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Boa Esperança regressa com «Eles Querem é… Fado e Baile» Os sons mediterrânicos dos Flor de Sal Calceteiros de Letras apresentaram poesia erótica em Faro Francisco Martins fala de Cultura, Vinho e Saúde ALGARVEFinanceira INFORMATIVO #45 1
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SUMÁRIO 6 A anormalidade de alguns pais assusta-me Opinião Daniel Pina
10 O Regresso do Boa Esperança Cultura
20 Francisco Martins Política
30 O Ócio Criativo Opinião Paulo Cunha
32 Os melhores do mundo… Opinião José Graça
34 Flor de Sal Cultura
42 Calceteiros de Letras Cultura
50 Atualidade 68 Sugestões
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OPINIÃO DANIEL PINA Diretor
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o espaço de poucos dias tivemos mais dois casos que, como pai que sou, me deixam chocado, muito para lá de irritado, com uma vontade tremenda de fazer mal a determinadas pessoas. Primeiro foi a mãe de 37 anos que se terá atirado ao rio Tejo, na segunda-feira, numa praia em Caxias, daí resultando a morte de uma das filhas, de cerca de 19 meses, estando a outra, de quatro anos, ainda desaparecida. Já esta sexta-feira, uma criança de cinco anos morreu ao cair do 21.º andar de uma torre no Parque das Nações, em Lisboa, quando os pais, de nacionalidade chinesa, estariam a divertir-se no Casino de Lisboa. Duas situações, entre tantas outras que, infelizmente continuam a acontecer e que me levaram para outra viagem ao passado, recuperando um pensamento de há três anos.
deixando em cima do filho um papel com a simples mensagem «A minha mãe está no supermercado a fazer compras, se eu precisar de alguma coisa liguem-lhe», como se aquilo tivesse alguma piada. E lá ficou a criança largada na viatura, no parque de estacionamento de um supermercado na Nova Zelândia, sozinha, incapaz de se defender se alguém se lembrasse de partir o vidro da janela e raptá-la. Ou podia ter-se simplesmente engasgado com a chupeta, ou enfiado o peluche na boca e sufocado, enquanto a mãe andava descansada da vida às compras. Pelos vistos, para esta mulher sem coração, o filho é igual aos cães que se deixam fechados no interior dos carros, com a fresta da janela aberta para entrar um pouco de ar, enquanto os donos andam a tratar dos seus assuntos. Mas a irresponsabilidade de alguns pais não tem limites, como constatei através de uma reportagem da BBC, que falava de pais nos Estados Unidos que, quando levam filhos pequenos em viagens longas de avião, os drogam com medicamentos para a tosse ou alergias que provocam uma forte sonolência, só para não aturar as birras que eles possam fazer durante a viagem.
(…) Há pessoas que deviam ser proibidas de ter filhos, por manifesta incompetência para serem responsáveis por outra vida, pelo seu bem-estar, pela garantia dos seus direitos mais básicos. E não estou sequer a falar dos pais que decidem, por egoísmo puro, tirar a vida aos filhos ou sujeitá-los a maus tratos físicos e psicológicos. Estou a falar dos pequenos atos do dia-a-dia, de coisas que, nas suas cabeças perturbadas, são perfeitamente naturais e aceitáveis. Há coisa de uma semana foi notícia a história de uma mãe australiana que deixou o bebé trancado no carro enquanto foi às compras,
Eu também gostava de pegar na mulher e na filhota e ir viajar para um sítio qualquer mas, primeiro, não tenho posses financeiras para esses luxos, segundo, a minha filha de três anos tem tendência para enjoar e Continua…
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OPINIÃO ao restaurante, ao cinema, ao centro comercial, e há pais com mais paciência, e jeito, para lidar com essa situação do que outros. Se calhar, a solução é dar umas colheres de xarope ou um comprimido qualquer para os acalmar e não envergonharem os pais e obrigá-los a ir para casa mais cedo. Aliás, por essa ordem de ideias, se é para meter os miúdos a dormir enquanto os adultos tratam das suas coisas, se calhar até podem ficar sossegados no carro, com o tal bilhetinho com o número de telemóvel para qualquer urgência.
vomitar em passeios mais longos de carro, portanto, a escolha é óbvia: quando ela for maior, logo se faz alguma viagem, se entretanto o governo não nos tirar o dinheiro todo. Mas parece que, nos Estados Unidos, a malta não tem problemas em drogar os miúdos para não estragar os planos e as atividades de lazer. Claro que «drogar» pode ser uma palavra muito forte quando, se calhar, se está apenas a dar um xarope para a tosse que deixa os filhos KO durante algumas horas, mas todos os cuidados são poucos quando se trata de dar remédios a crianças pequenas, ainda por cima quando elas não necessitam deles. Para além disso, o corpo está a ganhar resistência aos medicamentos e, quando eles forem realmente precisos para tratar as doenças, já não são eficazes e também não se pode aumentar a dose.
Alto lá, nesse caso, nem sequer vale a pena ter trabalho a vestir o filho para depois o deixar trancado no automóvel. Dá-se o remédio milagroso e ele fica a dormir sozinho em casa, enquanto os pais vão tranquilamente ao cinema ver o filme que estreou naquela noite, ou fazer aquele jantar romântico que estava prometido há tanto tempo, ou matar saudades dos bares e discotecas e sair com os amigos. E, já agora, quando os filhos ainda são bebés, dá-se o remédio para dormirem a noite toda, ao invés de acordarem de três em três horas com fome e obrigarem os pais a sair do quentinho da cama, para a mãe dar de mamar ou o pai ir tratar do biberão.
Pior do que isso, há toda a questão moral de se estar a trair a confiança dos filhos, que comem e bebem aquilo que os pais lhe dão por pensarem que é para o seu próprio bem, quando a finalidade é bem mais egoísta. E em alguns casos, dar um remédio para beneficiar dos seus efeitos secundários e ter algumas horas mais tranquilas, pode mesmo provocar a morte do filho. No entanto, e por mais incrível que pareça, há pediatras que dão esses conselhos aos pais, desde que respeitem as doses indicadas para cada idade e não tornem isso um hábito regular.
Ou, digo eu, se não estiverem preparados e dispostos a fazer certos sacrifícios e alterar os velhos hábitos, o melhor é mesmo não terem filhos. Comprem um peixinho dourado, uma tartaruga ou um canário, que dão menos trabalho e podem ficar sozinhos em casa, enquanto os donos andam despreocupadamente a curtir a má vida. (…).
Ora, se esta tática resulta nos voos de avião, com os pequenitos a dormir ou em estado de dormência absoluta sob efeito de medicamentos, onde se define o limite? Qual é, supostamente, a linha que não se pode atravessar? É que uma criança a chorar, impertinente ou aos gritos a fazer uma birra pode ser um bocado chato numa simples ida
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CULTURA
BOA ESPERANÇA regressa com «Eles querem é… Fado e Baile!» Texto:
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Estreou, no dia 13 de fevereiro, mais uma revista à portuguesa do Boa Esperança e a trupe comandada por Carlos Pacheco voltou a superar as expetativas do público mais exigente. Sketches que nos fazem rir de forma descontrolada, a habitual sátira de língua afiada, mas com piadas de bom gosto, fados interpretados pelo jovem talento João Leote, um corpo de bailarinas de arregalar o olho e assim se esgotam, quase num instante, cerca de duas horas muito bem passadas a ver «Eles querem é… Fado e Baile!». Uma revista com sotaque algarvio de fazer inveja às grandes produções nacionais e que já se tornou, há largos anos, uma das principais atrações culturais do concelho de Portimão.
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trajes reduzidos, porque isso dá multa. Depois, abrem-se as cortinas para dar as boas-vindas ao teatro, com um encenador e sua assistente à procura de vedetas para o espetáculo, desde fadistas a bailarinas, com Carlos Pacheco a interpretar um empresário ou caçador de talentos bem sui generis. Os cruzeiros que chegam ao Porto de Portimão dão mote ao quadro seguinte, mais risadas a montes, antes do primeiro momento mais sério, um fado por João Leote a chamar a atenção para a vida dos sem-abrigo. Poucos minutos depois volta a boa-disposição com o WC do Zé Caguita no qual trabalha uma refugiada síria e onde um trio de alentejanos faz das suas, antes de se assistir à apoteose da primeira parte.
odos os anos, por altura do Carnaval, dispara o lembrete da memória dos algarvios de que algo de imperdível está para acontecer em Portimão. Falamos da revista à portuguesa do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense ou, resumindo, do Boa Esperança e a história voltou a repetir-se, no dia 13 de fevereiro, com a estreia de «Eles querem é… Fado e Baile!», mais uma vez com lotação esgotada. Depois das famosas pancadas de Molière, escutamos, em português, inglês à moda algarvia e em monchiquense, os habituais avisos de que não se pode filmar ou tirar fotografias ao espetáculo, muito menos lançar piropos às bailarinas de
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reflexo de mais uma missão cumprida, proporcionar horas divertidas ao público que encheu a sala do Boa Esperança para assistir a «Eles querem é… Fado e Baile!». Um título que, curiosamente, foi dos mais difíceis de escolher dos últimos anos, não por
Após um curto intervalo, vamos visitar Amália Rodrigues e Eusébio ao «Pintelhão Nacional» e somos surpreendidos pela chegada repentina de Jorge Jesus, que pretende contratar a pantera negra para jogar no Sporting.
