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Nuno Curro e Bruno Guerreiro representam barmans portugueses em Singapura
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Baixa Street Fest | Filhos da Época Balnear Vítor Neto analisa Brexit | Ginásio Clube Naval de Faro Uma mercearia gourmet sobre rodas ALGARVE INFORMATIVO #64
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“Programações Musicais” a pedido Paulo Cunha - 36
A maravilha da internet Paulo Bernardo- 38
O renascimento da AMAL José Graça - 40
Antibióptico – ou o aprendizado da liberdade Mirian Tavares - 42
Ama(ra)ntíssimo, este Rodrigo Paulo Pires - 44
Será que há Restaurantes a mais e Cozinheiros a menos? Augusto Lima - 46
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Barmans - 62 Nadadores Salvadores - 28
Classy Portugal - 72 Vítor Neto - 8
Ginásio Clube Naval de Faro - 48
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Daniel Pina
Sempre connosco Tiago Daniel Rodrigues Pina 30/06/2008 - 13/07/2008
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“Brexit é um problema de todo o país, não só do Algarve”, avisa Vítor Neto São os assuntos do momento: a prestação da seleção nacional no Campeonato da Europa que se disputa em França e o «Brexit», o referendo que ditou a vontade do Reino Unido sair da União Europeia. E como as atenções da maioria dos portugueses estão concentradas no futebol, ainda poucos terão pensado com a responsabilidade e seriedade que se exige sobre os efeitos da saída da segunda maior economia da União Europeia. Esse não é o caso, porém, de Vítor Neto, presidente do NERA, antigo Secretário de Estado do Turismo e um dos maiores especialistas em turismo e economia de Portugal, que avisa prontamente que o «Brexit» não terá apenas influência sobre o Algarve, mas sobre toda a economia nacional. Texto:
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s resultados do «Brexit» apanharam meio mundo de surpresa, pessoas que foram dormir na noite de quinta-feira com a plena convicção de que o Reino Unido tinha votado pela permanência na União Europeia. O outro meio mundo provavelmente regozijou pela manhã quando os resultados oficiais disseram que, afinal, os britânicos tinham votado, na sua maioria, ainda que por uma ligeira diferença, no sentido da saída do Reino Unido da União Europeia. Por isso, na manhã de 24 de junho, não se falava de mais nada mas, verdade seja dita, muito poucos tinham um verdadeiro entendimento do que será a Europa pós-Brexit e de como reagirá a economia nacional e o turismo no Algarve a esse novo cenário. Alguns dias depois, na sede do NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve, Vítor Neto admitia não estar surpreendido com este referendo, por entender que estava anunciado há vários anos. Quanto ao resultado, deixou-o preocupado, mas também não o surpreendeu. “Este resultado demonstra que as dúvidas e as dificuldades da União Europeia, globalmente, e as dúvidas, perplexidades e opinião crítica sobre a presença de cada país na União Europeia, são muito mais profundas do que aquilo que se podia imaginar. É interessante verificar que os dirigentes políticos dos países da União Europeia estão todos
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admiradíssimos com esta posição, só que cada um deles, dentro do seu país, tem uma realidade, que não é igual em todos, mas que é preocupante, de dúvidas, perplexidades, de frustrações em relação ao processo da União Europeia”, considera o presidente do NERA, adiantando que este resultado vem obrigar os governantes a refletir sobre o que tem sido a União Europeia, aquilo que ela é atualmente e o que desejamos que venha a ser no futuro. Outra questão que se coloca, segundo Vítor Neto, é como é que um país como Portugal, pequeno, numa posição geográfica periférica, com uma economia com dificuldades de crescimento e desenvolvimento, com problemas estruturais de natureza económica e financeira, pode seguir em frente se acontecer uma crise grave na União Europeia. “É isso que me preocupa a mim, como empresário e cidadão e a resposta é bastante clara: devemos dar o nosso contributo para que a União Europeia consiga resolver os seus problemas e se consolide, de modo a que o processo de integração avance e para que nós consigamos ter uma solução positiva para os nossos problemas; mas, ao mesmo tempo, temos que pensar também na hipótese das coisas não correrem bem”, alerta o dirigente associativo.
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O caminho faz-se, assim, por duas linhas, aconselha Vítor Neto: “Por um lado, com lealdade, honestidade e espírito de colaboração, fazendo o nosso papel no quadro da União Europeia, isto é, não sermos uns eurocéticos, uns euro-críticos ou uns pedintes; por outro lado, irmos criando as condições para caminharmos sozinhos se as coisas correrem mal”, sumariza, de forma clara e sucinta, não adotando a postura de alguns políticos de «cavalgarem» noções utópicas e deitarem da boca para fora os chavões da moda, palavras que se repetem ano após ano, sem resultados práticos. “Temos que estar na vanguarda de tudo aquilo que é novo, nas novas tecnologias, na sociedade do conhecimento, na industrialização R.4, sem com isso 11
deixarmos de reconstruir a nossa estrutura produtiva, a nossa economia baseada no território que temos, nos nossos recursos, na realidade da nossa estrutura económica”, dispara o entrevistado. O líder associativo recorda que existe, em Portugal, à volta de um milhão de empresas de todos os níveis, dos quais cerca de 350 mil são sociedades, mas que apenas 25 mil exportam produtos e serviços. “Então, as restantes, o que fazem? Ouvindo determinadas pessoas, parece que elas têm que desaparecer e que se devem criar apenas empresas modernas, competitivas, avançadíssimas, porque serão elas que irão resolver todos os problemas. Tudo bem. E a questão do desenvolvimento local? E do emprego?”, questiona Vítor ALGARVE INFORMATIVO #64
Vítor Neto: (…) “Continua-se a falar em apostar no mar, mas o que se produz no mar é pouquíssimo em termos de PIB, porque não se criam condições para se investir. E criar condições significa o Estado definir um rumo que tenha credibilidade, pois um empresário não vai arriscar os seus bens, ou pedir crédito aos bancos, se não tiver confiança no que está a ser feito, no caminho que está a ser seguido por um país” (…)
Neto, defendendo que estar entre os melhores não é o mesmo que estar entre os maiores. “Temos que conseguir que a nossa sociedade dê um salto qualitativo em termos de cultura e de conhecimento moderno, para ser capaz de responder aos desafios do presente, mas há que saber utilizar, igualmente, os nossos recursos”.
Acabaram-se as facilidades na União Europeia Vítor Neto fala em reconstrução da estrutura produtiva nacional, mais abrangente do que a tão propagandeada reindustrialização, por pressupor um melhor aproveitamento dos recursos da terra, da agricultura, da agroindústria, da floricultura, do mar, com a palavra «mar» a andar na boca dos políticos nos últimos tempos, o que desperta um sorriso no entrevistado. “Continua-se a falar em apostar no mar, mas o que se produz no mar é pouquíssimo em termos de PIB,
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porque não se criam condições para se investir. E criar condições significa o Estado definir um rumo que tenha credibilidade, pois um empresário não vai arriscar os seus bens, ou pedir crédito aos bancos, se não tiver confiança no que está a ser feito, no caminho que está a ser seguido por um país”, explica, não sendo apologista de que o capital estrangeiro é o «salvador da pátria». “É importante que ele venha, mas isso apenas acontece se lhe interessar, se tiver baixos custos de produção e se conseguir rentabilizar os seus produtos de forma muito elevada e rápida. Por isso é que a abertura da União Europeia aos países de leste veio retirar o interesse dos grandes grupos empresariais do centro da Europa de investirem em Portugal, porque tinham condições mais vantajosas em países mais perto dos mercados de consumo”, recorda Vítor Neto. Iludidos andaram igualmente os portugueses, políticos e empresários, com os fundos comunitários, acreditando que eles geravam, por si
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só, riqueza suficiente para o país avançar, quando tal não condizia com a realidade. “Depois, a crítica que se faz é que a União Europeia não compreende os problemas dos países da periferia. Não! Eles compreendem perfeitamente, não estão é dispostos a pagar por nós, porque respondem perante os seus povos, têm os seus interesses económicos e os grupos económicos dominantes desses países não querem fazer isso”, indica, com voz firme. “Não vai haver facilidades daqui para a frente. Não vamos pensar que sai a Angela Merkel e entra uma senhora mais simpática que diz à União Europeia para mandar todos os meses um cheque para o governo português. Isso não vai acontecer, temos que ganhar consciência da nossa realidade, dos
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problemas que enfrentamos e de quais são os meios que possuímos para os resolver”. Vítor Neto recorda igualmente a aposta do governo português em fomentar relações privilegiadas com o Brasil e Angola e que, quando estes entraram em crise, foi por água abaixo toda uma alternativa de crescimento que se tinha desenhado. “Ora, para além dos objetivos imediatos que procuramos, por entendermos que são importantes, temos que procurar alcançar uma estrutura consolidada e sólida para que a nossa economia consiga aguentar esses embates”, refere. E alternativas não faltam, felizmente, no Algarve, bastando pensar em produtos como o sal de Castro Marim, a cortiça de São Brás de
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Alportel, o azeite de Moncarapacho, os vinhos de Silves e Lagoa e tantos outros. “O Algarve tem uma economia forte baseada do turismo, mas é uma economia estruturalmente desequilibrada e isso é um risco, até para o próprio turismo. Não temos turismo a mais, temos é os outros setores a menos, o que é preocupante numa região que tem um passado histórico de produção e exportação. Há 50 anos, quando eramos menos desenvolvidos e tínhamos um nível de vida mais baixo no Algarve, a estrutura produtiva da região era mais equilibrada”, garante o especialista na matéria.
