ALGARVE INFORMATIVO #33

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DIOGO GAGO O rugido de leão do ás do volante de São Brás de Alportel

A COLEÇÃO DE ARTE DE MANUEL TEIXEIRA GOMES

RICARDO MOURA VENCEU RALLYE CASINOS DO ALGARVE ANDRÉ SOUSA APRESENTA «JURO AMAR-TE»ALGARVE INFORMATIVO #33 1


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#33 SUMÁRIO

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RALLYE CASINOS DO ALGARVE

JOSÉ ARTUR PACHECO

ANDRÉ SOUSA

30 DIOGO GAGO Algarve Informativo #33 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Fotografia de capa: Daniel Pina Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930 As notícias que marcam o Algarve em algarveinformativo.blogspot.pt

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OPINIÃO APROVEITAR TODOS OS MOMENTOS DA VIDA, ANTES QUE A VIDA NOS ROUBE ESSES MOMENTOS DANIEL PINA Jornalista

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sto de começar o dia com lágrimas nos olhos não parece digno de um quarentão rabugento, mas também tenho desses momentos, não me envergonho de o admitir. É uma reação automática que julgo que deve acontecer a todos aqueles que já tiveram uma perda trágica nas suas vidas, que tiveram um pedaço de si arrancado, de forma inesperada, sem qualquer anestesia, sem qualquer hipótese de preencher totalmente esse vazio. O melhor que podemos fazer é, com o tempo, semana após semana, mês após mês, ano após ano, tentar que esse vazio vá ficando mais pequeno, rodeando essa tristeza imensa e sufocante com os momentos de felicidade que vamos tendo no nosso dia-a-dia. Contudo, como esse vazio nunca vai desaparecer por completo, estamos sempre sujeitos a estes momentos ligeiramente embaraçosos para um homem de barba rija e cabelos brancos. É automático. Vemos, ouvimos, lemos qualquer coisa que nos bate fundo no coração, que traz todas essas memórias à tona e as lágrimas escorrem desalmadamente pelo rosto abaixo. Já me aconteceu isso uma vez em público, quando estava a assistir a um espetáculo solidário da ACASO em Olhão, com utentes portadores de deficiências cerebrais, cognitivas e motoras, outras vezes acontece quando estou sozinho. E hoje, a perambular pela imprensa diária, voltou-me a acontecer, ao ler a história de Jake Bailey, um jovem neozelandês de 18 anos a quem foi diagnosticado um cancro terminal precisamente uma semana antes da entrega de prémios na cerimónia de final de ano na Escola Secundária Christchurch, uma escola católica só para rapazes na Nova Zelândia. De um momento

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para o outro o jovem, que se preparava para iniciar uma nova fase da sua vida, provavelmente com milhares de planos na cabeça, descobre que tem poucas semanas de vida, mas isso não o impediu de sair da cama do hospital, vestir a farda da escola e proferir o discurso que tinha escrito quando ainda tinha uma vida inteira pela frente. Se a história em si já é trágica, mais marcante foram as palavras que deixou aos rapazes que foram seus colegas nos últimos cinco anos, um verdadeiro toque para acordar, para mudar as prioridades, para olhar para tudo de maneira diferente. “Nenhum de nós vai sair desta vida com vida, por isso, sejam cavalheiros, sejam grandes, sejam graciosos e sejam gratos pelas oportunidades que têm. Esqueçam ter sonhos de longo prazo. Sejamos apaixonadamente dedicados à busca de objetivos de curto prazo. Microambiciosos. Trabalhem com orgulho sobre o que está à nossa frente, porque não sabemos onde podemos acabar, ou quando podemos acabar", frisou Jake Bailey. Com apenas 18 anos, o jovem mostrou uma clarividência, um pensamento sublime que devemos todos ter em mente, sobretudo numa época em que andamos sempre a correr feitos doidos dum lado para o outro. Acordamos sem sequer termos dormido, despachamos os filhos à pressa, toma lá a lancheira, dá cá um beijo e upa para a escola. Vamos a correr para o trabalho, muitas vezes nem gostamos do que estamos a fazer, muitas vezes nem ganhamos o que seria justo ganharmos, muitas vezes o dinheiro não chega para pagar as contas da casa, temos que fazer uns biscates por fora ou viver à conta do cartão-de-crédito. Almoçamos a correr, umas vezes sentados à mesa, outras de pé encostados à 6


parede, outras ainda a conduzir o carro, uma simples baguete chega para enganar o estômago.

Channel ou o Canal Panda. E, um dia, a vida troca-nos as voltas e é tarde demais para recuperar o tempo perdido.

Depois é trabalhar a tarde toda, ir buscar os filhos à pressa à escola, chegar a casa a correr, toca a vestir o pijama aos miúdos, toma lá qualquer coisa para comer, vai ver televisão para o quarto ou para a sala que o pai tem trabalho para fazer no computador, dá cá um beijinho e vai dormir que amanhã é dia de escola. Os miúdos vão dormir, nós não, vamos para a cama pensar no trabalho que há para fazer no dia seguinte, pior ainda, nas contas que temos que pagar no dia seguinte.

Claro que a maior parte do tempo não andamos com estes pensamentos filosóficos, é preciso o tal toque para acordar, o tal acontecimento trágico para nos fazer abrandar o ritmo e olhar de maneira diferente para as coisas. Às vezes, porém, temos uma oportunidade para simplesmente relaxar e olhar para a paisagem. Quase parece de propósito, mas ontem tive um desses raros momentos. Estava a caminho de São Brás de Alportel para uma conversa com o Diogo Gago quando ele me telefona a dizer que estava uma

Dia após dia, sempre a correr, já nem sequer fazemos planos a médio e longo prazo, não há tempo nem dinheiro para planear férias com a família, nem sequer para pensar muito onde iremos jantar no aniversário dos miúdos ou do casamento. Não compramos nada para nós, não vamos ao cinema, ao teatro, a um concerto de música, não nos divertimos, não descansamos a cabeça. Quando sobra algum dinheiro, compra-se qualquer coisa para os miúdos, eles não têm culpa do mundo ser assim sempre a correr, de estarem pouco tempo com os pais. Depois, neste corre-corre, temos um acidente de carro, um AVC, um enfarte, descobrimos que temos os diabetes ou o colesterol altos demais, o stress não perdoa e, afinal de contas, para que serviu toda a correria? Quase não estamos com a família, são mais as vezes que estamos a dizer aos filhos para não fazerem isto ou aquilo do que estamos a rir com eles a ver o Disney

ou duas horas atrasado por causa dum imprevisto. Podia ter voltado para trás e escrevinhar mais qualquer coisita no computador. Em vez disso, estacionei o carro em frente ao edifício da Câmara Municipal, sentei-me no largo da igreja, com uma vista fantástica para a Serra do Caldeirão e limitei-me a olhar, a apreciar a tranquilidade, a tirar umas fotografias, a ouvir os passarinhos. Sei lá eu quando terei outra oportunidade para desligar o cérebro por uma hora ou duas sem pensar no trabalho que há para fazer e nas contas que há para pagar… . 7

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REPORTAGEM

RALLYE CASINOS DO ALGARVE DECIDIU CAMPEONATO NACIONAL DE RALIS Foi um fim-de-semana de emoções fortes para todos os apaixonados do desporto motorizado, com os concelhos de Loulé e São Brás de Alportel a receberem, nos dias 7 e 8 de novembro, mais uma edição do Rallye Casinos do Algarve, a derradeira prova do Campeonato Nacional de Ralis e a penúltima etapa do Campeonato FPAK de Ralis Sul. Com muitas peripécias pelo meio e volte-faces inesperados, o açoriano Ricardo Moura foi o grande vencedor do rali algarvio, mas José Pedro Fontes beneficiou de um furo de Pedro Meireles nos últimos percursos, terminou em segundo lugar e sagrou-se Campeão Nacional de Ralis. Emoções também não faltaram no Regional, com Márcio Marreiros a partir no sábado com o título de campeão nacional mesmo à mão de semear mas problemas mecânicos no domingo quase o impediram de concluir a prova e adiaram a decisão para o Rali Vila de Ourique, a realizar nos dias 12 e 13 de dezembro. Texto e Fotografia: Daniel Pina

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José Pedro Fontes, ao volante de um Citroen DS3 R5, terminou o Rallye Casinos do Algarve no segundo posto e sagrou-se Campeão Nacional de Ralis em 2015

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Miguel Ramalho, José Pedro Fontes, António Costa, Ricardo Moura, Daniel Amaral e Carlos Martins

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erminou em apoteose e com emoções ao rubro mais uma edição da prova rainha do Clube Automóvel do Algarve, o Rallye Casinos do Algarve, que contava para o Campeonato Nacional de Ralis e para o Campeonato FPAK de Ralis Sul. No total foram percorridos 120 quilómetros divididos por dois dias, o primeiro disputado no concelho de São Brás de Alportel, o segundo no concelho de Loulé. Sendo a derradeira etapa do Campeonato Nacional de Ralis, os principais candidatos jogaram todas as suas cartas ao longo dos duros e técnicos trajetos da Serra do Caldeirão e, no final da prova, a vitória sorriu à dupla vinda dos Açores, Ricardo Moura e António Costa, ao volante de um Ford Fiesta

