ALGARVE INFORMATIVO #73

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ALGARVE INFORMATIVO 3 de setembro, 2016

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André Sousa lançou um diário íntimo de quem ama 1

ciac| feira da dieta mediterrânica festival f | paulo murta |ALGARVE louléINFORMATIVO summer#73


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OPINIÃO 6- Daniel Pina 40 - Paulo Cunha 42 - Paulo Bernardo 44- Mirian Tavares 46 - Augusto Lima

ATUALIDADE 8- Feira Dieta Mediterrânica 18 - Festival F 30 - Loulé Summer 36 - Vinhos na FATACIL

ENTREVISTAS/ REPORTAGENS 48- Paulo Murta 62- CIAC 72- André Sousa

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Festival F - Uma cataplana algarvia de sensações artísticas Daniel Pina

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sta noite cheguei a casa de madrugada e poucas horas estive na cama antes das filhotas, simpaticamente, virem acordar os pais para lhes darem o pequeno-almoço e ligarem a televisão da sala. Cumpridas as primeiras tarefas domésticas do dia, foi tempo de me meter ao trabalho para terminar mais uma edição semanal da Revista Algarve Informativo, faltava traduzir para alguns milhares de caracteres as múltiplas sensações vividas em mais um Festival F, que arrancou na noite de sexta-feira, dia 2 de setembro, na Vila Adentro, centro histórico da capital algarvia. O Festival F assume-se como o último grande festival de Verão, é assim que é promovido em termos de marketing, e que bela maneira de fazer a transição de um agosto escaldante para um setembro marcado pelo regresso à normalidade das famílias, com o início de mais um ano letivo dos filhos, e dos próprios trabalhadores, terminado que está o merecido período de férias. E o Festival F é, sem sombra de dúvidas, e sem quaisquer bairrismos, um dos melhores festivais de música de Portugal, um sucesso confirmado logo na segunda edição, em 2015, e que este ano volta a superar as expetativas, a ver pela multidão humana que encheu por completo a Cidade Velha de Faro. Verdade seja dita que não tem um cartaz internacional como os festivais de Verão mais mediáticos, mas esses existem há muito mais tempo, com patrocinadores cheios de dinheiro para pagar estrelas mundiais do pop/rock e da cena eletrónica, e com recintos que albergam várias dezenas de milhares de espetadores para rentabilizar o investimento. Mas o Festival F também não pretende ser assim, conforme refere insistentemente a organização, nomeadamente a Câmara Municipal de Faro. É um festival para as famílias trazerem os filhos, apreciarem música de excelente qualidade de diversas sonoridades, comerem descansadamente nos espaços de street food, adquirirem artesanato de autor, verem exposições de artes plásticas, assistirem a curtasmetragens, participarem em tertúlias.

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Bem ao jeito algarvio, o Festival F é uma verdadeira cataplana de sensações artísticas, onde a música é o ingrediente principal, como a carne e o peixe são nas cataplanas reais, mas depois condimentada com uma série de ingredientes, nas medidas exatas, diria perfeitas, para criar um produto a que é difícil ficar alheio, até mesmo resistir. Uma cataplana artística para saborear num cenário único no país, quiçá no mundo, com a beleza natural da Ria Formosa e o património cultural, histórico e arquitetónico da Vila Adentro. Portanto, não ficamos surpreendidos ao ver as ruelas e largos da Cidade Velha repletas de gente, as Muralhas e a Sé de Faro completamente preenchidas de corpos humanos, assim como os claustros do Museu Municipal e o espaço do Quintalão e do Castelo. Não há estrelas internacionais, mas também não fazem falta, temos os craques da música portuguesa e esses não ficam atrás de ninguém, assim haja orgulho no produto nacional, na traça lusitana, na língua de Camões. E orgulho nos nossos centros históricos que, bem cuidados, requalificados, adaptados aos tempos modernos, são palcos extraordinários para eventos culturais desta natureza. Um espaço físico que não comporta algumas dezenas de milhares de pessoas em frente ao palco, mas será que, dessa forma, se desfruta melhor dos espetáculos? Acredito que não, daí não perder, por nada deste mundo, o Festival F. Pena é que, por motivos profissionais, não possa ir os dois dias, mas isso é sinal de que o Algarve não se resume ao mês de agosto e de que há eventos culturais a acontecer ao longo de todo o ano, do extremo do sotavento à ponta de Sagres. Portanto, o corpo está cansado enquanto escrevinho uns milhares de caracteres para terminar mais um número da revista Algarve Informativo, mas a alma sorri enquanto recorda os momentos desta noite incrível. Longa vida ao Festival F e parabéns a quem teve a ousadia, a quem cometeu a loucura de criar um festival de Verão à altura da grandeza do Algarve e das suas gentes . 6


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Tavira organizou uma feira com o melhor do estilo de vida mediterrânico De 1 a 4 de setembro, Tavira recebeu a IV Feira da Dieta Mediterrânica, este ano mais especial porque Tavira e Portugal iniciam a coordenação anual dos sete estados e comunidades da Dieta Mediterrânica. A inauguração oficial contou com a presença do Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, para além de diversos autarcas e dirigentes associativos do Algarve, que também percorreram os inúmeros stands localizados nas duas margens do Rio Gilão para mergulharem os cinco sentidos neste estilo de vida ancestral agora classificado como Património Imaterial da Humanidade. Texto: ALGARVE INFORMATIVO #73

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IV Feira da Dieta Mediterrânica animou o centro histórico de Tavira, as duas margens do rio Gilão e a colina genética do alto de Santa Maria de 1 a 4 de setembro e confirmou uma evolução de forma sustentável e cumprindo todos objetivos para que foi criado, isto é, transmitir os valores culturais ancestrais da Dieta Mediterrânica; educar para a saúde alimentar e estilos de vida saudáveis; valorizar os produtos do mar e da terra, endógenos e de proximidade; promover o respeito pelo ambiente, os ecossistemas e as paisagens culturais; e facilitar a confraternização entre gerações. A inauguração do certame aconteceu no dia 1, pelas 18h, com a presença do Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, mas as primeiras palavras couberam a Jorge

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Botelho, presidente da Câmara Municipal de Tavira, que prontamente agradeceu o envolvimento de diversos organismos e empresas do Algarve na organização da feira. “Estamos aqui para saudar o nosso estilo de vida e a comissão organizadora trabalhou afincadamente, ao longo de nove meses, para montar esta parceria de muitas entidades que foram dando os seus contributos. Uma feira especial porque, este ano, cabe a Tavira coordenar as sete comunidades representativas da Dieta Mediterrânica, provenientes de seis países europeus e de Marrocos”, começou por dizer o edil tavirense. Jorge Botelho não tem dúvidas de que a Dieta Mediterrânica é um grande projeto de desenvolvimento

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Aliás, os números do Instituto Nacional de Estatística indicam que o desemprego baixou bastante no Algarve e que até precisamos de mãode-obra qualificada na área da restauração”, destacou o presidente da Câmara Municipal de Tavira. Com o turismo a crescer a olhos vistos, Tavira dá o seu Elsa Cordeiro, Jorge Botelho, Pedro Marques, Desidério Silva, João Pedro contributo através da Dieta Rodrigues, Ana Martins, Francisco Serra e José Manuel Guerreiro Mediterrânica, um projeto que há muito deixou de ser municipal e passou a ser regional, como atesta, por exemplo, a criação da Rota da Dieta Mediterrânica, em articulação com a Associação In Loco. “Exportamos esta cultura para todos os concelhos do Algarve para valorizar o Mediterrâneo, mesmo tendo em conta que Portugal nem sequer é banhado por ele, mas possuímos tudo aquilo que existe no sul da Europa. Jorge Botelho, Pedro Marques, Fernando Severino, Alexandra Rodrigues Somos um destino turístico Gonçalves, Francisco Serra e Margarida Flores único no mundo que cada regional e de promoção “daquilo que é vez vai crescer mais e não precisamos nosso, das capacidades do território, do importar modelos de ninguém, basta nosso artesanato, gastronomia e valorizar aquilo que nós somos. O cultura”, e acredita que o modelo paradigma mudou por completo e apresentado por Tavira, pelo Algarve e aquilo que nós somos coincide com por Portugal é único no mundo. “Este é aquilo que os turistas buscam, um incentivo enorme que damos aos portanto, é isso que temos que lhes empresários, mostrando-lhe que vale a oferecer”, defende Jorge Botelho. pena investir e criar postos de trabalho na atividade primária, no comércio, na Conhecendo-se o papel primordial restauração, na economia tradicional. que a cultura desempenha no dia-aALGARVE INFORMATIVO #73

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dia do concelho de Tavira, a Feira da Dieta Mediterrânica tem, na opinião de Jorge Botelho, a particularidade de promover o código genético dos algarvios, o que produzem, como pensam, comem, convivem e interagem, dai o pedido que deixou no final da sua intervenção: “Façam por viver sempre esta cultura, porque nos vai dar muito retorno no futuro”, terminou o autarca, antes de passar a palavra a Desidério Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve, um dos parceiros deste evento e da própria candidatura apresentada por Tavira da Dieta Mediterrânica a Património Imaterial da Humanidade. “Esta é claramente uma das melhores formas para diversificarmos a nossa oferta turística. O Algarve é uma região de referência a nível mundial, que 11

contribui decisivamente para a economia nacional, lutamos por isso todos os dias no terreno e os números de 2016 vão ser extremamente positivos em função desse empenho”, afirmou o responsável. Apesar do momento ser de festa, Desidério Silva aproveitou a presença do Ministro Pedro Marques para apontar duas notas inibidoras do desempenho da região algarvia, ALGARVE INFORMATIVO #73


designadamente o sistema de entrada dos espanhóis na Via do Infante e os voos da TAP de Faro para Lisboa e para outras cidades europeias. “Neste momento, há países nossos concorrentes com problemas políticos e de insegurança e o Algarve é uma das principais alternativas para os turistas que tradicionalmente iam para esses destinos, mas nós sempre fizemos o nosso trabalho para consolidar uma posição de destaque no plano global”, salientou o presidente da RTA. “O Algarve continua, por si próprio, a dar sinais de um reforço da economia e a ajudar na diminuição do desemprego, mas este crescimento só é possível se as pessoas, quando saírem de cá, ficarem com vontade de regressar”. No uso da palavra, Pedro Marques garantiu ser um gosto particular regressar a Tavira, uma terra “bonita, alindada, a florescer, um bocadinho como está todo o nosso Algarve”, e participar na inauguração da IV Feira da Dieta Mediterrânica. “A classificação da Dieta Mediterrânica como Património Imaterial da Humanidade foi mais um elemento importantíssimo na competitividade do nosso ALGARVE INFORMATIVO #73

