ALGARVE INFORMATIVO #55

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SANDRA CELAS veio ao Algarve apresentar uma banda com alma FUNDAÇÃO IRENE ROLO O MENINO DA BURRA THE PERFECT WINTER 1

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CONTEÚDOS

Fundação Irene Rolo- 10

O Menino da Burra - 54

Atualidade - 64

João Saraiva - 42

Sandra Celas e os MurMur - 22 ALGARVE INFORMATIVO #55

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OPINIÃO

Daniel Pina - 8

Turismo e hidrocarbonetos – uma coexistência improvável Paulo Cunha - 30

Maio dos Europeus José Graça - 32

Dos dias da dança Paulo Pires- 36

O aprendizado da lentidão Mirian Tavares - 38

Restauração Augusto Lima - 40

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Protagonismo, Egos Inchados e Cegueira Estratégica Vs Serviço Público Daniel Pina

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semana passada fui com a família ao norte e, quando se tem crianças pequenas e propensas a enjoar e vomitar o carro todo, somos «obrigados» a escolher o percurso mais fácil e rápido para chegarmos ao nosso destino, ou seja, ir sempre pela autoestrada para enriquecer mais os bolsos dos concessionários e do Estado. E assim lá fomos nós pela A2, depois um atalho pela A13, seguida da confusão da A1, sempre rodeados de camiões e de condutores de prego a fundo no acelerador. A origem deste relato é, contudo, o tal atalho, a A13 que permite a quem viaja de sul para norte, e vice-versa, claro está, escapar à desordem de Lisboa, às filas de trânsito, aos loucos cosmopolitas que stressam ao volante. Dizem-me que se poupa uma hora de viagem. Não duvido disso, e agradeço imenso a existência desta autoestrada, mas agradeço na meia dúzia de dias em que a percorro ao longo do ano. E, a julgar pela pasmaceira a que assisti, em que percorria quilómetros a fio sem vislumbrar mais nenhum veículo no horizonte, a grande maioria dos condutores também deve sentir esta gratidão apenas em meia dúzia de dias por ano. Se calhar tive uma tremenda sorte e escolhi precisamente dois dias de movimento bastante abaixo do normal, mas acho que não estarei muito errado na minha perceção. Contudo, gastaram-se ali dezenas, quiçá centenas, de milhões de euros para construir uma autoestrada que dá, realmente, muito jeito a quem prefere passar ao lado de Lisboa nas suas viagens, mas será que não havia destino melhor

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para esse dinheiro todo? Que não existiriam outras prioridades na altura em que se avançou para esse projeto? E quem diz essa autoestrada, diz outras do norte do país, como todos bem sabemos. Eu lembro-me logo que, com esse dinheiro todo, se podia ter uma Via do Infante isenta de portagens para todo o sempre. Ou requalificar-se de uma vez por todas a EN 125, mas com cabecinha, não é andar-se com obras mal planeadas no tempo e espaço e que têm causado tantas dores de cabeça aos algarvios que a percorrem no dia-a-dia, não apenas em meia dúzia de dias por ano. E nem quero imaginar como será isto daqui a um mês ou dois. Contudo, como sei que essa luta está perdida à partida, que as portagens na Via do Infante nunca vão desaparecer, nem sequer ser reduzidas, prefiro pensar no melhor destino que os tais milhões da A13 teriam se fossem aplicados para apoiar as Instituições Particulares de Solidariedade Social que existem de norte a sul de Portugal, e ajudar ao aparecimento de muitas mais. Isto porque esta semana fui conhecer de perto o trabalho desenvolvido pela Fundação Irene Rolo, em Tavira, uma IPSS de média dimensão, com um orçamento anual de dois milhões de euros, mas que só consegue dar resposta diariamente a cerca de 300 utentes, divididos pelas suas várias valências. Digo «só», mas 300 já é um número bastante elevado neste género de entidades, há muitas que não conseguem ajudar nem sequer metade dessas pessoas. 8


Tenho feito ao longo dos anos vários trabalhos com IPSS que lidam diretamente com pessoas com incapacidades ou deficiências cognitivas ou intelectuais, com dificuldades de aprendizagem, de socialização, com doenças mentais. Todos os responsáveis me dizem o mesmo: não se sabe muito bem o número real de portugueses portadores de doença mental, ou de deficiência psicomotora, cognitiva ou intelectual, mas esse número é, sem qualquer dúvida, bastante superior ao que todas as IPSS juntas têm capacidade de dar resposta. Isso significa que há muitos portugueses a necessitar destes cuidados específicos e que não recebem qualquer ajuda, para desespero dos seus familiares diretos, que vão envelhecendo, que vão vendo os seus filhos crescer e tornarem-se adultos, sem saberem o que será deles quando já não tiverem forças para cuidar deles, ou quando morrerem. Claro que é muito mais prestigiante para qualquer ministro ou secretário de estado aparecer numa fotografia no jornal ou ser filmado para a televisão a inaugurar uma

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autoestrada, um estádio de futebol ou outro gigantesco equipamento cuja utilidade para o cidadão comum é duvidosa, ou pelo menos não é prioritária. Claro que fica melhor junto dos parceiros europeus dizer-se que o país tem uma estratégia megalómana, e irrealista, de crescimento, porque nenhum governante quer parecer inferior ao seu vizinho. Claro que incha mais o ego dos governantes dizer que investiram mais milhões em obras faustosas, de encher o olho, do que os seus antecessores. Se isso é prestar melhor serviço público, não sei. Se isso é contribuir mais para o bemestar dos cidadãos, não sei. Sei que, por exemplo, não me preocupava de ficar com mais uns cabelos brancos na viagem rumo ao norte por ter que atravessar a Ponte Vasco da Gama, se soubesse que o dinheiro da A13 tinha sido gasto na ajuda aos mais carentes, neste caso concreto, aos utentes da Fundação Irene Rolo e das outras IPSS semelhantes .

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Carla Vicente, Diretora de Serviços e Macário Correia, presidente do Conselho de Administração

FUNDAÇÃO IRENE ROLO Há 34 anos a cuidar dos mais carentes A Fundação Irene Rolo festejou, em abril, os 34 anos de atividade ao serviço das pessoas com deficiências e incapacidades e suas famílias, bem como de outros públicos vulneráveis. Um trabalho de mérito nas áreas da prevenção, acolhimento, reabilitação profissional e inserção social realizado, não só no concelho de Tavira, onde está localizada, mas de âmbito regional, como ficamos a saber à conversa com o presidente do Conselho de Administração, Macário Correia, e Carla Vicente, Diretora de Serviços. Texto: ALGARVE INFORMATIVO #55

Fotografia: 10


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Fundação Irene Rolo, em Tavira, conheceu uma agitação acrescida nas últimas semanas, devido aos festejos do seu 34.º aniversário, no dia 15 de abril, mas também à instalação de uma sala de terapia multissensorial Snoezelen, no final de março, uma oferta da Fundação Vodafone Portugal a esta Instituição Particular de Solidariedade Social que apoia pessoas com deficiência e incapacidades, de diferentes grupos etários. A sala Snoezelen vai permitir que os utentes da Fundação Irene Rolo, bem como de outras instituições do concelho de Tavira com as quais celebre protocolos, possam usufruir de sessões de terapia devidamente acompanhados por técnicos especialistas, com reconhecidas mais-valias para a sua qualidade de vida. Com estes dois momentos como pano de fundo, rumamos a Tavira para melhor conhecer uma IPSS criada por doação de Irene Dulce da Palma Arez Rolo, em 15 de Abril de 1982, e cuja missão é apoiar pessoas com necessidades especiais e suas famílias, bem como outros públicos vulneráveis, no âmbito da prevenção, acolhimento, reabilitação, formação profissional e inserção social, com vista à promoção da qualidade de vida. Um trabalho dividido por várias valências, logo a começar pela Intervenção Precoce, direcionada para crianças dos 0 aos seis anos de idade em situação de risco biológico e/ou ambiental. Nesta área, os objetivos passam por desenvolver programas adequados às necessidades específicas de cada criança, com vista à promoção do seu desenvolvimento, para 11

além de capacitar as famílias de forma a tornarem-se mais competentes e independentes no acompanhamento dos seus filhos, e isso é feito através da terapia ocupacional, terapia da fala, fisioterapia, psicologia e serviço social. Outra valência importante da Fundação Irene Rolo é o Centro de Reabilitação e Formação Profissional, a pensar nas pessoas com deficiências e incapacidades, com idade igual ou superior aos 16 anos, e que não se encontrem ao abrigo da escolaridade mínima obrigatória. Aqui, o intuito é dotar estes utentes de competências para o exercício de uma atividade profissional, existindo os cursos de mecânico/a de automóveis ligeiros, operador/a de armazenagem, assistente administrativo/a, operador/a de jardinagem, operador/a de impressão, empregado/a de andares, pasteleiro/a e padeiro/a e cozinheiro/a. O Centro de Atividades Ocupacionais foca-se igualmente nos jovens com mais de 16 anos, portadores de deficiência intelectual grave ou profunda, em regime de semiinternato, com o objetivo de desenvolver e manter a autonomia pessoal e social nas áreas de independência pessoal, socialização, comunicação e desenvolvimento cognitivo e motor, tendo em conta as suas competências, necessidades, expetativas e motivações. Uma mais-valia da Fundação Irene Rolo é o seu Lar Residencial, indicado para pessoas portadoras de multideficiências, a partir dos 16 anos, e que se encontrem impedidos, ALGARVE INFORMATIVO #55


A Sala Snoezelen montada pela Fundação Vodafone

temporária ou definitivamente, de residir no seu meio familiar. “Mas temos igualmente um Alojamento de Emergência Social, uma resposta destinada a pessoas ou famílias em situação de vulnerabilidade e desproteção social, pessoas que ficam sem abrigo e que não vêm supridas as suas necessidades básicas no imediato e há que protegê-las de qualquer situação de perigo”, explica a Diretora de Serviços Carla Vicente, adiantando que essas pessoas chegam a esta IPSS através da Segurança Social ou da Linha Nacional de Emergência Social (144). Diversas respostas sociais que abrangem utentes com diferentes perfis, desde pessoas com deficiências moderadas a profundas, a crianças com atrasos de desenvolvimento, sem nunca esquecer os familiares mais próximos, nomeadamente os pais, cuja vida é ALGARVE INFORMATIVO #55

alterada por completo quando têm um filho com diferenças, com necessidades especiais. “Nós somos sempre pais, tendo filhos com deficiência ou não, mas há que trabalhar em parceria com eles para potenciar o desenvolvimento dos seus filhos, para torná-los o mais autónomos possível. Tentamos dar a estas famílias todo o suporte psicológico necessário, ferramentas para que possam encarar o futuro de uma forma mais tranquila”, indica Carla Vicente, acrescentando que a imagem do «coitadinho» tende, felizmente, a desvanecer-se cada vez mais. “São pessoas capazes de fazer coisas, de participar ativamente na comunidade onde vivem, portanto, devemos concentrar-nos nos aspetos positivos e não naquilo que eles não conseguem realizar. É fundamental colocar o foco nas suas 12


potencialidades e olhar para eles como seres iguais e aptos para produzir algo, independentemente de alguma deficiência que possam ter”, defende. Deficiências que, ao contrário do que normalmente se pensa, não surgem apenas à nascença, pois qualquer ser humano está sujeito a ter um acidente ou uma doença que o torne mais ou menos incapacitado. “Há, de facto, pessoas que nascem com uma deficiência, há outras que as podem adquirir ao longo do seu percurso de vida, por acidente, doença degenerativa ou outra causa qualquer, e que as tornam dependentes em algumas áreas em termos funcionais. Por isso, esse mito, esse rótulo do «coitadinho», tem que desaparecer de uma vez por todas”, reforça Carla Vicente.

