REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #288

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24 de abril, 2021

TERESA SALGUEIRO ENCANTOU LOULÉ ESPAÇO CIDADÃO CHEGA A QUARTEIRA O «GATO MORTO» DE ELÍSIO DONAS «MÚLTIPLOS FALANTES» DE JOÃO MONIZ HOST LAB NA UNIVERSIDADE DO ALGARVE «CONTRA–PAREDE» NO MUSEU MUNICIPAL DE TAVIRA 44.º CROSS INTERNACIONAL DAS AMENDOEIRAS EM FLOR 1

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68 - «Contra-Parede» no Museu de Tavira 34 - HoST Lab na Universidade do Algarve

82 - João Moniz expõe em Loulé 46 - «Gato Morto» de Elísio Donas

24 - Cross das Amendoeiras em Flor

56 - Teresa Salgueiro em Loulé

OPINIÃO

14 - Espaço Cidadão de Quarteira ALGARVE INFORMATIVO #288

96 - Paulo Cunha 98 - Ana Isabel Soares 100 - Fábio Jesuíno 102 - Alexandra Rodrigues Gonçalves 106 - Nuno Campos Inácio 8


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ESPAÇO CIDADÃO CHEGA A QUARTEIRA PARA APROXIMAR MAIS O ESTADO DAS PESSOAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina lei n.º 50/2018, de 16 de agosto, veio estabelecer o quadro da transferência de competências para as autarquias locais, concretizando os princípios da subsidiariedade, da descentralização administrativa e da autonomia do poder local, numa lógica de salvaguarda do interesse dos cidadãos e das empresas que procuram por parte da administração pública uma resposta pronta, ágil e adequada. À luz deste novo quadro ALGARVE INFORMATIVO #288

legislativo foi acordada a transferência de diversas competências do Município de Loulé para a Freguesia de Quarteira, um processo que levou, por exemplo, ao nascimento do Espaço Cidadão de Quarteira. Os Espaços Cidadão integram-se numa ótica de partilha de recursos com vista à prestação de vários serviços de atendimento ao público, criando-se, deste modo, sinergias entre a Administração Central e Local. E o de Quarteira ficou, a partir do dia 21 de abril, ao dispor da população local, 14


encontrando-se sedeado no edifício do Centro Autárquico. “No dia 6 de

janeiro manifestamos, pela primeira vez, a intenção de ter um Espaço Cidadão em Quarteira. Desde então assinamos protocolos, formamos os funcionários necessárias para o serviço, fizemos obra e, em pouco mais de três meses, estamos aqui a inaugurar o primeiro Espaço Cidadão existente no concelho de Loulé”, destacou Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, acrescentando que este espaço “vem permitir um melhor

acesso e maior celeridade dos serviços, evitando que um número significativo de pessoas se tenha que deslocar a outros locais para 15

tratar das mais variadas questões”. O autarca partilhou a emoção que todos os quarteirenses sentem com o processo de transferência de competências do Município de Loulé para a Freguesia de Quarteira, porque,

“com mais trabalho veio também a capacidade para dar respostas rápidas à população”. “Decorre também, neste momento, um processo de reforma e modernização administrativa e dos equipamentos desta Junta de Freguesia para que sejamos cada vez melhores, porque somos quem, efetivamente, conhece melhor este território, a sua população e as suas necessidades. ALGARVE INFORMATIVO #288


Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé

Quarteira é uma referência na região e já se encontra ao nível das Freguesias da capital”, frisou Telmo Pinto, assumindo a pretensão deste executivo aumentar cada vez mais o leque de serviços prestados pela Junta de Freguesia. Seguiu-se no uso da palavra Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, que confirmou tratar-se de um dia muito feliz para os quarteirenses, por se estar perante “um clique no que diz

respeito à aproximação dos serviços do Estado daqueles a quem o Estado deve servir, ou seja, os cidadãos”. “São conhecidas as dificuldades que o cidadão experimenta quando precisa de ALGARVE INFORMATIVO #288

resolver qualquer assunto com a «máquina» do Estado, porque o Estado convencional era burocrático e distante. Estamos aqui a dar o «pontapé-de-saída», no concelho de Loulé, na aproximação e simplificação do relacionamento entre o cidadão e os serviços do Estado. É um caminho que começou e que vai ser prosseguido”, assegurou o edil, aproveitando para anunciar a vontade de se abrir mais espaços desta natureza no concelho, nomeadamente em Loulé e Boliqueime. “Vamos fazer uma

Loja ou um Balcão do Cidadão em Loulé – estamos internamente a refletir qual será o espaço que 16


Telmo Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira

melhor pode servir para esse fim – e, em Boliqueime, como a Junta de Freguesia está em fase de mudança de instalações, é o momento adequado para se implementar um serviço do Estado com esta relação de proximidade, vizinhança e facilidade”. Vítor Aleixo não estranhou, entretanto, o facto do Espaço Cidadão de Quarteira ter nascido em tempo recorde, “por

termos uma Junta bem entregue a um jovem cheio de dinamismo e que tem boas provas dadas nas funções que exerce”. “A Junta de Freguesia de Quarteira aceitou todas as competências que a lei 17

prevê transferir das Câmaras Municipais e é um processo que se justifica plenamente. Quarteira tem mais de 20 mil habitantes, uma atividade económica única, de excelência, uma centralidade urbana muito grande, empreendimentos turísticos de enorme gabarito e uma marina premiada várias vezes internacionalmente. Apresenta, igualmente, uma dinâmica social e demográfica que ombreia com as mais fortes Freguesias de Portugal, bastando olhar para o número de alunos que anualmente se matriculam nos primeiros anos do currículo ALGARVE INFORMATIVO #288


Alexandra Leitão, Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública

escolar e do número de professores que aqui procuram alojar-se a cada arranque de ano letivo”, indicou o presidente da Câmara Municipal de Loulé.

“A partir de hoje, os quarteirenses vão poder resolver os seus problemas na sua própria terra, sem necessidade de irem a Loulé. E é assim que as coisas devem acontecer num Estado democrático moderno, porque os políticos servem para ser úteis às populações”, concluiu Vítor Aleixo. ALGARVE INFORMATIVO #288

A sessão encerrou com a intervenção da Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, Alexandra Leitão, que confessou já estar habituada às coisas acontecerem depressa e bem no concelho de Loulé.

“Nunca me vou esquecer que, em 2018, abrimos em Loulé uma escola de música pública em pouco mais de quatro meses, e agora demorou-se apenas três meses a concretizar um Espaço Cidadão. Às vezes pensa-se que a administração pública é algo 18


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rotineiro, pesado e antigo, mas isso não é verdade. Em Portugal, a Administração Pública está a modernizar-se a passos largos, com a enorme colaboração das autarquias locais”, enalteceu a governante, lembrando que a estratégia definida, em 2020, por este Ministério assenta em quatro pilares – as pessoas, a inovação na gestão, a tecnologia e a proximidade – algo que se observa facilmente nos Espaços Cidadão:

“Servem as pessoas, inovam na gestão, usam a tecnologia por via de serviços online e tudo isto numa lógica de proximidade, de trazer o Estado às pessoas, ao invés de serem as pessoas a terem que se deslocar até ao Estado”. ALGARVE INFORMATIVO #288

Alexandra Leitão declarou ainda que, neste período pandémico que vivemos, os Espaços Cidadão desempenharam um papel fundamental ao nunca terem encerrado. “Em alguns sítios mais

do interior são mesmo a última presença do Estado. E, para além da sua lógica de proximidade, têm a faceta do digital assistido, apoiando e acompanhando as pessoas que não estão habituadas a utilizar as novas tecnologias para tratar de diversos assuntos. Deste modo estamos a tornar a tecnologia mais inclusiva”, evidenciou a Ministra .

