ALGARVE INFORMATIVO #71

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ALGARVE INFORMATIVO

20 de agosto, 2016

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ANA MOURA dá mais brilho à FATACIL e Festival F 1

poeta pardal| calçadas | fatacil | ricardo mariano ALGARVE | paulo moreira INFORMATIVO #71


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OPINIÃO 8 - Daniel Pina 42 - José Graça 44- Paulo Pires 46 - Augusto Lima

ATUALIDADE 10 - FATACIL 20 - Calçadas 32 - Poeta Pardal

ENTREVISTAS/ REPORTAGENS 48- Ana Moura 56 - Ricardo Mariano 66 - Paulo Moreira

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Afinal, a história não terminou… Daniel Pina

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m dos problemas com que rapidamente me deparei ao ser diretor de um órgão de comunicação social, nomeadamente de uma revista semanal, é ter a «obrigação» de debitar umas largas centenas de caracteres em jeito de artigo de opinião todas as semanas. Claro que não sou propriamente forçado a isso, não há nenhuma lei que a isso me obrigue, acho eu, mas parece mal o responsável «meter férias» da sua opinião, enquanto os outros cronistas continuam a escrever de sua justiça.

alguns livros, depois de já ter lançado um novo volume baseado numa peça de teatro. Por ocasião do «Harry Potter e as Relíquias da Morte», andou meio mundo a chorar baba e ranho durante meses a fio, miúdos e graúdos inconsoláveis de igual modo, mas a autora britânica garantiu que as aventuras do mágico mais famoso das últimas décadas tinham chegado ao fim. Na altura achei estranho que a primeira escritora da história a tornar-se bilionária fosse abandonar a sua galinha dos ovos de ouro, mas pronto.

Como estamos no Algarve, há sempre uma solução fácil nesta altura do ano, que é aderir ao espírito da silly-season e mandar cá para fora alguns disparates sobre os colunáveis que enchem as zonas vips das festas, sobre os turistas mal-educados e sobre os visitantes que chegam com o rei da barriga, ainda que de carteiras vazias. Infelizmente, a primeira quinzena de agosto foi tão animada que num instante esgotei as patetices que são razoavelmente admitidas a alguém com a responsabilidade de um diretor e editor. Lá está, a um cronista tradicional não se colocam tais constrangimentos opinativos, desde que não se ultrapassem os limites do bom senso, mas um diretor não deve estar sempre a bater na mesma tecla.

Entretanto, J. K. Rowling lançou, sob o pseudónimo Robert Galbraith, um policial e bem sabemos o fracasso que ali foi, de modo que o universo de Harry Potter ressuscitou num ápice. E num instante se produziu uma peça de teatro e se fez um livro sobre isso, com não sei quantos milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.

Assim sendo, depois de uma trilogia pateta que me valeu algumas críticas ferozes da parte dos mais púdicos, tive que voltar aos temas ditos sérios, e podia optar por outra escolha óbvia, a política, até porque tivemos ainda agora mais uma Festa do Pontal. Já para não falar que o Algarve é, em agosto, uma autêntica feira das vaidades dos nossos governantes, com ministros e secretários de estado a inaugurar feiras, festas e festivais como se estivessem em pré-campanha eleitoral. Mas, confesso, nunca gostei de escrever muito sobre política porque, na hora da verdade, eles acabam por ser quase todos iguais uns aos outros, sejam de esquerda ou da direita, do partido X ou Y. E é imerso neste dilema diabólico que me deparo com a notícia de que, afinal, J. K. Rowling vai regressar ao universo de Harry Potter com mais

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Curiosamente, ainda esta semana estive à conversa com o escritor e encenador algarvio Paulo Moreira, que me disse que livros com textos de peças de teatro são tremendamente difíceis de vender, mas J. K. Rowling não teve dificuldades nenhumas em esgotar várias edições no espaço de dias. Acredito que muitos leitores terão comprado o livro sem saberem ao que iam. Aliás, até eu peguei nele a pensar que seria uma história tradicional baseada na peça de teatro e constatei que aquilo é mesmo o guião da peça de teatro, com uma paginação e encadernação em jeito de livro, mas os fanáticos de Harry Potter não ligam a isso. Do mesmo modo que vão comprar logo a correr os próximos livros da chancela «Harry Potter», sem se preocuparem que, do Harry Potter e seus fiéis amigos, nem vistos. Mas o marketing é assim, mesmo na literatura, e nem todos os autores têm estaleca suficiente para enfrentar um desaire ou dois no rumo que decidiram seguir, preferindo regressar às velhas receitas com sucesso garantido. E pronto, desculpem lá qualquer coisinha, mas esta semana não tinha assim nenhum assunto mais sério sobre o qual debitar umas centenas de caracteres .

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Todos os caminhos vão dar à mais bonita FATACIL de sempre

A 37ª FATACIL – Feira de Artesanato, Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria de Lagoa abriu portas no dia 19 de agosto e depressa se constatou estarmos perante um evento completamente transfigurado, surgindo com um visual mais moderno, minimalista e atraente. Com um cartaz de artistas de fazer inveja, a presença do melhor que o Algarve tem para oferecer em termos de comércio, artesanato, gastronomia e serviços, bem como expositores provenientes de todos os pontos do país, a FATACIL prolonga-se até 28 de agosto e merecerá, com certeza, a visita dos algarvios e dos milhares de turistas portugueses e estrangeiros de férias no Algarve. Texto: ALGARVE INFORMATIVO #71

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O presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Francisco Martins, e seu executivo, deram as boas-vindas aos visitantes da 37ª FATACIL

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37ª FATACIL – Feira de Artesanato, Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria de Lagoa decorre até 28 de agosto, assumindo-se como a maior feira de cariz nacional a sul do Tejo e com uma imagem mais fresca, rejuvenescida e apelativa, naquele que é o primeiro ano em que a organização do certame passa a ser da total responsabilidade da Câmara Municipal de Lagoa. A par desta mudança, notam-se de imediato várias alterações estruturais no recinto, onde irá nascer no futuro um Parque Urbano com capacidade para outro tipo de manifestações fora do tempo da FATACIL e que traga os lagoenses a este espaço nobre da cidade. No ano em que Lagoa é «Cidade do Vinho 2016», a FATACIL presta a devida homenagem à qualidade dos vinhos da

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região, mas novidades acontecem igualmente no setor equestre, já para não falar de um cartaz de artistas soberbo, onde pontificam nomes como D.A.M.A., Anselmo Ralph, The Gift, Agir, Miguel Araújo, Quim Barreiros, Rita Guerra, Mickael Carreira, Ana Moura e Rui Veloso. Era compreensível, assim, a satisfação evidente em Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, no momento em que inaugurava oficialmente este evento que, na sua génese, há quase quatro décadas, pretendia apenas ser uma mostra do que era feito no concelho. “Cresceu, criou dimensão, ultrapassou as fronteiras da região e afirmou-se no contexto nacional como um dos maiores certames deste género. Muitos homens e mulheres trabalharam para que a FATACIL fosse aquilo que ela é hoje 12


Um dos espaços renovados prende-se com a habitual zona «Amar a Terra», que surge completamente transfigurada e bastante mais moderna e apelativa

A zona alusiva ao galardão «Lagoa Cidade do Vinho 2016» foi o local escolhido para um convívio informal entre as diversas individualidades que estiveram na inauguração da Fatacil

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mas, como em tudo na vida, não há nenhuma fórmula de sucesso que perdure no tempo. Ciclicamente, temos que saber inventar, dar um passo em frente, ter a coragem de não ficarmos agarrados a um modelo que bastantes vezes temos consciência que vai definhando”, afirmou o edil lagoense. Um desses passos foi dado, então, em 2016, sendo a primeira edição organizada diretamente pelo Município de Lagoa, quando, até agora, essa responsabilidade cabia à FATASUL,

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associação da qual a autarquia fazia parte. “Foi um ano difícil, porque a burocracia que temos que ultrapassar criou-nos muitos constrangimentos. Houve bastante gente na expetativa que a FATACIL, quando chegasse o dia de abertura, não estivesse pronta, mas aqui está, pronta, de pé e a começar a melhor edição de sempre”, sublinhou Francisco Martins, dando os parabéns a quem andou no terreno para que estivessem reunidas todas as condições necessárias para o êxito do evento.

