REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #290

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ALGARVE INFORMATIVO 8 de maio, 2021

«LUZIA» | «AINDA SE PODE DANÇAR» | 5.º FESTIVAL ENTRELAÇADOS 1 INFORMATIVO #290 JOANA R. SÁ E GAT.UNO | «A MARGEM DO TEMPO» | CAL JAZZALGARVE COLLECTIVE


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90 - CAL Jazz Collective em Loulé

26 - Joana R. Sá e Gat.Uno em Faro

66 - «Dias Contados» em Loulé

52 - «Ainda se pode dançar» no Lethes

16 - Castro Marim homenageou as mulheres e Paco de Lucía

80 - 5.º Festival Entrelaçados

OPINIÃO

40 - «A Margem do Tempo» em Loulé ALGARVE INFORMATIVO #290

104 - Paulo Cunha 106 - Mirian Tavares 108 - Fábio Jesuíno 110 - Nuno Campos Inácio 112 - João Ministro 116 - Júlio Ferreira 8


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Filomena Sintra, Pedro Seromenho, Elias Gato e Francisco Amaral

CASTRO MARIM PRESTOU HOMENAGEM ÀS MÃES E A PACO DE LUCÍA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina aco de Lucía, natural da vizinha Andalucia – Algeciras, reconhecido como um dos melhores compositores e guitarristas do mundo, tinha em Castro Marim as suas raízes, mais concretamente em Monte Francisco, terra que viu a sua mãe, Lucía Gomes, nascer. A sua forte ligação às raízes maternas perpetuou-se no seu nome artístico, com Francisco Gustavo

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Sánchez Gomes a tornar-se Paco de Lucía. E, com o mesmo intuito de homenagear o semblante lusitano que sempre o orgulhou, lançou os álbuns «Castro Marín» (1981) e «Luzia» (1998). Também Castro Marim sente esta vontade de promover o «mestre absoluto do flamenco», ampliando a relação umbilical que Paco de Lucía transportava na sua música. Assim nasceu, em 2017, o Festival de Lucía, 16


uma homenagem a Paco de Lucía, mas também às mulheres, resgatando e reconhecendo a memória da mãe de Paco e dando-lhe uma nova e viva-voz, trazida pela fadista Mariza, madrinha e embaixadora da iniciativa. Esta merecida homenagem às mulheres e às mães ganhou agora uma nova expressão no livro infantil «Luzia», uma obra inspirada na mãe de Paco de Lucía, construída pelo escritor Pedro Seromenho e ilustrada por Elias Gato, e que foi apresentada precisamente a 2 de maio, Dia da Mãe, no Memorial Paco de Lucía, em Monte Francisco (Largo Manuel Gomes).

sua musicalidade, mas também criando um lugar de reflexão sobre o plano da igualdade de género e a importância e o lugar da maternidade na nossa sociedade. “O Dia da Mãe é sempre

Produzido como recurso pedagógico de um projeto cultural e recreativo, «Luzía» será depois levado aos agentes educativos e aos alunos, procurando transportar as heranças e enlaces culturais que Paco de Lucía imprimiu na

“Mas ele passava os dias a pintar, escrever e ler histórias, ligava pouco aos gráficos do PIB e do VAB. A microeconomia não era propriamente uma grande

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importante para fazermos uma reflexão sobre os valores da família, sobre a entrega e o sacrifício da maternidade e paternidade”, sublinhou Filomena Sintra, vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, que revelou conhecer Pedro Seromenho desde os tempos em que estudavam ambos Economia na universidade.

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motivação para ele, pese embora fosse um extraordinário aluno”, recordou, com um sorriso. “Depois de fazer a sua formação e o seu percurso profissional na área, terá decidido que queria ser feliz a fazer aquilo que mais gostava e aquilo que mais o inspirava… e é essa a verdadeira vocação do Pedro”, acredita a autarca. Mais do que um contador de histórias, Pedro Seromenho é um homem muito ligado à arte e à cultura, tendo recentemente expressado o desejo de escrever uma história infantil sobre a mãe de Paco de Lucía, um desafio prontamente aceite pela Câmara Municipal de Castro Marim. “Fazer

também envolver os locais, daí a vontade de escolhermos um ilustrador castro-marinense, o Elias Gato, e o resultado foi excelente. Mas não queríamos que isto fosse apenas um livro, pretendemos trazer para a comunidade educativo um despertar sobre a importância da música, da autoestima local e da valorização daquilo que é nosso”, frisou Filomena Sintra. “Precisamos ensinar às nossas crianças os acordes da música do Paco, mas também mostrar que nós, neste cantinho do Algarve e de Portugal, podemos despertar para o mundo muitos feitos

cultura e projetos educacionais é ALGARVE INFORMATIVO #290

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extraordinários e começar missões importantíssimas na nossa pequena terra”. Com esse intuito, o livro «Luzia» vai chegar às escolas do concelho de Castro Marim, mesmo tendo em conta todos os constrangimentos advindos da pandemia.

“Pensar e criar neste contexto é bastante difícil. Estamos castrados, amarrados, não sabemos o que havemos de fazer, como transmitir algo, como fazer as pessoas sentir”, desabafou a vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Marim.

“Programamos, com o Pedro, o Elias e o Agrupamento de Escolas de Castro Marim, umas sessões para contarmos esta história a todas as

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crianças com a idade recomendada, assim como os acordes da música do Paco. Acredito que estes miúdos, fruto desta experiência curta, de uma mera passagem, irão interiorizar na sua memória quem era Paco de Lucía e a importância da mãe deste virtuoso da guitarra mundial”, acrescentou Filomena Sintra, em pleno Memorial Paco de Lucía e junto à casa onde nasceu a mãe do conceituado músico. “Estamos

aqui neste cantinho, mas daqui podem partir grandes descobridores, grandes fazedores, grandes artistas e cientistas e a Câmara Municipal

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está sempre recetiva a projetos que tenham como objetivo projetar os valores de Castro Marim”, assegurou Filomena Sintra. O escritor da obra é, conforme referido, Pedro Seromenho, a que se juntou o ilustrador Elias Gato, “duas pessoas

que falam com duas línguas diferentes, através das palavras e das imagens, e que se complementam e dão origem a obras bonitas”. E, apesar de se tratar de um livro infantil, o antigo economista rapidamente esclareceu que escreve para famílias. E, por se tratar do Dia da Mãe, recordou ainda a sua mãe, nascida em Vila do Bispo, junto a uma seromenha que dava peras bravas. “Hoje estou em

Castro Marim, com esse nome, a lançar o meu 19.º livro, mas também ALGARVE INFORMATIVO #290

para falar da importância que o Algarve tem para mim, da inspiração que este sol me dá. Às vezes as minhas palavras são como as notas que saiam dos dedos do Paco, galopavam como cavalos, subiam as ameias dos castelos, cantando debaixo do luar. Paco sabia cantar e falar com as cordas da guitarra. Numa terra raiana que vive entre duas línguas, a música é universal e o Paco sabia disso, transportando sempre consigo a sua guitarra e o nome da sua mãe”, declarou. Pedro Seromenho garantiu que é com o coração que escreve – nem o sabe fazer de outra forma – desde que largou, há 15 anos, a sua “gravata de 20


economista”. “Continuo a escrever com a mesma emoção que o Paco emprestava às cordas da guitarra e, quando assim é, isso chama-se Arte. Espero que se deixem viajar neste livro e que sintam, acima de tudo, que este momento é apenas o começo. Segue-se um workshop com os bibliotecários do Algarve e uma «Hora do Conto» com os mais pequeninos. Há música melhor do que a gargalhada de uma criança?”, perguntou o escritor, indicando que também serão dinamizadas Oficinas de Ilustração com Elias Gato, tendo sido igualmente produzido um vídeo de língua gestual, “porque os livros não

deixam ninguém para trás, são para todos”.

