REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #285

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ALGARVE INFORMATIVO 27 de março, 2021

MINISTRO DO AMBIENTE E DA AÇÃO CLIMÁTICA VISITOU ALGARVE | «ANTES» 1 ALGARVE INFORMATIVO #285 ALBUFEIRA INVESTE NO BEM-ESTAR ANIMAL | PLASTICINE | «ALBUFEIRA21 SUMMIT»


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64 - «Antes» no Cineteatro Louletano

78 - Plasticine no Centro Cultural de Lagos

46 - Fernando Pessoa inspira novo trabalho do Serviço Educativo da ACTA

40 - Albufeira21 Summit 28 - Ministro do Ambiente e da Ação Climática visitou Algarve

OPINIÃO 90 - Paulo Bernardo 92 - Ana Isabel Soares 94 - Adília César 96 - Nuno Campos Inácio 98 - João Ministro ALGARVE INFORMATIVO #285

18 - Albufeira investe no bem-estar animal 10


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ALBUFEIRA INVESTE QUASE 1,3 MILHÕES DE EUROS NO BEM-ESTAR ANIMAL Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Câmara Municipal de Albufeira deu a conhecer, no dia 19 de março, os projetos para o futuro Canil Municipal, Parque Canil e Cemitério para Animais, bem como de uma viatura de socorro animal, investimentos que totalizam quase 1,3 milhões de euros e que deverão estar todos concluídos até final de 2021. “Este

plano resulta de alguns anos de trabalho e de uma partilha muito próxima de preocupações com a Guarda Nacional Republicana, os Bombeiros Voluntários e o Centro de Bem-Estar Animal de Albufeira, ao sermos confrontados com vários ALGARVE INFORMATIVO #285

desafios e dificuldades que dizem respeito à saúde e ao bem-estar animal. Passamos por algumas experiências menos boas, como, por exemplo, o último grande incêndio de Monchique, que nos levaram a criar um manual de procedimentos, em caso de catástrofe, para os animais de companhia, e de um kit de emergência para as pessoas terem nas suas casas”, referiu a vereadora Cláudia Guedelha. O primeiro projeto apresentado foi o futuro Canil Municipal de Albufeira, com a valência de Centro de Recolha Oficial, uma empreitada no valor de 18


Cláudia Guedelha, vereadora da Câmara Municipal de Albufeira

709 mil euros que deverá arrancar em abril e com um prazo de execução de 180 dias. “A pesquisa foi intensa, o

diálogo com os atores que intervêm nesta matéria foi constante, na procura das melhores soluções com vista à saúde, bem-estar e segurança dos animais, e também dos responsáveis pelo seu maneio e tratamento”, assumiu o arquiteto Pedro Castro. O equipamento ficará localizado junto ao Estaleiro Municipal e nas imediações do já existente Centro de Bem-Estar Animal, edifício que foi a alavanca de todo o processo e que foi um dos projetos vencedores da edição de 2015 do Orçamento Participativo de Albufeira. O Canil Municipal de Albufeira será constituído por cinco módulos, em que o 19

Módulo 0 coincide com o Centro de Bem-Estar Animal e será destinado ao atendimento ao público, receção, gatil, vestiário de staff, Gabinete de Coordenação e sala de staff. No Módulo A vão estar o Gabinete Clínico, instalações sanitárias, salas técnicas e uma sala multiusos para ações de promoção de adoção e de sensibilização contra os maus-tratos animais, bem como para a realização de debates e workshops. No Módulo B existirão 26 celas para alojamento com capacidade para 65 cães, uma cela para maternidade ou isolamento, três celas de quarentena localizadas para permitirem a recolha e acolhimento permanente com acesso condicionado e zonas técnicas. O Módulo C será constituído por 22 celas para alojamento com capacidade máxima para 55 cães, uma cela para ALGARVE INFORMATIVO #285


maternidade/isolamento e zonas técnicas de apoio à atividade. Finalmente, o Módulo D será composto por duas celas semicirculares para alojamento e quarentena de animais com suspeita de raiva, isoladas e distanciadas de outros animais. “Os objetivos principais são

a recolha e o alojamento condigno dos animais, sempre a pensar no seu bem-estar; fazer face ao crescente número de cães abandonados e errantes; prosseguir a estratégia iniciada pelo Centro de Bem-Estar Animal; promover ações de esterilização e posterior adoção ALGARVE INFORMATIVO #285

dos cães; e garantir o acompanhamento veterinário e alimentação apropriada”, descreveu Pedro Castro. O Parque Canino, orçado em quase 188 mil euros e com prazo de execução de 75 dias, deverá começar a ser criado também já em abril, constituindo mais um desafio abraçado pelo executivo camarário liderado por José Carlos Rolo. “É uma experiência nova,

mas pensamos que terá continuidade, inserida em futuros espaços verdes do concelho, 20


sendo que o primeiro ficará junto ao Centro de Bem-Estar Animal. Consideramos de extrema importância o exercício dos animais, como forma de gerir a sua própria agressividade, mas também a socialização entre eles. Em simultâneo, vamos aproximar as pessoas do Centro de BemEstar Animal, para motivar a adoção responsável dos animais”, indicou Cláudia Guedelha. O Parque Canino será um local próprio para a permanência e circulação de cães, com equipamentos para que se divirtam e se distraiam do ambiente urbano e ali gozem de maior liberdade e gastem as suas energias, com o intuito de não desenvolverem comportamentos agressivos e destrutivos que estão normalmente associados à falta de exercício e à

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ausência de relacionamento, brincadeira e convívio entre cães e entre cães e pessoas. “A frente do Parque é um

espaço aberto, convidativo à sua entrada e exploração e oferecendo imediatamente zonas de estadia. O parque canino propriamente dito é cercado na sua totalidade e dividido em duas áreas – uma para cães de maior porte e outra para cães de menor porte – para evitar incompatibilidades entre animais”, esclareceu o arquiteto Ricardo Nascimento, acrescentando que existirão diferentes equipamentos de diversão, mobiliário de sinalização com as regras de conduta e segurança, papeleiras com dispensadores de sacos com vista à higienização do espaço, postes para se prender os animais e bebedouros para pessoas e animais. Como o bem-estar animal deve ser pensado não apenas para quando eles estão vivos, mas também para quando

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deixam de estar entre nós, o executivo municipal decidiu avançar igualmente para a construção de um cemitério para animais, investimento que chega praticamente aos 300 mil euros. A empreitada começa em agosto, com um prazo de execução de 100 dias, e pretende ser “um espaço digno

onde as famílias e as pessoas possam deixar os seus animais, de quem tanto cuidaram ao longo de uma vida, e que merecem todo o nosso respeito”, destacou a vereadora Cláudia Guedelha. Vai situarse a norte do existente Cemitério de Albufeira e o objetivo é que se torne num “espaço simbólico, de culto e

de memória que promova a tranquilidade e a reflexão individual”, apontou Ricardo Nascimento. “O projeto vai incluir melhorias no ordenamento do espaço e deverá criar uma nova unidade urbana capaz de gerar

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José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira

coesão no espaço público, acessos pedonais e viários, promovendo a acessibilidade com a criação de percursos pedonais confortáveis”, salientou o arquiteto municipal. O Cemitério para Animais de Albufeira prevê igualmente formas diferenciadas de sepultamento, nomeadamente o convencional (por enterro), em jazigo ou columbários (pequenas torres com 16 nichos onde serão depositadas as urnas contendo as cinzas dos animais). Considerada de enorme importância é também a viatura de emergência médicoveterinária, seja para recolha de animais errantes, seja para responder a acidentes que acontecem na via pública. Para tal foi 23

adquirida uma viatura por 51 mil euros e a sua adaptação aos novos fins está orçada em 43 mil euros. “A Viatura de

Socorro Animal será polivalente e vai resolver várias lacunas do serviço veterinário municipal”, declarou Cristina Simões.