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R5. Foi, contudo, uma vitória agridoce porque o número de pontos alcançados na etapa algarvia não lhe permitiu terminar a temporada no posto cimeiro da classificação, lugar esse que coube a José Pedro Fontes, acompanhado por Miguel Ramalho, ao volante de um Citroen DS3 R5, que assim se sagrou o Campeão Nacional de Ralis de 2015. A grande surpresa do pódio foi a dupla constituída por Carlos Martins/Daniel Amaral, ao comando de um Skoda Fábia S2000. Já a decisão do Campeonato FPAK de Ralis Sul ficou adiada para o Rali Vila de Ourique, que se vai disputar no fim António Costa e Ricardo Moura venceram o Rallye Casinos do Algarve de semana de 12 e 13 de dezembro. À partida do Rallye Casinos do Algarve tudo previa que Márcio Marreiros e Rui Serra garantissem a conquista do título, já que bastava à dupla terminar numa das posições cimeiras. Contudo, problemas mecânicos no segundo dia de prova trocaram as voltas ao piloto portimonense, que mesmo assim conseguiu chegar ao fim da etapa. O Rallye Casinos do Algarve foi vencido por Luís Mota/Alexandre Ramos (Mitsubishi Lancer EVO VII), seguido de Ricardo Filipe/José Martins (Mitsubishi Lancer EVO VI) e José Dimas/Ricardo Barreiro (Subaru Impreza). Miguel Ramalho e José Pedro Fontes são os Campeões Nacionais de 2015

Um desfecho que ninguém adivinhava no final de sábado, dia completamente dominado pela dupla Carlos Vieira/Luís Ramalho, num Ford Fiesta R5, que venceu três troços, mesmo tendo batido contra uma árvore. Logo atrás vinham Ricardo Moura/António Costa, também num Ford Fiesta R5, uma das duplas favoritas ao título nacional, Pedro Meireles/Mário Castro, num Skoda Fábia R5 queriam manter o título conquistado em 2014 e José Pedro Fontes/Miguel Ramalho, num Citroen DS3 R5 eram os quartos classificados. Daniel Amaral e Carlos Martins ficaram em 3.º lugar 11

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O algarvio Ricardo Teodósio estreou-se ao volante de um Ford Fiesta R5 e não teve um dia fácil, dia que ficou ainda marcado por um aparatoso despiste de Francisco Nascimento, num Peugeot 208 R2, logo no troço inaugural, que obrigou mesmo o José Carlos Rodrigues a fazer uma visita ao hospital. Outro algarvio em grande destaque era Diogo Gago, de São Brás de Alportel, que comandava a classe de duas rodas motrizes ao A equipa algarvia José Teixeira e Ricardo Teodósio ficou em 6.º da geral volante de um Peugeot 208 R2, tendo vencido todos os troços do dia. A luta pelo título nacional da classe fazia-se, porém, entre João Ruivo/João Peixoto, num Renault Clio R3 e Marco Cid/Nuno R. da Silva, num Renault Clio S1600.

A dupla de São Brás, Jorge Carvalho e Diogo Gago ficou em 10.º

E assim se partiu para o derradeiro dia, disputado já no concelho de Loulé, onde aconteceu de tudo um pouco. Ricardo Moura melhorou o andamento de sábado, venceu três dos quatro troços (o último ficou nas mãos de Ricardo Teodósio) e ganhou o Rallye Casinos do Algarve, mas um furo de Pedro Meireles atirou José Pedro Fontes para a segunda posição da prova e o piloto da DS3 Vodafone Team sagrou-se Campeão Nacional de Ralis em 2015, sucedendo assim a Pedro Meireles, que finalizou a etapa no quinto lugar. Carlos Vieira teve um dia mais azarado, perdeu a tração traseira e acabou o rali na quarta posição. A derradeira posição do pódio foi ocupada por Carlos Martins/Daniel Amaral, num Skoda Fábia S2000. Em sexta posição ficou Ricardo

Nuno R. da Silva e Marco Cid são os campeões nas duas rodas motrizes

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O pódio do Campeonato FPAK Ralis do Sul com José Martins, Ricardo Filipe, Alexandre Ramos, Luís Mota, Ricardo Barreto e José Dimas

se depressa ao Ford Fiesta R5. “Entrei ao ataque no troço de abertura mas, com cerca de três quilómetros de especial percorridos, o motor calou-se durante 2m15s, deitando por terra as nossas aspirações num bom resultado. Quando regressamos à estrada, não tivemos outra alternativa do que seguir no pó de um concorrente que, entretanto, passou à nossa frente e que depois ficou parada numa ribeira, o que nos custou ainda mais A dupla de Portimão Rui Serra e Márcio Marreiros tempo”, conta Ricardo Teodósio, o piloto espetáculo da Guia, Teodósio. Na segunda especial, o motor voltou concelho de Albufeira, que amealhou o quarto a calar-se por cerca de 30 segundos, mas no troço de domingo, mostrando estar a adaptarterceiro e quarto troço, embora com algumas

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Com os problemas resolvidos à partida para o segundo dia, a dupla da «Teodósio Motorsport» fez bastante melhor e ganhou mesmo o último troço. “Se não tivéssemos sido «atropelados» por inúmeros azares, um lugar no pódio teria sido uma realidade e, quiçá, lutar pelo degrau mais alto”, analisou no final Ricardo Teodósio. “Com mais alguma experiência neste tipo de viatura, podemos bater-nos de igual para igual com os restantes intervenientes do Nacional de Ralis. Vamos preparar o projeto para que o campeonato de 2016 seja efetuado num R5”. Nas duas rodas motrizes, o são-brasense Diogo Gago também foi perseguido pelo azar no domingo e chegou ao fim na 10ª posição da geral. Quanto ao titulo nacional, não houve grandes surpresas, sendo conquistado por Marco Cid. Mais emoções fortes houve também no Campeonato FPAK de Ralis Sul. De facto, quando todos esperavam que Márcio Marreiros carimbasse já o título em terras algarvias, problemas mecânicos no Mitsubishi Lancer EVO VI quase o impediram de concluir a prova, até mesmo de participar na cerimónia do pódio. Brilhou, porém, o desportivismo do portimonense, que podia ter partido para os derradeiros troços na sua posição e ganho o campeonato nacional, uma vez que os seus mais diretos opositores seguiam atrás e acabariam por ter piores tempos face ao andamento mais reduzido de Márcio Marreiros. A participação de Márcio Marreiros no Rallye Casinos do Algarve não correu, de facto, como esperado pelo piloto de Portimão. “O nosso objetivo era ganhar e sermos já campeões mas tivemos problemas com o carro logo no primeiro dia. Apesar disso, conseguimos ficar à frente do nosso principal adversário, o Luís Mota, portanto, estava tudo de acordo com o

falhas à mistura, Ricardo Teodósio e José Teixeira registaram o 5.º e 4.º melhor tempo, respetivamente.

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planeado. Infelizmente, no segundo dia, ao fim de quatro quilómetros de estrada, os problemas regressaram e tivemos que fazer o resto do rali num ritmo bastante lento”, descreve Márcio Marreiros. Convém reforçar a atitude do portimonense que, no arranque da segunda PEC do domingo, deixou todos os outros concorrentes partir à sua frente para não os prejudicar, o que lhe acarretou uma penalização de três minutos. Na assistência verificou-se que o Mitsubishi Lancer EVO VI estava com problemas eletrónicos que não podiam ser solucionados no momento, mas Márcio Marreiros fez questão de chegar à meta. “Se o regulamento fosse igual ao do ano anterior, eu tinha sido campeão à mesma, mas assim vou ter que ir a Ourique para a última etapa. Estou com 15 pontos de vantagem sobre o Luís Mota e tenho que pontuar”, adianta, confessando que não queria ser campeão de forma menos desportiva. “Quis fazer o melhor para os meus colegas, porque o meu carro não estava em condições e eles iam seguir atrás de mim e a apanhar com o meu pó até ao fim”. Pensando na temporada de 2016, Márcio Marreiros admite que o objetivo era dar o salto para o Campeonato Nacional de Ralis, mas não está fácil arranjar patrocínios, devido à pouca visibilidade deste desporto motorizado. “Queria fazer algumas provas fora do Algarve mas, se não for possível, continuo pelo Regional. E em Ourique não vou estar a fazer contas, corro sempre para ganhar”. Associando-se novamente à Loulé CED 2015, o Rallye Casinos do Algarve teve o patrocínio da Solverde – Casinos do Algarve, Acrimolde, Hydraplan e os apoios da Região de Turismo do Algarve e dos Municípios de Loulé e São Brás de Alportel . 15

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ENTREVISTA

Já muitos livros se escreveram sobre o portimonense Manuel Teixeira Gomes, sétimo presidente da Primeira República Portuguesa e o homem a quem se deve a passagem de Portimão de vila a cidade. José Afonso Artur quis ir para além da conhecida faceta de estadista e de escritor do seu conterrâneo algarvio, debruçou-se sobre o seu gosto pela arte, estudou a fundo os quadros que este foi adquirindo ao longo da vida e acredita que a coleção de Manuel Teixeira Gomes, que se encontra dividida entre três museus, inclui obras não autenticadas dos grandes mestres da pintura europeia. Para além do seu valor histórico, a comprovarse estas convicções, Portimão ganha mais uma importante fonte de atração turística. Texto e Fotografia: Daniel Pina

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EM BUSCA DA VERDADE SOBRE A COLEÇÃO DE ARTE DE MANUEL TEIXEIRA GOMES