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turismo e na sua diferenciação no contexto internacional. Temos, no Algarve, uma das melhores ofertas do mundo no produto «sol e praia», temos os melhores campos de golfe da Europa, uma hotelaria com imensa qualidade, mas há que seguir neste caminho diferenciador para nos posicionarmos nos segmentos de elevado valor acrescentado”, referiu o Ministro do Planeamento e das Infraestruturas. Pedro Marques assegurou que o governo está atento às alterações que o turismo tem conhecido no quadro europeu nos últimos anos e do potencial de Portugal para captar turistas que buscam qualidade, conforto e segurança, pelo que foi feito um esforço adicional para atenuar um dos problemas referidos por Desidério Silva, a entrada de espanhóis no Algarve através da Via do Infante, com o aumento de efetivos no posto fronteiriço para agilizar o processo de cobrança de portagens. “No contexto do Plano de Mobilidade Nacional que iremos desenvolver em 2017 a pensar no futuro, os mecanismos de cobrança de portagens estarão em cima da mesa, mas acredito que 13

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tudo correu melhor este ano”, frisou o Ministro, não deixando em branco o tema quente das portagens na Via do Infante. “Cumprimos um dos nossos propósitos e objetivos, a redução das portagens, ao mesmo tempo que vamos requalificando a EN 125, embora conscientes de que nunca será uma estrada perfeita, pela sua característica de atravessar muitas terras. Em matéria de redução das portagens na Via do Infante, foram muitas centenas de milhares de euros que as pessoas pagaram a menos durante o mês de agosto. Poderia ser mais, mas isso poderia colocar em causa a nossa sustentabilidade e equilíbrio”. Concluídas as intervenções das entidades oficiais, seguiu-se uma visita pelo recinto do certame e, de facto, havia muito para ver, desde a feira institucional ao mercado de produtores, dos concertos às peças de teatro e danças mediterrânicas, das arruadas filarmónicas e charangas às experiências culinárias, do aconselhamento cardiovascular e nutricional à atividade física, da apresentação de edições de ALGARVE INFORMATIVO #73

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livros e discos às conferências e debates, das visitas ao património às exposições na cidade. No campo da música, os cabeças de cartaz foram Dulce Pontes, Canzionere Grecanico Salentino, Vicente Amigo e os D.A.M.A., mas houve espaço também para os algarvios Flor de Sal, música e dança flamenco/árabe com um «Encuentro Flamenco Árabe», bailes com os Qualia, os Afterauers, os sons ibéricos do guitarrista Pedro Jóia, o Quarteto Arabesco com o projeto «Paixão ibérica», o fadista José Manuel Neto e os Adiafa. O público infantojuvenil teve direito a uma programação especializada, nascendo, em frente ao Palácio da Galeria, um pequeno teatro que contou com espetáculos de música, teatro e jogos. A gastronomia mediterrânica, com sabores do mar e da terra, esteve em destaque na «Praça da Convivialidade», localizada junto ao Castelo de Tavira no Parque do Palácio da Galeria, e também os restaurantes do litoral, do barrocal e da serra se associam à Feira da Dieta Mediterrânica e apresentaram, durante o certame, ementas mediterrânicas . 15

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Festival F iluminou os céus da Vila Adentro O último grande festival de Verão voltou a tomar de «assalto» a Vila Adentro de Faro, nos dias 2 e 3 de setembro, com um cartaz de luxo para todos os gostos e idades, não fosse este um evento para toda a família. A par da música estiveram em destaque tertúlias literárias, políticas e musicais, espetáculos de stand-up comedy com nomes sobejamente conhecidos, mas também as artes plásticas, o cinema, o artesanato de autor e a streetfood. Texto:

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Festival F regressou, pelo terceiro ano consecutivo, à Vila Adentro, em pleno centro histórico de Faro, e trouxe consigo os grandes nomes da cultura lusófona contemporânea, não só as apetecidas estrelas do meio musical, mas também homens e mulheres da cultura, pensadores, escritores, comentares, analistas, para participarem em tertúlias de literatura, política e música. A eles juntaram-se outros artistas, desde os tradicionais aos meus contemporâneos, com exposições na Galeria Trem ou apresentando os seus trabalhos na rua, mas também os comediantes da nova vaga. Mil e uma coisas para se ver e ouvir,

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GNR

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sentir, cheirar e degustar, espalhadas por áreas temáticas: uma zona das Artes Plásticas; um recinto para a Street Food; três espaços para as Tertúlias; uma área de cinema para visionamento de curtasmetragens; artesanato de autor; Stand-Up Comedy; e o F Infantil para os mais pequenos, com teatro de sombras e atividades de educação ambiental.

Cais do Sodré Funk Connection

Salto

Para os amantes da música criaram-se cinco palcos distintos – Muralhas, Sé, Museu, Quintalão e Castelo – por onde passaram, no dia 2 de setembro, Nuno Prata, Tribruto, Sam Alone, Cais do Sodré Funk Connection, GNR, Minta & The Brook Strout, Mundo Segundo & Sam The Kid, Ana Moura, Throes + The Shine, Diabo na Cruz, Criolo, Karetus, Branko e os djs Pedro Mesquita, Sir Aiva e Peterleev. Na noite seguinte, foi a vez de subirem ao palco Senhor Vulcão, oLudo, Sensible Soccers, Marta Ren, Jimmy P, Benjamim, B Fachada, Gisela João, Pedro Abrunhosa, Best Youth, Regula, Richie Campbell, DJ Discossauro + Chewbacca Latino, Da Chick e os djs Jijoe, Ride e Chistian F. E, para além das atuações normais, o Festival F proporcionou duetos únicos. Assim, Criolo, estrela em afirmação no Hip-Hop brasileiro, juntou-se a Ana 21

Moura; os GNR e Rita Redshoes estrearam ao vivo o single «Dançar a Sós», lançado no mais recente álbum da mítica banda do Porto; Rita Redshoes voltou a subir ao palco para novo dueto, desta vez com Senhor Vulcão. As tertúlias musicais, com curadoria e moderação de Álvaro Costa, contaram com, no dia 2 de Setembro, Joaquim Guerreiro (Diretor do Teatro das Figuras e coordenador ALGARVE INFORMATIVO #73


Tribruto

No campo da política, participaram Rui Ramos e Paulo Ferreira, para uma conversa sobre a «A ascensão dos populismos» e José Manuel Fernandes e Helena Garrido, que discutiram o tema «Portugal, a crise permanente». E a stand-up comedy voltou a estar em evidência com Carlos Pereira, Diogo Batáguas, Nuno Mesquita, Guilherme Fonseca, Carlos Coutinho Vilhena, Miguel Neves, Guilherme Duarte & convidado.

Perante tão rico cartaz, foi praticamente impossível resistir ao Festival F e muito cedo se percebeu que a primeira noite seria de «casa cheia», sensação Minta & The Brook Trout confirmada por Joaquim Guerreiro, coordenador do do Festival F) e João Carvalho (Diretor Festival F e diretor do Teatro das Festival Vodafone Paredes de Coura), Figuras. “Tínhamos a noção que isto que debateram o tema «Festivais 3.0 iria acontecer quando apresentamos Novos caminhos para os festivais de o cartaz para este fim-de-semana e o música em Portugal» e, no dia 3 de importante agora é que as pessoas setembro, Marta Ren e Da Chick, que saiam daqui satisfeitas. É um festival falaram sobre «À procura da familiar, para todas as idades e internacionalização do pop rock made sensibilidades artísticas e com in Portugal». Na vertente literária, as imensas atividades”, frisou, tertúlias apresentaram nomes indicando que houve a preocupação como Carlos Vaz Marques, Ricardo de escolher artistas que, como se diz, Araújo Pereira, David Machado e Nuno agradassem a «gregos e troianos». Camarneiro. ALGARVE INFORMATIVO #73

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Mundo Segundo e Sam The Kid

Claro que o palco natural do Festival F, esta fantástica Vila Adentro no coração de Faro, propicia a momentos únicos e inesquecíveis, um património arquitetónico com a Igreja da Sé, o Paço Episcopal, o Seminário, o Museu Municipal, mas também um património natural soberbo, com dois excelentes miradouros sobre a Ria Formosa. “Há pouco estávamos numa conferência, a falar descontraidamente de olhos postos no mar calmo, aquele prolongamento até ao horizonte, é uma imagem bastante interessante”, descreve Joaquim Guerreiro, considerando que as tertúlias literárias, políticas e musicais funcionam como um bom arranque de noite. “Este é um festival de artes e, para além da música, das excelentes exposições, do cinema com as curtas-metragens, 23

queremos que seja também um espaço de reflexão”. Com uma temperatura fantástica a convidar a uma saída pela noite dentro, as ruelas e os largos da Vila Adentro foram ganhando rapidamente uma moldura humana impressionante e, algumas horas depois, já a agitação era imensa quando estivemos à conversa com Paulo Santos, vice-presidente da Câmara Municipal de Faro. “Está tudo a correr bem e, para mim, isso significa ver as pessoas felizes e a divertirem-se. É para isso que trabalhamos”, salienta, voltando a enfatizar o cariz familiar do Festival F. “Aumentamos o recinto pelo terceiro ano consecutivo e o principal objetivo não foi ter mais gente, mas sim que as pessoas tivessem mais ALGARVE INFORMATIVO #73


Ana Moura

espaço para desfrutar da festa, sem encontrões. O que mais me agrada é ver aqui crianças de sorrisos nos lábios, pais a empurrar os carrinhos de bebés, todos a assistir aos concertos com a maior das calmas”. Para isso contribui, de facto, um cartaz bastante eclético, do fado ao hip-hop, do puro rock aos sons mais experimentalistas, dos consagrados aos projetos musicais emergentes. “O hiphop e o fado não tinham estado presentes nas duas primeiras edições, ALGARVE INFORMATIVO #73

foi uma falha que suprimos este ano e, com isso, alargou-se o espetro do público-alvo. Mas temos também as artes plásticas, a stand-up comedy, as tertúlias políticas, musicais e de literatura, o artesanato de autor e a street food, vários aliciantes para que cada pessoa possa encontrar o seu recanto dentro da Cidade Velha”, referiu o autarca, partilhando da opinião de que um festival deve ser, igualmente, um espaço de pensamento. “Ao mesmo tempo que vêm cá divertir-se, as pessoas podem 24


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Sam Alone & The Gravediggers

A tertúlia literária com Ricardo Araújo Pereira

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também refletir e hoje tivemos três tertúlias muito interessantes. A mais participada foi a da literatura com o Ricardo Araújo Pereira, mas o ano passado já tivemos casa cheia nas tertúlias literárias, o que demonstra que o público adere às iniciativas”. Neste cenário, Paulo Santos entende ser imperdoável para quem está no Algarve neste fim-de-semana, sejam os resistentes ou os turistas, não vir ao Festival F. “Estamos a sentir que o festival teve uma repercussão muito maior do que nos anos anteriores. A comunicação social regional contribuiu imenso para isso e, finalmente, os media nacionais começaram a dar um destaque maior a este evento.