Seguem-se as desventuras de três enfermeiras portuguesas que emigraram para Espanha em busca de melhor sorte e se viram forçadas a tirar um curso de sevilhanas. Muita música à mistura, João Leote faz uma homenagem à vida de ator, as bailarinas exigem os seus dotes artísticos e as longas pernas e é tempo de mais uma apoteose, desta vez mesmo a final.
falta de inspiração da equipa, antes pelo contrário, por existirem tantos temas que podiam ser abordados no espetáculo. “Era os refugiados, a maneira como o António Costa chegou ao governo mesmo tendo minoria de votos, situações novas que apareciam quase todos os dias. Depois, lembramo-nos desta frase que se costuma dizer muito no Algarve e que significa que eles querem todos é ir para o poleiro, para o poder. Aliás, já tínhamos a revista quase toda escrita quando definimos o título”,
Fechadas as cortinas, encontramos a euforia do costume nos bastidores,
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conta Carlos Pacheco, presidente da direção do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense.
multiplicidade de assuntos que os políticos, banqueiros, administradores de grandes empresas e figuras da sociedade geram a um ritmo frenético e que os coloca a jeito das línguas mais mordazes, mas Carlos Pacheco
De facto, parece fácil a vida dos humoristas em Portugal face à ALGARVE INFORMATIVO #45
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que iniciou a sua formação de fadista no Boa Esperança e que se estreou este ano na revista. “É um miúdo com uma maturidade tremenda na voz e na interpretação, um ator e cantor que, infelizmente, não vou conseguir segurar muito tempo. Nasceu para o espetáculo, seja no canto ou na representação, portanto, não hesitei em lançá-lo e, como interpreta vários temas, acaba por nos dar mais tempo para mudar de roupa e caracterização. Com ele, ganhamos uma parte séria e declamada”, destaca, reconhecendo que esta revista, supostamente da «província», já serviu de rampa de lançamento para muitos atores, uns para os palcos de teatro, outros para a televisão. “O Algarve é uma fonte inesgotável de valores, desde o desporto à cultura, mas fico um pouco triste quando essas pessoas chegam ao patamar
esclarece que essa realidade até complica o trabalho criativo no Boa Esperança. “Conseguir filtrar os inúmeros temas que vêm para a mesa não é fácil. Nós estamos na província, temos uma sala pequena e um palco que não nos permite ir muito mais além, mas as pessoas estão habituadas a espetáculos de grande qualidade e que não sejam massudos. Por isso, quando estou a escrever os textos, tenho a preocupação de não estar sempre a bater no mesmo ceguinho”, explica o entrevistado. Críticas à sociedade e bicadas a algumas figuras que não se restringem apenas aos quadros humorísticos, pois notamos que mesmo os fados viram as suas letras originais adaptadas para transmitir mensagens que fazem pensar a assistência. E, nesse aspeto, Carlos Pacheco não poupa elogios a João Leote, 15
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nacional e internacional e se esquecem da cidade e da região onde nasceram. Eu sei que é mais giro dizer que estudaram no Conservatório, mas não se deve ter vergonha das suas raízes”, lamenta.
podem, com maior ou menor facilidade, serem integradas na revista à portuguesa. “Eu nunca mando ninguém embora, há pessoas é que não conseguem ficar muito tempo connosco porque aparecem as tais propostas aliciantes e elas têm que pensar nas suas vidas. A Telma é a minha diretora de atores, faz um excelente trabalho e tem uma certa química comigo em palco. O Flávio, além de ator, é quem pinta os cenários, juntamente com o Cláudio. O Miguel Ângelo e a Sandra são os mais novatos, mas já se habituaram ao meu tipo de trabalho e ganharam rapidamente traquejo. Nas bailarinas, sai uma, entra outra, mas tenho uma série de miúdas à espera da sua oportunidade para participarem”, frisa o dirigente associativo.
«Buchas» que criam empatia com o público Carlos Pacheco tem a seu lado em placo Sandra Rodrigues, Telma Brazona, Flávio Vicente, Miguel Ângelo e João Leote, a par do corpo de bailarinas, e depressa se constata que não é fácil manter o mesmo elenco por muito tempo, daí que o encenador já esteja a pensar no que vai acontecer em 2017. E as dores de cabeça não são maiores porque o Boa Esperança tem as suas próprias escolas de danças de salão e de fado, que produzem jovens que
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pessoas gostam disso. Os meus colegas também já estão tão habituados a estas minhas «buchas», que sai tudo com uma naturalidade tão grande que parece que faz parte do texto”, sublinha o experiente ator.
Mudanças constantes na equipa que não impedem que a revista do Boa Esperança esteja cada vez mais profissional, desde os cenários e guarda-roupa à luz, som e multimédia. Contudo, mal entra Carlos Pacheco em cena, tudo pode acontecer, não há quem resista ao seu improviso, os próprios atores não contêm as risadas quando dizem as suas falas. E o público, claro, reage à altura, desmancha-se a rir sem que uma única palavra seja dita em palco. “Eu tenho 50 anos, comecei a trabalhar no Boa Esperança com 13, e é natural que crie uma enorme empatia com o público. É evidente que temos um guião que seguimos à risca na totalidade, mas eu tenho sempre uma certa liberdade para falar com o senhor careca ou com a senhora que tem esta ou aquela particularidade e as
Não admira, por isso, que os espetáculos nunca sejam exatamente iguais, há sempre ligeiras adaptações consoante os locais onde vão a cena e com as próprias pessoas que estão na assistência. E depois há «buchas» que se tornam parte integrante da própria revista, como é o caso da voz off fazer as advertências no início e no intervalo em português, inglês e monchiquense. “Os meus colegas estão-me sempre a pedir para fazer esse sotaque e, quando estávamos em estúdio, decidimos colocar isso
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rentabilidade suficiente para pagar as despesas”, sustenta.
no alinhamento. Depois, estamos atrás das cortinas, sentimos o riso do público e percebemos logo quem vamos ter pela frente”, desvenda Carlos Pacheco.
E como no palco se falou tanto da situação dos turistas chegarem ao Porto de Portimão e partirem logo em excursões para os concelhos vizinhos de Silves e Lagoa, porque não existe nada para se ver na cidade, Carlos Pacheco não tem dúvidas de que a revista do Boa Esperança é o espetáculo que tem mais público na Bacia do Arade. “Servimos como um isco ou um engodo para que as pessoas venham a Portimão ao domingo, o problema depois é arranjar um restaurante que leve 50, 60 ou 70 clientes para elas almoçarem, estão todos fechados. No centro da cidade as lojas também estão todas encerradas, não há nada para lhes oferecer enquanto não
Ora, como o entrevistado gosta de ter o futuro sempre presente, «Eles Querem é… Fado e Baile!» tem já contratos fechados com diversas autarquias para andar em tournée pela região e pelo resto do país a partir de maio, com a certeza de que os textos incluirão casos ou figuras desses locais. “No Boa Esperança estaremos sempre que houver grupos ou excursões organizadas e, em 2015, trabalhamos até final de outubro. Deixou de ser um espetáculo para apresentar durante um ou dois meses para se estender por quase todo o ano. Aliás, seria um desperdício bastante grande se assim não acontecesse, nem sequer teria ALGARVE INFORMATIVO #45
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começa o espetáculo”, desabafa o entrevistado, revelando que há, inclusive, outras cidades a quererem servir de residência ao Boa Esperança. “A nossa continuidade em Portimão está assegurada, mas gostávamos de ter outro tipo de apoios. Eu sei que as autarquias estão a atravessar grandes dificuldades e aquelas que fizeram, há uns anos, um grande despesismo sem pensar no dia de amanhã, ainda estão em piores lençóis. Nós temos condições para aumentar a sala do Boa Esperança, mantendo a atual capacidade de 250 pessoas, mas ficando com melhores condições para fazermos o nosso trabalho. Cada vez vamos evoluindo mais, mas chegamos a um patamar em que não temos mais degraus para subir”, admite Carlos Pacheco.
das possibilidades financeiras da coletividade e que teria que ser impulsionado pelo poder central ou local. “Infelizmente, não sei se existe muito interesse em que Portimão tenha mais um equipamento cultural, mesmo que estivesse ao serviço de toda a comunidade. Seria um espaço onde não era necessário estar todos os anos a injetar dinheiro, porque nós iriamos cuidar dele com todo o afinco. É que, em Portugal, constroem-se as infraestruturas e esquecem-se das despesas de manutenção”, critica Carlos Pacheco. “Era uma mais-valia para todos se alguém abrisse os olhos e decidisse apoiar o Boa Esperança, porque aqui nunca houve derrapagens nas obras que realizamos”. E mais não quis dizer porque, quando puxam por ele, às vezes diz coisas menos politicamente corretas e que nem toda a gente gosta de ouvir e o intuito da noite era divertir-nos .
Um sonho que a direção do Boa Esperança acalenta há quase uma década, mas que implica um investimento acima
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POLÍTICA
FRANCISCO MARTINS fala de Cultura, Vinho e Saúde Financeira Lagoa foi a escolhida para Cidade do Vinho 2016, vencendo a concorrência de Ourém, Ponte de Lima, Santa Marta de Penaguião e Silves graças a um projeto que envolveu muitos dos municípios do Algarve, organismos e entidades públicas regionais e os principais agentes económicos ligados à vitivinicultura e ao turismo. O pontapé de saída do programa oficial foi dado no dia 20 de fevereiro, com a realização de uma esplendorosa gala no Centro de Congressos do Arade, mas mais de uma centena de eventos vão decorrer ao longo de todo o ano, conforme revelou à Algarve Informativo o presidente da Câmara Municipal de Texto:
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epois de dar o sinal de partida para mais uma etapa da Volta ao Algarve em Bicicleta e de assistir a um espetáculo de música clássica para crianças que decorria no Auditório Municipal de Lagoa, Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, conseguiu arranjar um pequeno intervalo, não para descansar – não sabe o que isso é há mais de dois anos – mas para levantar um pouco do véu do que se pode esperar de «Lagoa Cidade do Vinho 2016», galardão atribuído, em novembro do ano transato, pela Associação dos Municípios Produtores de Vinho. Lagoa que, durante muito tempo, foi praticamente sinónimo de vinho, contudo, com o «acordar» da região algarvia para o turismo, o setor foi decaindo, a antiga Adega Cooperativa de Lagoa fechou portas e os terrenos ficaram votados ao abandono.
