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É um facto! Casamos mais tarde e gastamos menos dinheiro ALEXANDRA GONÇALVES FALA DA CULTURA NO ALGARVE

O OUTRO LADO DE FRANCISCO AMARAL AS ESCULTURAS COM HISTÓRIA DE CARLOS CORREIA 1

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#32 SUMÁRIO

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ALEXANDRA GONÇALVES

FRANCISCO AMARAL

CARLOS CORREIA

8 FEIRA DE NOIVOS Algarve Informativo #32 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Fotografia de capa: Daniel Pina Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930 As notícias que marcam o Algarve em algarveinformativo.blogspot.pt

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OPINIÃO UM ÓDIO DE ESTIMAÇÃO PELO ALGARVE… DANIEL PINA Editor/Jornalista

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pronto. Este ano não tivemos nenhuma Clara ou Henrique a escrever mal do Algarve num jornal ou revista de expressão nacional, houve um fulano qualquer do Reino Unido a dizer que a comida portuguesa, e a algarvia, é uma porcaria, nada que tivesse chateado muito, mas não podia terminar o ano sem aparecer um «cromo», que até se intitula «comediante», a aproveitar as inundações que destruíram parte de Albufeira, e que afligiram igualmente outros pontos da região, para largar umas bujardas pela boca fora no Facebook. Queixa-se que é mal atendido, que os algarvios só tratam bem os estrangeiros, goza com a tragédia que se abateu sobre dezenas de empresários e que afeta diretamente as suas vidas, dos seus familiares, dos seus empregados e como, pelos vistos, é adepto dos queixumes, depois queixa-se das críticas de que foi alvo graças aos seus comentários. Se escreveu aquelas alarvidades na posse total das suas faculdades mentais, é realmente uma pessoa muito triste e que merece pouca ou nenhuma consideração. Quase que dá vontade de desejar que lhe aconteça o mesmo que às gentes de Albufeira, mas eu fui educado a não desejar aos outros aquilo que não desejo para mim. Se escreveu aquelas baboseiras a tentar ter graça, visto intitular-se «comediante», mostrou que ainda é pior como humorista do que como ser humano. Deve julgar-se um Herman José, Ricardo Araújo Pereira ou Nuno Markl, mas a verdade é que são muitos poucos aqueles que podem dizer umas piadas sobre tragédias humanas sem ultrapassar os limites do bom-senso e sem gerar o repúdio generalizado. Sem querer dar mais tempo de antena a quem não o merece, verifico, contudo, que há por ai muita gente com um verdadeiro ódio de estimação em relação ao Algarve e que, volta e meia, quando lhe salta a tampa, ou quando acontece na região algo de negativo e com bastante mediatismo, abrem as

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comportas da baboseira e lá vai de debitar palavras ou caracteres com extremo mau gosto. O que noto, todavia, é que todos esses profetas da parvoíce não passam um Verão sem vir gozar férias ao Algarve, se calhar em visitas de estudo para ver o que podem criticar depois de regressarem às suas vidinhas em Lisboa, no Porto ou noutra qualquer grande metrópole. Ou, muito provavelmente, saem do Algarve com tanta inveja da qualidade de vida que cá temos depois de eles se irem embora, que não conseguem conter a verborreia. Mais preocupante é ver um governante a dizer que Albufeira foi atacada por ondas demoníacas, que um idoso que faleceu nas cheias «se entregou a Deus», que as inundações devem servir de lição aos empresários que não têm seguro que cubra os estragos, tudo para tentar que a tragédia de Albufeira não seja declarada de calamidade pública, quiçá porque o Governo não tem dinheiro para ajudar quem dele mais precisa nos seus momentos de desespero, as mesmas pessoas que pagam religiosamente os seus impostos, vá-se lá saber para onde vai todo esse dinheiro. Mas quando há inundações no norte de Portugal, ou cheias e derrocadas na Madeira, é logo declarado o estado de calamidade pública, toca a mandar milhões de euros para ajudar na reconstrução, toca a fazer concertos com bandas e artistas de topo para angariar fundos para ajudar as famílias desalojadas. Já para o Algarve, nada que se pareça. Aliás, deixo aqui uma ideia – parva, eu sei, que tolo que eu sou em sequer pensar nela – mas o Anselmo Ralph até podia abdicar do cachet do concerto que vai dar na Praia dos Pescadores na passagem de ano para ajudar precisamente na reconstrução desse local idílico do Algarve e para ajudar os comerciantes da baixa de Albufeira a reerguer-se. Eu sei, mas que ideia tão parva que eu fui ter. Mas que era um gesto bonito, lá isso era… . 6


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REPORTAGEM

É um facto! Casamos mais tarde e gastamos menos dinheiro A Quinta Monte Vale D’Éguas, em Almancil, foi palco, no fim-de-semana de 30 de outubro a 1 de novembro, de uma feira de noivos que reuniu diversas empresas ligadas a esse dia tão especial na vida das pessoas: o casamento. O glamour foi uma constante neste local que é um dos preferidos dos algarvios para realizarem a sua boda e muitos foram os casais que aproveitaram para ver as ofertas apresentadas e compararem preços, sempre com o intuito de organizarem um dia de sonho mas com a dura realidade dos orçamentos disponíveis serem mais reduzidos do que noutros tempos. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #32

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mulher conhece o homem dos seus sonhos, o homem encontra a sua cara-metade, namoram, mais ou menos tempo consoante as situações, conhecem-se as famílias, casam-se, têm filhos e são felizes para sempre… Ou talvez não… Mas vamos concentrar-nos nas histórias com um final cor-de-rosa. Era assim antigamente. Ou, como se costuma ver nos livros de fadas, «Era uma vez…». De há uns anos para cá, se calhar na última década, a história mudou um bocadinho, por isso, vamos começar outra vez. A mulher conhece o homem dos seus sonhos, o homem encontra a sua cara-metade, namoram, mais ou menos tempo consoante as situações, conhecem-se as famílias, dão-se todos bem, juntam-se, têm filhos e são felizes para sempre. Anos mais tarde, quando a vida está mais orientada, nomeadamente a parte financeira, os pais aproveitam a cerimónia do

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batizado dos filhos e casam-se também, é o dois em um, juntam-se as famílias e os amigos todos numa só festa e fica a despesa mais em conta. Este tem sido, de facto, o cenário mais habitual nos tempos modernos, com a ligeira nuance, nos últimos anos, de que a fase do namoro se prolonga mais no tempo, as pessoas ficam até mais tarde a viver na casa dos pais, pelo menos enquanto não têm certeza de que os empregos estão seguros, de que o mealheiro está mais cheio, de que o sentimento é mesmo amor, não uma simples paixoneta que desaparece ao fim de um ou dois anos. Depois, pensam então em juntar-se e, mais tarde, casar-se. Não admira, por isso, que as múltiplas empresas envolvidas no ramo dos casamentos tenham sofrido bastante com a crise que se tem vivido em Portugal, com o número de

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cerimónias a diminuir significativamente e os orçamentos disponíveis para todo o aparato a cair a pique. E não estamos apenas a falar em lojas de vestidos de noiva, noivo, padrinhos e madrinhas, damas de honor e demais acompanhantes e familiares. São as alianças, adereços, sapatos, lingerie, livros de honra, bolos, música, catering, local para a boda, hotel para a noite de núpcias, destino paradisíaco para a lua-de-mel. Foi todo um ramo de atividade que abanou ou tremeu, conforme os

anos de existência e a almofada financeira de cada um, mas as várias empresas que estiveram na feira de noivos realizada na Quinta Monte Vale d’Éguas, em Almancil, entre 30 de outubro e 1 de novembro, indicaram à reportagem que o pior parece ter passado e que os portugueses voltaram a casar ao ritmo de antigamente, ainda que com menos dinheiro para gastar e muito melhor informados daquilo que Cátia Lopes

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pretendem, graças à internet e, sobretudo, ao fenómeno do Facebook. Cátia Lopes encontrava-se junto do seu atelier de acessórios de noiva, sedeado em Montenegro, concelho de Faro, para dar a conhecer uma panóplia de peças de bijuteria direcionadas para as noivas, desde colares, brincos e tiaras, bem como outros itens Irondina Santos

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indispensáveis no casamento, tais como livros de honra, espátulas, flutes. Em atividade há uma década, confirma que os efeitos da crise se sentiram no ramo e que as pessoas deixaram de adquirir pacotes completos em prol de peças individuais e que realmente fazem falta. “Fazemos promoção em revistas, através do Facebook e da página de internet e participamos neste género de eventos para divulgar os nossos produtos. Clientes são de tudo um pouco, desde os mais novos até aos

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mais velhos que querem assinalar as bodas de prata e de ouro. O grande chamariz é a parte da bijutaria e normalmente são as noivas e as mães que vão escolher. Só depois é que trazem também os noivos, os homens não têm muita paciência para estas coisas”, conta a empresária, com um sorriso, adiantando que os clientes não costumam queixar-se muito dos preços. “Temos produtos para todos os valores, uma peça de bijuteria custa «x», um livro de honra «y», tudo depende dos orçamentos”.

todo que se vê em programas de televisão para escolher os vestidos também acontece na realidade. Há quem se apaixone logo pelo primeiro ou segundo modelo que vê e, nesses casos, o processo é mais fácil, mas depende da personalidade de cada um, das expetativas que têm em relação ao casamento”, explica a

Elsa Guerreiro é a proprietária da «Amores Perfeitos», loja de Faro especializada há 12 anos em todo o vestuário para casamento, desde as noivas e noivos aos acompanhantes, damas de honor ou padrinhos. “As pessoas cada vez se casam mais tarde, mas o negócio está a melhorar. Tenho clientes mais novos, outros de 50 anos, e aquele aparato Elsa Guerreiro 13

