ALGARVE INFORMATIVO #28
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A guitarra portuguesa ganha vida nas mãos de
Ricardo Martins
E AGORA SENHORES DEPUTADOS?… ALGARVE JOÃO LOURENÇO - Uma estrela ascendente noINFORMATIVO Enduro #28 1
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E AGORA SENHORES DEPUTADOS?
JOÃO LOURENÇO
ATUALIDADE
16 RICARDO MARTINS
Algarve Informativo #28 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Foto de capa: Daniel Pina Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930 As notícias que marcam o Algarve em algarveinformativo.blogspot.pt
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OPINIÃO
UM PARAÍSO PARA OS ESTRANGEIROS, NEM TANTO PARA OS PORTUGUESES… DANIEL PINA Editor/Jornalista
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era tudo maravilhoso para quem investisse no ramo imobiliário, que até estava a atravessar uma grave crise, sem grandes preocupações em saber qual a origem desses capitais. Dá cá o cheque, toma lá a autorização de residência, o carimbo no passaporte, mais um bocadinho e tornas-te português. O negócio entretanto deu na confusão que se sabe e a nova moda agora é o regime fiscal dos residentes não habituais, mediante o qual Portugal é um verdadeiro paraíso para se instalar a residência fiscal e poupar nos impostos. Ou seja, pelo que percebi, se um cidadão estrangeiro decidir ter a sua residência fiscal neste belo jardim à beira-mar plantado, não paga impostos sobre sucessões ou doações, não tem impostos sobre a riqueza, não paga IRC sobre dividendos e mais-valias com a venda de participações sociais, para além do tal regime de vistos gold, agora não tanto virado para os chineses, mas a piscar o olho a franceses, belgas, ingleses, suíços, escandinavos, holandeses, até brasileiros. Cidadãos com um poder de compra bem superior à média nacional e que ainda vem usufruir do nosso clima, da segurança, da qualidade da generalidade dos serviços, públicos ou privados. Pelos vistos, cada vez se inventam mais impostos e taxas para os portugueses pagarem, cada vez se cortam mais nos seus direitos adquiridos e no acesso à educação e saúde gratuitas, cada vez há mais emprego precário e diz-se aos jovens qualificados para tentarem a sua sorte no estrangeiro. No entanto, para os estrangeiros todas as benesses são poucas, quando já todos mais ou menos percebemos que a maior parte deles, assim que terminam os benefícios e isenções a que tiveram direito ou quando já esgotaram os recursos naturais que estavam a explorar, arrumam as malas e partem para outro país. Ou então partem, regressam com outra designação social e fiscal, e aproveitam mais um ciclo de incentivos e benefícios. Já os portugueses, que remédio, têm que se fazer à vida e tentar ter sucesso além-fronteiras para depois obterem, finalmente, algum reconhecimento dos seus conterrâneos .
que vem de fora é melhor do que o nosso» é uma daquelas máximas com que, infelizmente, já nos habituamos a conviver no dia-a-dia. É por isso que consumimos mais música e cinema internacional do que nacional, é por isso que os clubes de futebol preferem comprar jogadores sul-americanos ou africanos do que apostar nos jovens da formação, é por isso que damos primazia a inúmeros produtos vindos de outros países e ignoramos os produzidos dentro das nossas fronteiras e por ai adiante. Depois, vemos os nossos artistas a terem sucesso no resto do mundo, mesmo em locais onde a sua música não tem qualquer tradição. Vemos os nossos atores serem escolhidos para séries da televisão norteamericana, vemos os nossos realizadores serem premiados em concursos internacionais, vemos os nossos estilistas brilharem nas passerelles das capitais mundiais da moda. Depois, face a tamanho êxito internacional, lá decidimos dar-lhes uma segunda oportunidade, experimentar, dar o nosso aval, como se parecesse mal toda a gente gostar menos nós. Diga-se, contudo, que a culpa nem sempre é do cidadão comum, já que os nossos governantes teimam em dar mil e um benefícios aos produtos e empresários estrangeiros, ao mesmo tempo que fecham a porta à iniciativa nacional, por muito que apelem ao empreendedorismo dos portugueses. São isenções fiscais, impostos mais baixos e incentivos de mil e um feitios com a desculpa de que é necessário cativar o investimento estrangeiro, sem perceberam que, desse modo, estão a cortar as pernas ao que é feito pelos nossos. E essa política de atrair capitais estrangeiros cada vez encontra mais formas de se materializar no terreno. Veja-se os incentivos fiscais às lojas de produtos chineses, que aproveitavam ao máximo o que o governo português lhes dava de mão-beijada, enviavam para o seu país todos os rendimentos gerados e, quando a torneira se fechava, regressavam a casa. Duvido que na China houvesse iguais benesses para os empresários portugueses que lá desejassem montar negócio. Depois, foi a mania dos vistos gold,
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E AGORA SENHORES DEPUTADOS?... Depois de quatro anos de constantes queixas contra a austeridade ditada pela presença da troika em Portugal e contra os cortes cegos em praticamente todos os setores de atividade, sempre de dedo apontado à coligação de direita que estava no poder, os portugueses foram a votos, no dia 4 de outubro, mas não mostraram o cartão vermelho ao executivo liderado por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, antes sim um cartão amarelo em jeito de segunda oportunidade. Apurados os resultados eleitorais finais, não houve maioria absoluta para ninguém e gerou-se um imbróglio difícil de resolver, não se sabendo ainda se o partido que teve mais votos vai governar o país ou se iremos assistir a uma aliança de toda a esquerda para conduzir Portugal nos próximos quatro anos. Reportagem: Daniel Pina
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epois de ter estado muito ativo nos últimos quatro anos, sendo um dos autores da Lei de Bases do Mar e intervindo bastante nas áreas das Finanças Públicas, do Ambiente e dos Animais, onde também foi o autor da Lei de Criminalização dos Maus Tratos e Abandono de Animais, Cristóvão Norte, 39 anos, licenciado em Direito e Economia, voltou a ser eleito deputado da Assembleia da República pelas listas do «Portugal à Frente» no Algarve, numa vitória da coligação de direita que muitos consideravam improvável face ao clima generalizado de contestação. “O governo foi compelido a materializar um programa de austeridade que criou grandes dificuldades e, ao produzir um reajustamento estrutural do país, também aprofundou uma fase de recessão que já vinha a ser sentida anteriormente. Apesar disso, os portugueses tiveram capacidade para discernir as razões que presidiam à aplicação desse programa, ou seja, os desequilíbrios que se vinham a arrastar, em particular do período de 2009 a 2011, mas que também já vinham, em abono da verdade, detrás”, analisa o algarvio. Uma vitória que se deveu, no entender de Cristóvão Norte, igualmente à diminuição do desemprego, à restauração da credibilidade do país a nível externo, à revitalização da economia nacional, que já cresce, ainda que de forma tímida. “Face a este conjunto de indícios, os portugueses
Cristóvão Norte, PSD preferiram a segurança, em detrimento do risco”, considera o entrevistado, garantindo que a coligação de direita sempre esteve convicta do triunfo nas Legislativa de 4 de outubro. “As sondagens demonstravam precisamente uma inversão nas intenções de voto dos portugueses, pelo que estávamos serenos e tranquilos em relação aos resultados. Contudo, até 2014, quando as políticas ainda não tinham começado a dar os seus frutos, é natural que houvesse mais incertezas e um maior grau de desgaste do governo”, reconhece. “Mas não nos podemos esquecer da questão central: Portugal estava numa situação de bancarrota, dramática do ponto de vista económico e social. No entanto, conseguimos cumprir um programa que, embora fosse severo, era a única alternativa credível para recuperar os índices de confiança, para relançar a economia e para restaurar a credibilidade do país”. Cristóvão Norte enfatiza aspetos fundamentais como o equilíbrio das contas públicas e 9
a alteração do padrão da economia portuguesa, que ainda não está consolidada, mas Portugal está a virar-se mais para os seus recursos próprios, para aquilo que sabe fazer, em áreas estratégicas como a agricultura e o mar. Nesse sentido, o deputado do PSD/Algarve não quer perder muito tempo a analisar os motivos pelos quais o PS perdeu as eleições, optando por salientar as razões pelas quais os eleitores renovaram a confiança na coligação de direita. “Em 2011, estávamos na bancarrota e desgovernados, hoje, temos rumo, as projeções são favoráveis e os portugueses sentem, em larga medida, que os esforços não foram em vão. Temos um caminho, solidez e confiança e isso deitou por terra o discurso apocalíptico que o PS abraçou desde 2011. O PS quis ganhar as eleições de 2015 com o discurso de 2013 e os portugueses souberam fazer essa distinção”, destaca Cristóvão Norte. DO OUTRO LADO DA BARRICADA, António Eusébio,
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REPORTAGEM formação, entendendo que a entrada da troika em Portugal se deveu, sobretudo, ao chumbo do PEC4 pelo PSD/CDS, CDU e BE. “Originaram uma descredibilização da economia portuguesa, o aumento dos juros e o endividamento de Portugal em mais 33 mil milhões em apenas quatro anos. Depois, a saída da troika deve-se, acima de tudo, à injeção de capital pelo Banco Central Europeu de 60 mil milhões de euros por mês e que se vai prolongar até ao final de 2016. Isto permitiu que a economia europeia respira-se e que os juros baixassem significativamente, de maneira que os países que tinham recorrido à troika puderam trocar os seus empréstimos por outros mais vantajosos”. De acordo com o entrevistado, esta Nunca tantos partidos tinham ido a votos mensagem não foi muito bem elaborada por devidamente transmitida à parte da coligação, em que população portuguesa, mas grande parte da comunicação António Eusébio admite que o social e dos outros partidos à PS esteve demasiado tempo esquerda se juntaram numa afastado do combate político e batalha enorme contra o PS. As que também foram cometidos pessoas continuaram a deixaralguns erros durante a se enganar pela coligação, a campanha eleitoral, para além acreditar que o único culpado do empolar de certos casos da crise do passado foi o PS e políticos que não permitiram que este governo, com uma que se falasse das questões gestão responsável, conseguiu essenciais dos programas resolver os problemas do país, partidários. “Houve uma quando isso não é verdade”, semana fatídica em que o refere o engenheiro de António Costa regressou de 51 anos, presidente do PS/Algarve, confessa que chegou a pensar numa vitória com esmagadora maioria do maior partido da oposição, um sentimento que se foi alterando durante o Verão, altura sempre difícil para quem não está no governo, na sua opinião. “Foram meses de propaganda
