ALGARVE INFORMATIVO #62

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EC TRAVEL ROTA OMÍADA DESIDÉRIO SILVA ASSOCIAÇÃO IN LOCO CONSERVATÓRIO DE OLHÃO DIA DO MUNICÍPIO DE OLHÃO

QUARTEIRA Foi Rainha dos Santos Populares no Algarve 1

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OPINIÃO Caramba, eles são mesmo bons !!! Daniel Pina - 8

… e que a bola continue a rolar! Paulo Cunha - 32

Ninguém volta para casa Mirian Tavares - 34

Verão a Sul… tantas histórias por descobrir! Dália Paulo - 36

Missão António Costa: Colar Lisboa a Atenas e afastar Dublin Carlos Gouveia Martins - 38

Cozinheiros, Chefs de Cozinha e Restauradores Augusto Lima - 40

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CONTEÚDOS Dia de Olhão - 20

Marchas de Quarteira - 10 Rota Omíada - 64

EC Travel - 28

Associação In Loco - 52

Conservatório de Música de Olhão - 42

Associação Nacional de Turismo - 72 5

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Caramba, eles são mesmo bons !!! Daniel Pina

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sto agora anda de modas e todas as semanas salta uma palavra, um termo, uma expressão para a ribalta, algo dito por uma personalidade, uma figura pública, um governante, que soa bem, que fica no ouvido e, de um momento para o outro, passamos os dias a ouvir toda a gente a dizer a mesma coisa, a utilizar essa palavra, esse termo, essa expressão. Há uns tempos descobriu-se o «empreendedorismo», que passou a constar do vocabulário obrigatório de qualquer governante ou dirigente associativo que se preze. Mais recentemente apareceu o «resiliência», mais difícil de pronunciar e, acredito, muitas pessoas que o aplicam se calhar nem sabem bem o que quer dizer, mas está na moda, portanto, é dizer sem contenção, porque fica bem. De há uns tempos para cá, a malta do turismo descobriu o «experiências», porque não basta ter bons produtos e serviços para vender, é preciso oferecer «experiências» aos turistas. Nas redes sociais, na imprensa diária, nas conversas do dia-a-dia, temos agora a moda do «arrepiante», excelente para se reforçar o impacto de um momento ou acontecimento, de uma imagem, som ou vídeo, para que ninguém fique indiferente. Eu, como não sou de modas e, às vezes, até gosto de ir contra a corrente, sou mais contido na utilização de determinados termos. No entanto, quando há uns dias publiquei um vídeo no Facebook com um excerto do concerto de final de ano letivo do Conservatório de Música de Olhão, no Auditório Municipal de Olhão, não hesitei em descrevêlo como «arrepiante». Não hesitei porque, de facto, fiquei arrepiado, no bom sentido, com a qualidade do que vi e, sobretudo, do que ouvi. Aliás, sempre que revejo o vídeo e ouço o coro e a orquestra do Conservatório de Música de Olhão, fico com os pelos dos braços eriçados. Deve ser o que os gurus do turismo querem dizer quando falam das tais «experiências», das sensações que se infiltram no nosso inconsciente e ali permanecem por muito tempo. E com que belas memórias, com que sentimento de orgulho, com que regozijo devem ter ficado os familiares dos jovens alunos do Conservatório de Música de Olhão que esgotaram por completo a principal sala de espetáculos do concelho de Olhão, e uma das principais de todo o Algarve.

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Uma satisfação e orgulho que se estende, obviamente, a todos os professores daquela escola de ensino artístico, conforme me tinha apercebido uns dias antes quando estive à conversa com o Presidente da Direção Rui Gonçalves e com a Diretora Pedagógica Anabela Silva. Sem falsas modéstias, sem manias de grandiosidade, disseram que os seus alunos eram, realmente, bons, dos melhores que existem em Portugal. Apesar disso, não estava preparado para o que encontrei, uma qualidade tremenda, tanto das dezenas de elementos da orquestra, como das dezenas de membros do coro, uns ainda crianças, outros já adolescentes, demonstrando que o ensino artístico está de excelente saúde em Portugal, apesar de todos os cortes orçamentais e das dificuldades do dia-a-dia. Infelizmente, dos mais de 100 alunos que estiveram em palco naquela noite, apenas alguns conseguirão concretizar o sonho de serem músicos ou coralistas profissionais. A grande maioria deles ficarão pelo caminho, acabarão por escolher um curso tradicional quando for altura de rumarem ao ensino superior. Não por terem menos qualidade ou por serem menos «resilientes» do que os colegas que tentarão a sua sorte numa escola superior de música, mas porque o ensino artístico é bastante dispendioso, pelo valor das propinas e, no caso da música, também pelo elevado custo dos instrumentos. E, na hora da verdade, Portugal não é um país que trata bem os seus músicos. Há poucas orquestras em atividade e algumas até preferem ter músicos estrangeiros nas suas fileiras do que apostar na prata da casa. Espetáculos também são poucos para orquestras ou para formações mais reduzidas e nem todos os jovens estão dispostos a deixar a sua nação à procura de mais oportunidades no estrangeiro. Assim, embora os alunos do Conservatório de Música de Olhão sejam fantásticos, nem todos terão hipótese de fazer o que mais gostam quando atingirem a idade adulta. O que é uma pena porque, caramba, eles são mesmo bons!!! .

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Quarteira voltou a ser a Rainha dos

Santos Populares

no Algarve Em véspera de Santo António, num fim-de-semana prolongado como há alguns anos não tínhamos, o Calçadão de Quarteira recebeu milhares de algarvios e turistas nacionais, no dia 12 de junho, para o arranque das Marchas dos Santos Populares. Ao todo foram sete as artérias e bairros da cidade que desfilaram na Avenida Infante Sagres, no Calçadão Nascente, com muita imaginação, criatividade e bairrismo, elementos que contribuem para o sucesso de um dos principais cartões-de-visita do concelho de Loulé e que sairá novamente à rua nos próximos dias 23 e 28 de junho, desta feita para homenagear o São João e São Pedro. Texto:

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A primeira marcha a desfilar na edição de 2016 dos Santos Populares de Quarteira foi o grupo de 50 crianças da Fundação António Aleixo, que apresentou o tema «Quarteira dos Pequeninos». Perante os sorrisos e a desinibição destes marchantes de palmo e meio, as bancadas repletas de pessoas desdobraram-se em aplausos, neste início de noite calorosa e super animada.

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Com 30 anos de existência, as «Florinhas de Quarteira» trouxeram ao Calçadão Nascente da Avenida dos Descobrimentos «Quarteira no Coração». Este é um dos mais carismáticos grupos de marchas, pela particularidade de ser constituído apenas por meninas e jovens raparigas, que emprestam grande beleza ao colorido dos fatos e cenários.

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Um dos grupos mais inovadores e emblemáticos destas Marchas Populares, a Marcha da Rua da Cabine, interpretou «Quarteira das Varinas Marafadas», com a participação de 65 marchantes. Sendo Quarteira uma terra de pescadores, os pregões das varinas são o chamariz da Lota do peixe e foi este ambiente típico que o grupo recriou.

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Os 60 elementos da Marcha da Rua Vasco da Gama também apresentaram um tema patriótico: «Isto é Portugal». Os marchantes vestiram as cores da bandeira nacional para um desfile cheio de alegria que pretendeu mostrar aos muitos turistas que se encontram em Quarteira por esta altura do ano a riqueza cultural e das nossas gentes.

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A Marcha Poeta Pardal apresentou as «Tradições de Portugal», numa viagem pelo país que foi do coração de filigrana minhoto, à azulejaria portuguesa espalhada pelas nossas cidades, a calçada portuguesa, ao Fado ou ao Corridinho algarvio.

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«Quarteira à Noite» foi o mote do desfile da Rua do Outeiro. Uma merecida homenagem a esta linda cidade que brinda os residentes e visitantes com tantas noites cálidas e luminosas. O grupo fez também uma homenagem a um homem que colaborou durante muitos anos com as Marchas de Quarteira, recentemente falecido: Angel Concepcion.

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Juntou-se também à festa a Marcha da Rua Gago Coutinho, com o tema «Desfolhada Portuguesa». O grupo trouxe uma feliz memória de uma tradição portuguesa que a todos encanta e faz sonhar. Reza a história que, antigamente, as raparigas iam para os campos apanhar as maçarocas do milho, sendo que, depois, as carregavam e as desfolhavam, fazendo uma grande festa nas suas aldeias, tendo em vista a procura do milhorei que lhes permitia beijar a pessoa amada .

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Homenagens e inaugurações marcaram

Dia da Cidade de Olhão Olhão festejou, a 16 de junho, o seu feriado municipal e recordou os 208 anos sobre o levantamento popular que, em 1808, expulsou as tropas de Napoleão Bonaparte desta terra e do Algarve. O programa de festividades prolongou-se por vários dias e incluiu diversas inaugurações, homenagens a personalidades do concelho e funcionários municipais e muita música pela noite dentro, com destaque para o concerto de Quim Barreiros. Texto:

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ecuando até 1808, estava o Algarve ocupado pelas tropas francesas de Napoleão Bonaparte quando, em Olhão, a 16 de junho, deu-se um levantamento popular contra os abusos dos invasores. A revolta culminou com a expulsão dos franceses do lugar de Olhão e, por arrasto, de todo o Algarve, tendo partido, no mês seguinte, a bordo do caíque «Bom Sucesso», 17 homens de Olhão para dar a boa nova à Corte da Colónia, que estava refugiada do outro lado do Atlântico, no Brasil. A tripulação levava uma missiva, extraoficial, na qual estava descrita a audaciosa atitude que os olhanenses tomaram nessa revolta, cuja recompensa se traduziu num Alvará com força de Lei, com que o Príncipe-Regente resolveu distinguir Olhão e os seus habitantes, passando de lugar a Vila e ordenando que «se denomine Vila de Olhão da Restauração». E foi esta história e herança que se começaram a comemorar logo pela manhã do feriado municipal, com o hastear da bandeira nos Paços do Concelho. Seguiu-se, no Largo da Restauração, a 21

