REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #284

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ALGARVE INFORMATIVO 20 de março, 2021

AL-MOURARIA TEM NOVO DISCO | «TOMA LÁ, DÁ CÁ» APOIA COMÉRCIO DE LOULÉ ALGARVE TEIA1 D’IMPULSOS FESTEJOU 10.º ANIVERSÁRIO | «1.º DIREITO» CHEGA A INFORMATIVO TAVIRA#284


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68 - AL Mouraria têm novo disco

18 - «1.º Direito» já está em Tavira

38 - 10 anos de Teia d’Impulsos

28 - «Toma Lá Dá Cá» apoia comércio local do concelho de Loulé

OPINIÃO 78 - Paulo Cunha 80 - Mirian Tavares 82 - Ana Isabel Soares 84 - Fábio Jesuíno 86 - Vera Casaca 52 - «A Noite de Molly Bloom» da ACTA ALGARVE INFORMATIVO #284

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TAVIRA INVESTE 28 MILHÕES DE EUROS NA SUA ESTRATÉGIA LOCAL DE HABITAÇÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Município de Tavira ealizou-se, no dia 10 de março, a cerimónia de homologação do acordo de colaboração entre a Câmara Municipal de Tavira e o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU) no âmbito do programa de apoio ao acesso à habitação «1.º Direito». O ato contou com a presença da edil tavirense, Ana Paula Martins, do Secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local, Jorge Botelho, e da Secretária de Estado da Habitação, ALGARVE INFORMATIVO #284

Marina Gonçalves, com as soluções habitacionais a pretenderem auxiliar 538 agregados, ou seja, 1.634 pessoas que vivem em condições inadequadas no concelho de Tavira. Para tal, a Autarquia vai fomentar a reabilitação de frações e prédios habitacionais, a construção de prédios ou empreendimentos e a aquisição de frações ou prédios com vista à habitação, num investimento estimado de 17 milhões, 589 mil e 524,59 euros. A Estratégia Local de Habitação de Tavira começou a ser «desenhada» no 18


Ana Paula Martins, presidente da Câmara Municipal de Tavira

final de 2018, início de 2019, tendo sido aprovada, já em fevereiro de 2021, pela Assembleia Municipal de Tavira. “Nos

últimos anos temos assistido ao aumento das rendas, face à escassez de habitação disponível no mercado de arrendamento permanente, e o Algarve tem sofrido bastante com esta situação. Tavira é o quarto concelho com o custo de construção por metro quadrado mais elevado da região, o que dificulta bastante a tarefa das famílias adquirirem a sua habitação”, reconheceu Ana Paula Martins, considerando que as políticas de habitação são cruciais para o desenvolvimento dos territórios, por permitirem a fixação de jovens e de mãode-obra. “Temos que dar resposta a 19

milhares de agregados que vivem em situações indignas, em alojamentos precários e sobrelotados”, reforçou a autarca. Ana Paula Martins felicitou, entretanto, o governo por ter escolhido os Municípios como parceiros privilegiados para a implementação do «1.º Direito», devido ao maior conhecimento que têm da realidade, mas recordou que a crise de 2009 a 2013 provocou uma queda acentuada das receitas camarárias.

“Como os Municípios estavam condicionados no que toca ao seu endividamento e não existiam empréstimos bonificados para esta matéria, não houve ALGARVE INFORMATIVO #284


possibilidade de se construir novas habitações sociais, realizando-se, por isso, outros investimentos que também eram fundamentais para o desenvolvimento dos concelhos. Essa realidade mudou por completo, em 2018, quando foi criado o Programa de Apoio e Acesso à Habitação”, enalteceu a presidente da Câmara Municipal de Tavira, revelando que já estão a ser realizados os projetos para a construção de 32 fogos de habitação social nas freguesias de Conceição de Tavira/Cabanas e Santo Estêvão.

“Esperamos lançar, até ao final do ano, as respetivas empreitadas”, indicou. Apesar dos constrangimentos financeiros, Ana Paula Martins garante que o Município de Tavira nunca descurou a reabilitação do seu edificado, na ordem dos 600 fogos de habitação social, estando nova empreitada pronta para avançar, no montante de 1 milhão e 800 mil euros. “As necessidades têm

vindo a agravar-se no concelho de Tavira, há cada vez mais agregados a viver em situações impróprias e, inclusive, a regressarem a casa dos progenitores. Por isso, na nossa Estratégia Local de Habitação está contemplada a aquisição de terrenos para construção de fogos de habitação social e a custos controlados, e a requalificação do restante edificado municipal. É uma estratégia orçada em cerca de 18 ALGARVE INFORMATIVO #284

milhões de euros e, por via deste acordo com o IHRU, o Município de Tavira pode vir a beneficiar de um financiamento na ordem dos 15 milhões de euros, dos quais 9 milhões de euros em compensações financeiras a fundo perdido e os restantes 6 milhões de euros através de um empréstimo bonificado”, esclareceu Ana Paula Martins.

“Estamos perante as condições ideais para que a Câmara, sem 20


honorar em demasia os seus orçamentos municipais e os outros investimentos futuros, possa construir e dar resposta a estes agregados familiares”. A Estratégia Local de Habitação de Tavira prevista até 2030 foi apresentada pelo Chefe da Unidade de Ação Social da Câmara Municipal, Dearkson Vieira, e estabelece prioridades a curto, médio e longo prazo no quadro do reforço da regeneração urbana e do mercado de arrendamento, através da construção e 21

reabilitação de imóveis. “É um

instrumento de planeamento dinâmico e evolutivo, assente num diagnóstico de recursos e carências e com um modelo de intervenção que se pretende transparente, programático e mensurável. Tavira tem um parque habitacional recente e maioritariamente bem conservado, mas existem, de facto, agregados a residir em ALGARVE INFORMATIVO #284


condições indignas e com dificuldades para aceder ao mercado de arrendamento”, referiu Dearkson Vieira, lembrando ainda que o desenvolvimento da Estratégia Local de Habitação é um requisito obrigatório de acesso às linhas de financiamento do Programa «1.º Direito». Segundo o diagnóstico efetuado, verificam-se, no concelho de Tavira, 538 condições habitacionais indignas, com 380 famílias em situação de insalubridade e segurança, 111 em situação de precariedade, 45 em situação de sobrelotação e 2 em situação de inadequação. Uma realidade com maior expressão nas freguesias de Tavira e Luz de Tavira/Santo Estêvão. Preconizam-se, então, soluções de construção, aquisição e reabilitação, estando prevista a construção, nos próximos três anos, de ALGARVE INFORMATIVO #284

50 habitações, bem como a aquisição de habitações dispersas e uma reabilitação no quadro de reforço da regeneração urbana. “O «1.º Direito»

vai permitir um apoio direto às pessoas para acesso a uma habitação adequada (538 famílias), mas também apoiar entidades para a promoção de soluções habitacionais, que podem ser associações de moradores, cooperativas de habitação e construção ou proprietários de frações em núcleos degradados”, apontou Dearkson Vieira, falando, neste caso, em 277 famílias, compostas por 913 pessoas. “Até 2030, a Estratégia

Local de Habitação de Tavira tem como meta o apoio direto a 1.349 22


famílias, cerca de 4 mil e 208 pessoas, num investimento total de 28,2 milhões de euros”, concluiu o Chefe da Unidade de Ação Social da Câmara Municipal de Tavira. Na homologação do acordo de colaboração com o IHRU participou igualmente o anterior presidente da Câmara Municipal de Tavira, Jorge Botelho, agora Secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local, que descreveu a Estratégia Local de Habitação de Tavira como

“multifacetada e muito completa para responder a uma necessidade emergente e real”. “No passado, houve municípios que investiram em habitação social com empréstimos excecionados – mas que foram acumulando dívida – e outros com empréstimos bancários tradicionais, alguns com períodos de carência alargados, que depois tiveram que ser pagos pelos executivos que se seguiram. E a crise financeira de 2011/2021, associada a um excesso de endividamento, colocou graves dificuldades às câmaras municipais”, lembrou Jorge Botelho. A situação presente é bastante mais benéfica, com um pacote financeiro definido pelo Ministério da Habitação e das Infraestruturas precisamente a pensar nas Estratégias Locais de Habitação entretanto delineadas pelos Municípios. “Tavira é um dos 30

primeiros municípios portugueses a 23

ter condições de acesso ao «1.º Direito», o que atesta a importância que o executivo dá às pessoas socialmente desfavorecidas que não conseguem ter uma habitação condigna. E isso porque vivemos numa zona especialmente turística que torna proibitivos os preços no mercado de arrendamento”, analisou o governante, destacando ainda a componente de 60 por cento de financiamento, a fundo perdido, inerente à implementação do «1.º Direito» em Tavira, até ao segundo semestre de 2025, a que se juntam mais seis milhões de euros de empréstimos bonificados. “E esta Estratégia

Local de Habitação recorre a vários mecanismos para responder às necessidades da população de Tavira, com empréstimos a particulares, aquisição de terrenos, requalificação do edificado municipal, arrendamento apoiado, para mais facilmente se atingirem os objetivos preconizados até 2030. É uma estratégia que certamente vai dar frutos e assim tornar Tavira cada vez mais atrativa para se viver, visitar e trabalhar”, acredita Jorge Botelho. Satisfeita com a assinatura de mais um acordo de colaboração entre uma Câmara Municipal e o IHRU mostrou-se ALGARVE INFORMATIVO #284


igualmente Marina Gonçalves, lamentando que, durante várias décadas, este direito constitucional tenha sido preterido face a outras prioridades,

“numa visão errada daquilo que era o papel do Estado no direito à Habitação”. “Isto fez com que não existisse uma estratégia nacional e transversal da parte do poder central e dificultou a atuação dos municípios em matéria de habitação. Felizmente que, nos últimos anos, fomos invertendo esta tendência e assumindo a responsabilidade do Estado no financiamento e na salvaguarda das soluções habitacionais, reforçando o parque habitacional público – não apenas na habitação social, mas também para as famílias de rendimentos intermédios – e assim permitimos às autarquias direcionar esse investimento para outras componentes”. A Secretária de Estado da Habitação entende que o «1.º Direito» é um programa essencial para dar resposta à população com menores rendimentos e aos grupos mais vulneráveis, tendo igualmente uma lógica de coesão territorial e de integração. “A habitação

nunca devia ter estado fora das políticas centrais dos governos, porque as pessoas precisam viver em condições dignas e adequadas. A pandemia veio demonstrar que a habitação não é apenas o local onde vivemos como família, mas também ALGARVE INFORMATIVO #284

onde trabalhamos e estudamos”, realçou Marina Gonçalves, frisando que o mercado, por si só, não dá resposta às famílias. “Por isso, o Estado não

pode ser um mero financiador, tem também que ser um executor de políticas públicas. E o Município de Tavira está de parabéns por dar mais um passo importante para a concretização da sua Estratégia Local de Habitação, seja por via do «1.º 24