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entrevistada, certificando que os clientes gostam de regatear os preços, apesar de também terem opções para as carteiras menos abonadas. “Atualmente, os orçamentos são mais respeitados do que acontecia há uns anos, não querem fugir muito aos valores que têm destinados para os vestidos”. Vestidos cujo valor médio ronda os mil euros e Elsa Guerreiro lembra que, quem opta por um Leonor Amélia

modelo mais barato, não pode esperar que tenha a mesma qualidade. “Não temos a vertente da confeção, mas é sempre possível, dentro de alguns limites, adaptar-se os vestidos que temos para vender aos gostos pessoais das noivas”, destaca. “Quando as coisas correm bem com o vestido da noiva, é costume os acompanhantes, madrinhas, padrinhos, adquirirem também ali os seus trajes, mas os clientes estão cada vez mais informados do que existe no mercado”, adianta, daí ser importante estar nas redes sociais. “Acaba por ser mais vantajoso do que fazer publicidade em revistas da especialidade. Notamos é que as noivas prescindem da lingerie ou de sapatos de qualidade e dão mais atenção ao vestido, que é o principal, o item mais visível. Os orçamentos estão, de facto, mais baixo do que há 10 anos, portanto, cortam naquilo que se vê menos”. Sílvia Martins abriu há 11 anos, em Loulé, a «Enlaces», loja de vestidos de

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noiva, mães e madrinhas e não notou uma grande quebra no número de clientes, apesar da crise que continua a assolar o país. “A diferença é que já chegam com um conceito mais definido, porque estamos sempre a atualizar o nosso sítio da internet e a página do Facebook. Logicamente que depois pedem o nosso conselho, se o vestido lhes assenta bem, o normal”, conta, embora admita que algumas clientes querem vestir quase a loja toda. “A Sílvia Martins maioria diz é logo o valor que tem para gastar, por isso, só mostramos modelos que respeitem esse limite. Também há noivos que costumam vir à loja, mas muitas mulheres A «Bem Manjar» é a empresa de catering e continuam a querer que seja uma surpresa no organização de eventos de Leonor Amélia, dia do casamento”, continua, referindo ainda sedeada no Alentejo há 12 anos mas com que agosto, setembro e outubro são os meses clientes espalhados por toda a zona a sul do Rio mais fortes para se dar o nó. “Vemos é cada vez Tejo, dai ter marcado presença nesta feira dos mais pessoas na faixa dos 30 e 40 anos a casar e noivos da Quinta Monte Vale D`Éguas. Em início esses já não dependem financeiramente dos de depoimento, assume que todos sentiram a pais ou dos padrinhos, são eles que pagam crise neste ramo de atividade, quebras que se tudo. Podem escolher vestidos ou fatos de uma continuam a verificar em 2015, mas há também gama mais baixa para poupar dinheiro, temos a esperança de que o cenário melhore no curto modelos a partir dos 300 e poucos euros”. prazo. “Nós estamos na fase do boca-a-boca, os

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Noélia Casanova clientes que nos procuram já nos conhecem através de eventos onde foram como convidados. Chegam com orçamentos bem definidos, mas com alguma flexibilidade para terem a sua festa de sonho”, diz, sublinhando que há pacotes da «Bem Manjar» onde já estão incluídas as flores, a música e o bolo de noiva. “No que toca ao espaço da boda, há quem tenha uma ideia bem firme de onde querem realizar a cerimónia, caso contrário, nós sugerimos algumas opções com quem trabalhamos com regularidade para poderem escolher. As pessoas estão muito bem informadas graças à internet, têm a informação toda disponível no Facebook e nós depois ajudamos a que seja algo exequível e dentro do orçamento de cada um”. Ainda sobre o perfil de clientes, Leonor Amélia revela que há quem chegue com tudo pensado na cabeça, outros colocam-se quase nas mãos dos organizadores de eventos e há ainda aqueles que estão a mudar constantemente de opinião. “Mas essa consultadoria faz parte do nosso trabalho, não há noivos chatos”, garante, com

um sorriso, frisando que este negócio não é para todos e que só sobrevivem os mais antigos e com maior qualidade. “Não vejo muitas empresas novas a aparecer, somos basicamente

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os mesmos de há 12 anos. Não existem muitos paraquedistas porque é uma área bastante trabalhosa e o nosso «querido» Estado leva-nos 23 por cento de IVA. Não conseguimos aumentar os preços praticados, estagnamos completamente nesse aspeto, o que corta na rentabilidade, mas vamos ver o que o futuro nos traz”. Irondina Santos é a proprietária da «Loulé Doce», empresa que nasceu em Loulé há 30 anos e que tem pastelaria fresca, pastelaria de duração e bolos de casamento. “Há crise, mas continuam a haver apaixonados que se casam e são mais exigentes com os bolos, querem personalizá-los. E mais alternativas e variedade implica mais formação para os nossos profissionais”, sublinha a «Sara dos Bolos», confirmando que também divulga bastante o seu negócio através das redes sociais. Variedade que também se nota nos próprios sabores e vem-nos à memória as típicas cenas de provas de massa com os noivos, pais e padrinhos. “Fogem ao tradicional, inovam também nos sabores e são normalmente seis pessoas a provar tudo. Há clientes que decidem depressa, outros voltam e voltam, mudam de ideias várias vezes, são mais indecisos”. Claro que o modelo dos bolos tem que ser encomendado com algumas semanas, até meses de antecedência, para que a fábrica organize o seu calendário, já o tipo e sabor da massa podem

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Lénia Vieira da Silva ser modificados até alguns dias antes do casamento. “Há coisas que têm que ser modeladas com tempo e calma, flores, bonecos, adereços. Preços? Depende sempre da carteira de cada um. Há quem queira aquele bolo específico e não se importe de pagar, outros fazem contas ao que podem comprar. Há bolos dos 100 aos dois mil euros”, indica Irondina Santos, mostrando-se um pouco preocupada com a concorrência que chega dos privados que confecionam bolos nas suas próprias residências. “Nessas situações não se pode controlar a qualidade. As empresas que estão no mercado são fiscalizadas, é uma concorrência legal, o perigo mora em quem faz bolos em casa”, avisa. A Sapataria «Globo Dourado» de Noélia Casanova também não faltou a esta feira de noivos, há 16 anos em atividade em Loulé e com uma ampla variedade de calçado a pensar em datas especiais. “Já se nota uma maior margem de manobra quando vão comprar os sapatos para o casamento, não regateiam tantos os preços como há uns anos. Aliás, as pessoas nem casavam tanto”, observa a empresária, salientando que as clientes não perdem muito tempo com as escolhas. “Sabem quais são os modelos que melhor combinam com os vestidos, estão bem informadas. E já não se limitam aos tradicionais sapatos brancos, compram vermelhos, prata, dourado”, acrescenta. E casamento sem aliança não é casamento, pelo que conversamos com Lénia Vieira da Silva, da fábrica Switzer, com atividade no centro e norte do país e que procura agora alargar a sua presença ao Algarve. “Vamos a todas as feiras e temos a produção cheia de janeiro a janeiro. Somos especialistas em alianças de casamento e tentamos oferecer bons preços para a elevada qualidade que temos, porque o mercado assim exige”, refere, falando de alianças para todas as carteiras, gostos e idades. “Verificamos que há muitos casais que já moram juntos, têm filhos e

querem agora casar-se. Em 2012 notou-se, de facto, uma descida dos casamentos, mas parece que as pessoas estão a querer pôr agora a agenda em dia”, diz, pouco depois de ter terminado o desfile de vestidos de noiva de Micaela Oliveira. Quanto à compra em si, Lénia Vieira da Silva constata que varia consoante a zona do país. “Em Lisboa geralmente são os noivos que pagam, no norte, por exemplo, já são os padrinhos, é uma questão cultural. Temos alianças de 200 euros até alguns milhares, varia de acordo com a disponibilidade financeira das pessoas. Somos muito agressivos na internet, mas a decisão ainda é feita, na maior parte das vezes, na loja. As pessoas têm que experimentar, querem ver a aliança no dedo”, frisa, satisfeita por ver os clientes voltarem a preferir qualidade em vez de produtos mais baratos. “Nós nunca abdicamos da qualidade, a Switzer manteve-se fiel à sua essência, apesar da crise. Luxo é luxo, é bom e paga-se”, justifica. Luxo que também se assistiu em cima da passerelle aquando do desfile com os vestidos de Micaela Oliveira, um dos momentos altos da feira que, durante três dias, concentrou as atenções de quem pretende casar nos próximos tempos. Muitos negócios foram feitos, outros ficaram alinhavados para aproveitar os preços e ofertas e parece que, de facto, os algarvios estão a casar-se mais, depois dos anos mais conturbados do pico da crise .