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Conforme referido, as ilustrações de «Luzia» estiveram a cargo do castromarinense Elias Gato, que efetuou algumas visitas de estudo ao Monte Francisco para tirar fotografar a paredes, janelas, plantas e ervas, um registo fotográfico que depois lhe serviu de inspiração, assim como a exposição que está patente na Casa do Sal, em Castro Marim. “A

personagem principal é a Luzia, mas este gato é uma segunda história que acompanha o livro ao longo da narrativa. Como não tinha muito tempo para divagar e experimentar, porque, para além de ilustrador freelancer, sou professor, ainda por cima deslocado, arranjei algumas

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estratégias em termos de imagens para que o livro tivesse esta narrativa visual e poética em torno da história escrita pelo Pedro”, explicou Elias. “Quis também que a música fosse um elemento de ligação entre as várias páginas, pois, quando ilustramos um livro, não podemos pensar em imagens isoladas, mas na relação que deverá existir entre elas”. Após a apresentação de «Luzia», a população do Monte Francisco teve oportunidade de assistir a outro tributo a ALGARVE INFORMATIVO #290

Paco de Lucía, desta feita à sua obra musical, com o concerto de Pedro Jóia Trio, uma homenagem que cruza a guitarra de Pedro Jóia – ele próprio um discípulo de Paco – o acordeão de João Frade e Norton Daiello no baixo. Um concerto que fez parte da programação cultural em rede do Algarve, a «Bezaranha». Já o livro «Luzia» é uma iniciativa enquadrada no Plano de Ação de Desenvolvimento de Recursos Endógenos (PADRE), aprovado no âmbito do CRESC Algarve 2020, sendo apoiado por Portugal e União Europeia e cofinanciado a 70 por cento pelo FEDER . 22


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“ARTISTAS VAMOS SEMPRE SER… SE VAMOS CONSEGUIR VIVER SÓ DA ARTE, ISSO JÁ É OUTRA CONVERSA”, AFIRMAM JOANA R. SÁ E GAT.UNO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina e Joana R. Sá stá patente, na Associação 289, em Faro, «Apostrophe», uma exposição coletiva da qual fazem parte dois trabalhos de Pedro Mendes, mais conhecido por Gat.Uno, e Joana R. Sá, dois jovens artistas, ambos de 27 anos, ambos licenciados em Artes Visuais pela Universidade do Algarve, ambos a residir ALGARVE INFORMATIVO #290

no Porto. Gat.Uno que também tem trabalhos expostos, presentemente, na Galeria TREM, em Faro, cidade de onde é natural. Já Joana R. Sá nasceu em Mirandela, no Distrito de Bragança, mas cedo rumou ao sul do país, onde fez todo o seu percurso académico, incluindo uma Pós-Graduação em Artes Visuais e Performativas na Universidade do Algarve, seguindo-se depois um Mestrado em Artes 26


Plásticas, especialização em Desenho, na Faculdade de Belas Artes do Porto. Quanto a Gat.Uno, a sua caminhada formativa englobou dois anos de Design, Cerâmica e Vidro nas Caldas da Rainha, antes de ingressar na Universidade do Algarve, estando agora a tirar o Mestrado em Artes Plásticas, com especialização em Intermedia, na Faculdade de Belas Artes do Porto. Um percurso semelhante de dois artistas pertencentes a uma geração que já estava perfeitamente ciente das dificuldades que os esperavam quando fizeram a sua opção de carreira, porque ser artista nunca foi um garante de estabilidade financeira, de ter dinheiro

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certo para pagar as contas ao fim do mês. “Eu, no Secundário, até

escolhi Ciências e Humanidades, as Artes apareceram mais tarde e através da fotografia. Gostava de desenhar, mas foi quando entrei no curso de Artes Visuais que descobri a minha verdadeira vocação. Tentei ir por outros caminhos, mas não deu certo, foi aqui que encontrei o meu espaço e aquilo que realmente gosto de fazer”, explica Joana R. Sá, admitindo que lhe foi difícil sair do Algarve, onde está toda a sua família, e viajar para o Porto para frequentar o Mestrado em Artes Plásticas.

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Para Pedro a escolha pelas Artes surgiu mais cedo, porque sempre encarou a vida de maneira diferente e de uma perspetiva fortemente visual, o que não o impediu de ter andado a andar de um método artístico para outro. “Cheguei às Artes

Visuais um pouco de paraquedas, mas depressa estabilizei, finalmente tinha encontrado o meu processo artístico”, assume Gat.Uno, antes da palavra regressar a Joana. “O bichinho sempre esteve comigo, embora eu às vezes o tentasse negar. Sentia motivação para criar coisas, desenhava por conta própria, mesmo quando não o tinha que fazer para a escola. Mal chegava a casa abria logo os livros de

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Educação Visual e começava a treinar”, recorda. “Temos que fazer aquilo que gostamos, o desenho figurativo não me chamava a atenção. Um desenho não precisa ser bonito e fui criando uma linguagem abstrata ao longo dos tempos. Quando cheguei a Artes Visuais, percebi que estava no sítio certo”, acrescenta a artista. Enquanto andava a saltitar de um estilo para outro, Gat.Uno ia amealhando mais conhecimentos para colocar cá para fora o que tinha para dizer… e era, de facto, muito o que Pedro queria dizer, sobretudo em torno de assuntos políticos e do que assistia na sociedade que o rodeava. E,