Portimão. Lançamos a semente em 2014 com o «Ano do Mar», 2015 foi o «Ano do Vinho e da Vinha», 2016 é o «Ano da Nossa Gente. Nossa Identidade», ou seja, são anos temáticos que agregam sobre si uma série de eventos”, conta o edil socialista, frisando que a ideia de «Lagoa Cidade do Vinho» surgiu quando integrou a direção da AMPV. “Atendendo à nossa tradição e sabendo que o vinho poderia ser uma mais-valia enquanto veículo de promoção, realizamos uma série de iniciativas, em 2015, em torno deste produto e, em novembro, recebemos este galardão”. Um renascer das cinzas qual fénix mitológica que já se nota em termos de qualidade, com o surgimento de novos produtores que apostam forte nos seus enólogos e nas técnicas que aplicam nas vinhas e lagares, pelo que Francisco Martins não se surpreende com a enorme quantidade de prémios internacionais que os vinhos de Lagoa têm conquistados nos últimos anos. “E há mais três novos empresários que vão começar a produzir vinho este ano, porque o concelho tornou-se, de um momento para o outro, bastante atrativo para este setor. Eu, enquanto edil, tenho que gerir financeiramente a câmara municipal e economicamente o concelho, promovendo de todos os modos possíveis os nossos produtos e a nossa identidade”,
Mais recentemente, as cooperativas de Lagoa e Lagos fundiram-se na Única – Adega Cooperativa do Algarve e uma nova geração de empresários agrícolas começou a recuperar os terrenos de família, mas o renascimento de todo um setor precisa de ajuda das instâncias superiores e foi ai que entrou em cena a autarquia lagoense. “Quando assumi a liderança do concelho, a minha ideia foi desenvolver um projeto de afirmação de Lagoa, que era frequentemente rotulada como «dormitório» dos concelhos limítrofes, principalmente de ALGARVE INFORMATIVO #45
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frisa Francisco Martins, dando o exemplo do impacto turístico da marca «Douro». “É um rio, uma região e um vinho vendidos com a mesma designação. O Algarve, durante anos, foi vendido apenas pelo «sol e praia», mas é um modelo que está a ficar esgotado e temos que criar alternativas”, aconselha.
(…) Se fizermos um percurso pela restauração da região, são pouquíssimos os estabelecimentos que têm nas suas cartas vinhos algarvios, o que é um contrasenso. No Alentejo, no Dão, no Douro, em Setúbal, de certeza que isso não acontece (…)
E o vinho tem, de facto, um mercado muito próprio, aliás, cada vez se ouve falar mais de «enoturismo», o que motivou a presença do concelho de Lagoa em algumas feiras internacionais de turismo em 2015, casos de Barcelona e Madrid, uma aposta que vai ser reforçada no decorrer deste ano, com as idas também a Berlim, Paris, Nice e Londres. “Estamos a internacionalizar a marca «Lagoa» e, para além da nossa beleza natural, levamos o
vinho como charneira de atratividade. Em Barcelona, logo no primeiro dia da feira esgotamos praticamente todo o stock que tínhamos levado de vinho, face à enorme procura que o nosso espaço gerou nos visitantes”, destaca o entrevistado.
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fevereiro, numa gala que marcou o arranque oficial dum programa que contempla mais de uma centena de eventos e iniciativas associadas ao vinho. Entre eles, destaque para mais uma edição do «Lagoa Wine Show», em Abril, a eleição da Rainha das Vindimas e as comemorações do Dia do Enoturismo, mas a própria FATACIL decorrerá sobre a bandeira do vinho. Somam-se a isso os lançamentos de livros, colóquios, cursos de enologia, visitas, exposições, arte urbana ou o projeto «Green Cork», de cariz mais ecológico, ou seja, uma panóplia de iniciativas para todas as idades, gostos e feitios.
O vinho de qualidade está, realmente, na moda, e não apenas junto das gerações mais seniores e de maiores posses financeiras, beneficiando para tal também da enorme popularidade que os chefes de cozinha e a gastronomia têm granjeado nesta década. E Lagoa não foge à regra, possuindo, inclusive, dois restaurantes com Estrelas Michelin, o galardão mais famoso que existe no mundo da cozinha. “Já tínhamos o Ocean, agora temos o Bon Bon, é um casamento perfeito. Porém, não basta levar «Lagoa» para fora, é preciso que os algarvios também adiram aos seus vinhos. Se fizermos um percurso pela restauração da região, são pouquíssimos os estabelecimentos que têm nas suas cartas vinhos algarvios, o que é um contra-senso. No Alentejo, no Dão, no Douro, em Setúbal, de certeza que isso não acontece”, lamenta Francisco Martins. “Antigamente, brincávamos com aquela caricatura do estrangeiro comer sardinha assada com batatas fritas, que era um atentado para os algarvios. Do mesmo modo fica mal eu, enquanto presidente de câmara, levar convidados institucionais a comer a um restaurante e depois não terem vinhos de Lagoa, ou pelo menos do Algarve. Se for preciso ter um menor margem de lucro, que seja, mas estamos a promover aquilo que é nosso”, reforça.
Contudo, a faceta cultural de Lagoa tem estado bastante evidente desde que Francisco Martins venceu as autárquicas de 2013, revitalizandose alguns eventos mais antigos e criando-se outros de raiz, como o Festival Internacional de Guitarra de Lagoa, o Mercado de Culturas à Luz da Vela, a festa Black & White no Carvoeiro ou a exposição de estátuas vivas por altura do Natal. “Lagoa é um concelho onde se respira cultura ao longo de todo o ano e com objetivos a alcançar, no curto e longo prazo. Exemplo disso é que temos cá sedeadas a Orquestra de Jazz do Algarve, a Orquestra de Guitarras, a Orquestra de Sopros, entre outras associações com trabalho de louvar na formação”, enaltece o edil, num virar de página face ao desinvestimento a que, na sua opinião, se vinha assistindo no
Cultura sem ir ao bailarico A bandeira de «Lagoa Cidade do Vinho 2016» foi recebida no dia 20 de ALGARVE INFORMATIVO #45
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Carlos Alvo, Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo e o vereador Luís Encarnação
atualmente estamos nos três milhões, e conseguimos baixar o IMI e abdicar de parte da receita do IRS. A saúde financeira do município é boa e, em Abril, vamos apresentar as nossas contas com a máxima transparência. Ao contrário do que muitas vezes se pensa que investimento significa construir apenas pavilhões, escolas e estradas, na Educação e Cultura estamos a investir nas pessoas e não há nenhum povo que cresça quando esquece estes dois fatores”, refere Francisco Martins.
campo cultural em mandatos anteriores. “Alguns eventos desapareceram, como foram o «Sons do Atlântico» e o «Festival de Jazz das Fontes», que reativamos, outros melhoramos, como o «Doce Conventual» e o «HumorFest». Todos os meses temos um grande evento”, salienta, com orgulho. Eventos que, todavia, não colocam em causa a sustentabilidade financeira da autarquia, que não consomem milhões do erário público, não se cometendo os mesmos erros de outras autarquias. E se fosse preciso melhor prova disso, Lagoa foi considerado, em 2015, o concelho com maior autonomia financeira e melhor gestão financeira do país. “Quando cheguei, tínhamos acima de nove milhões de euros de dívida,
Abateram-se, então, seis milhões à dívida da Câmara Municipal de Lagoa, o que levou a uma redução dos encargos com a banca na ordem dos 700 mil euros, indica o edil, uma verba que supera o
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(…) Este foi um mandato de imenso trabalho de gabinete porque o Quadro Comunitário de Apoio está ai e, se não definirmos planos, projetos e áreas de reabilitação urbana, não podemos concorrer aos fundos europeus. Daqui a ano e meio, as pessoas saberão no que estão a votar, porque o meu plano é de continuidade (…)
por esse tipo de festas. O dinheiro que se gasta naqueles artistas do costume que trazem 30, 40 ou 50 mil pessoas atrás, dá para pagar três, quatro ou cinco eventos, com muita gente a assistir e que proporciona essa tal diversidade de oferta. Ainda agora estivemos num auditório, num dia de semana, às 11 da manhã, completamente cheio com música clássica para crianças. É a prova de que o caminho está bem traçado”, frisa o entrevistado.
orçamento destinado à cultura no concelho. E cultura que não é, note-se, o típico entretenimento de cariz comercial e popularucho, mas sim espetáculos que criam e educam públicos. “Temos uma oferta eclética, mas nunca entraremos no facilitismo de «ir ao bailarico», como se costuma dizer, com todo o respeito que tenho
A fasquia foi colocada bem alta, a qualidade é pedra-chave em tudo o que se realiza, mas notou-se igualmente uma saída de portas de alguns dos eventos que aconteciam tradicionalmente no Convento de São José, para dar a conhecer as belezas naturais do concelho. Assim sucedeu com o Festival de Jazz nas
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Fontes de Estômbar e com o Festival Sons do Atlântico no Promontório da Senhora da Rocha, uma estratégia que é para reforçar com a construção de um anfiteatro atrás do Forte de Nossa Senhora da Encarnação, no Carvoeiro. “Vamos fazer mais outros três semelhantes e serão pequenos núcleos onde se podem realizar eventos mais intimistas, de menor dimensão, porque a cultura é uma das prioridades deste executivo. É uma sementeira da qual pensávamos colher frutos daqui a cinco ou seis anos, mas alguns já se concretizaram, nomeadamente a atribuição do galardão «Lagoa Cidade do Vinho 2016», o que nos deixa imensamente felizes”.
medidas administrativas, como a consulta a várias entidades para a compra de bens e a concentração da aquisição de vários serviços. Nos seguros com o pessoal, por exemplo, passamos de 400 e tal apólices individuais para uma coletiva, com maior cobertura e uma poupança de mais de 100 mil euros. Os números são públicos, não é propaganda, diminuímos as despesas correntes”, afirma, com vigor, Francisco Martins. Em virtude destes critérios de gestão muito fortes é possível, então, manter os investimentos estruturantes, por exemplo em Vale d’el Rei, Caramujeira e Marinha, uma zona turística com mais de 300 habitações e onde ainda não existia água canalizada, uma empreitada orçada em mais de 700 mil euros. “O nosso objetivo é alcançar a cobertura total do concelho em termos de rede de abastecimento de água e do saneamento e, só para ilhas ecológicas, vamos colocar à volta de um milhão de euros em orçamento. Boa gestão é pensar o território como um todo e não estar a fazer as coisas avulso, porque assim gasta-se muito mais dinheiro. Tenho orgulho de liderar um concelho com saúde financeira, onde se aumentou o investimento em despesas de capital, onde não se cortaram os apoios às IPSS nem aos clubes, onde o apoio ao arrendamento quase que duplicou e onde há mais eventos culturais”, dispara, satisfeito por estarem a ser
FATACIL de cara lavada em 2016 Redução da dívida que se tornou um imperativo para a generalidade das autarquias, umas por iniciativa própria, outras por obrigação, mas as torneiras não se fecharam em Lagoa, antes pelo contrário, continua a investir-se bastante nas infraestruturas, nos apoios sociais, na educação, no associativismo. Uma situação para a qual contribuiu o aumento das receitas dos impostos indiretos, de tal modo que as verbas provenientes do poder central são quase irrisórias no orçamento anual da autarquia lagoense, mas a recuperação não se ficou a dever apenas a esse fator. “Adotamos uma gestão extremamente criteriosa e implementamos uma série de 27
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muito mais força”, desabafa o entrevistado. E como já estamos na segunda metade do mandato à frente da Câmara Municipal de Lagoa, que mais sonhos há ainda para concretizar nos próximos anos, questionamos. “Quando me apresentei a eleições fui muito honesto e disse logo que o meu projeto era a 10 anos. Se olhasse apenas para os quatro anos de cada mandato, avançava de imediato para o tal popularucho para ganhar votos e toca a andar, mas não é isso que pretendo”, garante, prosseguindo, em jeito de conclusão: “Estamos a fazer a revisão do PDM, que é um instrumento estruturante para o futuro de Lagoa, fizemos o Plano Estratégico de Lagoa, está a ser feito o Plano de Mobilidade de Lagoa, ou seja, não havia nada que dissesse que este concelho estava pensado a 10 ou 15 anos. Os planos estão feitos, as obras vão começar a sair e o grosso será na vertente da Mobilidade. Este foi um mandato de imenso trabalho de gabinete porque o Quadro Comunitário de Apoio está ai e, se não definirmos planos, projetos e áreas de reabilitação urbana, não podemos concorrer aos fundos europeus. Daqui a ano e meio, as pessoas saberão no que estão a votar, porque o meu plano é de continuidade” .