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Normalmente, privilegiam os festivais de Verão mais antigos e tradicionais, ou aqueles realizados nos grandes centros urbanos, mas provamos que o Algarve também merece ter um festival de Verão de elite”, frisou. Quanto ao futuro, é esperar para ver, com calma e serenidade, e consoante o feedback do público. “Em termos de espaço físico, a Cidade Velha está esgotada, portanto, para já, há que consolidar o evento. Mais dias ou menos dias é uma questão para se refletir profundamente com toda a equipa que colabora na montagem deste festival e de acordo com os inputs das pessoas” .

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LOULÉ SUMMER FOI UM TREMENDO SUCESSO E É PARA REPETIR NOS PRÓXIMOS ANOS Com o propósito de ser uma alternativa à bem-sucedida Noite Branca, a Câmara Municipal de Loulé organizou, este ano, o Loulé Summer, um conjunto de espetáculos musicais e atividades artísticas que arrebatou por completo a população local e os visitantes. Mariza, Kátia Guerreiro, Tony Carreira e HMB deram concertos de lotação esgotada, mas também a Night Parade superou as expetativas, pelo que o Loulé Summer tem já continuidade garantida. Texto: Fotografia:

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a edição inaugural, o Loulé Summer, evento promovido pela autarquia local que durante o mês de agosto trouxe às cidades de Loulé e Quarteira muita música e animações, saldou-se por um enorme êxito pelo elevado número de público que atraiu e pela qualidade das atividades integradas no programa. Depois dos concertos de Mariza e Katia Guerreiro (que apresentou um espetáculo com a Orquestra Clássica do Sul), o Loulé Summer encerrou com quatro iniciativas que marcaram este verão algarvio e surpreenderam residentes e turistas. Luz, cor e arte destacaram-se na Night Parade que, na sexta-feira, dia 26, desfilou na Praça da República, Largo Gago Coutinho e Avenida 25 de Abril. Seis carros decorados com muita luz e ALGARVE INFORMATIVO #73

imaginação e centenas de performers trouxeram um espetáculo visual e sonoro inspirado na época estival, com criaturas do mundo da fantasia que, ao longo do percurso, iam interagindo com o público. A iluminação dos carros em contraste com a escuridão da cidade criou um efeito mágico a esta noite em que muitos visitantes, movidos pelo fator surpresa, marcaram presença. No sábado, dia 27, uma verdadeira multidão encheu o Largo Junto ao Monumento Eng.º Duarte Pacheco e a Avenida 25 de Abril para assistir ao concerto de um dos artistas portugueses mais populares. Com a sua simpatia habitual, Tony Carreira cantou e encantou os milhares de fãs ou simples curiosos que vieram ouvir os temas mais emblemáticos da 32


Tony Carreira

carreira do cantor como «Sonhos de Menino», «Quem era eu sem ti», «A sonhar contigo» ou «Depois de ti mais nada». E depois de um espetáculo com muita energia, o artista teve ainda fôlego para uma sessão fotográfica com os seus fãs que quiseram ficar com uma recordação deste momento em Loulé. O Loulé Summer encerrou da melhor forma no domingo, 28 de agosto, com dois momentos musicais e muitos animadores a espalharem magia e alegria pela cidade. Perto das 20h, o DJ Hugo Tabaco deu vida ao Largo de S. Francisco durante o Urban Sunset, com espetáculo em que os sons eletrónicos acompanharam um fantástico jogo de luzes. Uma 33

Mariza

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HMB

Kátia Guerreiro e a Orquestra Clássica do Sul

performance de um nome que durante o mês de agosto animou o Algarve e que em Loulé aqueceu uma noite que esteve ao rubro, sobretudo com o concerto dos HMB. Foi na renovada Praça D. Afonso III, com o emblemático Castelo de Loulé como pano de fundo, que a banda ALGARVE INFORMATIVO #73

que é uma das revelações musicais no panorama da soul e do r&b em Portugal proporcionou um dos momentos mais especiais desta primeira edição do Loulé Summer. Um fogo-de-artifício nas muralhas do Castelo assinalou o encerramento do Loulé Summer. A Câmara 34


Municipal de Loulé faz um balanço claramente positivo desta primeira edição, já que teve o mérito de, no ano de estreia, atrair um vasto público. Por outro lado, a dinamização da economia local –

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comércio tradicional, restauração e hotelaria – constituiu outro dos fatores de sucesso deste evento que a partir de agora fará parte do conjunto dos eventos-âncora do Concelho de Loulé . ALGARVE INFORMATIVO #73


«LAGOA CIDADE DO VINHO 2016» ESTEVE EM GRANDE DESTAQUE NA FATACIL Os vinhos do Algarve estiveram em grande destaque na 37ª FATACIL, não fosse Lagoa Cidade do Vinho em 2016. Assim, para além do lançamento do «Lagoa Reserva DOP 2014», foram igualmente conhecidos os vencedores do IX Concurso de Vinhos do Algarve, num encontro que reuniu grande parte dos produtores regionais da atualidade. Texto:

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A representante de Lagoa no concurso nacional da Rainha das Vindimas de 2016, Ana Rita Faustino, com a Rainha das Vindimas de 2015, Luana Ramos

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Restaurante da Fatacil foi palco, no dia 26 de agosto, da cerimónia de entrega das medalhas de ouro, prata e bronze do IX Concurso de Vinhos do Algarve, promovido pela Comissão Vitivinícola do Algarve, em parceria com a Câmara Municipal de Lagoa e a Associação dos Escanções de Portugal. Aberto a vinhos brancos, rosados e tintos, o júri formado por especialistas escanções nacionais distinguiu 25 dos 81 vinhos que participaram, em representação de 20 produtores de toda a região. “O objetivo do município de Lagoa é e sempre será valorizar o vinho enquanto fator de identificação do nosso concelho, o vinho faz parte da nossa história ancestral. Desde os tempos dos fenícios e cartagineses, 37

dos romanos e árabes, que a nossa região foi produtora de bons vinhos e, mais de dois mil anos depois, cabe-nos a nós honrar a história dos nossos antepassados e deixar um legado para as gerações vindouras”, afirmou o vereador Luís Encarnação. Com o vinho a constituir um fator importante para o desenvolvimento comercial, empresarial e económico do concelho de Lagoa, ele assume-se igualmente como um instrumento de excelência para a promoção turística deste território e Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, enalteceu a enorme pujança e reconhecimento internacional que ALGARVE INFORMATIVO #73


O edil de Lagoa Francisco Martins com representante da Casa Santos Lima, Companhia dos Vinhos S.A.

Representante da Quinta dos Vales - Agricultura e Turismo, Lda com Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa

Representante da Quinta do Morgado da Torre com Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa

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os néctares algarvios têm alcançado no passado recente. “Somos pequenos em termos de área territorial e somos periféricos relativamente a Portugal e à Europa, mas somos grandes na qualidade que temos vindo a apresentar. Quando iniciamos a candidatura a «Cidade do Vinho 2016», levamos o nome de Lagoa e dos nossos vinhos por esse país fora e assumimos sempre que era uma candidatura regional, apesar de suportada pelo nosso município”, destacou o edil. Prova desta vitalidade é a enorme quantidade de vinhos inscritos no IX Concurso de Vinhas do Algarve e, mesmo com produções menores, a qualidade é francamente elevada. “Há dois ou três anos, falava-se da grande dificuldade em penetrar na nossa restauração e hotelaria, mas isso está a alterar-se. As outras autarquias já puxam por este produto também como mais um nicho de mercado e de desenvolvimento económico do seu território e temos que interiorizar que não devemos ser concorrentes uns dos outros”, defendeu ainda Francisco Martins. Por entre os 25 vinhos algarvios galardoados, os grandes destaques foram para o Alvor Mitto – Vinho Regional Algarve Rosé 2015 (Quinta do Morgado da 38


Torre, Lda) e Marquês dos Vales DUO Petit Verdot & Touriga Nacional – Vinho Regional Algarve Tinto 2012 (Quinta dos Vales – Agricultura e Turismo, Lda), que receberam uma medalha de ouro, com a Grande Medalha de Ouro, ou seja, o prémio de Melhor Vinho do Algarve a ser entregue ao AL-RIA Reserva – Vinho Regional Algarve Tinto 2014 da Casa Santos Lima, Companhia dos Vinhos, S.A. Para além da entrega dos prémios do IX Concurso de Vinhos do Algarve, a Câmara Municipal de Lagoa levou a cabo várias iniciativas durante a FATACIL, que decorreu de 19 a 28 de agosto, no Parque Municipal de Feiras e Exposições, e que contou com mais de 100 mil visitantes. Assim, todos tiveram oportunidade de provar vinhos de todas as regiões e assistir às atuações de Grupos e Ranchos de várias zonas de 39