Vítor Neto: (…) “Não vamos pensar que sai a Angela Merkel e entra uma senhora mais simpática que diz à União Europeia para mandar todos os meses um cheque para o governo português. Isso não vai acontecer, temos que ganhar consciência da nossa realidade, dos problemas que enfrentamos e de quais são os meios que possuímos para os resolver” (…) ALGARVE INFORMATIVO #64
E a verdade é que o Algarve exportava, efetivamente, produtos do mar (peixe e conservas), frutos secos (figos, amêndoas e alfarrobas), fruta frescos, cortiça, para além de ter construção naval e indústria metalúrgica que servia de apoio às fábricas dos outros setores produtivos. “A minha própria empresa exportava frutos secos. Hoje, o Algarve importa figos da Turquia, o que é uma vergonha, as amêndoas vêm da Espanha e da Califórnia, o único setor que está vivo e forte é o da alfarroba”, analisa, com tristeza, ao verificar que o Algarve deixou de fazer aquilo que melhor sabia fazer. “O crescimento do turismo foi bastante atrativo e desviou a atenção de muitos empresários, porque era uma atividade aparentemente de sucesso mais imediato, mas a nossa entrada na União Europeia também nos levou ao abandono dos nossos setores produtivos. Pagaram-nos para deixarmos de pescar e de produzir, deram-nos fundos para largarmos as terras, e nós aceitamos isso porque não percebemos que era uma ratoeira”, afirma, sem meias palavras.
Defender os «nossos» ingleses Portugal caiu, assim, numa ratoeira da qual ainda está a pagar a fatura e dificilmente sairá dela, por falta de sensibilidade e de peso político. Ao
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mesmo tempo, o futuro do país continua a ser decidido única e exclusivamente em Lisboa e o Algarve, para pena de Vítor Neto, continua sem força reivindicativa suficiente para fazer valer os seus superiores interesses. “Isso faz com que vivamos embalados nesta questão do turismo, do qual eu sou defensor, sou o primeiro a reconhecer a sua importância para o Algarve e para Portugal. O que está em causa é que o Algarve é cada vez mais litoralizado, abandona cada vez mais o barrocal e a serra, não por decreto-lei, mas porque as pessoas rumam ao litoral à procura da sua sobrevivência económica”, observa o antigo Secretário de Estado do Turismo.
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Assim sendo, Vítor Neto avisa que, mesmo que o turismo se vá tornando mais forte, vai ficando também com os alicerces mais frágeis e a atual crise do Reino Unido serve para demonstrar que o turismo não é um passeio e que está a entrar numa fase extremamente delicada, competitiva, agressiva e complexa. “O Reino Unido é um dos maiores geradores de turismo internacional do mundo e é o nosso maior fornecedor de visitantes e, de repente, podemos ser confrontados, não com a dificuldade de crescer, mas sim de termos que defender aquilo que já temos. Isto exige uma reflexão constante, uma inteligência aplicada permanentemente, um ALGARVE INFORMATIVO #64
Vítor Neto: (…) “Não é dar como pacífico que vamos perder ingleses e que temos que procurar alternativas, como já ouvi algumas pessoas dizer. E não podemos esquecer os milhares de ingleses que residem no Algarve, que compraram imobiliário no Algarve, que têm atividades económicas e empresariais no Algarve. Temos que acarinhar, acompanhar, apoiar e reforçar a nossa relação com toda essa comunidade “(…)
conhecimento do que se passa na evolução do turismo a nível internacional e nos nossos concorrentes, para adequarmos a nossa oferta e propostas a esses desafios. Infelizmente, não fazemos nada disso”, constata o presidente do NERA. E se é verdade que o Reino Unido é o principal mercado emissor de turistas do Algarve, tal não significa que isso tenha acontecido por uma estratégia ou aposta de Portugal, garante Vítor Neto. “O Reino Unido é que nos descobriu, depois de já ter feito o mesmo com a Espanha, nos anos 60 e 70. Mais uma vez o problema não é termos ingleses a mais, é termos alemães, franceses, italianos e espanhóis a menos, e agora arriscamo-nos a perder alguns ingleses”, sublinha o empresário, lembrando que o Algarve é o destino de 70 por cento dos britânicos que rumam a Portugal, falando-se apenas no alojamento classificado. “Deixam em Portugal mais de dois mil milhões de euros por ano, quando as nossas exportações para Inglaterra,
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no conjunto de bens e serviços, são sete mil milhões. E os cinco principais produtos industriais que exportamos para Inglaterra geram menos receitas que o turismo, ou seja, o principal vetor das nossas relações económicas com o Reino Unido é o turismo e o Algarve representa, no mínimo, 70 por cento desse bolo”, enfatiza Vítor Neto. Perante este cenário de incerteza criado com a saída do Reino Unido da União Europeia, os objetivos são claros para Vítor Neto: consolidar e defender, criar as condições para que o mercado britânico não caia. “O «Brexit» tem consequências políticas e institucionais mas, do ponto de vista económico, não se altera muita coisa porque o Reino Unido não fazia parte do euro. O problema passa pelas oscilações cambiais da libra e começou logo a perder força no dia a seguir ao referendo. Por outro lado, se houver um abaixamento das condições de vida dos ingleses, eles viajarão menos”, explica, daí apelar a uma ação intensa e coordenada entre as entidades regionais, empresariais e
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o governo central para que haja uma presença portuguesa mais efetiva no Reino Unido. “Não é dar como pacífico que vamos perder ingleses e que temos que procurar alternativas, como já ouvi algumas pessoas dizer. E não podemos esquecer os milhares de ingleses que residem no Algarve, que compraram imobiliário no Algarve, que têm atividades económicas e empresariais no Algarve. Temos que acarinhar, acompanhar, apoiar e reforçar a nossa relação com toda essa comunidade”, frisa. Se o caminho está à vista e parece ser fácil de perceber, resta saber como o poder central vai atuar perante tudo isto, algo que deixa Vítor Neto um pouco apreensivo. “Como já referi, 70 por cento dos turistas ingleses escolhem o Algarve para as suas férias. Dos outros 30 17
por cento, 20 por cento vão para a Madeira, 8,5 por cento para Lisboa e 1,5 por cento espalha-se pelo resto do país. Isto pode levar a um desinteresse de Lisboa face ao assunto, a considerar que se trata de um problema do Algarve, o que não é verdade”, assegura o entrevistado, pois as receitas que os ingleses geram na região afetam o saldo da balança comercial de Portugal. “Defender e reforçar a continuação dos ingleses no Algarve é defender, não só a economia do Algarve, mas a economia nacional. Isto não é um problema só do Algarve, da mesma forma que estaremos todos atrapalhados quando os espanhóis deixarem de ir ao Porto ou a Lisboa. Se as coisas correrem mal numa região, as consequências afetam toda a nação, por isso, ou trabalhamos em conjunto, ou regredimos” . ALGARVE INFORMATIVO #64
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Baixa de Faro vai ter sextas à noite mais animadas Música, atividades desportivas, flash mobs e muitos descontos são os atrativos do «Baixa Street Fest», uma iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Faro, Ambifaro ACRAL, AISHA e Associação de Comércio da Baixa de Faro para dar mais vida às noites de sexta-feira nesta zona da capital algarvia. Um projeto piloto para ser replicado nos anos seguintes e, inclusive, alargado a mais dias e com mais conteúdos, não para fazer face ao IKEA, mas para tornar mais sustentável e atrativa a Baixa da Cidade de Faro. Texto:
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Paulo Santos, vice-presidente da Câmara Municipal de Faro, José Carlos Manuel, presidente da Associação de Comércio da Baixa de Faro, Rogério Bacalhau, presidente da Câmara Municipal de Faro, Daniel do Adro, presidente da AIHSA e Álvaro Viegas, presidente da ACRAL
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Club Farense recebeu, no dia 27 de junho, a apresentação oficial do «Baixa Street Fest», programa da Câmara Municipal de Faro, Ambifaro, ACRAL, AIHSA e Associação de Comércio da Baixa de Faro com o intuito de dinamizar as sextas-feiras à noite no período compreendido entre 8 de julho e 26 de agosto. A iniciativa insere-se numa estratégia alargada da autarquia farense para inverter um ciclo mais negativo que afetou a baixa e o centro histórico da capital algarvia e os seus estabelecimentos de comércio tradicional e restauração e da qual pontificam, entre outras, a
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abertura do Posto de Turismo e a criação do Centro Interpretativo do Arco da Vila, a primeira fase do ensombramento das vias pedonais (a segunda fase concretiza-se até final de 2016), a iluminação decorativa das velas de ensombramento, a requalificação da muralha da Cidade Velha e a pavimentação de diversas artérias da Baixa de Faro. Mais requalificações estão em andamento e encontra-se na fase final o Plano de Identidade e Marketing Turístico, revelou Paulo Santos, vice-presidente da Câmara Municipal de Faro, tendo sido
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igualmente desenvolvido o Plano de Áreas de Reabilitação Urbana, com a identificação de três ARU – Cidade Velha, Bairro Ribeirinho e Mouraria – onde serão investidos cerca de 30 milhões de euros, entre meios privados e públicos. “O processo está em candidatura e aguardamos para breve a sua definição mas, independentemente do financiamento que possa daqui advir, estes números já são bastante significativos e demonstram um crescente investimento na baixa da cidade. Em 2010/2011, avançamos igualmente para uma nova ARU, envolvente à zona histórica da cidade de Faro, que tem uma área idêntica à soma das outras três existentes”, indicou, acrescentando que foi aprovada, na última reunião de câmara, também a ARU do Alto Rodes. Tudo isto tem conduzido a mais visitantes, que ficam mais tempo em Faro, o que levou à criação de mais unidades de alojamento, mais esplanadas e mais vida económica, para satisfação do executivo municipal. E, numa lógica de contínua dinamização da Baixa de Faro, surge agora o «Baixa Street Fest», que acontecerá nas sextasfeiras à noite entre 8 de julho e 26 de agosto. “O que se pretende é ter o comércio com um horário mais alargado, entre as 21h e as 24h, com música, animação de rua, atividades desportivas, flash mobs, e cerca de 80 empresários juntaram-se a este projeto, desde a restauração ao comércio tradicional, o que augura um
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bom resultado”, considerou Paulo Santos. Especificamente para o «Baixa Street Fest» foi criado um Passaporte de Compras para incentivar ao consumo dos estabelecimentos aderentes, com várias vantagens, nomeadamente um desconto mínimo garantido de 10 por cento no ato da compra, entradas gratuitas em diversos equipamentos desportivos e culturais do Município de Faro, descontos para o Festival F e para eventos que ocorram no Teatro das Figuras, bem como vouchers para serem utilizados durante o mês de novembro, já a pensar nas compras de Natal. O Passaporte terá o custo de um euro, com as receitas a revertem, na totalidade, para uma instituição de cariz social do concelho. Esta dinâmica prosseguirá com uma feira de stock-out, a realizar-se entre 3 e 6 de setembro, no Jardim Manuel Bívar, e com uma passagem de modelos, organizada pela ACRAL, na Praça da Pontinha, no dia 9 de setembro, culminando com a semana do Natal e a Passagem do Ano.
