ALGARVE INFORMATIVO 8 de outubro, 2016
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Luís Ferrinho considerado um dos 50 mais poderosos do turismo da América Latina em 2016 Downhill é estrela em S. Brás de Alportel |Águas do Algarve ALGARVE 1 Dália Paulo fala do «365 Algarve» | Napoleão MiraINFORMATIVO & Reflect#78
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OPINIÃO 8 - Daniel Pina 40 - Paulo Cunha 42 - José Graça 44 - António Manuel Ribeiro 46 - Augusto Lima 48 - Teresa Fernandes
ATUALIDADE 10 - Dália Paulo fala do 365 Algarve 34 - Geminação Loulé e Créteil
ENTREVISTAS/ REPORTAGENS 22 - Águas do Algarve 50 - Luís Ferrinho 60 - Napoleão Mira & Reflect 68 - Xdream Blasius
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Cultura sempre houve no Algarve, não se reparava era nela… Daniel Pina
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leitor mais atento da Revista Algarve Informativo já deve ter reparado que é rara a semana em que não é publicada uma entrevista a um agente cultural ou uma reportagem sobre um acontecimento cultural. Por isso, já me habituei, há vários meses, a que, volta e meia, algum amigo ou conhecido me diga que não tinha consciência de que se fazia tanta cultura no Algarve. A minha resposta é que o Algarve sempre teve grupos de teatro, companhias de dança, artistas plásticos, músicos, escritores e afins bastante ativos, o problema é que a maior parte das pessoas não reparava no produto do seu trabalho. Quando a conversa é com algum visitante de outro ponto do país ou com alguém que se mudou recentemente para o Algarve, normalmente a contrarresposta é que sabiam que acontecia muita coisa durante o Verão, sobretudo em agosto, mas que pensavam que o resto do ano era mais calmo em termos culturais. E eu, como não gosto que se misturem alhos com bugalhos, de imediato alerto que aquilo que os turistas, e os residentes, consomem em agosto não é propriamente Cultura, antes sim Entretenimento e Animação. É que, na minha humilde opinião, não podemos comparar um sunset na Praia da Falésia ou uma festa numa discoteca da Praia da Rocha com um bailado ou um concerto de música clássica. Do mesmo modo que um festival gastronómico ou bailarico não é um encontro de poesia ou um festival de teatro. Isto leva-nos ao cerne da questão, ao problema que sempre atormentou os agentes culturais algarvios. Durante os meses quentes de Verão gasta-se bastante dinheiro a promover o que acontece na região para atrair o máximo de turistas, mas esses eventos são de entretenimento e animação, muitas vezes produzidos ou interpretados por pessoas que nem são do Algarve. Aliás, muitos são os teatros e auditórios que até estão fechados para férias, ou alugados por artistas de Lisboa ou Porto para apresentarem os seus espetáculos a contar com as receitas de bilheteira. ALGARVE INFORMATIVO #78
Depois, termina agosto, os turistas regressam a casa, e termina praticamente a divulgação do que vai acontecendo no barlavento e sotavento, precisamente quando os agentes culturais regionais retomam a sua produção habitual. Claro que as autarquias continuam a lançar as suas agendas municipais, claro que os auditórios e teatros continuam a colocar os seus cartazes nas fachadas dos prédios, mas, como não podem promover tudo o que vai acontecer, dão privilégio aos espetáculos com os nomes sonantes da televisão e das capas de revista, para garantirem uma boa casa. E, assim, cria-se a ideia de que os algarvios produzem, de facto, pouca cultura, o que é completamente falso. Agora, porém, a tarefa está mais fácil para os criadores e programadores culturais, graças ao Facebook e à sua maravilhosa ferramenta de gestão de eventos, que nos bombardeia os telemóveis diariamente com lembretes de que vai acontecer esta peça de teatro ou aquele bailado, de que vai ser inaugurada esta exposição ou ser lançado aquele livro. Por isso, as pessoas já não têm grandes desculpas para dizerem que não sabem o que sucede ao seu redor. O desafio passa a ser, então, tirá-las de casa e isso não é fácil, porque os homens não dispensam os seus jogos de futebol nos canais desportivos e as mulheres as suas telenovelas nos canais generalistas e depois justificam que não vão a um acontecimento cultural porque não têm com quem deixar os filhos pequenos. Quando isso até se resolve, logo aparecem outras desculpas, porque o homem tem que se levantar cedo para um passeio de bicicleta com os amigos, porque a mulher combinou uma caminhada à noite com as amigas, porque estão cansados, porque não sabem que roupa levar ao teatro, ao concerto de música, ao bailado, ao serão de poesia. E, nesse aspeto particular, pelo menos para já, não há ferramenta de Facebook que acuda aos agentes culturais . 8
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TODOS OS DIAS CONTAM ATÉ MAIO DE 2017 Já está no terreno a primeira edição do «365 Algarve», que contará com mais de mil apresentações culturais até maio de 2017. Com vários eventos a acontecer em simultâneo em todos os pontos do sotavento e barlavento, depressa se constata a força e qualidade dos agentes culturais algarvios quando trabalham em conjunto, entre eles, e com os 16 municípios. O que também se percebe rapidamente é que este não é um programa para «inglês ver» como o antigo «Allgarve», transmitindo as tradições algarvias de uma forma mais contemporânea, para residentes e visitantes, mostrando que cultura, não falta, neste pequeno paraíso à beira-mar plantado. Texto:
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e os meses que antecederam o arranque oficial do «365 Algarve» foram de imenso trabalho para se montar tão amplo e diversificado programa cultural em tão curto espaço de tempo, pode-se dizer que, até maio de 2017, não há praticamente tempo para descansar no gabinete de Dália Paulo, a escolhida para liderar este desafio lançado à região pelo governo português, nomeadamente pelas Secretarias de Estado da Cultura e do Turismo. “Pediram aos agentes culturais e aos municípios para apresentarem propostas, quer de programação, quer de criação, e essa é logo uma vantagem acrescida. Falou-se com quem já conhecia a região, com quem tinha projetos e sonhos que o «365 Algarve» permitiu concretizar, e assim foi possível ter 1023 apresentações entre outubro de 2016 e maio de 2017”, começa por destacar a Comissária do Programa. Apresentações que são baseadas na identidade algarvia, nos criadores da região, e a pensar nos residentes, para aumentar a oferta cultural que lhes está destinada ao longo de todo o ano, mas também naqueles que visitam regularmente o Algarve e que não vêm apenas atrás do sol, da praia e do golfe. E a enorme e rápida adesão dos agentes culturais e dos municípios surpreendeu, inclusive, a antiga Diretora Regional da Cultura do Algarve, demonstrando a vontade que existia de todos trabalharem em rede
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para fazer mais e melhor. “Só assim se conseguirá inverter um dos problemas da região, a sazonalidade, e a cultura pode ser, sem dúvida, um aliciante extra para se visitar o nosso território. Este programa tem que ser enraizado em nós, algarvios, para que os turistas depois, quando estão a escolher o seu destino de
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férias, e quando chegam ao Algarve, percebam que a nossa identidade e património estão na base desta criação contemporânea. A cultura também é transformadora no desenvolvimento da região”, sublinha Dália Paulo. Ficam esclarecidos, pois então, aqueles que estão sempre a criticar o
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Algarve por ter pouca cultura, por se ter deixado aculturar pelos turistas estrangeiros, sobretudo os britânicos, quando o problema, afinal, é existir pouca divulgação do que é produzido no dia-a-dia. “Construir este chapéu do «365 Algarve» permite-nos ganhar escala e a apresentação em bloco deste programa deixa-nos perceber que
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compreenda que existe muita capacidade de criar oferta genuína e tradicional.
há muita programação e criação cultural no Algarve, simplesmente, estava diluída nos 16 municípios. É também uma maneira de combater aquela ideia de que destruímos a nossa identidade e território por causa do turismo. Não quer dizer que não tenhamos feito isso um pouco, mas ainda estamos a tempo de perseguir um desenvolvimento sustentado naquilo que são os valores identitários, os valores do território, e não em modelos de desenvolvimento que não são os nossos”, defende a entrevistada, certa de que o «365 Algarve» tem o condão de fazer com que se olhe de maneira diferente para o Algarve e se
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Contudo, produtos genuínos e tradicionais não significa que o programa se baseia nos típicos ranchos folclóricos, bailaricos e cantos corais do antigamente, antes pelo contrário, esclarece Dália Paulo. “Houve capacidade dos agentes culturais apresentarem propostas que demonstram que há criação contemporânea no Algarve nas áreas da dança, teatro e música, que é baseada na nossa identidade, mas com linguagens modernas. Através da fotografia, da dança, da música, as pessoas vão poder olhar para estes espaços identitários, para o território algarvio, e vão começar a questioná-lo, a percebê-lo de outro prisma”, adianta. “Os públicos que nos procuram são diferentes e já não querem ver apenas o tipicamente genuíno, os clichés, mas ver como essa identidade é trabalhada em linguagens contemporâneas de dança, música, teatro, até animação de património. Temos uma vasta oferta que permitirá ao visitante levar uma outra imagem do Algarve, de uma região que reforça a sua autoestima e que olha para a sua identidade sem complexos ou problemas e percebendo que é a partir daqui que temos que construir”.
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Oferta cultural precisava ser comunicada de outra forma Outra mais-valia do «365 Algarve» é que colocou os agentes culturais a trabalhar em conjunto em projetos comuns, algo que nem sempre é habitual neste setor de atividade, um processo que não é fácil mas que conduz, normalmente, a produtos finais mais ricos. Exemplo disso é a festa de anos de Álvaro de Campos, em Tavira, que reúne 24 associações, mas muitas mais apresentações resultam de parcerias entre vários agentes culturais e municípios. “Notou-se um diálogo muito
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empenhado entre ambas as partes para se construir este programa e penso que essa relação acabou por sair reforçada para o futuro. Vários municípios também se uniram para fazer projetos conjuntos, como é o caso do Festival de Lúcia, que sai de Castro Marim e vai até Loulé e Lagos, numa articulação entre três concelhos para se ganhar mais escala”, conta Dália Paulo. E como o objetivo não é substituir os programas que já existem no terreno, não é «abafar» o que já é feito pelas autarquias, agentes culturais e Direção Regional da Cultura do Algarve, que cuidados houve nesse aspeto, questionamos a Comissária do «365 Algarve».