Utentes ao longo de toda a vida «Somos todos iguais» é uma mensagem, um sentimento, que deve ser igualmente assumido por toda a sociedade civil, e pelo mercado de trabalho, e essa é outra luta que se trava no dia-a-dia, dentro e fora destas instituições. Fruto disso, Carla Vicente entende que a sociedade está melhor preparada, nos tempos que correm, para lidar com a diferença, com a deficiência. “Desde cedo estas crianças são integradas no meio escolar, têm contato com pessoas diferentes e vão criando modelos de interação com os outros de forma normal. Trabalhamos no sentido da inclusão e o estigma está menor”, observa a Diretora de

A antiga residência de Irene Rolo, o início da fundação com o mesmo nome

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Serviços da Fundação Irene Rolo, enaltecendo igualmente as empresas por acolherem estes jovens no seu seio. “Fazem aqui cursos de formação profissional, passam por estágios e muitos deles são integrados em empresas e na comunidade. É certo que, se calhar, hoje integramos menos, mas isso tem a ver com a própria problemática do desemprego que existe em Portugal”. Convém salientar que a própria instituição é a primeira a dar o exemplo, com diversas funções a serem desempenhadas pelos seus utentes, e outra coisa não poderia deixar de ser, na ótica de Carla Vicente. “A inclusão é encararmos tudo isto com normalidade. Os nossos utentes do Centro de Atividades Ocupacionais vão à Piscina e ao Pavilhão Municipal, temos um grupo – Os Sons do Coração – que atua em diversos locais e datas, sempre que convidado para tal, participamos em jogos de boccia e outras atividades físicas, ou seja, temos uma ação que passa sempre pela comunidade e por promover uma vida o mais normal possível, dentro deste contexto”, frisa a entrevistada, revelando ainda que a Fundação Irene Rolo acompanha vários utentes praticamente desde a sua nascença. “Podemos ter aqui uma criança com trissomia 21 em Intervenção Precoce, que ALGARVE INFORMATIVO #55

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transita depois, aos seis anos, para um estabelecimento de ensino e que, quando termina a escolaridade mínima obrigatória, aos 18/19 anos, poderá ser enquadrada no nosso Centro de Atividades Ocupacionais. Posteriormente, quem sabe, poderá vir a ser utente no nosso Lar Residencial, ou seja, pode passar aqui quase toda a sua vida”. Uma realidade que acontece porque alguns pais, por muito amor e carinho que tenham pelos seus filhos, nem sempre têm possibilidade para os ter em casa, até mesmo pelo avançar natural da idade, explica Carla Vicente. “Com o envelhecimento da pessoa com deficiência, e dos seus pais, as capacidades de uns e outros vão diminuindo e, quando chegam aos 70/80 anos, os pais já não têm forças para continuar a tratar dos filhos. Nenhum pai quer colocar um filho num lar, mas é algo que tem que ser pensado com a devida antecedência, porque temos listas de espera e uma capacidade limitada”, sublinha a entrevistada. E porque ninguém é eterno, muitos pais desesperam quando não sabem o que será dos seus filhos, portadores de uma deficiência mais grave, após as suas mortes, daí a pertinência destes lares residenciais. “Também há utentes do Centro de Atividades Ocupacionais que ficam cá de segunda a sexta-feira e depois passam os fins de semana em casa com os pais, seja por causa das suas vidas profissionais ou por serem famílias monoparentais”. E, como em tudo na vida, há pais mais comprometidos com o crescimento e 15

desenvolvimento dos seus filhos do que outros, admite Carla Vicente, notando que há progenitores que participam nas diversas atividades dinamizadas pela instituição, outros, nem tanto. Um trabalho que é realizado dia após dia, sempre tentando descobrir métodos mais eficazes, sempre procurando oferecer novas respostas aos seus utentes e a Diretora de Serviços não podia deixar de agradecer à Fundação Vodafone por ter montado uma Sala Snoezelen. “É uma ferramenta tremenda, pois proporciona conforto através do uso de estímulos controlados e muito variados, que podem ser usados de forma individual ou combinados com luz, som, aromas e estímulos tácteis. Promove o autocontrolo, a autonomia, a descoberta e a exploração e são reconhecidos os seus efeitos terapêuticos e pedagógicos. Para além disso, promove o relaxamento, o lazer e a diversão, estimula os sentidos primários; aumenta a compreensão do utente em relação ao que gosta e não gosta; serve para controlar a ansiedade e facilita a libertação do stress; motiva para a aprendizagem e é benéfico para todas as idades e diagnósticos”, destaca Carla Vicente.

Já não basta a carolice Como se adivinha, nada funciona numa Instituição Particular de Solidariedade Social sem uma liderança e gestão rigorosa e, na Fundação Irene Rolo, essa tarefa está a cargo do Conselho de Administração constituído por três elementos e cujo presidente é Macário Correia, antigo presidente das ALGARVE INFORMATIVO #55


Câmaras Municipais de Tavira e de Faro. Uma fundação que recebe cerca de 300 utentes, todos os dias, desde a capital algarvia até à fronteira com Espanha, e que emprega perto de uma centena de funcionários, o que atesta a sua importância no contexto regional. “Estes números vão aumentar muito brevemente, sobretudo no Centro de Atividades Ocupacionais, está já tudo aprovado pela Segurança Social. Para além disso, temos uma vertente mais na esfera do trabalho com o Instituto do Emprego e Formação Profissional. A escola clássica é, digamos, para as pessoas que têm todos os padrões de vida normais. Aqueles que têm alguma perturbação mental, mas não impeditiva do exercício de alguma profissão, acabam por ser acolhidos nos centros de reabilitação e formação profissional, dos quais existem oito no Algarve, um deles na Fundação Irene Rolo”, revela Macário Correia.

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“Ensinamos profissões que não requerem grande elaboração mental mas que podem gerar muito bons profissionais, na pastelaria, jardinagem, cozinha, mecânica, serviços administrativos, entre outros”. Uma empregabilidade que, conforme já referiu Carla Vicente, se vai conseguindo com mais frequência, mas que deve ser acompanhada, no terreno, por técnicos das IPSS, adianta Macário Correia. “Há a normal relação do empregador com o empregado, mas acaba por haver uma terceira entidade que, durante um período mais ou menos longo, conforme as circunstâncias, dá assistência, facilita a integração. Há muitos utentes que são cidadãos, na aparência, normais, porque conseguem ter autonomia de residência e emprego, até de carater

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A horta biológica da Fundação Irene Rolo

familiar”, frisa o presidente do Conselho de Administração. “Também aqui temos as atividades de vida diária, ou seja, ensinar as pessoas a gerir uma casa, o essencial da higiene, alimentação, conservação das instalações. No fundo, ensinar a saber viver com conforto e qualidade”. Posto isto, no século XXI não basta haver os antigos carolas, aqueles homens e mulheres que vestiam a camisola das instituições e as geriam à medida das suas disponibilidades de tempo, porque as IPSS se tornaram verdadeiras empresas. “Nós estamos numa escala média, com menos de uma centena de colaboradores, cerca de 300 utentes no dia-a-dia e um orçamento na ordem dos dois milhões de euros. Isto assenta numa equipa de meia dúzia de diretores técnicos e num Conselho de 17

Administração constituído por três voluntários. Em grande parte das IPSS, os dirigentes não são remunerados, nós também não somos, aliás, temos despesas de deslocação, telefones, tempo, que saem do nosso próprio bolso”, elucida Macário Correia. “Ou seja, investimos a favor das instituições e do bem comum e a única garantia que temos é que a nossa consciência fica mais confortada e isso pode dar-nos direito a um lugar no Céu. Os que não têm esta prática, ficarão mais longe dessa possibilidade”. Uma liderança que exige gestão financeira, relações sindicais, contatos com fornecedores e com empresas para angariar donativos, lidar com burocracia sempre que estão envolvidos organismos públicos, ALGARVE INFORMATIVO #55


equipamento associado ao conforto e à higiene dos deficientes é altamente específico e dispendioso”, garante o entrevistado, dando o exemplo do que sucede no Lar Residencial. “Quando temos cidadãos com deficiência motora e multideficiências, alguns deles pesados, só dar banho implica a existência de elevadores, camas articuladas, sistemas técnicos e mecânicos adaptados a cada utente. O nosso objetivo é dar conforto e imagem a pessoas que, por vezes, não têm hábitos de higiene, ou não os conseguem adquirir, porque as suas mentes não o permitem”.

portanto, tanto os diretores, como os elementos do Conselho de Administração, passam os dias a trabalhar com rácios de gestão e indicadores de produtividade e na obtenção de recursos e receitas. “Hoje em dia, não basta ter uma sala com uma mesa e algumas cadeiras para ter uma atividade. Para as pessoas desenvolverem aspetos sensoriais, criativos, artísticos e outras aptidões, é preciso investir bastante em equipamento, seja tecnológico, seja software adaptado. Depois, todo o ALGARVE INFORMATIVO #55

Casos que implicam, igualmente, recursos humanos, às vezes um ou mais técnicos para cada pessoa, 24 horas por dia, com Macário Correia a sublinhar que o Lar Residencial está em permanente atividade há duas décadas. “Não há sábados, domingos, dias santos ou feriados, nem noites, nem dias, estão sempre funcionários de serviço”, reforça.

Muitas ambições e projetos Mundos e fundos que têm que vir de algum lado, seja dos acordos com a Segurança Social e IEFP, de apoios das autarquias, de donativos de empresas e cidadãos, seguindo o exemplo meritório 18


de Irene Rolo, a mulher que deu, por assim dizer, o pontapé de saída para esta fundação, ao legar a sua residência e toda a propriedade para fins sociais. “Recebemos, em média, 10 a 15 mil euros de donativos particulares por mês, quer em bens alimentares das grandes superfícies, quer em equipamentos provenientes de empresas de serviços, comércio, quer das autarquias, não só de Tavira, mas de todo o Algarve. Mesmo em anos de crise, sempre houve alguma generosidade da parte das pessoas e empresas. Depois, todos os dias vemos onde há possibilidade de obter mais algum financiamento”, indica Macário Correia, revelando que estão uma dúzia de candidaturas ativas neste preciso momento. “Há bastantes fundações e empresas que têm o conceito da Responsabilidade Social e nós batemos a todas as portas”, justifica.

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Uma atitude pró-ativa que resultou na doação de uma viatura de nove lugares, em 2015, mas não há bela sem senão, com a Fundação Irene Rolo a ter que pagar 20 mil euros em impostos ao Estado, para irritação de Macário Correia. “É uma coisa injusta e estupidamente difícil de compreender, por uma parvoíce de legislação que o governo anterior não foi capaz de resolver e espero que este trate disso. Agora, em maio, estamos na perspetiva de receber uma viatura vinda de França, mas ainda estamos a tentar perceber qual o nível de fiscalidade que vai incidir sobre ela, para saber se compensa recebermos um veículo em segunda mão”, diz, sem meias-palavras. Mas, independentemente das burocracias e contrariedades, a Fundação Irene Rolo tem as suas ALGARVE INFORMATIVO #55


Alguns utentes a jogar boccia

ambições e objetivos e, de entre muitas ideias que andam no ar, há três em concreto que ganham maior solidez. “Uma deles é um espaço de oficina/loja, no centro da cidade, onde as pessoas podem adquirir produtos de artesanato que os utentes fazem. Já temos uma pequena verba disponível de rifas, sorteios e donativos para arrancar com essa obra. Outro projeto em fase final de aprovação é aproveitar as últimas ruínas de instalações antigas, aqui no terreno da Fundação, para criar uma unidade para doentes mentais. Temos ainda uma horta, a oito, nove quilómetros da cidade, onde queremos fazer uma quinta pedagógica. São instalações degradadas que queremos remodelar e dar-lhes uma finalidade polivalente, com salas para acolher miúdos e jovens, piqueniques, relações com as

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culturas e os animais”, descreve Macário Correia. Mais de três décadas de atividade, projetos e ideias para continuar a trabalhar, sempre de forma dinâmica porque, infelizmente, continuam a faltar soluções para todos os pedidos de ajuda. “Existem valências altamente carenciadas e uma delas é a doença mental. Os doentes mentais, quando perdem os pais, se não tiverem irmãos, ficam numa situação muito delicada. Não há resposta para eles”, garante Macário Correia. “Como tudo na vida, temos que pensar sempre em fazer mais para o futuro, porque, quem ficar parado, fica para trás. O mundo gira e nós temos que acompanhar a dinâmica geral das coisas, aliás, queremos ir mais além, estar sempre um passo à frente” .

