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MULHERES ADEREM À DEFESA PESSOAL

TEATRO ANÁLISE DE LOULÉ PREPARA 2016

O MESTRE DO ACORDEÃO GONÇALO PESCADA À CONVERSA COM ANTÓNIO LOPES, O SOMMELIER DO ANO 1

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SUMÁRIO 6 Num instante se foi o primeiro dente de leite!… Daniel Pina

8 Mulheres aderem à Defesa Pessoal Reportagem

16 Gonçalo Pescada Entrevista

Gonçalo Pescada 16

22 Mini(stério) da Cultura ou Mistério da Cultura? Paulo Cunha

24 Albufeira Paulo Bernardo

26 E na Assembleia de Freguesia, como é ? José Graça

Teatro Análise de Loulé 40

28 Puerto Galera, Filipinas Edgar Prates

30 O tempo, esse grande escultor Paulo Pires

32 António Lopes Entrevista

40 Teatro Análise de Loulé Entrevista

46 Atualidade

António Lopes 32

Algarve Informativo #35 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Fotografia de capa: Daniel Pina Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930

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Defesa Pessoal 8


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OPINIÃO NUM INSTANTE SE FOI O PRIMEIRO DENTE DE LEITE !... DANIEL PINA Jornalista

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este corre-corre em que andamos todos de um lado para o outro, o tempo vai passando e às vezes nem damos pelo escorrer dos grãos de areia pela ampulheta abaixo. É verdade que as novas tecnologias ajudam imenso uma pessoa a não se esquecer dos compromissos profissionais mais importantes, basta perder uns segundos a criar um lembrete na agenda do telemóvel e aquilo começa a apitar na altura certa para nos recordar disto e daquilo. Infelizmente, já não sou tão rigoroso a criar lembretes para eventos familiares, tirando as consultas das miúdas e as situações relativas à escola. Ou seja, tudo quando é aniversários, seja datas de nascimento, início de namoro, dia do ajuntamento, casamento pelo civil, casamento pela igreja, batizados e afins, sou uma desgraça. Eu sei que só demora uns segundos a criar lembretes para todas essas datas, que sou desleixado nesse aspeto, mas quem viveu até aos 23 anos com uma avó seis décadas mais velha, que tinha as suas rotinas próprias, habituou-se a não dar grande importância a essa coisa de aniversários, Páscoa ou Natal, em que é suposto presentearmos os entes queridos com alguma coisa. O problema é que as mulheres já não são assim tão inferentes a essas datas do calendários, o que me obriga a estar em constante alerta aos zunzuns, conversas paralelas, dicas mais ou menos diretas, rabugices, amuos e outros sinais da minha cara-metade que me avisam, de forma mais ou menos direta, que me estou a esquecer de qualquer coisa que qualquer marido é obrigado a lembrar-se, caso contrário, é o «ai jesus».

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Isto tudo para dizer que, no tal corre-corre em que andamos, os anos passam à velocidade da luz e só nos apercebemos realmente disso nas tais datas festivas e nos eventos mais simbólicos dos nossos filhos, sobretudo quando entram para a creche ou jardim-de-infância, depois para a escola primária, e por aí adiante. E um desses momentos aconteceu há poucos dias, quando caiu o primeiro dente de leite da minha filha mais velha. Ela andava louca desde que o dente começou a abanar, as mulheres da casa andavam frenéticas com a história da «Fada dos Dentes», sempre a dizer-lhe para não perder o dente quando caísse, que o tinha que colocar debaixo da almoçada, senão a tal fada não lhe deixava uma prenda durante a noite. Eu dei por mim a pensar que, realmente, estou a ficar velho e que as minhas bebés já não são bebés. Óbvio que as rugas e os cabelos brancos me lembram todos os dias que não estou a ficar mais novo, mas a Margarida já perdeu o primeiro dente de leite e num instante vai para a primária. Depois é a Madalena que segue as mesmas pisadas e isso significa um tipo distinto de corre-corre e com dores de cabeça de espécie diferente, mas com um prazer inolvidável de vê-las a crescer. Para trás ficaram os tempos em que ficavam sossegadinhas no berço ou na cama, a brincar com os bonecos, a refilar com os desenhos animados da televisão. Hoje, elas próprias andam num corre-corre que por vezes me surpreende e que quase nos obriga a ter uma agenda própria só para elas. Ou pelo menos para a Margarida, a caminho dos seis, sempre 6


muito requisitada para festas de anos. Depois são as massagens e a ginástica na escola – o que significa que tem que ir com uma roupa própria, as peças de teatro e as idas à biblioteca e o desfile dos mini Pais-Natais do concelho de Loulé já no dia 4 de dezembro. E são as aulas de hip-hop na Academia de Dança do Algarve, com direito a espetáculo com pompa e circunstância no dia 11 de dezembro e a um ensaio geral no dia 8. E depois é a festa de Natal do infantário da Madalena, com dois anos, no Centro Paroquial de Quarteira, no dia 14 de dezembro.

namoricos, de quererem ir passar a noite a casa das amigas ou de quererem ir a este bar ou àquela discoteca. Ai sim vai ser um «ai jesus» dos diabos para mim, que já serei cinquentão, provavelmente ainda mais rabugento e stressado. Mas enfim, é melhor pensar num grão de areia de cada vez… .

Andam elas a correr dum lado para o outro e, como é óbvio, andam os pais, ou os avós e tios, atrás delas quando os pais não têm horários compatíveis ou facilidade em trocar folgas. E os grãos de areia vão escorrendo pela ampulheta abaixo e nem damos por eles. E nem quero pensar quando chegar a fase da adolescência, dos

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REPORTAGEM

Raquel Faustino e o treinador Jo達o Pacheco

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MULHERES ADEREM À DEFESA PESSOAL Assinalou-se, a 25 de novembro, o Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher e a Associação de Defesa Pessoal Sistema Elite DP voltou a organizar um workshop especialmente vocacionado para o sexo feminino, no dia 28 do mesmo mês, em Tavira. Ao longo de mais de duas horas, o treinador João Pacheco e seus assistentes transmitiram noções básicas de defesa pessoal em situações do dia-a-dia com o intuito de dar umas luzinhas às muitas mulheres presentes e se é verdade que ninguém domina as técnicas de um dia para o outro, a aula ajudou a perceber que muitas tentativas de agressão podem ser evitadas de forma mais ou menos simples e que não é preciso entrar de imediato em pânico. Texto e Fotografia: Daniel Pina 9

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Alguns dos elementos que participaram no V Workshop de Defesa Pessoal para Mulheres em Tavira

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Escola Secundária EB3 Dr. Jorge Augusto Correia, em Tavira, foi o local escolhido pelo treinador João Pacheco, da Associação de Defesa Pessoal – Sistema Elite DP, para a realização do 5.º Workshop de Defesa Pessoal para Mulheres, por ocasião das comemorações do Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher. Foram mais de duas horas em que várias mulheres assistiram, no dia 28 de novembro, a uma série de exemplos reais de tentativas de agressão, rapto, violação e as melhores formas de evitar essas manifestações de violência e depressa se percebeu que nem é preciso ser um craque de artes marciais, com a fisionomia certa e em perfeição condição física para neutralizar muitos atacantes. No final do workshop, João Pacheco contou que esta associação nasceu em 2008, depois de ter saído da Federação Portuguesa de Defesa Pessoal, e que tem academias espalhadas um pouco por todo o Algarve,

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designadamente Tavira, Castro Marim, Moncarapacho, Boliqueime, Quarteira, Albufeira, São Brás de Alportel, Faro e Portimão, envolvendo 14 instrutores e cerca de 300 alunos. “Acredito que a defesa pessoal vai começar, no curto prazo, a fazer parte integral do nosso dia-a-dia. Não é apenas uma questão de nos sabermos defender a nós próprios e à nossa família e amigos, mas também de ter precauções básicas de segurança no quotidiano. Situações de ir a uma caixa de multibanco à noite num local isolado e mal iluminado, ir a um sítio e depararmo-nos com indivíduos suspeitos, acontecer uma confusão ou mal-entendido num bar ou discoteca”, descreve este olhanense de 45 anos que dá aulas de defesa pessoal desde 2006. “No fundo, é um trabalho de boa cidadania, de compreensão, de dissuadir ou evitar situações perigosas”. Um sistema de defesa pessoal que não foi criado especificamente a pensar no sexo feminino, apesar de neste workshop só terem marcado presença mulheres. “Este teve um 10


pendor diferente porque é hábito da Associação abrir as portas das academias às mulheres na semana em que se assinala o Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher. É um workshop especial para capacitá-las com técnicas e táticas simples, básicas e suficientes para elas conseguirem inibir ou controlar um indivíduo que as queira agredir”, frisa João Pacheco, adiantando que também realizam estágios regulares onde os alunos, masculinos e femininos, demonstram as suas capacidades, para além de cursos orientados para agentes de autoridade, onde estes aprendem a aplicar técnicas sem recorrerem à violência física. “Dentro das academias, a pessoa vai crescendo com o tempo e acumulando uma enorme fluência de técnicas e táticas, de modo que, depois, nem precisa pensar muito no que tem que fazer para evitar ou controlar uma situação de agressão”, garante o entrevistado. Enquanto arrumava o equipamento utilizado no workshop, João Pacheco revela que o Sistema Elite DP engloba facetas de diversas artes marciais e desportos de combate, daí que os praticantes não se aborreçam quando não se identificam com este ou aquele estilo em particular. “Ao mesmo tempo, fazem manutenção física e retiram benefícios psicológicos, pois verificam que os casos ensinados nas academias são facilmente 11

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transpostos para o mundo real. Os desportos de combate são, de facto, mais orientados para a vertente competitiva e as artes marciais para a componente demonstrativa. Juntando tudo num só e adaptando isto ou aquilo, obtém-se um estilo mais aplicável no quotidiano”, sublinha. “Uma pessoa de 40, 50 anos, se vai para uma arte marcial que tenha constantes projeções de corpo, depressa sofre mazelas e perde o interesse. Se for um exercício mais pontual, já não se desmotiva, mas há disciplinas onde o show-off é muito grande e nem todos têm fisionomia para as praticar”. Por isso mesmo, João Pacheco não é grande adepto de mortais, piruetas ou cambalhotas, prefere transmitir aos seus alunos técnicas mais básicas e práticas e que qualquer um consegue executar com o treino, independentemente da idade, da altura ou do peso. “Todo o cidadão, dos 6 aos 80 anos, pode evoluir no Sistema Elite DP. Mesmo que não se consiga mexer muito, basta-lhe perceber a diretriz de mudar a direção de uma mão quando o estão a agarrar”, exemplifica. E se um mau mestre ou treinador pode deitar por água abaixo o trabalho realizado nas aulas, aqui há a preocupação de não criar euforias nas pessoas, de não lhes incutir a vontade de atacar, da vítima se transformar no agressor, só porque domina técnicas de defesa pessoal. “Não queremos criar campeões nas nossas academias, mas sim

