ALGARVE INFORMATIVO #75

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17 de setembro, 2016

Marisa Ferreira é a Rainha das Vindimas’16 de Portugal aimm | dressage | teia d’impulsos | clube de surf de faro 1

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OPINIÃO 6- Daniel Pina 32 - Paulo Cunha 34 - Paulo Bernardo 36 - José Graça 38 - Bruno Inácio 40 - António Manuel Ribeiro 42 - Augusto Lima

ATUALIDADE 8 - Rainha das Vindimas

ENTREVISTAS/ REPORTAGENS 20 - Teia d’Impulsos 44 - Clube de Surf de Faro 54 - AIMM 64 - João Pedro Miranda

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Desenterraram os esqueletos dos políticos… Daniel Pina

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arou! Alto Lá! Silêncio! De repente, os «Panama Papers», a falência de bancos, o aumento de impostos, as obras paradas porque o governo se atrasou nos pagamentos, tudo isso passou para segundo plano. Tudo por causa de um livro, e ainda dizem que os portugueses perderam os seus hábitos de leitura, que só se preocupam com os jornais desportivos ou com as revistas cor-de-rosa. Claro que este é um livro especial, muito especial, porque «Eu e os Políticos», de José António Saraiva, vem revelar um conjunto de episódios polémicos, vividos na primeira pessoa pelo autor, com diversos políticos e personalidades que ocupam as páginas da história recente do nosso país. Nomes sonantes como Alberto João Jardim, Álvaro Cunhal, Aníbal Cavaco Silva, António Costa, António Guterres, António Ramalho Eanes, Diogo Freitas do Amaral, Francisco Pinto Balsemão, João Soares, Jorge Sampaio, José Manuel Durão Barroso, José Pacheco Pereira, José Sócrates, Leonor Beleza, Luís Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite, Manuel Maria Carrilho, Marcelo Rebelo de Sousa, Mário Soares, Paulo Portas, Pedro Passos Coelho, Pedro Santana Lopes, enfim, uma carrada de nomes que me ocupariam a crónica toda a enumerar. Para piorar ainda mais a história, pelos vistos nem são episódios polémicos normais, são de cariz amoroso e sexual, conversas, desabafos, inconfidências, feitas ao experiente jornalista que foi diretor do Expresso durante 23 anos, mais nove anos como diretor do Sol. Um percurso que confere total credibilidade aos relatos colocados em livro, muito mais do que se tivesse sido escrito por um qualquer cronista social ou figura do jetset cor-de-rosa. E, por isso, entende-se o desconforto que se instalou na classe política. Um desconforto que, curiosamente, não se nota quando estão escândalos políticos em cima da mesa, ou negociatas estranhas por debaixo da mesa, ou trafulhices de cariz financeiro. Nesses casos mais corriqueiros do dia-a-dia por terras de Viriato, os políticos, seja qual for o seu grau de responsabilidade, atual ou no passado, sorriem, assobiam para o lado, mantêm as suas rotinas, escudam-se atrás de advogados pagos a peso de ouro, dão entrevistas aos jornais, rádios e televisões. Queixam-se de quebras do segredo de justiça, mas vão eles próprios para os órgãos de comunicação social

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espalhar as suas verdades, são uns coitadinhos, inocentes, alvos de campanhas caluniosos com objetivos secundários. Os processos arrastam-se por anos a fio, escrevem uns livros de memórias ou de crónicas pelo meio e, na eventualidade de serem condenados, tiram uma licença sabática da política e vão passar umas férias numa cadeia de luxo. Ao fim de um punhado de anos, saem das cadeias de sorrisos nos lábios, alguns deles com melhor aspeto do que quando foram presos, com uns quilos a menos, carro de alta cilindrada à espera e, por vezes, um cargo de administrador também à sua espera para compensar as ajudas que deram aos amigos do passado ou simplesmente por não terem arrastado mais ninguém com eles quando foram condenados. Isso tudo é normal e pacífico em Portugal. Passado uns anos, já ninguém se lembra deles porque, entretanto, foram descobertos outros escândalos e os holofotes viraram-se para outros políticos. Agora, quando se trata de questões do foro amoroso, diga-se sexual, a história é outra. Os políticos não se chateiam por verem a juventude meio-despida nas redes sociais ou por iniciarem a sua vida sexual cada vez mais cedo. Muito menos se incomodam com a pouca vergonha que entra todos os dias nas casas dos portugueses via programas como a «Casa dos Segredos» e afins, com os seus concorrentes desmiolados, eles de músculos avantajados, elas de mamas grandes, que largam barbaridades da boca para fora em sinal aberto e praticam sexo de forma desinibida, umas vezes com um simples lençol a cobrir os corpos, noutras, nem com isso, não vão as audiências descer. Tudo isso é aceite de forma natural, é o entretenimento do futuro, é a geração do século XXI, são as redes sociais que fazem parte do nosso quotidiano. Contudo, quando alguém se lembra de contar esse lado dos políticos, ainda por cima no papel físico, que não desaparece no espaço sideral, é o descalabro total. Como se os portugueses não tivessem problemas mais importantes com que se preocupar do que quantas amantes ou filhos ilegítimos teve aquele político, ou se até era homossexual e nunca saiu do armário .

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Marisa Ferreira eleita Rainha das Vindimas de Portugal O Centro de Congressos do Arade, no concelho de Lagoa, vestiu-se com pompa e circunstância para eleger, no dia 10 de setembro, a Rainha das Vindimas 2016 de Portugal, com 18 candidatas provenientes de todos os pontos do país. Uma noite de glamour, beleza e juventude que ditou como grande vencedora Marisa Ferreira, da Azambuja, em mais uma iniciativa inserida no galardão «Lagoa Cidade do Vinho 2016». Texto:

Fotografia:

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A 2ª Dama de Honor, Cassandra Miranda Pinto Cunha, de Santa Marta de Penaguião, a Rainha das Vindimas 2016 de Portugal, Marisa Paula Ferraz Ferreira, da Azambuja, e a 1ª Dama de Honor, Mafalda Sofia Oliveira Macedo, de Alenquer

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om o objetivo de realçar a nível nacional a tradição de alguns municípios que organizavam os seus concursos de Rainha das Vindimas, a Associação dos Municípios Portugueses de Vinho passou a realizar, em 2008, o Concurso Nacional da Rainha das Vindimas. Este ano, e no âmbito do Galardão de «Lagoa Cidade do Vinho 2016», foi o concelho algarvio o anfitrião da grande final, cuja gala se realizou, no dia 10 de setembro, no Centro de Congressos do Arade, no Parchal. Ao todo, foram 18 as candidatas ao cetro da Rainha das Vindimas 2016 de Portugal e as jovens chegaram a Lagoa

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logo no dia 9, para uma receção oficial, no edifício da Câmara Municipal, pelo executivo camarário liderado por Francisco Martins. Logo depois houve lugar a visitas à Quinta dos Vales e ao promontório da Senhora da Rocha. A ação do dia 10 esteve concentrada no Centro de Congressos do Arade, com ensaios gerais e de produção e reuniões de trabalho com o júri. A gala final começou às 22h, com a principal sala de espetáculos do concelho de Lagoa a esgotar por completo, entre individualidades ligadas ao setor vitivinícola, familiares das concorrentes e, claro, diversas claques, que se mostraram

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bastante animadas a puxar pelas suas preferidas. Antes, porém, do primeiro desfile da noite, foram dadas as boasvindas pelo presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Francisco Martins, pelo presidente da Associação dos Municípios Portugueses do Vinho, Pedro Miguel Magalhães Ribeiro, e pelo Presidente da Rede Europeia de Cidades do Vinho, José Calixto. “Quando Lagoa concorreu a «Cidade do Vinho» pretendia, por um lado, promover o seu produto, mas também dar a conhecer o seu território e esta noite demonstra que a estratégia resultou. Estão aqui vários municípios e pessoas do norte ao sul de Portugal

que, se calhar, nunca tinham vindo a Lagoa conhecer este cantinho, saber o que Lagoa é e aquilo que tem para mostrar. Somos um dos 308 mais bonitos concelhos deste Portugal”, afirmou o edil Francisco Martins. No uso da palavra, Pedro Miguel Magalhães Ribeiro, presidente da Câmara Municipal do Cartaxo, saudou os cerca de 80 associados da AMPV, entidade que vai comemorar uma década de existência em maio de 2017. “São 10 anos a somar municípios e a partilhar experiências”, destacou o dirigente, antes de enaltecer o

O Presidente da Rede Europeia de Cidades do Vinho, José Calixto, o presidente da Associação dos Municípios Portugueses do Vinho, Pedro Miguel Magalhães Ribeiro e o presidente da Câmara Municipal de Lagoa, Francisco Martins

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A Miss Simpatia, Ariadna da Silva Araújo, de Ponte da Barca, com o vereador da Câmara Municipal de Lagoa, Luís Encarnação

A Miss Fotogenia, Inês Rosado, de Reguengos de Monsaraz

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trabalho que tem sido feito por Lagoa ao longo de 2016 e a forma como acolheu a final do concurso Rainha das Vindimas. “Os municípios têm sabido juntar-se e defender os nossos territórios e todos aprendemos bastante uns com os outros. Não nos resignamos, nem baixamos os braços, à fatalidade de muitos de nós estarem afastados de Lisboa e das grandes áreas metropolitanas do país. Acreditamos que os territórios, dentro da sua ruralidade e daquilo que é o vinho, podem ser desenvolvidos, de futuro, que podem assegurar às gerações vindouras

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melhores oportunidades do que aquelas que nós tivemos”, reforçou Pedro Ribeiro. José Calixto, por seu lado, recordou que a Rede Europeia de

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Cidades do Vinho agrega cerca de 600 cidades de toda a Europa, com particular predominância do sul do velho continente e enalteceu o facto de se ter batido, novamente, o recorde do número de concorrentes à Rainha das Vindimas. Feitas as intervenções oficiais, iniciou-se o primeiro desfile das 18 finalistas, em trajes típicos da região, momento após o qual se ficou a conhecer a primeira vencedora da