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férias e, num dia, foi o problema dos outdoors, no outro, foi a questão do candidato à Assembleia da República, depois foi a discussão do documento elaborado pelo Mário Centeno. Estou convencido que, se as eleições tivessem acontecido antes do Verão, o resultado teria sido diferente, mas a máquina da coligação trabalhou de tal maneira que conseguiu inverter o pensamento dos portugueses que, por falta de informação, desconhecimento da política séria que o governo precisa, das medidas de cada partido, acabaram por ter medo e dar uma segunda oportunidade a quem estava no poder”, analisa o agora deputado da Assembleia da República. António Eusébio lamenta igualmente que os portugueses se tenham deixado levar pelo anúncio diário de novas medidas e números positivos pelo governo de direita nas semanas que antecederam as eleições. “Esta conversa do ‘antigamente não fui capaz, mas agora já sou’ iludiu as pessoas. Naturalmente que a economia europeia está melhor e que algumas medidas podem ser implementadas, mas nunca explicaram como é que essas despesas iriam ser pagas. Convém realçar que o endividamento de Portugal só é possível pagar-se de uma forma mais ligeira pela renegociação da dívida e do abaixamento dos juros, caso as condições se mantivessem, estaríamos muito piores do que em 2011. E vamos ver como é que fica esta questão
REPORTAGEM Assembleia da República como da venda do Novo Banco”, cabeça de lista pela alerta o socialista. CDU/Algarve e chama a Ora, como é costume, depois da derrota apareceram as vozes atenção, logo em início de conversa, que a coligação de da contestação, que culpam direita perdeu 700 mil votos no António Costa pela derrota nas passado dia 4 de outubro, Legislativas por não se ter diminuiu a sua percentagem em conseguido distanciar da polémica em torno de José Sócrates, por ter defendido, em determinada altura, as políticas do primeiroministro grego Alexis Tsipras e por outros alegados «tiros nos pés», situações que podiam ter sido melhor explicadas, defende António Eusébio, dando o exemplo concreto da aprovação ou não do Orçamento de Estado pelo PS. “O António Costa disse na entrevista que não aprovava o Orçamento de Estado António Eusébio, PS porque estavam em 12 por cento e ficou com menos cima da mesa o corte de 600 25 deputados. “Isto só pode ser milhões de euros às pensões, considerado uma derrota, mais despedimentos, mais depois de PSD e CDS terem austeridade, mais política de alcançado uma maioria empobrecimento do país. O absoluta em 2011. É um que passou para a opinião resultado que reflete a pública foi apenas a primeira condenação dos portugueses metade da frase, o dizer que desta política de não aprovava o Orçamento de empobrecimento, de Estado. O certo é que exploração, de ruína nacional. conseguiram, com mentiras ou A coligação foi a mais votada inverdades, descredibilizar nas eleições, mas com perdas passo a passo o PS, que tinha significativas”, destaca, um programa muito melhor acrescentando que o PSD/CDS para Portugal”. só será governo se tal for viabilizado pelas outras forças PAULO SÁ, 50 ANOS, natural políticos. “O PS só não será de Guimarães mas a residir no governo se não o quiser, Algarve há mais de duas porque a CDU, e o BE de certa décadas, doutorado em Física, foi eleito para novo mandato na forma, já informaram que 11
viabilizariam um governo socialista desde que seguisse uma linha de rutura com as políticas de direita e resolvesse alguns problemas, nomeadamente a reposição dos salários e das pensões, a redução da carga fiscal sobre os
trabalhadores e a melhoria da segurança social”. ESTREANTE NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA vai ser João Vasconcelos, 59 anos, licenciado em História e com Mestrado em História Contemporânea, eleito nas listas do Bloco de Esquerda pelo Circulo Eleitoral de Faro, para quem a vitória da coligação de direita foi um paradoxo face a quatro anos de intensa austeridade. “Foi um mandato marcado por um ataque muito forte e violento aos setores sociais do Estado e à Função Pública, com encerramento de múltiplos serviços mas, nos últimos tempos, assistiu-se a
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REPORTAGEM uma grande manipulação de dados e de números – basta olhar para as estatísticas do desemprego – a par de chantagem e de um clima de medo, à presença continua na comunicação social, nomeadamente nas televisões, dos partidos de governo, e isso condicionou o voto dos
António Costa nunca poderia ter esta posição”. Apesar do triunfo nas urnas de PSD/CDS, João Vasconcelos lembra que, na Assembleia da República, estará uma maioria de deputados de esquerda e a líder do BE, Catarina Martins, já deixou claro que não irá viabilizar um governo de direita.
Paulo Sá, CDU portugueses”, indica o professor de História, para quem a grande desilusão destas eleições foi mesmo o Partido Socialista, relembrando uma reunião da Comissão de Utentes da Via do Infante com António Costa. “Não se quis comprometer com nada, disse apenas que iria analisar o contrato, quando toda a gente sabe que é uma PPP muito ruinosa para o país. Um candidato a primeiro-ministro com a responsabilidade do
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“Tudo depende do PS, mas há condições para se constituir um governo de esquerda de combate efetivo à austeridade”, sublinha o portimonense, fazendo mais uns reparos à prestação do líder do principal partido da oposição. “António Costa deixou por esclarecer muitas coisas, a sua posição sobre o congelamento das pensões, o desemprego, o tratado orçamental, as portagens. Como se sabe, no anterior 12
governo socialista, os trabalhadores também foram alvo de ataques violentíssimos, sobretudo os professores. Foram de tal maneira decapitados que, desta vez, nem tiveram capacidade de resposta, muitos reformaramse antecipadamente, desiludidos com os governantes”. Convém lembrar que o Bloco de Esquerda veio de um período menos bom na sua existência, com a mudança de líder e a saída de alguns dos seus principais nomes, que entretanto fundaram outros movimentos de cidadãos, mas, apesar disso, tornou-se a terceira força partidária mais votada em Portugal, retirando a CDU do pódio. “Notamos uma forte onda de simpatia em torno do BE, independentemente de um conjunto de situações menos boas que aconteceram no passado. A nossa porta-voz nacional teve um bom desempenho e as nossas propostas são muito claras, frontais e determinadas. Os nossos candidatos também eram pessoas com experiência, por isso, acreditávamos que o BE iria reforçar o seu grupo parlamentar”, aponta João Vasconcelos.
Que governo vamos ter? O objetivo da maioria absoluta não foi alcançado pela coligação de direita PAF, o Bloco de Esquerda já avisou que não vai dar o seu aval a um governo PSD/CDS, o Partido Comunista Português já piscou
REPORTAGEM o olho a um eventual acordo com o Partido Socialista, o Secretário-Geral do PS, António Costa, parece não estar muito virado para um entendimento com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, apesar dos apelos do Presidente da República, portanto, permanece a incerteza de quem vai liderar Portugal nos próximos quatro anos, em que moldes o vai fazer e se não teremos eleições antecipadas antes de 2019. Perguntas a que Cristóvão Norte não consegue responder neste momento, mas lembra que Portugal não tem tradição de governos de maioria relativa conseguirem cumprir as suas legislaturas. “Temos o caso excecional que aconteceu entre 1995 e 1999 e isso verificou-se porque havia compromissos de natureza orçamental que tinham a ver com a adesão ao Euro. Havia um imperativo de estabilidade política que era necessário observar e isso fez com que o maior partido da oposição, que na altura era o PSD, viabilizasse todos os orçamentos. Não sei se, hoje, existem essas mesmas condições”. De qualquer modo, Cristóvão Norte lembra que o eleitorado foi claro e que, apesar da coligação de direita não ter maioria absoluta, foi o PSD/CDS que ganhou as eleições e que a sua visão, em diversas matérias importantes para o futuro do país, é coincidente com a do PS, designadamente no que diz respeito à moeda única, à União Europeia e à economia de mercado. “Assim sendo, julgo que se impõe a estes dois principais blocos terem a dimensão política e a
João Vasconcelos, BE envergadura de não fazerem oposição aos interesses de Portugal. Para isso, têm todos que se entender, porque os portugueses não querem ter eleições todos os dias. Os partidos têm a obrigação de assegurar a estabilidade, portanto, façam os compromissos que tiverem que fazer”, frisa, deixando um aviso sério à navegação. “Quem o eleitorado entender que toma uma posição ou iniciativa sem ponderar o interesse do país e, desse modo, precipite uma crise política, vai pagar depois nas urnas, seja a coligação ou o PS. Têm que haver condições de governabilidade porque há um programa para cumprir”. Provocar uma crise política é algo que não está na mente de António Eusébio, mas o presidente do PS/Algarve não poupa críticas ao Presidente da República por ter convocado 13
uma conferência de imprensa a apelar ao entendimento entre os dois maiores partidos do país, quando se sabia que, duas ou três horas depois, o PS ia estar precisamente reunido para analisar os resultados eleitorais. “É uma vergonha, uma ditadura política, vir anunciar que delegou em Passos Coelho para que conseguisse formar um governo estável e de maioria com o PS, colocando condições em cima da mesa como a NATO, a União Europeia e outras questões que foram, naturalmente, recados para os partidos da oposição. Esteve muito mal ao ter feito um anúncio dessa natureza sem ter ouvido antes disso todos os partidos”, acusa, considerando que esse ato foi um género de «passar a batata quente» para António Costa.