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ENTREVISTA

CULTURA E PATRIMÓNIO CADA VEZ MAIS IMPORTANTES PARA O FUTURO DO ALGARVE Costuma-se dizer que, em tempos de «vacas magras», a Cultura é um dos alvos preferenciais dos portugueses para cortar nas despesas, seja o cidadão comum ou os próprios governantes. Lamentam-se depois as associações, os grupos, as companhias, enfim, os agentes culturais, dos cortes nos apoios e subsídios que estavam habituados a receber ano após ano, mas o rigor orçamental assim o obriga. Hoje, os tempos continuam a não ser de bonança mas nota-se uma nova mentalidade em quem trabalha neste meio, a consciência de que não podem estar a depender de terceiros para assegurar a sua sustentabilidade e capacidade para dinamizar atividades ou projetos. E agora até voltamos a ter, ao fim de tantos anos, um Ministério da Cultura. Assuntos não faltam, portanto, para motivar uma conversa com Alexandra Gonçalves, Diretora Regional da Cultura do Algarve desde 2013. Entrevista Daniel Pina

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lexandra Gonçalves preparase para cumprir, no dia 17 de dezembro, dois anos como Diretora Regional da Cultura do Algarve, depois de uma carreira profissional associada ao ensino universitário no politécnico, nomeadamente como docente na Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve. Licenciada em Marketing Turístico, Mestre em Gestão Cultural com especialização em Património Cultural e Doutorada em Turismo com uma tese sobre «A Experiência Turística nos Museus», foi vereadora da Câmara Municipal de Faro durante o mandato do Presidente Macário Correia, portanto, não é estranha às questões da Cultura. E, na análise da farense de 43 anos, o Algarve tem um tecido cultural interessante, ainda que não tão profissionalizado como acontece noutras regiões do país. “Existe um conjunto de associações que dão resposta a uma atividade cultural com muita dinâmica e temos um orçamento anual de 150 mil euros para conceder apoios a este associativismo não profissional. As associações profissionais concorrem a apoios nacionais atribuídos por outras instituições, nomeadamente a Direção Geral das Artes, o Instituto do Cinema e do Audiovisual e a Direção Geral do Livro e da Biblioteca. Procuramos servir como um elo de dinamização de parcerias com as autarquias e com outras entidades privadas, fatores que depois contam favoravelmente para a concessão de apoios da nossa parte”, explica a entrevistada já na nova sede da Direção Regional da Cultura do Algarve (DRCAlg), junto à Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro. Este período de apresentação de candidaturas decorre até outubro de cada ano, mas existem eventos e propostas de programação que se têm vindo a repetir e que estão perfeitamente consolidadas no panorama regional, dai merecerem habitualmente o apoio da DRCAlg, o que não significa que não tenham que ser também

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sujeitas a uma avaliação técnica. “Há sempre critérios estratégicos associados ao desenvolvimento cultural da região que devem ser cumpridos, desde a valorização da tradição à introdução de alguma inovação nas áreas criativas e ao combate à desertificação do interior do Algarve. Claro que é sempre necessária mais dinâmica cultural e os municípios desempenham um papel preponderante nessa matéria e dão apoios que contribuem para que este tecido cultural saia mais fortalecido”, refere Alexandra Gonçalves, reconhecendo que, na área profissional, há menos apoios no Algarve do que no resto do país. “Tem havido uma reivindicação constante dos profissionais cá sedeados porque esses apoios, noutras regiões, chegam aos 400 mil euros anuais e no Algarve não passam dos 250 mil euros. É uma opinião que subscrevo, o Algarve devia ter acesso ao mesmo valor disponível de fundos”. E como as verbas disponíveis não são as de outros tempos, os critérios são mais rigorosos e as associações têm que demonstrar a sua capacidade para influenciar e criar públicos e atividades que vão ao encontro dos eixos estratégicos definidos para a região. “A preocupação da DRCAlg é contribuir com uma dinâmica regional e para o desenvolvimento cultural, pelo que os nossos critérios são mais finos. Olhamos para o histórico das associações, para as atividades que já promoveram e os públicos que tiveram, para a capacidade de mobilizar parcerias”, indica, compreendendo que o modelo de desenvolvimento prosseguido pelo Algarve desde a década de 80 não terá sido o mais propício para uma maior profissionalização dos seus agentes culturais. “Centrou-se muito no turismo, na procura do sol e praia, da época alta durante o Verão, associado ao clima e ao litoral, mas isso aconteceu igualmente na vizinha Andaluzia e noutras zonas do Mediterrâneo. Houve um acentuar da construção no litoral, em ter os hotéis o mais próximo possível das praias, um urbanismo pouco planeado e concentrado

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Alexandra Gonçalves (…) “Hoje, olhamos para o Algarve e vemos que as preocupações são outras, com uma atenção redobrada na cultura e no património. Também há financiamentos disponíveis, por isso, creio que temos condições para que o futuro seja diferente. Não vale a pena andarmos à procura dos culpados, temos é que contribuir para a construção de um novo Algarve e com um novo modelo de desenvolvimento” (…). na linha costeira e isso levou a que outras áreas fossem mais descuradas”, verifica Alexandra Gonçalves. “Hoje, olhamos para o Algarve e vemos que as preocupações são outras, com uma atenção redobrada na cultura e no património. Também há financiamentos disponíveis, por isso, creio que temos condições para que o futuro seja diferente. Não vale a pena andarmos à procura dos culpados, temos é que contribuir para a construção de um novo Algarve e com um novo modelo de desenvolvimento”, defende, acrescentando que o futuro da região passará, cada vez mais, pela diferenciação à base dos seus recursos endógenos. Quem acompanha há algum tempo o associativismo no Algarve nota, entretanto, que vão diminuindo as associações mais de

caráter informal, com pessoas de alguma idade que desenvolvem atividades na onda da «carolice», do «vestir a camisola», por outras associações, ou as mesmas com novos dirigentes, mais jovens e com formação específica nas áreas artísticas. Alexandra Gonçalves julga haver lugar para as duas realidades, mas há que definir prioridades para os investimentos e que há dinâmicas que decorrem da própria evolução da sociedade. “É natural que haja associações que perderam espaço para continuar a realizar determinadas coisas porque, face a um conjunto de vários fatores, o seu objeto deixou de fazer sentido. Em simultâneo, vêse o ressurgimento de outras associações em virtude de trabalharem em rede, umas com as outras e abraçando diversas manifestações culturais”, salienta, apontando que o desaparecimento de

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algumas associações não se deve exclusivamente à falta de apoios financeiros. “Não se deve contar logo à partida com subsídios do Estado, mas sim basear o pensamento e a forma de estruturação na comunidade envolvente, na promoção de parcerias para levar por adiante as suas atividades. Depois, então, verificar até que ponto existe a possibilidade de receberem algum apoio. Se pensarem desta maneira será mais fácil salvaguardarem a sua sustentabilidade”, considera. Já atividades artísticas mais experimentais carecem, na opinião de Alexandra Gonçalves, de apoios estatais nos primeiros tempos de vida, mas nem sempre é fácil identificar aquelas que poderão ter uma dinâmica sustentável em termos futuros. “É isso que tentamos aferir através da análise técnica que se vai desenvolvendo, com a participação dos nossos técnicos na avaliação

participaram. E convém dizer que não é preciso sermos licenciados ou termos formação superior para apreciar e entender as manifestações culturais. Há muitos saberes e tradições que não derivam de um percurso académico, mas de vida, e que se podem complementar para originar novas coisas”, enfatiza a Diretora Regional, dando o exemplo concreto do projeto TASA, que pega no artesanato tradicional e o transforma com soluções a partir do design. “Infelizmente, há técnicas e saberes que os jovens não estão a querer agarrar e dinamizar e é nesse campo que o Estado e o Ensino têm que se unir, caso contrário, perdem-se”.

A importância de trabalhar em rede

Com Estado e Ensino a entrarem na conversa, é sobejamente conhecido o corte de financiamento do poder central no Ensino Artístico e que está a colocar em causa a sobrevivência de muitos estabelecimentos de ensino e a formação de novos profissionais das Artes. Menos mediáticas são as queixas de que o Governo está a colocar de lado o seu papel de criação de novos públicos, de incutir nas novas gerações o hábito de consumir cultura, o que obriga as associações, companhias de teatro e bailado, homens e mulheres de todas as formas de expressão artística a desempenharem esse papel Alexandra Gonçalves (…) “Há muitos saberes e tradições que junto das escolas, normalmente às suas custas. não derivam de um percurso académico, mas de vida, e que se Antes de mais, Alexandra podem complementar para originar novas coisas. (…) Gonçalves esclarece que o Infelizmente, há técnicas e saberes que os jovens não estão a Ensino Artístico é da exclusiva querer agarrar e dinamizar e é nesse campo que o Estado e o competência da Direção Geral Ensino têm que se unir, caso contrário, perdem-se” (…). de Ensino Superior, o que não invalida que tenha uma opinião dos eventos e espetáculos, realizando formada sobre o assunto. “O Ensino Artístico relatórios, ouvindo as pessoas que dá um contributo importante para a