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noite, a Miss Simpatia, Ariadna da Silva Araújo, de Ponte da Barca. O primeiro interlúdio musical esteve a cargo da jovem fadista de Lagoa, Luana Gonçalves, antes das misses regressarem à passerelle, desta feita em sportswear. Concluído o segundo desfile da noite, ficou a conhecer-se a Miss Fotogenia, Inês Rosado, de Reguengos de Monsaraz. E como a noite girava em torno do vinho, teve lugar a entrega das medalhas dos vinhos premiados na 15ª edição do

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Concurso Enológico Internacional «La Selezione del Sindaco», que se realizou, de 26 a 28 de maio, na cidade de L’Aquila, em Itália, e no qual três vinhos portugueses ganharam a Medalha de Grande Ouro, prémio máximo de qualidade. As emoções estavam ao rubro, as claques permaneciam incansáveis, apesar da hora tardia, e assim se avançou para o derradeiro desfile das 18 candidatas, agora em vestido

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de noite. Um momento de grande beleza, glamour e juventude, onde as concorrentes exibiram os seus atributos e sorriram para o júri, a quem coube depois a dura decisão de escolher as damas de honor e a Rainha das Vindimas. Por isso, finalizado o desfile, os jurados recolheram aos bastidores e foi preciso praticamente meia-hora para se chegar a um consenso. Mafalda Sofia Oliveira Macedo, de

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Alenquer, e Cassandra Miranda Pinto Cunha, de Santa Marta de Penaguião, foram eleitas 1ª e 2ª Dama de Honor, respetivamente. Mais um bocadinho de suspense, nervos à flor da pele, até ser dito o nome da mais bela da noite, a Rainha das Vindimas 2016 de Portugal, Marisa Paula Ferraz Ferreira, da Azambuja .

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Um exemplo de associativismo dinâmico e com preocupações sociais A Teia d’Impulsos tem estado em grande destaque nos últimos dias, pelo arranque da terceira etapa da Rota do Petisco, mas também pela instalação do Aquário Hope no Hospital de Dia de Oncologia de Portimão. Muitos mais são, porém, os projetos de sucesso desta associação, casos da Vela Solidária, do Lota Cool Market, do Festival da Oralidade do Algarve e das Jornadas do Arade, entre outros, conforme ficamos a saber à conversa com o presidente da direção Luís Brito. Texto:

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oi apresentada ao público, no dia 8 de setembro, no Museu Municipal de Portimão, a 3ª etapa da Rota do Petisco, com a Teia d’Impulsos a dar a conhecer todas as novidades, petiscos e estabelecimentos aderentes, mas também a dar a provar alguns dos petiscos mais emblemáticos da Rota. Uns dias antes, tinha sido instalado o Aquário Hope no Hospital de Dia de Oncologia de Portimão, uma iniciativa de Pedro Bernardo que idealizou a construção de um aquário de 300 litros na sala de tratamento de quimioterapia, com o objetivo de proporcionar momentos de tranquilidade e de algo muito positivo para observarem aos doentes que ali passam várias horas a receber a necessária medicação. Dois eventos mediáticos, a Rota do Petisco pela forte implantação que já alcançou no barlavento algarvio, o Aquário Hope pelo mérito da iniciativa, que são apenas a ponta do icebergue da atividade da Teia d’Impulsos, associação nascido a 16 de março de 2011 e presidida por Luís Brito desde 2015. “Foi fruto da vontade de um grupo de amigos que já vinha desde a altura do liceu e que sentiam a necessidade de fazerem algo pela cidade onde cresceram, viviam e estavam a constituir família. Tínhamos em mente avançar com o nosso primeiro projeto, a «Vela Solidária», mas era necessário

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ter algum suporte legal para levar as nossas intenções por adiante”, recorda o dirigente, que sucedeu no cargo a Nuno Vieira. Mentor da «Vela Solidária», Luís Brito conta que, na época, colaborava com a Câmara Municipal e com a Junta de Freguesia de Portimão nas «Férias Desportivas» e apercebeu-se que várias raparigas provenientes da Casa Nossa Senhora da Conceição gostavam imenso dessa modalidade. “O problema é que, assim que acabasse aquele programa de férias, elas deixariam de ter qualquer possibilidade para praticar vela. Os clubes desportivos em geral estão pouco vocacionados e sensibilizados para estas temáticas e os custos associados são elevadíssimos”, refere o entrevistado, que apresentou os contornos do seu projeto a vários responsáveis e empresários do concelho. “Claro que a resposta foi para não pensar nisso, porque era bastante difícil e caro, porque dava muito trabalho. Como eu não gosto de ouvir «não», num mês e meio o projeto estava a ir para a frente, com 15 patrocinadores, três mil euros, uma embarcação e 23 raparigas a praticar vela durante o ano inteiro”. Foi um pontapé de saída em grande estilo para a Teia

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d’Impulsos, acima de tudo a constatação de que, normalmente, é mais fácil arregaçar as mangas e meter mãos à obra do que andar numa constante lamúria e queixumes, a colocar-se na dependência de terceiros. E o certo é que a «Vela Solidária» depressa ultrapassou as fronteiras do Algarve e atingiu uma dimensão nacional, sendo desenvolvida em Portimão, Lagos, Vila Nova de Gaia e Lisboa. “Encontramos parceiros que conseguem concretizar este projeto com o nosso apoio e ele, hoje, tem mais de 400 beneficiários diretos, crianças e jovens com problemas sociais, em risco, com deficiência”, destaca Luís Brito. O projeto seguinte foi a Rota do Petisco, cuja primeira edição foi organizada em sensivelmente mês e meio. Agora, mal termina uma edição, começa-se logo a trabalhar a próxima, garante o portimonense, que lamenta que o associativismo nem sempre tenha o reconhecimento e credibilidade que merece, o que depois influencia a obtenção de apoios financeiros. “No início, éramos inexperientes nesta área e sofremos com isso, mas foi uma boa escola”, admite, explicando que a Rota do Petisco foi uma proposta de Nuno Vieira depois de ter estado de férias no sul de Espanha, em Cádis, onde se realiza a Rota das Tapas. “Achou a iniciativa giríssima e acreditou que podia ser replicada

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em Portimão, com as necessárias adaptações. Hoje, podemos dizer que a Rota do Petisco é maior do que a Rota das Tapas”.

Rota do Petisco é barata e gera grande retorno para a comunidade Dois projetos, dois sucessos inegáveis, mas o êxito é facilmente explicável para Luís Brito. “Nós acolhemos todas as ideias,

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mediante algumas condições. Uma delas é que o preponente do projeto assuma a responsabilidade da sua concretização, a coordenação no terreno. Ninguém melhor do que essa pessoa para o desenvolver, para perceber onde ele deve crescer ou regredir”, justifica, acrescentando que outra condição é que o projeto deve trazer algo de novo e construtivo para o local onde é desenvolvido, seja do ponto de vista social, cultural ou comercial. Um sucesso que, refira-se, não foi fácil de colocar em prática, reconhece Luís Brito. “E, apesar do historial da Rota, continuamos a ter mais ou menos o mesmo problema sempre que vamos para uma zona nova. Até nós aparecermos, os únicos que organizavam eventos dentro desta área eram os municípios ou alguma

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entidade ligada ao turismo e notava-se algum descrédito em relação a eles. Felizmente, os estabelecimentos perceberam que não tínhamos nada a ver com as entidades públicas, que somos privados, sem fins lucrativos. Claro que também já se sabe melhor o impacto que a Rota do Petisco tem nas localidades, nos estabelecimento e na comunidade em geral”, aponta o presidente da Teia d’Impulsos. Sucesso que «obrigou» a Rota do Petisco a ir mais além do que Portimão, pois são muitos os concelhos interessados em participar na iniciativa, como aconteceu, este ano, com Lagos e Aljezur. “Isto só é possível se existir um suporte que nos

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permite esta expansão e os municípios compreenderam que é um evento com baixo custo e impacto bastante elevado, a nível económico e de comportamento social”, sublinha, recordando que as verbas advindas da compra do Passaporte são destinadas a causas sociais. “Nos primeiros anos, os Passaportes eram oferecidos e as pessoas começaram a desvalorizálos, deixavam-nos em casa, pediam outros, o que complicava a gestão do projeto. Para controlar a sua utilização e lhe conferir um maior valor, o Passaporte começou a ser pago e isso gerou a oportunidade de contribuir para ajudar aqueles que mais necessitam. No primeiro ano fomos nós que escolhemos os projetos sociais abrangidos, mas agora há um processo de candidaturas em que as instituições e pessoas apresentam as suas ideias e depois é decidido quais os projetos a apoiar e em que moldes”. Deste modo, em 2014, angariou-se 19 mil euros, valor que subiu, em 2015, para os 21 mil, estando a

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fasquia colocada, este ano, na ordem dos 30 mil euros, já com 12 projetos selecionados e uma ação de formação para todos os candidatos. E com forte cariz social é igualmente o Aquário Hope, recentemente colocado no Serviço de Oncologia do Hospital de Portimão, uma proposta de Pedro Bernardo. “Existem estudos que provam que, se o ambiente onde estes pacientes recebem os seus tratamentos for mais amistoso e acolhedor, os resultados são melhores. De certa forma quisemos humanizar mais um bocadinho aquele espaço e está a ser um sucesso”, garante, satisfeito. Contudo, o aquário é apenas uma gota no oceano que é

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o Projeto Hope, que tem mais valências, adianta Luís Brito, indicando que, a partir do fim de setembro, a Teia d’Impulsos deverá ter uma sede própria a funcionar, onde serão desenvolvidas várias terapias para doentes oncológicos do concelho de Portimão e arredores. “Sobretudo pessoas com dificuldades em aceder a outro tipo de serviços, por questões financeiras ou logísticas”.

