ALGARVE INFORMATIVO 9 de julho, 2016
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Isilda Gomes estรก a meter Portimรฃo nos eixos 1
Alameda Beer Fest | +Patrimรณnio +Turismo | Mito Algarvio Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve |FestivalALGARVE MED INFORMATIVO #65
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Brexit, Música e Futebol Daniel Pina- 8
Reflexos da educação… ou da falta dela! Paulo Cunha - 36
O renascimento da AMAL (2) José Graça - 40
O que está por vir – ou o papel das mulheres numa sociedade ainda repressora Mirian Tavares - 42
Comida para camones Augusto Lima - 44
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Isilda Gomes - 48
Festival MED - 10
Mito Algarvio - 60
Alameda Beer Festival - 28
Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve - 70 ALGARVE INFORMATIVO #65
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Brexit, Música e Futebol Daniel Pina Com a entrada no mês de julho, aproxima-se a tão badalada silly-season, aquela época do ano onde os assuntos importantes praticamente são abafados pelos episódios cor-de-rosa dos nossos colunáveis, sejam políticos, desportivas, artistas ou simplesmente patetas. Vai a Assembleia da República de férias, fecham os tribunais, as escolas também, ou seja, é meio caminho andado para esquecermos o que realmente interessa e nos dedicarmos aos faits-divers, a situações que nada acrescentam para a nossa felicidade, mas que enchem as capas das revistas e nos entopem todos os dias o Facebook. Antes disso, claro, anda tudo concentradíssimo no Europeu de Futebol e, pasme-se, Portugal está na final e vai defrontar, precisamente, a seleção anfitriã. Uma França da qual temos má memória em competições oficiais, esses mesmos franceses que passaram o Europeu a deitar Portugal abaixo, a dizer que não jogamos nada, que somos uma porcaria, que não merecíamos vencer os jogos. O certo é que lá fomos avançando na prova e seria, de facto, um grande galo para os franceses se lhe ganhássemos o caneco na sua própria casa. Tal é o reboliço com o futebol que ainda não se prestou a devida atenção ao Brexit, à anunciada saída do Reino Unido da União Europeia. Logo Portugal que tanto depende dos turistas britânicos, sobretudo o Algarve. Eles que são os nossos principais visitantes, que deixam milhares de milhões de euros no nosso país todos os anos, mas os governantes, para variar, assobiam para o ar. Como não fazem a mínima ideia de como lidar com a situação, deitam palavras sem grande significado da boca para fora, atirando a batataquente para as mãos dos empresários, dos hoteleiros, dos dirigentes do setor turístico, como se o problema fosse só do Algarve e desta classe de empresários e trabalhadores. Quem também ainda não deve ter percebido muito bem o sarilho onde se meteram são os próprios britânicos que, com a sua tradicional mania imperialista, ainda não ultrapassaram o
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facto de meio mundo ter deixado de ser colónia de Sua Majestade e decidiram bater com a porta à Europa. Esquecem-se que não têm um setor produtivo que sustente o país e que vão ter que importar quase tudo, e com uma libra desvalorizada. Esquecem-se também que não têm trabalhadores qualificados para inúmeras atividades, e trabalhadores não qualificados para desempenhar aquelas tarefas em que os ingleses não querem sujar as mãos, mas querem mandar para casa não sei quantos imigrantes. Enfim, não tardará muito a arrependerem-se do passo que deram, aliás, muitos já estão arrependidos, mas pensassem nisso antes. Turismo que, pelo menos no Algarve, parece estar confiante em saber lidar com a situação do Brexit, com a maioria dos empresários unidos e a remarem para o mesmo lado. Claro que tudo seria mais fácil se o governo fizesse a sua parte, ou que, pelo menos, não atrapalhasse tanto, como é o caso das obras na EN 125 e das portagens na Via do Infante. Eu, lá está, como sou rabugento, nunca acreditei que o governo aprovasse uma redução das portagens, até porque está farto de levar puxões de orelhas da União Europeia e não quer apanhar com sanções que compliquem ainda mais as contas do país. Do mesmo modo que não acreditei que as obras na EN 125 estivessem concluídas até final de junho, e a verdade é que elas lá continuam a avançar no terreno. Mas nem tudo foram chatices nesta semana e tive mais uma vez a oportunidade de assistir a muita música. Música dos consagrados, como o excelente concerto do Jorge Palma e a atuação de Viviane e Tó Viegas na gala dos «Algarve Travel Awards by EC Travel». Mas também música dos mais novos, primeiro na gala da Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve e, depois, num workshop de guitarra portuguesa com alunos da Academia de Música de Lagos. E que bem servidos estamos nós de futuros músicos, se os nossos governantes não lhes cortarem as asas .
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Loulé voltou a ser a capital da world music entre 30 de junho e 2 de julho, com dezenas de concertos em vários palcos espalhados pelo centro histórico da cidade a atraírem verdadeiras multidões de portugueses e estrangeiros. Mas a 13ª edição do Festival MED não viveu apenas de música, com cinema, poesia, gastronomia e muitas mais ofertas culturais a confirmarem estarmos na presença de um dos maiores eventos do género do Velho Continente. Texto: Fotografia:
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e 30 de junho a 2 de julho, Loulé foi palco de três dias de intensa animação, música de grande qualidade e excelentes propostas culturais que fizeram com que a 13ª edição do Festival MED suplanta-se o sucesso alcançado em 2015. Não admira, por isso, que sejam cada vez mais os turistas estrangeiros que rumam à região algarvia nestes dias para participar num dos principais eventos de World Music da Europa. O Centro Histórico de Loulé foi, passe a redundância, o centro de todas as atenções e um verdadeiro ponto de encontro de pessoas de todas as idades e nacionalidades reunidas em torno da música, para assistir aos concertos de bandas, umas mais conceituadas, outras em
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início de carreira, provenientes dos cinco continentes. Com muitos prémios internacionais nos currículos e seis estreias absolutas em Portugal, o Festival MED registou espetáculos que ficarão para sempre na memória dos espetadores e na história deste festival. Espetáculos onde o grande destaque vai para os «Dubioza Kolektiv», banda que surge dos escombros da guerra da exJugoslávia e que conquistou o mundo com a sua música contagiante, onde os festivos sons balcânicos sobressaem de forma singular. A atuação marcou o último dia do festival, com um permanente e entusiástico apelo do vocalista para a participação do público, que respondeu sempre da
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melhor forma. A saltar no meio da multidão, o líder da banda protagonizou um momento verdadeiramente único no historial do MED, tendo sido considerado por muitos como o melhor concerto de sempre no festival. Antes disso, já Loulé tinha assistido ao regresso de Tinariwen, com o rock tuareg a fazer as delícias dos amantes da World Music. Na noite de sábado, 2 de julho, as estreitas ruas do centro histórico de Loulé foram, de facto, pequenas para a verdadeira multidão que não quis faltar a esta «Meca da World Music em Portugal», um final de sonho onde estiveram igualmente em evidência outros artistas, entre os quais a portuguesa Capicua que, no Palco Castelo, chamou miúdos e graúdos a um concerto com uma
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toada rap em português. Foi também aqui que a moçambicana Selma Uamusse encantou o público e, apesar de não ter qualquer álbum editado, a cantora deslumbrou neste espaço emblemático da cidade. No Palco Cerca, os sons quentes de África surgiram pela voz do camaronês Blick Bassy, com um concerto mais intimista que pretende promover e preservar, através da música, a cultura do seu país, nomeadamente a língua basaa. Seguiu-se o ritmo e calor da América Latina, com a chicha dos mexicanos Sonido Gallo Negro, num espetáculo instrumental com fusões entre este estilo tradicional e a inovação de alguns elementos que dão originalidade a este projeto.
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Também na Cerca do Convento os Alo Wala deram continuidade a essa senda de inovação, com a voz da bela Shivani Ahlowalia, nascida em Chicago, nos Estados Unidos, mas de ascendência indiana, acompanhada por um músico dinamarquês e outro holandês. O trio apresentou uma fusão entre o bollyhood indiano, as Caraíbas, o hip-hop ou a eletrónica, uma verdadeira máquina de dança que contou com a presença do público em palco, durante o tema «City Boy». Com a responsabilidade de encerrar o 13.º Festival MED, Rocky Marsiano levou a fusão de clássicos da música africana com a eletrónica da atualidade no «Meu Kamba Live» à Matriz, numa toada dançante a celebrar em grande final
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no Palco Matriz. E nenhum corpo ficou indiferente às batidas do DJ que encerrou o MED ao som de «One Love» de Bob Marley.
