AS VIAGENS DE CABRITA
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Índice Que fizemos nós aos nossos filhos?…………………………….… Pág. 4 Crónica Daniel Pina As viagens de Cabrita .………………….………………………..….. Pág. 6 Entrevista Largue o sofá e descubra um museu ……………………………. Pág. 14 Crónica João Espada Tal pai, tal filho… ou será o contrário? .…………………….…. Pág. 16 Crónica Paulo Cunha Atualidade …………………………………………………………….. Pág. 18 Almoço com setenta anos ………..……………….…………….… Pág. 22 Crónica Paulo Bernardo O porquê das coisas que acontecem nas Escolas ….….……. Pág. 24 Crónica Hélder Rodrigues Lopes Atualidade…….…………………………………………...….………. Pág. 26 Clube Oriental de Pechão ……………………….. …………….…. Pág. 30 Reportagem Atualidade …………………………………………………..………… Pág. 38
ALGARVE INFORMATIVO #8 produzido por Daniel Pina (danielpina@sapo.pt); Foto de capa - Manuel Brito Contatos: algarveinformativo@sapo.pt / 919 266 930 Diariamente, as notícias que marcam o Algarve em algarveinformativo.blogspot.pt ALGARVE INFORMATIVO #8
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CRÓNICA
Que fizemos nós aos nossos filhos ?
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onfesso que a minha filha Madalena, de 19 meses, tem uns ligeiros traços de «terrorista» e cada vez que a irmã mais velha, a Margarida, de cinco anos, não lhe dá um brinquedo, desata logo às mordidelas e aos puxões de cabelos. A minha resposta é darlhe uma palmada no rabiosque fortemente almofadado pela fralda, explicar-lhe que não se bate nas pessoas e dizer-lhe para Daniel Pina pedir desculpa à irmã. E ela pede. Claro Jornalista que, no dia seguinte, já anda outra vez às Danielpina@sapo.pt turras com a irmã, segue-se mais uma Algarveinformativo@sapo.pt palmada e sermão e, à força de tanta repetição, ela vai acabar por interiorizar que não se deve bater nas outras pessoas. Façamos um pequeno exercício em jeito de realidade alternativa. Ao invés de repreender a Madalena, não faço nada ou, pior ainda, dou umas valentes gargalhadas porque acho toda a situação bastante «fofa». Das duas, uma: ou a Margarida se defende e aleija a irmã; ou a Margarida aceita a mini tareia de boca calada e a Madalena pensa que a melhor maneira de obter aquilo que quer é bater em quem tem o objeto desejado e tirar-lho. Uns anos depois, as discussões começam a tornar-se mais sérias e, muito provavelmente, já não envolvem apenas a (…) Que raio fizemos irmã mais velha, mas também alguma nós aos nossos filhos? colega do infantário ou da escola. Novo Fizemos nós, sim, porque exercício de realidades alternativas: se não podemos dizer que a tento cortar o mal pela raiz aplicando um valente castigo à Madalena, ou dando-lhe culpa é dos professores, uns açoites mais fortes, desta vez já sem dos colegas ou do fralda para amortecer o impacto, vou ficar sistema. É difícil e dá com uma filha revoltada em mãos, não só mais trabalho, mas não para comigo, mas para com qualquer nos podemos divorciar da pessoa em posição de poder; se continuo a não fazer nada, por não me querer chatear, educação e ou por nem sequer ter conhecimento do desenvolvimento dos que se está a passar, a Madalena torna-se nossos filhos. E agora cada vez mais rebelde e adepta de resolver os assuntos por formas menos corretas. A resta saber em que Margarida, entretanto, se calhar até se realidade alternativa tornou mais introvertida e acanhada por andamos a viver e se levar tantos tabefes da irmã mais nova e, ainda há tempo para com o passar dos anos, esse traço da carregar no botão personalidade vai transformá-la num alvo fácil na escola e por essa vida fora. «reiniciar» e tentarmos Os anos continuam a passar, eu e a minha evitar os erros cometidos mulher já não temos mão na Madalena, mal no passado (…) a vemos quando chegamos do trabalho, ALGARVE INFORMATIVO #8 4
porque come à pressa e enfia-se no quarto, a falar com sei lá quem na internet, a ver sei lá o quê na televisão, a jogar sei lá o quê no computador. Na escola parece que também há problemas, discute com os professores porque passa as aulas a mandar mensagens de telemóvel, anda à bulha com outras alunas, tira-lhes coisas. E nem sei se arranjou um namorado rebelde como ela e que a vai levar ainda por piores caminhos, ou se arranjou um namorado manso que lhe faz todas as vontades, caso contrário, leva também uma tareia, em privado ou em frente à escola toda. O mais certo é até alguém filmar a cena toda com o telemóvel, porque acha piada a uma miúda bater num moço, mete o vídeo na internet e, depois, é a barraca total. Nós juramos a pés juntos que não sabíamos de nada do que se passava, que isso são coisas normais entre namorados. Os pais do miúdo admitem que o filho até lhes contou o que aconteceu, mas não deram importância, são arrufos de adolescentes. Na escola ninguém quer assumir responsabilidades porque não aconteceu dentro do recinto e a culpa é dos pais que não souberam educar os filhos. E no meio da conversa há alguém que diz, em jeito de brincadeira, que em Portugal nem nos podemos queixar muito destes conflitos entre adolescentes porque, até agora, ainda nenhum miúdo levou uma pistola ou caçadeira para a escola e desatou a matar os colegas, como sucede nos Estados Unidos da América e já noutros países da Europa. Mas, de repente, soubemos que um miúdo de 17 anos espancou até à morte, com uma barra de ferro, outro miúdo de 14 anos, supostamente porque tinha inveja dos ténis e da roupa que o mais novo usava. Então isso não acontecia só lá fora? Que raio fizemos nós aos nossos filhos? Fizemos nós, sim, porque não podemos dizer que a culpa é dos professores, dos colegas ou do sistema. É difícil e dá mais trabalho, mas não nos podemos divorciar da educação e desenvolvimento dos nossos filhos. E agora resta saber em que realidade alternativa andamos a viver e se ainda há tempo para carregar no botão «reiniciar» e tentarmos evitar os erros cometidos no passado .