Direito» ou de outros programas que preparou para os mais jovens e para as famílias de rendimentos intermédios. Estamos a dar respostas à população”, enalteceu a governante, esclarecendo que, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, caso se consiga cumprir o calendário temporal do «1.º Direito» de julho de 2026, o financiamento a fundo perdido concedido às autarquias pode atingir aos 100 por cento. “No caso de Tavira, são 25

oito milhões de euros que a Câmara Municipal poderá investir noutras áreas e também haverá financiamento para soluções para as pessoas sem-abrigo e outros grupos vulneráveis. Temos um caminho longo e ambicioso para percorrer, porque a Habitação não pode ser uma política do momento, mas sim duradoura e estável” . ALGARVE INFORMATIVO #284


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«TOMA LÁ DÁ CÁ» ESTIMULA COMÉRCIO LOCAL DO CONCELHO DE LOULÉ COM UM MILHÃO DE EUROS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes Município de Loulé tem promovido, ao longo do último ano, diversas iniciativas para apoiar as famílias e o desenvolvimento do tecido económico local e, para mitigar os efeitos deste último confinamento, preparou uma campanha de fomento ao comércio local no valor inicial de um milhão de euros. A campanha, promovida pela Câmara Municipal de Loulé em conjunto com a ALGARVE INFORMATIVO #284

ACRAL – Associação de Comércio e Serviços da Região do Algarve e o NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve, e em colaboração com a Associação de Empresários Por Quarteira e a Associação Restauração e Comércio e Restauração da Cidade de Loulé, terá início a 19 de março e pretende estimular de forma rápida e eficaz a economia local. Durante a apresentação da campanha, que teve lugar, no dia 12 de março, no Palácio Gama Lobo, em 28


Pedro Pimpão, vice-presidente da Câmara Municipal de Loulé

Loulé, Pedro Pimpão fez questão de lembrar que “só em conjunto é que

conseguimos ultrapassar as dificuldades que temos, sejam elas de saúde, sociais ou económicas”. “É fundamental apoiar as empresas numa situação particularmente difícil, numa altura em que se verifica também uma quebra de confiança da parte dos consumidores e dos investidores. Esta campanha tem um caráter inovador pelo estímulo multiplicativo do consumo que promove e entendemos que o comércio local é aquele que deve ter uma atenção redobrada por parte de uma autarquia. Cingimo29

nos, por isso, ao apoio ao pequeno comércio e ao microempresário”, explicou o vicepresidente da Câmara Municipal de Loulé. O «Toma lá dá cá» é uma campanha de descontos diretos no consumo realizado no comércio local, restauração e serviços, numa lógica de gestão e de marketing alicerçada no aumento do volume de negócio, mas também numa dinâmica de crossselling, ou seja, de cruzamento de atividades comerciais, contemplando, para já, um investimento inicial de um milhão de euros. Um apoio que, conforme referido, será direcionado para empresários e trabalhadores em nome individual e para microempresas ALGARVE INFORMATIVO #284


até 9 funcionários e com uma faturação máxima de 350 mil euros a 31 de dezembro de 2019, “aquele que se

considera o último ano normal de dinâmica económica existente”, indicou Pedro Pimpão, acreditando que se poderão contemplar perto de 700 empresas do concelho de Loulé. “Apesar

de haver microempresas integradas em grandes superfícies comerciais, elas estão excluídas desta campanha, porque o objetivo é estimular o comércio local como forma de revitalizar também os centros urbanos de Loulé, Quarteira e Almancil. Os microempresários e empresas de baixa dimensão que se encontram em grandes superfícies já beneficiam dessa promoção, divulgação e dinamismo”, justifica o autarca.

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OS CAE – Códigos de Atividade Económica elegíveis são precisamente os mais afetados pela pandemia, com especial relevância para a restauração, que irá abrir definitivamente a 19 de abril, sendo que, com esplanada, isso poderá acontecer já a 5 de abril. “A

restauração emprega mais pessoas do que qualquer outro setor e deve ter uma especial atenção. Os ginásios e cabeleireiros, que retomam a sua atividade a 15 de março, poderão também ser elegíveis nesta campanha”, referiu Pedro Pimpão, antes de explicar como tudo vai funcionar. “Os consumidores vão

ter descontos nas primeiras e segundas compras, sendo que, na primeira, existem dois patamares: em compras de valor igual ou

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superior a 10 euros, o estabelecimento fará um desconto imediato ao cliente de 2,5 euros; em compras de valor igual ou superior a 20 euros, o desconto será de 5 euros. Em simultâneo, o consumidor recebe, de imediato, um cheque de 7,5 ou 15 euros para aplicar, no mesmo estabelecimento ou noutro qualquer que faça parte da campanha. Posso ir cortar o cabelo e depois usar o vale-cheque num restaurante”, exemplifica o vicepresidente da Câmara Municipal de Loulé.

“Na conjugação da primeira e da segunda compra, o estabelecimento poderá ter um apoio público ou associativo no montante total de 2 mil e 400 euros. E este modelo gera um efeito multiplicativo de curto prazo, porque queremos que a economia recupere mais depressa 31

dos não ganhos decorrentes dos confinamentos que têm acontecido no último ano. Vivemos um período muito difícil e o Algarve e o concelho de Loulé dependem bastante do retomar do turismo, algo que ainda é incerto, pelo que pretendemos acelerar o consumo interno, das famílias e cidadãos que aqui vivem e trabalham”, reforça Pedro Pimpão, adiantando ainda que a presente campanha deverá perdurar até final de 2021. O autarca enfatizou igualmente que a pandemia não desapareceu, mas a vida tem de continuar. “Devemos cuidar de nós

e dos outros e, de uma forma disciplinada e rigorosa, precisamos conviver, consumir e desenvolver o nosso território e o ânimo e a confiança das pessoas”. ALGARVE INFORMATIVO #284


Na ocasião, Paulo Alentejano, presidente da ACRAL – Associação de Comércio e Serviços da Região do Algarve, confirmou ser crucial ajudar todos os empresários e comerciantes a ultrapassar os efeitos da pandemia e, com isso, apoiar todas as pessoas que estão a ser afetadas por esta crise económica. “A

situação é mais grave no Algarve do que no resto do país, devido à grande dependência que temos do turismo, e os cinco milhões de euros de dinâmica que se podem atingir com esta campanha são uma excelente notícia para o setor”, afirmou o dirigente, antes de passar a palavra a Vítor Neto, presidente do NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve. “Esta é uma iniciativa

espetacular, tendo em conta uma crise que dura há já um ano e que degradou a situação económica e social da nossa região de uma forma bastante grave. A iniciativa tem objetivos muito concretos e vai ter resultados, beneficiando os consumidores e estimulando psicologicamente a sua intervenção, e reforçando e apoiando os empresários, que podem ter aqui um elemento de esperança e confiança em relação ao futuro”, frisou, sublinhando que a estrutura empresarial de Portugal não é muito distinta da existente noutros países europeus. “A grande diferença é a

sua consistência. É evidente que uma microempresa na Alemanha, ALGARVE INFORMATIVO #284

França ou Itália tem uma força que resulta de uma seleção muito dura e, em Portugal, não temos um projeto económico que estimule as pessoas. Precisamos saber valorizar o papel das micro, das pequenas e das médias empresas, porque, sem elas, não existe economia”, avisa Vítor Neto. A sessão foi encerrada por Vítor Aleixo, que salientou a importância desta campanha para os meses que se seguem no concelho de Loulé. “É um

projeto coletivo que envolveu muita gente e um tempo de reflexão, preparação e planeamento, portanto, tenho que agradecer a todos aqueles que o tornaram possível, nomeadamente às associações empresariais que são regularmente nossas parceiras sempre que queremos dinamizar a economia local”, declarou o presidente da Câmara Municipal de Loulé, referindo-se à ACRAL e ao NERA, mas também às duas associações que surgiram já em contexto de pandemia para defender os interesses do tecido empresarial que representam, nomeadamente a Associação de Empresários Por Quarteira e a Associação Restauração e Comércio e Restauração da Cidade de Loulé.

“Foram fundamentais porque nos trouxeram ideias e nos estimularam, porque nos chamaram a atenção para a 32


Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé

gravidade da situação que estavam a viver. Esta é a nossa resposta para um período de desconfinamento gradual e de gradual retoma da atividade económica. Não é uma resposta convencional e é, primeiro que tudo, um grande estímulo aos consumidores. Nota-se um sentimento de tristeza nas pessoas que é preciso ultrapassar, estão ansiosas por voltar à vida normal, e o dinheiro que vamos investir terá uma multiplicação na economia bastante importante”, acredita o autarca. Vítor Aleixo reconheceu que, numa primeira fase, as atenções da Câmara Municipal de Loulé estiveram 33

concentradas na ajuda às instituições e pessoas para lidar com os problemas de saúde pública, mas também se tomaram medidas que visavam a proteção e o auxílio à economia local.

“As questões de saúde pública passam agora para segundo plano e vamos investir no apoio à economia. O programa vai ser um sucesso, tudo foi pensado e planeado com o maior cuidado e acredito, sinceramente, que temos aqui uma ferramenta bastante boa para valer às nossas empresas. A crise económica é séria e o governo, nas suas competências, tem criado iniciativas que visam aguentar a estrutura das empresas para que ALGARVE INFORMATIVO #284


não morressem. O nosso foco é o estímulo ao consumo e, assim, fazer bem às empresas, numa lógica de complementaridade”, destacou o edil louletano, deixando ainda um alerta: “O desconfinamento é gradual e precisamos continuar a ter muito cuidado, porque notam-se alguns sinais, noutros países da Europa, que nos preocupam e que desejamos que sejam controlados. Vamos trabalhar, com vigor e esperança, mas sempre com cuidado, para que os esforços que estamos a fazer não redundem num novo passo atrás, algo que seria trágico”. De relembrar que, já em outubro de 2020, para prevenir e mitigar os efeitos da pandemia, a autarquia louletana aprovou o Programa de Apoio à Gestão Económica e Social do Concelho de Loulé, com um ALGARVE INFORMATIVO #284

conjunto diversificado de medidas, para uma resposta eficaz em áreas como a saúde, a proteção civil, o comércio, a cultura entre outras. Estas medidas têm vindo a ser implementadas, tendo já tido um impacto importante na vida dos munícipes e na sustentabilidade das empresas do concelho, com destaque para o desagravamento fiscal implementado desde há alguns anos atrás. O trabalho desenvolvido ao longo do último ano foi sempre realizado em colaboração com os empresários do território, tendo assim sido implementadas iniciativas como a campanha de promoção de Natal do Comércio Local, a criação do site loulelocal.pt, a campanha «Do Restaurante à Janela do Táxi», assim como a promoção de diversos encontros entre os empresários e as entidades regionais, em formato webinar .