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António Miguel Pina com os elementos da direção do Centro Comunitário e Refeitório Social Ana Dias

merecida homenagem aos heróis da Restauração de 1808. Depois, foi hora de perambular a pé pelo centro histórico de Olhão, ou pelo Caminho das Lendas, para se proceder à inauguração de esculturas da olhanense Isa Fernandes nos Largos do Gaibéu e da Fábrica Velha. Após uma breve visita ao novo relvado sintético do Estádio Municipal (obra orçada em sensivelmente 150 mil euros), mais uma inauguração, desta feita do Centro Comunitário e Refeitório Social Ana Dias, este com um custo superior, na ordem dos 650 mil euros, comparticipado pelo Programa PROMAR em 500 mil euros. “Sabemos bem a importância da prática desportiva dos mais novos, quer do ponto de vista da saúde, como da formação pessoal em termos coletivos. E este equipamento social, inserido no Bairro da Armona, ALGARVE INFORMATIVO #62

desempenha um papel fundamental junto das crianças”, referiu António Miguel Pina numa breve pausa do programa. Ao meio dia, o Salão Nobre dos Paços do Concelho acolheu a habitual Sessão Solene Comemorativa do Dia da Cidade, durante a qual a Autarquia atribuiu Medalhas de Mérito Grau Ouro a dois olhanenses, ao jurista António Cabrita e ao jornalista Augusto Madureira. Já na posse da palavra, o presidente da Câmara Municipal lembrou que este concelho é feito de memórias partilhadas, de referências comuns, de património coletivo, de vivências e de conhecimento, antes de colocar os olhos no presente e no futuro. “Temos obrigação de fazer crescer a nossa cidade e concelho, de fazer mais e melhor. Nos meados do século XIX 22


conhecemos uma enorme pujança económica, nomeadamente após a abertura da Alfândega na nossa cidade, que tornou Olhão num dos mais importantes postos aduaneiros do Algarve. A pesca e os produtos regionais marcavam toda a diferença”, recorda António Miguel Pina. Em sequência desse fulgor, foi criada, em 1864, a Capitania do Porto de Olhão e, um ano mais tarde, o Tribunal Judicial de Olhão. A instalação da primeira indústria conserveira na cidade remonta a 1881 e, em 1919, eram já mais de 80 as unidades. “Contudo, o declínio da indústria conserveira e da pesca, fruto de políticas desajustadas da realidade da cidade e da região, trouxe a Olhão um empobrecimento que temos vindo a tentar inverter nos últimos anos. É certo que perdemos muitas embarcações e fábricas de conservas, mas Olhão tem sabido reinventar-se e tem crescido.

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Deixamos de ter vergonha da nossa frente ribeirinha e possuímos uma marginal digna, com dezenas de espaços comerciais e dois jardins, em suma, um local aprazível para receber os nossos visitantes”, destacou o edil olhanense. António Miguel Pina sublinhou a aposta efetuada nas áreas do Desporto e da Educação e lembrou que Olhão é um dos concelhos que mais tem investido em habitação social, com cerca de 800 fogos. “Negociamos com fundos comunitários para construir equipamentos que os olhanenses mereciam ter na sua cidade, como são o caso do Porto de Pesca, das duas Zonas Industriais, do Auditório, das Piscinas, da Biblioteca e dos emblemáticos Mercados de Legumes e Peixe. Aliás, o nosso mercado é um dos maiores da Península Ibérica”, indicou o autarca, considerando que a alma

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Perante um Salão Nobre completamente cheio, o edil falou das consultas e operações de oftalmologia, do aumento do valor dos contratos-programa assinados com os clubes do concelho, da conclusão da cobertura das Piscinas Municipais, do novo relvado sintético do Estádio António Cabrita recebeu a Medalha de Mérito Grau Ouro de Olhão das mãos Municipal, de um novo de António Miguel Pina estádio de futebol em olhanense tem catapultado o concelho Moncarapacho e da conclusão do para um nível de destaque, tanto ambicionado skate park. Mas António nacional, como internacional. Miguel Pina falou também do que se pretende fazer depois da «casa estar arrumada», sempre com uma gestão Muitos sonhos controlada no dia-a-dia. “Está em para concretizar projeto a reabilitação e ampliação da Escola N.º 5, bem como a Escola de 1.º Com vários sonhos já tornados realidade, ciclo de Quelfes e o jardim-de-infância o edil assegura que mais metas há para de Pechão. Iniciamos já as obras de atingir, acrescentando que se conseguiu requalificação do Circuito de reduzir a dívida da autarquia e das Manutenção dos Pinheiros de Marim e empresas municipais em cerca de 10 está projetado para essa zona mais um milhões de euros, “fruto da transparência polidesportivo. Os parques infantis são dos procedimentos e de uma boa relação outra prioridade, devendo ser, até ao com todas as forças partidárias final do ano, alvo de beneficiação e democraticamente eleitas”. “Este tempo melhoramento, para além da aquisição foi fundamental para que pudéssemos de novos equipamentos”, adiantou. efetuar a consolidação financeira da autarquia, sem nunca deixar de proteger Com vários polidesportivos a todos aqueles que mais necessitam, bem receberem intervenções nos próximos como manter os investimentos nas áreas meses, o presidente da Câmara e serviços consideradas indispensáveis, Municipal de Olhão sonha ainda com nomeadamente na ação social, na saúde, mais um campo de futebol de relva na educação e no desporto”, afirmou sintética para o concelho e com o António Miguel Pina Campo de Atletismo de Pechão, garantindo ainda que a ecovia OlhãoALGARVE INFORMATIVO #62

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Faro será também uma realidade. “Na habitação social, verifica-se a necessidade de qualificar grande parte dos fogos, num investimento a rondar os quatro milhões de euros, pelo que a sua gestão passará para uma empresa municipal. Esta medida visa criar novas regras de administração, bem Augusto Madureira com António Miguel Pina e Daniel Santana, presidente da Assembleia Municipal de Olhão como exigir, de uma forma rigorosa, o assumir de Depois do almoço, o programa responsabilidades de quem usufrui dos prosseguiu no Arquivo Municipal fogos”, revelou António Miguel Pina. António Rosa Mendes, com a inauguração da exposição da Rede de O autarca mostrou-se satisfeito pelo Arquivos do Algarve «A Identidade do maior fulgor que se nota no ramo Algarve: Forais, Alvarás e Cartas imobiliário em Olhão, seja para a aquisição Régias». Uma outra mostra foi de casas ou apartamentos, seja para a inaugurada da parte da tarde, no criação de mais camas hoteleiras, mas o espaço multiusos da Biblioteca interior conhece igualmente maior Municipal José Mariano Gago, da procura no turismo rural ou de habitação. responsabilidade dos alunos do Centro E indicou ainda que a gestão das frentes de Pintores Olhanenses. Às 22h, no ribeirinhas de Olhão e da Fuzeta são Jardim Pescador Olhanense, aconteceu estratégicas para o desenvolvimento do o ponto alto do dia, com a atuação de concelho. “Temos a garantia da Quim Barreiros. As Festas da Cidade Docapesca de que a Marina e Porto de continuaram na sexta-feira, 17 de Recreio de Olhão entrará em concurso junho, também no Jardim Pescador até final de agosto, permitindo a Olhanense, com a apresentação da requalificação das suas infraestruturas, peça «Mê Menine, e a Tu Mãe!?», pela bem como o aumento do número de companhia olhanense A Gorda. embarcações. Mas também queremos Finalmente, no sábado, dia 18 de junho, criar o Porto de Abrigo na Fuzeta, foi a vez do espetáculo «Olhão ao aumentar os portos de embarcações, Vivo», com o DJ Digui, o projeto Bandas deslocalizar o parque de campismo e da Casa, a Drum School Band, M90 e a implementar outras medidas para tornar essa frente ribeirinha numa zona de Escola de Música da Fuseta . excelência”, apontou António Miguel Pina. 25

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EC Travel continua a crescer e prepara mais um «Algarve Travel Awards» Está a aproximar-se um dos momentos mais marcantes do Verão algarvio, a gala «Algarve Travel Awards by EC Travel», que vai homenagear, no dia 8 de julho, os parceiros que têm contribuído para o sucesso desta empresa. E, depois de bater todos os recordes no anterior exercício, os números provisórios do primeiro semestre de 2016 apontam para mais um ano de excelência, para satisfação de Eliseu Correia e sua equipa. Texto:

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epois de um ano em que se bateram todos os recordes de faturação da EC Travel, o primeiro semestre de 2016 está a correr acima das expetativas de Eliseu Correia e augura novo registo francamente positivo, embora o empresário tenha perfeita consciência de que valores provisórios são isso mesmo, provisórios, e sempre de interpretação relativa. “O nosso objetivo era manter o mesmo desempenho de 2015 mas, de acordo com os dados disponíveis, iremos possivelmente fechar o primeiro semestre com uma faturação 30 por cento superior em relação a igual período do ano transato. Claro que terminar o ano com essa marca é impossível, mas penso que poderemos atingir um crescimento global na ordem dos 10 por cento, ou seja, a faturar entre 26 a 27 milhões de euros”, anuncia. Crescimento que não cai do céu e que nem sequer se pode justificar apenas pelo azar que tem batido à porta dos principais destinos concorrentes do Algarve, pois a EC Travel tem andado numa roda-viva nestes meses, entre feiras internacionais e aberturas de novas delegações e postos de atendimento ao público. “Não nos deslumbramos, nem facilitamos e, quanto mais a empresa cresce, maior é a responsabilidade para todos aqueles que tornam isto possível, tanto os de casa, como os de fora que fazem parte da «família» da EC Travel. A superação faz parte da manutenção do êxito e temos que melhorar diariamente para que, no mínimo, consigamos ficar com a qualidade que temos atualmente”, frisa Eliseu Correia, lembrando que o turismo é