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ENTREVISTA
Fernando Cabrita na Ilha do Corvo
As viagens de Cabrita Advogado de profissão, Fernando Cabrita encerra em si uma multiplicidade de facetas onde se incluem as de poeta, jornalista e antigo karateca. É, contudo, a sua paixão por viajar que esteve na origem da conversa com o ALGARVE INFORMATIVO, no escritório que tem na sua terra natal, Olhão, capital da Ria Formosa e ponto de partida para aventuras por esse mundo fora. Entrevista: Daniel Pina ALGARVE INFORMATIVO #8
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lhanense de gema a caminho dos 61 anos, Fernando Cabrita é um dos advogados mais prestigiados e requisitados do Algarve, profissão que lhe preenche praticamente a agenda do dia-a-dia, mas ainda arranja tempo para escrever poesia como ninguém. Jornalista também já foi noutros tempos, antes disso foi exímio praticante de karaté, qualidades que lhe proporcionaram diversas viagens ao país do Sol Nascente, mas a paixão pelas viagens surgiu mais cedo. Começando pelos livros, Fernando Cabrita adianta que tem diversos projetos em carteira e que a sua mais recente obra de poesia foi editada em Espanha, caminho que devem seguir outros títulos seus. “Tenho também para editar um conjunto de artigos que escrevi para o Jornal do Algarve, sobre poesia algarvia e andaluza, que deverá sair ainda este ano”, indica em início de conversa. “Há um conjunto de editoras independentes que não estão ligadas a nenhum interesse comercial e que apostam essencialmente na poesia. No Algarve também temos algumas, como são o caso da «Quatro Águas» e da «Canal Sonora», que mostram o que se está a produzir na região, independentemente do autor ter nome feito ou não”. Poemas que, ao longo dos anos, têm sido igualmente musicados, primeiro pelos «Entre-Aspas», depois pelo «Camaleão Azul» e, mais recentemente, por Viviane. “Umas vezes pedem-me para escrever para uma determinada música que já está concebida, outras pedem para adaptar um poema meu a melodias que estão a ser criadas”, confirma. ALGARVE INFORMATIVO #8
Desfiladeiro rochoso em Wadi Rum
Depois deste pequeno aparte, ficamos a saber que a vontade de viajar apareceu quando ainda era bastante novo, por influência das bandas desenhadas e livros de aventuras que consumia enquanto miúdo. “Tinha esse desejo de ver o que havia no mundo e, quando tive idade e tempo para isso, não hesitei. O facto de ter uma profissão liberal permite-me, de vez em quando, ter três dias para escapar e isso dá para viajar muito. Logo no início adotei um esquema de 7
espiral invertida, ou seja, comecei pelos sítios mais longe e depois fui escolhendo destinos mais próximos”, relata Fernando Cabrita. Assim sendo, as primeiras viagens tiveram como cenário o Japão, Timor, Brasil, Cuba e diversos países árabes e europeus, focando-se atualmente na zona do Mediterrâneo e na Península Ibérica. “Nos últimos três, quatro anos, o meu circuito tem sido feito o mais perto possível de casa, porque há
ENTREVISTA vezes, é mais caro ficar em casa no fim de semana do que partir para outro país”, garante.
Perceber a origem dos portugueses Pode-se dizer que o gosto por viajar de Fernando Cabrita começou a concretizar-se quando, por volta dos 24 anos, foi viver uns meses para Londres. Depois, trabalhou alguns anos na TAP, o que também lhe permitiu viajar de avião para países mais distantes. Numa fase mais posterior da vida, bastava um simples telefone a um amigo Fernando Cabrita no Poço do Bacalhau, nas Flores para combinar, por exemplo, um jantar em Sevilha e, no dia zonas no sul da Península Ibérica prazer do que destinos mais seguinte, ir à descoberta das perfeitamente fantásticas, locais exóticos e aproveita para redondezas, de Vejer, Tarifa, de absoluta beleza e onde quase tranquilizar o leitor sobre uma Torre del Tajo, Palomar de la ninguém vai. E ainda bem, caso questão que deve ser das Breña, Castillo de las Aguzaderas. contrário, provavelmente já primeiras que nos vêm à cabeça: “Em Ronda há a Mina de Água estariam estragados ou “Não é preciso uma grande do Rei Mouro, existe a Rota de transformados em zonas disponibilidade financeira para Água de Santa Luzia, a subida do turísticas”, frisa, lembrando-se fazer este tipo de viagens. Eu curso de água do Campobuche dos pueblozitos brancos, das tenho a vantagem de ter feito na Serra da Grazalema, que nos rotas para caminhar, dos cursos amigos em diversas partes do transmitem uma sensação de de água que passam mundo e, assim, posso deslocar- plenitude”, descreve o despercebidos da população em me quase sem ter custos. Às entrevistado, que assume estar geral. “Por isso é que digo que, em três dias, se consegue fazer muita coisa. A partir de Olhão, em duas horas estou nesses locais e depois é questão de evitar a autoestrada e os percursos habituais e ir à aventura para sítios que descobrimos nos mapas”. Dos primeiros anos de Fernando Cabrita como viajante há destinos que saltam à vista, Wadi Rum na Jordânia, Qram em Israel, as paisagens geladas da Islândia, que enchem, de facto, as medidas a qualquer turista que se preze. No entanto, o advogado garante que, hoje, estas saídas mais próximas lhe dão tanto ou mais Cidade velha de Ghadames, Sahara líbio ALGARVE INFORMATIVO #8
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fisicamente melhor do que noutros tempos. “Não posso meter-me num carro e ir fazer rotas de água ou circuitos de caminhadas, mas é aí que encontro a herança tartéssica, grega, fenícia, romana e árabe”, justifica. Continuando a analisar a tal espiral invertida, Fernando Cabrita sublinha que passou a dar primazia a conhecer o seu berço e origem e essas estão, na sua opinião, na parte norte do Mediterrâneo, ou seja, no sul da Península Ibérica, um pouco de Itália, Malta e Marrocos. “São esses países que têm a ver com a nossa idiossincrasia, a nossa maneira de estar no mundo, e procuro perceber o que é que eles nos dão, o que há ali de histórico, de fundo mental e espiritual, que fez aquilo que somos hoje em termos de civilização e nação. A aventura oceânica, o descobrir novos mundos é importante, nota-se em Macau, Cabo Verde ou Moçambique, mas a verdadeira origem da maneira de ser dos portugueses está na nossa ligação às culturas do Mediterrâneo”, sustenta o advogado, pleno de convicção. “É muito agradável ir ver o relógio que os portugueses ofereceram aos japoneses, estive lá ao pé, tirei fotografias, mas prefiro perceber onde estão as nossas raízes e encontrá-las em ruínas, estradas, calçadas, bosques”. Não se pense, porém, que Fernando Cabrita negligencia o seu próprio país nesta busca pelas origens lusitanas, destacando Fraga da Pena, na Serra do Açor, Mesas Castelinho, perto de Almodôvar, a Mina de Água do Bengado, em São Brás de Alportel, a Fonte Felino e a Fonte Férrea, inseridas também ALGARVE INFORMATIVO #8
elas em Rotas de Água. “Interessa-me muito ver onde a água nasce, para onde vai, o caminho que vai abrindo, os cursos que forma, porque, onde há água, há necessariamente civilização. Lamento dizer, contudo, que destruiu-me muita coisa no Algarve que devia ter sido preservada. Pequenas aldeias e comunidades que sucumbiram ao desenvolvimento louco do turismo”, critica, sem papas na língua.
