim numa aventura por mares e céus até uma ilha onde encontrarão o temível Capitão Gancho e o seu bando. Que segredos esconde a misteriosa ilha? Conseguirão os manos voltar a casa e trazer os pais de volta? Isso ficaremos a saber no Teatro Lethes. Nos dias 23 e 24 de abril, às 21h30, 70


decorre a sétima edição do Faro Blues – Festival Internacional de Blues de Faro, organizado pela Blues a Sul – Associação de Blues do Algarve, em articulação com a Câmara Municipal de Faro, a ACTA e o Teatro Lethes. O objetivo é divulgar este estilo musical e a sua cultura, apostandose cada vez mais numa programação de qualidade e apelando a públicos diversificados. E abril chega ao fim sob o mote da dança. Deste modo, no dia 29, pelas 19h, a Academia Ballet Encantado apresenta 71

«Viver a Dança, Dançar a Vida», uma viagem ao mundo imaginário infantil através do teatro musical da Disney e outros em coreografias divertidas e mágicas em que participam mini bailarinos dos 2 aos 9 anos. No dia 30, também às 19h, a professora Filipa Rodrigues convida alguns dos alunos de dança do Conservatório Regional do Algarve Maria Campina para o espetáculo «Ainda se pode dançar!», com temas variados, mas em que o foco das coreografias está na criação de momentos belos e emotivos, tendo ALGARVE INFORMATIVO #278


como fio condutor o vídeo e a palavra. Destaque ainda para a nova produção do VATe – Vamos Apanhar o Teatro, o serviço educativo da ACTA, que irá a cena de 25 a 31 de março. “Por entre o amontoado

de milhares de escritos de Fernando Pessoa apresentamos à criança pequenos recantos, pequenas frestas onde ela pode espreitar invenções, jogos e brincadeiras do poeta. Usamos os ritmos, as imagens, a palavra brincada das primeiras poesias, ainda criança, bem como das poesias feitas em adulto para crianças, e construímos um pequeno toque no labirinto ALGARVE INFORMATIVO #278

pessoano pela magia de bonecos e formas animadas, nascidos do próprio monte de papéis”, revela Jeannine Trévidic, coordenadora do VATe . P.S. A programação sofreu, entretanto, algumas alterações devido à entrada de Portugal no Estado de Emergência no dia 15 de janeiro. 72


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2021 COMEÇOU EM LOULÉ COM DOIS CONCERTOS DA ORQUESTRA CLÁSSICA DO SUL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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umprindo-se uma boa tradição do passado recente, o Cineteatro Louletano acolheu, nos dias 2 e 3 de janeiro, dois concertos de Ano Novo pela Orquestra Clássica do Sul, desta feita com o maestro convidado Vasco Pearce de Azevedo. A adesão do público, como de costume, foi entusiástica, sempre no cumprimento das normas de segurança ditadas pela Direção-Geral de Saúde, em duas belas manhãs culturais ao sabor das obras de W.A Mozart, F. Mendelssonhn, L.V. Beethoven, F. Schubert, J. Haydn, J. Brahms e J. Strauss. Do programa constaram, assim, a abertura «As Bodas de Fígaro» de W. Mozart, «Noturno do Sonho de uma noite de Verão» de F. Mendelssohn, a abertura «As Criaturas de Prometeus» de L. V. Beethoven, o 3.º andamento da Sinfonia N.º 4 «Italiana» de F. Mendelssohn, a abertura «Coriolano», Op. 62 de L.V. Beethoven, o III Entreacto de Rosamunde, D.797 de F. Schubert, o 3.º andamento (Minueto) da Sinfonia N.º 101 «O Relógio» de J. Haydn, a Dança Húngara N.º 5 de J. Brahms, «O Danúbio Azul» de J. Strauss, a Marcha Radetzky, Op.228 de J. Strauss e a Marcha Pompa e Circunstância Op. 39, N.º 1 de E. Elgar. ALGARVE INFORMATIVO #278