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“Tivemos sempre como base a ideia de sermos complementares à oferta existente, de percebermos que isto não é um programa único. Queremos ser um reforço, o que implica perceber em que momentos podemos aparecer e em que momentos nos devemos diluir, para não prejudicar o trabalho dos outros, para não «matar» o que já está a ser feito”, responde prontamente Dália Paulo, acrescentando que há eventos que não fazem parte do «365 Algarve» mas que vão estar incluídos no «bolo» que será promovido em termos externos. “Quando alguém visita a página do programa, o importante não é se este evento ou aquele é financiado pelo «365 Algarve», mas sim o que é que vai acontecer, onde e a que horas. Já ALGARVE INFORMATIVO #78
existia oferta cultural, precisava era ser comunicada de outra forma, e alguma dela ser qualificada e densificada”. Falta de divulgação que sempre foi uma das queixas, quer dos residentes, como dos visitantes, que muitas vezes nem se apercebiam que determinados espetáculos iam ter lugar ou só tinham conhecimento depois de já terem ido a palco. E essa é, sem dúvida, uma das grandes preocupações da entrevistada, por saber que um programa mal comunicado é como se não existisse. “O Turismo de Portugal e a Região de Turismo do Algarve estão a trabalhar em conjunto para fazer dois tipos de 16
tapetes das bagagens e noutros pontos fixos do Aeroporto de Faro. Também vamos querer chegar aos hotéis, restaurantes e equipamentos culturais com a brochura da programação”.
Sucesso depende de todos nós Ao falarmos de um programa cultural com dinheiros públicos à mistura, é impossível não recordarmos o «Allgarve», mas rapidamente se verifica que são duas realidades, e modos de pensar, completamente distintos, logo a
comunicação diferente. A do Turismo de Portugal incide sobretudo nos mercados emissores e os turistas, quando estiverem a escolher o seu destino, vão saber que está no terreno este programa cultural. A RTA e a ATA vão comunicar essencialmente para a Península Ibérica e os nossos vizinhos espanhóis são um públicoalvo bastante interessante”, revela Dália Paulo, considerando que outra comunicação fundamental é aquela que acontece junto de quem chega ao território. “A ANA Aeroportos tem sido inexcedível na colaboração que nos prestou e essa informação vai estar disponível a nível digital e em folhetos, nos ecrãs que estão por cima dos
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começar pelos valores envolvidos. “Não é só uma questão de orçamento, mas de conceito e filosofia. Este é feito de raiz pelos agentes culturais e municípios e em resposta a um desafio lançado à região para ser um dos motores de combate a uma fragilidade do Algarve. O «Allgarve», no seu cômputo geral, esteve sempre mais centrado nos melhores meses do ano e a programação era decidida e estruturada no topo”, compara Dália Paulo. “O «365 Algarve» quer que todos os residentes algarvios sejam seus embaixadores e que possam usufruir do que acontece todos os dias, enquanto o «Allgarve» era mais baseado numa animação virada para o turista”, acrescenta. As críticas ao «Allgarve» foram, de facto, muitas, e grande era, também, o anseio dos agentes culturais por um ALGARVE INFORMATIVO #78
programa que acontecesse todo o ano e com base nas tradições algarvias. Porque razão demorou, então, tantos anos para se montar um «365 Algarve» que ajude a combater a sazonalidade da região com base na oferta cultural quando, pelos vistos, a capacidade de resposta dos atores locais foi quase imediata assim que o desafio foi lançado? “A região estava, realmente, a necessitar disto e sabemos que a criação contemporânea no Algarve é deficitária, quando comparada com outras zonas do país, porque os apoios são sempre menores. Agora tivemos a conjugação perfeita entre os setores do Turismo e Cultura, que começaram a dialogar de uma forma diferente. Se calhar, só agora alcançamos a maturidade perfeita para construir este tipo de programa”, responde Dália Paulo, 18
não retirando valor ao caminho percorrido e aos erros cometidos no passado. “Provavelmente, se não tivéssemos feito uma longa caminhada de muita tentativa/erro entre Cultura e Turismo, nunca teríamos chegado a um «365 Algarve» montado com tanta facilidade e em tão poucos meses. Já todos sabíamos o que não queríamos e o que não deveríamos fazer, o que facilitou agora o processo”, salienta. Seguem-se oito meses sem tempo para estar confortavelmente sentado a apreciar os espetáculos, porque o poder central já assumiu a vontade de, em 2017, haver uma segunda edição e, para isso, tudo o que acontece até maio do próximo ano tem que ser devidamente acompanhado e analisado ao pormenor. “Vai haver uma avaliação externa do programa para se afinar todos os pormenores e questões e vamos ter que começar já a construir a próxima edição. Em maio/junho de 2017 queremos apresentar a programação completa do próximo «365 Algarve», para que possamos efetivamente chegar aos mercados emissores em tempo útil”, refere a entrevistada, confiante no sucesso do programa. “Já é uma aposta ganha no sentido de colocar os agentes culturais e os municípios a trabalhar em rede, de se estruturar um oferta com escala e de permitir ao visitante ter uma experiência diferente, ser surpreendido com a identidade algarvia e com a criação contemporânea feita no Algarve. Em termos de concretização 19
do programa, agora depende de cada um de nós, não podemos baixar os braços. A comunicação é essencial, assim como o trabalho dos agentes no terreno, para que, no final, o balanço seja positivo. A fase mais complexa é aquela em que contatamos com o público, em que vamos ganhar público, e isso tem que ser feito diariamente por todos os algarvios. Não queremos, não podemos, claudicar a meio do caminho”, apela Dália Paulo . ALGARVE INFORMATIVO #78
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Aumento fora do normal de turistas no Algarve não causou dores de cabeça à
«Águas do Algarve» A «Águas do Algarve S.A.», empresa responsável pelo fornecimento de água em alta à região algarvia, levou a cabo, durante o mês de agosto, uma campanha de sensibilização para a qualidade da água que sai das torneiras no sul do país, de forma a combater o mito da necessidade de se consumir água engarrafada. Uma qualidade que é o resultado de centenas de milhões de euros investidos em infraestruturas e sua manutenção a montante, mas também a jusante, ou seja, depois que a água é consumida pelo cidadão comum. E, apesar do Algarve ter tido uma procura bastante superior ao esperado durante o Verão, não houve qualquer incidente em torno da água tratada e distribuída pela empresa. Texto:
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s portugueses ainda não estão habituados a beber água diretamente da torneira, optando pela colocação de filtros em casa ou por comprar água engarrafada. Uma desconfiança antiga que, apesar de estar completamente desfasada da realidade do século XXI, teima em subsistir e que levou, inclusive, a Águas do Algarve a dinamizar uma campanha específica durante o mês de agosto. Assim, fosse em mercados municipais, fosse nas praias, foi possível encontrar várias equipas de aguadeiros que davam a provar a pura água algarvia a residentes e turistas, para levar a mensagem junto do consumidor final. “Há que passar a ideia de que a água é um bem fundamental, que é segura e que pode ser consumida sem ser na sua forma engarrafada. Em qualquer sítio,
abrindo uma torneira, podem consumir esse bem de maneira descansada”, afirma Joaquim Peres, presidente da «Águas do Algarve». Ora, se a memória das pessoas tende a ser curta na generalidade dos assuntos, noutros é bem mais duradoura e, de facto, recuando algumas décadas, as origens da água para consumo, no Algarve, não eram as mesmas dos tempos modernos e resultavam quase exclusivamente de aquíferos que foram explorados de uma forma muito exaustiva, permitindo a intrusão de águas salinas. “Isso conferia, em certas zonas, um sabor extraordinariamente salobro a essas águas, levando à necessidade de se consumir água engarrafada. Esse hábito ficou mais ou menos
Os aguadeiros da «Águas do Algarve» andaram por todo o Algarve durante o mês de agosto
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Ação dos aguadeiros da «Águas do Algarve» no Mercado Municipal de Loulé
arreigado e ainda há muita gente que, não morando no Algarve, não se apercebeu da mudança das fontes de fornecimento de água, que hoje tem uma natureza completamente diferente e com uma qualidade também diferente”, analisa o administrador. Criou-se o hábito de comprar água engarrafada, mas também de colocar filtros nas torneiras de casa, algo que, na maioria dos casos, é desnecessário. “A nossa água foi reconhecida mundialmente como um elemento extraordinariamente bom. Contudo, o que pode acontecer é, na disponibilização que fazemos nos pontos de entrega dessa mesma água, os consumidores finais terem algumas situações de canalizações menos adaptadas, já com alguma deterioração, e que venham a 25
conspurcar a água que é fornecida com máxima qualidade”, esclarece, adiantando que a constatação dessa qualidade da água acaba por ser benéfica para a própria imagem do destino turístico que é o Algarve. Perante este cenário, a «Águas do Algarve» levou a efeito uma intensa campanha durante o mês de agosto do corrente ano para construir uma imagem de segurança, com a consciência de que ela demora bastante tempo a consolidar-se e que, num ápice, tudo pode cair por terra. “Para além do contato pessoal, foram feitas campanhas na imprensa, nos terminais de multibanco, de mailings, que chegaram, no total, a cerca de milhão e meio de pessoas. O feedback que se recebeu não é ALGARVE INFORMATIVO #78
unânime, há sempre alguém que, por um motivo qualquer, não está de acordo, mas as respostas, de uma maneira geral, foram extraordinariamente positivas e encorajam-nos a continuar com este tipo de iniciativas. Havia mesmo quem questionasse se aquela era mesmo água proveniente da torneira”, conta Joaquim Peres, revelando que foram utilizados cerca de cinco mil litros de água nesta campanha, que era dada em copos de 2,5 dl aos inquiridos. Confiança que é confirmada pela obtenção de certificados de qualidade a nível internacional e uma qualidade que advém do investimento de centenas de milhões de euros no passado recente. Investimento que, como se adivinha, é bastante avultado numa fase inicial aquando da construção das infraestruturas, mas depois há que mantê-la, o que implica outro conjunto
de gastos no dia-a-dia, enfatiza o presidente do Conselho de Administração da «Águas do Algarve». “Para além disso, são necessárias verbas para o tratamento da água, porque ela não é servida na forma bruta como é recolhida através das Barragens de Odeleite e Odelouca. São todos esses valores que, depois, se traduzem no custo final da água, na tarifa”, frisa. E como estamos a falar de investimentos astronómicos, eles são realizados com todo o rigor, consoante aquilo que é necessário, aquilo que é absolutamente imprescindível fazer para garantir a qualidade da água junto do consumidor final. “Para tal, existe um controlo de qualidade extremamente apertado nos nossos laboratórios e cujas análises são publicitadas e têm que garantir o que está estabelecido
Obras da nova ETAR da Companheira, em Portimão
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Vista aérea da ETA de Alcantarilha
na norma de fornecimento de água à população”, sublinha, falando em várias centenas de milhares de análises efetuadas ao longo de cada ano. “Somos a primeira empresa do mundo com certificação do produto água para consumo humano, no abastecimento em alta, o que é feito em grandes condutas até aos pontos de entrega, a partir dos quais depois os municípios fazem a distribuição em baixa”.