cumpridas as promessas que fez ao eleitorado em 2013. Mudanças de gestão que se deverão fazer sentir igualmente na FATACIL, que este ano será organizada pela primeira vez pela Câmara Municipal de Lagoa, ao invés de por uma associação. “Fomos obrigado a extinguir a FATASUL porque tinha um passivo superior a um milhão de euros, estava praticamente em falência, outra surpresa desagradável que herdamos quando assumimos o cargo. Está a ser realizado um estudo financeiro de toda a feira, vamos investir no espaço, vamos fazer um refresh da imagem e o objetivo é que tenha um orçamento inferior ao habitual, sem perder a qualidade”, adianta Francisco Martins, defendendo que o certame deve ser encarado como um cartão-de-visita de toda a região e não somente do concelho de Lagoa. “Somos 16 concelhos pequenos e cada um por si, esquecendo-nos de que, se estivéssemos todos unidos, teríamos
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OPINIÃO O ÓCIO CRIATIVO PAULO CUNHA
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ode parecer descabido e até um contrassenso vir aqui opinar sobre a importância de «fazer nada» (que não é o mesmo que nada fazer), quando tantos por cá andam a tentar - desesperadamente - arranjar alguma coisa para fazer. De preferência, remunerada!... Numa altura em que as consequências provocadas pelas desigualdades sociais tornam urgente uma real tomada de consciência e de posição sobre o papel e a contribuição de cada um na vida dos outros, urge conseguir arranjar tempo para pensar. Simplesmente… O sociólogo italiano Domenico di Masi, defensor que as pessoas deveriam reservar uma parte do seu dia para fazer nada, porque só assim seriam capazes de ter boas ideias e, consequentemente, terem tempo para criar, coloca-me em absoluta consonância e concordância com tal teoria! Vivendo num mundo e num tempo onde as palavras-chave para o «sucesso» são motivação, iniciativa, rendimento, e onde, cada vez mais, a pressão laboral é exercida na pessoa a partir de dentro de si e na necessidade de ser produtiva, empreendedora e audaz, torna-se premente tentar arranjar mecanismos que nos ajudem a lidar com o facto de tal nem sempre vir a ser concretizável. Numa sociedade onde o trabalhador modelo é o trabalhador capaz de realizar múltiplas tarefas em simultâneo e na perfeição, do «yes, we can» e do «like», torna-se urgente ensinar os jovens a aprender a lidar com o fracasso, experiência fundamental numa vida humana em construção e mutação.
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A história conta-nos que foram nos longos períodos de atenção, silêncio e concentração que surgiram as grandes criações humanas. Do mesmo modo, as nossas relações familiares sofrem quando somos incapazes de lhes conceder a nossa total atenção, algo difícil no meio de todas as distrações e solicitações que nos atingem. O excesso de informação, de comunicação, de emoções e de objetivos provocam no individuo dispersão, incapacidade de estar centrado e desgaste mental e físico. Trazendo também a este texto o filósofo Byung-Chul Han, aqui partilho a necessidade urgente de reaprender o dom da atenção, da escuta, do silêncio, do deter-se, do dar espaço, do não cair nas «engrenagens» de consumo e produção, para que o ser humano não se converta “numa máquina de rendimento, cujo objetivo consiste no funcionamento sem alterações e no máximo de rendimento”. Tratase de crescer na pedagogia do olhar: “Aprender a ver significa acostumar o olho a observar com calma e com paciência, a deixar que as coisas se aproximem dos nossos olhos, quer dizer, educar o olho para uma profunda e contemplativa atenção, para um olhar alargado e pausado.” Fazer nada é, tão simplesmente, acrescentar às nossas vidas janelas temporais onde possamos ver para além da modorra dos dias pré-feitos. Transformar os pequenos «nadas» em folhas de papel onde, na sua brancura e candura, possamos redesenhar uma nova vida. Uma vida digna de ser vivida! A nossa… .
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OPINIÃO OS MELHORES DO MUNDO… JOSÉ GRAÇA Membro do Secretariado Regional do PS-Algarve
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s melhores do mundo estão entre nós, de passagem pelo Algarve é certo, mas estão entre nós e pouca gente ou nenhuma dá por isso, seja em Portugal, seja por esse planeta imenso, onde milhões de pessoas nunca ouviram falar da nossa região, nas nossas potencialidades, nos nossos problemas… Há alguns anos, quando ouvi um cidadão americano dizer que pensava que Portugal era uma província qualquer do reino de Espanha acreditei que muitos pensariam da mesma forma e que, pior ainda, como aquele senhor de quem não guardei o nome, haveriam muitos mais espalhados pelos Estados Unidos ou por outros países potencialmente emissores de turistas para o nosso país e para o Algarve. Ao longo dos anos, o marketing territorial tem vindo a tornar-se um tema recorrente na discussão em volta do desenvolvimento de cidades, regiões e mesmo países. Como qualquer empresa, os países e as regiões estão em permanente competição para disputarem os meios requeridos para melhorar a sua qualidade de vida potencializando os recursos disponíveis para projetarem o seu nome internacionalmente e lograrem um lugar de destaque entre os consumidores integrados nos seus públicos-alvo. Para não dizer que é impossível, nestes casos não é tão fácil como numa empresa definir o produto, selecionar os mercados e afinar os segmentos de público pretendidos, pelo que importa definir o melhor processo para alcançar a satisfação das entidades individuais e coletivas que interagem com a região ou país, seja num contexto interno ou externo. Logo, é fundamental definir de forma participada e garantir que os atores do processo percebam que este pode ser longo, implicar falhanços e retrocessos, envolver investimentos que podem não ter retorno ou propiciar vantagens intangíveis de imediato. Como se diz, cada vez com mais frequência, temos que ser assertivos e resilientes!
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Em segundo lugar, a região ou país deverá apostar naquilo que faz de melhor ou diferente, num elemento do seu contexto patrimonial que se possa gerir e valorizar, intervindo no domínio dos eventos ou das infraestruturas. Mais uma vez, há que garantir que esta aposta seja partilhada pela comunidade, dentro das instituições públicas e privadas, nas escolas e nas empresas, na casa de família de cada cidadão… Posso dar-vos alguns exemplos regionais onde este nível de participação pode ser avaliado e melhorado, uns recentes, outros mais distantes no tempo. O Algarve acolheu o Euro’2004, a Capital da Cultura em 2005, duas edições do Rali Paris-Dakar, o Allgarve até 2011 ou o Rali de Portugal até 2014, a classificação da Dieta Mediterrânica como património cultural imaterial pela UNESCO; grandes eventos de ciclismo, golfe, hipismo ou desportos náuticos que contribuíram e contribuem para a projeção de um destino turístico internacional marcado pela qualidade, diversidade e segurança… Porém, todos estes investimentos acabam por fracassar se não estiver concebida e materializada uma estratégia de comunicação eficiente num mercado cada vez mais globalizado, assente numa panóplia de meios suficientemente diversificada para atingir os segmentos de público previamente determinados. Como disse no princípio, os melhores do mundo estão entre nós, na Volta ao Algarve (ciclismo) ou na Vilamoura Atlantic Tour (hipismo), mas a cobertura mediática ainda está muito longe do desejável, sendo uma parte a melhorar substancialmente nos próximos eventos deste nível, garantindo uma sustentabilidade dos eventos e da região que nunca dependa de terceiros! . NOTA – Poderá consultar os artigos anteriores sobre estas e outras matérias no meu blogue (www.terradosol.blogspot.com) ou na página www.facebook.com/josegraca1966
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CULTURA
Os sons mediterrânicos dos
FLOR DE SAL Foi na noite de 18 de fevereiro que José Francisco e Ana Figueiras, os «Flor de Sal», subiram ao palco do Cine-Teatro Louletano, juntamente com outros músicos convidados, para apresentar o seu álbum de estreia de nome homónimo. Um cocktail sonoro de folk, música tradicional portuguesa e música clássica executado à guitarra, bandolim e flauta de bisel, com letras inspiradoras interpretadas por vozes de gerações diferentes, são os condimentos para o sucesso de mais um projeto de excelência nascido em terras algarvias e que muito rapidamente deverá ultrapassar as fronteiras lusitanas. Texto:
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Cine-Teatro Louletano, na artéria principal da cidade de Loulé, já nos habitou a serões de qualidade e a apresentação do álbum de estreia dos «Flor de Sal» não defraudou as expetativas. José Francisco e Ana Figueiras comprovaram em palco todo o talento que já se lhes reconhece, muito bem acompanhados por outros músicos que colaboraram na gravação do disco intitulado, também, «Flor de Sal». Uma dezena de temas originais, mais cinco versões, que nos transportam para diversos universos musicais. Uma pitada de folk e música tradicional portuguesa aqui, as «praias» do Zé tocadas à guitarra e bandolim, uma mão cheia de música clássica acolá, o estilo de eleição da Ana, executada na perfeição com a flauta de bisel, e temos, de facto, um som que tanto pode ser chamado de world music, como música étnica ou mediterrânica.