Portugal. No dia 26 de agosto foi apresentada publicamente a representante de Lagoa no Concurso Nacional da Rainha das Vindimas, cuja Gala final se vai realizar no dia 10 de setembro, no Centro de Congressos do Arade, no Parchal. No dia 27 de agosto, dois mil e 66 visitantes da FATACIL inscreveram-se, no stand «Lagoa – Cidade do Vinho 2016», e participaram no maior brinde alguma vez realizado com o vinho Lagoa Reserva DOP 2014, feito com as melhores castas cultivadas no Concelho e do qual, numa parceria da autarquia local com a Única – Adega Cooperativa do Algarve e a «From Algarve», três mil e 200 garrafas estiveram submersas no Rio Arade, nas Fontes de Estômbar, durante três meses . ALGARVE INFORMATIVO #73


Férias das férias Paulo Cunha

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uitos portugueses, reféns das interrupções escolares dos filhos e dos familiares, acabam por escolher (quando tal lhes é permitido) o mês de agosto para gozar as tão almejadas e merecidas férias. Seja no setor público ou no privado, esta interrupção consignada na lei, acaba por ser o escape e o contraponto para um ano de trabalho e dedicação profissional, sendo comum, por isso, fazer a analogia das férias ao “carregar baterias”! Tal como eu, muitos de vós regressaram esta semana ao vosso trabalho/emprego. Só por esse facto já nos deveremos sentir felizes e compensados, pois nos dias que correm, tê-lo certo e seguro não é para todos. Sendo por definição uma interrupção relativamente longa de trabalho, destinada ao descanso dos trabalhadores e derivando da palavra «féria», que em latim queria dizer Dia de Festa, é hoje habitualmente aceite que as férias são o período escolhido para “festejar o descanso”. Podendo parecer um contrassenso, é isso que muitos acabam por fazer, abdicando do necessário descanso mental e físico. Em constante bulício, tentam celebrar a época e fazer muito do que poderiam ter feito nos outros onze meses, chegando ao fim das férias extenuados e a precisar de férias das férias. Podemos encontrar muitos momentos de lazer e descanso através da gestão e da arrumação das rotinas diárias e dos fins de semana e feriados que durante o ano temos ao dispor, bastando para isso criar as “nossas (pequenas) férias”. Aquelas que, não sendo institucionalizadas, funcionam como “escapadinhas” ao stress que, acumulado, nos faz chegar a agosto a querer “viver” um ano num único mês. Por isso, constantemente, encontro pessoas a queixaremse que as férias lhes souberam a pouco, pois pouco tiveram de férias. Porque as verdadeiras férias começam na nossa mente, ao escolher o

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tempo, o lugar e o modo como vamos “fugir” de tudo o que nos faz precisar delas! É também frequente sentirmo-nos melancólicos, principalmente se as férias foram agradáveis. A melancolia por vezes conjuga-se com alguma ansiedade pelo facto de terminar um período que é vivido com uma maior calma, onde não há horários rigorosos a cumprir, prazos ou objetivos. O regresso ao trabalho e a necessidade de articular os horários com os horários escolares dos filhos, com a consequente passagem da tranquilidade para a agitação diária, poderá gerar alguma ansiedade. O nível de ansiedade sentido depende do grau de descontentamento que se tem relativamente ao emprego, do nível de exigência que se sente existir no nosso trabalho, do grau de incerteza, mas também do relacionamento que se mantém com os nossos colegas. No entanto, o regresso ao trabalho não tem de ser necessariamente uma fonte de emoções negativas. Basta para isso valorizar tudo aquilo que nos fez escolher a nossa formação profissional, considerando e dignificando, ao mesmo tempo, todos aqueles que nos apoiam e nos querem bem, tanto no contexto profissional como no pessoal. Está mais que provado que a felicidade gera produtividade, por isso saber fugir daquilo que nos apoquenta é meio caminho andado para não desesperar por férias. Sou daqueles que acha que as férias merecem-se, mas para que tal aconteça temos que nos sentir bem com nós próprios, e consequentemente com os outros. Férias não são dias de fuga, são dias de encontro e de reencontro… grande parte das vezes connosco! .

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Do Fado Falado ao Fado Dançado Paulo Bernardo

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empre me intrigou ouvir o João Villaret a declamar o Fado Falado. Apesar de ser uma nova forma, menos ortodoxa, digamos, não deixava de relatar uma história de amor, ciúme, tristeza, pobreza. Contudo, algum tempo antes o Fado era Dançado, era uma música alegre que nos transportava para bons momentos. Com a entrada da máquina de propaganda do estado novo, bastante eficiente por sinal, o fado e como diz a letra do Fado Falado «Fado Triste, Fado negro das vielas... Se o fado se canta e chora, Também se pode falar”, passa a ser um veículo para nos convencer que tudo o que nos acontecia era uma sina e por isso não podíamos fugir a mesma. Para além disso, convenceu-nos que ser triste era normal e que as mãe viverem eternamente de negro era normal, pois os filhos eram criados para alimentar a máquina de guerra ou para alimentar a máquina do desenvolvimento em outros países para os quais fugiam a salto. Assim, a revolta não existia, pois era a sina. Mas esta história surge para relembrar que em tempos muito recentes a dupla Portas/Passos também começou a tentar convencer-nos que Portugal era pobre e sem possibilidade de viver outra realidade se não a pobreza e ver os filhos partirem, deixando o país sem jovens e sem futuro. Foi bastante difícil ver uma classe de escroques a alimentarem-se com a venda do que era nosso a preço da uva mijona, apenas para alimentar os bolsos de uns poucos. Quando a dupla tomou posse, um amigo disse-me que os gabinetes de advogados de Lisboa já estavam a reunir com os intermediários para a venda de tudo. Na altura, apesar da fonte, duvidei um pouco. Hoje, já não tenho dúvidas.

não entendo para que serviu tanta dor, tanta fome, tanto sofrimento. Para alimentar uma máquina invisível, que nós apenas conhecemos um pouco. Sou um homem das empresas, pelo que também entendo o estado em que o país estava. Sei que se tinha que mudar algumas coisas para podermos ser mais competitivos e eficientes. Contudo, com esta máscara de medo só se conseguiu destruir mais o país em vez de corrigir algo. Podemos olhar para a CGD, banco do estado que se propagandeava como o banco de apoio às boas ideias, enchendo as montras com a cara de gestores competentíssimos. Nunca me apoiou, nem a mim nem a outros pequenos. Hoje, estamos vivos empresarialmente graças a um Banco Espanhol, o Banco Popular. Por isso, meus amigos, vamos tentar e contribuir para que Portugal volte a ser o País do Fado Dançado. Ontem tive o privilégio de ir com três miúdos com idades entre os 8 e os 12 assistir ao concerto da Ana Moura, para cantar e dançar fado. Vieram no carro cantando e todos alegres com um concerto de fado, coisa impensável quando eu tinha a idade deles. Devemos a estas miúdas e miúdos o devolver de um Portugal onde o fado se dança. Alterando um pouco a letra do Fado Falado, podemos dizer que «E digam lá se pode ou não, Dançar-se o fado». Parabéns à organização do Festival F, muito bem .

Foi um Bodo aos Ricos, sim, pois esses saíram mais ricos do nosso empobrecimento, por isso,

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Senhor Dr., se faz favor Mirian Tavares

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ão sou doutora, sou Arquiteta! Peço imensas desculpas, também não sou doutora, sou Professora Doutora!

Ai os títulos e os que adoram ostentá-los. Há uns quantos assim que cruzam, de vez em quando, o meu caminho. Dizem que em Portugal são todos doutores, ou melhor, Drs.. Basta serem licenciados, que muitos passam a exibir, antes do nome próprio, o tratamento que lhes consideram devido. Quando penso nas bolonhesas licenciaturas de três anos e no nível assustadoramente baixo de parte dos alunos, dói-me tratar alguns por Drs. ou Dras.. Eu, para evitar acidentes diplomáticos, trato todos a quem não conheço, quando me é exigida uma comunicação mais oficial, por doutores. Às vezes engano-me - como ia adivinhar que o raio da senhora era arquiteta? Ou que um tal senhor é engenheiro? E por que é que os outros licenciados não têm direito a igual tratamento? Poder-se-ia chamar os formados em psicologia de Sr. Psicólogo, e assim por diante. Acaba o universo dos doutores e cada um é reconhecido pelo curso que fez, o que os distingue dos comuns mortais. Para tal é preciso que saibamos que curso fez tal criatura. Mas tenho uma sugestão melhor, pois sabemos que há doutores e doutores, como há arquitetos e arquitetos. Podemos chamá-los, ou chamá-las, "Sr. Psicólogo com nota final de 15 valores." (O que vale bem menos que aquele que teve nota final de 18 ou de 19 valores.) Se calhar fica muito comprido. E nem reflete todo um percurso, que é variável, e que pode ser mais ou menos rico.

teria o inconveniente de termos de conhecer o CV de qualquer pessoa antes de nos dirigirmos a ela, bem como de gastar meia hora de conversação só na saudação. Talvez os designers de moda possam criar t-shirts com CV impressos. Aqueles que possuam um historial mais longo, podem levar fato completo, ou vestido de cerimónia. Não pensem que não levo muito a sério o tratamento formal e respeitoso que devemos ter uns para com os outros. Mas há pessoas que levam ao extremo a necessidade de ostentação de um título, o que sempre me recorda, absurdamente, uma cena de um filme dos Monty Python. Trato o reitor por sua magnificência, mesmo que ele não faça questão nenhuma de tamanho nome antes do seu. Trato todos por doutores, desde que não os conheça. Mas não me venham puxar dos galões, nem destratar pessoas que consideram hierarquicamente inferiores, que eu puxo da pistola, ou melhor, dos meus títulos, ou melhor da minha falta imensa de paciência com gente que é tão pequena que precisa de qualquer coisa inútil para lhe dar a sensação de que vale mais do que efetivamente é .