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Sandra Celas veio ao Algarve apresentar uma banda com alma

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Os MurMur, da conhecida atriz Sandra Celas e do ex-Rádio Macau Alex Cortez, vieram ao Algarve para um duplo concerto, na Casa do Povo de Santo Estêvão e na Sociedade Recreativa Artística Farense, e trouxeram consigo um pop/rock recheado de atmosferas e mensagens poderosas cantadas em português. Uma banda com alma, como dizem os elementos, com o álbum de estreia na forja e lançamento previsto ainda este ano. Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina 23

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epois de terem atuado na noite anterior na Casa do Povo de Santo Estêvão, no concelho de Tavira, os MurMur subiram novamente a um palco algarvio, desta feita na Sociedade Recreativa Artística Farense, na capital de distrito, para dar a conhecer um projeto musical assente na língua portuguesa e no pop/rock tradicional, mas com influências da música portuguesa contemporânea e de outros géneros que vão desde a música eletrónica ao jazz. Com a sala dos Artistas muito bem composto, baixaram as luzes e surgiu a vocalista ao centro, um rosto sobejamente familiar dos portugueses, Sandra Celas, uma surpresa extremamente positiva para quem apenas conhecia a sua faceta de atriz já com 14 anos de carreira. “Eu sempre

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cantei desde miúda, aliás, ando constantemente a cantarolar nas gravações e pelos corredores dos estúdios. Também já representei papéis na televisão e em peças de teatro em que tive que cantar e, há cerca de dois anos, cansei-me um pouco das rotinas, precisei de me reinventar”, começa por dizer. Após um ano em que participou com regularidade em programas de televisão a cantar, tendo feito também um dueto com Zé Manel (Darko), pensou que estava na altura de deixar de interpretar os temas dos outros, de criar algo seu, e para isso desafiou Alex Cortez, membro carismático dos Rádio Macau. “Não tenho a escolástica musical, faço tudo por intuição, a ouvir as cantoras que aprecio, por

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isso, precisava de alguém que dominasse este meio. Falei com o Alex, ele foi um bocadinho na loucura, sem saber muito bem onde é que isto tudo ia dar, e a verdade é que resultaram coisas bastante giras”, prossegue o relato, sob o olhar atento do outro mentor do projeto. “Eu gosto de desafios e sabia que a minha carreira, enquanto músico, não se iria esgotar com os Rádio Macau, de maneira que o convite da Sandra foi extremamente aliciante. O teatro, voz e canto são coisas que se ligam com facilidade, tivemos depois um período para nos adaptarmos um ao outro, para tentar conjugar as ideias dos dois e começamos a compor. Felizmente, tivemos a sorte das ideias da Sandra funcionarem bem com as minhas e disso resultou um projeto do qual tenho imenso orgulho e que sinto que faz todo o sentido”, sublinha Alex Cortez. MurMur que nunca pretenderam seguir as pisadas dos Radio Macau, embora haja, como é natural, alguns pontos de contato, nomeadamente no som pop/rock. Já as vocalistas têm personalidades bem distintas, assegura o baixista e compositor. “A Xana e a Sandra têm formas de cantar bastante diferentes, embora algumas pessoas digam que, às vezes, isto parece um pouco os Radio Macau. Julgo, porém, que fazem essa associação porque sabem do meu percurso, é o reflexo de ter a banda na minha vida”, analisa.

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Um projeto que, face à evolução que conheceu, sentiu a necessidade de incluir outros instrumentistas, assim aparecendo Filipe Valentim, Tiago Inuit e Luís Barros e nascendo os MurMur como uma banda de formato mais habitual. “A maior parte das letras são minhas, algo que não era suposto acontecer. Foi uma Caixa de Pandora que se abriu, porque eu queria simplesmente cantar e acabei por escrever letras e compor mais ou menos duas músicas”, revela Sandra Celas, originais que farão parte do primeiro álbum da banda e que têm vindo a ser apresentados ao público em vários concertos de norte a sul. “Eu também sempre gostei de escrever e acabou por ser uma orgânica natural, porque não estava a conseguir dizer com a minha boca as letras que eram feitas por outras pessoas. É uma banda onde se nota bastante a presença da palavra”, frisa. Músicas que não contam as típicas histórias do pop/rock do rapaz que conheceu a rapariga e por aí adiante, abordam temas que vão de um certo intimismo melancólico a um lado mais urbano e de cariz social, um quase retrato de Lisboa, da grande metrópole. “São questões existenciais, uma certa contemplação urbana, poética, com cada pessoa a retirar delas a mensagem que achar melhor. Sobre o estilo, confesso que não sei

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muito bem descrevê-lo, não gosto de colocar o nosso som numa gavetinha. Claro que, como o Alex e o Filipe Valentim vêm dos Rádio Macau, temos o rock/pop, mas o Luís Barros vem do jazz, o Tiago Inuit faz muita coisa diferente e eu também ouço de tudo um pouco, só o heavy metal é que não me entra”, indica Sandra Celas. Uma opinião partilhada por Alex Cortez, confirmando os múltiplos ambientes musicais que marcam a essência dos MurMur. “Há uma certa portugalidade, mas com um lado moderno e contemporâneo bastante presente. Não sinto essa tal necessidade de colocar um rótulo na nossa música, mas tem o lado pop/rock, melodias muito portuguesas, uma fusão de ambientes que têm Portugal como pano de fundo”, descreve. Uma mistura que a atriz e vocalista acredita que terá sucesso, por

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ser um som transversal a vários estilos. “Os MurMur criam atmosferas e espero que, depois de se estranhar, se entranhe, porque não há muitas bandas a fazer o nosso tipo de som e letras. Acho que as pessoas estão bastante recetivas à música portuguesa, principalmente a cantada em português, onde a palavra tem um forte peso”, entende a entrevistada, de sorriso nos lábios. “Os portugueses são muito ecléticos, tanto gostam de ouvir o Justin Bieber como a PJ Harvey, a Aurea como os Amor Electro e o Fausto”.

Uma música honesta e genuína Pegando nas palavras de Sandra Celas de que os portugueses são um público bastante eclético, Alex Cortez

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salienta que a música nacional respira saúde, com uma nova geração de músicos, nascidos nos anos 80 do século passado, a apresentarem projetos muito interessantes. “Sentem algumas dificuldades que nós não tínhamos, nós tivemos outras que eles agora não sentem, mas acho que, do ponto de vista da criatividade, a música portuguesa nunca esteve tão bem. Creio que haverá sempre espaço para os bons projetos e, passe a imodéstia, penso que a nossa existência faz todo o sentido. A cada espetáculo que damos vamos conquistando mais gente, mas não queremos editar o disco à pressa, queremos dar tempo ao tempo”, indica Alex Cortez. Um álbum que sairá, certamente, ainda em 2016, mas com canções que

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não foram feitas a pensar em vender muitos discos, os MurMur não são um projeto puramente comercial à caça dos discos de platina, garantem Sandra Celas e Alex Cortez. “Este álbum tem muito da nossa alma, revemo-nos em tudo o que fizemos, em cada som e palavra. É um disco que vibra, que está bastante vivo, feito com um espírito de criação artística, de grande honestidade, de busca genuína pela música que queríamos encontrar, fazer e comunicar”, assegura Sandra Celas, enquanto Alex confidencia que prefere os espaços mais intimistas para tocar. “Temos experiência que nos permite enfrentar qualquer desafio, mas também temos idade suficiente para perceber que é preciso dar um passo de cada vez. O

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nosso espetáculo tem um lado festivo, dá perfeitamente para tocar em festivais de Verão ou queimas das fitas, adaptamos o repertório a cada ocasião. Contudo, eu gosto mais dos espaços pequenos, da proximidade do público, de estar a três metros dos fãs, de tocar olhos nos olhos”, explica. E por falar em palcos, Sandra Celas confessa que, apesar de toda a experiência como atriz, há sempre uma dose de nervosismo quando vai cantar. “Um palco é um palco, é um sítio que não me é estranho, é uma água onde gosto de me mover, mas cantar as minhas próprias letras é diferente do que encarnar uma personagem”,

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justifica. Por outro lado, Alex Cortez frisa que o mercado discográfico atual pouco tem a ver com os tempos em que surgiram os Rádio Macau, mas julga que isso origina projetos mais verdadeiros do que noutras épocas. “Nos anos 80 e 90, as editoras montavam grupos para agradar a gregos e troianos. Hoje, as bandas vingam porque vão conquistando público nos espetáculos e vão divulgando o seu trabalho nas redes sociais. Há mais dificuldade em vender discos físicos, mas mais facilidade em chegar a um público bastante mais vasto e interessado. As pessoas deixaram de ir a tudo o que aparece, selecionam

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melhor o que consomem e isso obriga a uma adaptação dos próprios artistas”, esclarece. Vende-se menos gato por lebre, o país cresceu em termos de infraestruturas, as condições logísticas oferecidas aos músicos são bem melhores, e isso notase na agenda das bandas. Aliás, numa noite os MurMur atuaram numa pequena freguesia do concelho de Tavira, na noite seguinte estavam na capital algarvia, algo que, há umas décadas, não seria tão fácil. “Quando os Radio Macau apareceram, só havia uma autoestrada em Portugal e acabava em Vila Franca de Xira. Para irmos tocar a Castelo Branco, eram seis horas de viagem, para ir a Bragança, como diz a canção dos Xutos, eram 10 horas de distância. Agora, é um pulinho, vai-se a qualquer lado, as populações tem mais acesso à cultura e isso é positivo para todos”, destaca Alex Cortez.

disso mesmo. “Tem um grande domínio da voz, canta muito bem, com intuição, sinceridade e alma, e isso vai, seguramente, granjear-lhe um lugar no meio dos cantores de elite. Estamos a trabalhar afincadamente para que os MurMur sejam mais conhecidos e que tenham um percurso que nos permita tocar ao vivo, fazer canções, gravar discos, que é para isso que os artistas vivem”, finaliza Alex Cortez .