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“O NOSSO PAPEL É SERMOS DISRUPTIVOS, NO BOM SENTIDO, E SERMOS CATALISADORES DE ENERGIAS”, EXPLICA LUÍS BRITO, PRESIDENTE DA TEIA D’IMPULSOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Teia d’Impulsos e modo online, como quase tudo o que acontece por estes dias, a Teia d’Impulsos assinalou, no dia 16 de março, o seu 10.º aniversário, completando uma década ao serviço da população de Portimão, e não só, com projetos que vão desde o desporto à ação social, da formação à cultura, uns mais mediáticos do que outros, mas todos com um impacto importante na sociedade. Por isso, apesar de todos os ALGARVE INFORMATIVO #284

constrangimentos ditados pela pandemia por covid-19, Luís Brito, presidente da direção, era um homem feliz no momento de fazer uma retrospetiva sobre o que tem sido a existência desta associação sem fins lucrativos cujo principal objetivo é dinamizar projetos de cariz social, cultural e desportivo alicerçados na igualdade de direitos e oportunidades entre todos os cidadãos e que sejam uma mais-valia no desenvolvimento social. 38


Criada, em março de 2011, por vontade de um grupo de amigos, a Teia d’Impulsos projetou e concretizou, sem dúvida, algumas das iniciativas que mais dinamismo trouxeram a Portimão desde então, razão pela qual acabaram por se expandir para todo o Algarve e, nalguns casos, para o resto do país. Um crescimento que se comprova igualmente pelo aumento exponencial do seu número de sócios, que passou dos 22 iniciais para 748 em 2021. E, em termos de atividade no terreno, contam-se já 39 projetos sociais, culturais e desportivos, num total de 1.588 ações levadas a cabo um pouco por todo o Algarve. “A

associação nasceu de um impulso de um grupo de amigos que queria fazer alguma coisa por Portimão. Há 10 anos, a cidade estava moribunda,

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a partir das 17h30, 18h, não se via ninguém na rua, não havia dinâmica comercial, empresarial ou social. Estávamos em plena crise, depois de Portimão ter vivido um período de «esplendor fictício». Apostou-se »nos cavalos errados» e deixou-se o concelho numa situação financeira bastante complexa e difícil da qual ainda hoje estamos a sair”, analisa o entrevistado. Recuando ao passado, mais concretamente a fevereiro de 2011, Luís Brito precisou desenvolver uma resposta social e desportiva para as crianças da Casa da Nossa Senhora da Conceição e percebeu a importância de existir uma entidade formal que

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suportasse este projeto de cariz social que utilizava a prática da vela como ferramenta facilitadora para elevar os níveis de socialização, tolerância, autoestima e comunicação dos seus beneficiários, sobretudo no caso dos jovens e pessoas com mobilidade condicionada. Desde então, o «Vela Solidária» foi acolhido por mais de 20 instituições e juntou mais de 500 crianças e jovens de Portimão, Lagos, Lisboa e Porto em mais de 600 atividades. Se a «Vela Solidária» surgiu por impulso de Luís Brito, da vontade de Nuno Vieira apareceu, a 3 de setembro de 2011, outro dos projetos emblemáticos da Teia d’Impulsos, a «Rota do Petisco», o maior projeto gastronómico realizado em Portugal e que envolve dezenas de parceiros e que deu origem, dois anos depois, à «Rota Solidária», um projeto ALGARVE INFORMATIVO #284

criativo e sustentável que promove a capacitação em organizações. O mecanismo é simples, o valor pago na aquisição do Passaporte da «Rota do Petisco» é destinado às organizações apoiadas e, desde 2013, já foram angariados 140 mil euros e apoiados 71 projetos e associações sociais, culturais e desportivas. “Tudo foi surgindo

em função das motivações individuais de cada um e do sentido de compromisso do grupo. A vela é a minha «praia» e o Nuno Vieira tinha ido a Cádis e participado numa Rota das Tapas e entendeu que seria uma boa aposta para Portimão. Nos últimos anos, a escolha dos projetos tem sido feita numa perspetiva mais estratégica e 40


menos de impulso e da vontade de cada um de nós”, explica o presidente da associação. À «Vela Solidária», à «Rota do Petisco» e à «Rota Solidária» juntaram-se, por isso, projetos mais de cariz social, como é o caso do «À Bola Para Ajudar», que concilia a vertente solidária com o ambiente desportivo. Dinamizada em parceria com o Portimonense Sporting Clube e a Portimonense Futebol SAD, a iniciativa encoraja o apoio a instituições sociais, através da oferta de produtos alimentares e de higiene destinados a pessoas em situações de carência económica, tendo sido recolhidos, desde 2012, e em sete edições, mais de 26 toneladas de alimentos. Em 2020, devido

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à pandemia, o «À Bola Para Ajudar» deu lugar ao «Convocados para ajudar», projeto de sensibilização de angariação de alimentos para o Refeitório Social da Nossa Senhora do Amparo que permitiu a distribuição de 90 refeições diárias. Desde 2018, a Teia d’Impulsos organiza também o FICA – Férias Inclusivas para a Comunidade Algarvia, um campo de férias inclusivo que abrange todas as férias escolares no ano letivo e promove o desenvolvimento de competências em crianças e jovens com deficiência, proporcionando uma experiência dinâmica e divertida, melhorando a sua confiança, tranquilidade, segurança e

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qualidade de vida num ambiente de proximidade e cooperação. Em apenas dois anos já tiveram lugar oito edições, num total de 209 dias preenchidos com atividades que juntaram 30 crianças nas férias escolares e que deram apoio a 90 familiares de crianças e jovens com deficiência. E, claro, uma palavra especial para o «HOPE», projeto de apoio a doentes oncológicos criado em 2016 que procura melhorar a sua qualidade de vida, possibilitando a acessibilidade a diferentes terapias e atividades que ALGARVE INFORMATIVO #284

promovam o seu bem-estar, a adoção de estilos de vida saudáveis e uma vivência tranquila no seu processo de doença; assim como para o «Vela Adaptada», projeto terapêutico que promove a inclusão e realização pessoal em pessoas com limitações físicas ou cognitivas, através de uma experiência dinâmica levando os seus participantes a sentirem-se apoiados por uma equipa multidisciplinar num ambiente desportivo. 42


MOVIMENTO ASSOCIATIVO É POUCO PARTICIPADO EM PORTUGAL Face a uma dinâmica cada vez intensa, os elementos da Teia d’Impulsos inscreveram-se, em 2020, numa formação promovida pela Fundação Manuel Violante, que os capacitou em várias áreas da gestão, nomeadamente do terceiro setor. “O nosso know-how, 43

hoje, é bastante elevado e, com todos estes apoios, somos uma organização muito bem suportada em termos de recursos humanos e das suas competências, quer sejam voluntários ou assalariados”, destaca Luís Brito, embora reconheça que nunca foi fácil conciliar a associação com a vida profissional e familiar dos seus dirigentes. “Mas ALGARVE INFORMATIVO #284


sempre o fizemos. No início tínhamos, pelo menos, uma reunião semanal que se prolongava pela noite adentro. A dedicação que cada um colocou na associação foi, efetivamente, muito grande e só assim é que conseguimos chegar onde chegamos. Hoje, temos colaboradores que, para além de nos ajudarem a pensar nos projetos e na solução dos problemas, operacionalizam depois as ações. Em termos financeiros, na época o Município de Portimão estava numa situação bastante complicada e o primeiro apoio que recebemos foi para pagar um outdoor para a primeira edição da «Rota do Petisco», dinheiro que só recebemos quatro anos depois”,

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conta o dirigente. “Por sorte, ou por

fazermos uma gestão igual à das nossas casas – racional e equilibrada –, sempre fomos crescendo financeiramente e adquirindo equipamentos e viaturas em segunda mão. O dinheiro é, obviamente, o «Calcanhar de Aquiles» em tudo o que fazemos, mas as coisas vão sendo feitas. Ao fim de 10 anos, entendo que fizemos uma excelente gestão financeira das nossas atividades e da nossa organização. Acho que somos um exemplo nessa matéria, porque nunca somos 100 por cento dependentes deste ou daquele financiador, público ou privado”, enaltece Luís Brito.

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Prova disso foi o ocorrido em 2020, em que, devido à crise provocada pela covid19, alguns habituais patrocinadores não puderam apoiar as iniciativas da Teia d’Impulsos, mas elas foram desenvolvidas à mesma. E outro sinal da boa-saúde da associação é que o núcleo duro se mantém praticamente inalterado desde 2011. “O movimento associativo em

geral é pouco participado em Portugal, porque ocupa tempo e gera despesas pessoais, para além da família e do trabalho às vezes ficarem um pouco de lado. Entram elementos novos com regularidade, uns para se manterem na estrutura de uma forma transversal, outros 45

mais focados em projetos específicos, mas a nossa equipa é basicamente a mesma”, refere o entrevistado. De volta aos muitos projetos desenvolvidos pela Teia d’Impulsos, a maior parte deles foram uma resposta a lacunas identificadas na sociedade pelos próprios elementos da direção, nomeadamente projetos de empreendedorismo social, mas outros foram aconselhados ou pedidos por amigos ou sócios. “Atualmente, em

função da vida social e económica do país e da nossa visão para o futuro, tentamos focar-nos apenas em alguns dos problemas ALGARVE INFORMATIVO #284


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que identificamos. Somos, possivelmente, a associação mais eclética de Portugal, porque abrangemos as áreas cultural, social, desportiva, ambiental e da saúde ou cidadania, e queremos, acima de tudo, que os projetos tenham impacto. Por mais pequeno que seja, queremos que seja uma mais-valia para a comunidade e que transforme alguma coisa. E é destas pequenas transformações que têm surgido as nossas grandes vitórias”,

d’Impulsos deixaria cair caso a situação financeira assim o obrigasse, questionamos. “Há projetos que,

sublinha Luís Brito.

direção, antes de enumerar os projetos mais «queridos» e impactantes da associação. “A «Vela Solidária» foi o