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OPINIÃO Demagogia feita à maneira é como queijo numa ratoeira! Paulo Cunha (Professor) Dão nas vistas em qualquer lugar Jogando com as palavras como ninguém Sabem como hão-de contornar As mais diretas perguntas Aproveitam todo o espaço Que lhes oferecem na rádio e nos jornais E falam com desembaraço Como se fossem formados em falar demais P’ra levar a água ao seu moinho Têm nas mãos uma lata descomunal Prometem muito pão e vinho Quando abre a caça eleitoral Desde que se veem no poleiro São atacados de amnésia total Desde o último até ao primeiro Vão-se curar em banquetes, numa social

empre que se descortinam eleições no horizonte, invariavelmente, vemme à memória uma canção composta em 1982 pelo saudoso Luís Pedro Fonseca e popularizada pela cantora/intérprete Lena d’Água. O ALGARVE INFORMATIVO #278

tempo passa, as gerações também e a letra certeira continua atual! A democracia surgiu em Atenas no século V (a. C.). Os atenienses, enquanto cidadãos, podiam expressar as suas ideias, participar em reuniões e candidatar-se a líderes da sua comunidade. Surgiram então alguns indivíduos com o desejo de alcançar o poder através de qualquer meio: os demagogos. Através dos seus dotes oratórios, facilmente seduziam o povo. Tal procedimento encantatório provocou a reação de alguns filósofos (especialmente Aristóteles e Platão), que se opuseram a essa forma de manipulação. Segundo Aristóteles, a democracia era uma forma válida de governar, mas que continha certos perigos, uma vez que os demagogos podiam usá-las para seu próprio benefício. Platão, ao comprovar que algumas pessoas se amparavam na democracia e enganavam o povo com falsas promessas e atitudes desonestas, considerou que a democracia poderia não ser um bom sistema de governo. 86


Volvidos cerca de dois mil e quinhentos anos, o pensamento do poeta, dramaturgo e jornalista austríaco Karl Kraus espelha e define uma forma de proceder e de estar, que se consolidou enquanto procedimento político ao longo dos séculos: “O segredo do demagogo é fazer-se passar por tão estúpido como a sua plateia, para que esta imagine ser tão esperta como ele”. Num sentido genérico, a demagogia pode ser qualquer tipo de técnica de discurso ou mesmo um estilo político que tem o objetivo de seduzir as pessoas. Um político demagogo pode apelar aos sentimentos, sensações e aspirações de um povo (geralmente os mais pobres), criando falsas informações 87

e promessas que não serão cumpridas. Por isso, as palavras demagogia e populismo encontram-se muitas vezes na mesma frase, porque ambas dizem respeito a alguém interesseiro, que, inevitavelmente, enganará os seus eleitores. Prezados leitores, desconfiai de quem usa as «conversas de café» como inspiração para a realização de programas eleitorais. Sendo a demagogia um conjunto de técnicas usadas na política, estejam atentos às várias formas de persuasão utilizadas pelos demagogos: hipocrisia, falácia, distração, bajulação, difamação, discurso vazio e mentira (promessas falsas). Porque quem vos avisa vosso amigo é! . ALGARVE INFORMATIVO #278


OPINIÃO A arte nos salva (ou pelo menos torna os nossos dias menos insanos) Mirian Tavares (Professora Universitária) “Pessoalmente, não estou longe de acreditar que a melancolia é o pecado maior”. Christian Bobin

ma amiga disse, sobre mim: és uma mistura de boazinha com burrinha, às vezes. E disse isso com todo o carinho. O que a preocupava era a minha enorme capacidade de acreditar nas pessoas, de acreditar nas boas intenções, na sua honestidade e sentido ético. De nada me valeu a sua admoestação – continuo essa mistura de boazinha e burrinha. E pago um preço alto por manter-me fiel a mim mesma. Porque, de outra forma, sentir-me-ia violentada, deixava de ser eu e ia cair num desgosto profundo. Lembrei-me disso porque recentemente bateram-me no carro e o perito considerou que a culpa era minha, não da criatura que me abalroou por trás e que assumiu, na hora, a culpa. Mas, burrinha como sou, às vezes, deixei-me levar pela sua conversa e não chamei a polícia. Assinamos a declaração amigável e ela, como uma pessoa sem ética que é, mudou seu depoimento e disse que ALGARVE INFORMATIVO #278

