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Paulo Soares, Jorge Varela e Flávio Fernandes
Os Homens da Maratona FARO DEBATEU PATRIMÓNIO CULTURAL
DO GRAFITI NASCEU A ARTE URBANA ALGARVE INFORMATIVO #31 A GORDA PREPARA NOVAS1 PRODUÇÕES
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#31 SUMÁRIO
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PATRIMÓNIO CULTURAL
ARTE URBANA
A GORDA
16 OS HOMENS DA MARATONA
Algarve Informativo #31 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Fotografia de capa: Daniel Pina Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930 As notícias que marcam o Algarve em algarveinformativo.blogspot.pt
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OPINIÃO
A CONSPIRAÇÃO DE SOFIA… DANIEL PINA Editor/Jornalista
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questão de marketing e, como os europeus e os brasileiros não são os americanos, o Carnaval não é o mesmo fenómeno mundial de popularidade que é o Halloween. Quanto ao que está na origem de cada festividade, ninguém se lembra, o que interessa é gastar dinheiro em trajes e adereços.
e facto, não há ninguém que chegue aos pés dos americanos no que toca ao marketing e a criar produtos, serviços ou até festividades com pouco ou nenhum sentido ou utilidade prática mas que, graças a uma gigantesca máquina promocional que faz uma autêntica lavagem cerebral às grandes massas, se tornam indispensáveis no dia-adia do manel e da francisca e, de um dia para o outro, o mundo inteiro aderiu a uma coisa que, se pensar um bocadinho, não sabe bem para que serve ou de onde apareceu. Nasce este meu desabafo por ocasião do Halloween, uma festa com origem em celebrações dos antigos povos celtas, tradicionalmente assinalada no Reino Unido, mas que, quando atravessou o Atlântico em direção aos Estados Unidos da América, se transfigurou por completo.
Se calhar estão a estranhar tanta rabugice por causa do Halloween, que este ano são apenas dois dias, a sexta-feira em que a miudagem quer ir mascarada para as escolas, e o sábado em que querem andar o dia todo vestidas de bruxas, fantasmas e abóboras, mesmo que não saiam de casa. O problema é que esta febre consumista agora é sempre a subir de tom até ao Natal, com os nossos filhos a serem bombardeados com publicidade atrás de publicidade a bonecos de todas as marcas e feitios, a casas, cozinhas, salões de cabeleireiros, pistas de automóveis, quartéis de bombeiros, jardins, quintas e por aí adiante.
Hoje, Halloween na Terra do Tio Sam é sinónimo da miudagem andar a bater de porta em porta a pedir doces, vestidos de bruxas, fantasmas, monstros e afins. É sinónimo também de filmes de terror com enredos que acontecem na fatídica noite de 31 de outubro, quase todos com os mesmos ingredientes, mudam os atores e o resto é tudo igual. Mas os americanos adoram aquilo, sabe-se lá porquê. Depois, o Halloween atravessou outra vez o Atlântico e regressou à Europa como Dia das Bruxas, com a miudagem trajada de bruxas, fantasmas, vampiros e outros monstros, desta vez não a bater de porta em porta a pedir doces, mas a ir satisfeitos da vida para as escolas. E lá vão os pais na semana anterior a correr para os hipermercados ou lojas dos chineses para comprar as roupas, senão ninguém atura a birra dos miúdos lá em casa.
Quem passa algumas horas em casa durante o dia com os filhos sabe bem do que estou a falar. De manhã e à tarde são eles os donos do comando da televisão e isso significa que temos que levar com o Ruca, Princesa Sofia, Doutora dos Brinquedos, Selva Sobre Rodas, Miles do Futuro, etc, etc, programas que, às vezes, os miúdos nem estão a acompanhar com grande atenção. No entanto, mal se aproxima o Natal, entram em ação as mesmas personagens, agora em anúncios às suas figuras e cenários e parece que é uma luz que se liga no cérebro da criançada. De repente, saem disparados da sala para ir buscar os bonecos, pequenos ou grandes, mais baratos ou mais caros. Se não têm, querem que os pais os comprem. Se têm as personagens principais, querem que os pais comprem as figuras dos irmãos, dos amigos, dos cães e gatos. No meu tempo colecionávamos cromos da bola. Agora, os miúdos colecionam as figuras das séries da televisão e vá-se lá explicar às crianças que aqueles bonecos, que às vezes até partem ou perdem num instante, custam bem mais do que as moedas que vão metendo no porquinho. E ainda falta tanto tempo para o Natal .
Não pensem que tenho nada contra o Halloween. Até acho piada às minhas filhotas irem vestidas de bruxa e abóbora para a escola e também vi muitos dos tais filmes de Hollywood que são sempre iguais uns aos outros. Mas, quando penso no Carnaval, percebo que o Halloween não me aquece nem arrefece. Voltamos ao princípio da conversa, é tudo uma
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REPORTAGEM
Faro debateu Património Cultural, Conhecimento e Cidadania Uma década depois da assinatura da Convenção de Faro, e quando se cumprem também os 10 anos de existência do Teatro das Figuras, a principal sala de espetáculos da capital algarvia foi palco de uma conferência internacional sobre Património Cultural, Conhecimento e Cidadania. No final de um dia de intenso e frutuoso debate, ninguém ficou com dúvidas de que a Cultura é fundamental para que o Algarve continue a crescer e a manter-se como um destino turístico de eleição, numa época em que os cidadãos do mundo dão cada vez mais importância à componente histórica, às tradições, à identidade dos locais que visitam. Ficou-se igualmente a saber que o velho continente está a olhar com grande interesse para a candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura em 2027. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #31
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aro foi palco, há precisamente uma década, da assinatura da Convenção Quadro do Conselho da Europa Relativa ao Valor do Património Cultural para a Sociedade, mais vulgarmente conhecida como Convenção de Faro. Para assinalar esse aniversário, a Câmara Municipal de Faro, a Universidade do Algarve, o Centro Nacional de Cultura e o Teatro das Figuras levaram a cabo uma conferência internacional sobre o tema «Património Cultural, Conhecimento e Cidadania», no dia 27 de outubro, no Teatro das Figuras. No uso da palavra durante a sessão de abertura, Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, frisou que a Convenção de Faro, ratificada por Portugal em Agosto de 2009, permitiu reconhecer que o direito ao património cultural é inerente ao direito de participar na vida cultural, tal como está definido na Declaração Universal dos Direitos do Homem. “Mas o objetivo desta Convenção foi muito mais longe ao definir um conjunto de medidas orientadoras para que o papel do património cultural na edificação de uma sociedade pacífica e democrática tivesse como base uma maior sinergia de competências entre todos os agentes públicos, institucionais e privados. Foi um momento histórico o que se viveu em Faro no ano de 2005, pois os monumentos históricos, os lugares, as tradições, passaram a ser defendidos e preservados, não só por representarem um sinal de presença e de vida dos nossos antepassados, mas também porque contribuem para o enriquecimento da nossa vida em sociedade e para a nossa própria existência”, notou. Rogério Bacalhau lembrou que a autarquia farense tem procurado criar condições para consolidar e sedimentar o papel da zona patrimonial e cultural da capital de distrito e realçou o desejo de repovoar o centro histórico da cidade e de criar condições para a sua dinamização económica e social. “Estes desafios fazem parte de um eixo de ação previsto no Plano Estratégico de Turismo que
a autarquia tem vindo a executar e que prevê uma aposta concreta e ambiciosa rumo a uma nova dinâmica, assente na valorização da história e da identidade do património de Faro, enquanto aposta para o desenvolvimento sustentado do nosso município. E isto porque o desenvolvimento humano não é compreensível nem realizável sem o reconhecimento do papel da criação cultural, em estreita ligação com a educação e a formação, com a investigação e a ciência”, defendeu, aproveitando para mostrar o agrado por Guilherme d’Oliveira Martins ter aceitado o convite para liderar a candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura em 2027. “O projeto servirá de ignição para diversos processos de transformação, a vários níveis, numa estratégia de médio e longo prazo que visa promover não só o concelho de Faro mas também a região algarvia. Será uma iniciativa ambiciosa e mobilizadora, que extravasará os limites do campo cultural e a denominação de Capital Europeia da Cultura será fundamental para impulsionar a atividade turística, nomeadamente o turismo cultural, elevando o perfil internacional da cidade e da região, através de um programa de atividades culturais e eventos artísticos de nível internacional”, sublinhou. Perante uma plateia atenta, o presidente da Câmara Municipal de Faro enfatizou a vontade de melhorar as infraestruturas, os equipamentos culturais e os espaços urbanos centrais degradados, sempre envolvendo os cidadãos e mobilizando a comunidade artística local e regional num esforço coletivo de criatividade. “A afirmação cultural do nosso concelho e da região do Algarve passa pela qualificação da oferta turística e a captação de novos públicos e esse será o objetivo principal de «Faro Capital Europeia da Cultura». Pretendemos revitalizar a economia local e regional, marcando ao mesmo tempo o início de uma nova forma de cooperação e desenvolvimento entre Faro e o resto do Algarve, enquanto destino cultural diferenciado e de excelência, numa economia cada vez mais competitiva e global. «Faro Capital Europeia da Cultura» marcará um novo 9
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Rogério Bacalhau
futuro e justificará ainda mais o espirito da Convenção de Faro”, entende Rogério Bacalhau.
Identidade cultural está em risco O homem que se seguiu no púlpito foi António Branco, Reitor da Universidade do Algarve, que afirmou de imediato que o Guilherme d’Oliveira Martins
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António Branco
Alexandra Gonçalves
exercício da Cidadania só se considera plenamente satisfeito quando os cidadãos têm livre acesso ao legado patrimonial da humanidade, bem como ao conhecimento que ele representa e que sobre ele é produzido. “E se é admissível que vivemos numa sociedade da Informação, dada a multiplicação intensiva dos meios informativos que temos à nossa disposição, tal não significa que vivamos numa sociedade do Conhecimento. Sem Educação também não existe verdadeiro Conhecimento, por não haver transmissão crítica e interpretativa do vasto legado cultural”, sublinhou, passando a abordar o conceito da Inovação, palavra tão em moda nos últimos tempos. “Todos os estudiosos, todos os cientistas e todos os criadores artísticos sabem que, quanto mais o mundo dura, e quanto mais se avoluma o nosso património cultural, mais 10
parte do património cultural que legaremos às gerações seguintes”.