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ATLETAS DO BURUNDI E ETIÓPIA VENCERAM 44.º CROSS INTERNACIONAL DAS AÇOTEIAS Texto: Daniel Pina | Fotografia: Município de Albufeira Pista das Açoteias, em Albufeira, recebeu, no dia 18 de abril, o 44.º Cross Internacional das Amendoeiras em Flor, com o triunfo a caber a Thierry Ndikumwenayo, do Burundi, e a Likina Amebaw, da Etiópia. Ndikumwenayo terminou com o ALGARVE INFORMATIVO #288

tempo de 25.21 minutos e acabou oito segundos à frente de Hosea Kiplangat, do Uganda. O irlandês Sean Tobin foi terceiro, a 17 segundos e o melhor português foi Rui Pinto, no quarto lugar, a 33 segundos do vencedor. Na prova feminina, Likina Amebaw finalizou com o tempo de 22.42 minutos, à frente das espanholas Azucena Díaz, a nove segundos, e Clara 24


Viñaras, a 20 segundos. Carla Martinho, do Recreio Desportivo de Águeda, foi a melhor portuguesa, também no quarto lugar, a 43 segundos da vencedora. Dada a situação pandémica, este ano não se realizaram as provas do Campeonato Regional e do Desporto Adaptado para atletas com deficiência, tendo a competição sido limitada apenas a atletas profissionais e com ausência de público, cumprindo-se todas as medidas sanitárias de higiene e segurança emanadas pelas autoridades competentes. No entanto, como refere José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal, “é uma prova que nos

desperta sempre a adrenalina, não só por ter aqui em Albufeira os melhores dos melhores do 25

atletismo nacional e internacional, mas também por voltar a ver esta pista, que é das melhores do país, a ser novamente o palco das chamadas sapatilhas douradas”. O 44.º Cross Internacional das Amendoeiras em Flor foi uma organização da Associação de Atletismo do Algarve em parceria com o Município de Albufeira, contando com o apoio do Instituto Português de Desporto e Juventude e da Região de Turismo do Algarve e teve transmissão em direto na Bola TV e live streaming no Youtube, bem como pelo Facebook, da AAALGARVE .

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Carimo Rassal, Alexandra Rodrigues Gonçalves, Isabel Ratão, Ana Isabel Martins, Célia Ramos e Carlos Monteiro

HOST LAB PRETENDE CRIAR NOVOS PRODUTOS E EXPERIÊNCIAS ENOGASTRONÓMICAS EM TORNO DA DIETA MEDITERRÂNICA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e HoST Lab CRESC Algarve 2020 vai apoiar diversos projetos de investigação científica e desenvolvimento tecnológico submetidos pelos vários Centros da Universidade do Algarve, sendo que o HoST Lab se vai focar na estruturação de ALGARVE INFORMATIVO #288

uma oferta qualificadora diferenciada de produtos e serviços, assentes em experiências enogastronómicas e com base nos ativos patrimoniais, tangíveis e intangíveis, promotores da identidade e da sustentabilidade do setor na região. Este projeto representa um investimento total a rondar os 600 mil euros e envolve os investigadores Alexandra Rodrigues 34


Gonçalves, Célia Ramos, Paula Martins, Carimo Rassal, Manuel Serra, Carlos Monteiro e Ana Isabel Martins da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo e as investigadoras Célia Quintas, Isabel Ratão e Patrícia Nunes do Instituto Superior de Engenharia. “Existe há

muito tempo a vontade de possuirmos um espaço próprio dentro da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo onde se possa associar a inovação às temáticas inerentes ao nosso curso de Gestão Hoteleira. A licenciatura foi evoluindo ao longo dos anos, introduzindo uma vocação mais prática nas suas aulas, e tem encontrado parcerias no território para desenvolver as suas dinâmicas

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mais de aplicação. Agora, com a aprovação desta candidatura, torna-se realidade uma ambição antiga de se criar um laboratório no qual possamos levar a cabo investigação aplicada a esta área”, destaca Alexandra Rodrigues Gonçalves, diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve. O laboratório vai nascer da requalificação de duas salas e pode acolher investigações mais especializadas inerentes aos mestrados da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo, seja de Direção e Gestão Hoteleira, de Gastronomia e Vinhos, do Marketing Turístico e Hoteleiro. O HoST Lab terá um especial enfoque na Dieta

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Mediterrânica, pretendendo-se criar, então, experiências agroalimentares e desenvolver novos produtos, que serão depois testados em parceria com a Rota do Petisco, evento dinamizado há mais de uma década pela associação portimonense Teia d’Impulsos. “Os

produtos que vamos aqui desenvolver em ambiente de laboratório vão depois ser experimentados por chefs em workshops e, finalmente, apresentados ao consumidor final na restauração algarvia. É um projeto a dois anos que, devido à pandemia, já vai arrancar com algum atraso, mas que vem colmatar necessidades que sentíamos para desenvolvermos uma investigação mais aplicada em torno da gastronomia e enologia”, ALGARVE INFORMATIVO #288

sublinha Alexandra Rodrigues Gonçalves. Gastronomia e enologia que sempre caminharam lado a lado, ainda que de forma natural e inconsciente, mas que, de há uns anos para cá, têm sido alvo, de facto, de diversos estudos para se chegar a «casamentos» mais eficazes entre a comida e a bebida, por assim dizer. “Acreditamos que, graças a

uma colaboração muito próxima com os stakeholders locais – produtores, restauração e hotelaria – a Academia conseguirá dar um contributo mais assertivo e com um impacto mais direto sobre as operações do dia-a-dia. Ninguém sabe concretamente o que a pandemia nos vai trazer nos próximos tempos, mas ninguém 36


coloca em causa a necessidade de inovação com vista à diferenciação de experiências. E, hoje em dia, um destino turístico está também bastante conotado com as experiências enogastronómicas que oferece”, avisa Carimo Rassal. “O HoST Lab pretende ser, não só um laboratório de criação, mas também uma ponte com os empresários e os produtores, sempre no contexto da Dieta Mediterrânica”, acrescenta o investigador. Envolver mais o conhecimento científico e a Academia com as práticas do dia-a-dia da gastronomia e da enologia não significa, todavia, que se cometessem erros crassos no passado, defende Carimo Rassal. “Era algo que estava

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frequentemente alicerçado no conhecimento popular. Atualmente, com as novas ferramentas metodológicas e tecnológicas que possuímos, e com o próprio refinar do turista, temos que ver as coisas de forma diferente. Não se trata de corrigir erros, mas sim de polir, afinar, trazer ao de cima o melhor da enogastronomia algarvia. Isso ajudará, certamente, os nossos parceiros a refinar a forma como vendem os seus produtos e experiências, e não estamos aqui a falar apenas de restaurantes com Estrela Michelin”, refere o entrevistado, voltando a chamar a atenção para a imensa quantidade de

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informação que agora está disponível para os clientes. O HoST Lab não se resume, contudo, à criação de novos produtos, mas também das tais «experiências», porque o turista moderno é mais exigente e os destinos não se podem limitar a oferecer «mais do mesmo» para vencer a concorrência.

