ALGARVE INFORMATIVO #72

Page 1

ALGARVE INFORMATIVO 27 de agosto, 2016

#72

CUCA ROSETA vem encantar Lagoa 1

dias medievais de castro marim| dia de albufeira INFORMATIVO #72 manga & comic event |folkfaro ALGARVE | cristiano cabrita


ALGARVE INFORMATIVO #72

2


3

ALGARVE INFORMATIVO #72


OPINIร O 6- Daniel Pina 28 - Paulo Bernardo 30 - Dรกlia Paulo 32- Mirian Tavares 34 - Augusto Lima

ATUALIDADE 8- Dias Medievais Castro Marim 20 - Dia de Albufeira

ENTREVISTAS/ REPORTAGENS 36- Cuca Roseta 46 - Manga Comic Event 56- FolkFaro 70 - Cristiano Cabrita

ALGARVE INFORMATIVO #72

4


5

ALGARVE INFORMATIVO #72


Na terra da tolerância, ninguém se preocupa com burkinis Daniel Pina

C

onforme refere Paulo Bernardo na sua crónica desta semana da Revista Algarve Informativo, anda meio mundo chocado com os burkinis, seja pela peça de vestuário em si, seja pelo episódio dos polícias em Nice obrigarem uma senhora a retirar o seu burkini. Uma falsa questão, como qualquer pessoa com um pingo de inteligência na cabecinha compreende facilmente, dai que não tenha visto grande alarido sobre isso no Algarve. E não me admiro porque, tal como o Paulo Bernardo muito bem diz, o Algarve sempre foi uma região de gentes tolerantes e com mentalidade aberta, não fossemos nós uma região marcadamente turística. Esta tolerância não se reflete apenas na maneira como recebemos turistas de todos os pontos do mundo de braços abertos, independentemente da sua nacionalidade, cor de pele ou credo religioso. Uma tolerância que não é influenciada pelo volume da carteira dos visitantes, nem sequer pela forma algo arrogante com que alguns turistas tratam quem tanto trabalha para lhes proporcionar as melhores férias possíveis. Dizem alguns que até somos demasiado tolerantes e que, por causa disso, somos tratados pela classe política da maneira como somos. Mas a tolerância está no nosso ADN e esta semana fui a dois eventos que bem a comprovam, e de formas completamente distintas. O primeiro deles foi o Folkfaro, um festival internacional de folclore organizado pelo Grupo Folclórico de Faro e que trouxe ao Algarve grupos de seis países diferentes. E depressa percebemos que o folclore do Quénia, Filipinas, Brasil, França, Alemanha e Geórgia não é igual ao nosso porque, segundo Amabélio Pereira, “há grupos que respeitam a tradição e não a alteram, há outros que renovam a tradição e adaptam-na aos tempos modernos, e há grupos que apenas têm uma leve inspiração do antigo e é quase tudo modernidade”. Apesar de estarem em palco sete interpretações completamente distintas do folclore, com o grupo

ALGARVE INFORMATIVO #72

de Faro incluído, o público que esgotou o Teatro das Figuras aplaudiu com igual entusiasmo todas as atuações, porque, lá está, somos tolerantes e não temos a veleidade de pensar que o folclore que estamos habituados a ver em Portugal é melhor que o desenvolvido noutras nações. Por mais estranhas que possam parecer ao olhar desatento, as outras atuações apresentaram com elevada qualidade o folclore dos seus países e os algarvios aceitaram-no sem qualquer hesitação. Outro tipo de tolerância encontrei no 5.º Manga & Comic Event, organizado pela Associação Núcleo Geeks do Algarve, que reuniu apaixonados pelas histórias de ficção científica e fantasia oriental e ocidental na Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve. E se ninguém se admira de ver centenas de adolescentes mascarados das suas personagens preferidas, carregados de acessórios, em poses distintas, com palavras e gestos repletos de rigor, se calhar já será mais estranho ver essa atitude em adultos de todas as idades e das mais variadíssimas profissionais. Provavelmente alguns diriam que já têm idade para ter juízo, que não parece bem advogados, doutores, engenheiros, arquitetos, técnicos superiores de organismos públicos e afins andarem vestidos de ninjas, super-heróis, cavaleiros das estrelas, de fadas e vilões, ainda por cima em público num evento que atrai milhares de pessoas. Contudo, volto a reforçar, no Algarve somos tolerantes e compreendemos que todos nós já fomos crianças e não é pelo facto de crescermos que temos que deitar fora tudo aquilo que marcou a nossa infância e adolescência. E que bem sabe por vezes, nos locais e alturas certas, esquecermos as preocupações do dia-a-dia que acometem todos os adultos. E é por tudo isto que, realmente, não noto os algarvios muito preocupados com os burkinis que tanta polémica têm gerado por esse mundo fora .

6


7

ALGARVE INFORMATIVO #72


CASTRO MARIM REGRESSOU À IDADE MÉDIA COM TODO O RIGOR HISTÓRICO Há muitos anos que os Dias Medievais de Castro Marim fazem parte do roteiro turístico do agosto algarvio, com a vila situada no extremo do sotavento algarvio, paredes meias com o Rio Guadiana e a vizinha Espanha, a receber milhares de visitantes de todo o país, mas também espanhóis, claro, e muitos franceses, britânicos e estrangeiros de múltiplas nacionalidades. Cinco dias inesquecíveis, de 24 a 28 de setembro, numa das mais rigorosas e bem conseguidas recriações históricas organizadas em Portugal. Isto porque os Dias Medievais não são mais uma feira ou festa, mas sim uma verdadeira viagem à Idade Média. Texto: ALGARVE INFORMATIVO #72

Fotografia: 8


9

ALGARVE INFORMATIVO #72


D

e 24 a 28 de setembro, a 19ª edição dos Dias Medievais de Castro Marim proporcionou a milhares de visitantes uma viagem inolvidável por uma época repleta de magia e fantasia. Cinco dias onde se respirou a dualidade de uma Idade Média simultaneamente bárbara e culta, pautada por acontecimentos históricos e magníficas produções culturais e artísticas que influenciaram os séculos que se lhe seguiram. E como nada ficou ao acaso e o rigor é pedra-chave, o perímetro do mercado medieval voltou a crescer, com uma aposta forte na animação, nomeadamente a direcionada para os mais jovens, até porque ALGARVE INFORMATIVO #72

10


Francisco Amaral e Dalila Barros, rei e rainha dos Dias Medievais de Castro Marim

11

ALGARVE INFORMATIVO #72


e alma. Do alto da colina, o Castelo continuou a ser o palco principal desta viagem ao passado, ali estando representadas mais de 45 profissões desse antigamente longínquo, mas também a sempre arrepiante exposição de instrumentos de tortura e punição, bem como as deliciosas mostras gastronómicas e as frenéticas lutas entre cavaleiros e escudeiros.

é de pequenino que se torce o pepino e que se desperta o interessa por estas matérias. As ruas da vila de Castro Marim transbordaram de pessoas, a fazerem compras de forma entusiasmada e a acompanharem os momentos espetaculares proporcionados pelos figurantes, quer os de companhias profissionais, como os próprios populares que aderem ao espírito da festa de corpo

ALGARVE INFORMATIVO #72

Por entre os turistas circulavam inúmeras personagens mitológicas e históricas, guerreiros, monstros, princesas, reis e rainhas, sem esquecer as várias classes sociais da época, o clero, nobreza, burguesia e povo. Nos palcos formais ou em improvisos momentâneos atuavam grupos de música e de dança, cavaleiros, malabaristas, zaragateiros, cuspidores de fogo, contadores de histórias, gaiteiros, equilibristas, espadachins e contorcionistas e tantos outros, num cenário registado em fotografias e vídeos sem conta, para mais tarde recordar. Finais de tarde e noites de arregalar o olhar, mas a verdade é que nenhum sentido fica insensível à agitação que toma conta de Castro Marim nos últimos dias de agosto. Ruelas em tudo

12


semelhantes às de séculos atrás, a azáfama dos burgueses a apregoar em alta voz os seus artigos, a música medieval de excelente qualidade, interpretada pelos melhores grupos do género da Europa. Um contínuo desfilar de malabaristas e saltimbancos que deixam os mais pequenos de sorrisos rasgados nos rostos, enquanto se saboreiam os petiscos e doces do passado. Ir aos Dias Medievais de Castro Marim é uma experiência diferente de outros eventos do género que se tornaram populares nos últimos anos. É certo que os bancos de madeira no interior do castelo, mesmo os do banquete real, não são tão acolchoados e ergonómicos como aqueles que estamos habituados no nosso dia-adia. O acesso ao castelo dá algumas dores de cabeça às senhoras que se esquecem de levar sapatos confortáveis e até alguns homens chegam ao fim da íngreme subida a tentar recuperar o fôlego. Subir com carrinhos de bebé não é para todos, mas tudo isto faz parte da beleza do evento, tirarmos férias de