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formação de públicos apreciadores de cultura e de futuros profissionais do mundo da cultura e das artes. Se há uma redução nos apoios, haverá certamente uma diminuição do número de crianças que poderão estar nessa franja dos «futuros artistas». Do mesmo modo, é essencial haver uma aproximação das políticas educativas e culturais, porque é de «pequenino que se torce o pepino» e os hábitos culturais estão diretamente associados à possibilidade de se ter acesso a essas práticas desde tenra idade”, salienta a entrevistada. E com esse pensamento em mente, Alexandra Gonçalves lembra que a programação dos monumentos do Algarve tem um projeto educativo associado. “Mais uma vez digo que nunca se faz o suficiente, mas o importante é perceber se os apoios concedidos e o investimento que é feito em cultura estão a ter efeitos práticos na formação de públicos”. Ora, como fazer cultura implica, normalmente, haver um local apropriado para esse efeito, quisemos saber como está o Algarve servido de infraestruturas, designadamente teatros, museus, auditórios, salas de espetáculo, cineteatros, galerias, centros culturais. “Os concelhos estão totalmente cobertos, com uma ou outra exceção em que os equipamentos carecem de alguma intervenção para estarem adequados aos tempos modernos. Também não conheço concelhos onde não existam associações com capacidade para desenvolver atividades culturais e noto, com agrado, que já se vai fazendo programação em rede. Finalmente, mesmo entre os municípios, começa a haver uma concertação da programação destas salas, para que um espetáculo produzido pelos próprios agentes do Algarve possa ir a cena nos vários concelhos”, destaca, algo que já vinha acontecendo no plano dos museus e que está a dar os primeiros passos no âmbito dos teatros. Um trabalho em rede que, no futuro, pode dar lugar a uma Agenda Cultural Regional, ambiciona Alexandra Gonçalves, um desafio

que já foi lançado à AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve. “Cada município pode ter a sua própria agenda, mas não é expectável que uma pessoa, para escolher o que quer fazer no fim-de-semana, vá ver todas as agendas municipais”, justifica. Resta saber se os municípios estão recetivos a essa união de esforços, a esse trabalho em conjunto, quando durante muito tempo se pensou numa lógica de «capelinhas», de querer ter espetáculos e ofertas melhores do que os concelhos vizinhos, com o resultado depois de, no mesmo dia, acontecerem vários eventos em simultâneo e não haver público suficiente para todos. “A DRCAlg não tem qualquer poder de decisão sobre a programação que é organizada pelos municípios, mas tem vontade de procurar desenvolver uma política integrada para a Cultura, para o Património e para as Artes na região”, afirma a antiga vereadora da Câmara Municipal de Faro. Essa vontade esteve na génese da abordagem à AMAL, entidade onde estão sentados à mesa os 16 autarcas, para se tentar promover este projeto em conjunto e a agenda até já tem nome: «Cultura +». “O processo está no seio dos técnicos da AMAL a ser desenvolvido para se candidatar a fundos comunitários, porque necessitará sempre de uma estrutura de apoio e é preciso quantificar o valor do investimento para se criar uma plataforma digital que faça a congregação das várias agendas municipais”, revela Alexandra Gonçalves, reiterando que essa possível agenda é um processo complexo que implicará a definição de prioridades de áreas artísticas, de públicos-alvo e as formas como será comunicada e apresentada às pessoas e não coloca em causa a legitimidade de cada câmara municipal querer promover a cultura do seu concelho. “Todavia, considero que há pontes de ligação entre os municípios e que haverá vantagens em programar algumas coisas conjuntamente. É a mesma lógica que houve aquando do «Allgarve», com um conjunto de iniciativas em várias áreas artísticas que fizeram parte de uma agenda regional”.

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O desafio de Faro Capital Europeia da Cultura

reuniões alargadas, encontros culturais ou debates”, descreve.

Destaque igualmente para a valorização dos monumentos que estão sob gestão da DRCAlg, de onde sobressai a obra da Fortaleza de Com 2015 a aproximar-se do seu término, Sagres, com a colocação de iluminação cénica e Alexandra Gonçalves recorda que a missão da a reabilitação das muralhas. “Neste momento Direção Regional da Cultura do Algarve é estão em curso obras de valorização nos afirmar e reforçar a cultura e identidade da região e, como é compreensível, nunca se pode corpos A, B, C e D e teremos, provavelmente em 2016, um novo centro museológico dizer que esse trabalho está concluído e expositivo dedicado aos Descobrimentos finalizado. Apesar disso, a farense faz um balanço positivo dos dois primeiros anos da sua Portugueses”, sublinha a entrevistada, que acredita que a Agenda «Cultura +» também se comissão de serviço e dá vários exemplos de concretizações. Assim, em termos editoriais, foi tornará realidade. No âmbito do património imaterial, Alexandra Gonçalves realça quatro manifestações nas quais se está a efetuar o levantamento e registo no inventário nacional, casos da Festa da Aleluia de São Brás de Alportel, da Festa da Pinha de Estoi, a Doçaria Regional do Algarve com o D. Rodrigo e o Doce Fino de Lagos e a Festa das Chouriças de Querença. “Em 2014 lançamos um programa de dinamização dos monumentos e cujo número de participantes nas atividades duplicou este ano e a Fortaleza de Sagres ultrapassou os 300 mil visitantes pela primeira vez em 13 anos, o que significa um aumento das receitas próprias da Alexandra Gonçalves: (…) “A DRCAlg não tem qualquer Direção Regional de Cultura”, poder de decisão sobre a programação que é organizada acrescenta.

pelos municípios, mas tem vontade de procurar desenvolver uma política integrada para a Cultura, para o Património e para as Artes na região” (…). lançada uma obra sobre «As Lendas e Outras Memórias de Monchique» e, no campo das infraestruturas, a DRCAlg ganhou nova sede, depois de terem estado durante vários anos instalados num prédio de habitações. “Temos aqui um edifício cheio de luxo e com um novo conforto para os colaboradores, mas também para os utilizadores deste serviço, que passam a ter um acesso e estacionamento extremamente fácil à nossa sede. E possuímos um auditório que nos permite realizar

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Muito trabalho, de facto, realizado por uma equipa de 34 elementos, divididos entre a sede e os monumentos sob alçada da DRCAlg. “Quando se diz que se faz pouca coisa na cultura, é bom ter noção das limitações que sentimos no que toca aos recursos, mais até nos humanos do que nos financeiros. Temos uma arquiteta, uma engenheira, três elementos na arqueologia, numa equipa com uma idade média de 57 anos, pelo que haveria necessidade de renovação e de entrada de quadros jovens. Ao mesmo tempo, há pessoas que estão a sair por motivos de reforma e é

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um saber e experiencia adquirida que se perdem”. E antes de terminar a conversar, tempo para falar, claro, sobre a candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura em 2027, um projeto ambicioso mas com um risco elevado, no seu entender. “De qualquer modo, há ainda bastante tempo para se fazer o devido planeamento, porque a candidatura terá que ser apresentada até 2017, a decisão será conhecida em 2019, para a concretização em 2027. Há um trabalho de partir pedra, preparar e planear que deve ser feito em conjunto por todas as entidades e nós estamos cá para contribuir para que tudo corra da melhor forma e para que o Algarve saia reforçado em termos culturais”, garante Alexandra Gonçalves, aproveitando para recordar que está em curso a preparação de algumas candidaturas a património da humanidade. “A Direção Regional da Cultura, a Região de Turismo, a Universidade do Algarve e oito municípios algarvios, para além de mais alguns de fora da região, avançaram com a candidatura dos «Lugares da primeira globalização» em torno dos Descobrimentos do período henriquino à UNESCO e a expetativa é grande. Já temos também a Dieta Mediterrânica com a comunidade representativa em Tavira e há ainda a candidatura, da responsabilidade da DRCAlg, do Promontório Sacro a marca «Património Europeu» e, para além de Sagres, está Mértola na corrida. O Algarve precisa destas marcas para afirmar a sua estratégia em torno da cultura e do património” .

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OPINIÃO

SEM COMENTÁRIOS! PAULO CUNHA

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ão sei se já repararam, mas em cada português temos um comentador que fala por dois ou três… Não há acontecimento que não mereça comentário, desde da cama da vizinha que range mais do que o habitual, até à política que, não sendo bestial, irá ficar - por certo - pior do que mal. Dêem-lhes um assento e um interlocutor e logo ali nascerá um comentador de sofá, café ou bancada. Somos tão exímios e prolíferos a comentar que até temos comentadores pagos que comentam por encomenda. Comentam tudo e todos, comentam ocasiões especiais e até comentam em função das suas tendências, gostos e apetites. São comentadores que, sem qualquer prurido ou vergonha, não escondem ser dos clubes A, B ou C e dos partidos X, Y ou Z. Gente que não comenta de uma forma isenta, pois sabe que lhe faltará plateia, fazendo-o apenas em função da aceitação de quem pensa de forma igual. Profissionais da retórica que através dos seus comentários, muitas vezes carregados de verborreia, maledicência e interesses incógnitos, arregimentam acólitos e fiéis propagadores das suas «palavras santas». Custa-me ver tantas pessoas a quem se pede uma simples opinião a dizer, de uma forma desabrida e eloquente, que não sabem nem querem saber… Em suma, dizendo não ter opinião! Gente que, confrontada com questões do dia-a-dia que lhe diz, particular e diretamente, respeito, limita-se a reproduzir e a

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partilhar o que os meios de comunicação lhe «ofereceram» através dos seus comentadores de serviço. Pessoas que raramente contraargumentam face a opiniões divergentes das suas, fazendo-o apenas com as «frases feitas» costumeiras, apanhadas aqui e ali nas caixas-deressonância dos interesses vigentes. Porque opinar é diferente de comentar, ter opinião sobre seja o que for obriga, necessariamente, a saber do que se está a falar, correndo o risco de passar por tolo e ignorante quem o faz sem saber ao que vai. Exercer o direito de emitir uma opinião acarreta, obrigatoriamente, o dever de a saber defender. Infelizmente, não comenta quem sabe, comenta quem quer… muitas vezes com a displicência de um bocejo. Comentários despropositados que acarretam consigo, recorrentemente, a ignorância de quem os profere, ferindo com a acutilância de uma lança quem não os merece. Daí ter alguma relutância em comentar seja o que for, pois a realidade não precisa de ser comentada, encontra-se ao dispor de quem a saiba e queira interpretar. Sei que há muita gente que necessita de ter alguém que lhe descodifique a mensagem que quer ouvir, mas não seria bem mais interessante potenciar a análise dos factos através de um pensamento analítico e estruturado? Tal ensina-se e aprendese (ou não) na escola... A importância de questionar o porquê das coisas .