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atural de Lagos, 61 anos, José Artur Pacheco é professor no ISMAT – Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, e conta com várias obras publicadas desde 1987, designadamente nas áreas da arte, das artes gráficas e da imprensa. Já o seu mais recente livro – Numa sublime cruzada em busca do belo – aborda a ligação do antigo Presidente da República Manuel Teixeira Gomes com a arte e o seu interesse pela estética, dando a conhecer uma faceta menos conhecida do portimonense. Um estudo que incide sobretudo nas «Cartas a Columbano», umas verídicas, outras imaginadas pelo estadista, em correspondência

outros no Museu, mas muitos desapareceram. Comecei por ler as «Cartas a Columbano» e, em simultâneo, tentei acompanhar o roteiro que ele seguiu após ter abandonado a Presidência da República, indo à procura das obras sobre as quais ele se debruçou, que comentou e que escreveu”, conta o docente, que já tinha escrito um texto sobre esta personalidade para o livro «Ofício de Viver», lançado aquando dos festejos dos 150 anos do nascimento de Manuel Teixeira Gomes.

com o artista Columbano Bordalo Pinheiro, onde fala sobre os seus gostos, as suas viagens, os livros que vai lendo. “O meu trabalho, na prática, foi rastrear a sua erudição, procurando ler tudo aquilo que acho que ele leu. Ele tinha milhares de livros, uns estão na Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes,

dos filósofos clássicos e da sua época. “Embora nunca fale nisso, vê-se que era um seguidor atento de Friedrich Nietzsche, Arthur Schopenhauer e do Immanuel Kant, cujas obras lia em francês, e lia bastante poesia em inglês. Mas a filosofia e o conhecimento e o interesse sobre a estética não nascem da

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À medida que a pesquisa vai avançando, José Artur Pacheco vai descobrindo uma tremenda erudição em Manuel Teixeira Gomes, um homem que conhece, leu e estudou a maioria

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leitura dos filósofos, mas sim de escritores, críticos de arte e poetas. Há personagens que lhe foram muito caras, o Charles Baudelaire e o Oscar Wilde, por exemplo, dos quais retira algum do seu conhecimento e do que dizia no dia-a-dia. O português dele era de uma grande fluência mas o que estava por detrás do que ele dizia às vezes era muito mais complexo”, indica o estudioso, surpreendido pelas descobertas que foi fazendo à medida que preparava o seu novo livro. “Por detrás de cada simples frase encontramos debates que fazia com ele próprio, sobre o que é o belo e a arte, qual é a função da arte, como é que se faz um artista, preocupações que vai debatendo e colocando nas cartas que escrevia”. Um conhecimento da arte e uma intuição estética que causaram espanto a José Artur Pacheco, apesar da sua faceta de esteta ser conhecida, do seu gosto pela arte não ser novidade. Deste conhecimento nasce a curiosidade do entrevistado em analisar com mais atenção as pinturas que Manuel Teixeira Gomes foi adquirindo ao longo da vida, algumas delas expostas em Portimão, em 2010, e das quais não se sabiam quem eram os respetivos autores. E da curiosidade provém alguns achados que podem ser bastante importantes, caso se venham a confirmar, garante o docente. “Ele deixou mais de 20 obras ao Museu de Arte Contemporânea, doou oito óleos ao Museu de Arte Antiga e o Museu Municipal de Portimão também conseguiu comprar alguns 20 quadros dele num leilão realizado pela família, na altura em que era presidente da Câmara o Eng.º Nuno Mergulhão. Infelizmente, nunca ninguém deu a devida importância a esta coleção e julgo que alguns quadros até se perderam”, lamenta. José Artur Pacheco salienta uma outra curiosidade sobre a coleção de arte de Manuel Teixeira Gomes, que sempre afirmou não ter meios financeiros para adquirir as obras que eram normalmente expostas em museus ou galerias. “Ele encontrava em leilões pinturas que lhe saiam bastante baratas porque não

estavam assinadas pelos seus autores. Hoje, verificamos que algumas são originais que foram abandonados pelos artistas nos seus ateliers, outras são cópias realizadas pelos próprios artistas, um género de trabalhos preparatórios para as obras que todos nós conhecemos”, desvenda, assegurando que há casos em que não tem quaisquer dúvidas, noutros, tem fortes convicções de estar correto, mas da convicção há certeza há um caminho a percorrer. “Há que realizar um trabalho de pesquisa e de investigação científica, tudo isso custa dinheiro e não posso ser eu fazê-lo. Já alertei o Museu para essa situação, eles estão bastante interessados na valorização dos seus quadros mas, como sabemos, neste momento não há dinheiro para se fazer nada”.

Um património histórico, uma atração turística Sem querer levantar em demasia a ponta do véu, José Artur Pacheco prefere enfatizar o valor histórico da coleção de arte do antigo Presidente da República, até porque o valor monetário das pinturas é aquele que o mercado está disposto a pagar por elas, portanto, sempre variável. “Acredito que o Museu Municipal de Portimão tem ali um Rembrandt, ou pelo menos um quadro saído do seu atelier. Um museu em Inglaterra possui um quadro que durante muitos anos atribuíram a um discípulo do Rembrandt, a dada altura chegaram à conclusão que era do próprio Rembrandt, e agora temos aqui um quadro exatamente igual em Portimão. Está muito sujo, precisava de ser todo limpo, até tem um bocadinho da tela ferida, e ficamos de tentar descobrir mais alguma coisa”, indica o lacobrigense, comprovando que, no mundo da arte, é muito difícil haver certezas de alguma coisa. Ora, como nenhum destes quadros é de José Artur Pacheco, o único interesse do entrevistado é que se dê o devido valor à coleção de arte de Manuel Teixeira Gomes,

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com a convicção de que o Museu Municipal de Portimão ganharia mais um atrativo para os turistas. E, em resposta à questão do jornalista, não acredita que possa vir a acontecer algo semelhante ao caso dos célebres quadros de Miró que estão na posso do governo. “A

pintava, da importância da cor, e comprava, estando ou não a tela assinada”, entende, acrescentando que era usual os grandes mestres efetuarem trabalhos preparatórios para as obras finais, normalmente em dimensões mais reduzidas e às vezes até com

coleção foi comprada ainda no tempo do presidente Nuno Mergulhão e, apesar das finanças da autarquia não estarem muito saudáveis, não creio que fossem vender esses quadros, porque são um património muito importante da cidade. E não está ali apenas um Rembrandt, há também um de William Turner, um dos percursores da modernidade na pintura”, adianta.

materiais diferentes, em aguarela ou guache. “Normalmente, as cópias são assinadas por quem as fez, quando assim não acontece, é porque são uma espécie de maquete, um primeiro ensaio dos próprios mestres”.

José Artur Pacheco admite, inclusive, que o próprio Manuel Teixeira Gomes não conhecesse a identidade dos autores de alguns dos quadros que comprou, o que enaltece ainda mais a sua intuição estética. “Ele apercebia-se do valor das telas, tinha um grande conhecimento da forma como se

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A confirmar-se que o Museu Municipal de Portimão tem estas obras de reputados mestres da pintura europeia, José Artur Pacheco afirma que há que dar a conhecer esse facto ao mundo, pois o concelho de Portimão tem pouca oferta no campo do turismo cultural. “O Museu já começa a ser um local muito visitado pelos turistas mas, se pudéssemos valorizar mais esta coleção do Teixeira Gomes, é evidente que as pessoas a iriam ver. Mesmo para os algarvios isso seria

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benéfico, pois nem toda a gente tem oportunidade para ir ao estrangeiro visitar galerias de arte ou museus”, defende, reforçando que o seu interesse na matéria é meramente científico e artístico. “Passei várias semanas a estudar e analisar as obras expostas no Museu Municipal de Portimão, muitas vezes a desmanchar molduras porque há pormenores que estão escondidos, facilitaram-me imenso nesse aspeto”. Mas José Artur Pacheco confidencia que esta pesquisa é também um género de mea culpa porque, quando escreveu o texto para o «Ofício de Viver» não deu o devido valor a esta coleção de arte. “Conhecia relativamente bem os gostos do Teixeira Gomes e imaginei que tudo aquilo fosse de autores amadores. Só depois de ter escrito o livro é que despertou este interesse de analisar os quadros, os assinados e os não-assinados, e descobri igualmente algumas discrepâncias no catálogo e inventário da coleção. Se a puder ajudar a valorizar e a atrair pessoas ao nosso Portimão,

melhor, mas isso implica trazer especialistas nas obras para as verificar e autenticar, ou não, ou então temos que fazer análises científicas para tirar conclusões”. Quanto ao livro que serviu de pontapé de saída a toda esta pesquisa – Numa sublime cruzada em busca do belo – está concluído e ainda não foi lançado por questões burocráticas em torno da publicação de algumas imagens, revela o autor. “Temos um regime em Portugal um bocado ridículo em que não se pode mexer no nosso património sem pagar para o fazer. Não faz sentido um texto sobre estas questões sobre a estética de Manuel Teixeira Gomes sem lá estarem as imagens, tive a ingenuidade de pedir autorização para as inserir e a resposta que recebi é que, para isso, tinha que pagar umas quantias que não são pequenas”, desabafa José Artur Pacheco .