estávamos a fazer marcha atrás. Enfim, um imbróglio que não se vai resolver facilmente, mas que podia ter sido evitado se eu não fosse tão boazinha. Claro que isso anda a consumir-me um bocado e estava a mergulhar nesse sentimento de melancolia profunda quando começo a folhear dois belos livros que me chegaram pelo correio. «Um vestido curto de festa», de Christian Bobin, editada pela Barco Bêbado e «Oração», da Isabel Baraona, edição da autora. “Ela escreve como deve escrever: sem se preocupar com a escrita, com um cuidado extremo com o que nunca aparecerá na página branca, com aquilo que a mínima palavra espantaria: a vida, a vida completamente nua, a vida sem frase, a vida como duas crianças pequenas, a alegria e a dor, apertadas uma contra a outra na mesma cama”. Leio Bobin, Uma História que ninguém queria, e sou esta mulher que escreve uma longa carta a Rilke. Cujo “sofrimento passou na dádiva do livro”. Ou da escrita constante de um livro que nunca se realiza, porque está a 88


Foto: Victor Azevedo

acontecer todos os dias. E deixo-me enlevar pela Oração de Isabel Baraona, uma artista das imagens e das palavras convertidas em imagens, nos seus maravilhosos livros, que me chegam pelo correio. Como os postais. “nós, em devir, oramos todos os dias por um quinhão de alegria”. Oramos todos os dias pela alegria que deve suplantar o desejo obscuro, que nos habita, de optar pela melancolia. De nos deixarmos abater pela mesquinhez da vida que, muitas vezes, nos passa uma grande rasteira e vamos ao tapete. “nós, em devir, as eleitas, mas não as mais jovens. 89

amantes, mas não as mais belas. (…). salvas pelo impercetível fio da (in)sensatez, suspensas em nós”. Nós, em devir, oramos pelas nossas imperfeições, que nos compõem, que fazem tão parte de nós quanto os momentos brilhantes, em que nos sentimos fulgurar sob o sol. Oramos para aguentar o inverno, que às vezes assola a alma, que às vezes penetra tão fundo que dele não nos podemos esconder, e nada nos aquece. E a arte, ah! A arte penetra pelas frinchas da pele e chega bem dentro de nós. E lá, instalada, acende uma fogueira . ALGARVE INFORMATIVO #278


OPINIÃO Décima tabuinha - Lume Ana Isabel Soares (Professora Universitária) Inverno pede um abafo, um casaquinho de pôr e tirar. Nos montes, as casas fumegam – não só as chaminés, mas cada telha vai deixando sair o bafo que junta o calor do lume da lareira, do lume do fogão, das brasas de alguma braseira e da respiração da gente que se atarefa em aproveitar a curteza do dia e fugir à rijeza lá de fora. Quando sai alguém da casa, barrete forrado, casacão fechado por cima do casaquinho e de uma ou outra casaqueta, vai esfregando as mãos uma na outra e maldizendo a inexistência de abafos para o nariz. Os olhos lacrimejam da força do frio, mas a saída é rápida: vai-se buscar mais uns troncos de lenha, uns tanganhos para ajudar a labareda, aproveita-se para lançar um olhar para o lado da cidade, onde igualmente tudo fumega. O movimento na estrada é que não cessa, cada vez mais gente roda de um lado para o outro, pergunta-se uma pessoa para fazer o quê.

deslocaram, metros poucos, cabeças baixas, preocupadas no mundo só em achar a suave lâmina verde. Alguma erva mais encostada aos torrões de terra tem ainda o sabor do orvalho.