IKEA é uma ameaça que se pode tornar uma oportunidade Com um orçamento de 250 mil euros, o projeto pretende conferir maior competitividade e atrair mais pessoas à Baixa de Faro, sejam elas residentes ou visitantes. “O comércio
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tradicional tem os seus problemas bem identificados e o importante é que estejamos todos do lado da solução. A requalificação da zona central da cidade foi uma das primeiras prioridades que definimos e na qual atuamos prontamente”, sublinhou Rogério Bacalhau. “É notório que há mais vida na Rua de Santo António e nas vias adjacentes. A própria Cidade Velha, em 2009, não tinha praticamente ninguém e, hoje, todos os dias há centenas de visitantes a percorrer aquelas artérias. É um cenário completamente distinto do que que assistia há cinco, seis anos”, enfatizou o presidente da Câmara Municipal de Faro. Esta mesma opinião tem José Carlos Manuel, presidente da Associação de Comércio da Baixa de Faro, entendendo que o novo terminal rodoviário do
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«Próximo» teve um papel importante no maior afluxo de visitantes ao comércio tradicional, assim como os hostels que têm aberto um pouco por toda a cidade. “Estamos confiantes que não vamos regressar à situação de há 10 anos atrás, ainda mais com os projetos, a perseverança e a atitude que a autarquia tem tido em relação à cidade”, assumiu o empresário, confiança que não é abalada pela abertura, em 2017, do mega empreendimento comercial do IKEA às portas de Faro. “Se nós fizermos a nossa parte, continuaremos a ter os nossos clientes, e essa mudança passa por não ter os mesmos horários de há 30 anos”. Independentemente da abertura do IKEA ou de outra qualquer grande superfície comercial, Paulo Santos
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estrutura comercial do IKEA e, em dezembro do mesmo ano, abrirão cerca de 200 lojas. “A ACRAL lançou um desafio à AMAL e a Câmara Municipal de Faro foi a primeira a responder a este alerta, com a criação de um programa que se pretende que se repita nos próximos anos. A estrutura que ai vem é enorme, a decisão está tomada, não vale a pena chorar sobre o leite derramado, portanto, cabe-nos a nós, empresários, comerciantes, autarquias e associações perceber qual é a melhor forma de transformar uma aparente ameaça ao comércio local numa oportunidade”, indicou o dirigente.
defende que o mais importante é que a Baixa de Faro tenha uma posição forte, sólida e dinâmica, para atrair pessoas de uma forma continua. “Este programa da sexta-feira é, de facto, um ensaio para o alargamento de horários, é criar uma oferta significativa num horário diferente do que é habitual na Baixa, e depois tiraremos as conclusões no final do evento”, afirmou o vice-presidente da Câmara Municipal de Faro. Profundo conhecedor deste dossier é Álvaro Viegas, presidente da ACRAL – Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve, lembrando que, em maio de 2017, será inaugurada a
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Assim sendo, Álvaro Viegas avisa que o comerciante tem que ir ao encontro dos desejos do consumidor e a mudança mais evidente, e necessária, é a questão dos horários de funcionamento dos estabelecimentos. “Não podemos continuar com um horário 9h-13h, 15h-19h, esse é o horário de há 30 anos. Hoje, o consumidor passeia e, durante esse passeio, faz compras. Ora, se à hora que as pessoas querem passear, o comércio está fechado, então, não fazem compras, ou vão ao sítio onde as lojas estão abertas, que é o Fórum Algarve e, depois, o IKEA”, nota o presidente da ACRAL, reconhecendo que esta mudança de mentalidade dos comerciantes tradicionais não vai acontecer de livre vontade, mas forçada pela
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nova concorrência. “Este «Baixa Street Fest» é uma iniciativa meritória e faço um alerta para que as restantes autarquias do Algarve olhem para o que está a ser feito em Faro e que o repliquem nos seus municípios. Não é só Faro que vai sentir o efeito do IKEA, mas toda a região, e os autarcas têm que se unir para defender o seu comércio local, mas também para ter capacidade para atrair os milhões de visitantes dessa estrutura para as suas cidades”. A terminar a apresentação do programa, Rogério Bacalhau reforçou a ideia que o mais importante é retirar o máximo partido do poder de atratividade que o IKEA terá sobre
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clientes de todo o sul do país e da vizinha Espanha. “Nós temos património, gastronomia, cultura, eventos, muita coisa que é apelativa e queremos dar sustentabilidade ao concelho de Faro na sua globalidade, seja em termos de comércio, de capacidade de investimento, de emprego. Faro nunca foi um concelho turístico e, embora a universidade, o aeroporto e os serviços vão continuar a ser preponderantes, o nosso crescimento passa por outros vetores. Não pelo turista que procura o sol e praia, mas pelo turista que vem passear, descansar, que busca experiências diferentes”, culminou o edil farense .
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Ano após ano a história repete-se: em junho, julho e agosto, o Algarve assiste à chegada de muitos turistas. As praias tornam-se, nesses dias, uma segunda casa para quem escolhe a região como destino de férias. Instala-se a máxima: lazer para uns, trabalho para outros. Neste caso, para os nadadores-salvadores, uma profissão intimamente ligada à época balnear. Texto:
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Victor Santos, presidente da SUESTE
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look de Victor Santos não podia ser mais elucidativo: é de chinelos nos pés, calções de banho e t-shirt que chega à praia da Ilha de Faro. Sem ser necessário trocar nenhuma palavra percebe-se, imediatamente, que a praia é a vida de Victor. Durante mais de 40 anos foi nadador-salvador. Sempre no Algarve. Hoje, para além de presidente da SUESTE (Associação Humanitária dos NadadoresSalvadores de Faro), é formador de nadadores-salvadores. Quer passar a experiência – e os ensinamentos - que acumulou a quem lhe quer seguir as pisadas. Ainda assim, alerta: “Há, hoje, nadadores-salvadores a menos. Há falta. Para se ter uma ideia, antigamente eram formados cerca de
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300 a 500 nadadores-salvadores anualmente. Atualmente, são cerca de 60”. Estes são números que vêm na senda de um contexto de redução de custos, seja na formação, seja noutras áreas de atuação dos nadadores-salvadores. Visivelmente revoltado, Victor Santos dá outro exemplo: “Saiu recentemente uma portaria segundo a qual a presença de nadadores-salvadores nas piscinas de hotéis e piscinas de alto rendimento desportivo deixa de ser obrigatória. Esta é uma atitude inqualificável. Corta-se nos custos, sem ter presente a segurança das pessoas. Imagine-se o que acontecerá a alguém que tenha uma indisposição ou que se afogue
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Mariana Guedes
numa piscina destas, em que não há nenhum profissional com formação que preste auxílio”, avisa.
A SUESTE (Associação Humanitária de Nadadores Salvadores de Faro) foi fundada em 2002 e desde então conheceu apenas um presidente: Victor Santos. Sem fins lucrativos, tem como principal objetivo prestar um melhor serviço nas praias algarvias durante a época balnear, apostando, para tal, em mais formação, com vista a atingir melhores condições de trabalho. “Vivemos sem apoios de ninguém. Devemos tudo ao
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voluntariado ou a algumas parcerias com bares aqui da praia que facultam, por exemplo, refeições mais baratas aos nadadores-salvadores”, explica Victor. Com efeito, o Bar O Rui, onde o presidente da SUESTE se sente em casa, tal o à vontade com que fala com todos os empregados, é um desses exemplos. Victor lida, diariamente, com o fenómeno do turismo. Arreigado a este está a sazonalidade, uma das maiores contrariedades apontadas ao Algarve. Victor considera que esta tem de ser encarada como natural. “Está intimamente ligada às características até naturais do Algarve”, considera. Porém, esta
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aceitação, de alguma maneira de uma inevitabilidade, não leva a que não se possa tentar arranjar soluções para a sazonalidade. Com os olhos postos no mar, a quem tanto deve, o Presidente da SUESTE aponta uma: “Não pode haver mudanças sem condições. Por que não criar uma contribuição de todos os restaurantes, por exemplo, para que seja possível, financeiramente, ter nadadoressalvadores todo o ano nas praias? Ganhavam eles, com um acréscimo de pessoas a irem aos restaurantes, e ganhávamos nós, em termos de segurança, porque, como se pode ver, mesmo fora da época balnear, basta haver um pouco de sol para as pessoas irem logo para a praia”.
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São vários os metros de areal da praia da Ilha de Faro. É ali que Mariana Guedes, de 27 anos, e João Pires, de 25, passam grande parte dos seus dias. Juntos formam uma das várias duplas de nadadoressalvadores que vigiam a praia. De calções de banho e t-shirt laranja distintiva da posição que ocupa na praia vestida, Mariana Guedes vai olhando em redor. Um nadador-salvador tem de estar sempre alerta. Foi há três anos que decidiu que preferia passar o Verão nas praias. Não a descansar, mas a trabalhar. “Quando tirei o curso de
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nadadora-salvadora fi-lo, essencialmente, com o intuito de ganhar algum dinheiro”, admite, acrescentando: “Como já tinha alguma experiência em nadar, juntei o útil ao agradável”. Desde daí, confessa, já passou por muitos dias em que não teve nenhuma ocorrência na praia que levasse à necessidade da sua atuação. Mas já teve, igualmente, situações críticas. A maior de todas envolveu, inclusive, um salvamento na água. “Num dia em que a bandeira estava vermelha e a maré cheia deparei-me com um casal idoso inglês a passear à beira-mar, estando visivelmente embriagados. Fui avisálos de que era perigoso estarem ali e que deveriam ir para as toalhas. Recusaram, o homem até entrou no mar e, mal o fez, ficou logo em apuros. Entrei no mar e tentei trazê-lo para terra mas, dado o peso do senhor, era impossível. Só o consegui com a ajuda de outras pessoas”, conta. A história não fica, contudo, por aqui. No dia a seguir ao heroico salvamento, Margarida teve uma agradável surpresa: a visita do homem que tinha socorrido no dia anterior. “Veio ter comigo e agradecer ter-lhe salvo a vida”, relembra, entre sorrisos.