“AINDA NÃO SOMOS UM ATOR DE NÍVEL NACIONAL” Como nunca se sabe, com segurança, como vai ser o futuro, que projetos a Teia 47

pelo baixo impacto ou participação social que têm, acabamos por os colocar na gaveta, à espera de uma melhor oportunidade para os executarmos, ou até nunca mais dela saem. E ter capacidade para fazer isso não é mal nenhum, demonstra alguma maturidade da organização”, frisa o presidente da

primeiro de todos e já é dinamizado noutros pontos do país por outras entidades. A «Rota do Petisco» tem um impacto ALGARVE INFORMATIVO #284


enorme na comunidade e, em 2020, ano de covid, participaram 231 estabelecimentos. Foi o ano com mais feedback, toda a gente ficou contente, já é um alicerce da estrutura social e económica do Algarve”, salienta Luís Brito. “O FICA é um projeto único a nível nacional e que, em 2021, vai continuar a ser feito, seja de que forma for. O «Teias de Ideias» agora está adaptado ao formato online e é fundamental para a discussão pública de temas relevantes para a comunidade e para despertar também o espírito de cidadania. O Festival de Oralidade do Algarve é bianual e acontecerá em 2022, se tudo correr bem, o mesmo acontecendo com as Jornadas do Arade, cruciais para se debaterem os temas à volta do Rio Arade. São quatro municípios que têm que olhar mais uns para os outros e sentarem-se mais vezes à mesma, porque os problemas são comuns. O nosso papel é ser disruptivos, no bom sentido, e sermos catalisadores de energias”. Entretanto, a Teia d’Impulsos há muito deixou de estar cingida ao concelho de Portimão, pois depressa as suas iniciativas se expandiram para o resto do Algarve e do País. “Tudo aquilo que fazemos

tem uma base racional, por muito impulsivos que sejamos, e a «Rota do Petisco», por exemplo, foi ALGARVE INFORMATIVO #284

crescendo em função das necessidades que observávamos nos outros concelhos. Portimão continua a ser o concelho onde a Rota tem maior impacto, mas Monchique é relativamente pequeno e 2020 foi o seu melhor ano. Loulé entrou, no ano passado, um bocadinho à experiência e agora querem que, em 2021, aconteça de uma forma mais efetiva”, exemplifica Luís Brito, relembrando que a «Vela Solidária» também já chegou a Lisboa e Porto por via de empresas privadas para demonstrarem a sua responsabilidade social na comunidade em que estão inseridas. “Queremos crescer, de

uma forma sustentável e consciente, e fazer com que mais entidades, públicas ou privadas, bebam um bocadinho deste nosso espírito de transformação”. Tal não significa, infelizmente, que a Teia d’Impulsos seja uma marca consolidada no panorama nacional para quem todas as portas se abram de imediato. “Será muito difícil para

uma organização do Algarve conseguir demarcar-se a nível nacional, porque, inevitavelmente, somos pequeninos. Portimão tem 50 mil habitantes, o Algarve são 400 mil, não temos grandes hipóteses de nos destacarmos, no plano nacional, por aquilo que fazemos”, justifica o dirigente. 48


“Depois, quando tentamos ir para outros concelhos, deparamo-nos ainda com o tal espírito de bairrismo. Já nos aconteceu apresentarmos, no Algarve, um projeto que nos foi solicitado por uma Câmara Municipal e, depois de termos explicado tudo o que íamos fazer, eles pegarem no projeto e darem-no a uma organização do seu concelho”, desabafa Luís Brito. “Já somos reconhecidos por uma grande parte das organizações do Terceiro Setor e temos alguns parceiros a nível nacional, o que nos dá alguma notoriedade, mas ainda não nos consideramos uma 49

associação conhecida em todo o país. E, nos próximos três ou quatro anos, todos vamos viver no meio da incerteza gerada pela covid-19. Nós vamos continuar a dinamizar e construir, a fazer aquilo que sabemos fazer, a ser empreendedores e criativos, a gerir bem e a pensar sempre na sustentabilidade. Continuamos com um forte espírito de contribuirmos para a comunidade e estamos no caminho certo para crescermos, mas com os pés bem assentes na terra”, garante Luís Brito .

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ACTA apresenta A Noite de Molly Bloom Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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streou, no dia 19 de março, através da plataforma https://www.bol.pt/, a 80.ª produção da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, protagonizada por Glória Fernandes e Bruno Martins e encenada por Luís Vicente. O texto foi criado a partir do XVIII capítulo de «Ulisses», de James Joyce, contando com adaptação e dramaturgia de José Sanchis Sinisterra e tradução de José Bento, e é a primeira «aventura» da companhia algarvia no teatro online, uma novidade dos tempos modernos marcados pela pandemia por covid-19. No último capítulo de «Ulisses», Leopold Bloom, depois de deambular 20 horas por lugares de Dublin, na Irlanda, regressa a casa para se deitar com a sua esposa, ALGARVE INFORMATIVO #284

adormecendo de imediato. E é durante o sono de Leopold que a esposa, Molly, dá a conhecer facetas da personalidade do marido e dela própria. “É um

solilóquio torrencial, fragmentado, com frases ligadas ininterruptamente por associações de pensamentos, sonhos e fantasias eróticas que assolam esta mulher durante a insónia”, descreve Luís Vicente. “O texto de Joyce é unanimemente considerado um monumento da literatura do século XX e o seu capítulo XVIII é uma tentação para qualquer fazedor/a de teatro. E, se este texto fazia sentido em 1996, quando Miguel Seabra o encenou para o Teatro Meridional, 26 anos depois 54


parece-me que continua a fazer sentido. É que, nesse tempo, aconteciam amplas e profundas discussões acerca de matérias que o texto aborda e, atualmente, apesar de persistirem, essas matérias foram aligeiradas no espaço público, julgando-se que perderam substância, e muito por via da vulgaridade que invadiu a nossa existência, nomeadamente no que diz respeito à experiência feminina”, considera o responsável pela ACTA. Segundo Luís Vicente, «A Noite de Molly Bloom» constitui uma denúncia no feminino, pois, na sua aparente vulgaridade, a personagem evidencia problemáticas que o oposto do género não alcança. “Ela pode parecer 55

elementar, até superficial, mas tendo como referência o universo masculino (o texto é de 1901), o seu discurso é de libertação. A sua exposição dramática é um manifesto libertador, uma alusão – direi mesmo uma denúncia – da grande literatura a um contexto existencial de condições opostas: o homem dorme e, enquanto isso, a mulher questiona”, refere o ator e encenador. «A Noite de Molly Bloom» é a primeira experiência online da ACTA e Luís Vicente espera que depois seja possível levar a peça a cena nos moldes tradicionais, ou seja, com um público pela frente. Esclarece, porém, não se estar perante uma peça de teatro normal, mas sim da encenação de um capítulo de um livro. “Numa situação ALGARVE INFORMATIVO #284


de insónia não tem um discurso sequente do ponto de vista cronológico. O texto foi concluído em 1904 e vem inaugurar um determinado tipo de escrita que está na base do chamado «modernismo». O Samuel Beckett – tendo ele uma formação clássica e sólida – trabalhou com o James Joyce neste e noutros textos e foi aqui que começou a ensaiar a escrita que depois encontramos em «À Espera de Godot» e em «Dias Felizes», num percurso amplamente reconhecido e que lhe valeu mesmo o Prémio Nobel da Literatura”, indica Luís Vicente. Ao longo das décadas têm-se feito várias aproximações a este texto, como foi o caso, nos anos 80 do século

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passado, de Miguel Esteves Cardoso, que o ensaiou para Graça Lobo, com o título «Em carne cor-de-rosa encarnada», conta Luís Vicente. Mas foi no texto de Miguel Seabra de 1996, para o Teatro Meridional, protagonizado por Natália Luísa, que a ACTA pegou. “Ainda hoje se discute

se este não terá sido o primeiro texto feminista escrito por um homem, mas isso não me interessa muito. O que me interessou foi a questão existencial, porque este texto contém, ao mesmo tempo, farsa, drama, comédia e também TRAGÉDIA, que não está aqui, caso contrário, a peça teria a duração de uma hora e meia”, assume Luís Vicente. “Dadas as circunstâncias que estamos a viver, devido à pandemia, hoje em

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dia não é recomendável fazer espetáculos com mais de uma hora, pelo que tive que fazer cortes significativos no texto”, admite. E por falar em pandemia e no distanciamento e isolamento que tem gerado, Luís Vicente garante que a apresentação desta peça em 2021 já tinha sido agendada muito antes de imaginarmos que poderia existir a covid19. “No segundo semestre de 2017 já

tínhamos montada a programação de 2018 a 2021, não estávamos era a pensar em fazer apresentações através da internet. Uma situação que nos obrigou, inclusive, a adiar uma semana a estreia, por questões ligadas ao cenário e adereços”, declara o entrevistado, mostrando-se muito preocupado em relação ao que o 57

futuro nos reserva. “É tudo uma

grande incógnita. Em todos os dias em que o espetáculo vai ser transmitido online, até dia 28 de março, nós estaremos aqui, no Teatro Lethes, a representá-lo em cima do palco. É óbvio que não há o frenesim característico de termos um público à nossa frente, mas temos que nos adaptar aos novos tempos”, desabafa. “Ao normal do antigamente, creio que não iremos voltar. Parece-me a mim que estamos no fim de um processo civilizacional e vamos ver como é que saímos dele. Podemos, eventualmente, sair por cima… se formos capazes”, conclui Luís Vicente .

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DEPOIS DE MUITOS ATRASOS DEVIDO À COVID-19, OS AL MOURARIA JÁ LANÇARAM «com VIDA» Texto: Daniel Pina | Fotografia: AL Mouraria

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guitarra portuguesa, viola acústica, contrabaixo, percussões, acordeão e outros sopros estão bem presentes em «com Vida», o sétimo e mais recente disco dos «AL Mouraria» que, tendo sido gravado numa altura de pandemia, pretende transmitir a mensagem de que estamos vivos e que temos de nos manter vivos com todos os cuidados necessários, porque a vida continua. E o primeiro passo foi o convite feito pelo conhecido músico Valentim ALGARVE INFORMATIVO #284

Filipe a cerca de duas dezenas de artistas para participarem neste álbum, e que prontamente aceitaram, como sejam as cantoras Joana Amendoeira, Ana Laíns, Teresa Tapadas, Filipa Sousa, Tatiana Pinto e Teresa Viola, que interpretam letras de Tiago Torres da Silva, Paulo Abreu de Lima, Amália Rodrigues, Maria do Rosário Pedreira, Frederico de Brito e Armando Machado, entre outros autores. O novo álbum foi gravado no Boxer Studios, em São Brás de Alportel, e no Atlântico Blue Studios, em Lisboa, num processo iniciado em novembro de 70


Cineteatro Louletano para dezembro, no primeiro acabamos por tocar outro repertório e, em Loulé, tocamos praticamente o alinhamento do álbum, mas perante uma assistência diminuta, devido às restrições importas pela Direção-Geral de Saúde”, conta o músico. A apresentação a 6 de dezembro foi bastante digna e, acima de tudo, foi a possível, e o grupo foi adiando a saída física do CD para o mercado, porque o mercado, diga-se a verdade, também estava praticamente fechado. “Em

2019 com a intenção de ser editado em março ou abril de 2020. “A derradeira

sessão de gravação teve lugar a 12 de março, no início da pandemia em Portugal, o que obrigou a que a fase de mistura e remasterização acontecesse já em regime de teletrabalho”, recorda Valentim Filipe, com um sorriso. A cultura, entretanto, entrou numa rotina de pára-arranque, daí que o lançamento oficial do sétimo trabalho dos AL Mouraria ainda não tenha ocorrido. “Tínhamos marcado o