“Cada vez é mais importante o sentimento que cada pessoa leva para casa depois de visitar um local, nomeadamente no que toca à gastronomia e enologia. Por isso, não nos vamos ficar apenas pela experiência pura e simples, vamos analisar as emoções e sentimentos que essa experiência desencadeia no turista”, explica Célia Ramos. “Vamos desenvolver novos produtos, ver como serão encarados pelas empresas, turistas e residentes, e averiguar, em termos de mercado, como poderão ser consumidos e complementados com outros produtos gastronómicos e bebidas”, aponta a cocoordenadora deste projeto da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve. Novos produtos que serão «desenhados» pelo Instituto Superior de Engenharia e que são, concretamente, um gelado de leite de cabra, um azeite para barrar, um queijo-creme de leite de cabra, umas azeitonas líquidas e uma esférificação, estilo caviar, feita a partir de vinho, revela a investigadora Isabel Ratão. “Tentamos desenvolver ALGARVE INFORMATIVO #288

produtos que tivessem, efetivamente, alguma ligação à Dieta Mediterrânica. O planeamento não é difícil, porque temos alguma experiência em produtos parecidos, o mais complicado é a conceção, pois ainda não sabemos quais os ingredientes e aditivos que vão dar melhores resultados. Vamos testar junto de um painel de provadores até chegarmos à fórmula final, ao mesmo tempo que vamos medindo todos os parâmetros microbiológicos para se garantir a segurança dos produtos”, descreve, reconhecendo que outro desafio é fazer com que os novos produtos resultem, em conjunto, na mesma experiência enogastronómica. “Nós sabemos

desenvolver e produzir os produtos, outros colegas do projeto estão mais habituados à sua combinação. Eu, enquanto leiga, diria que o gelado será uma sobremesa, as azeitonas podem ser uma entrada ou um complemento na refeição, a esférificação do vinho pode estar na entrada ou na sobremesa… mas há pessoas com muito mais experiência nesse «casamento» dos produtos”, aponta Isabel Ratão, acreditando que o resultado do HoST Lab será uma mais-valia para o turismo do Algarve. “Para o consumidor

final as coisas terão um sabor 38


diferente, mas será preciso explicarlhes o porquê, já que o preço, quando associado à inovação e a matérias-primas de grande qualidade, mas de baixa produção, será certamente maior. Não será o tipo de produto para vender num supermercado, porque não queremos grande escala, mas maisvalia”, diz ainda a investigadora do Instituto Superior de Engenharia da Universidade do Algarve.

PROCURA VAI PUXAR PELA OFERTA Para Alexandra Rodrigues Gonçalves, a ideia é, resumindo, utilizar melhor os recursos endógenos do Algarve e reinventá-los, sobretudo os três alicerces da Dieta Mediterrânica – o azeite, o pão e 39

o vinho. Contudo, falando-se de aplicações empresariais, há que perceber se, depois, os novos produtos e experiências são viáveis para a restauração, seja devido ao tempo que demoram a confecionar, como também pela questão económica. “Há a

preocupação de recriar elementos tradicionais que já existem associados à Dieta Mediterrânica, mas, ao mesmo tempo, verificar se são sustentáveis em termos financeiros quando aplicados na restauração e hotelaria. Nesse sentido, será também criado um rótulo específico para estes novos produtos, que ateste o contributo que se está a dar para a economia local e que forneça toda a informação alusiva a este processo de inovação. Temos que ALGARVE INFORMATIVO #288


fomentar a transferência de conhecimento para o setor da restauração e hotelaria e, em simultâneo, enriquecer as experiências turísticas que proporcionamos em termos sensoriais”, declara a diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve. “A

gastronomia e a enologia mexem com todos os sentidos e, depois de uma viagem, muitas vezes recordamo-nos de uma boa refeição que comemos, de um bom vinho que bebemos. E, associados a estes produtos da Dieta Mediterrânica, temos também uma forma de estar e de viver que servem para diferenciar o Algarve. Em vez de importar produtos de outras ALGARVE INFORMATIVO #288

regiões do país, há que valorizar os que temos cá”, defende a entrevistada. Se o turista está, sem dúvida, cada vez mais conhecedor e exigente e, portanto, recetivo a novas experiências diferenciadoras, resta saber como reagirão a produção, a restauração e a hotelaria às pretensões do HoST Lab. Alexandra Rodrigues Gonçalves mostra-se confiante em relação a essa matéria, porque tudo vai ser testado junto dos consumidores finais. “Se

demonstrarmos que a recetividade às novas propostas da parte dos clientes é boa, o mercado vai conduzir à aceitação da produção e do tecido empresarial. Criando-se a procura, a oferta vai reagir. Sabemos que 40


há coisas que terão mais sustentabilidade do que outras, porque, na inovação, nem tudo aquilo que se testa depois resulta na prática, mas é esse trabalho que nos propomos realizar”, esclarece a diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve. “Somos uma entidade de

formação, educação e investigação e tentamos dar o nosso contributo para o desenvolvimento do Algarve. É natural que nem todos os projetos produzam, no médio e longo prazo, os efeitos desejados, mas é necessário que continuem a existir incentivos ao desenvolvimento e inovação. Infelizmente, o Algarve é das regiões onde esse investimento é dos mais baixos da Europa e, se queremos continuar numa senda de procura de excelência, de melhoria e de inovação, precisamos de mais apoios. E, sobretudo, em mecanismos de transferência tecnológica e de conhecimento para as empresas”, assume Alexandra Rodrigues Gonçalves. De volta a Carimo Rassal, a gastronomia e a enologia poderão não ser fatores primários na escolha do Algarve para se gozar férias, mas são, ninguém duvide disso, incrementais para uma experiência inesquecível. “A nossa gastronomia e

os nossos vinhos perduram na memória dos turistas muito mais tempo do que eventualmente as próprias praias. Mas é um caminho 41

que se faz, fazendo. A nossa parte é contribuir com a metodologia científica adequada, mas o HoST Lab não é um concurso de ideias ou de criatividade”, distingue o investigador. “A nossa missão, a par de se criar o laboratório, é estabelecer parcerias com uma nova geração de empresários e empreendedores mais qualificados, que querem fazer acontecer, e que têm uma maior abertura para escutar e participar”, salienta, reforçando a importância de se consumir produtos endógenos. “A minha experiência

na hotelaria e restauração diz-me que, muitas vezes, é preciso apresentarem-nos aquilo que não esperávamos ver, para percebermos que precisávamos disso. A inovação em gastronomia e enologia é crucial para se oferecer algo diferente aos turistas, para lhes deixar a semente na memória que aumente os índices de satisfação e de fidelização. É natural o ser humano desconfiar daquilo que não conhece, mas a Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo está no Algarve, é uma referência a nível nacional, e em boa hora surgiu este projeto para darmos um contributo positivo para os stakeholders regionais e para a Academia”, considera Carimo Rassal. ALGARVE INFORMATIVO #288


E apresentar experiências sensoriais diferenciadoras promete ser ainda mais determinante quando o turismo recuperar dos efeitos da pandemia, uma vez que muitos destinos vão apostar em preços baixos e o Algarve, como se sabe, não consegue combater com essas armas. “Vai ser bastante importante

analisar toda a comunicação que será feita nas redes sociais, o «bocaa-boca eletrónico», que se tornou um grande agente das marcas, dos destinos, dos produtos. O HoST Lab pretende, nesse sentido, perceber as emoções e alavancar produtos que as possam potenciar, como forma de aumentar a sua competitividade”, indica Célia Ramos. “O projeto, para além de incluir as vertentes da inovação e sustentabilidade e fomentar o emprego, pretende fazer uma ALGARVE INFORMATIVO #288

ponte de transferência de conhecimento para as empresar hoteleiras e incluir ferramentas metodológicas na área de business inteligence para incrementar a competitividade e a inteligência do setor do turismo”, adianta a cocoordenadora do HoST Lab. Enquadrado no CinTurs – Centro de Investigação em Turismo e Bem-Estar da Universidade do Algarve, o projeto vai embarcar, agora, numa verdadeira corrida contra o tempo que começará com a requalificação de duas salas da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo para o nascimento do laboratório. Depois, segue-se o processo de experimentação e testagem dos novos produtos, antes de serem aplicados no terreno, previsivelmente só em 2022 . 42