Desidério Silva
se estreitam as margens da Inovação. E todos sabem também que, na maior parte das vezes, inovar não é mais do que ensaiar uma combinação pessoal e diferente de soluções e chaves já existentes”. Infelizmente, António Branco entende que, hoje, comemorar o Património Cultural, o Conhecimento e a Cidadania é um ato em contracorrente com a desvalorização do antigo em nome da inovação. “Quando olhamos para esta Europa hesitante e contraditória na sua resposta à grave crise humanitária provocada pelos movimentos migratórios desesperados daquelas muitas centenas de milhares de crianças, jovens, mulheres, homens e anciões, que fogem da guerra, da devastação e da morte, percebemos que o que tem faltado à Europa tem sido, precisamente, uma educação baseada no conhecimento do património cultural enquanto motor do exercício da cidadania”, evidencia o reitor da Universidade do Algarve. “Não nos esqueçamos que a resposta que dermos hoje a esta, e a outras graves crises humanitárias que assolam o nosso presente, fará irremediavelmente
Alexandra Gonçalves, Diretora Regional da Cultura do Algarve, começou por registar a transformação que se tem sentido no sector cultural e artístico, evidenciando-se o valor e as potencialidades de um património cultural bem gerido enquanto fonte de desenvolvimento sustentável e também de qualidade de vida numa sociedade em constante evolução. “Hoje, fazem parte do nosso léxico comum palavras como Herança, Conhecimento, Memória, Identidade, Cooperação, Partilha e Diálogo. Estas palavras possuem um significado profundo que nem sempre tem reconhecido o valor universal devido. Mas a Convenção de Faro reconhece que cada pessoa, no respeito dos direitos e liberdades de outrem, tem o direito de se envolver com o património cultural da sua escolha. Que cada um de nós possui uma responsabilidade individual e coletiva no processo contínuo de definição e gestão do património cultural”, indica, apelando a que todos os agentes regionais e locais, públicos e privados, assumam um papel ativo na concretização da Convenção de Faro. “Ou seja, na inventariação dos recursos, na sua salvaguarda e valorização, no conhecimento das diferentes comunidades (residentes e visitantes), na criação de condições de acolhimento, no apoio aos visitantes e na organização e promoção de atividades e eventos e na sua monitorização. Só assim o património, no seu sentido amplo, pode ter um futuro”. Para Alexandra Gonçalves, a identidade cultural de determinado povo está intimamente ligada à sua memória, mas não pode ser vista como um conjunto de valores fixos e imutáveis que definem o indivíduo e a coletividade da qual faz parte. “Faz parte do processo de sobrevivência das sociedades a incorporação de elementos novos e isso é o que as mantêm ao longo do tempo. A 11
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Rogério Bacalhau, António Branco e João Guerreiro
Lídia Jorge e Desidério Silva
identidade cultural é fator condicionante da relação indivíduo/sociedade, pois é através dela que o indivíduo se adapta e reconhece um ambiente como seu”, entende, avisando que a identidade cultural encontra-se hoje particularmente ameaçada, apesar de todos os mecanismos legais de salvaguarda, dos vários níveis de planeamento e proteção, e das várias formas de inventariação e registo. “E se perdemos um aspeto da identidade cultural, perdemos automaticamente outros. Devemos pensar na identidade cultural como um todo, composto por diversas partes, todas de fundamental importância, como um mosaico”.
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Na sua intervenção, Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve, voltou a enfatizar que o Algarve não é apenas sol, praia e golfe, ao contrário do que alguns continuam a dizer. “É um facto que a promoção do Algarve se tem baseado nestes produtos e é graças a eles que temos granjeado notoriedade nacional e internacional enquanto destino turístico de eleição, mas os tempos mudaram, assim como as motivações dos turistas. Mudou também a atenção e enquadramento que se dá à riqueza e diversidade da região, da qual faz parte a cultura. No fundo, aquilo que somos e que nos caracteriza, aquilo que nos identifica e nos distingue”, destacou Desidério Silva, acrescentando que foi, provavelmente, a crise económica que despertou a necessidade do Algarve, e de outros destinos, se reinventarem. “Não basta termos boas praias e campos de golfe para sermos escolhidos por quem quer gozar férias porque, no mundo globalizado, os turistas procuram cada vez mais experiências assentes na cultura e nas identidades locais”.
Europa de olhos postos em Faro Com o «outro» Algarve cada vez mais em proeminência, Desidério Silva lembra que a RTA definiu um plano de marketing estratégico com o intuito de diversificar o leque de motivações de quem procura este destino. “Projetos como a «Dieta Mediterrânica» e da «Cataplana Algarvia» têm sido de grande valia na promoção e atração do Algarve e rotas como o Descubriter e Al-Mutamid estão a consolidar-se e em vias de se tornarem, por 12
si próprias, motivo de visita da região. Aguardamos também pelo desfecho do nosso pedido de inscrição na lista indicativa da UNESCO para que os lugares da primeira globalização possam vir a ser considerados património da humanidade, reconhecendo o peso e a importância do Algarve na epopeia dos descobrimentos portugueses”, prosseguiu Desidério Silva, não esquecendo Teresa Correia, Rogério Bacalhau, Guilherme d’Oliveira Martins, que este deverá ser um trabalho conjunto de todas as Paulo Santos e Joaquim Guerreiro A encerrar a sessão de abertura falou forças vivas da região. “O estreitar de laços Guilherme d’Oliveira Martins, que esteve entre a RTA e a Direção Regional da Cultura intimamente ligado à assinatura da do Algarve tem sido evidente e frutuoso e Convenção de Faro. “Os Ministros da Cultura esse esforço tem-se replicado junto de que aqui se reuniram a 27 de outubro de outras entidades. A valorização dos 2005 assumiram clara e inequivocamente elementos culturais contribuirá, sem que o património cultural não é uma sombra de dúvida, para que o Algarve realidade do passado, mas sim uma permaneça como um o mais importante realidade dinâmica e complexa que obriga a destino turístico nacional”. considerarmos na sociedade o valor daquilo
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mais ricos ainda não a tenham ratificado”, revelou. Guilherme d’Oliveira Martins defendeu que é fundamental que se supere o «divórcio» entre a comunidade científica, os cidadãos e os Estados e enfatizou o papel da Educação e da Criação. “A criação faz-se naturalmente através da colaboração e do diálogo intemporal entre gerações, as que nos antecederam e as que nos vão suceder. Todos nós José Vitorino e Lídia Jorge somos anões que estamos às cavalitas dos gigantes que nos antecederam”, comparou, considerando que EducaçãoCiência-Cultura é um triângulo fulcral nas sociedades contemporâneas. A terminar a sua intervenção, falou, como seria de esperar, de «Faro Capital da Cultura 2027». “É um projeto que vai mobilizar, não apenas os cidadãos algarvios, não apenas os cidadãos portugueses, pois vejo um interesse extraordinário na Europa relativamente a esta dimensão que é, afinal, deste Mediterrâneo que está um pouco fora das colunas de Sandra Martins, Anabela Afonso, António Branco e Dália Paulo Hércules, mas é, natural e que recebemos, daquilo que assumimos e inequivocamente, Mediterrâneo e Atlântico. daquilo que legamos”, afirma o Presidente do E esta convenção tem subjacente uma ideia Centro Nacional de Cultura, lembrando que o fundamental que hoje é mais importante do processo não foi fácil e que houve várias que nunca: a ideia de cultura da paz. Temos resistências, nomeadamente dos países mais que ser fatores de paz e, para isso, não ricos. “Grande parte das convenções que se podemos ser fatores de indiferença. Esta subscrevem fazem parte de um grande convenção está viva, mas só se tornará mais cemitério das convenções que não entram viva se nós trabalharmos por ela”. em vigor, o que não aconteceu neste caso, porque estava bem ancorada em princípios e Após a Sessão de Abertura seguiu-se a ideias. O documento foi posto à assinatura e leitura de uma mensagem de Pierre Paquet, retificação dos Estados-Membros, o que Inspetor-Geral do Património da região da gerou mais resistências. Mas, no dia 1 de Valónia, na Bélgica, que não pode estar junho de 2011, a Convenção de Faro tornoupresente por motivos pessoais. Após uma se viva e está em vigor, ainda que os países
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breve pausa, a sessão foi retomada com uma comunicação da premiada escritora algarvia Lídia Jorge, e uma outra de Guilherme d'Oliveira Martins, o homem que liderou o Grupo de Trabalho que elaborou a Convenção Quadro do Conselho da Europa sobre o valor do Património Cultural para a Sociedade, aprovada em 2005. A parte da tarde foi preenchida com um painel temático sobre Património e Conhecimento, moderado por João Guerreiro, da Universidade do Algarve, e que contou com as participações de João Pedro Bernardes, Universidade do Algarve – Património Arqueológico, Luís Filipe Oliveira, Universidade do Algarve – Património Histórico, Miguel Reimão Costa, Universidade do Algarve – Património Rural e Renata Araújo, Universidade do Algarve – Arte e Urbanismo. Um segundo painel temático sobre Capitais Europeias da Cultura foi moderado por Manuela Guerreiro, da Universidade do Algarve, com os contributos de Ulrich Fuchs, Diretor de Linz ‘2009, Marselha ‘ 2013 - Capital Europeia da Cultura, Robert Palmer, Diretor, Glasgow ‘1990, Bruxelas ‘2000 - Capital Europeia da Cultura e Carlos Martins, Diretor Executivo de Guimarães ‘2012 - Capital Europeia da Cultura. A conferência terminou com um Concerto de Música de Câmara da Orquestra Clássica do Sul .