e trajeto feitos na área da música clássica e antiga, ambos professores no Conservatório de Música de Loulé. “Convidei a Ana para apresentarmos em dueto, em eventos mais intimistas, um disco que lancei a solo há quatro anos, na época acompanhado pela Orquestra Azul. A química e a aceitação do público foram de tal ordem que sentimos necessidade de criar um nome e assim apareceu o «Flor de Sal». Entretanto, fizemos uns temas para uma peça da companhia «Ao Luar Teatro», da qual a Ana é diretora musical, foi tudo muito rápido”, relata Zé Francisco. Uma fusão de estilos e personalidades que funcionou que nem ginja, daí que a dupla defenda que não deve haver receio de se arriscar, de se misturarem caminhos, de se quebrarem barreiras ou remar contra ideias pré-definidas. “É esta postura que nos permite abrir os ouvidos uns para os outros e perder o medo de entrar em áreas onde, supostamente, estamos menos à vontade”, defende Ana Figueiras, reconhecendo que também ela teve que dar esse passo de leão. “Quando lhe falei a primeira vez da minha ideia, respondeu-me logo que não tinha experiência neste género. Depois, quando a ouvi a tocar, quando vi a abordagem que ela deu aos temas, percebi logo que estava como um peixinho a nadar na
Enfim, coloque-se que rótulo se quiser, a verdade é só uma: é música de altíssima qualidade, daquela que não escutamos todos os dias, e até ficamos surpreendidos quando nos revelam que o projeto só começou a ganhar forma há um ano e que o disco foi gravado, imagine-se, em dois meses. Zé Francisco, que possui na bagagem uma longa carreira como artista, de onde pontifica o grupo de Tavira Marenostrum, Ana Figueiras, que tem uma licenciatura e mestrado em flauta de bisel e toda a formação
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água. A música tem toda a mesma essência, as mesmas raízes, independentemente do estilo”, explica Zé Francisco.
local da atuação. Se for numa igreja, é normal que estejam mais estrangeiros residentes no Algarve, num cine-teatro já são muito mais portugueses”, observa Zé Francisco, apesar de não concordar muito com estas ideias generalistas. “Há eventos onde os artistas têm algum preconceito de ir, por não corresponderem aos seus estilos, mas assim estão-se a prejudicar a eles próprios e ao público. Não dão oportunidade às pessoas de ouvirem projetos diferentes. É claro que, por vezes, nem todos gostam do que sobe ao palco, mas temos que abrir os horizontes”, justifica, ideia partilhada por Ana Figueiras. “No nosso caso, não estão à espera de ver flautas daquele tamanho, ou tão diferentes, num concerto, mas acabam por ser surpreendidos pela positiva. Em ambientes «dentro de casa», num pequeno palco, num espaço mais intimista, funciona bastante bem o dueto. Noutras situações levamos alguns convidados para os espetáculos, o Rui Afonso nas percussões, o Nuno Faria no contrabaixo e o Johan Zachrisson na guitarra elétrica”, adianta Ana.
Palavras sábias e completamente verdadeiras, contudo, esta fusão de estilos só se tornou mais massificada, ou menos tímida, com o aparecimento da world music, que funcionou como um escancarar de portas a novas experiências que não chocassem os mais puristas. E assim se criaram estilos para os quais ainda nem sequer há nomes consensuais, mas Zé Francisco garante que as pessoas estão recetivas a escutar novas coisas, desde que, é claro, os músicos também estejam dispostos a experimentar, a inovar. “A Ana era flautista, agora gravou um disco a cantar lindamente. Eu nem me considero um cantor, gosto de me exprimir através de umas letras e melodias. Contudo, a combinação das nossas vozes e timbres resulta de forma bastante agradável, tivemos a felicidade de isso acontecer”, continua Zé Francisco, garantindo que todo o processo aconteceu de forma espontânea. “A aceitação por parte do público foi enorme desde o primeiro concerto e isso deu-nos força para progredir tão depressa”, reforça Ana.
Letras das estrelas e do universo
Um espetáculo onde a assistência era maioritariamente estrangeira, é verdade, mas os «Flor de Sal», asseguram que os portugueses também gostam de música de qualidade. “Às vezes depende do
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Retomando a história de como nasceram os «Flor de Sal», muito depressa os dois sentiram necessidade de compor temas
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Loulé, fomos logo para estúdio e fizemos o disco em dois meses”, relata Zé Francisco, com Ana Figueiras a confirmar que tudo tinha que estar pronto até dia 18 de fevereiro, data oficial do lançamento no Cine-Teatro Louletano. À autarquia louletana somou-se depois o apoio da Câmara Municipal de Tavira, com a dupla a assumir o compromisso de realizar um espetáculo também na cidade do Rio Gilão.
originais que explorassem os universos musicais de ambos. Aliás, quase que foram «obrigados» a isso pelo público que assistia aos seus espetáculos e que, quando iam comprar o CD de José Francisco com a Orquestra Azul, perguntavam logo se a voz e as flautas de Ana Figueiras também lá estavam. “As pessoas gostavam do que ouviam, mas podia ter tudo ficado por ali, caso não tivéssemos reunido algumas ajudas para a gravação do disco. Íamos criando material novo durante os nossos ensaios e, mal obtivemos o apoio institucional da Câmara Municipal de
Já com o CD nas mãos sujeito ao escrutínio do público em geral, a
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dupla indica que as letras falam de tudo um pouco, de amores e romances, de problemas sociais, de temas da atualidade, da natureza, do mar, das estrelas e do universo, compostos por Zé Francisco e Ana ALGARVE INFORMATIVO #45
Figueiras. “Abordam tudo o que temos dentro de nós, por isso, quando cantamos, estamos realmente a sentir as palavras que proferimos”, frisa Ana. Quanto às músicas em si, partem todas da
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mesma base – voz, guitarra e flauta – mas não estão sujeitas a um estilo único. “Até pisamos uns caminhos algo arriscados, inclusive com os temas que são versões, duas delas do Zeca Afonso, outra sefardita, que já tocávamos ao vivo. É uma música de cariz tradicional, com o folk da minha parte e a vertente clássica da Ana, mas também influenciada pelas cores mediterrânicas”, descreve Zé Francisco.
em Portugal”, indica Zé Francisco, recordando o que sucedeu com os Marenostrum. “É um projeto que se adequa bastante bem em festivais de world music ou de música étnica. Já falamos sobre isso e há algumas portas abertas”, afiança o guitarrista. Mais previsíveis são as atuações no Algarve e vem-nos logo à cabeça festivais como o MED ou os Sons do Atlântico, mas mesmo os eventos de pendor mais popular, como a FATACIL ou o Festival do Marisco, não seriam más escolhas para acolher os «Flor de Sal». “Tudo depende da sensibilidade de quem estiver a elaborar o cartaz, porque o público está desejoso de ouvir coisas diferentes, e não só os grupos de bailes ou os «dj’s». A world music não deve estar restrita a festivais específicos”, considera Ana Figueiras. “O fado furou com todos os preconceitos, foi mesmo a eventos tipicamente de rock mais pesado, essa cortina caiu. O problema é que nem todos os programadores têm esse espírito de iniciativa, essa vontade de arriscar”, remata Zé Francisco, em final de conversa, antes de agradecerem a todos aqueles que permitiram que o sonho dos «Flor de Sal» se concretizasse, desde as famílias e amigos aos músicos convidados, entre outros .
Um cocktail sonoro que não é, de facto, muito habitual e até os músicos convidados trazem contributos importantes para esta fusão. Contudo, os dois docentes salientam que é uma música acessível a todas as idades, nacionalidades e padrões culturais. “Temos muitas cabecinhas brancas que adoraram ouvir-nos em palco e os nossos alunos também «serviram» de cobaias. O tema «O Tempo» até está mais direcionado para o público infantil, com palavras simples e diretas”, aponta Ana Figueiras. Depois do espetáculo de 18 de fevereiro no Cine-Teatro Louletano, os «Flor de Sal» sobem ao palco do Teatro das Figuras, em Faro, já no dia 3 de março e, ou muito nos enganamos, a internacionalização não deverá tardar, uma possibilidade que não desagrada à dupla. “Agora que temos o CD gravado, arranca o processo de promoção e divulgação e tudo pode acontecer. Este tipo de música, de facto, vende-se mais facilmente no estrangeiro do que 41
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CULTURA
UMA NOITE DE POESIA ERÓTICA com os Calceteiros de Letras Texto:
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O Ginásio Clube de Faro proporcionou uma noite diferente às largas dezenas de pessoas que assistiram a mais uma sessão dos «Calceteiros de Letras», desta vez subordinada à poesia erótica. Pelo palco improvisado deste esplendoroso espaço de cultura da capital algarvia passaram diversos declamadores, uns mais conhecidos do que outros, com temas da sua escolha e que arrancaram inúmeras gargalhadas da assistência. Uma noite bem-sucedida em vésperas de Dia dos Namorados que demonstrou que existe público para este género menos massificado de poesia.
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Words Drop com Milai Miu e Teresa Silva, numa performance com o contributo criativo de Gil Silva e poemas de Luís Alberto
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declamadores, uns artistas profissionais, outros cidadãos anónimos, também era conhecido e prometia um serão escaldante. Maria Luísa Francisco, Tata Regala, Paulo Moreira, Fernando Guerreiro, Afonso Dias, Adriana Nogueira, Raquel Ponte, Pedro Monteiro e Luís Vicente declamaram, a Oficina do Jó e as Words Drop (Milai Miu e Teresa Silva» ofereceram performances diferentes do tradicional, depois do intervalo, foram os espetadores mais desinibidos que tomaram uso do microfone para dizer também poesia.