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por isso mesmo, se calhar fez-lhe sentido criar uma personagem, uma imagem que depressa fosse associada à sua mensagem, algo que Joana R. Sá já não sentiu na sua forma de arte. “Com o

evoluir do tempo vamos questionando o que é que andamos aqui a fazer, enquanto projeto. Já fui Joana Silva, depois passei para Joana R. Sá, por ser um nome eventualmente mais «artístico» e que me facilitasse a entrada no meio. Demorei a ter uma linguagem consolidada e agora estou a passar para uma vertente mais tecnológica, em que utilizo o glitch e os desvios da máquina para conseguir criar lapsos de memória na máquina, através da corrupção de códigos e de poesia. São coisas ALGARVE INFORMATIVO #290

que acontecem e que não podemos definir com muito rigor. Podemos pensar nelas durante dias a fio ou, de repente, dar-se um clique”, descreve a nortenha. Numa conversa informal em plena Associação 289, a palavra ia mudando naturalmente de interlocutor para interlocutor, e de forma natural tem sido igualmente a caminhada de Pedro Mendes. “No início estive muito

ligado à prática artística na rua, ao grafiti, daí arranjar um nome que me representasse, quase uma marca. Era a partir da rua que eu via o mundo, só mais recentemente é que entrei no universo das galerias, mas é todo o caminho percorrido pelo 30


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Gat.Uno que me define enquanto artista e como pessoa”, salienta o entrevistado. “O grafiti normalmente faz-se de forma encoberta, mas a minha mensagem tem a ver com a sociedade e as pessoas em geral e não queria correr o risco de a ventilar de forma ilegal, pintando-a diretamente nas paredes. Com isso havia a possibilidade também das pessoas nem sequer quererem compreender o que tinha para dizer, daí me ter virado para os posters. Um papel num instante se retira da parede e continua a ser fácil transmitir a minha mensagem”, indica Pedro Mendes. Se a obra de Gat.Uno é mais facilmente compreendida pelo público em geral, o mesmo não se poderá dizer propriamente do trabalho de Joana R. Sá, com o típico ALGARVE INFORMATIVO #290

leigo na matéria, jornalista incluído, provavelmente a abanar a cabeça enquanto a artista fala sobre o seu processo criativo, utilizando termos complexos que não fazem parte do nosso dia-a-dia. “Na minha tese

escrevi que os meus desenhos são como um diário que não se lê, mas que se vê e se sente. O público sente o que quiser quando olha para o meu trabalho, cada um tira as suas conclusões, não existem restrições. Tenho a minha teoria, que tenho todo o prazer em partilhar com quem estiver interessado nela, mas o mais divertido da arte é deixar o público reagir naturalmente às peças, pensar pela sua cabeça. Aliás, mais do que ver, o importante é observar e sentir, é isso que a Arte nos tem para dar”, 32


frisa Joana R. Sá. “Em vez de escrever,

desenho sobre os meus estados de espírito, é o conjunto de memórias, eventos, coisas que se estão a passar comigo, quase uma catarse sobre o papel, que mais recentemente começou a acontecer por meios mais tecnológicos”.

INTERNET FACILITA DIVULGAÇÃO, MAS VENDER CONTINUA A SER UMA «GUERRA» Joana R. Sá e Pedro Mendes, vulgo Gat.Uno, já nasceram rodeados das novas tecnologias, de modo que elas coexistem facilmente no seu processo evolutivo enquanto artistas, seja na parte criativa como na divulgação das suas obras. “Eu

faço peças para as colocar em

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certos locais e com objetivos específicos, mas as redes sociais tornaram-se uma forma diferente de ver arte e recebo mensagens de todos os cantos do mundo a pedirem-me stickers ou posters. Mas a mensagem não se alterou por causa das novas tecnologias. Antigamente, colocava as coisas na rua, agora coloco na internet, o que interessa é que chegue ao máximo número de pessoas”, declara o farense. No caso de Joana R. Sá, a tecnologia foi mesmo determinante para a sua nova fase enquanto artista, devido a uma impressora que parecia ter vida própria. “Comecei a criar

experiências com erros de impressão, a querer dar vida à

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máquina, a meter poesia dentro do código da máquina. É como criar um esquecimento, simular um lapso de memória dentro da máquina, que é muito diferente daquela do ser humano. A nossa memória degenera com a idade e com as emoções. Como andava a estudar bastante psicologia, quis simular o que acontecia dentro do nosso cérebro num computador, através do código e da imagem. E, em termos de divulgação, a tecnologia também é uma mais-valia, embora não seja muito adepta de exposições online. Acho que o público precisa estar frente-a-frente com as peças de arte, só assim é que se geram reações naturais”.

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Tão importante como levar a arte ao público é conseguir obter dela algum retorno financeiro e, nesse aspeto, as dificuldades são as mesmas seja qual for a forma de expressão ou o estilo adotado, admitem os dois entrevistados, apesar de já estarem habituados a participar em exposições.

“Muito do que antes era desconhecido do público tornouse mais acessível com a internet e as redes sociais e quem não imaginava o meu trabalho numa galeria acabou por perceber o contraste que isso provoca. Depois, uns interessaram-se mais pela minha obra, outros, pelo contrário, desinteressaram-se. E o trabalho da Joana, embora à partida esteja mais associado a

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uma galeria, também se integra com bastante sucesso em contexto de rua. As coisas mudaram e tornouse mais fácil levar a arte urbana para o interior de uma galeria e a arte dita mais clássica para a rua”, observa Pedro Mendes, revelando que é das produções de stickers, posters e prints que advém o seu rendimento regular. “Mas é tão difícil vender os

meus trabalhos como os da Joana”, assegura. Deste modo, é muito complicado viverse exclusivamente da arte, um cenário 35

bem conhecido de todos de há largos anos e que ainda se tornou mais gritante com os efeitos da crise económica provocada pela covid-19.

“As minhas peças procuram um público diferente do tradicional, mas também preciso encontrar formas de chegar ao público geral, através de prints ou serigrafias que tornam os preços mais acessíveis. O grosso dos portugueses não tem meios financeiros para comprar arte e prefere ir ao IKEA comprar algo ALGARVE INFORMATIVO #290


para pendurar na parede”, comenta Joana R. Sá, adiantando que, como sempre, é importante estar inserido no meio e junto das pessoas certas para se ter uma carreira bem-sucedida. “Decidi

ir para o Porto para conhecer outro meio artístico, com outras formas de pensar e de fazer”, explica a artista, sentimento partilhado por Gat.Uno. “Ao estarmos num meio artístico pequeno como o Algarve, num instante nos conhecemos todos uns aos outros, trabalhamos todos para o mesmo e «bebemos» todos uns dos outros. E, se não conhecermos pessoas diferentes, se não convivermos com modos distintos de ver o mundo, de pensar, acabamos por estagnar. As ideias não fluem da maneira mais produtiva”, indica Pedro Mendes. Com Portugal em pleno desconfinamento, que se espera ser o último, que projetos têm na calha Joana R. Sá e Gat.Uno, questionamos. “Tenho

um project room na Associação 289 no final de agosto e outros em andamento, mas ainda numa fase inicial. O nosso dia-a-dia é muito incerto, de repente podem convidar-nos para uma exposição”,

eventos para se regressar rapidamente à normalidade. Espero bem que 2021 ainda compense, de certa forma, o desastre que foi o ano transato”,

responde a nortenha. No que diz respeito a Gat.Uno, participa neste momento em duas exposições coletivas em Faro e outras estão agendadas para o Algarve ainda em 2021. “As pessoas estiveram

diz o farense.