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homens e mulheres que tenham noções básicas para se defenderem. E também não andamos aqui para aleijar os nossos colegas, a segurança é fundamental”. Ora, para que isto seja mais facilmente assimilado por todos os alunos e praticantes, João Pacheco fala de três perfis de atacante, de três situações distintas e que devem ser lidas de forma correta e proporcional. “Há a situação «Sim», onde a pessoa vai agarrarme, gritar comigo, insultar-me, mas não me quer bater, portanto, não vale a pena partir dentes ou pernas. Na situação «Nim», a pessoa pode ou não bater-me, é um «talvez», pelo que não devemos atacar logo, é preferível controlar e analisar primeiro. Na situação «Não», é a pessoa num contexto de despique, de agressão real, portanto, aplicamse técnicas de batimento e de controlo para impedir que faça mais alguma coisa”, explica. E quando a tentativa de agressão foi evitada e o perigo controlado, o melhor é mesmo ir embora, ao invés de querer atacar, de querer infligir dor, de se querer vingar, considera João Pacheco. “Se o agressor está controlado, não tem lógica estar a estrangulá-lo durante 10 minutos, ou dar-lhe um pontapé na cabeça. Isso é surreal, não vale a pena excessos”, alerta o professor, acrescentando que não é com força bruta, um pau, uma arma branca ou uma arma de fogo que se deve lidar com muitas situações do quotidiano. “Claro que, para dominar este sistema, são necessários anos de treino regular e dedicado, há que primeiro compreender e depois repetir vezes sem conta para se evoluir”, entende o treinador.

E uma dessas alunas regulares é Raquel Faustino, olhanense de 30 anos que começou a ir a aulas de defesa pessoal há cinco anos, a convite de uma amiga, e já não conseguiu abandonar a prática. “Fui experimentar logo com a ideia de que aquilo não era para mim, mas achei interessante, a autoestima foi 13

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aumentando, a condição física melhorando e aqui estou. Senti que algumas coisas mudaram, deixei de ter receio de certas situações, passei a estar mais atenta a determinados pormenores, a analisar os acontecimentos com outros olhos”, nota a psicóloga, que protagonizou um final de workshop intensíssimo com o instrutor João Pacheco, de tal modo que, por momentos, pensámos estar a ver um filme de artes marciais. “Uma pessoa nunca adivinha o que lhe pode acontecer mas sei que, pelo menos, não entro logo em pânico nem perco o controlo emocional”. Raquel Faustino aconselha, assim, as suas amigas a praticarem defesa pessoal, seja qual for a sua capacidade física, porque todos têm os seus pontos fortes e fracos. “É uma atividade que permite que cada uma se adapte ao que consegue fazer e que está focado essencialmente na defesa, o objetivo não é fazer mal aos outros”, salienta. “E é bastante fácil ganharmos o bichinho a isto e criar os nossos próprios objetivos à medida que o tempo vai passando. Estou no cinto castanho, este ano vou passar para o cinzento, depois é ter formação específica para o cinto preto e gostava de ser treinadora no futuro. É algo que ajudaria mais mulheres a aderir porque, às vezes, observam dois homens a demonstrar uma técnica e pensam logo que eles o fazem porque têm mais força e que elas não conseguem”, explica. Uma ideia completamente errada, podemos garantir em primeira mão depois de termos visto João Pacheco a tentar «agredir» Raquel Faustino de mil e uma maneiras e sem resultados práticos .

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ENTREVISTA

O Algarve é um berço de excelência de acordeonistas de casta superior, homens e mulheres que bem cedo dão nas vistas nas principais competições internacionais, seja na vertente mais clássica ou na de varieté. Depois, uns mantém-se fiéis à sonoridade típica do acordeão – e isso não implica limitar-se a ranchos folclóricos – outros são adeptos de experimentar novos estilos, a solo ou em grupo, no fado, jazz, blues, no pop/rock ou na chamada world music. Gonçalo Pescada faz parte do segundo leque de virtuosos do acordeão, um verdadeiro estudioso do instrumento e da música e um dos nomes mais consagrados do panorama nacional. Entrevista: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #35

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onçalo Pescada deu um fantástico concerto no CineTeatro Louletano, no passado dia 31 de outubro, onde apresentou as obras mais emblemáticas do percurso realizado no âmbito do programa de Doutoramento em Música e Musicologia que tirou na Universidade de Évora, bem como a estreia mundial de uma peça do conceituado compositor Christopher Bochmann. Ao longo de quase hora e meia foi possível ouvir trabalhos de Sofia Gubaidulina, Luciano Berio, Edison Denisov, Franco Donatoni, Mauricio Kagel e Magnus Lindberg, interpretados com mestria por este farense de 36 anos que ainda não deu descanso à sua formação musical, iniciada no Algarve, seguindo-se o Instituto Musical Vitorino Matono, em Lisboa, a Escola Superior de Artes Aplicadas, em Castelo Branco e o Centre National et International de Musique et Accordéon, em França, para além do já referido Doutoramento na Universidade de Évora, na vertente de Interpretação.

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Curiosamente, Gonçalo Pescada até entrou para a universidade para estudar Economia, mas depressa se transferiu para o Curso Superior de Música, na vertente de Acordeão, mal este abriu em Castelo Branco. Adivinhase, assim, que a música faz parte da sua vida desde pequeno, sempre incentivado pelos pais, mas foi no teclado que deu os primeiros passos, aos sete anos. Entretanto, quando entrou para o Rancho Folclórico Infantil de Albufeira, mudou para o acordeão, mas podese dizer que o momento marcante aconteceu por volta dos 12 anos, quando participou num concurso na Amadora. “Tradicionalmente, os acordeonistas aprendiam por ouvido e eram poucos os que liam partituras e se relacionavam com outros músicos. Naquela altura surgiu a notícia de que ia abrir um curso oficial de acordeão, com as disciplinas de Formação Musical, História da Música, Análise e Técnicas de Composição, Acústica, Coro, um programa curricular completo e, no final, o Ministério da Educação passava um certificado”, recorda. “Comecei a ter ligação com outros músicos, pianistas e violonistas, 18


e o repertório que estudei era mais direcionado para uma vertente mais clássica e não tão popular, embora o acordeão tenha uma forte conotação com a música tradicional no Algarve”. Seguiu-se um período bastante agitado e difícil para o jovem Gonçalo Pescada, que ia todos os fins-de-semana para Lisboa para tirar esse curso no Instituto Musical Vitorino Matono, o que implicou igualmente um enorme esforço financeiro da parte dos pais. “Levava os estudos bastante a sério, até por causa dos sacrifícios que a minha família fazia para me dar essa possibilidade, mas só depois de participar em competições internacionais é que acreditei que esta podia ser a minha atividade principal, que o meu futuro passava pelo acordeão”, admite. Contudo, concluído o 12.º ano, e como tinha boas notas a matemática, ainda se matriculou em Economia, antes de rumar a Castelo Branco, para a Escola Superior de Artes Aplicadas. E por falar em concursos, são muitos os títulos que Gonçalo Pescada tem no seu currículo, de onde se destacam o 1.º Prémio no Concurso Nacional de Acordeão (Alcobaça, 1995), o 1.º Prémio no Concurso Internacional «Citá di Montese» (Itália, 2004) e 1.º Prémio no Concurso de Interpretação do Estoril (Portugal, 2006), este último abrindolhe as portas para diversos recitais em Espanha, França, Reino Unido, Alemanha, Itália e Bulgária. Era, então, mais um algarvio na alta-roda do acordeão mundial, daí que perguntemos se existe alguma predisposição natural dos jovens da região que justifique tanto sucesso neste instrumento. “Não sei se terá a ver com a nossa música tradicional, já que o corridinho é bastante rápido e obriga os executantes a exercitar muito os dedos, o que poderá ter alguma influência depois na parte virtuosista. O acordeão também tem grande tradição no norte do país, mas é com teclado de piano e o ritmo dos viras é diferente. Mas é verdade que temos no Algarve uma fonte rica de acordeonistas”, constata o farense.

Gonçalo Pescada ressalva, porém, que os grandes resultados alcançados por algarvios nos concursos internacionais acontecem na vertente mais popular, ou de varieté. Quanto a ele, como se sabe, seguiu um percurso mais ligado ao clássico e para isso muito terá contado a vitória registada no Concurso de Interpretação do Estoril, em 2006. Isto porque se tratava de um concurso para solista e orquestra em que podia participar qualquer instrumento, ou seja, não exclusivo para acordeonistas. “O primeiro prémio consistia em vários concertos com todas as orquestras do país e, entre 32 músicos de diferentes instrumentos, tive a facilidade de ganhar, o que me granjeou uma série de oportunidades. Até essa altura era muito difícil tocar em conjunto com uma orquestra, por causa do tal mito dos acordeonistas não saberem ler partituras, o que não é verdade. Hoje, o ensino está bastante diferente e temos cada vez mais gente fortemente habilitada e formada para estar ao mesmo nível dos outros instrumentistas”.

Estudar sempre para estar na elite Um ponto de viragem, uma mão-cheia de portas que se abriram, e assim ficou traçado o caminho de Gonçalo Pescada, munido de uma qualificação de topo advinda dos estudos no Conservatório e na Escola Superior, do contato com violistas, pianistas, maestros. “Quando tocamos música de câmara com um violinista ou um pianista, é praticamente impensável executar música popular, mas continuei sempre a tocar música mais tradicional”, esclarece o membro dos «Vá-de-Viró» e dos «Alma Lusa». Certo é que Gonçalo Pescada está mais focado na vertente concertista, dividido em atuações com orquestras e quartetos de cordas ou a solo, como se verificou no espetáculo do Cine-Teatro Louletano, onde 19

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interpretou uma peça erudita de Christopher Bochmann. Uma mistura de instrumentos, e estilos musicais, que ganhou um fulgor acrescido com o disseminar do rótulo da world music, concorda em certa medida o entrevistado. “Acho que, acima de tudo, se trata de uma evolução natural e a fusão de vários estilos musicais provenientes de diversos países tem permitido que o acordeão entre num leque mais alargado de eventos e festivais. Óbvio que isso é positivo

percorrido. A formação tornou-me uma pessoa mais aberta de espírito e conhecedora de como fazer as coisas”, reconhece. E dessa formação e experiência advêm, igualmente, a capacidade de executar diversos tipos de acordeão. “Eu tento atualizar-me, conhecer outras tendências e instrumentos que fazem parte da família do acordeão, como o bandoneón, típico do tango argentino, ou a acordina, que agora é muito utilizada no jazz e que é composta apenas por um teclado de sopro, ao invés de ter um fole. Por acaso não toco atualmente a concertina, mas isso é fruto também dos gostos pessoais, dos colegas com quem nos relacionamos, das experiências que vivemos. Inicialmente, podemos ter mil instrumentistas, mas só alguns é que ficam na história”, entende Gonçalo Pescada.

para quem vive da música, mas nem todos optam por este tipo de carreira. Tudo depende da formação de cada um, porque não é fácil preparar um programa com orquestra, com um quarteto de cordas ou de jazz. É preciso dominar diferentes técnicas e linguagens e só com um longo percurso de aprendizagem é que se consegue singrar”, alerta.