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Aproveitando a presença de diversas individualidades, dirigentes associativos, empresários e deputados da Assembleia da República, Francisco Martins lamentou que nem sempre o Algarve estivesse devidamente representado naquela que é, sem dúvida, a maior montra do que se faz na região. “O nosso desafio nesta reinvenção da FATACIL não é alterar a sua identidade, mas sim ir buscar a sua identidade. Este é o maior evento que se realiza no Algarve, recebemos dezenas de milhares de visitantes, a maior parte

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deles não são da região, e eles devem levar daqui uma ideia do que temos para oferecer como um todo”, defendeu. “Há 20 anos que ouço dizer que o «Sol e Praia» é um produto que se esgota, mas nós temos muito mais para dar e é importante que os decisores políticos, que o tecido económico e associativo, que todos aqueles que dizem que devemos procurar soluções, que o sintam verdadeiramente e atuem em conformidade”.

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Para além dos concertos musicais, a animação é uma constante em todo o recinto da FATACIL

As artes equestres estão em evidência na zona do Picadeiro, com vários espetáculos e demonstrações a acontecerem ao longo da noite

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A terminar as boas-vindas institucionais, Francisco Martins mostrou-se contente por os riscos assumidos terem resultado em pleno, desde a nova entrada da FATACIL à organização mais arejada e moderna dos stands e espaços de exposição, como ficou amplamente demonstrado na visita guiada ao certame. Depois, na zona alusiva ao galardão «Lagoa – Cidade do Vinho 2016», o edil voltou a enfatizar a necessidade que havia da FATACIL sofrer uma autêntica revolução no seu layout e modo de funcionamento, isto apesar de terem sido introduzidas pequenas alterações ao longo do tempo. “Poderíamos ter organizado, de uma forma muito cómoda, uma FATACIL igual à dos outros anos, mas entendi que estava na altura de dar um salto para o século XXI. Derrubamos muros, paredes e obstáculos, abrimos a FATACIL e ela, agora, acolhe, de braços abertos, quem a visita”, descreve, orgulhoso. Questionado sobre o risco acrescido desta «revolução» acontecer em simultâneo com a extinção da FATASUL 17

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e a passagem da organização para a autarquia, Francisco Martins justifica que nunca foi uma pessoa acomodada na vida e que há que ter coragem para fazer as coisas quando se abraça a causa pública. “Com essa mudança organizativa, era o ano chave para mudarmos, igualmente, aquilo que queríamos para o futuro deste certame. Definimos objetivos muito bem traçados e claros a três anos, em termos de conceito da FATACIL, mas deste próprio espaço, que irá dar lugar a um Parque Urbano. Já chegaram as aventuras que foram feitas no passado e as asneiras que daí advieram”, disparou o autarca, confessando que se depararam com constrangimentos que não passam pela cabeça de ninguém num evento desta dimensão. “Precisamos, por exemplo, de um fundo de maneio de 10 mil euros em trocos para a bilheteira mas, pela Lei das Finanças Locais, não se pode ter um ALGARVE INFORMATIVO #71

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Os espaços de restauração são bastante procurados pelos visitantes nacionais e estrangeiros para desfrutarem da deliciosa gastronomia nacional

fundo de maneio superior a 500 euros. Ora, com milhares de visitantes por dia, 500 euros em trocos não dá para nada”, revela. Alheios a estas questões triviais do dia-a-dia estão os expositores, que chegam de todos os pontos do país, sendo a procura de espaços bastante superior à oferta, o que permite à organização ser mais criteriosa na sua escolha. “E a todos os artesãos que trabalham ao vivo durante quatro horas por dia, no final da feira é-lhes restituído o valor que pagaram para aqui estarem, porque queremos dar valor ao artesanato tradicional e não ao industrial”, conta, sem se esquecer,

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como é natural, dos artistas que sobem ao palco. “É um cartaz de primeiro plano e completamente eclético, desde projetos para os mais jovens até ao Rui Veloso, o pai do rock, um músico imortal e que abrange todas as gerações. Temos a Ana Moura com o fado, o Quim Barreiros com o popular, opções para todos os gostos e os próprios artistas sabem que a FATACIL é a grande montra do Algarve. Qualquer português que esteja de férias na região encontra aqui, certamente, um cantinho que tenha a ver com a sua terra, por isso, toda a gente se sente aqui em casa e sabe que isto é Portugal” . ALGARVE INFORMATIVO #71


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CALÇADAS encheu Centro Histórico de São Brás de Alportel em noite de lua cheia A arte saiu à rua, na noite de 14 de agosto, e encheu por completo o Centro Histórico de São Brás de Alportel, com centenas de pessoas a percorrerem a Vila Adentro, a Praça Velha, o Adro da Igreja Matriz, a Biblioteca Municipal, o Centro de Artes e Ofícios e a Calçadinha de São Brás de Alportel. Falamos do Calçadas, evento dinamizado por um grupo informal da comunidade sãobrasense, com o apoio da autarquia local, e que é já um sucesso na sua terceira edição. Texto: ALGARVE INFORMATIVO #71

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«Calçadas – A Arte Sai à Rua» trouxe ao Centro Histórico de São Brás de Alportel, na noite de 14 de agosto, muita música, dança, contos, comédia, criação artística ao vivo, histórias de arrepiar e, claro, largas centenas de pessoas. Um evento cultural organizado pela autarquia local, em parceria com a «Comissão Calçadas», grupo informal da comunidade são-brasense que anualmente, e de forma voluntária, se empenha na organização desta iniciativa e que gerou uma tremenda agitação por entre as ruas e ruelas do burgo antigo da vila. Ao todo existiam seis palcos diferentes – Vila Adentro, Praça Velha, Adro da Igreja Matriz, ALGARVE INFORMATIVO #71

Biblioteca Municipal, Centro de Artes e Ofícios, Calçadinha de São Brás de Alportel – mas as tascas tradicionais também abriram as suas portas para aguçar o apetite de quem passava pelo coração da vila. Em simultâneo, muitos artistas exibiam os seus dotes na fotografia, artes plásticas, artesanato, trabalhando ao vivo perante o olhar expetante dos residentes e visitantes. Nos palcos sucediam-se grupos musicais e sonoridades de Portugal e do mundo, desde o flamenco de «El Camiño» aos Six Irish Men, da fadista Inês Graça aos sons populares dos Azinhaga e à stand-up comedy de Serafim, dos temas de Luke Redmond e Nanook aos hits do DJ Rodrigo, do grupo ucraniano Jasmim à Escola de Dança Municipal, Companhia de Dança do Algarve e Rancho Folclórico de Faro. 24


Mas também se escutou poesia infantil e houve até uma sessão de histórias de arrepiar. Para além de tudo isto, os visitantes eram confrontados com a história do município ao virar de cada esquina e, 25

com o objetivo de envolver ainda mais a população residente e os comerciantes do Centro Histórico, a organização lançou o desafio «A Janela Mais Bonita». O resultado foram diversas janelas e montras decoradas de forma original e ALGARVE INFORMATIVO #71


criativa. E por entre tudo isto, de sorrisos nos lábios, encontramos Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, radiante com mais esta noite de encantar em pleno coração da Serra do Caldeirão. “O desafio foi lançado por um grupo de jovens residentes no nosso concelho e há três anos que levamos para a frente um evento cujo objetivo é revitalizar a dinâmica do centro histórico, envolvendo a comunidade local, os moradores e as associações. Temos aqui diversos artistas de São Brás de Alportel de várias expressões, para além de convidados de outros pontos da região, e a população respondeu desta forma”, afirma, de braços abertos, o autarca. População que, em muitos casos, desconhece algumas destas ruas e recantos do centro histórico e que assim fica a conhecer melhor o património da sua terra. Mais do que isso, é uma excelente oportunidade para os artesãos mostrarem os seus