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REPORTAGEM António Eusébio também não compreende como é que o BE e a CDU, que vincaram, durante a campanha eleitoral, uma ideologia de base completamente distinta do PS e do PSD/CDS, defendendo a saída do Euro e da NATO, depois venham mostrar disponibilidade para formar governo ao lado do PS. “O nosso Secretário-Geral vai ter que ouvir todos os partidos e tomar uma decisão nos próximos dias, porque o PS é um partido com grande responsabilidade e creio que vai colocar, acima de tudo, os interesses de Portugal”, antevê o antigo presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel. Face aos resultados eleitorais,
Assembleia da República, dando-lhe o seu apoio, ou se quererá ele próprio formar governo, contando com o apoio do PCP, e creio também que do BE”, aponta Paulo Sá, para quem o pior que pode acontecer a Portugal é continuar a ser liderado pela direita. “Não pode persistir esta liquidação dos direitos laborais e sociais, o confisco dos rendimentos e a destruição do estado social e o PCP tem vindo a dar os passos necessários para que hajam outras soluções governativas que quebrem esta continuidade da política de direita. Não estamos condenados a ter um governo PSD/CDS e o objetivo do PCP é ter um novo rumo para o
Paulo Sá concorda que há agora que chegar a consensos e acordos e PS e PCP já estiveram reunidos, mas continuam as dúvidas de que governo teremos. “O PS tem que decidir se quer viabilizar um governo PSD/CDS em minoria na
país”. Eleições antecipadas é algo que João Vasconcelos, do Bloco de Esquerda, também não deseja e volta a enfatizar que a maioria dos portugueses votaram contra as políticas de austeridade, tanto em número
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de votos como de deputados. “Há outras soluções alternativas e, para mim, estabilidade é as pessoas terem uma vida digna, emprego, pão na mesa, terem acesso à saúde, à educação e aos serviços públicos”.
Como fica a defesa do Algarve? Se a coligação PSD/CDS foi a mais votada no plano nacional, já a vitória no Algarve coube ao PS, que teve mais votos do que em 2011 e elegeu quatro deputados, contra três do PSD/CDS, um da CDU e, a novidade, um do Bloco de Esquerda. Um resultado que deixou Cristóvão Norte triste, mas não totalmente surpreendido, ao mesmo tempo que garante que isso não irá influenciar a forma como vão defender os interesses da região algarvia. “Vamos honrar o nosso mandato da mesma maneira como o faríamos se fossemos quatro, cinco, seis, sete, oito ou nove. Estamos disponíveis para trabalhar com todos no que diz respeito ao Algarve e já nos últimos quatro anos foi possível encontrar plataformas de entendimento em algumas matérias”, assegura o socialdemocrata. “O nosso compromisso é servir a região o melhor possível. Curiosamente, desde 2005 que o partido que ganha as
REPORTAGEM eleições a nível nacional perde no Algarve e ainda não se conseguiu arranjar uma explicação totalmente clara para este fenómeno. Queríamos ter eleito quatro deputados e ganho as eleições na região, não conseguimos, agora vamos fazer mais para que o eleitorado tenha confiança em nós”. Triste com a derrota a nível nacional, mas satisfeito com a vitória no Algarve, António Eusébio atribui este resultado à intensidade com que os algarvios foram fustigados nos últimos quatro anos. “Temos o dobro da média nacional de empresas falidas e de casas entregues à banca, temos muitas famílias carenciadas, temos uma sazonalidade enorme e que conduz ao aumento do desemprego durante o Inverno. Por outro lado, o PS apresentou uma lista magnífica, só com algarvios, pessoas que conhecem bem os problemas da região e propusemos medidas específicas para a melhoria das condições de vida no Algarve”, justifica o número 2 da lista do PS pelo Circulo Eleitoral de Faro. No entanto, e apesar dos quatro deputados eleitos, António Eusébio acredita que será difícil convencer a coligação de direita, caso seja esta a assumir o governo de Portugal, para implementar as medidas propostas pelo PS. “Seja a redução de 50 por cento das portagens na Via do Infante, seja o retomar das obras de requalificação da EN 125, seja limitar os contratos a termo, os estágios e a precaridade do emprego. Tem havido um desmantelamento
do Serviço Nacional de Saúde e a promoção efetiva das respostas de saúde do Privado no Algarve e, a continuar com a política deste governo, é natural que, nos próximos anos, as pessoas sejam obrigadas a recorrer a seguros e planos de saúde se quiserem ter acesso a esses cuidados”, lamenta, mostrando-se igualmente preocupado com a Educação e exigindo um maior apoio à Universidade do Algarve. “Vamos tentar debater estas medidas desde a primeira hora e os mais atentos vão perceber que há uma grande diferença entre o PS e a coligação de direita. Por exemplo, durante a campanha, PSD/CDS reconheceu que se poderiam baixar as portagens na Via do Infante em 50 por cento, de acordo com um estudo elaborado pelo PS, porque o aumento da circulação promoverá também o aumento da receita. Vou aguardar com serenidade para ver o que vão agora fazer, com a certeza, porém, de que o Algarve tem condições distintas do resto do país”. De novo a defender os interesses do Algarve teremos Paulo Sá, que recorda que a CDU esteve duas décadas sem conseguir eleger qualquer deputado pelo Circulo Eleitoral de Faro, cenário que foi modificado em 2011. “Ficamos satisfeitos com esta afirmação da confiança dos algarvios no trabalho realizado ao longo dos últimos quatro anos. Fizemos mais de 300 reuniões e visitas no Algarve, apresentamos ao governo quase 300 requerimentos e perguntas sobre matérias de incidência 15
regional e 24 projetos de resolução e de lei também sobre assuntos que dizem respeito ao Algarve. Obviamente que vamos prosseguir com esse trabalho em defesa do Algarve e dos algarvios”, garante Paulo Sá, com as portagens na Via do Infante a serem, certamente, um desses temas quentes. “Mas também os cuidados de saúde, o relançamento da produção regional, a valorização da atividade portuária, a necessidade de construir infraestruturas rodoviárias e ferroviárias no Algarve. Independentemente de que governo tomar posse, vamos continuar a combater o desemprego, a recessão económica e a falta de investimento na região”. A questão das portagens é, como se sabe, bastante querida para João Vasconcelos, que não compreende como é que o PS, sem ter quaisquer responsabilidades governativas na última legislatura, chumbou todas as propostas do BE e CDU e viabilizou as portagens, vindo agora defender a redução dos tarifários, à imagem do que faz o PSD/CDS. “Isso é algo impensável no Algarve”. Ouvidas as opiniões e os argumentos de alguns dos deputados eleitos pelo Circulo Eleitoral de Faro para a Assembleia da República, resta agora a todos nós, portugueses e algarvios, aguardar pelo que sairá das reuniões entre os diversos partidos, ou seja, temos que esperar pelos próximos capítulos desta novela real em que nos vimos mergulhados após o 4 de outubro .
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ENTREVISTA
A guitarra portuguesa ganha vida nas mãos de
RICARDO MARTINS O Cine-Teatro Louletano foi palco, no dia 9 de outubro, da apresentação do primeiro disco a solo de Ricardo Martins, músico multifacetado natural de São Brás de Alportel e que tem levado além-fronteiras a sonoridade característica da guitarra portuguesa. Instrumento de eleição para acompanhar o Fado, Património Imaterial da Humanidade imortalizado pela voz de Amália Rodrigues, a guitarra portuguesa atingiu o seu expoente máximo pelas mãos de Carlos Paredes, mas Ricardo Martins acredita que mais pode ser feito por este símbolo lusitano, apesar do mercado nacional ser reduzido para este género de trabalhos discográficos e espetáculos ao vivo. Será, por ventura, mais um daqueles casos em que, primeiro, é preciso conquistar a crítica internacional para depois ser reconhecido a nível interno, mas o guitarrista não baixa os braços e, a julgar pelo concerto dado em Loulé, talento não lhe falta para ser bem-sucedido. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #28
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ENTREVISTA
O
português não gosta de se considerar «pimba» e, se calhar, até nem todos merecemos esse rótulo que alguém se lembrou de inventar para descrever um género musical celebrizado por artistas como Quim Barreiros, Emanuel, Rute Marlene, até mesmo Tony Carreira, Toy e uma imensidão de cantores românticos com os seus temas de refrões fáceis, letras com pouco sentido e melodias de dois ou três acordes. Por ventura a culpa até nem é nossa, pois todos os dias somos bombardeados com artistas e trabalhos «pimbas» nos vários canais da televisão nacional. Por isso, quando sai um disco que não se enquadre nesse rótulo ou no típico pop/rock, é logo remetido para a secção da música erudita, das «músicas do mundo», mais outro rótulo dos tempos modernos, mesmo quando a tal música do mundo afinal é nossa, portuguesa, lusitana. E, se falarmos em álbuns instrumentais, o nicho de mercado reduz-se ainda mais, os concertos são raros, o tempo de antena nas rádios e televisão é quase nulo. Foi, assim, com satisfação que assistimos ao espetáculo de Ricardo Martins no Cine-Teatro Louletano, no dia 9 de outubro, uma noite
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dedicada à guitarra portuguesa, a fiel companheira do Fado, Património Imaterial da Humanidade. Em palco, para além do protagonista, estiveram Cláudio Sousa, na viola, e António Correia, no contrabaixo, mas também se assistiu a passos de dança, aos corridinhos do folclore, não acompanhados pelo tradicional acordeão, mas pela guitarra portuguesa, sons presentes em «Ricardo J. Martins», álbum de estreia que conta com um tema original, algumas adaptações de músicas fora do ambiente da guitarra portuguesa, caso dos corridinhos e da Marcha da Nossa Senhora da Piedade, santa padroeira de Loulé, e temas de compositores clássicos deste instrumento, com arranjos especiais do são-brasense de 31 anos. Licenciado em Multimédia pelo INUAF, a formação académica surgiu mais como um complemento, já que a música faz parte de Ricardo Martins desde os 14 anos, altura em que começou a tocar viola, guitarra elétrica e baixo, depois o bandolim nos tempos da tuna universitária. A guitarra portuguesa veio por influência do Mestre Carlos Paredes e o fado foi a forma encontrada para conseguir dar seguimento à sua aprendizagem. “Tive bandas de rock e tocava covers em bares, mas esse tipo de 18
ENTREVISTA música e de ambiente nunca me interessaram muito. Preferia a música tradicional portuguesa, toquei baixo em dois grupos de São Brás de Alportel – Canto Andarilho e Veredas da Memória – e, quando terminei a licenciatura, há cinco anos, dediquei-me por completo à música”, conta em início de conversa. Sem ter frequentado qualquer escola de música, Ricardo Martins é um puro autodidata, aprendeu através dos livros e, sempre fascinado pelo som da guitarra portuguesa, criou outro grupo, desta vez já em Loulé, os «Violas do Fado». Curiosamente, é daí que acontece o contato com o fado propriamente dito, a acompanhar fadistas amadores da região, ao mesmo tempo que prosseguiam os estudos no INUAF. Depois, já na música de corpo e alma, sem outras distrações, passou a tocar com nomes mais sonantes e a dar aulas particulares de guitarra. “Sempre gostei de música mais instrumental do que com voz e a minha ambição era criar os meus próprios temas e tornar a guitarra portuguesa como um instrumento de concerto, porque está muito subvalorizada em termos solista. No fado, é o instrumento que mais sobressai, por ser diferente e tipicamente lusitano, mas não há um hábito, em Portugal, de se ir a recitais de guitarra portuguesa”, lamenta o entrevistado, embora admita que também existem poucos intérpretes de dimensão nacional. “Esteve recentemente o Pedro Caldeira Cabral no Festival de Guitarra que está a acontecer em Lagoa, mas é, de facto, mais fácil ganhar a vida a tocar com fadistas. Mesmo grandes músicos como o Ricardo Rocha, que tem três ou quatro discos gravados a solo, reconhece que a guitarra portuguesa está condenada a acompanhar o fado. É um pouco ingrato estar a despender tanta energia com uma coisa que depois fica pelo caminho”, desabafa.