O passo seguinte na evolução dos executantes de topo é a composição, mas o farense considera ainda não ter chegado o momento certo de embarcar nesse desafio. “Até agora, componho apenas por necessidade, porque um aluno precisa de uma peça, ou porque fiz um concerto de que gostei imenso e, na viagem de regresso a casa, ouço qualquer coisa que me faz escrever para não me esquecer. Tenho algumas partituras feitas, mas ainda não decidi enveredar a tempo inteiro por esse rumo”, explica, sublinhando que a composição não é só inspiração e intuição, carece de ferramentas específicas. Isso não o impede de viver exclusivamente da música, com as dificuldades que se adivinham e sem nunca dar o passo maior do que a perna.

Um patamar onde, de facto, não estão muitos executantes e estes têm que estudar continuamente, porque os instrumentos e a música estão em constante mutação. “É a mesma coisa que ir correr a maratona sem ter nenhuma preparação física, a pessoa pode tentar mas o percurso vai ser mais difícil e demorar mais tempo a ser

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“Temos que conciliar a performance com o ensino, mas nem todos têm jeito para dar aulas. Nesses casos, é preciso ser uma pessoa muito criativa, com bastantes contatos e que esteja sempre a fervilhar em novos projetos, porque a cultura é a primeira área a sofrer cortes em períodos de crise”, justifica.

nas suas decisões, porque cada aluno é diferente e não podem tocar todos o mesmo repertório, uns gostam mais do jazz, outros da música popular. Por isso, devemos perceber a essência de cada um, em que fase ele se encontra e em que medida podemos ajudá-lo a desenvolver aquilo que ele tem para dar”.

Com uma agenda preenchida por 70 a 80 concertos por ano, mais as aulas que leciona na Universidade de Évora e nos conservatórios do Algarve, Gonçalo Pescada vai conseguindo concretizar os seus sonhos e projetos, mas tudo seria mais fácil se os portugueses consumissem mais produtos culturais. “Às vezes depende do tipo de evento, se é um concerto isolado ou um festival, mas a junção do acordeão com outros instrumentos está a captar mais público, até de pessoas interessadas em adquirir os discos e CD’s. Embora a cultura tenha dificuldades de financiamento, o acordeão está em crescendo, é um instrumento que está na moda”, observa.

A finalizar, e sobre os concursos onde ele próprio deu nas vistas, Gonçalo Pescada considera que devem ser uma rampa de

Já sobre os mais antigos que não acham grande piada a ver o acordeão a interpretar temas que nada têm a ver com a sua história, Gonçalo Pescada frisa que puristas são comuns a qualquer instrumento e que nunca vão desaparecer. “Contudo, com o acesso à internet, rapidamente se vai ao YouTube e vê-se o que está a acontecer em qualquer parte do mundo e esta abertura permite às novas gerações olhar para o acordeão de outra forma e inserido noutro contexto”, indica o entrevistado, que tenta não influenciar em demasia as escolhas dos seus alunos. “Quando vejo alguém com talento, posso sugerir projetos e repertórios para ele observar, mas não quero ter um papel direto

lançamento para qualquer coisa e não uma meta, um fim a atingir. “Na minha ótica, constituem uma motivação extra porque, ao prepararem-se de forma exigente para essas provas, os jovens adquirem uma série de técnicas e ferramentas que não possuíam e que, se calhar, de outra forma não conseguiriam desenvolver essas capacidades. No entanto, há muitas pessoas que conquistaram primeiros prémios e as suas carreiras acabaram logo a seguir”, avisa. “As carreiras constroem-se dia-a-dia, passo a passo e com persistência. É preciso gostar muito e empenhar-se a fundo para se chegar a bom porto” .

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OPINIÃO

MINI(STÉRIO) DA CULTURA OU MISTÉRIO DA CULTURA? PAULO CUNHA

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ou daqueles que sempre que há uma remodelação ministerial ainda acredita que um dos ministérios que me é mais querido (Cultura) terá a chefiá-lo um ministro isento, humanista, competente, conhecedor, honesto, sensato e idealista. É um processo que se tem vindo a assemelhar aos «furinhos» na caixa de chocolates «Regina». Lembram-se?... Cada furo, cada surpresa! Para muitos considerada a parente pobre de qualquer família governativa, seja ela de que quadrante político for, a Cultura acaba por estar destinada às sobras orçamentais. Poucos esperarão grandes projetos, empreendimentos e realizações de um ministério que parece existir para calar e alimentar alguns «artistas» e para financiar alguns eventos da nomenclatura vigente. Pretendem que seja a mulher bonita da foto de grupo. Está lá apenas para efeitos estéticos e decorativos, sem direito a abrir a boca. Não fosse esse o ministério que umas vezes passa a secretaria, voltando depois a ministério… mas sempre com letra pequena, tal a diminuta orçamentação que lhe tem sido destinada desde que vivemos em democracia. Às vezes ponho-me a imaginar que era criada uma lei que instituía uma base mínima para um ministério poder existir e funcionar como tal, por exemplo 1% do Orçamento Geral do Estado. Assim, sim… Assim poderíamos ver as Direções Regionais de Cultura a fazer muito mais do que apenas «contar os tostões» e gerir as módicas

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quantias disponibilizadas para a produção cultural na província. Imaginei também que era criada outra lei que garantia a itinerância ministerial pelas várias províncias de Portugal. Talvez acabassem assim muitas das disparidades verificadas nos apoios que são concedidos à produção cultural por este país fora. Obviamente, isto sou eu a «utopizar». «Coisas» de alguém para quem a Cultura conta mais do que o valor que lhe é dado!... Para além das habituais razões partidárias, vulgarizou-se colocar como uma das condições primordiais para a escolha para o cargo, ser bom gestor. Relegando para segundo plano os conhecimentos técnicos, científicos, logísticos e operacionais; esquecendo a capacidade de ouvir, dialogar e criar consensos; menosprezando a visão criativa, empreendedora e estratégica, acabámos por constatar que em vez de ministros e secretários de estado da Cultura, muitos foram apenas gestores culturais do Ministério das Finanças. Nem os benditos e abençoados assessores os salvaram, pois quando não há «guito», engenho e arte, acabamos todos por ficar com a pior parte! Já com o gabinete de Ministro da Cultura ocupado, espero que o atual usufrutuário venha a colocar no seu mapa de prioridades uma região que – pretensamente – deve conhecer bem (Algarve), pois foi eleito como seu representante para a Assembleia da República. Para quem tem boa memória, e eu julgo ter… No fim do mandato falaremos! . 22


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OPINIÃO ENFANT TERRIBLE

ALBUFEIRA PAULO BERNARDO Empresário

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oi com muita alegria que hoje vi a árvore de Natal de Albufeira, não menosprezando os outros municípios, mas destaco Albufeira por tudo o que aconteceu no dia 1 de Novembro deste ano. Uma cheia terrível que assolou uma das cidades mais emblemáticas do turismo na Europa. Vi muitas opiniões, afirmações e outras coisas tais sobre o que se devia ter feito, mas o que aconteceu não foi mais que uma quantidade enorme de água que caiu num curto espaço de tempo. Para aquela situação não havia solução possível, a única solução de não ter acontecido era não se ter construído a cidade, apenas acontecia a cheia mas não afetava ninguém. Mas não é para falar sobre cheias que escolhi Albufeira, pois de cheias também sei muito pouco. Escolhi Albufeira pela sua resiliência, pela capacidade de reconstruir e pela união e disponibilidade da sua população. A Europa devia colocar os olhos na capacidade de resiliência desta população, que em pouco tempo restabeleceram o caos a que foi submetida. A Europa necessitava de ter uma capacidade de resiliência para poder sair da confusão em que se encontra. Acredito que ainda é possível recuperar a velha Europa, mas não é possível se ela se mantiver egoísta e cada vez mais fechada e chata. Temos que ter a capacidade de recuperar as nossas qualidades e a nossa capacidade de recuperação e de perdão. Não podemos viver fechados na redoma das políticas europeias que apenas querem preservar a

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qualidade de vida para alguns e em especial para quem é eleito por nós para nos representar no Parlamento Europeu, instituição que pouco ou nada faz. Quero uma Europa das mulheres e homens que recuperaram este continente no pós guerra, a Europa dos grandes estadistas, a Europa que acreditava e mostrava ao mundo o que era o modernismo. A Europa tem que acordar antes que seja tarde. Voltando a Albufeira, espero que Portugal venha até ao Algarve fazer a sua passagem de ano e que se lembre de passar por lá para poder ajudar a reduzir os prejuízos da cheia. Facto da Semana: Vou ter que falar da derrota e empate com sabor a vitória do meu Benfica. A derrota em Alvalade foi má e podia ter sido diferente, só posso dizer que ainda não foi desta. Em relação ao empate com o Astana, no Cazaquistão, teve um sabor a vitória pois garantiu a passagem aos oitavos de final da Liga dos Campeões. Como alguém dizia, o Rui Vitória já deu mais lucro ao Benfica que o antigo treinador. Pessoa da Semana: Mário Centeno, o ministro algarvio que vai ter que levar o barco a bom porto. Gostei de falar com ele numa reunião ainda em campanha, pessoa assertiva e bem preparado. Representa a nova geração de político de Portugal. Parabéns ao novo governo também pela sua qualidade e pela disponibilidade para ajudar recuperar o país para os portugueses e não para os amigos de alguns que governaram nos últimos anos. 24


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OPINIÃO

E NA ASSEMBLEIA DE FREGUESIA, COMO É? JOSÉ GRAÇA Membro do Secretariado Regional do PS-Algarve