noite estava chuvosa e pouco convidativa para se sair de casa, mas isso não impediu que, bem antes da hora marcada, já muitas pessoas estivessem à entrada do Ginásio Clube de Faro para assistir à quarta edição dos «Calceteiros de Letras», desta vez com um tema bem picante, a Poesia Erótica, a pensar no Dia dos Namorados que se assinalava logo depois do bater da meianoite. O teor da noite foi devidamente divulgado para que nenhuma alma mais púdica aparecesse por engano, o leque de ALGARVE INFORMATIVO #45
No final, balanço extremamente positivo, a pedir por mais, e a 44
oportunidade para conversar com Armando Correia, o dinamizador dos «Calceteiros de Letras», um conjunto de eventos organizados pelo Ginásio Clube de Faro em torno da poesia, uma arte tradicional desta associação cheia de história da cidade farense. Antes do erotismo, foram a música, a joalharia e a dança que andaram de mãos dadas com a poesia, uma forma de cativar novos públicos. “Quisemos inovar e apresentar um formato diferente para democratizar a poesia, fazer com que chegue a todos. Desta forma conseguimos chamar pessoas que nunca disseram poesia, que simplesmente gostam dela, e que têm enchido a casa regularmente”, explica o funcionário público. Pelo palco passaram poetas conhecidos da movida cultural farense, mas alguns estreantes também, uns lendo poemas de autores consagrados, outros de autores quase desconhecidos, outros apresentando textos da sua própria autoria, e tudo isso serviu para engrandecer o espetáculo e contrariar a ideia de que as novas gerações não estão muito viradas para a poesia. “Este modo descomprometido e
Armando Correia, dinamizador dos «Calceteiros de Letras»
Tata Regala
Fernando Guerreiro levou os seus Micro Contos ao Ginásio Clube de Faro 45
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André Canário e Pedro Monteiro
A Oficina do Jó trouxe o «ABC erótico» com Noel Pereira e «Dom Teso» (Rogério Simões)
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leve como encaramos a poesia nos «Calceteiros de Letras» atrai os mais jovens, encaram a poesia de um jeito mais simples, não dos poetas mortos, mas ao alcance de todos”, adianta Armando Correia. Sobre o facto da quarta Paulo Moreira edição ter acontecido em vésperas de Dia dos Namorados, o responsável confirma que não foi uma coincidência, mas isso não significa que todos os eventos coincidam com datas festivas. “Dizer poemas mais arrojados e ousados nem sempre é adequado, mas este dia foi propício para tal. Depois, deixamos ao critério dos leitores convidados a escolha do que iam declamar”, indica, acrescentando que a seleção dos intervenientes surge em Raquel Ponte função dos conhecimentos e E embora já não vivamos do tempo contatos dos elementos da Direção da «velha senhora», mas sim numa do Ginásio Clube de Faro, mas época pautada, alegadamente, pela também de sugestões e indicações liberdade de expressão, o certo é dos espetadores. “Procuramos que houve declamadores que juntar pessoas habituadas a estas aderiram com mais desinibição a lidas com outras que vão esta noite de poesia erótica, com manifestando a vontade de textos, de facto, arrojados, ao passo experimentar e de dar a conhecer o que outros optaram por um que produzem. Assim, os mais erotismo mais conservador e não experientes acompanham e dão tão direto. “Há mais abertura, mas conselhos aos mais novatos”, também persiste algum destaca Armando Correia. preconceito. Eles conhecem o
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espírito do Ginásio e dos «Calceteiros de Letras», sabem o tipo de público que frequenta estes serões, e nós confiamos no bom gosto deles. Tiveram liberdade total para o que vieram apresentar”, reitera Armando Correia, sem ter ainda uma data exata para a próxima edição dos «Calceteiros de Letras». “Fizemos duas sessões praticamente no espaço de duas semanas, portanto, é natural que agora haja um interregno de cerca de dois meses. Mas já estão algumas ideias na forja e queremos continuar a inovar e surpreender”. Um dos declamadores presentes foi o cantautor Afonso Dias, um homem que tem centenas de poemas arquivados nas suas memórias, mas que não é um especialista em poesia erótica. Quanto à moldura humana que encontrou pela frente, não o surpreendeu, garante. “Já fiz alguns espetáculos deste género e o público que hoje aqui tivemos é gente letrada, que não é ferida pelo pudor de ouvir certas palavras ou expressões. Evidentemente que há locais e públicos onde não sucede o mesmo, mas o tema foi
Afonso Dias
Adriana Nogueira
Luís Vicente
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sobejamente anunciado e as pessoas sabiam bem ao que vinham”, refere, com a sua habitual simpatia, embora admita, com um sorriso maroto, que houve uns declamadores mais bem comportados do que outros. “Uns foram mais contidos, outros mais desabridos, como foi o meu caso, mas foi um serão bastante giro”.
Gil Silva e poemas de Luís Alberto, um formato que já tinha sido apresentado num festival de poesia há dois anos. “Fizemos algumas alterações para adaptá-la ao tema desta noite e não foi mais um declamar de poema, mas sim brincar com as palavras e com aquilo que o público nos dá. Há também o toque e o olhar, uma certa sensualidade entre nós as duas, tentamos colocar a poesia nos sentidos”, explica Teresa Silva, que já vimos em palco noutras ocasiões em peças da ArQuente.
Um serão onde se repetiram alguns dos poetas que foram declamados, mas Afonso Dias assegura que existe muita poesia erótica editada em Portugal, logo a começar pela «Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica» da Natália Correia. “Foi publicada originalmente em 1965, a Natália foi perseguida e açambarcada, os livros foram banidos e recolhidos, mas já se fizeram umas 17 ou 18 edições depois disso. Mas há mais antologias e livros de poemas, como «O Amor Natural» do Carlos Drummond de Andrade, o Jorge de Sena e o David Mourão Ferreira também têm muita poesia erótica”, aponta, entendendo que este género literário, desde que bem cuidado esteticamente, deve ser tão estimado como os restantes. “Já fiz recitais de poesia erótica em bibliotecas públicas, com casa cheia e as pessoas a gostarem, portanto, são iniciativas que se deviam repetir”.
Estreante nos «Calceteiros de Letras», Teresa Silva confessa que ficou bastante impressionada, pela positiva, com o desenrolar da noite, talvez pelo facto de se combinarem várias áreas artísticas à poesia. “Já não há grandes tabus e a poesia deixou de ser aquele modelo do antigamente. Mesmo os novos poetas escrevem de outra forma e eu gosto muito de ouvir «dizer» poesia. Se calhar a declamação não atrai tanto as novas gerações, que são mais exigentes”, observa a atriz. “Assistimos aqui a uma grande diversidade de abordagens, todas elas válidas, e isso enriqueceu a noite, sem dúvida”, concluiu. Um serão, de facto, diferente do que estamos acostumados a viver no nosso dia-adia e que, por isso mesmo, fez valer a pena sair de casa nesta noite chuvosa .
Uma performance diferente foi executada por Milai Miu e Teresa Silva, com o contributo criativo de 49
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ATUALIDADE UMS APOIA POPULAÇÃO MAIS ISOLADA DE ALCOUTIM
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Câmara Municipal de Alcoutim renovou o acordo de colaboração com a Administração Regional de Saúde do Algarve, tendo como objetivo a continuidade dos serviços da Unidade Móvel de Saúde e a melhoria sustentável da prestação de cuidados à população do concelho de Alcoutim, direcionado para a população mais idosa e com maior dificuldade de acesso à extensão do Centro de Saúde de Martim Longo, numa primeira fase, e posteriormente à população servida pelo Centro de Saúde de Alcoutim. As características rurais deste concelho, o isolamento e a população envelhecida, assim como o encerramento do Centro de Saúde de Vaqueiros, em outubro de 2013, legitimam a necessidade de otimização dos recursos e acessibilidade aos serviços prestados pela unidade móvel.
adaptando e reorganizando o que o município já vinha disponibilizando, otimizando esta estrutura ao nível do planeamento de saúde e dos recursos humanos, distribuindo por mais de uma centena de localidades dispersas, habitadas maioritariamente por idosos com patologias crónicas, e com dificuldades de deslocação até aos serviços de saúde no concelho o acesso a prestação de cuidados de saúde. A unidade Móvel de Saúde funciona desde 2008, equipada com todos os meios técnicos e humanos adequados para a prestação de cuidados de saúde, a UMS desloca-se com periodicidade regular a cada uma das freguesias identificadas como áreas de intervenção prioritária suprindo, assim, o isolamento de determinados grupos populacionais que, por questões várias, não recorrem, habitualmente, aos serviços de saúde convencionais .
A Unidade Móvel de Saúde está especialmente vocacionada para a prevenção, vigilância de saúde, e auxilio na realização de consultas médicas domiciliares programadas pelo Médico de família (adultos, INR, Diabetes, HBA1C, Vacinas, etc.), bem como a prestação de cuidados de enfermagem à população mais idosa e com mais dificuldades de acesso aos Centros de Saúde. O protocolo com a ARS/Algarve garante as condições para melhorar o serviço,
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ATUALIDADE ARRANCOU PROCEDIMENTO PARA ARRENDAMENTO COM OPÇÃO DE VENDA DA ESTALAGEM DO GUADIANA viabilização da construção de uma ampliação do hotel, que, usando o terreno hoje ocupado pelo campo de ténis, permitirá aumentar a capacidade hoteleira em mais 20 quartos”, o que, admite o edil de Alcoutim, pode ser fundamental para garantir a rentabilidade da unidade. O imóvel, situado na Avenida de Espanha em Alcoutim, foi construído nos anos 80 pela Câmara Municipal de Alcoutim, tendo no seu período de funcionamento sido concessionado ao Grupo Hoteleiro Fernando Barata.
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Câmara Municipal de Alcoutim vai abrir procedimento por negociação, com publicação prévia de anúncio, para arrendamento com opção de compra, de imóvel municipal, para a instalação de um empreendimento turístico hoteleiro. Após a publicação do procedimento de venda publicado através do aviso n.º 14/2015, NA 2ª Série – nº3 – do Diário da República de 6 de Janeiro de 2015 e não tendo obtido o resultado desejado a autarquia inicia o procedimento por negociação. O presidente da Câmara Municipal, Osvaldo dos Santos Gonçalves, revela que a proposta relativa à «Estalagem Guadiana», submetida ao executivo e à assembleia municipal, "passa pelo arrendamento com opção de venda do imóvel, estando disponível a
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Com uma área total de 7.920,00 m², o estabelecimento hoteleiro localiza-se a cerca de um quilómetro do centro da vila de Alcoutim, junto às margens do rio Guadiana e com vistas amplas sobre o mesmo. Composto por trinta e dois quartos duplos divididos por dois pisos, duas piscinas, campo ténis, terraços e áreas verdes. São convidados a apresentar proposta, entidades que exerçam a atividade hoteleira com capacidade financeira para arrendar o imóvel e pretendam exercer a atividade no mesmo. O programa de procedimentos e o caderno de encargos serão posteriormente disponibilizados no site www.cm-alcoutim.pt. Quem preferir pode dirigir-se, todos os dias úteis, das 8H30 às 15H, ao Edifício da Câmara Municipal, Rua do Município, nº 12 8970-066 Alcoutim .