Solistas na sombra dos vocalistas Apesar de, em outubro, decorrer um festival especialmente focado na guitarra em Lagoa e acontecer agora este espetáculo com Ricardo
Martins no Cine-Teatro Louletano, a realidade é que poucos mais eventos semelhantes acontecem no Algarve e em Portugal, o que também dificulta a criação de mais público para estes instrumentistas. “É muito mais fácil haver alguém a cantar, independentemente de cantar bem ou mal, do que ter só música instrumental, que requer que as pessoas tenham uma certa erudição para perceber o que estão a ouvir. É a mesma coisa que concertos de música clássica ou barroca, recitais de flauta ou piano, a afluência é sempre menor”, observa Ricardo Martins. Criar públicos que significa educar as novas gerações logo de pequeninos, mas a tarefa não se avizinha simples, pois a música instrumental é quase encarada como música ambiente, de fundo, merecedora de pouca atenção, para tristeza do entrevistado e dos seus executantes. “É um problema cultural, as pessoas têm que ser habituadas a conhecer e gostar de coisas diferentes, caso contrário, ouvem sempre mais 19
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ENTREVISTA do mesmo”, considera. “Como a música instrumental não aparece na televisão para as grandes massas, os poucos solistas que existem são abafados pelos estilos tradicionais ou ficam na sombra de cantores, como sucede com a guitarra portuguesa e os fadistas. O Custódio Castelo é, hoje em dia, o solista mais conhecido da guitarra portuguesa, já tocou para a Ana Moura, Mariza, Joana Amendoeira e Cristina Branco, mas poucas serão as pessoas que reconhecem o seu nome e trabalho”, exemplifica Ricardo Martins. Como o são-brasense não pode combater esta realidade sozinho e de um momento para o outro, faz da sua atividade principal acompanhar fadistas e até tem uma agenda bastante preenchida, chegando a tocar todas as noites nos meses mais mexidos do ano. “Tornar-se Património Imaterial da Humanidade tornou o fado mais um produto turístico e bastante procurado pelos estrangeiros”, reconhece. Quanto aos projetos da chamada «world music» que normalmente combinam diversos instrumentos musicais mais tradicionais, indica que pouco ou nada existe no Algarve desse género em torno da guitarra portuguesa. “O José Alegre tem o Fad’Nu, mas acaba por ser guitarra portuguesa e voz”, aponta. Com o disco de estreia nas mãos, Ricardo Martins admite que vender cd’s é coisa do passado e mesmo entrar nas grandes superfícies não está ao alcance de todos os trabalhos discográficos, pelo que é nos espetáculos ao vivo que os interessados conseguem fazê-lo com maior facilidade. “Quem gosta do som da guitarra portuguesa quer comprar o disco, principalmente os estrangeiros, porque não têm nada disto nas suas terras. Para além disso, têm outros hábitos culturais, apreciam música instrumental”, justifica, revelando que as editoras cada vez estão menos empenhadas em apostar na divulgação e promoção dos artistas e bandas. “O Júlio Pereira fez alguns trabalhos com o cavaquinho e o bandolim, o Amadeu Magalhães e o Rão Kyao também apostaram em instrumentos tradicionais, mas têm pouca saída a solo, têm que se misturar com cantores para tornar os produtos mais apetecíveis”. Se poucas oportunidades há em Portugal, mais abertura há noutros pontos da Europa e Ricardo Martins já tocou a solo em Espanha e,
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juntamente com fadistas, viajou até à Servia, Inglaterra, França, Bélgica e Holanda. “São povos mais avançados culturalmente e agrada-lhes imenso o nosso tipo de música. Por isso é que há uma série de nomes que tiveram que brilhar primeiro no estrangeiro antes de serem reconhecidos em Portugal. Pelos vistos é mais fácil os portugueses começarem a gostar de uma coisa que, lá fora, toda a gente diz que é boa”, refere o professor de música, que mesmo assim não baixa os braços nem arrepia caminho. “Sempre me interessou o som dos instrumentos e entendo que ele se pode equipar a uma voz. Também tem o seu sentimento, embora não tenha uma letra, e se há grandes solistas em todas as partes do mundo, penso que deveria haver igualmente espaço para eles em Portugal. Mas claro que é menos exigente acompanhar fadistas do que puxar o instrumento para a frente”. Dar uma roupagem mais moderna a temas clássicos pode ser uma forma de facilitar a entrada no ouvido dos portugueses, mas Ricardo Martins admite ser um pouco purista e pouco propenso a grandes extravagâncias. “O meu CD só tem a guitarra, a viola e o baixo e a tal nova roupagem passa pelos arranjos em si, as pausas, as harmonias musicais. O fado, por exemplo, tem vindo a evoluir consoante o conhecimento dos músicos, que também vêm de outros estilos, do jazz, do clássico, com outras linguagens. São inovações que os puristas combatem, mas que tornam a música mais interessante”, explica, revelando que, para já, não tem intenção de enveredar exclusivamente pela carreira a solo. “Todos precisamos de uma base que nos garanta a subsistência, mas o sonho é, de facto, deixar de ser um acompanhante de fadistas. A grande dificuldade, às vezes, é dar a conhecer o nome e o trabalho às pessoas. Mesmo o Carlos Paredes só teve mais impacto nos últimos anos da sua vida, porque os portugueses gostam de temas com uma letra associada, mesmo que seja básica, que possam trautear”, indica, terminando com a revelação de que já está a preparar temas novos com participações de músicos de diferentes estilos com vista ao lançamento do segundo disco em 2016 .
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OPINIÃO
FAMÍLIAS SKYPE PAULO CUNHA
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legemos, recorrentemente, políticos que acham muito natural os portugueses terem que emigrar, pois “Sempre foi assim!”, “Está-nos no sangue!”, “Somos um país de descobridores!”, “Assim espalharemos a nossa portugalidade pelo mundo!”, “Temos que ajudar o país a sair da crise!”, etc. e… tal. Frases feitas, feitas de menosprezo, desconsideração e desrespeito por quem - sem querer - se viu obrigado a deixar para trás tudo com que sonhou e projetou. Concidadãos que, a exemplo de quem os condenou, gostariam também de ser felizes em Portugal! Tal não foi possível, pois por cá quem perdeu o emprego nunca mais o encontrou. Sonhar?... Só lá fora, num mundo em que a verdade tem um significado diferente daquele que nos habituámos a ouvir na boca de quem nos governou e continuará a governar. E assim, famílias outrora juntas no calor do lar, na troca e partilha de afetos e na construção de um ideal comum, veem-se obrigadas a trabalhar, trabalhar mais e… trabalhar ainda muito mais para poder esquecer, e - o mais rapidamente possível - poderem regressar. Não há um dia que não pense em todos eles, os que me privaram do prazer do seu contacto sem que tal tivessem desejado. Amigos que, uma vez por ano, «quando o rei faz anos», conseguem usufruir um pouco dos «seus» e do «seu» Portugal. O mesmo país que os estrangeiros mais endinheirados escolhem para viver e que eles, autóctones, tiveram que abandonar. Efetivamente, que raio
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de vida a nossa, tão efémera e, como se não bastasse, ainda nos empurra para longe de tudo aquilo que mais prezamos e gostamos… Tal e qual: um Portugal sequestrado! Emigrantes que através do «milagre» operado pelo sistema global de comunicação «Internet», conseguem através de uma câmara vídeo/áudio, de um ecrã e de umas colunas, interagir virtualmente com todos aqueles dos quais foram obrigados a separar-se. Pais, filhos e cônjuges que deixam as câmaras ligadas por períodos ilimitados para poderem observar, imaginar e fruir momentos nos quais gostariam, por certo, de participar se estivessem junto dos seus entes queridos. De tal forma, que tenho sabido de casos em que os pais, separados por milhares de quilómetros, ajudam os filhos nos TPC, que cantam para os seus bebés adormecerem, que partilham o momento do jantar, que brincam e jogam uns com os outros, que adormecem ao mesmo tempo, enfim… uma multiplicidade de tarefas que os ajuda a reaproximar e a fazer esquecer esta malfadada sina que ciclicamente nos persegue. Uma geração herdeira da crise em que múltiplas famílias se veem obrigadas a suportar a sua manutenção e o seu crescimento, enquanto estrutura nuclear, através da comunicação virtual. Sentimentos reais partilhados através de dados… Porque não há distância que resista à saudade! .