Escolher bem os parceiros Para breve está, entretanto, a reativação da Teia de Ideias, debates mensais sobre temas da atualidade e que tivessem diretamente a ver com o desenvolvimento local e regional e que deram origem à publicação de dois livros, estando o terceiro volume pronto para lançar. “Estamos a pensar reiniciar esse projeto, mas não com uma regularidade tão intensa e com um modelo distinto, ou seja, com debates, workshops e outras iniciativas com assuntos que, por vezes, não são muito debatidos, mas que são importantes para a cidade”, revela Luís Brito. O Lota Cook Market é outro dos êxitos da Teia d’Impulsos que chegou de fora para dentro, prevendo, sobretudo, criar um espaço lúdico para a população durante um fim-desemana e possibilitar que os artesãos, tradicionais ou contemporâneos, mostrem aquilo

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que fazem. “Tem gastronomia e música associadas, é um minifestival que acontece há três anos”, descreve, passando a abordar outro projeto bastante querido na associação, o Fora – Festival da Oralidade do Algarve, que busca a promoção e o desenterrar das tradições orais da região e da zona de Portimão, desde as lengalengas às pragas, e que este ano será dinamizado em parceria com o Museu Municipal de Portimão, no âmbito do «Cultura sai à rua». “Em 2017, acontecerá num molde mais original, uma semana de iniciativas para não deixar morrer as nossas tradições e cultura”. Projetos não faltam, pelos vistos, na Teia d’Impulsos e em áreas bem variadas, o que não é tradicional no mundo do associativismo, face às dificuldades que toda a gente conhece. A pergunta inevitável é, pois, qual o segredo do sucesso da Teia? “Muito possivelmente advém da nossa forma de estar na vida. Quando nos comprometemos a fazer uma coisa, ela tem que ter sucesso. Claro que nem sempre atingimos o que queremos, mas esforçamonos ao máximo nesse sentido”, responde, considerando que as parcerias são outra questão fundamental no associativismo. “Sem parceiros à altura, é impossível concretizar os projetos,

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Fotografias de Antรณnio Nunes

O Aquรกrio HOPE, montado na sala de tratamentos de quimioterapia do Hospital de Dia de Oncologia de Portimรฃo

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As Jornadas do Arade, organizadas pela Teia d’Impulsos no Museu Municipal de Portimão

pois seriam financeiramente insuportáveis. Aqui, o segredo é escolher, de facto, o parceiro exato, que nem sempre é aquele que tem mais know-how, equipamento ou dinheiro. Às vezes, é melhor termos um parceiro com maior disponibilidade para colaborar do que um com maior fulgor financeiro”, garante Luís Brito. Junte-se a isso um grupo de amigos, pessoas que vão chegando à associação e que rapidamente entram para a família da Teia d’Impulsos, todos empenhados em alcançar as metas definidas, com os sacrifícios que dai resultam, a nível pessoal e profissional. “O crescimento é ilimitado em função

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da nossa vontade e disponibilidade. A nova sede é um comprometimento nosso para com a comunidade em geral e lá vamos desenvolver alguns projetos novos, nomeadamente um Centro de Empreendedorismo e Inovação com a área social e empresarial lado a lado. Em simultâneo, existirá um espaço de coworking, mas numa perspetiva mais construtiva do que aquilo que existe no Algarve, com formações e momentos de partilha associados. Esses vão ser os nossos grandes desafios nos próximos dois anos”, concretiza Luís Brito .

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A Música Portuguesa está bem e recomenda-se! Paulo Cunha interessante, dá que pensar e até pode vir a ser um bom ponto de partida para um estudo mais aprofundado, refletir sobre o atual estado da música portuguesa… em Portugal. Refiro unicamente Portugal, pois por mais que se tente colocar a música portuguesa “lá fora”, acaba sempre no catálogo destinado à música étnica ou à «world music». Um universo pequeno e restrito, mas que, paulatinamente, tem vindo a abrir algumas portas além-mar e a conquistar o respeito e a admiração de muitos que, nos seus países, viajam até nós através da nossa música.

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Apesar do visível e notório desinvestimento público - registado nos últimos anos - na formação e educação musical dos nossos jovens, são cada vez mais aqueles que procuram no “privado” aquilo que a gestão da “coisa pública” lhes tirou. Seja através do associativismo, através do ensino particular e cooperativo ou através de outras formas de ensino e aprendizagem, cada vez mais se veem jovens a perseguir o sonho de uma carreira no mundo da música. Sim… porque a atração, o apego e a felicidade que esta forma de arte proporciona ninguém lhes tira! Os resultados estão à vista e só não os vê quem não sabe ou quem não quer. No que à música diz respeito, Portugal está cada vez mais a gostar de si próprio. As causas são várias: - Uma maior e melhor valorização e promoção da música/letra composta, escrita e interpretada em português; - Uma maior diversidade na oferta de meios de comunicação, de difusão, de promoção e de partilha; - Um maior investimento na produção musical feita em Portugal; - Uma maior abertura por parte das gerações mais novas às suas tradições, à interculturalidade e à conjugação e articulação de diferentes géneros musicais.

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Por consequência todos estes fatores têm levado a que, cada vez mais, tenhamos um maior mercado interno para a “nossa” música. Tardou tal evidência e constatação, mas podemos hoje afirmar que estamos a adquirir uma identidade musical própria, feita de uma mistura descomplexada do património histórico e identitário português com um novo Portugal desejoso de crescer e reafirmar-se também através da música. É hoje possível encontrar uma paridade e equidade qualitativa entre o que por cá se faz e que nos habituámos a receber de fora. Seja qual for o género musical, os músicos portugueses estão a “dar cartas” num jogo que se quer global. E quando assim é, os que nos visitam levam consigo para os seus países mais uma das nossas preciosas riquezas: a Música Portuguesa. Há muito tempo percebi que certos países têm na sua música um património altamente exportável, sem precisar que lhos digam. Com um enorme orgulho pela sua cultura e prezando e valorizando a palavra escrita e cantada na língua de origem, levam gente como eu a visitá-los com o intuito de enquadrar e contextualizar a sua música com tudo o que a fez ser como é. Por tudo o que aqui escrevi e por muito mais, quero saudar e felicitar todos os que contribuíram - sem qualquer apoio por parte de quem está sempre pronto para colher os louros para o caminho promissor que a música feita em Portugal ora trilha! .

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Afinal, o dinheiro não falta Paulo Bernardo

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um destes dias falando com a sogra polaca de um amigo meu, a senhora muito admirada dizia-me que não entendia porque nos queixávamos que estávamos em crise. Justificando, e bem, que havia água nas torneiras, comida nos pratos, fruta nas árvores, luz nas ruas, estradas em bom estado, edifícios novos. Entendi o seu ponto de vista e tive que concordar. Por conseguinte, e nesta época do ano mais que normal, na casa de uns amigos conheci um koweitiano, que dizia o mesmo de uma forma um pouco diferente, focando-se mais nas questões naturais e na nossa segurança e civismo. Dizia que Portugal é um país perfeitamente desconhecido por parte dos países do golfo. Estas duas visões de pessoas tão diferentes nas origens e latitudes fizeram-me pensar e cheguei à seguinte conclusão: efetivamente, somos um País Fantástico. Logo após este insight, veio o espírito de velho do Restelo e fiquei logo com vontade de me lamentar. Contudo, e olhando à minha volta, comecei a refletir e fiquei com a certeza que somos um grande País. Pensando mais um pouco entendi que o País não é assim pequeno como dizem, nem pobre como nos querem fazer crer. Cheguei à conclusão que afinal o nosso problema é má gestão. Já Camões no Canto 3 dos Lusíadas escreveu o seguinte: “Se um fraco rei faz fraca a forte gente/ Muitos fracos reis enterram a forte gente”. O problema é que já estamos na fase em que enterramos a forte gente. Desde o início dos tempos fomos uns tipos de uma coragem ímpar, mas de uma gestão desastrosa, desperdiçando todas as hipóteses que fomos tendo, desde que iniciamos a primeira Globalização até hoje. O passado não podemos alterar, mas podemos escrever o futuro.

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Assim, e para que o dinheiro possa ser bem utilizado e sobre, em vez de faltar, deixo alguns exemplos de boa gestão fácil de colocar em prática. Todos os dias saem do Algarve e de todas as regiões do país doentes para Lisboa, com uma gestão e organização deplorável, aumentando em muito os custos. Todos os dias seguem para Lisboa de forma desorganizada funcionários da gestão dita desconcentrada para ir a despacho a Lisboa, cada um leva o seu veículo, pois o funcionário do serviço A não pode ir no mesmo carro do serviço B. A quantidade de edifícios vazios que o Estado detém e depois vai alugar outros não muito distantes, a recolha de lixo feita de forma desconcentrada e que, nas zonas mais distantes dos concelhos, chegam a percorrer vários quilómetros para recolher o lixo num contentor ao lado de outro de outro concelho. Os quilómetros de condutas que foram feitas por dinheiro público e oferecidas à Portugal Telecom. Os projetos redundantes feitos por entidades similares, o dinheiro que se gasta e depois se abandona por falta de visão. Os quilómetros de estradas e esgotos que se fizeram apenas para ganhar votos sem necessidade ou estratégia. Os contratos milionários a consultores, advogados, arquitetos, etc., para fazerem projetos/pareceres que os funcionários públicos que lá estão com essas competências não são solicitados para os fazer. A falta de articulação entre serviços para utilizar os muitos conhecimentos dispersos. Digam lá se o dinheiro falta .