O Festival MED arrancou, no dia 30 de junho, com a estrela António Zambujo, que regressou a Loulé agora com uma carreira mais consolidada e reconhecida pelo seu público. A alegria da sonoridade de «Shantel & The Bucovina Club Orkestar» ajudou à festa portuguesa, que também se fez ao ritmo dos Balcãs e contagiou o vasto público que aguardava há anos pela presença do músico, e
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também DJ, alemão. Foi Final apoteótico com dezenas de pessoas em palco a dançar o clássico «Disko Partizani». Com quase 80 anos, a jovialidade artística de Dona Onete encantou a todos, com a forte herança cultural riquíssima do norte do Brasil e o seu carimbó chamegado. Do continente africano passaram também pelo Palco Cerca duas estreias absolutas em Portugal: o grande embaixador da música da Guiné-Conacri, «Moh! Kouyaté», que ofereceu uma boa dose de blues temperados com sonoridades de África, e da República Democrática do Congo, «Mbongwana Star», que apresentaram o seu premiado álbum de estreia.
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Já no Castelo, Isaura deu o mote para o início do festival e provou porque é considerada por muitos como uma das grandes promessas da música nacional. Da Rússia para Loulé, os «Otava Yo» trouxeram um espetáculo pleno de energia, onde não faltaram as danças dos cossacos entre o público, enquanto que o DJ Chico Correa trouxe um cheirinho da tradição musical da Amazónia e dos seus instrumentos, remisturada com os inovadores sons da eletrónica, reproduzindo toda a ambiência do «pulmão do mundo». No segundo dia, sexta-feira, 1 de julho, os milhares de visitantes
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Hugo Nunes, vice-presidente da Câmara Municipal de Loulé, Raquel Bulha, Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé, António Zambujo, Ana Mendes Godinho, Secretária de Estado do Turismo, Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve, entre outros, na abertura oficial do Festival MED
espalharam-se pelas ruas, ruelas, becos e largos do casco medieval da cidade para um convívio feito de música, gastronomia, artesanato, exposições ou animação de rua que surpreendeu quem por ali andou. A World Music esteve representada pelos vários artistas que subiram aos oito palcos instalados no recinto e o MED teve mais uma vez o mérito de reunir na mesma noite e no mesmo palco, a fadista Aldina Duarte, com seu fado na forma mais pura, as sonoridades do Sahara com a voz encantada de Hindi Zahra ou o brasileiro Emicida que elevou bem alto a bandeira do rap como forma de identidade, de orgulho na sua cor, nas suas origens, num espetáculo
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verdadeiramente estrondoso que levou o público a cantar em coro temas como «Hoje Cedo» e «Passarinho». Na Matriz, a cantora e MC chilena trouxe consigo o espírito combativo, interventivo e emocional do hip-hop latinoamericano, enquanto que o reggae em francês de Danakil não teve qualquer pudor em apresentar «Non Je Ne Regrette Rien» de Edith Piaf em versão reggae. Em mais uma noite de casa cheia, a sextafeira contou no Palco Castelo com dois projetos nacionais distintos – Marafona, com uma releitura da música tradicional portuguesa,
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assumindo declaradamente a sua portugalidade, e a união perfeita entre a eletrónica e os instrumentos tradicionais portugueses de Fandango. O Festival MED encerrou oficialmente no domingo, 3 de julho, com o Open Day, de entrada livre, onde a gastronomia do mundo foi a grande protagonista. No final, o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, reafirmou o sucesso de mais uma edição deste evento que atraiu milhares de visitantes à Zona Histórica da Cidade. “Relativamente ao ano passado, em que assistimos a uma edição fabulosa que elevou bastante a fasquia, tínhamos as expetativas altas e conseguimos alcançar os objetivos. Tivemos uma casa cheia de público, concertos que ficarão para sempre na mente de quem aqui esteve, proporcionando experiências
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únicas”, considerou o autarca. Relativamente à economia local, para o responsável municipal “este evento arrastou, mais uma vez, milhares de visitantes que durante estes dias deram uma dinâmica muito importante à restauração, ao comércio e às unidades hoteleiras, não só da cidade, como também do concelho, que por estes dias tiveram lotação acima da média“. A componente turística deste evento ficou também marcada pela presença da Secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, no ano em que o MED passou a integrar o Programa Portuguese Summer Festivals, financiado pelo Turismo de Portugal. Agora, resta esperar por 2017, com a certeza de que o Festival MED vai regressar ao coração histórico da cidade de Loulé e com muitas surpresas .
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João Fernandes, vice-presidente da Região de Turismo do Algarve, Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve, Alexandra Gonçalves, Diretora Regional da Cultura do Algarve e Carlos Abade, vogal do Turismo de Portugal
«+Património +Turismo» foi apresentado no Algarve A sociedade de capital de risco Portugal Ventures e o Turismo de Portugal vieram ao Algarve, no dia 7 de julho, apresentar o programa «+Património +Turismo», que tem como objetivo estimular o nascimento de startups e de novos negócios associados ao turismo e à valorização do património cultural e natural do país. Com um valor global previsto de 10 milhões de euros, o programa vai analisar e avaliar as candidaturas submetidas, podendo realizar investimentos até ao montante máximo de 500 mil euros por projeto. As inscrições decorrem até ao final de julho. Texto: ALGARVE INFORMATIVO #65
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Portugal Ventures é uma empresa de capital de risco com cerca de 400 milhões de euros de fundos sob gestão e mais de 100 participadas. Atualmente, gere a «Call For Entrepreneurship», «Programa Indústria 4.0» e «Empreendedorismo nos Açores», através dos quais investe em projetos inovadores com ambição global, nas áreas de Projetos de Tecnologias de Informação e de Comunicação, Eletrónica & WEB, Ciências da Vida, Turismo e Recursos Endógenos, Nanotecnologia e Materiais e Engenharia. Dentro da área do Turismo já investiu em empresas como a Doinn, JiTT, GuestU, IndieCampers, Invine e Storyo. No dia 16 de junho abriram, entretanto, as candidaturas para a primeira edição do Programa «+Património +Turismo», a nova iniciativa da Portugal Ventures que conta com o apoio do Turismo de Portugal e que pretende fomentar o aparecimento de startups e de novos negócios, nomeadamente de base local ou regional, associados ao turismo e à valorização do património cultural e natural do país. Para esta primeira edição está disponível para investimento um valor global de 10 milhões de euros, sendo que cada um dos projetos selecionados poderá receber financiamento até um montante máximo de 500 mil euros. Podendo ou não ser de base tecnológica, os projetos apresentados têm de ter na base a constituição de uma nova empresa, ou a criação de uma
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nova linha de negócio. Devem ainda ter como objetivo essencial a fruição turística do património cultural e natural do País, valorizando aspetos como a história, a arte, a arquitetura, o património religioso, o enoturismo e gastronomia, o desporto associado à natureza ou o geoturismo. Outro dos objetivos será apoiar o desenvolvimento de produtos e serviços turísticos inovadores, à escala global, nacional ou regional. Neste sentido, os projetos devem recair numa das seguintes categorias de investimento: desenvolvimento de atividades de animação e projetos que promovam o património cultural e natural; projetos relacionados com alojamento turístico, notavelmente inovadores e que tenham uma ligação direta com a promoção da cultura ou do ambiente; ou plataformas de base tecnológica, tais como sistemas de reservas ou outras ferramentas que promovam o mapeamento e a constituição de informação relativa às atrações culturais e naturais existentes. Enquadrado na Estratégia Nacional para o Empreendedorismo StartUP Portugal, o Programa «+Património +Turismo» permite a incorporação do património cultural e natural do país em propostas de valor relacionadas com o turismo nacional. Ora, foi tudo isto, e muito mais, que foi explicado a uma plateia repleta de empresários que encheu o auditório da sede da Região de Turismo do Algarve, no dia 7 de julho. “A nossa preocupação é continuarmos a valorizar a nossa região e ALGARVE INFORMATIVO #65
informarmos os empresários sobre as oportunidades de que dispõem para investirem nas diversas plataformas e programas. Este é um projeto interessante que tem como objetivo fomentar o empreendedorismo e apoiar os que podem fazer a diferença no Algarve”, considerou Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve, colocando um enfoque particular no Turismo de Natureza e no Turismo Cultural, fatores diferenciadores e fundamentais para complementar o sol, praia e golfe. “Sabemos bem que estes produtos podem ajudar a que a taxa de ocupação anual passe dos 62 para os 70 por cento, de modo a termos um Algarve sustentável todo o ano e não apenas seis meses”. A representar o Turismo do Portugal estava o vogal Carlos Abade, que
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confirmou o bom desempenho que o setor do turismo tem tido no passado recente e que 2016 será, provavelmente, o melhor ano dos últimos tempos. “Mas isso levanta cada vez mais responsabilidades e desafios, que nos obrigam a atuar muito fortemente em várias áreas e eixos. Um desses eixos tem sido precisamente a questão da inovação e do empreendedorismo, pois não é possível continuarmos a ter este crescimento sustentável se não gerarmos mais-valias competitivas, que têm que se alicerçar em propostas de valor que sejam mais distintivas”, frisou. Criar novos negócios, soluções, produtos e serviços é, para Carlos Abade, uma forma de regenerar o próprio tecido empresarial e uma
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maneira de as empresas já existentes introduzirem fatores de inovação nos seus processos e, com isso, gerarem as tais mais-valias competitivas. “A desconcentração temporal da procura é uma das nossas prioridades e, conscientes desta necessidade de fomentar o empreendedorismo e a inovação, temos connosco a Portugal Ventures, um parceiro que gere três fundos de capital de risco detidos pelo Turismo de Portugal”, elucidou o dirigente. “Um dos aspetos mais distintivos que Portugal tem é o nosso povo, que é inigualável na forma de receber, mas os nossos ativos culturais e naturais são também inimitáveis e constituem fatores de diferenciação de qualquer proposta de valor. É nesse contexto de valorização do nosso património que lançamos este «+Património + Turismo», para que a Portugal Ventures possa entrar no capital social dessas empresas e apoiar o processo de criação de novos produtos ou do seu próprio crescimento”. Seguiu-se a apresentação formal do programa que, conforme referido, tem como principais objetivos contribuir para o desenvolvimento de atividades turísticas associadas à valorização do património cultural e natural do País; e dinamizar a criação de projetos que visem a fruição turística do património cultural e natural do País, podendo, ou
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não, ser de base tecnológica. Os grandes benefícios para os promotores são o investimento, por parte da Portugal Ventures, até ao valor de 500 mil euros, numa participação minoritária, por tranches e com base num plano de desenvolvimento; ter um parceiro dedicado em apoiar os projetos e a criação de uma nova realidade de negócio, com fortes competências de gestão e conhecimento do setor; fácil acesso a uma comunidade que acredita na inovação e que acompanhará os empresários no crescimento dos seus projetos com forte compromisso; acompanhamento por peritos nos projetos financiados pela Portugal Ventures. Para além disso, os projetos selecionados terão a oportunidade de serem incubados e acelerados em polos de inovação internacionais .