Interligação com os municípios é fundamental Com os custos de manutenção a serem variáveis consoante a dimensão dos equipamentos abrangidos, o mesmo 27
acontecendo com a periodicidade com que a mesma é conduzida, Joaquim Peres não consegue precisar quando dinheiro se gasta neste campo por ano, mas isso não significa que tudo não seja feito com total transparência e rigor, até porque os relatórios de contas são auditados por organismos superiores, que podem ou não autorizar determinadas intervenções e investimentos. Quanto à cobertura de água potável ao nível do Algarve, o entrevistado lembra que toda a orla costeira está totalmente abrangida. “No entanto, há toda uma população muito dispersa pela serra que merece o mesmo respeito do que os habitantes do litoral. A grande ALGARVE INFORMATIVO #78
Joaquim Peres, presidente do Conselho de Administração da Águas do Algarve
questão é que o investimento, não só pelo custo, mas pela oportunidade, não tem o mesmo tipo de atuação. Hoje, temos cerca de 99 por cento do território coberto com água fornecida pela «Águas do Algarve», existindo algumas pequenas ilhas de pessoas, no interior do território, que ainda aguardam por isso”, confirma. Joaquim Peres esclarece, todavia, que a distribuição da água em baixa às casas dos consumidores finais é da responsabilidade das autarquias, o que obriga a uma boa interligação e diálogo constante entre ambos os atores. “Tem havido uma relação muito boa com os 16 municípios do Algarve, que são nossos acionistas, a que se junta igualmente a «Águas de Portugal». Percebemos as dificuldades que por vezes existem da parte das autarquias ALGARVE INFORMATIVO #78
em fazer algumas infraestruturas, mas vamos conseguindo gerir, em comum, todo este processo”, assegura. O engenheiro chama ainda a atenção para o impacto do custo da energia em todo o processo, isto porque a água nem sempre consegue chegar, de forma gravítica, a todos os locais. “Por isso, temos que ter depósitos em pontos elevados para realizar, depois, essa distribuição gravítica, mas há situações de alguma dificuldade para a água chegar às casas com a pressão necessária”, admite. A boa relação dá lugar a um planeamento integrado para que os investimentos sejam rentabilizados, e isso significa que as estruturas construídas e instaladas não se podem deteriorar, nomeadamente 28
por falta de utilização. “Quando se faz uma infraestrutura em alta, é acordado com os vários municípios que a vão utilizar o tempo que eles vão demorar a concluir todas as situações em baixa, o número de utilizadores e que tipo de utilização vai acontecer”, reforça, sublinhando que a água é um elemento que pode escassear e que, portanto, deve ser consumido com bom-senso. “No Algarve, a maior parte do fornecimento é feito através de albufeiras, pelo que está dependente das condições de pluviosidade. A «Águas do Algarve» construiu reservas porque sabemos que pode haver um ano ou outro em que não chova. Contudo, se isso se arrastar durante muito tempo, pode originar situações de alguma forma preocupantes, o que não é o caso”, tranquiliza.
Assim sendo, mesmo que a água possa parecer abundante ou infinita, o seu uso deve ser feito de maneira racional e tendo em conta o ciclo urbano da água, porque, mesmo depois de ser consumida, ela deve ser tratada à mesma. “Não pode ser colocada no meio recetor na forma como ela sai das nossas casas e indústrias, tem que regressar aos rios e aos mares com qualidade, e esse tratamento dos efluentes é outra dimensão do nosso trabalho diário”, aponta Joaquim Peres. “Dependendo o Algarve muito da economia do turismo, e tendo uma grande extensão de praias, que estão bastante bem classificadas a nível mundial, não podemos deixar que a água dessas praias fique
Ação de sensibilização conduzida junta às praias algarvias durante agosto
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conspurcada. Também nesse tratamento são feitos investimentos avultados, na construção e manutenção das infraestruturas, e nas análises do dia-a-dia”, acentua o entrevistado.
Obra nunca está concluída Se é verdade que a maioria das pessoas se preocupa em saber de onde vem e por onde andou a água que sai das torneiras de suas casas, também é verdade que a maioria não perde muito tempo a pensar para onde ela vai depois de ser utilizada. “É o tal provérbio «longe da vista, longe do coração» e, nessa matéria, só se dá pela necessidade da «Águas do Algarve» se acontecer algum problema”, reconhece
Joaquim Peres, satisfeito por o Verão ter terminado sem qualquer incidente e sem que qualquer praia tenha ficado interditada ou tenha perdido a sua Bandeira Azul. “É um trabalho de grande responsabilidade, mas dá-nos muito prazer sabermos que estamos a contribuir para o bem-estar de toda a população e para uma fatia bastante importante da economia do país”. Joaquim Peres dá, porém, um passo mais além, no sentido de se começar a utilizar a água que se deita fora, depois de tratada. “Pouco a pouco vamos desenvolvendo esse esforço nas regas, nas lavagens de ruas e contentores, nas lavagens das nossas instalações”, revela, confirmando que
Vista aérea da ETA do Beliche
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Laboratório de microbiologia da Águas do Algarve
os investimentos nunca param do lado da «Águas do Algarve». “Os efluentes que vão sendo produzindo pelas populações têm que ser tratados e as instalações têm cada vez exigências maiores, ao nível do tratamento do produto final, mas também dos odores. Acresce que, com o aumento da população, as malhas urbanas também se aproximaram das zonas dos tratamentos, o que pode desencadear situações algo preocupantes no que toca aos odores. Para além disso, há a questão da capacidade das instalações”. Posto isto, Joaquim Peres fala da ETAR da Companheira, em Portimão, que está a ser construída no local onde já existe uma instalação e que tinha o tal problema de cheiros intensos, devendo estar concluída em 2018. Depois, na zona de Faro Nascente/Olhão Poente, 31
está outra grande ETAR pronta para começar a ser construída, com prazo de empreitada de dois anos. “São 40 milhões de euros de investimento total, mas também vamos ter que intervir na ETA de Alcantarilha para aumentar a sua capacidade de tratamento. Espero que essa obra arranque em 2017, na ordem dos quatro milhões de euros. É evidente que a flutuação da população, residente e visitante, do Algarve coloca problemas ao nível das infraestruturas, que têm que ser arranjadas e adaptadas, pelo que essas obras estão sempre na linha do horizonte. Podemos dizer que os grandes investimentos, com estas duas ETAR, ficarão concluídos, mas há sempre necessidade de pequenas ampliações e intervenções”, considera Joaquim Peres .
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Loulé e Créteil unidos numa geminação que não será de turismo político Loulé e a comuna francesa de Créteil assinaram, no dia 6 de outubro, um acordo de geminação com o intuito de tornar mais fortes os laços e os projetos comuns dos dois municípios. Diálogo, intercâmbio de experiências e implementação de ações conjuntas e concretas são os objetivos de um «casamento» que pretende ser diferentes de outras geminações, conforme frisaram, no ato, os autarcas Vítor Aleixo e Laurent Cathala. Texto:
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e 5 a 9 de outubro, uma comitiva francesa de Créteil deslocou-se ao Concelho de Loulé para celebrar um acordo de geminação entre ambas as entidades e que passará pela assinatura de um acordo de cooperação e pela definição de um Plano de Atividades com carácter bienal, de modo a que as atividades se desenvolvam respetivamente em França e em Portugal. A realização de uma Bienal de Atividades Económicas e Turísticas (mostra e promoção de produtos regionais, de espaços de lazer e turismo), a organização de uma Conferência e Exposição dedicada à temática europeia de interesse comum ou o intercâmbio de estudantes, professores, cidadãos de movimentos associativos, culturais e desportivos são algumas das ações previstas. Créteil é uma comuna francesa situada nos arredores de Paris, a Sudoeste da capital no departamento Val-de-Marne, região de Île-de-France, com cerca de 89 mil habitantes. A comitiva gaulesa foi liderada pelo responsável máximo do Município de Créteil, Laurent Cathala, e visitou, no dia 6, o centro de Vilamoura, o Colégio Internacional de Vilamoura, o Centro Hípico e os campos de golfe desta zona emblemática, assim como os dois resorts de referência do concelho, designadamente Vale do Lobo e Quinta do Lago. Ao final da tarde procedeu-se à assinatura do juramento de geminação, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, com Laurent Cathala a definir Loulé 35
como um município acolhedor, caloroso, “um cantinho onde nos sentimos bem”. “Esta geminação compromete as duas cidades como num casamento e é um ato que ajuda a construir a paz entre os dois países”, sublinhou, revelando que Créteil já se encontra geminada com sete outras cidades de nações como Israel, Alemanha, Reino Unido, Benim, Espanha, Cuba e da zona de Guadalupe e que mantém uma parceria com Purim, na Arménia. “Os agentes desta geminação entre Créteil e Loulé serão os protagonistas das cidades, associações, professores e empresas”, acrescentou. De saber que é precisamente em Créteil que se realiza, há 14 anos, a famosa festa da Rádio Alfa, o maior ajuntamento da comunidade emigrante portuguesa na Europa, que contou com a participação, em junho deste ano, do Presidente da República e do Primeiro Ministro. “O povo português é corajoso e tudo faz para se integrar e ter êxito em França, como é o caso do Armando Lopes, bem-sucedido empresário que em muito contribuiu para a celebração desta geminação, que é também uma forma de defender os ideais europeus, de criar laços com outros países, de lutar contra o racismo e a xenofobia e de passar uma mensagem de esperança para os nossos jovens”, salientou Laurent Cathala, indicando ainda que Créteil se propõe ser uma montra da oferta turística do concelho de Loulé, de ALGARVE INFORMATIVO #78
forma a atrair mais visitantes a este município algarvio. Para Vítor Aleixo, este momento singular era igualmente de confiança na força da cultura e identidade de duas cidades e nas dinâmicas que se pretendem imprimir. “Tudo leva a crer que esta relação venha a ser um êxito e quero destacar os contributos dos empresários Armando Lopes e Reinaldo Teixeira, sem os quais este processo não teria seguido a rota que seguiu”, afirmou o presidente da Câmara Municipal de Loulé, lembrando que uma geminação só tem sucesso se conseguir mobilizar as pessoas, os atores sociais, nas mais diversas atividades. Com a assinatura deste compromisso fica garantido um conjunto de ações nos dois territórios, passíveis de concretização no âmbito do seu desenvolvimento económico e cultural, e que irão contribuir para a sua internacionalização, “um desígnio último das cidades do futuro”. “Não estamos perante mais um processo de intenções em que se engloba, de forma generalista, colaborações em áreas tão díspares que, depois, se vêm a revelar de difícil operacionalização. Estamos seguros que se tratam de ações totalmente concretizáveis nas áreas da economia e cultura, através das quais as nossas duas cidades buscam sinergias, encarando a geminação com um outro olhar, uma nova atitude, como uma nova prioridade”, destaca o edil louletano.