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ATUALIDADE LAGOA CRIA PRÉMIO LITERÁRIO SANTOS STOCKLER
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Câmara Municipal de Lagoa instituiu, anualmente e até deliberação em contrário, o Prémio Literário Santos Stockler (pseudónimo literário de José dos Santos), com o objetivo de promover, defender, incentivar a criação literária, o gosto pela leitura e pela escrita e valorizar a língua portuguesa, a identidade e diversidade cultural do Algarve, com referências ao Concelho de Lagoa. José dos Santos nasceu na freguesia de Porches, a 22 de maio de 1910, vindo a falecer em Faro aos 79 anos de idade. Homem simples e humilde, fez da poesia e das colunas na imprensa, uma tribuna de resistência contra a iniquidade, a intolerância, o autocracismo, do poder pelo poder tendo sido, também, um lutador contra a corrupção mental. Foi, sobretudo, um homem das letras ao longo de muitos anos, pelo que a Autarquia de Lagoa pretende recordar, «in memoriam», a sua vida e a sua obra, promovendo este prémio literário municipal, com o seu nome, num ato de justiça e obrigação moral. Foi antifascista, adversário do regime de Salazar, várias vezes detido pela PIDE/DGS, em cujas prisões, do Aljube e de Caxias, cumpriu muitos meses, valendo-lhe, contudo, a glória de se ter relacionado com algumas das personalidades mais proeminentes do mundo das letras e da política portuguesa, entre os quais se destaca nomes notáveis, como os dos poetas José Régio, Jorge de Sena, José Gomes Ferreira, João José Cochofel, Egipto Gonçalves, Joaquim Namorado, Eugénio de Andrade, Mário
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Dionísio e Alexandre O’Neil e escritores Alves Redol, Adolfo Casais Monteiro, Ferreira de Castro, Fernando Namora, Carlos de Oliveira, Antunes da Silva e Manuel da Fonseca. Fundou e dirigiu, em 1984, o semanário Terra Algarvia e publicou vários livros de poesia, constando, inclusive, entre outros, no livro «Subsídios para a História da Poesia do Algarve», com 1152 páginas, do poeta Manuel Neto dos Santos, numa edição conjunta dos jornais «Gazeta de Lagoa» e «Voz de Silves», em junho de 2000 .
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ATUALIDADE ENTROU EM VIGOR O REGULAMENTO DE HABITAÇÃO SOCIAL DE SÃO BRÁS
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Regulamento Municipal de Habitação Social de São Brás de Alportel já se encontra em vigor, após publicação no Diário da República a 29 de janeiro de 2016. Trata-se de um instrumento de regulação fundamental para melhorar uma área de trabalho prioritária para a autarquia são-brasense, na defesa de uma sociedade mais justa e inclusiva, onde todos têm direito a um lar digno e acolhedor. O Regulamento estabelece o regime de gestão do Parque Habitacional Municipal a ser aplicado aos procedimentos de acesso e atribuição de habitação social bem como aos agregados familiares residentes em qualquer habitação do município. Trata-se de um
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instrumento que permite regulamentar a atribuição, o arrendamento e os direitos e deveres da utilização do Parque de Habitação Social Municipal e, dada a relevante importância deste instrumento, na sua elaboração foram convidados a participar os membros da Comissão Municipal de Habitação. Atualmente, o parque habitacional do município são-brasense aloja 49 agregados familiares, num total de 138 pessoas, garantindo um lar digno às famílias do concelho que enfrentam maiores dificuldades financeiras, enquanto estratégia de intervenção social que procura combater a pobreza e promover a inclusão social .
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ATUALIDADE SÃO BRÁS DE ALPORTEL MANTÉM FORTE APOSTA NO ASSOCIATIVISMO Apoio ao Associativismo atingem um valor superior a 304 mil euros.
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ando continuidade ao desenvolvimento do Plano Municipal de Apoio ao Associativismo, a Câmara Municipal de São Brás de Alportel assinou, no dia 17 de fevereiro, um conjunto de protocolos de colaboração para atribuição de apoio financeiro, com 15 associações locais, numa sessão que teve lugar no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Reconhecendo o papel fundamental das associações e coletividades locais, enquanto motores de desenvolvimento da comunidade, a autarquia são-brasense dá assim continuidade ao elevado esforço financeiro que permite prestar apoio à atividade desenvolvida pelo movimento associativo. Para 2016, os apoios atribuídos ao abrigo do Plano Municipal de
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Para o ano de 2016, e continuando a valorizar o esforço e a dedicação do trabalho desenvolvido pelas associações e coletividades locais de âmbito cultural, desportivo e outras, a autarquia são-brasense decidiu então manter ou reforçar os apoios concedidos a 15 entidades locais que assumem um papel importante na dinâmica cultural, desportiva e recreativa do município. O Plano Municipal de Apoio ao Associativismo é uma das medidas da autarquia que pretende incentivar a organização e promoção de diversas iniciativas por parte das associações concelhias, e cujo plano anual de atividades é avaliado no processo de análise e atribuição dos subsídios municipais. Os apoios concedidos pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel ao abrigo do Plano são de carácter financeiro ou logístico, consoante a necessidade de cada instituição e em função das atividades que pretende desenvolver .
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ATUALIDADE
ESCUTEIROS DO ALGARVE REÚNEM-SE EM VRSA PELA PRIMEIRA VEZ
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ila Real de Santo António recebe, no próximo dia 27 de fevereiro, sábado, as comemorações do dia de Baden Powell, fundador do escutismo mundial. O encontro, que se reveste de cariz católico, ocorre anualmente de forma alternada pelos concelhos do Algarve e chega este ano, pela primeira vez, a VRSA, onde reunirá cerca de 1800 escuteiros de toda a região. A iniciativa conta com inúmeras atividades ao longo do dia sob o lema «Edificar um mundo melhor» e destina-se a todas as Secções dos escuteiros (lobitos, exploradores, pioneiros e caminheiros). O programa tem início às 9h, na Praça Marquês de Pombal,
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com o acolhimento a todos os associados. A partir das 10h, haverá jogos de cidade onde as ações obedecem a um imaginário que tem como tema principal a história de Vila Real de Santo António. No período da tarde, terá lugar, no Pavilhão Multiusos, no Complexo Desportivo Municipal, uma missa com o Bispo do Algarve, às 14h30. Depois da missa, será assinado um contrato de comodato entre a Câmara Municipal de VRSA e o Corpo Nacional de Escutas, com vista a ceder as instalações para a futura sede do Agrupamento 1370 de VRSA .
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ATUALIDADE DAVID FONSECA DÁ BRILHO AO 7.º ANIVERSÁRIO DO AUDITÓRIO MUNICIPAL DE OLHÃO
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sétimo aniversário do Auditório Municipal vai ser celebrado da melhor forma, com um concerto de David Fonseca, a decorrer na quinta-feira, 24 de março, a partir das 21h30. «Futuro Eu» é o título do novo trabalho de David Fonseca e a base do concerto que criou e apresentará em Olhão. Com o nome retirado da canção revelada através das redes sociais, «Futuro Eu» expõe um conceito inédito na sua já vasta obra, em que o inesperado é princípio basilar. Publicado em outubro, este trabalho tem como grande novidade o facto de se tratar do primeiro disco integralmente composto em português de David Fonseca. Ao vivo, já conquistou o público: as apresentações de estreia nos lotados Centro Cultural de Belém e na Casa da Música realizaram-se perante audiências entusiasmadas e rendidas às novas sonoridades e à abordagem musical aos temas menos recentes. No palco, «Chama-me que eu vou», «Deixa Ser» ou «Hoje Eu Não Sou», confirmam o génio criativo de David Fonseca, que se afirmou com músicas como «Someone that cannot love», «The 80’s» ou «Cry 4 Love», também
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estas com lugar reservado no alinhamento dos espetáculos de «Futuro Eu». O Auditório Municipal de Olhão foi inaugurado em 21 de março de 2009. A construção desta infraestrutura teve início em agosto de 2006, tendo terminado em janeiro de 2009. No local onde hoje se ergue este espaço de cultura, localizava-se a fábrica de conservas Ramires, restando desta a chaminé, recuperada e integrada na arquitetura do edifício. O Auditório tem uma sala com capacidade para 416 espetadores, uma programação artística regular e uma equipa de técnicos residentes, tendo-se tornado, em pouco tempo, um espaço cultural de referência em todo o Algarve .
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ATUALIDADE WIFI4MEDIA FOI PARCEIRA DA LG EM FEIRA INTERNACIONAL EM AMESTERDÃO
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Wifi4media, empresa algarvia, sedeada em Faro, de Paulo Bernardo, Eduardo Monteiro, Hélio Cabrita e Paulo Rosa, foi escolhida como parceira da conceituada multinacional tecnológica LG para participar na ISE 2016. A Integrated Systems Europe é uma das mais importantes feiras mundiais do ramo da sinalética digital e redes integradas de wi-fi e teve lugar, entre os dias 9 e 12 de fevereiro, em Amesterdão, na Holanda, batendo este ano todos os recordes, com perto de 70 mil visitantes. “Desenvolvemos em conjunto com a LG uma solução para aplicar nos ecrãs digitais das farmácias do século XXI e foi uma experiência extremamente importante, porque só foram escolhidos sete parceiros a nível mundial, e um éramos nós”, destaca Paulo Bernardo. Uma presença que, para além de bastante prestigiante, se traduziu numa panóplia de contatos e no abrir de várias portas que possibilitarão a exportação das soluções informáticas da Wifi4media, que já se encontra no Brasil e em alguns países do continente africano, para além de ter uma posição dominante no seu segmento em Portugal. “Nós criamos produtos diretamente para a LG na Coreia, nesta vertente da integração do ecrã com as redes wi-fi, há cerca de dois anos e meio. A solução apresentada na ISE estava mais direcionada para as farmácias, mas pode
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ser replicada para qualquer setor de atividade ou ramo de negócio”, esclarece Paulo Bernardo. A escolha da empresa farense para estar na feira de Amesterdão ganhou contornos mais firmes depois dos altos dirigentes do colosso tecnológico coreano terem estado no Algarve para afinar estratégias com a Wifi4media, a quem atribuíram, inclusive, um prémio de inovação. Prossegue, assim, mais uma caminhada de sucesso de uma empresa algarvia, com Paulo Bernardo a revelar que foram realizados mais de 100 contatos diretos com empresas de primeiro plano internacional, já que o pequeno retalho não estava presente na ISE. “Se concretizarmos 20 por cento desses negócios já será fantástico e é natural que estejamos com a LG noutras feiras nos mercados americano e asiático” .