Depois de assistir ao concerto nos Artistas, em Faro, parece evidente que esta Caixa de Pandora que se abriu dificilmente se volta a fechar. Sandra Celas já não se imagina somente a representar, garante que a música vai acompanhá-la daqui para a frente, e o seu parceiro musical nesta viagem dos MurMur está confiante

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Turismo e hidrocarbonetos – uma coexistência improvável Paulo Cunha

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e perguntarem a qualquer estrangeiro que conheça minimamente Portugal o que caracteriza o Algarve fora de portas, certamente responderá: o turismo. Sem qualquer tipo de veleidade ou vaidade, qualquer algarvio ou residente no Algarve sabe que vive num dos maiores tesouros com que a natureza bafejou este país à beira mar nascido. Aliás, os dados da AICEP confirmam-no, pois preveem que “cerca de 23% do emprego nacional no prazo de 10 anos se registe no setor do turismo e que cresça a um ritmo saudável e continue a atrair investimento estrangeiro na criação de equipamentos de nível superior.”. É inquestionável que este “bem” se transformou numa riqueza inestimável e insubstituível para Portugal. Contribuindo para uma boa fatia do PIB português e sendo o único paraíso acessível a muitos portugueses que só aí conseguem “carregar baterias”, nada é mais errado do que pensar que ao maltratá-lo só os autóctones serão afetados. Com o anúncio por parte da Repsol e da Partex que começarão a fazer as primeiras perfurações para prospeção de hidrocarbonetos ao largo do Algarve já em Outubro, levámos “à má fila” o primeiro “murro no estômago”. Aliás, tudo o que a coberto de uma legalidade encoberta foi feito até aqui chegarmos, tresanda a tudo a que os hidrocarbonetos estão associados. Em boa hora muito já está a ser escrito, debatido e esclarecido pelas entidades competentes e movimentos cívicos. Ao mesmo tempo, lamentamos agora a falta prévia de apresentação e esclarecimento por parte dos “nossos” representantes eleitos sobre quais seriam as implicações resultantes de concessionar a exploração de hidrocarbonetos em terras e mares algarvios. Fica-nos aquela sensação de “dejá vu”, onde quem os elegeu são sempre os últimos a saber. Não quero acreditar que para este caso, a velha premissa “O que não tem remédio, remediado está!” faça aqui jurisprudência. Mal estaríamos se assim fosse, pois não honraríamos os antepassados

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que tanto zelaram e defenderam o «Reino dos Algarves»! Nunca vos aconteceu estarem refastelados na praia e por vezes serem “bafejados” com aqueles odores a gasolina expelidos pelas embarcações de recreio que pululam na calmaria das nossas águas, já sem falar nas manchas de óleo à superfície que nos fazem retrair no ato de mergulhar nas águas azuis do nosso mar? A mim já!... E não é o facto do gás ou do crude poder vir a ser retirado de poços terrestres ou marinhos situados longe da minha casa que me deixa menos preocupado, pois colocará em perigo toda a fauna e flora que torna o Algarve um local único e formoso. Razão tem o povo que, para estes e para outros casos, sabiamente diz: “Quem tudo quer, tudo perde!”. Pois eu atrevo-me a dizer que quando o petróleo e/ou o gás começarem a jorrar quem se vai lixar será - como sempre - o mexilhão, aqui bem representado pelos algarvios que, agarrados à “sua” rocha, continuarão a aguentar o embate de muitas marés. Nada a que já não estejam habituados!... Não acredito nas pias, sãs e inocentes intenções dos promotores desta miraculosa e lucrativa exploração de recursos naturais, apresentada por alguns como uma possível panaceia para os “males de finanças” que enfermam as nossas contas públicas. Até porque não nos faltam exemplos do destino a que foram votados certos locais depois de lhes terem sido sugadas, secadas, sacadas, extorquidas e destruídas as suas “fontes”. Depois?... Depois haverá sempre um outro «Allgarve» noutro local, de preferência “clean”, não esventrado e sem qualquer tipo de poluição à espera de quem vendeu este Algarve de onde vos escrevo. Incongruências de quem só aferirá o valor do que perdeu quando o deixar de ter. Tão comum naqueles que não conseguem entender que há muitos tipos de energias. Basta renovarem-se! E já agora: imaginem que descobriam petróleo em Lisboa, ou no Porto... Como seria?! .

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Maio dos Europeus… José Graça

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o longo do mês de Maio, por toda a União, as instituições europeias, os Estados-membros e os cidadãos da Europa celebram quase seis décadas de paz e prosperidade contínuas, recordando o flagelo das grandes guerras da primeira metade do século XX que, tendo começado no espaço europeu, acabaram por ter consequências mundiais… Tendo entrado em vigor em 1 de Janeiro de 1958, o Tratado de Roma assinado em 1957 estabeleceu as bases da União Europeia (EU) que conhecemos. Projetada inicialmente como uma organização económica, a UE evoluiu, transformando-se num projeto que procura garantir aos seus cidadãos um elevado nível de proteção social e a sustentabilidade democrática e socioeconómica dos países integrantes. No pós-guerra, com o centro da Europa destruído e as instituições enfraquecidas, a prioridade absoluta era garantir a prosperidade económica através de um mercado comum. Conforme o nível de vida melhorava, os líderes europeus voltaram os seus esforços para a progressão dos direitos sociais, sendo dada mais importância à promoção da democracia, dos direitos humanos e da sociedade civil, bem como à luta contra todas as formas de discriminação. Sublinhem, neste segunda fase da vida da EU, a aprovação de legislação sobre a igualdade entre homens e mulheres no que respeita ao acesso ao trabalho, formação, evolução da carreira, condições de trabalho, igualdade de remuneração, prestações sociais e direito a uma licença parental, as regras destinadas a reforçar a transparência das instituições europeias, permitindo o livre acesso aos documentos e facultam mais informações sobre as despesas, a criação do cargo do Provedor de Justiça Europeu – função independente criada para investigar as queixas em caso de alegada má administração das instituições, a Carta dos Direitos Fundamentais, que reúne os princípios fundadores no respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais, e as iniciativas de comunicação sobre a Europa, incentivando os cidadãos a participarem no processo através do debate e da consulta pública.

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Paralelamente, interpretando os sinais dos tempos, a EU foi pioneira na definição e consagração de direitos de maior alcance, como o direito a um ambiente sustentável, a defesa dos consumidores ou a proteção dos dados pessoais. Neste mês de Maio, celebrando o aniversário do Tratado de Roma, na sequência do Open Days tradicionalmente realizados em Bruxelas, a Comissão Europeia promove a primeira campanha Europe in My Region para incentivar os cidadãos a descobrirem e aprenderem mais sobre os projetos financiados pela UE em toda a Europa, na sua região ou na sua cidade. Neste período, os beneficiários de fundos da UE são convidados a apresentarem os seus projetos aos cidadãos durante as jornadas de portas abertas e um mapa em linha ajudará a localizar geograficamente os projetos que aderiram a esta iniciativa, sendo estes desafiados a participarem numa caça ao tesouro organizada por dezoito países e um total de 45 regiões: os participantes terão de encontrar pistas escondidas em alguns projetos cofinanciados e responder a um questionário em linha. O Algarve está na lista, descubra qual o projeto mais perto de si… Numa altura em que as notícias dão mais importância à crise do projeto europeu ou à incapacidade das instituições nacionais e comunitárias para enfrentarem de forma assertiva o afluxo de refugiados dos países em conflito, que olham para a Europa como uma ilha de paz e prosperidade num mar de conflitos, é tempo de admirarmos a obra magnífica que nos foi legada e procurarmos fazer a nossa parte no seu aprofundamento. De uma forma ou de outra, todos beneficiámos dos seus sucessos e todos somos responsáveis pelo seu futuro. No fundo, nós que nos habituámos a dar novos mundos ao Mundo, somos todos Europa! . NOTA – Poderá consultar os artigos anteriores sobre estas e outras matérias no meu blogue (www.terradosol.blogspot.com) ou na página www.facebook.com/josegraca1966

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Dos dias da dança Paulo Pires O mundo já caiu, só me resta dançar sobre os destroços. (Clarice Lispector)

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e a luta pela liberdade de expressão na sua inovadora linguagem artística foi o principal desafio da primeira geração ligada ao movimento da NDP (Nova Dança Portuguesa) – com Olga Roriz, Francisco Camacho, João Fiadeiro, Vera Mantero, Paulo Ribeiro, Margarida Bettencourt, Rui Horta, Rui Nunes, Elisa Worm, Paula Massano, Madalena Victorino, Clara Andermatt, Miguel Moreira, entre outros –, agora o desafio maior dos novos coreógrafos (sobretudo os nascidos pós-25 de Abril) é transgeracional: o reconhecimento, pela sociedade, do seu valor e das potencialidades expressivas das suas mensagens. E, não obstante a dança contemporânea viver um período de vincado fervilhar criativo, a crise ainda subsiste, como alerta o bailarino e coreógrafo emergente Bruno Senune na estreia do seu primeiro solo nos Dias da Dança (DDD), a decorrer no Porto: “Kid as King é a viagem de uma figura em sufoco num espaço muito cerrado. Como se alguém te estivesse sempre a apertar as costas por trás: acho que é assim que nos sentimos todos”. Nas últimas décadas emergiu uma plêiade de criadores, como Sofia Dias & Vítor Roriz, Miguel Pereira, Victor Hugo Pontes, Marlene Monteiro Freitas, Luís Guerra, Tânia Carvalho, Ainhoa Vidal, Yola Pinto, Mónica Calle, António Cabrita, São Castro, Maurícia Barreira Neves, Cristina Planas Leitão, Joana Castro, Flávio Rodrigues, a plataforma TOK’ART, etc. – no Algarve, a corpodehoje, de Ana Borges, e Joana Cordeiro

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têm desenvolvido dinâmicas e projectos consistentes a ter em conta – que vieram mostrar que a dança e o corpo não são um dado adquirido, mas sim deficitários e aceites na sua incompletude, e propensos a um permanente estado de (re)invenção e des-programação. Muitos dos acima aludidos “novos corpos pensantes” têm investido em propostas artísticas em que, ao invés de se afirmarem como performers especializados (bailarinos ou actores ou cantores ou músicos), apresentam-se como uma espécie de performers especializadamente totais, interdisciplinares – não fosse a vida também um fenómeno terrivelmente rico, complicado e complexo, e não fosse tão urgente a luta contra o empobrecimento do espírito. Nestes criadores interrogativos há a crença num corpo que tem a capacidade de tocar os outros e de ser poético, de transcender, chegando a estados e lugares em que, à partida, o artista não se reconhece(ria). Porque o corpo pode ser o lugar de inscrição de um novo discurso, de uma nova ordem, mesmo em peças que apostam em metodologias de improvisação que dão ênfase à tentativa e à experimentação, conferindo-lhes uma aparente falta de estrutura e “lógica” (“Não quero ser compreendido, quero ser sentido”, dizia o grande bailarino russo Vaslav Nijinsky [18901950]). Isso implica também, para o público, um exigente (e estimulante) duplo desafio: a abertura a novos horizontes estéticos e a capacidade de se distanciar de uma forma de pensamento e fruição muito enraizada na cultura ocidental, que privilegia, de alguma forma, o analítico, a certeza, o previsível, o arrumado, o linear. A peça “O Limpo e o Sujo”, que Vera Mantero apresentou no Teatro Maria Matos entre 1 e 3 de

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abril, ilustra bem esse paradigma que move muita da nova dança contemporânea. Nesta criação em particular, trata-se de um processo de ecologia pessoal, na linha de alguns trabalhos mais recentes da coreógrafa ligados às questões ambientais. É uma dança suja que funciona como mulher-a-dias, como higienização do quotidiano e da nossa interioridade/subjectividade. Nesse limbo entre asséptico e sujo, e na sua interacção, tematizando o desequilíbrio, vislumbram-se assim caminhos para a (re)harmonização e libertação do corpo. Trata-se de limpar o corpo com aquilo que sai de dentro do mesmo, ao contrário do que nos é habitualmente incutido. Porque o sujo é gerador de vida, como Mantero exemplifica: “Para criar as plantas que comemos é preciso estrume, é preciso porcaria.” Isto lembra-me uma frase de Gonçalo M. Tavares: “o corpo Profundo é o corpo entre as fezes e a

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beleza”. Não recusar o sujo e abraçá-lo para transformar o corpo, questionando assim os limites e possibilidades de expressão da dança, da nossa existência e das prioridades da arte coreográfica. Numa obra de 2001, Livro da Dança, o mesmo Gonçalo M. Tavares propõe um projeto para uma poética do movimento: libertar o corpo do conhecimento sobre ele e, paralelamente, impregnar o conhecimento do mundo da presença do corpo. Um dos versos, ilustrativos, do primeiro poema do livro: “Comecei hoje a metafísica da casa: comecei por limpar a pele”. Porque estamos perante uma dança que não se limita à ideia de um corpo físico, mas a um corpo percepcionado como morada de um homem feito de ossos, sangue, sonhos e desejos .