tanto tempo fechadas em casa que agora num instante se organizam

dias em que tenho mais certezas do que outros, mas, se não

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Dificuldades à parte, ambos se consideram Artistas com «A» e, assim esperam ser para o resto da vida. “Há

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acreditarmos em nós mesmos, mais ninguém acredita. Por muito que as coisas sejam difíceis, tento sempre ser resiliente e lutar por aquilo em que acredito, porque é isto que eu gosto de fazer. Já tentei ser outras coisas, mas não me pareceu certo”, assume Joana R. Sá. “Estamos felizes é a produzir, resta-nos ter determinação e motivação para o conseguir fazer”, reforça, com Pedro

“Artistas nunca deixamos de ser, mesmo que não estejamos a exercer essa atividade na prática. A nossa maneira de pensar é diferente. Eu penso através de imagens e, quando não as consigo concretizar, sinto que não estou a falar da maneira correta com as outras pessoas. Se vamos conseguir viver apenas da Arte, isso já é outra conversa” .

Mendes a acrescentar só uma pitada: 37

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CINETEATRO LOULETANO ASSISTIU À DERRADEIRA PEÇA DE EUNICE MUÑOZ Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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otação esgotada, no dia 27 de abril, no Cineteatro Louletano, para se assistir a «A Margem do Tempo», peça interpretada por Eunice Muñoz e por Lídia Muñoz, com encenação de Sérgio Moura Afonso, que marca a despedida dos palcos da consagrada atriz portuguesa de 92 anos. Mas, mais do que uma despedida, a peça é um passar de testemunho à sua neta e às gerações vindouras. A reconhecida atriz assume mais uma vez um papel interventivo na sua carreira, neste espetáculo íntimo, onde avó e neta contracenam ao som de uma banda sonora original criada e interpretada pelo maestro Nuno Feist, confrontando o público com diversas reflexões sobre a mulher na sociedade portuguesa: “Que ALGARVE INFORMATIVO #290

vida nos é permitida pela atual sociedade? Conquistadas as 40 horas de trabalho semanal, o que são as outras 128? Tempo livre para o exercício de que liberdade? Qual é a vida de uma mulher empregada de uma fábrica, na meia-idade, sem vida sexual? Até que ponto isto por que lutámos desde o princípio do século, o poder de uma mulher ganhar a sua vida e viver a sua vida só, veio alterar a sociedade? Ou até que ponto não foi só arranjar um lugar nas margens da sociedade, lugar improvisado provisório, vida interina? Numa sociedade organizada sobre as relações de produção e sobre a família, que lugar tem a mulher só?”, questiona «A Margem do Tempo», a primeira peça de teatro a ir a cena na principal sala de espetáculos do concelho de Loulé depois do desconfinamento . 42


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«AINDA SE PODE DANÇAR» ENCANTOU TEATRO LETHES Texto: Daniel Pina | Fotografia: Irina Kuptsova

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ara festejar o Dia Mundial da Dança, comemorado a 29 de abril, a professora Filipa Rodrigues convidou alguns alunos de dança do Conservatório Regional do Algarve Maria Campina para participarem num espetáculo maioritariamente dançante que subiu ao palco do Teatro Lethes, em Faro, no dia 30. Com temas de coreografias bastante variados, o foco ALGARVE INFORMATIVO #290

esteve na criação de momentos belos e emotivos que tiveram como fio condutor o vídeo e a palavra. «Ainda se pode dançar» foi concebido por Filipa Rodrigues, com coreografias de dança contemporânea da sua autoria, interpretadas por alunos do Conservatório Regional do Algarve. O vídeo foi da responsabilidade de João Franck e o espetáculo teve como professora convidada Maria Ramos . 54


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«DIAS CONTADOS» ABORDA CRISE DA HABITAÇÃO Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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o dia 29 de abril, a dança regressou ao Cineteatro Louletano com «Dias Contados», uma criação que explora a crise da habitação, flagelo dos tempos modernos que Elizabete Francisca viveu na primeira pessoa. De facto, no momento em que desenhava um novo projeto, a coreógrafa recebeu uma carta de despejo no correio da casa que arrendava em Lisboa, o que a levou a questionar-se se o seu drama pessoal, extensível a tantos outros, não seria assunto para tratar por via da arte.

“Recebi a carta. Abri a carta. Li a carta. Fiquei parada de pé. (...) Olhei em volta. Não há outro mundo, há apenas uma outra maneira de viver. ALGARVE INFORMATIVO #290

Praças, ruas, estabelecimentos vazios de sentido. A cidade moderna, o exército anónimo do progresso, implacável na devastação como a sua única salvação. Pessoas sem casa, expulsas, empurradas para um sítio qualquer. Uma crise habitacional que não é mais do que uma luta de classes. Trocamse as cores, limpam-se os destroços, reabilita-se. Substituise a população, os mais ricos pelos mais pobres. O fosso social alarga-se, perpetuando a tensão. Não ter direito a uma casa, a um sítio que nos devolva quem somos, é algo de profundamente 68


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desestruturante”, lê-se na sinopse de «Dias Contados». A criação de Elisabete Francisca aborda uma paisagem que se modifica, a demolição silenciosa da memória patrimonial e afetiva que poucos podem acompanhar. “A especulação. Há

prédios a arder, há bullying, há mortes. Longe daquele que tem os mais altos muros e as fachadas mais fechadas. Já se sabe: a crise é um modo de governo, a verdadeira catástrofe é existencial e metafísica e a revolta e o pensamento são-nos forças inalheáveis. Até lá rios secam, árvores são dizimadas, espécies que passam só a existir em livros, plástico no ar, novas doenças. ALGARVE INFORMATIVO #290

E os supremos que tentarão refugiar-se sempre no seu condomínio de luxo, ao abrigo de tempestades e evidências”, descreve a coreógrafa. Com Direção Artística de Elizabete Francisca, «Dias Contados» tem cocriação e interpretação de Vânia Rovisco, contando com Composição Musical e Sonoplastia de João Bento, Cenografia de Vasco Costa, Figurinos de Santos-Supico, Desenho de Luz de Zeca Iglésias e apoio à criação/investigação de Kino Sousa. É uma produção de «O Rumo do Fumo» com coprodução do Teatro Nacional D. Maria II, Centro Cultural Vila Flor e Cineteatro Louletano com apoio da Fundação GDA e Fórum Dança . 70


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5.º ENTRELAÇADOS ARRANCOU NA CASA MANUEL TEIXEIRA Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

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Festival Entrelaçados está de regresso, na sua quinta edição, até dia 28 de agosto, com particular incidência em Portimao, mas passando também por Lagos e Armação de Pera. A abertura oficial aconteceu no dia 1 de maio, a partir da Casa Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, com a transmissão em streaming, nas redes sociais da Associação Cultural Dancenema, da inauguração da exposição de fotografia «Algarve, Dança e Arte», seguindo-se uma apresentação de dança contemporânea a cargo de Thora Nadeshka Jorge.

de Dança de Almada apresentará no TEMPO – Teatro Municipal de Portimão no dia 17 de julho, e para «Me, Viola and I», de Nastasja Stefanic, que pode ser visto no dia 13 de julho, no Auditório do Museu de Portimão, sendo, no dia 18 do mesmo mês, disponibilizado online para visualização durante quatro horas. Realce ainda para a mostra de vídeodança que acontece no dia 14 de julho, também no Museu de Portimão. Neste gênero artístico, podem ainda ser apreciadas as obras de Miguel Ramalho (22 de maio, em Lagos), de Lígia Soares (26 de agosto, em Lagos, e 27 de agosto, no Jardim 1.º de Dezembro, em Portimão) e da Companhia Dancenema (18 de julho, em Armação de Pera).