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À semelhança de Créteil, também são várias as geminações que Loulé possui com outras cidades e Vítor Aleixo não nega que, com o tempo, com a instalação de alguma rotina, e com a falta de disponibilidade de ambos os lados, elas se vão esmorecendo. “Esta geminação vai ser diferente e estamos muito empenhados em que os jovens louletanos, em que os cidadãos comuns, os professores, os empresários, tirem real proveito deste acordo, até porque existe a possibilidade de se recorrer a fundos comunitários para financiar diversas atividades. Há uma ideia, que não é justa nem correta, que as geminações são uma oportunidade para turismo político e isso não vai acontecer neste caso”, garantiu o autarca. “O momento dos políticos é este, da fundação, os momentos futuros pertencerão aos atores sociais, empresários, do mundo associativo e da cultura”, enfatizou. Estamos perante, assim, de um guia de marcha para se abrir caminho ao investimento local por parte de empresas francesas, e para que as empresas louletanas tenham um acolhimento privilegiado nas suas possíveis intenções de investimento no lado francês. “Todos sabemos que a relação entre os nossos dois países é muito antigo e que hoje tende a acentuar-se mais fortemente ao nível local, com a permanência de muitos cidadãos franceses no nosso concelho. A 36
dimensão turística de Loulé, o bem-receber, as boas condições de vida que apresentamos, vão desde a prestação de cuidados de saúde à qualidade das escolas, dos espaços urbanos, à vida coletiva e associativa e isso tornanos um território necessariamente agregador de várias nacionalidades”, concluiu Vítor Aleixo.
Laurent Cathala, do município de Créteil
Na sexta-feira, dia 7 de outubro, as duas comitivas visitaram o Hospital de Loulé, seguindo depois para o interior do Concelho, com passagem pelas típicas aldeias de Querença e Alte. A manhã de sábado, dia 8, foi preenchida com um debate entre o presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, e o presidente da Câmara Vítor Aleixo, presidente da Câmara Municipal de Loulé Municipal de Créteil, além da participação dos diretores Laurent Cathala, com a moderação do das escolas e dirigentes de clubes e presidente da Assembleia Municipal, associações. O objetivo do debate foi Adriano Pimpão. A iniciativa decorreu refletir sobre as vantagens para os na Sala da Assembleia Municipal e dois municípios do estabelecimento contou ainda com a participação de de relações de cooperação através associações comerciais e empresariais do Algarve, bem como diversos do processo de geminação . empresários do Concelho de Loulé, 37
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Algarve + Arte = (+) Turismo Paulo Cunha
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uando em 2013 fui convidado pela Direção Regional de Cultura do Algarve e pela Universidade do Algarve para dar o meu contributo escrito numa publicação conjunta, intitulada «Quintas de Cultura – A criação cultural no Algarve», terminei o texto referindo: “É altura de parar para pensar e confirmar a importância que as associações e coletividades algarvias não profissionais nem profissionalizantes ligadas à Música sempre tiveram e que, na atual conjuntura, está ser notória e fulcral. No atual panorama musical, são elas o garante na produção e realização musical efetiva no nosso dia a dia. Mas será preciso chegar a estes extremos para os responsáveis institucionais e decisores políticos entenderem que elas sempre existiram e que, apesar de toda a sua intrínseca e voluntariosa riqueza musical, raras vezes foram merecedoras da devida e merecida atenção? São elas que, hoje, no Algarve real, através dos seus associados, colaboradores e diretores, idealizam, promovem, produzem, realizam, gravam, concretizam… Música! Chegámos ao momento em que é preciso dar o salto pois, fruto das circunstâncias, nada será como dantes. Será um erro crasso, com consequências irreparáveis para as gerações que nos sucederão, ser conivente e deixar - outra vez - os agentes musicais algarvios serem marginalizados, subalternizados, vilipendiados, preteridos e esquecidos. Para que isso não aconteça é preciso que todos os que estão profissionalmente ligados à Música se consciencializem que a Música feita no Algarve só será devidamente respeitada e creditada quando todos eles a assumirem e considerarem como una, sem compartimentações preconceituosas. É necessário afirmar a atividade musical através da criação de estruturas profissionais onde todos os que pela sua exigência, dedicação, profissionalismo, qualidade e mérito possam constituir-se como um núcleo gerador de oportunidades criativas, interpretativas e performativas. Só assim poderemos, de uma vez por todas, tentar que a marca «Algarve Musical» se constitua como mais uma fonte de divulgação e rentabilização da nossa região. A bem da Música e do Algarve, criemos sons com outros tons.”. Volvidos três anos, no início deste ano, numa palestra/tertúlia para a qual tive a grata honra e prazer de ser convidado pela Câmara Municipal de Loulé, fiz mais uma vez - um pequeno balanço da atual situação
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no que à cultura e às artes (criadas, produzidas e consumidas no Algarve) concerne, tendo na altura frisado o estranho, constante e continuado alheamento das entidades ligadas ao turismo algarvio na utilização das associações e artistas da região como agentes catalisadores, potenciadores e angariadores de mais e melhores turistas para a «época baixa». Tendo então a questão, colocada em tom de queixume, ficado a pairar no ar… Eis se não quando, parecendo ter ouvido as nossas «preces», a atual Secretaria de Estado do Turismo decidiu canalizar um milhão e meio de euros para o programa «365 Algarve». Um programa que pretende articular Cultura e Turismo no Algarve, destinado a apoiar e promover a oferta cultural na chamada época baixa do turismo, de modo a tornar a região algarvia mais atrativa e apetecível ao longo do ano e a combater a sazonalidade entre os meses de novembro e maio de 2017. Sendo, desde sempre, um acérrimo e convicto defensor da promoção e divulgação da força criativa e produtiva dos agentes culturais algarvios junto de quem nos visita, é com enorme satisfação e agrado que vejo a Comissária deste programa, Dália Paulo, privilegiar uma programação participativa e identitária, construída exclusivamente com associações culturais e municípios algarvios. Ao envolver cinquenta e uma entidades, que apresentarão sessenta e três projetos, em mais de mil apresentações ao longo de oito meses, residentes e visitantes terão acesso ao melhor que em termos artísticos por cá se faz. Desejo muito que este programa venha a ser um êxito junto de todos os intervenientes, pois se assim suceder poderá vir a ser ampliado, ganhar novos parceiros, apontar novas estratégias de afirmação identitária às várias autarquias algarvias e ser replicado noutras províncias com potencial turístico. A sua continuidade dependerá de conseguirmos, em tempo útil e eficaz, publicitar e promover lá fora a cultura que se faz cá dentro; de mostrarmos a quem nos visita o apoio (efetivo) que damos aos «nossos» artistas; de criar canais que facilitem a «exportação» da arte feita a sul para as origens de proveniência dos turistas; de potenciar a partilha e usufruto das mais-valias e sinergias das várias entidades envolvidas! Só assim teremos um «Algarve todos os dias, onde todos contam!» .
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Vamus fazer história?! José Graça
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om três anos de vigência, a lei n.º 75/2013 de 12 de setembro vai sendo implementada aos soluços, primeiro por desconhecimento e falta de experiência, depois por ausência de condições e recursos, maioritariamente por ser um diploma extenso, confuso e propício a interpretações dúbias. Diz o povo e com razão, o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita! Estamos a falar de um diploma legal de natureza estratégica para o quotidiano das autarquias locais, pois estabelece o regime jurídico das autarquias locais, aprova o estatuto das entidades intermunicipais, estabelece o regime jurídico da transferência de competências do Estado para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais e aprova o regime jurídico do associativismo autárquico, sobre a qual já escrevemos em diversas ocasiões… Hoje, depois de termos abordado a temática das autarquias locais e das comunidades intermunicipais, referiremos o regime jurídico da transferência de competências do Estado para as autarquias locais, até agora pouco desenvolvido por ausência de regulamentação e pela natureza própria do diálogo do anterior Governo com as autarquias. Foi tempo de muita parra e pouca uva, voltando aos adágios populares. Com um processo de discussão em torno da descentralização em curso a nível nacional, a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve avançou com um projeto no domínio da mobilidade que consubstancia aquilo que está O projeto consiste na elaboração de Planos de Ação de Mobilidade Urbana Sustentável (PAMUS). Três equipas de trabalho foram constituídas para realizarem estes instrumentos focados nas 3 áreas em que se divide o Algarve:
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– Barlavento (Vila do Bispo, Aljezur, Lagos, Monchique, Portimão, Lagoa e Silves); – Centro (Albufeira, Loulé, Faro, São Brás de Alportel, Olhão e Tavira); -Sotavento (Alcoutim, Vila Real de Santo António e Castro Marim). Neste trabalho, cooperam vários parceiros públicos e privados, intervenientes-chave na geração de deslocações intra e interconcelhias. Concluídos até ao final do ano, os planos vão incorporar as medidas a adotar por cada um dos intervenientes na mobilidade, elencando potenciais fontes de financiamento dentro dos diferentes pacotes de incentivos comunitários. Avançarão também novas abordagens conducentes ao desenvolvimento e implementação do Plano de Mobilidade e Transportes Intermunicipal (PMTI). Essas medidas serão direcionadas para o desenvolvimento de soluções de transporte e mobilidade que visam apoiar a transição para uma economia de baixo teor de carbono (redução das emissões de CO₂), incluindo a promoção da mobilidade urbana multimodal e medidas para a sua futura concretização. As ações deverão permitir reequacionar as barreiras atualmente existentes para a mobilidade sustentável e desenhar soluções inovadoras de transporte mais eficientes do ponto de vista energético e ambiental, garantindo formas de acesso comportável a bens e serviços a toda a população . NOTA – Poderá consultar os artigos anteriores sobre estas e outras matérias no meu blogue (www.terradosol.blogspot.com) ou na página www.facebook.com/josegraca1966 (Membro do Secretariado Regional do PSAlgarve e da Assembleia Intermunicipal do Algarve). 42
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O V Império começa assim? António Manuel Ribeiro
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ão me acho poeta, já o disse por várias vezes, antes um escritor de canções que às vezes escreve poemas, apesar dos três livros de inéditos publicados. Mas hoje sou um poeta a escrever-vos. Invoco Fernando Pessoa e Agostinho da Silva e arremesso ideias proféticas (estão a ver?) a propósito da eleição do António Guterres (engenheiro com currículo profissional vasto) para a regência da ONU, depois de tanta votação positiva e uns truques de última hora a lembrar que há figurinos da antiga Europa de Leste que levam muito tempo a corromper. Guterres ganhou. E isso trouxe-me à presença aquela ideia, sobre a qual duvido tanto, do destino traçado para este Império dirigir a Humanidade, um Império da palavra que uns habilidosos colocaram ao nível do disparate científico (a casta do Erro a que chamaram Acordo Ortográfico) – se renegamos o étimo de uma língua, acabamos com uma linguagem de esferovite. Será Guterres, depois de Durão, com todos os senãos que conhecemos a este último e a que se junta o apetite pelo Golda Saca (versão popular de Goldman Sachs), serão eles os indícios desse Império que há-de vir, a língua que se cumpre, o prosseguimento da palavra e da genuína cultura que Pessoa anteviu, Saramago elevou, por Eça e Camões é brilhante, Vieira da Silva pintalgou, Siza Vieira edifica, António Lobo Antunes (que renega o génio de Pessoa, e a diatribe só lhe fica bem) continua a expandir, quais descobridores sem necessidade de acantonar a terras inóspitas caravelas de lenha, levando a espada e a cruz por utensílios, os de hoje, o nosso Agora? Teremos a nação dormente e adormecida para tanto ver e enaltecer? Conheci António Guterres em 1987 e firmámos amizade e respeito. Trabalhámos juntos para uma campanha política que falhou – Constâncio perdeu, só podia perder. Um abraço forte por seres a pessoa certa nesse alicate de poderes, um saco de boxe onde todos irão experimentar o seu jeito. A ONU fez-se para que o mundo não mais se entregasse a uma guerra global. Andamos muito perto de retomar o episódio a que chamámos II Guerra Mundial e o cortejo das vítimas em tempo de ‘paz’ é hediondo. Precisamos de homens bons a dirigir a massa crítica da espécie. Chegaste ao posto certo.