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A Espanha merece melhor José Graça

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as últimas semanas, aventurei-me pelo País real e para além dele, aceitei o desafio de cruzar fronteiras e descobrir os limites do corpo e da alma. Como noutros tempos, peguei na mochila, calcei as botas, escolhi a rota e meti-me a caminho… Confesso que é difícil abandonar certos hábitos. Apesar das limitações auto-impostas, da opção por albergues mais económicos ou por refeições mais frugais, ainda caí na tentação de revisitar a gastronomia minhota ou de saborear um boa tigela de verde tinto. Fiquei-me por aí, consegui resistir às tentações dos frutos do mar das Rias Baixas ou da doçaria galega, que terão de ficar para outra oportunidade, com outro enquadramento… Partilho convosco esta experiência, porque quem vai desta forma leva sempre todos consigo, quem parte com carga leve e espírito livre tem mais capacidade de ver o mundo pelos olhos de quem encontra ou daqueles que repartem connosco quilómetros e conversas, sentimentos e emoções. Pior, quem leva quase quarenta anos de ligação aos jornais e às rádios, não consegue deixar em casa o repórter que teima em albergar-se no seu íntimo e acaba por fazer o comentário certo para espevitar a conversa num qualquer balcão de Ponte de Lima ou numa taberna da Padrón, acabando por tornar-se no moderador improvável de uma mesa redonda sobre os temas da atualidade… E se em Portugal, a opção do Governo pela defesa da escola pública em detrimentos do ensino privado ainda aquece os ânimos, nas terras da Galiza a temática das conversas assente amiúde no desinteresse crescente com os atores políticos. Sem Governo central vai para dez meses, os espanhóis deixaram de acreditar na capacidade dos líderes políticos de encontrar uma solução, recapitulemos… Com processos eleitorais quase paralelos, os cidadãos portugueses e espanhóis não deram uma maioria absoluta aos partidos políticos que propunham-se assumir a governação, obrigando os seus líderes a negociarem soluções governativas de base parlamentar. Se, no nosso caso, o processo decorreu de forma positiva com a nomeação do

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governo socialista com apoio dos partidos da esquerda, em Espanha foi impossível encontrar uma resposta que se traduzisse numa maioria qualificada no Congresso dos Deputados. E, para piorar o estado das coisas, repetidas as eleições em junho, o impasse perdurou… Primeiro foi Pedro Sánchez (líder do PSOE) que tentou conciliar as vontades da oposição parlamentar, mas recentemente foi a vez de Mariano Rajoy (líder do PP e presidente do governo em funções). Ambos foram incapazes de garantir a investidura, ambos parecem agarrados ao lugar, não percebendo que já fazem parte da história de Espanha. Onde é que já vimos algo parecido, prejudicando o seu partido e nada contribuindo para o futuro do país?! Em Espanha, há eleições regionais na Galiza e no País Basco na próxima semana. Até lá, nada se resolverá e, numa perspetiva muito galega, tudo ficará como antes… ou algo poderá mudar?! Vencedora na Andaluzia, capaz de dialogar à esquerda e à direita e com provas dadas na Junta da Comunidade Autónoma, Susana Díaz Pacheco quebrou o silêncio nos últimos dias e disse aquilo que muitos socialistas sussurram. Sem resultados sólidos e sem capacidade para formar governo, o PSOE deve continuar na oposição, desempenhando esse papel com responsabilidade ativa e prepararse melhor para ser uma alternativa consistente. Porque, mesmo para o Caminhante que atreveu-se a ultrapassar os seus limites, a Espanha merece melhor! PS - Em Portugal, na pior das hipóteses, teremos que esperar pelas Autárquicas de 2017, para percebermos se alguém aprendeu a ler… entretanto! . NOTA – Poderá consultar os artigos anteriores sobre estas e outras matérias no meu blogue (www.terradosol.blogspot.com) ou na página www.facebook.com/josegraca1966 (Membro do Secretariado Regional do PS-Algarve e da Assembleia Intermunicipal do Algarve) 36


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38% / UAlg a consolidar / Carlos Gouveia Martins / Monchique Bruno Inácio

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8% das dormidas de visitantes internacionais a Portugal entre Janeiro e Julho foram no Algarve. Atrás do Algarve ficam Lisboa e a Madeira. Por mercado emissor 67% dos turistas do Reino Unido que vêm a Portugal preferem o Algarve. Madeira e Lisboa somados ficam-se pelos 28,9%. No Golfe, no primeiro semestre do ano, foram atingidas quase 700 mil voltas, um aumento de 14,9% relativamente ao período homólogo. Nunca será demais sublinhar estes e outros números que mostram a vitalidade do Algarve enquanto destino turístico líder em Portugal. Isto porque o lobby centralista (voluntário ou involuntário) sobrevaloriza constantemente a importância de outros destinos nacionais, nomeadamente Lisboa, em detrimento do Algarve. E, enquanto algarvios, nunca podemos deixar de exigir mais investimento público de qualidade para a região, como de resto, o Presidente da RTA, Desidério Silva faz regularmente e bem. UALG a consolidar Dados desta semana, da primeira fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, mostram que a Universidade do Algarve consolida a sua procura por parte de estudantes do Algarve, do resto do País e até internacionais. A UAlg cresce mais no número de colocados na primeira opção relativamente ao resto do País. A Universidade é cada vez mais um ponto de encontro de jovens de locais diferentes e essa é uma boa notícia porque como muito bem diz o Reitor da instituição, António Branco, a UAlg está a “se transformar numa das mais cosmopolitas do país”. Para o Algarve, região de turismo por excelência, ter um centro de conhecimento cosmopolita é um garante da capacidade de renovação das classes profissionais fundamentais para o contínuo desenvolvimento da região. Carlos Gouveia Martins É sempre mais fácil apontar o dedo às “jotas”, embrulhar os que lá estão com o mesmo papel químico e decalcar um conjunto de ideias feitas que ALGARVE INFORMATIVO #75

soam sempre bem na mesa de qualquer café social. Difícil será, para esses profissionais de maledicência, admitir a coragem daqueles que nas “jotas” ousam romper com as amarras do “pensamento único” e colocar na agenda pública os debates que importam. É o que o Carlos Gouveia Martins, presidente da JSD/Algarve, está a fazer ao lançar a proposta da limitação dos mandatos do Deputados. Goste-se mais ou menos da ideia, a verdade é que hoje em dia é difícil compreender porque é que estes eleitos não têm um teto temporal como outros eleitos em Portugal. Monchique Setembro foi um mês negro para um dos pulmões do Algarve, a Serra de Monchique viu devastada pelo fogo mais de 2200 hectares do seu território. Ironia do destino. Em Julho deste ano escrevia, nesta coluna de opinião, um parágrafo sobre o reforço do contingente de vigilância à floresta por parte do Município de Monchique com vista a detetar precocemente os incêndios. O fogo é fatal e por muita vigilância que se reforce, o seu poder é imenso. Resta preparar o território para tentar evitar que volte a acontecer. Porque não sou de todo conhecedor da matéria, mas porque julgo que é de interesse geral, deixo três notas em jeito de sugestão de leitura para melhor percebermos o caminho a seguir. As declarações de Rui André, Presidente da Câmara Municipal de Monchique que pretende lançar um Plano Municipal da Floresta que segundo o mesmo “não é focado apenas nas atividades do corte das madeiras, mas abrangendo tudo o que se pode fazer na floresta”. Um artigo do Deputado Cristóvão Norte que aborda a questão do ponto de vista do abandono das terras, do emparcelamento e a questão fiscal do IMI rústico. E finalmente um artigo do Miguel Freitas, ex-Deputado e conhecedor da matéria que resumo numa das suas frases: “Preconizo um modelo de organização com base intermunicipal em matéria de planeamento e execução das operações de prevenção, e um modelo de financiamento em função do risco” . 38


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Nação Valente António Manuel Ribeiro

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ostaria de iniciar hoje uma publicação regular de crónicas com os meus pontos de vista – opiniões – sobre o mundo à volta, o aqui e o mais longe. Começo pela «Sociedade», e o título do programa de 12 de setembro da RTP, «Nação Valente», onde, mais do que ajudar financeiramente, valia a homenagem às mulheres e homens bombeiros que apagaram o braseiro português deste Verão. Não é inevitável; não tem de ser assim. Uma vez mais os artistas portugueses contribuíram com o seu trabalho para uma causa – há 4 ou 5 anos, no MEO Arena, até telefonista fui para angariar euros para as insuficiências. Comecemos por nós. Na passada quinta-feira, de regresso de uma entrevista na Sesimbra FM ao cair da noite quente, seguia numa fila de trânsito lento pela N378, quando, à minha frente, na hora em que os noticiários apresentavam os fogos como uma desgraça a consumir, vi sair da janela do condutor uma beata para o alcatrão escurecido da faixa contrária. Rolou, partiu-se em bocaditos incandescentes; tentei que os pneus largos do meu carro fossem suficientes para os apagar. Talvez. Cresceu uma enorme revolta em mim. Onde andaria a consciência daquelas duas cabeças que seguiam no carro da frente? Por tudo isto, começa a ser cansativa e miserável, o nosso miserabilismo crónico, ver acontecer, abrir a boca de pasmo, invocar «eles» sem nunca os definir e tudo continuar na mesma.

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Sabemos que há negócios à volta das chamas. Não só nos helicópteros, mas em muitos fornecedores industriais que repõem a logística que arde, em indigentes que a troco de 10 euros pegam fogo por aí, entre vizinhos desavindos a quem depois o vento cobra tributo e vingança. Sabemos. Todos os governos sabem. Começa por nós a mudança. Portugal definha e esse é um estatuto que desprezo. Disco do dia (na verdade desde ontem): Joan Baez – «75th Birthday Celebration». Ao vivo, fantástico para quem aprecia música acústica folk, de personalidades engagé. Duetos brilhantes com David Crosby, Paul Simon, Judy Collins e Richard Thompson. Uma alegria em formato duplo. Se a imagem dela na capa pode estar tratada pelo photoshop, acreditem que a voz não. Assim como o picking (dedilhado folk americano) da Martin acústica. Simples e saboroso, como a chegada da chuva: a terra começa a ter cheiro .