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O aprendizado da lentidão Mirian Tavares

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low life - é um conceito que tem aparecido nos últimos tempos. Depois de um século supersónico, as pessoas começam a descobrir que é preciso parar um pouco para viver. Corremos tanto que nem tempo temos para sentir realmente o que nos cerca. Quase nunca conseguimos ler um livro com calma, deitar no sofá sem tempo, sem relógio. Tenho pensado nisso: tempo, tempo, tempo... Andamos sempre a correr à procura dele e ele está sempre a faltar-nos. Será que se andarmos mais devagar não o apanhamos? Gostaria de tentar qualquer dia, quando tiver tempo. Porque a cada momento somos massacrados com demandas que se revelam, mais tarde, inúteis: inquéritos, formulários, produções ao quilo e ao metro e falta-nos tempo para pensar e refletir sobre o que se produz e para quem ou para quê. Quem lê tanta notícia, já perguntava Caetano Veloso, quem lê tanta revista académica? Pergunto-me. Quem tem tempo para se dedicar a percorrer os milhares de volumes editados diariamente pelo mundo inteiro? Produz-se mais conhecimento? Certamente. Mas não tenho tanta certeza se o acesso ao mesmo se dá nessa exata proporção. Informação, por si só, não gera conhecimento. E ler apenas os títulos, ou as manchetes dos jornais, não nos diz tudo o que necessitamos para estarmos, de facto, conscientes do que se passa à nossa volta.

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Há um livro que se chama, se bem me lembro, o aprendizado da lentidão. É engraçado pensar que pode ser necessário aprender a ser lento, já que nos ensinam que é preciso andar depressa, não se deixar ficar. Aprendemos que a preguiça é a mãe de todos os vícios e esquecemos que o ócio é, muitas vezes, absolutamente necessário para se produzir. Cozinhar em fogo brando, deixar cada coisa ficar pronta a seu tempo, não as apressar... É difícil. Queremos tudo sempre já, aqui e agora, neste preciso instante. Somos pouco zen - pouco orientais nos gestos e nos passos apressados que nos afastam, muitas vezes, do prazer do pouco a pouco, das delícias de caminhar saboreando cada minuto. Eu, por exemplo, nunca aprendi a dançar devagar. A deixar que a música fosse lentamente penetrando em todo o corpo para que daí surgisse um pequeno gesto, um movimento, um ensaio de um passo, um recuo e uma nova tentativa. Não sei se é tarde para este aprendizado. Ou se preciso ler O Zen e a arte da manutenção da motocicleta ou, quem sabe, aprender todo o ritual japonês do chá. Mas sei que preciso, ou precisamos, aprender a saborear a lentidão, a viver num ritmo menos intenso, para produzirmos melhor. E para refletirmos sobre a nossa própria produção .

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Restauração Augusto Lima

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ue a palavra Restauração signifique de facto a reestruturação de tudo aquilo que está errado na nobre arte de cozinhar e de servir os cozinhados. Seguindo o dicionário, Restauração significa o restabelecimento ou conserto de alguma coisa que se encontra em condições impróprias para uso normal que dela se pretenda. O conceito Restauração como nós o conhecemos hoje, designa os vários tipos de empresas que praticam o ato de servir comida, entre eles os Restaurantes, que vem do francês – Restaurant, palavra inicialmente usada para designar um caldo de carne, revigorante, que tinha como função o restabelecimento de pessoas debilitadas. Com a abertura dos primeiros Restaurantes, passou a designarse por Restaurateur, o cozinheiro encarregado da confeção deste caldo. Restaurador, daí advém, e é o nome pelo qual hoje em dia são conhecidos os donos ou responsáveis de restaurantes. É bom que se fale em Restauração, de uma forma restaurativa. E é urgente e até está na moda. Falar em Restauração é falar em saúde pública. Os intervenientes neste processo não são só os empregados de mesa, de limpeza, lavandaria, copa, cozinha ou grill. São-no também os patrões e ou representantes destes, que podem ser em alguns casos, gerentes, diretores ou simplesmente a «pessoa responsável». E são também os fornecedores de pão, pastelaria, carne, peixe, legumes e mercearia. E também os técnicos de inspeção, as câmaras municipais e o governo. E mais, todos nós, consumidores, fazemos parte deste universo que se chama Restauração. É urgente que os intervenientes em todo este processo percebam que são eles os veículos da qualidade e da mudança que tantos apregoam. Eu gostaria de vê-los como auxiliares de saúde. Falar sobre estas coisas é, para a grande maioria das pessoas que trabalham profissionalmente nesta área, uma grande chatice e os profissionais que nela trabalham só têm duas opções: ou se sentem queridos, acarinhados, em ambiente propício a poder desenvolver o seu trabalho e labutam, com esforço, autocrítica e em rota com a meta traçada, ou simplesmente se afastam e continuam à

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procura de um espaço onde possam desenvolver o seu trabalho. Comecemos pelo princípio – O código de Boas Práticas de Higiene. Existe um para cada subsector de atividade, a saber, Restauração Coletiva; Restauração Rápida; Restauração Pública; Cafetarias e similares; Pastelarias (com fabrico próprio de pastelaria, padaria e geladaria); Animação; Banquetes. Apostaria que 80 por cento do sector não tem ou não ouviu falar disto. Continuemos – O uso obrigatório do chapéu, lenço ou touca e do lava mãos. Está na hora de perceber que o uso do chapéu, lenço ou touca não é um adorno mas sim um ato de higiene. Pelos mais variados estabelecimentos de qualquer ponto do país vemos empregados fardados e em alguns casos com boas e bonitas fardas mas sem formação adequada, que ostentam os imaculados adornos, mas exibindo 2/3 do cabelo. No caso dos lava mãos, de uso obrigatório, em se tratando de espaços abertos há relativamente pouco tempo, até existe um espécimen, ele próprio um adorno do local usado para tudo menos para a lavagem das mãos. Bastas vezes, vejo em televisão ou revistas da especialidade, colegas meus, alguns deles mais mediáticos e por conseguinte com uma obrigação maior de divulgar as boas práticas de higiene, aparecerem sem o seu revestimento de cabeça, de uso obrigatório. Outro caso importante e complicado: a zona de trabalho (dita de produção de comida) que na grande maioria dos casos é constantemente violada por tudo e por todos e normalmente por aqueles que deveriam supostamente dar o exemplo: Chefes de secção, gerentes e ou patrões. A posição na cadeia do organigrama da empresa não dá direito algum a violar o código de boas práticas. Pelo contrário: É deles que se esperam os exemplos. Conforme o ditado: Os exemplos devem vir de cima. Só assim e de uma forma natural, «o correcto», será posto em prática. Aproveitando o ensejo de estar na moda falar sobre restaurantes e seus derivados, que a palavra Restauração signifique de facto a reestruturação de tudo aquilo que está errado na nobre arte de cozinhar e de servir os cozinhados .

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João Saraiva já pensa no

«The Perfect Winter 2.0» João Saraiva partiu rumo aos picos gelados da Cordilheira dos Alpes, mais concretamente a Tirol, na Áustria, no passado dia 6 de janeiro, jornada a que chamou «The Perfect Winter». Agora de regresso ao Algarve, o biólogo, radialista, DJ, surfista e instrutor de capoeira faz um balanço extremamente positivo de uma aventura que não deverá ficar por aqui, porque existe vontade, dele e de outros, para repetir a experiência. Texto:

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ensivelmente quatro meses depois, voltei a conversar com João Saraiva, não num contexto da normal ansiedade de quem estava prestes em embarcar numa grande aventura na Cordilheira dos Alpes, mas da satisfação de quem ultrapassou os limites e regressou a casa sem grandes percalços pelo caminho. “Percebi depressa que o «The Perfect Winter» ia render mais, a nível pessoal, mas também profissional, do que tinha antecipado. Estava à espera de conhecer pessoas e de ter uma visão diferente do que era a montanha, mas acabou por ter um impacto muito além disso, porque se alargaram horizontes e abriram-se portas”, começa por dizer o biólogo, radialista, DJ, surfista e instrutor de capoeira. Com a segurança sempre presente para evitar acidentes, João Saraiva nunca teve a tentação de ir além das suas possibilidades quando estava em cima de uma prancha de snowboard, ao mesmo tempo que ia aprendendo, no terreno, a ler a montanha, as condições da neve, do tempo, perceber quando ir e não ir para a pista. “Tive também a ajuda de muitos pessoas da zona que me deram a conhecer uma face da montanha que normalmente não está aberta ao turista ocasional. Em termos gerais, decorreu tudo mais ou menos como tinha planeado. A ideia era fazer a viagem diretamente para

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lá, em várias etapas, e no regresso passei pela Suíça e França”, conta. No local onde estava baseado, quase a mil metros de altitude, houve, sim, necessidade de algumas adaptações, por não existirem transportes diretos para as estâncias de ski, o que o obrigou a utilizar muito mais o carro do que projetado. “Tinha pensado fazer mil a dois mil quilómetros no Tirol, que é um bocadinho maior que o Alentejo, e acabei por fazer quase seis mil quilómetros. Ali há muitas montanhas e ir do ponto A para o B implica sempre grandes voltas, por mais perto que estejam em linha reta”, explica João Saraiva, o que justificou plenamente o investimento na aquisição de pneus especiais para a neve. Não houve grandes incidentes a registar, o que não significa que não tenham acontecido imprevistos que podiam ter tido consequências mais sérias, um deles na companhia de um snowboarder experiente e conhecedor das montanhas. “Andávamos a ver os websites de meteorologia e das condições de neve desde a noite anterior e às 7h da manhã ainda não tínhamos decidido para onde ir. O vento não correspondia às previsões, a neve não tinha caído com tanta intensidade como era suposto e, após algum debate no carro, optamos pela cordilheira Nordkette, a norte de Innsbruck, onde teríamos que utilizar os meios mecânicos e ALGARVE INFORMATIVO #55


depois subir a pé até ao pico Hafelekarspitze, com 2334m de altitude”, diz-nos João Saraiva.

inclinação era muito acentuada logo na primeira vertente, bem acima dos 45º”.

Como que a reviver o momento, o entrevistado lembra que, durante a viagem, as condições pioraram repentinamente, o vento ficou mais forte, a visibilidade caiu, mas a dupla insistiu no destino. “Esse foi o primeiro erro. Já no local, vimos que talvez fosse melhor voltar para trás, dado que a cobertura de neve fresca era escassa e estava muito afetada pelo vento. Mas, como já lá estávamos, decidimos avançar na mesma, e esse foi o segundo erro”, reconhece João Saraiva. “A vista era deslumbrante, do cimo da Nordkette consegue-se ver toda a cidade de Innsbruck quase diretamente de cima. O guia foi o primeiro a descer e logo nas primeiras curvas se percebeu que o resto do grupo não tinha nível para descer em segurança. Havia bastante gelo e a

Contra todas as indicações, João Saraiva e o colega avançaram, o terceiro erro, e quebraram as três principais regras de segurança em freeride: planeamento, avaliação no local e a pressão e nível do grupo. “Conseguimos lidar com a primeira descida, mas o pior veio quando nos apercebemos do resto do caminho, que não era visível do pico: uma vertente que parecia vertical, rapada pelo vento e sem fim à vista. Perto do estado de pânico, e já impossibilitados de voltar atrás, tivemos que engolir em seco e lidar com uma longa descida que, por sorte, não causou mais do que um susto. Mas foi um exemplo de como erros sucessivos podem ter consequências muito, muito graves”, relata a peripécia.