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Um livro: «Eu e os Políticos – O Livro Proibido», de António José Saraiva – edição Gradiva (2016). Foi o primeiro livro que li e não comprei, porque me foi oferecido por um amigo em formato PDF, facto muito estranho porque o formato digital que recebi é a prova final que as editoras enviam aos autores para a última revisão. Ou seja, quem colocou aquele livro à disposição alheia é muito próximo do editor ou da gráfica onde foi impresso. A não ser que o Saraiva… Chamo à colação este livro porque de proibido tem muito pouco e de ajuste de contas bastante, apesar de o autor afiançar que não. É, tecnicamente, um livro sem génio literário, um sortido de redacções que a minha velha quarta classe impunha com rigor – constata-se que passou muito tempo em restaurantes e pouco mais. Mas já era assim que eu via a escrita do arquitecto AJS, quer no Expresso, quer no Sol. Os assuntos até poderiam ser interessantes, o prisma de abordagem curioso, mas a veia literária era mais de régua e esquadro, básica. Fui ‘obrigado’ a ler este livro, e até me deu jeito. Há um par de semanas estive por três dias no Funchal, e no regresso nocturno o avião atrasou-se duas horas e dez minutos. Como era o último voo escalado as lojas foram fechando e os passageiros, esticados por todos os assentos disponíveis, ficaram entregues ao pouco disponível para comer, beber ou ler. Terminara o livro que andava a ler nessa manhã, lembrei-me então do e-mail do meu amigo e dediquei a espera à leitura digital no tablet. A primeira vez. Tem uma entrada sobre Guterres, incómoda e patética, mazinha até, se é que a voz escrita de AJS chega ou chegou a algum lado, apesar de ele julgar que sim. Duvido que tenha incomodado a classe política: alguns já morreram, não se podem defender, e os outros continuarão a fazer pela vida. Ao longo da prosa, AJS coloca-se por vezes como sinaleiro do nosso teatro democrático, mas cada um tem o espelho que quer. Mesmo para ex-director do Expresso. Julgar que este livro pode contribuir para a história deste tempo, é ele que o afirma, soa a anedota suave. Nem para roteiro dos restaurantes lisboetas, por serem mencionados sempre os mesmos .
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A Brincar aos Restaurantes II Augusto Lima
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á aqui falei sobre a importância sumária de se ser profissional e a diferença entre ser e não ser. Qual a diferença entre ser-se Restaurador e Dono de um Restaurante? O primeiro é alguém que sabe o que quer, para onde vai e o que precisa ser feitio. Gosta de receber, de dar o seu melhor, de partilhar com os outros o seu saber, ânsias e necessidades. Sabe ouvir, pede conselhos, não sabe tudo. Sabe que só não conseguirá o melhor resultado, que necessita dos melhores consigo. Tem visão, carisma, é um inconformado e um candidatado anual aos Óscares dos que lutam por ser melhores todos os dias. No fundo, tem que se ser Líder e deter conhecimentos na área que abraçou. Eu acredito que o negócio dos Restaurantes é um dos mais, se não o de maior risco. E porque? Vender comida é aparentemente fácil mas pressupõe saber comprar, transportar, acondicionar, preparar, confecionar e vender. Para comprar, é necessário saber o que precisamos, como verificar se o que necessitamos se encontra nas melhores condições e se o preço e a qualidade referenciada se adequam ao nosso negócio. Na grande maioria das vezes, adquirir tudo num ou mais fornecedores com qualidade é muito melhor do que sermos nós a fazê-lo. Tempo é dinheiro, lembram-se? Para transportar é necessário conhecer os alimentos, respeitar a cadeia de frio, tudo para conceder ao alimento o maior prazo de durabilidade. Para acondicionar, é necessário conhecer as temperaturas de guarda, os prazos de validade, as suas características, continuando a possibilitar ao alimento o maior de tempo de vida.
melhor estrutura e uso, valorizando-o com a arte de cozinhar e empratar. Por fim, vender, implica saber qual a margem adequada de venda. Que lucro obter? Como incrementar as vendas e tornar apelativo o nosso negócio ao consumidor? Podem questionar – Mas tudo isto diz respeito ao Cozinheiro! – Sim, mas também e principalmente ao Restaurador, ao responsável pelo negócio, pois, em última análise, é sobre ele que recai as culpas ou o sucesso do negócio. Um Dono de Restaurante sabe tudo. É especialista em compras, em vendas, percebe de cozinha, de bebidas, de relações públicas, de margens, rácios e marketing. De objetivos, de contratações, o contrário do Restaurador e o responsável pela gestão danosa de milhares de negócios, de má qualidade, do desrespeito pelas normas de higiene e boa conduta nos espaços de produção alimentar, no desemprego e na precariedade do mesmo, na ruína dos valores éticos e morais, na desvalorização dos recursos materiais e imateriais, na ruína da cultura gastronómica e outros tantos valores. Ser Restaurador implica querer aprender, ir ao encontro das necessidades do consumidor, estar atento às mudanças dos hábitos e tendências mas principalmente de gostar do que faz, amar o que faz, sentir o que faz. Ser responsável pelo negócio, pelos seus colaboradores, gostar de servir, de receber. O Algarve, o País, necessita de Restauradores . (Cozinheiro, Formador, Consultor, Presidente da ACPA - Associação dos Cozinheiros e Pasteleiros do Algarve).
Para preparar e confecionar é necessário ter as melhores condições, equipamentos e utensílios de forma a continuar a possibilitar ao alimento a ALGARVE INFORMATIVO #78
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O mundo da água Teresa Fernandes
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Planeta Terra é apelidado de Planeta Água, devido à sua superfície ser constituída por ¾ de água, e quando é visto do espaço fica com uma maravilhosa cor azul - constatou Yuri Gagarin, o primeiro astronauta a observar esta realidade! Falamos de 70% da superfície da Terra que é coberta por este líquido tão precioso à vida. No entanto, cerca de 97,5% desta é salgada, e existe nos oceanos e nos mares! Apenas 3% é água doce! Destes 1,72% é água doce congelada nas calotas polares e 0,75% está em lençóis subterrâneos, 0,02% está contida em plantas e animais e só 0,01% de toda água do planeta está disponível em rios, lagos e represas. Mas isto… Já quase toda a gente sabe! O que talvez não se saiba é que a água para consumo, antes de chegar às torneiras lá de casa, todos os dias a toda a hora, com uma qualidade de excelência, passa por um rigoroso processo de tratamento, nas ETA’s, com recurso a tecnologia extremamente avançada. Esta qualidade é suportada pelo cumprimento das melhores práticas de operação e manutenção, as quais são ainda sustentadas pela monitorização laboratorial de parâmetros acreditados. As ETA’s têm a finalidade de transformar a água designada de Bruta, i.e., sem qualquer tratamento e imprópria ao consumo humano, em água denominada de Potável, i.e., tratada e adequada ao consumo humano. Neste processo, a qualidade da água nas origens tem influência direta no tipo de tratamento a ser adotado pelas ETA’s, sendo que no Algarve as origens são de uma qualidade muito boa. No seu desempenho nesta área do abastecimento público de água, a Aguas do Algarve, cumpre não apenas com a Legislação Nacional que é aplicável ao setor, como também com as orientações da Organização Mundial de Saúde, com as especificações da Certificação em ALGARVE INFORMATIVO #78
Segurança Alimentar, bem como as especificações da Certificação do Produto Água para consumo humano, que detém desde 2007. E nós, para usufruirmos desta água, apenas temos de chegar até à torneira mais próxima e através de um simples gesto, usufruir deste precioso líquido, nas quantidades de que necessitamos. No entanto, é sempre importante relembrar, que se trata de um bem que é finito, e já escasso em muitas zonas do Planeta. O uso eficiente e consciente que se dá à água é fundamental. Assim, e porque se trata de um processo que nos toca a todos, queremos partilhar o nosso conhecimento neste longo processo que é realizado nas ETA’s, onde a água entra em estado Bruto, e sai Tratada. Apenas periodicamente é possível abrir as Portas destas infraestruturas à comunidade em geral, devido às características próprias destes locais, e à elevada exigência de acompanhamento da visita por técnicos credenciados que devem estar disponíveis para atender a todos os necessários esclarecimentos que sejam efetuados. Este mês de Outubro, e porque se celebra o Dia Nacional da Água, iremos ter dois momentos de Portas abertas: dia 19, para a ETA de Tavira, às 15h; e no dia 20, para a ETA de Alcantarilha, também às 15h. As marcações são obrigatórias e devem ser efetuadas para o email geral.adp@adp.pt Ficamos à sua espera! .