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OPINIÃO

FEICEBUQUES… PAULO CUNHA

E

mbora há já muitos anos escreva (espaçadamente) artigos de opinião, estes que aqui convosco partilho, pela particularidade de serem de tal forma abrangentes e sem temática definida, levaram-me a aceitar prontamente o convite endereçado pelo criador, executor e editor da publicação «on line» Algarve Informativo, Daniel Pina, para aqui desabafar ideias. Até aqui chegar e poder partilhar a minha opinião, seja sobre o que for, preciso de ser estimulado e espicaçado. Não escrevo o que os leitores querem ler, sobre assuntos mediáticos, por interesses pessoais ou por encomenda. Até começar a digitar nas teclas do «pc» cá de casa, o assunto que convosco irei partilhar pode até à última hora mudar… Gosto dessa imprevisibilidade, pois acaba por ser desafiante e gratificante, dando ao «meu mundo» mais um propósito de vida. Mesmo a propósito, hoje no facebook (a rede social mais utilizada por pessoas de todas as idades) dei de caras com uma notícia partilhada pelo meu amigo «Necas», em que o título sugestivo «Se quer ser feliz o melhor é abandonar o facebook» me fez abandonar a temática inicialmente programada para esta crónica de opinião. A notícia do estudo referia que: “A investigação indica que 88% das pessoas que deixaram o facebook durante sete dias admitiram sentir-se mais felizes. Do mesmo modo, 84% das pessoas envolvidas disseram que conseguiram, por isso, apreciar mais a vida. Apenas 12% das pessoas afirmaram estar insatisfeitas por não poderem utilizar a rede social”.

cinco anos e não me considero em nada mais infeliz do que antes por ter aceitado o convite para dela fazer parte, muito menos sinto sintomas de privação quando dela estou ausente. Sinto-a como um complemento e uma forma de enriquecimento pessoal, pois só o facto de ter recuperado o contacto diário com amigos de infância e juventude; ter recuperado memórias esquecidas; ter conhecido as famílias, as vivências e as preferências de quem está longe e me é querido; ter mantido o contacto com antigos colegas e alunos; ter conhecido virtualmente pessoas que vim posteriormente a privar pessoalmente; ter partilhado gostos, ideias e ideais; ter conhecido e ter dado a conhecer informações pertinentes e úteis para a nossa vida; e ter podido «gostar» de quem merece apreço, admiração e reconhecimento, fazem manter-me ligado à rede sem qualquer tipo de reserva, receio ou constrangimento. Obviamente que conheço e reconheço todos os malefícios e contrariedades de não saber usá-la com a parcimónia, a independência, o recato e o cuidado exigidos. Mas não será assim com tudo o que provoca adição e dependência? Saber contrariar os impulsos de negar, refutar, contradizer e maldizer as opiniões e gostos alheios poderá ser uma boa forma de viver em paz com essa rede social que cresceu e popularizou-se mundialmente, pensada e estruturada num sinal de aceitação (o «like»). Outra atitude para a manter na nossa vida, de uma forma sã e enriquecedora, é fazer aquilo que sempre fizemos antes das redes sociais existirem: “Quem é meu amigo aceita-me como sou, quem não… é porque meu amigo não é!”. Assim sendo… .

Frequento os meandros comunicacionais (e só esses!) dessa rede social (e só essa!) há cerca de

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OPINIÃO ENFANT TERRIBLE

IL EST CINQ HEURES, PARIS S'EVEILLE (SÃO CINCO HORAS PARIS ACORDA) PAULO BERNARDO Empresário

E

ste é o título de uma das minhas canções francesas favoritas cantadas por Jacques Dutronc, que conta a história do despertar de Paris. Conta e canta a vida de uma cidade fantástica ao acordar, descrevendo todo o movimento de que vai dormir e de que já acordou.

Hoje, não foi só Paris que acordou de uma forma nova mas sim toda a Europa, podemos dizer que são cinco horas e a Europa acordou de uma forma estranha, com corpos mortos e feridos, com famílias destroçadas e com uma cultura colocada em causa.

Ontem, ao adormecer, levei esta música na cabeça pois fiquei com a sensação que Paris não vai voltar a acordar da mesma forma, nem a Europa vai acordar da mesma forma. Ontem perdemos a inocência, todos. A guerra voltou à nossa Europa, pois aquilo foi um ato de guerra.

Neste despertar vamos procurar junto dos mais fracos culpados, contudo, temos que ir sim junto dos fortes pedir explicações. Junto dos guetos de Paris, onde a polícia não entra por medo e por não querer quebrar os tabus, junto dos grupos financiados pelos países ricos árabes, junto dos grandes impérios financeiros que colocam milhares de pessoas na pobreza para aumentar os seus lucros, junto das multinacionais que exploram a natureza e o povo para satisfazer acionistas.

Perpetrado por quem nos inveja e nos odeia em simultâneo, um grupo de criminosos que se escudam atrás das mais diferentes razões para atacar um modo de vida. Atacam-nos pela nossa tolerância, pela nossa cultura, pela nossa forma de ser, por estarmos cá. Por mostrar que o mundo pode ser quase justo e perfeito dentro da sua diversidade e cultura.

Vamos voltar à base da questão, o estado vive para servir o povo e não para se servir dele em prole de um pequeno grupo de grandes assassinos sem armas. Temos todos que acordar e ajudar a Europa a recuperar a sua paz.

Escrevo sobre Paris, pois adoro a cidade, gosto do País e da sua cultura. Cresci admirando a cultura e as tradições, hoje estou triste, muito triste pois um pouco do meu mundo morreu ontem, junto aos corpos caídos pelas ruas de Paris. Quem nos atacou não foi o ódio islâmico, foi sim o ódio ao que é ser Europa e esse ódio vem dos mais variados locais e de certeza que não vem de onde nos dizem que vem.

Facto da semana: No dia 5 de Novembro as barragens de Fundão e Santarém, localizadas entre Mariana e Ouro Preto, no Brasil romperam-se liberando uma onda de lama que teria chegado a 2,5 m de altura. Matando um grande número de pessoas. Está notícia passa ao lado de todos nós devido à distancia. Contudo, é mais um exemplo de terrorismo capitalista perpetrado pelo estado brasileiro. Podem consultar na internet e ver o que aconteceu.

Já há algum tempo que esperava por isto, a guerra na Europa era apenas uma questão de tempo. Foi criada a tempestade perfeita entre várias situações para que isto acontecesse. Por isso, está na altura de tomarmos todos consciência do que se vive, temos que agir para preservar o que resta no velho mundo.

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Pessoa da semana: Aníbal Cavaco Silva por continuar a fazer tudo para não tomar uma decisão .

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OPINIÃO

ESTES SÃO DIAS HISTÓRICOS JOSÉ GRAÇA Membro do Secretariado Regional do PS-Algarve

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assados quarenta anos sobre o verão quente de 1975, os portugueses testemunharam momentos históricos para a nossa Democracia, com o alargamento do arco da governação aos partidos da esquerda parlamentar e a deslocação do centro da atividade política para a Assembleia da República. Longe da maioria absoluta pedida aos portugueses na campanha eleitoral, António Costa protagonizou a mudança e soube trazer o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista Os Verdes ao debate, desempenhando um papel que o Presidente da República atribuíra ao líder do maior partido da coligação vencedora. Perante a incapacidade de Passos Coelho de alargar o leque de apoiantes, o Partido Socialista apresentouse ao serviço, negociando o seu programa eleitoral com os outros partidos e alcançou um compromisso que lhe permitirá apresentar-se ao Presidente da República com uma alternativa ao chumbo do programa e à rejeição parlamentar do 20.º Governo Constitucional, que congregou toda a oposição. Se muitos tinham dúvidas sobre a viabilidade de um acordo entre os partidos da esquerda, a aprovação por unanimidade no Comité Central do PCP da proposta de apoio ao Governo do PS por uma legislatura marca o fim de quatro décadas de desconfiança mútua, pelo menos nas cúpulas partidárias, e abre novas portas ao diálogo e à concertação entre os dois partidos, permitindo outras alianças na senda do trabalho iniciado por Jorge Sampaio no Município de Lisboa nos anos noventa. Considerado por muitos como o principal vencedor das últimas eleições, o Bloco de Esquerda acabou por seguir no período pós-eleitoral um caminho que

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sempre havia recusado, motivando até os afastamentos de Rui Tavares ou Joana Amaral Dias, que defenderam ativamente soluções governativas de base alargada e obtiveram os resultados que sabemos. Na minha opinião, a democracia representativa amadureceu e ficou a ganhar com a nova composição do Parlamento, permitindo a participação de todas as forças político-partidárias na construção de soluções de futuro de forma responsável e reforçando o papel de Portugal numa Europa que se deseja mais solidária e inclusiva, sendo certo que todos são unânimes na sua importância na resposta à crise que ultrapassa fronteiras e continentes. Para os portugueses, o aumento do salário mínimo nacional, a devolução dos cortes nas pensões e a devolução da sobretaxa de IRS são boas notícias que permitem no curto prazo a melhoria do rendimento disponível das famílias, contrariando uma tendência inexorável de empobrecimento e de gritante desigualdade social. Outras medidas, há muito pedidas pelos partidos da (atual) oposição e que nunca foram consideradas, podem ver a luz do dia no médio prazo. Falo-vos da redução do IVA na restauração ou da reposição dos feriados perdidos, ambos com o condão de contribuir para o aumento do emprego no Algarve, ou da tão propalada reforma do Estado. Sendo certo que este cenário governativo pode justificar alguns receios, mesmo até para o Presidente da República a quem compete escolher o próximo líder do Governo, a construção de uma alternativa de confiança passará pela formação de um governo de combate para quatro anos que privilegie uma prática quotidiana de excelência. Porque, esta é uma oportunidade que Portugal não pode desperdiçar! . 26


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OLHARES Crónicas dos emergentes

BORNÉU EDGAR PRATES Executivo de Desenvolvimento de Novos Negócios e Contas Globais na Accenture

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ividida entre a Malásia, Indonésia e Brunei, a maior ilha da Asia é um dos últimos lugares inexplorados do planeta. Os seus mares de coral, abundantes espécies de fauna e ilhas paradisíacas são somente um pequeno pormenor. Os rios estão repletos de crocodilos, no interior há

que assole a região, não haverá maneira de destronar o tigre asiático. Nos planaltos tropicais da «Amazónia Asiática» existem lugares que só podem ser visitados de helicóptero ou avião, com aterragem em campo aberto. Os lugares protegidos do vale de Danum e a depressão de Maliau contrastam com o ritmo das cidades de Kota Kinabalu, Kuching e Balikpapan. Em Miri estão representadas mais de 60 empresas de petróleo. Bintulu foi designado um centro industrial que engloba o desenvolvimento nas áreas do turismo, petróleo, metais, alumínio, vidro, pescas, aquacultura, pecuária, florestas, construção naval e óleo de palma. E na província indonésia de Kalimantan registou-se em 2010 um crescimento anual de 27 por cento .