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ATUALIDADE TURISMO NO ALGARVE COM NOVOS MÁXIMOS ANUAIS EM 2015
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s indicadores antes conhecidos já deixavam antever que o turismo algarvio iria alcançar os melhores resultados de sempre em 2015. Agora, o Instituto Nacional de Estatística (INE) confirma-o: além do aeroporto e do golfe, também a hotelaria registou novos máximos anuais. “Foi um ano positivo para a hotelaria e para o turismo no Algarve, que se observou a seguir ao ano de todos os recordes [2014] e o Algarve mantém-se como a principal região turística do país, concentrando mais de um terço de todas as dormidas realizadas em Portugal. Mas estes resultados muito animadores também são consequência de um crescente envolvimento dos parceiros privados com a Região de Turismo do Algarve (RTA), a Associação Turismo do Algarve e os municípios”, sublinha o presidente da entidade regional de turismo, Desidério Silva. Os resultados preliminares do INE para o conjunto do ano de 2015 indicam que os estabelecimentos hoteleiros algarvios registaram um total de 16,6 milhões de dormidas (+2,7% do quem no ano anterior) e 3,7 milhões de hóspedes (+3,9%). O crescimento do turismo no Algarve foi impulsionado pelos estrangeiros, com os turistas britânicos à cabeça, com 5,5 milhões de dormidas (+5,8 por cento ou 300 mil dormidas a mais). Em sentido contrário, as dormidas dos turistas portugueses caíram 3,1 por cento, para os 3,8 milhões. Quanto aos proveitos globais na hotelaria da região, apresentaram incrementos superiores aos das dormidas em 2015 (+10,2%) e ascenderam ao valor recorde de 758 milhões de euros.
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Com 1,2 milhões de voltas em golfe jogadas em 2015, o Algarve superou os resultados de 2007, o melhor ano para o golfe na região antes da crise financeira mundial que mergulhou a economia europeia em recessão. A revelação foi feita pela Associação Turismo do Algarve (ATA), que em relação ao ano de 2014 contabilizou +7,6 por cento ou cerca de 81500 voltas a mais. O mês de outubro é o melhor mês para a prática da modalidade, com mais de 150 mil voltas, e a grande maioria dos praticantes são turistas provenientes do Reino Unido, Irlanda, Alemanha, Holanda e Suécia. Segundo a ANA – Aeroportos de Portugal, em 2015 os aeroportos portugueses registaram o maior crescimento de sempre. Faro fixou um novo máximo anual ao aumentar 4,4 por cento, para os 6,4 milhões de passageiros movimentados. Por mercado, o Reino Unido é o líder destacado, com cerca de 3,5 milhões de passageiros (+2,8%) e uma quota de 54 por cento em Faro. Seguem-se a Alemanha, com 721 mil passageiros (+4,9%), a Irlanda, com 588 mil (+7,6%) e a Holanda, com 564 mil (3,2%). As maiores taxas de crescimento registaram-se entre os passageiros de França (+20,7%, para 196 mil), Bélgica (+14,3%, para 150 mil), Espanha (+13,9%, para 106 mil) e Suíça (+79,1%, para 92 mil). A taxa de ocupação média por avião foi de 88 por cento em 2015, indicando um aumento homólogo de 2,6 pontos percentuais .
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CHEF AUGUSTO LIMA Consultor/Formador
TARTE DE MORCELA COM MAÇÃ/COMPOTAS E LIMÃO E TOMATE/AMÊNDOA TORRADA INGREDIENTES PARA A MASSA ½ Kg. Farinha 150 Gr. Banha 2 Ovos inteiros Q.b. Sal Rui Simeão moído Q.b. Água Q.b. Amêndoa laminada PARA O RECHEIO 300 Gr. Morcela 5 Maçã 1 Cebola 1 Pau canela Q.b. Cominho pó Q.b. Tomilho cabeçudo
PARA A COMPOTA DE TOMATE 2 Tomate maduro 60 Gr. Açúcar ½ Dl. Vinagre 1 Dl. Água 1 Estrela de anis Q.b. Hortelã PARA A COMPOTA DE LIMÃO 1 Limão (polpa, zeste e sumo 1 Limão (sumo) 120 Gr. Açúcar 1 Dl. Água 1 Cravinho
COMO FAZER A MASSA Juntar todos os ingredientes e amassar até obter preparado homogéneo. Colocar no frio por uma hora. Estender e usar.
COMO FAZER O RECHEIO Cozer a maçã, cortada em quartos com a canela. Esmagar em puré. Refogar em fio de azeite a cebola e o alho picados, a morcela, desfeita e o tomilho cabeçudo (folhas). Misturar o preparado da morcela com o puré. Temperar com cominhos.
COMO FAZER A COMPOTA DE LIMÃO Fazer calda com o açúcar e o sumo. Adicionar o cravinho, a polpa, o zeste e a água. Ferver e engrossar, ligeiramente, se necessário com amido de milho. Reservar no frio.
COMO FAZER O RECHEIO Cortar o tomate em concasse. Juntar tudo e ferver até obter uma espessura e compota. Retirar temperos e reservar no frio.
COMO FAZER A TARTE Pré aquecer o forno a 170.º C. Torrar a amêndoa. Cortar a massa em dois círculos. Cobrir uma forma com um deles. Deitar o aparelho. Tapas com o outro círculo de massa. Cozer cerca de 30 minutos. Servir com salada, as compotas e amêndoas.
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SUGESTÕES CATAPLANA DE LITÃO E FEIJÃO BRANCO INGREDIENTES (4 PESSOAS) 300 Gr. Litão 500 Gr.Feijão branco 2 Cebolas médias 3 Tomates maduros 1 Pimento verde 4 Alhos (dentes) 2 Cravo-de-cabecinha (cravinho) Q.b. Cominho pó 1 Louro (folha) Q. b. Salsa Q.b. Caldo da cozedura do feijão 0,5 Dl. Azeite 0,5 Dl. Vinho branco Q. B. Sal grosso 100% marinho
COMO FAZER De véspera, cozer o feijão, com o cravinho. Reservar um litro de caldo da cozedura. Colocar o Litão «de molho», em água com algum sal (o Litão é seco ao sol sem sal ou com pouco sal), por um mínimo de seis horas. Cortar em pedaços generosos. Cortar em cubos os pimentos, sem limpar as sementes, a cebola e o alho, assim como o tomate.
NA CATAPLANA, Refogar no azeite todos os legumes e o louro. Refrescar com o vinho. Deixar ferver e acrescentar o Litão. Ferver. Acrescentar o feijão, o caldo, na porção desejada, temperar com cominho e salsa. Tapar e deixar ferver por cinco minutos aproximadamente. Retificar temperos.
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SUGESTÕES BOLACHINHAS DE CACAU E GENGIBRE INGREDIENTES 200 Gr. Farinha 80 Gr. Açúcar 60 Gr. Cacau/chocolate pó/barra 2 Gr. Fermento químico 6 Gr. Gengibre fresco 1 Laranja (raspa e sumo) 80 Gr. Manteiga
COMO FAZER Pré-aquecer o forno a 180ºC. Envolver bem todos os ingredientes. Levar ao congelador, em forma de rolo, embrulhado em película ou papel vegetal, no mínimo, por 30 minutos. Cortar com faca afiada, fatias (bolachas) e levar ao forno em tabuleiro untado de gordura e enfarinhado. Cozer por cerca de 15 minutos a uma temperatura de 180.ºC.
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ANTÓNIO LOPES Head Sommelier Conrad Algarve
“Em mês de Dia dos Namorados, temos um Covela Rosé 2014, de cor vermelha, a cor do amor, um vinho feito com a nossa casta rainha – touriga nacional – tal como as mulheres também são as nossas rainhas. É um vinho que tem muita fruta vermelha, da região dos vinhos verdes, do Minho, com uma ótima acidez e que pode ser bebido a solo ou com algumas harmonizações gastronómicas, com saladas de frutos vermelhos ou pratos com redução de frutos vermelhos não caramelizados”.
COVELA ROSÉ 2014 Região: Vinhos Verdes – Baixo Douro. Terroir: Solos graníticos que formam um anfiteatro natural virado a sul. Terraços implantados a baixa altitude na margem direita do rio Douro na zona austral da Região dos Vinhos Verdes (Minho). Clima: Inverno frio e Verão quente e seco – na fronteira entre o clima continental do Vale do Douro e a influência marítima do Douro Litoral. Enologia: A Quinta de Covela pratica a agricultura biológica. Na adega não se utilizam enzimas, as fermentações são espontâneas e as colagens, se necessárias, são efectuadas com bentonite. Antes do engarrafamento, os vinhos são estabilizados pelo frio e submetidos a uma ligeira filtração. Vinificação propositada para a obtenção de um vinho rosado elegante e fresco (não é um rosé obtido a partir de sangrias). Vindima manual e transporte em pequenas caixas para evitar o esmagamento. Curta maceração pelicular. Suave prensagem. Fermentação em cubas de inox com controlo de temperatura. Estágio sobre borras finas até meados de Janeiro. Casta: Touriga Nacional, a casta ex-libris do Douro. Álcool: 12,6 %/vol. Acidez Total: 6,3 g/l pH: 3,24 Açúcares Totais: 4,3 g/l Dióxido de Enxofre Total: 76 mg/l Produção: 6.256 garrafas de 750ml e 400 magnums e 36 double magnums. Enólogo: Rui Cunha. Viticólogo: Gonçalo Sousa Lopes.
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SUGESTÕES “E numa altura de festejar o namoro, porque não experimentar o Espumante Vértice, do Douro, da casta Gouveio, com aromas pouco normais em Portugal, da crosta de pão, fermento, brioche. Possui uma acidez extraordinária, frescura, uma bolha muito fina, bem equilibrada, portanto, serve para começar ou terminar uma refeição, que dá prazer em beber por si só ou com comida”.
GOUVEIO VÉRTICE 2007 Região: Douro. Solos: Graníticos. Altitude Média: 550 metros. Enólogos: Celso Pereira e Pedro Guedes. Estágio: Mínimo 60 meses. Álcool: 12 %/vol. pH: 3,04. Açúcares Totais: 5g/dm3. Garrafa: 75cl Euro. Capacidade: 750 ml.
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FICHA TÉCNICA DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 5852 SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P 8135-157 Almancil Telefone: 919 266 930 Email: algarveinformativo@sapo.pt Site: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina
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