13

ALGARVE INFORMATIVO #72


alguns confortos que tomamos como garantidos nos tempos modernos, porque era assim o quotidiano das gentes na Idade Média. Nesta festa, é fundamental abrir os sentidos, para se ver as cores dos estandartes nas ruas, as decorações das lojas e restaurantes, a igreja matriz enfeitada, as bandeiras a esvoaçar nas muralhas do Castelo e do Forte de São Sebastião do outro lado da vila. Há que absorver a música envolvente e as animadas conversas da plebe, cheirar o aroma dos petiscos, até das fogueiras e dos archotes que nos rodeiam. Saborear as receitas de outros tempos, deslizar os dedos pelas muralhas, pelos bancos de madeira, no pelo dos cavalos e burros, segurar em armas medievais e artefactos do antigamente. E tudo começa, todos os dias, com um desfile pelas ruas de Castro Marim, encabeçado pelos cavaleiros da Ordem dos Templários e pelo executivo camarário liderado pelo presidente Francisco Amaral, que volta a destacar o facto desta ser uma recriação histórica do maior rigor possível. “Isto não é mais uma feira medieval, a sua qualidade tem-se vindo a sedimentar ao longo dos anos e, de edição para edição, tentamos melhorar cada vez mais o evento. Temos este ano mais participantes e figurantes, para além de mais ruas envolvidas”, indica o edil castromarinense, satisfeito por ver a total adesão das gentes locais no principal cartão-de-visita do ALGARVE INFORMATIVO #72

14


15

ALGARVE INFORMATIVO #72


concelho em termos de animação. “Preocupamo-nos em envolver toda a população, os comerciantes locais, as coletividades e associações, que têm aqui uma excelente oportunidade para angariarem fundos que lhes permitam depois desenvolver as suas atividades culturais e desportivas”. O aumento de quatro para cinco dias ALGARVE INFORMATIVO #72

foi uma das novidades introduzidas em 2015, mas Francisco Amaral não se quer ficar por aqui, de modo a potenciar ainda mais o investimento realizado no evento. “O nosso objetivo é que os Dias Medievais sejam autossustentáveis”, afirma o presidente da Câmara Municipal, explicando que isso será alcançado graças às receitas provenientes dos visitantes, já que os residentes têm acesso gratuito a todo o perímetro do evento. “Estamos a falar duma altura do ano em que a população do Algarve quadruplica, temos os nossos vizinhos espanhóis também, portanto, faz todo o sentido que sejam os turistas a custear o evento”, defende. 16


Uma atenção especial dada à população local, mas notase igualmente um cuidado particular com os artesãos presentes nos Dias Medievais de Castro Marim, que não se limitam a expor os seus produtos, mas produzem-nos no momento, ao vivo, para deleite do público. “É toda uma etnografia, artes e ofícios que existiam na Idade Média e que aqui são replicados com um rigor extremo. Estão aqui muitas atividades que, de certa forma, já estão em desuso no resto do país mas, em Castro Marim, ainda temos pessoas a desenvolvê-las”, afiança Francisco Amaral, lembrando que a própria população é chamada para participar no balanço de cada edição e a dar as suas sugestões e opiniões. “Em outubro vamos auscultar novamente os munícipes sobre os vários eventos que aconteceram em Castro Marim em 2016, com destaque para o Festival do Caracol, os Dias Medievais e a Festa da Nossa Senhora dos Mártires, sempre numa perspetiva de fazer cada vez melhor”, concluiu, antes de reencarnar a personagem de rei de Castro Marim e retomar o seu lugar no desfile . 17

ALGARVE INFORMATIVO #72


ALGARVE INFORMATIVO #72

18


19

ALGARVE INFORMATIVO #72


ALBUFEIRA COMEMOROU O SEU DIA DO MUNICÍPIO Albufeira comemorou o seu feriado municipal a 20 de agosto, assinalando a data de entrega da Carta de Foral, em 1504, pelo Rei D. Manuel. Do programa dos festejos constaram um arraial de Verão, uma caminhada solidária, o lançamento do livro «Albufeira Revisitada», o concerto com Camané e a realização de mais uma etapa do Campeonato Nacional de Futevoléi. Texto: Fotografia:

ALGARVE INFORMATIVO #72

20


21

ALGARVE INFORMATIVO #72


O

Município de Albufeira voltou a assinalar o seu feriado municipal com um programa bastante diversificado e que assentou sobretudo na cultura e no desporto. As festividades arrancaram logo no dia 19 de agosto, com um Arraial de Verão no Mercado Municipal dos Caliços onde a sardinha foi estrela cintilante, a par da animação musical com Carlos Coelho. Depois, houve ainda tempo para uma Caminhada Solidária em prol dos Bombeiros Voluntários de Albufeira. No feriado municipal propriamente dito, a 20 de agosto, as cerimónias oficiais tiveram início, como reza a tradição, com o Hastear das Bandeiras, junto aos Paços do Concelho, ao som do Hino Nacional interpretado pela Banda da Sociedade Musical e Recreio Popular de Paderne. A Guarda de Honra foi feita

ALGARVE INFORMATIVO #72

pelos Bombeiros Voluntários e a Fanfarra desfilou depois pelas ruas da cidade. Enquanto isso, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, decorreu a apresentação do livro «Albufeira Revisitada», obra editada pela Câmara Municipal de Albufeira onde são revistos alguns factos da história local e divulgados outros ainda inéditos. Dividido por cinco capítulos e um anexo com personalidades de destaque, fica-se a saber que existiu um sábio árabe em Paderne, que o garum foi uma exploração da costa de Albufeira em período romano, que a Santa Casa da Misericórdia foi fundamental no apoio às crianças expostas e que o cientista Heinrich Willkomm descobriu nas margens da ribeira de Quarteira um narciso único em todo o mundo. A obra é da responsabilidade de Idalina Nobre,

22


O concerto de Camané esgotou a Praça dos Pescadores

Luísa Monteiro, Manuela Santos e Rui Gregório, que estiveram presentes na cerimónia para autografar os exemplos distribuídos pelos populares que não faltaram a este emocionante momento. Um livro que surgiu da vontade do edil Carlos Silva e Sousa de que se recordasse a história do concelho de Albufeira e de que não se deixasse cair a autoestima dos seus munícipes. “Temos que nos conhecer. Nada melhor do que ter perspetivas que nos elucidem sobre aquilo que somos e de onde viemos, porque isso nos ajuda a ter os pés bem assentes no chão e nos auxilia a planear o futuro”, frisou o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, garantindo que esta obra é de fácil leitura, apesar do enorme rigor científico e trabalho de investigação que alberga nas suas páginas. “Os autores foram às fontes e descobriram coisas novas para nós, porque estavam arrumadinhas numa gaveta e esquecidas no tempo. Um património que agora veio à luz do dia e 23

o desafio está lançado para que este trabalho tenha seguimento”, destacou o autarca. «Albufeira Revisitada» que foi feito pela prata da casa, ou seja, por funcionários da Câmara Municipal de Albufeira, facto que deixou bastante orgulhoso Carlos Silva e Sousa, mas também o presidente da Assembleia Municipal de Albufeira. “Os autores tiveram o cuidado de nos ensinar e espero que esta história tenha uma sequência, porque muitas vezes esquecemo-nos de ter orgulho de quem somos. Para caminhar em frente, temos frequentemente que jogar mão às nossas origens, a tudo aquilo que nos envolveu enquanto crianças”, sublinhou Paulo Freitas. “Podemos ter bastantes obras, inaugurar muitas coisas num Dia do Município, mas estamos aqui a fazer o lançamento de um livro que nos aguça o apetite para saber mais da nossa história”. ALGARVE INFORMATIVO #72


Cerimónia do Hastear das Bandeiras, com os responsáveis autárquicos e convidados

vitória a ser alcançada, já no dia 21 de agosto, pela dupla algarvia Miguel Pita e Calita, do Messinense. Na noite de sábado a festa foi de outro tipo, com o concerto de Camané a encher por completo a Praça dos Pescadores para escutar os temas do seu novo disco «Infinito Presente», que entrou diretamente Paulo Freitas, presidente da Assembleia Municipal de Albufeira, Carlos Silva para o primeiro lugar do e Sousa, presidente da Câmara Municipal de Albufeira e José Carlos Rolo, top nacional de vendas. vice-presidente da Câmara Municipal de Albufeira Depois, às 24h, foi a vez dos céus de Albufeira serem coloridos com a habitual sessão de fogo-deO programa do Dia do Município artifício na Praia dos Pescadores. prosseguiu com a disputa da 5ª Etapa do Campeonato Nacional de Futevólei 2016, que juntou na Praia dos Pescadores as O programa comemorativo terminou principais figuras da modalidade, com a no dia 22 de agosto com a «11ª Prova ALGARVE INFORMATIVO #72

24


Idalina Nobre, Manuela Santos, Luísa Monteiro e Rui Gregório, os autores de «Albufeira Revisitada»

Miguel Pita e Calita, os vencedores da 5ª Etapa do Campeonato Nacional de Futevólei, com Carlos Coimbra, presidente da Federação Nacional de Futevólei, e Carlos Silva e Sousa

de Mar de Albufeira», também na Praia dos Pescadores, numa organização do Futebol Clube de Ferreiras que contou com o apoio da Câmara Municipal de Albufeira, da 25

Associação de Natação do Algarve, Junta de Freguesia de Albufeira e Olhos de Água, Marina Yatch Club e Surf Clube de Albufeira .