rinocerontes e tigres, pássaros com bicos coloridos e seres humanos nus que sorriem para os forasteiros porque ali abundam não só as florestas tropicais com natureza. O mais ousado conquistador pode imediatamente constatar uma vasta riqueza ao nível dos recursos naturais e também dos negócios offshore. A moeda de Singapura tem um acordo com o Brunei e por mais crise

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ENTREVISTA

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DIOGO GAGO O rugido de leão do ás do volante de São Brás de Alportel Diogo Gago foi, a par de Ricardo Teodósio, um dos pilotos algarvios em grande destaque na última prova do Campeonato Nacional de Ralis e só um furo na derradeira fase o impediu de vencer o Rallye Casinos do Algarve na categoria das duas rodas motrizes. Uma prestação que veio confirmar todo o talento do jovem de São Brás de Alportel e que levou a Peugeot a apostar nele para disputar o Campeonato da Europa de Juniores de 2015. Agora, é altura de preparar 2016 e Diogo Gago não esconde a vontade de continuar a acelerar nos troços europeus, mas não é fácil angariar patrocinadores num país que só presta atenção ao futebol. Assim, se a participação no Campeonato Europeu de Juniores não se tornar a realidade, a aposta deverá passar pelo Campeonato Nacional de Ralis e pelo Troféu 208 Rali Cup, em França. Texto e Fotografia: Daniel Pina

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O curso foi escolhido com naturalidade para ajudar nos negócios de família enquanto não anda de volta da sua grande paixão e os carros são um gostinho desde miúdo, aliás, outra coisa não seria de admirar pois o pai, António Gago, também foi piloto de ralis e, em 2001, foi mesmo campeão do Troféu Fiat Punto no Campeonato Nacional de Ralis. “Mas o bichinho apareceu ainda mais cedo, aos três anos, quando ele me pôs um karting nas mãos. Tinha que usar duas almoçadas nos pés para chegar aos pedais”, recorda, numa tarde solarenga em frente à igreja de São Brás de Alportel.

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lguns dias após terminar o Rallye Casinos do Algarve, a última prova do Campeonato Nacional de Ralis de 2015, Diogo Gago já andava na azáfama dos preparativos da próxima temporada, a preparar um projeto que lhe permita continuar a acelerar pelas estradas do velho continente. Mas ainda não era tempo de descanso, pois o piloto de 24 anos de São Brás de Alportel tinha sido convidado para participar em mais um rali, em Vizela, já sem contar para qualquer competição, apenas para mostrar o seu andamento. Um andamento que o jovem, que tem o curso de Técnico de Turismo Ambiental e Rural, evidenciou nos troços da Serra do Caldeirão, nos concelhos de Loulé e São Brás de Alportel, no fim-de-semana de 7 e 8 de novembro.

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Depois disso, foi o trajeto comum a muitos miúdos, uma evolução gradual em eventos de karting para ir aprendendo as bases da condução, a participar em troféus e campeonatos a nível nacional, ainda que sem o objetivo de ser campeão disto ou daquilo. Finalmente, em 2010, tira a carta de condução e bastou-lhe duas semanas para entrar no Troféu Seat Marbella. “Os kartings sabiam-me a pouco e já participava em algumas provas como navegador do meu pai. A minha vontade era, sem dúvida, ir para os ralis, foi-me dada essa oportunidade e fui evoluindo degrau a degrau, sem querer dar o passo maior que a perna”. Sendo filho de um piloto, adivinha-se que teve o apoio total de António Gago, curioso em saber de que massa Diogo era feito. Menos piada achou a mãe, já lhe bastava o desassossego de ter o marido metido em corridas, agora ia o filho mais novo pelo mesmo caminho. “Já na época dos kartings torcia o nariz, tinha receio que acontecesse algum acidente que, como andamos a grandes velocidades, podem ter consequências graves. Tive acidentes, uns mais graves do que outros, mas nunca nada de crítico”, conta Diogo, explicando que é a adrenalina de estar dentro do carro, o cheiro da gasolina, o ronronar dos motores, que mais o atraem neste desporto. 32


“Nunca fui ligado ao futebol, prefiro desportos radicais. Sempre que tenho oportunidade de ir ao mar pratico surf e gosto também de skate e snowboard”, aponta.

primeiro ano num carro de caixa sequencial, uma competição mais séria, mais dura. Em 2014 entrei a meio do campeonato no 208 Rali Cup, fiz provas do Troféu Suzuki Swift, em Espanha, e do Campeonato Nacional, foi uma época bastante preenchida, com muitos altos e baixos”, relata.

E como Diogo Gago é um piloto da nova geração, também se preocupa em dominar as bases da mecânica, porque todos os segundos contam durante as provas e não se pode estar à espera que chegue ajuda de outro lado quando há um problema com o carro. “Mesmo na renta-car da família, tudo o que é relacionado com trocas de pastilhas, revisões a motores, mudança de pneus, faço tudo o que estiver ao meu alcance. Percebo o suficiente para me desenrascar nos troços se for uma situação que se possa resolver no local”, Jorge Carvalho e Diogo Gago na cerimónia do pódio do Rallye Casinos do Algarve indica o entrevistado. Pode-se dizer, contudo, que 2014 foi o ano da confirmação do talento do são-brasense, ao concluir o Troféu 208 Rali Cup na quarta posição e vencer na categoria dos juniores, o que lhe deu um ano de contrato com a Peugeot Sport no Campeonato Europeu de Juniores. E Retomando a história de Diogo Gago, não foi assim se chegou num instante a 2015 e de de um dia para o outro que se tornou piloto da Peugeot. Depois da estreia em 2010, o objetivo olhos postos já em 2016, pois o apoio da traçado para o ano seguinte foi vencer o Troféu Peugeot Sport era apenas de um ano e Diogo Gago será substituído pelo novo campeão Seat Marbella do Open de Ralis, o que júnior do 208 Rali Cup. “São projetos no conseguiu, subiu de categoria e passou para o âmbito da Peugeot Rally Academy e agora Troféu Modelstand, agora ao volante de um vamos tentar obter o apoio da Peugeot Peugeot 206 e, em oito provas, ganhou seis, o Portugal, porque queremos continuar a correr que se traduziu em novo troféu para a vitrina ao mais alto nível no plano internacional”, da glória. Sobe entretanto mais um degrau, afirma, reconhecendo que fazer parte de uma sempre nas duas rodas motrizes, por não equipa oficial ajuda bastante na evolução dos querer avançar depressa demais. “Em 2013, pilotos, que praticamente só se preocupam em apostamos no campeonato nacional e tive conduzir. “É verdade que, às vezes, o oportunidade de participar no 208 Rali Cup, orçamento era bastante limitado e havia em França, provas mais longas e difíceis, com alturas em que não podia arriscar para não uma competitividade tremenda. Foi o meu

Aprender lá fora para brilhar cá dentro

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colocar o resto da prova ou da temporada em perigo. O problema é que esses momentos de indecisão podem custar segundos importantes quando se está a lutar pelo pódio. Naquele nível competitivo, os outros não hesitam e passam-nos logo à frente”, salienta. E embora Portugal seja um país de onde saíram grandes pilotos, nas quatro e nas duas rodas, Diogo Gago admite que se aprende mais, e mais depressa, Diogo Gago e o navegador Jorge Carvalho antes do início da prova quando se compete no estrangeiro. “O material gasta em Portugal para montar um projeto para ganhar o título nacional, se calhar por vezes determina o andamento do piloto, fazemos dois anos no Europeu de Juniores e mas temos que nos esforçar para conquistar um bom lugar sejam quais forem as condições. aprende-se muito mais. Mas se, para o ano, não tiver possibilidades de ingressar no Andámos sempre nos cinco primeiros no Europeu, vou tentar o Nacional, pelo menos Campeonato Europeu de Juniores e isso deupara não perder o ritmo”. nos uma grande bagagem, como se viu no Rallye Casinos do Algarve. Não forçamos, não Sacrifícios financeiros que são enormes para andamos com a faca nos dentes e ganhamos se andar nos ralis, mas também há outros seis das oito especiais. Lá fora levamos na sacrifícios a ter no dia-a-dia, embora este não cabeça, cá dentro conseguimos ganhar”, seja um desporto tão exigente nessa matéria analisa o são-brasense, não negando que é como outros. Por isso, Diogo Gago acaba por ter preciso ter a estrelinha da sorte para angariar uma vida igual à de tantos outros jovens os apoios necessários em momentos fulcrais da normais, sem entrar em exageros, como é carreira. “Tivemos que fazer alguns sacrifícios, óbvio. “Quando estou cá, ajudo a família nas mas foi uma aposta ganha ter participado nos empresas e tenho um horário normal de troféus internacionais. Com o dinheiro que se trabalho. Duas vezes por dia faço preparação física, de manhã e ao final da tarde. Entre provas, saio com os amigos, vou à praia praticar surf. Não tenho tiques de vedeta, sou uma pessoa bastante sossegada, relaxado, low-profile. Quem me conhece sabe o meu valor e aquilo que faço. Os outros olham para mim e veem um jovem normal”, assegura. E como Diogo Gago fala frequentemente na primeira pessoa do plural, no «nós», questionamos qual a importância do navegador, neste caso de Jorge Carvalho. “É uma peça-chave, o Diogo Gago a acelerar na Serra do Caldeirão