Nesse caso, pode-se chamar "Sr. Arquiteto de 19 valores com pós-graduação na Itália e experiência de cinco anos no gabinete do Siza Vieira." Ou qualquer coisa semelhante. Claro que

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Isto é o Algarve! O Algarve e a sua gastronomia estão na moda Augusto Lima

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reino do «Al garb», atlântico de berço e mediterrâneo de coração, divide-se tal e qual a sua geografia: O Litoral, o Barrocal e a Serra. Pela boca morre o peixe e a região Algarvia ligada que está ao mar estará sempre rodeada de pratos de peixe e de marisco. Os pescadores, secos pelo sol, foram os responsáveis e são guardiões de um repertório gastronómico imenso onde se destacam as sensuais saladas, as fogosas cataplanas e as húmidas caldeiradas. Mas o Algarve também é Serra, lugar de caça e porco preto, que sacrificado se transforma em iguarias ímpares e únicas dos saberes e tradições das gentes de Monchique, como os Molhos e a Farinheira. Também berço das ervas espontâneas, fadas madrinhas de chás e mezinhas, sabores e odores onde pasta o preguiçoso e riscado caracol. Mas eis que, entre os seios da Serra e o sereno Litoral, surge o Barrocal, de terrenos agrícolas por excelência. Encaixado entre as Serras de Monchique e do Mu (Caldeirão), tem na vila de Querença o coração e se passeia de mãos dadas entre Monchique, Salir e Tavira, terras de méis, compotas e licores, enchidos e queijos, grãos e feijões, galinhas e borregos, do ouro negro mediterrânico, a Alfarroba e dos reluzentes e doces citrinos que já ostentaram títulos reais. E os figos, alguns bem peculiares, únicos no seu ciclo reprodutor, pretos ou verdes, de coração vermelho, matam saudades e apetites todos os fins do estio. Das ervas espontâneas transformadas em sabores e perfumes, mezinhas e alquimias culinárias. Casa das laboriosas abelhas que procuram nas flores silvestres o doce que se há-de transformar em iguarias únicas meladas, como as vendidas pelo carismático Manuel Chumbinho. A Costa Vicentina, o triângulo dourado habitado por Aljezur, Sagres e Vila do Bispo, dona da mais afamada batata-doce, também boa terra de pastoreio e sementeira e dos bivalves, retirados de colónias escarpadas e esculpidas por marés vivas, onde o percebe é rei. A Serra de Santa Luzia, em Tavira, é palco de ancestrais transumâncias da sua Rainha, a Ovelha Churra Algarvia, por entre caminhos trilhados outrora por esquivos contrabandistas de e para terras de Castela, que tem no Clã Neto, uma fabulosa parceria. Outras albergam nos sopés e cercanias, prazenteiros alambiques, que com a calma necessária que só o

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próprio tempo consegue dar, cospem de tempos a temos essa quente e cristalina água ardente do admirável medronho escarlate. Junto ao mar, ainda em Tavira, o sal húmido e polido pelas brisas e sois madrugadores, certificam a qualidade do ouro branco, esse coalho com sabor a maresia que a tradução do francês concluiu como flor de sal. As salinas do Rui Simeão ajudam todos os anos a divulgar o nome da cidade e deram a Portugal e ao mundo o único sal com selo DOP. Ali perto, na antiga Balsa romana, Luz de Tavira, é pescado o famoso gastrópode que a natureza muniu de oito apêndices, o indescritível e sápido polvo. E as ostras de Olhão? O Carapau alimado, os Choquinhos com tinta, a Vila de amêijoas e o intemporal Litão, com batatas ou feijão? As cataplanas, papas e caldeiradas passando pelas saladas e ceboladas estendem-se de Vila Real a Sagres. Baile de roda com castanholas, epíteto do xerém com amêijoas, de Faro, que em Olhão se fazem com conquilhas, as favas e os arrozes, as sopas e guisados e os divinos casamentos entre a Serra e o Mar, de que são exemplos, a Feijoada de buzinas, a Dona Galinha vai à praia ou o Polvo com entrecosto, todos eles de berço Portimonense, creio, terra de vinhos poderosos que o sol molda todos os anos de forma desigual, impondo o seu valor em provas nacionais e internacionais que vão premiando o trabalho de gente amadurecida, teimosa e afoita que contradiz o usual e derruba conceitos e preconceitos, como o escandinavo Detlev Van Rosen, da Monterosa Olive Oil, que chegado ao Algarve, em Moncarracho, provou que o Algarve também pode ser ninho de bom azeite, que embebeda tibornas, e abrilhanta iguarias sem par. E para com Chave de Ouro fechar, a doçaria, rainha das tentações. Dom Rodrigos, Morgadinhos, Queijo de figo, Tarte de Alfarroba, Folhados de gila, Doce de batata-doce, desfilam brilhantes, orgulhosas filhas da amêndoa, do mel, do figo, da alfarroba e da laranja, pertença da trilogia das árvores de sequeiro Algarvias pelas mãos sábias de Donas prendadas como a Isabel (Casa da Isabel, Portimão); Encarnação, Quinta dos Avós, Algoz; Fátima Galego, Tesouros da Serra, S. Brás Alportel, terra de gente boa e de queijos únicos, da nossa Cabra Algarvia amassados pelo Portal dos Queijos. Senhores e Senhoras, isto (e muito mais) é o Algarve! .

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Paulo Murta continua a «fabricar» campeões em Pechão Depois do brilhante sexto lugar alcançado por Ana Cabecinha nos 20 quilómetros marcha nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o treinador Paulo Murta já está no terreno a preparar a nova época desportiva do Clube Oriental de Pechão, uma das grandes potências do atletismo nacional. Foi, por isso, o momento certo para analisar os sucessos da temporada transata, mas para falar também friamente dos problemas que continuam a apoquentar o atletismo português. Entrevista: ALGARVE INFORMATIVO #73

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ouco tempo teve Paulo Murta para descansar após a participação de Ana Cabecinha nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, pois a próxima época desportiva do Clube Oriental de Pechão não tarda em começar e há que trabalhar arduamente para repetir os êxitos da última temporada. Só para se ter uma ideia, o clube do concelho de Olhão participou em 86 provas, em Portugal e no estrangeiro, e conquistou mais de 150 títulos regionais, entre individuais e coletivos. A estes somam-se 15 títulos nacionais, 11 individuais e quatro coletivos, mas, ao todo, foram 56 os atletas do Clube Oriental de Pechão que ganharam medalhas na época 2015/2016 e cinco deles representaram, inclusive, Portugal, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no Campeonato do Mundo de Equipas Marcha, no 29.º Campeonato do Mundo de Juniores, nos Jogos do Mediterrâneo em Esperanças, no Campeonato da Europa de Juvenis e nos Jogos da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa. Claro que, por estas semanas, as atenções estão concentradas no brilharete de Ana Cabecinha no Rio de Janeiro, ao terminar os 20 quilómetros da marcha feminina na sexta posição, a melhor classificação de sempre de uma atleta portuguesa nesta disciplina, superando o oitavo lugar registado em Pequim (2008) e Londres (2012) pela própria. Durante a prova, contudo, Paulo Murta chegou a pensar que seria

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possível uma prestação ainda mais positiva, entre o terceiro e o quinto lugar, mas o sexto acabou por ser a posição final e bem melhor do que o esperado. “A Ana, no Mundial de 2015, foi quarta classificada, mas toda a gente prepara-se de maneira diferente para os Jogos Olímpicos e ninguém quer falhar, portanto, este resultado é mais gratificante e prestigiante, se calhar até melhor do que uma medalha num Mundial”, considera o experiente técnico, que já pensa no próximo ciclo olímpico, embora, até lá, se realizem dois Mundiais e um Europeu, para além de várias Taças da Europa e do Mundo. Paulo Murta e Ana Cabecinha que estão a trabalhar juntos há mais de uma década e as melhorias vão-se confirmando através dos resultados obtidos, numa disciplina do atletismo que envolve uma preparação bastante rigorosa e difícil. “É uma prova duríssima, cerca de uma hora e meia em atividade a um ritmo médio inferior a quatro minutos e trinta por quilómetro, quando uma pessoa normal, quando vai às compras, anda 10 minutos ao quilómetro”, compara o entrevistado, destacando que, neste ciclo olímpico, contaram com o apoio de uma equipa multidisciplinar que incluía um biomecânico – o que permitiu tornar a marcha mais fluida, económica, com menos desgaste mecânico –, um fisiologista – para estudar a capacidade de resistência –,

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e um nutricionista – para melhorar a suplementação utilizada na pré e competição e para se recuperar mais depressa nos treinos. “O meu trabalho técnico, se calhar, abrange 80 ou 90 por cento da preparação, mas os outros foram muito importantes para conseguirmos otimizar o máximo possível as capacidades da Ana Cabecinha”, indica Paulo Murta. Preparação que envolve, igualmente, estágios em altitude, que trazem benefícios ao nível da resistência não possíveis de obter quando se treina ao nível do mar. Aliás, não é por acaso que praticamente todas as atletas do Top 10 vivem normalmente a mais Paulo Murta e Ana Cabecinha no final da prova no Rio de Janeiro de 1500 metros de altitude. “A mexicana reside a três mil metros Menos satisfeito estarão, contudo, de altitude, a brasileira está no outros atletas sobre os quais os Equador, a quase 2800 metros de portugueses colocavam fortes altitude, permanentemente, e ainda esperanças em conquistar medalhas, vão fazer estágios específicos. Nós nomeadamente no atletismo e na vamos duas ou três vezes por ano para canoagem, mas Paulo Murta entende estágios de altitude, na vizinha que se criaram expetativas Espanha e, desta vez, também para demasiadamente elevadas para a França, para tentar obter essa melhoria realidade do desporto nacional. em três ou quatro semanas”, indica o “Falou-se muito dos 15 milhões que técnico, muito orgulhoso da prestação terão sido gastos em quatro anos da sua pupila.