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produtos, algo que vem sendo habitual nos eventos organizados pela Câmara Municipal de São Brás de Alportel. “Estão aqui presentes várias especialidades do concelho, o nosso artesanato e gastronomia, os doces regionais, para que, quem vem de fora, fique com vontade de cá voltar para desfrutar destes produtos. Estes eventos têm muita importância para a economia local do concelho”, assume o edil, constatando mais uma vez a forma ativa como a comunidade estrangeira residente em São Brás de Alportel participa nas iniciativas que se vão realizando regularmente. “Outros chegam graças à dinâmica do próprio Museu do Trajo, que tem uma Associação de Amigos com várias centenas de membros. O «Calçadas» tem sido uma aposta ganha, sem dúvida, sem exigir um grande esforço financeiro da autarquia, envolvendo, sim, a comunidade local e as associações”. Vítor Guerreiro confirma, igualmente, que os

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centros históricos estão cada vez mais na moda e a suscitar um forte investimento dos proprietários na reabilitação das suas casas, como atesta, por exemplo, a Casa da Barreira. “É um café à moda antiga, idêntico ao tempo em que eu lá comprava os pirulitos a caminho da escola e que foi reaberto pela neta da antiga dona. Está sempre cheio de turistas que ali vão provar a gastronomia”, indica. “Os centros históricos são a marca de uma comunidade e da sua cultura, cada povo tem os seus e nós devemos valorizar os nossos e dá-los a conhecer aos outros. Para isso, é preciso incentivar os proprietários para recuperarem e reconstruírem as suas casas, de modo a que muitas daquelas que estão devolutas ganhem

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uma nova vida. Contudo, têm que ser recuperações equilibradas e aprovamos recentemente a nossa Área de Reabilitação Urbana, que vem trazer incentivos fiscais para esse fim. Antigamente, estes espaços estavam sujos, degradados, com pouca luz e tudo isso mudou nos tempos atuais”, destaca o edil. Nesse sentido, a autarquia pretende, igualmente, atrair as associações para o Centro Histórico para ocupar espaços que são propriedade da Câmara Municipal, com a consciência de que os seus membros normalmente reúnem-se durante a noite, depois de terminarem os seus afazeres profissionais, e isso contribui para

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dar uma nova vida a estas ruas. “Temos a felicidade da nossa comunidade ser bastante participativa, de gostar de fazer coisas, os munícipes estão constantemente a trazerem-nos as suas ideias. Não vêm simplesmente pedir para a câmara municipal fazer, querem ser eles a colocar essas ideias em prática”, enaltece Vítor Guerreiro. “O Moto Clube, por exemplo, teve a sua concentração motard este fimde-semana, ainda estão a desmontar o recinto e já têm aqui uma equipa envolvida no Calçadas”.

o futuro do Calçadas, com o edil a equacionar a possibilidade do evento ter duas noites. “Dá-nos muito orgulho ver a aceitação que este evento gera na comunidade. Os artesãos trazem as suas mesas e um candeeiro para iluminar os produtos, responsabilizam-se pelos seus espaços e os visitantes apreciam imenso o que aqui encontram. É um evento feito quase 100 por cento pela comunidade, independentemente do apoio logístico que a autarquia concede, e o formato será sempre este, embora possa evoluir para dois dias” .

Uma aposta ganha num curto espaço de tempo, daí que perguntemos qual

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QUARTEIRA RECORDA POETA PARDAL E REEDITA «EM CIMA DO MAR SALGADO» No ano em que se assinala o centenário da freguesia de Quarteira passam igualmente os 100 anos do nascimento de Manuel Pardal, ou Poeta Pardal, como ficou conhecido pelos seus conterrâneos. O marco não foi esquecido pela Junta de Freguesia de Quarteira e pela Câmara Municipal de Loulé, que decidiram reeditar «Em cima do mar salgado», livro publicado em 1977 e que agora fica ao dispor de uma nova geração de apreciadores da sabedoria popular do Poeta Pardal. Texto:

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Célia Pardal, filha do Poeta Pardal, Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé e Telmo Manuel Machado Pinto, presidente da Junta de Freguesia de Quarteira

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Câmara Municipal de Loulé e a Junta de Freguesia de Quarteira decidiram prestar uma justa homenagem a Manuel Pardal, no âmbito do centenário do seu nascimento, com um conjunto de iniciativas que tiveram lugar nos dias 16 e 18 de agosto. Assim, houve lugar ao descerrar de uma placa comemorativa, na Rua Poeta Pardal, na casa onde Manuel Pardal nasceu há 100 anos. No mesmo dia, no Pólo da Biblioteca Municipal, assistiu-se ao lançamento da reedição de «Em cima do Mar Salgado», livro da autoria do poeta que foi publicado em 1977. No dia 18 de agosto, o público pode visionar, na Praça do Mar, o documentário «Mau Tempo, Marés e Mudanças», do realizador Ricardo Costa. Manuel de Brito Pardal é um nome sobejamente conhecido em Quarteira,

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cidade onde nasceu em 16 de agosto de 1916. Ele foi o único poeta popular que foi pescador, tendo iniciado esta atividade por volta dos 10 anos, de acordo com Ruivinho Brasão, responsável pela elaboração de «Em cima do mar salgado». “Ele foi, nas «artes de arrastar», moço de encolher e, depois, calador. Entrou a governar a sacada e passou, mais tarde, aos tresmalhos. Ainda experimentou ausentar-se de Quarteira, para trabalhar no Galeão. Contudo, afeiçoado à família, não parou por lá senão dez dias”, recordou Ruivinho Brasão. Ao longo da sessão de lançamento da obra, ficou-se a saber que o seu primeiro poema surgiu quando tinha 14 anos, num gosto que herdou do pai, Ernesto Pardal, assim como a paixão por cantar o fado. Por isso, quando 36


fazia poesia, era para ser cantada e usava no bolso uma gaita-de-beiços, fazendo-se acompanhar igualmente de uma guitarra. “A sua poesia, de carácter repentista, versava sobre o mar, a faina, as parcas condições de vida, mas também sobre outras temáticas que revelam um homem que questiona a vida, a morte e um pouco de tudo aquilo que o rodeia”, revelou José Ruivinho Brasão que, em 1977, decidiu reunir poemas do Poeta Pardal para serem publicados em livro. Manuel de Brito Pardal faleceu em 1984, sendo que, em 1987, no largo com o seu nome, foi inaugurada uma estátua em sua homenagem, designadamente um busto em bronze da autoria de Diamantina Negrão. “É uma personalidade que representa a cultura de Quarteira e é importante relembrar e valorizar o trabalho que foi feito por ele”, destacou Telmo Manuel Machado Pinto, presidente da Junta de Freguesia

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de Quarteira. Já Vítor Aleixo, edil louletano, garantiu que o pedido endereçado pela neta do Poeta Pardal, Ana Pardal, para a reedição deste livro foi prontamente acarinhado por todo o executivo da Câmara Municipal de Loulé. “As pessoas perguntavam há muitos anos pelos versos do Poeta Pardal e, ao ouvir a neta do poeta, percebi, talvez como ninguém, a vontade que ela tinha em dar a conhecer a mensagem poética do seu avô, porque eu também sou neto de um poeta, e que foi amigo do Manuel Pardal. Quando há pessoas que saem do comum pela sua sensibilidade, que disseram coisas àqueles que com eles conviveram e que atraíram a sua atenção, coisas que traziam uma mensagem sobre o mundo, sobre os homens, é natural que nos orgulhemos disso”, afirmou Vítor Aleixo.

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daqueles que viveram antes de nós e que nos deixaram uma herança que temos que cultivar, lembrar e transmitir às gerações futuras”, salientou Vítor Aleixo.