No âmbito dos espetáculos de dança contemporânea, destaque para a performance «Inverno», que a Companhia

À semelhança dos anos anteriores, existirão workshops abertos ao público em geral, cujo objetivo principal é a

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criação de público para os espetáculos, familiarizando-os com a linha de trabalho e método coreográfico do autor/coreógrafo, lecionados pelos próprios coreógrafos das peças apresentadas. Em Portimão serão três os workshops: «Movement», por Tiago Martins, que acontecerá no dia 30 de maio, no Pavilhão Desportivo da Boavista; «3C (Criação, Composição e Clichês)», que a coreógrafa Maurícia Barreira Neves orientará, de 15 a 17 de julho, na Sala de Ensaios do Teatro Municipal; e «O sono do espetador», por Lígia Soares, no dia 28 de agosto na Casa das Artes. Da programação deste festival produzido pela Associação Cultural Dancenema, com sede em Portimão, faz ainda parte uma componente de ALGARVE INFORMATIVO #290

formação avançada para bailarinos semiprofissionais e profissionais, com dois «cursos» com um total de 25 horas cada, e que decorrem na Escola de Dança de Lagos, de 17 a 21 de maio e de 25 a 28 de maio, lecionados por Roberto Olivan e Hélder Seabra, respetivamente. De volta está o CaféPerformance, que terá lugar no dia 24 de agosto, a partir das 20h, no restaurante Pote Cheio, em Portimão, e que alia o prazer da gastronomia ao gosto de ver um espetáculo de música e dança ao vivo. Haverá também uma programação própria para o público escolar do concelho de Portimão, disponibilizada online, e da qual faz parte o espetáculo «A Loja dos Bonecos», gravado no Teatro de Portimão . 84


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Dia Internacional do Jazz marcou o nascimento do CAL Jazz Collective Texto: Daniel Pina | Fotografia: Jorge Gomes

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epois do teatro e da dança, a última semana de abril do Cineteatro Louletano chegou ao fim, a 30 de abril, com as comemorações do 10.º Dia Internacional do Jazz e com a estreia absoluta do mais recente coletivo de jazz algarvio, o CAL Jazz Collective. O projeto da MdC Jazz conta com Marco Martins na direção artística e no baixo, Sara Badalo na voz, Leon Baldesberger no trompete, Luís Domingos Miguel no saxofone, Alexandre Dahmen no piano e Maximiliano Llanos na bateria e o espetáculo, que voltou a esgotar o Cineteatro Louletano, teve a participação ALGARVE INFORMATIVO #290

especial de Zé Eduardo, um dos grandes mestres do jazz português, combinando tradição e contemporaneidade ao melhor ritmo jazzístico, num momento inesquecível para os amantes deste género musical. CAL (Central Algarve) Jazz Collective é um projeto assinado pela Mákina de Cena que pretende estimular a criação de conteúdos jazzísticos no Algarve e a agregação de músicos de vários pontos da região, numa formação inédita.

“Este CAL representa mais um passo no caminho da emancipação do Algarve enquanto território de criação, 92


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não só a nível do jazz, mas das artes performativas em geral. Num momento em que as formações são cada vez mais pequenas, por razões económicas, poder juntar uma equipa deste tamanho e desta qualidade é, sem dúvida, uma vitória para o jazz algarvio”, explica Marco Martins, diretor artístico do projeto, adiantando que o CAL Jazz Collective reflete na sua música a maturidade e cruzamento de linguagens de cada um dos seus membros, valorizando a composição e criação de temas originais, bem como a reinterpretação e arranjo de jazz standards. “São os primeiros passos

para a criação de um coletivo profissional de jazz, sediado em

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Loulé, pela mão da Mákina de Cena, com um formato aberto, vocacionado não apenas para a criação, mas também para a formação, promovendo a rotatividade e inclusão de novos músicos e convidados, adaptandose e renovando-se a cada desafio”, reforça Marco Martins. A MdC Jazz é uma secção da Mákina de Cena, responsável por todos os projetos realizados na área da música, tais como as «West Sessions I & II», as Oficinas de Jazz e Música Improvisada, os Workshops de Música, bem como pela programação do MdC Jazz Club e o estabelecimento de uma série de colaborações e parcerias com músicos locais, nacionais e internacionais .

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OPINIÃO Dias disto e daquilo Paulo Cunha (Professor ) odos os dias estão preenchidos com datas simbólicas que visam dar significado e importância ao que se comemora, tornando-as assim relevantes para toda uma comunidade ou, pelo menos, para uma parte dela. Tornou-se natural e comum comemorar o passar do tempo. Seja com aniversários e feriados nacionais, seja com datas comemorativas para lembrar um evento, uma profissão, um grau de parentesco ou uma personalidade, aprendemos desde cedo a dar relevo aos eventos do calendário.

Não sei se acontece o mesmo convosco, mas fico sempre com uma sensação de vazio e de efémero no dia seguinte às comemorações dos dias associados a objetivos de vida que me são queridos. A importância que é dada nas 24 horas em que se comemora seja o que for esvai-se e esfuma-se na fugacidade dos restantes 364 dias. Tomando como exemplo os dias em que se homenageiam os parentes (mãe, pai, avós, filhos, irmãos, etc.), parece-me sempre redutor consagrar, destacar e louvar - num só dia - quem, pela importância nas nossas vidas, merecia provas diárias de gratidão e de público destaque.

Sabendo que grande parte das datas comemorativas são lembradas e festejadas pelo seu enquadramento histórico, simbólico e religioso, sabe-se também a importância que estes dias comemorativos têm para o comércio, alavancando e apoiando assim a economia do país. Se antes se trocavam presentes apenas no Natal e nos aniversários, com toda esta imensidão de dias disto e daquilo criaram-se novas janelas de oportunidade para os lojistas escoarem os seus produtos. É caso para dizer: “Benditos dias!”.