Teatro Lethes para outubro e o 71

maio de 2020 não foi viável e percebemos igualmente que o Verão não seria a altura mais indicada para o fazer. Em outubro intensificaram-se outra vez os constrangimentos devido à covid19 e adiamos mais uma vez para janeiro. Mal sabíamos nós que o pior ainda estava para vir e que, 15 dias depois, voltávamos todos a estar confinados”, relata Valentim Filipe. “No dia 10 de outubro, data do espetáculo no Teatro Lethes, houve 1.650 novos casos de covid19, tinha sido o maior recorde da época. De repente, em janeiro, fevereiro, ultrapassávamos os 13, 14 mil”. Por entre tantos percalços, ainda se pensou em voltar a cancelar o lançamento do disco, mas os AL Mouraria decidiram ir mesmo por ALGARVE INFORMATIVO #284


adiante e assim ficou disponível, finalmente, «com Vida», um disco que volta a comprovar toda a dinâmica do grupo, sobretudo no que toca à sua formação. “Em 2014 fizemos o «Fado

Tango», um trabalho considerado pela crítica nacional como um dos melhores do ano, mas a aceitação da parte do público não foi a esperada. Em virtude disso, alguns dos elementos ficaram um pouco desencantados e optaram por seguir caminhos diferentes. Foi a oportunidade para eu fazer algo que tinha vontade há muito tempo, isto é, convidar diversas pessoas para participar num disco. Escolhi 14 ALGARVE INFORMATIVO #284

ou 15 cantoras, cada uma para interpretar um tema, também foram vários poetas a contribuir com as suas letras, depois, foi uma questão de «casar» a voz adequada a cada canção. Claro que, nos espetáculos ao vivo, nem sempre podemos fazer isso. Em Faro levei três cantoras, a Loulé foram 10, quando for a Lisboa serão quatro ou cinco, contudo, quando andarmos na estrada, o normal serão duas ou três, que terão que absorver todo o alinhamento”, explica o entrevistado. 72


«A Lua» foi primeiro single retirado do disco, com letra de Amália Rodrigues e música de Valentim Filipe, cabendo a interpretação às algarvias Tatiana Pinto e Teresa Viola, com Vânia Leal também sempre preparada para subir a palco. E a verdade é que a receita cozinhada por Valentim Filipe tem resultado muito bem.

“Nas gravações dou os poemas e as músicas às cantoras e dou-lhes total liberdade de interpretação. Quero que lhes incutam o seu cunho pessoal porque cada uma tem o seu estilo próprio. E isso não complica a vida dos músicos, porque a estrada dá-nos experiência para tudo e mais alguma coisa. Sou um acompanhador nato porque tenho quase 50 anos de experiência no acordeão e na guitarra portuguesa. É questão de fazermos um ou dois ensaios antes dos espetáculos para afinar agulhas e depois vamos todos embalados”, garante. Não convém, por isso, haver tantas mudanças de elenco no que diz respeito aos músicos, sendo os AL Mouraria constituídos por Valentim Filipe na guitarra portuguesa, Tiago Valentim na viola acústica, Bruno Vítor no contrabaixo e Paulo Ribeiro no piano, acordeão e sopro, a que se junta um percussionista, João Melro, em alguns temas. As letras são, conforme referido, de diversos poetas portugueses, sendo as músicas compostas ou arranjadas pelo próprio Valentim Filipe. “Em estúdio depois

acertamos as coisas. Aliás, no 73

«Margarida vai à fonte», um poema do Paulo Abreu de Lima cantado pela Filipa Sousa, de repente começamos a tocar, no meio de um fado marcha, um corridinho a pedir a voz de um baile mandado. Como não arranjei nenhum, metemos um rapper e é um dos temas que está a ser mais ouvido”, revela.

ENTRE A QUALIDADE E OS TEMAS «ORELHUDOS» Os AL Mouraria aguardam, então, pela oportunidade de se meterem à estrada para os desejados concertos ao vivo, situações onde ainda se conseguem também vender discos, mas a tarefa não é fácil, admite Valentim Filipe. “De há uns anos

para cá os músicos têm duas opções: fazer um trabalho de grande qualidade que nem sempre é bem aceite pelo grande público; ou fazer os tais temas «orelhudos», que as pessoas ouvem uma vez ou duas e começam logo a cantarolá-los. Em 2010 tocávamos com um quarteto de cordas, um disco muito elaborado que ainda se vendeu porque tinha um tema ou dois mais «orelhudos». Em 2014, com o «Fado Tango», ao fim de dois espetáculos percebemos que tínhamos que dar a volta ao ALGARVE INFORMATIVO #284


texto”, admite o entrevistado. “Foi o disco que mais prazer me deu gravar porque permitiu-me perceber o quão parecidos são o tango e o fado: são ambas canções urbanas, vêm da rua. Este novo disco é uma mescla de músicas com muita qualidade com outras mais «orelhudas», que também têm qualidade, como é lógico”, descreve Valentim Filipe. ALGARVE INFORMATIVO #284

Continua a faltar, então, mais cultura musical à generalidade dos portugueses, uma situação que poderá ficar ainda mais preocupante devido aos confinamentos impostos pela pandemia. “À televisão vão músicas

que tenham três tons, mais do que isso já não aceitam. Perdoemme as pessoas, mas esses programas têm uma qualidade muito dúbia a nível musical. São 74


enviar um guião, ao segundo, de quais os planos que cada câmara devia filmar, se era o viola, a cantora ou o guitarrista. Agora não existe esse cuidado, estamos a ouvir a viola e eles estão a focar o acordeão. Para a música mais séria existiam os programas da RTP2, que também já não são muitos”, acrescenta Valentim Filipe.

sempre uma cantora ou um cantor com duas, três ou quatro bailarinas, que de bailarinas têm bastante pouco, mas têm pouca roupa. Há que notar, contudo, que estamos a falar de programas de entretenimento, e o entretenimento não requer muita qualidade”, desabafa o entrevistado. “Recordo-me que, quando íamos à televisão, há uns anos, eu tinha que 75

A realidade é o que é, aguarda-se, agora, pelo desconfinamento da cultura, o que deverá acontecer em meados de abril. Por enquanto, vão-se sucedendo espetáculos online, que sucederam aos streamings realizados a partir da casa dos próprios artistas, algo que até alguns dos músicos dos AL Mouraria fizeram. “Há quem diga que as

pessoas estão desejosas de espetáculos ao vivo e que, quando os equipamentos culturais reabrirem, vai ser uma loucura e que os artistas não vão ter mãos a medir. Espero bem que isso seja verdade, porque falta-nos o calor das salas cheias de pessoas”, confessa Valentim Filipe .

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OPINIÃO A urgência de um abraço Paulo Cunha (Professor) ercebi que tinha de escrever e partilhar estas palavras quando, há dias, vivenciei a partida do convívio familiar da avó da minha mulher (bi-sogra, como eu carinhosamente lhe chamava). Quase a perfazer os noventa anos, sempre foi uma mulher independente, emotiva e sábia. Muito amada e querida por toda a família, era a matriarca que todos queríamos proteger dos malefícios da pandemia. Afastados pelos sucessivos confinamentos, sabendo da precariedade e fugacidade destes novos tempos, tentámos, sempre que possível, estar juntos dela. Em boa hora o fizemos! Tê-la na nossa presença foi um tónico revigorante para todos. Mas o que fazer quando ela se dirigia a nós para abraçar e beijar, tal a saudade e o desejo de partilhar o amor que por nós nutria? Não foi, nem é fácil pensar nos beijos e abraços roubados e sonegados. Tentando protegê-la, no seu último ano de vida acabei por não ter tido o prazer de sentir a sua pele em contacto com a minha nem o calor de um afago ALGARVE INFORMATIVO #284

repartido. Sabendo o que agora sei, encontro razões para me arrepender. Já não a podendo abraçar, fica-me o consolo de, num outro tempo, ter tido os abraços, afagos e beijos a que teve direito. Inteiramente merecidos, continuará a tê-los nos nossos corações. Porque só morre quem na nossa memória perece, duplicarei na nossa família os abraços que no seu último ano de vida não lhe dei! Da mesma forma que uma criança quando se magoa procura de imediato o abraço reconfortante da mãe ou do pai para que rapidamente melhore ou a ajude a resolver a situação, também um abraço num ente querido opera verdadeiras transformações emocionais e comportamentais. Mesmo não nos conhecendo, abraçando reconhecemos, sem falar, que somos todos iguais. Em certos casos, oferecer um abraço assemelha-se a dar colo. É para muitos uma forma instintiva e espontânea de ajudar a lidar com as agruras da vida. Está provado que mesmo quando não há ninguém por perto para nos abraçar ou para abraçarmos, podemos obter algum conforto abraçando um animal de

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estimação, um peluche, uma almofada ou mesmo uma árvore. Não vou tão longe quanto a psicoterapeuta Virginia Satir, que defendeu que: “Precisamos de quatro abraços por dia para sobreviver. Precisamos de oito abraços por dia para nos manter. Precisamos de doze abraços por dia para crescer”. Mas tal como beber água várias vezes por dia faz bem ao nosso físico, também abraçar periodicamente melhora a nossa mente. Para quem ainda não descobriu os benefícios de abraçar, ao fazê-lo periodicamente descobrirá o efeito da 79

libertação de oxitocina no sangue, reduzindo o stress e a pressão arterial e fazendo com que as componentes física e mental se alinhem em perfeita consonância. Daí a necessidade e premência de abraçar sem reservas, sem pudores nem temores. Pela nossa saúde física e psíquica! Apelando a que o mundo se abrace mais, recordo uma amiga, já de provecta idade, dizer-me que só será livre outra vez quando puder abraçar novamente. Tal como ela, acredito que a liberdade se encontra por perto e está para breve. Ao retomá-la, queiramos e saibamos usála. ALGARVE INFORMATIVO #284