De um momento para o outro, pulsa mais forte a veia patriótica de Fernando Cabrita, face ao que assistiu na sua região quando esta acordou para o turismo e para os interesses imobiliários. “A Andaluzia preservou muito bem o seu interior, as pequenas aldeias, as tradições, os locais que devem estar escondidos. No Parque Natural de La Breña há uma hacienda do século XVI que os turistas visitam mas, lá dentro, tem um Palomar fantástico que está tratado com
Descida de Tutuala até à beira -mar, para acesso a Jaco 9
ENTREVISTA praticamente desapareceu e pouca diferença há, em termos de arquitetura, entre estar no Algarve ou nas Ilhas Canárias. Só o que estava escondido é que sobreviveu”, lamenta.
Portugal dá-se mal com a pressa Observador atento de tudo o que o rodeia, e apesar do tom crítico das últimas palavras, Fernando Cabrita acredita que as mentalidades estão a mudar e não julga que isso se deve somente à menor capacidade financeira do poder local para organizar eventos de topo e construir grandes equipamentos. “Pode ter havido desleixo em anos anteriores que levou à destruição de muita coisa, mas acho que, hoje, há uma visão nova sobre o que é património e como ele deve ser aproveitado. A promoção dos grandes empreendimentos turísticos acaba por ser bastante benéfico no princípio, depois torna-se Cidade velha de Ghadames, Sahara líbio regular, depois começa a atrair não o turista que interessa, mas o maior esmero e sem que na obscuridade e ninguém lhe toque. Claro que há semiabandonado durante anos a aquele que vem cá aos magotes e que, mais do que ver, vem três ou quatro casos de fio. Hoje, tais locais foram aproveitar-se e destruir o que aberração turística na Andaluzia descobertos por algumas ainda há”, avisa o advogado, mas o interior foi cuidado, como autarquias com a criação de satisfeito por verificar um maior é o caso do Setenil de Las percursos para caminhadas, Bodegas, uma aldeia construída marchas e passeios pedestres, o empenho na dinamização do turismo histórico, da preservação dentro de uma montanha, do que agrada a Fernando Cabrita. e do conhecimento. tempo dos romanos, que foi “Se, de repente, esses sítios se Mas asneiras, infelizmente, conquistada e reconquistada no tornaram interessantes, é bom continuam a cometer-se e o período dos mouros e que é que sejam desenvolvidos nesse olhanense não consegue extraordinária do ponto de vista contexto e não para se perceber a pressa excessiva com arquitetónico e geológico”, construírem mais que se quer demolir tudo o que indica, lamentando que no empreendimentos turísticos. se encontra nas ilhas barreira. Algarve nem sempre tenha Aliás, há um livro recente do “Por que não tentar aproveitar havido essa preocupação. algarvio Fernando Grade, «O E se muita coisa se destruiu no Algarve como nós o destruímos», coisas que estão ali há 40 anos e Algarve, nomeadamente na zona que responde muito bem a essa que não chocaram até ao momento com ninguém, questão. O que o Algarve tinha costeira, o que sobreviveu no de grande beleza e atratividade legalizar, manter, ordenar, ao interior quase que permaneceu ALGARVE INFORMATIVO #8
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invés desta fúria inexplicável de destruir tudo. Sempre que houve pressa em Portugal algo corria mal. Quando se tentou questionar o porquê de construir 11 estádios de futebol para o Euro 2004, quando os outros países construíam dois, três, cinco no máximo, era-se logo ofendido, diziam que não éramos patriotas, que estávamos contra o desenvolvimento de Portugal. Passado um ano ou dois, começou-se a discutir o que fazer com os estádios, porque não havia dinheiro para os manter. Se calhar está ai explicada parte da dívida do país, pois sabe-se o que se gastou, mas não se sabe o que se gastou por fora”, contesta Fernando Cabrita. Mais um aeroporto para Lisboa e o TGV são outros exemplos controversos desta pressa estranha dos governantes e nem as questões ambientais servem de explicação para algumas situações com que Fernando Cabrita se depara. “Há poucos dias passei por um aldeamento entre Tavira e Vila Real de Santo
Fernando Cabrita no seu escritório em Olhão
António e tinham sido arrancadas todas as árvores das bermas. Não se ouviu um piu do Ministério do Ambiente, mas está tudo centrado nestas casas de pessoas que não têm grandes posses e que têm que ser deitadas abaixo no imediato, sem que sejam fornecidas grandes explicações”, reforça o entrevistado. “Esta pressa toda a três meses das eleições faz-me lembrar os tempos em que as câmaras municipais aprovavam todos os empreendimentos turísticos porque era necessário
modificar o Algarve. Se alguém dizia que era preciso ter cuidado, era logo antipatriota, contra o turismo e o desenvolvimento da região. Essas pessoas foram postas de lado e cometeram-se os atentados e crimes que bem sabemos. Lembro-me de concheiros arqueológicos destruídos para se fazerem estradas, palacetes e chalés demolidos para darem lugar a empreendimentos turísticos, mais aquilo que desapareceu sem nós sabermos”.