Tal como a colega Mariana, João também é nadador-salvador há três anos. Com um estilo descontraído e de óculos na cabeça, faz lembrar as
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populares séries televisivas que eternizaram a profissão de nadadorsalvador – é jovem e bem-parecido. A opção de João em tirar o curso de nadador-salvador teve alguma dose de aproveitamento pessoal à mistura. “Sou alentejano e, no Verão, via toda a gente a vir de férias para o Algarve. Pensei: vou tirar o curso de nadador-salvador e, assim, também vou para lá. A trabalhar, mas vou”, conta. Dito e feito. Hoje é na praia da Ilha de Faro que assenta arraiais na época balnear. Durante o resto do ano é estudante. De entre todos os pontos fortes de se ser nadador-salvador, João aponta um como o principal: o companheirismo. “Há aqui nos nadadores-salvadores da praia da Ilha de Faro um grande ambiente de amizade que me faz gostar, ainda mais, desta profissão”, confessa. Ainda assim, nem tudo são facilidades. Assertivo no discurso, João, o alentejano que decidiu trocar a sombra dos chaparros pelo sol da praia, conclui: “Há uma opinião quase geral de que nós, os nadadores-salvadores, não fazemos nada. Estamos aqui sentados, conversamos, e vamos aproveitando para mirar as veraneantes. É totalmente mentira. O que seriam as praias sem a presença dos nadadores-salvadores? Sem a sua formação e competências, que usam em situações de perigo?”, questiona, sem despegar o olhar do areal .
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“Programações Musicais” a pedido Paulo Cunha
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inda sou do tempo em que muitos algarvios ansiavam pela chegada do verão para que, com ele, chegasse também o Festival Internacional de Música do Algarve. Decorriam os anos 80/90 do século passado quando, sentado num gabinete da Fundação Calouste Gulbenkian, o diretor artístico da referida instituição, o olhanense Luís Pereira Leal, programava o dito festival, trazendo a esta província - culturalmente esquecida durante o resto do ano - o melhor que, no seu entender, no domínio da dita “Música Erudita” poderíamos oferecer aos turistas que nos visitavam nos meses fortes de verão. Fruto de contingências várias: músicos algarvios a tocar no dito Festival… nem vêlos! Já na altura isso me fazia “espécie”… Confinar a música feita no Algarve aos Festivais de Folclore parecia-me redutor e de “vistas curtas”, mas as sucessivas direções da Região de Turismo do Algarve lá sabiam a razão porque o faziam e permitiam. O tempo passou e com ele veio o tempo de outros Festivais, Encontros e “Eventos que tais”, onde o Algarve passou a constar no mapa de peregrinação de muitos músicos nacionais e internacionais, ainda que, maioritariamente, nos meses onde o calor aperta e o exterior desperta. E com os ditos vieram também os mesmos “vícios” herdados do século passado: Festivais pagos com dinheiros públicos feitos à medida de interesses privados. Em 2005, enquanto membro do conselho consultivo da Estrutura de Missão “Faro Capital Nacional da Cultura”, vi o então programador na área da Música trazer ao Algarve todos os seus “amigos musicais”, pouco ligando ao que lhe transmiti sobre a mais-valia de muitos músicos algarvios. Consubstanciei e concluí assim o que já antes pensava sobre a importância da escolha dos programadores musicais.
“poda”, observa, analisa e escolhe em função do ganho comum. Ora é isso que, salvo raras exceções, não acontece nesta terra a sul gerada e construída. Técnicos camarários transformados em programadores põem e dispõem à medida que o tempo vai passando e a teia de contactos os vai transformando em “reizinhos”, aos quais grande parte dos músicos começa a prestar vassalagem e a “beijar a mão”. Sem da cadeira levantarem o traseiro, programam a pedido e por consulta dos muitos “cardápios musicais” que se amontoam nas suas secretárias. Sem o escrutínio e a supervisão de quem lhes tutela o pelouro, a seu bel-prazer gerem a sua preciosa agenda feita do “amiguismo” e das “cunhas à medida”, cimentada em anos de cristalização no lugar. Quantas vezes ouvimos o público e certos músicos a questionar porque é que, ano após ano, são sempre os mesmos a tocar, não dando oportunidade aos novos e aos músicos “proscritos” (aqueles que não mendigam uma oportunidade para tocar)? E a resposta é sempre a mesma: “Enquanto ele/ela lá estiver será sempre assim!”. Sem que se saibam quais são os critérios que presidem às escolhas ditadas por estes “poderosos decisores”, muitos músicos vão ficando pelo caminho sem nunca terem visto a sua arte ser apoiada, dignificada e divulgada pelos “agentes culturais” das autarquias da sua região. Sem garantia de qualidade, diversidade, originalidade, inovação e abrangência, assistimos cada vez mais a uma massificação de gostos em torno de “podres poderes”, assentes nas habituais trocas de favores que em nada, nem ninguém dignificam. “Também na Música?”, perguntar-me-ão… Também na Música! .
Posso estar errado, mas ainda sou daqueles que vê um programador musical como um selecionador de uma modalidade desportiva qualquer: sabendo da
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A maravilha da internet Paulo Bernardo
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uito se fala das desvantagens, dos problemas, das ameaças da internet, sim são verdade e temos que estar atentos. Pelos mais novos em especial, mas também pela própria segurança das empresas e das pessoas, pois todos os dias dados são roubados aos mais incautos. Muitas vezes são pedidos resgates por dados sequestrados. Contudo, do mal da internet muito se fala, o seu bem raramente é notícia. Esta semana tive uma experiência muito interessante ao longo do jogo de Portugal com a Polónia. Estive em simultâneo a ver o jogo e ligado ao Facebook, fazendo comentários como se tivesse os amigos ao meu lado. Foi muito interessante pois desde Fortaleza, Curitiba, Nova Iorque, Paris, Zurique, Porto, Lisboa, Faro, fui tendo respostas aos comentários, fazendo brincadeiras, como se tivesse esses amigos à minha volta. Quando estou fora consigo falar e ver todos os dias a minha família via Skype e consigo trocar mensagens a custo zero via Whatsapp com parceiros de negócio e amigos pelo mundo. Sabendo às vezes mais rápido o que acontece num determinado local do que quem vive lá ao lado. São estas maravilhas que tornam o mundo mais pequeno e as pessoas mais próximas. Das experiências mais bonitas da minha vida profissional foi ter aproximado avôs e netos. Ensinando aos avôs a usar o computador e a colocá-los a falar com os netos que estão longe. Alguns, a última vez que viram os seus entes queridos foi através do ecrã. São estas pequenas maravilhas que vão fazer cair políticos e surgirem outros, são estas pequenas maravilhas que tornam as empresas
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globais e capazes de chegar ao sítio mais recôndito, desde que existam pessoas interessadas. Contudo, estas tecnologias não substituem um aperto de mão, a partilha de um copo de vinho, o cheiro da terra molhada, um abraço à família. Quer nos negócios, quer nos afetos, a tecnologia ajuda mas não substitui. Ajuda quando se está longe de casa, ajuda para falar com um cliente, pois encurtamos distâncias vendo o rosto uns dos outros. Mas não cria o laço entre pai e filha, nem entre cliente e fornecedor. Aí, os afetos ainda sobressaem à melhor tecnologia. Por isso, felizmente que as duas em conjunto tornam o mundo melhor e mais pequeno. Nota da semana: O BREXIT, ou como o povo não entende o que se lhe pergunta, ou a falha da democracia. Foi absurdo que a pergunta mais colocada no dia a seguir ao referendo pelos britânicos foi o que era a UE. Parece estúpido mas o Brexit criou uma confusão, pois parece que quem votou não era bem aquilo que queria fazer e hoje já existem três milhões de britânicos a assinar uma petição para um novo referendo. E hoje milhares de Britânicos marcham contra o referendo. A falta de informação e a desinformação têm destas coisas. Figura da semana: Hoje vou ser suspeito e escolho um grupo de um parceiro de crónicas, o Paulo Cunha e os Vá-De-Viró. Tive o prazer de ouvir o último disco deles nos últimos dias e tenho que dar os parabéns e recomendar a sua audição. Disco que é uma viagem pelas nossas paragens pelo mundo, enchendo o nosso palato auditivo de recordações atávicas .
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O renascimento da AMAL José Graça
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o contrário da licenciatura de Miguel Relvas, a Associação de Municípios do Algarve (AMAL) foi extinta em 29 de março de 2004, sucedendo-lhe a Grande Área Metropolitana do Algarve, convertida na Comunidade Intermunicipal do Algarve, por força da Lei 45/08 de 27 de agosto… Secretário de Estado da Administração Local em 2004 e ministro-adjunto do Primeiro-Ministro com a tutela das Autarquias Locais em 2013, enquanto nas horas vagas liderava a máquina partidária do PSD, o ex-doutor esteve na origem da mais recente alteração do enquadramento legislativo das entidades intermunicipais, sendo o responsável principal pelo melhor e pior das alterações do edifício jurídico que lhes assiste. Já abordámos anteriormente o objeto, as atribuições e competências, bem como os princípios gerais, que enquadram a existência das autarquias locais e das entidades intermunicipais, sublinhando o fato positivo da mesma lei prever um regime jurídico da transferência de competências do Estado para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais, embora neste domínio tenha sido mais relevante a transferência de competências dos Municípios para as Freguesias do que entre os demais entes, nalguns casos por falta de vontade política, mas acima de tudo pela morosidade do processo regulamentar e pela indefinição do pacote financeiro associado. Esperemos que o processo em curso de descentralização seja mais participado, consensual e dinâmico! Contudo, a lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, foi particularmente inovadora ao prever a natureza, criação e regime das entidades intermunicipais, inovando na criação de órgãos executivos eleitos, estabelecendo que podem ser instituídas associações públicas de autarquias locais para a prossecução conjunta das respetivas atribuições e esclarecendo que são associações de autarquias locais as áreas metropolitanas, as comunidades intermunicipais e as associações de freguesias e de municípios de fins específicos. No caso concreto do Algarve, prevê-se que a constituição das comunidades intermunicipais compete às câmaras municipais, ficando a eficácia do acordo constitutivo, que define os seus estatutos, dependente da aprovação pelas assembleias municipais, constituindo-se aquelas por contrato subscrito pelos presidentes dos órgãos executivos dos municípios envolvidos.