O autarca considerou que a reedição de «Em cima de mar salgado» é inteiramente justa e vem no tempo certo, num momento em que se assinala o centenário do nascimento do Poeta Pardal e da freguesia de Quarteira. “Já tínhamos publicamente anunciado um ciclo de comemorações e imediatamente percebemos que este seria um dos momentos mais significativos desse programa. Daí o livro e o trabalho que muitas pessoas tiveram para responder a este desafio em tempo útil”, apontou Vítor Aleixo, deixando um agradecimento especial a José Ruivinho Brasão por ter colocado outros projetos de lado para responder afirmativamente a esta homenagem ao Poeta Pardal. “Toda a gente percebeu que não podíamos falhar neste projeto, porque é significativo para Quarteira. Contrariamente ao que muitos pensam, a vida das câmaras municipais e das juntas de freguesia não é apenas ter as ruas limpas, fazer avenidas novas, arranjar ou construir escolas. O trabalho dos responsáveis políticos locais é também homenagear a memória ALGARVE INFORMATIVO #71

A par dos funcionários da autarquia, o presidente enalteceu ainda a postura de João dos Santos Simões, um gráfico e amigo de Quarteira que compreendeu que a reedição teria que estar pronta até 16 de agosto. “Conseguiu somar o recorde dele ao do Ruivinho Brasão, porque esta é uma edição exemplar. Está aqui um texto poético tratado com os critérios científicos e literários mais exigentes. O livro está muito bem organizado e apresentado, é uma obra que não envergonha ninguém”, garantiu Vítor Aleixo, considerando que Poeta Pardal é, sem dúvida, o maior símbolo da cultural oral e popular de Quarteira, bem como das suas raízes, os pescadores. “Cumprimos um desejo e um dever e espero que as escolas de Quarteira possam ensinar os poemas do Poeta Pardal, porque falam de um tempo diferente do nosso. Não vivemos dias fáceis, mas a época em que viveram os nossos avós foi provavelmente ainda mais dura do que os tempos atuais. Faltava tudo e o poeta exprime isso com uma grande sensibilidade, uma vida com muita escassez, de becos sem saída, de curvas difíceis”, terminou Vítor Aleixo . 38


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Agosto memorável José Graça

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or várias razões, umas boas outras, nem por isso, este mês de agosto tem todas as condições para tornar-se inesquecível para os portugueses e, especialmente, para os algarvios… Como os números não enganam, um relatório da Capital Economics revelado esta semana pelo DN / Dinheiro Vivo refere que o impacto no PIB pode chegar aos 16% em Portugal, com a generalidade dos indicadores da atividade a registarem crescimentos na ordem dos dois dígitos. Se bem que o turismo em Portugal e Espanha estejam a beneficiar dos receios com a segurança, que afastam os visitantes do Norte de África, os ataques terroristas em França e a crise dos refugiados na Grécia voltaram a alterar o fluxo turístico, beneficiando ainda mais Portugal, que registou um crescimento de 14%, até meados de agosto. Todos estes dados confirmam as previsões iniciais e mostram uma subida sustentada, que devemos procurar estabilizar. Se Páscoa fez aumentar a ocupação hoteleira no Algarve durante o mês de março, tendo sido registada uma taxa de ocupação média de quarto superior de 56,6%, mais 16% do que em 2015, os números mais recentes fizeram tocar todas as campainhas. Este contributo da atividade turística não pode passar ao lado dos governantes e deverá ser motivo para olhar para o Algarve com outros olhos, acabando um período negro de abandono da região e concretizando as promessas de investimento público. Não é possível continuar a mostrar aos visitantes uma EN 125 votada ao total esquecimento entre Olhão e Vila Real de Santo António ou receber os turistas que atravessam a Ponte Internacional do Guadiana com um sistema anacrónico de portagens, quando estas nunca deveriam ter sido sequer introduzidas… Pode ter passado despercebido de muita boa gente, mas o Banco Central Europeu confirmou a designação de António Ramalho, para assumir o cargo de presidente do Novo Banco, com funções executivas. Chegado à presidência da Estradas de Portugal em meados de 2012, aquele banqueiro

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liderou a fusão desta empresa pública com a REFER, dando origem à Infraestruturas de Portugal, que agrega a gestão da rede nacional de rodovia e ferrovia. Um processo que, aliado às orientações do anterior Governo para reduzir os custos do setor empresarial do Estado, levou ao emagrecimento dos quadros de pessoal do grupo e à quebra brutal de investimento na requalificação da rodovia. Para todos os efeitos, António Ramalho foi o rosto da suspensão dos trabalhos, da alteração de contratos com as subconcessionárias e da reprogramação dos investimentos para as calendas, iludindo os algarvios com uma chuva de milhões para a ligação ferroviária ao aeroporto de Faro ou para os portos de Faro e Portimão e enganou os autarcas com promessas sucessivas de cronogramas de obras na EN 125. Só esperamos que o seu sucessor seja um homem de palavra e honre os compromissos deste Governo! Se o crescimento sustentado da atividade turística pode ter uma influência positiva no PIB, imagine-se as suas consequências na criação de emprego ou na atividade das demais atividades económicas, beneficiadas pelo efeito multiplicador e transversal daquele setor. Conhecido pelo elevado nível de sazonalidade, principalmente pela dependência dos fatores climatéricos (sol/praia) reconheçam-se e estimulem-se os esforços para contrariar esta tendência, quer através de uma maior aposta no turismo de natureza e património (eventos de birdwatching ou programas de cycling & walking, entre outros) ou de animação cultural na época “dita” baixa, como o programa Algarve, recentemente apresentado pelo ministério da Cultura e pela secretaria de Estado do Turismo… . NOTA – Poderá consultar os artigos anteriores sobre estas e outras matérias no meu blogue (www.terradosol.blogspot.com) ou na página www.facebook.com/josegraca1966 (Membro do Secretariado Regional do PS-Algarve e da Assembleia Intermunicipal do Algarve) 42


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Só não desejo cair em sensatez Paulo Pires Escrever em absurdez faz causa para poesia. Eu falo e escrevo Absurdez. Me sinto emancipado.

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esaprender oito horas por dia ensina os princípios." O brasileiro Manoel de Barros (1916-2014), autor destes versos, é um dos meus poetas predilectos em língua portuguesa. Um encantador de palavras do outro lado do Atlântico, para quem o “fado é […] não entender quase tudo”, não cultivar conexões com o real, descobrir as insignificâncias (do mundo e nossas) e ter profundidades sobre o nada, como diz num dos seus textos maiores (“Poema”). Uma escrita que nos faz parar para ouvir gritar baixinho e que (nos) reinventa o olhar em relação às coisas mais banais, mundanas, rasteiras e inusitadas, mostrando que todas elas servem para a poesia: “todas as coisas cujos valores podem ser / disputados no cuspe à distância”; “o homem que possui um pente / e uma árvore”; “um chevrolé gosmento / colecção de besouros abstêmios / o bule de Braque sem boca”; “cada coisa sem préstimo”; “o que se encontra em ninho de joãoferreira”; “tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma”; “as coisas que os líquenes comem / – sapatos, adjectivos”; “os loucos de água e estandarte”; “tudo que explique / o alicate cremoso / e o lodo das estrelas”; “pessoas desimportantes”; “tudo que explique / a lagartixa da esteira / e a laminação de sabiás”; “o que é bom para lixo”. O escritor Pedro Vieira disse um dia que a literatura dá-nos um banho de humildade, pois percebemos e relembramos, pela leitura-viagem, que o nosso mundo habitual, aquele em que nos movemos e nos é familiar, é afinal tão pequeno, parco e limitado, havendo tantos outros universos e perspectivas, mais ou menos insondáveis, por descobrir e desfrutar, como lugares onde habitam “loucos [em] que grassam luarais” e sapos que são pedaços de chão que pula.

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Depois de uma primorosa antologia publicada há 16 anos pelas extintas Quasi Edições com apenas trinta textos (o poeta brasileiro por várias vezes insistia na ideia de que “poesia é coisa para ser pouca, senão cansa o leitor”) – isto num tempo em que a sua obra era praticamente desconhecida em Portugal –, em 2011 a Editorial Caminho publicaria toda a sua obra produzida até 2010, num volume único intitulado Poesia Completa. Recordo poemas marcantes, plenos de verdade e de beleza, que revisito regularmente, carregados de sinestesias, fantasias, feitiços e outras invenções imagéticoverbais, como [“Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:”] ou “O Poeta”, ambos feitos de silêncios, perfumes, sotaques, vozes, azuis e iluminuras – como este primeiro verso escrito com os olhos postos na “Cordilheira dos Andes que / se perdia lá nos longes da Bolívia”: “Aquele morro bem que entorta a bunda da paisagem.” Para este criador continuamente espantado com as pequenas “insignificâncias” do mundo, com as coisas mais simples, a imaginação não tem estrada, pois o poeta gosta de desvio e de desver, como defende numa entrevista em 2012. Este “guardador de águas” que quer “crescer pra passarinho” – e que, a meu ver, deveria ter um lugar nos programas escolares oficiais do ensino secundário das disciplinas de Português/Literatura, pela grandeza do seu imaginário, criatividade e originalidade – afirmaria mesmo algo singular de que me recordo amiúde: “Sei que os meus desenhos verbais nada significam. Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba. Eu sei. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.” Pois “só as palavras não foram castigadas com / a ordem natural das coisas. / As palavras continuam com seus deslimites” .