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OPINIÃO
Crónicas dos emergentes
CAPÍTULO 2: HONRA E GLÓRIA EDGAR PRATES
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exta-Feira 19 Novembro de 2004 Foi uma semana interessante. Estive em Praga, a capital da República Checa. Depois de ter estudado o Leste e os 10 novos países que entraram para a União Europeia a 1 de Maio de 2004, a República Checa era o mais avançado e Praga a sua pérola. Em 2004, a cidade de Praga apresentava já um Produto Interno Bruto (PIB) superior a Lisboa. Desejava ir estudar para o Leste. Visto não existir qualquer acordo entre a dita Europa dos ricos e a dos pobres, era algo meio cinzento na minha cabeça. Através do programa Leonardo da Vinci, a Universidade do Minho sugeriu estabelecer um protocolo com empresas na Áustria, Grécia e Itália para desenvolver o meu estágio profissional pós-Licenciatura. Não aceitei nenhuma das propostas. Reuni-me com o Dr. Fernando Brito, responsável pelos programas de intercâmbio de estudantes na Universidade do Algarve. "Não existe cooperação a nível de estágios com nenhum dos 10 novos Países do Leste Europeu para recém-licenciados nesta Universidade", disse o Dr. Brito. Só me restava uma solução para que se concretizasse o meu objetivo: voar sozinho por minha conta e risco até Praga, e negociar um projeto. Foi o que aconteceu. Sai do aeroporto de Lisboa até ao Leste Europeu, aquele lugar que aparecia pintado de vermelho com as insígnias U.R.S.S. nos mapas dos meus livros de criança. Foi a minha primeira negociação fora de portas. A primeira de muitas, que me iria levar a vários países em diferentes continentes. Até ao final desse ano de 2004 vivi uma expectativa enorme. Poucos deram crédito ao meu plano no Leste Europeu. "Vais para o Leste?!" - perguntavam-me muito admirados. Acreditei sempre de forma persistente. E estive a trabalhar inclusivamente durante o período de Natal. Cada euro era precioso para consumar o plano que tinha vindo a arquitetar. Na véspera de Natal de 2004, depois de jantar, acelerei o meu Fiat Punto vermelho até aos montes da Serra do Caldeirão para chegar a S. Brás de Alportel para uma das minhas últimas horas dedicadas aos eventos, num clube local. Chegaria a casa sozinho e cansado às 6 da manha do
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dia de Natal. Como era habitual, o meu casaco trazía aquele cheiro de fumo e de vício das gentes que libertavam as suas frustrações e alegrias em ambientes escuros cruzados com luzes coloridas e sons eletrónicos, sem saberem o que lhes estava prestes a acontecer. Era o mesmo cheiro do fim-desemana anterior. E seria o cheiro no ar da manhã de 1 Janeiro de 2005 a seguir ao Reveillon de Albufeira. Os ares de liberdade de Portugal estavam poluídos; decidi trocá-los pelos ares frescos que emanavam do Leste Europeu, uma ironia impensável. Pedro Alvares Cabral, Afonso de Albuquerque, Fernão de Magalhães: viram acontecer mudanças incríveis na sua época. Hoje, cerca de 500 anos depois, a minha geração viu igualmente acontecer transformações enormes no mundo. Sou da geração do novo Milénio, da bolha das dot com´s, da sociedade da informação, da internet, da maior crise financeira mundial, das redes sociais multimédia e das viagens aéreas low cost. Segundo Malcolm Gladwell em «Outliers», o sucesso está fortemente ligado à nossa data de nascimento, que surge justamente antes de se iniciar estes períodos de mudança, está relacionado com o local onde cada um cresceu e também onde conseguiu aplicar na prática as teorias que assimilou aquando da sua educação. Li sobre esse tipo de indivíduos que nunca paravam, estavam sempre a evoluir, a mudar o seu mundo e o dos outros também, criando eles próprios o seu próprio patamar. Desse tipo de indivíduos conhecera poucos; somente através dos livros. São os que mudaram o mundo quando o mundo mudou. São os que não se acomodaram e definiram a sua própria estratégia de conquista. Após os atentados do 11 de Setembro de 2001 poucos se preveniram a longo prazo. A maioria de nós era incapaz de prever na totalidade as consequências de tao grave acontecimento. Outra frase típica era "Onde estava no 11 de Setembro?". Lembro-me bem desse dia. Estava em casa a assistir a um filme qualquer na televisão numa tarde sem aulas, quando a emissão é interrompida com imagens das torres gémeas de Nova Iorque a arder. Não era um acidente. Nem um atentado qualquer. Era um genocídio organizado por emissários diabólicos, ali mesmo em pleno 24
OPINIÃO solo americano com repercussões evidentes em todo o mundo. Eram umas 14h20, hora de Portugal. Senti que algo se estava a passar e saí à rua somente com o telemóvel na mão e as chaves de casa. Nem levei carteira... Se este acontecimento era o fim do mundo, então o dinheiro não tinha qualquer valor. Se tivesse comigo ouro ou petróleo talvez tivesse alguma fonte de riqueza: as commodities iriam estar na ordem do dia a partir daquele momento de crise financeira nos mercados de capitais. Sobre a minha cabeça voaram dois caçaas bombardeiros F16. Telefonei ao meu pai, um homem normal de classe média como tantos outros em Portugal que foi enganado pela cantiga social de outros tempos, e disse-lhe: "A partir de agora vai começar uma grande crise mundial, fica atento". E foi o que aconteceu. 21 de Novembro de 2010: depois de uns dias em Lisboa a rever amigos, onde por coincidência vim a encontrar excolegas dos tempos de universidade, desempregados e cabisbaixos, decidi ir ao Algarve. Aterrei no aeroporto de Faro para visitar família e mais amigos e definir alguns projetos, entre os quais a transferência para a Asia que estava a semanas de concretizar-se. Inspirado pela energia solar que emana do Algarve seja a que altura do ano for, vou a Portugal sempre que é possível. A cada ano que tenho visitado, tento observar inloco o desenrolar dos novos acontecimentos – apesar de, hoje em dia, com internet e todo o tipo de comunicações à disposição não é difícil saber o que se passa. É interessante analisar as diferenças que ocorreram em tao curto espaço de tempo desde que decidi conquistar novas paragens no exterior. Nessa mesma noite fui dar uma volta sozinho pela baixa da cidade sob uma maravilhosa lua cheia. Onde outrora existia o primeiro restaurante fast-food aberto 24 horas, existia uma nova realidade. Os empregados eram todos estrangeiros. Vieram da Rússia, da Ucrânia, da Moldávia e da Roménia. Assim que interpelei uma ucraniana e referi como conheço bem o sítio de onde vieram, pois visitara Kiev, Odesa, Lviev e mais lugares, vi na sua boca a típica expressão de desdém: uma língua de fora que simboliza desrespeito para com o Ocidental que os destruiu na Guerra Fria e que os trata abaixo de cão ainda hoje seja onde for. Por isso eles estavam ali. Aquele fast-food era a sua conquista. Aproveitaram o facto de sermos comodistas na Europa ocidental e empreenderam à sua maneira. Interessante. Esta já não era a cidade de alguns anos atrás. Pelas avenidas abaixo havia muitas lojas fechadas. Outras estavam à venda. E existiam muitas lojas novas: o negócio da compra de ouro florescia em cada esquina. Não havia muitos carros a circular. Nem gente! A cidade tornou-se numa alegoria de sombras. As notícias dos jornais locais referiam que o desemprego real no Algarve poderia ter chegado aos 30 por cento em finais de 2010. Ali meio escondido estava um vulto que me era familiar. Encontrei um homem da política local que não via há pelo menos 10 anos. Ele era discreto, veio de Angola há muito tempo, ainda eu não era nascido; esteve durante algum tempo ligado à rádio e à animação turística do Algarve. É daí que o conheço. - "Edgar, pá, há quanto tempo! O que fazes, pá?" - disse energicamente. - "Tenho visto muita coisa ultimamente!" - respondi. E descrevi brevemente alguns acontecimentos marcantes, desde a vida de estudante universitário até ao desenrolar da
performance profissional em países emergentes da Europa; e da Ásia de onde eu tinha acabado de regressar de viagem, para onde estava prestes a iniciar funções em 2011. - "Isso é bestial, pá! Edgar, pá, o que sentes ao ver isto desta forma? Um jovem que tem viajado tanto e visto tanta coisa lá fora, pá. O que achas disto que se está a passar aqui, pá?" - perguntou em tom sério e interessado, logicamente referindo-se à situação financeira e política da Europa, e em especial de Portugal. - "Tudo isto dava para escrever um livro!" - respondi. Os países emergentes são descritos das mais diversas formas por gente que nunca sequer aí trabalhou ou viveu – limitam-se a ler relatórios com estatísticas, ou a fazer uma viagem de duas semanas onde tiram umas fotos e atrevemse a tirar conclusões precipitadas. Por mais que seja a especulação e até o desdém, uma coisa é certa: nos países emergentes vivem seres humanos como nós que aprenderam a mudar as suas vidas de forma mais eficiente de modo a ocuparem hoje a liderança da nova ordem global. Diz-se que os portugueses não pensam de forma derrotista, mas no fundo ainda há muitos que acabam por sofrer desse mal mesquinho mais cedo ou mais tarde: deitam abaixo aqueles que vencem, para que percam todos e se confortem os incompetentes pela sua frustração em não ter conseguido vencer. Essa atitude é intolerável numa sociedade que se quer educada, moderna e competitiva. Devemos pensar de outra forma: deve apoiar-se os vencedores e os que tem sucesso, para que a sua competência seja um exemplo a seguir, para que exista uma mentalidade assente em valores ganhadores, de modo a que, num futuro próximo, todos possam celebrar vitórias. Existem de facto países que julgávamos pouco evoluídos que recentemente se tornaram mais avançados que nós. Que não se hesite em pensar de uma forma nova para que se transforme esta «crónicas dos emergentes» numa oportunidade para melhor competir, evoluir à escala global e devolver a Portugal a honra da nossa História e do nosso desenvolvimento. Porque custa tanto mudar? Porque envolve repensar todo um processo e adaptar-se às circunstâncias. Isso requer mexer em conceitos, mentalidades e estruturas seculares. É preciso simplificar. É necessária uma energia suplementar para visionar a diferença imposta pela novidade, ganhar coragem para a próxima mudança e ser coerente de modo a decidir o caminho a tomar sem agitar as águas bruscamente. Por vezes, fica-se pelo caminho. Dá muito trabalho. E é nesse momento que me lembro daqueles que não faziam nem deixavam fazer, aquela inercia para não se chegar a lado nenhum, que lhes da conforto para protestar quando for necessário, sem terem feito nada útil para merecer, mas que na base de alguns artigos dispostos em tempo de dita liberdade lhes confere autonomia para abusar dos direitos e poderes. Felizmente, há muitos outros que não fazem disso a sua bandeira. Acreditam em algo mais alto, mais sublime, que lhes transmite a honra e a glória necessárias para triunfar em qualquer lugar. Estas cronicas são o fruto do acreditar sempre. Assim foi em tempos idos. Assim será 500 anos depois .