ALGARVE INFORMATIVO #72


ALGARVE INFORMATIVO #72

26


27

ALGARVE INFORMATIVO #72


Eu gosto é do Burkini Paulo Bernardo

F

oi com muita estranheza que vi a atuação da polícia em Nice a obrigar uma senhora a deixar de usar o seu Burkini (nome até com alguma piada), a mesma polícia que, no dia 14 de Julho, deixou um camião atropelar uma avenida inteira de transeuntes. Não entendo a perseguição ao uso de um determinado tipo de roupa, pois não foi assim há tanto tempo que por essa Europa fora se usavam fatos de banho tipo Burkini, pois o Bikini é de uso bastante recente – dizem os livros que foi criado em 1946. Portanto, antes disso, a indumentária não devia divergir muito do Burkini. Entendo todos os discursos sobre a liberdade das mulheres e apoio, mas também apoio a liberdade de usar Burkini. Pode ser por vontade própria, por imposição social, o que seja, mas ainda hoje todos nós usamos os nossos Burkinis. Já perguntaram a quem obrigam a usar fato e gravata para trabalhar se é isso que querem, ou se, quando «sugerem» usar salto alto, a mulher se sente confortável. Obviamente que existe quem gosta de usar fato com quarenta graus, quem usa por imposição social e quem é obrigado. O mesmo se passa com o uso do Burkini. Já imaginaram proibir usar calções vermelhos e a polícia entreter-se a obrigar os senhores a mudarem de calções vermelhos por outros de outra cor? Não nos deixemos levar por este tipo de descriminação bacoca, sei que o principal argumento é que, se vamos para os países deles, temos que usar isto ou aquilo, não justifiquemos algo injustificável com o próprio erro dos outros. A Europa não pode cair na tentação de descriminar, perseguir, não entender os hábitos e costumes dos outros.

diferentes, contudo, o que me marcou era a admiração e a censura. Lembro-me da estranheza de ver uma mulher de calças, de uma mulher ir à missa em cabelo (como se dizia por aqui), ou seja, sem levar a cabeça coberta com um lenço, preto, as casadas, branco, as solteiras, das mulheres fumarem, dos homens usarem cabelo comprido e colares de missangas coloridas. Todas estas atitudes eram condenadas pelos defensores da moral e dos bons costumes. Contudo, isto foi mudando e hoje vivemos numa sociedade onde muito poucas coisas não são toleradas. Volto a dizer, ainda bem que nasci no Algarve, pois possivelmente é a região mais tolerante do país. A mudança que por aqui aconteceu também irá acontecer nos Burkinis desta vida, umas mais rápidas do que outras, mas vão acontecer. Não é por decreto que se mudam hábitos, para isso já nos serviu o mau exemplo da Santa Inquisição, que bem sabemos o fim que dava a quem fugia do que era tido como normalidade. Não nos deixemos levar por extremismos estúpidos e sem fundamento lógico ou valido. Como homem tolerante que sou, não me perturba ver alguém sem roupa na praia como alguém de Burkini. Façamos a mudança pela educação e não pela repressão. E nós, povos do Sul, não podemos esquecer que temos muito mais em comum com os povos da Bacia do Mediterrâneo do que com os povos do norte da Europa e também não nos esquecemos que foi nesta Bacia do Mediterrâneo que nasceu a civilização ocidental .

Felizmente nasci no Algarve, região onde muito novo me habituei a ver hábitos e costumes

ALGARVE INFORMATIVO #72

28


29

ALGARVE INFORMATIVO #72


Nesta “Terra que Portugal sonhou e sonha ainda” A propósito dos concursos dos médicos Dália Paulo

O

jornal Expresso on-line noticiava esta semana que “mais dinheiro, mais férias e garantias de transferências dos filhos das escolas não foram incentivos suficientes para captar médicos para estas regiões. Das 73 vagas abertas este ano no Algarve, 31 ficaram por preencher, sendo que, neste momento, ainda decorrem procedimentos para outros 20 lugares.” Sou algarvia e fiquei, uma vez mais, intrigada com a notícia! Porque é que uma região que tem todas as condições para receber massa crítica e, neste caso, especialistas não os consegue atrair? Poder-se-ia recorrer à História ou à poesia para invocar um longo distanciamento do país relativamente à região do Algarve ou, ainda, a um preconceito (aqui entendido como ideia feita desde há pelo menos um século) para com a região; estes atenuados (ou pelo menos superficialmente) quando nos tornámos destino turístico. Mas não queremos entrar por aí, nem nos interessa fazer diagnósticos (feitos há muito tempo); interessa, cremos nós, centrar-nos nas possíveis causas e numa possível sedução para os médicos! As causas podem estar no (des)ordenamento do território, numa coesão territorial deficitária, que se traduz na desertificação e concentração de massa crítica nas principais cidades – Lisboa, Porto e Coimbra, numa construção/gestão centralista e centralizadora do país, entre tantos outros fatores. A isto se junta, cremos nós, algumas fragilidades ao nível da oferta na área da educação, na área da saúde (precisamente a que queríamos suprir com a vinda de médicos), na área do apoio social, que normalmente são fatores diferenciadores e chaves na escolha de um destino profissional.

experienciado e divulgado, tem (pode ter) imensas vantagens para um jovem (ou menos jovem) profissional, elencamos algumas: é uma região segura; proporciona uma qualidade de vida ímpar; oferece a possibilidade de contacto com um território de serra, barrocal e litoral em poucos minutos e quilómetros; está a duas horas e meia de carro de Lisboa e de Sevilha; tem um aeroporto internacional que o conecta com o mundo; tem uma oferta cultural, ambiental e desportiva de qualidade ao longo de todo o ano; tem sol (quase) 365 dias por ano com uma temperatura amena; profissionalmente pode ser um desafio, sendo que menos profissionais podem significar maior aprendizagem e capacidade de progressão na carreira (apesar de estarmos conscientes que há menor especialização, conhecimento e equipas com menos experiência, devendo estes fatores ser entendidos como um desafio à construção e não uma resistência à vinda); tem uma universidade que começa a ter uma palavra na área médica, que pode ter aqui um papel determinante… Uma pergunta final: quando isto acontece, como podem as políticas públicas inverter esta tendência? É um processo longo, estratégico, de visão para o país e que tem de (exige) ser continuado. Reforçar a autonomia e qualificar as universidades localizadas fora dos grandes centros, pode contribuir para esta inversão; descentralizar competências, regionalizar; definir políticas públicas que reforcem a coesão territorial e social, para permitir que todos os cidadãos portugueses tenham igualdade de acesso, como previsto constitucionalmente. Como algarvia lanço o repto, com um verso de Ruy Belo, para que em conjunto possamos “edificar sobre ele Portugal Futuro” e alterar a situação difícil a que chegou a saúde no Algarve .

Contudo, o Algarve de hoje se bem comunicado,

ALGARVE INFORMATIVO #72

30


31

ALGARVE INFORMATIVO #72


Férias são férias. E ponto final Mirian Tavares

M

as estás de férias-férias? Fiquei uns segundos a tentar perceber a questão. Há férias-não férias? Se há, desconheço. Respeito, religiosamente, as minhas horas de trabalho e, muitas vezes, demoro-me mais do que devia ou levo trabalho para casa e pelo fim-de-semana a dentro. Mas quando tiro férias, podem ter a certeza de que não faço rigorosamente nada que não me dê prazer ou descanso. Ou que não me apeteça. Avisei, certa vez, que não lia e-mails de trabalho a partir das 18h da sexta-feira até à segunda de manhã. Não me levaram a sério até perceberem que, de facto, os e-mails enviados não eram respondidos. E que os telefonemas de trabalho não eram atendidos. Às vezes ligam-me para tratar de assuntos urgentes no domingo, pelas 8h da noite. Não atendo as chamadas e quando dizem: liguei-te ontem. Eu respondo: vi que sim. E enviei-te um e-mail! E eu: não vi, só vou ver agora que é quando abro a minha caixa de correio. Alguns ficam com ar muito ofendido, mas lá têm de engolir, e de esperar pela minha resposta atempada nas horas regulares de trabalho. Quem me ouve, ou melhor, quem me lê, deve pensar que sou uma funcionária pública cliché, do tipo nine to five. Quem me conhece diz que sou workaholic. A verdade é que houve um dia em que fui parar ao hospital, crise de ansiedade aguda. Pensava-me já à beira da morte, claro, mas não era nada demais. Ou melhor, era um grande MAS. Era o meu corpo, e a minha cabeça a concordar com ele, dizendo que ou eu parava ou as coisas não iam ficar bem para o meu lado. E que há vida para além do trabalho. E que ou

ALGARVE INFORMATIVO #72

paramos ou o corpo nos para num momento inesperado. O problema é que com todas as ligações que não nos deixam desconectar um segundo, há pessoas que pensam que somos obrigados a dar respostas a cada entrada de mensagem, a cada sopro de assunto, a cada tema encetado, mesmo que seja num sábado ensolarado ou nos meus dias, sagrados, de férias. Há uns que atacam pelas redes sociais e começam por dizer: eu sei que estás de férias, mas olha que enviei um e-mail e é urgente. E eu, nada preocupada, vou à caixa de correio quando me apetecer. Ou quando eu voltar ao trabalho. Nas horas normais do expediente. Porque ninguém me paga as horas em que não estou ao lado do filho, ou dos gatos, ou das pessoas que amo e que merecem, naqueles parcos momentos, toda a minha atenção. Ninguém me paga a tinta para cobrir os brancos do cabelo que o stress provoca bem como não me vão pagar a ginástica facial que me vai tirar as rugas de preocupação. Adoro o que faço e trabalho com prazer, a maior parte das vezes. E trabalho demais, por defeito. Mas se estou de férias, não me venham perguntar se são fériasférias porque correm o sério risco de não sobreviverem para ouvir a resposta. Porque descer do salto também é uma arte. E essa é daquelas que eu domino e que pratico. Sobretudo quando estou de férias .