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A Ciência na Cozinha (parte II) Augusto Lima

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s progressos na tecnologia alimentar possibilitaram às empresas de produtos alimentares avançarem em ofertas e gamas de produtos muito diferenciados. Nas grandes empresas de Catering, de facto, o cozinheiro foi substituído por técnicos (também de jaleca branca) que mexendo em botões e comparando gráficos alimentam muita boca faminta. Pode-se ainda afirmar que o cozinheiro, enquanto artesão, foi evoluindo e que nos nossos dias já temos os chamados cozinheiros científicos, aqueles que bebendo dos trabalhos dos cientistas renovam a cozinha, proporcionando uma alimentação mais saudável, mais prática, com a possibilidade de dar a conhecer novos ingredientes e metodologias. Por si só este ato é já uma nova cozinha, a cozinha científica. E agora, que a cozinha se encontrou com a ciência, que mais avanços na culinária podemos esperar? Uma certeza porém subsiste. Cada vez mais a Cozinha dos nossos dias é uma Cozinha Científica, deixando de lado alguns erros cometidos sistematicamente por falta de conhecimento. Muitos chefes, por graça, convicção ou outra qualquer razão, denominam a sua cozinha (espaço onde cozinha), de laboratório. Nada mais verdadeiro. Cozinhar é uma atividade em que ações químicas e físicas vêm e vão e se manifestam das mais distintas maneiras. Não precisamos de igualar em talento reconhecidos Chefes criativos, para com alguns conhecimentos podermos melhorar a nossa mestria no fogão. Cozinhando legumes Os legumes devem ser cozinhados em pouca água, sem o acréscimo de sal e sempre que este seja usado, nunca antes desta começar a ferver. Juntando o sal à água antes do início da fervura, faremos com que ela – agora mais densa, demore

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mais tempo a atingir o ponto de ebulição e que o sal agora diluído e fervido fique incrustado aos legumes em forma de película, o que fará com que estes demorem mais tempo a cozer. Ao cozer legumes devemos fazê-lo no mais curto espaço de tempo (perdem-se menos vitaminas e no caso dos legumes verdes, a exposição ao calor, provoca a perca da clorofila. Vantagens: podemos aproveitar a água de cozedura para confecionar uma sopa ou um caldo. A clorofila, para além de proporcionar cor ao alimento, tem uma ação desintoxicante e depurativa, para além de exterminadora de radicais livres/ protetora da célula hepática e regularizadora das taxas de ferro. Assim que cozinhados, os legumes devem receber um choque térmico, provocando o fim do calor e consequentemente o termo do cozimento. Isto consegue-se introduzindo os legumes em água muito fria ou água com gelo. Erradamente, os legumes que são retirados depois de cozidos e acondicionados em bloco continuarão a cozer. Para além da perda da cor, perderão a vitalidade. Estes procedimentos são válidos para todos os legumes (e não só) proporcionando verduras com cor, brilho, consistência e repletas de vitaminas, – saúde e prazer para quem come. Vejamos uma outra situação: Quando cozinhamos, transformamos os alimentos através do calor, certo? Mas, cozer por si só, não chega, precisamos saber por quanto tempo teremos de cozer cada um deles. Assim teremos que separar e registar os alimentos por tamanho/peso/grau de dureza, registar modelo de confeção (cozido a vapor/em água/frito) e o meio (gás/placa elétrica). Agora, resta-nos fazer experiências com cada um dos alimentos, verificando qual o tempo exato de cozedura e qual o melhor modo de o fazer, tomando notas de tudo e fazendo comparações. Com estes dados podemos aperfeiçoar a nossa cozinha e estaremos a cozinhar segundo um método científico . 46


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Ana Moura dá mais brilho à FATACIL e Festival F Depois de, em abril deste ano, ter esgotado o Teatro das Figuras em três noites consecutivas, Ana Moura volta ao Algarve para mais dois espetáculos, na FATACIL, em Lagoa, e no Festival F, em Faro. Na bagagem traz o seu mais recente disco «Moura» e é com um sorriso nos lábios e elevadas expetativas que regressa a uma região que sempre a acarinhou e recebeu de braços abertos. Texto:

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inda faltam alguns dias para Ana Moura subir ao palco principal da FATACIL, em Lagoa, a 27 de agosto, ao que se segue, a 2 de setembro, novo concerto, desta feita no Festival F, de Faro, mas a ribatejana já aguarda com entusiasmo o seu regresso a terras algarvias, com a experiência do Teatro das Figuras ainda bem viva na memória. “Foram três datas de lotação esgotada e, mesmo assim, houve muita gente que não conseguiu ir, portanto, as expetativas são elevadas. O espetáculo também é um pouco diferente daqueles de abril, porque vai evoluindo ao longo da tournée”, refere a fadista, confirmando que o alinhamento dos dois concertos incidirá, sobretudo, sobre o álbum «Moura». “Como são ambos ao ar livre, serão dois espetáculos bastante festivos, com uma atmosfera excelente”. Ao ar livre perante dezenas de milhares de pessoas ou em espaços fechados, sejam teatros ou auditórios, com o público a poucos metros de distância, todos os concertos são especiais para Ana Moura, com a artista a não conseguir dizer qual ambiente prefere. “Às vezes sabe-nos bem estarmos num teatro e fazer um repertório um pouco mais contido, mas as festas ao ar livre trazem outra alegria. São duas situações completamente distintas, as pessoas também reagem de forma diferente, e

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contagiamo-nos uns aos outros. Custa-me escolher um local onde me sinta mais à vontade”, aponta Ana Moura, que até começou pelos projetos de pop/rock, antes de começar a construir a sua carreira como fadista. “Em 2003, não imaginava que o meu percurso seria assim, embora houvesse algo dentro de mim que me dizia que poderia fazer isto para o resto da minha vida. Tinha um desejo enorme para que tal acontecesse, mas não pensava em nada desta dimensão”, confessa, mostrando-se extremamente feliz pelos seus discos colherem tamanha aceitação da parte do público. Prova disso é que «Moura» alcançou recentemente o galardão de dupla platina ao fim de poucos meses de vida, estando a competir, no top das tabelas, precisamente com o seu anterior trabalho discográfico. Ao todo, são mais de 300 mil discos vendidos até à data, mais de uma dezena de galardões de onde se destacam dois Globos de Ouro, dois prémios Amália, uma nomeação para os Songlines Music Awards na categoria de Melhor Artista, participações com ícones da música Prince, The Rolling Stones, Caetano Veloso, Gilberto Gil ou Herbie Hancock. “É incrível porque o «Desfado» já saiu há quase quatro anos e nunca saiu do top, estando já com quíntupla platina”, salienta, comprovando-se que Ana

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Moura está, sem sombra de dúvida, num patamar bem superior à restante concorrência. “Temos que ser fiéis a nós próprios e respeitar os nossos impulsos porque, por vezes, há coisas que fazem parte das nossas influências e que queremos trazer para a nossa música e não há que ter receio de o tentar. Não existem almas iguais e é assim que nos distinguimos dos outros”, considera. Distinções que se fazem pelas melodias, mas também pelas letras, e a verdade é que não existem muitas pessoas a escreverem temas originais para fado, o que obriga muitos cantores a socorrerem-se de um repertório que existe há várias décadas. “O meu público é muito