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Três meses de aventura no Tirol em que o mais complicado foi lidar com a mudança de estações, principalmente para quem vive no Algarve, onde praticamente nem damos pelo avançar do tempo em termos climatéricos. “Estamos habituados a um Verão comprido, depois um Inverno em que chove mais ou menos, e em que reparamos que os dias estão ligeiramente mais pequenos, mas, em

escondiam o sol muito rapidamente”, indica, referindo que o frio e a neve nem foram demasiado incomodativos. “O Inverno, nesse aspeto, é tardio e agora, no Tirol, está a nevar como se fosse dezembro. Quanto ao frio, as casas no norte da Europa são bem mais confortáveis do que em Portugal, nunca se passa frio no interior. Sobre a altitude, mil metros não é excessivo e foi uma mudança mais ou menos gradual. O vale mais próximo e por onde eu passava todos os dias estava a 300 ou 600 metros”, descreve.

fevereiro, março, começa logo a brilhar o sol. Lá, às quatro da tarde já estava escuro, não só por estarmos mais a norte, mas porque o horizonte estava mais acima e as montanhas

Dias pequenos em que havia que aproveitar ao máximo as horas de luz, o que obrigou João Saraiva a levantar-se bastante cedo, para o

Lidar com a solidão e as noites longas

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que teve a ajuda de um galo que vivia perto do chalé onde estava alojado, conta, com um sorriso. “Às cinco e tal da manhã, ainda o sol não tinha nascido, já ele estava a cantar. Ao princípio foi desagradável, mas depois facilitou o processo de acordar. A partir das cinco da tarde já era de noite e estava tudo fechado”, recorda, uma realidade bem distinta dos países do sul, onde o dia é vivido intensamente até bem mais tarde, às vezes até pela noite dentro. “As pessoas na Áustria estão habituadas a recolher a casa e estar com a família, ao contrário do que sucede no Algarve, onde gostamos de sair com os amigos depois do ALGARVE INFORMATIVO #55

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trabalho acabar. Mas viver essa diferença foi engraçado e, quando estava a nevar, sabia mesmo bem estar no quentinho de casa”. Claro que o trabalho não terminava quando o sol se punha, garante João Saraiva, que ia com uma agenda bem preenchida. “Queria melhorar o meu snowboard, seja o freestyle no parque, onde há obstáculos e onde se treinam os saltos e as manobras, mas também no freeride, a descoberta da montanha, as caminhadas para fora do que é conhecido nas estâncias. Ai estava completamente dependente das condições do tempo e tive que adquirir material de segurança, de resgate e sinalização na neve, e aprender a mexer com ele. Depois, temos que partir cedo para completarmos o percurso, mas não pode ser demasiado cedo porque a neve ainda está muito dura. Temos que ver quando a encosta está ao sol ou à sombra, de onde cai a neve, quando foi a última queda”, aconselha, mas foram precisamente essas caminhadas que lhe permitiram captar imagens de uma vida, aquelas que muitas pessoas nunca conseguem registar. Chegado ao chalé, havia sempre algo para fazer, fotos e filmagens para tratar, textos para escrever, mas também houve oportunidade para conviver com alguns amigos em Innsbruck, uma cidade universitária com bastante movimento cultural. Contudo, em determinados períodos a solidão fez-se sentir com maior 49

intensidade, até teve alguma vontade de fazer as malas e regressar a casa, confessa. “Tive companhia de amigos nas primeiras duas ou três semanas mas, de repente, o pessoal foi-se todo embora e fiquei sozinho no chalé, a nevar lá fora, tudo escuro, com mais dois meses pela frente. Televisão era toda em alemão. Houve momentos em que deu aquele vacilo de solidão, mas não foram muitos, acho que lido bem com o facto de estar sozinho nestas viagens. Para além disso, hoje temos as redes sociais e, em qualquer altura, ligava-me ao Facebook ou ao Whatsapp, mandava um e-mail ou uma mensagem e facilmente estava em contato com as pessoas de casa”. E escrever textos porque um dos propósitos do «The Perfect Winter» era precisamente manter um género de diário de bordo, um relato do que ia acontecendo no terreno, tanto no blogue oficial da aventura, como no jornal online «Sul Informação». “No blogue tive mais de dois mil seguidores de quase 40 países, pessoas que acompanhavam regularmente e comentavam o que eu ia escrevendo, o que me surpreendeu. Para o «Sul Informação» fazia uma crónica semanal e houve muita gente a partilhá-las. No blogue era mais livre e filosófico, falava sobre a exploração da montanha, as viagens, o snowboard. No jornal online, tive o cuidado de escrever ALGARVE INFORMATIVO #55


para um leitor que não estivesse necessariamente familiarizado com estes temas e todas as semanas tinha um assunto diferente, a gastronomia, o país em si, a mudança das estações”, relata, respondendo logo que escrever um livro com esses textos não está, para já, nos horizontes. “Estou habituado ao mercado de difusão cultural, mais especificamente da música, e sei que os livros ainda são mais complicados de chegar ao público. Logicamente que também não iria escrever um livro para ficar rico”. ALGARVE INFORMATIVO #55

Se um livro não está nos planos imediatos deste biólogo, a aventura teve o condão de abrir portas para algumas oportunidades profissionais, até porque sabemos bem as dificuldades que norteiam todos aqueles que trabalham na ciência em Portugal. E há, até, a possibilidade de uma segunda edição do «The Perfect Winter», desta feita já com o intuito de realizar um documentário sobre a viagem, em livro ou vídeo, e com uma equipa profissional a acompanhá-lo. “É uma das minhas ambições e esta 50


viagem acabou por ser o primeiro passo nesse sentido, na montanha, certamente”, adianta João Saraiva, que já tinha feito algo semelhante em torno do surf, em cenários bem mais quentes. Uma nova aventura que, no surf, nunca seria para o Havai ou Austrália, destinos muito batidos, na opinião do entrevistado. “O desafio é chegar a sítios onde muito pouca gente foi e de onde existe pouca documentação, mesmo a nível cultural e histórico. Existem umas ilhas onde sempre quis ir, as Andaman, ao largo da Índia, onde se diz que há tribos canibais e histórias de feitiçaria. O surf é um dos principais veículos de descoberta do ponto de vista ecológico, porque queremos descobrir esses tesouros escondidos, mas não queremos estragar nada, nem construir hotéis nas praias, nem encher o mar de

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turistas e surfistas”, descreve, entusiasmado. Assim sendo, um «The Perfect Winter 2.0» não é algo impensável e João Saraiva está confiante de que até seria mais fácil arranjar apoios para um projeto mais ambicioso. “Houve empresas que me apoiaram com o que podiam e que tornaram possível esta aventura, a «Freshlines», «Pipeline Surf Show», «MG Snowtrip», «Bukideias», «EcoSurf Products» e «Vinhos Malaca», para além das pessoas que participaram na campanha de crowdfunding, e criou-se algo bastante forte para mostrar, um portfolio para apresentar a entidades oficiais. A vontade ficou, as portas abriram-se e já tenho andado a estudar formas de financiamento para uma próxima edição”, conclui João Saraiva .

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O MENINO DA BURRA recorda drama da Guerra Colonial «O MENINO DA BURRA» estreou no passado fim-de-semana de 22 a 24 de abril, no Teatro Lethes, em Faro, seguindo-se, logo de imediato, mais dupla encenação, no Teatro Mascarenhas Gregório, em Silves, nos dias 29 e 30 de abril. Antes disso, o Algarve Informativo esteve à conversa com o dramaturgo portimonense Luís Campião e com o ator Bruno Martins, para conhecer melhor a história de uma peça que recorda os tempos da Guerra Colonial e do Portugal do Estado Novo. Texto:

| Fotografia:

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Luís Campião, autor e encenador da peça «O Menino da Burra»

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Samuel Pilar, Luís Campião e Bruno Martins, no palco do Teatro Mascarenhas Gregório, em Silves

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Menino da Burra é, por assim dizer, o relato de um empregado de balcão de uma taberna com o mesmo nome, dirigido a um pretenso freguês, que acaba por ser o público de cada encenação, evocando o Portugal do Estado Novo e a Guerra Colonial, a pobreza e a ruralidade, a violência e a ingenuidade, tudo com base nas pretensas cartas que o pai do contador da história lhe escreveu quando esteve a combater na Guiné. Antes disso, porém, houve a «Nossa Senhora da Açoteia», escrita por Luís Campião em 2012, produzida pela ACTA e interpretada e encenada por Luís Vicente, conforme nos conta o dramaturgo natural de Portimão. “Houve um personagem que me interessou particularmente e decidi construir uma nova peça a partir dele. O ALGARVE INFORMATIVO #55

texto acabou por ser distinguido com uma menção honrosa no Prémio Inatel, em 2013, e surgiu o convite da editora «Companhia das Índias» para o publicar”, conta Luís Campião. A ideia sempre foi, contudo, levar o texto de «O Menino da Burra» a cena, é para subir ao palco que eles são escritos, e o processo deu um passo em frente quando Bruno Martins manifestou junto de Luís Campião o interesse em representá-lo. Da conversa passou-se à prática, em 2015, e a peça foi agora a cena, primeiro em Faro, depois em Silves, para satisfação do portimonense que iniciou o seu percurso na Escola de Formação de Atores do Centro Dramático de Évora, concluiu uma Licenciatura em Estudos Teatrais e Teatro no Porto e tirou um 56