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Sabemos comer? Definitivamente, não! Augusto Lima

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á alimentos que se não devem ingerir juntos, outros que nunca o deveríamos ter incluído na nossa alimentação como essencial à vida, outros ainda que nem alimentos são se questionarmos a própria palavra – Alimento, conjunto de nutrientes que nos alimentam, nutrem, fornecendo bens essenciais à vida, cumprindo o objetivo de saciar e de dar prazer, coisa que deveria estar sempre associada ao alimento. Há propaganda nociva que contribui para o nosso mal-estar e com o acordo de associações ou organismos que foram, numa primeira abordagem, pensados para defenderem o consumidor, fornecendo guias para uma melhor alimentação. Falo da FAO – Food and Agriculture Organization – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, da OMS – Organização Mundial da Saúde, subordinada à Organização das Nações Unidas e criada com o objetivo de desenvolver ao máximo possível o nível de saúde de todos os povos, melhorando o estado de completo bem-estar físico, mental e social dos cidadãos, e de outras tantas que se deixaram corromper com o brilho do dinheiro. Acredito que deveríamos todos ter aulas de nutrição e de Cozinha e que deveria mesmo ser instituído nas escolas estas cátedras para o ensino geral. Acredito que deveriam todos os estabelecimentos de comidas e bebidas serem supervisionados por um técnico de Cozinha e que deveria haver legislação capaz sobre esta matéria. Os restaurantes carregam o peso (retirado em grande parte pela falta de Donas de Casa/Mães com tempo/desejo), da responsabilidade de proporcionar bem-estar e saúde. Noventa por cento dos Cozinheiros (leia-se, Profissional que pratica o ato de cozinhar/confecionar alimentos), não exerce/pratica a sua função com saber ou gosto. Noventa e cinco por cento dos consumidores não sabem o que comem e como devem comer. A ignorância não é um erro mas um defeito que podemos desfazer. O pior que nos pode acontecer ao findar uma refeição num restaurante é dizer – Fazia melhor/comia melhor em casa! – Não há dinheiro mais

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mal empregue, não é? Quantas vezes, ouvimos dizer (você mesmo) – Não gosto de carne mal passada, ou – Detesto ver sangue na carne? Saibam que o sangue (tecido conjuntivo líquido, produzido pela medula óssea, que circula através do plasma, pelo sistema vascular, de cor vermelha, pelo oxigénio que transporta), é completamente drenado após o animal morto, esquartejado e lavado. Uma peça de carne vermelha (pela OMS designada de toda o tipo de carne proveniente de mamíferos, incluindo as carnes bovina, suína, ovina, equina e caprina), assim chamada pela pigmentação de cor vermelha produzidas por duas proteínas: a Mioglobina, pigmento muscular que retém o oxigénio nos tecidos e a Hemoglobina, o pigmento sanguíneo responsável pelo transporte de oxigénio. Em contacto com o oxigénio, compõe-se uma outra proteína, a Oxiomioglobina, responsável pela coloração vermelha. Não é sangue o que vemos numa peça grelhada ou assada. Essa pigmentação vermelha, se descolora, assim como o líquido (água) se evapora à medida que a concentração de calor aumenta. Perdendo líquidos, a peça de carne fica desidratada, logo mais rija e sem nutrientes. E se colocarmos sal (um desidratante) por cima das carnes antes de as grelhar, aumentará a perda de líquidos. Carnes brancas são provenientes de animais de capoeira, não mamíferos, com menor teor de Hemoglobina e Mioglobina A cor da carne indica a concentração de mioglobina e seu estado de oxigenação ou oxidação na sua superfície, constituição. Hoje, assistimos a uma cada vez maior manipulação deste facto, com a injeção de Oxiomioglobina nas peças vendidas em cuvetes nos supermercados, aumentando a água (mais peso, mais dinheiro, pagando nós a água ao preço da carne) e a cor (mais atrativo, maior numero de vendas). A molécula do Gosto está descoberta e em laboratório podemos obtê-lo, assim como cor e cheiro apetecíveis em qualquer produto não saudável. A informação é uma obrigação! .

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“Surf é importante para combater a sazonalidade”, garante Manuel Mestre Manuel Mestre, fundador e presidente do Clube de Surf de Faro, foi um dos homenageados pela Autarquia de Faro no Dia do Município que se assinalou a 7 de setembro. Uma distinção mais que justa para um dirigente e pedagogo que muito tem feito pelo desporto na capital algarvia e que não tem papas na língua quando não concorda com aquilo que vê, nomeadamente com a falta de apoio, e de importância, que se continua a dar ao surf no Algarve, sobretudo nas camadas de formação e na promoção externa. Texto:

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s turistas do agosto algarvio já regressaram às suas origens, mas isso não impede a Praia de Faro de continuar bastante ativa e para isso muito contribui o Clube de Surf de Faro e as aulas que ministra diariamente nas modalidades de surf, bodyboard e longboard. E foi precisamente antes de uma aula de iniciação a visitantes espanhóis que estivemos à conversa com Manuel Mestre, o «Necas», como é conhecido no mundo do surf, que viajou mais de duas décadas no tempo para nos contar como começou esta aventura. Isto porque, embora o Clube de Surf de Faro tenha sido legalmente constituído em 1996, já existia no terreno antes disso. “Até essa data, os subsídios camarários e da Direção Geral dos Desportos não requeriam uma entidade constituída, bastava um grupo de amigos apresentar um projeto para solicitar apoios, que depois seriam ou não concedidos, como é normal. Para organizarmos campeonatos a nível nacional também precisávamos ser uma entidade federada mas, curiosamente, nós somos mais antigos que a própria Federação Portuguesa de Surf”, relata o presidente.

aulas a algumas pessoas por uma questão de marketing. O meu primeiro grupo de alunos foram seis meninas, no ano seguinte oficializamos a escola de surf e tem sido uma bola de neve desde então”, indica Necas, não fazendo a mínima ideia do número de jovens que já passaram pelo clube nestas quase duas décadas. “Em 2015, só nas Férias Desportivas, estiverem aqui 977 crianças, dos quatro aos 16 anos, durante 11 semanas. Esse programa existe há 12 anos, portanto, já formámos milhares de jovens, muitos deles continuaram na nossa

Unidos pela paixão pela modalidade, Manuel Mestre criou, então, o Clube de Surf de Faro em parceria com a esposa, Ana Lúcia Mestre, atualmente a presidente da Assembleia-Geral, e da organização de provas regionais e nacionais depressa se passou à formação de novos praticantes. “Eu tinha, em 1998, uma surf shop, uma das primeiras do país, e comecei a dar ALGARVE INFORMATIVO #75

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escola de surf, alguns tornaram-se campeões nacionais, e só deixaram de estar connosco na altura de irem para a universidade”, reforça o entrevistado. O Clube de Surf de Faro é, de facto, uma família para a qual se entra bastante novo, ali se passa a adolescência, e dali saem homens e mulheres para prosseguirem a sua formação académica no ensino superior. Apesar disso, manter uma escola de surf a funcionar o ano inteiro não é fácil, até porque este desporto está bastante associado ao Verão, à imagem de praia e diversão, e não propriamente ao rigor

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de outras modalidades de alta competição. “Uma coisa é estarmos num campo de futebol com os amigos a bater uma bola contra uma baliza, outra coisa é querermos ser jogadores amadores/semiprofissionais ou profissionais. No surf, quem opta pela competição tem que se dedicar mais e treinar desportos complementares como a natação. Aqueles que buscam apenas a vertente de lazer acabam por ficar à mesma no clube durante muitos anos, acompanham-nos nas nossas surf trips e no dia-a-dia, mas as

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rotinas são diferentes”, indica Manuel Mestre. Como em qualquer associação ou clube desportivo, a gestão financeira é a principal dor-de-cabeça dos dirigentes e o Clube de Surf de Faro não é uma exceção, sobretudo a partir do momento em que as autarquias e os organismos estatais cortaram nos apoios, subsídios e contratos-programa, embora continuassem a ajudar na vertente da logística. “Isso implicou uma mudança do modelo de gestão do clube, não conseguíamos sobreviver só com as quotas dos associados. Tivemos que nos adaptar para seguir em frente, investimos os nossos fundos para continuarmos a evoluir e ainda recentemente fizemos obras nestas ALGARVE INFORMATIVO #75

instalações, que são cedidas pela Câmara Municipal de Faro há 10 anos. O fundamental é que os sócios e quem nos visita se sintam confortáveis”, frisa. Aulas que não se limitam ao surf, mas também ao bodyboard e longboard, embora, como é óbvio, seja na primeira modalidade que se concentra o maior número de alunos. “Curiosamente, é no longboard que temos maior reconhecimento, com alguns campeões nacionais e da Europa. No surf, tivemos vários campeões regionais, o que nos orgulha. Para além disso, Portugal só teve duas pessoas a correr o WCT, que é a Fórmula 1 do surf, e uma delas era nossa sócia e cheguei a dar48


lhe algumas aulas quando era mais jovem”, relata, confirmando que a transição do ensino secundário para a universidade é o momento da verdade para muitos jovens que têm que decidir se apostam tudo no desporto que amam, ou numa carreira profissional mais tradicional. “Infelizmente, 90 por cento dos casos vão para uma vida das 9h às 17h, porque é muito difícil sobreviver-se financeiramente como atleta. No entanto, treinadores são cada vez mais procurados pelo mercado de trabalho, porque o surf está a deixar de ser uma moda para se tornar uma realidade”.