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REPORTAGEM
Realizou-se, no passado dia 18 de outubro, mais uma edição da Rock'n'Roll Maratona Lisboa EDP, uma das mais prestigiadas provas internacionais da modalidade nobre do atletismo, e cinco portugueses conseguiram o feito de ficar no top 10. Entre eles, o destaque vai para três algarvios, todos atletas do Clube Desportivo Areias de São João, de Albufeira: Jorge Varela, que foi mesmo o melhor maratonista luso da competição, Paulo Soares e Flávio Fernandes. Duas semanas depois, com o trio de regresso às suas rotinas habituais, o Algarve Informativo foi conhecer melhor estes homens, verdadeiras fontes de inspiração para as novas gerações, autênticos David’s a lutar contra os Golias do atletismo internacional e a provar que não são precisos mundos e fundos para se ter sucesso na maratona quando se corre por gosto. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #31
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Paulo Soares, Jorge Varela e Flรกvio Fernandes sรฃo
OS HOMENS DA MARATONA
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manhã de segunda-feira começou bem cedo, como é costume, para Paulo Soares e Jorge Varela, a treinarem juntos na Mata do Ludo, não muito longe da azáfama do Aeroporto Internacional de Faro. Ao lado da dupla de maratonistas do Clube Desportivo Areias de São João, de Albufeira, corriam muitos outros homens e mulheres de diversas idades, uns ligados ao atletismo de forma mais séria, outros apenas por uma questão de condição física, às vezes logo ao nascer do sol, noutras ocasiões já depois do sol-posto, consoante os horários do trabalho. Do trio que esteve em destaque na mais recente edição do Rock'n'Roll Maratona Lisboa EDP apenas faltava Flávio Fernandes, atacado por uma forte gripe e impossibilitado de se juntar aos colegas de equipa para o treino diário. E se pensarmos que Jorge Varela é Subchefe de cozinha, que Paulo Soares é rececionista numa rent-a-car e que Flávio Fernandes é agente da PSP e que o atletismo é apenas uma paixão praticada de acordo com a disponibilidade profissional dos três, ainda
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mais valor têm o 5.º, 7.º e 10.º lugares alcançados, respetivamente, naquela que é uma das mais prestigiadas e concorridas maratonas do calendário internacional. Terminado o treino do dia, houve oportunidade para se conversar com o trio durante o pequeno-almoço e confirmar as dificuldades de quem não é atleta a tempo inteiro. “Comecei a correr na vila do Montenegro, em finais de 1983, início de 1984, com o treinador José Mendes, sempre dedicado ao atletismo e principalmente às longas distâncias. Quanto mais quilómetros tiver a prova, melhor eu me sinto”, conta Paulo Soares, 40 anos, rececionista na Auto Jardim, indicando que o Clube Desportivo Areias de São João foi Campeão Nacional de Masters, ficou em 5.º lugar no ranking de Estrada e em 6.º no Cross. “Com muito trabalho e esforço, mas conseguimos dar um grande destaque à nossa região”, salienta Paulo Soares, antes de passar a palavra ao amigo Jorge Varela, 35 anos, subchefe de cozinha no Real Marina Hotel & Spa de Olhão. “Também comecei a correr aqui no 18
Montenegro, por incentivo do Paulo Soares, o meu primeiro treinador foi igualmente o José Mendes. Andei antes no futebol, como acontece com a maior parte dos miúdos, mas comecei a ganhar umas provas nas distâncias mais curtas, 800 e 1500 metros. Depois fiz uma paragem durante alguns anos, mas regressei aos treinos com a Ana Dias a pensar na maratona”, aponta. Flávio Fernandes é outro farense de gema, 36 anos, também ele praticante de atletismo desde miúdo, tendo apenas feito uma pausa dos 20 aos 25. “Mas fiz a minha estreia nas maratonas agora em Lisboa, normalmente faço provas mais curtas, meias-maratonas, cinco e 10 quilómetros, na estrada. Provas de pista é que já não faço muitas, são para a malta mais nova”, afirma, com um sorriso. O também atleta do Clube Desportivo Areias de São João desde que regressou à atividade mostrava-se satisfeito pelo resultado alcançado em Lisboa, mas julga que podia ser ainda melhor. “O Top-10 foi excelente, mas tive uma quebra muito grande nos últimos 10 quilómetros. Estava a fazer uma média de 34 minutos por cada 10 quilómetros e baixei para 41 minutos na fase final por causa de problemas musculares. Não basta estar em forma, a parte psicológica conta bastante, assim como as condições climatéricas, e estava à espera de fazer menos sete ou oito minutos”, reconhece. Mas se o brilharete na maratona de Lisboa foi o resultado mais recente e visível, o currículo do trio inclui outros títulos individuais. Assim, Jorge Varela é Campeão Regional de Estrada e Corta-Mato e, em 2014, chegou a estar selecionado para ir ao Mundial. Paulo Soares é uma presença habitual no pódio, umas vezes conquistando a medalha de prata, outras de bronze, pois Varela tem dominado, realmente, no plano regional. Já Flávio Fernandes é Campeão Nacional em Veteranos (+35 anos) nos cinco quilómetros em pista e de Corta-Mato Militar. Apesar disso, desde cedo perceberam que não conseguiam viver da prática desportiva. “Em Portugal é impossível. Se a época correr bem, até podemos trazer para casa uns trocados
para ajudar a suportar as despesas, que são muitas, mas basta uma lesão que nos impeça de participar em algumas provas para nos abalar logo o orçamento. Os poucos patrocinadores que se conseguem arranjar não podem apoiar muito e os clubes também não têm capacidade para nos assegurar um rendimento estável”, explica Paulo Soares, que conta com o apoio da «EC Travel» de Eliseu Correia. Uma realidade confirmada por Jorge Varela, para quem o atletismo em Portugal é mais uma modalidade amadora. “O nosso ganhapão é a profissão base de cada um, o atletismo é um vício, o escape do dia-a-dia. É assim que pensamos e que levamos a nossa vida”, reforça o farense, acrescentando que nem os grandes maratonistas de outros tempos, atletas que foram a Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos, alguns até medalhados, levam uma vida fácil e desregrada depois de se aposentarem. “Todos se queixam das mesmas dificuldades, por isso, os governantes têm que decidir se querem apostar ou não no desporto”, refere Varela. E Flávio Fernandes segue pela mesma batuta, como seria de esperar. “Sempre estive ciente de que as probabilidades de ser atleta profissional eram reduzidas, mas são estas «vitórias» que nos dão ânimo para continuar a batalhar”. Um problema que afeta os atletas de uma forma geral, entende Paulo Soares, e não apenas os algarvios. “É uma questão de cultura. Em Portugal, só se canalizam meios para o futebol, é a única coisa que mexe realmente com as pessoas, todas as outras modalidades sobrevivem com os restos”, desabafa. Talvez por isso, nunca tenha sentido a necessidade de ir para um clube de outra zona do país e também não vê vantagens em competir em termos individuais. “Eu preciso de ter objetivos e de alguém que me incentive, e estar inserido num clube proporciona-me isso tudo”, justifica, apoiado por Flávio Fernandes. “Isto é um desporto complicado, sozinhos ainda seria mais difícil, já para não falar das questões burocráticas. É bom só nos preocuparmos com a parte da 19
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corrida”, entende, embora saiba que há outros aspetos que influenciam o rendimento dos atletas durante as competições, como verificou aquando da maratona de Lisboa. “É óbvio que facilitava termos ali ao lado um massagista, um médico, um nutricionista, ao invés de sermos nós a procurar esses profissionais pelos nossos meios ou a recolhermos nós as informações de que necessitamos. Mas esta é a realidade e temos que seguir em frente”.
participar nos campeonatos regulares. “É uma situação que nos dá maior liberdade, organizamos a época de acordo com os nossos critérios, mas estar federado num clube facilita nos aspetos logísticos, nas inscrições e deslocações. Sobre a vertente dos treinos, quando chegamos a seniores já conhecemos bem o nosso corpo e conseguimos gerir a nossa forma física porque estamos em atividade o ano todo”.
Muito mais do que simplesmente correr
No caso de Jorge Varela, diz-nos que já houve épocas em que competiu de forma
Olhando para a Mata do Ludo constatamos, de facto, a presença de muitas pessoas a correr, umas para fins competitivos, outros apenas para manter a forma física, fenómeno que se repete um pouco por toda a região, logo pela manhã, ao final do dia, antes de começar a jornada de trabalho ou após o término dela, cada um tem as suas rotinas. Claro que correr com alguém é sempre mais fácil do que sozinho, ajuda a levantar às seis ou sete da manhã, às vezes ao frio e à chuva, ou ir para a estrada já pela noite dentro, quando muitos homens e mulheres já se preparam para ir para a cama. Mas, quando se é atleta a sério, mesmo que não a tempo inteiro, todos estes sacrifícios são encarados de forma natural. “Na maior parte das vezes corremos sozinhos, com os nossos pensamentos, seguindo o plano preparado pelos treinadores. Às seis da manhã, às 11 da noite, porque assim obriga o trabalho”, indica Paulo Soares, entendendo que o papel do treinador é fundamental, ainda mais quando as coisas não correm de feição. “Precisamos de um ombro amigo, de alguém que nos motive, Paulo Soares que nos diga que é tempo de parar e repensar algumas coisas. Tenho individual, sobretudo porque as muitos anos de atletismo, mas preciso de responsabilidades profissionais não eram alguém que me acompanhe”, admite o compatíveis com as exigências dum clube de rececionista da Auto Jardim.
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Jorge Varela partilha da mesma opinião e prova disso é que, acabada a prestação na maratona de Lisboa, no dia seguinte já estava a rolar por indicação do treinador. “Por minha vontade, tinha tirado uma semana para descansar e notei uma grande diferença de rendimento quando comecei a ter alguém que me orientasse nos treinos. É um desporto que exige descanso, cabeça, uma alimentação cuidada e tentamos aplicar tudo o que vamos aprendendo ao longo dos anos”, assegura. Quanto à motivação para manter esta dura rotina diária, mesmo sabendo-se que não se vai ganhar dinheiro com o atletismo, é tudo uma questão de mentalidade, considera Paulo Soares. “É diferente ir treinar só para se queimar umas calorias do que quando se tem objetivos bem definidos. Se queremos chegar às provas em boas condições para alcançarmos bons resultados, temos que fazer sacrifícios. Sabemos que as profissões estão em primeiro lugar e que temos que dedicar umas horas às famílias, portanto, entre umas e outras, temos que arranjar tempo para treinar”.
batida. Hoje, o problema é cativar os jovens para que treinem ao nível das condições que têm. Quanto ao Ludo, acho que é o sonho para qualquer atleta do mundo, este espaço verde todo até à Quinta do Lago, ar puro, uma vista fantástica para a Ria Formosa aqui
De falta de condições para treinar é que o trio não se queixa, mas também esclarecem que não basta calçar uns ténis, vestir o equipamento e ir para a rua correr. “Para esta Jorge Varela maratona começamos a treinar logo a meio de junho, quando toda a em redor do Aeroporto. Se quisermos fazer gente está na praia. Na altura em que estávamos a fazer as séries apanhamos com a um bocadinho de serra, temos o Cerro de São Miguel, a zona da Falfosa. Temos, se calhar, o pista de atletismo de Faro fechada e tivemos melhor Centro de Estágios da Europa em Vila que ir para a estrada, o que complicou um Real de Santo António”. bocado”, lembra Varela, com Paulo Soares a realçar que nunca houve tantas pistas de Clubes também não faltam, embora Jorge tartan no Algarve como agora, desde Vila Real Varela acredite que nunca é demais apostar no de Santo António até Lagos. “Antigamente atletismo, mesmo ao nível de escolas privadas havia apenas a pista das Açoteias, a mata do que comecem a treinar jovens em tenra idade. Liceu de Faro, mais uma ou duas de terra
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“Graças a isso têm aparecido alguns jovens de valor, desde a velocidade às disciplinas técnicas, falta é apoiar mais o patamar que se segue. É fácil chegar a Júnior e Sub-23, as dificuldades aparecem quando é altura de passar a Sénior. É o tempo de ir ou não para a universidade, de tomar as decisões que vão influenciar a nossa vida”, avisa, com Flávio Fernandes a admitir que não aconselhava ninguém a abdicar dos estudos ou da sua carreira profissional para se dedicar a 100 por cento ao atletismo. “Um miúdo chega aos 20 anos e depois não consegue sobreviver disto, mesmo que seja muito bom. O atletismo também tem uma vida competitiva curta, não é um garante de futuro”, justifica. Por outro lado, Paulo Soares acredita que subir de patamar não implica assinar por um grande clube nacional como o Sporting ou Benfica. “É lógico que um clube sonante abre outras portas e que recebe mais convites para participar em competições internacionais, mas eu prefiro estar no Areias de São João”, Flávio Fernandes garante. “O mais importante é a nossa motivação pessoal. Já estive no Benfica e entrevistados alertam que nem nas cidades no Maratona, mas sou algarvio e é pelo Clube maiores abundam os apoios financeiros aos Desportivo Areias de São João que corro com atletas. “Os patrocínios surgem de amizades gosto. Estar num clube maior apenas seria que vêm de infância ou de outras pessoas que bom se trouxesse melhorias significativas à vamos conhecendo ao longo do nosso trajeto. nossa vida pessoal. Não vale a pena trocar de O Eliseu Correia apostou em nós porque a sua camisola para continuarmos a ter as mesmas empresa está sedeada no Algarve e eu dificuldades”, considera Jorge Varela. “O também sou um dos representantes da atletismo tem morrido muito nos últimos «Core» e tentamos ao máximo justificar essas tempos e os apoios financeiros caíram a ajudas”, frisa Varela, que vai tentar agora pique. Um profissional que, há uns anos, podia ganhar quatro ou cinco mil euros, agora apurar-se para o Europeu de Corta-Mato, bem como melhorar a sua marca na maratona. Até ganha mil. Os portugueses queixam-se que ao final do ano, Paulo Soares tem previsto vão poucos atletas, ou com menos qualidade, aos Jogos Olímpicos, mas durante quatro anos participar na Corrida de São Silvestre e, em janeiro, arrancam os campeonatos regionais, ninguém se lembra que treinam sem ajudas em que Flávio Fernandes também vai apostar de ninguém, que pagam as despesas do seu forte. Em março disputa-se o Campeonato próprio bolso. É ingrato”, lamenta Flávio Nacional de Corta-Mato, no Cross Internacional Fernandes. das Amendoeiras, e o trio, a correr em casa, quer dar outra vez nas vistas . Diferente seria, eventualmente, a questão dos patrocinadores pessoais, mas os
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OPINIÃO
NÃO TENHO TEMPO! PAULO CUNHA
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ão tenho tempo!” - Uma fase bordão que, sendo demasiadas vezes usada e banalizada por educadores para se desculparem ou escusarem de fazer o que não querem ou não têm «pachorra», está, cada vez mais, a ter um efeito negativo, preservo e reprodutor nos seus educandos. Tenho grande dificuldade em entender pais, que o são por opção, desejo e convicção, que não arranjam tempo para o bem mais precioso que a vida lhes concedeu: os seus filhos. Desde que nascem até que deixam o «casulo», o tempo passa num ápice, e nesse tempo, todo o tempo é insubstituível, inestimável e irrecuperável. Perante as naturais, necessárias e inevitáveis investidas dos seus filhos para que com eles façam «coisas», grande parte desta nova geração de «pais sobreviventes» escusa-se com as costumeiras desculpas: “Estou cansado, amanhã logo vemos se temos tempo…”, “Não me maces com «criancices»!”, “Agora não posso, vai falar com a tua/teu mãe/pai.”, “Tenho mais que fazer, não me chateies!” e “Não tenho tempo!”. E neste jogo do empurra e do mente/mente ficam todos a perder, pais que não acompanham nem contribuem para o crescimento emocional e intelectual dos seus filhos, nem filhos que, com a sua presença efetiva, não recompensam os pais por “os terem mandado vir”. Desencontros provocados por uma sociedade em que o Ter é necessariamente - mais importante que o Ser.