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transversal e assisto com frequência a crianças a pedirem aos pais para irem aos meus concertos, uma situação que não acontecia há uns anos. Acho que isso acontece porque tenho convidado letristas que, embora não escrevendo letras que falem de fado, são temas que caracterizam o povo e a identidade portuguesa. Isso traz para as minhas músicas uma frescura que faz parte da nossa geração”, acredita a entrevistada. Fado que também já não se resume à eterna saudade, até para cativar os mais novos, mas Ana Moura lembra que o fado, no século XIX, até era dançado. “Há fados tradicionais que são muito ritmados e com letras irónicas, com algum gozo à mistura, são bastante alegres. É esse lado mais festivo que tento trazer e, como somos um povo extremamente emotivo, vivemos todas as emoções com grande intensidade. Nós gostamos de nos divertir e quis resgatar essa ideia com o «Moura»”, explica, dando o exemplo de uma letra que diz: ‘se o fado se canta e chora, também se

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pode dançar’. E dançam os portugueses e os estrangeiros, mesmo que não compreendam as palavras, com o galardão de Património Imaterial da Humanidade a catapultar o fado para uma dimensão nunca antes atingida. “É algo que aceito com naturalidade, porque há uma emoção latente no fado que todos entendem, mas às vezes ainda fico surpreendida com a reação das pessoas. Estivemos há pouco tempo no México, naquelas cidades do México profundo, e foi engraçado ver aquele povo, que está longe de nós, a vibrar com o fado”, revela. Entretanto, mesmo com dois discos no topo das tabelas nacionais, e quase sem tempo para respirar, Ana Moura garante que a veia criativa nunca está parada. “Há um pensamento constante do que se irá fazer no próximo álbum, gosto mesmo de fazer coisas

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diferentes, musicalmente falando. Neste momento, porém, a fase criativa está mais direcionada para a evolução dos concertos, porque vão surgindo ideias novas para se colocar em palco. Há pequenos detalhes que dão mais alegria nos espetáculos ao vivo e que servem para nos motivar a nós próprios enquanto artistas”, sublinha, ao mesmo tempo que reconhece que os fãs também estão sempre atentos a todos os detalhes do que vai acontecendo na vida dos seus ídolos. “As redes sociais e as fotografias com os fãs são parte da nossa geração, nós fazemos isso no nosso dia-a-dia, pelo que é só adaptar essa vertente à profissão”, finaliza, com um sorriso, deixando o convite para todos irem aos concertos da FATACIL e do Festival F .

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2016 está, de facto, a ser um dos melhores anos turísticos para o Algarve, o que é sinónimo de hotéis esgotados, o que, por sua vez, leva à necessidade destes reforçarem as suas equipas. Por isso, fomos bater à porta da Timing, de Ricardo Mariano, uma das maiores empresas de trabalho temporário da região, e o que descobrimos foi a história de um jovem que começou por baixo, na hotelaria, também como trabalhador temporário, e que desde então não parou de criar empresas e negócios de sucesso. Texto: Fotografia:

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azáfama era muito na sede da Timing, em Quarteira, e não é de admirar. Com o Algarve a abarrotar de turistas, compreende-se o frenesim em que andam muitas unidades hoteleiras da região que há vários anos recorrem aos serviços de Ricardo Mariano para suprir as suas necessidades pontuais para reforçar os quadros de pessoal. Corre-corre a que não escapa o próprio empresário de 30 anos, um farense que teve que começar a trabalhar mal concluiu o ensino secundário, na receção de um hotel. “Acabei por ficar lá três anos e, aos 21 anos, abri a SW – Success Work, com um grupo de quatro sócios. Volvidos três anos, fui a primeira vez à China, à aventura, de fábrica em fábrica e, quando regresso, crio a «Pens.pt», que é, atualmente, a maior empresa de pendrives personalizadas de Portugal”, começa por contar Ricardo Mariano. Reconhecendo que nem sempre é fácil para um jovem de 18 conseguir um emprego para o ano inteiro, e com perspetivas de carreira, Ricardo Mariano sentiu-se literalmente «empurrado» para a área do trabalho temporário e tem bem frescas as memórias desse período da sua vida. “Ainda estava a tirar a carta de condução, por isso, vinha de autocarro para Vilamoura às oito da manhã e a empresa disponibilizava um motorista para me levar a Faro, por volta da meia-noite, uma, duas da manhã”, recorda o entrevistado, que, entretanto, vendeu a sua quota na SW e, em 2015, avançou para a Timing, sozinho, por sua conta e

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risco. E depressa esclarece que trabalho temporário não é a mesma coisa que trabalho precário, com horários longos e parcos vencimentos. “Isso é uma falsa questão. Uma empresa de trabalho temporário proporciona um contrato de trabalho, um seguro de acidentes de trabalho, paga os descontos na Segurança Social, os subsídios de

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férias e de Natal, para além, claro, do salário que é praticado no hotel. Todas as questões legais estão asseguradas, o que não acontece a muita gente que anda a trabalhar neste Algarve, principalmente na época alta, por fora ou a recibos verdes”. Ricardo Mariano sublinha que a Timing é uma porta de entrada rápida no

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mercado de trabalho e muitos funcionários acabaram por ficar mesmo efetivos nas empresas que solicitaram os seus serviços. “Temos pessoas em regime de trabalho temporário o ano inteiro, são percursos muito longos. Aliás, algumas até preferem não assinar um contrato diretamente com essas empresas porque sabem que, se o ALGARVE INFORMATIVO #71


trabalho reduzir nesse local, têm muito mais facilidade em serem colocadas noutro sítio logo de seguida”, indica, adiantando que a maior parte dos seus clientes são hotéis de quatro e cinco estrelas e que predominam as profissões como empregados de mesa, cozinheiros e empregadas de limpeza. Funções que não são, se calhar, muito apelativas para quem tirou um curso ALGARVE INFORMATIVO #71

superior, mas Ricardo Mariano nota uma maior flexibilidade dos portugueses para abraçar carreiras que nada têm a ver com a sua formação académica. “Há uns anos, não conseguíamos converter ninguém que não tivesse experiência em hotelaria e que possuísse uma determinada licenciatura, achavam que era quase uma ofensa apresentarmoslhes algumas ofertas de emprego. Tivemos muita gente que nos desligou o telefone na cara. Hoje, isso mudou, há pessoas com certos cursos superiores que não se importam de ir servir às mesas de um hotel, porque a verdade é que estão a trabalhar”, sublinha o empresário. Engenheiros, advogados, arquitetos, uns que nunca conseguiram iniciar a sua carreira profissional enquanto tal, outros que se viram, de repente, no desemprego, e cuja reconversão é feita na Timing, sendo, para tal, fundamental ter vontade e determinação. “Experiência não é competência e preferimos alguém que tenha vontade em aprender e trabalhar, do que alguém com uma

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experiência astronómica numa função e que, por vezes, é completamente inflexível, sem disponibilidade para encarar um novo cenário”, salienta Ricardo Mariano. Do lado das empresas nota-se, igualmente, um maior à-vontade em recorrer a firmas especializadas em trabalho temporário, até por lhes ser mais vantajoso em termos financeiros. De qualquer modo, o entrevistado defende que esta relação triangular só funciona se todas as partes ficarem satisfeitas. “Nós estamos contentes porque temos pessoas a trabalhar e estamos a faturar. O trabalhador temporário está satisfeito por estar ativo e a receber. E a empresa utilizadora está bastante agradada porque transformou custos fixos em custos variáveis”, explica o especialista na matéria.