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ENTREVISTA
JOÃO LOURENÇO Uma estrela ascendente no Enduro É sabido que o Algarve tem dado vários pilotos de categoria internacional ao desporto motorizado, nomeadamente às duas rodas, sendo Ruben Faria o expoente máximo dos últimos anos. Em 2014, outro jovem craque começou a dar nas vistas na modalidade de Enduro, tendo-se sagrado campeão nacional no seu ano de estreia, apesar do cansaço e das despesas extras inerentes a uma competição cujas provas se realizam no centro e norte de Portugal. Como recompensa do seu talento, João Lourenço foi convocado para representar o país numa exigente prova realizada na Eslováquia e, no dia 18 de outubro, disputa-se a derradeira etapa da presente temporada que poderá ditar novo título de campeão nacional. O ALGARVE INFORMATIVO foi até Vila do Bispo para conhecer melhor uma estrela ascendente numa modalidade que continua carente de mais apoios financeiros e da merecida divulgação. Entrevista: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #28
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ENTREVISTA
Fotografia: Hélder Ferreira 27
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ENTREVISTA
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ode-se dizer que João Lourenço foi a grande surpresa da convocatória da Federação Portuguesa de Motociclismo para integrar a seleção nacional que participou na «Six Days of Enduro», disputada em Kosice, na Eslováquia, no início de setembro. O jovem de 23 anos, nascido e criado no concelho de Vila do Bispo, mais concretamente em Salema, foi um dos 500 pilotos provenientes de 32 países que enfrentaram seis dias de competição e mais de 1200 quilómetros naquela que é uma das provas mais duras do mundo. Um prémio inesperado para quem começou a andar de moto aos 18 anos mas depressa deu nas vistas, sendo 1.º classificado na classe de promoção e 12.º na classificação geral da Baja Portalegre 500, em 2012 e 2013, depois registando o 5.º e 4.º lugares na geral do Endurocross do Infante, em 2012 e 2013, o 5.º lugar no Campeonato Nacional TT1 Open de 2014 e vencendo o Troféu Nacional de Enduro - Verdes 1 no ano transato. Cozinheiro no restaurante dos pais depois de ter tirado a formação no polo de Portimão da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve, é a conduzir a sua moto que João Lourenço está realmente feliz, uma paixão natural para quem
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acompanhava o irmão mais velho, Paulo Lourenço, nas provas que este realizava. No entanto, a estreia competitiva só aconteceu por volta dos 19 anos, depois de ter concluído o ensino secundário, porque os pais nunca foram grandes apologistas dos desportos motorizados. “Eram 200 por cento contra o meu irmão andar de moto e, apesar de terem sido eles a oferecerem-me a minha primeira moto, nem queriam ouvir falar de eu participar em provas a sério. A minha primeira corrida até foi às escondidas deles, mas sempre foi isto que quis e, quando comecei a trabalhar e a ganhar o meu próprio dinheiro, ia tudo para as motos”, conta o jovem piloto. Ao verem o empenho do filho, os pais acabaram por dar o braço a torcer e aceitar a escolha de João Lourenço e a ideia do entrevistado foi desde logo entrar em provas oficiais, não apenas subir para uma moto e andar a acelerar pela estrada fora. Curiosamente, acabou por dedicar-se ao Enduro, uma variante menos mediática e bem mais exigente onde os pilotos também têm que ter bons conhecimentos de mecânica. “Nos «Six Days of Enduro», por exemplo, os mecânicos das equipas só podiam tratar dos líquidos, ou seja, óleos, travão e 28
ENTREVISTA gasolina, tudo o resto tinha que ser feito por nós”, indica, satisfeito por seguir as pisadas de outros grandes pilotos algarvios de duas rodas. Apesar disso, é o único a representar a região na modalidade do Enduro e, no concelho de Vila do Bispo, nem sequer há pilotos de outras categorias, o que o obriga a treinar sempre sozinho. “A primeira vez que treinei com alguém que me pudesse ensinar alguma coisa, se estou a curvar mal ou a acelerar muito, foi agora com o Gonçalo Reis antes de ir para a Eslováquia. Temos que perder muito tempo em cima da moto e é melhor para a nossa evolução ter alguém ao nosso lado a explicar-nos o que estamos a fazer mal”, salienta. A necessidade de ter conhecimentos de mecânica foi uma surpresa inesperada com que teve que lidar rapidamente e João Lourenço confessa que, quando começou a correr, só sabia acelerar e pouco mais. “Desde então já aprendi muita coisa e consigo fazer basicamente tudo que diga respeito à moto, menos mexer no motor. Acho que isso ainda vai demorar algum tempo”, admite, com um sorriso.
O prémio da chamada à Seleção Nacional Já percebemos que João Lourenço foi um autodidata no que toca às motos e reflexo disso é que teve várias quedas quando se iniciou no motocross, umas delas, inclusive, com bastante gravidade. Depois, foi assistir a uma prova de Enduro com um amigo e percebeu que aquilo era uma «cultura» à parte, que era muito mais do que percorrer quilómetros à maior velocidade possível. “Temos que cumprir os tempos ao segundo, é bastante rigoroso. Se terminarmos um segundo mais cedo ou mais tarde somos logo penalizados com um minuto, o que obriga a ganhar muita «escola». É um rigor, uma atenção aos pormenores, que me tem ajudado
mesmo no dia-a-dia”, adianta, explicando que há três especiais na modalidade: Enduro Cross, Enduro Extreme e Enduro Test. “São voltas grandes de 50 ou 60 quilómetros dentro das quais há especiais cronometradas em que temos que dar tudo de nós. É uma modalidade bastante completa”, enfatiza. Características que tornam o enduro um desporto verdadeiramente apaixonante e espetacular visualmente, mas a verdade é que o todo-o-terreno está a atravessar uma fase muito complicada em Portugal, com poucos pilotos e
eventos. Uma realidade bem diferente da que se verificava há alguns anos, quando praticamente havia provas todos os meses no Algarve, a maioria delas organizadas pelo Clube Automóvel do Algarve. “Gasta-se muito dinheiro em inscrições, deslocações, seguros. Gostava muito de voltar a competir em TT, mas é quase impossível, porque as competições acontecem todas no norte, o que significa chegar lá logo com 400 ou 500 euros gastos em combustível”, justifica o entrevistado, adiantando que a etapa mais próxima do campeonato nacional de enduro decorre em Alcanena, a 400 quilómetros de distância. Constrangimentos que pesam na carteira e no orçamento, mas que não impediram uma estreia em grande estilo, com João Lourenço a vencer a Classe Verdes. Mercê disso, em 2015 o vilabispense já competiu na Classe Open, bem mais exigente e onde não existe tanta diferença de 29
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ENTREVISTA qualidade entre os vários pilotos. “Comecei mal porque uma lesão me impediu de participar na primeira corrida, mas recuperei, evolui muito e a recompensa foi ter sido chamado para os «Seis Dias de Enduro» na Eslováquia”, indica, confirmando as enormes dificuldades para se reunir o orçamento necessário para disputar o campeonato. “Os primeiros patrocinadores foram os meus pais, mas agora tenho o apoio fundamental da Câmara Municipal de Vila do
Bispo, que aposta no desporto no concelho e nos seus atletas. Acreditaram em mim quando ainda não tinha ganho nada e ajudam-se imenso nas deslocações e noutras despesas”, destaca, agradecendo igualmente à Celcru Motos. Fazer parte de uma equipa oficial é o sonho de qualquer piloto mas quase impossível no plano nacional, constata João Lourenço, que felizmente tem conseguido angariar apoios depois de ter conquistado o campeonato em 2014, correndo agora ao leme de uma Kawasaki. Outro sonho de qualquer desportista é defender as cores do seu país e isso, felizmente, já conseguiu, com uma chamada à seleção nacional que o apanhou por completo de surpresa. “É o meu segundo ano de Enduro e passei à frente de pilotos que correm há bastante tempo, o reconhecimento de ter treinado tanto ao longo da época. Aprendi mais em como treinar e conduzir nos 12 ou 13 dias que lá estivemos do que desde que comecei a andar de moto. No início do primeiro dia até achei que o percurso seria fácil, mas depressa
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percebi que não há nenhum percurso em Portugal com aquela dificuldade e dureza”. Refira-se que a seleção portuguesa até arrancou bem mas, no terceiro dia, um dos pilotos sofreu uma queda grave e foi forçado a desistir, com a equipa a terminar em 11.º da classificação. De João Lourenço esperava-se apenas que conseguisse chegar ao fim, mas o piloto admite que queria mais. “Estive bastante constipado durante a competição, no segundo dia deixei de ver do olho direito, mas acabar e não estragar a moto já foi espetacular”, diz, sublinhando que a grande diferença que notou entre o meio milhar de participantes foi a questão dos patrocínios financeiros. “Há países que apoiam muito mais esta modalidade do que Portugal. Temos quatro ou cinco pilotos de nível mundial, só que não têm as ajudas que precisam. Aliás, só há um português a viver apenas do Enduro, o Luís Correia, que corre para uma marca italiana”. Aos 23 anos, a meta está traçada para João Lourenço, trabalhar, trabalhar e trabalhar para ter boas classificações e conseguir chamar a atenção dos patrocinadores e de alguma equipa estrangeira. Mas, para já, o pensamento está focado na última prova do campeonato nacional, que tem lugar no dia 18 de outubro, em Valpaços. Depois, em 2016, a vontade é participar no Campeonato da Europa, onde será mais fácil aparecer o tal convite para ingressar numa equipa profissional, mas isso obriga a um maior esforço financeiro. “Infelizmente, quem pratica desporto em Portugal que não seja o futebol, tem que andar sempre a chorar, a penar e a esfolar-se para arranjar alguns tostões e também não há um acompanhamento regular da parte das televisões. Temos que evoluir imenso nesse aspeto, porque as grandes empresas não apostam em pilotos que não aparecem na televisão”, conclui, antes de partir para mais uma sessão de treinos pelas estradas do concelho de Vila do Bispo .