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um negócio extremamente sensível a fatores externos. Nesse cenário, a EC Travel continua a investir bastante na qualidade dos produtos e serviços que disponibiliza aos seus clientes e no relacionamento com os seus parceiros, o que motivará a abertura de mais um escritório este ano. “Poderemos manter esta toada de crescimento de volume, mas estou mais preocupado em melhorar os nossos processos internos e externos e em dar mais qualidade e fatores de diferenciação aos nossos produtos. O objetivo é estarmos no topo nas próximas décadas e, se Deus quiser, muito para além da minha existência terrena”, indica o entrevistado, confirmando que o melhor desempenho se deve, em grande parte, ao cimentar da posição da empresa nos mercados do Reino Unido e Alemanha. “Todas as dificuldades que são sobejamente conhecidas no Egito, Turquia e outros países da Bacia do Mediterrâneo favorecem um destino chamado Portugal e, claro, o Algarve, mas eu acredito essencialmente no trabalho realizado no quotidiano. Assim sendo, procuramos a nossa sorte sobretudo nos mercados onde consideramos que podemos crescer mais e onde temos o grosso da nossa operação montada, ao invés de andarmos a tentar descobrir outros mercados alternativos”. A aposta no Reino Unido e na Alemanha justifica-se também por serem mercados bastante longe de estarem saturados e onde há larga ALGARVE INFORMATIVO #62


margem de expansão, pelo que Eliseu Correia não é um defensor fanático da diversificação sem conta, peso e medida. “Prefiro melhorar e maximizar o que já se tem em casa do que andar sempre à procura de coisas novas, quando o que temos ainda não está devidamente aproveitado”, justifica, ao mesmo tempo que alerta que se deve fazer tudo o possível para conquistar os turistas que chegam ao Algarve «empurrados» pelos problemas de insegurança que acontecem nos países que seriam as suas primeiras escolhas. “Muito do crescimento registado no Algarve deve-se a clientes que não são nossos, que foram desviados dos seus destinos habituais. Portanto, cabe-nos a nós todos, empresas e entidades oficiais, criar condições para que eles sejam de tal forma bem recebidos e fiquem tão impressionados com aquilo que temos para lhes oferecer, que regressem a Portugal mesmo depois da situação normalizar nos outros países”, defende. E isto porque Eliseu Correia não duvida que alguns dos concorrentes que agora passam por maiores dificuldades, voltem ao seu fulgor tradicional e recuperem as suas posições cimeiras. “Estou convencido que, em 2017, não teremos todas estas facilidades, já para não falar dos problemas que se avizinham com o «Brexit». Basta pensar que, no Aeroporto Internacional de Faro, 55 por cento do trafego vem do Reino Unido”, avisa, reconhecendo que os recentes atentados ocorridos em França também desviaram muitos turistas para Portugal. “Não há que olhar apenas para o «sol e praia», há que lembrar os famosos short-breaks ou city-breaks, pessoas que vão passar um ALGARVE INFORMATIVO #62

fim-de-semana a uma capital para fazer compras ou ver monumentos e museus, e Lisboa e Porto provavelmente terão captado alguns visitantes tradicionais de Paris”.

Uma gala para reunir a família Um termo que se tornou bastante utilizado pelas entidades oficiais nos últimos tempos é o «experiência», ou seja, não basta ter produtos e serviços de elevada qualidade, há que proporcionar momentos inesquecíveis aos turistas, despoletar sensações, criar sentimentos, que permaneçam nas suas memórias muito depois de já terem regressado aos seus países de origem. Uma realidade a que Eliseu Correia está atento há bastante tempo e, munido do seu habitual pragmatismo, é rápido a considerar cada ameaça como uma oportunidade. “Nós vivemos de terceiros, não temos nada nosso, pelo que o sucesso da EC Travel depende muito da qualidade e da capacidade dos nossos parceiros para inovarem. As ameaças são mais do que muitas e os hotéis e afins, por exemplo, têm que criar mais-valias que os distingam claramente dos outros produtos que são oferecidos. Cada vez mais aquela famosa frase «porque eu e não o vizinho do lado?» deve ser uma das grandes preocupações de quem tem um produto/serviço para comercializar”, afirma. Entretanto, quase a terminar o primeiro semestre, o segundo arranca logo com a quinta edição do «Algarve

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Os Bubba Brothers serão uma das atrações da gala dos V Algarve Travel Awards by EC Travel

Travel Awards by EC Travel», que se vai realizar, no dia 8 de julho, no Grande Real Santa Eulália Resort & Hotel SPA, em Albufeira, sob o tema «Space Odissey». “Vamos manter as mesmas categorias e, a nível da animação, teremos o concerto do Jorge Palma, com a sua banda completa, seguido, no Le Club, do Frankie Chavez e dos Bubba Brothers”, adianta Eliseu Correia, confirmando que a nata do turismo nacional estará reunida neste empreendimento de luxo. “A gala é um modo de agradecermos a todos os parceiros, num momento e local onde a «família» da EC Travel possa conviver em conjunto. Outro objetivo é dar a conhecer e premiar os melhores em cada área, no âmbito do Algarve. Todavia, o alcance da gala já extravasou as fronteiras da região e contaremos com a presença de muitas outras pessoas do resto do país, entre entidades oficiais e imprensa especializada”, revela.

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A grande novidade da V Algarve Travel Awards by EC Travel será a transmissão em direto da gala para o canal 126912 do MEO e isto por uma razão muito simples, justifica Eliseu Correia: “Se eu pudesse convidar toda a gente que merece, a gala teria que ser feita no Estádio do Algarve. A única forma que encontrei de, pelo menos, partilhar aquilo que se passa com as pessoas que não estarão presentes, é passar a gala na televisão”, explica, acrescentando ainda que este será o último ano em que a gala terá lugar no Verão. “No futuro, vamos «casar» o aniversário da EC Travel com a Algarve Travel Awards, no dia 30 de novembro. Quando à noite de 8 de julho em concreto, o melhor é mesmo não faltar, porque só nessa altura em que serão conhecidos os nomeados e os vencedores de cada categoria”, finaliza o fundador e líder da EC Travel . ALGARVE INFORMATIVO #62


… e que a bola continue a rolar! Paulo Cunha

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utrora destemidos e corajosos, saíamos em frágeis embarcações e conquistávamos novos mundos ao mundo, regressando mais ricos espiritual, intelectual e pecuniariamente. Um espírito empreendedor, lutador e laborioso que granjeou proveito, fama e respeito além-fronteiras. Fruto de vicissitudes várias, o proveito esvaiu-se e a fama e o respeito quedaram-se por ruas onde a amargura e a melancolia criaram um emaranhado de caminhos que não nos levaram muito longe. Sob o domínio e o jugo financeiro de países com economias emergentes, resta-nos mostrar o nosso brio e raça lusitana através de competições onde possamos entrar em jogo - idealmente - de igual para igual. Pegando no sentido literal do termo, é através de um jogo que é rei em Portugal que, correndo, driblando e rematando, trazemos ao presente guerras e conquistas antigas. Através do futebol os portugueses veemse e sentem-se representados por uma seleção de bravos guerreiros. Não interessa se daí poucos proveitos diretos para a nação advêm, pois o que está em jogo é o orgulho e a autoestima coletiva de um país. Pesados e devidamente quantificados, serão esses ganhos indiretos que colocarão todo um país a sorrir, rir, cantar, brincar, pular e festejar… e uma nação recompensada, alegre e feliz é necessariamente uma nação mais produtiva. O desejo é tanto e tão grande que durante as competições de futebol onde Portugal está representado, o país entra em “piloto automático” e metamorfoseia-se numa enorme nação a apoiar e a gostar de si própria. Adversários clubísticos desavindos dão as mãos e juntos cantam a «Portuguesa»; espaços públicos

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e comerciais antes repletos de gente transformam-se em sítios apetecíveis para frequentar enquanto os jogos decorrem; portugueses que nunca hastearam a bandeira no dia de Portugal descerram bandeiras e bandeirinhas portuguesas em todas as janelas e varandins das suas casas; mães e avós que na altura dos jogos dos clubes vão para a cozinha ver a telenovela ou outro programa qualquer, quando “toca” à Seleção de Portugal lá se mantêm (nada quedas e pouco mudas) junto dos homens da casa, torcendo (e torcendo-se) pelos destinos de todos nós; festas inesperadas e improvisadas surgem após as vitórias e colocam gente que nunca se falou a abraçar-se e festejar como se fossem amigos de toda uma vida. Enfim, uma bola que rola e que a todos enrola! Mal comparado, esta dedicação, atração, frenesim e bulício que a representação portuguesa nos campeonatos de futebol nos traz, quase parece um enorme antidepressivo popular, onde uma bola a rolar opera o “milagre” de nos colocar a sonhar e a acreditar que afinal somos capazes. Fico muitas vezes a matutar no que poderíamos ser enquanto país, se dedicássemos aos assuntos estruturantes e prioritários para a nação metade do tempo que dedicamos a um desporto que, de quando em quando, nos faz lembrar a estirpe de que somos feitos. Um adormecimento em que teimamos em viver e que a “pancada” de uma bola de vez em quando faz acordar. No facebook o nosso slogan para o Europeu de Futebol 2016 é “Não somos 11, somos 11 milhões”. Por mim poderia ser “11 milhões de portugueses – a minha Seleção”… Sempre! .

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Ninguém volta para casa Mirian Tavares

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"Quando penso desse jeito, nesta cidade daqui, (...), você nem sabe como me dá uma vontade doida, doida de voltar. Mas não vou voltar (...). Você não sabe, mas acontece assim quando você sai de uma cidadezinha que já deixou de ser sua e vai morar noutra cidade, que ainda não começou a ser sua. Você sempre fica meio tonto quando pensa que não quer ficar, e que também não quer - ou não pode - voltar". Caio Fernando Abreu

alava-se sobre as cegonhas que estão espalhadas por Faro, sobretudo na marina. Constroem ninhos nos lugares mais difíceis - uma proeza de fazer inveja a muito engenheiro ou arquiteto. Quem vive cá, há tantos anos quanto eu, já incorporou na paisagem essas aves enormes que volteiam pelo céu e alimentam os filhotes com grande alarido produzido pelo bater dos bicos. Ontem, num jantar de um Encontro Internacional, dois professores estrangeiros comentavam, admirados, o facto de existirem tantas cegonhas. Perguntavam-nos: sabem quantas há? Umas 10? E nós respondemos que não sabíamos, mas que devia haver muitas mais. E ficam cá o ano todo? Sim, já não migram. Abancaram na cidade e dela fizeram a sua casa. Quando penso nas aves migratórias, como as cegonhas, lembro-me de mim mesma, que fui nómada parte da vida, entre cidades, entre estados, entre países e que há uns anos abanquei em Faro. Ainda há pessoas que me perguntam: e não voltas para casa? Outro dia falava com uma amiga sobre este sempiterno desejo de voltar, ou sobre essa inquietação que a minha condição, de estrangeira, provoca nalgumas pessoas. E ela dizia: depois de algum tempo, já não se volta para casa, se vai. E é verdade, pois quanto mais tempo passamos longe, mais a nossa casa é o lugar onde estamos e aquele que ficou para trás é uma memória, que como todas as memórias, pode ser falseada.