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piloto tem que fazer tudo aquilo que ele diz sem um momento de hesitação. É também o navegador que controla o ritmo do piloto para que não corramos riscos desnecessários”, enaltece, frisando que, na estrada, não se pode estar a pensar em dar espetáculo, em fazer manobras para o público vibrar, por muito bem que se conheça o percurso. “Preparei o Rallye Casinos do Algarve da mesma forma que todos os outros, não mudei a minha forma de andar só pelo facto de estar a correr em casa. É verdade que já passei por aquelas classificativas, mas nem sou daqueles pilotos que decora os troços. Aprendi lá fora a ser calculista, se calhar até demasiado, e não quis arriscar para dar espetáculo, porque o piso estava bastante duro e as coisas podiam correr mal”. Infelizmente, apesar das cautelas, um furo tirou-lhe a vitória nas duas motrizes, mas não teve muito tempo para remoer o sucedido. “Estamos a montar o projeto europeu, não está fácil, mas vamos lutar com as armas que temos. Se isso não for possível, vamos conciliar o Nacional com o Troféu 208 Rali Cup, em França, porque é um campeonato com bastante competitividade e visibilidade”, adianta Diogo Gago, com a habitual tristeza de sermos um país que só liga ao futebol. “O desporto motorizado é bastante caro e, em Portugal, não há retorno desse investimento. Nas televisões só passam as coisas más, os ralis nacionais só são notícia quando há um acidente grave, tudo o resto é pouco divulgado” . 35

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ENTREVISTA

ANDRÉ SOUSA surpreende com uma poesia desprendida, crua e sentimental O armacenense André Sousa apresentou, no dia 14 de novembro, o seu livro de poesia «Juro Amar-te», na Biblioteca Municipal de Silves. Tratase da estreia deste sociólogo apaixonado pela escrita desde miúdo, que começou a dar-se a conhecer ao grande público através do blogue «Pedacinhos de Mim para Ti» e que evoluiu posteriormente para a sua página pessoal no Facebook, sendo um dos jovens autores mais seguidos do país. E, por isso, o Algarve Informativo viajou até Armação de Pêra para conhecer também André Sousa e o seu percurso literário. Texto e Fotografia: Daniel Pina

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omos encontrar André Sousa de olhar pensativo sobre o Oceano Atlântico, junto à Fortaleza de Armação de Pêra, ao fim de mais um dia de trabalho, com o sol a brilhar no céu e uma temperatura nada habitual em meados de novembro. Um olhar pensativo que esconde uma mente em constante ebulição, quiçá a ultimar mais um dos seus poemas, dos tais que começou a partilhar há alguns anos através do blogue «Pedacinhos de Mim para Ti», antes sequer de pensar em escrever um livro. Nem mesmo quando começou a espalhar os seus poemas de amor pelo mundo através do Facebook imaginava vir a tornar-se escritor, mas as palavras de incentivo levaram-no a participar no concurso «Geração Arte», do Correio da Manhã e, pasme-se, venceu na categoria de «Texto». O prémio foi precisamente editar uma obra literária e assim nascia «Juro Amarte». Mas vamos começar pelo princípio, como toda a boa história deve começar, e não é preciso pôr a «carroça à frente dos bois» para percebermos a caminhada deste jovem armacenense de 26 anos, licenciado em Sociologia e com Mestrado em Educação Social pela Universidade do Algarve. Depois de seis anos «emprestado» a Faro, regressou a esta vila costeira do concelho de Silves, onde é técnico da Junta de Freguesia, para além de ajudar no Pólo Educação Ao Longo da Vida, um espaço onde pessoas com mais de 65 anos despertam as suas competências e desenvolvem novas facetas. Em simultâneo, coordena uma Loja Social que presta apoio a famílias carenciadas, mas há sempre tempo para escrever, um gostinho que apareceu após ter concluído o ensino secundário. “Gostava bastante de ler, provavelmente porque os meus pais me incutiram cedo esse interesse, mas só no terceiro ano da faculdade é que decidi criar um blogue, isto em 2010”, conta. O certo é que o «Pedacinhos de Mim para Ti» teve logo uma grande recetividade e em 2014 decide apostar igualmente no Facebook, com uma página com o seu nome próprio. “No

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início dedicava-me basicamente à prosa, a poesia surgiu há coisa de dois anos e foi com ela que participei no «Geração Arte»”, prossegue o seu relato, confessando estar algo surpreendido por ter praticamente 14 mil seguidores no principal rede social em tão pouco tempo. “Nunca imaginei que fosse ter tanta gente a acompanhar aquilo que escrevo e, como tal, também não me passava pela cabeça lançar um livro. Era um simples hobby mas está a assumir um papel cada vez maior na minha vida. Se calhar por isso é que fiz o caminho inverso porque, normalmente, as pessoas começam pela poesia e depois transitam para a prosa. Eu não sabia que sabia escrever poesia e existem aquelas ideias préconcebidas de que a poesia tem que rimar no final duma estrofe e usar as palavras certas. A minha é mais desprendida, algo que não tem que rimar para ser poesia”. André Sousa acredita, aliás, que é o seu estilo menos pensado ao milímetro que cativa as pessoas, pois percebem que são sentimentos reais e que não estão ali palavras «caras» sem significado. “Dizem-me que as minhas palavras as ajudaram nas suas vidas, a desbloquear algumas situações, a arriscar mais em determinados casos. A minha escrita é crua, sentimental e não racional”, descreve. Quanto à inspiração, é o amor, o amor e mais amor, contrariando a tendência, na sua perspetiva, das pessoas se irem desligando dos seus sentimentos mais primários à medida que vão crescendo e vão mergulhando na azáfama do trabalho. “A minha inspiração é ver aqueles casais com imensos anos de convivência; ver homens e mulheres que, se calhar, perderam o amor da vida delas e acabaram por encontrar outra pessoa; ver indivíduos que enfrentam as adversidades, que caem se tiverem que cair, mas levantamse e vão outra vez à luta. As pessoas têm que arriscar um pouco mais, não se podem acomodar só porque tiveram um azar na vida, porque as coisas correram mal nesta ou naquela ocasião”, apela o entrevistado. Poemas que, devido ao seu teor e estilo, acabam por conter muito do próprio André 38


Sousa, das suas vivências, das suas crenças, e ele não as esconde, não tem receio de se expor aos outros. “Não vale a pena estarmos a escrever ou a falar de algo abstrato que nunca vivemos ou experienciamos, acaba por ser uma escrita artificial com a qual os leitores não se identificam”, entende o armacenense, garantindo que tem sempre algo sobre o que escrever. “Trabalho, chego a casa e sinto logo uma necessidade enorme de escrever, porque as ideias vão surgindo ao longo do dia. O amor é um tema bastante extenso, o sentimento pode-se adaptar a várias situações e depois despoleta a saudade, a tristeza, a melancolia”.

Crise dificulta acesso à cultura Falar de escrita implica abordar a eterna dualidade entre inspiração/trabalho e já se percebeu que André Sousa é invadido frequentemente por novas ideias e pensamentos para colocar em poema e que segue uma rotina diária para escrever. “As ideias são muito voláteis, chegam e partem

num instante e temos que as agarrar depressa antes que fujam. Quando me lembro de alguma frase, seja de dia ou de noite, quando estou a dormir, aponto logo no telemóvel para pegar nela posteriormente”, indica, sublinhando que não precisa de muito tempo para compor um poema. “Bastam-me 15 minutos para transmitir aquilo que pretendo às pessoas, mas é óbvio que há dias em que chegamos a casa completamente esgotados e esse processo custa mais. Contudo, quando escrever é a nossa paixão, acabamos por arranjar sempre tempo, mas também não me obrigo a produzir algo de novo todos os dias. E escrevo sempre com música, que desencadeia outro tipo de sentimentos e que normalmente partilho no blogue juntamente com o poema”. E como as tecnologias modernas assim o permitem, André Sousa escreve e coloca o texto imediatamente no espaço virtual, sem lhe dar retoques ou pensar se fica melhor assim ou assado. “É o meu sentimento naquele momento, não vou alterar as palavras no dia seguinte, só para colocar uma vírgula ou um ponto final. Eu escrevo para 39

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A questão que se coloca é como se consegue convencer alguém a comprar um livro com poemas que já leu através do Facebook, e que guardou, se assim o desejou, ao que André Sousa responde que alguns dos textos publicados na obra nunca tinham sido partilhados na internet, pelo que se podiam considerar originais. “Estão lá os poemas que tiveram maior recetividade e os que mais gozo me deram a escrever. Depois, apostei bastante no marketing, o que influenciou muito a sua aquisição, embora tenha consciência de que é complicado vender livros de poesia em Portugal”, admite o escritor, reconhecendo que a prosa é mais comercial.

mim, não estou refém do que as pessoas vão pensar, mas é claro que fico contente quando elas gostam dos meus poemas. Mas também há textos que não partilho”, frisa. E, mais uma vez, André seguiu um caminho diferente do habitual, ou seja, primeiro deu a conhecer o seu trabalho através do blogue e do Facebook, a título gratuito, e só depois é que editou um livro à moda antiga, em papel, daquele se segura nas mãos. “Temos que compreender que os tempos atuais impossibilitam muitas pessoas de terem acesso à cultura, de adquirirem um simples livro. O «Juro Amar-te» é o juntar dos poemas que têm mais significado e sentido para mim, que foram ordenados, desordenados, ordenados outra vez, até criar um fio condutor que pretendia. Muitas vezes pensei em arriscar e voltei atrás, achava que ainda não estava na altura certa para lançar o livro. Não vale a pena apressarmos o ritmo das coisas, elas acontecem quando têm que acontecer. Depois, o concurso deu-me uma maior visibilidade e decidi que estava no momento de avançar”, explica.