Sair dos roteiros habituais De volta às viagens, já se percebeu a facilidade com que o advogado organiza escapelas de dois ou três dias e parte à procura das origens lusitanas. Noutros tempos, o planeamento era distinto e, confessa, estava mais preso aos chamados «postais» turísticos, ia ver o que toda a gente normalmente visitava. “Quando fui ao Japão integrado em comitivas de karatecas, já perguntava ao mestre onde é que iam estar dali a dois dias e ia pelo meu próprio
Curso do Campobuche ALGARVE INFORMATIVO #8
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ENTREVISTA
Setenil de Las Bodegas
caminho para ver o que realmente me interessava. Não quer dizer que me embrenhasse pela selva adentro, mas ia ver a cidade com outros olhos”, recorda. E se agora é fácil ter uma ideia bastante realística dos locais que se pretende visitar através da internet, recuando umas décadas tal não era possível e a melhor opção era ler muito. “Em 2005 estive em Timor porque tinha ido à Indonésia e eram relativamente próximos. Timor era independente há dois anos, estava basicamente destruído porque os indonésios, antes de saírem, dinamitaram tudo aquilo que puderam. Fazer 200 quilómetros durou dois dias, mas vi sítios que pareciam de outro planeta”, conta, ALGARVE INFORMATIVO #8
acrescentando de imediato que essas paisagens de sonho também abundam em Portugal. “E, num mundo como este, dificilmente alguém se perde, basta ir ao Google Earth para ver qual o caminho a seguir. Mas sair do roteiro habitual é uma das grandes virtudes quando se está a viajar. O risco é irmos ter a um sítio que não interessa a ninguém, mas volta-se para trás”. Fernando Cabrita fala com à vontade e ligeireza de viagens a destinos exóticos mas não nos podemos esquecer que muitos deles vivem ou já viveram momentos conturbados em termos sociais e políticos, surtos de doenças, conflitos armados. “Nunca tive problema absolutamente nenhum. Estive 12
em Israel na altura da primeira Intifada, fizemos a travessia do deserto, passamos em Qram, na zona dos manuscritos do Mar Morto. Estive na Líbia no tempo do Kadafi, que era muito melhor do que depois dos europeus e americanos terem entendido retirar do poder alguém que eles chamavam de ditador, mas que era tão ditador ou menos do que aqueles que reinam na Arábia Saudita, por exemplo. Senti-me sempre bem recebido em todo o lado, embora haja, como é natural, uma grande diferença cultural e de mentalidade”, assegura. “Desconfio que, hoje, se voltasse à Líbia, era raptado na hora a seguir, porque quiseram afastar um ditador que era inconveniente a determinados interesses. Há, de
facto, países que se fecharam de todo, não se consegue atravessar certas fronteiras”. De qualquer modo, e graças a tantas e tão diversificadas viagens, Fernando Cabrita é um homem diferente do que seria se sempre tivesse ficado no Algarve e esta sede de conhecimento ainda não foi saciada. “Ler estimula a vontade de viajar, viajar leva-nos a ler mais sobre os sítios onde estivemos e outros semelhantes, é um ciclo vicioso. Cada vez mais me convenço que o mundo é demasiado grande, portanto, temos que ser mais criteriosos nas escolhas que fazemos e reduzi o meu campo de ação, sem excluir a hipótese de ir a locais mais longínquos”, refere o poeta, confirmando que esta veia de viajante alargou a sua maneira de ver o mundo, acima e debaixo de água, diga-se de passagem. “Tirei um curso de mergulho e isso deu-me uma visão de uma parte do mundo que desconhecia e ensinou-me a respeitar a vida aquática, a ver sem mexer”.
Calçada Romana de Benaocaz
Como se adivinha, nenhuma caminhada é perfeita ou isenta de deceções e Fernando Cabrita também já se arrependeu de ter ido a determinados sítios, mas nunca fecha portas a possíveis regressos. “Tudo na vida é dinâmico e uma coisa que, hoje, me pareceu mal, no dia seguinte pode afigurar-se perfeito. Há cidades que tive relutância em voltar a visitar mas, ou pela companhia, ou pela maneira como encarava a
Em Malga Misurina, nos Alpes Italianos ALGARVE INFORMATIVO #8
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vida nesse dia, ou porque a cidade ou eu mudei, a experiência foi diferente”, explica, pelo que o conselho que dá a todos é simples e direto: “As pessoas devem viajar sempre, tendo cuidado com os locais para onde vão. Se me convidarem para ir a zonas do Iraque ou da Síria, óbvio que não vou, são locais para jornalistas de guerra e combatentes. A questão financeira também não é um problema, desde que se tenha o cuidado de contorná-la. Se for para um hotel cinco estrelas, comer aos melhores restaurantes, fazer comprar como um turista abastado, claro que em dois dias gasto o ordenado do mês. Se andar a pé, for ver os sítios onde os turistas não vão e onde tudo é mais barato, o custo da viagem torna-se mais reduzido. E procurem o que realmente lhes interessa, não o que os guias turísticas vendem” .