32


33

ALGARVE INFORMATIVO #72


A Ciência na Cozinha (parte III) Gastronomia e Gastrologia com (cons)ciência Augusto Lima

A

Ciência, nestes últimos anos, teve um papel incansável na construção de ferramentas de trabalho (no campo da alimentação), provando o que já desconfiávamos ou sabíamos empiricamente (através dos escritos antigos, conselhos da avó, ou receitas e ditos passados de geração em geração, na família): Nós somos, de facto, o que comemos. Para que possamos comer melhor precisamos de conhecer de onde vem o nosso alimento, qual a interação que o calor e as ações químicas provocam nos alimentos e qual a melhor técnica a usar para obter um melhor alimento, quer seja organolepticamente, quer nutricionalmente. Depois dos vários Congressos sobre Gastronomia realizados um pouco por todo o mundo, onde a Ciência se tem tornado uma mania, uma rainha incontestada, aparentemente, analiso aqui alguns substantivos. Gastronomia, vocábulo composto por «gaster» (ventre, estômago), «nomo» (lei) e do sufixo «ia», que significa, traduzido à letra, estudo das leis do estômago. Data do início do século IV a.C. aquela que é considerada a primeira obra (em forma de poema) dedicada à cozinha. Escrita pelo escritor grego Archestrato que a batizou de Hedypatheia, a arte dos prazeres. Também denominado de gastrologia ou gastronomia. Volta a aparecer com ênfase em 1801 pela pena de Joseph Berchoux, advogado e bom garfo, que faz alusão pela primeira vês à palavra «Gastronomia» como sendo a arte da boa mesa. Foi também no século XIX, em 1803, que surgiram os primeiros críticos gastronómicos, instituídos por Alexandre Balthasar Laurent Grimod de La Reynière, advogado de profissão e o primeiro escritor de critica Gastronómica, que lhes chamava júris provadores. Estes júris detinham uma importância considerável dado que provavam as últimas criações culinárias e as pontuavam. Se o prato apreciado era julgado digno de entrar no universo da gastronomia de então, recebia um nome e aparecia publicado no Almanaque dos Gastrónomos, que publicitava o talento do autor e consequentemente a fama e consagração económica do restaurante. Jean Anthelme Brillat Savarin, em 1825, no livro «A Fisiologia do Gosto», edita os fundamentos da nutrição, da gastronomia e da arte de bem receber. Ele define a gastronomia como sendo “o conhecimento fundamentado de tudo o que se refere ao homem, na medida em que ele se alimenta”. Como objetivo: cuidar pela conservação do homem, por meio da melhor alimentação possível. Auguste Escoffier, séculos 19/20, considerado o Chefe dos Chefes, desmultiplicou-se em estudos e realizações notáveis, sendo de sua autoria os tratados que definem as bases da cozinha moderna, a codificação das técnicas culinárias e a metodização da confeção.

ALGARVE INFORMATIVO #72

Quem acredita na Ciência, defende que existe uma forma correta de fazer as coisas (em detrimento de outras menos corretas). Ora, Gastrologia, sendo um tratado sobre a arte culinária e um conjunto de regras relativas à arte de cozinhar é, por si mesma, uma defensora acérrima do Cientismo, uma filosofia que visa reduzir todo o conhecimento existente em conhecimento científico. O homem, depois da Revolução Industrial perde muito dos conceitos da alimentação. Durante séculos a gastronomia viajou por muitos conceitos e refinamentos chegando aos nossos dias como aquilo que se pode traduzir numa ciência dos alimentos, bebidas e gostos, debruçando-se sobre a tolerância dos mesmos no nosso organismo, com preocupações dietéticas e ambientais. Hoje, sabemos que há alimentos que libertando os chamados radicais livres, são os causadores de muitas das nossas moléstias malignas como os cancros e as doenças cardiovasculares. Cientistas e estudiosos acumulam informações importantes sobre determinados alimentos que visam o equilíbrio na alimentação humana. A Macrobiótica defende a bipolaridade ou a teoria do «Yin» e «Yang», o positivo e o negativo. O Professor Francisco Varatojo, Diretor do Instituto Macrobiótico de Portugal, defende que “Um(a) bom(a) cozinheiro(a) influencia e controla a saúde daqueles para quem cozinha alterando e variando fatores como o uso do fogo, temperos, combinações, estilos de corte, quantidade de gordura e água, etc. Talvez ainda mais importante, o estado de espírito do(a) cozinheiro(a) influencia grandemente os seus comensais. Uma atitude apropriada a cozinhar é tão importante como a qualidade dos ingredientes ou as técnicas culinárias”. Cito aqui, o Chefe que mais se tem preocupado com este estado de coisas e prima por uma cozinha feita de ervas, legumes e produtos biológicos. O Francês Marc Veyrat, três estrelas no Guia Michelin e que em 2006 obteve 20-20 no Gault Millau: “ …acredito que o século XXI trará uma nova visão da cozinha. Uma tomada de consciência nos produtos de qualidade e nas novas técnicas, permitirá obter alimentos mais saudáveis e menos calóricos”. Acrescenta ainda” A cozinha deste século é para mim um casamento de amor entre a natureza e as culturas universais sem esquecer as suas raízes”. O aprofundar das técnicas e o uso da ciência e da tecnologia modernas permitiram conceitos e texturas inovadoras. Nomes como Ferran Adrià, Heston Blumenthal e Hervé This, explodem em novos expoentes, trazendo à cozinha e gastronomia atuais novos elementos. E agora, que a cozinha se encontrou definitivamente com a ciência que mais avanços na culinária podemos esperar? Acredito que uma cozinha sã com evidências marcantes no nutricionismo será o caminho .

34


35

ALGARVE INFORMATIVO #72


Cuca Roseta vem encantar Lagoa É já no dia 2 de setembro que Cuca Roseta regressa ao Algarve, designadamente ao concelho de Lagoa, para um espetáculo no Auditório Municipal de Lagoa. A conceituada cantora, um dos nomes fortes da nova vaga de fadistas nacionais, traz na bagagem os sucessos do disco «Riu» e dos seus dois antecessores e, para além do trio de músicos que a acompanham em palco, terá como convidados especiais a Orquestra de Sopros do Algarve. Texto:

ALGARVE INFORMATIVO #72

36


37

ALGARVE INFORMATIVO #72


D

ia 2 de setembro assinala o esperado regresso de Cuca Roseta a terras algarvias, mais concretamente ao Auditório Municipal de Lagoa, para um concerto especial na companhia da Orquestra de Sopros do Algarve, um espetáculo muito interessante e completamente diferente do seu registo habitual. “Ganha uma dimensão mais clássica, apesar da Orquestra de Sopros do Algarve ser bastante moderna, e tocamos músicas alegres. Tocámos juntos o ano passado em Portimão e Faro, este ano fizemos dois concertos em Lagos e Messines, já somos quase uma banda”, diz, com um sorriso, a simpática fadista. Um concerto que promete ser inesquecível, porque a química entre a fadista e a orquestra funciona cada vez melhor à medida que os momentos em palco se vão acumulando e as duas partes se vão conhecendo mais profundamente. “Deixamos de estar tão preocupados com a componente técnica, porque essa já flui com naturalidade, e acabamos por transmitir muito mais emoção. Estou ansiosa por poder cantar novamente com esta orquestra”, garante Cuca Roseta, esclarecendo que, na primeira parte do espetáculo, estará apenas acompanhada pelo seu trio habitual de músicos. “O interessante é ver como o concerto vai crescendo à medida que vão subindo mais

ALGARVE INFORMATIVO #72

músicos para o palco, primeiro um percussionista, depois a orquestra de sopros, que dá uma força ainda maior aos meus temas”. Fado ao som de uma orquestra que não é uma novidade, pois Cuca Roseta lembra que Amália Rodrigues já o fazia na sua época. O resultado é um espetáculo menos intimista do que o normal, mas recheado de outros ingredientes, duas abordagens distintas que encantam, de forma diferente, os apaixonados pelo fado. E o fado de Cuca Roseta, sobretudo o que encontramos em «Riu», é bem mais alegre e incentiva à dança. “Eu sou uma pessoa muito positiva e gostei imenso de fazer este último disco, porque a ideia era mesmo misturar o fado com outros géneros musicais, fosse com o pop ou os ritmos brasileiros e africanos, com o blues e o flamenco. A intenção foi mostrar que o fado não é só tristeza, mas ele também nunca pode perder o seu lado mais romântico. Com a Orquestra de Sopros do Algarve, há momentos em que as pessoas estão a dançar e a bater o pé, e outros em que fecham os olhos, contemplativas e nostálgicas. É um espetáculo bastante dinâmico, uma explosão de emoções”, descreve. Cuca Roseta que é mais uma fadista da nova geração que deu os

38


primeiros passos em projetos pop, neste caso com os Toranja de Tiago Bettencourt, e que disparou para uma carreira de sucesso no fado com três discos editados. E esse passado temse evidenciado à medida que os originais vão sendo lançados, mas já os fados de Amália Rodrigues eram

39

canções, conta a entrevistada. “Este novo fado meu, da Ana Moura, da Mariza e da Carminho, é um fado canção-canção. A sonoridade não é sempre certa, existem refrões e, quer queiramos, quer não, somos influenciados pelos tempos

ALGARVE INFORMATIVO #72


Foto: Nélson Nunes

modernos, sem desrespeitarmos o fado tradicional. Aliás, canto fados tradicionais dos meus primeiros dois discos e isso contribui para que os concertos sejam mais dinâmicos”, adianta. E já se percebeu que este cocktail de sonoridades tradicionais e modernas cativa mais rapidamente as novas gerações, tanto de público como dos próprios artistas, reconhece Cuca Roseta. “Trazemos músicas e letras mais frescas e as pessoas mais jovens sentem-se atraídas por elas. O fado estava direcionado para um nicho de pessoas, para um determinado estrato etário, e agora chega a toda a gente. Temos crianças nos concertos

ALGARVE INFORMATIVO #72

quando, antigamente, era quase impossível uma criança entender o que era o fado, ou até mesmo dizer que gostava de o ouvir. Hoje, dizem que o fado é giro, que é cool, que está na moda e que é nosso”, observa, contente.