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Alameda Beer Fest voltou a crescer e deu a conhecer uma nova cerveja algarvia Pelo segundo ano consecutivo, o Jardim da Alameda, no centro de Faro, recebeu o «Alameda Beer Fest – Festival Internacional de Cervejas e Cervejeiros Artesanais», de 1 a 3 de julho. Música animada, ambiente familiar, 150 variedades de cerveja artesanal, workshops e degustações fizeram as delícias dos inúmeros visitantes que compareceram a um dos poucos eventos do género que existem em Portugal e que já assegurou a sua continuidade nos próximos anos. Texto:
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aro recebeu, de 1 a 3 de julho, a segunda edição do evento «Alameda Beer FestFestival Internacional de Cervejas e Cervejeiros Artesanais», um formato inovador e mediático que é organizado pelo Município de Faro, OG & Associados e pela Ambifaro. Este ano, a iniciativa contou com a presença de 31 produtores, mais oito que na edição de arranque, e que colocaram à apreciação dos visitantes 150 variedades de cerveja artesanal. A capital do Algarve voltou a ser, assim, a referência mais mediática a sul da Península Ibérica, atraindo grandes cervejeiros e projetos já consolidados, 23 nacionais - entre os quais dois algarvios, cinco de Espanha, dois da Dinamarca e um holandês. Para além das cervejas artesanais, houve lugar de destaque para a gastronomia algarvia, música e performances artísticas, tudo isto no Jardim da Alameda, um espaço ícone da capital algarvia e dos farenses. Um dos momentos altos do fim-desemana foi a apresentação de uma nova cerveja algarvia, mais concretamente de Faro, a «Moça», pelas mãos dos empresários Pedro Alves e Vera Borges. “Queríamos um produto genuinamente algarvio, desde a receita ao próprio nome e «Moça» é uma designação bastante associada ao Algarve, às suas lendas e à maneira de ser da população. Não é um nome brejeiro, como sucede em
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algumas cervejas tradicionais, e pode ser explorado em várias culturas e línguas”, justificou o proprietário do restaurante Vila Adentro, localizado na zona histórica de Faro. “Hoje temos aqui uma cerveja loira, mas brevemente surgirão mais duas variedades”. O projeto surgiu em 2015 e foi alvo de uma candidatura ao Programa Portugal 20-20, no segmento do Turismo, com a missão de utilizar ingredientes algarvios, desde a laranja à amêndoa, figo e medronho, e foi com este propósito que a dupla contatou o mestre cervejeiro Nicolas Billard. “Ele optou pela laranja porque, nesta altura do ano, pretende-se uma cerveja leve e bastante fresca, e até a própria laranja é de Faro”, explica Pedro Alves. “Existe uma fábrica de cerveja na Cidade Velha de Faro, mas que nunca viu nascer uma cerveja lá dentro e achamos que era a altura ideal para mudar essa situação. Depois, fizemos todos os esforços para que a «Moça» fosse apresentada neste festival, que já é uma referência internacional no segmento da cerveja artesanal”. Conforme explicado na apresentação, a «Moça» vai ser a cerveja mais leve da família, com 5,1% de teor alcoólico, por ser de trigo frutado, com as outras duas receitas a terem saída programada para os próximos meses. Certo é que, numa primeira fase, só estarão
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Nicolas Billar, Vera Borges e Pedro Alves, o trio responsável pela nova cerveja Moça
ao dispor dos clientes da Cervejaria Bohéme, propriedade do casal de empresários, devendo chegar a outros locais à medida que a produção for aumentado de quantidade. A acompanhar as várias iniciativas estava Paulo Santos, vice-presidente da Câmara Municipal de Faro, que esclareceu que este evento apareceu como resposta a uma verdadeira revolução que se está a assistir na indústria cervejeira mundial. “É um mercado onde todos os dias surgem novos produtores, jovens empresários que começam em casa, na cozinha, depois passam para a garagem e, depois, criam um negócio sustentável e uma cerveja de imensa qualidade. Portugal tem dezenas de produtores a crescerem cada vez mais
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e a verem os seus produtos reconhecidos no estrangeiro”, nota o autarca, daí que o «Alameda Beer Fest» pretenda ser um espaço para dar mais visibilidade a todos esses projetos. Com a primeira edição, em 2015, a surpreender tudo e todos, com uma adesão fantástica de público, 2016 é já um ano de confirmação, facto para o qual contribui, de forma decisiva, o Jardim da Alameda. “É um espaço bastante agradável e onde as pessoas conseguem estar num espírito que não é frequente em eventos em torno da cerveja, com muita amizade e descontração. Estão reunidos, por isso, todos os ingredientes para o «Alameda Beer Fest» prosseguir na
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senda do sucesso”, acredita Paulo Santos, garantindo que foi extremamente fácil reunir os 31 produtores presentes na capital algarvia no primeiro fim-de-semana de julho. “Em 2015, os expositores vieram a convite da organização, que também faz o festival de cerveja de Caminha. Este ano, mal abrimos as inscrições, tivemos logo 150 produtores interessados, entre portugueses, espanhóis e de outros países europeus”. A internacionalização do evento foi, assim, rápida de alcançar, sem nunca retirar o merecido destaque aos cervejeiros portugueses e, inclusive, aos algarvios, entre eles as «Marafada», «Moura» e «Moça». “Os estrangeiros trazem consigo o seu
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know-how e participam em tertúlias e workshops para partilhar experiências e conhecimentos. O objetivo é que este mundo cervejeiro cresça de forma dinâmica e equilibrada e, se olharmos para países como Espanha, Itália, Bélgica, Dinamarca ou Brasil, há milhares de cervejeiros a criarem produtos novos todos os dias”, indica o vicepresidente, esclarecendo que o evento não pesa no orçamento camarário. “Segue o mesmo princípio do Festival F, ou seja, tem que ser sustentável por si só. Claro que há um investimento inicial, mas depois é recuperado por vida das receitas. E há que pensar igualmente na projeção que traz a Faro e o impulso que dá aos
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produtores locais”, salienta Paulo Santos. Depois de crescer de forma auspiciosa da primeira para a segunda edição, o responsável afirma que a Alameda será sempre o local de eleição para o evento, mantendo-se fiel à sua designação, pelo que o número de cervejeiros presentes não deverá aumentar muito mais no futuro. “Os 31 que cá estão já trazem 150 cervejas diferentes e a ideia é atrair as principais referências mundiais da cerveja artesanal”, frisa, indicando ainda que também não se pretende organizar eventos em excesso neste espaço de lazer da
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capital. “Temos cá o Festival da Cerveja e o Festival do Petisco, no final do Verão, que não é organizado pela autarquia mas pensamos que se enquadra no espírito da Alameda. Claro que não vamos ocupar este espaço privilegiado para o convívio das famílias com eventos constantes, exatamente como não fazemos com o Jardim Manuel Bívar e a Cidade Velha. Não podem ser eventos forçados, caso contrário, as pessoas não aderem” .