“Pretendemos garantir o transporte de animais em grande número e em segurança, sempre que tal for necessário, mas também vamos poder prestar assistência básica de vida no local, porque a viatura vai estar dotada de uma componente técnica. Importantíssimo também é a ALGARVE INFORMATIVO #285


Paulo Freitas, presidente da Assembleia Municipal de Albufeira

prestação de cuidados de saúde em situações de calamidade como sismos, incêndios ou inundações, para fazermos triagem e darmos os primeiros cuidados de socorro a animais acidentados ou feridos”, enalteceu a Médica Veterinária Municipal. Os quatro projetos mereceram o aval e total confiança de José Carlos Rolo, sobretudo por estarem inseridos numa estratégia global com vista à promoção do bem-estar animal, mas o edil albufeirense lembrou que também é fundamental que as pessoas saibam «ter» animais de estimação, nomeadamente no que toca às questões de higiene nos espaços públicos. E com um sentimento de agrado ficou igualmente Paulo Freitas, ALGARVE INFORMATIVO #285

presidente da Assembleia Municipal de Albufeira, por serem equipamentos que privilegiam o bem-estar animal, mas também a sensibilização e educação do ser humano. “Vemos

cães sem açaimo ou trela na via pública, cães nas praias durante a época balnear, quando isso não é permitido. As pessoas têm os seus direitos, mas também têm a responsabilidade de respeitar os direitos dos outros. Nestes projetos, o bem-estar está presente, não só na necessidade dos equipamentos e do tratamento dos animais, mas também na forma como tudo se enquadra num todo” . 24


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MINISTRO DO AMBIENTE CONSTATOU REFORÇO DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA E MELHORIA DO SANEAMENTO NO ALGARVE Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e «Águas do Algarve» Ministro do Ambiente e da Ação Climática e a Secretária de Estado do Ambiente participaram, no dia 24 de março, num roteiro dedicado à água no Algarve, promovido pela «Águas do Algarve», gestora do Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água e de Saneamento do Algarve, e no qual se destacaram alguns dos projetos de reforço da resiliência do ALGARVE INFORMATIVO #285

abastecimento de água e dos serviços de tratamento de águas residuais da região. O roteiro iniciou-se junto à barragem de Odeleite, em Castro Marim, onde se apresentou o projeto de aproveitamento do volume morto desta albufeira que visa um adicional de aproximadamente 25 por cento do caudal necessário para assegurar os consumos, envolvendo um investimento de 1,5 milhões de euros. Neste âmbito, está a ser projetada a 28


instalação de um sistema elevatório destinado a viabilizar a máxima transferência do volume de água armazenado na albufeira de Odeleite para a albufeira de Beliche, para permitir fazer face a situações de seca prolongada e contribuir para manter o abastecimento de água, quer urbano quer de rega. Ainda em Castro Marim, foi apresentado o projeto relativo às «Infraestruturas de Elevação e Adução de ApR – Água para Reutilização da ETAR de Vila Real de Santo António – Fase I», destinado a permitir a utilização de águas residuais tratadas na rega dos campos de golfe existentes na zona norte deste concelho, visando contribuir para assegurar o equilíbrio entre a procura e a escassez de água e promovendo a resiliência à seca, tendo por base os cenários de alterações climáticas. Esta obra tem um investimento associado de cerca de 1,5 milhões de euros, a iniciar em setembro 29

de 2021 e com prazo de conclusão de 300 dias, e vai permitir substituir a utilização anual de cerca de um milhão de metros cúbicos de água superficial por ApR, contribuindo assim para uma melhor gestão de recursos hídricos no Algarve, região que vem sendo cada vez mais impactada pela escassez de água. A capacidade instalada na ETAR de Vila Real de Santo António permitirá, futuramente, considerar a disponibilização de ApR para rega de campos de golfe que surjam na zona, para rega agrícola ou mesmo para uso urbano na lavagem de arruamentos e rega de espaços verdes. Foi ainda evidenciado o sistema de secagem solar de lamas a construir na ETAR de Vila Real de Santo António, que possibilitará obter uma melhor qualidade das lamas produzidas nesta instalação, designadamente com ALGARVE INFORMATIVO #285


redução do volume, peso e número de transportes necessário para envio a destino final. Beneficiando das condições climatéricas da região do Algarve, nomeadamente o elevado número de dias de sol, este sistema de secagem solar envolve a construção de uma estufa com capacidade para processar cerca de 4 mil toneladas/ano de lamas desidratadas e vem complementar a fase sólida do sistema de tratamento da ETAR, estimando-se que a empreitada, envolvendo um investimento de cerca de 2,2 milhões de euros, tenha início no terceiro trimestre de 2021. Do roteiro fizeram ainda parte a inauguração de duas estações elevatórias de águas residuais (EEAR) – EEAR de

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Ferragial em Faro e EEAR do Mercado em Olhão –, infraestruturas integradas no Sistema Multimunicipal de Saneamento do Algarve, designadamente nos subsistemas que afluem à nova ETAR de Faro-Olhão. Estas duas instalações fazem parte do lote de sete EEAR incluídas na Empreitada de Reabilitação das Estações Elevatórias de Águas Residuais de Faro e de Olhão, iniciada em setembro de 2018 e concluída no final de 2020, totalizando um investimento de 4,4 milhões de euros, dos quais 770 mil euros respeitantes à EEAR do Ferragial – Faro e 660 mil euros respeitantes à EEAR do Mercado – Olhão. Considerando a construção da nova ETAR Intermunicipal de Faro-

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António Eusébio, presidente do Conselho de Administração da «Águas do Algarve»

Olhão, inaugurada no final de 2018, e a reabilitação das sete EEAR nestes municípios, o investimento da «Águas do Algarve» atingiu cerca de 22 milhões de euros, com financiamento do Fundo de Coesão, no âmbito do Programa Operacional Temático Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR). A entrada em funcionamento da ETAR de Faro-Olhão e as respetivas ligações das EEAR permitiram desativar os anteriores sistemas de tratamento assentando em sistemas de lagunagem que se revelavam desadequados face aos níveis de qualidade exigidos para o efluente tratado a descarregar no meio recetor, nomeadamente a Ria Formosa. No que respeita às EEAR de Ferragial – Faro e do Mercado – Olhão, atendendo a que estão 31

integradas num espaço público de grande movimento nas cidades, além do aumento significativo da capacidade instalada e da sua fiabilidade, há ainda a destacar os impactos positivos na envolvente, nomeadamente ao nível visual e de minimização de odores. O roteiro da água no Algarve terminou com a inauguração do edifício de flotação da Estação de Tratamento de Água de Alcantarilha, no concelho de Silves, cuja entrada em operação vai permitir robustecer o tratamento de água para abastecimento na zona do barlavento algarvio. A ETA de Alcantarilha é alimentada, desde 2012, com água superficial proveniente da albufeira de Odelouca e com água subterrânea, captada nos furos de Vale ALGARVE INFORMATIVO #285