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Compreensivelmente (ou talvez não), muitos pais dirão: “Como posso ser eu feliz se não tenho como o ser?”. É um facto para quem acha que ter justifica deixar de dar e partilhar. Tempos em que a principal crise reside nos valores, e que a aparência supera a essência. A utilização do tempo de qualidade é, quanto a mim, o valor mais negligenciado e vilipendiado nas relações familiares dos portugueses. Sinto-o no meu dia-a-dia profissional e custa-me ver e contactar com pequenos seres que tão pouco recebem de quem tanto deveria dar. Apercebome disso quando as desculpas, recorrentemente, provêm de filhos que apenas coabitam na casa dos pais, dizendo-me que muitos deles raramente falam ou interagem com os progenitores. Não culpo a consequência, culpo a origem. Critico todos aqueles que permitem e legitimam uma sociedade que nos rouba o usufruto do nosso bem mais precioso, bem como a nossa continuidade enquanto seres consequentes e responsáveis: os nossos descendentes! Ainda hoje o referi a uma plateia de jovens que «bebiam» as minhas palavras como se algo de transcendente estivesse a proferir: “Tempo é a aquilo que distingue a vida da morte. Quem diz que não o tem para os seus, morreu em vida para uma relação que só o tempo se encarregará de matar!” .
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OLHARES Crónicas dos emergentes
MALACA, MALÁSIA EDGAR PRATES Executivo de Desenvolvimento de Novos Negócios e Contas Globais na Accenture
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utrora o centro comercial do Sudeste Asiático, hoje uma cidade turística da Malásia, duas horas a norte de Singapura. Aqui D. Afonso de Albuquerque encontrou a glória com a sua nau Flor do Mar. Uma comunidade portuguesa de cerca de 1500 lusodescendentes habita o bairro português. Malaca tem influências portuguesas, chinesas e muçulmanas, uma mistura que lhe confere uma variedade única de etnias, folclore, arquitetura e gastronomia .
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OPINIÃO
O LONGE É AQUI PAULO PIRES Programador Cultural
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a conferência internacional «Património Cultural, Conhecimento e Cidadania», realizada no passado dia 27 de Outubro no Teatro das Figuras, a escritora Lídia Jorge rematou o seu discurso com uma metáfora muito feliz: revisitou uma lamparina de azeite, uma antiga lucerna (encontrada nas primeiras escavações em Vilamoura) cuja chama, segundo ela, é preciso acender colectivamente, num gesto de esperança sem limites. Três ideias que quero destacar nesse exercício lúcido e sensível: depois dos atropelos, desvios e desvirtuamentos do passado, estamos num tempo de correcção ao nível patrimonial, encarando-o como um premente movimento de expansão que é incontornável, porque “decidir sobre a terra com minúscula, é sempre decidir sobre a Terra com maiúscula”, como a escritora frisou; a defesa, valorização e promoção da identidade algarvia e da sua herança histórico-cultural, imaginário e simbolismo devem ser dirigidas, em primeiro lugar, aos próprios sujeitos da comunidade/região, elegendo-os como imediato destinatário (sem descurar depois todo o universo turístico), pois são eles que vivenciam diariamente essa gramática emocional e simbólica que é o Algarve; e a necessidade de criação, numa aposta consistente e inequívoca, de uma narrativa cinematográfica que retrate e reinvente/transfigure audiovisualmente o substrato cultural algarvio. Num tempo em que – para usar uma metáfora de Eduardo Lourenço sobre essa crescente dimensão de homogeneização, nivelamento e colonização culturais a que assistimos – a Humanidade se parece assemelhar a um grande aeroporto onde toda a gente circula, corre e se cruza mas sem se ver, Lídia pôs, e bem, a tónica na urgência de um movimento empenhado de contrapeso, de aprofundamento, de “diferenciação positiva”, de reforço da singularidade como algo que tanto une um colectivo/comunidade como também o distingue, ilumina e “apura”. Mas para acender essa desejada chama é preciso que a região ultrapasse as rivalidades municipais, que
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culturalmente deixe de ser “um arquipélago de cidades artificialmente separadas, de que a união e coordenação em torno de projectos comuns constituem práticas esporádicas e excepcionais”, como Lídia Jorge aponta no seu texto. De facto, a concertação de recursos, vontades e ideias (amplamente reconhecida pelos agentes em reuniões e discursos da praxe) em prol de uma “metrópole cultural articulada” constitui um desafio enorme e fundamental para a região, nomeadamente quando se fala do triângulo (que deve[ria] ser amoroso mesmo que harmoniosamente irregular) CulturaTurismo-Património. Veja-se, como bom exemplo, as redes informais que se têm criado nos últimos anos na região ao nível dos museus (que deram o pontapé de partida), dos arquivos e agora dos teatros municipais. São teias preciosas que se vão afirmando paulatinamente fruto do empenho, persistência, resiliência e entusiasmo dos profissionais dessas áreas sediados na região, às quais a sociedade e a classe política algarvias não devem (nem podem) ficar alheias, pois quando mais alargado for este compromisso mais horizontes de futuro terá decerto. Sim, porque como Lídia Jorge aludiu logo no seu preâmbulo, temos uma responsabilidade fundamental: não passar impunemente pela Terra, pois “o mesmo mundo que criemos / nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa / que não é nossa, que nos é cedida / para a guardarmos respeitosamente / em memória do sangue que nos corre nas veias, / da nossa carne que foi outra, do amor que / outros não amaram porque lho roubaram” (Jorge de Sena, numa carta a seus filhos, em 25 de Junho de 1959). E que essa chama a que a escritora algarvia aludiu, essa “pequenina luz bruxuleante” (que Sena tão bem poetizou), se acenda e que não ilumine apenas, que também brilhe (mesmo que incertamente), não na distância mas “aqui no meio de nós / entre o bafo quente da multidão / a ventania dos cerros e a brisa dos mares / e o sopro azedo dos que a não vêem / só a adivinham e raivosamente assopram”. Porque o longe… é aqui . 28
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REPORTAGEM
DO GRAFITI NASCE A ARTE URBANA Muitas vezes olhado de soslaio, rotulado de simples rabiscos, letras e riscos de jovens rebeldes, revoltados com a sociedade e sem respeito pela propriedade pública ou privada, o grafiti tem sido objeto de paixão para uns e fator de marginalização para outros. Mas o grafiti é muito mais do que um «writer» (artista de grafiti) pegar numa lata de tinta e desenhar numa parede umas figuras mais ou menos reais, do que escrever umas palavras de ordem contra os políticos ou contra este ou aquele clube de futebol, do que assinar uma simples «tag» (nome ou pseudónimo do artista). Hoje, o grafiti evoluiu para arte urbana, pinturas que ocupam fachadas inteiras de prédios, como as que nasceram em Loulé e Almancil de uma parceria entre a autarquia local e a Associação Artística Satori. Texto e Fotografia: Daniel Pina
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O mural de Travis no Edifício de Santa Luzia, no Bairro Municipal de Loulé 31
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grafiti tem estado em grande destaque no concelho de Loulé, assumindo contornos de autêntica arte urbana, no âmbito do programa «Loulé, Cidade Educadora» e do projeto «Dar Cor à Cidade». Isso mesmo constata quem se desloca ao Bairro Municipal de Loulé e olha para o Edifício de Santa Luzia, em cuja fachada foi pintado um mural com a imagem desta padroeira, da autoria do artista Travis, membro da Associação Artística Satori. A iniciativa, para além de promover os artistas de grafiti, procura, de uma forma pedagógica, incentivar a uma atitude positiva
antigo poço de Almancil, e uma outra foi dada a conhecer ao público no próprio edifício sede da associação, por ocasião da festa de Halloween. Arte Urbana que pouco ou nada tem a ver com a ideia generalizada que a sociedade tem do grafiti, normalmente associada a paredes de prédios riscadas, monumentos públicos vandalizados, carruagens de comboio, tudo e mais alguma coisa onde um jovem com algo para dizer decide colocar desenhos, riscos, nomes, uns mais pensados do que outros. “Isso para nós não é arte mas compreendemos que tal aconteça, porque os
A fachada traseira da sede da Satori, uma obra de Homo Sapiens relativamente ao espaço urbano e social. Ao mesmo tempo, é uma verdadeira galeria de arte a céu aberto que nasce, mas não foi a primeira, uma vez que, em Almancil, outro mural foi inaugurado antes do verão. Neste caso, a obra de Steven Jones, também da Satori, retrata uma cena rural em torno do
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miúdos não têm dinheiro para gastar em muitas latas. O grafiti é uma arte bastante cara e a malta mais nova limita-se a riscar paredes porque só tem uma lata”, explica Tiago Guerreiro, da Associação Artística Satori, no meio da azáfama dos preparativos para a Noite de Halloween. “Nós levamos os 32