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mbora viva numa região onde o convívio dos seus residentes com a multiculturalidade e diversidade étnica, racial e religiosa seja intenso e rico, fruto da permanente entrada e saída de turistas, ainda consigo surpreender-me com algumas “tiradas” por parte de alguns elementos duma geração pretensamente - esclarecida e progressista. É com alguma perplexidade e estranheza que, ano após ano, assisto a comentários e a atitudes efetuadas em contexto escolar que me deixam a matutar nas razões e causas que levam jovens de tenra idade a terem atitudes racistas e xenófobas. Tentando compreender esta realidade que, embora em menor grau, assola também esta terra cosmopolita e de brandos costumes, não fico indiferente a comentários, incitamentos e afirmações que denotam, implícita e explicitamente, uma grande dose de discriminação e, nalguns casos, até de ódio. Depois de os confrontar e admoestar, tenho tentado perceber porque é que tantos jovens injuriam e depreciam os seus pares com epítetos claramente racistas e xenófobos. Muitos deles respondem-me abertamente que não gostam de “pretos”, de “ciganos” e de “gente de fora”, apenas porque sim… Resposta à qual eu insisto numa explicação lógica e plausível. Invariavelmente as razões que me dão, envergonhadas e tímidas, acabam sempre naquilo que lhes foi transmitido em casa. Com o passar dos anos deixei de me surpreender. Aliás, de outra forma não poderia ser, pois a educação de base é dada (ou não) pela família, acabando por moldar e condicionar a forma como os jovens veem e se posicionam perante o mundo. Sei, enquanto pai, encarregado de educação e professor que, apesar de todas as influências exteriores (que são muitas e diversificadas), a forma como muitos jovens reagem em contexto grupal tem origem em
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muitas situações que ocorrem a coberto e no recato das quatro paredes das suas casas. Como exemplo costumo apresentar a quantidade de vezes com que já me deparei com cruzes suásticas desenhadas em cadernos de adolescentes, respondendo-me liminarmente que sabem qual é o seu significado, assumindo-o e dizendo que já falaram sobre o assunto com os pais. Perante tais afirmações, nada me resta fazer. Está tudo dito: a educação é dada pelos encarregados de educação, cabendo à sociedade balizá-la e contextualizá-la. Mesmo com a facilidade de acesso à informação diversificada e fidedigna que o mundo virtual proporciona, é a transmissão das ideias, ideais e valores que passam de geração em geração que irão influenciar e condicionar a forma como se perpetuam comportamentos e atitudes. E isso preocupa-me, pois vivendo e trabalhando numa zona onde pouco se sente os preconceitos raciais, culturais e religiosos, ainda me deparo com jovens já formatados para marginalizar, culpar e ofender quem é diferente de si. Numa altura em que a globalização está na “berra” e em que guerras várias provocam êxodos massivos de exilados e refugiados, eis-nos chegados a um tempo em que a necessidade de uma mudança interior urge. Não vejo outra forma para lá chegar senão a da educação para a cidadania, para o civismo e a para a igualdade. A tal que é dada em casa e se espelha na sociedade. Plantando sementes de mudança talvez consigamos diminuir a “influência nefasta da parte má da História nas nossas vidas”. Eu todos os dias tento. E vós?… .
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O renascimento da AMAL (2) José Graça
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a edição anterior, abordámos o processo histórico da Associação de Municípios do Algarve (AMAL) até chegarmos à Comunidade Intermunicipal do Algarve que, por decisão dos municípios integrantes, assume a mesma designação, mas detém um enquadramento legislativo reforçados e com outra capacidade de intervenção ainda pouco aproveitado, por razões que também aqui resumimos. Ao contrário daquilo que possa dizer, a AMAL Comunidade Intermunicipal do Algarve tem os instrumentos estratégicos e legislativos necessários para garantir a afirmação da junto dos Municípios e dos algarvios. Concordamos que Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas os últimos seis anos foram de progressos (pouco) evidentes, mas que podem ser potencializados para sustentar uma intervenção eficaz no contexto regional e nacional, se estivermos unidos no rumo e na ação. Vejamos… A lei 75/2013 de 12 de setembro prevê que a AMAL tenha órgãos próprios, com competências e regras de funcionamento específicas: a assembleia intermunicipal, o conselho intermunicipal, o secretariado executivo intermunicipal e o conselho estratégico para o desenvolvimento intermunicipal. A assembleia intermunicipal reúne ordinariamente duas vezes por ano, e extraordinariamente sempre que convocada para tal, e é constituída por membros de cada assembleia municipal, eleitos de forma proporcional, sendo que a sua eleição ocorre em cada assembleia municipal pelo colégio eleitoral constituído pelo conjunto dos membros da assembleia municipal, eleitos diretamente, mediante a apresentação de listas e os mandatos são atribuídos, em cada assembleia municipal, segundo o sistema de representação proporcional e o método da média mais alta de Hondt. Entre outras, compete-lhe aprovar, sob proposta do conselho intermunicipal, as opções do plano, o orçamento e as suas revisões, bem como apreciar o inventário de todos os bens, direitos e obrigações patrimoniais e respetiva avaliação e, ainda, apreciar e votar os documentos de prestação de contas, bem como eleger o secretariado executivo intermunicipal, novidade deste novo estatuto. O regimento da assembleia intermunicipal do Algarve reforça este papel essencialmente político e representativo dos Algarvios precisando que “é o órgão deliberativo da Comunidade Intermunicipal do Algarve e representa o conjunto dos cidadãos e os interesses da Região do Algarve”, sublinhando que a sua atividade
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“visa a salvaguarda dos interesses da Região do Algarve e a promoção do bem-estar da população, no respeito pelas normas jurídicas”. Esta duplicação do termo REGIÃO DO ALGARVE no artigo primeiro do seu regimento tem um significado de afirmação política que poucos ainda alcançaram… Depositários da confiança popular pelo voto direto e universal dos algarvios, os dezasseis presidentes de câmara integram o conselho intermunicipal que reúnem ordinária e publicamente doze vezes por ano, competindo-lhes eleger o seu presidente e vicepresidentes, na sua primeira reunião; definir e aprovar as opções políticas e estratégicas da comunidade intermunicipal; submeter à assembleia intermunicipal a proposta do plano de ação da comunidade intermunicipal e o orçamento e as suas alterações e revisões; aprovar os planos, os programas e os projetos de investimento e desenvolvimento de interesse intermunicipal, cujos regimes jurídicos são definidos em diploma próprio, incluindo os relacionados com ordenamento do território, mobilidade e logística, proteção civil, gestão ambiental e gestão de redes de equipamentos de saúde, educação, cultura e desporto; propor ao Governo os planos, os programas e os projetos de investimento e desenvolvimento de interesse intermunicipal; pronunciar-se sobre os planos e programas da administração central com interesse intermunicipal; e acompanhar e fiscalizar a atividade do secretariado executivo intermunicipal, das empresas locais e de quaisquer outras entidades que integrem o perímetro da administração local, entre outras, mas aquelas com maior relevância externa para o caminho que pretendemos tomar. Na próxima edição, abordaremos o quadro de competências do secretariado executivo intermunicipal e o conselho estratégico para o desenvolvimento intermunicipal, cuja atividade será um instrumento fundamental na consolidação do papel da AMAL num Algarve que desejamos unido e forte perante os desafios e as adversidades! . NOTA – Poderá consultar os artigos anteriores sobre estas e outras matérias no meu blogue (www.terradosol.blogspot.com) ou na página www.facebook.com/josegraca1966 (Membro do Secretariado Regional do PS-Algarve e da Assembleia Intermunicipal do Algarve)
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O que está por vir – ou o papel das mulheres numa sociedade ainda repressora Mirian Tavares