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André Sousa cedo percebeu, então, que muito do trabalho de promoção e divulgação das obras literárias tem, nos tempos modernos, que ser realizado pelos próprios autores, embora não se queixe da editora que apostou no seu talento, a «Chiado Editora». “Mas é verdade que não podemos estar à espera que sejam eles a fazer tudo, porque as editoras têm muitas pessoas associadas. Se queremos vingar neste mundo, não podemos ficar sentados à espera que as coisas aconteçam, que as oportunidades surjam. Há muitas portas que se fecham, mas há outras que se abrem. Eu posso enviar uma divulgação para 200 contatos e chegam-me 10 respostas, mas valeu a pena esse trabalho de pesquisar e batalhar”, enfatiza, o que não significa que não haja dias mais frustrantes do que outros. “Temos que marcar sítios para ir fazer apresentações e andar com os livros às costas e depois, quando lá chegamos, se calhar não estão as pessoas que desejávamos. No entanto, basta uma identificar-se com as minhas palavras, que elas mudaram um pouco da sua vida, já compensou o esforço”.

Só se vence com perseverança Um périplo por bibliotecas municipais, por auditórios de escolas, por todos os lugares possíveis e imagináveis que não agrada a muitos autores de renome, mas que acaba por ser mais 40


proveitoso do que colocar livros à venda nas livrarias ou hipermercados. “Sem dúvida. Os grandes nomes estão todos num círculo fechado que é praticamente vedado aos novos escritores e isso acontece igualmente com os pintores, escultores, com qualquer artista. Dizer «vamos apostar em novos talentos» são palavras vazias. Nós temos que investir do nosso dinheiro se queremos lançar um livro, mas compreendo que as editoras não queiram aventurar-se com um escritor sem provas dadas, sem nome no mercado”, dispara, num tom um pouco mais elevado do que até ao momento. “Há tantos jovens com capacidades que ficam na gaveta porque se continua a contemplar autores que estão há imensos anos em atividade. Mas eu vou enfrentar essas barreiras todas”, garante André Sousa. E enquanto as barreiras físicas não se esbatem, os novos autores ganham asas nas redes sociais e na blogosfera, como foi o caso do entrevistado, que anda neste meio há seis ou sete anos, mas nem todos conseguem dar o salto e ser bem-sucedidos nos seus intentos, apressa-se a avisar. “Existem muitos jovens que arriscam mas 75 por cento desistem ao fim do primeiro ano, só que não podemos obrigar as editoras a darem-nos oportunidades, temos que criar primeiro uma credibilidade para que elas sintam interesse em apostar em nós. Há muitos blogues e páginas do Facebook que desaparecem rapidamente, outras perseveraram e tiveram sucesso. O Pedro Chagas Freitas é exemplo disso, começou na minha editora, se calhar ninguém dava nada por ele, e agora está onde está, porque tentou por ele, traçou as suas metas e foi à luta”, compara. O problema, lá está, é que mesmo quando as portas se abrem e se lança o livro para o mercado, não convém largar a sua atividade profissional, já que ninguém vive da cultura em Portugal. “Mesmo que um autor venda bem, não consegue sobreviver com isso, tem que dar workshops ou aulas, fazer outras coisas.

Mas não é por isso que temos que deixar de escrever livros ou de apostar na cultura. Se houver uma desistência de escrever, pintar, cantar, perde-se toda a cultura, tudo aquilo que ainda faz as pessoas pensarem e imaginarem. Depois, temos uma sociedade sem capacidade de ir mais além, uma sociedade condenada”, alerta, preocupado. Apesar deste discurso, a verdade é que «Juro Amar-te» está a ter bastante sucesso, a primeira edição está praticamente esgotada ao fim de três meses e André Sousa já trabalha no sucessor, porque inspiração não lhe falta. “Vai ser um livro um pouco diferente do primeiro e que vai aliar outras coisas à escrita. Agora que as pessoas já conhecem o meu trabalho, é altura de arriscar e mostrar algo ainda mais pessoal. Penso que, até final do próximo ano, terei novo livro no mercado”, revela, em final de conversa, já com o sol-posto e a tranquilidade a esbater-se pela vila de Armação de Pêra .

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ATUALIDADE FARO É O 4.º MUNICÍPIO DO PAÍS EM PODER DE COMPRA PER CAPITA

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aro é um dos municípios em destaque no estudo que o INE disponibilizou, no dia 9 de novembro, sobre o Poder de Compra Concelhio referente a 2013, com o objetivo de caracterizar os municípios portugueses relativamente ao poder de compra, a partir de um conjunto de 17 variáveis relativizadas pela população residente. No Indicador percapita do Poder de Compra (IpC), Faro obtém 132,3 pontos (Portugal = 100), obtendo assim a 4ª posição, apenas suplantado por Lisboa, Porto e Oeiras. Em relação a 2011, este estudo bienal revela que o nosso Município subiu uma posição, deixando para trás Sines. Procedendo à análise nacional, o INE conclui que, em 2013, o município de Lisboa apresentou o IpC mais elevado (207,9), mais do que duplicando o índice nacional, ficando à frente de outro município da área metropolitana de Lisboa – Oeiras, com 180,7. Em terceiro, aparece o Porto (169,9), logo seguido de Faro. Por distritos, a Área Metropolitana de Lisboa (125,1) é a única região NUTS II com um valor acima do poder de compra per-capita médio nacional. Para o Algarve, o valor (96,4) situou-se abaixo da média. As três restantes regiões NUTS II do Continente — Norte, Centro e Alentejo —

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registavam IpC de 92,0 para o Norte; 89,4 para o Alentejo; e 89,2 para o Centro. Estes números traduzem uma diversificação da economia local no município de Faro, atualmente menos dependente dos serviços ali

acolhidos. A eclosão de diversos negócios e a abertura de Faro ao Turismo trouxe novas fontes de receitas, mais emprego e outros efeitos multiplicadores, em várias áreas. O esforço é, evidentemente, da população, que parece apostada em investir na mudança de paradigma económico de uma cidade até agora reconhecida apenas pela diversidade de serviços públicos oferecidos. À Câmara Municipal de Faro cabe prosseguir o rumo que se encontra traçado em termos de simplificação burocrática, ordenamento do território em bases de desenvolvimento sustentável, a par da preservação do património histórico/cultural e do fomento económico .

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PAPA FRANCISCO SERÁ O NOME DE UMA NOVA AVENIDA DE QUARTEIRA

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Câmara Municipal de Loulé aprovou o batismo de uma nova avenida entre a Avenida Francisco Sá Carneiro e a Avenida de Ceuta, na cidade de Quarteira, como Avenida Papa Francisco. A nova artéria será inaugurada no próximo dia 28 de novembro, pelas 10h30.

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, Argentina, a 17 de dezembro de 1936, filho de emigrantes piemonteses. Diplomou-se como técnico químico, e depois escolheu o caminho do sacerdócio, entrando no seminário diocesano de Villa Devoto e tendo sido ordenado sacerdote a 13 de dezembro de 1969. Tornou-se Arcebispo de Buenos Aires, em 28 de fevereiro de 1998, e foi elevado ao cardinalato em 21 de fevereiro de 2001, com o título de Cardeal Presbítero de San Roberto Belarmino. Foi eleito Papa em 13 de março de 2013, tornando-se o 266.º Papa da Igreja Católica e atual Chefe de Estado do Vaticano, sucedendo ao Papa Bento XVI que abdicou do papado em 28 de fevereiro de 2013.

A atribuição do nome do líder da Igreja Católica a esta nova artéria exprime o reconhecimento pelo papel que o Papa Francisco tem desempenhado em prol de um mundo mais humano e mais fraterno. A

É o primeiro Papa nascido no continente americano e também o primeiro latino-americano, o primeiro pontífice do hemisfério sul, o primeiro Papa a utilizar o nome de Francisco, o primeiro pontífice não europeu em mais de 1200 anos. É também o primeiro Papa Jesuíta da história. O Município de Loulé mantém uma boa relação com a Embaixada da Argentina em Portugal, testemunho da afirmação da relação ibero-americana que importa fortalecer, a bem dos Povos. “O reconhecimento daqueles que enriquecem a Humanidade com o seu exemplo inspirador, as ideias e a ação transformadora são fundamentais para a vivência do presente e para a construção de um futuro melhor. É por isso que, em Loulé, preservamos a memória coletiva, recuperamos o património e reconhecemos o mérito de quem ousa querer contribuir para um mundo melhor”, consideram ainda os responsáveis da Câmara Municipal de Loulé .

preocupação do Sumo Pontífice pelas questões ambientais é também uma das razões da escolha do nome desta avenida urbana, num momento em que a Autarquia de Loulé está fortemente empenhada no projeto ClimAdapt (programa de adaptação às alterações climáticas). A forte liderança religiosa e ética do Papa Francisco tem-se batido contra a indiferença dos seres humanos para com o meio ambiente que os envolve, mobilizando todos os credos para o urgente desafio de proteger a nossa casa comum.

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ANTÓNIO MIGUEL PINA ABRIU 6.º SIMPÓSIO DE DIABETES DO ALGARVE consultas e cirurgias desta especialidade. “Este é o papel do novo autarca: não só o autarca que constrói, mas o autarca que cuida dos seus munícipes”, referiu António Miguel Pina.