OPINIÃO A Mãe Soberana - a força do andor Mirian Tavares (Professora Universitária) “A ladeira, a sempre dolorosa ladeira, até parece que foi desenhada de propósito. Colocada lá, caprichosamente, por Alguém. Com o objectivo de dificultar a missão anual aos Homens do Andor. Por forma a testar os seus limites físicos e psicológicos. A sua resistência. O seu amor filial”. João Romero Chagas Aleixo empre quis ser anjo de procissão, desejo nunca realizado. Talvez porque a mãe nunca foi beata e a sua relação com a religião era mais de uma agnóstica que de uma devota, ou papa-hóstias, como se costumava chamar, pejorativamente, às senhoras que passavam os dias na igreja. Sempre quis ser anjo de procissão porque cresci vendo passar as procissões diante da minha casa e, mesmo com muito pouca idade, mesmo sem saber exatamente o que significavam, sentia-me emocionada com aquela multidão, com as roupas, os silêncios e os cânticos, a bruma que as velas criavam à sua passagem e as roupas dos padres, diáconos, devotos. E claro, dos anjos. Reencontrei em Loulé esse sentimento de êxtase provocado pelas procissões. A Festa da Mãe Soberana, acontecimento secular, atrai multidões. E a grande estrela é, sem dúvida, Nossa Senhora da Piedade, a Mãe Soberana. Mas é também um conjunto de homens audazes e apaixonados que, ano após ano, carregam, pelas ruas de Loulé, sobre os seus ombros, o peso do andor. E, mais que percorrer as ALGARVE INFORMATIVO #284

ruas, antes de chegar ao destino, galgam velozmente uma ladeira de 300 metros, bastante inclinada, recoberta de pedras que assistiram ao longo dos séculos ao vaivém de pessoas, e que sentem, ano após ano, o peso do andor. Tanta devoção deu origem a um estudo, e a um «álbum de retratos», que foi publicado pela Câmara de Loulé e contou com um prefácio do historiador João Romero Chagas Aleixo, também ele um devoto da procissão, ou de procissões, e com as imagens produzidas por três fotógrafos que registaram, em tempos diferentes e com perspectivas muito pessoais, a Festa Grande da Mãe Soberana. 30 anos de imagens que registam, ao mesmo tempo, a História, enquanto a constituem como tal: a fotografia fica como a presença material de uma devoção, ou culto, imaterial, sagrado e profano, repetido a cada ano, mas irrepetível como evento único que marca a vida daqueles que vivem à espera de carregarem, sobre os seus ombros, o peso do andor. As fotografias de Fernando Correia Mendes trazem o passado, um passado não muito remoto, mas que a 80


Foto: Victor Azevedo

velocidade do tempo deixou, rapidamente, para trás. Fotografias da Festa entre os anos 80 e 90 do século passado, fotografias de multidões que calcorreiam as ruas de Loulé ou que sobem o monte para ver de perto a Procissão a passar. O fotógrafo regista alguns rostos, alguns gestos, mas regista, sobretudo, o mar de gente que ladeia a imagem da Nossa Senhora da Piedade, a pedir pela sua proteção. Luís Henrique da Cruz oferece imagens mais recentes, traz a cor ao preto e branco da memória, suaviza os contrastes e detém-se, mais demoradamente, nas pessoas. Nas expressões de júbilo e de satisfação. Nos olhos mareados dos Homens e das Mulheres que participam, enleados dessa profissão de fé. Mesmo que a fé seja na comunidade, na persistência de um ato que os une e que os torna, a todos, 81

verdadeiramente louletanos. Diga-se de passagem, a Festa é mais dos homens que das mulheres. São eles que aparecem na linha de frente da procissão e são eles, além da Virgem, que merecem ser retratados e relembrados pela força que os empurra, ladeira acima, em direção ao alto, que se torna um auto de fé. São os Homens do Andor que aparecem como figuras centrais das fotografias de Vasco Célio. O fotógrafo acompanha-os desde a sua preparação à celebração final, nada sagrada, mais ainda revestida de paixão. Um álbum de fotografias, é assim que João Romero Chagas Aleixo chama ao belo livro que surgiu da confluência de várias paixões: do historiador, dos fotógrafos e, principalmente, dos louletanos que celebram, e valorizam, os seus heróis. Aqueles que carregam, literalmente, sobre os ombros, o peso da fé . ALGARVE INFORMATIVO #284


OPINIÃO Décima sexta tabuinha - Pai (1) Ana Isabel Soares (Professora Universitária) meu pai nasceu no monte do Moinho Grande. Cresceu ali até ao fim da adolescência – depois seguiu para uma cidade maior, lá acertou casamento e foi no mesmo monte que oficiou a boda, no lugar que era a garagem, onde dormiam e comiam as bestas, que era como se chamava aos animais que ajudavam no trabalho da terra ou na tração da carroça. Os dias levavam homens e animais lado a lado, numa vida comum em que sabiam uns dos outros cada gesto, cada expressão, cada vontade ou recusa. A massa que faz as afeições. É do meu pai o relato que deixo aqui, do meu pai Francisco, feito num dia de novembro de há dez anos. «A Castanha» O carrego do trigo para o moinho era feito num carro de besta só. Nos meus tempos de mocidade, na metade da década de 50 do século passado, a carroça era puxada por uma mula pequena a que chamávamos a Castanha, devido à cor do pelo da bicha. O animal era danado para puxar o carro ALGARVE INFORMATIVO #284

carregado de sacos de trigo. Muitas vezes chegávamos a carregar dez sacos de 60kg cada, e ela puxava sem mostrar desgosto. No Inverno, com tempo de chuva, mesmo que não levasse essa carga toda, as rodas do carro afundavam-se no barro, na terra lamacenta do caminho e a boa da Castanha, abanando as orelhas, com o dono ao lado agarrado a um dos varais do carro, animando-a, lá conseguia levar a carga até ao moinho. Um dia, era na Primavera, estava uma manhã de céu completamente limpo: não se via uma nuvem e soprava, quase nada, uma leve aragem. Estava eu a pôr o cabresto na Castanha, ao portão da cavalariça, quando notei que o animal estava demasiado quieto para o seu temperamento habitual, algo esquivo quando lhe metíamos o cabresto. Reparei que tinha as orelhas muito afitadas, como quando se presta atenção a qualquer coisa pouco familiar. Então, olhei na direção para onde ela parecia estar a olhar e vi muito ao longe, para Noroeste, um pequeno, muito estranho ponto escuro, mesmo por cima da linha do horizonte. Fiquei intrigado, mas não o suficiente para dar grande importância ao caso. Prossegui o trabalho e continuei a meter o cabresto na mula. 82


Foto: Vasco Célio

Mas não muito depois voltei a olhar na direção do tal ponto e surpreendi-me por ver que tinha aumentado bastante de tamanho. Mantive-me a olhar e percebi como que uma nuvem – naquele céu sem nuvens –, ainda muito distante, com um movimento esquisito! Ficámos a olhar, eu e a mula Castanha, para aquela nuvem a aproximar-se, a aumentar e a ondular, ora subindo ora descendo. Só pode ser um bando de pássaros, pensei – mas de que pássaros? Quando já estava a nuvem veloz nas proximidades do monte, apercebi-me finalmente que se tratava de um bando imenso de 83

pombos bravos, ou torcazes: eram milhares e milhares de aves como nunca até então tinha visto – e nunca mais voltei a ver! Levaram alguns minutos a passar, de Noroeste para Sueste. Numa das ondulações em que baixaram e se aproximaram mais donde observava, ouviu-se um rumor como de grande enxurrada, tamanho era o barulho das tantas asas. Ainda hoje me espanta o facto de a Castanha se ter apercebido de que aquele pequeno ponto lá longe no horizonte, onde fixou a sua atenção, era realmente coisa invulgar naquelas paragens . ALGARVE INFORMATIVO #284


OPINIÃO As 3 melhores profissões de sucesso na transformação digital Fábio Jesuíno (Empresário) actual transformação digital está a um ritmo muito acelerado e criando novas oportunidades no mercado de trabalho, com destaque nas áreas tecnológicas que recebem os melhores salários. Reuni as principais profissões que, na minha opinião, vão ser um grande sucesso na era digital: Especialista em Blockchain A blockchain é uma tecnologia que visa a descentralização como medida de segurança, pode parecer muito complexa, mas o seu conceito é simples. São bases de dados partilhadas com a função de criar um índice global para todas as operações que ocorrem num determinado mercado. A tecnologia blockchain, para além das criptomoedas, começa a estar presente nas empresas, possibilitando uma maior transparência nos processos. Existindo um crescente interesse por parte das organizações pela tecnologia ALGARVE INFORMATIVO #284

blockchain, os profissionais desta área são cada vez mais procurados. Especialista em Inteligência Artificial A Inteligência artificial, também mencionada por AI, sigla em inglês de artificial intelligence, é um conceito relacionado com a capacidade dada aos algoritmos de pensarem como seres humanos com a possibilidade de aprenderem com as experiências, sendo o seu principal objectivo simular as capacidades humanas, capazes de executar tarefas, tomar decisões, compreender e resolver problemas de uma forma rápida. Sendo um conceito cada vez mais presente nas nossas vidas, os profissionais nesta área são muito procurados, sejam para desenvolver modelos de algoritmos complexos ou fornecendo aplicações numa indústria específica. Especialista em segurança cibernética A proteção e privacidade de dados pessoais e empresariais é algo cada vez mais imprescindível actualmente, devido essencialmente ao grande número de informações que disponibilizámos online. 84


Estes profissionais são cada vez mais importantes para garantir a segurança das informações mais sensíveis nas empresas, sendo uma das profissões mais valorizadas actualmente. 85

Estas são algumas das profissões com maior sucesso nos próximos anos e que vão criar uma grande dinâmica económica. ALGARVE INFORMATIVO #284


OPINIÃO É o fim do cinema? Vera Casaca (Argumentista e Realizadora de Cinema) á uns bons meses vi uma entrevista que passava na televisão, onde um produtor de cinema «protestava» com a potencial ambivalência das medidas do governo português face à pandemia. Questionou o facto de as pessoas se poderem reunir em determinados locais, mas estarem restritas noutras situações. Não me oponho nem apoio as medidas do governo, assim como também não tomo partido do produtor de cinema, porque honestamente considero a magnitude da situação de proporções tão dantescas que me é difícil formular uma opinião sobre se está certo ou errado. Contudo, levou-me a pensar no inevitável: o que vai acontecer ao cinema? E quem fala do cinema, fala dos concertos, do teatro e outros eventos que na sua essência dependem de um ajuntamento de pessoas durante um par de horas. Não sou uma pessoa negativa, mas tentando ser pragmática, como é que a longo prazo, com tanta restrição – e não me refiro apenas à governamental, mas ALGARVE INFORMATIVO #284

também à natureza do vírus em si e pelo medo real ou percepcionado das pessoas - vamos continuar a ir ao cinema? Se as idas às salas já se encontravam em descida – com várias salas de cinema com dificuldade em resistir aos novos tempos, o que nos reserva o futuro? O produtor na entrevista tocou num ponto interessante: o facto de, quando se implementa o recolher obrigatório, isso afectar as sessões de cinema – que são na maior parte por voltas das 21 horas. Sim, algumas pessoas vão a matinés, mas são uma minoria, visto que a maior parte da populaçāo adulta trabalha das 9 às 5. Pelo que vemos, as medidas são cíclicas, mas imaginemos que temos de enfrentar esta situação durante uma década. A longo prazo, como podemos contornar o que se passa em diversos ramos da cultura? Será interessante (e provavelmente triste) ver como certos hábitos ou actividades irão hibernar ou morrer, ou, então verbalizando isto de forma menos fatídica, transformar. O ser humano é adaptável e iremos com certeza inovar, arranjar outras formas de consumo. Talvez a televisão e o streaming atinjam proporções ainda 86


maiores, ou talvez migremos para o extremo - ao sermos privados do contacto social, quiçá iremos fazer uma desforra total quando for permitido? É que faz parte do nosso DNA confraternizar, estarmos juntos – até os 87

introvertidos sentem por vezes necessidade de estarem com pessoas – o que me leva a fantasiar com salas de cinema cheias, com todos saudáveis a celebrar o regresso em força da «ida ao cinema» . ALGARVE INFORMATIVO #284