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Tendemos a pensar no distante, muitas vezes, como algo doce e aconchegante. Como algo que nos falta porque já não o temos aqui e agora. Mas ao voltarmos podemos perceber que o que nos falta ficou, outra vez, para trás. Esse é o problema das aves migratórias, que andam de um lado para o outro, enquanto o seu lar de origem sofre transformações. Quando voltam, já não é a mesma casa. Talvez sua casa seja a viagem, o estar entre, o caminho. As cegonhas, que vivem nas torres altas de Faro, que o digam. Devem ter refletido que já não valia a pena voltar. Pensaram talvez que sequer valia a pena ir e ficaram. Foram arrumando seus ninhos, aqui e acolá e tornaram-se paisagem. Quando saí da casa dos meus pais, e fui viver a dois dias de distância, escrevi mais de 40 cartas num mês. Tudo estava tão longe e eu só, naquela nova cidade, ficava à janela esperando o tempo passar. Meu irmão já me chamava Carolina, como na música “o tempo passou na janela e só Carolina não viu”. Mas eu via e aos poucos as cartas foram rareando pois estava integrada no novo lugar que se havia convertido em meu. De qualquer forma, ainda escrevi muitas cartas. E hoje estou sempre em contacto com muitos dos que fui deixando pelos lugares por onde passei. Mas não penso mais em voltar para casa, mesmo que nunca me esqueça de lá ir. Como as cegonhas, vou ficando, por hora estou confortável em fazer parte da paisagem .

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Verão a Sul… tantas histórias por descobrir! Dália Paulo

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stes dias grandes são normalmente dias felizes! No verão há um sentimento de esperança que se renova, com o merecido período de descanso. Muitos rumam a Sul para desfrutar da nossa bela costa. Nada contra. Mas aventurem-se pelo barrocal e pelo interior. Aventurem-se pela nossa história, pelas nossas gentes, pela nossa herança comum. Partilho convosco o desafio de conhecerem e de se maravilharem com o território através de três rotas que podem ser percorridas no Algarve: a Umayyad, Rota Omíada do Algarve; o Descubriter, Rota Europeia dos Descobrimentos e a Rede de Judiarias de Portugal. Escolho-as porque, através delas, podemos perceber que o Algarve sempre foi um território de confluência de culturas, de pluralidade, de tolerância. Cristãos, muçulmanos e judeus aqui conviveram e construíram cidades em conjunto; isso é visível nos registos arqueológicos e nos documentos conservados no Arquivo Municipal de Loulé, que nos mostram uma vila governada por estas três culturas/religiões. E, uma última boa razão, porque são quase desconhecidas e são tão ricas em histórias sobre este território que precisam de ser divulgadas para se tornarem um bom motivo/pretexto de visita ao Algarve todo o ano. A proposta de viagem começa com a conquista do território da diocese visigótica de Ossonoba (atual região do Algarve) pelo califado Omíada de Damasco, em 713 (século VIII). Nesta rota estão cartografados 14 sítios: Aljezur, Vila do Bispo, Monchique, Alvor, Silves, Vilamoura, São Brás de Alportel, Estoi, Faro, Tavira, Cacela Velha, Vila Real de Santo António, Martinlongo e Alcoutim. Um percurso que permitirá conhecer as nossas gentes, a diversidade geográfica do Algarve, descobrir paisagens magníficas e saborear a riquíssima gastronomia da região. Metemo-nos no balão do tempo e rumamos à época dos Descobrimentos, período fundamental para o Algarve. Percorrer a rota Descubriter é encontrarmo-nos com uma das principais figuras da época dos Descobrimentos: o Infante D. Henrique; na sua “casa” em Sagres podemos recordar os versos de Sophia de Mello Breyner Andresen: “Ali vimos a veemência do visível/ O aparecer total

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exposto inteiro/ E aquilo que nem sequer ousávamos sonhar/ Era o verdadeiro” ou na “sua” Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, em Vila do Bispo, onde podem visitar a exposição “Henrique, o Infante que mudou o mundo”, comissariada pelo Prof. João Paulo Oliveira e Costa. Retomo o que escrevi no catálogo desta exposição: “Quanto ao desejo é que cada um de vós que visita a exposição seja um eterno sonhador e hoje, como no tempo do Infante, agarre o sonho e mude o (seu) mundo”. Que este seja um desafio para quem se aventurar por estas rotas. Continuamos no mesmo período histórico – época moderna – e rumamos a conhecer as principais comunidades judaicas que estavam instaladas no interior dos cascos urbanos e, aqui, o convite é para percorrer os centros históricos de Lagos, Silves, Faro e Tavira; ou de outras localidades que tiveram comunidades judaicas: Alcoutim, Alvor, Loulé, Portimão e Castro Marim. Nestas cidades há oportunidade de percorrer as suas antigas ruas, parar em pormenores surpreendentes, descansar numa esplanada ou visitar monumentos e museus que contam as histórias deste território. Elegemos apenas três possibilidades de rotas; há tantas outras que permitem novas descobertas, outras leituras, outros diálogos. Se estivermos atentos o Algarve tem muito para nos contar! Saibamos olhá-lo e ouvi-lo. Um Algarve que precisa de reforçar a sua Identidade e fazer uma aposta forte neste território (re)criando, a cada dia, um novo Algarve, aliando identidade e criação, poesia e criatividade, inovação e tradição. Já Miguel Torga, em dois poemas dedicados ao Algarve, sintetizava tudo isto: “Terra que Portugal sonhou e sonha ainda,/ (…)/ Um mar que é outro mar,/ Um sol que é outro sol,/ Gente que é outra gente” ou noutro poema “Ainda a mesma nação,/ Mas com outros sinais. (…) De que todo o além/ Começa neste cais.” Estes versos são a síntese perfeita do potencial (ainda) não totalmente aproveitado deste Algarve visionário, excêntrico e utópico! Boas visitas e boas férias! .

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Missão António Costa: Colar Lisboa a Atenas e afastar Dublin Carlos Gouveia Martins

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estes meses de mandato do governo da coligação das Esquerdas em Portugal, há cada vez mais um conjunto de números, visíveis, bem demonstrativos do quão pouco animador podem vir a ser os futuros meses de sobrevivência da geringonça no poder. Se podemos verificar que, pela primeira vez desde 2013, o investimento no país parou, vemos também agora, em junho de 2016, que, enquanto na Europa cresce o seu índice de criação de empregos, Portugal consegue ter um Primeiro-Ministro a passar ao lado da destruição de empregos que mês após mês os números e estatísticas demonstram no nosso país. A má evolução do mercado de trabalho só não é vista por PS, BE e PCP, pois milhares de portugueses já o voltaram a ver bem de perto. E as finanças públicas? Bem, aumentou novamente a dívida pública, o défice duplicou e cifrou-se este mês em 3.3%. Animador? Só para o “otimista crónico e ligeiramente irritante” do nosso Primeiro-Ministro. Mas o “otimismo” de António Costa não fica por aqui porque, seguramente, está otimista com o facto de as exportações terem estagnado, do preocupante abaixamento no ranking de competitividade nacional, do decréscimo da confiança dos consumidores, do não investimento estrangeiro em Portugal e, acima de tudo, pelos indicadores de atividade económica estarem em queda há seis meses consecutivos… Não é ligeiramente, é totalmente irritante a cegueira de Costa contra os portugueses! Igualmente irritante, e nada otimista, é a falta de coerência de quem perdeu eleições e mesmo assim lidera o governo português. António Costa referiu há dias, em Paris, que o país precisa de «consensos alargados para os desafios futuros» e que «terá de dar tempo ao PSD». Ora, recordemos quem, infelizmente, governa Portugal que disse à Antena 1, a 18 de Setembro de 2015, sem conhecer qualquer proposta ou draft de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, o seguinte: «É evidente que não viabilizaremos, nem há

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acordo possível entre o PS e a coligação de direita», assegurando que se a coligação PSD/CDS vencesse (como venceu!) as eleições de 4 de outubro, o PS iria votar contra o Orçamento do Estado que fosse apresentado no Parlamento… Consensos? António Costa não é um homem de confiança, é um tático que procura acordos pontuais que lhe garantam a sobrevivência política do momento e não o futuro de quem lhe conferiu a responsabilidade de governar. Nunca assumirá compromissos com nada nem ninguém, exceto com o do poder de si próprio: Catarina Martins, Jerónimo de Sousa, CGTP e FENPROF são os consensos de hoje de Costa. Amanhã, poderá não ser nenhum. Mas podemos medir os compromissos do PrimeiroMinistro também por ações, não só pelos maus números que o seu curto mandato já apresenta, como pela noção de “palavra dada” que o seu passado lhe conhece. Quem se esquece do Secretário-Geral do PS que negou os homólogos do PASOK na hora da derrota e abraçou os então corajosos (achará o mesmo hoje?) Tsipras e Varoufakis do Syriza no momento da sua vitória nas Legislativas Gregas, porque o populismo falou mais alto que a história socialista? Bom, acredito que ao confirmarem-se as sondagens que dão o PSOE em Espanha como terceira força mais votada atrás do PODEMOS, iremos certamente ver António Costa a abraçar Pablo Iglésias enquanto lhe chama de Pedro Sanchez… No somatório, celebrará sempre porque também achará que no país vizinho ganha quem ficar em segundo mais votado. Livre-se Mariano Rajoy desta triste sina de vencer sem poder ganhar. Pela divergência política mas, acima de tudo, pela convergência de maus fatores socioeconómicos, Portugal está cada vez mais próximo da Grécia e mais distante do caso da Irlanda. Caberá ao PSD não se comprometer com quem desgraça o país! .

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Cozinheiros, Chefs de Cozinha e Restauradores Augusto Lima

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á é lícito verbalizar que o cliente escolhe este ou aquele restaurante pelo facto de nele trabalhar este ou aquele Chef, mas o mais acertado será dizer que ele frequenta este ou aquele espaço pelo serviço prestado e pela qualidade da comida apresentada, independentemente de conhecer ou não o responsável pela cozinha. Esta diferença é conseguida através das diretrizes definidas pelo profissional no momento da admissão, onde devem ficar bem determinadas as suas exigências e a parceria a ser feita entre este e o restaurador. Claro que isto implica ser muito mais que um trabalhador. Tem que se ter uma atitude de dono do negócio, ser-se parceiro, não mero empregado. De igual forma o dono não deve ser apenas um empregador e a relação entre o seu Chef deve ir muito mais além na perspetiva do negócio e da continuidade do mesmo. Até há bem pouco tempo, apenas o comercial/rececionista (numa empresa de serviços), detinha o exclusivo (para além do dono) de ser o cartão-de-visita da empresa. Hoje, alguns, não muitos, Chefs e Chefes de Sala são vendedores natos, capazes de promover o seu trabalho, a sua arte e a empresa onde desenvolvem o seu trabalho, mostrando que apenas com atitude se conseguem ações geniais de Marketing. E quando falo em “vender” – não me refiro obviamente à comida em si, mas o conceito por detrás da honestidade necessária. Existem diferenças óbvias entre Cozinheiros e Chefs de Cozinha se bem que também existem coisas comuns entre os dois. Não existem escolas de Chefs nem um programa de televisão por si só fabrica Chefs. Antes de mais somos todos (os que professam a cozinha), cozinheiros, artesãos na arte de cozinhar, operários especializados na confeção de alimentos. E aqui podemos verificar duas diferenças: ou são artesãos na verdadeira aceção da palavra ou são artistas artesãos, capazes de inventar ou reinventar o seu trabalho. Evidente é também o facto de poderem ser ou não