CRÓNICA
João Espada Professor, Artista Plástico e Presidente da Casa da Cultura de Loulé Joao_espada@hotmail.com
Largue o sofá e descubra um museu
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(…) Ir ao cinema, ao teatro, a um concerto, a uma galeria, a um museu e/ou palácio, entre outros, deve ser considerado como um bem essencial e indispensável à construção cognitiva de um ser humano. Através desse contacto dá-se um despertar de interrogações no «observador», levando-o a estimular emoções e a tomar uma posição (…) ALGARVE INFORMATIVO #8
o fim-de-semana passado e durante a noite de sábado, decorreu um pouco por todo o país uma iniciativa (um pouco diferente) e com um único objetivo: convidá-lo a sair do seu sofá e conhecer um pouco da sua cultura, num museu perto de si. Revestido com um programa vasto e repleto de inúmeras propostas de norte a sul. Foram muitos os museus e palácios que estiveram com portas abertas gratuitamente durante a noite de sábado para o receber. Oportunidades únicas para descobrir e/ou redescobrir locais que normalmente não são visitáveis em horários noturnos e viver assim de uma forma distinta esses sítios cheios de estórias da nossa história, desfrutando ainda de um concerto, de uma peça de teatro ou de um bailado concebido para esta iniciativa em particular. No fundo, são oportunidades singulares que servem para aliciar mais pessoas a visitarem e conhecerem o património em geral. Contudo, se olharmos de uma forma mais fria para este caso, em minha opinião não seria necessário tais
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iniciativas se o cidadão comum fosse mais atento culturalmente perante o que lhe rodeia. Ir ao cinema, ao teatro, a um concerto, a uma galeria, a um museu e/ou palácio, entre outros, deve ser considerado como um bem essencial e indispensável à construção cognitiva de um ser humano. Através desse contacto dá-se um despertar de interrogações no «observador», levando-o a estimular emoções e a tomar uma posição. Para nos conhecermos melhor, devemos conhecer melhor a nossa história e procurar perceber como viviam os nossos antepassados, quais eram as suas tradições e costumes e que influência tiveram na nossa sociedade. A construção do EU como um ser crítico e capaz de produzir ideias construtivas tem claramente influência na forma como nós conhecemos e absorvemos o que gira à nossa volta. No fundo esta é mais uma das muitas iniciativas que felizmente vão surgindo e que têm um único objetivo: convidálo a visitar um museu e a conhecer um pouco mais da sua cultura, o que lhe ajudará a conhecer um pouco mais de si .
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CRÓNICA
Tal pai, tal filho… ou será o contrário?
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Paulo Cunha
(...) interrupções constantes e falta de atenção e respeito pelo que os professores dizem; uso de aparelhos com multifunções enquanto decorrem as aulas; afronta ao papel, dignidade e autoridade do professor.Tal e qual o que assisti, impávido e nada sereno, numa sala de espetáculos da capital do Algarve, onde seniores me/nos mostraram o porquê e a razão dos mesmos comportamentos por parte dos seus juniores (…) ALGARVE INFORMATIVO #8
á alguma vez vos aconteceu sentirem-se envergonhados por causa de comportamentos alheios? É uma reação básica e estranha, uma vez que não somos nós os responsáveis pelo ato que a causou mas, pelo inesperado, estranheza e consequência do mesmo, instala-se um mau estar em quem o assiste. Foi o que me aconteceu na minha última deslocação ao Teatro Lethes (Faro) para assistir à última produção teatral da «ACTA». Numa tarde já um pouco encalorada e com meia casa composta, maioritariamente, por um público sénior, tive a receber-me à entrada o encenador/ator Luís Vicente, o que revela a relação de proximidade desejada por esta Companhia de Teatro sediada no Algarve. Pequenos gestos que tornam grande a relação entre o público e os artistas! Começando por endereçar uma comunicação/solicitação ao público presente, o diretor da Companhia terminou a sua alocução pedindo, eloquentemente, que o mesmo desligasse ou colocasse os seus telemóveis em silêncio, por forma a não incomodar o desenrolar da apresentação da peça. Sendo «À espera de Godot» uma das obras icónicas de Samuel Beckett e, neste caso, cuidadosa e meticulosamente recriada, encenada e interpretada por atores «de mão cheia», toda a atenção a lhe ser dispensada seria bem-vinda e desejável. Mas tal não aconteceu… Ainda a primeira parte estava a decorrer e já – recorrentemente – diálogos e comentários de dois espetadores se sobrepunham à representação, como se num desafio de futebol se encontrassem. O meu mal-estar, a desconcentração, a desconcertação e o incómodo aumentavam à medida que o 16
tempo passava… Eis senão quando um outro espetador sénior, atrás de mim, resolveu ligar o seu telemóvel/tablet, iluminando aquele setor da plateia. Assim se manteve mais de dez minutos, até que a aplicação em que navegava (google maps) resolveu começar a debitar em «alta-voz» o caminho pesquisado tão insistentemente para não sei onde… A sala gelou!... Imediatamente, o encenador, também em palco na qualidade de ator, resolveu interromper a representação pedindo para ligarem as luzes. O que depois se passou coíbo-me de aqui relatar, pois até ameaças por parte do espetador infrator, desavergonhado e despeitado, houve. Foi indigno, vexatório e atentatório contra a dignidade, integridade e profissionalismo dos atores, e de uma falta de respeito para com todos os que, como eu, pagaram o seu bilhete para sermos transportados a outra realidade que não aquela que nos acompanhou até ao fim da digna e brilhante representação. Já fora do Teatro fiz a analogia do que se passou com aquilo que conheço e constato no dia-a-dia das escolas portuguesas: interrupções constantes e falta de atenção e respeito pelo que os professores dizem; uso de aparelhos com multifunções enquanto decorrem as aulas; afronta ao papel, dignidade e autoridade do professor. Tal e qual o que assisti, impávido e nada sereno, numa sala de espetáculos da capital do Algarve, onde seniores me/nos mostraram o porquê e a razão dos mesmos comportamentos por parte dos seus juniores. Nada acontece por acaso… Isto de acusar os jovens de comportamentos indevidos e incorretos tem mais e muito que se lhe diga, porque neste e noutros casos a culpa não morre, definitivamente, solteira!
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ATUALIDADE
OPTO.eu conquistou público de Albufeira
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OPTO.eu - Fórum de Educação e Formação do Algarve transformou o Pavilhão Desportivo de Albufeira num palco de mostras, workshops, conferências, oficinas temáticas, demonstração de diversas profissões e propostas de animação, de 6 a 8 de maio. Pela terceira edição do evento passaram cerca de 2500 pessoas, mais mil do que no ano passado, que ali encontraram opções de formação profissional e de ensino superior disponibilizadas por entidades de ensino público e privado, politécnicos e universidades de todo o país. A iniciativa tem vindo a registar uma forte adesão, crescente de ano para ano, quer por parte de público quer de expositores. “À terceira edição, a Feira do OPTO.eu deu um passo decisivo na sua afirmação enquanto fórum de referência local e regional ligado à temática da formação e do emprego”, destaca o presidente da Câmara Municipal de Albufeira. “Esse passo traduziu-se na mudança de casa, que veio melhorar as condições de exposição e conforto para albergar os cerca de 50 expositores que, durante três dias, deram a conhecer a sua oferta nestes domínios”, explicou ainda Carlos Silva e Sousa. Recorde-se que as duas primeiras edições do Fórum realizaram-se no Espaço Multiusos de Albufeira (EMA), tendo passado este ano para o pavilhão Desportivo da cidade. Para além do vasto programa de conferências e workshops direcionados a estudantes, professores, pais e encarregados de educação, destaque também para a vasta oferta de atividades de animação, que incluíram batismos de mergulho, aulas de dança, concertos, teatro, fotografia, show cooking, simulacros e demonstrações cinotécnicas e equestres. O III Fórum de Educação e Formação do Algarve foi organizado pelo Município de Albufeira, em parceria com a Direção de Serviços da Região Algarve da Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEST), o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e contou com a colaboração dos Agrupamentos de Escolas do concelho de Albufeira .