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MUNICÍPIO DE ALCOUTIM VAI CRIAR CASA DE CAMPO PARA ALBERGAR CAMINHANTES Município de Alcoutim viu aprovada, no dia 6 de janeiro, a candidatura ao Plano de Ação de Desenvolvimento de Recursos Endógenos (PADRE) designada por «READY – Recursos Endógenos e Desenvolvimento do Turismo Ativo», pela qual se pretende criar um espaço para albergar caminhantes da Via Algarviana, bem como praticantes de pedestrianismo, de cicloturismo e BTT. A candidatura prevê a recuperação do Moinho de Vento da Pateira para Casa de Campo (Albergue), o qual disporá de dois quartos, duas salas, copa, instalações sanitárias e vestíbulo, e

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que se desenvolverá num prédio urbano, localizado no sitio da Pateira, junto à Povoação de Afonso Vicente, num terreno com uma área aproximada de 520 metros quadrados, com uma área bruta de construção de 118,90 metros quadrados. A operação tem enquadramento no Programa Operacional CRESC Algarve 2020, eixo prioritário 5 – investir no emprego, objetivo temático 8 – promover a sustentabilidade e a qualidade do emprego e apoiar a mobilidade laboral, prioridade de investimento – 8.9. – A conceção de apoio ao crescimento propício ao emprego, através do desenvolvimento do potencial endógeno como parte

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integrante de uma estratégia territorial para zonas especificas, incluindo a conservação de regiões industriais em declínio e o desenvolvimento de determinados recursos naturais e culturais e da sua acessibilidade, estando o investimento incluído no Plano de Ação de Desenvolvimento de Recursos Endógenos (PADRE). Prevê-se a criação de uma infraestrutura adequada a receber o turismo de natureza e turismo ativo, através da valorização do património natural, contribuindo para atrair e acolher visitantes que contribuem para a consolidação das infraestruturas

âncoras existentes no Algarve, destinadas à prática da atividade de cicloturismo e pedestrianismo, procurando assim conseguir criar condições de sustentação económica nos territórios de baixa densidade. A operação, que se prevê estar concluída até 31 de dezembro de 2022, tem um investimento elegível de 260 mil e 26,95 euros, ao qual foi atribuída uma comparticipação comunitária (FEDER) de 182 mil e 18,86 euros .

MUNICÍPIO DE ALCOUTIM COMPRA NOVA VIATURA DE RECOLHA DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS Município de Alcoutim recebeu, no dia 10 de março, uma nova viatura para recolha de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). A aquisição da viatura representa um investimento de cerca de 146 mil euros e garante a melhoria da qualidade do serviço de recolha de resíduos urbanos indiferenciados. Com esta compra, a autarquia alcouteneja passa a ter três viaturas de recolha de RSU. A viatura pesada, com peso bruto homologado de 16 toneladas, possui uma caixa de recolha com uma capacidade volumétrica de 12 metros cúbicos, na qual a carga e descarga dos resíduos se efetua pela parte traseira, estando equipada com elevador com capacidade para movimentação de contentores com 91

capacidades de, pelo menos, 500 a 1.100 litros e de contentores de duas rodas. A viatura encontra-se ainda equipada com grua montada na parte superior da caixa de carga da viatura, para a recolha de contentores subterrâneos com caixa de compactação hidráulica, com uma capacidade de 16 metros cúbicos e suporta até 19 toneladas de peso bruto para a recolha dos contentores subterrâneos instalados no Concelho.

“A renovação do parque de máquinas é parte vital para uma melhor resposta às necessidades da população, proporcionando o reforço da capacidade de intervenção dos serviços camarários e a melhoria da qualidade da prestação do serviço público”, afirma o edil Osvaldo dos Santos Gonçalves .

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PARQUE URBANO DE LAGOA DÁ PRIMEIRO PASSO Câmara Municipal de Lagoa e o Centro Popular de Lagoa assinaram, no dia 12 de março, um protocolo de cedência de um terreno de 7 mil e 500 metros quadrados que permitirá concretizar boa parte da componente desportiva do Parque Urbano de Lagoa. Trata-se de uma parcela que pertenceu antes à extinta associação «Amigos de Lagoa» e que fica agora sob a responsabilidade da autarquia por um período de 50 anos. O espaço em causa integra já um conjunto de estruturas que o Município de Lagoa se prepara para recuperar e requalificar, nomeadamente, um pavilhão composto por sala de convívio, ALGARVE INFORMATIVO #284

instalações sanitárias, vestiários e duches para senhoras e para homens e ainda uma arrecadação. A remoção do amianto, presente nalgumas das coberturas existentes, também faz parte das obras previstas. Está ainda contemplada a instalação de quatro campos de pádel e a requalificação de toda a zona onde se encontram atualmente os campos de ténis. “Este

é o ponto de partida para o futuro Parque Urbano de Lagoa e, em nome do Município, e em meu nome pessoal, quero agradecer à direção do CPL a disponibilidade para uma parceria da qual todos saem a ganhar. Ganha o CPL, mas ganha também a população de Lagoa, já que daqui sai a 92


possibilidade de mais e melhor espaço público, destinado ao usufruto de todos/as os habitantes do concelho”, declarou o presidente do Município, Luís Encarnação. Depois da requalificação do espaço, está previsto que o pavilhão seja utilizado, durante o dia, pelas crianças da creche «A Colmeia», mas, a partir das 18h, passará a estar aos serviços dos clubes e associações do concelho, nomeadamente

daquelas que têm modalidades de artes marciais. Os campos de pádel serão disponibilizados à comunidade, alargando assim a oferta desportiva no concelho. “É com passos firmes

como este que se constrói um concelho cada vez melhor para se viver, trabalhar ou visitar. Tudo aquilo que alcançamos é fruto de muito trabalho e de muitas horas dedicadas às causas comuns”, acrescentou Luís Encarnação .

LAGOS VAI TER ESTAÇÃO SÍSMICA NA MATA NACIONAL DE BARÃO DE SÃO JOÃO Câmara Municipal de Lagos celebrou um protocolo com a Universidade de Évora com vista à instalação de uma estação sísmica em território rural concelhio. O local para a instalação da infraestrutura situa-se na Mata Nacional de Barão de São João e ocupará uma área com cerca de oito metros quadrados. O principal objetivo do protocolo é aumentar a cobertura territorial do sistema de alerta precoce para sismos, através da deteção, com grande rapidez, da ocorrência de sismos e identificar as respetivas características. A localização e a magnitude são os principais dados através dos quais é possível desencadear algumas medidas de segurança automática em situações críticas, minimizando a destruição associada a eventos desta natureza. 93

O projeto é desenvolvido através do Instituto de Ciências da Terra (ICT), uma unidade de investigação da Universidade de Évora (UÉ), e está integrado no projeto EMSO-PT European Multidisciplinary Seafloor and water column Observatory, que tem como propósito principal densificar o número de estações sísmicas em terra, melhorando a rede de monitorização sísmica nacional, permitindo a criação de um sistema de alerta precoce para sismos. As novas estações sísmicas, além de estarem ligadas ao ICT da UÉ, estarão também ligadas à rede sísmica nacional coordenada pelo IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera. A celebração deste protocolo prevê também a conjugação de esforços entre as entidades com vista à disponibilização ao município, em tempo real, de todos os registos sísmicos obtidos na estação . ALGARVE INFORMATIVO #284


FACULDADE DE ARQUITETURA VAI ESTUDAR O PATRIMÓNIO ARQUITETÓNICO DE LAGOS oi aprovado, na última reunião do executivo municipal lacobrigense, um protocolo de colaboração com a Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa que visa o desenvolvimento de projetos e estudos de investigação sobre a conservação e valorização do património arquitetónico do concelho. No foco das atenções dos professores e alunos do Curso de Mestrado da faculdade vão estar, para já, os conjuntos e sítios junto à muralha poente da cidade de Lagos, bem como o Parque Dr. Júdice Cabral (vulgo «Parque das Freiras»), por se tratar de uma zona de Unidade de Intervenção no âmbito do Programa Estratégico de Reabilitação Urbana. O interesse deste território para o desenvolvimento de projetos académicos resulta do facto de permitir perspetivar

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intervenções onde se combinam a componente da reabilitação do património, arranjos de espaço público e projetos de arquitetura. A Câmara Municipal de Lagos designou um interlocutor que acompanhará as visitas dos alunos e professores a Lagos. Outro dos apoios será a disponibilização de toda a documentação necessária, como bases tipográficas, planos e projetos existentes para o local. “Esta é uma

oportunidade muito interessante de criar uma ponte que permita colocar os académicos a olhar e a pensar a cidade, com tudo o que isso implica em termos da possibilidade de surgirem propostas mais livres e inovadoras”, considera Hugo Pereira, presidente do Município de Lagos .