A meio da manhã, um rebanho de ovelhas pinta a paisagem, na procura lenta da ervinha que houver: quase não se movem, lãzudas e moles; mas, se se descuida quem está a olhar, já se

Vista a largueza da paisagem, do monte para o monte vizinho, do monte para a estrada, do monte para a cidade (e avistada a serra longínqua, no ar que o frio limpa), regressa-se para dentro da

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Adiante, dentro de uma cerca, andas as galinhas, dolentes. Custam a ter ovos, nestes dias frios – e é rouco o canto do galo, atrasado nas horas, desencontrado do sol que as nuvens cobriram. Os patos mudos invejam o cacarejar das galinhas, mas não as imitam. Desanda um ou outro ganso, assustando as aves menores porque abre as asas, a querer dizer que manda ali. Os outros bichos ficam indiferentes ao grasnar: nem os cães, a quem mais incomoda a pequenez de pulga que infinitamente coçam, se torcem para os ver. Só os perus se juntam à melodia rude dos gansos, e a pontuam com a voz profunda das gargantas. São dos mais pasmados animais: tudo o que se passa nos metros em volta os surpreende e manifestam a surpresa com a agitação dos absurdos apêndices da cabeça e dos pescoços. Estranhos bichos.

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Foto: Vasco Célio

casa e leva-se o resto do dia no sossego e na preparação do comer. É ao fim do dia que soa o telefone: a malta mais nova, os que trabalham nas cidades, que querem saber dos mais velhos. “Como passaram hoje?”. “Olha, não teve dúvida. Mas esta tarde esteve mais fresquinho...”. “Agasalhem-se, agasalhem-se. Então e o jantar, o que é que jantaram hoje?”. “Olha, a tua tia para aqui me fez um arrozinho de 91

ortigões ali do quintal, bem feito”. “Só o arroz? Mas isso é pouco, tio”. “Com bifinhos de peru, então. Vê lá que foram matar o peru porque ele andava a dar cabo dos ortigões, e agora fazem o arroz com os ortigões que não deixaram o bicho comer. Só a gente é que pode”. A conversa fecha com risadas: as risadas duram, suspensas, para lá do fim do telefonema: adubam a alegria, sopram a chama do lume, aquecem mais ainda do que o fogo . ALGARVE INFORMATIVO #278


OPINIÃO Notas Contemporâneas [9] Adília César (Escritora) Bem sei, meu Deus, que nem todas as crianças podem nascer sobre as palhas de um curral, entre a vaquinha e o burrinho, com uma grande estrela espreitando, deslumbrada, através das vigas rotas do telhado! Muitas crianças têm necessariamente de nascer num quarto aconchegado, bem tapetado, onde as fraldinhas finas aquecem diante de um lume alegre, e a gorda ama espera, risonhamente desabotoada, sustentando o peito enorme, túmida promessa de todas abundâncias. Outras mesmo, e numerosas, são forçadas a encetar a vida com tradicional sumptuosidade, logo lavadas em velhas e pesadas bacias de prata, deitadinhas logo, sob preciosas rendas, em berços do mais rico lavor que uma alfaia de altar… Assim o determina a lei imutável e rígida das desigualdades humanas. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma)

OVO ano, nova vida. Ou então, não. É o primeiro dia do ano, mas afinal já é tarde. Exaustas as nuvens, as fontes, as pessoas importantes coroadas de angústia. E depois os outros, os anónimos. O corpo é, porventura, corruptível. Transporta em si mesmo, sem orgulho, as facas, as balas, os venenos. E a cura? * A NOITE acordou e não sabia onde estava. Talvez depois de ontem e antes de amanhã. Ela diz. Não sei onde estou. Ela pensa. Este silêncio eterno. A noite acordou-me e eu não sabia onde estava. ALGARVE INFORMATIVO #278