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Albufeira debateu alojamento local
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Novo Regime Jurídico para o Alojamento Local foi tema em destaque no dia 5 de maio, no Auditório Municipal de Albufeira, que foi pequeno para acolher os mais de 400 participantes que assistiram a esta iniciativa da Câmara Municipal de Albufeira, com o apoio do Turismo de Portugal, da Região de Turismo do Algarve, da ASAE e da AHRESP. A ação surgiu na sequência da alteração da figura do alojamento local que, desde 2008 já se encontrava regulamentada em portaria, mas que a partir de 2014 passou a sêlo em diploma autónomo. Na sessão de abertura, o presidente da Câmara Municipal referiu que este é um tema de especial importância para Albufeira, já que vem facilitar a regularização de uma atividade que tem um elevado peso no concelho e que é desenvolvida pelos locais. Carlos Silva e Sousa divulgou alguns números relativos ao Alojamento Local no município, fazendo saber que existe um total de 3872 registos, 584 registos antigos no Balcão Único Eletrónico (BUE), 3308 registos antigos por inserir no BUE, 315 pedidos efetuados, 106 registos informados com vistoria e 70 com vistoria marcada. O novo diploma tem como objetivo simplificar e facilitar o acesso à atividade, já que veio reduzir os requisitos de acesso; eliminar as obrigações de prestação de serviços; dispensar ALGARVE INFORMATIVO #8
qualquer mecanismo de licenciamento ou autorização, sendo apenas exigida uma mera comunicação prévia junto da Câmara Municipal, assente no princípio da responsabilização do titular da exploração. O envio da comunicação prévia pode agora ser feito através do Balcão Único Eletrónico, que emite o título de abertura dos estabelecimentos, o qual contém, desde logo, o respetivo número de registo. Outra facilidade é que deixou de existir qualquer obrigação de pagamento de taxas para iniciar a atividade e em matéria sancionatória, manteve-se inalterado o montante das coimas, tendo apenas sido criados mecanismos de fiscalização tributária mais eficazes para situações de incumprimento das obrigações fiscais. Também presente nesta sessão, Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo, chamou a atenção para a necessidade dos diversos parceiros e dos proprietários do Alojamento Local atuarem em 19
conjunto e em conformidade com a lei para que este regime prevaleça e cumpra o objetivo de simplificar a atividade: “O arrendamento particular de casas a turistas está a ser fortemente contestado um pouco por todo o mundo. Em Portugal, encarámos esta atividade económica como normal e considerámos que não é concorrência desleal aos outros empreendimentos turísticos, por isso, decidimos criar um regime que não estigmatizasse esta oferta, não limitasse a atividade económica, e que fosse possível de fiscalizar”, afirmou. O governante fez saber que este novo sistema, “mais livre e mais fácil que o anterior, permitiu que em menos de três meses tivéssemos tido um maior número de registos do que em seis anos com a legislação anterior, o que significa que as pessoas viram vantagens na formalização do registo e que começaram a iniciar a sua atividade ao abrigo da lei” .
ATUALIDADE
Um ano de Unidade Móvel de Saúde de Castro Marim
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á 20 anos foi criada em Alcoutim a primeira Unidade Móvel de Saúde (UMS) do país. A iniciativa revelou-se a melhor forma de prestar cuidados de saúde à população que vivia mais isolada e vulnerável e foi exemplarmente seguida em muitos outros municípios do país. Há um ano, em Castro Marim, a UMS foi revitalizada com a oferta de consultas médicas de proximidade, a primeira no país permanentemente com médico. Com três médicas – Dr.ª Helena Gonçalves, Dr.ª Susana Valsassina e Dr.ª Isa Frazoa -, a enfermeira Angelina Rocha e o motorista Carlos Horta, a equipa da UMS de Castro Marim percorre há um ano as freguesias do concelho – Altura, Castro Marim, Azinhal e Odeleite. Contudo, a maior atenção e cuidado dirige-se às freguesias do interior, Azinhal e Odeleite, com uma densidade populacional de 5,1 habitantes por km2 e uma área geográfica de 250,33km2, para além dos índices de envelhecimento, 686,7 por cento em Azinhal e 980,8 por cento em Odeleite. “Trata-se de uma população que vive em locais de difícil acesso e com enorme carência de cuidados de saúde pela alta prevalência de doenças crónicas causadoras de elevada mortalidade e morbilidade”, declarou a coordenadora do projeto, Dr.ª Helena Gonçalves. ALGARVE INFORMATIVO #8
Um ano depois, o balanço é muito positivo. “Com a atuação persistente e de proximidade dos profissionais de saúde, em que se geram elos afetivos que promovem a confiança e adesão dos doentes ao planos de atuação negociados para o controlo da sua doença crónica, conseguimos retardar a progressão do problema e evitar a cascata de internamentos hospitalares com altíssimos custos para o país e elevados prejuízos para o doente e família”, garantiu a médica Helena Gonçalves. Durante este ano foram efetuadas 1242 consultas a 519 utentes com uma média de idade de 76 anos. Dos 519 utentes, 202 têm uma idade superior a 80 anos e 26 superior a 90 anos. 43 por cento do número total de utentes são analfabetos. A hipertensão arterial foi a patologia crónica mais sinalizada, 324 pessoas. 20
Seguiram-se a osteoartrose, com 286 diagnósticos, e a dislipidémia, com 221. A registar ainda a identificação de 77 utentes (21 por cento) com deterioração cognitiva ligeira. A UMS de Castro Marim é fruto de uma colaboração entre a Administração Regional de Saúde do Algarve (ARS Algarve), Câmara Municipal de Castro Marim e Associação Social da Freguesia de Odeleite (ASFO). Sobre a iniciativa, o médico e agora autarca da Câmara Municipal de Castro Marim, mentor da primeira UMS do país quando era presidente do município vizinho, Alcoutim, declara tratar-se de “um ato de justiça para com esta população envelhecida, que levou uma vida de sacrifício”. Desde o arranque deste projeto até ao final deste ano, a UMS representa um investimento autárquico inicial de cerca de 40 mil euros .