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CAIS FLUTUANTE DE CASTRO MARIM EM CONSTRUÇÃO
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o lado da vila de Castro Marim, a autarquia local tem em curso a instalação de um cais que pretende redirecionar o município para a sua mais riqueza endógena, o rio Guadiana. “Tínhamos as costas voltadas para o rio Guadiana, afastando um dos principais motores de desenvolvimento do Baixo Guadiana”, sublinha o presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Francisco Amaral. O empreendimento surgiu na sequência de um protocolo de colaboração assinado entre a Câmara Municipal de Castro Marim e a Região Hidrográfica do Algarve. O futuro cais flutuante de Castro Marim vai criar as condições adequadas, em termos de acessibilidade e segurança, para o embarque e desembarque dos
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utilizadores, além de minimizar o fundeamento desorganizado das embarcações ao longo do esteiro. A obra vai ser acompanhada pela Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e o seu funcionamento será protocolado com a Associação de Pesca de Castro Marim. Possibilitará ainda o desenvolvimento das atividades náuticas, tanto na vertente da pesca como na vertente de recreio e desportiva, nomeadamente a canoagem, e consequentemente, sensibilizará a população para a proteção destas massas de água e ecossistemas. A obra representa um investimento de cerca de 92 mil euros, sendo comparticipada em 75 por cento pelo POCTEP (Programa de Cooperação Transfronteiriça - Portugal/Espanha), e deverá ser concluída dentro de um mês .
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FARO ASSINOU ACORDO DE PARCERIA COM MUNICÍPIO DO PORTO
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Município de Faro celebrou, no dia 7 de outubro, um protocolo com o Município do Porto para promover a criação de sinergias e partilha de esforços na concretização de projetos comuns, com impacto nos domínios da cultura, da educação, da revitalização urbana, do marketing e comunicação territorial e do desenvolvimento económico e empresarial, designadamente nos domínios dos serviços turísticos, tecnologias da informação e comunicação e economia do mar. Através deste acordo, assinado pelos presidentes das Câmaras de Faro e do Porto, Rogério Bacalhau Coelho e Rui Moreira, os dois municípios comprometem-se a cooperar em diversas áreas, como sejam a programação de eventos culturais e desportivos, em rede, a promoção e o marketing territorial cruzados a nível interno e a nível internacional, o estímulo à
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realização de projetos de investigação aplicada ao nível empresarial, o desenvolvimento articulado de iniciativas comuns entre instituições de ensino e desportivas, a identificação de intervenções urbanas e de desenvolvimento económico, entre muitas outras áreas, pressupondo sempre a partilha de experiências e boas práticas e o desenvolvimento de ações conjuntas. Refira-se que, através da presente parceria, os Municípios não assumem qualquer responsabilidade financeira, sendo os custos diretos e indiretos inerentes a cada ação. A oportunidade de celebração deste acordo surgiu em resultado dos desafios comuns partilhados entre os Municípios de Faro e do Porto, apelando ao estreitamento dos laços institucionais de entendimento e cooperação. Ambos os municípios partilham apostas comuns, em diversas vertentes, como por exemplo em termos de reabilitação e revitalização das suas zonas históricas, de dinamização cultural e de marketing turístico. São também reconhecíveis as atividades ligadas com o mar, o património, as dinâmicas culturais urbanas ou as experiências de cooperação entre as principais universidades das duas cidades. Decorrem de todos estes fatores comuns, entre muitos outros, excelentes condições de conjugação de esforços e de entendimento estratégico entre as duas cidades .
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MUITAS INAUGURAÇÕES NO CONCELHO DE LAGOA NO 5 DE OUTUBRO
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dia 5 de outubro foi marcado no concelho de Lagoa pelo lançamento de vários espaços para uso das comunidades. O primeiro ato foi a inauguração do Espaço Multisserviços, na Vila de Porches, no antigo Centro Cultural D. Dinis, onde passou a funcionar a nova sede da Junta de Freguesia, o posto dos Correios e o Espaço do Cidadão, área ampla onde a população de Porches vai encontrar melhores condições de atendimento e resposta a necessidades documentais. O Presidente da Junta de Freguesia referiu a importância daquele espaço para defender os interesses da população, tendo agradecido à Câmara Municipal de Lagoa toda a colaboração na concretização do projeto. Em simultâneo, disse que Porches se está a modernizar, realçando a obra que foi feita na Igreja, os esgotos de Sobral de Cima, a ciclovia, a requalificação do Bairro Social e, brevemente, a recuperação da zona envolvente do polidesportivo. O executivo municipal seguiu para a Vila de Carvoeiro, para proceder à inauguração do Centro Sénior de Carvoeiro, uma iniciativa da União das Freguesias de Lagoa e Carvoeiro que, segundo o Presidente Joaquim João, será um espaço de combate à solidão destinada a todos
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quantos dele possam usufruir. Usou da palavra o Presidente da Assembleia Municipal, Águas da Cruz, que enalteceu a importância destes espaços nas nossas vidas e a ligação ao espírito dos valores da República. Por fim, o Presidente da Câmara, Francisco Martins, referiu ter tido a mesma preocupação quando criou uma estrutura similar em Lagoa, no jardim 5 de Outubro, em 2012, afirmando que os Centros Sénior se destinam à comunidade mais idosa, dando-lhe a possibilidade do contato, convívio e interação humana, único «medicamento» capaz de combater a solidão. Seguiu-se a viagem até à Vila de Ferragudo para a inauguração da Real Casa do Compromisso Marítimo, instalada na antiga sede da Junta de Freguesia, ao cimo da Rua 1.º de maio. O Presidente da Junta, Luís Alberto, historiou a razão do aproveitamento daquela estrutura e o objetivo que se pretende com a sua utilização falando em valores e identidade cultural de uma população ligada, desde sempre, à pesca artesanal e que se quer representada no «Compromisso». O Presidente Francisco Martins considerou que a inauguração do Compromisso Marítimo eleva a programação cultural da Freguesia, estando a Câmara Municipal em plena consonância com a Junta de Freguesia no sentido de apoiar iniciativas que deem uma dinâmica à utilização do espaço agora inaugurado. Por fim, a visita ao Parque Desportivo Municipal de Estômbar com a inauguração da pala de cobertura das bancadas e do novo piso sintético que a comitiva percorreu, recebendo explicações sobre a sua montagem e condições necessárias para a sua implementação, tendo ainda a possibilidade de contacto com os jovens futebolistas que, a essa hora, já evoluíam no campo, treinando a condução da bola .
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ESCOLA EB 2,3 D. DINIS DE LOULÉ VAI SER REQUALIFICADA
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oi dado um importante passo, no dia 8 de outubro, para a requalificação da Escola EB 2,3 D. Dinis de Quarteira, com a Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares e a Câmara Municipal de Loulé a assinarem um acordo de colaboração com vista a levar por diante aquela que é uma prioridade para o executivo municipal em matéria educativa. A Escola EB 2,3 D. Dinis, localizada na Quinta do Romão, entre Quarteira e Vilamoura, encontra-se em avançado estado de degradação e há muito que os responsáveis municipais têm alertado o Ministério da Educação para a necessidade de fazer uma intervenção profunda no edifício. Este acordo permitirá que a Autarquia elabore e aprove o projeto e desenvolva posteriormente as necessárias diligências para a execução da empreitada propriamente dita, instalação de mobiliário, material didático e equipamento e execução dos acessos e infraestruturas de suporte ao funcionamento da escola. A Câmara
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Municipal de Loulé ficará responsável também pela elaboração de um dossier de candidatura ao cofinanciamento pelo FEDER, no âmbito do Programa Operacional Regional do Algarve. A requalificação da Escola EB 2,3 tem um valor estimado de quatro milhões e 240 mil euros, sendo a taxa de comparticipação mínima de 50 por cento, condicionada pela aprovação da candidatura. A Autarquia ficará responsável pelos restantes 50 por cento. “Há seis anos que a escola se encontra para ser intervencionada mas parece que, finalmente, estamos no bom caminho. Com esta requalificação, o Município fecha um ciclo construtivo para nos dedicarmos à qualidade das ofertas, de condições ambientais e de equipamentos nas escolas, para a facilitação das aprendizagens, para apoio aos professores e para trabalhar em conjunto com as direções escolares e com as recomendações do Conselho Municipal de Educação”, frisa o presidente da Câmara, Vítor Aleixo . 38
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BOMBEIROS DE OLHÃO RECEBEM VEÍCULO URBANO DE COMBATE A INCÊNDIOS DE NOVA GERAÇÃO
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Município de Olhão adquiriu um Veículo Urbano de Combate a Incêndios (VUCI) para o seu Corpo de Bombeiros, aumentando desta forma a eficiência e segurança dos soldados da paz e respetivas populações. A viatura custou 241 mil e 680 euros e a sua aquisição resultou de uma candidatura de Reequipamento Estratégico do Algarve, promovida pela Comunidade Intermunicipal do Algarve, e concretização do Município de Olhão, no âmbito do Programa Operacional Algarve 21. O veículo cumpre a nova norma Europeia do Euro 6, no que diz respeito a chassis e motor (ainda mais amigo do ambiente) e obedece rigorosamente a todas as normas portuguesas neste tipo de veículos de bombeiros. A nova viatura é composta por uma cabina para equipa de seis bombeiros e superestrutura, com tanque de agente extintor de 2000 litros de água e 100
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litros de espumífero. Tem também uma bomba de serviço de incêndio, carretel, equipamentos de extinção e supressão, hidráulicos, elétricos, de sapador, de salvamentos e desencarceramentos, comunicações da rede operacional bombeiros e Siresp, GPS, ARICAS de compósito de carbono e APS, diversos materiais e equipamentos para estabilização de sinistrados e demais materiais e equipamentos necessários à supressão de incidentes nas operações de proteção e socorro, realizadas pelos Bombeiros. O novo VUCI possui ainda uma câmara térmica e um Desfibrilhador Automático Externo (DAE), um detetor de multigases e estação meteorológica, todos portáteis. Esta nova viatura destina-se prioritariamente à intervenção em espaços urbanos, tecnológicos ou industriais, podendo intervir em operações de desencarceramento, de acordo com os protocolos estabelecidos .