Rosa Palma, presidente da Câmara Municipal de Silves

da Vila e de Benaciate, tendo uma capacidade máxima de produção de 259 mil e 200 metros cúbicos/dia, servindo uma população de 620 mil habitantes. Esta ETA entrou em funcionamento no final de 1999, tendo sido alvo de algumas melhorias em 2005, nomeadamente intervenções no edifício dos reagentes, um novo decantador de água da lavagem dos filtros, entre outras obras. Passados estes anos, tornou-se evidente a necessidade de melhorar a eficiência dos decantadores, nomeadamente tendo em consideração as características da água bruta captada na albufeira de Odelouca (água agressiva, com baixa mineralização, turvação e dureza cálcica e presença de cor solúvel). O novo edifício inaugurado no dia 24 de março integra um processo de tratamento robusto, com base numa ALGARVE INFORMATIVO #285

solução de Flotação de Alta Carga que apresenta uma elevada eficiência de tratamento da água, com produção de lamas permitindo a desidratação direta, e dispensando qualquer etapa complementar de espessamento, e com economia de reagentes.

CICLO DE INVESTIMENTO NUNCA TERMINOU O edifício de Flotação integra a empreitada de «Beneficiações da ETA da Alcantarilha», cujo investimento representa cerca de cinco milhões de euros cofinanciado pelo POSEUR. “É

uma obra muito importante para Silves, mas mais importante ainda para todo o Algarve”, frisou António Eusébio, o novo presidente do 32


Conselho de Administração da «Águas do Algarve», empresa que ao longo das duas últimas décadas tem elevado o padrão de qualidade da água e garantido a preservação do ambiente. Um trabalho que não está terminado, assegurou o antigo presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel e deputado na Assembleia da República, “porque as

alterações climáticas cada vez se sentem com maior intensidade e os períodos de seca vão-se tornando mais constantes”. “É nestes momentos difíceis que temos que arranjar soluções que garantam mais resiliência e robustez ao sistema e tenho que agradecer ao Governo e ao Ministério do Ambiente pela atenção que tiveram para com o Algarve. Uma preocupação que se notou logo 33

quando mandou executar o Plano de Eficiência Hídrica para o Algarve, onde estão contempladas várias soluções de reforço do abastecimento de água, mas também para aumentarmos as massas de águas utilizadas, por via da reutilização das águas residuais tratadas e do combate às perdas”. Para António Eusébio, este é o momento, pois, de se tornar o Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água e de Saneamento do Algarve mais robusto e eficiente, “mas este

processo não depende apenas do trabalho e investimento do sector das águas”. “Temos desenvolvido campanhas de eficiência hídrica ALGARVE INFORMATIVO #285


José Furtado, presidente do Conselho de Administração da «Águas de Portugal»

junto de toda a população, a começar pelas escolas, para sensibilizar as pessoas para o uso consciente da água. E a reutilização das águas residuais tratadas só irá para a frente se todos assim o quisermos e estivermos envolvidos nesse processo”, afirmou o novo líder da «Águas do Algarve», antes de passar a palavra a Rosa Palma, presidente da Câmara Municipal de Silves, que se congratulou pelo investimento efetuado na ETA de Alcantarilha, “uma forma de

tornar a infraestrutura mais eficiente e de termos mais água potável e disponível para todos os algarvios”. “É fundamental, contudo, que exista em todos nós ALGARVE INFORMATIVO #285

uma visão de responsabilidade em relação ao uso da água. Precisamos ser mais racionais para que este bem essencial à vida humana perdure”, defendeu a edil silvense. Antes da intervenção do Ministro do Ambiente e da Ação Climática houve oportunidade para escutar José Furtado, presidente da «Águas de Portugal», que manifestou a sua satisfação pela excelente articulação entre os municípios algarvios e a «Águas do Algarve». “O projeto

empresarial da «Águas do Algarve» congrega-nos em torno do mesmo propósito – o interesse público na salvaguarda de um 34


serviço essencial à vida com padrões de excelência – mas tem a particularidade de revelar duas perspetivas distintas no corpo acionista: por um lado a dos acionistas municipais, que beneficiam da proximidade aos clientes finais e do conhecimento da realidade concreta do território servido pela empresa; por outro lado, a do acionista «Águas de Portugal», que beneficia de uma visão global sobre as tendências do sector da água, dispondo da capacidade de integrar e mobilizar uma rede multidisciplinar de competências implantada ao longo do país”, sublinhou José Furtado. “Como constatamos hoje, em

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Odeleite, Olhão, Faro e Alcantarilha, os tempos exigem de nós um redobrado compromisso na prossecução dos exigentes desafios a que temos a obrigação de responder. Primeiro, no reforço da resiliência do abastecimento de água e dos serviços de tratamento das águas residuais. Em segundo, na necessidade de acentuar a qualidade e de ganhar eficiência, permitindo-nos fazer melhor e alcançar mais, com menos recursos, na gestão da água e da preservação do ambiente. Em terceiro lugar, no objetivo de promover o eficaz aproveitamento e a reutilização

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de recursos finitos, seja das águas residuais tratadas, seja das lamas, bem como da descarbonização do ciclo urbano da água. Esta é uma meta móvel, sempre distante, e contamos com os parceiros municipais para dar mais utilidade social aos nossos serviços”, finalizou o presidente da «Águas de Portugal». A encerrar a sessão, João Pedro Matos Fernandes assumiu que o ciclo de investimento da «Águas do Algarve» não terminou com esta inauguração,

“porque a meta foge à nossa frente”. “Dizer que, com os 42 milhões de euros que foram investidos pela «Águas do Algarve» nos últimos cinco anos se fecha um ciclo de investimento não seria de todo verdade. Foi muito importante

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o que se fez com esse dinheiro e temos bons exemplos na ETA de Alcantarilha e na ETAR de FaroOlhão, na ETAR da Companheira e nas duas estações elevatórias que foram também hoje colocadas em funcionamento, porque a qualidade ambiental é igualmente fundamental para uma região turística como o Algarve e para todos os seus habitantes, mas o trabalho prossegue”, alertou o Ministro do Ambiente e da Ação Climática. Prova destas palavras é que novas obras já estão a ser lançadas e o governante garantiu que até não foi difícil para este Ministério dar o seu contributo para a elaboração do Plano de Recuperação e Resiliência. “Somos

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João Pedro Matos Fernandes, Ministro do Ambiente e da Ação Climática

um Ministério com bastantes agendas, planos, estratégias e roteiros, isto é, temos muito trabalho de casa bem feito. Quando nos dizem que existem fundos disponíveis de mil, nós temos sempre projetos de três mil para concorrer. E os investimentos no ambiente vão triplicar no próximo Quadro Comunitário de Apoio”, indicou João Pedro Matos Fernandes.