Fado é declamar poesia Uma ponte que se fez entre as raízes tradicionais e os tempos modernos e que garante, assim, que o fado não vai desaparecer, porque os preconceitos de outrora foram desconstruídos. E para isso contribuíram, igualmente, as letras dos novos fados, que são escritas por poetas mais vocacionados para o pop/rock. “Até os artistas de

40


soul e funk escrevem para o fado. Nós temos o fado dentro de nós e agarramos em letras atuais, dos nossos dias, e damos-lhe o sentimento do fado. O fado, antes de tudo, é declamação de poesia. Não se trata apenas de ter uma voz muito bonita, é contar histórias, e há realmente escritores da pop que contam histórias incríveis”, salienta Cuca Roseta, não poupando elogios a Miguel Araújo, responsável por grande parte das letras de António Zambujo, mas também destacando Pedro da Silva Martins. Diga-se de passagem que esta nova tendência na escolha dos letristas, dos poetas, não é exclusiva dos fadistas de topo, de modo que são raros os artistas que atuam nas

41

típicas casas de fado com as letras mais pesadas do antigamente, a falar de tristeza e sofrimento. E, se calhar, essa é outra razão para o fado continuar a ter uma tão grande aceitação além-fronteiras, com vários nomes da nova geração a construírem bem-sucedidas carreiras internacionais. “Curiosamente, apesar de, em Portugal, pensarmos que o fado está mais alegre, no estrangeiro continuam a achá-lo bastante intenso. Podem ser letras mais frescas, mas interpretamos os temas de uma forma muito arrebatadora, porque somos um povo muito afetivo e intenso”, indica Cuca, uma diferença que se nota ainda mais quando dão espetáculos em países mais frios e

ALGARVE INFORMATIVO #72


de gentes mais tímidas e reservadas. “Vou à Alemanha, Polónia e Noruega e eles adoram o fado, sentem com tremenda energia esta nossa forma de cantar, de transmitir emoções, seja com letras mais novas ou mais melancólicas”, revela. Não admira, por isso, que estes fadistas tenham mais espetáculos no estrangeiro do que em Portugal, sendo verdadeiros embaixadores do povo lusitano nos quatro cantos do mundo. Como tal, a vida do fadista moderno é completamente diferente daquela do fadista do século XX, tornando-se autênticas vedetas, ídolos de multidões, com agendas repletas de entrevistas e sessões fotográficas e uma presença constante nas redes sociais, cenário que Cuca Roseta bem conhece. “Temos que nos adaptar aos tempos modernos e o fado deixou de ter aquele ar mais reservado. As redes sociais resultam bastante bem, é a forma das pessoas se comunicarem e as fadistas, agora, até ditam tendências de moda, vestem estilistas famosos. Isto é algo que não estraga a música, pois ela conserva toda a sua emoção e intensidade”, considera a entrevistada. “Como viajamos imenso pelo mundo inteiro, os fãs também ficam a perceber melhor o sucesso que o fado faz no estrangeiro”, acrescenta. ALGARVE INFORMATIVO #72

Entretanto, esta azáfama não impede Cuca Roseta de pensar já no próximo disco, que deverá sair no início de 2017, porque está habituada a escrever nos tempos livres entre viagens. “A estrada é boa para isso e aproveito todos os 42


Foto: Nélson Nunes

momentos em que o telemóvel está desligado para compor. Tenho o disco quase pronto”, adianta, com mais um sorriso, aproveitando para deixar o convite para ir assistir ao espetáculo de dia 2 de setembro, no Auditório Municipal de Lagoa. “Vai 43

ser um concerto muito emocionante e especial, não tenho mais atuações marcadas em conjunto com a Orquestra de Sopros do Algarve, portanto, será uma noite imperdível, recheada de emoção e nostalgia” . ALGARVE INFORMATIVO #72


ALGARVE INFORMATIVO #72

44


45

ALGARVE INFORMATIVO #72


Super-heróis e vilões da ficção científica e fantasia

reuniram-se em Faro ALGARVE INFORMATIVO #72

46


A Escola de Hotelaria e Turismo de Faro foi o local escolhido para a quinta edição do Manga & Comic Event, uma organização da Associação Núcleo de Geeks do Algarve que atraiu à capital algarvia largas centenas de adeptos das histórias dos quadradinhos, séries televisivas e jogos de computador do universo nipónico, mas não só. Torneios online, workshops, concursos de cosplay, painéis de discussão e, claro, muito merchandising exclusivo à venda, foram alguns dos ingredientes deste fim-de-semana especial. Texto:

47

Fotografia:

ALGARVE INFORMATIVO #72


O

fim-de-semana de 20 e 21 de agosto foi de emoções ao rubro para os apaixonados pelos heróis, e vilões, da ficção científica e da fantasia nipónica e ocidental, com a realização do 5.º Manga & Comic Event, um encontro multicultural sobre Banda Desenhada, Animação, Filmes, Cosplay e Jogos que voltou a chamar muitas centenas de visitantes de todas as partes do país à capital algarvia. À semelhança das edições anteriores, o evento contou com diversos workshops, concursos, torneios, painéis de discussão, produtos da especialidade

ALGARVE INFORMATIVO #72

de lojas nacionais e internacionais, tanto amadoras como profissionais, e ainda trabalhos expostos de diversos artistas. O público, como de costume, respondeu em massa, tanto nacional como estrangeiro, nomeadamente os vizinhos espanhóis. Depois da mega enchente do dia inaugural, às 10h de domingo já uma longa fila esperava pacientemente pela abertura das portas da Escola de Hotelaria e Turismo de Faro, enquanto, no interior, os expositores preparavam os seus produtos e os voluntários

48


garantiam que tudo estava operacional. E a primeira diferença que saltava à vista prendia-se com o próprio local do evento, depois de, em anos anteriores, ele ter acontecido nas instalações do Instituto Português do Desporto e Juventude. “Tivemos cerca de mil e 400 visitantes logo no primeiro dia, pelo que o nosso objetivo de chegarmos aos 2200/2500 no total deve ser cumprido. Com estes números, não era possível continuarmos no anterior local, porque as pessoas já não conseguiam circular com facilidade durante o evento”, explica Jennifer Guerreiro, a presidente da Associação Núcleo de Geeks do Algarve. “O MCE tem crescido bastante, à média de 400/500 pessoas de ano para ano, o que é francamente positivo”, acrescenta.

49

Visitantes que, ao contrário do que se possa imaginar, não são apenas jovens adolescentes, embora estes predominam, como é óbvio. No entanto, por entre os miúdos, vislumbravam-se igualmente muitos adultos, alguns deles, inclusive, trajados a rigor, aderindo por completo ao espírito do encontro. De olhos postos nos vários postos de venda, a comprar os bonecos das séries preferidas, os livros raros que faltavam às suas coleções, a adquirir varinhas mágicas, perucas, peças de vestuário, adereços de todos os feitios, a azáfama era imensa, mas não foi fácil ter tudo pronto a tempo. “A montagem demorou uma semana inteira, desde as 10 da manhã às 10 da noite e, apesar de sermos muitos sócios, só alguns

ALGARVE INFORMATIVO #72


Jennifer Guerreiro, presidente da Associação Núcleo Geeks do Algarve

é que têm disponibilidade de tempo para ajudar. É complicado”, reconhece a presidente, confessando, com um sorriso, que o desejo da maioria é que tudo corra bem e acabe depressa para irem descansar. “Mas, desde que as pessoas fiquem contentes e nós consigamos atingir os nossos objetivos, a experiência é gratificante, compensa todo o cansaço”. Apesar deste sentimento, não há muito tempo para recuperar forças porque, mal termina um evento, é altura de analisar o que correu bem e menos bem, afinar pormenores e ALGARVE INFORMATIVO #72

começar a preparar a edição do ano seguinte. “Não é fácil reunir todos estes expositores e os formadores que participam nos workshops porque os portugueses estão todos de férias nesta altura do ano. Acabamos por recorrer ao outro lado da fronteira, pois os espanhóis estão mais recetivos a colaborar nestas iniciativas. Depois, queremos sempre oferecer um evento diferente aos nossos visitantes e, para isso, procuramos não repetir os workshops, painéis e atividades que se realizam no auditório. Com as lojas a mentalidade é a mesma, mas a maior parte delas são de Lisboa, o que implica custos de deslocação, alojamento e alimentação”, explica Jennifer Guerreiro, sublinhando que os workshops são bastante requisitados, dando o exemplo do Popin’Cookin’, de doces típicos japoneses, que esgotou por completo, o mesmo acontecendo com o de design de videojogos em 3D. De facto, o programa do 5.º Manga & Comic Event foi rico e diversificado, com o primeiro dia a ser preenchido por painéis sobre Anime, Criatividade e Inovação em Videojogos, Cosplay Marketing, Saint Seya no Auditório; Torneios de cartas e de tabuleiro; Torneios de videogames; Concurso de karaoke e de canto, JNK Yang, Tugof-War, Crystal System, Desfile