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Os respetivos estatutos devem estabelecer obrigatoriamente a denominação, contendo a referência à unidade territorial que integra, a sede e a composição; os seus fins, os bens, serviços e demais contributos com que os municípios concorrem para a prossecução das suas atribuições; a estrutura orgânica, o modo de designação e de funcionamento dos seus órgãos e as suas competências. Ainda nos termos da lei citada, as comunidades destinam-se à prossecução de fins públicos: promoção do planeamento e da gestão da estratégia de desenvolvimento económico, social e ambiental; articulação dos investimentos municipais de interesse intermunicipal; participação na gestão de programas de apoio ao desenvolvimento regional, designadamente no âmbito do Portugal 2020 e do CRESC Algarve; e, planeamento das atuações de entidades públicas, de caráter supramunicipal. Particularmente, cabe-lhes assegurar a articulação das atuações entre os municípios e os serviços da administração central, nomeadamente das redes de abastecimento público, infraestruturas de saneamento básico, tratamento de águas residuais e resíduos urbanos; de equipamentos de saúde; rede educativa e de formação profissional; ordenamento do território, conservação da natureza e recursos naturais; segurança e proteção civil; mobilidade e transportes; redes de equipamentos públicos, designadamente os culturais, desportivos e de lazer; e, promoção do desenvolvimento económico, social e cultural. Por fim, cabe-lhes exercer as atribuições transferidas pela administração estadual e o exercício em comum das competências delegadas pelos municípios e designar os representantes em entidades públicas e entidades empresariais sempre que a representação tenha natureza intermunicipal. Se a licenciatura de Miguel Relvas precisou de tantos anos para ser considerada nula pelos tribunais, quanto tempo será necessário para garantir a afirmação da Comunidade Intermunicipal do Algarve junto dos Municípios e dos algarvios?! Voltaremos ao assunto… . NOTA – Poderá consultar os artigos anteriores sobre estas e outras matérias no meu blogue (www.terradosol.blogspot.com) ou na página www.facebook.com/josegraca1966
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Antibióptico – ou o aprendizado da liberdade Mirian Tavares
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xposição de finalistas do Curso de Artes Visuais da Universidade do Algarve Pavilhão 30, de 24 de Junho a 23 de Julho Convento de Santo António, Loulé, a partir de Setembro Num dos seus muitos cadernos, o artista brasileiro Leonilson escreveu: - Não quero ser artista - Não gosto de escovar os dentes - Não gosto de tomar banho - Não sei o que fazer com um espaço enorme vazio - Eu sei o que fazer com um espaço enorme vazio - O que faço são objetos de curiosidade - Observar e dar chance a minha curiosidade - Não gosto de inspiração - Não quero resolver nada
Os alunos da licenciatura em Artes Visuais, da Universidade do Algarve (UAlg), são confrontados, no seu fazer artístico, com tudo o que envolve o processo de criação. Sobretudo, confrontam-se com aquilo que terão de encontrar por si mesmos: o ser artista ou o querer, de facto, sê-lo. No projeto de criação do curso, desenhamos um percurso que gostaríamos de ver cumprido por aqueles que elegessem a UAlg como instituição de acolhimento dos seus anseios, das suas dúvidas, do seu desejo de vir-a-ser e das certezas que carregam consigo. Tal percurso contribuiria, acima de tudo, para aumentar dúvidas e dirimir certezas: levaria a que questionassem as suas escolhas e refletissem sobre a arte e sobre o mundo que a envolve. Optamos, por isso, por um corpo docente composto basicamente de artistas, que são
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também professores, para que pudessem partilhar as suas experiências criativas e ajudar os alunos a vivenciar de perto o mundo da arte em todas as suas idiossincrasias, asperezas e polifonia. É dessas muitas vozes que se constitui a exposição patente no Pavilhão 30, em Lisboa, a convite de Sandro Resende. No primeiro ano da licenciatura, os alunos chegam com muitos espaços vazios e outros demasiado cheios. Ao longo dos anos, decidem o que fazer com esses espaços, se querem esvaziá-los ou preenchê-los; se pretendem abandoná-los e procurar outros possíveis, de entre muitos impossíveis com os quais se vão deparando. Antibióptico é uma exposição composta por trabalhos de pintura, escultura, vídeo-instalação, instalação e fotografia. São trabalhos de alunos de licenciatura, de pós-graduação e de mestrado. De alunos que se propuseram a si mesmos resolver coisas, ainda que os seus objetos não pretendessem dar resposta a nada. Porque são artistas e a liberdade é o único caminho que é possível ensinar . Licenciatura em Artes Visuais, FCHS/UAlg Diretor: Pedro Cabral Santo Subdiretor: Alexandre Alves Barata (Xana) Docentes: Bertílio Martins Fernando Sampaio Amaro Francisco Teixeira José Paulo Pereira Mirian Tavares Rui Sanches Susana de Medeiros Tiago Batista
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Ama(ra)ntíssimo, este Rodrigo Paulo Pires
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á um poema do brasileiro Manoel de Barros sobre o que é preciso saber “para apalpar as intimidades do mundo”. Podia bem ter sido escrito para Rodrigo Amarante, que tacteia, como poucos, os silêncios e subtilezas dos dias – como se sentiu no Teatro das Figuras, em que “só” precisou da sua voz, de uma guitarra e de um piano (este último até soube a pouco) para nos convencer ainda mais disso. A verdade que emana da sua música e da sua interpretação não nos deixa indiferente, numa atitude de andarilho – aparentemente despreocupado e desajeitado – que carrega em si, sem pretensiosismos, a consciência e sabedoria de muitas estradas (e desvios) já trilhadas. Por várias vezes falou da importância do caminho e da tentativa como sua motivação primeira, mais do que saber “como chegar no fim”. Porque para Amarante “a música ajuda a continuar o caminho”, alimentando e alimentando-se também desse impulso da partida, da aprendizagem da/pela errância. No seu primeiro (e único) álbum a solo, “Cavalo”, lançado em 2013, respira-se muito essa ideia de mudança, de encontro com uma nova realidade (quando há anos se começou a instalar aos poucos nos Estados Unidos), o que levou a questionamentos interiores e ao nascimento de uma outra identidade enquanto estrangeiro. Como se, de alguma forma, o abandono e o “suicídio” (metafórico) tivessem sido um oxigénio inspirador para a escrita de letras como “Mon nom”, “Irene”, “Fall asleep”, “I’m ready” ou “Tardei”, temas incontornáveis que fizeram parte do alinhamento em Faro. Rodrigo é esse carioca “amador” – alguém que é apaixonado pelo que faz, e não por contraponto à ideia de profissional –, que veio de um canteiro de flores onde as beringelas se roxeiam depois da claridade (“elas são como eu”), como se lê na letra de “Mom nom”, em que se assume como “l’étranger”. É um descobridor das pequenas coisas, que se interroga sobre o seu lugar em “Tardei” (“Qual senda me levou / Qual me trouxe aqui / Pra encontrar você / Onde está, meu lugar?”) ou em “I’m ready (“Quem na rua se perde / Encontra o que
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pede / Acerta o que mede / E conta até errar / Que o erro é onde a sorte está / Não queira ver”) – canções a que Faro, entre disponível e enfeitiçado, se rendeu, como quem abre a janela para receber o sussurro de um vento que vem de longe e, ao mesmo tempo, soa tão familiar. Romantismo, melancolia, solidão, liberdade, esperança ou dúvida perpassam as suas letras, como na lindíssima “Irene” (“Saudade, eu te matei de fome / E tarde, eu te enterrei com a mágoa // […] Milagre seria não ter / O amor, essa rima breve / Que o brilho da lua cheia / Acorda de um sono leve”), em “Nada em vão” (“Nada em vão / No espaço entre eu e você / No silêncio um grito / O sim e o não”) ou ainda no tema “Condicional”, em que Amarante nos brinda com este refrão: “Eu sei, é um doce te amar / O amargo é quererte pra mim / Do que eu preciso é lembrar, me ver / Antes de te ter e de ser teu”. Rodrigo Amarante esteve sozinho em cena, despido de apoios, em perigo total e vulnerabilidade absoluta – curiosamente com um rasgão na camisa, cujo óbito foi comicamente decretado pelo intérprete. Mas isso não o impediu de encher o palco e a sala com uma entrega sem virtuosismos mas rente à pele, com a sensibilidade singular com que trata palavras, instrumentos e emoções. A delicadeza das suas inflexões vocais, a linguagem espontânea e empática do seu corpo, o modo como explora as nuances e silêncios das melodias, o sabor que dá à dicção dos versos, o “jeito” de (se) envolver e dar corpo ao instrumento que o acompanha, ou a forma como desenha as intros e remates das canções (entre sussurros, suspensões e prolongamentos) dão-lhe essa magia que afinal o faz sentir-se tão rico como um rei, como confessou um dia, pois a sua “vontade final é apenas fazer parte”… das nossas vidas. É que, como se ouve em “Fall asleep”, escrita em/para noites de insónia, “the tales I knew / are true somewhere”, mesmo para quem, como Amarante – e voltando a Manoel de Barros –, tem o privilégio de “não saber quase tudo” e de não querer saber mais nada que não seja aperfeiçoar o que não sabe .