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a semana passada, introduzimos a questão dos órgãos deliberativos das autarquias locais, centros políticos por excelência da atividade comunitária, mas que raramente merecem a assistência dos participados… A lei estabelece que os órgãos representativos das freguesias são a assembleia de freguesia e a junta de freguesia, regulando a sua constituição, composição e organização e determinando as respetivas competências de apreciação, fiscalização e funcionamento, na legislação que indicámos anteriormente. Relativamente às primeiras, compete à assembleia de freguesia, sob proposta da junta de freguesia, aprovar as opções do plano e a proposta de orçamento, bem como as suas revisões; apreciar o inventário dos bens, direitos e obrigações patrimoniais e a respetiva avaliação, bem como apreciar e votar os documentos de prestação de contas; autorizar a junta de freguesia a contrair empréstimos e a proceder a aberturas de crédito; aprovar as taxas e os preços da freguesia e fixar o respetivo valor; autorizar a aquisição, alienação ou oneração de bens imóveis de valor superior ao limite fixado para a junta de freguesia e definir as respetivas condições gerais, podendo determinar o recurso à hasta pública; aprovar os regulamentos externos; autorizar a celebração de contratos de delegação de competências e de acordos de execução entre a junta de freguesia e a câmara municipal, bem como a respetiva resolução e, no caso dos contratos de delegação de competências, a sua revogação; autorizar a celebração de protocolos de delegação de tarefas administrativas entre a junta de freguesia e as organizações de moradores; autorizar a celebração de protocolos com instituições públicas, particulares e cooperativas que desenvolvam a sua atividade na circunscrição territorial da freguesia; autorizar a freguesia a estabelecer formas de cooperação com entidades públicas ou privadas; autorizar a freguesia a constituir as associações legalmente previstas; autorizar a concessão de apoio financeiro ou de qualquer outra natureza às instituições dedicadas ao desenvolvimento de atividades culturais, recreativas e desportivas legalmente constituídas pelos trabalhadores da freguesia; aprovar o mapa de pessoal dos serviços da freguesia; aprovar a criação e a reorganização dos serviços da freguesia;

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regulamentar a apascentação de gado, na respetiva área geográfica; estabelecer a constituição dos brasões, dos selos e das bandeiras da freguesia e das suas localidades e povoações e proceder à sua publicação no Diário da República; verificar a conformidade dos requisitos relativos ao exercício de funções do presidente da junta de freguesia; e, autorizar a celebração de protocolos de geminação, amizade, cooperação ou parceria entre freguesias. Paralelamente, compete ainda à assembleia de freguesia aceitar doações, legados e heranças a benefício de inventário; estabelecer as normas gerais de administração do património da freguesia ou sob sua jurisdição; deliberar sobre a administração dos recursos hídricos que integram o domínio público da freguesia; conhecer e tomar posição sobre os relatórios definitivos resultantes de ações tutelares ou de auditorias executadas sobre a atividade dos órgãos e serviços da freguesia; discutir o relatório a que se refere o Estatuto do Direito de Oposição; aprovar referendos locais; apreciar a recusa da prestação de quaisquer informações ou recusa da entrega de documentos por parte da junta de freguesia ou de qualquer dos seus membros que obstem à realização de ações de acompanhamento e fiscalização; acompanhar, apreciar e fiscalizar a atividade da junta de freguesia; pronunciar-se e deliberar sobre todos os assuntos que visem a prossecução das atribuições da freguesia; e, pronunciar-se e deliberar sobre todos os assuntos com interesse para a freguesia, por sua iniciativa ou após solicitação da junta de freguesia. Em relação às competências de funcionamento, a assembleia de freguesia aprova o regimento, delibera sobre recursos interpostos da marcação de faltas injustificadas aos seus membros, constituição de delegações, comissões ou grupos de trabalho para o estudo de matérias relacionadas com as atribuições da freguesia e solicita informação, através da mesa e a pedido de qualquer membro, sobre assuntos de interesse para a freguesia e sobre a execução das suas deliberações. Na próxima semana, efetuaremos uma primeira abordagem às assembleias municipais, órgão político local cuja atividade passa muitas vezes ao lado dos cidadãos e da comunidade . 26


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OLHARES Crónicas dos emergentes

PUERTO GALERA, FILIPINAS EDGAR PRATES Executivo de Desenvolvimento de Novos Negócios e Contas Globais na Accenture

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uerto Galera está situada no norte da ilha de Mindoro. Puerto Galera deve o nome aos galeões que ali atracavam para se abastecer de água e mantimentos, ou para buscar abrigo em caso de tempestade. As suas enseadas naturais com areias brancas, recifes de coral e vegetação abundante fazem deste lugar um paraíso para turistas. Não existe um único hotel de 4 ou 5 estrelas. No Verão, a região está repleta de turistas. Alguns fugitivos de Jolo e de Sulu chegam com pérolas brancas, rosas e negras para vender aos turistas. Outros são ocidentais que escolhem Puerto Galera para o seu esconderijo eterno. As plantações de bananas estendem-se por vários hectares até Calapan, onde se pode comprar um terreno em frente à praia por menos de cinco mil dólares americanos. Os nativos de Mindoro, outrora chamada de Mina d’Ouro, são de pele escura e de alta estatura. Extraem ouro dos rios e utilizam o «carabao», uma espécie de búfalo, na agricultura. Nas montanhas, os nativos escondem-se dos piratas que assolam a zona costeira todos os Verões. As areias brancas estão repletas de corais, restos de caranguejos e conchas de todos os tipos. Puerto Galera tem sido considerada por diversos especialistas como uma das referências da biodiversidade marinha global graças às suas 152 espécies de coral, 180 subespécies de vegetação marinha e 3000 espécies de peixe e crustáceos, e geograficamente situada no centro de uma zona protegida denominada triângulo dourado, composto pelas Filipinas, Malásia e Indonésia .

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OPINIÃO

O TEMPO, ESSE GRANDE ESCULTOR PAULO PIRES Programador Cultural

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o dia em que uma estátua é acabada, começa, de certo modo, a sua vida. Fechou-se a primeira fase em que, pela mão do escultor, ela passou de bloco a forma humana; numa outra fase, ao correr dos séculos, irão alternar-se a adoração, a admiração, o amor, o desprezo ou a indiferença, em graus sucessivos de erosão e desgaste, até chegar, pouco a pouco, ao estado mineral informe a que o seu escultor a tinha arrancado”. É com esta imagem que Marguerite Yourcenar reflecte sobre o papel do tempo na arte, nessa singular obra de ensaios (publicada em Portugal em 1983) onde bebemos o título deste texto. O tempo é um factor essencial na formação da cultura. Daí que a Internet, por exemplo, não possibilite a criação de cultura, pois depende de factores externos. Veiculando diferentes tipos de conteúdos culturais (dos mais generalistas aos mais segmentados/minoritários, dos mais eruditos aos mais «populares»), a web permite sim divulgação cultural e, nesse sentido, pode proporcionar uma maior democratização da informação em termos de acesso, visibilidade e mediatismo. Mas essa aquisição de informação (sobre eventos, artistas, programações e equipamentos culturais) por parte dos indivíduos em contextos online não pode ser confundida com a experiência emocional, estética e simbólica que os mesmos adquirem, por exemplo, numa sala de cinema a ver um filme de Kurosawa ou Buñuel, ou num grande teatro onde decorre uma ópera como a «Tosca», de Puccini. O envolvimento espacial, a dimensão participativa, a fruição sensorial, a carga histórica que esses locais implicam (e os silêncios comunicantes que encerram) – esses sim são, entre outros, elementos determinantes na aquisição de cultura. Daí que a chamada «formação cultural» dependa desses contextos e que a cultura (e a história) precise

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inelutavelmente da interferência do tempo. Francis Bacon sabia bem do que falava quando escreveu que “a verdade é filha do tempo, não da autoridade”, enfatizando assim essa determinante acção selectiva e legitimadora (escultórica) da passagem dos dias sobre as ideias/crenças, os objectos, os sentimentos, os acontecimentos. A internet permite que haja diálogo cultural, troca de opiniões/visões entre as pessoas sobre a cultura, os meios artísticos, os eventos apresentados, o que é, de facto, também importante. Mas como, no fundo, o tempo não actua sobre a web, o processo de formação cultural não se efectiva. Como Gonçalo M. Tavares frisou há anos numa entrevista dada no Brasil, “a formação da cultura depende de outros factores, que lhe atribuam valor histórico”. Por outro lado, a Cultura também se afirma pela sua resistência a esse mesmo tempo, pela permanente actualidade e urgência de certos inputs irrepetíveis com que nos vai moldando (como um desassossego/inquietação que uma dada personagem de uma peça teatral nos transmitiu ou um silêncio de ouro com que um músico nos surpreendeu a meio de um tema), e/ou, ainda, pela sua capacidade de se reinventar/acrescentar face à inexorável passagem desse incessante rio chamado «tempo». Diria ainda que a Cultura tem outra dimensão preciosa, sobretudo nos dias que correm: permitir uma útil e prazerosa suspensão do tempo, dos movimentos contínuos, rápidos, rotineiros e automatizados com que nos vamos, mais ou menos conscientemente, formatando no nosso quotidiano. É, no fundo, como a pausa do fim do verso na poesia – essa cesura que nos a(/in)quieta, que nos questiona, que nos faz ganhar um novo fôlego, que nos precipita no desconhecido, que nos cria expectativa. Que nos devolve ilusoriamente o tempo… . 30


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ENTREVISTA

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“O não vende vinhos, mas sim experiências”, distingue

António Lopes As próximas semanas vão ser de grande azáfama para António Lopes, Head Sommelier do restaurante «Gusto by Heinz Beck», localizado no Conrad Algarve, tudo graças ao projeto «Wine in Motion», que o levará a percorrer diversos restaurantes do norte ao sul do país. O objetivo é divulgar os vinhos portugueses e a própria profissão que, à semelhança do que tem acontecido no passado recente com os chefes de cozinha e os barmans especializados, está cada vez mais na moda e a assumir um papel preponderante para o sucesso dos estabelecimentos onde trabalham. E por isso mesmo fomos conhecer melhor António Lopes, o Sommelier do Ano, para saber mais sobre as artes deste ofício. Texto e Fotografia: Daniel Pina

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epois de há alguns meses termos rumado ao Conrad Algarve para conhecer Wilson Pires, «Barman do Ano 2015», vimo-nos de regresso a este luxuoso hotel de cinco estrelas situado na Quinta do Lago, desta feita para falar com António Lopes, «Sommelier do Ano 2014», também ele ao serviço do restaurante de assinatura «Gusto By Heinz Beck». Com a edição de 2015 a ter lugar no início do próximo ano, este profissional de 28 anos oriundo de Penacova, distrito de Coimbra, não fez grande questão de mediatizar o título que lhe foi atribuído pela Revista Wine e só agora ganhou maior protagonismo junto do público em geral devido ao projeto «Wine in Motion by António Lopes», que o vai levar a percorrer diversos restaurantes do país com o objetivo de proporcionar uma irreverente harmonização de vinhos sugerida pelo Head Sommelier do Conrad Algarve. Se o turismo, em geral, e a restauração, em particular, são uma opção natural para muitos jovens algarvios quando atingem a idade de definir o seu futuro, menos comum é isso acontecer no centro do país, mas António Lopes não hesitou na hora de ingressar na Escola de Hotelaria de Coimbra quando chegou ao 10.º ano de escolaridade, embora só à segunda tentativa é que tenha conseguido entrar. Depois, tirou mais dois anos de Gestão Hoteleira, a formação específica em sommelier apareceu mais tarde e mais recentemente tirou uma especialização no Reino Unido em «Wines and Spirits Education Trust». Olhando para o currículo académico, já se percebe o motivo de ter sido eleito «Sommelier do Ano», um título que resulta dos votos dos clientes, da imprensa especializada e de produtores de todo o país, mas António Lopes nem sequer sabia