nossos profissionais de grafiti para o terreno para ensinar os mais novos e para os sensibilizar a fazer peças de arte e não vandalismo”. O objetivo é, depois, fazer murais que tenham algo a ver com os locais onde estão os prédios cujas fachadas vão ser pintadas, que mexam com os sentimentos das pessoas, com as tradições e assim foi escolhida a imagem de Santa Luzia ou a recriação de uma cena com o antigo poço de Almancil, onde a população ia buscar água em tempos mais remotos. “Em função do trabalho escolhe-se o artista, porque há uns com mais jeito para cartoon, outros para realismo, outros ainda para abstrato e são peças que podem demorar algumas semanas a ser concluídas porque são realizadas apenas por uma pessoa”, explica, lembrando que, dentro do «Dar Cor à Cidade», existe ainda o «Bairrarte», especialmente destinado aos bairros sociais. “Infelizmente, quando se ouve falar em grafiti, as pessoas só Fábio Machado, aka Travis associam aos riscos nas paredes, às «tags», mas a arte urbana é pouco «criminosa». O meu primeiro grafiti realizada por artistas que estão num foi o símbolo dos «Nirvana», era bastante patamar superior”, distingue Tiago influenciado pela música que ouvia e pela Guerreiro. onda do skate”, conta, adiantando que o seu crescimento como «writer» não foi fácil, apesar da enorme vontade em aprender mais. “Tinha 11, 12 anos, não me conseguia deslocar para outros sítios e a malta da minha cidade não era muito adepta de Nesse patamar está, de facto, Travis, Fábio ensinar os miúdos. Limitava-me a ver os Machado de batismo, 30 anos, um apaixonado pelo desenho desde miúdo e que outros a pintar, comprava umas latas e procurava umas paredes velhas para tentar andou em Artes no ensino secundário. “O fazer uns traços e redimensionar os meus grafiti, naquela época, era completamente desenhos para uma escala maior”. diferente, hoje há mais facilidades para
As paredes são as nossas telas
quem começa. No meu tempo nem havia latas de tinta de qualidade ou espaços onde fosse permitido pintar, era uma coisa um
A busca por melhorar a técnica foi contínua, assim como descobrir um estilo próprio e que 33
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O mural do palco da Satori, feito por Mistik fosse facilmente reconhecido pelos outros «writers», uns trabalhos enchiam-lhe mais as medidas, outras ficavam aquém do desejado. “É uma procura constante, uma tentativa de ir mais além, não dos rivais, mas de ti próprio. Estás a pintar aquilo que gostas e o mais importante é sentires-te realizado, mas a fase da aprendizagem é complicada. No início, és influenciado pelas pessoas que admiras mais e demora um pouco até encontrares o caminho que queres seguir”, indica, reconhecendo que, antes de assumir o «tag» Travis tinha um estilo completamente diferente do atual. Um estilo que não é propriamente o que está expresso no mural do Edifício de Santa Luzia, no Bairro Municipal de Loulé, mas isso é encarado com normalidade pelo entrevistado, porque se tratou de um trabalho específico e encomendado por uma entidade. “Quando pintamos na rua não temos as mesmas condições do que quando estamos a realizar um «hall of fame» (mural mais trabalhado e onde normalmente pintam mais do que um artista na mesma obra, explorando as técnicas mais evoluídas). Quando pintamos
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uma parede velha, não queremos obrigar ninguém a ver os nossos desenhos, é apenas a nossa tela, o espaço onde podemos criar numa dimensão superior. Depois, há quem faça apenas «bombings» (grafiti rápido, associado à ilegalidade, com letras mais simples e eficazes), outros preferem só muros legais porque não querem arranjar problemas. O grafiti é algo muito particular e cada «writer» tem a sua ideologia”, explica Travis. Traços pessoais que não têm obrigatoriamente que ser transpostos para as pinturas e Fábio Machado, por exemplo, não esconde o gosto pelo fado, por animais e pela natureza, o que não é facilmente descortinado por quem vê os seus trabalhos. “Podes fazer algo explícito que seja claro para toda a gente ou não, há pinturas que não têm nenhuma mensagem”, distingue, revelando que anda sempre com latas de tinta no carro para o caso de dar de caras com uma parede irresistível. “Podes encontrar um sítio que, à partida, não dê grandes problemas, registas na memória e, quando tiveres tempo, vais fazer algo na descontração. Se 34
for um muro mais organizado já convém fazer um projeto ou um esboço, nem que seja um simples desenho”, refere o entrevistado. Um exemplo perfeito de trabalhos mais pensados é o mural de Santa Luzia, quer pela dimensão, quer por envolver entidades públicas, e implicou uma pesquisa prévia sobre imagens associadas à santa padroeira, dos elementos que a identificam, com Travis a ter depois a liberdade para colocar o seu cunho pessoal. “Foi um desafio tremendo, a escala é enorme, pintei ao vento e à chuva, foram 14 dias de trabalho, mas o feedback no fim foi excelente. É um processo de construção, vai-se pintando aos poucos, usamos várias latas e diferentes técnicas de pintura. Também utilizámos uma grua, o que é mais fácil do que ter que andar a subir e descer andaimes, mesmo até para se visualizar a obra no seu todo. Dois centímetros no papel se calhar é meio metro na parede e, quando estamos a pintar colados à parede, não temos noção do quadro total”.
O que Travis não estava à espera era de tanta pompa e circunstância quando o mural ficou concluído, com direito a cerimónia oficial com presidente da câmara a discursar para a população e toda a gente estupefata com o resultado final. “Enquanto pintava, notei que os residentes acompanhavam com atenção o que ia acontecendo, até se criaram laços de amizade, mas fiquei um bocado encavacado quando me pediram para fazer um pequeno discurso. Não é todos os dias que temos um presidente a dar-nos umas palmadinhas nas costas e a dizer que fizemos um bom trabalho”, reconhece, com orgulho. Uma obra de arte que se tornou num excelente cartão-de-visita para Travis, mas isso não significa que a sua vida vá mudar do dia para a noite. “Já participei noutras pinturas de grande dimensão, a Santa foi a minha primeira a solo, mas vai ser sempre uma luta. Antes de mais, as pessoas têm que acreditar no nosso trabalho, depois, é conseguir reunir as condições logísticas para
A pintura de Steven Jones em Almancil
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se realizar uma obra de arte urbana assim”, refere, enquanto observava o colega Homo Sapiens em plena atividade.
A prática leva à perfeição A caminho do estrelato segue João Frazão, Homo Sapiens no mundo do grafiti e que estava a terminar o mural alusivo ao Halloween que se encontra na fachada traseira da sede da Associação Artística Satori, em Salir. O gosto pelo grafiti apareceu enquanto andava na escola primária e ganhou anda mais força depois de ir com um amigo ao skatepark de Portimão. “Comecei logo a fazer desenhos no papel e peguei pela primeira vez numa lata por volta dos 10 anos”, recorda, indicando que a sua «tag» surgiu a partir de uma aula de história. Aulas que não existem para se ser «writer» e Frazão foi aprofundando os conhecimentos através de revistas de skate, onde proliferavam grafitis de enorme qualidade. A chegada da internet veio facilitar depois a pesquisa e abriu, de facto, os olhos de Homo
Sapiens para o que se fazia no resto do mundo. “Antigamente, a palavra «grafiti» fazia tremer as pessoas, mas as mentalidades estão a mudar à medida que vão aumentando as obras de arte espalhadas pelas cidades. Eu escolho casas abandonadas, interiores de fábricas desativadas, paredes que sei que não vou arranjar chatices. Claro que gostamos que toda a gente veja o que pintamos, mas nem sempre há essa possibilidade”, refere o portimonense de 23 anos. Atrás da «tag» surge normalmente um estilo próprio, mas o entrevistado entende que isso é um processo infinito, uma evolução constante. “Eu sou adepto do realismo, mas um realismo relativo e misturado um pouco com o cartoon. O desenho é importante para despejar as ideias no papel, mas também gosto de fazer Freestyle, pintar diretamente na parede a ideia que tenho em mente, mas convém ter bases para se fazer isso como deve ser”, defende Homo Sapiens, confirmando que a prática é que faz a perfeição. “As técnicas não se dominam a ler
Mais um trabalho de Homo Sapiens na sede da Satori
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teorias em livros, é a gastar latas que se aprende. Depois, no realismo é dar atenção aos pormenores, porque os dentes e os olhos não são completamente brancos”, exemplifica.
João Frazão, aka Homo Sapiens
Gastar latas atrás de latas para se crescer artisticamente, latas que não são de graça, nem sequer muito baratas, o que é uma dor-de-cabeça para os mais novos. A solução de João Frazão foi começar cedo a fazer trabalhos para clientes que forneciam o material e era com os restos das latas que treinava nas horas vagas. “Agora, já não aceito todos os trabalhos como antigamente e, quando temos um estilo consolidado, são as pessoas que nos procuram porque querem ter uma obra nossa. Veja-se o caso do Vhils, que é pago para partir paredes de uma forma única no mundo. Eu sou um novato no grafiti, mas penso chegar a esse nível”, afirma, convicto, embora saiba que subir a esse patamar não é para todos. Homo Sapiens conta-nos que são os projetos de grande dimensão que mais lhe agradam e, mesmo sendo um autodidata nas artes, sente-me mais motivado para pintar uma parede de um prédio do que um muro. “O grafiti não está muito desenvolvido em Portimão e tive que sair da minha zona de conforto e ir para outras cidades do Algarve para ver o trabalho dos outros e evoluir. Chegava a estar um mês ou dois fora de casa e, para isso, temos que ir fazendo uns biscates para ganhar dinheiro para a comida, gasolina e latas de tinta”, aponta. Sobre os «hall of fame» que demoram vários dias a concluir, lamenta que, às vezes, os «writers» tenham más surpresas. “Alguém manda uma lata de tinta para cima ou risca aquilo tudo ou um miúdo chega lá e mete o nome dele”, critica.
Ser profissional de grafiti, ou de arte urbana, é a meta de João Frazão, que sabe que isso pode acontecer de um momento para o outro, se estiver no sítio certo, na hora certa. “Podemos ir a uma exposição de alguém, porque o grafiti também se faz em galerias de arte, conhecermos uma pessoa influente que nos insere no mundo da arte e estamos lançados. Antes disso, temos que batalhar muito para criarmos um estilo próprio”, finaliza antes de regressar ao trabalho, porque faltavam apenas três dias para a grande festa de Halloween da Associação Artística Satori .