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PASSAGEM DE NÍVEL PEDONAL DE OLHÃO REABRE COM MAIOR SEGURANÇA
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passagem de nível pedonal que separa as avenidas da República e Bernardino da Silva, em Olhão, e que havia sido encerrada pela Refer, por razões de segurança, volta a estar aberta ao público a partir de 12 de outubro, agora com vigilância e mais condições para os transeuntes. A garantia é da «Infraestruturas de Portugal», depois do acordo alcançado com a Câmara Municipal de Olhão, que negociou a melhor solução possível para maior conforto dos olhanenses. A «Infraestruturas de Portugal», empresa de capitais públicos que tem agora a seu cargo as linhas férreas, no âmbito da fusão da Refer e da «Estradas de Portugal», já anunciou que a passagem de nível será preparada de modo a que as pessoas possam atravessar em segurança e será instalado um labirinto. O projeto foi feito em conjunto com a Câmara de Olhão, tendo os técnicos da empresa e da autarquia estado em contacto, com vista a que o resultado final respondesse às pretensões de ambas as partes. A reabilitada passagem de nível irá contar com
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vigilância humana, pelo que foi dada formação nesse sentido aos seguranças que terão essa função. Refira-se que a passagem de nível estará aberta entre as 06h30 e as 22h. Durante a noite, deverá ser utilizada a passagem inferior, por questões de segurança. O atraso na reabertura da passagem, relativamente ao anunciado em julho deveu-se, segundo o presidente da Câmara de Olhão, à necessidade de a Autarquia lançar um concurso público com o objetivo de contratar vigilância humana. As obras que deverão estar concluídas no dia 12 de outubro são da responsabilidade da IP, sendo depois os encargos com as mesmas, divididos entre a IP e o Município. Entretanto, o concurso público para a obra da passagem inferior deverá ser lançado em breve pela Câmara Municipal de Olhão, uma vez que o projeto já está concluído e aguarda aprovação pela Assembleia Municipal do compromisso plurianual. A perspetiva é de que a obra se inicie no final deste ano ou no início de 2016 . 42
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DEZ ANOS DEPOIS, CÂMARA DE PORTIMÃO VOLTOU A APRESENTAR RESULTADO LÍQUIDO POSITIVO
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presidente da Câmara Municipal de Portimão Isilda Gomes prepara-se para levar a Reunião de Câmara o relatório das contas intercalares do primeiro semestre de 2015, e os números revelam, pela primeira vez em 10 anos, um resultado líquido positivo na ordem dos 3,4 milhões de euros. Em comparação com o período homólogo de 2014, o resultado líquido passa de cerca de 5.5 milhões negativos para 3.4 milhões positivos, revelando uma recuperação assinalável de 9,2 milhões de euros num espaço de um ano. Para estes rácios muito contribui uma gestão muito rigorosa, a boa execução da receita e a diminuição, num espaço de um ano, de cerca de 16 milhões de euros das dívidas totais a terceiros, incluindo os empréstimos de curto, médio e longo prazo. Na realidade, o endividamento total registou um decréscimo na ordem dos 9,8 por cento face ao mesmo período de 2014 e para tal contribuiu positivamente a diminuição das responsabilidades com o endividamento de curto prazo em cerca de 10,4 por cento, ou seja, a autarquia de Portimão pagou dívidas no valor global de 15 milhões de euros entre julho de 2014 a junho de 2015 e 30 milhões de euros desde o início do mandato.
Estes números permitem agora ao Executivo liderado por Isilda Gomes dedicar-se à concretização dos projetos de reabilitação do Parque Habitacional Municipal, de Erradicação de Barracas, de Recuperação e Reabilitação do Espaço Público e das Infraestruturas Municipais, nomeadamente do Parque Escolar Municipal, Equipamentos Desportivos, espaços verdes e infraestruturas viárias . 43
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ANEL DE CIRCULAÇÃO DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL CONCLUÍDO Brás de Alportel. 12 anos depois do seu início chegou assim à sua última etapa este projeto estruturante para o desenvolvimento de São Brás de Alportel. Mais do que uma nova via, São Brás de Alportel ganhou uma nova forma de estar na vida com a Circular Norte que transformou as rotinas e os quotidianos dos são-brasenses. Ao longo dos seus quase quatro quilómetros, jovens e crianças, adultos e seniores caminham, correm, andam de bicicleta, convivem e vivem cada vez mais, com mais qualidade de vida, em mais segurança, com mais saúde e felicidade. A construção desta obra teve início em 2003 e foi executada em três fases, tendo resultado na construção de uma via de comunicação desde a Rotunda da EN2 até à rotunda da EN 270, numa extensão com cerca de quatro quilómetros e sete rotundas que, juntamente com a Variante Sul, vem melhorar significativamente a circulação de trânsito no município são-brasense. Paralelamente à execução desta via foi construído um Circuito de Manutenção e passeio acessível, duas estruturas fundamentais para a prática de desporto em ambiente urbano e para a promoção de um estilo de vida saudável. A fase 3.2 da Circular Norte foi adjudicada à empresa Eduardo Pinto Viegas Lda. por 997 mil euros, com financiamento comunitário a 65 por cento. “É mais uma meta alcançada, uma importante infraestrutura para a qualidade de vida dos são-brasenses que vem semear sorrisos. Além de facilitar a circulação automóvel, esta via conta com equipamentos para a prática desportiva e lazer, respeitando ainda o património envolvente. A qualidade de vida e uma redução drástica na sinistralidade de cerca de 80 por cento é uma vitória deste projeto que mudou a imagem urbana de São Brás de Alportel para sempre”, destacou o edil Vítor Guerreiro .
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o dia em que se celebrou o 105.º aniversário da implantação da República Portuguesa, regime cuja História se cruza com a História da criação do concelho de São Brás de Alportel, e 10 anos após o lançamento do 1.º troço (a 4/07/2005), foi inaugurado o último e derradeiro troço da Circular Norte de São Brás de Alportel. A sessão solene teve lugar junto à rotunda da Entrada Nascente e contou com a participação do Presidente da Câmara Municipal, Vítor Guerreiro, o Presidente da AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve, Jorge Botelho, o Presidente da Assembleia Municipal, Ulisses Saturnino, o Deputado Miguel Freitas, os presidentes da Junta e da Assembleia de Freguesia, David Gonçalves e Ilídio Viegas e ainda o ex-Presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, António Eusébio, enquanto fundador deste sonho comum. O descerrar da placa realizou-se junto ao Monumento concebido especialmente para esta ocasião, uma criação artística de Hélder Pereira e JJ Brito que ilustra em metal o anel de circulação, constituído pela Variante Sul e pela Circular Norte, e as principais vias do município de São
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RUI MOREIRA NO PALCO DO TEATRO DAS FIGURAS
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eve lugar, no dia 7 de outubro, mais uma sessão do Ciclo de Conferências Ideias em Palco, que tem como comissário João Guerreiro, ex-reitor da Universidade do Algarve. O orador convidado desta feita foi Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto, que debateu, no palco do Teatro das Figuras, as cidades e suas populações, numa conferência subordina ao tema «Que Governança da Cidade Garante a Comunidade Viva?». Rui Moreira falou do projeto que encabeçou na candidatura à liderança da Câmara Municipal do Porto, composto por um grupo de pessoas que procuravam um projeto alternativo para aquela cidade. O autarca assumiu que, no manifesto que o movimento que liderou apresentou aos portuenses, a Cultura assumiu papel central, porque, segundo nas suas palavras, “cultura são as pessoas”. O orador deu a conhecer a forma como o município do Porto tem procurado contrariar a desertificação do centro histórico da cidade, evitando aquilo que classificou como «efeito donut», em que os centros das cidades perdem
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os seus moradores para as periferias e em que, fruto da estagnação da liquidez, os movimentos de «contramigração» (da periferia para o centro) são muito lentos. A questão da reabilitação urbana, muito grata a Rui Moreira, que foi presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto e à qual se referiu como «um trabalho de relojoaria», gerou grande interesse junto da audiência presente. O Presidente deu a conhecer a experiência que se vem realizando no Porto, em que se faz a reabilitação numa «lógica de quarteirões», protegendo o mais possível populações que muitas vezes não têm capacidade financeira para manter os imóveis e procurando o mais possível trazer vida àquelas zonas nobres da cidade, evitando que estes imóveis se tornem incomportáveis para os autóctones e só acessíveis a investidores estrangeiros que não permanecem na cidade. Com uma forte adesão do público, a conversa foi depois aberta ao público, que colocou as suas questões sobre áreas tão distintas como os poderes efetivos da autarquias, a reabilitação urbanística, fazendo um contraponto com a situação que se vive na região algarvia. O Ciclo de Conferências Ideias em Palco é da responsabilidade do Teatro das Figuras com o apoio da Câmara Municipal de Faro, da Universidade do Algarve, da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Algarve, da Etic_Algarve e da Space Invaders .
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