“Sabemos o que queremos fazer, estamos muito próximos dos autarcas, dos nossos colegas da Agricultura e do Turismo. Vale a 37

pena andarmos à frente e este esforço de véspera tem gerado bons resultados. E a «Águas do Algarve» não é uma empresa do Grupo «Águas de Portugal»; é, sim, uma empresa do Algarve que tem como acionista maioritário a «Águas de Portugal». Tudo isto dá muito trabalho e implica um grande esforço, mas esta postura faz com que tenhamos que correr menos do que os outros para alcançarmos os nossos objetivos”, concluiu o Ministro do Ambiente e da Ação Climática . ALGARVE INFORMATIVO #285


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ALBUFEIRA21 SUMMIT QUER LANÇAR BASES PARA CONSTRUIR UM FUTURO MELHOR PARA O CONCELHO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina Município de Albufeira deu início, no dia 18 de março, a um intenso programa de comunicação, valorização e divulgação da marca «Albufeira» que contemplará a realização, até maio, de vários eventos em parceria com a COFINA, sendo que o primeiro acontece já nos dias 8, 9 e 10 de abril, o «Albufeira21 ALGARVE INFORMATIVO #285

Summit». Albufeira que é, como se sabe, o segundo maior destino turístico de Portugal, logo a seguir a Lisboa, representando cerca de 40 por cento da capacidade de alojamento turístico do Algarve. Contudo, após um ano extremamente difícil motivado pela pandemia por covid-19, registam-se enormes quebras nesta indústria fundamental para Albufeira, para o Algarve e para Portugal, do mesmo modo que se verificam alterações 40


José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira

profundas no comportamento individual e coletivo, na forma de viver e estar e nos conceitos de cidade e satisfação. Não alheia a esta realidade, a Câmara Municipal de Albufeira decidiu convidar cerca de 30 especialistas nacionais e as forças vivas da região para debater temas que vão do turismo à educação e juventude, da ação social ao ambiente, sustentabilidade, e transição digital. Realizado no Auditório Municipal de Albufeira, o primeiro dia será dedicado às Pessoas, à Educação e à Ação Social. No dia 9 terão lugar dois painéis de grande impacto: um sobre Inovação e Desenvolvimento; o outro sobre Ambiente e Sustentabilidade. A manhã do 41

dia 10 de abril será preenchida pelos temas Futuro, Investimento e Competitividade, bem como pela apresentação da marca «Albufeira» e pela partilha das conclusões da conferência. “Em novembro do ano

transato, o governo aprovou a Estratégia Portugal 2030 e, mercê da tal «bazuca europeia», vão chegar muitos fundos para Portugal e para o Algarve, uma das regiões mais prejudicadas por via desta pandemia, devido à sua pouca diversificação económica. O propósito deste encontro é ouvir especialistas e depois ALGARVE INFORMATIVO #285


debater os temas com pessoas da comunidade local, de maneira a alinhar a Estratégia Albufeira 2030 com a Estratégia Portugal 2030”, explicou José Carlos Rolo. Na ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Albufeira recordou as quatro agendas temáticas do Portugal 2030: «Primeiro as Pessoas», que preconiza que exista um equilíbrio demográfico no país, nas regiões e nos concelhos, mais inclusão e menos diferenciação; na «Transição Digital» enfatiza-se a inovação e as qualificações das pessoas, instituições e organizações; na «Transição Climática» aborda-se a descarbonização, a transição e eficiência energética, a economia circular; finalmente, a «Competitividade» foca-se na competitividade externa e na coesão interna. “Depois de detetarmos os

problemas, devemos procurar soluções e implementá-las, e não apenas conversar sobre elas. Há que preparar a Estratégia Albufeira 2030 para que, quando surgirem as candidaturas aos fundos europeus, seja a «bazuca» ou outro programa qualquer, já tenhamos um caminho traçado e um rumo definido”, frisou José Carlos Rolo. A organização da Câmara Municipal de Albufeira conta com a parceria da COFINA, representada na sessão pelo diretor da Revista Sábado, Eduardo Dâmaso. “Atravessamos um

momento em que é cada vez mais fundamental promover alguma ALGARVE INFORMATIVO #285

discussão sobre aquilo que somos enquanto País, sobre a forma como encaramos esta crise que estamos a viver e, sobretudo, sobre como é que vamos sair desta situação pandémica, enquanto sociedade e país. Sou natural do Alentejo, resido também no Algarve, tenho uma paixão por estes dois territórios, portanto, todas as questões que vão ser abordadas no evento tocam-me, tanto profissional como pessoalmente”, indicou o jornalista, antes de falar da importância que terá a forma como vão ser utilizadas as ajudas financeiras da União Europeia. “O que daqui para a

frente acontecer terá que ser um bocadinho melhor do que estava em 2019. Temos que conseguir construir um país que vá seguir um caminho mais forte e, nesse sentido, há algumas lições que devem ser incorporadas no debate público e político”, entende. Para Eduardo Dâmaso, o evento assume um papel ainda mais relevante por ser descentralizado, ou seja, por não acontecer na capital, “mas sim

num concelho que tem a importância económica de Albufeira e numa região que é um dos maiores tesouros nacionais”. “E esta crise está a demonstrarnos quais são as verdadeiras 42


Eduardo Dâmaso, diretor da Revista Sábado

âncoras a que os nossos cidadãos se agarram, principalmente aqueles que mais sofrem. É às instituições que provam a sua força, resiliência e capacidade de dizer «presente» e as câmaras municipais estão a desempenhar um papel absolutamente essencial”, enalteceu, mostrando-se muito satisfeito ao ver que a Ação Social vai fazer parte do «Albufeira’21 Summit». “Como cidadão

e jornalista dá-me conforto perceber que existem instituições que são sólidas e fundamentais, na universidade, no Serviço Nacional de Saúde, na investigação. E, no que toca ao futuro de Albufeira e do 43

Algarve, é essencial contar com o contributo da sociedade civil, através dos mecanismos de participação pública. A forma como as instituições que estão mais próximas das pessoas se organizarem para debater estes temas vai influenciar bastante a discussão e a decisão política sobre que país vamos ter quando esta pandemia, felizmente, passar. Se não nos envolvermos e promovermos essa discussão, o nosso futuro será seguramente muito mais triste e cinzento, mas não é isso que nós queremos” . ALGARVE INFORMATIVO #285


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NOVO ESPETÁCULO DO VATe VIAJA ENTRE AS PEQUENAS PALAVRAS BRINCADAS DE PESSOA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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IBí & PIP – Uma Viagem entre as Pequenas Palavras de Pessoa» é o novo espetáculo para a infância do VATe, o serviço educativo da ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve, que vai estar disponível, online, de 27 a 31 de março. Trata-se de uma viagem, quem sabe, de comboio, pelos carris da brincadeira, às palavras, escritas na infância ou para a infância, do conhecido Fernando Pessoa. Na peça somos conduzidos por Sibí e Pip, dois dos primeiros inventados pelo poeta. Sibí, o Íbis, é um pássaro maluco, inventor de palavras. Quanto a Pip, o ALGARVE INFORMATIVO #285

secretário do pequeno Pessoa, é o guardador esquecido dos papéis e palavras da sua arca. E são eles, juntamente com os personagens que vão saltando de textos como «Os Ratos», «O Poema Pial», «O Menino que tinha um chapéu» ou o «Comboio Descendente», que apresentam às crianças as tais Palavras Brincadas de Pessoa. “No mundo deste poeta

fingidor tudo surge a partir das suas folhas de papel, dos seus escritos, das suas palavras. As palavras, os personagens que vão aparecendo em cada texto e os próprios atores/ manipuladores, como cores heterónimas do 48