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ENTREVISTA
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A GORDA despediu-se de Zé e Janica e prepara novas produções O grupo de teatro olhanense a GORDA levou novamente a palco a comédia «Mê Menine, e a tu Mãe?» nos dias 24 e 25 de outubro, e a sequela do «Mê Menine e o Tê Pai?» encheu mais uma vez o Auditório Municipal de Olhão para acompanhar as aventuras de Zé e Janica. No final, em conversa com o Algarve Informativo, João Evaristo e Joaquim Parra revelaram que a associação sociocultural já está a preparar novas produções com vista a um ano de 2016 que promete voltar a ser bastante preenchido. E se o que vem por aí for do mesmo calibre, então vai mesmo valer a pena ir ao teatro com a GORDA. Texto e Fotografia: Daniel Pina
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J
oão Evaristo e Joaquim Parra já tinham avisado que esta seria, muito provavelmente, a última aparição em público, pelo menos nos próximos tempos, de Zé e Janica, os protagonistas da comédia «Mê Menine e o tê Pai?» e da sequela «Mê Menine, e a tu Mãe?» e a resposta do público foi imediata: lotação esgotada no dia 24 de outubro e sessão extra no dia seguinte. Duas verdadeiras maratonas de risadas no Auditório Municipal de Olhão com a mais recente produção do grupo da terra, a GORDA, companhia teatral nascida, em 2005, na Sociedade Recreativa Olhanense e que, em 2009, deu lugar a uma associação sociocultural. Mas os dois atores conheceram-se muito antes disso, no início dos anos 90, quando João Evaristo andava na escola e integrava o grupo «Teatro da Vida» e conheceu Joaquim Parra, professor de História do Agrupamento EB 2,3 D. José 1, em Vila Real de Santo António. “Começamos a fazer alguns trabalhos sobre o imaginário olhanense, sobre os industriais e as gentes do mar. Uns anos depois o grupo passou a associação para termos uma identidade própria, até porque já não estávamos na escola, mas depois separamo-nos durante algum tempo”, recorda João Evaristo,
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que é Chefe de Serviço da Cultura e Juventude da Câmara Municipal de Olhão. No arranque do novo milénio a dupla volta a reunir-se e, em 2005, nasce então a GORDA e é produzido e apresentado ao público a primeira peça - «Bailarinas e Pezinhos de Xumbo», logo seguida por «Trê Mérré Bald’xoque», nas comemorações do Dia do Município de Olhão. Em novembro de 2005 teve início uma oficina de formação, da qual resultaram, no ano seguinte, «52-Happy Family Special» e «O Testamento da Velha». Em 2007, a GORDA regressa aos palcos com a peça «Ladrão que rouba ladrão… come sopinhas de feijão», ao mesmo tempo que se começa a recuperar uma das salas da Sociedade Recreativa, cedida ao grupo, onde foi construído um palco e um anfiteatro com capacidade de 50 lugares. A inauguração do espaço dá-se em março de 2008 com uma sequela do primeiro trabalho do grupo, «Bailarinas e Pezinhos de Xumbo II». É precisamente em setembro de 2008 que aparecem Zé e Janica com a estreia de «Mê Menino e o Tê Pai?». Em 2009, a GORDA foi constituída Associação Sociocultural e desde 40
então produziu as peças «E a velha lá continuava a descascar ervilhas» (a partir do texto «O Casaquinho», de 1995) e «Hoje Não Há Teatro!», a origem da série de peças Bailarinas e Pezinhos de Xumbo I, II e III. Quanto a Zé e Janica, voltam a dar nas vistas em março de 2015, por ocasião do Dia Mundial do Teatro, com a sequela «Mê Menine, e a tu Mãe?». “Tentamos fazer teatro da forma mais profissional possível, embora não ganhemos dinheiro com isto, antes pelo contrário. Todas as receitas de bilheteira são direcionadas para realizarmos ações de formação com os mais jovens e também apoiamos projetos de outras entidades”, explica João Evaristo, já nos camarins depois de ter terminada a peça. Embora nesta noite tenham estado apenas os dois em cima do palco, mais elementos participam nas restantes produções da GORDA, uns que conhecem através da Casa da Juventude de Olhão, outros que manifestam a vontade de trabalhar com a dupla, outros ainda que são escolhidos a dedo de acordo com o perfil desejado para cada peça. “Fazemos três ou quatro produções por ano, com faixas etárias diferentes e o ano passado, por exemplo,
recebemos cinco estagiários da Escola Pinheiro e Rosa, de Faro, que participaram logo em espetáculos. Antes disso tínhamos feito um monólogo com o Paulo Moreira, fizemos uma peça para a infância”, conta João Evaristo, explicando que a opção pelos textos próprios é uma forma de não defraudar as naturais comparações quando se elegem textos consagrados. “Não somos uma companhia com uma regularidade de ensaios e tempo de trabalho para levar a cena um texto de autor. Para estar a fazer isso com má qualidade, preferimos apostar naquilo que sabemos fazer bem e que nos dá mais gozo. Claro que, com os estagiários, tivemos que abordar alguns textos de autor, porque era importante para a sua formação, mas foi uma exceção”, frisa o entrevistado.
Divertir e divulgar estórias Levar a cena textos próprios garante à dupla uma certa margem de manobra para improvisar e, quando a GORDA sai de Olhão, há sempre a tentativa de conhecer algumas personagens
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típicas ou expressões desses locais que possam ser encaixados nas peças, para gerar uma maior proximidade com o público. “O nosso objetivo também é divulgar estórias, porque a geração mais nova não conhece tanto desta riqueza que havia, das figuras típicas, dos movimentos. É um contributo que podemos dar com o nosso sotaque mas, sempre que possível, damos umas ferroadazinhas, umas vezes mais diretas, outras mais discretas”, admite Joaquim Parra, com João Evaristo a acrescentar que algumas das piadas de «Mê Menine, e a Tu Mãe?» são bastante antigas e não críticas atuais. “A frase do ‘já sabes assinar o teu nome, podes ser vereador da Câmara’ dizia-se em Olhão há muitos anos, aliás, o Zé e o Janica são figuras de há duas ou três décadas atrás”.
também era usual haver alguém a ler as legendas em voz alta a pago dos outros que não o sabiam fazer.
Figuras do antigamente mas que recontam histórias e situações que os mais velhos ainda se lembram, com Joaquim Parra a confirmar a descrição que a dupla faz em palco do antigo cinema de Olhão. “Quem ficava na plateia, que eram os bilhetes mais caros, procurava ficar suficientemente longe do que hoje se chama o balcão, na altura a geral. Em Olhão havia a tradição de comer o pinhão torrado, a malta ia juntando e, quando já era um molho jeitoso, atirava tudo cá para baixo, os baldes de água também, cuspiam. Normalmente, o pessoal entrava no cinema, tinha uma zona por baixo do balcão, que estava lotada, depois havia quatro, cinco ou seis filas vazias, e depois eram as primeiras filas, com as pessoas quase coladas ao ecrã”, recorda o professor, indicando que
para fora. O antigo brasão de Olhão também tinha o leão em ouro a quebrar umas grilhetas e na Ponte de Quelfes existe uma placa a relembrar que foi naquela zona que se deu um confronto entre as tropas francesas e os olhanenses, o que permitiu que chegassem reforços para repelir os invasores”, conta ainda Joaquim Parra.
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Outras figuras recuperadas pela peça são mais longínquas, caso do Mestre Charroco, um dos principais opositores aos franceses quando os soldados de Napoleão tentaram invadir Olhão e que é apresentado, de forma mais divertida, às novas gerações. “Eu sou professor de história e já tive alunos que me disseram que o Salazar foi jogador do Benfica”, diz com um encolher de ombros, sem precisar explicar mais nada. “Olhão tem Vila da Restauração porque desta antiga aldeia partiu um barco, o «Caique Bom Sucesso», com pescadores para dizer ao rei, que estava fugido no Brasil, que podia regressar porque os franceses tinham sido corridos daqui
Comédias divertidas, com umas críticas pelo meio, mas nada de ataques ferozes ao poder local, aos políticos e aos dirigentes, como sucede no teatro de revista. “Nunca contamos histórias que deitem abaixo ou prejudiquem os olhanenses, antes pelo contrário, queremos elevar a sua inteligência para se desenrascarem e ultrapassarem situações complicadas numa 42
época que era bastante difícil. Com graça e alguma esperteza venciam os obstáculos”, distingue João Evaristo, adiantando que a GORDA também já produziu peças de teatro de revista em momentos de eleições para «brincarem» com os políticos e os partidos. “Mas nunca tivemos problemas de qualquer ordem e chegamos a ter algumas das pessoas visadas nos textos sentadas na primeira fila e a rir a bem rir. Temos sensibilidade para não entrar em críticas destrutivas e pejorativas”, salienta Joaquim Parra, continuando em tom mais sério: “As pessoas esquecem-se que muda-se a massa castanha mas as moscas são as mesmas. Basta pegar nas caricaturas do Bordalo Pinheiro, que são do século XIX, mudar os nomes dos políticos e percebemos que as piadas estão perfeitamente atuais, parece que foram feitas
indica João Evaristo, satisfeito por ver que a adesão do público é sempre positiva. “Estamos habituados a ter casa cheia desde Vila Real de Santo António a Lagos porque as pessoas gostam do trabalho que desenvolvemos, mas há peças em que não fazemos tanta promoção, nomeadamente quando são exercícios teatrais ou com grupos de iniciantes”, prossegue o Chefe de Serviço da Cultura e Juventude da Câmara Municipal de Olhão.
ontem. Em vez de «reis» mete-se «euros», em vez de «Sua Majestade» coloca-se «Presidente da República», troca-se o «Senador» por «Ministro» e está lá tudo”.
vários elementos, depois nunca se consegue juntar toda a gente para ensaiar, o que nos obriga a fazer textos como se fossem pecinhas de lego. O João e eu conhecemo-nos há bastante tempo e só lhe peço para me avisar com uma semana de antecedência quando aparece algo de novo para fazer”, refere Joaquim Parra, com João Evaristo a destacar um terceiro elemento do núcleo duro da GORDA, Zeta Duarte, mais envolvida com a parte da produção e da técnica. “E vamos repor o «Hoje não há teatro», um espetáculo com que estivemos dois anos em cena e que surgiu da trilogia do «Bailarinas e Pezinhos de Xumbo». Provavelmente vamos fazer as três seguidas em março, se conseguirmos, porque envolve muita gente em palco” .
Três ou quatro produções anuais para uma dupla que não vive do teatro, cada qual com a sua atividade profissional bastante exigente, é obra, mas João e Joaquim esclarecem que a GORDA não são apenas duas pessoas e que cada peça tem uma equipa própria de trabalho. “Também não somos apologistas de pedir subsídios ou apoios financeiros, porque isso implica ter uma estrutura e definir projetos. Tira-nos alguma liberdade e faz-nos entrar no mundo da burocracia, o que não nos interessa absolutamente nada, não é a nossa onda”,
E de olhos postos no futuro, a dupla confirma que esta foi a última subida a palco de Zé e Janica e que o grupo vai começar já a preparar os próximos trabalhos e decidir os textos até final de dezembro, para arrancarem os ensaios em janeiro de 2016, com vista a estrear nova peça em março. “Já tivemos a experiência de termos
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ATUALIDADE 15.º CONGRESSO DA ANTRAM REALIZOU-SE EM ALBUFEIRA
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Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários – ANTRAM escolheu mais uma vez Albufeira para realizar o seu Congresso anual, que já vai na 15ª edição, e que este ano coincidiu com a celebração do 40.º aniversário da Associação. O evento decorreu durante dois dias, 23 e 24 de outubro, numa unidade hoteleira da cidade, e contou na Sessão de Abertura com a intervenção do presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Carlos Silva e Sousa, e do presidente da ANTRAM, Gustavo Paulo Duarte.
a sua satisfação pela escolha de Albufeira para a celebração de tão importante marco histórico da vida da associação, destacando a vocação de Albufeira para receber este tipo de eventos. Para além dos diversos painéis, que ao longo do dia abordaram questões importantes para o desenvolvimento do setor, nomeadamente os desafios no contexto europeu, legislação internacional, necessidade de reforçar a intervenção do Governo junto da Comissão Europeia, fiscalidade verde e acesso à profissão de motorista, entre outros, destaquese a realização da exposição fotográfica intitulada «ANTRAM – 40 anos com história» e a abertura do Espaço de Exposições Comercial e do Parque de Exposições de Veículos .