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DEPOIS DOS ORNATOS VIOLETA, ELÍSIO DONAS RESSURGE COM O SEU GATO MORTO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Francesca River

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pós «Bílis», «Valsa a Dois Tempos» é o segundo single do disco de estreia dos Gato Morto, «Fazer das Mágoas Coração», com edição prevista para setembro deste ano pela Rastilho Records. O projeto pessoal de Elísio Donas, carismático pianista e membro dos Ornatos Violeta, conta ainda com a guitarra elétrica e acústica do portuense Ramon e com os algarvios Luís Henrique (baixo elétrico e contrabaixo) e Paulo Franco (bateria). Algarve que tem sido, nos últimos anos, a base do mentor dos Gato Morto, uma região que conhece desde os seus 10 anos de idade, quando a família começou a vir passar férias para Albufeira. “Tornou-se um ritual

rumarmos ao sul todos os anos, em julho ou setembro, até que, quando eu tinha 18 anos, os meus pais decidiram mudar-se de vez para Albufeira. Ela era enfermeira, ele profissional de seguros, foi fácil. As minhas irmãs vieram quando tiveram possibilidade, mas eu fiquei no Porto porque já tinha os Ornatos”, recorda o músico. A relação com o Algarve tornou-se, naturalmente, ainda mais forte e constante e o seu quotidiano passou a ser dividido entre o norte e o sul do país, daí não ser de estranhar que metade deste coletivo artístico que é o Gato Morto seja algarvio. “Os Ornatos Violeta

coincidiram com o fim da minha adolescência e a entrada na idade adulta, com eles cresci e vivi, era ALGARVE INFORMATIVO #288

quase como se fosse a casa dos meus pais. Quando a banda terminou, comecei a trabalhar com muita gente, mas já tinha participado em digressões do Sérgio Godinho, GNR ou Blind Zero. Tem sido uma carreira rica, é uma sorte, um prazer e uma honra ter tocado com tanta gente boa”, declara, adiantando que “o Gato Morto nasceu do desejo de também colocar as minhas canções cá fora, de concretizar as muitas músicas que ia compondo ao piano”. “Em 2012 dei nome ao projeto, apresentei as canções ao Ramon e começamos a formar a banda”. Numa das suas inúmeras viagens ao Algarve, e quando esteve a trabalhar com Teresa Aleixo na gravação do seu disco «Quanto de mim», Elísio Donas conheceu o baterista Paulo Franco e esse relacionamento levou-o aos Mundopardo, banda de Faro da qual produziu o segundo álbum e onde descobriu o baixista e contrabaixo Luís Henrique. Estava, assim, encontrada a seção rítmica dos Gato Morto, com quem começou a ensaiar mais frequentemente em 2020, já por entre as vicissitudes da pandemia. O primeiro single, «Bílis», saiu em outubro do ano passado, com a participação de Miguel Lestre na voz e letra e de Dana Colley, saxofonista dos Morphine, seguindose, mais recentemente, «Valsa a Dois Tempos». Portanto, do desejo, à realidade, decorreu praticamente uma 48


década, mas a justificação é simples: “A

ideia e a vontade surgiram em 2012, mas as digressões não pararam. Estava com Ornatos Violeta, Jimmy P, Grace, TurboJunkie, cheguei a trabalhar em teatro, ou seja, não parava. E também não queria qualquer um comigo nos Gato Morto, tinham que ser pessoas especiais”, explica o entrevistado. “Entrei para a minha primeira banda aos 13, portanto, são 33 anos a tocar com outros músicos, e queria pessoas com quem desse a volta ao mundo. Podia ter convidado os amigos do costume e depois, se calhar, chateávamo-nos ao fim de meio ano, mas preferi esperar por pessoas que tinham a 49

estrelinha que eu procurava e que também me iam completar enquanto artista”, reforça. Apesar das músicas serem compostas por Elísio Donas, os restantes elementos do coletivo têm também uma palavra importante em toda a sonoridade, “num trabalho de

partilha e crescimento mútuo que tem resultado bastante bem”. “Levo muita coisa feita de casa, arranjos de teclados e de cordas, depois mando para as feras para ver se aquilo soa alguma coisa decente ou não. E eles fazem o mesmo. É uma banda na qual existem muitos emails”, descreve, com um sorriso, admitindo que o processo criativo tem sido mais ALGARVE INFORMATIVO #288


complicado devido às limitações impostas pela covid-19. “Não podemos, de

repente, decidir ir ensaiar a seguir ao jantar porque vivemos em concelhos diferentes, mas também não temos 20 anos, sabemos lidar com as dificuldades de uma forma mais compreensiva. Às vezes pode tornar-se desmotivador, mas as coisas vão-se fazendo e compensamos quando os constrangimentos diminuem”. Escolher as músicas para um disco, quando algumas já foram compostas há quase uma década, também não é uma tarefa fácil, com Elísio Donas a afirmar que essa é outra vantagem de se estar numa banda boa. “Eu peço-lhes para

dar a volta às minhas canções, para as «estragarem», porque são negras, lentas, compassadas ou pesadas. O bonito e o tétrico já lá

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estão e, quando começamos a partir aquilo tudo, há sempre surpresas. O Luís Henrique é um contrabaixista de jazz fantástico, mas é igualmente um baixista de rock surpreendente, e o Ramon e o Paulo são também incríveis no pop/rock”, enaltece, aproveitando para explicar também como surgiu a designação «Gato Morto». “É uma

personagem que, com os erros e más escolhas que fez ao longo da sua vida, com a sua ignorância e muita leviandade também, perdeu as suas sete vidas. No entanto, nunca o fez por maldade intrínseca e mantém a esperança de regressar à sociedade e ter uma segunda hipótese. Nesse seu arrependimento, na sua procura de melhorar, há uma entidade superior que lhe dá, então, uma nova hipótese, o Gato Morto

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aceita e torna-se muito melhor do que era antes. Mas também já perdeu uma vida ou duas, porque não é perfeito”.