Surf e longboard de vento em popa, bodyboard em baixa Manuel Mestre é um daqueles privilegiados que trabalha naquilo que verdadeiramente gosta, sente uma tremenda alegria sempre que ruma ao Clube de Surf de Faro, um «escritório», de facto, de fazer inveja, daí que defenda que o surf tem que ser encarado de forma mais séria por todos, sobretudo pelos dirigentes e governantes. “Estamos num ponto de viragem e, quem acreditar agora, pode ter sucesso. Se esperarem, podem chegar tarde”, avisa, embora volte a reforçar que só os craques, os melhores, é que conseguem tornar-se surfistas de elite num país como Portugal. “Os miúdos têm que começar a competir logo nas camadas sub-10, só assim conseguirão chegar a um patamar mais elevado”. 49

No entanto, não basta, na opinião de Manuel Mestre, começar cedo e empenhar-se a fundo, porque os atletas algarvios padecem de um problema que dificilmente conseguirão resolver, o serem, isso mesmo, algarvios. “Infelizmente, no surf, andamos a sofrer disso há mais de 20 anos. As pessoas do Algarve e do norte de Portugal são um pouco marginalizadas. Se fores um surfista do centro do país, tens mais facilidade em chegar mais longe, se fores da periferia, tens que ser realmente muito bom para a balança pender para o teu lado”, lamenta Necas. “Não sei se me estou a fazer entender, mas é a mais pura das verdades e acontece em todas as modalidades de ondas, seja no surf, no bodyboard ou no longboard. Apesar disso, já tivemos dois que conseguiram quebrar essas barreiras”, dispara o dirigente. E porque se falou nas três modalidades de ondas, temos a ideia de que o bodyboard é mais praticado por raparigas e que o longboard é o predileto dos atletas mais seniores, noção que desperta um sorriso no entrevistado. “São todas praticadas por rapazes e raparigas de todas as idades. Aliás, há cada vez mais raparigas no surf e o meu filho faz longboard desde os 14 anos. Antigamente, havia a ideia de que o longboard é para os surfistas que já estavam numa fase mais madura, a caminhar para o fim de carreira, e que procuravam outra modalidade ALGARVE INFORMATIVO #75


para continuar a desfrutar do mar, mas as coisas mudaram”, garante, avançando com o seu próprio exemplo, que faz surf há 36 anos, desde os 10, e na maior parte das vezes até opta por uma prancha mais pequena. “O bicampeão nacional de longboard tem 18 anos e, no top 5, temos três com menos de 20 anos. No bodyboard, por contraste, estão a aparecer menos atletas, porque a modalidade não tem sido muito acarinhada pela Federação Portuguesa de Surf. O surf, como é normal, é o exlibris e verifica-se um grande investimento nas camadas jovens”, analisa o entrevistado. Mas, seja qual for a modalidade, para se dar o salto para a alta competição, é preciso fazê-lo de corpo e alma, a 100 por cento, nunca pensando que se pode ter um trabalho regular durante a semana e participar em provas aos finsde-semana. “É preciso treinar duas vezes por dia, mesmo quando não há condições para o fazer, daí ser importante praticar a natação, mas também o ténis e o golfe, porque nos obrigam a saber passar o peso de uma perna para a outra e a manter a concentração e o foco”, aconselha Necas, lembrando ainda que o surf é um desporto muito ciumento. “Se não praticarmos durante três ou quatro dias, quando voltarmos à água sentimos logo a diferença”, assegura, com um sorriso.

Faro é perfeito para a iniciação ao surf A par da escola de surf, o Clube de Surf de Faro é reconhecido pela qualidade dos eventos que organiza ao longo do ALGARVE INFORMATIVO #75

ano e também nesse aspeto se sente a dificuldade de arranjar apoios e patrocínios, mas Manuel Mestre não é adepto de queixas e lamentos. “Nos últimos dois anos não tem sido difícil reunir as ajudas necessárias. Basta ver que a ANA Aeroportos é um dos nossos patrocinadores, assim como o Fórum Algarve, a Aliança, a Decathlon, entre outras empresas grandes que demonstram a credibilidade que o clube tem e o patamar em que estamos. Apresentamos as ideias e as pessoas acreditam em nós, apoiando na medida das suas possibilidades”, enaltece o presidente. “Não ganhamos dinheiro com os eventos, é uma verdade incontornável, mas são situações que movimentam a praia, a cidade e o concelho e que nos dão força e vontade ao clube para continuarmos a trabalhar”. Eventos que não ficam aquém dos organizados no resto do país, nomeadamente na zona centro, em termos de qualidade, embora nas devidas proporções, salienta Manuel Mestre. “Há três ou quatro eventos em Peniche, Guincho e Açores que estão noutro patamar, mas esses são promovidos por empresas privadas e com grandes apoios a nível estatal. Curiosamente, a Região de Turismo do Algarve nunca nos deu um centavo, porque não somos golfe nem vela”, desabafa, o que não impede o Clube de Surf de Faro de ser um dos mais dinâmicos do plano nacional. “Visitam-nos pessoas do norte da Espanha, das Astúrias e Andaluzia, de todos os pontos de Portugal, por reconhecerem a 50


qualidade dos eventos que dinamizamos”, indica. E quando as entidades locais, regionais e nacionais começarem a dar a devida importância ao surf, Manuel Mestre não tem dúvidas de que este será importantíssimo para combater a tradicional sazonalidade algarvia, visto que as melhores ondas encontram-se precisamente de outubro a março. “Temos excelentes condições de clima ao longo de todo o ano, tirando um dia ou outro que possa estar pior tempo, e isso é logo uma grande diferença em relação ao resto do país. E Faro é o melhor sítio do Algarve para alguém se iniciar no surf, porque as ondas não são grandes, não há rochas e há poucas correntes”, esclarece. “Obviamente que as ondas de Sagres não têm comparação, mas são para um nível mais avançado. Quando somos beginners, não vamos descer uma rampa de skate com 20 metros, temos que começar por uma de cinco, e no surf é a mesma coisa”. Por este motivo, Manuel Mestre lamenta que toda a promoção externa que é feita ao destino turístico Algarve, no que diz respeito ao surf, incida somente sobre a zona de Sagres e esqueça todo o resto da região. “Existindo uma escola em Faro e outra em Portimão, com um nível conceituado de instrutores e um largo 51

palmarés, estes concelhos deveriam ser mais divulgados para quebrar a sazonalidade”, defende o dirigente, sempre de olhos postos no futuro e sem pensar sequer em reformar-se do associativismo. “Sinto-me com muita força e estarei cá enquanto os sócios quiserem para levar o clube para a frente. Temos um grande projeto que ainda é top secret e que vai englobar o ensino regular com uma vertente náutica bastante forte. Outro projeto tem a ver com uma sede própria, já com planta feita, mas custa 300 mil euros. Para o ano temos mais 20 e tal eventos na calha, seis dele com alguma dimensão, e vamos avançar para outras vertentes nos desportos de ondas. Queremos ser mais, maiores e melhores de ano para ano”, garante Manuel «Necas» Mestre .

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AIMM

estudar e defender o meio marinho

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Sedeada em Albufeira, a AIMM pretende ser uma referência na investigação, educação e conservação de espécies marinhas do Oceano Atlântico, identificando ameaças e minimizando os seus efeitos no ambiente. Uma associação jovem, formada por quadros jovens e com formação superior nesta área específica, reconhecida a nível internacional pelos maiores especialistas do ramo e frequentemente procurada por investigadores para realizarem as suas teses de mestrado e doutoramento em tudo o que envolve cetáceos, nomeadamente golfinhos e baleias. Texto:

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ormada em 2010, a AIMM Associação para a Investigação do Meio Marinho é uma organização não governamental e sem fins lucrativos com extensão internacional, direcionada para a investigação e conservação de espécies marinhas que habitam principalmente o Oceano Atlântico. No seu dia-a-dia conduz trabalho de campo e recolhe dados para suportar estudos científicos, atualizar os estatutos de conservação e conhecimentos das espécies marinhas e, em particular, de mamíferos marinhos. Em paralelo, desenvolve programas de educação e atividades e parcerias com agentes relacionados com o mar, de modo a aumentar a consciência ambiental e compreensão do ambiente marinho.

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Na génese da AIMM está Joana Castro, licenciada em Biologia Marinha, Mestrada em Ecologia Marinha e com um Doutoramento em Biologia em curso, que cedo constatou a existência de pouca investigação direcionada para a área dos cetáceos em Portugal. Para além disso, o sul do país, apesar da enorme variedade de espécies de baleias e golfinhos que aqui se localizam, não estava a ser devidamente estudado em termos científicos. Assim, com uma carreira profissional totalmente focada nestes cetáceos, meteu mãos à obra e decidiu criar a AIMM com o intuito de desenvolver estudos científicos em toda a costa algarvia, desde o Cabo de São Vicente até Vila Real de Santo António. “Mas foi difícil porque, nas associações,

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Joana Castro e André Cid, no barco da AIMM na Marina de Albufeira

normalmente há uma ligação mais emocional do que nas empresas. Há uma paixão que nos move e, por isso, no início é tudo muito bonito e as pessoas estão todas motivadas. Depois, de repente, deparamo-nos com imensas barreiras, financeiras e burocráticas, e é preciso ter força e vontade para não deixar cair o sonho”, salienta Joana Castro. O reconhecimento e os apoios privados e públicos foram aparecendo à medida que o trabalho ia sendo realizado, o que obriga a uma procura constante de bolsas e a uma atenção contínua às candidaturas que abrem, já que as ajudas das autarquias e dos organismos estatais muitas vezes limitam-se à logística. Mesmo as bolsas provêm mais do estrangeiro, porque a aposta de Portugal na 57

ciência vai variando consoante as sensibilidades pessoais dos titulares dos cargos. “Nestes últimos anos tem havido uma vantagem para quem trabalha nesta área porque o país virou-se, efetivamente, para o potencial que existe no mar, como se notou recentemente com a questão da extensão da plataforma continental. Há muito interesse no mar, portanto, estamos a atravessar uma fase positiva, mas continua a haver uma luta constante por bolsas de investigação, que duram uns meses e depois acabam-se as ajudas”, reconhece a presidente da AIMM. Sendo o Algarve uma região muito atenta a esta matéria, e tendo a Universidade do Algarve vários ALGARVE INFORMATIVO #75


cursos vocacionados para o mar e para a biologia, os recursos humanos acabam por surgir com naturalidade. Prova disso é que a associação é frequentemente procurada por universitários, não só do Algarve, mas de outras zonas do país e do estrangeiro, para ali realizarem estágios. “A maior dificuldade prende-se em arranjar investigadores seniores, porque nós somos todos voluntários e nem todos podem trabalhar sem uma contrapartida financeira”, nota André Cid, biólogo marinho com Mestrado em Aquacultura e Pescas e antigo guia de observação de golfinhos. “Para os estudantes é uma excelente forma de ganhar experiência prática e currículo, até para perceberem se é disto que realmente gostam. Muita gente tem aquela ideia utópica e ALGARVE INFORMATIVO #75

romântica do que é trabalhar com golfinhos no cativeiro, que depois não tem nada a ver com lidar com golfinhos selvagens, no seu habitat natural. Alguns entram no barco pela primeira vez e até enjoam”, contam Joana e André.