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poeta, são o próprio fio condutor. A palavra do poeta é o ponto de partida e de chegada. A brincadeira é o caminho”, explicam os responsáveis do VATe sobre esta criação e encenação de Jorge Soares, com interpretação e manipulação de Adriana Pereira, Luís Manhita e Raquel Ançã. Dias antes da estreia, o Algarve Informativo viajou até Faro, mais concretamente ao Teatro Lethes, para acompanhar a gravação de «SIBí & PIP – Uma Viagem entre as Pequenas Palavras de Pessoa», um espetáculo que deixa de ser apresentado – pelo menos para já – a bordo do autocarro do VATe para ser transmitido online ou ser adquirido pelos ALGARVE INFORMATIVO #285

estabelecimentos escolares, seja no seu formato digital ou presencial.

“Com o objetivo de apresentar Fernando Pessoa às crianças do 1.º ciclo, e não podíamos fazer isso através da poesia que ele escreveu para adultos. Fomos então buscar textos que ele fez para os sobrinhos, inclusive alguns que ele escreveu na sua adolescência para inserir no jornal que ele produzia para a família, «O Palrador». A ideia não foi pegar na palavra em si e na sua densidade, nem na complexidade de pensamento e existencialismo humano características de Pessoa, 50


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mas levar as crianças para o imaginário dos personagens dessas pequenas histórias”, explica Jorge Soares. A verdade é que Fernando Pessoa será praticamente um desconhecido junto dos alunos do 1.º ciclo e que existem vários escritores dedicados precisamente à literatura infantojuvenil. Porquê, então, ir buscar um dos maiores nomes da palavra portuguesa para a nova produção do VATe, questionamos. “É um vulto da

literatura nacional e universal que queremos dar a conhecer aos mais novos de uma forma ligeira, que lhes desperte uma sensação de desejo e curiosidade, através das palavras, das personagens, do ritmo e das rimas, de todo um jogo cénico 53

que se aproxima muito das crianças. São animais com quem eles têm alguma empatia e que os transportam para um mundo imaginário. Nunca poderemos explicar a um aluno do 1.º ciclo a densidade Pessoana e dos seus heterónimos, mas no espetáculo aparecem referências a tudo isso”, indica o encenador. Criar um espetáculo desta natureza para crianças encerra outro grande desafio, o de conseguir cativar a sua atenção, uma vez que esta faixa etária já está muito habituada a entreter-se com consolas de jogos e a ver vídeos e filmes nos seus telemóveis ou tablets.

“É um trabalho complexo e que ALGARVE INFORMATIVO #285


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exige uma procura constante e intensa de proximidade com este público especial. Neste caso, são as personagens que, para além de serem o fio condutor do espetáculo, nos levam de poema em poema. E nós fomos os primeiros a dar vida a estas personagens, o que é algo pessoal, do mesmo modo que, se eles lerem os versos, vão visualizar as personagens à sua maneira”, refere o entrevistado, acreditando também que é possível às novas tecnologias coabitarem com os espetáculos tradicionais. “Eles gostam 55

de teatro, porque é algo que se passa à sua frente. Agora vai ser uma experiência diferente porque será online, também estamos curiosos para saber qual vai ser a reação”. Ora, se o online tem a vantagem do espetáculo chegar a mais pessoas, e mais facilmente, tem também a grande desvantagem de se perder a magia de assistirmos a uma peça de teatro no interior de um autocarro, algo que sempre deixou maravilhados os mais pequenos. “Na minha opinião, o ALGARVE INFORMATIVO #285


espetáculo vai ser uma ferramenta bastante importante em contexto de aula, pois será uma maneira diferente e gira de pegar na poesia. Eles estudam poemas pequenos, do seu nível, brincam com palavras e ritmos. Este poeta é do mundo dos adultos, mas vamos aqui entreabrir uma porta para que ouçam falar de Fernando Pessoa”, sublinha Jorge Soares, admitindo que «SIBí & PIP – Uma Viagem entre as Pequenas Palavras de Pessoa» acarretou outro grande desafio para a equipa do VATe: como é que se filma teatro?

“Não é vídeo, não é cinema, é outro tipo de produto, e pretendemos perder o mínimo possível daquela energia típica do teatro, que é uma arte de contato”. Apesar da transmissão online, de 27 a 31 de março, o objetivo da ACTA é levar depois «SIBí & PIP – Uma Viagem entre as Pequenas Palavras de Pessoa» para o terreno, não a bordo do autocarro, devido à sua dimensão, mas em espaços escolares. E todo o espetáculo foi pensado e desenhado nesse pressuposto, assume o criador e encenador. “É

diferente, claro, do VATe tradicional, mas já foi trabalhado assim desde o início. Mas não acredito que este formato online vá substituir o formato presencial, porque o teatro é algo único. Quem viu bons espetáculos, quem se deixou envolver pelo teatro, seja na infância ou em adulto, nunca vai perder aquela sede de repetir essa sensação. Os ecrãs fazem parte do dia-a-dia das crianças e elas sentem logo a diferença de quando as coisas estão a acontecer mesmo à sua frente, em carne e osso”, assegura Jorge Soares, entendendo que é fundamental criar, e manter, hábitos culturais juntos dos mais novos. “As

pessoas até podem optar por não gostar de teatro, por acharem que este género de comunicação não mexe com elas, mas que o façam com conhecimento de causa. Fazerem-no por desconhecimento, por nunca terem ido ao teatro, em criança ou adulto, é mais grave”, considera o entrevistado . ALGARVE INFORMATIVO #285

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«ANTES» DE PEDRO PENIM FOI A CENA NO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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nserido na sua programação online de março, o Cineteatro Louletano foi palco, no dia 13 de março, de «Antes», pelo Teatro Praga, considerada uma pequena joia da nova dramaturgia portuguesa. Depois de ter sido apresentado no BIT Teatersgarajen (Noruega), no ISKV Tiyatro Festivali (Istambul, Turquia), no Théâtre de la Ville (Paris, França) e no Hiroshima (Barcelona, Espanha), chegou agora a Loulé o texto de Pedro Penim que aborda, com ironia e humor, a sensação de saudade e o apego ao passado. Apresentada como um «atlas de melancolias», a performance identifica uma espécie de desconforto latente relacionado a eventos ancestrais, presente um pouco por toda a Europa.