TEMOS CANÇÕES BONITAS DAS QUAIS AS PESSOAS VÃO GOSTAR Está mais que visto que os Gato Morto não são, propriamente, uma banda comercial de mascar e deitar forte, apesar de Elísio Donas considerar que não faz música difícil de consumir. Quanto às letras, a maior parte delas são da responsabilidade de Ricardo Silva, vocalista e letrista dos Mundopardo,

“que percebeu muito bem toda a história e dinâmica do Gato Morto”. “São compreensivas, acredito que depressa nos identificamos com elas. As canções, reconheço que não são fáceis, mas penso que as 51

pessoas podem procurar e encontrar uma beleza que faça sentido para elas. Há, neste projeto, uma busca pela beleza, não sei se a encontrei ou não”, comenta o entrevistado, deixando o convite para o público escutar «Bílis» e «Valsa a Dois Tempos», já disponíveis nas redes sociais e no YouTube. São novas formas de ensaiar e gravar à distância, novas formas de promover e comercializar a música, estamos, de facto, perante um novo mundo que Elísio Donas reconhece, que vê a funcionar, mas que não domina, admite. “Exige determinadas

maneiras de estar na sociedade, na cultura e na indústria que não se coadunam com a minha personalidade e feitio. Já sou «burro velho» e há princípios que tenho que me são obrigatórios, ALGARVE INFORMATIVO #288


portanto, há muita coisa que não vou fazer de certeza quando o disco sair. E o Gato Morto também não se presta a isso, acho que as pessoas não nos querem ver em concursos idiotas ou nos programas da manhã da televisão. São coisas que têm razão de ser e importância no mundo, mas não vai ser esse o ALGARVE INFORMATIVO #288

caminho do Gato Morto, porque não somos um produto de massas”, dispara Elísio Donas. “Acho que temos umas canções bonitas e que as pessoas vão apreciar”, acrescenta. Entretanto, a 19 de abril reabriram os teatros e os auditórios e regressaram os concertos ao vivo, mas os Gato 52


Morto só irão para a estrada em setembro, aquando da saída de «Fazer das Mágoas Coração», e assim sucederá também com Elísio Donas, que não está recetivo a abraçar outros projetos musicais. “A digressão será o que

tiver que ser, porque ninguém tem certezas em relação ao futuro. A minha vontade é realizar três espetáculos de apresentação do disco, em Faro, Lisboa e Porto. O resto está fora do meu controlo, mas tenho a esperança de que, a partir do Verão, toda a gente vai voltar a tocar, a pouco e pouco, a medo, mas vai regressar aos palcos”, acredita o pianista. “Desde o fim dos Ornatos Violeta que me dediquei de corpo e alma ao Gato Morto, é uma decisão que tem os seus «quês», mas comprei o filme.

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Sei de músicos que andam a pintar casas, o que não tem mal nenhum, mas eles são músicos, não são pintores, e muita gente que está a pedir ajuda alimentar. Toda a gente está à rasca”, lamenta. Gato Morto que pode ser desfrutado em espaços interiores mais intimistas ou em espetáculos ao ar livre, assume Elísio Donas, dando o exemplo dos dois singles de apresentação já lançados, um mais rock, o outro mais introspetivo, mas também com o seu lado rock. “É o meu projeto de

vida, assim como para os outros três músicos que me acompanham nesta aventura, e já tenho canções para o segundo disco”, revela em final de conversa .

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CINETEATRO LOULETANO FESTEJOU 91.º ANIVERSÁRIO COM CONCERTO EMOCIONANTE DE TERESA SALGUEIRO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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pós o encerramento devido às regras do Estado de Emergência, o Cineteatro Louletano reabriu portas, no dia 19 de abril, com um grandioso espetáculo protagonizado por Teresa Salgueiro. A ex-vocalista dos Madredeus, que se tornou independente enquanto cantora e produtora após a saída da banda em 2007, trouxe a Loulé um concerto exclusivo, encomendado pela Câmara Municipal de Loulé e pelo Cineteatro Louletano, para celebrar Abril, no ano em que se comemoram os 47 anos da «Revolução dos Cravos». “Para uma

ocasião tão especial, como será sempre a celebração do 25 de Abril ALGARVE INFORMATIVO #288

de 1974, tão marcante para a nossa história coletiva, a artista preparou, a convite da Câmara Municipal de Loulé, um espetáculo cujo alinhamento presta homenagem a autores que, com o seu talento, a beleza e a força da sua música, da sua poesia e a sua capacidade de intervenção, marcaram decisivamente o nascimento da democracia em Portugal”, desvendara o produtor da artista, Francisco Costa. A expetativa era muita, as saudades de ouvir música ao vivo também eram enormes, pelo que foi com naturalidade que o Cineteatro 58


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Louletano rapidamente esgotou a sua lotação, adaptada ao contexto de pandemia, para o concerto de Teresa Salgueiro. Cantora que, ao longo da atuação, não escondeu a emoção de estar de novo em palco e com público pela frente. “Elegi temas de autores

muito ligados com a luta, como é o caso do Zeca, que vai ser o fio condutor desta noite. Mas como ele tantos outros ousaram não calar as suas vozes e expressaram sempre o sonho de uma sociedade livre, 61

solidária e fraterna. Agradeço ao público, é uma alegria muito especial ter com quem partilhar a emoção da música, e agradeço também a estes músicos que se entusiasmaram em trazer estes temas que significam tanta luta, tanto sonho, tanta resistência”, afirmou Teresa Salgueiro, deixando igualmente uma palavra “aos

profissionais de saúde e aos familiares das vítimas que partiram e outra aos Capitães de ALGARVE INFORMATIVO #288


Abril que tiveram a coragem de dizer «não» à guerra e nos deram a liberdade que temos a cada dia”. “Agradeço, por fim, aos poetas que nos deixaram uma obra que nos permite erguer as nossas vozes”, reforçou Teresa Salgueiro, ao vivo, no Cineteatro Louletano. Ao longo de mais de 30 anos, Teresa Salgueiro tem sido uma figura artística ímpar e uma das imagens emblemáticas de Portugal no mundo, ao nível da música. Nomes tão distintos como José Carreras, Caetano ALGARVE INFORMATIVO #288

Veloso, Gilberto Gil, Carlos Núnez, Angelo Branduardi ou Zbigniew Preisner reconheceram-na como uma das grandes cantoras contemporâneas e os últimos 13 anos correspondem ao período em que Teresa se dedicou à carreira a solo como intérprete e produtora. Para além de marcar o retomar da atividade dos cinemas, teatros e auditórios, no decorrer da terceira fase do desconfinamento, o concerto de 19 de abril comemorou também os 91 anos do Cineteatro Louletano, sala que abriu ao público em 1930 precisamente nesta data . 62


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Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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stá patente, até 10 de julho, no Museu Municipal de Tavira | Palácio da Galeria, o projeto curatorial «Contra-Parede» de Hugo Dinis, com obras em diálogo dos artistas Ana Vidigal, Nuno Nunes-Ferreira e Pedro Gomes, que pode ser visitado de terça a sábado, entre as 9h15 e as 16h30. Partindo de uma discussão alargada em torno da parede como lugar privilegiado para a intervenção no espaço público, os artistas propõem questionar o espaço arquitetónico em que as obras são apresentadas. Considerando, simultaneamente, o espaço social, histórico, cultural e político em que os equipamentos museológicos se inserem, as obras promoverão um diálogo frutífero sobre o ALGARVE INFORMATIVO #288

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papel da arte junto das comunidades locais em que se apresentam. Ana Vidigal, atendendo às questões domésticas e feministas do seu trabalho, desenvolveu obras que implicam um humorístico sentido político e que indagam o debate pertinente entre os domínios público e privado. Através da intervenção em tijolos e ladrilhos em barro manufaturado de Santa Catarina da Fonte do Bispo, a artista utiliza a cultura popular local em prol de um discurso inclusivo sobre a igualdade e a diversidade. Nuno Nunes-Ferreira, com recurso ao seu imenso arquivo de jornais e revistas, realizou um mural, intitulado «A Palavra», que alude às questões políticas do Estado

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Novo e a prevalência da liberdade, onde a voz e o discurso individual se encontram como um bem comunitário. O artista apresenta também a obra inédita «Abate da frota pesqueira» que, através da construção de um muro de dossiês provenientes do arquivo da Associação de Conservas de Peixe e da apresentação do Diário da República de 1986, em que foi publicado o diploma para o abate de barcos, faz referência à política portuguesa sobre os recursos marítimos. Também do mesmo artista é apresentado o vídeo «Vírus», que estabelece a contemporaneidade da exposição neste tempo de pandemia. Pedro Gomes expõe desenhos por módulos, imagens que se podem estender como papel de parede, que

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confrontam o espaço arquitetónico por meio de representações dos dispositivos históricos museográficos recorrentes entre o século XIX e o cubo branco do século XX. Nesta grande instalação, as linhas dos desenhos tornam-se formas e espaços tridimensionais que submergem o espetador. O artista exibe ainda um mural realizado com papéis químicos, revelando, deste modo, a sua metodologia de trabalho.

contradição para infringir um confronto com as instituições que se erguem por intermédio das estruturas arquitetónicas e dos seus significados de poder. Ao cobrir a parede e ao ocupar a quase totalidade do espaço expositivo, as obras presentes neste projeto conquistam espaço de visibilidade que, através da intervenção ativa dos artistas e do público como espetadores informados, se revelam espaços subvertidos de contrapoder .