Porta aberta aos investigadores Na prática, o quotidiano da AIMM passa por perceber que espécies existem ao largo da costa algarvia, se são populações residentes ou passageiras, se estão cá o ano inteiro ou se aparecem apenas em determinadas alturas, se estamos numa área de reprodução ou de alimentação, etc.. Ao mesmo tempo, estudam-se os impactos da 58


atividade humana sobre as espécies marinhas, como é o caso do turismo de observação de cetáceos. “O Algarve é a zona de Portugal com mais empresas a atuar neste ramo e é preciso existir algum controlo para se estimar este recurso natural. Temos que garantir que não estamos a exceder a carga que estas populações podem tolerar”, alerta Joana Castro, explicando que este trabalho de monitorização deve ser realizado ao longo de vários anos para se conseguir tirar conclusões robustas e com algumas certezas. “Têm que ser estudos de longo prazo, no mínimo 10 a 14 anos”, garante. Complementares a esta monitorização constante decorrem vários outros estudos e projetos, sobre toxicologia, genética, acústica, meio ambiente, com estudantes de

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mestrados e doutoramentos, incidindo não só sobre os golfinhos e baleias, mas também sobre tubarões e tartarugas. “A AIMM tem, neste momento, três doutoramentos a decorrer, dois deles no Algarve, mais duas teses de mestrado e uma licenciatura. Recebemos muitos estudantes que, em vez de andarem sozinhos no terreno, juntam-se a nós”, aponta Joana Castro, uma política de «porta-aberta» que tem sido prosseguida desde a fundação. “Nós sentimos na pele que não havia lugares em Portugal para se conduzir investigações, não era fácil juntares-te a uma equipa, porque têm sempre orçamentos limitados. Então, resolvemos criar o nosso lugar, lutando contra várias adversidades, e queremos ser uma referência para qualquer

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jovem que termine o curso e queira ganhar alguma experiência ou dar continuidade aos seus projetos. Não temos muito dinheiro para pagar às pessoas, mas temos ótimas condições para lhes oferecer para executarem os seus trabalhos”, indica André Cid. Os recursos financeiros, está visto, influenciam toda a dinâmica de campo, sendo os financiamentos provenientes de empresas privadas o garante da estabilidade da AIMM,

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pois as bolsas são sempre uma incerteza. Contudo, para cativar esses apoios, há que explicar para que servem, na hora da verdade, os estudos desenvolvidos por estes homens e mulheres e Joana Castro reconhece que essa ainda é uma falha das equipas de investigação. “Por vezes esquecemo-nos de passar essa mensagem para o público, por estarmos tão embrenhados no nosso trabalho. Claro que as conclusões científicas são publicadas dentro na área e

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passadas para os organismos estatais, para que eles possam gerir melhor estes recursos naturais, mas é fundamental transmitir estes conhecimentos para o cidadão comum. Nesse sentido, realizamos muitas campanhas de educação ambiental junto das escolas para sensibilizar os mais novos, palestras para o público em geral em alguns eventos, e assim se vai passando gradualmente essa mensagem”, diznos Joana Castro.

Trabalhar no mar é duro e dispendioso Apesar disso, a população ainda não está devidamente alerta para a riqueza que tem no seu mar, nem dos cuidados a ter para a proteger, e apenas há maior interesse quando dão à costa alguns animais mortos, ou quando estes são apanhados, por acidente, em redes de pesca. “Ainda ontem andou uma baleia ali fora e as pessoas ficaram muito admiradas, ou

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ficam espantadas quando sabem que passaram mil golfinhos aqui pela zona. Depois, há falhas na proteção porque as pessoas não estão despertas para esses cuidados”, lamenta André Cid, junto ao barco da AIMM que está ancorado na Marina de Albufeira. “Antigamente, havia menos empresas de observação de cetáceos, o que significava menos embarcações no mar, o que implicava uma menor pressão sobre as espécies. Hoje, o cenário é completamente diferente e a lei portuguesa diz que, por exemplo, só podem estar três barcos junto a um grupo de golfinhos. Todavia, há alturas em que as pessoas não estão a fazer observação de golfinhos, só se vislumbram barcos”, revelam Joana e André. Menos preocupados estão os dois investigadores com os pescadores que trabalham na costa algarvia, muito embora andem ambos atrás do mesmo recurso, ou seja, do peixe. “Há um grande cuidado em não apanhar acidentalmente nenhum golfinho nas redes e, quando isso acontece, nota-se que tentam coloca-los imediatamente na água”, garante Joana Castro. “Há que, principalmente, perceber os impactos que o turismo massivo de observação de cetáceos está a ter, porque algumas espécies «fugiram» para mais longe de costa por serem sensíveis à

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pressão dos barcos”, acrescenta a presidente da associação. Por entre estas inquietações, a equipa da AIMM vai desenvolvendo o seu trabalho no dia-a-dia e André Cid destaca um ponto de viragem importante, a aquisição recente de uma embarcação própria. “Dá-nos uma maior autonomia para realizar os nossos projetos e o próximo passo será criar um centro onde tivéssemos os nossos investigadores concentrados e que pudesse ser visitado por qualquer pessoa interessada nestes assuntos”, adianta. Quanta à investigação pura e dura, não para, com diversos projetos a decorrer e outros preparados para avançar para o terreno, assim haja

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recursos para tal. “A tendência é para crescermos, porque a associação tem uma maior estabilidade financeira. Todos estes trabalhos implicam custos enormes, a manutenção do barco, a gasolina, passar dias inteiros no mar e, às vezes, sem conseguirmos fazer nada porque não encontramos os animais. Neste momento, temos recursos e equipamentos para desenvolver os projetos de forma independente e consistente”, enfatiza Joana Castro, sem esconder que a maior parte do reconhecimento pelo trabalho desenvolvido pela AIMM provenha de entidades estrangeiras e não de organismos nacionais .

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“DRESSAGE ESTÁ EM FRANCA EVOLUÇÃO NO ALGARVE”, AFIRMA JOÃO PEDRO MIRANDA O Algarve foi palco, durante os últimos meses, de diversas competições internacionais de arte equestre, que trouxeram até à região, nomeadamente ao concelho de Loulé, largos milhares de praticantes, treinadores e adeptos da modalidade de saltos de obstáculos. Na base de tudo está, porém, o dressage, o ensino, que é também uma modalidade autónoma, mais técnica e exigente para o cavaleiro e seu cavalo, mas menos mediática. Apesar disso, o bicampeão regional e líder da Lusitanus Dressage Team, João Pedro Miranda, garante que os cavaleiros algarvios nunca estiveram tão bons como agora. Texto: Fotografia:

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no concelho de Loulé, às portas do vizinho município de São Brás de Alportel, que se localiza o Centro Equestre Lusitanus, liderado por João Pedro Miranda, advogado de profissão mas apaixonado pela arte equestre desde tenra idade. Nada de admirar para quem cresceu numa quinta do Ribatejo, zona sobejamente conhecida pela sua forte tradição equestre, dai que tenha começado a montar a cavalo logo aos oito anos. Cavalo próprio também teve cedo, o que lhe permitia participar nas feiras que aconteciam em todo o distrito, com destaque para a Feira da Golegã.

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Por volta dos 15 anos, a paixão assumiu um caráter mais sério, montava ainda com maior regularidade, desbastava poldros, ensinava cavalos e foi dar aulas de volteio e equitação para o Centro Hípico Nossa Senhora da Fonte, na Atalaia, ao mesmo tempo que prosseguia a sua formação académica tradicional. “Achei que era possível ter uma carreira dentro da arte equestre, onde pudesse fazer aquilo que realmente gostava, e conciliá-la com outra atividade profissional. Há muitas pessoas que têm este hobby e que, no final do dia, montam a cavalo e competem aos

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fins-de-semana, mas isso não era suficiente para mim”, recorda João Pedro Miranda, aproveitando para esclarecer que desbastar cavalos significa montá-los pela primeira vez. “Os cavalos normalmente vivem no campo até aos três anos, em estado selvagem, depois são recolhidos para os estábulos, onde lhes é dado o primeiro banho, começam a dar as mãos e os pés, têm algum trabalho de maneio. Depois, aprendem a levar o cavaleiro pela primeira vez e são ensinados, para saberem o que é uma rédea direita de abertura, uma rédea esquerda, andar para diante, parar”, explica. Deste modo, seja para ir a competições ou feiras, ou simplesmente para serem montados no picadeiro por lazer, todos os cavalos têm que passar por esta formação inicial, o escarranchar e desbaste. Entretanto, aos 17 anos, João Pedro Miranda vai para o Centro Equestre da Lezíria Grande, um dos melhores do país, em Vila Franca de Xira, trabalhar diretamente com o Mestre Luís Valença. “Ali, como que me profissionalizei. Lidava com 10, 12 cavalos por dia, fazia espetáculos, ganhei um know-how que me fez decidir, definitivamente, pela arte equestre. Só depois é que fui tirar o curso de Direito, em horário póslaboral”, relata o entrevistado. Volvidos quatro anos, novo destino, desta vez o Exército Português, fez o Curso Oficial de Oficiais em Santarém, na Escola Prática de Cavalaria, ali foi 67

depois comandante do pelotão a cavalo, antes de ser transferido para a Escola de Mafra, onde permaneceu durante oito anos. “Competia, participava nas apresentações, integrei a Equipa de Ensino do Exército Português e fui instrutor de vários cursos de equitação para profissionais lecionados em Mafra. Direito não podia exercer por uma questão de incompatibilidade por ser membro das Forças Armadas”, conta, numa conversa em pleno picadeiro do Centro Equestre Lusitanus. A chegada ao Algarve, entretanto, aconteceu como em tantas outras histórias reais. Conheceu, apaixonou-se e casou-se com uma algarvia, Iris Miranda, e rumou ao sul em 2007, ano em que saiu igualmente do Exército, por não existir um regimento de cavalaria na região. “Nesse ano ainda fiz uns espetáculos e apresentações equestres pela Lezíria Grande na Tailândia. As apresentações normalmente são de equitação clássica, mais na vertente de espetáculo equestre. O dressage é a modalidade de ensino de competição”, distingue o antigo instrutor da Escola Nacional de Equitação. “Em 2008, fui um dos professores do primeiro curso para ajudante de monitor de equitação que se realizou no Algarve e, logo a seguir, fui convidado para dar aulas na Casa Agrícola Solear, S.A., em Porches, onde permaneci três anos”. ALGARVE INFORMATIVO #75