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Presidente da Câmara Municipal de Olhão, António Miguel Pina, foi um dos oradores na Sessão de Abertura do 6.º Simpósio de Diabetes do Algarve, que decorreu no Real Marina Hotel & Spa, na cidade cubista. O autarca olhanense agradeceu à comissão organizadora a escolha de Olhão para a realização do evento, enquanto sublinhou que o concelho dispõe do único hotel com 5 estrelas do Sotavento algarvio, a par de um conjunto de infraestruturas que propiciam a organização de eventos desta natureza. Em relação à temática do simpósio, António Miguel Pina referiu o papel que a Autarquia tem desempenhado no acompanhamento de pacientes que sofrem de complicações relacionadas, entre outros fatores, com a diabetes: de há um ano a esta parte, 2.500 munícipes foram já atendidos no âmbito do Projeto Cuidar, promovido pela Câmara Municipal, e destinado ao acompanhamento oftalmológico gratuito daqueles que têm baixos recursos financeiros. O Projeto Cuidar faz parte da Rede Intermunicipal de Cuidados de Saúde em Oftalmologia, e visa colmatar lacunas existentes no Serviço Nacional de Saúde no que diz respeito a

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O presidente do Município aproveitou ainda a ocasião, para anunciar a intenção de trazer para Olhão um pólo da AEDMADA. (Associação para o Estudo da Diabetes Mellitus e de Apoio ao Diabético do Algarve), para que os olhanenses que sofrem de diabetes não precisem de se deslocar a Faro para receberem acompanhamento médico. Presentes também na sessão de abertura do simpósio estiveram Eurico Gomes, presidente da AEDMADA e precursor da criação, há 30 anos, de uma Unidade de Diabetologia no Hospital de Faro, Gabriela Valadas, diretora clínica do Centro Hospitalar do Algarve e João Moura Reis, presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve. Todos foram unânimes em considerar a diabetes um dos principais desafios para os profissionais de saúde dos nossos dias, por se tratar de um flagelo que cada vez afeta mais pessoas e com complicações que fazem dela uma doença que requer um acompanhamento multidisciplinar. A localização periférica do Algarve foi uma das dificuldades referidas, na medida em que o Centro Hospitalar do Algarve dispõe da única Unidade de Diabetologia que existe até Lisboa, o que torna os recursos existentes limitados e coloca desafios no que diz respeito à gestão de meios logísticos e humanos. Reforçar a aposta nas estratégias de prevenção e promoção de hábitos de vida saudável são os principais desafios apontados pelos especialistas da área .

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SÃO BRÁS DE ALPORTEL ENTRE OS MELHORES MUNICÍPIOS NO RANKING FINANCEIRO NACIONAL

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ão Brás de Alportel foi o município com melhor desempenho financeiro no Algarve, entre os concelhos de pequena dimensão, no ano de 2014, segundo os dados apresentados pelo Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses. No ranking global de eficiência financeira, São Brás de Alportel ocupa o 9.º lugar quando comparado com municípios similares, uma melhoria significativa em relação ao ano anterior, sendo o único concelho do Algarve a figurar na lista dos 35 melhores municípios deste grupo. De acordo com a análise económica e financeira aplicada às contas dos municípios portugueses referentes ao ano de 2014, o município são-brasense ocupa o 26.º lugar entre os municípios com melhor índice de dívida total e o 33.º no ranking dos municípios com menor passivo exigível (com uma diferença de 82 mil e 987 euros em relação ao ano anterior), num universo de 318 municípios. Somente com nove dias para concretizar pagamentos, São Brás de Alportel conquista a 51ª posição na lista dos municípios com menor prazo médio de pagamentos e o 29.º lugar entre os que apresentam melhor volume de juros e outros encargos financeiros pagos em 2014.

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Na avaliação apresentada pelo Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses foram considerados diversos indicadores para analisar a situação financeira, económica e patrimonial e a perspetiva da eficácia da gestão de exercício de cada município bem como feita uma análise da evolução da situação financeira de cada um nos últimos sete anos. Os resultados da análise da execução orçamental apresentados pelo Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses referente a 2014 reforçam a

motivação do município de São Brás de Alportel para manter uma política financeira assente numa gestão equilibrada, ponderada e que continua a dar prioridade aos investimentos que permitem melhorar todos os dias a qualidade de vida dos munícipes .

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TAVIRA ANTECIPA PAGAMENTO TOTAL DE EMPRÉSTIMO NO ÂMBITO DO PAEL

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Município de Tavira procedeu, por antecipação em relação ao fim do prazo, ao pagamento total do empréstimo feito ao abrigo do Programa de Apoio à Economia Local (PAEL). O contrato de empréstimo foi visado pelo Tribunal de Contas, em 2013, tendo o valor final aprovado sido de um milhão, 165 mil e 78,21 euros. O prazo definido para a liquidação da dívida do PAEL, em prestações semestrais, foi o ano de 2020, no entanto, procedeu-se agora à amortização de 839 mil e 290,52 euros. O pagamento antecipado permitiu à autarquia uma poupança anual, em juros, de 180 mil euros. O executivo avançou com esta medida, uma vez que não possui qualquer dívida de curto prazo e foi possível englobar o valor da amortização no orçamento de 2015. Além disso, este pagamento representa uma

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redução significativa da dívida total do Município. A concretização deste pagamento deve-se, sobretudo, ao facto do executivo camarário ter desenvolvido esforços no sentido de conter a despesa nestes últimos anos, o que possibilita uma atual saúde financeira adequada à realidade do concelho. Durante este período, a Câmara Municipal procedeu ao pagamento de algumas centenas de faturas em dívida aos fornecedores locais e regionais, injetando o montante aprovado na economia local e regional, contribuindo assim para que os empresários fossem ressarcidos dos valores em dívida e possibilitando a manutenção de postos de trabalho. O PAEL tinha como objetivo a regularização do pagamento de dívidas vencidas há mais de 90 dias, sendo que a sua celebração não podia conduzir ao aumento do endividamento líquido do Município, conforme estabelecido na Lei das Finanças Locais .

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RICARDO MELO GOUVEIA GARANTIU PRIMEIRO LUGAR DO RANKING

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icardo Melo Gouveia tornou-se apenas no quarto jogador da história do Challenge Tour a completar a chamada «dobradinha», ou seja, a vencer a Grande Final da segunda divisão do golfe profissional europeu e a encerrar a época como n.º1 do ranking, que este ano foi batizado com o novo nome de Corrida para Omã. Tal como o sueco Henrik Stenson em 2000 em Cuba (o atual 7.º do ranking mundial), o francês Michael Lorenzo Vera em 2007 em Itália (é o 78.º na Corrida para o Dubai do European Tour) e o norueguês Espen Kofstad em 2012 em Itália, também o português de 24 anos viveu a semana perfeita. As suas voltas de 67, 67, 76 e 65 permitiram-lhe bater o dinamarquês Joachim B. Hansen por uma única pancada e conquistar a NBO Golf Classic Grand Final, de 375 mil euros em prémios monetários. Foi o seu terceiro título no Challenge Tour, depois dos averbados no EMC Golf Challenge Open em 2014, em Itália; e no AEGEAN Airlines Challenge Tour by Hartl Resort em 2015, na Alemanha. Passa assim a ser o português com mais vitórias no Challenge Tour, superando os dois de Filipe Lima (Segura Viudas Challenge de España em 2004 e ECCO Tour Championship em 2009), enquanto Ricardo Santos sagrou-se campeão do The Princess by Schüco em 2011. Não se contabilizam neste registo os sucessos de Lima no Aa Saint Omer Open em 2004 e de Santos no Madeira Islands Open BPI de 2012, porque embora também contassem para o ranking do Challenge Tour, detinham o estatuto superior de eventos do European Tour, a primeira divisão europeia. Um ano depois de António Rosado ter terminado 2014 como o n.º1 da Ordem de Mérito do IGT Pro Tour na África do Sul, Ricardo Melo Gouveia consegue superar essa marca por o Challenge Tour ter um estatuto superior, dado ser um dos oito circuitos internacionais mais importantes do Mundo. E é com os pés bem assentes na terra que irá começar no final deste ano a competir na temporada de 2016 do European Tour, para o qual estava praticamente

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apurado desde a vitória na Alemanha. “O meu objetivo para a próxima época será manter em primeiro lugar o cartão para o European Tour e entrar nos 50 primeiros do ranking mundial, para poder jogar o máximo de torneios possível”. Esqueceu-se de referir os Jogos Olímpicos, mas esta vitória deverá permitir-lhe aceder ao top-35 do ranking olímpico (outro recorde nacional), sendo que os 60 primeiros competirão no Rio de Janeiro em 2016. A vitória na NBO Golf Classic Grand Final valeu-lhe 64 mil euros e ter fechado o ano como n.º1 da Corrida para Omã rendeu-lhe um bónus de 30 mil euros (uma novidade este ano). Elevou, assim, o seu total de ganhos pecuniários em 2015 no Challenge Tour para 251 mil e 591,89 euros, superando por 8.612 euros o total amealhado pelo italiano Edoardo Molinari em 2012, no ano em que Filipe Lima foi 2.º do ranking do Challenge Tour. Este foi o 5.º troféu da temporada para Ricardo Melo Gouveia, o 2.º no Challenge Tour, já que, no início do ano, o profissional do Guardian Bom Sucesso Golf venceu um torneio do Algarve Pro Golf Tour (no Morgado do Reguengo Resort) e mais dois no PGA Portugal Tour: o Clube EDP PGA Open na Aroeira e a Taça PGA Portugal Betterball no Bom Sucesso, este último ao lado de Ricardo Santos por ser um evento de pares .

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