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á não ia ao cinema há muito. Sempre gostei da sala escura, de ver o filme num grande ecrã e dum certo silêncio à minha volta. Gosto de ir sozinha, de não ter que falar com ninguém, nem comentar o que se passa, num gesto de profundo ensimesmamento. Fui ver um filme francês no cinema Ideal, em Lisboa. Que é daquelas salas em que ainda se pode ver filmes “de arte” ou, pelo menos, filmes que não passam nas salas dos centros comerciais. A atriz principal, Isabelle Huppert, constituía por si só um grande atrativo. O filme é da realizadora Mia Hansen-Love, que ganhou o Urso de Prata por este trabalho delicado e realista, que discorre sobre uma professora de Filosofia, casada com um professor de liceu como ela, com dois filhos já adolescentes e uma mãe histérica. Fala-se do neorrealismo italiano, mas o verdadeiro realismo no cinema é fruto da nouvelle vague francesa que deixou a sua marca na cinematografia dos jovens realizadores daquele país. Filmes que são, aparentemente banais, que tratam de pessoas comuns, que não dão respostas e sequer apontam caminhos. São filmes que fazem pensar e que nos deixam respirar enquanto decorrem. É o caso deste, L’Avenir, que toca em vários temas que partilhamos na sociedade dita global: a solidão, a angústia, o medo e a complexidade que nos circunda, que já não nos permite ser azul ou encarnado, mas que nos empurra para algo mais profundo e multicolorido. A personagem principal tem um ex-aluno que se torna anarquista e que a confronta com a sua posição apolítica e com a sua vida burguesa que, de repente, se desmorona quando o marido decide ir embora com a amante e a mãe morre, deixando de herança uma gata preta, obesa e
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velha que ninguém quer adotar. Recomendo o filme. Mas há uma questão que me incomodou particularmente, principalmente depois de ler as críticas sobre o mesmo. Numa delas fala-se de um final otimista e outra diz que o filme vê a solidão como redentora. Ou estava a ver outro filme ou senti exatamente o contrário. Apesar de a personagem dizer que se sente, após muitos anos, finalmente livre, passa parte do filme a negar a sua sexualidade, afinal uma mulher com mais de 40 nem deve pensar mais nisso e acaba por assumir-se como avó, do neto recém-nascido, como se fosse este um destino possível e o único desejável. Há muitos filmes, livros e episódios de humor que tratam dessa questão: as mulheres com mais de 40 não precisam se preocupar em ser desejáveis porque ninguém mais as vê. É uma questão que me faz pensar: por que aos homens é dado o direito de irem embora com as amantes e as mulheres ficam com os livros e os netos? Não estaria presente, nesse pensamento, uma forma de repressão que se mantém, apesar dos anos de luta pela igualdade dos géneros? Porque, no fundo, as mulheres com mais de 40, com uma carreira e bem resolvidas são assustadoras, pois representam uma faceta que a sociedade ainda teme, a da liberdade de expressão do desejo feminino. Foi a única coisa que me desencantou no filme, esse discurso subjacente que vai ao encontro de um pensamento que julgava obsoleto. Apesar de reconciliar-me no final, através da fabulosa versão de Unchained Melody interpretada pelos The Fleetwoods .
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Comida para camones Augusto Lima
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astronomia é cultura que se come. Quero querer, uma das coisas que os turistas querem apreciar quando nos visitam; Quero querer, que longe vai o tempo, em que o porquinho de assar chouriço e os quinze centímetros de galo de Barcelos eram os símbolos da nossa gastronomia em stands sem graça; Quero querer, que a nossa gastronomia ultrapassa o chiken piripiri, a salada de atum e frango, a batata pré frita e a batata cozida de anteontem, mais a salada montanheira com a cebola de ontem e ainda o ultra prensado hambúrguer ou os nuggets quentes sobre folhas de alface, orgulhosamente ostentados em cartas colossais, quais símbolos da nossa identidade gastronómica;
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Quero querer, que se possam substituir velhos hábitos por velhos pratos tradicionais como o xerém, a muxama, a laranja, o figo, a batata-doce, o polvo, o litão ou os queijos de cabra algarvia; Quero querer, que devia ser urgente mudar o que está errado. Ingdamis muito em ex de algarvia a nossa oferta. A última coisa que eu vou querer comer numa provável visita a Macau, é uma carne de porco com amêijoas, por certo. E porquê? Porque eu vou querer comer a cultura do povo que visito; Quero querer que basta de comida de camone na nossa oferta. Saudações gastronómicas .
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Isilda Gomes está a meter Portimão nos eixos Isilda Gomes assinalou, no passado dia 6 de julho, os mil dias à frente da Câmara Municipal de Portimão e aproveitou o momento simbólico para prestar contas aos munícipes e à comunicação social, num encontro informal realizado no Bela Vista Hotel & SPA, na Praia da Rocha. A ocasião serviu para analisar a rigorosa gestão financeira que tem pautado os primeiros anos deste mandato, abordar a obra feita e desvendar os projetos existentes para o curto prazo, numa altura em que se aguarda a resposta do Tribunal de Contas sobre o Fundo de Apoio Municipal.
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m dos 20 hotéis mais bonitos da Europa, o Bela Vista Hotel & SPA, na Praia da Rocha, foi o local escolhido para um pequeno-almoço informal com a comunicação promovido por Isilda Gomes, a 6 de julho, data que marcava os mil dias da socialista à frente da Câmara Municipal de Portimão. Um mandato que não tem sido fácil, num concelho bastante endividado, com anos marcados por sucessivos cortes nas despesas, por impostos mais altos do que a população desejaria, por menos obras e atividades do que aquelas a que os portimonenses estavam habituados. Mas um mandato também marcado
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por constantes ataques da oposição, uns de forma cordial, outros, nem tanto, daí que a antiga Governadora Civil do Distrito de Faro tenha achado por bem assinalar esta milena de dias de gestão autárquica com um prestar de contas, tanto à comunicação social, como à própria população, através de um jornal municipal que seria distribuído no concelho. “A transparência nos órgãos de poder, seja ele de que área for, é determinante e uma obrigação de qualquer político. Este prestar de contas à população estava programado há vários meses, se bem que, no âmbito da Assembleia Municipal, é regular
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informar sobre o nosso desempenho, sobre o trabalho que estamos a realizar”, afirmou Isilda Gomes em início de conversa. Com a noção de que os cidadãos desejam saber onde está a ser gasto o dinheiro dos seus impostos e o que foi ou não feito, a presidente de câmara decidiu alargar esta partilha de informação para lá das quatro paredes da Assembleia Municipal, onde normalmente participam apenas os elementos dos partidos. O momento escolhido foi este porque só agora é possível apresentar os resultados consolidados de 2015, ou seja, com todas as empresas municipais, e uma das grandes preocupações era explicar, pormenorizadamente, o destino das verbas cobradas através da Taxa Municipal de Proteção Civil. “Juntamos todas essas informações num jornal para que a população saiba exatamente aquilo que o executivo camarário tem andado a
fazer”, indica, sublinhando o importante facto de Portimão ter saído do vermelho, ou seja, obteve resultados líquidos positivos. “Em 2009, tivemos 40 milhões de euros negativos, em 2014, 5,5 milhões de euros negativos e, em 2015, alcançamos os 8,1 milhões de euros positivos. As contas são o que são, não há aqui qualquer manipulação de números, até porque são enviadas para o Tribunal de Contas para avaliação”, assegura. Uma situação que foi alcançada porque a autarquia portimonense foi pagando, entre outubro de 2013 e dezembro de 2015, um milhão de euros de dívida por mês, com 17,9 milhões de euros a dizerem respeito à Câmara Municipal, 5 milhões de euros à URBIS e 2,1 milhões à EMARP. A par disso, os gastos da Câmara Municipal de Portimão caíram dos 55,9 milhões de euros em 2013
Evolução dos resultados líquidos da Câmara Municipal de Portimão desde 2009
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para 42,8 milhões de euros em 2015, o que equivale a uma redução de 23 por cento. “Estes primeiros anos foram para pagarmos a dívida e equilibrarmos as finanças mas, no futuro, temos que inverter esta situação. A cidade não pode continuar como está agora, temos que olhar pelo espaço público, e temos finalmente essa possibilidade a partir do momento em que registamos resultados positivos. Vamos agora lançar concursos para os jardins, arruamentos, para uma série de projetos, portanto, é natural que a despesa vá aumentar. Este nível de despesa é extremamente baixo para aquilo que Portimão merece e precisa”, considera Isilda Gomes. E se os mil dias são, de facto, uma data simbólica, a governante decidiu fazer esta prestação de contas já, e não ALGARVE INFORMATIVO #65
apenas em 2017, precisamente para não ser acusada de estar a ser eleitoralista. “Estamos de consciência tranquila e entendo que é minha obrigação dizer aos portimonenses como é que as coisas correram até agora. Claro que, se o fizesse em outubro, ou no próximo ano, seria bem melhor, por estarmos mais próximos das eleições autárquicas, mas não é esse pensamento que me move”, frisa.