Adicionando o prefixo «contra» a «parede» recorre-se, ironicamente, à ALGARVE INFORMATIVO #288

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ALGARVE INFORMATIVO O curador da#288 exposição, Hugo Dinis

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Ana Vidigal

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Pedro Gomes

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«MÚLTIPLOS FALANTES» DE JOÃO MONIZ NO CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Convento de Santo António, em Loulé, abriu as suas portas, no dia 17 de abril, para receber a Exposição «Múltiplos Falantes», do artista plástico João Moniz, curador da Galeria de Arte do Convento de Espírito Santo desde 2016. Sobre a obra do artista, escreve Fernando António Baptista Pereira: “O

pintor exerce, dentro de uma gama circunscrita de temas e motivos, um trabalho criativo de variação potencialmente infinito e inesperadamente «novo» a cada imagem que observamos, como se a própria obra executasse sobre nós a limpeza de olhar necessária a fruir a ALGARVE INFORMATIVO #288

diferença de cada nova composição. Estamos, pois, perante um espaço-tempo da criação em que a infinitude a que a ascese espiritual aspira se resolve, afinal, numa espécie de soma de todas as possibilidades e variações do fazer. Estamos perante uma identidade artística que se define intrinsecamente por ser sempre a mesma a ser sempre outra, diferente, ou seja, perante as mil faces de um rosto, sempre o mesmo e sempre outro, tal como nas orientais estelas dos mil budas, mas também perante a análoga identidade fugidia da Pintura, ela própria sempre a mesma e sempre outra, oscilando entre o eterno e o infinito da Ideia 84


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e a variação e o contingente do Existir”. João Moniz nasceu em Lisboa, a 3 de janeiro de 1949, e fez a Escola de Artes Decorativas António Arroio, a École Nationale Supérieure des Beaux Arts de Paris e o Atelier Gustave Singier. Com exposições individuais desde o início dos anos 70, João Moniz já expos em alguns dos mais importantes espaços do país, bem como em vários pontos do globo, como França, Macau, Hong Kong ou Luxemburgo. Participou também em exposições coletivas e esteve ainda representado em numerosas coleções em ALGARVE INFORMATIVO #288

Portugal, Estados Unidos e Ásia. Marcou ainda presença em salões como Salon de Mai, em Paris, ou Bienal de Toulon, e eventos como a Feira Internacional de Arte Contemporânea de Paris, a Feira Internacional de Dusseldorf ou a Feira Internacional de Madrid. Em 1985 foi realizado um filme sobre a obra do artista, pela Televisão Alemã – Primeiro Canal. «Múltiplos Falantes» pode ser visitada de terça-feira a sábado, das 10h às 16h30, até dia 29 de maio .

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OPINIÃO Dar e receber Paulo Cunha (Professor) rande parte dos meus alunos estranham quando, no dia do seu aniversário, depois da turma lhes cantar os «Parabéns a você», eu lhes digo para não se esqueceram de dar os parabéns aos seus pais quando chegarem a casa. Invariavelmente, fazem uma cara de admiração, pois são eles os aniversariantes e não os seus progenitores. Respondo-lhes, dizendo que quem está verdadeiramente de parabéns é quem, porque assim o quis, os «mandou vir». O simbolismo inerente aos festejos do aniversário está diretamente ligado à alegria, ao regozijo e à gratidão pelo surgimento e presença do aniversariante na nossa vida. Duma forma natural, convencionou-se assinalar a data com a transmissão dos nossos desejos, presenteando, nalguns casos, o aniversariante com um bem material que constituirá uma marca temporal de apreço e de estima. A par com a época de Natal, em que se celebra o nascimento do menino Jesus com a oferta de prendas aos nossos «meninos Jesus», talvez a celebração do ALGARVE INFORMATIVO #288

aniversário seja o momento em que, natural e genuinamente, grande parte das pessoas dá sem nada ambicionar em troca. Lamento que assim seja, mas os anos de uma observação aturada e atenta levam-me a constatar que muitos dos que se intitulam nossos amigos só têm um gesto de dádiva desinteressada uma vez por ano. Não sei se convosco se passa o mesmo, mas quando recebo uma chamada telefónica de algumas pessoas, no hiato de tempo que entremeia o atendimento da mesma, fico a tentar adivinhar o que é que elas me irão pedir. Num tempo onde o verbo mercadejar está, pelas piores razões, na ordem do dia, é pouco comum receber uma palavra, um gesto ou uma dádiva sem uma qualquer segunda intenção oculta. Tendo cumprido há pouco tempo mais uma volta em torno do sol, tive o grato e inolvidável prazer de receber, através de gestos e de palavras escritas e faladas, mostras de reconhecimento e de apreço, não pelo que tenho, mas pelo que sou. É, por isso, interessante constatar o efeito de peneira que o passar do tempo tem, permitindo-nos assim identificar quem dá apenas pelo prazer de dar e de receber. 96


O avolumar da idade permite ler e ouvir com outra serenidade e sabedoria o que nos é transmitido. Cada vez mais, constitui um privilégio ter afeto e carinho ao dispor, embora o maior privilégio seja saber agradecer, aproveitar e retribuir o que nos é dado. Da mesma forma que pequenos atos podem tornar-se grandiosos, também as palavras podem ser estrelas-guias quando proferidas na altura certa. Não, não é preciso festejar o nosso aniversário para sabermos o quanto 97

somos importantes para quem nos parabenteia. Dar, unicamente pelo prazer de dar, é um dos segredos para quem aspira também, pelo mesmo motivo, vir a receber. Sendo tão simples, porque será então tão difícil implementar tal forma de estar na vida? Será tolo ou não tem arte quem parte e reparte e não fica com a melhor parte? Não! Quem fica feliz com a felicidade dos outros ficará, inevitavelmente, duplamente feliz - por si e pelos outros. São outros ganhos, invisíveis aos olhos, porém presentes no coração de quem sente. É essa a verdadeira riqueza! . ALGARVE INFORMATIVO #288