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profissionais qualificados, ou seja, de reunirem, ou não, as condições mínimas exigidas para poderem exercer a função. Já o Chef de cozinha, para além de ter que deter todas estas qualificações, terá ainda que poder estar habilitado a gerir uma cozinha (equipa, espaço, utensílios, maquinaria, rentabilidade, aquisições, receção, acondicionamento e higiene); a gerir uma equipa, retirando dela o seu melhor, aprendendo e claro, num Chefe completo, todo o serviço confinante à sala (louça, asseio, serviço de sala, apresentação e transporte, vinhos, ambiente, carta, etc.) e ainda poder (através de tática e carisma) fazer a sua promoção e a do espaço onde exercita a sua atividade profissional. Se ser Chefe significa Chefiar, então as responsabilidades, normas e exemplos devem dele advir. Só assim se poderá executar o papel de Chefia: com assertividade, com vontade, carisma, saber. Como em qualquer ofício, este profissional deverá exercer uma ação ativa, uma constante procura na aquisição de conhecimentos, que lhe permita marcar a diferença entre os demais e poder assim conquistar o seu espaço. Conselhos, hão-de ser sempre precisos, mas as regras serão sempre sinónimos de adjetivos: Honestidade, persistência, higiene, profissionalismo, carisma, trabalho, dedicação, acreditar. E o que tem isto tudo a haver com o título da crónica? Pois bem! Como muitos Chefes de cozinha ainda não têm a possibilidade de poder ter o seu próprio restaurante, eis que entram em cena os proprietários. Existem os Restauradores e os donos de espaços de restauração. Os primeiros detêm os requisitos comuns a todo e qualquer profissional, seja em que área for. Os segundos são detentores de um título que deveriam honrar e praticar. E aqui entra a vontade dos profissionais. Chega de inconformismo, do deixa andar, da abstenção e da indiferença. Existem autoridades competentes, meios de informação, associações e toda uma opinião pública e profissional. Vamos, mãos à obra! Pela qualidade da nossa profissão, pela nossa cozinha .

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CONSERVATÓRIO DE MÚSICA DE OLHÃO Uma referência no ensino artístico

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O encerrar de mais um ano letivo do Conservatório de Música de Olhão foi assinalado com um arrepiante espetáculo no Auditório Municipal de Olhão, no dia 15 de junho. Uma noite de lotação esgotada e com mais de uma centena de alunos em palco, ilustrando de forma exemplar o talento que se vai descobrindo, moldando e aprimorando no dia-a-dia na Cidade da Restauração, em várias classes de instrumentos e diversos escalões etários. É caso para dizer: “Caramba, eles são mesmo bons!”. Texto:

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azáfama era tremenda nas instalações do Conservatório de Música de Olhão, com os derradeiros ensaios para o concerto de encerramento de ano letivo que teria lugar no Auditório Municipal de Olhão, no dia 15 de junho, véspera de Dia da Cidade. A liderar as «tropas» encontrava-se o presidente do Conselho Administrativo Rui Gonçalves e a Diretora Pedagógica Anabela Silva e percebia-se perfeitamente o frenesim que se sentia no ar, já que estariam em palco à volta de 120 pessoas, entre alunos e alguns professores. O programa era uma surpresa, normalmente preenchido por músicas curtas, ligeiras, ainda que, neste espetáculo em concreto, se notasse uma maior presença da música clássica e erudita.

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Era o culminar do trabalho desenvolvido ao longo do ano, um género de best-of, onde não participariam a totalidade dos cerca de 170 alunos que o Conservatório de Música de Olhão possui atualmente, que vão desde a idade pré-escolar até aos chamados seniores, com o mais idoso a ter 80 anos. Quanto a instrumentos, são várias as alternativas disponíveis nesta entidade, desde o violino, viola de arco e violoncelo ao piano, guitarra, acordeão, clarinete e canto, entre outros. “Fazendo todo o conservatório, que equivale ao oitavo grau, em paralelo com o 12.º, os alunos estão habilitados para concorrer ao Ensino Superior na área da música”, indica Rui Gonçalves, ao passo que Anabela Silva revela que 44


há alunos que pretendem seguir uma carreira profissional neste campo, enquanto outros procuram apenas desenvolver as suas aptidões culturais e artísticas. “Os cursos oficiais são constituídos pelas disciplinas tituladas pelo Ministério da Educação, nos cursos livres, podem escolher a formação musical e instrumento que mais desejam”, distingue a Diretora Pedagógica. “Num curso livre não é obrigatório cumprir-se um currículo, um adulto pode vir simplesmente aprender a tocar um bocadinho de guitarra ou violino. Será uma aprendizagem com algumas limitações, por não incluir as variantes que reforçam o saber para se conseguir avançar mais depressa”, acrescenta Rui Gonçalves. Neste sentido, as aulas acontecem num horário que seja possível conciliar com o ensino tradicional, sobretudo a partir das

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14h/15h, prolongando-se até às 20h. E como muita confusão tem havido entre o que é ensino público e ensino privado, Rui Gonçalves esclarece que o Conservatório de Música de Olhão é um Estabelecimento de Ensino Particular e Cooperativo, criada em 2004, com Autorização Definitiva de Funcionamento validada pelo Ministério da Educação e com cursos oficiais nas disciplinas de Acordeão, Violino, Violeta, Piano, Clarinete, Guitarra e Violoncelo, nos cursos Básico e Secundário. “O Estado delega o ensino artístico nestas instituições, com os quais faz contratospatrocínio, que são diferentes dos contratos de associação de que se tem falado tanto nos últimos tempos. No Algarve existem oito conservatórios privados, divididos entre Olhão, Faro, Lagos, Loulé, Portimão, Vila Real de Santo António,

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Albufeira e Tavira e há procura para todos”, assegura Rui Gonçalves, com Anabela Silva a apontar que, para o Conservatório de Música de Olhão, chegam alunos de Tavira, São Brás de Alportel, Loulé e Faro, para além, claro, de Olhão, sendo a qualidade da formação o principal fator de escolha. “Não queremos dizer que somos melhores do que os outros, mas somos uma excelente escola, talvez pela filosofia de proximidade que temos com os alunos, os pais e a comunidade”, sublinha a dupla. Pais que são bastante ativos na educação artística dos seus filhos, seja a levá-los às aulas, seja a assistir às diversas atuações ao vivo que acontecem ao longo do ano letivo,

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com a Igreja Matriz de Olhão a encher sempre por completo, o mesmo sucedendo agora com o Auditório Municipal de Olhão, cuja lotação de mais de 400 lugares esgotou em poucas horas. “E há vários outros eventos para os quais os nossos alunos são solicitados e isso é mais um incentivo para se dedicarem à música. Tentamos colocá-los num meio artístico real, não apenas dar aulas dentro de uma sala aqui no conservatório”, frisa Anabela Silva. “Isto não pode ser encarado como um passatempo ou como uma atividade extracurricular. A música não é o karaté ou o ballet, que se pratica apenas durante a aula. Aqui, aprende-se durante a aula e tem

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que se praticar imenso fora dela. Eles têm que trabalhar muito em casa porque não se trata apenas de um instrumento, são várias disciplinas que exigem bastante tempo”, enfatiza Rui Gonçalves. Esta elevada exigência é perfeitamente assumida pelos alunos que frequentam os cursos oficiais, enquanto aqueles que encaram a música de uma forma mais lúdica preferem inscrever-se nos cursos livres, que não consomem tanto tempo. “Esses evoluem à velocidade que podem, consoante o trabalho que fazem em casa. Não estão sob a alçada de um currículo, não há exames e provas com datas definidas. Nos cursos oficiais há, de facto, alguns alunos que chegam ao conservatório com uma

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ideia errada do que isto é, mas rapidamente entram na rotina, na dinâmica das classes”, observa Rui Gonçalves.

Só os excelentes vingam na música Mercê da qualidade do ensino e dos resultados obtidos pelo Conservatório de Música de Olhão, já se tornou habitual existirem listas de espera em determinadas disciplinas, casos do canto e do piano, e nem todos os pretendentes passam pelas provas de acesso, as audições, que são obrigatórias nos cursos oficiais. Depois, é questão de arregaçar as mangas, dedicação, esforço, trabalho, sempre com a certeza de que nem

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todos conseguirão singrar neste difícil meio profissional. “Não criamos falsas expetativas nos nossos alunos e eles também sabem bem o estado em que se encontra Portugal. Há poucas escolas superiores de música, o mesmo acontece com orquestras, portanto, têm que ser mesmo muito bons, caso contrário, vão ser mais um desempregado com um curso superior”, refere o presidente do Conselho Administrativo. Cientes destas dificuldades, os bons alunos vão prosseguindo a sua formação a nível superior, contudo, os médios optam por não seguir a veia artística, escolhem outro curso na hora de rumar à universidade. “No entanto, o potencial para ser músico permanece na sua essência e, ao mesmo tempo, estamos a formar um público que gosta de música, que compra bilhetes para assistir a ALGARVE INFORMATIVO #62

concertos e, se há procura para estes produtos culturais, também haverá necessidade para se constituírem mais orquestras”, analisa Rui Gonçalves. E, quase sem se pensar, entrou-se no campo financeiro, no eterno equilíbrio entre receitas e despesas, com Anabela Silva a confirmar que a gestão de um conservatório deve ser bastante contida e controlada, para que tudo bata certo no final do mês. “Temos muitas ideias e projetos, mas não podemos entrar em loucuras, não há dinheiro para os executar. Gostaríamos de abrir novos cursos, mas isso obriga à aquisição de novos instrumentos, que são caríssimos, para além da manutenção do próprio professor”, esclarece Rui Gonçalves. Professores que são relativamente fáceis de encontrar, apesar do 48


elevado número de conservatórios existentes no Algarve, precisamente porque, à falta de um horário completo numa escola, eles dão aulas em várias em simultâneo. “Todos os dias recebemos currículos do país inteiro, do Minho até ao Alentejo. O problema é reunir o número suficiente de candidatos, de alunos, para compensar a abertura de um novo curso e contratar um professor que não é aqui da zona. Se tivermos apenas quatro alunos, só podemos pagar essas quatro horas, e isso não dá sequer para pagar o bilhete de comboio”, explica o entrevistado, confessando que gerir esta matéria é deveras complicado em alguns casos. Não é de admirar, assim, que quem está à frente de um conservatório de música tenha pouco tempo para 49

descansar, para tirar férias, porque o ano letivo arranca em setembro e, antes disso, há que contar com as provas de acesso dos novos alunos e preparar os horários. “Normalmente, conseguimos tirar entre cinco a 10 dias durante o mês de agosto, mas não de forma muito sossegada e tem que estar cá sempre um no Conservatório”, admite, com um sorriso, Rui Gonçalves. Prova disso é que vão acontecer algumas ações de sensibilização, durante julho, para cativar alunos para outros instrumentos, nomeadamente o violoncelo, o trompete e o fagote. “Aqui há outro problema a afetar as escolhas dos alunos, que é o custo dos instrumentos. É possível arranjar um violino por 100 euros para se começar a estudar, mas um ALGARVE INFORMATIVO #62


fagote, no mínimo, custa 2.500 euros, não é brincadeira. Também não se arranja um acordeão por menos de dois mil euros, e será um modelo básico”, comenta Rui Gonçalves. Ou seja, embora se diga frequentemente que o ensino artístico não está reservado às elites, às classes mais abonadas financeiramente, a verdade é que o custo de alguns instrumentos não está ao alcance de qualquer jovem. “Ou as escolas têm e emprestam aos alunos, o que não é o mais indicado, ou os miúdos herdam os instrumentos de familiares”, repara o diretor. Múltiplas dificuldades que os alunos mais dedicados do Conservatório de Música de Olhão têm ultrapassado e com resultados que enchem de orgulho os seus professores. De facto, ainda há