“Custa-me não apoiar o movimento associativo” Prosseguindo a análise da evolução das contas camarárias, Isilda Gomes lembra que existiam, em 2013, no perímetro municipal, 1303 credores, número que baixou para 741, em 52
2014 e, em 2015, 328, ou seja, anulouse cerca de um credor por dia. “As dívidas a empresários, a fornecedores, estão praticamente todas resolvidas, o que existe é uma dívida à banca e que é difícil de pagar, o que nos obrigou a recorrer ao FAM – Fundo de Apoio Municipal. É um mecanismo de recuperação financeira através do qual ficamos sem dever a mais ninguém e com uma taxa de juro mais baixa, o que nos permite, inclusivamente, ter condições de investimento de cerca de seis milhões de euros anuais e um aumento da despesa corrente a rondar os dois milhões”, revela sobre a proposta que foi apresentada e aprovada pela Comissão Executiva do FAM e que aguarda agora pela resposta do Tribunal de Contas. “Como é costume nestes processos, recebemos há dias uma série de pedidos de esclarecimento da parte do Tribunal de Contas e estamos a elaborar as respostas”. Isilda Gomes lamenta, entretanto, as constantes críticas de que os impostos e as taxas vão estar sempre com valores máximos no concelho de Portimão, recordando que, no âmbito da apresentação do FAM, já foi retirada a Taxa Municipal de Proteção Civil, facto que não agradou muito à Comissão Executiva daquele mecanismo. “Conseguimos organizar as contas de maneira a que pudéssemos retirar esse peso aos nossos munícipes, uma taxa que eu fui obrigada a implementar, porque já estava instituída quando assumi este
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cargo. Cobrei-a durante um ano e, assim que tive a possibilidade de a anular, assim o fiz”, refere, voltando as atenções para o também contestado IMI. “O IMI estava na taxa máxima de 0,5%, entretanto, a Assembleia da República fixou-a em 0,45%, mas deixou a hipótese de que as autarquias que têm que recorrer ao FAM, ou que estejam sobreendividadas, que mantivessem os 0,5%. Ninguém impôs à câmara reduzir a taxa, foi uma proposta nossa”, acrescenta. Não se pense, contudo, que a situação da Câmara Municipal de Portimão está toda controlada e a presidente não esconde a tristeza por não poder apoiar mais o movimento associativo do concelho, uma vez que só podem ser realizadas despesas consideradas imprescindíveis ou quando estão em causa a segurança e a saúde da população. E é nesse contexto que tem sido possível concretizar algumas obras nestes três anos, como é exemplo o Pavilhão Gimnodesportivo. “Já estava adjudicada mas, só para o empreiteiro retomar a obra, foi preciso disponibilizar 400 mil euros, o que é complicado numa câmara com as conhecidas dificuldades económicas e financeiras”, admite Isilda Gomes. Outras obras concluídas foram uma Avenida V3, o Centro Escolar do Pontal, a pavimentação e remarcação de vias urbanas, num investimento a rondar
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os 240 mil euros. Mais 94 mil euros foram aplicados no Parque da Juventude de Portimão, mas ainda não foi possível substituir as rampas que estão destruídas, precisamente por não serem entendidas como obras imprescindíveis perante a Lei dos Compromissos. Uma surpresa agradável tem sido o Balcão Único Municipal, por onde já passaram 37 mil munícipes e onde a autarquia investiu 122 mil euros. Foi instituído um Gabinete de Saúde Juvenil, criou-se o CLAIM – Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes e o Centro Municipal de Proteção Civil e Operações de Socorro é descrito como um dos melhores de Portugal. Mas, a par destes equipamentos físicos, as grandes obras, no entender de Isilda Gomes, são as pessoas. “A área social é muito importante para mim e não podemos ter um país a evoluir e a progredir se continuarmos a ter pessoas em sofrimento, em situação de exclusão social, pessoas que não tenham comida ou medicamentos. Por isso, criamos uma Rede de Emergência Social Municipal, que apoia 750 famílias do concelho. Não admito que haja alguém a passar fome em Portimão, porque temos instituído mecanismos de resposta imediatos. Só se não detetarmos essas situações é que não teremos respostas para elas, porque há 17 instituições a trabalhar connosco no sentido de minorar os problemas dos cidadãos, sobretudo dos mais desfavorecidos”, afirmou a edil.
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Animação e Cultura não pararam Ainda na área social, foram atribuídos 70 fogos habitacionais, foram dados 144 subsídios de apoio ao arrendamento e comparticipou-se a medicação a 69 cidadãos, com recurso a um protocolo com 12 farmácias aderentes no valor de mil euros anuais. A Escola da Pedra Mourinha vai ser, entretanto, a sede da Teia de Impulsos e um Centro de Convívio, uma lacuna que se detetou na zona. “Há uma carência de apoio às pessoas mais idosas, porque as famílias têm que trabalhar e não podem ficar a tomar conta deles. Queremos reduzir, assim, a sua solidão”, justifica. Mais difícil de fazer compreender à população é a falta de meios para se realizarem grandes espetáculos musicais, para se trazerem a Portimão nomes sonantes como no passado, mas Isilda Gomes lembra que a animação nunca parou no concelho, muito por força da criatividade dos técnicos camarários. “Manter uma agenda cultural como aquela que temos tido, sem dinheiro, é fantástico. Desde o Museu ao Teatro, da Biblioteca à Casa Manuel Teixeira Gomes e à Quinta Pedagógica, em todos tem havido dinâmica. Tenho muito orgulho naquilo que tem sido feito no âmbito da cultura e da educação, que tem sido a nossa joia da coroa. Mantivemos os padrões de elevada 54
qualidade e de oferta, foi uma área que não sofreu qualquer corte”. A Reabilitação Urbana tem sido outra área em destaque nos últimos anos e as ações da autarquia vão fundamentalmente para quatro equipamentos/áreas: a antiga Lota, o Largo Gil Eanes e da Estação, o Jardim 1.º de Dezembro e o Largo da Igreja. “Esperamos que, com a ARU, os próprios privados comecem a investir na reabilitação dos seus edifícios, de forma a trazermos mais qualidade ao centro histórico de Portimão”, apela. E, de volta aos equipamentos culturais, Isilda Gomes revela que o Teatro Municipal de Portimão teve mais de 68 mil utentes e 365 atividades e iniciativas nestes mil dias; a Quinta
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Pedagógica contou com 54 mil visitantes; no Portimão Arena entraram 129 mil espetadores; o Mercado da Avenida São João de Deus teve, em 2015, mais de meio milhão de clientes. “No Desporto, os números também falam por isso, foram dezenas e centenas de milhares de praticantes nos vários equipamentos”, enaltece a edil. Em fase de conclusão está o maior passadiço pedonal do Algarve, nas praias de Alvor, assim como os dois parques de estacionamento, que tornaram bem mais fácil o acesso a esta zona turística do concelho. “E o nosso PDM está em revisão e, quanto mais pessoas, associações, instituições e organizações
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ouvirmos, mais abrangente ele será e melhor satisfará os objetivos do nosso município. ContratosPrograma com as Juntas de Freguesia também não haviam há algum tempo e, em 2015, transferimos para elas 276 mil euros. E facultamos a criação da Cantina Social da Cáritas e um espaço de acolhimento para jovens, porque eles devem usufruir de locais de crescimento e de educação e formação”.