Carlos Silva e Sousa salientou a importância nacional da ANTRAM e da ação dos seus associados, bem como
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AGE VOLTOU A SER UM SUCESSO
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quarta edição do «AGE – Soluções de Emprego & Empreendedorismo» superou todas as expectativas da organização, naquela que já é considerada uma das mais importantes iniciativas realizadas no sul do País na área do emprego, empreendedorismo e divulgação de cursos e ações de formação. O destaque vai para as sessões de esclarecimento e workshops, que
decorreram na sala B, quase lotada, e que pretenderam dar resposta às questões do emprego, empreendedorismo e incentivos na área da criação de projetos e preparação de candidaturas. Empresários, cidadãos desempregados ou à procura de ajuda para criar o seu próprio
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negócio, estudantes de escolas profissionais e ensino secundário voltaram a marcar presença no certame, que contou com a presença de 28 entidades que, à semelhança das edições anteriores, disponibilizaram balcões de atendimento permanente, onde os visitantes puderam recolher informação diversificada sobre sistemas de incentivos, ofertas de emprego, soluções para criar o próprio negócio, programas de financiamento, oportunidades de empreendedoris mo, licenciamento de projetos, entre outras questões pertinentes. Carlos Silva e Sousa voltou a realçar a importância da iniciativa, que considera estar vocacionada essencialmente para os jovens. “Queremos que tenham a possibilidade de ver a diversidade que disponibilizamos neste espaço, quer em termos de oferta formativa quer de emprego. Os jovens representam o nosso presente e o nosso futuro, é importante dotá-los das ferramentas necessárias para que desenvolvam competências e sejam felizes, sobretudo no trabalho, se gostarmos do que 46
fazemos conseguimos produzir o dobro com metade do esforço. Por isso, é tão importante ter a capacidade de tomar as decisões que nos irão marcar para o resto da vida”, frisou o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, destacando que a inovação e o empreendedorismo são questões que devem estar na ordem do dia numa sociedade que é cada vez mais competitiva. Carlos Baía, delegado do Instituto de Emprego e Formação Profissional, parceiro do evento desde a primeira hora, felicitou a Autarquia por continuar a apostar na iniciativa, aproveitando para relembrar que aquando da primeira edição, há quatro anos, o cenário era completamente diferente. “O Algarve tinha cerca de 40 mil desempregados, hoje temos pouco mais de 16 mil, na altura o mote era agir, levar as pessoas a tomarem iniciativa para encontrarem emprego porque o mercado de trabalho estava fechado. Atualmente, aprazme registar que o cenário é completamente distinto; há empresas que criam emprego e novos setores de atividade a surgirem no Algarve a precisar de trabalhadores qualificados”. O responsável destacou que, no final da presente época alta, o IEFP já não teve capacidade para responder às solicitações de emprego na área da cozinha, mesa, receção – exemplo que apresentou para afirmar que existem oportunidades para os jovens no Algarve, quer no principal setor de atividade, o turismo, quer no setor agrícola, no setor do mar, na área da multimédia e tecnologias de
informação, onde também começam a surgir necessidades de postos de trabalho. “As ofertas existem, mas para profissionais qualificados … os jovens devem saber fazer uma boa escolha, primeiro a nível do percurso educativo e formativo e posteriormente no que diz respeito à construção desse mesmo percurso. Nesta feira temos as condições que permitem ter um contacto próximo com esta realidade, com essas ofertas de emprego e de formação, para que possam começar a refletir e a construir o vosso futuro”. Paulo Freitas, presidente da Assembleia
Municipal de Albufeira, reiterou a importância da qualificação profissional ao longo da vida, independentemente da qualificação académica, idade e profissão. “A formação é sempre um elemento diferenciador num mercado que se caracteriza pela concorrência”, referiu, sublinhando que o AGE tem tido uma intervenção preponderante na oferta de oportunidades de emprego e na área do empreendedorismo .
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LAGOA APRESENTOU CANDIDATURA PARA CIDADE DO VINHO 2016 concelho de Lagoa como na região, fruto do empenho e trabalho dos agentes económicos e dos produtores, verdadeiros empreendedores que encontraram nesta região condições favoráveis para uma atividade com sucesso de que têm resultado vinhos premiados internacionalmente. Sendo o Algarve um destino turístico internacionalmente conhecido e que recebe, anualmente, milhões de visitantes, provenientes dos quatro cantos do mundo, assume-se, pois, como uma privilegiada montra para a promoção do que de melhor se faz em Portugal, incluindo a produção de vinho.
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endo em conta a ligação ancestral do concelho de Lagoa à produção agrícola em geral e à vitivinícola, em particular – um legado que importa preservar e potenciar, enquanto fator diferenciador e contributo importante, na atual conjuntura, para a promoção de um desenvolvimento económico sustentável – a Câmara Municipal de Lagoa deliberou apresentar a candidatura a «Cidade do Vinho 2016», promovida pela AMPV – Associação de Municípios Portugueses do Vinho, com o intuito de contribuir para valorizar a riqueza, a diversidade e as características comuns da cultura do vinho e de todas as suas influências na sociedade, paisagem, economia, gastronomia e património dos territórios.
A candidatura de Lagoa a «Cidade do Vinho 2016» conta com o apoio e a parceria de uma centena de entidades, nomeadamente autarquias, entidades administrativas e agentes económicos, de toda a região algarvia, tratandose, por isso, de uma candidatura de abrangência supramunicipal. De referir que os Municípios candidatos tiveram de elaborar um programa anual de ações culturais, de formação e sensibilização ligadas ao vinho, com visibilidade nacional e respetivo orçamento, explorando as suas particularidades e dando provas de criatividade, tendo em conta critérios como o reforço da sensibilidade para a cultura e tradições do vinho, mobilização da comunidade, consolidação dos vínculos com a região e com todos os territórios vitivinícolas portugueses, entre outros, sendo, acima de tudo, um projeto catalisador para o desenvolvimento da cidade .
Tem-se verificado, particularmente ao longo da última década, um crescimento do setor vitivinícola, quer em termos da quantidade quer da qualidade dos vinhos produzidos, tanto no
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LOULETANOS VÃO PAGAR MENOS IMPOSTOS EM 2016 outro lado, o Município de Loulé irá igualmente reduzir a taxa de IMI no Concelho de Loulé, em 2016, no caso de famílias com filhos, com imóvel destinado à habitação própria e permanente: 10%, 15% e 20% consoante exista um, dou ou três dependentes, respetivamente.
Câmara Municipal de Loulé vai reduzir a carga fiscal em 2016, cumprindo uma das promessas eleitorais do executivo liderado por Vítor Aleixo. Depois de dois anos em que a aposta orçamental passou fundamentalmente pela consolidação financeira, a Autarquia está neste momento em condições de baixar os impostos, situação possível pelo facto de ter realizado o pagamento antecipado do PAEL – Programa de Apoio à Economia Local, no final de 2014, libertando-se do resgate financeiro a que estava sujeita desde 2012.
Na senda do que tem sido aprovado nos últimos anos, tendo em vista o combate à desertificação das zonas do interior, as freguesias de Alte, Ameixial, Salir e União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim terão uma taxa minorada de 30% de IMI. Por outro lado, no que concerne ao IRS, a Autarquia irá devolver parcialmente a participação municipal no IRS dos sujeitos passivos com domicílio fiscal no Concelho, como forma de compensação das perdas dos munícipes em virtude da aplicação da sobretaxa por parte do Governo. Assim, enquanto durar a aplicação desta sobretaxa, a Autarquia de Loulé irá reduzir a taxa de IRS em 1%, fixando a mesma em 4%, prescindindo assim de 20% do valor que cabe ao Município no IRS de cada um dos seus munícipes.
Assim, como forma de aliviar as famílias, a Câmara irá baixar a taxa geral do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) e reduzir, de acordo com o máximo permitido por lei, a taxa do IMI para as famílias com filhos, uma possibilidade dada aos municípios pelo Orçamento do Estado para 2015. Desta forma, esta taxa irá sofrer uma redução de mais de 2,5% face ao valor de 2013, passando a mesma para 0,38% a aplicar aos prédios urbanos avaliados nos termos do CIMI, atingindo os 5% de redução nestes dois anos de mandato. Por
De acordo com o Orçamento para 2016, 60 por cento da receita tem origem nos impostos municipais – IMI, IMT e Derrama, mas este será o último ano em que o Município irá arrecadar a totalidade de uma das suas principais fontes de receita – o IMT – já que a partir de 2017 haverá uma redução deste imposto (1/3 em 2017, 2/3 em 2018 e a totalidade em 2019). No entanto, os responsáveis municipais garantem que, fruto do equilíbrio financeiro alcançado nos últimos dois anos, a Câmara Municipal de Loulé não terá problemas financeiros .
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AUTARQUIA DE LOULÉ VOLTA A APOIAR GRUPOS TEATRAIS DO CONCELHOS
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ecorrem até ao dia 31 de dezembro de 2015 as candidaturas para a Bolsa de Apoio ao Teatro 2016, iniciativa da Autarquia de Loulé dirigida aos grupos de teatro amador e/ou profissional do Concelho de Loulé, com personalidade jurídica. Os grupos candidatos deverão apresentar propostas de espetáculos de teatro inéditos, ou seja, que nunca tenham sido apresentados. O grupo será obrigado a fazer três representações, com início no mês de março de 2016, no âmbito do programa do CENÁRIOS - X Mostra de Teatro promovida pela Câmara de Loulé. Nas propostas a apresentar, os candidatos deverão ter em conta que as peças de teatro deverão estar adequadas aos mais variados públicos, tendo em consideração a diversidade do Concelho, às dimensões e equipamento técnico dos palcos, ao tempo de duração do espetáculo (máximo 90 minutos), ao tempo de montagem e desmontagem do espetáculo,
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bem como à utilização da língua portuguesa como idioma dominante no texto da peça. As propostas deverão ser apresentadas junto à Divisão de Cultura e Património da Câmara de Loulé, ou enviadas pelo correio para a Divisão de Cultura e Património, Rua ViceAlmirante Cândido dos Reis, nº 36, 8100 Loulé. Em cada candidatura deverão constar dados técnicos das peças, nomeadamente o título da peça, nome do encenador, sinopse, duração, número de elementos intervenientes e respetivos nomes, entre outros. A verba total a atribuir aos grupos é de 25 mil euros, sendo que 7 mil e 500 euros são para aquisição de material de som e luz, três mil euros para aluguer de material de som e luz e 14 mil e 500 euros para as produções. A todos os apurados será igualmente atribuído um subsídio para despesas tidas com alimentação e deslocação. A verba é atribuída mediante a pontuação dada após análise dos critérios de avaliação realizada por um júri composto por uma individualidade de reconhecida idoneidade artística e por dois técnicos da Autarquia. O conteúdo, a criatividade/originalidade, a adequação aos espaços dos espetáculos e público e o currículo do grupo/encenador são os critérios de avaliação para atribuição do apoio .