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que estava no lote dos concorrentes. “Há 300 sommeliers em Portugal, eles escolhem quatro finalistas e depois o vencedor é ditado por um júri mais específico, de acordo com o trabalho realizado ao longo do ano e do seu potencial. Eu estava de férias em casa, um colega ligou-me a dar-me os parabéns e eu não fazia a mínima ideia do que se tratava. Foi assim que soube que estava no leque dos quatro finalistas. Após três semanas fui convidado para ir à gala de atribuição

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de prémios e nem era para ir, pois a data coincidia com uma apresentação importante do «Taste of Portugal Holanda» em Manchester, em que estava envolvido”, recorda o entrevistado. Ora, se chefes de cozinha e barmans há muitos, sommeliers não são assim tantos, porque exige uma paixão imensa e uma tremenda dedicação, e António Lopes confessa que nem tinha grande conhecimento desta profissão quando

decidiu abraçar a hotelaria. “O meu sonho era trabalhar num restaurante fine dinning como é o Gusto e foi por isso que me inscrevi na Escola de Hotelaria de Coimbra, uma das principais do país na época. Mais tarde, quando vim para o Vila Vita, por acaso colocaram-me como assistente de escanção. Eu nem gostava de vinho e de estudar muito mas, de repente, nasceu em mim esta paixão, vi logo que era isto que queria fazer”, conta, de forma desprendida. Escanção que nos faz pensar de imediato

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nos rituais de cortar o gargalo das garrafas com uma espada de samurai e de saborear o vinho e cuspir para uma vasilha, mas isso é apenas a ponta do icebergue, momentos «para inglês ver», como se costuma dizer. “Isso é show off puro, ser sommelier é estudar diariamente, porque existem inúmeras regiões vinícolas, cerca de oito mil castas no mundo inteiro – só em Portugal temos 300 castas – e todas as regiões são diferentes umas das outras”, avisa. Estudar, provar, treinar as memórias olfativa e gustativa, dedicar tempo e dinheiro, viajar muito para visitar as vinhas, as adegas, os locais onde são produzidos os vinhos, assim é a rotina destes homens. “Ler um livro é bom, mas é uma base, nada substitui o convívio no dia-a-dia com clientes, produtores, provadores, distribuidores e outros sommeliers. Felizmente, hoje começa a olhar-se para o escanção como uma profissão atrativa e com futuro e, na minha opinião, temos um forte impacto na rentabilidade de um restaurante”, afirma António Lopes. “A comida andará sempre em torno dos mesmos preços e um escanção consegue influenciar bastante o dinheiro que os clientes gastam devido aos vinhos que escolhem. Isso, porém, é o menos importante, o que interessa é a experiência que proporcionamos a quem nos visita”.

Treinar a memória, o olfato e o paladar Com os clientes a tornarem-se cada vez mais exigentes no que diz respeito à comida e ao serviço, nota-se que dão também mais atenção ao vinho que consomem durante a refeição, um facto que os leva, inclusive, a procurar depois essa marca nas garrafeiras da especialidade para levar para casa. E se a internet pode facilitar a tarefa dos sommeliers para ficarem a par dos novos vinhos e castas que vão surgindo, também é verdade que esse conhecimento fica igualmente à disposição do público em geral,

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havendo até aplicações especialmente dedicadas aos vinhos. “O cliente está à mesa, pega no telemóvel e tem acesso a toda a informação, pelo que o sommelier tem que vender, sim, experiências e isso obriga-nos a ir ao terreno. Os livros explicam que os vinhos foram feitos com esta uva e desta maneira, mas não diz que foi o Ti Manel que andou a pisar as uvas, se calhar na altura em que a mulher estava grávida e sozinha em casa. É todo um conjunto de vivências e sensações que tentamos transmitir aos clientes e cada garrafa tem uma história por detrás”, relata António Lopes. Uma faceta da profissão que é assumida facilmente pelos escanções mais novos, mais dinâmicos e adeptos da partilha de conhecimentos, ao contrário do que sucedia há alguns anos, numa altura em que a informação fluía com menos facilidade. Mais complicado é «treinar» a memória, o olfato e o paladar para conseguir identificar tantos tipos de vinhos, mas António Lopes esclarece que não há aqui truques de magia. “Eu esqueço-me com facilidade do nome das pessoas, mas nunca das marcas e castas de vinho, é uma memória seletiva que vamos aprimorando com a experiência e a paixão. Quanto aos sentidos, cada um tem-nos mais ou menos apurados, da mesma forma que cada um tem mais ou menos papilas gustativas. Quem tem menos papilas gustativas se calhar não consegue ir tanto ao linear do vinho, mas apanha outros aspetos”, explica. “As mulheres não têm o sexto sentido como se costuma dizer, mas os outros cinco são muito mais apurados do que nos homens, simplesmente não os treinam. Por isso é que se vê mais escanções masculinos do que femininos, mas as mulheres têm todos os requisitos para serem melhores sommeliers do que os homens”. Fruto da nova realidade, também o perfil do escanção mudou nos últimos anos, já não sendo aquele quarentão, cinquentão ou mais

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idoso ainda, de físico pesado, que se limitavam a receber as informações que lhes chegavam às mãos e que basicamente vendiam vinho. “A gastronomia deu um grande salto nesta década e, com isso, evoluíram os chefes de cozinha, os barmans especializados e os sommeliers e isso atraiu com facilidade as novas gerações. Depois, é

clientes que nem sequer pedem este ou aquele vinho, deixam a escolha ao meu critério, o que comprova que o sommelier chegou para ficar”.

uma bola de neve, uns querem seguir o exemplo dos outros, chegar ao mesmo patamar. Eu tive aqui dois miúdos italianos a fazer um estágio durante um ano, nenhum deles sabia abrir uma garrafa, e um é agora chefe de escanções dum restaurante com uma Estrela Michelin em Itália”, indica, com orgulho, adiantando que mesmo os jovens adultos estão a aderir ao vinho e a colocar um pouco de parte as bebidas espirituosas e a cerveja. “Querem cervejas artesanais e vinhos com muita qualidade e tenho muitos

muitos empresários e proprietários de estabelecimentos que abdicaram destes profissionais em prol do empregado de mesa que sabia vender vinho. “Claro que isso notase depois no nível de faturação e, a meu ver, o sommelier é mais importante do que um gerente. Um sommelier sabe gerir, mas o inverso nem sempre acontece. Felizmente, já se começam a ver escanções em restaurantes tradicionais, aliás, até abriu em Lisboa um restaurante chamado «O Sommerlier», totalmente dedicado ao vinho,

Sommeliers que estão mais associados a restaurantes e hotéis de luxo, reconhece António Lopes, mas a culpa também foi de

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clientes. “Há que estar com atenção aos sotaques, tentar recolher alguma informação de quem são, de onde vêm. Um cliente nórdico gosta de vinhos mais quentes e alcoólicos, um cliente latino prefere vinhos frescos e mais ácidos, mas também nunca podemos assumir nada como certo”, exemplifica, antes de abordar o mito de que carne exige vinho tinto e o peixe pede vinho branco. “Cada vez os peixes são mais elaborados e envolvidos por molhos que aniquilam por completo o vinho branco, têm que levar vinhos tintos com menos corpo e mais acidez. Em simultâneo, há igualmente vinhos brancos mais gordurosos e que precisam de proteínas de carne e que ficam lindamente com a galinha piripiri do Algarve”, esclarece.

algo impensável há 10 anos”, frisa, adiantando que também há que ter em conta a vertente psicológica dos clientes. “Um vinho que provo hoje, amanhã pode saber-me de maneira diferente porque o meu estado de espírito não é o mesmo. Da mesma forma que provar um vinho na quinta onde ele foi produzido não é o mesmo que depois bebê-lo em casa, falta toda aquela envolvência”.

O perigo dos mitos e das certezas absolutas Chega-se então à conclusão que o vinho, ou sugerir um vinho, não é uma ciência certa. Pior do que isso, um vinho errado pode destruir por completo a refeição, garante António Lopes, e assim entramos na parte dos mitos, dos estereótipos, das combinações que se julgam mais ou menos corretas, logo a começar, por exemplo, pela nacionalidade dos

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Ou seja, para além de dominar o vinho, pelos vistos, o sommelier tem que perceber da própria comida, mas António Lopes lembra que o escanção não se preocupa apenas com vinhos, mas também com as bebidas espirituosas, com os whiskeys, vodkas e cervejas. “Tudo isto força-nos a ter uma cultura bastante abrangente, caso contrário, não conseguimos acompanhar o passo do cliente e ele desinteressa-se. Eu consigo facilmente passar um cliente de off para on, até porque estou a lidar com vinho e as pessoas sentem-se menos inibidas depois do primeiro ou segundo copo. O vinho é uma brecha para chegar a um cliente que está mal disposto”, salienta. E neste contato direto e privilegiado com os clientes, há a tentação de ser bairrista, isto é, de aconselhar vinhos preferencialmente portugueses e do Algarve, ou um escanção tem que ser isento nas suas sugestões, perguntamos ao nosso entrevistado. “O bom de ser português é que temos uma grande diversidade e levo os nossos vinhos para todo o lado, enquanto isso é possível. Os vinhos nacionais estão a ficar na berra mas ninguém os conhecia há uns tempos e o sommelier funciona como um excelente cartão-de-visita, pelo que tento ser bairrista”, admite,

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satisfeito por ver que a qualidade está a aumentar nos néctares oriundos do Algarve. “As pessoas estão a mudar os processos e a perceber onde devem produzir vinho. Não faz sentido fazer vinho em frente ao mar, mas sim na serra, porque são zonas mais frescas devido às altitudes, e com solos menos mineralizados e que obrigam as videiras a esforçarem-se mais”, aconselha. Uma profissão exigente e cada vez mais na moda, ninguém coloca isso em causa, resta saber se os empresários, os patrões, reconhecem esse facto e o recompensam financeiramente de maneira justa. “Houve uma época em que o escanção era o elo mais fraco, o primeiro a ir embora, porque os empregados de mesa serviam a comida e vendiam o vinho. Hoje, a aposta é cada vez maior e disparou o número de winebars e vinotecas, mas os escanções continuam a ser mal pagos para aquilo que fazem. Por outro lado, os patrões colocam menos entraves a que estejamos envolvidos em outros projetos, a que vamos a este ou aquele lugar, e essa liberdade vale mais do que uns euros extra no final do mês”, responde António Lopes, grato por ter descoberto o seu sentido da vida, ainda que de forma casual. “Ia ser mais um empregado de mesa ou barman e tive a felicidade de trabalhar com um escanção. A paixão continua a crescer, estou a aprender todos os dias, a tentar acompanhar os mais experientes, estou contente com o que faço e nem toda a gente pode dizer o mesmo” .