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com estes homens e mulheres, mas isso não está correto, jogam-se números errados para fora porque interessa a determinadas pessoas. No ciclo olímpico 2013/2017 estiveram envolvidos quase 200 atletas, apesar de só terem ido 94 ao Rio de Janeiro, portanto, as contas sobre a proporção que coube a cada um dos que esteve efetivamente no Brasil estão mal feitas logo à partida”, esclarece, acrescentando que o contrato-programa feito entre o Governo, o Comité Olímpico e o Instituto Português do Desporto e Juventude diz respeito a cinco e não quatro anos. “Antigamente, o ciclo terminava logo em agosto do ano olímpico e só recomeçava outro em fevereiro, março, abril, até em junho do ano seguinte. O problema é que os atletas não estão parados e, desta forma, fica salvaguardado o primeiro ano após os Jogos Olímpicos”. Prosseguindo com a sua análise sobre a prestação portuguesa no Rio de Janeiro, Paulo Murta lamenta que só se pense em medalhas quando se olha para o desporto, quando elas não resolvem os problemas de fundo que existem. “Temos pouca cultura desportiva em Portugal. Quantos portugueses viram o combate ao vivo de judo ou taekwondo? Quantos viram uma regata de canoagem? Quantas provas de atletismo viram? Nós organizamos nove provas de marcha em Olhão durante este ciclo olímpico. Quantas pessoas é que assistiram a duas”, questiona. “Quem é que conhecia uma Marta

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Onofre do salto à vara? Ou uma Beatriz, um David ou outro atleta qualquer de uma disciplina menos mediática? Os portugueses sabiam quem eram a Telma Monteiro, o Nelson Évora e o Fernando Pimenta e pouco mais do que isso”, desabafa Paulo Murta.

Falta uma política de desporto escolar Entendendo que era completamente utópico ansiar por mais medalhas nos Jogos Olímpicos, Paulo Murta lembra que nem sequer existe uma política de desporto escolar no nosso país e que muitos alunos do primeiro ciclo só fazem exercício físico se estiverem inseridos num clube ou numa atividade extracurricular. Mesmo no segundo ciclo, a disciplina de Educação Física não conta para as notas e, no outro extremo do percurso académico, é muito complicado para um estudante universitário conseguir praticar desporto em termos competitivos. “Depois de concluírem os seus estudos superiores, também não há uma integração no mercado de trabalho que possibilite a continuação da prática desportiva de alta competição. Pior do que isso, quando os atletas terminam os Jogos Olímpicos ou um Campeonato do Mundo e não têm um curso superior ou um pai rico, o que é que vão fazer na vida? Se todas estas questões

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Os atletas do Clube Oriental de Pechão no Campeonato Regional Absolutos

funcionassem devidamente, então, sim, poderíamos ambicionar mais medalhas”, assume, sem rodeios. Condições que existem noutras nações, onde o desporto escolar começa logo no pré-escolar e não no primeiro ciclo, onde a atividade desportiva está acima da académica, sem que uma exclua a outra, pois os jovens treinam das 7h às 11h, vão para as aulas das 12h às 16h e regressam depois aos treinos. “Claro que demoram mais tempo para tirar o curso, mas tiram. Noutros países, os atletas são integrados nos serviços militares, o que lhes assegura um futuro após a carreira desportiva. Em Itália, os miúdos vão para as academias aos 16 anos e tiram cursos de medicina, engenharia e tudo o

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mais”, revela, sem perder o fôlego. “Em Portugal, os apoios são dados consoante os resultados obtidos nas grandes competições e a maior parte dos atletas que estiveram no Rio de Janeiro terminavam os seus contratos-programa no dia 30 de agosto. Claro que isto mexe com a cabeça das pessoas quando estão em prova, porque um sétimo lugar é melhor do que um nono e quem não fica nos 18 primeiros recebe zero. É como um trabalhador que sabe que o seu contrato está a terminar. Por muita vontade, querer e empenho que tenha, há sempre qualquer coisa que falha”, assegura Paulo Murta. Como se todas estas considerações não bastassem, o treinador lembra

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Os atletas do Clube Oriental de Pechão no Campeonato Nacional de Juvenis

ainda que o desporto não é uma ciência exata, que todos os atletas trabalham no máximo das suas capacidades e que nem sempre as coisas acontecem conforme planeadas. O problema é que, embalados pelas vitórias de Portugal nos Campeonatos da Europa de Futebol e de Hóquei em Patins e pelas medalhas recentemente conquistadas no atletismo e na canoagem, os cidadãos comuns colocaram a fasquia num patamar irrealista. “Ganhámos o Europeu de Futebol mas as casas de apostas davam Portugal como sétimo classificado. Houve entrega, dedicação e sorte, mas a sorte no desporto dá trabalho. Nos Jogos Olímpicos, houve provas em que ficamos a menos de 10 centésimos de uma medalha, noutras, ficamos a menos de um segundo. Isto é como no futebol: a bola bate no poste e, umas vezes ressalta para fora e não dá em nada; noutras, ressalta para dentro da baliza e é golo”, indica Paulo Murta. ALGARVE INFORMATIVO #73

O treinador do Clube Oriental de Pechão lamenta igualmente que muitas pessoas falem sem conhecimento de causa, e nesse grupo inclui diversos jornalistas e cronistas, o que contribui para transmitir uma imagem errada do que se passa para a opinião pública. “Se, no último Mundial de Atletismo, tivéssemos ganho 10 ou 12 medalhas, seria previsível Portugal conquistar duas ou três nos Jogos Olímpicos. Temos bons atletas e todos eles fizeram o seu melhor. Vi um espírito olímpico como nunca tinha visto antes, começando pelo futebol, que ficaram na Aldeia Olímpica, não foram para hotéis como era hábito”, salienta o entrevistado, não deixando de lançar uma farpa aos clubes que não deixaram alguns jogadores participar nos Jogos Olímpicos. “São entidades com utilidade pública e está mal não

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libertarem os seus melhores atletas para defender as cores nacionais. Fomos quintos mas, se a situação fosse diferente, podíamos ter conquistado outra medalha”.

Pechão é caso único de sucesso Houve, assim, vários fatores que determinaram uma prestação menos conseguida da comitiva lusitana, entre eles pequenas lesões que se pensavam estar debeladas mas que, afinal, ao fim de sete ou oito quilómetros de prova obrigaram a desistências. “Depois, se desistiu é porque desistiu. Se chegou numa má classificação, é desprestigiante. Quando não conseguimos ficar nos oito finalistas ou nos três medalhados, já não interessa”, critica Paulo Murta, perguntando qual é a empresa que, nos primeiros quatro anos de atividade, fica logo nas posições cimeiras em termos mundiais. Menos motivos para dores de cabeça tem o técnico no plano nacional, porque os atletas do Clube Oriental de Pechão são dos melhores que Portugal tem, totalizando 110 federados na época 2015/2016, o maior número de sempre, 46 deles na Formação (Benjamins, Infantis e Iniciados) e 64 nos restantes escalões, ou seja, em Juvenis, Juniores, Seniores e Veteranos. “A nossa primeira preocupação é proporcionar aos jovens o contato desportivo. Depois, se os pudermos levar ao rendimento e à alta competição, tanto melhor”, refere, 55

aproveitando para esclarecer que o «Paulo Murta» é apenas o rosto mais visível de uma equipa mais extensa, onde se incluem os técnicos Ricardo Nicolau, Jorge Costa, Paulo Castro e David Braz (na fase inicial da época), mas também os responsáveis pelos transportes António Cabecinha e Tiago Baguinho. Um trabalho realizado com um tremendo amor à camisola e ao desporto que supera umas condições de treino que não são as ideais, já que o Clube Oriental de Pechão não possui uma pista de atletismo à altura dos seus pergaminhos. Apesar disso, e conforme já referido, trouxeram para o concelho de Olhão mais de 150 títulos regionais e 11 nacionais. “Em juvenis, juniores, sub-23 e seniores vencemos a Pista em masculinos e femininos, e a Pista é composta por 22 provas, desde os saltos aos lançamentos, das corridas às provas de obstáculos, estafetas e marcha”, destaca Paulo Murta, com a vitória a repetir-se também no Campeonato de Inverno. “No Corta-Mato, em 12 títulos em disputa, o COP venceu oito, nas iniciadas, juvenis masculinos e femininos, juniores masculinos e seniores femininos. Na Marcha de Estrada, foram mais sete ou oito títulos, desde os benjamins às seniores femininos”, prossegue o coordenador da Equipa Técnica. Feitos alcançados em 86 provas, ou seja, houve fins-de-semana com atletas do Clube Oriental de Pechão ALGARVE INFORMATIVO #73


em ação em diferentes pontos de Portugal, o que traz uma dificuldade acrescida ao nível dos transportes, já que os campeonatos realizam-se todos de Lisboa para cima. Independentemente disso, e no plano individual, o entrevistado realça os triunfos de Carolina Costa nos Campeonatos Nacionais de Marcha de Estrada, Pista Coberta e Pista Ar Livre; de Ana ALGARVE INFORMATIVO #73

Cabecinha, Rodrigo Marques e Edna Barros em Pista Coberta e Pista Ar Livre; e de Edson Barros e Fatoumata Diallo em Pista Ar Livre. No plano coletivo, Paulo Murta fala das vitórias na Marcha das Iniciadas e Juvenis Femininas e da Estafeta Medley Juvenis, onde o COP se superiorizou a equipas como o Sporting e Benfica,

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mas também no triunfo na Taça de Portugal de Marcha Atlética Feminina. Não admira, por isso, que os atletas do Clube Oriental de Pechão sejam frequentemente chamados a representar Portugal além-fronteiras e Ana Cabecinha é apenas o nome mais mediático, a ela juntando-se Rodrigue Marques, Edna Barros, Carolina Costa e 57

Fatoumatta Diallo, esta última trazendo para o Algarve duas medalhas de ouro nos Jogos da CPLP, nos 400 metros individuais e na estafeta. “Foi, de facto, um ano extremamente positivo, mas não sabemos até quando conseguiremos prosseguir com este trabalho. Isto é tudo muito bonito até irem para a faculdade, depois, falta o tal ALGARVE INFORMATIVO #73


Jovens do Clube Oriental de Pechão que foram ao Campeonato de Clubes Pista Coberta

enquadramento para estudarem e treinarem em simultâneo. No primeiro ano do curso superior ainda conseguem conciliar, mais ou menos, as duas coisas, depois, têm que optar pelos estudos ou pelo desporto”, frisa o técnico. Resumindo, matéria-prima de qualidade não falta no Algarve e no concelho de Olhão, know-how abunda na equipa técnica coordenada por Paulo Murta, mas o futuro depende, essencialmente, de fatores que não estão nas mãos dos treinadores ou dirigentes desportivos. “Isto são ciclos, mas temos tido a sorte, no Clube Oriental de Pechão, da grande maioria das nossas fornadas de atletas serem muito boas. Nas questões ligadas à estrutura do desporto em Portugal, não somos nós que decidimos, apenas podemos dar opiniões, mas este Ministro da Educação ALGARVE INFORMATIVO #73

e do Desporto vive intensamente o desporto, conhece o trabalho dos jovens, dos treinadores e dos clubes e está atento a esta matéria”, salienta, embora avise que não basta dizer que, a partir do próximo ano letivo, passa a haver educação física nas escolas. “E quem é que vai dar aulas? Que carga horária vai ter? Que conteúdos vão ser transportados? E onde está o orçamento para isso? Mais à frente, preocupa-me a integração dos atletas na universidade, porque nem todos os pais têm condições financeiras para permitir que os sonhos dos seus filhos se concretizem. Infelizmente, trabalhamos muitos atletas para chegarem a um nível médio/alto, que depois ficam pelo caminho na altura de escolherem o seu futuro académico e profissional” .