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EDIFICAÇÃO DE UM HOSTEL COLOCOU A DESCOBERTO PANO DE MURALHA
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o âmbito de obras de edificação de um Hostel Cultural, na Rua Dr. Ernesto Cabrita - n.º 19 a 33, promovidas pela Academia de Música de Lagos / Conservatório de Música de Portimão, foi colocado a descoberto o pano da muralha tardo-medieval de Vila Nova de Portimão. A apreciação deste licenciamento teve em consideração, desde o primeiro momento, o facto de o edifício em questão integrar na sua zona posterior a estrutura defensiva tardo-medieval, classificada como Imóvel de Interesse Público (D.L. 45/93 de 30 de Novembro). Considerando a localização do edifício, foram assim implementadas medidas de proteção ao património arqueológico e arquitetónico, que permitiram o registo de realidades associadas à ocupação da zona durante o século XVI. A intervenção arqueológica, dirigida por Fernando Pereira dos Santos e Ana Bica Osório (Engobe, Arqueologia e Património Cultural, Lda.), possibilitou também a identificação de uma pequena porta da muralha (poterna), não registada em nenhuma da cartografia antiga conhecida. O pano da muralha tardo-medieval de Vila Nova de Portimão, incluindo o caminho de ronda desta estrutura defensiva, irá ser incorporado no projeto, valorizando-o e permitindo aos utentes do espaço usufruir destes valiosos testemunhos da evolução da cidade de Portimão. De referir também, que a fachada do novo edifício continuará a ser representante da arquitetura vernacular da Vila Nova de Portimão, uma vez que a sua reconstrução irá incorporar as cantarias originais e manter a mesma traça. O processo de licenciamento e de acompanhamento da intervenção arqueológica contou com a participação do Sector do Património do Museu
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de Portimão e da Direcção Regional de Cultura do Algarve (DRCAlg). A construção da referida muralha iniciou-se no século XV, em 1462, aparentemente sob as ordens de Afonso V, sendo continuada em 1476 pelo donatário escolhido pelo rei – Gonçalo Vaz de Castelo Branco. A muralha da Vila Nova de Portimão delimitava um polígono irregular com cerca de 6,5 hectares, estendendo-se desde o rio até ao interior. A construção dos panos da muralha em «dentes de serra» assenta aparentemente no substrato rochoso, possuindo uma espessura média de 1, 60 m e uma altura original entre os cinco e os seis metros. Desta forma, reforçada por baluartes e torreões, permitia uma vigilância eficaz. A vila intramuros cresceu a partir de três eixos: a Porta da Ribeira, a Porta da Serra e a Porta de S. João. A partir do século XVII a Vila de Portimão iniciou a sua expansão extramuros, sendo a própria muralha integrada nas novas construções. No século seguinte a muralha já não cumpria a sua função defensiva .
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VILA DO BISPO PATROCINA ATLETA DE TRIATLO E DUATLO
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om o objetivo de apoiar a participação do atleta de triatlo e duatlo, Carlos Duarte, nas suas provas desportivas a realizar ao longo do ano 2016, Adelino Soares, presidente da Câmara Municipal de Vila do Bispo, assinou, no dia 27 de outubro, um contrato de patrocínio com o atleta na quantia de mil euros. Como contrapartida deste apoio, o atleta fica obrigado a inserir o logótipo do município ou outros elementos promocionais nos equipamentos usados durante as provas, em local e de forma visível, bem como, fazer referência ao patrocínio da Câmara Municipal nas ações de divulgação na internet, e ainda à inserção do logotipo ou menção do patrocínio em todas as ações de comunicação com os media. Adelino Soares considera que este montante representa um contributo na comparticipação das despesas do atleta e contribuirá para a melhoria das condições da sua participação nas provas que irão decorrer ao longo do próximo
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ano. O atleta é federado, na categoria de seniores, e tem participado em diversas provas de triatlo e duatlo tais como: Campeonato Nacional de Triatlo A. G. Peniche 2015 (10.° classificado); Campeonato Regional de Triatlo 2015 (13.° classificado); Taça de Portugal 2015, Triatlo de Quarteira (47.° classificado); Campeonato Nacional de Clubes 2015, Triatlo de Vila Real de santo António (47.° classificado); Taça de Portugal 2015, Triatlo de Quarteira (47.° classificado); Campeonato Nacional de Duatlo A G Tagarro 2015 (9.° classificado); Campeonato Nacional de Triatlo A. G. Peniche 2014 (12.° classificado); Triatlo Martinhal 2014 (5.° classificado), entre outros. Em 2016, Carlos Duarte pretende participar em várias provas onde se destacam a Maratona de Sevilha; Campeonato Nacional de Duatlo Tagarro; Triatlo de Altura (Taça de Portugal); Triatlo de Vila Real de santo António; Triatlo de Quarteira (Taça de Portugal); Triatlo da Luz; Triatlo do Sabugal (Campeonato Nacional de Clubes); Meia Maratona de Lagos; Triatlo Longo de Lisboa; Campeonato Regional de Triatlo (Albufeira); Triatlo longo de Caminha; Campeonato Nacional de Triatlo A G Peniche; Triatlo de Armação de Pêra; Triatlo longo de Cascais; Campeonato Nacional de Individual de Triatlo de Lisboa; Triatlo do Martinhal; Iberman Espanha e Portugal; Triatlo longo do Algarve (Vilamoura) .
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VILA DO BISPO ASSINA PROTOCOLO COM A ASSOCIAÇÃO ROTA VICENTINA
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município de Vila do Bispo e a Associação Rota Vicentina assinaram, no dia 27 de outubro, um protocolo de colaboração que tem como objetivo o desenvolvimento do projeto «Rota Vicentina», nomeadamente a sua manutenção, gestão e coordenação, bem como a preparação de novas iniciativas que respondam às necessidades do projeto e dos seus beneficiários na área do nosso concelho. A Rota Vicentina é uma rede de percursos pedestres ao longo do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, que atravessa os municípios de Vila do Bispo, Aljezur, Odemira, Sines e Santiago do Cacém numa aposta unânime entre privados e públicos, que encontram no Turismo de Natureza uma via de desenvolvimento incontornável para esta região. O referido documento define as competências de cada uma das partes para, deste modo, alcançar os principais objetivos estabelecidos no mesmo, ou seja, sensibilizar, promover, comercializar, vender, informar e formar. Garantir a qualidade do traçado, trilhos e sinalética, dinamizando uma equipa de voluntários que se responsabilizem pela monitorização e trabalhos mais leves,
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percorrendo todo o traçado anualmente para verificação da condição do mesmo e sinalética existente, envolvendo as juntas de freguesia e o próprio município em casos de maior complexidade técnica; dinamizar toda a componente de sensibilização junto dos diversos públicos-alvo, atendendo às necessidades específicas de comunidades locais e institucionais; promover a Rota Vicentina enquanto infraestrutura pública e produto turístico do concelho e da região, no pressuposto da sua vertente maioritariamente privada e autossustentável, a nível local, nacional e internacional, com todos os meios disponíveis ao seu alcance e em parceria com outras entidades parceiras; investir nos seus ativos comerciais e promocionais, dar apoio técnico às empresas locais associadas na correta exploração comercial da Rota vicentina, com vista ao aumento do impacto económico do projeto no concelho e na região são algumas das competências da Associação no âmbito deste protocolo. À Câmara Municipal de Vila do Bispo compete, entre outros aspetos, disponibilizar anualmente à Associação o valor de três mil e 600 euros para garantir a execução do projeto em todas as suas vertentes no concelho; apoiar o trabalho técnico de manutenção dos trilhos, colaborar na componente de sensibilização junto dos seus colaboradores, parceiros locais e regionais/nacionais, entre outros. Recorde-se ainda que a Rota Vicentina totaliza 400 quilómetros para caminhar ao longo da mais bela e bem preservada zona costeira do sul da Europa, envolvendo formalmente 120 empresas, o que contribui para o estímulo da economia local, em particular nos períodos de época média e baixa . 58
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RALLYE CASINOS DO ALGARVE ESTÁ AO VIRAR DA ESQUINA
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o âmbito de «Loulé Cidade Europeia do Desporto 2015»», a prova rainha do Clube Automóvel do Algarve regressa aos pisos de terra de Loulé e São Brás de Alportel, nos dias 7 e 8 de novembro, encerrando o Campeonato Nacional de Ralis. Depois do sucesso da Taça de Portugal de Ralis, o Rallye Casinos do Algarve está de regresso ao CNR, e coube novamente ao Clube Automóvel do Algarve colocar na estrada o rali que irá definir as contas da temporada 2015. Vinte anos depois, a principal prova de ralis algarvia regressa aos pisos de terra, representando uma mudança para a zona de Loulé e S. Brás. O conhecimento do terreno e a experiência acumulada do Clube Automóvel do Algarve tornaram possível montar uma prova muito equilibrada e com pisos apelativos à prática dos ralis, comprovado com a passagem do WRC no Algarve. O centro nevrálgico da prova será em Loulé, onde está localizado o Secretariado e o Parque de Partida, na Praça da República.
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O rali, com 120 quilómetros cronometrados, será disputado em dois dias, com o primeiro a usar uma ronda dupla pelos troços no Concelho de S. Brás de Alportel (totalizando 36 quilómetros). Decorrerá ainda uma cerimónia simbólica de partida no centro de São Brás, no entanto a assistência será no Parque Bonnet (Loulé). No segundo dia, o pelotão ruma para as serras do Concelho de Loulé. A fim de agilizar as assistências e reduzir distâncias, o Parque de Assistência será na Cortelha, onde também existirá uma zona de público. As especiais do Ameixial (17,79 quilómetros) e Salir (22,85 quilómetros) são o prato forte. O rali acaba com a cerimónia de pódio marcada para as 15h, no centro de Loulé. O Rallye Casinos do Algarve também é elegível para o Campeonato FPAK de Ralis Sul. Impossibilitado regulamentarmente de acompanhar o CNR, o pelotão do «regional sul» apenas disputa cinco provas especiais, percorrendo 72,54 quilómetros de contrarrelógio, no entanto, passará por todos os troços do rali. Associando-se novamente à «Loulé Cidade Europeia do Desporto 2015», o Rallye Casinos do Algarve tem o patrocínio da Solverde – Casinos do Algarve, Acrimolde, Hydraplan e os apoios da Região de Turismo do Algarve e das edilidades locais de Loulé e São Brás de Alportel .
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ALGARVE GANHA MELHOR FILME PORTUGUÊS DE TURISMO DE NATUREZA
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vídeo promocional da «Algarve Nature Week», evento que este ano juntou milhares de turistas e algarvios em torno de várias atividades ao ar livre na região, foi eleito o melhor filme português do festival na categoria de «Turismo Rural e de Natureza». O filme distinguido foi um trabalho da produtora algarvia Margem Produções para a Região de Turismo do Algarve e contou com direção e argumento de João Viegas e direção de fotografia e edição de Pedro Matos. Cada filme inscrito no festival ART&TUR, um dos mais prestigiados a nível mundial, é submetido a vários processos de seleção pelos
diferentes membros do júri e é avaliado de forma independente em seis critérios, da temática até à produção. A 8ª edição do evento teve a participação recorde de 256 filmes turísticos, competindo em 15 categorias temáticas, entre as quais a de «Turismo Rural e de Natureza». O turismo de natureza é um produto em ascensão na Europa, estimando-se que venha a motivar cerca de 26 milhões de viagens em 2020. O Algarve tem cerca de 40 por cento de área com estatuto de conservação, oferecendo 19 áreas classificadas – cinco protegidas e 14 integradas na Rede Natura 2000. A primeira edição da Algarve Nature Week, entre 11 e 19 de abril, mostrou a beleza natural do destino a milhares de pessoas que procuraram atividades ao ar livre com descontos especiais. Em 2016, o evento regressará com mais promoções e novas experiências .
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