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CRÓNICA
Almoço com Setenta Anos
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Paulo Bernardo Empresário pb700123@gmail.com
(...) Obrigado a todos os que ousaram ambicionar e procurar um novo mundo e, como diria o poeta, dar novos mundos ao mundo. Não foram os velhos do Restelo que ficaram em Portugal que criaram esta bela pátria que é a língua portuguesa (…) ALGARVE INFORMATIVO #8
sta semana tem estado frio neste lado do mundo, na rua as pessoas usam cascol e casaco. São Paulo está frio, o inverno esta chegando, contudo, em Portugal está calor. A vida também é assim como os negócios, uns dias são mais quentes, outros menos agradáveis. Nos últimos tempos tenho mudado de fuso horário e de continente quase como quem muda de camisa. Tenho comido no meio de um povo quase indígena em África e almoçado com Barack Obama. Contudo, esta semana tive a sorte de estar num almoço com setenta anos que acontece todas as quintas-feiras na casa de Portugal em São Paulo. Sabe bem ser recebido de uma forma especial pelo seu Presidente, Comendador António dos Ramos, e ser tratado como um sobrinho que visitou o tio. Grande comunidade esta, que muito tem feito por Portugal e pela economia de ambos os países. Obrigado Comendador e em seu nome agradeço a todos os portugueses que pelo mundo levam o nome de Portugal de uma forma orgulhosa. Povo estranho este que se mistura, que se envolve na comunidade, que ganha o seu espaço de forma franca mas que, em simultâneo, não perde a relação saudosa com a pátria lusa. Comeu-se caldo verde com mistura de samba e ainda se brindou à Academia do Bacalhau. Obrigado Fernando Rodrigues pela forma que defendeu tão bem o nosso tradicional manjar. Sabe bem ser Português na cidade que tem o nome do meu Santo e ao qual eu devo o meu. 22
Julgo que Portugal ainda não fez a justa homenagem aos seus emigrantes, que são os seus melhores embaixadores, que levam a nossa cultura, gastronomia, simpatia, carater e inteligência pelos quatro cantos do mundo. Obrigado a todos os que ousaram ambicionar e procurar um novo mundo e, como diria o poeta, dar novos mundos ao mundo. Não foram os velhos do Restelo que ficaram em Portugal que criaram esta bela pátria que é a língua portuguesa. Obrigado Brasil por conseguir ter uma alegria que é única, um vigor que que faz inveja à Europa, vamos para a frente pais continente. Obrigado pela música envolvente e sensual, pelo ritmo e por ter criado um português doce e quente, onde a mistura de raças torna um pais fantástico próximo do Éden. Facto da Semana: São Paulo é uma cidade com uma oferta cultural de fazer inveja a muitas capitais europeias. Aproveitei a minha estada para ver e conhecer o trabalho da falecida Lina Bo Bardi com a sua fantástica criatividade espalhada pela cidade no seu projeto no MASP e o seu projeto cultural e social no SESC Pompeia. Pessoa da Semana: Hoje terei que falar sobre o Senhor Martins Araújo, que está quase desde sempre em São Paulo, e do seu programa de rádio «Portugal Dentro de nós», que fala sobre a pátria lusa e seus patrícios e, como ele diz, todos nós transportamos um pouco no nosso país no coração .
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CRÓNICA
O porquê das coisas que acontecem nas Escolas
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Hélder Rodrigues Lopes
(…)A Liberdade do Indivíduo é diretamente proporcional à capacidade para adquirir e interagir com o conhecimento ao longo da vida. Para isso é fundamental que todos reconheçam que a Escola e a Família são complementos um do outro, que seguem no mesmo caminho e integrados na Sociedade. A formação do Novo Indivíduo envolve indissociavelmente estes três agentes. FAMÍLIA – ESCOLA – SOCIEDADE, respetivamente (…) ALGARVE INFORMATIVO #8
em de prepósito ainda há pouco tempo propus uma reflexão sobre um acontecimento dramático numa Escola de Barcelona logo aqui ao lado, e esta semana uma história de violência entre colegas numa Escola na Figueira da Foz. A História é muito violenta e revoltante, de facto, contudo, estes acontecimentos existem mesmo e em todas as Escolas de Portugal. A Escola na sua relação com a comunidade tem tido fortes dificuldades e a causa estará na relação dos pais e encarregados de educação com a Escola, regendo-se por comportamentos de distanciamento, negligência e de crueldade entre os Pais, mas também no sentido inverso se observa distanciamento, hostilização e comportamentos desadequados, e a alienação de responsabilidade participativa no melhor caminho para a formação do Novo Individuo. Mas nada acontece por acaso, há que perceber «os porquês» das coisas. A Família não é totalmente responsável por tudo de menos bom que acontece na Escola. A Família no seu exercício da parentalidade tem que integrar-se na função Formativa do seu Novo Indivíduo, encontrando na conjugação de esforços o caminho mais eficaz e eficiente. Para isso é fundamental que a Escola e a Família percebam que são complementos um do outro, e adotem um mesmo caminho e integrados na Sociedade. Os jovens de hoje adquirem a sua identidade já não só através da Família, como também através de um Mundo Exterior a esta, Mundo este que a própria Escola ou a Família podem integrar ou não. Os valores sociais, muito discutidos ultimamente, das crianças e dos jovens, são agora adquiridos através de relações sociais, que vão sendo capazes de alargar durante o seu desenvolvimento emocional e psicossocial, assim como da resolução de dilemas que vão ultrapassando dentro do seu mundo de afetividades. É importante perceber que, ao se manter a alienação da Família na formação do seu Novo Indivíduo irá com toda a segurança promover o aumente da agressividade nas Escolas. Assim como a persistência da alienação dos jovens face ao aprender, ao abandono escolar, o 24