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ENTREVISTA

TEATRO ANÁLISE DE LOULÉ Uma «família» de amadores com teatro de qualidade profissional O Teatro Análise de Loulé é um dos expoentes máximos da Casa da Cultura de Loulé, grupo amador com mais de três décadas de existência e com uma imensidão de peças levadas a cena com uma qualidade assinalável e de fazer inveja a muitos. Em comum a todas elas encontra-se o espírito de família que une atores e encenadores de várias gerações, um profundo amor por esta forma de expressão cultural e uma vontade de transmitir mensagens importantes e cativar os mais novos para o teatro. O Algarve Informativo foi até Loulé conhecer melhor a fibra de que são feitos estes homens e mulheres e para levantar um pouco a ponta do véu do que está para chegar em 2016. Texto: Daniel Pina Fotografia: David Piedade, João Pedro Espada e Martim Santos

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Sérgio Sousa, Marta Lapiedad, António Clareza, João Pedro Espada, Fátima Guerreiro e Pedro Paulino

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Teatro Análise da Casa da Cultura de Loulé apresentou, no dia 22 de novembro, a peça «Um conto de pernas para o ar», no Cine-Teatro Louletano, da autoria de António Clareza e com encenação de Ana Sousa. O texto conta a história de Algodãozinho, uma menina que vive algures na Floresta das Estrelas Cadentes e que quase todas as noites recebe no seu velho casebre a visita de pequenas estrelas que se perdem no imenso universo e que ali vêm em busca de uma ajuda. Uma peça vocacionada para os mais pequenos mas que encheu a plateia de miúdos e graúdos, como vem sendo apanágio das produções deste grupo amador nascido no seio da Casa da Cultura de Loulé há mais de 30 anos. E na impossibilidade de estar presente, foi alguns dias depois, melhor dizendo, algumas noites depois, que rumamos a Loulé para conversar com esta equipa de atores.

descrever o leque de homens e mulheres de várias idades que tínhamos pela frente, o mais correto será falar em «família», tal o espírito de união e fraternidade que encontramos naquela noite bastante friorenta. TAL que nasceu em 1981 e cujos primeiros dois anos de existência tenham sido de formação no Grupo de Teatro Laboratório de Faro, a única companhia profissional na época na região, com Luís Aguilar e Isabel Pereira. Em 1983 levam a cena a primeira peça mais a sério, «Um sonho no Reino da Formigarra», de José Teiga, um dos membros fundadores, a par de Joaquim Mealha Costa e Manuela Teiga. “Não existia nenhum grupo de teatro em Loulé e uma Casa da Cultura logicamente que necessitava de um. Havia pessoas que se interessavam mais pelo teatro, outras pelo desporto, e assim se constituiu o TAL”, recorda António Clareza, o responsável pela maioria dos textos encenados pelo grupo.

Depressa constatamos, contudo, que o termo «equipa» não seria o mais indicado para

Se na génese esteve uma peça de teatro infantil, rapidamente o TAL entrou pelas

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restantes faixas etárias adentro, também com espetáculos dedicados à poesia e baseando-se muito no trabalho de autores nacionais e nos de sua própria criação, sendo os mais conhecidos Gil Vicente e António Aleixo. Outra característica que cedo se evidenciou foi a participação em diversos festivais e toda esta dinâmica ajudou a ter um núcleo duro regular e consistente, sempre apoiado na prata da casa, isto é, em elementos da Casa da Cultura de Loulé. “Nunca houve propriamente uma procura de atores e encenadores externos e conseguimos ter em atividade algumas dezenas de pessoas”, explica Sérgio Sousa, que dá um destaque extra ao «Auto da Vida e da Morte», de António Aleixo, produzido em 1985. “Foi escolhido para participar num festival de teatro a nível nacional, alcançamos um lugar extremamente interessante e o prémio foi um espetáculo no Teatro da Trindade, em Lisboa, com sala esgotada, foi uma coisa espantosa. Também marcamos presença regular noutro festival importante que se realizava em Évora, sempre com noites de grande sucesso”, conta. Sucessos importantes para o ego, para a autoestima, para perceberem que estava a compensar todo o esforço e empenho, mas que nunca criou ilusões nos elementos do TAL, perfeitamente conscientes da sua dimensão. “Era impossível pensarmos em ser uma companhia profissional, o nosso gozo sempre foi tentar transmitir às pessoas o que é efetivamente o teatro. Quando escolhemos as peças há uma preocupação permanente em que elas tenham conteúdo, que não sejam somente um momento de diversão. Sabemos bem os problemas do «arco-da-velha» que a nossa sociedade tem e tentamos refletir essa realidade nas peças que fazemos”, sublinha Sérgio Sousa, reconhecendo que mais não fazem porque a disponibilidade dos elementos assim não o permite. Um amor à camisola e à arte de representar que justifica a sobrevivência do grupo por mais

de três décadas, não se cansa de frisar António Clareza. “Ninguém anda aqui a ganhar teatro, mas a renovação do grupo tem sido constante e saudável. Às vezes dou por mim a pensar como é que esta malta passa os dias a trabalhar até às sete da tarde, chega a casa cansado, vai jantar e depois ainda vem para aqui para começar um ensaio às 10 da noite”, enaltece, com visível orgulho nos colegas mais novos que ali se encontravam naquela noite friorenta de novembro, desta vez não para ensaiar, mas simplesmente para conversar com

o jornalista, ao invés de estarem no quentinho das suas casas e com as suas famílias. “Só consigo realmente explicar isso por um verdadeiro amor pelo teatro. Claro que há pessoas que, ao longo dos anos, tiveram que sair porque as vidas profissionais não lhes permitiram continuar, mas agora temos a vaga proveniente dos «Sextas à Solta», malta mais jovem que está a entrar na Casa da Cultura de Loulé”, indica o entrevistado.

Aprender fazendo com a prata da casa Como é natural, altos e baixos todas as companhias e grupos teatrais têm e o TAL também passou por fases menos boas, mas nunca houve o perigo de desaparecer e nada

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que afetasse em demasia a programação. “Produzimos sempre uma peça, no mínimo, por ano, em 2015 até temos três, destinadas a todas as faixas etárias. E é com regozijo que reparamos que miúdos que assistiram a uma das nossas peças infantis, depois acabaram por entrar para o grupo volvidos alguns anos”, nota António Clareza, e assim se percebe melhor este espírito de família, sem que os mais velhos alguma vez tenham sentido a necessidade de «puxar as orelhas» aos mais jovens. “As várias gerações dão-se às mil maravilhas. Os mais novos entram através de formações e workshops que aqui realizamos,

outros por amizades, por pessoas que conhecem na Casa da Cultura, e olham para os menos novos como autênticos ídolos”, descreve Marta Lapiedad. “Isto é uma família de amadores com teatro de qualidade profissional”, sintetiza Sérgio Sousa. Qualidade de nível profissional que não cai do céu, nem aparece com um simples estalar dos dedos, e deste modo entramos na angustiante matéria dos apoios, sabendo-se que a Cultura é dos primeiros alvos a abater em tempos de crise. “Temos tido uma grande ajuda da Câmara Municipal de Loulé, mas aqui pautamo-nos pela máxima de fazer teatro com o material que possuímos. Nunca

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tivemos produções que envolvessem custos enormes e as principais despesas são com o som e a iluminação. As roupas e sapatos, umas vêm das casas do António, da Marta e da Fátinha, outras são cedidas por algumas lojas quando renovam os inventários, depois adaptamos as peças às nossas necessidades numas noites de costura e convívio”, adiantam Marta Lapiedad e Pedro Paulino. “Dependemos de subsídios e ajudas, mas nunca deixamos de fazer nada por não haver dinheiro. O grupo tem esta longevidade graças à amizade e espírito de família e são esses valores que queremos continuar a transmitir no futuro aos novos membros”, acrescenta Pedro Paulino. E um certificado da qualidade do trabalho do TAL é que, nos últimos anos, as suas peças têm feito parte do «Cenários», uma mostra de teatro dinamizada pela Câmara Municipal de Loulé que integra grupos amadores e companhias profissionais. Junta-se a isso a participação em diversos festivais de norte a sul de Portugal, em produções onde o elenco é escolhido de acordo com o perfil e a disponibilidade dos vários atores. “Já estamos a preparar 2016, que arranca com mais uma edição do Euro Festival da Cançanita Louletana e que terá mais duas ou três estreias até março”, revela Marta Lapiedad, lembrando, porém, que dezembro será ainda marcado pelo início do «TAL Júnior em Cena», com apresentações nos dias 11 e 18. “É uma vertente mais direcionada para a infantojuventude, com a prata da casa a dar-lhes formação em expressão corporal e dramática, e os dois espetáculos vão fazer parte do «Sextas à Solta»”.