OPINIÃO Décima nona tabuinha - Georgia Ana Isabel Soares (Professora Universitária) ma das mulheres que mais admiro chamouse Georgia O’Keefe. Foi Georgia para homenagear o avô materno, um húngaro que emigrou para os Estados Unidos e cuja filha veio a casar com um descendente de irlandeses, de onde lhe veio o apelido. Nasceu um lustro simples depois de Virgina Woolf (outra mulher admirável), mas, ao contrário desta, viveu uma vida longa, de praticamente um século. A família de Georgia, donos de uma quinta de produção de leite perdida no meio do Wisconsin, cuidou da vontade da segunda filha – que, aos dez anos, decidiu que queria ser artista, e fez com que tivesse aulas de aguarela, estudasse em boas escolas e não encontrasse obstáculos à sua decisão. Esta mulher viveu, portanto, uns noventa anos de manifesta opção artística, a persistir numa ideia só, na linha de uma escolha livre, uma escolha que nem era a mais comum no início da sua vida, nem a mais simples, nem, com certeza, a mais fácil. (Quantas mulheres o puderam fazer? Na verdade, não pergunto só no passado – penso nos dias de hoje, à minha volta, quantas?). Antes de olhar com atenção para a arte de Georgia O’Keefe (de que devo ter ALGARVE INFORMATIVO #288

visto, face a face, não mais do que duas ou três telas, em museus norteamericanos), fixei-me no rosto dela, numa fotografia que Ansel Adams – nascido em 1902, quinze anos mais novo do que ela – fez, com uma câmara de 35mm, e que mostra Georgia e Orville Cox num desfiladeiro do Arizona, em 1937. Georgia tinha pouco menos de 50 anos; Orville parece talvez mais jovem – não tanto pelo que se lhe percebe da expressão, mas pela pose que Adams fixou dos dois: ela, do lado direito da imagem, chapéu preto de abas largas, sobrancelhas espessas e bem desenhadas, olha para Orville, olhos e cabeça virados para ele e o corpo enrolado numa espécie de xaile, virado para a frente, traça um meio sorriso, mais de rosto que de lábios; apesar de estar mais longe da câmara do que ele, e de, na perspetiva, parecer mais baixa, é Georgia que tem o ascendente na imagem, porque é dela que se vê, abertamente, o olhar e uma, diria, matreirice no sorrir. De Orville, encostado ao lado esquerdo do limite da fotografia, só se vê o braço direito, entretido a mexer num dos botões do casaco: talvez seja um sorriso, também, o que esboça no perfil do rosto, mas é mais difícil de perceber por ter a cabeça baixa, os olhos semicerrados e ocultos da câmara, as abas mais largas ainda que as do chapéu de Georgia. Orville era 98


Foto: Vasco Célio

rancheiro e foi quem guiou um grupo de artistas, entre os quais O’Keefe e Adams, numa temporada de semanas a explorar o Arizona. Ela era uma já muito reconhecida artista, casada com Alfred Stieglitz, que em 1937 já vivera uma série de desilusões, provações emocionais e criativas (o carrinho da vida), conhecera – como aluna e como professora – universidades do interior mais pacato e das mais fascinantes cidades (Chicago e Nova Iorque), vivências plurais em lugares onde os arranha-céus não deixam ver o sol e nas pradarias mais abertas do Novo México, um meio século de encarnações plurais.

fotógrafo Ansel Adams) foi sobretudo um olhar sobre paisagens naturais – fixou os penhascos do parque de Yosemite, talvez das suas imagens mais conhecidas, céus, cascatas, floresta; nesta fotografia de 1937 deixou o retrato de duas montanhas: Georgia, a mulher do mundo, persistente e indómita (cujas mãos, tão lindas, a fotografia só deixa entrever), de agudo e certo olhar sagaz; e um homem ao seu lado, o rancheiro no pudor de se sentir observado, decoroso olhar no chão para não se entregar à turbulência de nuvens que, por cima, atrás, a envolver os dois, se avolumam na promessa de aguaceiro .

O fotógrafo Ansel Adams (o grande 99

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OPINIÃO 3 dicas para lançar um novo negócio Fábio Jesuíno (Empresário) s momentos de crise são grandes impulsionadores de novas oportunidades, criadores de empreendedores de qualidade que sabem aproveitar a onda para lançarem novos negócios. Nestes momentos devemos ter sempre uma atitude muito activa na procura de novas oportunidades, porque elas vão aparecer com muito mais frequência, bastando ter uma mente aberta e uma visão estratégica a longo prazo. São também nestes períodos que aumentam os incentivos económicos para a criação de novos negócios, criação de emprego e de projectos nas mais diversas áreas. Nesse sentido, criei uma lista de dicas para lançamentos de novos negócios: Ideia de negócio de sucesso A primeira etapa é sempre encontrar uma ideia de negócio com potencial de crescimento e rentável. Saber as tendências de mercado é um factor muito importante que vai ajudar a encontrar a melhor ideia. Crie um plano de negócios Um plano de negócios é um documento de planificação e organização que vai detalhar o negócio, tendo em conta os ALGARVE INFORMATIVO #288

objectivos. Aqui vamos mostrar a viabilidade financeira da ideia sobre vários pontos de vista. É um verdadeiro mapa, que é uma grande ajuda na fase inicial de qualquer negócio. Estrutura base de um Plano de Negócios Sumário executivo; O histórico da Companhia e/ou dos promotores; O mercado subjacente; A nova ideia e o seu posicionamento no mercado; O Projeto/Produto/Ideia; Estratégia Comercial; Projeções Financeiras; Gestão e controlo do negócio; Investimento necessário Marketing O investimento em marketing é um dos factores mais importantes a ter em conta quando lançamos um novo negócio, ele vai permitir divulgar a nossa ideia no mercado, atrair e fidelizar clientes. Aqui deve-se ter sempre em conta a definição do públicoalvo e a forma como será transmitida a mensagem. O investimento nesta área deve ser sempre numa perspectiva de médio e longo prazo para se conseguir de uma forma sustentável obter bons resultados, e, acima de tudo, notoriedade e credibilidade no mercado. Estas são as três dicas fundamentais para quem quer lançar um novo negócio de sucesso . 100


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OPINIÃO Última Hora ou «Last Minute» Alexandra Rodrigues Gonçalves (Diretora da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve) ão é sobre a notícia de última hora que irei escrever a crónica de hoje. Há pelo menos 16 meses que experimentamos a maior incerteza do amanhã das nossas vidas. A realidade que vivemos era-nos totalmente desconhecida e o medo, a angústia, a insegurança, a incerteza e muitos sentimentos pouco positivos ocuparam o nosso espaço, as nossas casas e as nossas mentes, abalando todas as nossas convicções e certezas. Estas grandes crises colocam à prova toda a Humanidade, levando-nos a questionar o percurso que fizemos até aqui. Nada voltará a ser como dantes. O Algarve há dois anos atrás era uma região em crescimento económico e hoje vive uma crise social aguda, com famílias inteiras desempregadas ou em lay off. As moratórias estão para muitos a terminar e as perpetivas para o fim da Pandemia parecem longe de alcançar.