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OLHARES Crónicas dos emergentes

SUMATRA, INDONÉSIA EDGAR PRATES Executivo de Desenvolvimento de Novos Negócios e Contas Globais na Accenture

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tolomeu na antiga Grécia falava de um lugar no Oriente que era um extensão da India, rico em ouro e nunca visitado pelos Europeus. Dizse que Marco Polo foi o primeiro. Mas quem realmente lá construiu a primeira fortaleza, não muito longe de Aceh, apesar de não ter durado muito por vias da forte luta pelo controlo das riquezas que passavam pelo estreito de Malaca, foram os Portugueses. Há cidades que desapareceram por completo nos últimos séculos e a sua história permanece um mistério. Diz-se que há milhares de anos houve uma erupção que varreu da face da Terra milhares de pessoas, um fenómeno natural que teve certamente epicentro no lugar que hoje se conhece por Lago Toba. Assente numa cratera de um vulcão extinto, o Lago Toba tem mais de 100 quilómetros de diâmetro e é o maior lago vulcânico do mundo. Lugar mítico habitado por povos antigos, Sumatra possui uma riqueza incalculável. Chineses de Medan e muçulmanos de Pahang disputam a hegemonia económica, ao passo que os investidores externos gozam de invejáveis regalias em Palembang na extração de petróleo e plantações de óleo de palma .

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OPINIÃO A EUROPA COMEÇA AQUI! O MOTE PARA FARO, CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA 2027 DÁLIA PAULO Diretora do Museu Municipal de Loulé

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s capitais europeias da cultura nasceram há 30 anos em Atenas, começaram por ser «Cidade Europeia da Cultura» e a partir de 1999 «Capital Europeia da Cultura». Portugal acolheu três Capitais Europeias da Cultura – Lisboa (1994), Porto (2001) e Guimarães (2012). Anualmente duas cidades partilham o título e este ano são Mons (Bélgica) e Plzen (República Checa). A Decisão 445/2014/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de abril, identifica os países que receberão Capitais Europeias da Cultura entre 2020 e 2033, Portugal e Letónia estão como potenciais candidatos para 2027. No dia da cidade de Faro, o Presidente da Câmara anunciou a intenção de se candidatar a «Capital Europeia da Cultura» e a 28 de outubro acrescentou a possibilidade de ser uma candidatura que agregue a região. Uma ideia feliz, que deve ser um desígnio regional e envolver-nos a todos! O Guia para as cidades capitais europeias da cultura 2020-2033 indica como fator importante e, mesmo, determinante para a candidatura o envolvimento das regiões, como aconteceu pela 1ª vez quando o Luxemburgo envolveu a Grand Region (2007) ou, em 2013, quando MarselhaProvença envolveu 90 por cento do departamento Bouches-du-Rhone. No Algarve é imperativo que Faro envolva toda a região, mas que o faça logo no âmbito da candidatura; para isso impõe-se que o processo seja participado e com uma liderança inequívoca da cidade de Faro. Não há receitas «prontas a usar» mas há pressupostos que devem vir das «entranhas» do que somos e de uma visão estratégica que mostre onde queremos chegar, e o chegar não é ao ano D (2027) é à cidade/região

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criativa que fica depois das luzes se apagarem e o título de «Capital Europeia da Cultura» rumar a outras paragens. Esta candidatura deve assentar na história multisecular da cidade e da região, um lugar aberto, de trocas, de chegadas e de partidas, ontem como hoje, um finis terrae mas, simultaneamente, uma plataforma entre o Atlântico e o Mediterrâneo, um melting pot de culturas, que aqui se fixam(ram), o começo da Europa, dos seus valores e identidade. A facilidade de acesso (aeroporto internacional), o centro de conhecimento (Universidade do Algarve), os criadores da região, os equipamentos culturais e a audiência internacional, que a cada ano chega ao Algarve, devem constituir fatores preponderantes no desenho da candidatura. Que não seja business as usual mas uma candidatura arrojada, assente em compromissos com os criadores, com as comunidades e com ambição de crescimento económico e de regeneração urbana (sonho com a antiga moagem ou os armazéns do Bom João como polos culturais e criativos a fervilhar de vida, para não falar da antiga fábrica da cerveja). Esta candidatura deve ser um compromisso de longo prazo em que Faro e a região assumem a Cultura como eixo estratégico de desenvolvimento e de bem-estar dos cidadãos. Um apelo final: que seja feito connosco e não para nós! E um desafio aos algarvios: sejamos embaixadores de coração da candidatura, nós conseguimos! . 30


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ENTREVISTA

O OUTRO LADO DE

FRANCISCO AMARAL A faceta de autarca de Francisco Amaral é sobejamente conhecida, primeiro como presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, agora ao serviço da população de Castro Marim. O seu percurso e dedicação como médico de família também são bastantes conhecidos dos algarvios. Um reconhecimento que não caiu do céu, foi sim fruto de anos, muitos anos, de trabalho incansável, horas a fio a cuidar da saúde dos seus pacientes e dos destinos dos seus conterrâneos algarvios. E um dia o corpo fez questão de lhe lembrar que não é uma máquina com uma fonte de energia inesgotável e que convinha também cuidar da sua própria saúde. Depois do susto, Francisco Amaral começou a comer melhor, a praticar exercício, a dedicar uma ou duas horas por dia à sua horta, à pesca, às vezes à caça, o seu modo peculiar de arejar a cabeça no final de um dia repleto de preocupações, porque não é fácil ser presidente de câmara. Texto e Fotografia: Daniel Pina

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stava um dia chuvoso, sol escondido por detrás das nuvens, aquele frio húmido que nos entranha no corpo, que nos arrefece os ossos por mais roupa que tenhamos vestida. Mas nada disso impede Francisco Amaral, presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, de estar de volta das plantas, vegetais e frutos que tem plantados na estufa localizada no Sítio da Amarela, em Alcoutim, um hectare de laranjeiras herdado dos pais e onde passou grande parte da sua meninice. Naquele tempo não havia consolas de jogos, computadores pessoais, telemóveis, tablets, se calhar nem havia muitas televisões na vila de Alcoutim, no extremo do sotavento algarvio, paredes meias com o Alentejo e o Rio Guadiana. Por isso, era perfeitamente normal uma criança ajudar os pais nas lides domésticas ou a cuidar dos terrenos e assim nasceu o gosto de Francisco Amaral pelo meio ambiente, pela terra, por colher o que semeava. Mas também a paixão pela pesca e pela caça. Depois, foi para a escola, tirou o

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curso de Medicina Geral e Familiar, meteu-se na política a pedido da população, foi presidente da Câmara Municipal de Alcoutim durante 20 anos e é agora o responsável pelos destinos do concelho vizinho de Castro Marim, mais uma vez a pedido da população, quando já fazia intenção de se reformar da política. Mas nunca abandonou a pesca e a horticultura, para a caça é que o tempo é mais escasso. E assim lá estava ele, no Sítio da Amarela, com o seu fiel cão labrador, de sugestivo nome Xanax, a correr de um lado para o outro enquanto o dono plantava mais umas alfaces e apanhava umas ervas que, revelou, iam ser usadas no jantar dessa noite. “Levava os dias na ribeira e no rio a fazer as malandrices normais dos miúdos, até a roubar romãs e marmelos, mas também a ir à pesca com umas canas e apanhava bastante peixe-rei, barbos e enguias. No terreno da família vi o meu pai a plantar aquelas laranjeiras e faço questão de tratar delas, embora não venda um quilo de laranjas há mais de 20 anos. São para consumo próprio e para dar aos amigos e

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que preciso para as minhas saladas e sopas”. Com uma vida de autarca bastante estressante, em que os dias são dedicados a resolver os problemas e a melhorar as condições de vida dos cidadãos, Francisco Amaral enfatiza a importância de estar pelo menos uma hora por dia rodeado pela natureza, lides em que é sempre acompanhado pelo Xanax. E se faltar à pesca e à caça não causam prejuízos de maior, já a horta exige uma atenção constante, normalmente ao final da tarde, nem que seja para apanhar minhocas para depois usar na pesca. Mas o autarca também se preocupa em ler bastantes livros sobre a matéria e, quando vai a casa de alguém e encontra alguma planta ou fruto diferente, trata logo de pedir umas sementes. “Tenho de tudo um pouco na estufa, couves e alfaces, brócolos, beterraba, beringelas, rúcula. À medida que as laranjeiras vão secando, vou substituindo as árvores por figueiras, pereiras, pessegueiros, portanto, quando vamos ao supermercado, nem perdemos tempo a ir à secção das Verduras e das Frutas”.