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pouco tempo, alunos de piano foram à Casa da Música do Porto, outros vão fazer um estágio na Orquestra Ensamble, outros ainda vão ter formação adicional no estrangeiro. “Um entrou para primeiro violino da Orquestra Ensamble, em 100 que participaram do país inteiro. A nossa escola está numa posição muito boa no ranking nacional e apresentamos, em 2015, uma Projeto Educativo para três anos ao Ministério da Educação, que foi prontamente aceite. É verdade que o Estado está a apertar cada vez mais, mas o que foi assinado está a ser cumprido na íntegra”, conclui Rui Gonçalves .

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“Burocracia é inimiga do investimento no interior”, lamenta Nelson Dias Foram assinados, no dia 7 de junho, os Protocolos de Articulação Funcional entre a Autoridade de Gestão do CRESC Algarve 2020 e nove Grupos de Ação Local para a gestão do Desenvolvimento Local de Base Comunitária, no âmbito dos fundos comunitários Portugal 2020, o que significa que, até 2020, o microempreendedorismo no Algarve vai ter acesso a 20 milhões de euros de incentivos provenientes de diversos fundos europeus. Dinheiro bem-vindo, sem dúvida, mas que, prática, só deverá ser injetado na economia local no próximo ano, uma vez que só agora vão abrir os concursos para apresentação de candidaturas, que serão criteriosamente analisadas antes de serem ou não aprovadas. Foi para saber mais sobre todo este processo que o Algarve Informativo esteve à conversa com Nelson Dias, presidente da Associação In Loco, um dos Grupos de Ação Local que vai gerir estes fundos. Texto: ALGARVE INFORMATIVO #62

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auditório da CCDR Algarve foi o local escolhido para a assinatura, no dia 7 de junho, dos Protocolos de Articulação Funcional entre a Autoridade de Gestão do CRESC Algarve 2020 e os nove Grupos de Ação Local (GAL), para a gestão do Desenvolvimento Local de Base Comunitária (DLBC), no âmbito dos fundos comunitários Portugal 2020. No fundo, o microempreendedorismo no Algarve vai ter acesso, até 2020, a um total de 20 milhões de euros de incentivos provenientes de diversos fundos europeus. Desses protocolos, quatro são DLBC Urbanos: Faro, gerido pela Fundação António Silva Leal e dotado com um milhão de euros; Lagos e Silves, ambos geridos pela Associação Vicentina, e com 970 mil e 890 mil euros, respetivamente;

e ainda Tavira, gerido pela Fundação Irene Rolo, com 945 mil euros). Três são DLBC Rurais: Interior do Algarve Central, gerido pela In Loco, dotado com um milhão e 250 mil euros; Baixo Guadiana, pela Associação Terras do Baixo Guadiana, com um milhão e 75 mil euros; e Adere 2020, pela Vicentina, com um milhão 130 mil euros. E dois são DLBC Costeiros: Sotavento, gerido pelo Município de Olhão, e dotado de 600 mil euros, e Barlavento, gerido pela Agência de Desenvolvimento do Barlavento, também com 600 mil euros. Em São Brás de Alportel está sedeado um desses GAL, a Associação In Loco, presidida por Nelson Dias há cerca de nove anos. A entidade nasceu, porém, em Faro, em 1988, por iniciativa de um grupo de professores da Escola Superior de Educação. “Perceberam

Espaço Rosa Beatriz, em São Brás de Alportel

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Nelson Dias com técnicos da Associação In Loco

que havia um território do Algarve que escapava à maior parte das pessoas, que tinha um conjunto de recursos e necessidades, e desenharam, na altura, o Projeto Radial (Rede de Apoio ao Desenvolvimento Integrado do Algarve), mais vocacionado para trabalhar com crianças”, recorda Nelson Dias, adiantando que a In Loco foi constituída posteriormente para gerir pacotes financeiros provenientes da União Europeia, mudando-se para São Brás de Alportel já no início do século XXI. Hoje, a In Loco intervém em três territórios: o Interior do Algarve Central, que abrange 18 freguesias de sete municípios (Tavira, Olhão, São Brás, Faro, Loulé, Albufeira e Silves); um segundo território que abarca todo o país, apoiando municípios interessados em

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implementar processos de democracia participativa; um terceiro território, além-fronteiras, com projetos de cooperação e prestações de serviços em vários países de língua portuguesa. “Somos a entidade que, a nível nacional, mais trabalho tem tido no campo dos orçamentos participativos (OP). Começamos com isso há mais de uma década, apoiamos a implementação dos primeiros OP em Portugal e continuamos a ajudar vários municípios que nos contratam para auxiliar na conceção da metodologia do OP, na formação das equipas nas autarquias, no desenvolvimento dos processos e na sua avaliação”, indica Nelson Dias. Orçamentos Participativos que, de há uns anos para cá, parece que ficaram ALGARVE INFORMATIVO #62


na moda, mas o dirigente admite que o processo não foi fácil de arrancar e que nem todas as experiências produziram os resultados desejados. “Foi um caminho temporalmente curto, mas difícil, porque a maior parte das autarquias não queria abrir mão da decisão. Consultavam os munícipes, ouviam as suas opiniões, mas depois eram os eleitos que decidiam o que fazer com as propostas das pessoas. Só após 2008/2009 é que surgem os primeiros OP que nós chamamos deliberativos, em que os cidadãos decidem, efetivamente, o que fazer com parte do dinheiro”, recorda o líder da In Loco, que é a entidade responsável pela gestão do Observatório Nacional dos Orçamentos Participativos. “Desde 2002 identificamos mais de 180 experiências e, no final de 2015, estavam a funcionar cerca de 83, maioritariamente promovidos por municípios, mas alguns também por uniões de freguesias e juntas de freguesias. Segundo os dados que apuramos ao longo destes anos, os cidadãos portugueses envolvidos nestes OP terão decidido mais de 70 milhões de euros”. Olhando para o Algarve, as experiências ativas não são muitas, alguns municípios tentaram, mas desistiram, sendo Loulé, Lagoa, Lagos e Albufeira os mais expressivos na atualidade. E, para além dos valores absolutos afetos a cada OP, Nelson Dias sublinha que é importante perceber qual o seu peso no orçamento total de cada autarquia. “Os OP decidem, em média, entre menos de 1 a 7/8 por cento do investimento total”, observa.

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Maior atenção dada ao mundo rural Mudando a conversa para o microempreendedorismo, designadamente para a gestão de fundos comunitários ou nacionais, a In Loco está focada no desenvolvimento rural do interior do Algarve e o intuito foi, desde logo, captar fundos que não poderiam ser administrados por indivíduos ou empresas de forma isolada. Mas a In Loco queria igualmente chamar a atenção de outras entidades para que olhassem para o mundo rural do Algarve, quando se pensava apenas no litoral e no desenvolvimento turístico baseado nos produtos «Sol e Mar». “Há um conjunto de recursos do «outro» Algarve que temos que continuar a potenciar e desde 1991 que estamos a gerir fundos de apoio ao microempreendedorismo. É um termo novo, mas vem na sequência da «Abordagem Leader», que é a ligação entre ações de desenvolvimento da economia rural que criem emprego e potenciem a riqueza que o território tem”, esclarece Nelson Dias. Quanto à nova fase que agora vai arrancar, o presidente da direção da Associação In Loco lamenta que se tenham perdido dois anos de execução devido aos atrasos do governo em definir a atribuição destes fundos. “O cidadão isolado não pode concorrer a estes fundos se não houver uma entidade na região que faça a gestão desse dinheiro, porque a União Europeia estipulou que teriam que ser 56


criados Grupos de Ação Local para esse fim e que apresentassem uma estratégia de desenvolvimento. Sendo aprovada essa estratégia, recebemos uma subvenção global e, depois, recebemos, analisamos e financiamos candidaturas”, elucida o Carlos Santos Beauty Center, em Loulé entrevistado. “A União Europeia assume que está muito distante e que não tem conhecimento do território, às vezes nem o Estado Português tem, por isso, opta por financiar diretamente estes GAL, que têm que ter, na sua composição, pelo menos 51 por cento de membros do setor não público. Hoje isto é comum mas, no início Casa de Campo da Quinta da Rosa Amarela, em Boliqueime dos anos 90, foi uma podem ficar no papel, têm que gerar rutura com o anterior modo de gestão dos fundos comunitários”, salienta. resultados para o território”, sublinha Nelson Dias, garantindo que, desta forma, não há utilização indevida Grupos de Ação Local que recebem os destes fundos. promotores dos projetos, discutem com eles o que pretendem criar de raiz ou Isto não significa que todos os melhorar, fazem um estudo de projetos aprovados tenham o sucesso viabilidade das ideias, tudo antes das candidaturas serem formalizadas. Estas esperado, pois há variáveis que não se são posteriormente avaliadas de acordo podem controlar na totalidade, já para com parâmetros bastante rigorosos e, não falar do quadro de crise que Portugal tem atravessado na última sendo aprovadas, há todo o acompanhamento da execução dos década. No entanto, também há pessoas que chegam à In Loco sem projetos no terreno. “Não é só entregar nenhuma ideia em concreta e que o dinheiro às pessoas. As ideias não 57

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Loja 11 Gourmet, em Loulé

pretendem apenas saber que fundos é que estão disponíveis. “Nesses casos é fácil perceber que o projeto não vai funcionar. Há outras pessoas que têm muito empenho e vontade em avançar com um projeto e precisam realmente de apoio. A nossa proximidade e conhecimento das pessoas e do território ajudam a identificar onde é que podem estar os elementos de sucesso”, entende o dirigente. Nelson Dias aproveita para lembrar que o mundo rural não se limita à agricultura e pecuária, existindo uma enorme diversidade de atividades económicas que podem ser dinamizadas nesse espaço geográfico, inclusive empresas ligadas às tecnologias de ponta. Neste quadro de apoio, a Associação In Loco vai ALGARVE INFORMATIVO #62

gerir apoios provenientes de três fundos diferentes: FEADER – Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural, FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional e o FSE – Fundo Social Europeu. “Cada um vai financiar tipologias de atividade diferentes e o grosso do dinheiro vem do FEADER e está alocado à agricultura e atividades relacionadas com ela, como a transformação, comercialização e promoção de produtos locais, o turismo rural e outras. Dentro do FEDER e do FSE, que será um milhão e 250 mil euros, vamos poder financiar outras atividades do mundo rural que nada tenham a ver com a agricultura e a pecuária”, aponta o entrevistado.