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OMNIBEES DE LUÍS FERRINHO É LÍDER DE MERCADO NA AMÉRICA LATINA Luís Ferrinho foi recentemente considerado um dos 50 empresários mais poderosos do setor do turismo do ano 2016 pelo conceituado jornal brasileiro «Panrotas», muito por causa do programa Omnibees, presente em 3500 hotéis de toda a América Latina. A caminhada deste farense iniciou-se, porém, há mais de duas décadas, ao leme da Visualforma, ainda hoje líder no ramo da informática, infraestruturas e consultadoria. Agora, o futuro passa por adquirir concorrentes para crescer na Europa, enquanto resiste a todo o custo às muitas propostas milionárias que vão surgindo para vender o Omnibees. Texto:
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Luís Ferrinho é daqueles empresários que começou a dar nas vistas no Algarve numa altura em que, em Portugal, ainda ninguém ouvido falar de «empreendedorismo», muito menos em «start-ups», conceitos que hoje estão bastante na moda. Mas assim aconteceu com este farense que, ainda ALGARVE INFORMATIVO #78
durante o ensino secundário, começou a adaptar programas de faturação à realidade específica de algumas empresas, no início da década de 90. O sucesso foi tal que, em 1995, nasceu a Visual Forma, empresa de Informática, Infraestruturas e Consultadoria sobejamente reconhecida no plano nacional. Mas é por causa do 52
na distribuição para a Booking, Expedia, operadores turísticos, agências de viagens e sítios de internet de hotéis”, explica resumidamente o entrevistado.
«Omnibees» que estivemos à conversa com Luís Ferrinho no início de outubro, numa das poucas ocasiões em que se encontra no Algarve, já que reside a tempo inteiro no Brasil há alguns anos. “O Omnibees é um produto dedicado ao turismo e que abarca tudo aquilo que diz respeito a distribuição e marketing para hotéis. É uma ferramenta para auxiliar os hoteleiros 53
Um produto direcionado para a hotelaria nascido numa região cuja principal atividade económica é precisamente o turismo parece algo perfeitamente natural, mas isso não quer dizer que o percurso tenha sido rápido e fácil. Porém, à medida que a Visual Forma ia crescendo, alicerçada a poderosos parceiros como a IBM, Cysco e Microsoft, foi crescendo também a vontade de não se limitarem apenas a revender os produtos dos outros, mas em criar os seus próprios produtos. Aliás, foi assim que a Visual Forma tinha nascido. “Continuamos no negócio das infraestruturas e a vender as marcas de referência, mas decidimos avançar para uma solução fabricada por nós e esse processo de investigação arrancou em 2007/08. O Omnibees deu os primeiros passos em 2009 e, em final de 2010, o produto estava acabado e pronto para ir para o mercado. Hoje, temos mais de 3500 hotéis como clientes no mundo inteiro e fazemos vendas diretas, não temos intermediários”, salienta Luís Ferrinho. Já se sabe que o Algarve não é propriamente um Silicon Valley, mas nem só as empresas tecnológicas sentem grandes dificuldades em vender os seus produtos alémALGARVE INFORMATIVO #78
fronteiras, observa o entrevistado, com tristeza. “Sentimos esse problema com a Visual Forma mas, apesar disso, abrimos um escritório em Lisboa e temos clientes em todo o país. No processo de desenvolvimento da Omnibees, contratamos alguns consultores internacionais para percebermos em que lugares do mundo deveríamos apostar a nível de estratégia comercial, porque o Algarve, e Portugal, por si sós, não permitiam rentabilizar o produto”, garante Luís Ferrinho, falando em milhões de euros aplicados em investigação ao longo dos anos. “O relatório indicou-nos o Brasil e a China como locais ideais para crescer e que o Brasil seria o país do mundo onde iriam aparecer mais pequenas cadeias de hotéis independentes”, prossegue. De malas e bagagens partiu Luís Ferrinho para o país irmão, ciente de que os concorrentes eram muito fortes, normalmente americanos, e alguns europeus, mas a Omnibees é líder de mercado na América Latina, o que significa que o Algarve pode ser berço de projetos de sucesso de qualquer tipo e feitio. Neste caso, todavia, são necessários recursos humanos com conhecimentos específicos e essa é uma discussão que o nosso interlocutor já teve por diversas vezes com a Universidade do Algarve. “Nós achamos sempre que as universidades devem estar mais voltadas para as empresas e tem sido realmente difícil contratar quadros com muita qualidade. Temos uma equipa de investigação e desenvolvimento
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bastante grande, estamos em processo de contratação de mais 16 pessoas, mas a tarefa não é fácil”, reconhece, porque o Algarve possui essencialmente pequenas e médias empresas, o que leva os recursos humanos a procurar oportunidades de trabalho fora da região.
Não se aposta a sério nas start-ups em Portugal Mercê deste cenário, não são muitas as empresas algarvias vocacionadas para a exportação dos seus produtos e serviços com mais de duas décadas de existência, e menos ainda àquelas nas áreas das tecnologias e do conhecimento. Aí, marca a diferença a persistência dos empresários, dos visionários, dos empreendedores, daqueles que conseguem vencer as adversidades e colocar em prática as ideias que lhe fervilham na cabeça. “Nestes 20 e alguns anos que tem a Visual Forma, e principalmente no início, tivemos alguns projetos difíceis de criar. É fácil constituir uma empresa, o problema depois é levá-la a um produto de maturidade, a um patamar onde é rentável. A Omnibees conseguiu dar esse passo porque teve como suporte a Visual Forma, uma empresa que já conseguia gerar dinheiro suficiente para se apostar no produto, mas, embora nunca tenhamos pensado em desistir, foi um processo bastante longo. O sucesso parece que foi rápido, mas começamos a
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pensar neste produto há nove anos”, frisa Luís Ferrinho. Ninguém nega o crescimento meteórico do Omnibees nos últimos tempos, mas nada teria acontecido sem a tal almofada financeira da Visual Forma, o que origina algumas críticas do entrevistado. “Para uma start-up começar, costuma haver dinheiro disponível, porque nem é preciso muito. Contudo, quando se pensa em colocar um produto no mercado internacional e em se crescer um pouco mais, são necessários muitos milhões de euros e Portugal não é, decididamente, um país onde haja fundos de investimentos para esse fim. O governo tem a «Portugal Ventures», mas é bastante limitada em termos de dinheiro para este género de projetos,
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não existem muitos empresários com capacidade financeira e, os que existem, se calhar não investem como deveriam nas start-ups”, analisa Luís Ferrinho, daí a tal persistência e alguma sorte para se procurar e encontrar um lugar ao sol. Claro que, para se encontrar o tal lugar ao sol, é preciso sair de casa e ir à procura dos clientes, e não ficar à espera que eles nos entrem pela porta adentro. Assim, o empresário tem que estar preparado para tomar um pequeno-almoço de negócios em Faro, ir a uma reunião em Londres da parte da tarde e viajar para a China no dia seguinte, praticamente com uma mala sempre preparada na bagageira do carro. “Em qualquer que seja o negócio, mesmo na era
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digital, nós temos que ir à procura dos clientes. O Omnibees, por exemplo, tem mais de 3500 hotéis como clientes e cresce a um ritmo de 70 ou 80 hotéis novos por mês. Ora, em Portugal, existem, mais ou menos, 1700 unidades de alojamento e cerca de 100 mil quartos. Na Riviera Maia e em Cancún existem 90 mil quartos, dos quais 55 mil são nossos clientes”, aponta Luís Ferrinho, voltando a enfatizar que o mercado nacional é muito pequeno para tornar viável um produto altamente tecnológico como o Omnibees. Outro desafio que se colocou a Luís Ferrinho nos primeiros passos da Omnibees é que o mercado brasileiro é diferente do europeu, pelo que foram precisos dois anos a «tropicalizar» o produto e foi precisamente essa ALGARVE INFORMATIVO #78
preocupação que os deixou numa posição privilegiada em relação à concorrência. “Havia no terreno empresas norte-americanas muito grandes para as quais o mercado sul-americano ainda valia pouco dinheiro e que não tiveram esse cuidado. Nós, como eramos uma start-up, apostamos nesse diferencial e a estratégia resultou”, explica, acrescentando que todos os dias há alterações para realizar no Omnibees. “Ainda há pouco tempo ganhamos o negócio de uma rede bastante conhecida, o Club Med, que tinha uma especificidade que mais nenhuma rede hoteleira nos tinha colocado. Portanto, o processo de investigação e desenvolvimento nunca acaba, é impossível dizer que está tudo feito e virar as costas”, afirma, convicto. 56
Mais uma ideia errada que se tem neste ramo é que, no início, é preciso uma equipa grande para se desenvolver o produto e que, para a sua manutenção, a necessidade de recursos humanos é menor. “Entramos no mercado e temos que nos adaptar a ele. Depois, à medida que crescemos em clientes, o produto precisa de mais arquitetura, de se melhorar a sua qualidade de construção. É um processo evolutivo bastante grande e complexo”, assegura, indicando que o grosso da equipa técnica do Omnibees se encontra no Algarve, mas também já inclui elementos situados no Brasil e no México. “Somos 70 funcionários no Brasil, temos pessoas na Colômbia, México e Argentina e deveremos recrutar técnicos num destes países, até mesmo por causa dos fusos horários. Na Colômbia e México estamos com seis horas de diferença em relação a Portugal”, atesta.