Campeonato regional foi uma lufada de ar fresco Rapidamente constatamos estarmos na presença de um dos maiores especialistas de dressage em Portugal, sendo juiz de competições há mais de 15 anos, ao mesmo tempo que participa também como cavaleiro em várias provas nacionais e internacionais. “Apesar dos obstáculos serem uma modalidade com mais visibilidade, o ensino é a sua base”, reforça, enquanto diz que a sua vinda para o Centro Equestre Lusitanus se deu em 2012, ano em que é criada a «Lusitanus Dressage Team». Um passo importante para a evolução da modalidade no Algarve foi a criação do Campeonato Regional de Dressage e, logo em 2014, a Lusitanus começou a dar nas vistas, com a conquista das medalhas de bronze de Nível Médio por João Pedro Miranda com «Leote», e de Nível Complementar por Iris Miranda com «Camel», enquanto Jessica Duarte foi Campeã Regional e Medalha de Ouro no Nível Elementar com «Selecta» e Iris Miranda foi Vice-Campeã Regional e Medalha de Prata no Nível Complementar com «Chocolate». Mais lugares de honra se somaram em 2015, com Sophie Ribeiro a sagrar-se Campeã Regional e Medalha de Ouro no Nível Preliminar (Juvenis) com «Camel», Ana Mateus a ser Vice-Campeã Regional e Medalha de Prata no Nível Elementar com «Zenith», João Pedro Miranda a ser Campeão Regional e Medalha de Ouro ALGARVE INFORMATIVO #75

no Nível Elementar com «Erus» e Campeão Regional e Medalha de Ouro do Nível Complementar com «Chocolate» e Paulo Mendes a trazer a Medalha de Bronze no Nível Complementar com «Leote». Chegados a 2016, a «Lusitanus Dressage Team» não deixou os seus créditos por mãos alheias e Cárin Andrés conquistou a Medalha de Bronze no Nível Preliminar com 68


«Hiago», Catarina Rito foi Campeã Regional e Medalha de Ouro no Nível Preliminar (Juniores) com «Ametista», Iris Miranda foi Campeã Regional e Medalha de Ouro no Nível Elementar com «Garbo», Ana Mateus foi ViceCampeã Regional e Medalha de Prata no Nível Médio com «Chocolate» e João Pedro Miranda revalidou o título de Campeão Regional e Medalha de Ouro no Nível Complementar com «Ametista». “A aposta na formação de 69

jovens cavaleiros tem sido uma preocupação e o Campeonato Regional de Dressage do Algarve tem sido um grande sucesso a nível da Federação Equestre Portuguesa, existindo ainda os campeonatos regionais do Alentejo, do Norte e outro na zona da Grande Lisboa, onde decorrem igualmente os campeonatos nacionais”, aponta João Pedro Miranda.

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Como que a comprovar as palavras do entrevistado, os concursos contam já com largas dezenas de participantes e o campeonato regional do Algarve é mesmo o que tem mais conjuntos em prova, tendo sido uma lufada de ar fresco para a equitação na região. “Antigamente, havia concursos amiúde, com alguns concorrentes, mas com menor adesão. Existir uma ALGARVE INFORMATIVO #75

competição de âmbito regional, tutelada pela Federação Equestre Portuguesa, fez com que as pessoas quisessem montar cada vez melhor a cavalo e obter outro tipo de resultados. Começaram a ter outras referências, a ter mais cuidado com a apresentação dos cavalos, a quererem melhorar a técnica”, analisa João Pedro Miranda, não negando que, para se praticar este 70


desporto, é necessária alguma condição financeira, o que não é o mesmo que dizer que é um desporto só para elites. “A aquisição do equipamento não envolve somas avultadas que inibam a possibilidade de montar a cavalo e as lições nos centros equestres também não são muito caras. Claro que ter um cavalo próprio implica outro investimento, mas há a possibilidade dos atletas competirem com cavalos do centro”, frisa. Assim sendo, a equitação pode ser quase comparada à frequência regular do ginásio, a ter um filho numa escola de futebol ou a praticar golfe, ao contrário do que muitas pessoas possam imaginar. Contudo, quando o objetivo passa pela vertente competitiva e se quer obter resultados de topo, o ideal é o cavaleiro possuir um cavalo próprio, reconhece João Pedro Miranda. “Um cavalo dito de aulas, de lições, é montado por todos os alunos e, em princípio, não terá 71

tanto potencial, nem estará tão bem preparado para a competição”, justifica, acrescentando que, nesta modalidade, a técnica do cavalo é tão importante como a do cavaleiro. “No dressage, é um conjunto que se apresenta em pista, é o binómio cavalo/cavaleiro que é avaliado, portanto, quanto maior a afinidade, o trabalho de equipa, melhores resultados daí advém. O cavaleiro que tem melhor técnica, que monta melhor a cavalo, está mais perto do sucesso, mas a qualidade do cavalo também é importante”, indica.

Cavaleiro algarvio ainda tem que melhorar a técnica Enquanto o picadeiro ia sendo preparado para uma aula, João Pedro Miranda aconselha, então, os alunos a iniciarem a competição com um cavalo da escola, para conhecerem melhor o que é isto do dressage, perceberem que pormenores devem ser mais trabalhados, sujeitarem-se à avaliação de um júri profissional. Depois, após um ano de rodagem e aprendizagem, se quiserem continuar a sua evolução enquanto desportista, se quiserem subir para um patamar superior, há que pensar em investir num cavalo próprio para se preparar com o seu treinador. Quanto a ficar no dressage ou optar pelos saltos, o entrevistado reconhece que os obstáculos têm

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mais visibilidade, patrocinadores, provas e, quiçá, mais adrenalina. “O ensino é uma modalidade completamente diferente, onde se trabalha mais a componente da técnica, a harmonia, a regularidade de andamentos. O dressage é a base de todas as modalidades e há alunos que, sendo mais perfecionistas, gostam de trabalhar mais os detalhes e não sentem o apelo dos obstáculos”, observa o instrutor e atleta. “Num nível mais evoluído, há provas com música, por exemplo, e é mais fácil cativar os jovens. Os níveis inicial, preliminar ou elementar tornam-se, às vezes, um pouco aborrecidos para os cavaleiros que gostam mais de movimento e adrenalina”. Outro fator que puxa muitos atletas para os saltos de obstáculos é que, nesta modalidade, e de acordo com o entrevistado, a progressão é mais fácil. “Rapidamente se mete um aluno a fazer uma cruzinha ou um salto de 80/90 centímetros, enquanto que, fazer uma prova preliminar, a primeira do regulamento de dressage, demora mais tempo. O aluno tem que estar mais equilibrado, mais ligado ao cavalo, conduzi-lo melhor”, explica. Por outro lado, João Pedro Miranda admite que, nos saltos, existem mais quedas e hipóteses de um cavaleiro se lesionar. “Não é fácil fidelizar alguém ao dressage mas, no campeonato regional de 2016, tivemos quase 100 conjuntos, o que é bastante positivo para o Algarve. A modalidade está como nunca esteve na região, com imensa gente a querer participar nas provas”. ALGARVE INFORMATIVO #75

Há maior interesse pelo dressage, disso não há dúvidas, e o bicampeão regional garante que os jovens algarvios nunca tiveram tão boas possibilidades para evoluir como agora. “Há cinco, seis anos, o Algarve era um deserto, estava longe de tudo. Hoje, os jovens estão integrados na internet, têm acesso a imensa informação, podem ver vídeos no you tube, há cavaleiros que vêm cá dar estágios e ministrar clínicas”, refere, considerando que a criação do campeonato regional também elevou a fasquia em termos de qualidade. “As provas atraem público e o simples facto de um cavaleiro ser penalizado aqui ou acolá obriga-o a ir para casa trabalhar mais para melhorar, a procurar um treinador, e tudo isto fomenta a evolução. O cavaleiro algarvio ainda tem que melhorar bastante a técnica, ainda estamos deficitários de cultura equestre no Algarve, mas as novas gerações estão a crescer com mais possibilidades e penso que o futuro é risonho”. Futuro que passa por ter mais cavaleiros algarvios a competir a 72


nível nacional e, depois, no plano internacional, com a vantagem de que ser atleta de alta competição no dressage não é impeditivo de ter outra carreira profissional e de não ser um desporto com limite de idade. “Podemos competir com 40, 50 ou 60 anos, nos escalões de seniores e veteranos, o que nos permite ir melhorando ao longo da vida”, confirma, uma evolução constante que é uma preocupação do próprio João Pedro Miranda. “No desporto, o passado é passado e temos que olhar sempre para o futuro, não podemos

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adormecer à sombra da bananeira. Será verdade que o cavaleiro que tem mais experiência, pelos anos que treina e compete, estará mais perto do sucesso, mas estão sempre a surgir novos cavaleiros e com melhores capacidades técnicas. Por vezes também temos que começar a competir com um cavalo diferente, pelo que o treino nunca acaba e há sempre mais a melhorar nesse trabalho de equipa”, alerta o bicampeão regional e experiente instrutor .

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