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LOULÉ TEM MAIS 200 LUGARES DE ESTACIONAMENTO GRATUITO á está em funcionamento o Parque de Estacionamento da Cássima, infraestrutura que integra 200 lugares gratuitos e que vem dar resposta a um dos principais problemas da cidade de Loulé. Localizado junto a serviços públicos, como a Segurança Social, as Piscinas Municipais ou a Escola Secundária, este Parque, aberto 24 horas por dia, sete dias por semana, vem melhorar e incrementar a oferta e condições de estacionamento numa zona que se encontra a 10 minutos do centro da cidade. No terreno onde durante anos funcionou um parque improvisado em terra batida, está agora um espaço com todas as condições de conforto e segurança para o estacionamento de 95

veículos ligeiros, lugares destinados a pessoas com mobilidade reduzida e zona de estacionamento de motociclos e bicicletas. A obra, no valor de 435 mil euros, englobou ainda a implementação de iluminação pública «amiga do ambiente». A entrada de viaturas e pessoas é efetuada através da Rua A Voz de Loulé, havendo igualmente um acesso pedonal pela Avenida Laginha Serafim. Com este novo parque de estacionamento, a Câmara Municipal de Loulé pretende reduzir a circulação automóvel no núcleo urbano, promover os modos de mobilidade suave como andar a pé, ou de bicicleta, e assim tornar a cidade mais amiga do ambiente, com emissões de CO2 cada vez mais reduzidas . ALGARVE INFORMATIVO #284


CÂMARA DE LOULÉ E ALMARGEM LANÇAM BROCHURAS INTERPRETATIVAS DAS ENCOSTAS DO CADOIÇO E CAMPOS DE LAPIÁS Projeto «Cadoiço e Megalapiás: Revelar o que já existe!» decorreu em 2019 e 2020 e teve como principal objetivo a promoção e valorização ambiental de dois territórios – a Ribeira do Cadoiço, que irá integrar o futuro Parque Urbano e Agrícola de Loulé, e os Megalapiás do Barrocal – ambos com importância histórica para a cidade e para as populações que por lá se fixaram. Este trabalho foi coordenado pela Almargem – Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve, em parceria com a Câmara Municipal de Loulé, e consistiu na realização de estudos técnicos e científicos que permitiram a caraterização histórica, cultural e ambiental destes locais. Com uma base de dados sólida e científica, perspetiva-se que estes locais possam constituir «laboratórios vivos» de

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aprendizagem, alternativas ao turismo «sol e mar» e contribuir para o bemestar dos munícipes através do contacto com a natureza. São assim lançadas duas brochuras interpretativas - «Encostas do Cadoiço» e «Campos de Lapiás» - numa linguagem simples e acessível a todos, visando a partilha de conhecimento e valorização destas áreas que, embora localizadas na envolvente da cidade de Loulé, são ainda por muitos desconhecidas. Em cada uma das brochuras são abordados temas como a história, a evolução da paisagem e da ocupação humana, o património material ou as tradições associadas. São também destacados os principais valores em termos de geodiversidade, fauna e flora, e é disponibilizado um percurso pedestre interpretativo, com identificação de vários pontos de interesse. A brochura «Encostas do Cadoiço» centra-se na ribeira do Cadoiço e área

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envolvente. Esta ribeira atravessa transversalmente toda a cidade de Loulé, sendo no entanto desconhecida ou ignorada por parte da população. Embora a área envolvente à ribeira seja profundamente humanizada, não deixa de apresentar uma herança histórica, patrimonial e natural muito significativa. A brochura «Campos de Lapiás» é um convite à descoberta dos megalapiás do Barrocal Algarvio. Os megalapiás, ou lapiás de grandes dimensões, são formações geológicas características da paisagem calcária, que ocorrem no Algarve sobretudo na zona do Barrocal, sendo vários os núcleos conhecidos pelas suas dimensões e variedades de formas. Para além do seu valor geológico, encontram-se relativamente bem preservados do ponto de vista paisagístico e ambiental.

Para além da elaboração destas brochuras, no ano de 2020, foram várias as atividades realizadas para divulgação das áreas de estudo, nomeadamente através da dinamização de vários percursos pedestres com escolas do concelho e para o público em geral, promoção de ações na temática das plantas exóticas invasoras e o seu controle e organização de um Seminário Final para divulgação dos principais resultados do projeto. As brochuras estarão disponíveis, em formato digital, nas páginas da internet do Município de Loulé e da Associação Almargem, e serão em breve editadas e distribuídas, em papel reciclado, numa edição da Câmara Municipal de Loulé .

LOULÉ DÁ FORMAÇÃO A DIRIGENTES DESPORTIVOS m 2021, a Câmara Municipal de Loulé prossegue com a componente formativa na área do desporto e, além do plano de formação dirigido aos treinadores, será disponibilizado a todos os clubes e associações com contratoprograma com o Município um plano de formação desportiva para os dirigentes. Assim, em março e abril terá lugar o I Ciclo de Formação de Dirigentes Desportivos, composto por duas iniciativas em formato online. A 26 de 97

março, das 20h30 às 22h30, decorre a primeira sessão, subordinada ao tema «Casos de Sucesso», onde serão abordadas questões como a ética, o empreendedorismo e o financiamento. Pedro Sequeira e José Amoroso são os formadores. A 16 de abril, das 20h30 às 22h30, terá lugar a segunda ação de formação dedicada à «Coordenação», que irá tratar de temas como a gestão de recursos e liderança. Esta iniciativa será coordenada por Henrique Silva e Davide Gomes . ALGARVE INFORMATIVO #284


REABILITAÇÃO DO EDIFÍCIO DO ATLÉTICO REFORÇA DINÂMICA CULTURAL DE LOULÉ oulé vai poder contar em breve com mais um espaço para a realização de atividades culturais, uma vez que as obras no edifício que foi durante anos sede do Atlético Sporting Clube, no N.º 36 da Rua 5 de Outubro («Rua das Lojas»), estão praticamente concluídas. Com esta intervenção, o edifício passa a ter capacidade para acolher a nova sede da Casa da Cultura de Loulé, que aguardava há anos por um espaço central e com as condições adequadas para realizar o seu trabalho.

Depois das intervenções no Solar da Música Nova, transformado agora no Conservatório de Música de Loulé, ou da obra emblemática do Palácio Gama Lobo, que é hoje o núcleo central do projeto «Loulé Criativo», damos aqui mais um passo no sentido de devolver à

Os trabalhos incidiram na adaptação do segundo piso do edifício a um espaço polivalente direcionado para atividades de índole cultural, mantendo as características e o máximo aproveitamento dos elementos existentes, dotando-o de boas condições de utilização a nível estrutural, de salubridade e de conforto. Foi feita uma abordagem contemporânea, conciliando valores patrimoniais e simbólicos, como resposta aos novos requisitos funcionais de um espaço ligado à cultura. A obra significou um investimento municipal de cerca de 360 mil euros. “Este projeto é

a concretização de mais uma importante obra de reabilitação do património arquitetónico da cidade de Loulé e o «reavivar» de elementos que fazem parte da memória da comunidade local. ALGARVE INFORMATIVO #284

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população um edifício que faz parte da história da cidade. E fazemo-lo com os olhos postos naquilo que é a nossa dinâmica cultural, não só em termos programáticos, mas também no apoio ao movimento associativo, neste caso em particular à Casa da Cultura de Loulé”, sublinha o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo. Espaço marcante na memória da cidade, enquanto polo recreativo, de cultura e

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debate, o edifício terá nascido no século XIX e foi aí que funcionou como sede do Atlético Sporting Clube, desde 1942 até à extinção desta associação. Bailes, conferências, jogos florais e sessões cinematográficas foram algumas das atividades que marcaram este local. Também ali existia uma biblioteca interessante com livros censurados, o que mostra bem o papel importante que teve durante o período final do Estado Novo ao nível do pensamento crítico dos cidadãos .

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FESNIMA CONTINUA A INTERVIR NO PARQUE HABITACIONAL SOCIAL DO MUNICÍPIO DE OLHÃO o contexto das intervenções programadas para o parque habitacional social do concelho, acaba de ter início a empreitada de reabilitação do Bairro Horta Dr. Pádua, em Olhão, no valor de cerca de 1 milhão de euros, cujos trabalhos deverão ficar concluídos no prazo de 12 meses. A intervenção, que tem como objetivo melhorar as condições de habitabilidade dos blocos habitacionais, engloba pinturas exteriores, substituição das coberturas em fibrocimento por painéis metálicos com isolamento térmico, substituição de caixilharias e substituição ALGARVE INFORMATIVO #284

das redes prediais, entre outros trabalhos. Encontram-se igualmente em fase de adjudicação as intervenções no Bairro da Olarias, em Moncarapacho, e na Rua da Cruz Vermelha Portuguesa, em Pechão. A primeira visa a substituição das coberturas em fibrocimento e reabilitação das fachadas, orçamentada em cerca de 100 mil euros. Em Pechão, a intervenção contempla a correção térmica das fachadas a norte e sul, num valor global de perto de 62 mil euros. Em fase de lançamento do concurso público encontra-se a reabilitação do Bairro da Cavalinha, estando o projeto de execução concluído. O preço-base 100


da empreitada é de cerca de 450 mil euros. No âmbito do contrato-programa estabelecido com o Município de Olhão, a Fesnima continua, assim, a levar a cabo o 101

projeto de reabilitação de todo o parque habitacional municipal do concelho de Olhão, num investimento global, até à datal, superior a 3,5 milhões de euros . ALGARVE INFORMATIVO #284


CAMPO PÚBLICO DE BASQUETEBOL VENCE ORÇAMENTO PARTICIPATIVO 2021 DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL Azinheira, com 95 votos, e a criação de um posto de bicicletas partilhas, com 46 votos. A criação de um baloiço na Serra do Caldeirão – elemento de interesse; a requalificação da Rua Luís Bívar e a requalificação e identificação das rotundas foram as propostas menos votadas das seis finalistas, com apenas 20, 19 e 6 votos, respetivamente. o final de 2020, a Autarquia de São Brás de Alportel lançou, mais uma vez, o processo do seu Orçamento Participativo, tendo desafiado os munícipes a apresentar projetos que pudessem ser concretizados com uma verba não superior a 70 mil euros. Após análise das propostas apresentadas, em função da sua exequibilidade, seis passaram à fase de votação, que decorreu durante o mês de janeiro com uma forte participação, sobretudo por via online. A criação de um Campo de Basquetebol Público no perímetro urbano da vila foi a proposta mais votada, com 282 votos. Seguiu-se a valorização do Parque da ALGARVE INFORMATIVO #284

A proposta de criação de um Campo de Basquetebol Público no perímetro urbano da vila, que visa reforçar os espaços disponíveis ao público para a prática desportiva informal, colheu então a preferência dos são-brasenses e será, por isso, concretizada pelo Município, estando neste momento a ser iniciados os trabalhos com vista à elaboração do projeto. Envolver a comunidade na vida e no futuro do concelho de São Brás de Alportel é o objetivo deste instrumento de gestão pública participada que a autarquia iniciou em 2006. Desde então, os munícipes têm mostrado a sua capacidade para pensar o concelho, sendo responsáveis por um largo conjunto de propostas que são hoje uma realidade para todos . 102


NOVA ROTUNDA DOS BOMBEIROS DE VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO AUMENTA SEGURANÇA NO CENTRO DA CIDADE ncontra-se em fase de conclusão a obra de construção da nova rotunda dos Bombeiros, em Vila Real de Santo António, que vai substituir o antigo cruzamento entre a Rua Combatentes da Grande Guerra e a Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, proporcionando, desta forma, mais segurança e melhor fluidez de tráfego naquele local servido por vários equipamentos públicos. Tendo em consideração o perfil do local, a dimensão da rotunda e a necessidade

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de possibilitar o trânsito de veículos de grandes dimensões, optou-se pela não sobrelevação da plataforma central, adaptando o equipamento a todo o tipo de tráfego. Em cada um dos limites das vias que confluem para a nova rotunda serão colocadas travessias pedonais para a passagem de peões, realizadas em calçada miúda, de forma a garantir a segurança nos pontos de atravessamento. A intervenção, levada a cabo pelo Município de Vila Real de Santo António, tem o valor de cerca de 38 mil euros e deverá ficar terminada durante esta semana .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #284

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