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CIAC tem pela frente anos de muita investigação e produção artística Depois de quase sucumbir aos cortes orçamentais infligidos pelo anterior governo, o CIAC – Centro de Investigação em Artes e Comunicação está a reerguerse, qual fénix renascida das cinzas, e tem já diversos projetos aprovados por diversas entidades, públicas e privadas, entre eles um do Programa Algarve. A coordenar uma vasta equipa de investigadores e bolseiros está Mirian Tavares, que nos dá a conhecer um pouco melhor este centro sediado na Universidade do Algarve, mas com trabalho realizado em vários países europeus. Entrevista:

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Jornadas do CIAC - evento organizado periodicamente para dar a conhecer os projetos dos investigadores

na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve que está sedeado o CIAC – Centro de Investigação em Artes e Comunicação, fundado em 2008 como resultado da fusão de dois centros de investigação não financiados: o Centro de Investigação em Ciências da Comunicação e Artes (Universidade do Algarve) e o Centro de Investigação em Teatro e Cinema (Escola Superior de Teatro e Cinema do IPL). A atuar na área dos estudos artísticos, o CIAC manteve desde sempre um carácter interdisciplinar, desenvolvendo investigação na área dos estudos artísticos (artes, cinema, teatro) e comunicação e, mais recentemente, na produção de plataformas e artefactos digitais.

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Com o atual reitor da Universidade do Algarve, António Branco, a ser o primeiro responsável pelo CIAC, foi feita na altura uma candidatura à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que atribuiu ao centro a classificação de «Excelente». “A nossa ideia era juntar as valências que possuíamos na UAlg nas Artes – onde temos vários investigadores nas áreas do cinema, das artes performativas e das artes visuais – com a comunicação, no aspeto da literacia, ou seja, trabalhar com a capacidade das pessoas para perceberem aquilo que ouvem, veem e escutam”, explica Mirian Tavares, a atual coordenadora do CIAC. “Não queremos apenas produzir investigação, mas sobretudo produzir conhecimento para que o cidadão comum tenha acesso a todas 64


essas linguagens”, acrescenta a diretora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Criar um público com as ferramentas necessárias para desfrutar de produção artística é um dos objetivos, então, do CIAC, mas Mirian Tavares lembra que as Artes também assumiram um novo papel dentro das universidades no passado recente. “Antes, ao artista não era exigido, de um modo geral, que tivesse um doutoramento ou que fizesse investigação. Aqueles que o faziam, tinham um pendor mais académico e teórico. Por outro lado, a produção artística dentro do contexto universitário também passou a assumir um cariz de investigação mais prática, de construção de um conhecimento não apenas refletivo, mas de objetos artísticos concretos”, explica a professora. Investigação ligada à arte que não significa, de facto, uma aproximação demasiado experimentalista e sem aplicabilidade no dia-a-dia, com Mirian Tavares a dar o exemplo do trabalho desenvolvido no polo do CIAC na Universidade Aberta, em Lisboa, onde está instalado um laboratório de investigação em artes digitais – Invitro Lab – que envolve criação, ensino e reflexão sobre as questões ligadas a esse universo específico. “É coordenado pelo professor Adérito Marcos e possui um doutoramento em Media e Arte Digital em que se faz investigação de ponta que tem um aspeto artístico muito forte, mas também tem ligações com a ciência no sentido mais lato do termo. Um dos meus orientandos, o 65

Rodolfo Quintas, é um artista que iniciou um projeto com uma escultura sonora e que agora, graças a um financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, vai tentar criar capacidades cognitivas a pessoas cegas através do som. De um projeto artístico criou-se um projeto com uma finalidade específica e onde estão envolvidos psicólogos, terapeutas corporais e outros”, conta a entrevistada. Outros artistas como Pedro Cabral Santos, Xana, Rui Sanches ou Tiago Batista, com uma linguagem própria desenvolvida há vários anos, trabalham em colaboração com o CIAC e dai surgem reflexões sobre os processos e produtos artísticos. “Nesses casos, a investigação em artes é como se fosse uma continuação da sua própria criação, mas dentro de um contexto mais académico. O Rui Sanches é um artista internacional com uma carreira super reconhecida e vai agora defender um doutoramento sobre a sua ação nos anos 70 e 80 até à atualidade e que faz também todo um percurso sobre a escultura contemporânea”, refere Mirian Tavares, passando a falar sobre Tiago Batista, ligado ao desenho em papel e tridimensional. “Está a fazer um doutoramento sobre a relação do desenho construído a partir de máquinas”. Ao CIAC está igualmente associado o PESTE, grupo de teatro coordenado pelo reitor António Branco, que desenvolve experiências na área da linguagem teatral.

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Produtos específicos mas que não estão direcionados para um público restrito, sendo consumidos por historiadores e investigadores, que assim têm acesso a materiais que, de outra forma, seriam difíceis de obter, mas também pelo cidadão comum, uma vez que esses trabalhos normalmente culminam numa exposição, peça de teatro ou noutros formatos de espetáculo. “Penso que isso faz parte do processo natural das universidades de comunicar para o exterior aquilo que se faz dentro das academias. Não nos preocupamos apenas com a literacia dos media, mas também em partilhar aquilo que é desenvolvido nos centros de investigação”, sublinha.

Reflexões com aplicações bem reais Em alta no CIAC está a investigação que liga as artes às ciências, como sejam as plataformas digitais, realidades virtuais, videojogos ou impressão a três dimensões, mas arranjar financiamento continua a ser uma tarefa árdua. Apesar disso, já foram registadas diversas patentes e Mirian Tavares chama a atenção para Bruno Silva, professor no curso de Comunicação da Universidade do Algarve e que trabalha com cinema interativo. “Concebeu uma plataforma em que o espetador faz parte do processo de criação do filme, é ele que decide qual o enredo, o ângulo em que a história vai ser contada. O Rui António já fez vários filmes, esteve representado no Fantasporto e agora está a desenvolver filmes para tablets ALGARVE INFORMATIVO #73

onde as pessoas podem interagir diretamente na narrativa. No caso do Bruno Silva, estamos a tentar avançar com o projeto do cinema interativo total, imersivo, onde se tenha igualmente acesso à parte dos cheiros, sabores, de todos os sentidos”, adianta a coordenadora do CIAC. Projetos não faltam, pelos vistos, neste centro de investigação e Mirian Tavares aborda outro de Rodolfo Quintas, cujo coorientador é um professor da Universidade de Harvard ligado à bioquímica, e no qual construiu uma escultura de 100 toneladas onde será reproduzido todo o processo através do qual uma célula reconhece e interage com aquilo que a rodeia. “Exigiu um enorme trabalho de software e hardware, novos projetores e novas formas de reflexão de imagem”, destaca a entrevistada, antes de falar de outro investigador, Pedro Veiga, há muitos anos envolvido com a arte convencional e digital. “Criou agora um software de reconhecimento facial com uma possibilidade quase infinita de reconhecimento e alteração do rosto. É um produto artístico que pode ser utilizado num contexto prático e ele está a tentar criar um ecossistema de funcionamento de entidades culturais a partir de uma base digital, para melhorar e otimizar as suas relações com o público em geral, empresas e entidades”. À medida que a conversa se vai desenrolando, constata-se que 66


Inauguração na TREM da exposição Spaces de Rodrigo Bettencourt da Câmara

existem, então, uma série de investigadores, uns provenientes do meio académico, outros artistas de vocação profissional, que poderiam estar a desenvolver os seus projetos de forma individual mas preferem associarse ao CIAC e os motivos são fáceis de explicar, de acordo com Mirian Tavares. “Uma das vantagens é a possibilidade de colocar em confronto, no bom sentido, várias pessoas, com valências distintas, e que percebem que podem trabalhar em conjunto. Tendo um centro como suporte também torna mais fácil a obtenção de financiamentos externos e, por outro lado, essas investigações geram artigos científicos e produtos que são de cariz académico para o próprio currículo do investigador”, salienta a coordenadora. “A principal função do CIAC é funcionar como uma plataforma de agregação de 67

conhecimento para a produção de algo novo a partir dessas fusões. Outra forma de estar em contato com o público é o lançamento de livros, que vamos retomar já em setembro, desta feita com a Editora Grácio, de Coimbra”.