O psicólogo Marshall Rosenberg referiu no seu livro «Comunicação Não Violenta» que celebrar integra uma das sete necessidades humanas. Não podendo estar mais de acordo, acredito que a comemoração/celebração contínua seja do que for potencia e induz o sonho e dá ao ser humano mais um propósito de vida. Talvez seja também por essa razão que em todas as partes do mundo e todos os dias se comemora e celebra uma multiplicidade de eventos associados à sua história.

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Em relação às datas comemorativas, é importante recordar que por trás de cada uma delas existem histórias e um contexto cultural diferenciado. Nem todas as datas são indutoras de comemorações festivas, mas o simples ato de recordar e saber o contexto, a história e a recordação de um determinado dia pode constituir também uma celebração. Existem datas que carregam em si um marco político e sociológico. Geralmente, essas datas trazem consigo um motivo especial de recordação ou de consciencialização por uma luta que 105

geralmente persiste no decorrer dos anos. De maneira festiva ou não, a celebração é um ato a ser recordado, independente do contexto que o provocou. Para além de nos fazer sentir vivos, celebrar e comemorar a vida mostrar-nos-á o bem que faz não restringir a um dia estipulado o prazer que temos em estar vivos e proporcionar aos outros a gratidão e a satisfação por tê-los nas nossas vidas. Celebremos os dias disto e daquilo, pois então! . ALGARVE INFORMATIVO #290


OPINIÃO Tempo(ralidades) – Henrique Silva, Augusto Canedo e Ricardo Gritto Mirian Tavares (Professora universitária) “We shall not cease from exploration, and the end of all our exploring will be to arrive where we started and know the place for the first time”. T. S. Eliot artista (Henrique Silva) disse-me: “Estava no meu atelier e vi chegar um miúdo, filho de um amigo, também artista. E ele (Ricardo Gritto) propôs-me fazer uma exposição que desse conta disso – das gerações que nos separam, mas da arte que nos une”. A meio, chegou o Augusto Canedo, que também faz parte dos afetos, e dos percursos, de Henrique Silva e de Ricardo Gritto, e que tornou possível essa experiência inter-geracional. O que encontramos em comum nesses três artistas, separados por gerações, com caminhos plásticos diversos? Antes de mais, a consciência do tempo que emana dos seus trabalhos. O desejo do amanhã é presença sempiterna na obra de Henrique Silva; o flirt com o passado, numa reinterpretação constante de técnicas, que faz a ponte entre a ALGARVE INFORMATIVO #290

academia e a sua desconstrução, é um traço característico da pintura de Augusto Canedo – e a emergência do hoje, torna-se manifesta(o) na obra de Ricardo Gritto. O tempo da arte em cada um dos percursos. O tempo da descoberta e da experimentação que nutre cada um desses artistas. As imagens veladas e reveladas num jogo profícuo com as formas, as cores, as técnicas e os materiais. Três gerações de artistas que, através das suas obras, ousaram olhar para o tempo e decidiram reconfigurá-lo. Henrique Silva é um artista multifacetado e inquieto. Talvez a inquietude seja o seu traço mais característico. Sempre em movimento, sempre à procura. Nunca satisfeito com o que conseguiu fazer, acreditando que pode fazer sempre mais e melhor, que pode, e deve, experimentar formatos, ferramentas, suportes. É, essencialmente, um pintor. Mas um 106


Foto: Victor Azevedo

pintor de telas múltiplas, de imagens tridimensionais e mesmo digitais (foi um dos precursores da New Media Art em Portugal). A sua arte é política, porque é construída com base em resistências, na criação de espaços e de caminhos que desbravou. Augusto Canedo talvez seja, dos três, aquele que mais se identifica como pintor. As suas obras, no entanto, são compostas de camadas diferentes de significação. Há um lado que parece assumir, e assentar, numa base académica, que reflete o domínio da técnica e a precisão dos traços. No entanto, sob a aparente aceitação da regra, o artista desmonta o cânone, experimenta, reinventa maneiras de pintar. 107

Ricardo Gritto, o mais jovem dos três, une a inquietude do primeiro com a ideia do segundo de fazer obras submersas noutras obras. Obras que emanam de referências, de imagens que o impressionaram, obras que se entrecruzam, quase em loop, e que se querem contemporâneas. Não porque sejam feitas hoje, mas porque, como disse Agamben, contemporâneo é aquele que está fora do tempo, a olhar para o tempo que se arrasta e se dilui. As obras destes três artistas nasceram longe do centro do país, nasceram pela necessidade de criar novos centros, de arrastar as margens para outros lados, de afirmar a presença da Arte através de cada gesto de criação . ALGARVE INFORMATIVO #290


OPINIÃO Mundo desafiante das startups em Portugal Fábio Jesuíno (Empresário) ejam bem-vindos ao mundo onde uma simples ideia de negócio pode criar uma revolução na sociedade. Um mundo cheio de oportunidades e desafios. É uma temática muito em voga na atualidade, fala-se muito de startups na televisão, nas capas dos jornais, em destaque nas redes sociais, mas por vezes não são muito bem explicadas as potencialidades desta nova economia. Primeiro de tudo, o que é uma startup? É, acima de tudo, um grupo de pessoas que cria um modelo de negócios inovador, repetível, escalável e que gere valor, trabalhando em condições de muita incerteza. O termo startup começou a ser popularizado nos anos 90 e surgiu em Silicon Valley, uma região da Califórnia, nos Estados Unidos da América. Este mundo das startups é cada vez mais democrático, possibilita a qualquer pessoa com capacidades empreendedoras e ideias inovadoras, criar negócios de grande sucesso e rapidamente escaláveis por todo o mundo. Na sociedade portuguesa tem ALGARVE INFORMATIVO #290

crescido nos últimos anos um espírito empreendedor que tem ajudado o nosso país a entrar neste mundo novo e em grande destaque. Um dos contributos de maior relevo para que Portugal seja considerado uma nação em destaque no mundo das startups foi a vinda para o país do maior evento de empreendedorismo da Europa, o Web Summit, que traz todos anos milhares de pessoas de todo o mundo. A criação de incubadoras e programas de aceleração tem contribuído para a proliferação de startups em Portugal, um fenómeno que permite uma ajuda importante e fundamental para capacitar qualquer empreendedor de uma estratégia empresarial com maior probabilidade de sucesso. Mas não é suficiente, não basta ter o maior evento de empreendedorismo da Europa e muitas incubadoras, se não criarmos condições económicas que permitem o seu desenvolvimento e internacionalização. Principalmente na área fiscal, pouco competitiva a nível europeu e muito incerta, com constantes alterações, e na área da burocracia, que continua a ser excessiva e completamente desproporcional. 108