Algum dia a máquina falha

vizinhos e é óbvio que manter a horta dá-me prejuízo, mas é como se fosse um filho que ali tenho”, explica, enquanto mostra a estufa onde planta diversas verduras, legumes e frutas. “Gosto de cozinhar e aqui tenho tudo o

A pesca é outro prazer lúdico que não dispensa e que é facilitado por viver junto ao rio. Aliás, descendo por entre a vegetação cerrada, depressa encontramos uma cadeira protegida por uma tenda de lona, com uma mão-cheia de canas de pesca encostadas a uma árvore e uma simples mesa onde trata o peixe que apanha. “Cinco minutos após chegar a casa estou a pescar e dá-me um gozo tremendo depois ir para a cozinha fazer o jantar com as verduras que plantei e o peixe

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que pesquei. E enquanto estou na horta ou sentado em frente ao rio não penso em mais nada, não transporto para lá os problemas e as chatices do dia-a-dia”, garante Francisco Amaral. E como o ato da pesca se limita a lançar o anzol e ficar à espera que algo pique o isco, o entrevistado aproveita para pôr a leitura em dia, seja em revistas de medicina ou ligado ao Facebook, uma verdadeira janela para o mundo no ecrã do telemóvel. “Quando o peixe pica, o guizo toca, é um robalo, uma enguia ou um barbo, e depois é tratar logo deles ali na mesa do lado. Quem fica satisfeita da vida é a minha mulher, que é veterinária e tem seis gatos em casa”, conta, com um sorriso. “Ela compreende que eu preciso daquela hora sozinho para recarregar as baterias, com a vantagem de nunca faltar peixe para os gatos”. Um hobby que tem como cenário o Rio Guadiana, com uma vista deslumbrante para a outra margem e os barcos que vão passando defronte do seu olhar. “Estive na

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génese da aposta dos jovens de Alcoutim em praticar canoagem e é maravilhoso vê-los andar ali para cima e para baixo no rio. E as pessoas também não se admiram de me ver ali, algumas até fazem questão de me ir cumprimentar”, indica, confessando que ir à caça, outra das suas paixões, tem sido mais complicado no passado recente. “Vou menos vezes por falta de tempo, mas também porque me enervo imenso quando falho uma perdiz. Sou, de facto, mais pescador do que caçador”, explica. E engane-se quem pensa que, depois de chegar a casa, tratar do jantar e comer à mesa com a esposa, que termina a azáfama de Francisco Amaral. “Comprei uma passadeira e uma bicicleta fixa e faço mais meia horinha em cada máquina, numa ao mesmo tempo que vejo televisão, noutra enquanto leio uma ou outra revista. Tudo isto porque, há coisa de ano e meio, tive um enfarte e percebi que tinha que começar a comer melhor e a fazer exercício físico”, frisa, voltando a assegurar que é fulcral desligar-se completamente das preocupações do mundo

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real, nem que seja uma hora por dia, e entrar no seu mundo privado, na horta ou junto ao rio de cana na mão. Um conselho que já transmitiu a alguns colegas autarcas, avisando que a saúde pode falhar a qualquer momento e a pessoas de todas as idades e que os enfartes não estão limitados aos mais «velhotes». “Hoje toda a gente sabe os motivos de se ter um enfarte ou um AVC e que o somatório de vários fatores de risco dá direito a apanhar-se um valente susto ou pior. O stress é um fator de risco tão ou mais importante do que os diabetes, a tensão arterial e o colesterol. Eu comia mal, sentia grande stress, não fazia exercício físico e decidi mudar de rotinas para me defender”, finaliza, enquanto arrumava a cana e chamava o Xanax, porque era hora de regressar a casa e começar a tratar do jantar .

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ENTREVISTA

ESCULTURAS QUE CONTAM HISTÓRIAS E FAZEM PENSAR A escultura do Cavaleiro da Ordem de Cristo, na rotunda à entrada de Castro Marim, trouxe um maior mediatismo a Carlos Correia, mas a verdade é que o arquiteto paisagístico e viveirista tem uma série de peças espalhadas por esta vila, mas também por Alcoutim, Vila Real de Santo António e outras zonas do sotavento algarvio. Em comum têm os materiais – pedra, ferro e arame – mas também a tendência para retratar figuras e cenas reais do dia-a-dia, umas urbanas, outras rurais, normalmente com uma mensagem por detrás, uma história para voltar a recordar e fazer pensar. Texto e Fotografia: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #32

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arlos Correia não é daqueles que diz que é artista desde que nasceu, aliás, só se dedicou à escultura há cerca de quatro anos. Angolano de nascença, mas radicado em Castro Marim desde 1982, tem um Bacharelato e uma Licenciatura em Engenharia Agrónoma, frequentou o curso de Arquitetura Paisagística na Universidade do Algarve e podese dizer que ocupa grande parte dos dias de volta de jardins pois, para além de realizar projetos para jardins e torná-los uma realidade, possui também um viveiro de plantas florestais e ornamentais. A escultura foi uma faceta que sobressaiu já quando estava nesta zona do sotavento algarvio e a primeira peça mais a sério que produziu foi a figura de um caçador, que está em Martim Longo, no concelho vizinho de Alcoutim. “Sempre à base de pedra, ferro e arame, até rede de galinheiro, materiais que tinha em stock no viveiro e decidi dar-lhes uso, em vez de os jogar fora”, indica o entrevistado, reconhecendo que não é grande adepto do

abstratismo. “Faço figuras de animais e pessoas, com movimento e forma e sempre com um tema subjacente. Na rotunda das cabras, por exemplo, quis recriar o tema da pastorícia, uma atividade que tem os dias contados. Os pastores que ainda existem são indivíduos já com alguma idade e não se vê malta nova na pastorícia. Trabalham aos domingos, feriados, no Dia de Natal, numa atividade que remonta aos templos bíblicos e que está quase extinta”, frisa. «O Último Pastor» é o tema que se encontra, então, numa rotunda da vila de Castro

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Marim, contemplando um pastor, três cabras, um cabrito a amamentar-se numa das cabras e um cão numa posição sobranceira a vigiar o rebanho. Outra rotunda, talvez mais mediática, é a do «Cavaleiro», onde se vislumbra a escultura de um cavaleiro da Ordem de Cristo, que esteve sedeada em Castro Marim durante algumas décadas na Idade Média. “Não é difícil fazer um trabalho abstrato, mas depois nem toda a gente entende o que ali está retratado. É importante que as pessoas, ao verem uma

Invisível», que esteve primeiro em Alcoutim e foi depois realojada junto à escola de Castro Marim. “Todas as zonas limítrofes de Espanha junto ao Rio Guadiana tinham um contrabandista, um polícia e um barqueiro, isto antes do 25 de Abril. Muitas vezes até eram os três da mesma família, mas este contrabandista tem a característica de se tornar invisível aos olhos do polícia”, conta, falando depois da escultura de uma mulher mastectomizada, que representa todas as mulheres que tiveram cancro da mama. “Eu e

peça, a consigam identificar. Esta rotunda precisava de qualquer coisa e só há dois temas que tocam muito na população local – os Dias Medievais e o Sal – e escolhi o primeiro”, indica Carlos Correia, que tem esculturas colocadas em diversos espaços públicos desta carismática vila.

o presidente da Câmara Municipal de Castro Marim estamos a pensar usar essa imagem para angariar fundos em prol da luta contra o cancro da mama”, revela.

Uma que tem gerado bastante polémica, em termos políticos, é «O Contrabandista

Ora, com tantas esculturas localizadas em espaços públicos, poder-se-ia pensar que Carlos Correia só trabalha por encomenda, mas puro engano, apresta-se a esclarecer. “Encomendas não há, faço por gosto, a única

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A arquitetura aliada à escultura À medida que aumenta o portfólio de Carlos Correia vai diminuindo o material que estava guardado no seu viveiro, mas o escultor não está preocupado com as despesas que tem com a escultura, consciente de que o mais importante é fazer algo que lhe dá prazer. “Há, durante a noite, um trabalho meticuloso de desenho para depois, de dia, passar do papel para a realidade. Claro que em todas as peças há momentos em que emperramos e o melhor é deixá-las sossegadas um dia ou dois, até surgir uma ideia que nos permite retomar o processo de criação”, assume, antes de avançar para mais uma história, desta feita em torno de um acordeão que realizou para o Mito Algarvio. “Tinha uns ferros retangulares em casa, usei-os para as teclas do instrumento e estava supersatisfeito com o resultado. Chegou lá o presidente da Associação dos Acordeonistas do Algarve, disse que estava muito porreiro, mas… e não exceção foi a do Cavaleiro da Ordem de Cristo. Tenho muitas esculturas que ficam para o meu espólio. Ainda ontem me ligaram da Região de Turismo do Algarve para se organizar uma exposição e o presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António também já falou comigo para se fazer uma na cidade”, adianta, passando a contar mais uma história por detrás de uma das suas esculturas. “Há coisa de 20 anos um indivíduo de Castro Marim criou aqui uma cegonha e até há um cantor que fez uma música sobre isso. Essa Cegonha está, neste momento, em frente ao edifício da câmara municipal, foi uma peça fácil e rápida de fazer e as pessoas adoraram”.