50


Cosplay e Good Alice no Palco de Rua; Concurso de Wild Wild West Ultimate Showdown, Quidditch, Nerf War e Color War no Pátio de Atividades; e workshops de Papercraft, Jedi Academy, Design de Videojogos, Dungeons and Dragons, Japonês e Steampunk. O segundo dia foi pautado por painéis de Marvel vs DC, Star Trek, Concurso de Colsplay e Artistas em Portugal no Auditório; Torneios de cartas, tabuleiros e videogames; Jedi Combat, JNK Yang, JoJo Posing, Crystal System, Divórcio de Cosplay, Artes Marciais, Dating Time e Karaoke no Palco de Rua; Steampunk Junt, This is Sparta! e Takeshi’s Castle no Pátio de Atividades; e workshops de Popin’Cookin’, K-pop, Eletrónica, Cerimónia do Chá, Cosplay Posing e Mandarim. Todas estas atividades são devidamente calendarizadas e preparadas em março, sendo os dois meses seguintes destinados a contatos com os lojistas especializados, ao passo que junho e julho são dedicados à promoção do evento junto das escolas e em toda a região e na vizinha Espanha. “O evento era muito virado para o Manga e para a cultura japonesa, mas este ano conseguimos introduzir uma maior variedade de atrações

51

ALGARVE INFORMATIVO #72


ocidentais. Os jovens dos 10 aos 20 anos vão aos eventos todos que acontecem em Portugal, como o nosso, a Comic Com e a Iberanime, mas notamos que o pessoal de Lisboa tem mais dificuldade em deslocarse ao Algarve”, observa, reconhecendo que os adultos também aparecem em número assinalável. “São gostos que adquiriram quando eram miúdos e que perduram no tempo e, quando há estes eventos, aproveitam para vestir a roupa da sua personagem ou série favorita e encarnar esse espírito”. Entretanto, nada disto seria possível sem apoios, normalmente logísticos ou de cedência de equipamentos, com Jennifer Guerreiro a enaltecer a ajuda das Câmaras Municipais de Faro e de Loulé e do IPJ, mas também à Sisgarbe e à Tsunami por facultarem os computadores para os vários torneios de videojogos. “Nós próprios trazemos muito material de casa, consolas, figuras de coleção. As lojas profissionais e amadoras fornecem prémios para os

ALGARVE INFORMATIVO #72

52


concursos, outras empresas ajudam a dinamizar workshops”, conta a dirigente, adiantando que a atividade da Associação Núcleo de Geeks do Algarve não se resume ao MCE. “Temos eventos do Harry Potter e Star Wars, um grupo dedicado à língua japonesa e outras iniciativas mensais, mas é através do MCE que obtemos fundos para funcionarmos o ano inteiro. Esperamos ficar neste espaço durante dois ou três anos, mas crescer mais depende sempre da disponibilidade dos associados, porque nada se faz sem voluntários” .

53

ALGARVE INFORMATIVO #72


ALGARVE INFORMATIVO #72

54


55

ALGARVE INFORMATIVO #72


FolfFaro voltou a trazer ritmos do mundo ao Algarve ALGARVE INFORMATIVO #72

56


O Teatro das Figuras esgotou por completo, na noite de 20 de agosto, para assistir à gala de abertura de mais um FolkFaro, a grande festa das músicas e danças do mundo organizada pelo Grupo Folclórico de Faro e que trouxe ao Algarve agrupamentos vindos das Filipinas, Brasil, Quénia, França, Alemanha e Geórgia. Um dos mais categorizados festivais da Europa percorreu ainda os concelhos de Loulé, São Brás de Alportel, Silves, Tavira e Albufeira. Texto: Fotografia: 57

ALGARVE INFORMATIVO #72


F

aro voltou a receber, de 20 a 28 de Agosto, o FolkFaro, uma organização anual do Grupo Folclórico de Faro que vai já na sua 14ª edição e onde estiveram representadas as músicas, danças e trajes de povos de diferentes continentes, através de grupos de sete países. Ao todo, foram mais de 300 participantes, entre bailadores e músicos, que mostraram a riqueza das tradições populares das suas terras na gala de abertura no Teatro das Figuras, no dia 20 de agosto, mas também nas noites que se seguiram, no palco instalado no Passeio das Docas. «Na Senda dos Ritmos do Mundo!» foi o lema escolhido em 2016 e o Folkfaro recebeu mais de uma centena de ALGARVE INFORMATIVO #72

propostas provenientes de todo o mundo, tendo sido selecionados para participar o Ensemble Thea Maass (Alemanha), Conjunto Folclórico Arte Nativa (Brasil), Parangal Dance Company (Filipinas), Groupe Folklorique Nice La Belle (França), TSU Folk Dance Ensemble University 2 (Geórgia) e Nairobi Dance Ensemble (Quénia). Para além dos grupos internacionais, as tradições portuguesas estiveram presentes através do Rancho Folclórico de Cabeça Veada (Alta Estremadura), Rancho Regional de Fânzeres Gondomar (Douro Litoral), Rancho Folclórico de Vila Nova do Coito – Santarém (Ribatejo), Grupo Etnográfico Rusga de Joane – Famalicão (Baixo Minho), Grupo

58


Folclórico e Etnográfico Amigos do Montenegro (Algarve) e Grupo Folclórico de Faro (Algarve) – Adulto, Infantil e «Cancioneiro». A Gala de Abertura no Teatro das Figuras deu o pontapé de saída para nove dias repletos de espetáculos e atividades, com atuações diárias no Palco do Passeio da Docas, lado a lado com mais uma edição da Feira dos Doces, Frutos Secos e Bebidas Regionais. Espetáculos onde, para além dos grupos estrangeiros, deram nas vistas o Clube de Danças João de Deus, a Companhia de Dança do Algarve, a Versus Tuna, os Urban Xpression e Sandra Cristo & Filipe Neves. O FolkFaro dinamizou ainda diversos espetáculos nas freguesias de Faro e nos concelhos de Loulé, São Brás

59

de Alportel, Albufeira, Tavira e Silves, mas os programas especiais para crianças na Biblioteca Municipal de Faro e no Refúgio Aboim Ascensão, os programas para idosos em diversas instituições e um programa especial para os reclusos no Estabelecimento Prisional também não faltaram, reforçando, deste modo, a componente social do certame. Folkfaro que é o único festival do sul de Portugal com a certificação internacional do CIOFF - Conselho Internacional das Organizações de Festivais de Folclore e Artes Tradicionais, uma organização nãogovernamental com relações formais de consulta com a UNESCO, criada em 1970 com o objetivo de salvaguardar ALGARVE INFORMATIVO #72


a promoção e difusão da cultura tradicional e do folclore. Um evento de grande prestígio cuja programação é coordenada há vários anos por Amabélio Pereira, vice-presidente da direção do Grupo Folclórico de Faro e membro ativo desde 1982, que explicou que o Folkfaro surgiu na sequência da participação do grupo em vários certames internacionais. “Em 1986, fomos convidados para representar Portugal no Festival de Confolens, em França, que é o berço do CIOFF, e ficamos todos maravilhados com aquela congregação de grupos de várias partes do mundo, numa altura em que ainda existiam diversas barreiras físicas entre alguns países. Desde então, corremos quase todo o planeta e, a partir de certa altura, pensamos que Faro possuía todas as características para organizar um festival desta natureza. É uma cidade cosmopolita, aberta, com uma população residente bastante ativa e habituada a receber pessoas de fora. Em 2003, tivemos o aval do Município do Faro e criamos o FolkFaro, com base nas influências de todos os festivais em que estivemos”, relata Amabélio Pereira. ALGARVE INFORMATIVO #72

60


61

ALGARVE INFORMATIVO #72


fronteiras do concelho de Faro, com espetáculos dinamizados em Loulé, São Brás de Alportel, Armação de Pêra, Luz de Tavira, Albufeira. “Os grupos atuam em palcos grandes como o Teatro das Figuras, mas também na rua, do litoral ao interior do Algarve, sempre em interação com as pessoas, porque um dos nossos objetivos é que regressam aos seus países a conhecer melhor a nossa região. E normalmente partem com uma imagem bastante positiva”, afiança o elemento da organização.