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A circulação foi interrompida de forma abruta, retirando as pessoas do espaço público e bloqueando o consumo privado de viagens e lazer. Este é o contexto global e não só europeu. Esta crise é global, não é só nossa, mas é verdade que os níveis de vacinação de outros países irão contribuir para que alguns mercados reabram mais rapidamente do que outros. Dizem-nos os especialistas que a Grécia e Malta serão destinos a abrir mais rapidamente para o mercado Britânico. No início deste século emergiram os primeiros problemas de superpovoamento e massificação dos destinos, sobretudo nas zonas balneares do mediterrâneo e nas cidades históricas principais europeias. Dizia o seguinte o artigo O que fazer com os turistas a mais’? de Catarina Carvalho de 8/06/2019, do Diário de Notícias: “Chega o verão e voltamos a reparar nas ruas cheias de turistas. Este é um fenómeno tão moderno como interessante. Pode o turismo destruir-se a si próprio? Pode. Mas tem de ser tratado com pinças. O que há de bom e de mau no turismo - e como lidar com 102


ele. (…) Por estes dias Lisboa permitiu que aviões aterrassem no aeroporto durante toda a noite - violando as leis do ruído. Motivo: os voos trarão adeptos para a Liga das Nações. Por estes dias os funcionários do Louvre fizeram greve, fechando o museu por um dia. Reivindicação: proteger o museu do excesso de turistas para os quais, garantem, não está preparado. O Louvre está a sufocar", disseram os funcionários. Não é difícil ter essa sensação perante uma Mona Lisa afogada em câmaras e telemóveis.”. 103

Reforço a questão e a resposta: Pode o turismo destruir-se a si próprio? Pode! Esta imagem e história estão muito longe do que se vive hoje. A introdução do livre-trânsito digital verde, que comprova a vacinação, a testagem ou a recuperação do Covid19 pode ser uma rápida resposta a introduzir para que a circulação entre estados-membros na União Europeia possa voltar a acontecer. Outra questão que será essencial é a necessidade de testagens com resultados mais rápidos para que, em ALGARVE INFORMATIVO #288


férias, as pessoas possam aceder aos testes e ter respostas sem grandes stresses, para além dos inerentes à possibilidade de ter contraído o vírus. Assim como o reforço da imagem do Algarve como destino seguro! Todos ansiamos voltar a viajar e as sondagens efetuadas revelam mesmo que os destinos de «sol e mar» vão continuar a ser os destinos mais procurados. O Algarve reúne uma boa relação de «value for Money», uma imagem de destino hospedeiro e com bom clima, e pode nas propostas de experiências associadas ao ar livre ganhar um novo ânimo. Espera-se que as viagens internas e as viagens e lazer, sobretudo de curta distância, comecem alguma retoma neste verão. Mas continuamos à espera de alguma reconfiguração do que se tem vindo a fazer. Várias vozes dizem que as crises são fortes oportunidades de transformação. Todavia, continuamos ciclicamente com várias questões por resolver neste caminho de região acessível, resiliente e sustentável, ao nível das infraestruturas, da estruturação de medidas que nos tornem comunidades mais agradáveis para viver e para visitar. Como exemplos lembramos os comboios e o caminho de ferro, o novo hospital, a mobilidade urbana e interurbana, a qualidade do espaço público, a rede de infraestruturas digitais, a preservação, a salvaguarda e a valorização ambiental e cultural de ALGARVE INFORMATIVO #288

forma estruturada e integrada, a criação de oportunidade de fixação de talentos e de profissionais especializados em determinadas áreas profissionais, o despovoamento e a desertificação do interior, entre tantos outros. Outras preocupações macro emergem como a escassez de água e as alterações climáticas e eram principais antes da Pandemia. Adicionamos agora o desemprego elevado e as empresas muito fragilizadas na sua tesouraria, apresentando muitas dificuldades em manter atividade e sem perspetivas de recuperação para breve. Portanto, o Algarve sente-se excluído e sem voz. A atenção desviou-se do superpovoamento e da massificação, mas a organização e a estruturação dos recursos continuam na agenda. Há hoje um enorme cansaço e o planeamento é muito mais diário, mas não podemos perder o foco. Reafirmo a necessidade de promover um turismo mais circular, mais sustentável e mais responsável. Há necessidade de maior investimento em ciência e tecnologia. É necessário de facto restaurar a confiança nas viagens e no destino Algarve e o fornecimento de informação atempada e clara é essencial. O Turismo é a nossa especialização competitiva, mas também temos que conseguir criar novas oportunidades, novos empregos, e novas competências . 104


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OPINIÃO O sonho de Abril Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor)

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proxima-se o dia das Comemorações do 25 de Abril, que, cada vez mais, se confinam a isso mesmo, uma celebração de palavras desacompanhadas de atitudes, um bom dia para proferir discursos profundamente ideológicos ou programáticos, o dia em que se pode soprar ao vento palavras de liberdade e igualdade, de desejos e reivindicações. Quando algo se converte em meros festejos de palavras, está moribundo. Na noite de 24 para 25 de Abril de 1974 houve quem sonhasse. Houve quem quisesse abrir as portas ao projectar de um Portugal novo, de liberdade política e de desenvolvimento social e económico. Como qualquer sonho, que dura até ao despertar, a mente solta-se e adquire uma vontade própria, atingindo resultados diferentes dos idealizados e, não raras vezes, transformando-se em pesadelos. Se assim é com os sonhos individuais, como será quando o sonho é colectivo, idealizado a partir de uma panóplia de desejos e ambições muitas vezes antagónicas? Passados 47 anos sobre o início do sonho de Abril, todos deram a liberdade

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e a democracia como adquiridas e consolidadas. Como tudo o que atinge um auge, começa a entrar em queda e o sonho vai adquirindo, dia a dia, passo a passo, os contornos nublosos de um pesadelo. Os partidos políticos, que eram os pilares da democracia, transformaram-se em oligarquias, que têm como objectivo primário a sustentação das suas elites, custe o que custar, se necessário colocando candidatos em distritos a que não têm qualquer ligação apenas para que garantidamente sejam eleitos; em todas as eleições mais de meio milhão de votos não elegem ninguém, pela aplicação do Método de Hondt; organizações partidárias arvoram-se de mais democráticas, de mais plurais, de verdadeiros bastiões de liberdade, mas impõem disciplinas de voto e expulsam os críticos, não ao Partido, mas a determinadas lideranças em concreto; surgem partidos extremistas que colocam em causa os pilares da própria democracia e ganham escala, tirando proveito do descontentamento popular; os partidos trabalham em cartel na aprovação de leis que impeçam o aparecimento de candidaturas independentes, bloqueiam iniciativas de referendo, retiram da agenda política temas debatidos pela população, num 106


desrespeito ignóbil pela vontade do povo, o centro gravitacional da democracia e do sonho de Abril. O descrédito político afasta os eleitores das urnas e os cidadãos válidos da política. Vivemos tempos em que cada um é livre de mudar de nome, de mudar de sexo, de mudar de identidade, mas terá de declarar se pertence a uma qualquer organização secreta, que se tornou legal no seguimento da liberdade conferida pelo 25 de Abril sonhado. Passados 47 anos, a regionalização prevista nunca foi implementada e o poder local, o grande bastião da política de proximidade, transformou-se num campo de batalha e de inimizades, onde as eleições deixaram de ser disputadas tendo por base o melhor projecto, mas os interesses de determinados grupos de influência, que têm como arma a destruição moral e social dos adversários, como se na política existissem santos e entidades angelicais, como se a podridão não contagiasse todas as frutas da mesma cesta, por terem sido colhidas de árvores diferentes. Como qualquer sonho convertido em pesadelo, também o de Abril terminará com o despertar. O despertar que poderá ser suave, ameno, resultante de alterações que conduzam ao efectivar de uma nova democracia mais plural, mais descentralizada e independente das oligarquias que dominam as cúpulas partidárias, mais baseada nos cidadãos e na comunidade e não exclusivamente 107

em grupos de partidos; ou poderá ser abrupto, provocando um corte radical entre o sonho e a realidade, com as consequência de uma nova liderança e de uma nova organização social que esteja a ser sonhada por alguns, tendo por base os seus próprios desejos e ambições pessoais, que não sejam necessariamente os da maioria do povo. Que o 25 de Abril se solte da palavra e se prenda ao gesto, à atitude, principalmente daqueles que habitualmente discursam, mas pouco praticam, para que possamos continuar a comemorar Abril pela essência e não pela data . ALGARVE INFORMATIVO #288


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #288

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