Não basta termos escritórios de startups multinacionais em Portugal atraídas pelo talento barato dos nossos profissionais, é preciso criar condições para empreendedores que criem em Portugal grandes startups, sem ser necessário imigrar, como acontece com muita frequência atualmente. Existe a necessidade de uma nova estratégia nacional de startups, feita 109

com a participação das pessoas do ecossistema empreendedor português, de forma a conseguirmos ser mais competitivos a nível europeu e mundial. Considero que, se conseguirmos ultrapassar os desafios desta nova economia, podemos estar perante os novos Descobrimentos, e ver Portugal crescer economicamente de forma estável e sustentável nos próximos anos. ALGARVE INFORMATIVO #290


OPINIÃO Está em marcha a Quarta República? Nuno Campos Inácio (Editor e Escritor) sta semana fomos surpreendidos com a atitude mais ignóbil e atentatória do Estado de Direito, dos princípios constitucionais, da segurança jurídica e da defesa da iniciativa privada, determinada pelo Governo, numa clara violação da separação de poderes. A invasão do Zmar por forças policiais, num contexto de requisição civil absurda, por volta das 4 horas da madrugada, configura uma decisão arbitrária, que põe em causa todos os valores de uma Democracia que se julgava adulta e consistente. É um facto que o Estado pode requisitar propriedade privada, em determinados contextos extraordinários. Sucede que esta actuação não tem nada de extraordinário que a justifique. O aldeamento não foi requisitado por uma questão de saúde pública emergente para colocar pessoas que necessitassem de receber cuidados de saúde. Foi requisitado para colocar indivíduos saudáveis, porque residiam partilhando espaços contíguos, sobreocupados e com poucas condições de salubridade. O problema é que este não é um caso isolado, muito pelo contrário, essas são as condições existentes em inúmeras localidades por esse país fora, para já não falarmos na quantidade de indivíduos que nem habitação têm, nos que vivem em ALGARVE INFORMATIVO #290

casas que ameaçam ruína, em barracas, em casas desajustadas para o número de pessoas que lá habitam. Se assim é, que garantias têm os privados e os investidores, nomeadamente de alojamentos locais, que amanhã não terão as suas casas requisitadas para albergar famílias que vivem em más condições? É verdade que todos têm direito a uma habitação condigna e que é um objectivo programático da Constituição Portuguesa o direito à mesma. A diferença é que, até hoje, sempre coube ao Estado, por iniciativa própria ou depois de negociação com particulares, dar resposta a situações de emergência ou solucionar gradualmente esse problema social. Neste caso, o Estado decidiu atribuir a uma entidade privada a solução de um problema que é da esfera pública, fazendo-o a altas horas da madrugada, contra a vontade dos privados, sem esgotar a resposta dos meios públicos (por exemplo, cedendo edifícios públicos, montando tendas militares, distribuindo contentores), sem negociar outras alternativas privadas, sacrificando uma única exploração turística quando Odemira conta com dezenas de unidades de alojamento. Avançam alguns com a defesa de que o Zmar está ilegal, porque tinha licença para autocaravanismo e montou casas amovíveis em plena reserva natural. Se 110


assim é, cabe ao Estado accionar os meios comuns para repor a legalidade, sendo certo que esses não passam, obviamente, pela requisição civil dos imóveis ilegais e sua ocupação à má-fila. Certo é que esta situação acontece porque Odemira vive uma sobrepopulação de imigrantes contratados para trabalhar em unidades agrícolas, também elas implementadas nessa mesma reserva natural, que atingiram uma dimensão desajustada ao meio onde estão inseridas. Quem decidiu investir nessa actividade nesse local, com a área que ocupa, tinha a plena consciência de que precisava de mão-deobra adicional e quem autoriza a implementação, exploração e crescimento contínuo também tem a obrigação de saber que Odemira não dispõe de mercado habitacional suficiente para dar resposta. Então porque o 111

autorizaram? Mas, mais importante do que isso, porque terá de ser o Estado a resolver um problema causado por uma excessiva exploração privada montada numa reserva natural? E mais importante ainda, porque terão de ser os privados alheios a tudo isto, a dar resposta para solucionar o problema? Esta forma de actuação coloca em causa, do meu ponto de vista, toda a base onde assenta a Terceira República do pós25 de Abril. Estão em causa os princípios básicos de um Estado de Direito e o regular funcionamento das instituições, num atropelo ao poder judicial e à revelia deste, o que justifica a intervenção do Presidente da República, como último garante do funcionamento institucional. Se isto passar em claro, entraremos num novo regime que tudo permite. Nesse caso, este acontecimento marca o início da IV República Portuguesa . ALGARVE INFORMATIVO #290


OPINIÃO Salvemos os nossos caminhos João Ministro (Engenheiro do Ambiente e Empresário) inda é possível encontrar no Algarve troços de antigos caminhos criados e usados no passado por várias civilizações. A Calçadinha de S. Brás de Alportel, por exemplo, é um desses testemunhos. Parte da Via Ossonoba, esta foi outrora usada pelos romanos nas suas deslocações e missões na região, unindo diversas povoações como Faro ou Estoi. Temos igualmente partes de itinerários medievais, religiosos ou não, que ligavam aldeias, zonas agrícolas ou locais de captação de água, por exemplo. Alguns deles bem interessantes, com pisos empedrados bem preservados e muros que ainda hoje persistem. Já no actual período contemporâneo outros caminhos nasceram por esse Algarve fora, sempre com serventias públicas de acesso a montes, praias, povoações, cursos de água ou outros sítios de interesse colectivo. Porquê trazer este tema à conversa? Porque estes caminhos, dos quais ainda hoje podemos encontrar resquícios um pouco por todo Algarve, são na verdade muito mais do que simples carreiros ou azinhagas. São elementos patrimoniais da nossa história e têm um valor a não ALGARVE INFORMATIVO #290

menosprezar. Remetem-nos para um passado onde a vida no campo era pujante, com numerosos montes e alcarias habitados, entre os quais circulavam pessoas, bens e mercadorias usando essas vias e a partir das quais se desencadearam episódios especiais da nossa vivência regional e local. E são, além disso, em muitos casos, obras de engenharia ancestral que hoje já praticamente ninguém sabe replicar. Porém, se no caso dos ainda conhecidos troços romanos ou medievais há uma tentativa de os classificar e preservar – o pouco que resta deles – os antigos caminhos rurais do século passado e anteriores estão na sua grande maioria degradados, ocupados e inutilizados, tendo alguns sido mesmo destruídos. O abandono a que foram dotados nas últimas décadas levou a que hoje nem saibamos ao certo onde estão e o que ainda resta deles. O alcatrão e o betão tomaram conta do território e muitos deles hoje não passam de estradas cinzentas, estéreis e impermeabilizadas onde nada cresce ou desenvolve. Na região central do barrocal algarvio houve (e ainda há) uma grande rede de caminhos murados – ou entre valados – que uniam as povoações deste 112