Acordo exactamente agora e abro os olhos ao tempo. Paraondefoiotempo? O que é a eternidade? Não sei o nome destes olhos abertos. Os meus olhos abertos, os olhos de Deus. O nome do tempo que é um instante supremo de luz. O nome da luz da utopia que embala o instante puro. * O INSTANTE que cai entre ontem e amanhã não faz parte do idioma que sei falar. É uma outra palavra que significa berço, cofre, ninho, purificação. Mas não tenho mãos para o agarrar. Guardo para sempre esse instante supremo de luz que ilumina eternamente o primeiro Menino e a sua Mãe. Virgem é a Luz, o Instante, a Pureza, a Mãe, o Menino. O Menino está nu, vestido de luz. Eu sou outra vez 92


virgem e estou com Ele. E nasce um tempo sempre novo enquanto os meus olhos nunca se fecharem. Repito o mantra continuamente: e nasce um tempo sempre novo enquanto os meus olhos nunca se fecharem. * NUNCA, é depois de ontem e antes de amanhã. Nunca, é para sempre. Um lugar velho para um tempo novo. E porque o Menino se fez Homem, morreu muitas vezes até à eternidade, até não haver mais instantes supremos de luz. Uma coisa que faz apenas algum barulho e depois desaparece, como uma mediação estética num filme que ninguém quer ver. Há muitas coisas no mundo que estão no lugar errado e eu não sei como tirá-las de lá. Ninguém as quer ver. * NÃO consigo sair desta compreensão e encosto a minha cabeça alienada ao colo da Mãe. O espanto da morte revisita este quadro na Catedral do Tempo. O Menino nasce e o Homem morre, nunca se esbatendo a atracção e a intocabilidade na narrativa do milagre. Dorme meu Menino, que a noite não se vai embora. Já não importa o que aconteceu às pessoas adoradoras, mas sim o vazio das suas vidas, os constantes estados de pânico por não conseguirem sair dos seus infernos. 93

* O CÉU, parecendo, não é sempre o mesmo céu. Tudo muda, tudo muda. Ergue-se corajoso de encontro à sombra das noites porque sabe que é o céu onde todos os anos de todos os séculos o Menino nasce e dorme ao colo de sua Mãe. Aquele menino, o primeiro, guardado na casa de vidro do jardim, outra vez intocável, mas admirado por todos. Silent Night. O céu silencioso dos nossos infernos. As hipóteses utópicas da existência não visam a mudança, mas a redenção. O que esperar de um céu que já não brilha no escuro? Perdoa-me, porque eu não sei o que digo . ALGARVE INFORMATIVO #278


OPINIÃO Dicas para vender online com sucesso Fábio Jesuíno (Empresário) ender online tornou-se importantíssimo no momento desafiante em que vivemos, uma oportunidade para muitos negócios se expandirem e chegarem a mais clientes.

A segunda forma é através do aluguer de uma loja online já desenvolvida. Estas lojas têm um custo mensal normalmente baixo, mas algumas limitações em termos de personalização (exemplos: Shopk.it, wix.com eweasy.io).

Tenho constatado muitas dificuldades nesta matéria, principalmente em pequenas marcas, que, devido aos recursos mais limitados, tornam todo o processo mais desafiante.

Por último, uma loja online própria, a forma mais profissional que permite uma experiência de venda única e totalmente personalizada tendo em conta a sua marca. Esta solução apresenta custos mais elevados, mas possibilita uma melhor visibilidade dos produtos e da marca.

Com base nas dúvidas que tenho recebido nos últimos meses, reuni algumas dicas para as marcas venderem online com sucesso.

Sistemas de shopping no Instagram e Facebook

Melhor forma de vender online Escolher a melhor forma de vender online é fundamental para o sucesso, por esse motivo é necessário ter muita atenção nesta etapa. Destaco três forma de vender online. A primeira é utilizar um marketplace, as plataformas que reúnem várias lojas num só local e que cobram uma percentagem por cada venda (exemplos: Etsy, Farfetch e Dott). ALGARVE INFORMATIVO #278

São as duas principais redes sociais usadas pelas marcas para comunicarem online, que podem ser usadas como extensão das lojas online através da integração com os seus sistemas de shopping, permitindo que identifiquem os seus produtos em fotografias e conteúdos publicados. Estas integrações são efetuadas através da criação de catálogos do gestor de negócios do Facebook. No 94