Uma mostra do folclore mundial A primeira edição do FolkFaro aconteceu, então, em 2003, na altura ainda com cinco dias, tendo dado o salto para os atuais nove dias aquando de Faro – Capital Nacional da Cultura, em 2005. Um festival que depressa ultrapassou as ALGARVE INFORMATIVO #72

Uma organização que é, como se adivinha, bastante complexa, um autêntico puzzle, porque nem todos os grupos atuam todos os dias e em todas as localidades, daí a existência de uma comissão organizadora constituída por 11 elementos, recaindo a programação sobre os ombros de Amabélio Pereira, mas há também alguém dedicado exclusivamente à cozinha e à alimentação diária de mais de 200 pessoas, outro a coordenador o transporte dos grupos para os locais das várias atuações, mais um a garantir 62


que tudo esteja preparado no palco para os espetáculos, e por aí adiante. “Antes dos grupos chegarem, preenchem uma ficha com todas as informações pertinentes, nomeadamente sobre as suas restrições alimentares. Já tivemos grupos em que são todos vegetarianos, outros que não comem carne de porco, outros onde há algumas alergias, e temos que atender a todas essas especificidades”, indica. Neste sentido, a programação de um evento arranca mal o outro termina, até porque recebem mais de uma centena de propostas todos os anos, tal o prestígio internacional que o FolkFaro alcançou. 63

“Há países que são mais fáceis porque possuem muitos grupos folclóricos, noutros casos, temos nós que pesquisar para encontrar algo diferente, de maneira a estrear sempre países em cada edição. Já vamos em mais de 50 nações representadas no Folkfaro, mais de 80 grupos passaram por cá, e andamos ALGARVE INFORMATIVO #72


ALGARVE INFORMATIVO #72

64


numa constante busca por novidades”, salienta o entrevistado. “Toda a gente sai daqui com uma belíssima imagem do festival, da cidade, da região e do país e essa reputação espalha-se rapidamente. O diretor do grupo francês, por exemplo, confessou que andava há seis ou sete anos a tentar participar no FolkFaro”. E se estes festivais procuram dar a conhecer a cultura de outros países, um dos objetivos destes grupos folclóricos é, precisamente, divulgar as tradições das suas terras e rapidamente se constata que nem todos encaram o folclore com a mesma perspetiva. “Há grupos que respeitam a tradição e não a alteram, há outros que renovam a tradição e adaptam-na aos tempos modernos, e há grupos que apenas têm uma leve inspiração do antigo e é quase tudo modernidade. São três abordagens – autêntico, estilizado e elaborado – que respeitamos, desde que o façam com qualidade, que apresentem ao público um espetáculo digno de ser visto, que seja feito com cuidado e que transmita uma imagem do país que representam”, esclarece Amabélio Pereira, adiantando que, em Portugal, os grupos procuram respeitar a tradição sem fazer grandes alterações. Apesar disso, o público português, sobretudo o algarvio, está muito recetivo ao folclore com uma nova roupagem, como se verifica nos diversos espetáculos do FolkFaro, caso contrário, não estaríamos na 14ª edição do festival. “É esta diversidade que faz com que as pessoas voltem todos os anos, estão curiosas para saber o que vão ver em palco. Não podemos querer que todos 65

os países tenham a mesma conceção do que é o folclore. Num festival nacional, é natural que os grupos sejam mais ou menos semelhantes. Num encontro internacional, contudo, é de esperar que se encontrem outras formas de transmitir as tradições”, refere o vicepresidente do Grupo Folclórico de Faro.

Crescer pela qualidade e diversidade Um FolkFaro cuja reputação chega aos quatro cantos do mundo, mas que não é possível levar por diante sem apoios, logísticos e financeiros, e essa é uma dor-de-cabeça com que os organizadores se debatem todos os anos. “No início, o festival era suportado a 70, 75 por cento pelo Município de Faro, mas a crise que se instalou a partir de 2011 levou a que as ajudas financeiras fossem escasseando, até atingirem o ponto zero. Nessa altura, o FolkFaro esteve em vias de desaparecer e só sobreviveu graças a muita teimosia nossa, pois tivemos que descobrir novas parcerias e fontes de financiamento”, recorda Amabélio Pereira. “Batemos à porta de imensa gente, muitas portas se fecharam, mas outras abriram-se, e isso acabou por fortalecer o festival, que começou a ser feito quase em regime de voluntariado. Começamos também a ir a outros sítios porque isso nos permitiria angariar apoios, financeiros, em géneros alimentares, em empréstimo de transportes”.

ALGARVE INFORMATIVO #72


ALGARVE INFORMATIVO #72

66


A batalha não foi fácil mas a elevada qualidade manteve-se, assim como o número de dias e de grupos participantes. Hoje, a organização respira mais saúde, até porque o Município de Faro já conseguiu retomar as ajudas financeiras, juntando-se a todo o apoio logístico que, felizmente, nunca diminuiu. Desde 2014, a Direção Regional de Cultura do Algarve também colabora com o FolfFaro, a que se somam os contributos dos outros concelhos onde realizam espetáculos, tudo fundamental para completar um orçamento que ultrapassa as duas dezenas de milhares de euros. “São 230 pessoas com pequeno-almoço, almoço e jantar durante 11 dias e a nossa sorte é que os grupos ficam alojados na Escola EB 2,3 de Santo António, transformamos as salas de aulas em autênticos quartos. É quase como se estivessem na tropa”, compara, com um sorriso. 67

Uma aventura multicultural de grande sucesso, reconhecido ano após ano, mas que não tem grande margem de manobra para crescer mais, admite o entrevistado, lembrando que só agora é que o Grupo Folclórico de Faro recebeu um espaço para instalar uma sede própria, no piso superior no Solar do Capitão. “Temos camas para 200 pessoas, estruturas metálicas, bandeiras dos países todos que têm participado no FolkFaro, material que tem estado guardado em armazéns da Câmara Municipal de Faro. Há 14 anos que fazemos um festival sem rede e temos esperança que as coisas melhorem a partir de agora. Mas é difícil alargar o número de dias ou de grupos participantes, o crescimento deverá ser feito pela qualidade e pela diversidade” .

ALGARVE INFORMATIVO #72


ALGARVE INFORMATIVO #72

68


69

ALGARVE INFORMATIVO #72


“Portugal é uma pequena potência, condicionada pelos interesses de terceiros e suscetível a dependências económicas”, afirma Cristiano Cabrita O país inteiro está de olhos postos no incidente de Ponte de Sor em que os dois filhos do embaixador iraquiano em Portugal terão alegadamente agredido com extrema violência um jovem de 15 anos. Uma situação delicada por envolver cidadãos estrangeiros com imunidade diplomática e que permitiu verificar que grande parte dos portugueses não compreende os meandros da política internacional, dai termos estado à conversa com o especialista Cristiano Cabrita. Um encontro onde se abordaram igualmente as eleições nos Estados Unidos, o Brexit e outros temas quentes da atualidade internacional. Texto:

ALGARVE INFORMATIVO #72

Fotografia:

70


71

ALGARVE INFORMATIVO #72


E

stá para breve o lançamento do livro «O Neoconservadorismo e a Política Externa NorteAmericana», de Cristiano Cabrita e com a chancela da Chiado Editora. Empresário, técnico superior na Câmara Municipal de Albufeira e coordenador do Gabinete de Comunicação, Relações Públicas e Relações Internacionais, o albufeirense de 39 anos desenvolve carreira académica na Universidade Católica de Lisboa e a obra é o resultado da sua tese de doutoramento em Ciência Política e Relações Internacionais, concluída em dezembro de 2015, uma das melhores da história do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, incidindo sobre a política externa dos Estados Unidos da América e a sua ligação com o neoconservadorismo. “O Neoconservadorismo está associado às administrações de George W. Bush e àquelas pessoas que estiveram por detrás da Guerra do Iraque logo a seguir aos atentados do 11 de setembro de 2001”, explica, adiantando que o lançamento do livro vem colmatar uma lacuna observada no mercado, mas também por se estarem a aproximar as eleições nos Estados Unidos (acontecem a 8 de novembro). “O livro permite que um leitor que não seja especialista em política externa norte-americana consiga ter uma visão e compreender as sensibilidades que existem na política dos EUA, do ponto de vista interno e externo”, reforça o entrevistado.

ALGARVE INFORMATIVO #72

Uma obra que é direcionada para um público específico, reconhece Cristiano Cabrita, porque, atualmente, em Portugal apenas se vendem livros de teor mais sensacionalista e ligeiro. Assim, numa primeira análise, será uma obra vocacionada para estudantes de Relações Internacionais e Ciência Política, sabendo-se que existem cerca de 30 a 40 programas diferentes sobre esta temática nas universidades portuguesas, entre licenciaturas, mestrados e doutoramentos. No entanto, a política externa norte-americana e o neoconservadorismo têm estado em foco ultimamente face às eleições que opõem Donald Trump a Hillary Clinton e o livro ajuda a explicar como a própria identidade norteamericana foi formada ao longo dos tempos desde a época do colonialismo britânico. “Creio que o Donald Trump não vai ser eleito por um conjunto de erros que cometeu recentemente e há que analisar a questão antes e depois da realização das convenções nacionais dos dois partidos. Ele é um produto do populismo que tem vindo a crescer nos últimos tempos, e em particular na Europa, como se verificou com a extrema-esquerda na Grécia e com a extrema-direita na França”, observa. Uma série de populismos que têm vindo, de facto, a crescer na Europa e que estão invariavelmente relacionados com a grave crise 72