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A poesia é outro cartão-de-visita da Casa da Cultura de Loulé desde 2003 e que coincide normalmente com as primeiras sextas-feiras de cada mês, pelo que a próxima sessão acontece no dia 4 de dezembro, com Sérgio Sousa, Maria João e um poeta convidado. “Vamos tentar que parte dos poemas que são lidos tenham alguma encenação, como é costume”, desvenda Sérgio, um dos mais seniores do TAL mas que continua fresco como um pero, à semelhança de António Clareza, pelo que os outros entrevistados nem sequer querem falar em passagens de testemunho. “O objetivo é manter esta partilha com quem já cá anda há mais tempo, aliás, funcionamos muito na base do «aprender fazendo». É bom para os miúdos começarem cedo a aprender esta coisa das artes, porque nos traz bastante bagagem para a vida pessoal”, reforça Pedro Paulino. E uma forma excelente de cativar os mais novos é precisamente o «Sextas à Solta», sketches curtos de 10 a 15 minutos em torno da música, poesia, teatro, vídeo, para que cada um identifique a porta de entrada que mais lhe atrai e quais as pessoas a quem devem recorrer em cada área. “Nós, geração intermédia, bebemos de uma humildade e forma de estar que é cada vez mais difícil de encontrar. Tivemos a sorte de conhecer pessoas que nos transmitiram valores essenciais da vida e queremos passar esse legado para os outros”, sublinha Pedro Paulino. “O «Sextas à Solta» apareceu graças a alguns estarolas que estavam mais ou menos ligados à Casa da Cultura e que eram constantemente abordados por pessoas que também queriam fazer qualquer coisa. E vai ter uma longevidade bastante grande porque haverá sempre interessados em dar o seu contributo, em dar os primeiros passos na cultura”, acrescenta Pedro Paulino. “Foi um dos movimentos mais interessantes que

apareceu em Loulé nos últimos tempos, por conseguir juntar uma série de malta nova, a maior parte deles sem experiência nesta matéria, e que fizeram coisas interessantíssimas”, aponta ainda Sérgio Sousa. De olhos postos em 2016, António Clareza já está a escrever uma peça sobre o circo, uma

homenagem a um espetáculo que cativou gerações inteiras mas que corre o risco de desaparecer face ao surgir de novas formas de entretenimento. Mas haverá mais motivos para estar atento ao que a Casa da Cultura de Loulé irá produzir, garantem os entrevistados. “A atual direção sentiu a obrigação de dar mais a estas pessoas que fazem parte do TAL e, nesse sentido, estamos a apostar na formação, da qual vão surgir novos projetos. Inserido no «Sextas à Solta», vamos ter também um conjunto de peças de outros grupos de teatro, entre elas quatro cedidas gratuitamente pelo Érico Gonçalves, um dos encenadores-atores que montou o Teatro Rápido no Chiado. Vamos contar igualmente com a colaboração do Hugo Costa Ramos, que começou nesta casa e agora é ator profissional, ou seja, haverá muito teatro para ver em Loulé e por esse Algarve fora”, conclui, em final de conversa, João Pedro Espada, presidente da Casa da Cultura de Loulé . 45

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ATUALIDADE LAGOA VAI SER «CIDADE DO VINHO 2016»

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Conselho Diretivo e a Assembleia Intermunicipal da AMPV Associação de Municípios Portugueses do Vinho reuniram, no dia 24 de novembro, no Museu do Vinho no Cartaxo, com o objetivo de apreciar as candidaturas recebidas de Lagoa, Silves, Ourém, Ponte de Lima e Santa Marta de Penaguião, zonas fortes no espetro vitivinícola português, a «Cidade do Vinho 2016». O Município de Lagoa recolheu 50 por cento dos votos, com os órgãos sociais da AMPV a elogiarem o trabalho desenvolvido, não só na divulgação da sua

região vitivinícola, mas também na promoção do vinho nacional em diversos eventos, nomeadamente no «Lagoa Wine Show» e na Fatacil. Esta eleição representa o reconhecimento do esforço, dedicação e trabalho realizado por uma equipa multidisciplinar da autarquia ao longo de 2015, «Ano do Vinho e da Vinha – Lagoa, Sabor da Cultura».

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Considerando que a ligação ancestral do concelho de Lagoa à produção agrícola, em geral e à vitivinícola, em particular, é um legado que importa preservar e potenciar, a Câmara Municipal de Lagoa pretende, no âmbito da «Cidade do Vinho 2016», contribuir para valorizar a riqueza, a diversidade e as caraterísticas comuns da cultura do vinho e de todas as suas influências na sociedade, paisagem, economia, gastronomia e património. No passado laboravam na cidade várias adegas, mas a partir da década de 1970, após o abandono quase total das vinhas, a produção de vinho em Lagoa sofreu um decréscimo, o que hoje em dia já não acontece, uma vez que se tem verificado, particularmente ao longo da última década, um crescimento do setor vitivinícola, quer em termos de quantidade quer de qualidade, sendo os vinhos de Lagoa distinguidos com vários prémios nacionais e internacionais, pois o Concelho tem conseguido reunir condições de atratividade para os produtores se instalarem. Os Municípios candidatos a «Cidade do Vinho 2016» tiveram de elaborar um programa anual de ações culturais, de formação e sensibilização ligadas ao vinho, com visibilidade nacional, explorando as suas particularidades e dando provas de criatividade. Para além dos eventos obrigatórios decorrentes da distinção – a Gala do Vinho e a eleição da Miss Vindimas – Lagoa irá realizar várias iniciativas ligadas ao setor e às áreas da cultura, educação e ambiente, entre outros .

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ALMOÇO CONVÍVIO JUNTOU PACIENTES DO PROJETO CUIDAR se dirija preferencialmente a pessoas com rendimentos inferiores ao salário mínimo nacional ou que não disponham de capacidade para suportar os custos dos tratamentos numa unidade privada. No decorrer deste convívio, o presidente da Câmara Municipal de Olhão, aproveitou para sublinhar que, “dos cinco sentidos, aquele cuja privação nos retira mais qualidade de vida é, seguramente, a visão”. António Miguel Pina congratulou-se com o facto de estar na presença de “cerca de uma centena de pessoas que têm, agora, uma qualidade de vida bem melhor”.

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erca de uma centena de pacientes do Projeto Cuidar, de Olhão e Vila Real de Santo António, juntaram-se no passado sábado, dia 21 de novembro, em Olhão, para um almoço convívio promovido por ambas as autarquias. Foi uma oportunidade para se fazerem novas amizades, trocar-se experiências e, sobretudo, para os presentes celebrarem a recém reconquistada saúde oftalmológica. O programa de Oftalmologia da Rede Intermunicipal de Cuidados de Saúde, promovido pelos municípios de Olhão e Vila Real de Santo António, é uma forma inovadora de partilha e otimização de recursos, que permite dar uma resposta mais rápida e próxima aos problemas de saúde dos munícipes de ambos os concelhos.

Dirigindo uma palavra de apreço à vereação do PSD na autarquia olhanense, o edil lamentou que “nem todos os partidos, sobretudo aqueles mais à esquerda, tenham estado disponíveis para aprovar o Projeto Cuidar”. António Miguel Pina olhou para o futuro da iniciativa, esperando agora que outros municípios se juntem aos de Olhão e Vila Real de Santo António. Uma opinião partilhada pelo mentor do Projeto Cuidar, o presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, que sublinhou que “não pode haver ninguém que deixe de se tratar por não ter dinheiro para o fazer”. Como exemplo do sucesso da iniciativa, Luís Gomes adiantou que o número de pessoas operadas num ano ao abrigo do Projeto, em ambos os concelhos, é maior do que através do Serviço Nacional de Saúde em todo o Algarve, no mesmo período. Ambos os autarcas deixaram a notícia de que está, neste momento, a ser estudado o alargamento do Projeto Cuidar a outras especialidades médicas para além da Oftalmologia .

No caso específico da Oftalmologia, especialidade médica que enfrenta deficiências graves no Serviço Nacional de Saúde, com listas de espera para consulta de cerca de três anos, o Projeto Cuidar proporciona um acesso consideravelmente mais rápido a consultas médicas e cirurgias. Pretende-se que a iniciativa

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ARRANCOU O PROJETO ESCOLAS & PAISAGENS 2015-2016 EM VILA DO BISPO

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o âmbito do projeto Escolas & Paisagens de Vila do Bispo, 59 alunos de quatro turmas do 2.º ciclo da Escola E.B. 2, 3 de São Vicente de Vila do Bispo inauguraram as saídas de campo neste novo ano letivo de 2015-2016. A iniciativa decorreu nos dias 24, 25 e 26 de novembro e os alunos, acompanhados por professores e pelos técnicos de História e Arqueologia da Câmara Municipal, tiveram a oportunidade de realizar uma viagem pela longa História do concelho, entre o longínquo passado da Préhistória, as memórias de um passado recente e o tempo das Descobertas marítimas além-mar, integrando importantes marcos culturais e históricos nas paisagens locais. Ao longo do itinerário foram transmitidos diversos conteúdos formativos e informativos, além de excecionais curiosidades. O percurso iniciou-se junto de alguns menires de Vila do Bispo (Pedra Escorregadia - Cerro do Camacho) e da sepultura coletiva da Pedra Escorregadia, tendo-se, em seguida, visitado a Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, na Raposeira. Finalmente, os jovens estudantes foram à Fortaleza de Sagres e passaram pelo Cabo de São Vicente, locais de riqueza e singularidade natural do mais extremo ponto da Europa Continental.

Foi dada, assim, continuidade ao projeto Escolas & Paisagens de Vila do Bispo, uma iniciativa de Educação e Sensibilização Patrimonial e Ambiental, partilhada entre o Agrupamento de Escolas de Vila do Bispo e a Câmara Municipal, que visa promover o Conhecimento, a Preservação, a Conservação, a Valorização e a Divulgação do Património Natural e Cultural do Concelho de Vila do Bispo, através de experiências partilhadas relativas a conteúdos disponíveis nas paisagens envolventes. Esta iniciativa tem como objetivo destacar, junto da comunidade escolar, atividades fora da sala de aula que mostrem que os diferentes conteúdos programáticos podem ser ilustrados com exemplos reais existentes no concelho .

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DIVERSIDADE DE OFERTA GARANTIU O SUCESSO DO MERCADINHO SOLIDÁRIO

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solidariedade de centenas de visitantes que participaram na dinâmica do Mercadinho Solidário de São Brás de Alportel garantiu o sucesso desta 6ª edição, realizada no passado sábado, dia 22 de novembro. As bancas do Mercado Municipal encheram-se de frescura, não de frutas e legumes como habitualmente, mas de solidariedade, que inspirou as mais diversas peças de arte e artesanato, objetos natalícios apresentados por meia centena de instituições e associações de índole social de toda a região que marcaram presença no evento. Foi uma mostra significativa do trabalho desenvolvido em prol da comunidade, que merece toda a distinção em especial nesta quadra festiva e, para além dos fundos angariados por cada uma das instituições, nesta edição ainda foi possível amealhar 105 euros com a venda de pins e decorações de natal, que servem para reforçar o Fundo Social de Emergência do município que apoia as famílias que se encontrem em situações de maior fragilidade económica e social, acompanhadas pelos serviços sociais municipais. Neste Mercadinho de Solidariedade foi ainda possível recolher muitos quilos de roupa e

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calçado usado para a Associação Humana converter em quilos de alimentos para a Loja Social de São Brás de Alportel. Este Mercadinho de emoções contou com diversos momentos de animação: a participação do grupo «Mimos e Sorrisos», com as suas estátuas vivas; momentos musicais protagonizados por diversos grupos: Grupo Doina, com cantares e danças da Roménia; Banda do Exército da Salvação; Grupo G5 do Projeto Linka-te; Hip Hop pelo Grupo Realize Crew do CCD. O programa contou ainda com demonstrações gastronómicas pela Associação das Terras e Gentes da Dieta Mediterrânica, que trouxe sugestões económicas para poupar e combater o desperdício alimentar. A iniciativa anual é organizada pela Câmara Municipal e Rede Social de São Brás de Alportel, com o apoio de instituições locais e regionais de índole social . 50


AUTARQUIA DE FARO LIBERTA 300 MIL EUROS PARA O MOVIMENTO ASSOCIATIVO

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Câmara Municipal de Faro aprovou um programa de apoio pontual ao associativismo que vai permitir orientar para as associações de apoio social, cultural, desportivo e juvenil uma verba de 300 mil euros para as atividades levadas a cabo no presente ano. O programa, que foi proposto pelos vereadores da coligação e contou com o voto unânime de toda a Câmara reunida no dia 26 de novembro, significa o retomar de um apoio que que há muitos anos não acontecia em Faro, dados os constrangimentos decorrentes da situação financeira em que o Município se encontrava e da necessidade de se recorrer a um plano de reequilíbrio financeiro em 2010. O programa prevê que as associações interessadas possam formalizar a sua candidatura no site do Município, entre os dias 27 de Novembro e 11 de Dezembro. Podem concorrer todas as entidades sem fins lucrativos sediadas no concelho que cumpram os requisitos. Conjuntamente com os formulários, estarão disponíveis as condições de admissão e os critérios de atribuição do apoio, que contemplarão itens como a avaliação da atividade regular da entidade candidata, o reconhecimento do mérito e da excelência dos atletas, artistas, praticantes ou o mérito da ação desempenhada em prol da comunidade.