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Quadro legal pode ser um inferno Se o mundo rural não é apenas agricultura e pecuária, também não são apenas os mais seniores que se dedicam a este ramo, com os mais idosos a procurarem apoios sobretudo para melhorar atividades já existentes, enquanto as novas gerações avançam com projetos mais distintos, das novas tecnologias, co-working, agências de viagens e produtos locais inovadores. “Este território tem tido a capacidade de diversificar a tipologia dos investidores, apesar de existirem sempre riscos associados e de não ser fácil investir no interior, quando toda a atividade económica está mais vocacionada para o litoral. Dai ser importante equacionar o desenvolvimento rural na sua multiplicidade de atividades, e não apenas na agricultura, o que empobreceria a nossa intervenção”, defende Nelson Dias. Verbas estão a caminho, as estruturas de apoio estão no terreno, os empresários também, mas persiste o problema do enquadramento legal, reconhece o presidente da In Loco, com um encolher de ombros. “Quando o quadro legal é um problema, a solução é mudá-lo, mas Portugal nem sempre tem conseguido fazer isso. E, no mundo rural, o licenciamento de atividades é bastante complicado, porque há uma reserva natural, ou uma restrição no PDM ou no Plano de Ordenamento do Território. É um processo moroso e complexo que, por vezes, torna a vida 59

dos investidores num inferno”, desabafa. “As pessoas podem ter boa vontade, uma ideia e dinheiro disponível, mas depois esbarram com legislação e, muitas vezes, os próprios técnicos das autarquias responsáveis pelo licenciamento estão inseguros e exigem ao promotor uma série de garantias e documentos. Há coisas que nem sequer fazem sentido, é um quebra-cabeças e muitas pessoas acabam por desistir. A burocracia que é colocada em cima da mesa é inimiga do investimento no interior”, reforça. Nelson Dias dá o exemplo dos apoios concedidos à implantação de diversas queijarias no interior do Algarve e que, anos depois, os seus proprietários recorriam à In Loco para os ajudar a encerrar o negócio, por não aguentaram a carga burocrática que lhes era imposta. “Infelizmente, achamos que isso não vai melhorar, mas estamos sempre empenhados em trabalhar com os serviços de licenciamento das autarquias para não se perder dinheiro. No último quadro comunitário, o Algarve esteve a poucos dias de perder mais de um milhão de euros de apoios por dificuldades de licenciamento”, recorda, embora compreenda a posição dos técnicos e dos autarcas, até porque já houve situações de perda de mandato por problemas ligados ao licenciamento. Conforme referido no início da conversa, são 20 milhões de euros que estão a caminho do Algarve para apoiar o microempreendedorismo, mas há ainda um caminho a percorrer ALGARVE INFORMATIVO #62


antes do dinheiro chegar, efetivamente, às mãos dos investidores. “O Estado burocratizou em excesso este processo e não foi capaz de seguir uma orientação da União Europeia para a gestão de plurifundos. O resultado é que andamos dois anos para fazer uma Fonte Nova e Lavadouro em São Brás de Alportel candidatura e conseguir a sua aprovação e, agora, queremos executar o mais depressa possível este dinheiro, para termos argumentos junto dos gestores do FEADER, que é centralizado em Lisboa, e do FEDER e FSE, que é da alçada da CCDR Algarve, para demonstrar que este território precisa de mais fundos, porque há Unidade Sócio-Ocupacional para Adolescentes da Asmal, em Loulé investidores disponíveis”, frisa Nelson Dias. depois, estivemos dois anos sem injetar dinheiro neste território, portanto, queremos aplicar Deste modo, agora é tempo de lançar rapidamente a maior parte destes os avisos de abertura de candidaturas, apoios, no âmbito dos pequenos permitir às pessoas que apresentem as investimentos agrícolas e da suas ideias, analisá-las no menor tempo transformação e comercialização de possível, para que sejam aprovados pela produtos locais, que terão uma gestão nacional e as verbas sejam dotação entre os 800 a 900 mil euros libertadas no início de 2017, o que obriga a estrutura da Associação In Loco a já no primeiro concurso” . trabalhar a todo o gás, como se costuma dizer. “Quando a crise se instalou, o setor económico privado retraiu-se, ALGARVE INFORMATIVO #62

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Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, Alexandra Gonçalves, Diretora Regional de Cultura do Algarve e Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve

Poder Local, Cultura e Turismo unem-se para dinamizar Rota Omíada A Câmara Municipal de São Brás de Alportel, a Região de Turismo do Algarve e a Direção Regional de Cultura do Algarve assinaram, na manhã de 14 de junho, a Carta de Compromisso do Projeto Umaayya, com o intuito de dinamizar a Rota Omíada neste concelho do interior algarvio. A importância desta rota foi recentemente reconhecido pelo Conselho da Europa e poderá constituir um forte atrativo para os adeptos do turismo cultural, mais uma forma de atenuar a sazonalidade da região algarvia. Texto: ALGARVE INFORMATIVO #62

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Rota Omíada acaba de ser reconhecida com o selo do Conselho da Europa como uma das rotas culturais de interesse europeu e faz parte do projeto internacional «Umayyad» que, por sua vez, é cofinanciado pelo Programa ENPI – European Neighbourhood and Partnership Instrument, na vertente Cross Border Cooperation in the Mediterranean, que visa incentivar a cooperação multilateral entre a Europa e os outros países situados na costa do Mediterrâneo. Liderado pela Fundação El Legado Andalusí, tem como parceiros, em Portugal, a Região de Turismo do Algarve e a Direção Regional de Cultura do Algarve, a que se juntam mais 12 entidades oriundas de outros seis países da Bacia do Mediterrâneo, mais

concretamente a Espanha, Itália, Tunísia, Egito, Líbano e Jordânia. Esta rota é um itinerário turísticocultural que pretende dar a conhecer a profunda relação humana, cultural, artística e científica que se estabeleceu entre o Oriente e o Ocidente, bem como a transmissão do legado grego latino à Europa através do al-Andalus. Ora, o Algarve é o território português com diacronia muçulmana mais prolongada, aliás, o topónimo Algarve precede do termo árabe al-Gharb, que significa Ocidente. O limite geográfico desta região corresponde ao espaço que pertenceu à diocese provincial visigótica no século VI e, posteriormente, à «Kura», província islâmica de Ossónoba, nos séculos VIII a XIII.

Vista de São Brás de Alportel

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Vista de Tavira com o seu Rio Gilão

A diocese visigótica de Ossónoba foi conquistada por volta do ano de 713 para o califado Omíada de Damasco pelas tropas de ‘Abd al-‘Aziz, filho de Musa, governador de Ifriqiya, atual Tunísia. O domínio omíada no Mediterrâneo e no Algarve correspondeu a um importante período de prosperidade económica e cultural que influenciou de forma determinante a cultura portuguesa. Do seu legado destacam-se, na região, os vestígios de muralhas urbanas e de husun, conjuntos palestinos fortificados, propriedade de grupos clãnicos que dominavam um território e os seus recursos naturais. Mas assinalam-se igualmente um conjunto de lugares de memória que, pela ausência de vestígios físicos, se revelam como património marcadamente imaterial, para além de testemunhos arqueológicos expostos em

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museus ou polos museológicos de toda a região. A Rota Omíada no Algarve constitui, por isso, uma viagem pelos caminhos da região que integra 14 localidades – Vila Real de Santo António, Cacela Velha, Tavira, Alcoutim, Martinlongo, São Brás de Alportel, Estói, Faro, Vilamoura, Silves, Monchique, Aljezur, Alvor e Vila do Bispo – na qual o viajante desfrutará da enorme diversidade paisagística de um território que inclui três áreas geomorfológicas distintas: a serra, o barrocal e o litoral. No caso concreto de São Brás de Alportel, é facilmente visível o qualificado centro histórico e um forte dinamismo em rotas culturais, que a autarquia já vem promovendo através dos «Passeios de Natureza». Um legado que, quando imaterial, é

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representado por nomes de lugares, usos, costumes, tradições e lendas; quando material, é constituído por produções agrícolas e testemunhos de antigos sistemas de regadio, tais como as noras, tanques, caminhos de rega, a par das manifestações de tradição gastronómica, como o uso do mel, do açúcar, das amêndoas, dos figos, de bolos fritos e do forno.