futuro, estas funções vão incluir o Whatsapp e Messenger, possibilitando ao cliente entrar em contato com a marca para fazer perguntas, acompanhar o pedido e conseguir algum tipo de suporte de uma forma simples e rápida. Os melhores métodos de pagamento Quando se compra online, os métodos de pagamento são decisivos, tornando toda a experiência de aquisição de um produto mais simples e agradável. Num mundo global e conectado, onde podemos comprar tudo à distância de um clique sem sair do conforto do sofá, as formas de pagamentos ganham destaque pela segurança, variedade e abrangência. É preciso ter em conta os métodos mais usado pelos clientes, para decidirmos os que utilizar. No mundo, os principais métodos de pagamento das lojas online são o PayPal e o Alipay. Em Portugal, o principal método de pagamento utilizado é o PayPal, seguindo-se o Multibanco e os cartões de crédito virtuais. Na minha opinião, todas as lojas online em Portugal devem ter o PayPal, Multibanco 95

e MBway, este último é dos que mais cresce no nosso país. Estas são as três principais dicas para ajudar as marcas a vender online com sucesso, independentemente do tamanho e dos valores de investimento. Nunca podemos esquecer que, em momentos de crise, surgem novas oportunidades . ALGARVE INFORMATIVO #278


OPINIÃO 2021, Ano de mudança? João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) omeçamos 2021 com uma certeza: vai ser um ano difícil, exigente e de lenta recuperação, tanto económica como social. A actividade turística está parada e avizinham-se tempos dramáticos (ainda mais) para muitas empresas do sector e, naturalmente, para os profissionais da área. A esperança recaí na vacinação. Contudo, esta ainda levará muitos meses até que se atinjam os níveis de imunidade comunitária mínimos para que as pessoas sintam confiança e segurança em voltar a viajar. Não podemos, no entanto, perder a esperança nem ficar de braços cruzados. Há muito a fazer. Uma nova «normalidade» irá preencher o vazio que hoje sentimos. Uma normalidade que, desejavelmente, será mais resiliente e sustentável. Mas, estaremos a prepararnos para essa nova realidade? O início do ano começa também com o Turismo de Portugal a colocar em discussão pública o Plano Turismo + Sustentável 20-23 (a decorrer até dia 26 de Janeiro). Um documento estratégico segundo o qual se procura tornar o país, e cito: “...um dos destinos turísticos mais competitivos, seguros e sustentáveis do ALGARVE INFORMATIVO #278

mundo através de um desenvolvimento económico, social e ambiental em todo o território”. Consulta do plano: http://business.turismodeportugal.pt/Sit eCollectionDocuments/sustentabilidade/ plano-turismo-mais-sustentavel-20-23pt.pdf É um documento claramente importante e útil. Porém, muitas dúvidas surgem ao lermos o mesmo: como vai ser implementado? Quem irá efectivamente agir no sentido de ver os seus objectivos cumpridos? Com que meios? A lista de acções é imensa. E os recursos humanos e financeiros, nomeadamente das entidades regionais de turismo, são escassos. Mas o plano esquece, quase por completo, temas estruturantes como o património cultural, a paisagem ou a biodiversidade. Eixos estes fundamentais para a manutenção de um território vivo, ao qual não se pode desassociar a actividade humana. Como deve então o «Turismo Sustentável» actuar nesses sectores? Com que medidas e indicadores? Sabemos que este plano surge num momento particular, devido não só ao facto de existir uma maior consciencialização e pressão ambiental 96


geral global - muito impulsionada por uma forte preocupação face aos fenómenos das alterações climáticas –, mas também porque existe um Pacto Ecológico Europeu que irá obrigar a mudanças no paradigma de desenvolvimento dos estados-membros. Estaremos conscientes e preparados? Gostaria de acreditar que sim, mas as interrogações são muitas. Veja-se, a título de exemplo, a recente designação de 2021 como o Ano Europeu do Transporte Ferroviário e como Lisboa 97

está fora da rede de ligações internacionais. O Algarve então… Sejamos ambiciosos, exigentes e persistentes. O momento é agora. Os passos que agora se derem no sentido da tal desejada sustentabilidade, irão moldar o futuro próximo. E esse já tem uma visão definida: mais verde, mais resiliente, mais harmonioso, mais equilibrado. O futuro joga-se agora. Aproveitemos o momento .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #278

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