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Será que há Restaurantes a mais e Cozinheiros a menos? Augusto Lima
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elo facto de a Cozinha/Gastronomia estarem na moda, os Restaurantes sofrem também deste mal. Não sei se é apenas um problema nosso ou mundial e confesso que não li ou procurei por algum artigo ou gráfico que me esclarecesse mas entendo que os restaurantes ou afins, tecnicamente descritos como ERB’s – Estabelecimentos de Restauração e Bebidas, tem tendência a nascer como cogumelos selvagens, sem controlo de pragas. A crise e o aumento do IVA para 23% trouxeram milhares de falências, fechos e desempregados de uma população, que pela idade, engrossa a lista dos chamados desempregados de longa duração. Mas me pergunto de novo – Será que há Restaurantes a mais? Há aldeias, pequenos vilarejos com menos de Um estudo do DN em 2005 dava conta de um sector com cerca de 90 mil estabelecimentos licenciados (destes, cerca de 60.000, os que suportam a economia paralela), e cerca de 400.000 trabalhadores, numa média de um restaurante/café para 90 habitantes, cinco vezes mais do que a média da Europa, onde verifica a percentagem de um restaurante/café para 450 habitantes. Trata-se de um assunto muito importante também pelo facto de Portugal ser um destino cada vez mais apetecido para férias, em todo o mundo e o sector representar uma fatia considerável do PIB. Pela crise, milhares de trabalhadores deste sector imigraram r este ano repete-se problema da falta de profissionais (qualificados ou não) da Industria Hoteleira /restauração (de mesa/sala/bar e Cozinha). Se há dois anos, se ouvia falar em salários ridículos oferecidos a muito bons profissionais, hoje vê-se o contrário: indivíduos ainda sem uma formação final qualificada e ainda em formação, portanto um aprendiz de cozinha, a auferir ordenados ridiculamente exagerados. É a clara lei da oferta e da
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procura... Por outro lado se assiste a uma cada vez maior (já aconteceu na primeira década do século) falta de profissionais qualificados, mas exageradamente pagos. Tal como uma Farmácia necessita obrigatoriamente de ter no seu préstimo a responsabilidade de um técnico Farmacêutico, também os Restaurantes deveriam obrigatoriamente, de ter ao seu serviço um profissional qualificado, que garantisse qualidade dos serviços prestados. E quem passa as licenças? Existe algum estudo de quantos restaurantes deveriam existir por número de habitantes (tendo em conta a população flutuante, nos períodos de férias massivas)? Será que aquele que não é fiscalizado, não cumpre com os requisitos mínimos exigidos neste tipo de serviço (público com a vertente saúde), tem mais vantagens do que o outro que cumpre com toda e mais alguma burocracia, mas que está “mal situado”? Será que deveria ser o município o primeiro interessado em “ter” espaços de restauração condignos, respeitando normas e interesses territoriais, agrícolas? Será que o Cliente deveria fazer por si só essa triagem? E com que ferramentas? Será que as “casas cheias”, são as que “melhor trabalham” (leia-se, serviço que prestam)? Será que não há espaços de restauração/hotelaria que brindam e fazem a apologia ao mau gosto e são frequentados por clientes que professam os mesmos cânones? Será que há Restaurantes a mais e Cozinheiros a menos? Esperamos todos que o “Trigo se possa separar do joio”, a tempo para contento de todos .
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Ginásio Clube Naval de Faro continua a formar campeões na Vela A maior competição mundial de vela para a classe de iniciação, o «Optimist World Championship», está a disputar-se, em Vilamoura, até dia 4 de julho. Em prova estão 400 atletas com idades entre os 11 e os 13 anos, oriundos de mais de 60 países, e o Algarve está representado na seleção nacional com dois dos cinco atletas, entre eles Guilherme Cavaco, do Ginásio Clube Naval de Faro. Foi, por isso, o momento certo para rumar à capital algarvia para conhecer um pouco melhor a história deste clube quase centenário. Texto:
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Ginásio Clube Naval de Faro nasceu, a 19 de Janeiro de 1928, por vontade dos praticantes da náutica de recreio da capital algarvia e a primeira modalidade desportiva implementada foi o Remo, com a organização de várias regatas de embarcações tradicionais como a lancha e o saveiro. Depois, aos poucos, foi emergindo o principal porta-estandarte do clube, a Vela, e já nos anos 40, 50 e 60 se disputavam na Ria Formosa renhidas competições de «Sharpies» de 9 e 12 metros quadrados, «Volgas» e «Snipes». Velejadores como Fernando Prazeres, Jorge Leiria e Margarida Baptista começaram a dar nas vistas, mas foi a partir da década de 70 que se deu o impulso decisivo na modalidade,
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com uma geração de atletas de grande nível nacional e internacional como António Viegas, Pedro Melo, Paulo Sena Rodrigues, Rui Reis, entre outros. Foram estes que, posteriormente, se tornaram os mestres das novas camadas, das quais se destaca Hugo Rocha, Bicampeão Mundial, Campeão da Europa e Medalha de Bronze Olímpica. Momento decisivo na história do Ginásio Clube Naval de Faro foi a atribuição da concessão, em 1994, da Doca de Recreio de Faro, cujas receitas permitiram o aparecimento da Escola de Navegadores de Recreio, o ressuscitar do Remo de competição e a abertura da secção de Pesca Desportiva. E foi
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Armando Cassiano, presidente da Direção do Ginásio Clube Naval de Faro
precisamente junto ao café e restaurante ali situados que estivemos à conversa com o presidente da direção Armando Cassiano, que prontamente confirmou que, sem estas verbas, seria impossível alcançar os resultados desportivos de excelência que têm pautado as últimas décadas do clube. “Temos a Medalha de Mérito Desportivo da República Portuguesa, o Hugo Rocha foi agraciado, em 2015, com uma Comenda, temos Medalhas de Ouro do Município de Faro. A nossa prestação a nível nacional é extraordinária e tudo baseado nas mais-valias que advém da concessão da Doca de Faro”, garante, explicando que esta concessão foi atribuída pelo Ministério do Mar, sendo o principal obreiro desse ato o antigo Governador
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Civil do Distrito de Faro, Cabrita Neto. Como que a confirmar as palavras de Armando Cassiano, em 1996, Hugo Rocha e Nuno Barreto ganharam a Medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos da América e, desde então, vários velejadores do Ginásio Clube Naval de Faro se têm distinguido em diversos campeonatos da Europa e do Mundo. “Temos uma Escola de Vela que traz ao de cima as melhores potencialidades dos nossos jovens, como se verifica neste «Optimist World Championship» que se está a disputar em Vilamoura. Apuramos dois atletas para a seleção nacional,
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mas apenas o Guilherme Cavaco está em prova, porque o William Risselin foi barrado na secretaria. O miúdo é belga, reside no concelho de Loulé, começou aqui no nosso clube e, devido à burocracia dos adultos e a leis extremamente injustas, foi privado de participar neste Campeonato do Mundo. A Legislação Portuguesa diz que apenas podem representar a seleção portuguesa os que tiverem nacionalidade portuguesa, independentemente de terem feito todo o seu percurso em Portugal, sendo certo que um miúdo de 12 anos não pode optar pela dupla nacionalidade”, critica o entrevistado. Profundamente irritado, Armando Cassiano diz que é bastante difícil explicar toda esta situação a uma 53
criança de 12 anos, depois de ela ter conquistado, dentro de água, o direito a disputar esta competição. Mais um problema a somar-se ao facto da Vela não ser uma modalidade mediática como o futebol, de modo que só os campeões fazem notícia na imprensa ou na televisão e, mesmo assim, apenas nos dias seguintes às competições, período após o qual regressam ao anonimato. “A monocultura do futebol é uma coisa dramática em Portugal. A esmagadora maioria dos portugueses gostam de futebol mas o que está a acontecer no nosso país ultrapassa, em muito, os piores tempos do Estado Novo”, considera, sem papas na língua. “É extremamente difícil convencer os ALGARVE INFORMATIVO #64
miúdos a aderirem a outras modalidades, bem como as famílias, que trabalham a semana inteira e depois, aos fins-de-semana, têm que se levantar às sete da manhã para preparar o farnel para os filhos e trazê-los para os treinos de Vela. É necessária uma dedicação tremenda e, infelizmente, muitas pessoas já não estão para isso”, lamenta Cassiano. Há ainda outra dificuldade inerente à prática da Vela, designadamente a ideia de que é um desporto para as elites, para os filhos de pais abonados financeiramente, um cenário que o presidente do Ginásio Clube Naval de Faro não desmente. “Se nós não tivéssemos esta concessão, o esforço financeiro que era exigido às famílias para os miúdos fazerem Vela era absolutamente incompatível com as posses de um agregado da classe média. Só pessoas da classe média/alta e classe alta é que têm condições financeiras para ter os filhos neste desporto”, admite, afirmando que o governo se tem alheado completamente de apoiar esta prática desportiva junto dos mais novos. “Enquanto nós conseguirmos ter dinheiro para trazer as crianças para a Vela e pô-las a fazer desporto, vamos prosseguir esta missão, até porque somos um país de marinheiros. Os governantes anunciam políticas para o mar, com palavras pomposas, grandes dissertações e powerpoints todos bonitos, mas nada se faz na prática”.