Turismo cultural é essencial para o futuro do Algarve Como se compreende facilmente, a Rota Omíada é um trabalho em progresso que funcionará tanto melhor quanto maior o número de parcerias sejam estabelecidas, através da assinatura de Cartas de Compromisso, um esforço conjunto em que está envolvida a Região de Turismo do Algarve e a Direção Regional de

Cultura do Algarve. “O califado não deixou no Algarve o mesmo legado que noutros países, mas a história muitas vezes não se mede pelo volume dos edifícios ou pela sua grandiosidade, mas sim por aquilo que formos capazes de fazer, ao longo dos anos, para a consolidar”, frisou Desidério Silva, voltando a enfatizar a importância de tornar o Algarve sustentável ao longo de todo o ano, e não apenas nos seis meses de época média/alta. “Para isso, temos que gerar diversidade e qualidade na oferta e o turismo cultural é claramente um dos produtos em que devemos apostar mais”, reforçou o presidente do Turismo do Algarve. Património arquitetónico, cultura, gastronomia, vinhos, caminhadas, passeios de bicicleta, de tudo isso falou Desidério Silva, todos eles fulcrais para

Centro Histórico de Vila Real de Santo António

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Vista da cidade de Silves e do seu castelo

dinamizar as economias locais, ainda mais em territórios de baixa densidade. “As pessoas buscam emoções e experiências e estas rotas, traçados e percursos são uma boa oferta para satisfazer esses anseios”, finalizou o Presidente da Região de Turismo do Algarve, antes de passar a palavra a Alexandra Gonçalves, Diretora Regional da Cultura do Algarve, que prontamente enalteceu o trabalho conjunto que tem sido realizado com os municípios, as associações e as empresas de animação turística em todo este processo. “Um dos objetivos principais deste projeto é a distribuição dos fluxos turísticos no território e, no Algarve, há uma concentração, inegável e difícil de contrariar, no litoral, onde se encontra a maior parte da oferta hoteleira. Por isso, assinamos a primeira Carta de ALGARVE INFORMATIVO #62

Compromisso em Alcoutim, a segunda em São Brás de Alportel, a terceira será em Monchique, todos concelhos do interior do Algarve”, destacou a responsável. Alexandra Gonçalves lembrou, entretanto, que o perfil do turista tem vindo a sofrer alterações nos últimos anos, procurando, realmente, experiências que tenham a ver com os locais que visitam e com a sua cultura. “A história que nos afasta é também aquela que nos une e olhamos muitas vezes para os momentos menos positivos, esquecendo-nos das nossas heranças comuns. Há que falar mais desta dinastia omíada. A gramática árabe, a ciência, a historiografia, a arquitetura, foram criadas durante 68


este período, foi, de facto, uma nova civilização”, salientou, indicando que os omíadas trouxeram para o Algarve um novo desenho do espaço urbano. “A valorização de um Algarve Interior passa muito pela incorporação da cultura nas abordagens do turismo, em particular na atividade empresarial. Há a ideia Desidério Silva, Alexandra Gonçalves, Marlene Guerreiro e Vítor Guerreiro errada de que a cultura pontificam a gastronomia, as lendas e não pode ser comercializável, mas há histórias, a toponímia e a forma como aspetos que o devem ser, sob pena de se trabalha a agricultura. “O Algarve é se perderem até no tempo. A cultura é mais do que sol e praia, o interior tem um elemento essencial da atração e imenso para dar e São Brás de diferenciação dos lugares”, alerta. Alportel é disso bom exemplo. Contudo, se os turistas não vierem cá, A finalizar as intervenções antes da não experimentarem e não saírem assinatura da Carta de Compromisso, daqui com boas recordações, de nada Vítor Guerreiro sublinhou que este ato é serve essa riqueza. Mas temos uma uma oportunidade para o concelho de população que sabe receber, que tem São Brás de Alportel integrar uma rede orgulho na sua terra e que contamina internacional que envolve sete países e os visitantes com o seu entusiasmo”, que potencializa o turismo e a economia apontou o edil são-brasense, dos locais de uma forma sustentável. reconhecendo que a natureza foi “Não estamos a criar nada de novo, mas bastante generosa com este concelho. sim a preservar, estudar melhor e dar a “Quem vive no Algarve tem uma conhecer o nosso valiosíssimo grande sorte, nós somos muito património. Somos o único concelho do privilegiados e queremos continuar a Algarve que não faz fronteira, nem com tornar São Brás de Alportel uma terra o mar, nem com o Alentejo, estamos no sustentável, com futuro e onde as ponto central da região”, indicou o presidente da Câmara Municipal. pessoas se sintam felizes” . Vítor Guerreiro falou do vasto património material deste concelho, desde a Calçadinha às capelas, escadarias e chaminés, e do imaterial, onde 69

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Desidério Silva é o novo presidente da Associação Nacional de Turismo Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve, tomou posse, no dia 17 de junho, como presidente da Associação Nacional de Turismo, em cerimónia que teve lugar no Grande Auditório da Universidade do Algarve. No organismo estão representadas diversas entidades e autarquias e o seu principal intuito é coordenar esforços e concentrar estratégias para maximizar o trabalho de cada região de turismo e o seu contributo para a economia nacional. Texto:

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Fotografia:

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Grande Auditório da Universidade do Algarve, nas Gambelas, acolheu a cerimónia de tomada de posse dos novos órgãos sociais da Associação Nacional de Turismo, no dia 17 de junho, que passa a ser presidida por Desidério Silva durante o triénio 20162018, sucedendo assim a Pedro Machado, do Turismo do Centro. A ANT é uma associação, sem fins lucrativos, constituída em novembro de 2013 pelas Entidades Regionais de Turismo do Algarve, Alentejo, Centro de Portugal, Porto e Norte de Portugal e pela Direção Regional de Turismo da Madeira, tendo, desde então, se juntado a ela outras entidades oficiais e particulares. No seu discurso, Desidério Silva reconheceu estarmos na presença de uma associação jovem na sua existência, mas madura nas ambições e objetivos, e chamou prontamente a atenção para os enormes desafios que o turismo nacional tem pela frente. “Desenganem-se aqueles que, encantados pelos últimos resultados da atividade turística, acham que não temos nada com que nos preocupar e que o futuro está assegurado. Se há lição a retirar do passado recente é que o futuro se constrói todos os dias”, alertou o presidente da Região de Turismo do Algarve, embora não se considera pessimista, nem deseje retirar mérito ao atual desempenho do setor. “Os fatores conjunturais internacionais são reais e influenciam os resultados, mas estes também se 73

devem ao empenho e dedicação dos profissionais de turismo, às decisões acertadas ao nível estratégico e a um trabalho de fundo em que todos temos participado e do qual todos nos devemos orgulhar”, frisa. Embora o turismo nacional atravesse um ciclo positivo, Desidério Silva entende que é necessário continuar a reforçar a qualidade da oferta e a criar vantagens competitivas, de modo a fidelizar quem nos visita. “A ANT está disposta a, de uma forma serena e transparente, procurar caminhos, imbuída de um espírito de missão e de colaboração de quem, por mérito próprio, deve ser chamado aos debates e discussões, sempre em busca de soluções que visem valorizar os territórios e os seus intervenientes”, afirmou, lembrando que esta é a única associação que representa, efetivamente, todo o território nacional, e com a missão de ser uma plataforma de concertação, coesão e diálogo entre público e privado, na definição de estratégias e políticas de turismo. Desidério Silva lembrou que as Regiões de Turismo são interlocutores por excelência no relacionamento com as entidades e empresas locais, contudo, têm a sua missão dificultada por entraves de diversas naturezas e pelos sucessivos cortes dos seus orçamentos. “É necessário intervir ao nível da agilização dos procedimentos, de ALGARVE INFORMATIVO #62


Ana Mendes Godinho, Secretária de Estado do Turismo

forma a sermos competitivos em relação a outros mercados que não enfrentam estes problemas. O esforço feito por estas entidades parece ser, às vezes, inversamente proporcional à consideração e reconhecimento que lhes é atribuído. Tudo isto é um grande contrassenso, quando se devia capitalizar o conhecimento de quem está junto dos diversos atores e de quem trabalha na estruturação do produto”, critica o novo líder da ANT. Aproveitando a presença de Ana Mendes Godinho, Secretária de Estado do Turismo, Desidério Silva reforçou que é imperativo reduzir as assimetrias existentes entre as várias regiões e, inclusive, dentro de cada região. “Territórios com maior dinâmica turística devem servir de alavanca para ALGARVE INFORMATIVO #62

outros com potencial, mas que ainda não conseguem atingir um patamar superior de atividade”, indicou, apelando igualmente à adoção de medidas que agilizem os procedimentos e diminuam os custos de contexto, para permitir um maior retorno dos investimentos privados. “A ANT está a caminhar para a sua maturidade e deve assumir claramente um papel interventivo em toda e qualquer matéria passível de influenciar a atividade turística nacional. Temos propostas concretas que incidem sobre: definição clara e inequívoca das competências e atribuições das Entidades Regionais de Turismo; modelos de promoção e contratualização; regime de alojamento local; plano estratégico nacional para o setor que envolva o 74


público e o privado; políticas de empregabilidade, qualificação e formação profissional; regimes de acesso ao financiamento para promover o investimento; legislação laboral e políticas de emprego”, destacou o presidente da direção. A terminar a cerimónia, a Secretária de Estado do Turismo mostrou-se agradada por assistir a tanta convergência em torno deste importante setor de atividade, um dos motores da economia nacional. “O Turismo é, neste momento, a nossa principal exportação, representa 15,3 por cento do total, bem como 8,2 por cento do emprego. E isto resulta do trabalho e do forte investimento, público e privado, que aconteceu, concertadamente, nos últimos anos, no sentido de construir destinos cada vez mais apelativos. Os números são muito positivos e continuamos com elevadas expetativas em relação a 2016”, sublinhou Ana Mendes Godinho, antevendo mais um ano de recorde. “Estamos a conseguir responder a grande parte dos desafios que temos pela frente”. Isto não significa que se possa descansar, pois persistem várias assimetrias a 75

Luís Araujo, presidente do Turismo de Portugal, André Jordan e Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve e da ANT

António Eusébio e Fernando Anastácio, deputados do PS/Algarve na Assembleia da República

Jorge Botelho, presidente da AMAL, Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro e Cristóvão Norte, deputado do PSD/Algarve

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Luís Araujo e Ana Mendes Godinho

Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo e Joaquim Guerreiro, diretor do Teatro Municipal de Faro

nível regional, cerca de 90 por cento da oferta e da procura continua a concentrar-se no litoral, para além de se manterem os elevados índices de sazonalidade. “Há muito para fazer e não nos podemos ficar pelos discursos. Temos estado a planear, a identificar prioridades, a definir objetivos, a escolher caminhos, a intervir e agir rapidamente quando é preciso, a falar e a articular, a promover as acessibilidades aéreas, a criar condições para a capitalização e financiamento das empresas, a diversificar produtos”, salientou a governante, apontando que, nesta missão, o papel das Entidades Regionais de Turismo é cada vez mais essencial. “Têm que ser entidades fortes, ativas, pró-ativas e verdadeiras gestoras dos destinos turísticos. Quando à Associação Nacional de Turismo, penso que o grande desafio é tentar garantir uma articulação nacional das Entidades Regionais de Turismo, para que o país seja um. Há que ter uma visão global de Portugal e é fundamental existir um trabalho em rede entre regiões”, concluiu a Secretária de Estado do Turismo .

Carlos Augusto Santos e José Casimiro

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FICHA TÉCNICA DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 5852 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P 8135-157 Almancil Telefone: 919 266 930 Email: algarveinformativo@sapo.pt Site: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina

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