Mestrado na Escola Superior do Teatro e Cinema, em Lisboa. Quanto a Bruno Martins, nascido em Setúbal, passou igualmente por Évora, fez a sua licenciatura também, está a finalizar o mestrado e já conhecia o Algarve mercê de um estágio que efetuou na ACTA, tendo trabalhado vários anos nesta companhia de teatro. “Achei o texto do Luís Campião bastante giro, tocava-me em imensos pontos da minha vida pessoal e perguntei-lhe se podíamos avançar com a produção. O Luís Vicente disponibilizou depois o espaço do Teatro Lethes para a estreia e cá estamos”, relata o ator. Convém dizer que a dupla já tinha trabalhado anteriormente, por ocasião da produção de «A Cova dos Ladrões», em 2010, pela ACTA, com encenação de Paulo Moreira. “O meu percurso de dramaturgo iniciou-se em 2008, quando me comecei a interessar pela escrita na sequência de uma Pós-Graduação que fiz na Faculdade de Letras sobre Texto Dramático. O interesse foi-se sedimentando a partir do momento em que senti uma reação positiva aos meus textos, o que me levou a frequentar oficinas de escrita com outros dramaturgos para tentar perceber se isto poderia dar alguns frutos”, indica Luís Campião, cujo «Nossa Senhora da Açoteia» venceu o Prémio António José da Silva, em 2012. “Desde então, uma coisa tem levado a outra, novos interesses, questões e inquietações, uma ou outra encomenda, mais projetos, não tenho propriamente parado”. Com o foque em «O Menino da Burra», trata-se da história de um homem que vai para a Guerra Colonial e já não regressa na plenitude das suas faculdades 57

psíquicas, sendo esse relato feito pelo filho, agora taberneiro, recordando as cartas que o progenitor lhe enviara da Guiné. “Ele sentia orgulho do pai, achava que era um herói, ao mesmo tempo que tinha medo que ele se perdesse na guerra. O pai voltou com uma série de mazelas psicológicas, com traumas da guerra, e nunca mais foi o mesmo”, explica Bruno Martins, referindo-se a «Alfredo», o tal personagem que saltou de «Nossa Senhora da Açoteia». “O meu interesse no Alfredo foi toda a questão da memória que temos da Guerra Colonial, senti que essa personagem tinha muito mais coisas para contar. Há um jogo de intertextualidade, mas as duas peças funcionam separadamente. É como se fossem dois lados da mesma moeda, porquanto tratam as duas de memórias traumáticas”. Explorar o mundo do stress póstraumático nunca é fácil, ainda mais num tema sensível como continua a ser a Guerra Colonial e do qual se vai falando cada vez menos, tirando as datas específicas do 25 de abril ou do Dia do Combatente, com Luís Campião a reconhecer que, às vezes, as pessoas preferem esquecer algumas coisas, não falar delas. “Entrevistei pessoas que estiveram na guerra, a peça é construída com imensos relatos do meu pai, que também lá esteve, e diziam-me frequentemente que não havia nada para contar, perguntavamme o motivo de querer estar a levantar esse assunto. Foi o que foi e agora é andar para a frente. A premissa por detrás da peça é questionar a memória traumática e ALGARVE INFORMATIVO #55


por que razão não cuidamos dela. É como se não tivéssemos feito o devido luto e, como tal, estamos sempre sujeitos a eventuais feridas que daí surjam”, sublinha o autor do texto. Luís Campião esclarece que «O Menino da Burra» não trata somente da guerra, o principal é preservar as memórias para não se lidar com os fantasmas do passado, mas é, sem dúvida, um texto difícil de interpretar, ainda por cima por apenas uma pessoa, neste caso, Bruno Martins. “É um desafio diferente, porque o objetivo do Luís não era a construção clássica de uma personagem, mas de uma figura que conta uma história, que evoca as memórias. Eu não vivi a Guerra Colonial e tive que falar com alguns familiares para saber mais sobre ela porque, na escola, o assunto era dado com um pouco de vergonha. «Sim, os portugueses estiveram lá, não queriam abrir mão das colónias, depois veio o 25

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de abril, largaram as colónias», é tudo explicado a correr”, observa o ator. “Este contador vive muito da relação afetiva com o pai e as outras personagens e o trauma de guerra do pai depois passou para o filho”.

Preferência pelos monólogos Com apenas um contador de histórias em palco, acompanhado à viola por Samuel Pilar, Luís Campião refere que o espetáculo passa-se, idealmente, na cabeça de cada espetador. Uma forma que agrada imenso ao dramaturgo portimonense, o como levar o contador de histórias para o teatro, alguém que evoca mais do que interpreta ou representa, uma zona de fronteira entre ator, narrador, contador, que fascina Luís Campião. “Uma vez que sou eu a encenar, tenho oportunidade

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de colocar as minhas ideias em palco e optei por um dispositivo extremamente simples, despido. Não há grandes elementos que evoquem uma taberna, porque o texto já o faz, o que me interessa era ver o ator a contar. A viola surgiu por acaso, quando percebemos que todo o texto tem um ritmo muito concreto e específico de fala, e o instrumento ajuda a suportar o discurso”, descreve o entrevistado. “A viola transporta o espetador para estados que nos interessam, embalá-lo e diverti-lo em certas alturas, perturbá-lo noutras”. Simplicidade que, curiosamente, acaba por tornar a vida de Bruno Martins mais complicada do que se estivéssemos na presença de um elenco numeroso. “Gosto de ter muitos colegas em cena, porque isso permite-nos, por exemplo, descansar um pouco quando não estamos nós em ação. Estar sozinho em cena, como contador, é assustador, mas eu e o 59

Samuel criamos uma boa dinâmica e a vantagem é que o público nunca sabe o que vai acontecer a seguir. Qualquer coisa que seja inserida a mais, nem dão por isso, mas também tenho um certo espaço para improvisar”, aponta o ator. Uma exposição completa que Bruno Martins já tinha antecipado e que o levou a pedir conselhos a Luís Vicente, que tinha interpretado, precisamente, um monólogo em «Nossa Senhora da Açoteia». “Disse-me para me entregar de corpo e alma, para dar o corpo à bala e o que tinha que acontecer, acontecia, com a certeza de que o público me ia suportar. E, nos três espetáculos do Lethes, o público aguentou, ouviu, reagiu, comunicou comigo, e isso é bastante gratificante”, indica, satisfeito com a sua estreia nos monólogos, ele que está mais habituado a peças com elencos ALGARVE INFORMATIVO #55


maiores. E uma particularidade, de facto, de «O Menino da Burra» é que o interlocutor é o público, quase como se fosse uma personagem, o freguês, o cliente daquela taberna, o que gera dificuldades extra nos ensaios. “Estamos num género de limbo porque nunca sabemos como é que as pessoas vão reagir ao texto. Podemos tentar condicionar essa reação, mas só teremos a certeza do que vai acontecer no dia da estreia, portanto, é como se estivéssemos a ensaiar com menos um elemento”, sublinha Luís Campião. Entretanto, a veia criativa do portimonense não sossega e a sua peça mais recente, «O Palco de Babel», é bastante diferente da que está presentemente em cena, com um elenco para cima de sete atores, com uma metodologia distinta, mais tradicional. “Não estou centrado num estilo, num ALGARVE INFORMATIVO #55

modelo, embora prefira trabalhar monólogos a partir de histórias de vida, tendo por base o formato do contador de histórias. Vamos ver como é que «O Menino da Burra» vai correr, tenho uma encomenda da ACTA para estrear em 2017 e estou envolvido noutra peça, que espero ainda concluir durante 2016. O intuito é sempre levar a palco, não deixar os textos no papel, no livro”, garante Luís Campião. Mais incerto é o futuro de Bruno Martins, porque não é fácil ser ator em Portugal, mas reconhece que o seu estilo predileto é a comédia. “O futuro, atualmente, para os atores é o dia de amanhã. Para já estou focado nesta peça e vamos tentar que circule por toda a região e pelo resto do país, até porque ocupa pouco espaço: duas cadeiras, uma mesa, duas garrafas de aguardente e uma viola, eu e o Samuel” . 60


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ATUALIDADE DESPORTO E MÚSICA NO 25 DE ABRIL EM CASTRO MARIM Comendadoria de Santiago, de Castro Marim, que acolheu os novos templários investidos numa cerimónia que decorreu na Igreja Matriz de Castro Marim, no final da tarde.

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astro Marim celebrou o 42.º aniversário do 25 de Abril com um vasto e diversificado programa, que se estendeu de 23 a 25 de abril. No dia 23 decorreu um Workshop de Defesa Pessoal no Pavilhão Municipal José Guilhermino, promovido pela Associação de Defesa Pessoal – Sistema Elite DP, em parceria com o «Leões do Sul Futebol Clube» e a autarquia. Com uma área direcionada às crianças entre os 6 e os 12 anos, à luz do tema «Crianças à prova de Bullying», a iniciativa contou com a participação de 50 pessoas. No mesmo dia decorreu, na Casa do Sal, em Castro Marim, um concerto de harpa céltica e canto, por Helena Madeura, e a apresentação do livro «O primeiro Carimbo Comemorativo dos CTT do concelho de Castro Marim», de Francisco Matoso Galveias, e o lançamento de uma edição limitada de um selo comemorativo da criação da

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No domingo, dia 24 de abril, realizou-se uma caminhada pela «Liberdade sem Tabaco», onde participaram cerca de 30 pessoas, que se juntou a uma outra iniciativa de marcha, promovida pelo Centro de Cultura e Desporto do Pessoal da Câmara Municipal de Castro Marim, com a adesão de cerca de 50 caminhantes. Ao almoço, junto ao Mercado Local de Castro Marim, pode ver-se a Concentração de Automóveis Antigos, que saíram depois para o já tradicional «Passeio Primavera Algarve», promovido pelo Clube de Automóveis Antigos do Algarve. No dia 25 de abril, dia principal das comemorações, o programa começou às 8h30, com uma arruada da Banda Musical Castromarinense pelas ruas da vila de Castro Marim, prosseguindo a nas principais localidades do concelho. Meia hora depois, foi hasteada a Bandeira Nacional no Edifício dos Paços do Concelho e assistiu-se a uma largada de pombos no Forte de S. Sebastião, pela Sociedade Columbófila Castromarinense. Em Altura, na mesma manhã, foi realizado um Passeio Familiar, que reuniu cerca de 50 pessoas à volta das bicicletas . 64


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ATUALIDADE VAIVÉM OCEANÁRIO ESTACIONA EM FARO

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ntre os dias 4 e 8 de maio, o Vaivém Oceanário vai estar em Faro, no âmbito do evento Farnaútica – Mostra do Mar e da Náutica. O Oceanário de Lisboa, através deste projeto de educação ambiental em movimento, convida toda a população da região a participar em atividades lúdicas e pedagógicas, de acesso gratuito, que exploram as diversas profissões relacionadas com os oceanos e a sustentabilidade dos ecossistemas marinhos. Os alunos do ensino préescolar vão ajudar o Vasco numa missão: descobrir o que ele quer ser quando for «grande». Já os estudantes do 1.º e 2.º Ciclos vão navegar pelo mar português na companhia do Rei D. Carlos I. A importância das diferentes profissões e a riqueza dos ecossistemas são o foco destas duas viagens. Para os «marinheiros» do 3.º Ciclo e Ensino Secundário, está preparada ainda uma expedição ao território marítimo nacional, conhecendo as suas potencialidades no âmbito do novo mapa «Portugal é Mar». Os professores terão também um momento destinado à sua formação, em que são disponibilizadas ferramentas que permitem uma maior complementaridade entre os programas curriculares e a literacia azul, num workshop que tem lugar no dia 4 de maio, às 17h30. O quizz, dirigido ao público geral, pretende revelar a rotina e as profissões existentes no Oceanário de

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Lisboa. Conhecer o papel dos aquários na conservação dos ecossistemas marinhos é o objetivo desta atividade. Com o objetivo de levar a missão do Oceanário a todo o país e de proporcionar uma viagem educativa pelos oceanos, o Vaivém já percorreu todos os distritos de Portugal Continental e Regiões Autónomas, tendo visitado 166 municípios e conquistado mais de 190 mil participantes com as suas atividades. As ilhas da Graciosa e de São Jorge, nos Açores, serão os próximos «portos» a «abrigar» o Vaivém Oceanário, de 26 de maio a 6 de junho .

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ATUALIDADE

AUTARQUIA DE LAGOA OFERECEU UMA AMBULÂNCIA AOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS

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o âmbito das comemorações de abril, o Presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Francisco Martins presidiu, a convite da Direção da Associação de Bombeiros Voluntários de Lagoa, à cerimónia de Homenagem aos Bombeiros que completaram 5, 10, 15 e 20 anos de serviço. Como reconhecimento dos bons e efetivos serviços à causa dos Bombeiros Portugueses, receberam as medalhas de grau cobre, prata e ouro, respetivamente entregues pelo executivo camarário e membros da Direção e Comando da Corporação de Bombeiros de Lagoa. O Presidente da Câmara, no uso da palavra, realçou a forma sentida da homenagem, tanto mais que reconhecia um trabalho prestimoso, de risco e muitas vezes incompreendido. “Os Bombeiros Voluntários de Lagoa merecem todo o apoio da Câmara Municipal e esta estará sempre aberta a essa solicitação, com a certeza de que o que vem para a Corporação de Bombeiros não é um luxo mas uma necessidade”, afirmou Francisco Martins.

oferecida pela Câmara Municipal de Lagoa ao abrigo do protocolo de apoio assinado para o ano de 2016, ao Presidente da Direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lagoa, Joaquim Lima, que a depositou nas mãos do Comandante da Corporação, Vítor Rio. A ambulância oferecida, tipo A2, é uma Fiat Ducato com uma maca, cinco bancos e transporte de duas cadeiras de rodas, para o que dispõe de tampa manual, tendo tido um custo de 42 mil e 917,28 euros .