“Foi o nosso passado realmente tão ALGARVE INFORMATIVO #285

«glorioso» quanto o percecionamos? E até que altura devemos identificar esse «antes»”, questiona Pedro Penim. «Antes» fala, por isso, da ânsia pelo retorno a um tempo passado, entendido como glorioso e desejável, face um presente doloroso. “Esta

doença, partilhada por muitas civilizações ao longo da história, diagnostica o fim de uma era”, explica Pedro Penim que, para construir este diagnóstico, se atreve a colocar em confronto um tiranossaurus rex e um psicanalista pós-moderno bastante cético. Um diálogo hilariante e amargo que oferece «alimento para o pensamento» sobre o futuro das nossas civilizações e a sua propensão para acarinhar fantasmas e mitologias de impérios caídos . 66


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PLASTICINE DESLUMBRARAM NO CENTRO CULTURAL DE LAGOS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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ace ao confinamento e ao encerramento dos espaços culturais, o Município de Lagos continua a levar a cultura até às pessoas através do programa «O Palco em Casa», transmitido a partir do Centro Cultural de Lagos e através das redes sociais e do Youtube da autarquia lacobrigense. No dia 20 de março foi a vez de se escutar a excelente música dos Plasticine, projeto eclético que nasceu em 2018, inspirado por influências como o jazz, funk, soul, rock ou afro-beat, tudo ALGARVE INFORMATIVO #285

combinado numa diversidade rítmica e harmónica impressionantes. Em palco estiveram 10 músicos, com algumas estreias absolutas ao vivo, porque o nome Plasticine também é o reflexo do conceito desta banda algarvia, uma formação maleável e onde a rotatividade dos seus elementos é uma característica. Uma nuance que torna cada concerto numa experiência única com Pedro Barroso e João Faísca ao leme do barco . 80


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OPINIÃO O Canil de Santa Bárbara Paulo Bernardo (Empresário) esde que me lembro sempre tive um cão por companhia, animais incríveis que me ajudaram a crescer.

Hoje fiquei contente com a notícia de que a minha freguesia, Santa Bárbara de Nexe, vai ser beneficiada com a construção de um canil. Uma infraestrutura que vai ser bem útil, pois existem bastante animais abandonados por donos que os julgam como objetos. Não sei se conhecem Santa Bárbara de Nexe, por isso, para quem não conhece, eu vou explicar um pouco. É freguesia desde o Século XVI, contudo, tem presença humana desde a transição do Paleolítico Médio para o Paleolítico Superior (há cerca de 30 mil anos), depois foi habitada por Cónios, Fenícios, fez parte do Reino Visigótico da Hispânia e pertenceu ao Algarbe Alandalus. Passou a ser Portugal em 1271, pela mão do Rei D. Afonso III. Como podem ver, é um local bem antigo, bem mais antigo que muitos locais que hoje são bem mais famosos. Pessoalmente, vejo um enorme potencial em Santa Bárbara de Nexe, pois tem uma localização privilegiada no mundo, perto de tudo e com uma qualidade de vida muito boa. Mas tem um grave problema, sempre foi vista como uma filha bastarda do concelho de Faro. Sempre ALGARVE INFORMATIVO #285

viveu abandonada, apenas é visitada pelo poder em dias de festa, como aquele pai que visita a filha no dia do aniversário e depois volta rapidamente para casa, pois não quer ser visto junto da bastarda. Todavia, mesmo sendo bastarda, tem características que podiam ser potenciadas de outra forma, pois a região necessita de áreas de desenvolvimento, onde se possam fixar empresas de ponta, que beneficiem de tudo o que têm e ainda da nossa mão de obra especializada vinda da universidade que fica a 15 minutos de carro. Só não vê quem não quer, mas Santa Bárbara de Nexe tem qualidades para ser um grande centro tecnológico na Europa, pelas questões que já atrás falei. Chegando a esta fase, já podem estar a pensar que não se faz mais porque não se pode fazer. Pois existem mil constrangimentos de ordenamento do território e afins, contudo, esses constrangimentos só existem quando se fala em desenvolvimento para empresas e para habitação a custos justos. Quando é para se construir centros comerciais ou construção especulativa, para esses tudo é possível. Deixo uma pergunta: onde se vai construir o canil, não poderia ser feito um parque tecnológico tipo Silicon Valley, pois temos tudo o que a Califórnia tem? Já me devem estar a chamar megalómano. Podem 90


chamar o que quiserem, agora, não me podem acusar de não acreditar na minha Freguesia. Não me posso queixar pois em breve vamos ter o Canil de Santa Bárbara de Nexe, onde eu vejo um grande parque de ciência e tecnologia, com condições para se viver e trabalhar ligando a Freguesia de Estoi (usei Freguesia de Estoi de propósito apesar de saber que foi anexada) com a Freguesia de Santa Bárbara de Nexe, desde a Via do Infante até aos limites do quartel que nunca se fez. Onde colocaria aquilo que alguém também viu, mas que mais ninguém usou tentar, o campo de golfe municipal ou aquilo que eu chamaria «Santa Bárbara de 91

Nexe - Golf Club», onde a população pudesse aceder à prática do golf de uma forma mais económica e democrática. Imaginem o sopé do Cerro do Guilhim, com uma infraestrutura empresarial, habitacional e de fruição, junto ao «Santa Bárbara de Nexe - Golf Club», pessoas a trabalhar, a viver e a divertir-se. Será pensar muito em grande, julgo que não. Contudo, estou contente pois vamos ter um canil, onde uns viram um campo de Golf e onde eu vejo um Silicon Valley. Como declaração de interesse, digo que não sou candidato a qualquer cargo nas próximas eleições autárquicas, apenas julgo que Santa Bárbara de Nexe merece mais que um canil apenas .

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OPINIÃO Décima sétima tabuinha - Pai (2) Ana Isabel Soares (Professora Universitária) único tempo em que não há cães em permanência no monte do Moinho Grande é agora. De resto, enquanto foi lugar de trabalho, de crescimento de família e de comércio, sempre houve desses animais: uns, miúdos, serviam para acompanhar o moleiro, andavam-lhe colados ao cano das botas ou à bainha das calças. Para onde ia um, ia o outro. Na oficina do motor, dentro do moinho, na horta, até nalguma volta à cidade (o que os bichos já não apreciavam tanto, de caseiros que eram), andava o moleiro, andava o canito. Depois havia os graúdos. Podiam até ser mais jovens, mas eram maiores no tamanho, e faziam de cães de guarda. Nas mais das vezes, estacionavam perto do moinho (sem entrarem no edifício, isso jamais) – conforme a estação do ano ou os caprichos meteorológicos, deitavam-se ou ficavam em pé, às vezes em esfinge, no lado da torre onde se achassem à amparada do vento, à sombra mais fresca ou ao olhinho de sol. Um dos cães de que o meu pai se recorda com mais saudade chamou-se Margot. É dele, do meu pai, o relato que deixo aqui sobre o Margot, feito num dia de novembro de há dez anos, mas com recordações da Primavera no monte. ALGARVE INFORMATIVO #285

«O cão Margot» Era um grande setter inglês. O rabo lembro-me que lho tinham cortado quando pequenote, teria ainda menos de um palmo. O pelo era grande, castanho e ondulado. Tinha as orelhas penduradas, era meigo e lindo o cão da minha infância. Na época das chuvas e na Primavera, quando a erva crescia nas searas, eu e o meu irmão mais novo, munidos de sachos e de um saco, íamos apanhar erva para os coelhos no meio dos campos de trigo. O cão Margot sempre nos acompanhava. Colhíamos as ervas: lentugas, cardos brancos, orelha de lebre, serralhas, chapéu de lagarto, etc. – nos catacuzes e nas tengarrinhas os coelhos não pegavam muito. O Margot ia farejando por ali à nossa volta, procurando buracos de ratos do campo, os musaranhos, ou malhada de lebre – só para se distrair, porque, na realidade, o pobre não tinha pedalada para lebres! Se por adregue em algum desses buracos lhe cheirava que havia rato, o animal esgravatava o terreno, que estava brando por ter sido lavrado e ter ainda a humidade da chuva, até encontrar o bichinho. Este saltava da toca, cheio de medo, e o cão, furibundo, ia fugindo atrás dele sem o conseguir apanhar. Não era cão para grandes corridas: voltava depois para junto de 92


Foto: Vasco Célio

nós, a abanar a réstia de cauda, como que a dizer que já se tinha divertido.

arrecuas – volta e meia lá ficava mais um saco rasgado...