Atento a novos mercados, mas sem perder o foco Entretanto, convém lembrar que o mercado do software mudou bastante no passado recente e a regra geral é vender um programa que está alojado numa «cloud», com os clientes a pagarem o serviço e não o produto em si. Ou seja, neste tipo de negócio, o serviço pós-venda assume uma particular importância, assim como a velha máxima do «cliente tem sempre razão». “Não existe essa conversa do 57
produto estava bom no mês passado e, se agora não está, paciência. Se o serviço não estiver em condições, no mês a seguir o cliente procura outra solução”, nota Luís Ferrinho, com um sorriso. “O nosso trabalho é criar protocolos de comunicação entre o Omnibees e os operadores turísticos e as agências de viagens, e temos mais de 300 conetividades a funcionar atualmente com empresas como a TUI, Booking, Expedia, Abreu, umas nacionais, quase todas internacionais. Agora, imagine o que é manter essas 300 conetividades a funcionar na perfeição todos os dias, 24 horas por dia. Qualquer pequena alteração que ocorra é preciso dar logo suporte, se o sistema está com problema, se o cliente fez alguma coisa mal…”. A porta da América Latina abriu-se através do Brasil, o Omnibees está a crescer a olhos vistos no México e com grandes resorts das Caraíbas também na carteira de clientes, mas Luís Ferrinho está sempre atento a outros mercados internacionais, começando a olhar agora com mais atenção para o Velho Continente. E a melhor maneira de se entrar num novo mercado de uma forma intensa e rápida é comprar alguns dos concorrentes, processo que está já a ser analisado, desvenda o entrevistado. “A Europa é um mercado muito competitivo, mas com uma dimensão bastante grande a nível da hotelaria. O Médio Oriente e o Oriente por si só ALGARVE INFORMATIVO #78
são igualmente bastante atrativos, com muitos hotéis novos e a profissionalizarem-se, o que significa que precisam de ferramentas para comercializarem e distribuírem os seus produtos”, indica. Perfeitamente implantado na América Latina, um continente com uma necessidade gigante e com um crescimento bastante grande na área hoteleira, a vontade é, mesmo assim, crescer para outros pontos do globo, mas com cautela, e essa expansão até pode acontecer quando algumas cadeias de hotéis abrem unidades noutros países. “Contudo, para estarmos ativa e seriamente num mercado, é preciso ter suporte local e conhecer os canais locais. Não é por causa de três ou quatro hotéis que compensa ir para outro país, por implicar um alto custo de investimento”, explica. E se a Visual Forma está interessada em comprar alguns concorrentes, propostas para adquirir a Omnibees também não faltam, confessa Luís Ferrinho, avisando de imediato não ser o momento certo para se pensar nisso. “Pretendemos crescer mais ainda e o Omnibees não foi feito para ser vendido, o que não quer dizer que não hajam propostas irrecusáveis. É um negócio e não um filho, existe um carinho especial pelo Omnibees, mas não um apego sentimental”, distingue. Crescer para valorizar a empresa é, por agora, o principal intuito de Luís Ferrinho para este produto de sucesso criado no Algarve, um produto feito a ALGARVE INFORMATIVO #78
pensar em hotéis e que não é facilmente adaptável para outras áreas de negócio, ao contrário do que muitas pessoas possam imaginar. “Temos rent-a-cars e operadores turísticos a dizerem que, com uma pequena alteração, o produto servia para eles, só que não é bem assim”, elucida. “As pessoas pensam que fazer reservas numa rent-a-car, numa companhia aérea, num cruzeiro ou num hotel é tudo igual, mas nada disso, e o Omnibees só é rentável porque já tem milhares de clientes. Se o adaptássemos para outro negócio, precisaríamos de mais esses milhares de clientes, e não queremos perder o foco”. Em final de conversa, e porque o tempo é escasso e contado ao minuto, Luís Ferrinho não se mostra muito agastado por o reconhecimento dado ao Omnibees em Portugal ficar bastante aquém do que sucede além-fronteiras, por já estar habituado a essa realidade. “Por norma, um produto português não se vende em Portugal, gostamos de comprar o que é estrangeiro. Somos um exemplo de sucesso noutros países, como é o caso do Brasil, recebemos em Faro visitas constantes de grandes operadores turísticos, e que nos respeitam bastante como empresa portuguesa que somos. Mas «santos da casa não fazem milagres», motivo pelo qual o nosso foco vai continuar a incidir no mercado externo” .
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Napoleão Mira & Reflect apresentam «12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado» Texto:
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Imagine um serão de poesia, palavras duras, sem filtro, mensagens que nos fazem pensar, às vezes até estremecer, umas escritas há poucos meses, outras já lá vão 30 ou 40 anos. Imagine também a batida e a sonoridade dos poetas da rua, dos senhores do hip-hop, um ritmo que se infiltra na pele e nos aquece as emoções. Junte-se os dois e temos «12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado» de Napoleão Mira & Reflect, um espetáculo de spoken word que subiu ao palco do Auditório Municipal de Lagoa no dia 5 de outubro e que regressa à ação, já no dia 21, desta vez no Auditório Municipal de Olhão. A não perder!
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Auditório Municipal de Lagoa recebeu, no dia 5 de outubro, o espetáculo de apresentação do álbum «12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado», de Napoleão Mira & Reflect. Uma dupla improvável, de facto. O primeiro, um sessentão alentejano residente em Lagoa há coisa de 30 anos, muito habituado a colocar os seus pensamentos em poemas e crónicas, que já deram origem a alguns livros. Palavras que também deram lugar a músicas, nomeadamente do seu filho, Samuel Mira, mais conhecido por Sam The Kid, mas também em discos de Dino & The Soulmotion ou dos Orelha Negra. O segundo, Pedro Pinto, músico, rapper, produtor, fundador e líder da editora algarvia Kimahera, com dois discos de originais lançados sob o nome Reflect. Ambos já se conheciam de outras andanças, mas os contatos intensificaram-se quando Pedro Pinto quis gravar alguns textos escritos pela namorada Carolina Tendon, que faleceu em 2015, e que estavam incluídos no livro «De Mim para Mim», lançado a título póstumo. “O Pedro convidou-me para dar voz a um desses textos e eu levei também comigo um poema que tinha começado a escrever há uns 40 anos, o «Máscaras de Orfeu». A banda estava lá, fecharam-se na régie e, quando saíram, disseram que aquilo estava muito giro e perguntaram se não tinha mais coisas parecidas”, recorda Napoleão Mira como tudo começou, enquanto a equipa jantava antes do espetáculo de Lagoa. O desafio tinha sido lançado e, verdade seja dita, uma semana depois Pedro Pinto
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estava a ligar novamente para Napoleão Mira para ir ouvir à música aos estúdios da Kimahera, em Armação de Pêra. “Não estava completamente ao meu gosto, faltava dar uns pequenos retoques, mas o João Mestre estava lá nessa noite e assim ficou feita a nossa primeira canção falada”, conta o alentejano, adiantando que mais encontros informais se foram realizando até que, 62
de repente, tinham 12 temas gravados. “Enquanto andava na estrada a fazer apresentações do «De Mim para Mim» senti que precisava de mais alguma coisa para oferecer às pessoas que continuavam a solicitar a nossa presença e isso conjugou-se com a chegada do Napoleão com os seus textos. As coisas fluíram de forma natural e, a certa altura, achei que seria uma pena se essas gravações ficassem 63
perdidas ou que fossem divulgadas avulso. Concluímos que devíamos trabalhar a sério nesse projeto, juntando a parte musical ao que o Napoleão tem feito e pelo qual tem sido bastante reconhecido”, indica, por sua vez, Pedro Pinto. Estava assim explicada a parte das 12 canções faladas, faltava perceber de onde apareceu o tal poema ALGARVE INFORMATIVO #78
desesperado, com Napoleão Mira a explicar que o título deste espetáculo foi um pouco influenciado por uma obra de Pablo Neruda que leu durante a sua juventude, o «20 Poemas de Amor e uma Canção Desesperada». “O «Desesperança» é um poema forte de homenagem a um amigo meu que se suicidou e a minha forma de fazer o luto foi procurar entrar na cabeça dele nos últimos dias da sua vida. É uma coisa muito intensa que vai crescendo para recordar o Manuel António Domingos, que foi o primeiro amigo que tive na vida”, justifica Napoleão, notando-se alguma emoção nas palavras ao relembrar o compadre que decidiu partir antes do seu tempo, que quis «morrer antes que a morte o matasse», como Mira mais tarde explicaria durante o concerto no Auditório Municipal de Lagoa.
A poesia não precisa ser uma seca 13 temas compõem, então, este disco de Napoleão Mira & Reflect, alguns que ALGARVE INFORMATIVO #78
fazem parte da sua pele há algumas décadas, outros feitos em colaboração com o filho Sam The Kid, agora com uma nova roupagem, outros ainda escritos de propósito para o álbum, para além de dois poemas de Fernando Pessoa. Criar a musicalidade para estas mensagens acabou por ser também uma tarefa fácil, até porque, como Pedro Pinto andava em digressão com o livro «De Mim para Mim», de Carolina Tendon, a banda que normalmente acompanha Reflect em palco estava totalmente disponível para abraçar o novo projeto. “Emprestei a minha banda ao Napoleão, que me substituiu como elemento principal da formação, daí que o «Reflect» que aparece na designação do disco e do espetáculo não sou só eu, o rapper Pedro Pinto, mas o conjunto de músicos. Depois, temos a sorte de trabalhar com pessoas com uma sensibilidade bastante apurada para estes assuntos e, com a nossa genica e vontade, conseguimos levar a bomporto as palavras do Napoleão com a nossa melodia”, frisa Pedro Pinto. 64
Tudo somado, temos um produto diferente do habitual, uma mistura entre um serão de declamação de poesia, adulta, séria, impactante, com um concerto de hip-hop, mas que resulta em pleno, conforme se assistiu no dia 5 de outubro. “Queremos que seja um espetáculo abrangente e que os textos ponham as pessoas a pensar. Em termos musicais, temos também uma determinada colagem que é atrativa para as pessoas mais jovens”, observa Napoleão Mira, garantindo que estas noites não são uma «seca», como a juventude pensa mal ouve falar em poesia. E, curiosamente, o espetáculo até foi para a estrada antes do disco estar gravado, ao contrário do que é normal acontecer, repara Pedro Pinto. “Enquanto íamos criando e apresentando algumas destas canções faladas, fomos recebendo mais e mais convites para ocasiões onde se celebra a poesia, de norte a sul do país. Fomos uma vez à Biblioteca Municipal de Beja, com quatro ou cinco temas, ainda nem sequer tínhamos um nome pensado para o projeto, e esse 65
momento acabou por ser um forte empurrão. Definimos objetivos e uma data concreta para ter tudo pronto”, lembra Reflect. A apresentação oficial do disco ficou então agendada para fevereiro, no Teatro Municipal de Portimão, o que levou a equipa a fechar-se em estúdio entre o Natal e o Ano Novo de 2015, e as oportunidades para subir a palco não têm, felizmente, faltado, seguindo-se, já no dia 21 de outubro, nova atuação no Auditório Municipal de Olhão, novamente com João Mestre, Mariana Viegas, Rafael Correia (Gijoe) e Mauro Cunha (Dezman) ao lado de Napoleão Mira e Pedro Pinto. “Como ouvinte, comprava o CD para o escutar no silêncio, com auscultadores, no sossego da casa, para sentir verdadeiramente as palavras. No entanto, ao vivo, as pessoas estremecem com o espetáculo”, compara Napoleão Mira. Pedro Pinto, poeta, músico, produtor, garante que as duas facetas proporcionam gozos diferentes. “Ao ALGARVE INFORMATIVO #78
ouvirmos o «Vida Real» num disco não temos a Laura Abel a dançar, por exemplo. Quando passamos o que temos em CD para o concerto ao vivo acrescenta-se sempre alguma coisa. Depois, se ouvirmos o CD 100 vezes, a música é a mesma nas 100 vezes. Se fizermos 100 espetáculos, de certeza que teremos 100 versões diferentes dos mesmos temas, porque a voz está diferente, porque aconteceu qualquer coisa que nos deixa mais revoltado e com vontade de deitar cá para fora o que temos para dizer. Um espetáculo marca-nos muito mais do que a audição de um disco”, assegura Pedro Pinto. E como novas canção vão sempre aparecendo, como estamos em termos de futuro, questionamos a dupla. “Vamos deixar as coisas acontecer, mas não fechamos a porta a nova parceria, ALGARVE INFORMATIVO #78
naturalmente, porque já temos músicas novas. A única certeza é que será sempre neste registo da spoken word, porque eu não sei cantar”, adianta Napoleão Mira, com um sorriso. Quando a Pedro Pinto, não esconde a vontade de, terminada esta digressão, se voltar a reunir com a banda para começar a trabalhar no terceiro disco de originais de Reflect. “O objetivo é começar a estruturar tudo ainda este ano para, em 2017, ter algo novo para apresentar. Mas vamos sempre trabalhando em várias frentes, porque há coisas que conseguem viver em conjunto e o objetivo da Kimahera, seja com o Napoleão, com o Reflect, ou com outro projeto, é continuar a partilhar este espaço que temos em comum para criar e sermos felizes enquanto o fazemos” . 66
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Xdream Blasius quer «fabricar» mais craques de Downhill em São Brás de Alportel A equipa Moto Clube de Faro/XDream/Município de São Brás de Alportel voltou a vencer a Taça de Portugal de Downhill, a quinta vez na última década, demonstrando novamente que a Serra do Caldeirão é um verdadeiro berço para craques desta exigente modalidade. Em termos individuais, José Salgueiro e Rui Cruz trouxeram igualmente o «caneco» para o Algarve, nas categorias de Masters 50 e 40, respetivamente, mas os sonhos da Xdream Blasius vão mais além, com uma forte aposta na formação e de olhos postos na organização, em março de 2017, de uma prova de categoria pré-mundial de Downhill. Texto: 69
Fotografia: ALGARVE INFORMATIVO #78
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á vai sendo habitual ver a equipa Moto Clube de Faro/Xdream/Município de São Brás de Alportel nos lugares cimeiros das diversas competições de Downhill que se realizam um pouco por todo o Portugal Continental e Arquipélagos e a etapa que se realizou na Madeira, nos dias 24 e 25 de setembro, foi novamente de triunfo, com os guerreiros de São Brás de Alportel a conquistarem a Taça de Portugal de Downhill. Foi a quinta vitória da equipa no maior campeonato nacional da modalidade, o culminar, de forma perfeita, de uma época de trabalho intensivo e muita dedicação, mas o resultado não foi fácil de alcançar, pois a equipa marcou presença com apenas quatro elementos. Apesar disso, os algarvios venceram três das oito categorias em competição - Masters 50, com José Salgueiro, Masters 40 com Rui
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Barros da Cruz e o prémio de melhor formação da época, numa temporada que contou com 24 equipas federadas e mais de 300 atletas. Uns dias depois, Rui Barros da Cruz estava de regresso à sua rotina profissional, recordando que a Associação Xdream Blasius nasceu há cerca de seis anos e sempre esteve ligada às modalidades de duas rodas mais extremas, mais radicais, por assim dizer, com o Downhill à cabeça. “Temos perto de 130 sócios e à volta de 20 a 25 atletas federados. Não federados, os amadores que se juntam em grupos informais, em maratonas ou caminhadas, são inúmeros e fazem também parte da alma da associação. Não pensamos apenas na competição”, refere o enfermeiro de profissão.