Após a cerimónia de Homenagem, procedeu-se à entrega das chaves de uma ambulância,

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ATUALIDADE SALIR VIVE TRÊS DIAS DE FESTA DA ESPIGA

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alir revive, na próxima quinta-feira, 5 de maio, todas as tradições do Dia da Espiga, com a realização de um programa de festividades que se estende até sábado, dia 7 de maio. Etnografia, Música, Folclore, Gastronomia, Artesanato ou Desporto são algumas das propostas da Festa da Espiga 2016. As atividades arrancam no dia 5, que marca também as celebrações do Dia do Município de Loulé. A partir das 9h, realiza-se um Passeio de BTT e, às 9h30, um Passeio Pedestre. A partir das 13h, na principal artéria da vila, os visitantes poderão apreciar alguns petiscos e manjares serranos nas tasquinhas que vão estar no recinto. Às 14h, abre a exposição de produtos tradicionais. O grande momento deste evento é o desfile etnográfico que sai à rua a partir das 15h. Tratase de uma das mais importantes manifestações da cultura tradicional do interior algarvio, com o desfile das principais atividades agrícolas e artesanais desta freguesia, algumas delas em vias de extinção, desde as sementeiras, mondas, ceifas, debulhas, fabricação de pão, apanha do medronho e destilação, apicultura e extração de cortiça, o varejo do figo, amêndoa e alfarroba, artesanato de linho, lã, palma, esparto, cestaria de verga. Durante o desfile, os «poetas» populares irão declamar poemas ou quadras feitos de improviso ou preparados, em registo de mensagem em tom de brincadeira aos responsáveis municipais, para pedir ou agradecer as obras feitas na terra. À noite haverá animação musical a cargo do Grupo Veredas da Memória,

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baile tradicional com Ruben Filipe e atuação de Némanus (quizomba e funaná). Na sexta-feira, dia 6, a tarde é dedicada aos seniores que irão participar num baile tradicional com o Rancho Folclórico da Velha e o acordeonista Fernando Inês. À noite, a partir das 21h, é também o folclore que animará a festa, com a atuação do Rancho Folclórico «As Mondadeiras das Barrosas», Grupo Etnográfico da Serra do Caldeirão (Cortelha), Rancho Folclórico da Casa do Minho (Lisboa) e Rancho Etnográfico Danças e Cantares da Barra Cheia. A noite encerra com um baile com Gonçalo Tardão. A programação de sábado é dedicada aos mais novos. Às 10h, realiza-se o II Torneio de Futebol «Os Espiguinhas». Na Tarde das Espiguinhas está prevista muita animação e surpresas, jogos infantis, um lanche e o desfile «Miss e Mister Espiga». À noite sobem ao palco Nanook (21h30), Diogo Piçarra (22h45) e os Back to the Sixties (00h30). O DJ Rodriguez encerra a festa . 70


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ATUALIDADE ABRIRAM AS INSCRIÇÕES PARA A 16ª CORRIDA FOTOGRÁFICA DE PORTIMÃO

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16ª Corrida Fotográfica de Portimão, marcada para 21 de maio, pretende promover um olhar atual e criativo sobre o município, o seu património cultural e natural, proporcionando um encontro entre entusiastas e amigos da fotografia. O prazo das inscrições desta iniciativa, organizada pela Câmara Municipal de Portimão, através do Museu de Portimão, encerra no dia 18 de maio, sendo esperado um elevado número de participantes de todo o país, os quais deverão optar pelas modalidades digital (máquina/cartão) ou subaquática (equipamento de circuito aberto). Na Corrida Fotográfica, o mais importante certame do género a sul do Tejo, os concorrentes têm a oportunidade de descobrir o espaço geográfico das freguesias de Portimão, Alvor e Mexilhoeira Grande, através de um renovado e atualizado olhar pelos aspetos do seu património cultural e natural, sobre as pessoas, atividades e vivências, ou então registando fotograficamente a fauna e a flora subaquáticas da frente-marítima do Município. Para o efeito, todos os participantes deverão cumprir, entre as 9h e as 20h, os oito temas-surpresa propostos e dinamizados de forma faseada pela equipa do Museu de Portimão, numa iniciativa integrada nas comemorações do seu oitavo aniversário a decorrer entre 17 e 21 de maio. Quanto à modalidade subaquática, destina-se a fotógrafos mergulhadores possuidores de equipamento de circuito aberto e respetiva certificação de mergulho, cujo equipamento fotográfico individual deverá ser devidamente adaptado ou

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indicado para uma utilização subaquática estanque a pelo menos 20 metros, (3 Atmosferas), do tipo digital DSLR ou compacto. Os vencedores receberão material fotográfico nos seguintes valores: o primeiro classificado na modalidade digital receberá 300 euros, o segundo 200 euros e o terceiro 100 euros. A modalidade digital atribuirá ainda o Prémio Jovem, para concorrentes dos 12 aos 18 anos no valor de 300 euros, revertido em curso ou formação na ETIC_Algarve – Escola Técnica de Imagem e Comunicação, na área do design gráfico e da imagem digital. Na modalidade subaquática será atribuído o primeiro prémio no valor de 300 euros, igualmente em material fotográfico. Os trabalhos vencedores e as melhores fotografias de cada tema integrarão a exposição coletiva a ter lugar no Museu de Portimão, no dia 10 de dezembro, no âmbito das Comemorações do Dia da Cidade .

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ATUALIDADE SILVES APOIA ASSOCIAÇÕES LOCAIS COM MAIS DE 300 MIL EUROS

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Câmara Municipal de Silves assinou, dia 26 de abril, vários contratos-programa com 63 associações, clubes e outras entidades do concelho, atribuindo a primeira tranche de um apoio financeiro total de 310 mil e 865,50 euros. Esta ação resulta das candidaturas apresentadas aos diversos programas de apoio da edilidade, nomeadamente ao Programa de Apoio ao Movimento Associativo desportivo (PAMAD), ao Programa de Apoio a Instituições de Âmbito Cultural (PAIAC), ao Programa de Apoio a Instituições de Intervenção Social (PAIIS) e ao Programa de Apoio ao Associativismo Juvenil (PAAJU).

56 mil e 600 euros no âmbito do PAIIS, quatro mil euros no âmbito do PAAJU, 42 mil e 250 euros no âmbito do PAIAC e 208 mil e 015,50 euros ao PAMAD, valores que sofreram um aumento significativo relativamente ao ano transato. A cerimónia contou com a presença de representantes das instituições do concelho e do Executivo Permanente da CMS, que procedeu à assinatura dos referidos contratos e à entrega dos apoios financeiros. Esta iniciativa da autarquia tem como objetivo estimular o associativismo local, apoiando as instituições do concelho no desenvolvimento das suas atividades .

A autarquia concedeu como montantes globais

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ATUALIDADE

CÂMARA DE VILA DO BISPO PATROCINA SURFISTA MARLON LIPKE

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elo segundo ano consecutivo, o surfista Marlon Lipke, atleta do Algarve Surf Clube, vai receber um apoio financeiro de cinco mil euros da Câmara Municipal de Vila do Bispo para o ajudar nas despesas com as provas desportivas em que irá participar no decorrer do ano 2016. Neste âmbito, foi assinado, no dia 27 de abril, um contrato de patrocínio entre a autarquia, que se fez represar pelo seu presidente, Adelino Soares, e o referido Clube, representado pela presidente da Direção, Zara Mata, e pelo secretário da Direção, Sérgio Brandão. O documento onde define os termos e condições em que esse apoio é concedido estipula que o surfista fica obrigado a inserir o

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logótipo do município na sua prancha e no seu sítio da internet, bem como, a fazer referência ao apoio nas ações de comunicação com os media. Do palmarés do atleta fazem parte dois títulos de Campeão da Europa ASP e Pro-Júnior, um 3.° lugar no campeonato ASP Billabong Word Junior, um 1.º lugar no Estoril Pro e um 2.° lugar no Costa da Caparica Pro Liga Moche, entre outras. Em 2015, o atleta classificou-se em 6.° lugar no campeonato Nacional de Surf. Em 2016, o surfista pretende alcançar o título de campeão da europa, classificar-se no top 5 no Circuito Nacional Moche Tour, requalificar-se para o WCT nos próximos dois anos e para o top 100 World Tour Surfers . 76


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ATUALIDADE AVANÇA A REQUALIFICAÇÃO DO HISTÓRICO HOTEL GUADIANA

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município de VRSA, através da empresa municipal VRSA SGU, vai dar início, na primeira semana de maio, à empreitada de reabilitação do emblemático Hotel Guadiana, classificado como imóvel de interesse municipal desde 2010. A obra, já aprovada pelo Tribunal de Contas, tem o valor base de dois milhões de euros e será financiada pela iniciativa Jessica, prevendo-se a conclusão dos trabalhos num prazo de dez meses. A intervenção contempla a renovação exterior e interior do edifício, adequando-o às características de unidade de cinco estrelas, pondo fim ao cenário de degradação deste hotel que é um cartão-de-visita da frente ribeirinha da cidade e uma referência em termos arquitetónicos. “A operação faz parte da estratégia de requalificação do património edificado da cidade e da instalação, no seu Centro Histórico, de unidades hoteleiras de referência, potenciando um turismo de qualidade superior e cultural. Por outro lado, a obra representa o primeiro passo de recuperação da frente ribeirinha de VRSA, para

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onde estão previstos investimentos no valor de 150 milhões de euros”, explica Luís Gomes, presidente da Câmara Municipal de VRSA. Além da reativação do uso original do imóvel, a operação urbanística pretende a manutenção da volumetria original do hotel, possibilitando a instalação de 31 quartos (15 duplos, 3 suítes júnior e 13 quartos individuais) com os padrões de conforto e exigência das marcas internacionais. A requalificação prevê a manutenção da fachada e dos principais elementos decorativos do prédio de estilo afrancesado projetado pelo arquiteto Ernesto Korrodi, cuja construção data-se entre 1918 e 1921. A empreitada engloba ainda a recuperação de um edifício na Ponta da Areia (foz do Rio Guadiana) para instalação da área de beach club. A exploração do hotel irá integrar o edifício da Alfandega - a primeira construção da cidade -, que reservará também espaço para uma unidade museológica. O projeto cumpre, na íntegra, as orientações do Plano de Pormenor de Salvaguarda do Núcleo Pombalino de Vila Real de Santo António, bem como as medidas estabelecidas na Área de Reabilitação Urbana (ARU) do Centro Histórico de VRSA, que foi, aliás, a primeira a ser lançada no país. Em paralelo à recuperação do Hotel Guadiana, é intenção da Câmara Municipal de VRSA transformar o Centro Histórico numa referência em termos turísticos, estando para isso em marcha um ambicioso projeto que pretende converter os antigos imóveis, propriedade da Câmara Municipal de VRSA, num conjunto de unidades de alojamento de charme . 78


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FICHA TÉCNICA DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 5852 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P 8135-157 Almancil Telefone: 919 266 930 Email: algarveinformativo@sapo.pt Site: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina

ESTATUTO EDITORIAL A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética

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profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. 80


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