FAM não está em perigo Sendo Portimão um dos locais prediletos dos portugueses e estrangeiros para gozar férias, Isilda Gomes chamou a atenção para a intensa promoção realizada pela ATP – Associação de Turismo de Portimão e cujos resultados estão à vista. Assim, em 2015, Portimão foi o concelho que mais cresceu em termos turísticos e um dos quatro melhores destinos nacionais. E o Bela Vista Hotel & SPA, onde a conversa informal com os jornalistas aconteceu, é um dos 20 mais bonitos da Europa. “O turismo tem qualidade em Portimão, abriu recentemente um hotel Pestana no Alvor e está para abrir uma unidade de cinco estrelas de outro grupo no Autódromo Internacional do Algarve”, indicou, com um sorriso. Feito um breve balanço do que têm sido estes mil dias de governação, Isilda Gomes direcionou a conversa para o futuro, nomeadamente para ALGARVE INFORMATIVO #65
os projetos que são para avançar e concretizar no curto prazo, logo a começar por duas novas rotundas, uma na Avenida São João de Deus, em frente ao Mercado, a outra perto da Panificadora, a caminho do Portimão Arena. E, de um investimento de 150 mil euros nascerá uma nova Gare Rodoviária, localizada em duas naves do Mercado Abastecedor. “O objetivo é tirar os autocarros de longo curso da zona ribeirinha”, afiança a autarca, acrescentando que o novo cemitério vai ser também uma realidade, existindo um espaço de 4,5 hectares para esse efeito. “A proposta ainda vai ser discutida nos órgãos autárquicos, mas estamos determinados a resolver, de uma vez por todas, esta questão de enorme importância. O nosso cemitério está completamente esgotado e isso gera situações dramáticas que queremos evitar a todo o custo”, justifica. Será igualmente lançado um procedimento para 26 mil metros quadrados de alcatrão, com algumas artérias a serem já intervencionadas, nomeadamente fora da cidade de Portimão, na Bemposta, no Sítio da Brava, nas Cardosas, nos Palheiros, no Bairro do Sal, em Alvor, na Rua da Pedra Mourinha e no Bairro do Progresso. “Vamos iniciar a recuperação de 17 parques infantis, no montante de 140 mil euros, vamos criar mais
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12 hectares de espaços verdes e está pronto um procedimento para aprovação de intervenção em passeios e calçadas, de mil metros quadrados”, anuncia os projetos a levar a cabo até final do mandato. Muitas obras e projetos que se tornarão realidade graças à folga alcançada pelos resultados líquidos positivos, mas Isilda Gomes nem sequer coloca a hipótese do FAM não ser aprovado pelo Tribunal de Contas. “Pode haver necessidade de correção ou eliminação de uma parcela ou outra do FAM, mas não há razão nenhuma para que a maior parte das dívidas à banca não seja saldada. Estamos cá para prestar todos os esclarecimentos necessários ao Tribunal de Contas, mas não
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vamos colocar em causa a totalidade do FAM por esta ou aquela parcela”, garante a presidente, não tendo ainda uma data concreta para a decisão final, uma vez que há respostas a dar que dependem de terceiros, o que atrasa o processo. “Mais rigor e transparência do que o que temos tido é impossível. A autarquia tem uma dívida de 140 milhões de euros, na sua maioria à banca, não escondemos nada a ninguém. Há um ditado popular que diz «quem mal não faz, mal não pensa» e é lamentável que se estejam sempre a levantar suspeitas sobre as contas da autarquia, sem nunca provarem nada”, critica Isilda Gomes .
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Mito Algarvio em defesa do acordeão e dos acordeonistas Inaugurou, no Dia do Município de Castro Marim, a exposição «Acordeão Alm’Algarvia», uma coorganização da autarquia local e da Mito Algarvio sobre este instrumento tipicamente português e com fortes raízes na nossa região. Uns dias depois, estivemos à conversa com o presidente desta associação, João Pereira, que confirmou o impulso que o acordeão tem conhecido nos últimos anos, muito graças a uma nova geração de instrumentistas que, embora fiéis às tradições, não enjeitam experimentar outras sonoridades. Texto:
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JoĂŁo Pereira, presidente da Mito Algarvio
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Mito Algarvio, sedeada em Castro Marim, surgiu, em 2012, para defender e salvaguardar os interesses e a tradição do acordeão e dos seus executantes, sabendo-se o muito que este instrumento diz e toca aos algarvios. Vítor Manuel Rijo Faleiro é o seu sócio número 1, a quem se juntou um leque de acordeonistas bastante importantes no contexto nacional e internacional, nomes como João Frade, Hermenegildo Guerreiro, Nelson Conceição, Emanuel Marçal, Anabela Silva, Manuel Matias, José Domingues Horta – o único fabricante de acordeões do Algarve. “Hoje, somos perto de 300 associados, metade deles ligados diretamente ao acordeão, os outros são simplesmente apaixonados pelo
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instrumento”, explica o presidente da direção, João Pereira, adiantando que a designação «Mito» foi escolhida pela enorme carga simbólica que o acordeão tem na cultura algarvia. Comummente associado aos ranchos folclóricos, a bailes de cariz popular e a músicos de idade avançada, o acordeão tem assistido, nos últimos anos, a um rejuvenescimento, a uma lufada de ar fresco, seja pela idade dos seus executantes, seja pelo tipo de projetos que têm abraçado o instrumento. Por isso, sem nunca esquecer os homens do passado que fizeram o acordeão soar bem alto através dos seus dedos, João Pereira destaca a panóplia de estilos onde ele está atualmente
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inserido. “É um instrumento polivalente e, para mim, embora a minha opinião seja suspeita, é o mais completo que existe. Temos na exposição vários exemplos de acordeonistas que integram projetos bastante importantes no campo do jazz e da música clássica, portanto, é um instrumento vocacionado para o futuro, disso não temos dúvidas”, afiança o dirigente, à conversa na Casa do Sal, em Castro Marim, local onde está patente a exposição «Acordeão – Alm’Algarvia», com a coleção privada de Vítor Manuel Rijo Faleiro. Já se percebeu que João Pereira é, ele próprio, acordeonista, dai a paixão com que fala dum instrumento que considera de grande complexidade e que mexe forte com os sentimentos de cada um. “No Algarve, o normal é o acordeão passar de uma geração para outra, é um amor que vai de pai para filho. Temos uma nova geração envolvida com sons de outros campos que lhes despertam a curiosidade, mas o acordeão extravasa muitos estigmas, não está preso a nenhum estilo”, sublinha o entrevistado. E o Algarve é, de facto, rico em acordeonistas de gabarito internacional, sendo vários os títulos de campeão da Europa e do Mundo alcançados nas vertentes clássica e varieté, apesar de, depois, serem poucos os que prosseguem uma carreira profissional nessa área. “É
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complicado porque o nível cultural, em geral, no nosso país, não o permite. Infelizmente, são poucos os acordeonistas que se dedicaram a tempo inteiro a este instrumento, sendo o João Frade o expoente máximo. E veja-se que a maior parte dos concertos que ele dá são fora de Portugal”, indica João Pereira. “Como acontece em muitos casos, é reconhecido alémfronteiras, cá dentro, é admirado pelos amantes do acordeão, mas devia ter outro destaque”, reforça. Um talento inato que não é fácil de explicar, o tal mito, algo incutido na alma algarvia, que lhe confere uma maneira diferente de tocar o acordeão, garante João Pereira, sem falsas modéstias. “É uma característica que vem dos nossos antepassados, do José Ferreiro (pai) e do António Maneirinha, que criaram um estilo que foi depois transmitido para os mais novos. E a técnica tem sido continuamente melhorada graças aos excelentes professores que temos no Algarve e que permitem que tenhamos esta forte identidade”, atesta o presidente da Mito Algarvio. Não admira, por isso, que os bailaricos populares estejam também a regressar em força, depois de uma fase menos boa em que o acordeão perdeu algum do seu fulgor. “Ainda bem que as autarquias estão de olhos bem abertos, porque o Algarve não é só sol e praia e o
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acordeão faz parte dessa cultura que devemos valorizar”.
Instrumento é caro e há poucos a fabricá-lo Fala bem alto o acordeão nos últimos anos, na música tradicional ou na clássica, no jazz ou nos ritmos latinos e africanos e, ao contrário do que seria de temer, João Pereira garante que a velha guarda não é purista nem critica a expansão do instrumento para outros campos musicais. “Admiram e aplaudem porque sabem que, se mantivermos o acordeão apenas ligado à música tradicional, ele vai acabar por morrer. Estas novas abordagens trazem novos públicos”, salienta, com um sorriso, confirmando que, no Algarve, os jovens preferem seguir a vertente do virtuoso. “O clássico continua a ser estudado, como é óbvio, mas há mais alunos no varieté”. Mudam-se os estilos e cresce igualmente a tendência para se criar mais música especialmente direcionada para o acordeão, absorvendo-se várias influências para se criar uma nova linguagem. “Contudo, está-se a criar algo novo, mas sem esquecer as raízes tradicionais”, destaca o entrevistado. E professores são relativamente fáceis de encontrar no Algarve, uns em conservatórios, outros a dar aulas particulares. Apesar disso, João
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Pereira avisa que estudar acordeão não é para todos. “O instrumento tem um preço muito elevado quando comparado com outros, não é qualquer pai que compra um acordeão para o filho, ainda mais na atual situação económica que o país atravessa. Por isso, os professores normalmente aconselham os miúdos a experimentarem com um acordeão alugado ou em segunda mão e, se tiverem realmente gosto e interesse, só depois avançar para a aquisição de um instrumento próprio”. João Pereira mostra-se também satisfeito por o acordeão já ser lecionado nos conservatórios, no ensino artístico oficial, uma valorização acrescida para o instrumento, mas os professores que dão aulas no ensino não oficial continuam a realizar um trabalho brilhante e a trazer para a região diversos prémios internacionais. Mais problemática está a construção de acordeões, admite o dirigente, já que no Algarve existe apenas um fabricante à moda antiga, José Domingues Horta. “É dos únicos em Portugal que ainda faz acordeões de raiz, já tem uma idade avançada e, quando ele partir, é um conhecimento, uma arte, que desaparece com ele. Resta-nos comprar no mercado externo, mas o acordeonista mais exigente não gosta de instrumentos feitos em linhas de
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montagem, quer algo mais personalizado”, indica. Plenamente aceite é a importância da existência da Mito Algarvio, uma associação que integra, desde o ano transato, a CIA, a mais importante confederação internacional de acordeonistas e que é membro oficial da UNESCO. “Abriu-nos as portas do estrangeiro e eles têm também uma visão mais alargada do trabalho que é realizado no Algarve. Antes da associação existir, a representação nacional nos concursos, por exemplo, era totalmente feita à custa dos professores e dos alunos. Também se tornou mais fácil para o promotor de algum evento internacional contratar acordeonistas, e com a garantia de terem a qualidade exigida”, frisa João Pereira.