Bons negócios são bem-vindos, mas com cautela Trabalho para a vida é coisa do passado, está mais que sabido, histórias de salários em atraso é o que não faltam, infelizmente, nos dias que correm, e essa é mais uma razão por que tantas pessoas preferem estar vinculadas a uma empresa de trabalho temporário sólida e sustentável do que serem efetivos no local onde desempenham as suas funções. Isto porque, na hora da verdade, se essa empresa atravessar dificuldades inesperadas, quem sente atrasos no recebimento é o prestador de serviços e 61

não o trabalhador efetivo, uma realidade com que Ricardo Mariano tem que estar preparado para lidar no dia-a-dia. “Temos clientes que se atrasam mais, temos muitos clientes que são cumpridores das suas obrigações, mas, tenhamos uma empresa utilizadora que esteja em divida connosco há um mês, ou há seis meses, as pessoas nunca são prejudicadas”, garante o farense. Uma situação que é, claro, boa para o colaborador, mas que pode ser eventualmente má para a empresa de trabalho temporário, e Ricardo Mariano lembra o que aconteceu há uns anos, quando se deu a queda no setor da construção civil, com muitas firmas a fecharem portas porque já tinham pago aos seus funcionários e, de repente, deixaram de receber dos seus clientes. Moral da história, este negócio não é para qualquer um e é essencial ter-se uma almofada financeira para enfrentar imprevistos. “Se me perguntassem, quando eu tinha 18 anos, se iria, um dia, ter que pagar centenas de milhares de euros em salários todos os meses, responderia que isso era uma parvoíce. Hoje, essa é a minha realidade. O compromisso é muito grande, a responsabilidade é enorme, mas temos conseguido sempre, todos os meses, sem exceção, pagar os ordenados a todos os nossos trabalhadores. Espero que continuemos na rota do sucesso porque, de facto, as coisas têm vindo a correr bastante bem”, afirma, sorridente. ALGARVE INFORMATIVO #71


Reflexo deste sucesso é que a Timing vai abrir brevemente uma nova delegação em Faro e mais uma ou duas estão previstas, em 2017, desta feita no norte do país, para se juntarem à sede de Quarteira e aos polos de Albufeira, Portimão, Lisboa e Sevilha. “Queremos abrir mais geografias, mas com um grande estudo prévio. Devemos faturar seis milhões de euros este ano, está tudo a acontecer mais depressa do que imaginado, mas vivo descansado e sinto-me extremamente honesto. Vim do nada e sei bem o que é estarmos a chegar ao fim do mês e a contar todos os tostões enquanto não recebemos o salário. Por isso, coloco-me, com a maior das facilidades, no lugar dos nossos funcionários”, assume, enfatizando a grande proximidade que existe com todos os colaboradores. “E, se não fosse a minha equipa de trabalho, nada disto era possível. O mérito é todo deles, temos uma taxa média de idades muito baixa, a rondar os 28 anos, portanto, o futuro está assegurado”. E ainda bem que assim o é, porque o universo empresarial de Ricardo Mariano não se resume à Timing, numa aventura que começou com as tais pendrives, conforme referido no início da conversa. Assim, a Timing subdividese numa empresa de trabalho temporário e noutra dedicada apenas ao outsorcing, à prestação de serviços, essencialmente para a hotelaria. À Timing soma-se outra empresa que detém várias marcas, a principal a «Pens.pt», direcionada sobretudo para ALGARVE INFORMATIVO #71

o mercado empresarial. “O setor das pens está a atravessar uma grande crise por causa das clouds, mas nós não fomos afetados porque estamos focados nas empresas, com encomendas mínimas de 50 unidades, e frequentemente recebemos pedidos de alguns milhares de pendrives”, indica, confirmando que o sucesso neste mercado só é possível quando se vai diretamente à fonte. “Antes de ir à China pela primeira vez fiz um estudo, com um amigo, junto das empresas que trabalhavam neste setor e percebi que, em Portugal, toda a gente funcionava com revendedores. Ninguém se sentia suficientemente corajoso e audaz para comprar diretamente na China, preferiam adquirir a espanhóis, ingleses e alemães. Meti-me no avião e, três ou quatro meses depois, estava a montar a empresa, com três amigos meus. Atualmente, somos sete elementos em Portugal e dois na China”, conta. Outra marca é a «Pinayas», de frutos secos dos Himalaias, que trabalha com grandes encomendas, mas em número reduzido, ou seja, podem passar-se semanas em que não vende rigorosamente nada e, de repente, vende cinco toneladas de pinhão. “Tudo produtos provenientes da China para vender no mercado ibérico”, diz Ricardo Mariano. Depois, há ainda um portal de empregos – www.empregosmanager.pt – por conhecer profundamente quais as

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necessidades das empresas que contratam através da internet, para além de um portal imobiliário – www.igoldenvisa.com. “A marca mais fresquinha e que nos está a dar mais trabalho é a «Open China», através da qual estamos a tentar exportar vinho nacional para a China. Acho que me começou a doer um bocadinho a consciência de só trazer produtos de lá e começamos, há três meses, a inverter este circuito. Curiosamente, quando chegamos aos produtores nacionais, as pessoas assustam-se um pouco por querermos vender os vinhos deles para a China, por ser um país muito longínquo”, revela, uma distância geográfica que há muito deixou de incomodar o entrevistado. “Sempre gostei de ter uma visão à escala mundial e, se for preciso apanhar um

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avião amanhã para a China, vou e venho sem qualquer problema. Isto é bom e bonito, faz-nos crescer, abrenos os horizontes”. «Open China» que deverá ser, pelo menos para já, a última epopeia de Ricardo Mariano, porque o tempo começa a ser escasso para tudo. “Estou sempre atento às oportunidades, mas com a ponderação necessária, porque eu não sou rico, nem a minha família é rica, pelo que tenho que pensar muito bem antes de dar qualquer passo. Felizmente, os negócios têm vindo a correr bem, mas quero muito continuar a ser equilibrado e a dar as melhores condições às minhas equipas para que façam um bom trabalho” . ALGARVE INFORMATIVO #71


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DEPOIS DOS CONTOS CURTOS, PAULO MOREIRA PREPARA NOVO ROMANCE A Feira do Livro de Faro já terminou, mas o movimento foi muito em todo o certame e, em particular, no stand do grupo informal «Escritores Reunidos», do qual fazia Paulo Moreira. O farense, conhecido escritor e encenador, continua a promover «Curt’os Curtos», o seu último livro editado mas, curiosamente, o primeiro que escreveu, na década de 80. Entretanto, na forja está um novo romance, a avançar sem pressas, conforme contou Paulo Moreira ao Algarve Informativo numa destas manhãs do agosto algarvio.

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á vão sendo habituais as entrevistas em formato «conversa de café» no espaço junto à Doca de Recreio de Faro e a companhia desta manhã de agosto foi Paulo Moreira, que trazia consigo «Curt’os Contos», livro que idealizou nos anos 80. Habituado a escrever desde a adolescência, chegou a participar num concurso literário com esta obra e recebeu uma recomendação para publicação, mas depressa perdeu essa ilusão depois de ter levado “com a porta na cara” de várias editoras. “Meti a escrita na gaveta e só muitos anos depois é que regressei a ela, com o romance «Maria Manuel» e um volume com duas peças de teatro a partir de Fernando Pessoa. O último a sair foi precisamente o primeiro que escrevi, editado em outubro do ano passado”, descreve, de forma resumida, o seu trajeto literário. O Verão, entretanto, foi pautado por um périplo por várias feiras do livro e apresentações um pouco por todo o Algarve, mas também por Lisboa e Amadora, onde se localiza a sede da editora «Lua de Marfim», e Aveiro, onde viveu durante um largo período da sua vida. Curiosamente, a sua formação académica foi em Física e Química e, hoje, pensa que, se calhar, devia ter seguido pela via das Artes e Letras. “Mas, quando descobri esta aptidão, já estava a meio do curso”, explica, acrescentando que depois lhe

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apareceu também o teatro, como encenador e escritor de ficção e teatro. “Há pessoas que me conhecem como declamador de poesia e pensam que sou poeta, mas não é esse o meu caminho”, aponta. Com «Curt’os Contos» na mão, Paulo Moreira esclarece que não se tratam de micronarrativas, mas sim, como o próprio nome indica, pequenos contos com cerca de uma página, com algum surrealismo, finais imprevistos e uma pitada de humor sarcástico, que levam o leitor a curtir os contos. Um formato que advém do tipo de obras que lia na época, tendo mesmo dedicado o livro ao escritor Mário de Carvalho, mas reconhece que não é um estilo com grande saída comercial em Portugal. “Por isso, muitos anos depois, ousei experimentar escrever uma obra de maior fôlego que, por modéstia, preferi chamar de novela e não romance – o «Maria Manuel». Fiquei relativamente satisfeito porque pensava que poderia não conseguir escrever mais do que duas páginas”, justifica, com um sorriso. Novo romance está em produção, mas em standby durante a correria do Verão, admitindo que é uma obra que demora, no mínimo, um ano a escrever, iniciando-se depois toda a fase de revisão e maturação