económica que atinge a classe média e a classe média-baixa dos dois lados do Atlântico. “São faixas da população propensas a um discurso populista, xenófilo, racista e, de certa forma, protecionista e o que acontece nos Estados Unidos é um reflexo das condições sociais e económicas que o país atravessa. Não nos podemos esquecer que Hitler foi eleito democraticamente”, avisa Cristiano Cabrita, considerando que Donald Trump desenvolveu uma brilhante campanha de marketing político que lhe permitiu manipular, a seu belo prazer, os media norteamericanos. “Numa primeira fase, Trump não gastou nem um terço do que Hillary Clinton em campanhas publicitárias, porque utilizou uma série de discursos provocatórios e chavões sensacionalistas que o colocaram sempre nas primeiras páginas e nos noticiários”, analisa. Face a esta estratégia, Donald Trump foi deixando para trás uma série de candidatos republicanos que eram considerados favoritos, casos de Marco Rubio, Ted Cruz e John Kasich, até ser nomeado formalmente como candidato pelo Partido Republicano à Casa Branca. E foi a partir desse momento que os problemas começaram, segundo Cristiano Cabrita. “Ele acusou Hillary Clinton de ser a candidata mais corrupta de sempre; fez insinuações de que se 73

poderia, eventualmente, assassinar Hillary Clinton para salvaguardar, através da segunda emenda, o direito à posse de armas; incentivou os hackers russos a entrarem na conta de e-mail da própria Hillary; teve aquele episódio triste em que troçou de um militar de ascendência muçulmana; foi o discurso da esposa Melania Trump. Foram vários erros estratégicos que levaram a ala mais conservadora do Partido Republicano a retirar-lhe o apoio e que o deixaram cada vez mais isolado”, sublinha, não acreditando que Donald Trump, mesmo na eventualidade de ganhar, colocasse em prática tudo aquilo que tem vindo a apregoar e ALGARVE INFORMATIVO #72


defender durante a campanha. “Se, hipoteticamente, Trump for eleito, os lobbies e os poderes instituídos não lhe permitiram levar por adiante as suas pretensões”.

Vitória do Brexit não foi surpresa Voltando a chamar a atenção para os detalhes, Cristiano Cabrita lembra que, antes das Convenções Nacionais, Trump e Hillary estavam empatados nas sondagens e que, quando o republicano ultrapassou a democrata nas intenções de voto, soaram uma série de alarmes em Terras do Tio Sam. Gerou-se, assim, algum medo e preocupação sobre o que acontecerá ao nível das relações com a União Europeia e a NATO caso Donald Trump venha a ser eleito ALGARVE INFORMATIVO #72

Presidente dos Estados Unidos da América, mas a verdade é que sinais de alarme existem igualmente no velho continente e o Brexit é apenas o caso mais recente. “Os cidadãos do Reino Unido nunca foram grandes entusiastas do processo de integração europeu e sempre tiveram as mais baixas taxas de participação nas votações que envolviam esse tema. A maior parte das pessoas que votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia pertencem a uma faixa etária que sofreu economicamente com a chegada dos emigrantes e, quando isso mexe com as questões sociais, a situação torna-se extremamente perigosa”, avisa o autor algarvio. Cristiano Cabrita não ficou, por isso, surpreendido com a vitória do Brexit, 74


por saber que muitos britânicos tinham fortes recordações da segunda guerra mundial e não aceitavam de bom grado estarem no mesmo projeto europeu que os alemães. “Para além disso, o eixo Alemanha/França tinha uma maior preponderância em relação à Grã-Bretanha e isso levou os mais velhos a decidirem-se pela saída, ao passo que os jovens votaram pela permanência. O processo está em andamento e penso que é irreversível, como atesta a nomeação do Boris Johnson, que foi o cabeça de cartaz pelo Brexit, para Ministro dos Negócios Estrangeiros. O governo britânico também rejeitou a possibilidade de haver um segundo referendo, pelo que, agora, é preciso ver como isso vai afetar as relações com os vários estados, nomeadamente com Portugal”, salienta, apontando os inúmeros portugueses que residem no Reino Unido e que deverão ter maiores dificuldades no acesso ao mercado de trabalho. Maiores dificuldades serão de esperar, igualmente, para as empresas nacionais, porque o Reino Unido deixa de fazer parte da União Aduaneira, o que significa mudanças nas taxas aplicadas às relações comerciais, mas o próprio turismo está expectante, já que o mercado britânico é o principal cliente de Portugal e do Algarve. “Vamos ver qual o impacto da desvalorização da libra após a saída da União Europeia, mas os britânicos sempre ganharam mais, em termos proporcionais, do que os europeus, no geral, e os portugueses, em particular. 75

Não creio que deixem de vir para cá por causa dessa situação, mas as consequências ainda não são certas e provavelmente cada país da União Europeia irá fazer um acordo comercial específico com o Reino Unido”, antevê Cristiano Cabrita. O doutorado em Ciência Política e Relações Internacionais garante, ainda, que a União Europeia nunca será um projeto político próximo ao federalismo dos Estados Unidos da América, ficando-se, sim, por uma União Económica e Monetária, mas nem esta é 100 por cento garantida na sua plenitude. “As instituições europeias têm que ser mais sensíveis aos interesses de cada estado membro e às suas soberanias, porque não pode voltar a acontecer o sucedido aquando do processo de «punição» para com a Grécia”, sustenta.

Caso de Ponte de Sor não vai ter um final feliz Alheios a todas estas questões andam a maioria dos portugueses, que só ficam mais despertos para as relações internacionais quando acontecem situações como a recente agressão a um jovem de Ponte de Sor por parte de dois filhos do embaixador do Iraque em Portugal. Isto porque a política externa portuguesa sempre teve, e terá, três eixos fundamentais: a relação transatlântica com os Estados Unidos da América e seus parceiros da ALGARVE INFORMATIVO #72


Aliança Atlântica; a relação com os Países de Língua Oficial Portuguesa; e a relação com a União Europeia. “Basta ver o espaço que é dado à política internacional nos jornais e nos noticiários para percebermos que ela tem pouca recetividade junto dos portugueses, a não ser situações que aconteçam em Bruxelas e que tenham consequências diretas em Portugal e no nosso modo de vida”, admite Cristiano Cabrita. Confrontado com a reação dos portugueses ao caso de Ponte de Sor, que é deplorável, o entrevistado entende que é preciso dar um passo mais além e não fechar os olhos a acontecimentos que possam ser mais incómodos para o governo. “Em Angola, é evidente a repressão e a falta de exercício da democracia, mas não se fala tanto disso por causa das relações privilegiadas existentes entre os dois países. Há uma presença efetiva dos interesses angolanos em Portugal, através da Sonangol, e as coisas tendem a ser varridas para debaixo do tapete. Por que é que nos escandalizamos tanto com esta agressão bárbara ao miúdo de Ponte de Sor e não nos preocupamos com os milhões de cidadãos angolanos que não têm acesso a cuidados de saúde, que morrem todos os dias porque existem hospitais, mas não há médicos”, questiona. Relativamente ao incidente que envolve os filhos do embaixador iraquiano, Cristiano Cabrita enfatiza que a imunidade diplomática só pode ALGARVE INFORMATIVO #72

ser retirada pelo estado acreditante, neste caso, o Iraque, e que Portugal apenas pode considerar o embaixador como persona non grata e expulsá-lo do país, um processo complexo e demorado. “Esta história não vai ter um final feliz porque, antes de comentarmos o que os políticos dizem na televisão, há que analisar as relações económicas e comerciais que unem os dois países. Mesmo se chegássemos, eventualmente, a um ponto em que esses dois irmãos gémeos pudessem ser julgados por qualquer crime, eles saiam imediatamente de Portugal. E vejase que o comunicado feito pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros Iraquiano sobre o assunto é em árabe, quando, geralmente, é feito também em inglês. É mais uma forma de reafirmarem a sua soberania e posição”, considera o albufeirense. Mais um caso que confirma que Portugal tenta evitar, a todo o custo, envolver-se em grandes polémicas e incidentes internacionais, por ser um país pequeno e por estar dependente comercialmente de outras nações, o que não surpreende Cristiano Cabrita, colocando na mesa uma hierarquia de países que é transmitida, logo no primeiro ano de licenciatura, aos estudantes de Relações Internacionais. “Há pequenas e grandes potências, há potências regionais e 76


superpotências, como são os Estados Unidos, e isso influencia um pouco a capacidade de manobra e os interesses que determinado estado pode almejar alcançar. Portugal é uma pequena potência, está condicionado pelos interesses de terceiros e é bastante suscetível a algumas dependências económicas, como se verifica com Angola, o que não nos permite ter posições mais firmes em certos assuntos”, indica. “Há uma aceitação tácita da ditadura empresarial que existe em Angola desde 1976, com José Eduardo dos Santos, e que não vai mudar. Note-se igualmente a aceitação da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa, onde nem sequer se fala português, por influência da França. A

77

Guiné-Bissau é um narcoestado e continua a fazer parte desta órbita”. A finalizar, Cristiano Cabrita observa que Portugal tenha cada vez menor preponderância nos PALOP’s e, mesmo na Europa, é a Alemanha que dita o rumo dos acontecimentos. “Nós andamos neste limbo, apesar do português ser uma das línguas mais falados no mundo. Falta-nos capacidade para projetar a nossa cultura e o nosso modo de vida. Houve agora uma exaltação da nossa culturalidade com a vitória no Campeonato da Europa em que, de um momento para o outro, somos todos portugueses, mas depressa voltamos a ser franceses, luxemburgueses e afins” .

ALGARVE INFORMATIVO #72


ALGARVE INFORMATIVO #72

78


79

ALGARVE INFORMATIVO #72


DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 5852 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTOGRAFIA DE CAPA: Miguel Ângelo

A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos.

ALGARVE INFORMATIVO #72

80


81

ALGARVE INFORMATIVO #72


ALGARVE INFORMATIVO #72

82


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.