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Para terminar a conversa da melhor maneira, o presidente da Mito Algarvio mostra-se inteiramente confiante de que o acordeão não corre o risco de desaparecer, cenário que se perspetivou há umas décadas devido ao envelhecimento dos seus executantes e à dificuldade em cativar os mais novos. “E penso que vamos conseguir alcançar coisas muito boas para o instrumento e para a cultura algarvia nos próximos tempos. Temos vários livros e discos em produção, vai ser apresentado brevemente um filme do Ivan Dias, «A sabedoria na ponta dos dedos – O mito do acordeão algarvio» e, em 2019, o Algarve vai receber, pela primeira vez, a Copa do Mundo de Acordeão. São vários projetos que irão dar o merecido destaque ao acordeão”, adianta João Pereira . 66
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Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve festejou 15 anos com espetรกculo no Teatro das Figuras
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O Teatro das Figuras, em Faro, recebeu, no dia 2 de julho, o espetáculo comemorativo dos 15 anos de Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve, com mais de duas centenas de jovens provenientes de diversos pontos da região a mostrarem os seus dotes em cima do palco. O projeto é da Associação de Guitarra do Algarve e pretende descentralizar a educação artística dos grandes centros urbanos do litoral e levá-la ao interior algarvio, com o objetivo de formar, não músicos profissionais, mas homens e mulheres mais cultos e tolerantes. Texto:
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Fotografia:
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ouco antes das 21h do dia 2 de julho já a azáfama era tremenda à entrada do Teatro das Figuras, com a certeza de que a principal sala de espetáculos de Faro ia esgotar para assistir ao concerto dos 15 anos da Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve. Uma noite que, ao contrário do que se poderia imaginar, não se cingia à guitarra, pois eram vários os artistas e projetos convidados para abrilhantar a atuação dos pupilos de Eudoro Grade, coordenador da Orquestra. E, de facto, a par das Classes C, B e A, subiram ao palco o Rancho Folclórico de Faro, o Grupo Folis da Associação Cultural Sambrazense, alunos do curso ALGARVE INFORMATIVO #65
profissional de Música da Bemposta, o Coro de Câmara do Conservatório Regional do Algarve Maria Campina e atletas de Ginástica Rítmica da Mexilhoeira Grande, entre outros. O ponto comum ao longo da noite foram as guitarras dos jovens desta orquestra nascida em 2001 e que conta, no seu currículo, com mais de 150 concertos, 56 encontros globais e 42 encontros interassociativos, momentos para se conhecerem uns aos outros, com base na noção de que as atividades culturais ajudam a aproximar pessoas de regiões periféricas à realidade
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dos centros urbanos. “A nossa ideia foi estar em comunidades onde o acesso à cultura, neste caso, à música, é mais difícil e o projeto embarca todo o nosso património histórico-cultural. No fundo, é um projeto de formação pedagógica dos jovens, embora a vertente musical da Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve seja a sua faceta mais visível”, explica Eudoro Grade. O espetáculo do dia 2 de julho foi, então, o 57.º Encontro Global e reuniu alunos dos 12 polos onde a Associação de Guitarra do Algarve desenvolve o seu trabalho, designadamente Alcoutim, Aljezur, Boliqueime, Lagoa, Faro,
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Marmelete, Martim Longo, Mexilhoeira Grande, Monchique, São Bartolomeu de Messines, São Brás de Alportel e as freguesias de Bensafrim e Barão de São João, em Lagos, o que confirma uma forte preponderância no interior algarvio. “São zonas onde os jovens não têm a aprendizagem da guitarra ao seu dispor e o nosso intuito foi permitir o acesso aos valores culturais, criando uma ponte entre o litoral e o interior”, reforça o responsável. Ainda a normalizar o batimento cardíaco depois de terminado o espetáculo, Eudoro Grade
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recordou os primeiros passos da Orquestra, reconhecendo que, em certos locais do Algarve, foi necessário sensibilizar e motivar os mais jovens para a importância de consumirem cultura e de aprenderam a tocar um instrumento. “É sempre um desafio grande, um trabalho exigente do ponto de vista intelectual, mas houve bastante adesão dos mais novos, até porque, infelizmente, as ofertas culturais nem sempre abundam”, lamenta o entrevistado, sorrindo quando confrontado com a perceção de que tocar guitarra não é, à primeira vista, assim tão complicado. Aliás, são muitos os guitarristas profissionais que, ao longo dos tempos, assumiram que eram autodidatas, que aprenderam a tocar sozinhos, ou a ver os mais velhos tocar. “A guitarra, tocada da forma como nós ensinamos, torna-se, realmente, 75
mais complexa e difícil de dominar. O objetivo é darmos a oportunidade de aprender o instrumento na verdadeira aceção da palavra, mas também procuramos ir ao encontro do que os jovens querem e gostam, de acordo com a idade que têm e com a música ligeira que se ouve no dia-a-dia”, sublinha Eudoro Grade.
Formar melhores cidadãos Terminado o espetáculo, de peito inchado e sorriso nos lábios, face ao talento que encheu o palco do Teatro das Figuras, a pergunta que nos vem à cabeça, e que se repete frequentemente neste género de eventos, é que futuro terão pela frente aquelas ALGARVE INFORMATIVO #65
dezenas, largas dezenas, de pequenos/jovens músicos? Uma pergunta que deve apoquentar muitos outros, sabendo-se que Portugal não é nenhum paraíso para os artistas, independentemente da qualidade que tenham. Aliás, por vezes chegamos a pensar que, quanto menos qualidade tiver um artista, mais probabilidade terá de ser badalado. Eudoro Grade, professor e músico profissional, está bem consciente desta «estranha» realidade, mas volta a dizer que a principal função deste projeto é que os mais jovens tenham contato com os valores culturais. “Associado a isso está a aprendizagem do instrumento dentro de diversas linguagens e
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contextos da música, sendo a orquestra o ponto culminante do projeto. Alguns dos nossos alunos, não muitos, têm seguido a vertente profissional, vão para a Escola Superior de Música e seguem esse caminho, mas nós preocupamo-nos, acima de tudo, em que eles respirem cultura”, afirma. Por outro lado, Eudoro Grade mostra-se plenamente confiante que, mesmo que estes rapazes e raparigas não se tornem músicos, serão, certamente, homens e mulheres mais ricos enquanto indivíduos, para além de se tornarem públicos para aqueles que singrarem no meio artístico. “Apostamos na formação da
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pessoa, enquanto cidadão, através da cultura. Sentimos que estamos a fazer melhores pessoas para o futuro, mais tolerantes, com outros valores. Essa é a grande ambição deste projeto, muito mais do que querer formar profissionais de música, porque isso já passa pela opção de cada um”, indica. Uma nobre missão para a qual são necessários, como é natural, apoios e o coordenador da Orquestra Juvenil de Guitarras do Algarve admite que o ideal seria estarem envolvidos os 16 concelhos da região. Tal não é, porém, a realidade, tendo aderido ao projeto 10 concelhos. “Como em tudo na vida, há pessoas que são mais sensíveis às questões culturais, responsáveis que compreenderam a importância 77
deste trabalho. Outros, se calhar, ainda não tiverem tempo para meditar e analisar, com a paz e a serenidade suficientes, os benefícios do projeto”, observa Eudoro Grade. E, concluído mais um ano letivo, o mentor da Orquestra lembra que a atividade normal retoma em outubro, acrescentando que foi feita uma candidatura a um encontro internacional, no âmbito do «Erasmus +», para a qual estão à espera de resposta. “Depois, temos o 58.º Encontro Global no Dia Mundial da Música, em Alcoutim, e um outro encontro, em Portimão, na altura das férias de Natal” .
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