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dizia qual era o problema. Depois é que me apercebi que os acordeões que existem no Algarve têm botões e não teclas”, lembra, com um olhar pensativo, como que a vivenciar novamente a situação. “Fui para casa pensar em como resolver o assunto, estava a 42


pequena. “A rotunda tinha 40 metros de diâmetro e eu expliquei que o melhor seria diminuir o espaço de uma maneira visual e introduzir algumas modelações. Neste momento, penso que está bem enquadrado e 99,9 por cento das pessoas gostam do resultado final”, garante, acrescentando que, nesta arte, não se pode estar envolvido com várias peças em simultâneo. “No último preparar um café e, quando meto a cápsula do Nespresso na máquina, veio-me a ideia de que podia utilizar aquilo para os botões”. Carlos Correia admite, entretanto, que os conhecimentos amealhados na licenciatura em Arquitetura Paisagística o ajudaram imenso a crescer como escultor, mas depois é preciso dominar as técnicas do ofício, desde soldar, a pintar e dobrar ferro. “Há escultores que têm soldadores e eletricistas a trabalhar para eles mas eu faço tudo sozinho, faz parte do gozo que sinto a criar estas peças. Demorei mais de seis meses a fazer o «Cavaleiro» e o mais complicado de gerir mentalmente foi a responsabilidade e o peso da escultura, que ia estar colocada mesmo à entrada da vila. Houve até quem me dissesse que, se as coisas corressem mal, era a minha cabeça e a do presidente da câmara que rolavam”, afirma, sem rodeios. Uma peça de grande envergadura que obrigou a ser trabalhada com recurso a andaimes e, curiosamente, quando foi inserida na rotunda, as pessoas consideraram-na

mês e meio, andei 12 a 14 horas por dia de roda do Cavaleiro e, quando termino uma, já está outra pronta para arrancar,

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no meu caso o viveiro. Não quer dizer que não haja escultores ou pintores que não façam disso sua profissão, mas eu não sou desses privilegiados”, aponta, embora não queira fazer o papel de «coitadinho» por saber que as pessoas apreciam o que faz e que as suas peças não ficam a ganhar pó nalguma garagem. “Depois do «Cavaleiro» já fiz um Camaleão, espécie que faz parte da Mata de Monte Gordo e deverá ir um exemplar para o Parque das Merendas, no sentido de sensibilizar as pessoas de que aquele é o seu último reduto e que o espaço deve ser respeitado. Fiz também um Flamingo e uma Cegonha e agora devo mudar para a caça que existe nestes concelhos, designadamente o javali e o veado. E tenho um Salineiro para fazer para França”, diz-nos, frisando que só cria peças que lhe deem prazer. “O dinheiro não é tudo. Quando não sentimos, acabamos por não conseguir fazer. É importante trabalhar por paixão, não por obrigação, seja nisto, num jardim, num arranjo paisagístico, em tudo na vida” . normalmente uma mais simples. É como depois de um bom jantar comer uma sobremesa mais light”, compara, com um sorriso. Uma pergunta que quase nem vale a pena fazer, por adivinharmos a resposta, mas que é da praxe é se conseguiria viver apenas da escultura e, lá está, não nos enganamos. “Desgraçado aquele que tentar viver só da arte. Isto é uma paixão que tem que ser suportado por outra atividade profissional,

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ATUALIDADE ALCOUTIM INAUGUROU NOVAS ACESSIBILIDADES Operacional Regional do Algarve – PO Algarve 21.

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oram inaugurados, no dia 30 de outubro, pelo presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, Osvaldo Gonçalves, e pelo presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, David Santos, a reabilitação da ponte sobre a Ribeira da Foupana, situada na estrada de ligação entre as povoações de Mestras e Barroso, e o troço de rede viária entre a EN 124 e a povoação das Mestras. A cerimónia contou com a presença de muitos populares e diversas entidades locais e regionais. A ponte foi alvo de trabalhos de manutenção e reparação no sentido de a dotar de todas as condições de segurança em função da gravidade das anomalias estruturais detetadas, enquanto na estrada foram efetuadas obras de alargamento e repavimentação e colocada sinalização. Tratou-se de um investimento de aproximadamente 286 mil euros, comparticipado em 65 por cento por fundos comunitários no âmbito do Programa

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O presidente da CCDR Algarve felicitou o Município de Alcoutim pela realização das obras e enalteceu a capacidade de visão do executivo municipal. “Percebendo que no quadro comunitário de apoio 2014-2020 haveria menor capacidade de execução destas obras de requalificação viária, procedeu a uma reformulação de uma candidatura que possibilitou, conjuntamente com a capacidade financeira da autarquia, a realização desta importante melhoria nas acessibilidades”, destacou, ao passo que Osvaldo Gonçalves reforçou o empenho na resolução dos problemas concretos das populações. “O estado deplorável em que se encontrava esta ponte, estando afetada de forma relevante a sua travessia, em condições plenas de segurança e, deste modo, condicionando fortemente toda a população, transformou-a numa prioridade para este executivo”, enfatizou. Referindo-se à reformulação da candidatura a fundos comunitários e à elaboração do projeto de recuperação da infraestrutura existente, quando inicialmente se equacionou a construção de uma nova ponte, o autarca notou que esta alteração permitiu que simultaneamente se dotasse o equipamento da total e necessária robustez e plenas condições de utilização e diminuir o montante do investimento .

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ESTÁTUAS VIVAS DE NATAL EM LAGOA Outubro, nos dias 18 e 19 de dezembro, esta mostra produzida pela «Ibérica Eventos & Espetáculos», no sentido de animar o centro da cidade e dinamizar o comércio local quando se aproxima a época natalícia e, simultaneamente, divulgar e dignificar a criação artística. Nesta mostra de Estátuas Vivas irão estar representadas algumas figuras intimamente relacionadas com o imaginário da época de Natal: Reis Magos, Pai Natal, presépio vivo, cauteleiro, anjo, elfo, vendedor de castanhas, família às compras e boneco de neve. De entre os participantes destaca-se António Santos (Staticman), que começou as suas criações de estátuas vivas na rua, em Barcelona, em 1987 e no ano seguinte bateu o record Guinness de imobilidade (15 horas, 2 minutos e 55 segundos). Hoje, as estátuas vivas são presença em muitas cidades, mas os primeiros relatos chegam-nos do antigo teatro grego, onde em determinadas situações os atores faziam poses imitativas de estátuas. Na renascença apareceram representações de grupos em imobilidade querendo mostrar quadros vivos. No final do século XIX, as esposas dos artistas de circo costumavam receber o público também com recriações de esculturas ou pinturas famosas. Nos anos 20 aparecem relatos na dança da quietude física enquanto arte (Olga Desmond) e nos anos 60, Gilbert and George utilizaram também as técnicas da estátua viva nos seus espetáculos .

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ivenciando o espírito de partilha habitual na época da Natividade, a Câmara Municipal de Lagoa organiza o evento «Estátuas Vivas de Natal», que oferece à população, ao mesmo tempo que incentiva e divulga a criação artística nas artes performativas, através de «estátuas», performances artísticas de imobilidade expressiva que promove a cumplicidade entre os participantes e o público. Assim, Lagoa irá receber, na Rua 25 de Abril e Largo 5 de

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ATUALIDADE

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REABRIU MUSEU MUNICIPAL DE LAGOS

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Museu Municipal Dr. José Formosinho reabriu ao público, no dia 5 de novembro, após um breve período de encerramento suscitado pela intempérie que assolou a região no último fim-de-semana. No entanto, e havendo necessidades de manutenção do edifício cujos trabalhos obrigam ao condicionamento de algumas secções do Museu e afetam o normal circuito de visita, a autarquia decidiu encerrar toda a ala correspondente às salas de etnografia, pintura, Lagos, numismática e arte sacra, permanecendo visitável a Sala de Arqueologia e a Igreja de Santo António. A este respeito, merecer salientar que o interior da Igreja pode agora ser apreciado em todo o seu esplendor, uma vez que se encontram praticamente terminados os trabalhos de reabilitação, conservação e restauro realizados na cobertura, na abóbada e em diversos outros elementos arquitetónicos, funcionais e decorativos deste apreciado e tão visitado Monumento Nacional. Para assinalar oficialmente a conclusão dos trabalhos de reabilitação, conservação e

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restauro/limpeza realizados na Igreja de Santo António a Câmara Municipal de Lagos está a programar, para o próximo dia 28 de Novembro, uma apresentação com a participação dos responsáveis e técnicos das várias entidades envolvidas nestes trabalhos que será também pontuada por um momento de animação cultural a anunciar em breve. Paralelamente, dar-se-á início aos trabalhos de manutenção do edifício do Museu, prevendo-se que o espaço possa reabrir ao público na sua totalidade e sem condicionamentos num prazo aproximado de três meses. Consciente dos transtornos que estes condicionamentos poderão provocar, a Câmara Municipal de Lagos apela à compreensão de todos, uma vez que os mesmos se afiguram absolutamente necessários à preservação deste importante património edificado, assim como do acervo que se encontra à sua guarda .


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FAMÍLIAS PAGAM MENOS IMPOSTOS, CONCELHO COM NOVOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS

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Orçamento e Grandes Opções do Plano para 2016 do Município de Loulé foram aprovados por maioria em reunião de câmara, consagrando uma redução da carga fiscal, nomeadamente da taxa de IMI, e o início de um novo ciclo de investimentos no Concelho de Loulé. O Orçamento municipal para 2016, no montante de 102 milhões, 755 mil e 713,81 euros mantém a linha de reforço do rigor e da transparência seguida desde 2013, com o objetivo de assegurar a sustentabilidade financeira do Município.

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Para aliviar a carga fiscal das famílias louletanas, a Autarquia vai diminuir a taxa geral do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) e vai reduzir ao máximo permitido por lei a taxa de IMI para famílias com filhos. A proximidade às pessoas contará com um reforço das verbas de apoio aos cidadãos e às famílias através de medidas como o Regulamento Loulé Solidário, o apoio às atividades das IPSS, o tarifário social dos serviços de abastecimento de águas, saneamento e resíduos, a atribuição gratuita de manuais escolares, o projeto «Férias para Todos» ou o fornecimento de refeições e transportes escolares.