Após um duro processo de saneamento das finanças da autarquia, a Câmara Municipal de Faro pode finalmente dispor de uma verba significativa para o sempre dinâmico movimento associativo farense. De relembrar contudo, que mesmo sem disponibilidade para atribuir os apoios financeiros desejados, a autarquia nunca deixou de observar com toda a atenção e reconhecer o mérito das associações, reforçando neste período o apoio logístico às suas atividades, por serem um veículo fundamental para o desenvolvimento harmonioso do nosso concelho nas diferentes áreas de atuação. A Autarquia liderada por Rogério Bacalhau garante ainda que todos os apoios concedidos serão integralmente liquidados até final do corrente ano – o que constitui, igualmente, uma novidade na prática do Município .

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CONCLUÍDA A NAVEGABILIDADE DO GUADIANA ENTRE VRSA E ALCOUTIM reveste um caráter histórico e representa a concretização de uma ambição com mais de 30 anos. Cabe agora aos municípios do Baixo Guadiana tirar partido da navegabilidade do Guadiana, desenvolvendo a sua envolvente, de forma a potenciar a atividade marítimo turística. No caso de VRSA, a intervenção contribuirá igualmente para potenciar a requalificação da frente ribeirinha da cidade”, frisou Luís Gomes, presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António.

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s presidentes das Câmaras Municipais de Vila Real de Santo António e de Castro Marim, o presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve e o Secretário de Estado do Mar participaram, no dia 20 de novembro, na inauguração do Projeto de Navegabilidade do Rio Guadiana, entre Alcoutim e Vila Real de Santo António. A melhoria da navegabilidade do Guadiana representou um investimento de 600 mil euros e permitiu a implementação de um canal navegável com uma largura mínima de 30 metros e uma cota de serviço de dois metros. Com esta intervenção, o rio passa a ser navegável, em segurança, 24 horas por dia, permitindo a circulação de embarcações com 70 metros de comprimento, 1,80 metros de calado e 1,20 metros de boca, o que corresponde às dimensões das marítimo-turísticas. Os trabalhos contemplaram o assinalamento marítimo de todo o canal e envolveram a colocação de uma centena de balizas, a instalação de 100 lanternas e 100 alvos, bem como a regularização dos fundos, o que obrigou à remoção de cerca de 5000 metros cúbicos de sedimentos. “A obra

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De acordo com o secretário de Estado do Mar, Pedro do Ó Ramos, depois de concluída a etapa entre VRSA e Alcoutim, será entregue, em dezembro, a candidatura para avançar com a navegabilidade até ao Pomarão, permitindo a criação de uma via marítima segura entre o Algarve e o Alentejo. A obra de navegabilidade do Guadiana dá seguimento à intervenção já concluída na barra, junto a VRSA. Avaliados em 850 mil euros, estes trabalhos devolveram uma profundidade mínima de 3,5 metros à foz do rio. A dragagem da barra incidiu numa zona de 1250 metros de comprimento por 60 metros de largura, tendo sido retirados cerca de 63 mil metros cúbicos de sedimentos do fundo do rio, que foram utilizados para realimentar as praias mais próximas da foz. A obra de navegabilidade do Guadiana foi financiada pelo Programa Europeu de Cooperação Transfronteiriça Espanha – Portugal (POCTEP), em Portugal conduzido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, sendo 25 por cento do valor da responsabilidade do Estado Português .

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ALDEIA DE NATAL ILUMINA VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO

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magia do Natal chega a Vila Real de Santo António, na sexta-feira, dia 4 de dezembro, com mais uma edição da Aldeia de Natal. A inauguração do espaço integra um concerto inaugural, às 17h45, bem como a chegada do Pai Natal, às 18h30. Até ao dia 6 de janeiro de 2016, a Praça Marquês de Pombal transforma-se num ponto de animação para pequenos e graúdos, onde não faltará a Casa do Pai Natal, uma feira, o maior escorrega insuflável de Portugal, bem como uma árvore de Natal gigante. Diariamente, entre as 10h e as 19h, com entrada livre, a Aldeia de Natal vai apelar ao imaginário de todos com uma série de ateliês, espetáculos de música e dança ao vivo, mostras de artesanato e demonstrações culinárias. Todas as atrações serão enquadradas por uma Feira de Natal, composta por uma dezena de bancas, onde será possível encontrar uma grande variedade de presentes e provar a doçaria da quadra, a que se juntarão carrosséis, divertimentos, trampolins e insufláveis. Durante cinco semanas, um programa diário de animação para toda a família irá igualmente trazer um recital de música, corridas de pais natais e uma mega aula de zumba solidária. A isto, soma-se uma exposição de árvores de natal, no Centro Histórico de VRSA, com peças elaboradas por alunos do pré-escolar. As iniciativas de rua ficam completas com as Mostras de Artesanato Natalícias, nos dias 5, 6, 7, 8 e 19 de dezembro, em VRSA, junto à Câmara

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Municipal, entre as 9h e as 17h. Também no dia 13 de dezembro, Cacela Velha recebe mais uma edição do Mercadinho de Natal. Para dinamizar o comércio local, foram instaladas iluminações natalícias na Rua Teófilo Braga, na Rua 5 de Outubro, na Praça Marquês de Pombal e nas

rotundas do concelho. Outro dos pontos altos das celebrações da quadra será o Presépio Gigante de Vila Real de Santo António, instalado no Centro Cultural António Aleixo. A estrutura abre ao público no dia 5 de dezembro e conta com mais de quatro mil figuras e perto de 20 toneladas de material. Já em 2016, no dia 5 de janeiro, às 11h, a Aldeia de Natal recebe a visita dos Reis Magos de Ayamonte (Espanha). A iniciativa insere-se na programação da Eurocidade do Guadiana, fortalecendo os laços e tradições com a vizinha Espanha. O programa de animação de Natal em VRSA é organizado pela Câmara Municipal de VRSA, pela VRSA SGU e pelas Juntas de Freguesia do concelho .

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REVEILLON DE QUARTEIRA AO RITMO DOS ABBA

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cidade de Quarteira volta a ser um dos destinos da noite de Passagem de Ano para quem aproveita esta época do ano para umas miniférias no Algarve. Este ano, a Câmara Municipal de Loulé vai promover um programa de animação que terá como pontos altos a atuação de uma banda que trará os grandes êxitos dos ABBA e o tradicional espetáculo de fogo-de-artifício. Na Praça do Mar, o coração das celebrações em Quarteira, a noite de 31 de dezembro arranca com a música do DJ Gustavo Vera, que sobe ao palco a partir das 22h. Quando soarem as 12 badaladas a anunciar o Ano Novo, um espetáculo de fogode-artifício irá iluminar o céu de Quarteira. Momento especial para os milhares de visitantes esperados nesta noite que irão dar as boas-vindas a 2016 junto à praia. Às 00h15, o grupo PLATINUM – The Live ABBA Tribute Show irá animar a principal praça da cidade com os hits que fizeram a carreira dos suecos ABBA, uma das mais bem sucedidas bandas de sempre. «Mamma Mia», «Dancing Queen», «Fernando», «Chiquitita» ou «Gimme! Gimme! Gimme!» vão aquecer o ambiente neste Reveillon. Formados em 1997, os ingleses PLATINUM nasceram com o principal objetivo de se tornarem no melhor tributo aos ABBA em todo o mundo. Individualmente, os músicos estiveram na estrada e gravaram com alguns dos maiores nomes do mundo do espetáculo. Como grupo, o seu nome já é uma referência no

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mundo da música. Com um cuidado extremo em todos os detalhes, os PLATINUM juntam a sensacional musicalidade, guarda-roupa e coreografia dos ABBA e uma boa dose de humor com uma atuação eletrizante, oferecendo espetáculos de cortar a respiração para todas as idades. Recorde-se que o programa da Passagem de Ano em Quarteira tem sido uma forte aposta da Câmara Municipal de Loulé com o principal objetivo de criar uma proposta de animação, numa altura em que são muitos os portugueses e estrangeiros que escolhem o Algarve como destino de férias nesta altura do ano .

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FAMÍLIAS PORTIMONENSES E IMIGRANTES ABRIRAM AS PORTAS DAS SUAS CASAS famílias e na integração dos cidadãos/ãs imigrantes na sociedade portuguesa. Portimão foi a segunda cidade do país que registou o maior número de famílias participantes na iniciativa, tendo sido constituídos seis pares de famílias - uma imigrante e outra autóctone (ou vice-versa) para um almoço de domingo bem diferente que envolveu não só um total de treze famílias de nacionalidade portuguesa, angolana, brasileira, búlgara, moldava e ucraniana residentes em Portimão como também assistentes - voluntários que acompanharam estas famílias em todo o processo. À mesa não só foram partilhadas iguarias gastronómicas de cada país como hábitos e costumes de cada um, num momento

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o passado domingo, dia 22 de novembro, famílias portimonenses e imigrantes aderiram à iniciativa «Família do Lado» e abriram as portas das suas casas a outras famílias que não conheciam para a realização de um almoço convívio, típico da sua cultura de origem, como forma de acolhimento do «outro». O desafio havia sido lançado pela Câmara Municipal de Portimão que, no âmbito do Plano Municipal para a Integração do Imigrante e em parceria com o Programa Escolhas - Mergulha Por ti (mão) do Agrupamento de Escolas Eng.º Nuno Mergulhão aderiu pela primeira vez à «Família do Lado», uma iniciativa do Alto Comissariado para as Migrações centrada na hospitalidade entre

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de especial convívio que abriu caminho para novas amizades e futuros encontros, aproximando culturas e fomentando a integração e o acolhimento local .

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