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Um desporto sobretudo mental Pegando no exemplo de Guilherme Cavaco, atleta do Ginásio Clube Naval de Faro que está a disputar o «Optimist World Championship», Armando Cassiano sublinha que «é
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de pequenino que se torce o pepino», ou seja, a entrada para esta modalidade deve dar-se em tenra idade, até por uma questão bastante simples: o barco de aprendizagem é o Optimist, que é adequado para jovens até aos 13/14 anos. “Hoje, os miúdos crescem num instante e, com 14 anos, já não se sentem confortáveis naquele
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barco. Os jovens devem entrar, entre os 8 e os 10 anos, para a Escola de Vela e iniciar a competição em «Optimist» após os 10 anos e até aos 13, 14 anos”, explica. O passo seguinte nesta caminhada desportiva depende depois do que ALGARVE INFORMATIVO #64
cada clube tem para oferecer e, no caso concreto do Ginásio Clube Naval de Faro, há duas opções: o «Laser», uma embarcação solitária semelhante ao «Optimist» mas maior, com três tipos de superfície vélica - 4.7, radial e standard; ou os 420 ou 470 (nível olímpico), já em tripulação. “Contudo, raros são os miúdos que ficam cá depois dos 18 anos, porque vão estudar para a universidade para outras cidades. A prática da Vela, em Portugal, está limitada a essa idade, é raro aparecer velejadores mais velhos, excetuando aqueles que entram em projetos olímpicos”, observa Armando Cassiano, alertando ainda para o facto de não se estar a fazer a devida renovação de atletas nesta modalidade. “Vamos repetir muitos velejadores olímpicos precisamente por se tratar de um desporto caro e, sem apoios, não há milagres”. É um desporto caro e que não garante um retorno financeiro que dê para pagar as contas da casa, reconhece Armando Cassiano. Quanto a requisitos físicos necessários para se ter bom desempenho, responde que a Vela é um desporto maioritariamente intelectual, dentro da disponibilidade física considerada normal. “Quando os miúdos chegam aqui com sete ou oito anos, não conseguimos apontar para um e dizer, com certeza absoluta, que vai ser um craque. Ao fim de dois, três anos, pode ser que isso aconteça, mas tudo depende da dedicação, do empenho de cada um”, salienta o presidente, frisando ainda que, no
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Ginásio Clube Naval de Faro, os estudos estão em primeiro lugar. “Por isso, apenas trabalham ao sábado e domingo, até porque temos uma dificuldade bastante grande: o nosso campo de treino está a cerca de cinco milhas da sede do clube, no Farol, o que obriga a uma deslocação mais demorada e a uma logística mais complicada para os atletas”. E porque o «Optimist World Championship» se estava a disputar em Vilamoura, perguntámos se o Algarve possuía condições propícias para a formação de velejadores de excelência ou se estes são possíveis de «fabricar» em qualquer parte do globo. “Criam-se bons atletas em todos os sítios mas, claro, mais nuns pontos do que noutros. Não é por acaso que a costa da Califórnia, aquela zona de São Francisco e São Diego, é a meca da Vela nos Estados Unidos. E o mesmo se passa com a Bretanha e a costa atlântica de França, ou com o Sudoeste de Inglaterra. O Algarve também tem condições muito boas, mas não as tem explorado devidamente”, aponta o dirigente, recordando as palavras de um dos melhores velejadores do mundo, o francês Michel Desjoyeaux, que disse, sem rodeios, que o Algarve dispunha de um dos melhores campos de regata do planeta – a Baia de Lagos. “Está aproveitado? Nem pensar nisso. Não temos dinamizado nada porque, infelizmente, os
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portugueses são assim, não valorizam aquilo que têm”, constata, com tristeza. Com as atenções concentradas na prestação de Guilherme Cavaco no «Optimist World Championship», ao mesmo tempo que decorrem os treinos normais para os restantes atletas, os objetivos do Ginásio Clube Naval de Faro para o futuro passam por continuar a desenvolver a Vela e a motivar os mais novos para a sua prática, mas tal só será possível se não houver sobressaltos de maior no horizonte. “Espantosamente, assistimos a instituições, que tinham a
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obrigação de ser sensíveis para esta matéria, proferir determinadas afirmações no sentido de nos prejudicar. A Doca de Recreio de Faro é uma instalação extremamente difícil de gerir, mas há mais de 20 anos que levamos a água ao nosso moinho e sem grandes conflitos. De uma maneira geral, temos cumprido as nossas obrigações para com o Estado, apesar da Doca de Faro estar inoperacional sob o ponto de vista náutico, por estar completamente assoreada e porque o tráfego de embarcações está limitado pelo caminho-de-ferro” .
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Nuno Curro e Bruno Guerreiro representam barmans portugueses em Singapura Os olhos dos barmans profissionais de todo o mundo vão estar virados para Singapura, por ocasião do 25th Asia Pacific Bartender of the Year Cocktail Competition, um género de aperitivo para o Campeonato do Mundo que terá lugar, em outubro, no Japão. Quanto à competição que se disputa entre 25 e 27 de julho, Portugal vai estar representado por Bruno Guerreiro, na vertente clássica, e por Nuno Curro, na componente de flair, ambos membros da Associação de Barmen do Algarve. Texto:
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oi sob um calor abrasador que chegamos à sede da Associação de Barmen do Algarve, em Albufeira, para nos encontrarmos com Nuno Curro, 40 anos, natural de Beja e barman há duas décadas, e Bruno Guerreiro, louletano de 34 anos e barman há 16 anos. Estes são os representantes nacionais na «25th Asia Pacific Bartender of the Year Cocktail Competition», que tem lugar, entre 25 e 27 de julho, em Singapura, cidade-estado insular localizada na ponta sul da Península Malaia, no Sudeste Asiático, na sequência de um convite endereçado pela organização à Associação de Barmen de Portugal e que, por sua vez, delegou na Associação de Barmen do Algarve a escolha dos dois concorrentes lusitanos nesta importante competição.
Sabendo-se que o Campeonato do Mundo de Barman se realiza já a seguir ao Verão, em outubro, também no continente asiático, mas no Japão, a prova de Singapura funciona quase como um warm-up, um aquecimento para o principal evento desta profissão ao longo do ano, tanto na vertente clássica como de freestyle, mais comummente designada por flair. “O flair é uma versão que privilegia o espetáculo, todo aquele show-of com as garrafas, os copos e os shakers, enquanto a clássica é a área mais tradicional do barman”, distingue Nuno Curro, que disputará a componente Flair do Campeonato. ALGARVE INFORMATIVO #64
Uma participação que é, em ambos os casos, às custas dos próprios concorrentes, já que os apoios, como se adivinha, não existem, daí que a ida a Singapura exija um esforço financeiro considerável a Nuno e Bruno. “Mas é sempre bom representar Portugal no estrangeiro e, em termos de currículo, acaba por ser uma mais-valia. O Nuno é a quinta vez que vai a uma competição internacional deste gabarito, eu vou pela segunda vez”, indica Bruno Guerreiro, que é vogal da direção da Associação de Barmen do Algarve. E, como não são estreantes nestas andanças, como se portam os barmans lusitanos em relação aos seus colegas estrangeiros, indagamos. “Ainda existe alguma diferença, principalmente porque eles têm muito mais apoios do que nós. No Flair, por exemplo, estarão em prova concorrentes que são patrocinados por grandes marcas dos seus países para treinar e competir o ano inteiro. Nós temos os nossos trabalhos e, nas horas vagas, procuramos encontrar algum tempo para praticar, por isso, enquanto eles fazem 40, 50 competições internacionais por ano, nós conseguimos ir a uma ou duas, e com muita sorte”, observa Nuno Curro, análise partilhada por Bruno Guerreiro, o representante português na vertente Clássica. “Por alguma razão é que, no Flair, 64
Nuno Curro e Bruno Guerreiro, os representantes de Portugal no «25th Asia Pacific Bartender of the Year Cocktail Competition» que acontece em Singapura, entre 25 e 27 de julho
Portugal ainda não tem nenhum título mundial. Na Clássica, apesar de termos menos condições, já fomos sete vezes campeões do mundo, o que demonstra as capacidades dos barmans portugueses”. Olhando à concorrência, Nuno Curro revela que, atualmente, são os países de leste que dominam o flair, nomeadamente Polónia, Rússia e Ucrânia. Quanto à Clássica, Bruno Guerreiro reforça que Portugal não fica atrás de ninguém, mas os resultados depois podem ser influenciados pela disponibilidade de cada um para se preparar para as competições, já que também
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existem barmans patrocinados e vocacionados a tempo inteiro para os campeonatos. “A Inglaterra aposta imenso nos seus barmans, a Espanha tem vindo a seguir o mesmo caminho nos últimos anos, mas os portugueses não devem nada aos colegas do resto do mundo”, assegura o louletano. A par das diferenças referidas, Bruno Guerreiro acrescenta que o campeonato de Singapura acaba por acontecer numa má altura para os profissionais portugueses, por coincidir com a época do ano de maior trabalho. “Eu e o Nuno só conseguimos ir porque temos negócios próprios e pessoas de
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confiança que seguram as pontas durante a prova, caso contrário, teríamos que fechar os nossos bares, o que era complicado”, frisa, uma azáfama que condiciona igualmente a preparação técnica, indica Nuno. “Temos que elaborar as bebidas com o máximo de aparato possível, estar sincronizados com a música e apresentar uma coreografia original. Há tantos concorrentes em prova que é difícil ser diferente no meio da multidão, mas os portugueses sempre tiverem uma elevada originalidade. Os asiáticos são quase cópias uns dos outros nos seus movimentos, os latinos são mais explosivos”, considera o alentejano. Nesse sentido, há que preparar um número competitivo, inovador, e não ALGARVE INFORMATIVO #64
se fiar apenas na prática do dia-adia, até porque muitos dos movimentos do flair não são utilizados com regularidade nos postos de trabalho. “Na prova, temos cinco minutos para arriscar tudo, jogamos as cartas todas. No trabalho, fazemos o nosso show, mas é diferente”, compara Nuno Curro. A vertente Clássica é menos problemática nesse aspeto, porque a técnica está perfeitamente dominada por estes profissionais, pelo que a diferença é feita, muitas vezes, pela própria bebida que vai a concurso. “No meu caso, fui fazendo testes com o meu staff e clientes, dava a bebida a provar, recebia as opiniões e ia ajustando consoante as críticas até chegar à
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versão final”, indica Bruno Guerreiro. Escolher a bebida mais indicada pode ser, então, determinante para o resultado final na vertente Clássica, uma bebida que agrade a todos, tanto a nível de aromas como de sabores, considerações que podem ser igualmente influenciadas pela zona do globo onde decorre a competição. “Optei por uma bebida com um toque fresco e vegetal precisamente pelo concurso acontecer em Singapura”, confirma Bruno Guerreiro, ao passo que Nuno Curro mostra-se mais preocupado com a seleção das garrafas a utilizar no seu número. “Têm que ser garrafas que consiga manobrar com alguma facilidade, mas pensando também na questão da imagem e de alguns patrocinadores que possa angariar. E já tive uma má experiência porque levei produtos demasiado originais para uma competição internacional e apanhei com um júri que não conhecia aqueles sabores, o que influenciou negativamente a minha pontuação”, recorda.