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Em 2016, sem perder de vista a sustentabilidade financeira, abre-se um novo ciclo de investimentos estruturantes para o Município de Loulé. Ao nível da rede viária, está previsto neste orçamento o prolongamento da Avenida Vale do Lobo – Quinta do Lago (dois milhões de euros), a ligação da Variante à EN 396 a Vale do Lobo e Quinta do Lago – 1ª fase (dois milhões de euros) e 2ª fase (dois milhões e 300 mil euros) e a construção da Avenida Norte de Quarteira (894 mil euros). A criação do Passeio das Dunas – requalificação da Zona Costeira Quarteira/Vilamoura prosseguirá. Está praticamente concluída a 1ª fase da obra, e em 2016 vai estar no terreno a 2ª fase da obra (três milhões e 250 mil euros), estando previsto igualmente a execução do projeto respeitante à 3ª fase (220 mil euros). A requalificação da Escola EB 2,3 D. Dinis, em Quarteira (cinco milhões de euros) é a grande aposta ao nível da criação de equipamentos em matéria educativa em 2016. É uma antiga aspiração de uma numerosa comunidade escolar, até agora num equipamento em avançado estado de degradação. Em termos de reabilitação do património, da nossa memória coletiva como Louletanos, iniciaremos a recuperação de dois edifícios emblemáticos: o edifício da Música Nova (quatro milhões de euros) e o Palácio Gama Lobos (um milhão e 900 mil). Com os olhos postos no futuro, a Autarquia de Loulé investirá em dois projetos estratégicos para as políticas municipais: «ClimAdapt» e «Smart Cities». Em 2015, a Câmara Municipal de Loulé aderiu ao ClimAdapt (Programa de adaptação às alterações climáticas) para trabalhar na minimização dos efeitos negativos dos impactos das alterações climáticas nos sistemas biofísicos e socioeconómicos. O Município de Loulé está a finalizar o processo de avaliação e de priorização das iniciativas de adaptação adequadas para responder às principais vulnerabilidades e riscos climáticos do Município (aumento da temperatura, ondas de calor, seca, períodos de precipitação

excessiva e intensificação da erosão costeira). Em 2016, o Município concluirá a estratégia municipal de adaptação às alterações climáticas (EMAAC). No quadro das «Smart Cities», Loulé integra a INTELI – Rede Portuguesa das Cidades que visa contribuir para um desenvolvimento urbano inovador, sustentável e inclusivo dos territórios, através do apoio às políticas públicas e às estratégias dos atores económicos e sociais em áreas como a mobilidade, o ambiente, a energia, a governação, o empreendedorismo, a criatividade e a inovação social. As Grandes Opções do Plano consagram um aumento de 11,1 por cento das verbas a transferir para as nove Juntas de Freguesia do Concelho, no âmbito dos contratos-programa, na componente capital. “Iremos partilhar com as freguesias os bons resultados da gestão municipal”, adiantou o vice-presidente da Autarquia, Hugo Nunes. Deste bolo orçamental fará ainda parte uma verba de 600 mil euros destinada à realização das 11 propostas apresentadas e votadas pelos cidadãos no Orçamento Participativo 2015, o principal projeto de cidadania realizado no Concelho. Por imposição legal, num quadro de redução contínua das transferências do Orçamento de Estado nos últimos anos, este será o segundo ano de participação da Autarquia de Loulé no Fundo de Apoio Municipal no valor anual de 610 mil euros, num total de 4,2 milhões de euros. “Estamos perante um documento que vem na lógica daqueles que foram os nossos compromissos e que constitui a nossa matriz de gestão. Temos tido muita contenção nas despesas, num quadro de redução das receitas”, considerou o presidente da Autarquia, Vítor Aleixo, durante a apresentação do documento .

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LOULÉ RECEBE AÇÃO DE FORMAÇÃO «SEMEAR O BOCCIA SÉNIOR»

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Pavilhão Desportivo Municipal de Loulé recebe, no dia 24 de novembro, das 9h às 13h e das 14h às 18h, a ação de formação «Semear o Boccia Sénior», iniciativa que tem como objetivos promover esta modalidade, apetrechar os agentes desportivos com conteúdos diversos sobre o Boccia e promover a atividade física como uma prática saudável, em particular para os idosos e pessoas com limitações/deficiências. Esta atividade destina-se a técnicos desportivos, técnicos de reabilitação, saúde e educação, colaboradores de autarquias/outras entidades, voluntários, entre outros. A formadora será Maria Helena Bastos, da Paralisia Cerebral – Associação Nacional de Desporto e, quanto aos conteúdos programáticos, a formação irá versar sobre a forma como se joga (objetivos, campos, bolas, regras, etc.), técnicas e estratégias básicas, a organização interna e a organização de provas

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O Boccia foi introduzido em Portugal em maio de 1983, durante um curso de desporto para a paralisia cerebral, organizado pela Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral e integra, pela primeira vez, os Jogos Paralímpicos em Nova Iorque, em 1984, iniciandose um período de grande desenvolvimento, passando a existir competições internacionais anuais importantes. Portugal teve o orgulho e a capacidade de organizar de várias dessas provas, como Campeonatos do Mundo, Campeonatos da Europa, Taças do Mundo e Masters de Boccia. Portugal conta com um grupo de atletas considerados como dos melhores do Mundo, e para tal basta verificar o número espantoso de medalhas e posições de topo que alcançaram nas várias provas internacionais. A este facto não é alheio o desenvolvimento e a formação de recursos humanos realizado no nosso país, assegurando uma divulgação do Boccia e a transmissão de conteúdos e de competências. O projeto «Semear o Boccia Sénior» visa assegurar a continuidade dessa formação, nomeadamente de pessoas que projetarão uma prática regular e pertinente em pessoas em idade sénior, com ou sem deficiência ou limitação .

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AUTARQUIA DE VRSA NOVAMENTE DISTINGUIDA COMO «MAIS FAMILIARMENTE RESPONSÁVEL»

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Câmara Municipal de Vila Real de Santo António foi distinguida, pelo sétimo ano consecutivo, pelo observatório da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, como «Autarquia + Familiarmente Responsável». O galardão dá destaque às práticas de proximidade e às medidas sociais em vigor destinadas a melhorar a qualidade de vida das famílias do concelho. Com a atribuição deste prémio, a autarquia junta-se ao conjunto de 41 municípios, a nível nacional, que vêm adotando iniciativas facilitadoras da vida familiar dos seus residentes. Por ter conquistado o distintivo desde a primeira edição (2009), VRSA terá direito a receber a uma menção honrosa. Algumas das ações levadas a cabo pela Câmara de Vila Real de Santo António, que contribuíram para sua nomeação, foram a atribuição gratuita de livros escolares a todos os alunos do

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primeiro ciclo residentes ou a estudar no concelho, ou o programa «Cuidar», através do qual já foram realizadas cerca de três mil consultas oftalmológicas. “Este prémio distingue o já longo e contínuo trabalho desenvolvido em matéria de auxílios e políticas sociais, muitas delas pioneiras, que têm servido como exemplo de boas práticas e apoiado centenas de agregados familiares no concelho”, nota Luís Gomes, presidente da autarquia vila-realense. Este reconhecimento da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas resulta ainda das políticas de família adotadas pela edilidade vila-realense em diversas áreas de atuação, nomeadamente o apoio à maternidade e paternidade, ou o apoio às famílias com necessidades especiais. Da lista de indicadores fazem também parte os auxílios prestados ao nível dos serviços básicos, educação e formação, habitação, transportes, saúde, cultura, desporto, lazer e tempo livre, bem como os níveis de cooperação, relações institucionais e participação social. Foram igualmente avaliadas as boas práticas da Câmara Municipal para com os seus funcionários no que se refere à conciliação entre a vida profissional e familiar .

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REQUALIFICAÇÃO DO HOTEL GUADIANA VAI A CONCURSO PÚBLICO

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município de Vila Real de Santo António lançou, através da empresa municipal VRSA SGU, o procedimento público para a empreitada de reabilitação do emblemático Hotel Guadiana. Com esta medida, a autarquia dá seguimento à requalificação do edifício centenário – já classificado como imóvel de interesse municipal desde 2010 –, assegurando a sua reabertura e a respetiva transformação em hotel de charme. “A operação faz parte da estratégia de recuperação do património edificado da cidade e da instalação, no seu Centro Histórico, de unidades hoteleiras de referência, potenciando um turismo de qualidade superior e cultural”, explica Luís Gomes, presidente da Câmara Municipal de VRSA. “No caso do Hotel Guadiana, vamos requalificar o seu interior e adequá-lo às características atuais de uma unidade de cinco estrelas, pondo fim ao cenário de degradação deste edifício que é um cartão-de-visita da frente ribeirinha”, prossegue Luís Gomes. A empreitada tem o valor base de dois milhões de euros e será financiada pela iniciativa Jessica, um instrumento de engenharia financeira desenvolvido pela Comissão Europeia em colaboração com o Banco Europeu de Investimento e com o Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa, prevendo-se a conclusão dos trabalhos em dezembro de 2016. Esta requalificação prevê a manutenção da fachada e dos principais elementos decorativos do prédio de estilo afrancesado projetado pelo arquiteto Ernesto Korrodi, cuja construção data-se entre 1918 e 1921.

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Além da reativação do uso original do imóvel, a operação urbanística pretende a manutenção da sua volumetria original, possibilitando a instalação de 31 quartos, distribuídos por 15 quartos duplos, três suítes júnior e 13 quartos individuais com os padrões de conforto e exigência das marcas internacionais. A empreitada engloba ainda a recuperação de um edifício na Ponta da Areia, que servirá como área de apoio balnear. O projeto cumpre, na íntegra, as orientações do Plano de Pormenor de Salvaguarda do Núcleo Pombalino de Vila Real de Santo António, bem como as medidas estabelecidas na Área de Reabilitação Urbana (ARU) do Centro Histórico de VRSA, que foi, aliás, a primeira a ser lançada no país. Em paralelo à recuperação do Hotel Guadiana, é intenção da Câmara Municipal de VRSA transformar o Centro Histórico numa referência em termos turísticos, estando por isso em marcha um ambicioso projeto que pretende converter os antigos imóveis, propriedade da Câmara Municipal de VRSA, num conjunto de unidades de alojamento de charme .

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