As dificuldades habituais de financiamento Este centro de investigação, conforme já se percebeu, não está limitado ao universo da Universidade do Algarve, atravessando, inclusive, as fronteiras de Portugal, com colaboradores em Espanha, França, Áustria e Rússia. Outro projeto do CIAC aprovado recentemente de produção digital vocacionada para o ensino de adultos à distância vai ALGARVE INFORMATIVO #73


Ciclo de artes Visuais 2015-2016 com Ramuel Rama - organizado pelo CIAC em parceria com a Licenciatura em Artes Visuais

envolver a Bélgica, França, Itália, mas a entrevistada realça igualmente a vertente de curadoria de exposições, sendo responsáveis pela programação da Galeria Trem e pela programação artística das Ruínas Romanas de Milreu. “Como sentimos necessidade de produzir mais coisas e de dar mais visibilidade ao que fazemos, concorremos, em parceria com uma associação artística de Lisboa – P28 – ao Programa Algarve das Secretarias de Estado do Turismo e da Cultura, um dos nossos projetos foi selecionado e vai ser inaugurado em outubro em quatro cidades da região”, revela. Esta profusão de projetos de investigação e de produção artística não tem sido, contudo, constante, pelos motivos que se adivinham, a escassez de financiamento num país ALGARVE INFORMATIVO #73

que vai apostando ou não na cultura, arte e ciência conforme o partido político que está no governo. “Parece que, felizmente, houve uma mudança na forma de se olhar para as ciências e a cultura. Quando o CIAC abriu portas, teve uma avaliação de «excelente», atribuída por um painel de avaliadores internacionais, todavia, aquando da avaliação realizada pelo anterior governo, houve um tremendo corte dos apoios financeiros. Quase metade dos centros de investigação de Portugal foram profundamente prejudicados e o CIAC obteve um financiamento quase nulo, meramente de sobrevivência”, aponta a entrevistada, com vários projetos a ficarem parados em resultado disso.

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Claro que houve algumas exceções a esta razia orçamental, um deles o do «Romanceiro.Pt», coordenado por Pedro Ferré e Sandra Coto, que conseguiu ter apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Manuel Viegas, de Querença. Agora, porém, está à vista um novo fôlego para o CIAC, já com projetos aprovados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, pela Fundação Calouste Gulbenkian, pelo Erasmus Plus e pelo Programa Algarve. “Entretanto, a FCT decidiu proporcionar verbas aos centros que, na sua visão, têm viabilidade, para que se consigam reerguer e se prepararem para a nova avaliação, que acontecerá no final de 2017, e o CIAC recebeu uma resposta positiva ao financiamento solicitado para esse efeito. Vamos conseguir voltar a contratar bolseiros para dar andamento aos projetos que estavam parados. As pessoas têm a ideia de que a arte se pode fazer com muito pouco, mas nós pretendemos criar uma série de plataformas para disponibilizar toda a investigação e produção artística realizada no seio do CIAC e isso exige dinheiro”, enfatiza Mirian Tavares. Em final de conversa, a coordenadora do Centro de Investigação em Artes e Comunicação enaltece a maior sensibilidade do atual Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para esta matéria, salientando que as Artes 69

e a Cultura não devem ser colocados de parte, por fazerem parte daquilo que nos constitui como seres humanos. “Não nos podemos esquecer que somos compostos por várias partes e que aquilo que nos torna civilizados e mais empáticos, com capacidade de termos compaixão e percebemos os outros, é um processo de criação que vem da cultura e das artes. As Ciências Humanas e as Artes são essenciais para a sobrevivência da Humanidade porque, a continuarmos neste caminho, qualquer dia esquecemonos que fazemos todos parte do mesmo planeta”, alerta Mirian Tavares, confiante de que os próximos anos serão de grande agitação no CIAC. “Somos reconhecidos pelos mecanismos internos como um centro com valor e qualidade, mas não podemos depender apenas da boa vontade de governos para continuarmos a funcionar”, conclui .

Inauguração de (In)coberto de Bertílio Martins, colaborador do CIAC, na Galeria Trem

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ANDRÉ SOUSA VOLTA A SURPREENDER COM «O HOMEM QUE ME FIZESTE SER» Depois da estreia empolgante, em 2015, com o livro de poesia «Juro Amar-te», André Sousa tem nova obra no mercado, «O Homem que me fizeste ser», que combina, de forma surpreendente, poesia, prova e fotografia. Aproveitando um período de férias em Armação de Pêra, o Algarve Informativo esteve à conversa com o técnico superior de ação social para conhecer melhor o livro e para saber que mais surpresas o algarvio reserva para os seus fãs. Texto:

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Fotografia:

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ançado pela Chiado Editora, «O Homem que me fizeste ser» é o segundo livro do armacenense André Sousa e promete repetir o sucesso alcançado pelo seu antecessor - «Juro Amar-te» - embora seja um formato diferente, diria até inovador, por conciliar a poesia com a prosa e a fotografia. “Tem sido um ano de muitas surpresas, o «Juro Amar-te» teve uma enorme aceitação em Portugal e já está à venda no Brasil, Angola e em alguns países da União Europeia. O «Homem que me fizeste ser» é um diário que vai desde 1990 a 2016 e fala de um percurso de vida que se pode adaptar perfeitamente a qualquer pessoa que o leia, com vários percalços, outras coisas a correrem bem, e por aí adiante”, explica o licenciado em Sociologia e Mestre em Educação Social. «Juro Amar-te» que foi um género de compilação dos poemas que André Sousa tinha escrito ao longo dos anos e que ia publicando regularmente no seu blogue e página do Facebook e o autor sentiu que as pessoas lhe pediam algo mais arrojado, diferente, em suma, novo. O seu número de seguidores no Facebook, entretanto, tinha aumentado exponencialmente, de oito para 62 mil no espaço de um ano, de tal modo que as expetativas da própria editora cresceram. “Para corresponder a esse sentimento apostei numa verdadeira novidade, este é o primeiro livro em Portugal a conjugar prosa, poesia e

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fotografia”, refere o entrevistado, indicando que já tinha alguma prosa guardado na gaveta e que as fotografias são uma paixão antiga, umas tiradas em Armação de Pêra e noutros pontos do Algarve, outras em Lisboa. Seguindo uma estratégia que já tinha dado bons resultados no passado, André Sousa começou por publicar pequenos textos para aferir da aceitação das pessoas e, ao ver a reação positiva, arregaçou mangas e foi em frente, mas depressa constatou que escrever uma história é bem diferente do que criar poemas avulsos. “Este livro exigiu um trabalho mais exaustivo, foram muitas horas a tentar que a história tivesse uma sequência lógica e que não fosse algo rotineiro. Não queria que as pessoas soubessem logo o que ia acontecer a seguir, mas que houvesse algumas quebras para gerar uma maior vontade para descobrir o que ia acontecer no dia seguinte do diário. Foi, também, uma escrita bastante mais disciplinada, sem dúvida alguma. Quando me sentava tinha que saber bem o que queria escrever naquele dia”, conta, à conversa numa esplanada e a mirar a praia de Armação de Pêra. Um processo diferente, mais rigoroso, por isso, nem todos os dias nasciam novas páginas em «O

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Homem que me fizeste ser», um livro que possui muitas passagens que refletem momentos da vida de André Sousa, mas também com uma dose forte de ficção, a par de episódios com que contatou ao longo do tempo. “Os sentimento são bastante atuais e os assuntos são corriqueiros, pelo que as pessoas acabam por vivenciá-los ao longo da sua vida. Identificam-se com eles e transportam a minha escrita para as suas próprias vidas”, observa o entrevistado, confirmando que não estava à espera de tantas dificuldades

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durante o processo criativo. “Tinha algumas ideias em prosa e, quando queria juntar a poesia, notava que aquilo não batia certo. É muito difícil passar de um tipo de escrita para o outro”, admite. As dificuldades foram, contudo, ultrapassadas, mesmo não tendo nenhuma obra ou autor que pudessem servir de referência, por ser o primeiro do género no nosso país. Mas, depois de desbravado o caminho, André Sousa está maravilhado com o produto final. “Quando o livro me chegou fisicamente à mão, não estava à espera que ficasse tão bom. As fotografias, conjugadas no texto e no diário em si, não poderia, efetivamente, pedir melhor”, garante.

Mais uma surpresa a caminho 2016 foi, de facto, um ano de mudanças para André Sousa, quer no estilo literário da sua mais recente obra, mas também em termos pessoais e profissionais, pois mudou-se de Armação de Pêra para Lisboa, pelo que sente ainda mais orgulho quando folheia «O Homem que me fizeste ser». “Foi um livro que me deu imenso trabalho, que me roubou inúmeras horas de sono, mas revejo-me muito naquelas palavras que ali estão.

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Não há como criticar algo que ali possa estar mal, estou bastante descansado com o que apresentei e a resposta dos leitores está a ser bastante animadora”, sublinha o técnico superior de ação social na Junta de Freguesia da Penha de França, em Lisboa. Na génese da mudança para a capital esteve o desejo de desenvolver ainda mais a sua escrita e para estar mais próximo das oportunidades que escasseiam no difícil mercado literário. “Era uma troca inevitável, apesar de continuar a adorar o Algarve e vir sempre a correr para cá quando tenho algum tempo livre. A qualidade de vida é completamente diferente na nossa região, mas senti que precisava ir para Lisboa para dar um passo em frente também em termos profissionais”, conta André Sousa, assegurando que o sucesso alcançado com «Juro Amar-te» não alterou as suas perspetivas de vida. “É complicado vivermos inteiramente da escrita, mesmo quando as vendas são muito boas, porque há sempre uma percentagem a dar à editora e para os direitos de autor. Apesar disso, há sempre outras formas de escrita em que podemos trabalhar, mais de bastidores,

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onde não aparece o nosso nome, mas que ajuda a compor o orçamento”, explica. Assim sendo, André Sousa continua envolvido com a ação social, é esse o seu ganha-pão principal, a que se somam algumas ações de formação, notícias que elabora para um projeto europeu em torno da música e ajuda em guiões para peças de teatro ou televisão. E, como o autor não gosta, de facto, de rotinas, o terceiro livro deverá ser, outra vez, completamente diferente dos dois primeiros. “Não nos podemos agarrar apenas a um tipo de escrita e estarmos sempre a mostrar mais do mesmo aos nossos leitores,

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porque, assim, eles vão-se desmotivando e a aderência diminui. Com um novo tipo de escrita e de ideias, as obras tornam-se mais fortes. Tive muita sorte porque o «Juro Amar-te» continua a ser um dos livros de poesia mais vendidos a nível nacional e foi fantástico ver o meu nome nos tops da WOOK, FNAC ou Bertrand. «O Homem que me fizeste ser» tem cerca de um mês e está com uma boa recetividade. Quanto ao próximo, vamos ver se resulta tão bem”, finaliza, sem querer levantar mais a ponta do véu sobre a aventura literária que se seguirá .

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