O saco cheio das ervas apanhadas, atávamo-lo e colocávamo-lo atravessado sobre o lombo do cão. Depois, com um de nós de cada lado para manter a carga equilibrado, o Margot, dócil e satisfeito, levava-a até ao monte.

Envelheceu muito digno, o lindo cão. Veio a morrer tranquilamente à sombra do moinho numa tarde de Verão. Estava na posição favorita dele, estendido com o focinho descansando sobre as patas dianteiras a apanhar o fresco, com o vento da maré a dar-lhe de frente. As grandes orelhas pendidas levantavam ligeiramente com a brisa e assim ficou, numa imagem de tranquilidade impressionante. Quando estranhamos a demora naquela posição, demos com ele já sem vida. E chorámos. Ainda hoje me emociona a lembrança. Querido bicho! .

Nalgumas tardes de Primavera, a aproveitar a boa disposição do Margot, que gostava de brincar, fazíamos às vezes autênticas touradas, acenando-lhe com um saco de trigo vazio. O bicho atirava-se e, quando conseguia apanhar o saco, não o largava e puxava-o, às 93

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OPINIÃO Notas Contemporâneas [12] Adília César (Escritora) “Para ensinar, há uma formalidadezinha a cumprir – saber”. Eça de Queirós (1845-1900), in Notas Contemporâneas (1909, obra póstuma) Á PESSOAS que são como arsenais do conhecimento. Guerreiros prontos a lutar em qualquer frente. O seu combate diário é uma guerra constante: a aniquilação intelectual do outro, empanturrado com noções, factos, pontos de vista, ideias, pressupostos, certezas inabaláveis; os outros, derrubados pelas rajadas de sabedoria, atrofiam o espírito, resumindo a activação dos seus neurónios a uma nova app, uma nova série televisiva, um novo vício, uma nova moda. * ESTÁ NA MODA decepar cabeças através da retórica. Contudo, a barbárie do acto conduz à consequência inerente à causa, pois por cada velha cabeça decepada nasce, pelo menos, uma cabeça nova – a Hidra de Lerna, recordam-se? – e tudo muda para que tudo fique na mesma. A retórica é um monstro ignóbil, mas pode ser combatido. ALGARVE INFORMATIVO #285

* O SILÊNCIO diz muito sobre a pessoa que o assume. Gosto de pessoas que se remetem ao silêncio e nos influenciam com a sua discrição, não se dedicando nunca a caricaturar a época em que vivem com o ruído da boçalidade. O silencioso detecta a chalaça à distância e rapidamente coloca os pontos nos is. Por vezes, escreve livros que vale a pena ler. Malogradamente, são livros desconhecidos, isentos de uma construção crítica literária. Na verdade, os próprios livros acabam por se encostar a outros universos de silêncio, nas estantes das casas, nas prateleiras das livrarias, nos túmulos das bibliotecas. * A INCOMPETÊNCIA de críticos e editores perpetua pequenas hidras de lerna na mentalidade colectiva dos leitores. Afinal, o que leva este editor a não querer publicar um bom livro e o que incita aquele crítico a efabular elogios a um mau livro? 94


Multiplicam-se os episódios de consagração dos vaidosos e desvanecem-se as possibilidades redentoras dos silenciados. * O TEMPO é uma arma avassaladora. É céu e é inferno, enquanto andamos pelo purgatório. Podia inventariar uma longa 95

lista de soluções abertas à educação das mentalidades, mas não cairei na esparrela de ousar que domino e compreendo as circunstâncias que me rodeiam. O silêncio é a minha arma. A escrita e a leitura são a minha salvação porque há, pelo menos, uma certeza que me seduz: a literatura é a ferramenta da humanidade sábia .

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OPINIÃO Caça às Bruxas - Versão XXI Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) m 1935 o filósofo Agostinho da Silva foi expulso do ensino por se ter recusado a assinar a declaração prevista na famosa «Lei Cabral», que obrigava todos os funcionários públicos a declararem que não pertenciam, nem viriam a pertencer, a qualquer organização secreta. A noção de organização secreta, nessa época, abrangia tudo o que de alguma forma contrariasse as directivas do Estado Novo, nomeadamente a Maçonaria e o Partido Comunista, que tinha sido ilegalizado. Agostinho da Silva nunca pertenceu a qualquer organização maçónica, nem foi militante comunista, mas, enquanto humanista e livre pensador, entendia que jamais poderia abdicar do direito inalienável de decidir pertencer, ou não pertencer; apoiar, ou não apoiar; de entrar ou sair. Sem nunca ter pertencido a qualquer organização maçónica, Agostinho da Silva era um «verdadeiro maçom», porque uma coisa é ser - na prática dos seus princípios e valores -, outra bem diferente é pertencer. Efetivamente, há muitos que o são e nunca aderiram e muitos que aderem sem o serem. A decisão de Agostinho da Silva é, do ponto de vista filosófico, profundamente maçónica porque reúne em si os três pilares em que assenta a maçonaria: liberdade, igualdade, fraternidade. Ao não prescindir da sua liberdade de decidir ser ou não ser, ele ALGARVE INFORMATIVO #285

reconhecia a todos os outros, em pé de igualdade, essa mesma liberdade, não em benefício ou interesse próprio, mas num gesto de fraternidade para com a humanidade. Recentemente veio a debate uma iniciativa legislativa que cheira ao mofo acumulado por mais de dois mil anos de perseguições à liberdade de ser e de pertencer. A obrigação dos deputados (assim, em minúsculas, porque na minha opinião há muito que deixamos de ter Deputados, verdadeiros Parlamentares, competentes Legisladores), de declararem se pertencem ou não a uma sociedade secreta, abrangendo agora esse conceito a Maçonaria e a Opus Dei, não é apenas um ataque ao direito individual dos deputados de pertencerem ou não pertencerem, é o prelúdio da posterior ilegalização e o início de uma nova «caça às bruxas», presente em todos os momentos da história em que se implementaram regimes totalitários, servindo as instituições perseguidas como bodes expiatórios de incompetências, fragilidades e inseguranças dos detentores dos poderes políticos. A escravização dos Judeus no Antigo Egipto; a Diáspora; o martírio das primeiras comunidades cristãs; a perseguição aos Cátaros; a prisão e condenação dos Templários; a escravatura rácica; os julgamentos inquisitoriais; a perseguição às bruxas; a extinção das ordens religiosas; a 96