Barmans são mais reconhecidos Bruno Guerreiro e Nuno Curro estão, então, de malas aviadas para Singapura daqui a algumas semanas mas o cidadão normal nem tem conhecimento da realização deste campeonato. Por isso, mesmo que os resultados sejam positivos e tragam
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títulos para Portugal, continuarão a ser perfeitos anónimos, ao contrário do que sucede noutros países. “Vamos como desconhecidos e, se ganharmos, se calhar chegamos um bocadinho menos desconhecidos. Só os clientes e amigos é que darão algum valor a esta participação, para além da nossa irmandade dos barmans”, admite Bruno Guerreiro, com Nuno Curro a confirmar que a esmagadora maioria dos portugueses nem sequer tem consciência de que existem campeonatos da Europa e do Mundo de Barman. “Por isso, vamos para representar o nosso país e para enriquecer o nosso currículo pessoal”, frisa. Claro que, como Bruno e Nuno são os seus próprios patrões, não podem estar à espera de aumentos de salários se ganharem algum título e os prémios monetários não chegam sequer para cobrir as despesas de deslocação, alojamento e alimentação. “Mas as pessoas já reconhecem o trabalho de bastidor que implica ser barman, deixamos de ser o servecopos lá da esquina”, acredita Bruno Guerreiro. “Os empresários também já vão exigindo que os barmans tenham formação profissional, que tenham, efetivamente, qualidade. Antigamente, funcionava tudo à base do preço e era suficiente que um barman se desenrascasse no
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seu posto de trabalho”, acrescenta Nuno Curro. Mudança de atitude que se justifica pelo aumento da exigência dos clientes, ainda mais numa região como o Algarve onde proliferam os bares, seja nas artérias de animação noturna, seja em hotéis ou empreendimentos turísticos. “Se os clientes estão dispostos a pagar pela qualidade, os patrões têm que apostar em barmans mais capacitados”, sublinha o alentejano, defendendo que um bom profissional deve dominar todo o género de bebidas, alcoólicas ou não. “Há uns anos começou a moda do gin, com o gin tónico a ser substituído agora pelos cocktails com gin. O próximo passo deve ser os cocktails com rum, ALGARVE INFORMATIVO #64
porque o mercado está sempre a acompanhar as tendências dos clientes estrangeiros”, antevê Nuno Curro. “Temos que estar preparados para satisfazer os pedidos dos clientes e é uma profissão que, levada com seriedade, nos dá segurança. Eu sou barman há 20 anos”, enfatiza. “Eu tive quatro bares alugados antes de decidir investir num espaço meu, juntamente com outro sócio. Somos dois profissionais da área que temos vindo a formar outros colegas na nossa casa e, se conseguirmos ficar com eles, mais qualidade vamos dar no futuro aos clientes”, reforça Bruno Guerreiro, antes de partir para Cabanas de Tavira, com Nuno Curro a seguir na direção de Beja . 68
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Classy Portugal Uma mercearia gourmet sobre rodas Estacionada em plena zona comercial do Fórum Algarve, em Faro, encontrase uma Piaggio Ape 50 diferente do habitual, a «Classy Portugal», uma verdadeira mercearia gourmet sobre rodas pertencente aos jovens empresários Filipe Pereira e Cristina da Costa. O conceito inovador pretende reunir no mesmo espaço opções de qualidade de diversos produtos regionais, desde as conservas e compotas aos licores e espumantes, com particular enfoque para os tipicamente algarvios. Texto:
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percorrer a piso térreo do Fórum Algarve muitos são os clientes deste espaço comercial da capital algarvia, entre locais e turistas, portugueses ou estrangeiros, que se deparam com uma imagem inesperada – uma Piaggio Ape 50 transformada em mercearia gourmet ambulante onde se podem encontrar diversos produtos algarvios, desde as tradicionais conservas, compotas e bolos ao sal, aperitivos, licores e espumantes. A ideia partiu de Filipe Pereira e Cristina da Costa, residentes em Lisboa mas com ligações familiares ao Algarve, que criaram a empresa «Portugal com Classe» e lançaram a «Classy Portugal». “O objetivo é sermos uma pequena afinação nas cozinhas, uma forma fácil das pessoas adquirirem produtos de qualidade mas sem uma parafernália de escolhas que lhes consome imenso tempo. No Vinho do Porto, por exemplo, temos duas opções, porque não queremos ser uma grande garrafeira ou um supermercado”, explica Filipe Pereira, que é comissário de bordo de profissão. Sem possuir na sua oferta o creme de la creme, nem os mais básicos de cada produto, a aposta vai para a gama média e média/alta, desde as conservas aos licores e champanhes. Comercialização de conservas que foi a ideia inicial, mas a dupla de jovens empresários depressa constatou a necessidade de alargar a variedade. “O conceito foi evoluindo para outros produtos que tinham bastante procura, mas sem nunca dispersar as atenções
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dos clientes. O mais importante é que eles encontrem rapidamente aquilo que precisam e, apesar do espaço ser reduzido, temos de tudo um pouco”, sublinha Cristina da Costa, que é designer de moda. Uma mercearia gourmet diferente, se assim se pode chamar, mas que nunca foi equacionada para ocupar um espaço físico, por ser um segmento onde já existe bastante concorrência, e feroz. “O problema às vezes é precisamente a enorme diversidade de escolhas, dentro de cada produto, que há nessas mercearias ou supermercados. Há 50 garrafas de vinho de marcas diferentes das quais o consumidor normal percebe muito pouco e o mesmo se passa com as conservas, doces, licores e tudo o mais”, observa Filipe Pereira. “Nós demoramos, em média, seis ou sete minutos a apresentar toda a mota, de maneira a que o cliente saiba exatamente aquilo que está a levar para casa”, garante. Depressa se verifica, igualmente, que os produtos comercializados na «Classy Portugal» são mais caros que os vendidos num supermercado ou hipermercado, daí que seja importante transmitir ao cliente o motivo dessa diferença de preços. E rapidamente constatamos também que grande parte dos produtos expostos são do Algarve, alguns deles que nem são muito fáceis de descobrir nos espaços comerciais tradicionais. “Procuramos o que seja ALGARVE INFORMATIVO #64
Filipe Pereira e Cristina da Costa, os proprietários da «Classy Portugal»
mais típico possível e em produtores pequenos, que trabalhem de forma artesanal e que não estejam representados em muitos sítios. Os turistas também querem comprar produtos tipicamente algarvios, portanto, não faria sentido oferecermos somente artigos de outras zonas do país. Mas temos a ginga de Lisboa ou a poncha da Madeira”, indica Cristina da Costa.
vez por curiosidade e já regressaram para adquirir quantidades maiores para terem nas suas despensas. Alguns até perguntam se conseguimos fazer entregas noutros pontos de Portugal”, apontam Filipe e Cristina.
Não se admire, por isso, que o produto mais vendido seja o atum com presunto e azeitona, uma mistura bastante peculiar, mas há ainda atum com amêndoas e outras novidades que enfatizam a componente gourmet da «Classy Portugal». “Estamos aqui há mês e meio e já temos vários clientes repetidos, que compraram a primeira
Com um arranque empolgante e encorajador, os empresários pensam já numa segunda mota para ficar sedeada em Lisboa e, nesse caso, a gama de produtos será mais variada e representativa do melhor que Portugal tem para oferecer, de norte a sul, passando pelas Ilhas. “Se vamos a Ayamonte, queremos um licor espanhol, não de Ayamonte,
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Aposta nos pequenos produtores locais
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Sevilha ou Madrid. Em Paris, procuramos um produto típico de França, não interessa se é de Paris, Toulouse ou Marselha. Quando se vai ao estrangeiro, a região de origem do produto acaba por ser um pouco indiferente”, justifica Filipe Pereira com conhecimento de causa, não estivesse ele habituado a percorrer o mundo como comissário de bordo. A situação do Algarve é, porém, diferente, conforme já se percebeu, e ninguém duvide do impacto que esta Piagio Ape 50 tem na economia local. “Há uma senhora que vende bolos para nós quase em regime de exclusividade, uma produção 100 por cento manual e artesanal, sem qualquer maquinaria envolvida. Os nossos doces são feitos por outra senhora”, revela Filipe Pereira, acrescentando que a estratégia foi-se modificando à medida que as semanas foram passando. “A nossa prateleira já sofreu várias alterações porque estamos num local de exposição extrema. Espumante não 75
tínhamos até passar por aqui o revendedor do «Marquês de Marialva», o único espumante português que segue o método de confeção do verdadeiro espumante, e achamos que esse produto se enquadrava no nosso conceito”. Caso semelhante aconteceu com as compotas da Serra da Estrela e outros artigos, com os produtores a ALGARVE INFORMATIVO #64
verificarem que esta mercearia sobre rodas é uma excelente montra para o que fazem. “Mas, na maioria das situações, vamos nós procurar diretamente os produtores, testamos os produtos, andamos semanas a provar conservas, compotas, doces”, conta Cristina, com um sorriso. Quanto ao veículo em si, também foi escolhido com cuidado. “A primeira hipótese foi uma «Pão de Forma» mas percebemos que isso obrigava a um investimento maior, a termos mais stock e a utilizar mais metros quadrados de espaço nos shoppings. Assim, optamos pela Piaggio Ape 50, que ainda é usual ver nos vilarejos do país inteiro”, continua Filipe Pereira. Moto que era pertença do próprio Filipe, esquecida na garagem, sofrendo depois uma intensa restauração e adaptação, da responsabilidade de Cristina. Depois, foi partir para a estrada, mais concretamente para o Algarve, onde faz mais
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sentido estar durante o Verão, por aqui se concentrarem as atenções de todos os portugueses que vão de férias. “A moto vai ficar aqui pelo Fórum Algarve e estamos a pensar avançar para outro conceito um bocadinho diferente, já com uma pequena esplanada, onde os clientes podem adquirir o produto e consumir no próprio local, como existe já em Lisboa. Em Lisboa será para apostar numa segunda mota”, antevê Cristina da Costa, com cautela, porque o sucesso nunca é garantido. “Estamos no início, o projeto é todo fruto do nosso esforço e trabalho, sem quaisquer apoios financeiros de terceiros. Obviamente que o objetivo é crescer e evoluir para outros conceitos e o feedback está a ser bastante positivo”, finaliza a designer, enquanto Filipe estava ali ao lado a atender uns clientes estrangeiros .
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