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Atletas que pertencem a todos os escalões etários, desde os mais veteranos, casos de José Salgueiro e do próprio presidente Rui Barros da Cruz, aos cadetes (15 anos), embora haja vontade de intensificar ainda mais a vertente formativa, assim haja apoios. “Aqui, a bicicleta é uma questão de espírito. Há jovens que não têm pedalada para acompanhar os mais velhotes, os de 50 anos motivam-se por andar rodeados de miúdos, é uma miscelânea bastante gira”, observa, com um sorriso, acreditando que os muitos sucessos alcançados pelo clube advêm do trabalho, dedicação e gosto pelas duas rodas. “Somos todos atletas amadores, com as dificuldades que isso acarreta, porque temos que trabalhar, treinar, arranjar patrocinadores, ir às corridas. Mas conseguimos motivar-nos para ultrapassar os problemas”, garante o dirigente.
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Tudo começou, entretanto, em torno do Moto Clube de Faro, há uma década, antes da associação se enraizar no coração da Serra do Caldeirão, e Rui Barros da Cruz não esconde o orgulho de ter jovens da equipa como campeões nacionais, e tudo feito com a prata da casa. “É muito difícil ter determinadas condições quando o dinheiro não abunda, como seja contratar treinadores especializados, e o investimento realizado neste tipo de desporto é escasso, porque o retorno também é pequeno. Temos perfeita noção de que isto não é o futebol, não estamos a um nível, mesmo em termos mundiais, que nos permita pensar noutros voos, no entanto, os nossos atletas, pela sua dedicação e pela motivação dos mais velhos, têm ido bastante longe”, enaltece, dando o exemplo concreto de Silas Grandy,
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que está a realizar todo o circuito mundial de Elites e com classificações muito interessantes. “Por estarmos tão longe dos grandes centros urbanos e das fábricas das principais marcas, o que ele tem alcançado é ainda mais fantástico. Ser vice-campeão na Alemanha e segundo na Taça do Mundo disputada em Portugal deixa-nos cheio de orgulho e significa que estamos a fazer o nosso trabalho bem feito”. Trabalho feito pelos praticantes mais velhos, que são dirigentes e treinadores, aliado ao talento das novas gerações, mas nem isso impede que muitos atletas desistam pelo caminho, para tristeza de Rui Barros da Cruz, consciente de que outros mais desistirão no futuro. Isto porque andar de bicicleta qualquer jovem gosta, mas chega-se a uma altura em que se tem que fazer contas à vida, em pensar no futuro e, no momento da escolha, segue-se para a universidade ou começase a trabalhar e a bicicleta fica arrumada no sótão ou na garagem. “Não veem retorno do seu esforço, até por ser um desporto extremamente exigente. O Downhill requer uma grande capacidade de concentração e muito trabalho técnico, não é só descer uns montes e dar uns saltos. Também há miúdos que não aguentam a pressão de estar numa equipa que é campeã nacional”, reconhece o presidente.
Nada se conquista de mão-beijada Colocando-se na pele de treinador, Rui Barros da Cruz explica prontamente aos seus alunos que o Downhill é 80 por cento 73
cabeça e 20 por cento técnica e que esta, quando se tem 10, 12, 15 anos, adquire-se rapidamente. Conseguir colocar essa técnica num circuito, a lutar contra o relógio, contra os adversários e contra si próprio, é outra história completamente diferente, normalmente o que marca a diferença entre um campeão e um atleta normal. “Nós tentamos incutir-lhes todo o know-how que fomos acumulando ao longo dos anos e que a vida é assim mesmo, só com esforço é que se anda para a frente”, salienta o entrevistado, acrescentando que um atleta que ambicione ir mais longe precisa seguir um plano de treinos rigoroso e adequado às suas capacidades. “Um jovem como o Silas, com 19 anos, faz treinos bi-diários e tem uma temporada bastante longa que o leva a estar, às vezes, um ou dois meses longe da família para participar em certas provas. Esse esforço, infelizmente, nem toda a gente está disposta a fazer. Salvo raras exceções, a juventude quer tudo de mãobeijada”, lamenta. E, em resposta ao jornalista, Rui Barros da Cruz responde, com um sorriso, que não é preciso ter um parafuso a menos na cabeça para enfrentar as típicas descidas desta modalidade, para percorrer percursos sinuosos, em plena montanha, a velocidades alucinantes, onde uma pequena pedra na estrada pode ditar um acidente com ossos partidos. “Se o treino for adequado e se o atleta tiver a tal capacidade de concentração e a técnica necessária, essa descida não assusta assim tanto. A mim assusta-me ALGARVE INFORMATIVO #78
mais fazer o tradicional cross-country, sem proteções nenhumas, com um capacete aberto, a velocidades que, às vezes, são superiores às do Downhill e, quando se cai, as consequências são bem piores”, garante. Menos dúvidas existem quanto às excelentes condições naturais de São Brás de Alportel para a prática do Downhill, nomeadamente pelas várias pistas existentes na zona da Fonte Férrea, muitas delas criadas pelo próprio clube, com o apoio da autarquia local. “A Câmara Municipal de São Brás de Alportel sempre acreditou que conseguíamos fazer mais e melhor e, se não estivessem reunidas todas estas condições, se calhar não teríamos enveredado por este desporto. Mas temos uma associação de gente fantástica, que abre e mantém pistas, que inventa novos circuitos, que vai à ALGARVE INFORMATIVO #78
luta de enxada na mão para criar novos obstáculos”, destaca. Um apoio recebido do município que se nota nos resultados alcançados pela equipa e na qualidade dos eventos organizados pela Xdream Blasius. “Aliás, sempre que a equipa traz uma medalha ou uma taça para o concelho, há de imediato uma palavra de reconhecimento dos elementos do executivo. Graças a essa motivação, no dia 5 de março de 2017 vamos organizar uma prova de categoria pré-mundial, uma C1, e acreditamos que vai ser um sucesso. Será a maior prova alguma vez feita no Algarve de Downhill”, adianta Rui Barros da Cruz, lembrando ainda que a própria sede da associação foi cedida pela Câmara Municipal, localizada numa antiga escola primária. “Há aqui muita gente apaixonada pela bicicleta
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e a sede foi a cereja no topo do bolo que nos permitiu evoluir ainda mais”. Trabalho não falta, está visto, mas Rui Barros da Cruz continua a não conseguir colocar a bicicleta de lado, apesar de já ser um quarentão e de, volta e meia, aparecer uma das tais lesões complicadas de debelar. “Pensamos desistir quando as coisas correm menos bem, ou quando não conseguimos levar a equipa às provas que desejaríamos por falta de apoios financeiros, mas a sensação, o sorriso, a motivação da competição, o companheirismo da equipa, é tudo indiscritível. Felizmente, muito do meu trabalho de dirigente foi aliviado pela delegação de funções e cada vez mais me consigo concentrar melhor nas provas, mas nunca é fácil”, assegura.
dito, é o porta-estandarte da Xdream Blasius, mas existe igualmente uma equipa de Enduro, que foi campeã nacional em 2015, outra de CrossCountry e um núcleo de caminhadas bastante ativo. “O sonho é criar uma escola de BTT dentro da associação, manter o atual nível no Downhill, crescer muito no Enduro e, acima de tudo, trazer mais jovens para as duas rodas e para um estilo de vida mais saudável. A título pessoal, 2017 vai ser um ano importante e, tanto eu como o José Salgueiro, temos o objetivo de melhorar o nosso Top-10 no Mundial de Masters. Isso significa que temos que despachar as organizações o mais cedo possível para nos concentrarmos no treino, porque vamos disputar o Mundial em junho e tentar, quiçá, entrar no Top 5” .
Do Downhill está tudo mais ou menos
Silas Grandy é a estrela da companhia, o único a competir no circuito europeu e mundial de downhill
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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 5852 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina
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