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da obra. “Neste momento tenho outras ocupações que não me permitem ter total disponibilidade para estar a escrever todos os dias. Aliás, tenho em mangas outros projetos de alguns contos. Durante muito tempo, a edição era, para mim, uma miragem. Agora, isso deixou de ser, o que me permite poder decidir o que vou fazer e publicar”, afirma, com as edições de autor e as pequenas edições em mente. “O panorama editorial mudou completamente, por motivos tecnológicos, e existe até o print on demand, ou seja, podemos mandar imprimir 1, 10, 100 exemplares sem custos exorbitantes. Antigamente, as tiragens mínimas eram de mil ou dois mil exemplares”, compara Paulo Moreira. Esta facilidade de impressão e publicação não significa que a qualidade tenha decaído, em termos gerais, embora reconheça que nem tudo o que é editado tem valor suficiente para tal. “Não diria que há uma relação assim tão direta. No entanto, ainda ontem estava a ler uma interessante entrevista da Bárbara Bulhosa, editora da «Tinta da China», que falava do facto de as tiragens serem, atualmente, bastante pequenas, o que depois gera problemas na distribuição das obras. Apesar disso, os livros fazem a sua vida e, quando chegam às pessoas

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certas, cria-se procura e há sempre a possibilidade de se imprimir mais exemplares”, observa o entrevistado. Neste cenário, Paulo Moreira acredita que o principal problema do mercado livreiro passa, precisamente, pela distribuição, porque as livrarias estão em vias de extinção e os grandes postos de venda de livros são as grandes superfícies comerciais ou lojas de maior dimensão como a FNAC. “Para além disso, publicam-se tantos livros por dia em Portugal que nenhuma livraria tem capacidade para receber, expor e

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colocar à venda, durante meses a fio, tudo aquilo que sai para o mercado. Assim, como essa editora dizia, o tempo de vida de um livro numa livraria é de um mês, depois são devolvidos”, conta o autor, embora concorde que surgiram, entretanto, outras vias de promoção dos livros, nomeadamente através da internet e do Facebook.

Não me apetece escrever para a gaveta Como os livros estão menos tempo à venda nos espaços comerciais, cabe aos autores desdobrarem-se em apresentações públicas em feiras do livro, auditórios, bibliotecas ou

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escolas, conscientes de que até é mais fácil vender nessas situações porque o público que lá vai está, logo à partida, mais predisposto para consumir cultura. “Mas há autores que acham que não devem fazer esse trabalho e as pequenas editoras também não têm capacidade para o fazer em relação a todos os livros que são editados. Nós, no Algarve, temos dinamizado essas iniciativas”, destaca Paulo Moreira, chamando ainda a atenção para a «Lua de Marfim», da Amadora, que tem publicado várias obras de autores algarvios no último ano. Outras editoras bastante ativas estão sedeadas no Algarve, como é

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a «4Águas», de Fernando Esteves Pinto e Vítor Gil Cardeira, a «CanalSonora», de Pedro Jubilot, e a «Arandis Editora», de Nuno Campos Inácio, Sérgio Brito e Fernando Lobo. E eventos há, igualmente, que têm ajudado a divulgar a cena literária algarvia, tais como o «Palavra Ibérica» ou o «Edita». “Através da internet, o mundo tornou-se uma aldeia global e é bastante fácil mandar textos e fazer publicações à distância. O que acontece no Algarve sucede, acredito, com outras regiões de Portugal e até desgosto da expressão «escritores algarvios», porque esse rótulo pode ser inibidor para leitores de outras partes do país. Nós podemos ser algarvios ou viver no Algarve, mas escrevemos uma literatura perfeitamente lusófona, portuguesa, que poderá interessar a pessoas de qualquer parte do país e do mundo”, distingue. Interessado sobretudo pela ficção e pelo teatro, Paulo Moreira encolhe os ombros e admite que também são poucos os leitores para obras de teatro. Isso não o impede de continuar a escrever e, sobre a inspiração, entende que só se consegue criar algo sobre aquilo que se conhece, direta ou indiretamente. “Gosto que me contem histórias e eu tento contar histórias aos outros e que, ao longo dessa narrativa, se faça o leitor pensar sobre determinados assuntos. Não acho que um escritor tenha que ser, necessariamente,

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interventivo do ponto de vista social, no sentido político da expressão, mas penso que tem que fazer refletir sobre a natureza e as relações humanas”, responde o farense. E se o dinheiro não é, nem poderia ser, em Portugal, o objetivo da escrita, Paulo Moreira refere que também não gosta de escrever para a gaveta, por isso, quando percebeu, em determinada fase da sua vida, que não tinha possibilidades de publicar os livros, pura e simplesmente deixou de escrever. “Julguei que devia gastar as minhas energias em coisas que dessem resultados mais imediatos. Agora, como já consigo publicar, tenho mais vontade de escrever, sempre com o objetivo de, mais cedo ou mais tarde, colocar as obras no mercado”, frisa, considerando que a sua geração não está focada no sucesso, na fama. “Hoje, a perceção que a maior parte das pessoas tem do mundo é aquilo que passa na televisão e esta literatura anda por outros circuitos, daí não ter projeção nacional. Por outro lado, também são poucas as publicações nacionais dedicadas à literatura e, como são tantos os livros lançados para o mercado, são muito poucos aqueles sobre os quais se fazem críticas literárias”, analisa. A todas estas dificuldades há que acrescentar, como é óbvio, a

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reduzida percentagem de portugueses que consome literatura, na ordem dos 500 mil, pelo que apenas os nomes sonantes de pessoas que são conhecidas através da televisão é que vendem livros com fartura, independentemente do seu conteúdo. A par dos livros, Paulo Moreira dedica-se igualmente à encenação de peças teatrais, outra atividade dirigida para públicos restritos, mas é essa a sua sina. “Não estou interessado em fazer teatro de revista, por exemplo, porque, para entretenimento, a televisão tem recursos e linguagens superiores. O teatro é, há muitas décadas, um bem cultural consumida por uma minoria. Eu tenho a felicidade de poder trabalhar como encenador na estrutura profissional com mais peso existente na região, a ACTA, mas de forma pontual”, indica, pelo que também não dá para viver exclusivamente do teatro, voltando-se à questão das percentagens. “Se estivéssemos em Lisboa, os tais cinco por cento que consomem cultura enchem uma sala. No Algarve, isso significa, se calhar, 60 ou 70 pessoas e a sala parece que está vazia, porque as autarquias também apostaram em equipamentos de grandes dimensões e são raríssimos os espetáculos de teatro que atraem tanto público”, assume.

exemplo concreto. “Ouvimos expressões como ‘fui ver a peça do Diogo Infante’. Não se disse qual é a peça ou o dramaturgo, foi-se à sala para ver o Diogo Infante ao vivo. Quase que ponho as mãos no fogo quando digo que aquilo que o Diogo Infante mais gosta de fazer é teatro, mas ele sabe que, para ganhar a vida, tem que fazer, de vez em quando, televisão, até para depois chamar pessoas para o teatro”, refere, acrescentando que tem tido sempre a felicidade de trabalhar com atores profissionais com raízes no teatro. “As técnicas para o trabalho para televisão e novela são completamente diferentes das do teatro e cinema. Um episódio de telenovela é um bem para ser consumido naquele dia e provavelmente não volta a ser a repetido. Uma peça de teatro ou um filme, enquanto objetos artísticos, são concebidos a pensar que as pessoas vão querer revêlos. O problema do teatro, na província, é que o circuito é relativamente pequeno e, ao fim de 10, 15 apresentações, a peça está esgotada em termos de público. Ir a Lisboa significa deslocar uma equipa de atores e técnicos, pagar deslocações, alimentação e dormidas e não há dinheiro para isso”, lamenta Paulo Moreira .

A exceção são espetáculos com atores conhecidos, lá está, da televisão, e Paulo Moreira dá um

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