territóriocomo Paderne, Boliqueime, Loulé, S. Brás de Alportel, entre outras. Caminhos enquadrados na paisagem, tecnicamente bem instalados, muitos deles com coberto arbóreo incrustado nos próprios muros e pisos – em certa maneira resgatados pela natureza – e que são elementos valiosos e distintivos da nossa região. São, na verdade, um recurso físico com elevado potencial turístico, nomeadamente no que à prática de passeios na natureza diz respeito ou da interpretação cultural e paisagística do Algarve. Esses caminhos têm também uma outra grande valia: são públicos. E isso é hoje de uma valia muito especial, sobretudo para quem, como eu, gosta de caminhar no interior e projectar roteiros de pedestrianismo. Um dos grandes obstáculos à criação de redes 113

de percursos pedestres de alta qualidade estética e turística é precisamente a reduzida existência destes caminhos públicos, levando muitas vezes – demasiada até – à necessidade de usar estradas de terra batida – os popularmente chamados «estradões» – para implementar esses percursos. Algo que pouco interesse tem para os caminhantes. Muito pouco na verdade. Recuperar estas antigas vias rurais seria um projecto de grande utilidade e mérito. Identificá-las, limpá-las e recuperá-las até, cartografá-las, estudálas e caracterizá-las, seria uma mais-valia regional e um recurso de grande potencial para o desenvolvimento de novos itinerários recreativos, desportivos e pedagógicos na região. ALGARVE INFORMATIVO #290


Temos de aproveitar ao máximo aquilo que nos distingue dos outros e nos dá alguma vantagem competitiva do ponto de vista de atracção. Aquilo que nos valoriza enquanto região do Mediterrâneo, rica em história e em património cultural. Aquilo que nos permite proporcionar experiências enriquecedoras de alta qualidade, do ponto de vista cultural, ambiental, científico e educativo. Aquilo que nos pode tornar mais diversificados e resilientes. E por tudo isso (e muito ALGARVE INFORMATIVO #290

mais) devemos fazer um esforço para salvar estes resquícios do nosso passado recente. Temos de salvar os nossos caminhos. Não só nos ligam ao passado, como nos podem conduzir a um futuro mais equilibrado e sustentável . 114


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OPINIÕES, REFLEXÕES E DEMAIS SENSAÇÕES

O «chêre a`esturre» continua… Júlio Ferreira (Inconformado Encartado) a anterior crónica, escrevi sobre a morte de Jesus antes mesmo de conseguir dar o último módulo do workshop dedicado a «Coisas Que Devemos Dizer Para Arranjar Mais Sócios», e com provas concretas e científicas, cheguei à conclusão que a Palavra do Senhor é «Esturre»; a última palavra que ouviram da boca de Jesus quando viu o Judas sair a meio da última ceia sem pagar: “Iste chêra-ma`esturre”. Aquela foi a última palavra de Jesus, e por isso devia ter um segundo sentido qualquer. Um sentido celestial. Imaginaram logo um local repleto de gente, repetindo: “Do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas… Iste chêra-ma`esturre!”. Mas existem por aí mais uns quantos teólogos equivocados. Desta vez, quanto à Criação do Mundo. Dizem eles que Deus criou o mundo em seis dias: Nada mais errado! Pensem comigo. No primeiro dia Deus atestou a coisa de água e criou o céu. Durante a tarde criou o interruptor e ligou a luz. Depois ficou extasiado a olhar para aquilo: um imenso oceano único e um sol do caraças, e um bronze de fazer inveja ao Zézé Camarinha. ALGARVE INFORMATIVO #290

No segundo dia, depois de uma direta, lembrou-se de criar a noite e substituiu o interruptor por um reóstato, criando um lusco-fusco entre o dia e a noite a que chamou de madrugada e entardecer, respetivamente. Faltava criar a vida noturna, mas ele deixou isso para mais tarde. No terceiro dia isto continuava tudo um bocado alagado e então lembrou-se de criar uns espacinhos secos. Surgiu a Praia da Rocha, o campo e as montanhas. Pensou em criar os bares de praia, mas não anotou a tempo no caderninho e acabou por se esquecer. No quarto dia desatou a vegetar a terra. Foi um vê se te avias de plantas coníferas e outros vegetais. Quando chegou ao nabo, a sua imaginação já não estava na sua melhor forma: aquilo já não sabia a nada. E então decidiu acabar o dia por ali. No quinto dia dedicou-se a salpicar o céu noturno de estrelas e constelações. Depois de ter mandado uma topada num lancil e rebentado com uma unha do pé, criou a Lua para iluminar a noite e perceber onde é que punha os pés. Desde esse dia ficou um bocado aluado. No sexto dia decidiu povoar a terra e os mares com animais. Foi um dia 116


complicado este, que culminou com a cereja no topo do bolo: Adão e Eva. De seguida manda-os para o paraíso. Isto já de si é suspeito. Porque não os mandou para outro sítio qualquer? Nunca saberemos, mas o que é certo é que o Homem lá foi diligentemente para aquilo que Deus convencionou por paraíso. Diz a história que Adão, farto de contar as árvores, que nem eram tantas como isso, meteu um requerimento a Deus para lhe arranjar companhia. Distraidamente Deus mandou-lhe uma ovelha e rapidamente descobriu o significado da contranatura. Decidiu, então, fazer um truque com uma costela de Adão, criando dali uma companheira para o entediado mamífero. Chamou-lhe de Eva. Ainda hoje a ciência tenta perceber que 117

conhecimentos de genética o gajo tinha para fazer um truque daqueles. Depois vem outra parte incongruente: aquela em que Deus, num lampejo de autoridade tipo «quem manda aqui sou eu e vou inventar uma merda para vos deixar a matutar» decide embirrar com as maçãs e proibir Adão e Eva de as comer. Qual é o problema das laranjas do Algarve? E dos Kiwis? Porque não proibir as bananas? Ou todos os tramôces ou alcagoitas? É só incongruências… Chegamos então à parte da cobra que falava. Tudo bem. Eu, até ter ouvido as últimas da Cristina Ferreira, achava que as cobras não falavam, portanto, isto até faz algum sentido no meio desta trapalhada toda. Mas a questão é que a cobra de Adão e Eva demonstra uma obsessão voyeurística qualquer por maçãs. Gosta de as ver serem comidas. Há gostos para tudo… Finalmente, os gajos comem a maçã e Deus aparece para os expulsar do paraíso e não se fala mais nisso. Porquê? A história acaba aqui porquê? E a vida porca que eles levaram depois, com a obsessão insidiosa que Adão desenvolveu por ovelhas? Nem Sócrates contava tão mal uma história destas… Mas finalmente chegámos ao sétimo dia. Os teólogos dizem que Deus não inventou nada e parou por ali. Imenso equívoco. Na realidade foi no sétimo dia que Deus teve a sua criação mais genial. E dedicou todo este dia apenas a uma única criação. A mais difícil, mas a mais inspirada de todas: o Descanso! Continuam limitados, estes teólogos…. ALGARVE INFORMATIVO #290


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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #290

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