contenção dos republicanos; as várias ilegalizações dos movimentos maçónicos e carbonários; a ilegalização, clandestinidade e exílio de partidos políticos/intervenientes políticos; a perseguição e extermínio de judeus, ciganos, curdos, rohingyas; as opressões religiosas de fundamentalistas islâmicos; a contenção de movimentos autonómicos e independentistas; a marginalização de imigrantes, parecendo que estão dissociados, têm um ponto em comum: são todos motivados pela necessidade de conquista ou de manutenção do poder político, surgem todos em momentos de crise, são todos promovidos por maus líderes, fracos, incompetentes, que lidam mal com o confronto e as ideias dos outros, dotados de uma sede de poder, pelo poder, pelo desejo de mandar e de ser obedecido. Incapazes de constatarem os erros próprios, procuram bodes expiatórios a quem possam atribuir as culpas das suas fragilidades. As histórias da História desvendam-nos os caminhos já percorridos em cenários e contextos semelhantes e, todos eles, tiveram como consequência o travar da evolução social, científica e tecnológica, que nascem do livre debate, da livre apresentação de ideias e de projectos, da união de esforços de indivíduos com várias valências, que se unem em torno de um objectivo comum e maior. Todas as instituições dependem do impulso humano e espelham os membros que as compõem. Tomar o todo pelo reflexo de uma parte, não é apenas injusto para o todo, é uma avaliação errada de quem assim profere as suas decisões. Como Agostinho da Silva em 1935, o que cada um tem de avaliar é se deverá ser atribuído a um determinado grupo de indivíduos o poder de decidir se todos os 97

outros têm ou não o direito de ser ou não ser, de pertencer ou não pertencer, de estar ou não estar; se devemos ou não voltar a permitir que um governo (assim, em minúsculas, porque há muito que não temos Governos), na sua sede de manutenção do poder, possa identificar e perseguir instituições e indivíduos, porque sejamos claros, a identificação tem um propósito e esse propósito não é de exaltação, mas de perseguição. Hoje serão a Maçonaria e a Opus Dei, amanhã os clubes desportivos, depois de amanhã os sindicatos, na próxima semana as associações, daqui a 15 dias os cultos religiosos e, no final, sobrará um Estado Novo, central, opressor. É um caminho possível. Poderá haver quem o queira percorrer. Eu não quero! . ALGARVE INFORMATIVO #285


OPINIÃO Sustentabilidade insustentável João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) os dias que correm é bastante frequente depararmos-nos com o termo «sustentabilidade». Seja por motivos de apresentação de uma agenda municipal, de um projecto europeu, um plano regional, uma estratégia sectorial ou simplesmente por discursos de ocasião, a verdade é que nos últimos tempos muito se tem apregoado essa palavra. Porém, interrogações emergem desta profusa utilização: terá ainda um significado real? Que grau de veracidade podemos encontrar na mesma? Sabendo que «Sustentabilidade» tem na sua génese um sólido princípio de gestão equilibrada dos recursos, de forma a satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer as das gerações futuras, tal leva-nos a equacionar muito do que vamos assistindo por aqui (e no mundo em geral). Vejamos, por exemplo, o que sucede no sector do turismo. Diversas instituições internacionais, incluindo a Organização Mundial de Turismo ou a União Europeia, têm vindo a alertar para a necessidade premente do turismo ajustar a sua actuação tornando-se mais «sustentável» em toda a sua cadeia de valor, seja ao ALGARVE INFORMATIVO #285

nível dos alojamentos, dos transportes ou serviços de animação. Não apenas na sua relação com os recursos naturais e culturais, mas também no que respeita ao impacto social gerado junto das comunidades locais ou na relação com os profissionais do sector. No Algarve facilmente conseguiríamos estar no topo dos destinos menos sustentáveis. Bastaria analisar dois ou três parâmetros e ganharíamos o óscar. Veja-se, por exemplo, o caos impresso no ordenamento territorial da região, a ocupação de zonas sensíveis ou ainda a generalidade do tipo de emprego criado. Nada disto é novo e desconhecido. Uma realidade com a qual convivemos há décadas. Porém, é estranho - e frustrante até -, verificar o modo como o termo em causa tem vindo a ser usado e abusado. Especialmente em questões de publicidade e marketing. Basta um qualquer empreendimento proclamar que preservou uma dita alfarrobeira no seu jardim, já se autodenomina sustentável! Ou por ter aplicado redutores de caudal nas torneiras do hotel. Isto poderia ter sido assim (ou quase) há 20 anos atrás. Sejamos honestos: hoje já deveríamos estar num outro patamar de desenvolvimento turístico em que «sustentabilidade» 98


significasse bem mais do que simples poupanças de água nos duches ou ter umas hortas de plantas aromáticas no jardim para «inglês ver». O debate global hoje em curso sobre o futuro do turismo exige que este imprima uma peugada forte e verdadeiramente responsável sobre o território. Sobre os seus recursos, valores naturais e culturais e as pessoas que aí vivem. Sejam elas funcionárias do sector ou residentes locais. Tem de estar na linha da frente e contribuir activamente para aquilo que são hoje os grandes desígnios planetários: o combate às alterações climáticas, à perda de biodiversidade, à discriminação social, racial e religiosa, ao fomento da equidade, igualdade e acessibilidade de oportunidades ou o apoio à cultura local. Estes são alguns dos temas que tanto se tem falado nos fóruns internacionais. E são esses que no futuro próximo irão moldar a escolha do turista quanto aos destinos a visitar. Não hajam dúvidas quanto a isso. Daí o empenho de vários países em reforçar o seu papel e compromisso. A Eslovénia, por exemplo, cuja capital foi nomeada a capital mais limpa da UE, tem em marcha um «Green Scheme» para o turismo em todo o seu território desde 2017. As Baleares, em Espanha, introduziram uma eco-taxa turística para financiar numerosas iniciativas de cariz ambiental e cultural e somente em cinco anos já contam com 66 projectos implementados, incluindo toda a estruturação da rede ciclável da região ou o restauro de caminhos e 99

muros medievais. Vários países do centro da Europa, por outro lado, aproveitando o facto de 2021 ser o Ano Europeu do Comboio, estão a organizar-se na estruturação de programas de viagens com recurso a este meio de transporte. Em Portugal também temos um excelente caso: os Açores, o primeiro arquipélago do mundo a ser certificado como destino turístico sustentável pela «Earthcheck» da Global Sustainable Tourism Council. E por cá? A principal região turística do país? Vamos continuar parados a ver o «comboio de alta velocidade» da sustentabilidade passar? Vamos continuar a iludirmo-nos com a fútil utilização do termo em casos que de sustentável pouco têm? Que futuro para o turismo, em especial após este difícil período de pandemia? Um sector mais responsável e resiliente? Espero que sim. Não há outro caminho. Mas a caminhada para aí chegar ainda está na fase de aquecimento. E o tempo não pára. Nem a imprescindível necessidade de garantirmos um verdadeiro desenvolvimento sustentável do Algarve . ALGARVE INFORMATIVO #285


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #285

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