desencadeamento de comportamentos desviantes, fortes défices de inserção social e escolar, maior dependência dos pais e do estado, proporcionando objetivamente Vidas sem rumo. Compete à Família perceber, ou não, o quanto é importante a sua participação no processo de formação pedagógica do seu filho. Compete à Família ser, ou não, uma parceira ativa, responsável e empreendedora para com a instituição Escola. Compete também à Família educar já não pela imposição mas pela partilha e parceria no saber, não se limitar a mandar mas acompanhar, colaborando na perceção de vários aspetos, associados à instituição Escola como, por exemplo: O que é a Escola? Que comportamentos se devem adotados? As hierarquias na Escola e como as utilizar sem submissão mas com respeito. A Escola vai inevitavelmente deixar de ter que educar para formar, função que nunca lhe pertenceu, e o facto de ter sido obrigada a fazer trouxe-lhe consequências graves que todos devemos reconhecer e tornar-nos responsáveis pela sua alteração. A Escola e a Família devem promover ao Novo Indivíduo o encontro de estratégias alicerçadas no diálogo e na responsabilização comum, devem desenvolver em conjunto as condições adequadas para a ampliação de uma aprendizagem ao longo da vida. A Liberdade do Indivíduo é diretamente proporcional à capacidade para adquirir e interagir com o conhecimento ao longo da vida. Para isso é fundamental que todos reconheçam que a Escola e a Família são complementos um do outro, que seguem no mesmo caminho e integrados na Sociedade. A formação do Novo Indivíduo envolve indissociavelmente estes três agentes. FAMÍLIA – ESCOLA – SOCIEDADE, respetivamente. A decomposição do único caminho, em três caminhos independentes e antagónicos resultará na fragilidade e vulnerabilidade da formação do Novo Indivíduo e, consequentemente, no empobrecimento inter-relacional do Adulto de amanhã integrado Sociedade cada vez mais competitiva e exigente .
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ATUALIDADE
Loulé festejou Dia do Município
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Município de Loulé assinalou esta quintafeira, 14 de maio, mais um aniversário, com um programa que teve o seu ponto alto na tradicional Festa da Espiga em Salir e na visita do executivo municipal à EN125-4 e que marcou simbolicamente a inauguração desta via estruturante para a cidade. Pela manhã, o presidente Vítor Aleixo, acompanhado pelos vereadores e técnicos municipais, percorreu a EN1254, entre a Gonchinha e Valados. Esta via foi alvo de trabalhos de requalificação, que se desenrolaram desde 2009 e que tiveram agora o seu término. Para além da repavimentação, a intervenção passou ainda pela construção de quatro faixas até ao cruzamento para Santa Bárbara de Nexe, num total de 3,5 km. Por outro lado, uma vez que a estrada é atravessada por alguns aglomerados urbanos, nomeadamente a Goncinha e a Alfarrobeira, nestes pontos foi
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levado a cabo o tratamento urbano, nomeadamente através da implantação de passadeiras, iluminação pública e mobiliário urbano que permitiram melhorar igualmente a segurança de peões. Após a o hastear da Bandeira e cerimónias oficiais, os responsáveis da Câmara Municipal de Loulé visitaram a requalificação urbana do Centro Histórico de Loulé. O casco antigo da cidade, que nos
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últimos anos ganhou uma nova dinâmica graças à realização de eventos como o Festival MED, surge agora com uma nova imagem. Esta intervenção teve em vista a regeneração de um tecido urbano envelhecido e, de certo modo, descaracterizado e abandonado. Pretendeu-se valorizar o património histórico aí existente, criando também zonas de estadia e lazer, remodelando as infraestruturas e melhorando as condições de circulação pedonal e rodoviária. Já durante a tarde, o Dia do Município de Loulé teve o seu momento alto com a tradicional da Espiga que, mais uma vez, levou milhares de visitantes ao interior do Concelho. O cortejo etnográfico mostrou toda a atividade agrícola desta freguesia da Serra do Caldeirão, numa manifestação popular que se tornou um verdadeiro cartaz turístico ao longo dos anos .
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ATUALIDADE
Inaugurado Lar Ribeira da Tôr preservando e fortalecendo os laços familiares”, explicou o presidente da Associação Social e Cultural da Tôr, Jorge Renda. Por outro lado, este equipamento irá criar 35 novos postos de trabalho, numa freguesia marcada pela desertificação e envelhecimento da população. Este investimento realizado no âmbito do POPH - Programa Operacional do Potencial Humano teve um investimento total, incluindo terrenos, projetos, construção e equipamento fixo que rondou os oi inaugurada, no dia 7 de maio, a Estrutura 2,3 milhões de euros, suportados pela Segurança Residencial para Idosos «Lar Ribeira da Social e fundos comunitários (1.465 mil euros), Tôr», com a presença do Secretário de Câmara de Loulé (606 mil euros), antiga Junta de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, Freguesia da Tôr (46 mil euros) e Associação Social Agostinho Branquinho. Trata-se de mais um e Cultural da Tôr (185 mil euros). importante equipamento social cuja conclusão A título de balanço realizado na área social, o encerra o ciclo de investimentos realizados no autarca falou não só dos 4,5 milhões de euros Município de Loulé em matéria de novas investidos nos “numerosos equipamentos sociais construções sociais, e que rondou os 4,5 milhões construídos no território louletano, praticamente de euros de financiamento da Autarquia. “Com em todas as freguesias”, mas também de ações esta estrutura residencial fecha-se um ciclo que como o programa «Loulé Solidário». “Este procurou colmatar as carências ao nível dos programa tem constituído uma singularidade da equipamentos sociais, seja na criação de Lares de nossa ação política que bem evidencia o quão Idosos, de Centros de Dia e de Centros de problemáticas são as desigualdades sociais no Acolhimento, seja de outras medidas de apoio nosso Concelho e o quanto precisamos de pôr em temporário ou permanente às IPSS’s sedeadas no marcha uma política pública de solidariedade Município”, referiu o presidente da Câmara ativa, como de há muito não havia memória”, Municipal de Loulé, Vítor Aleixo. frisou Vítor Aleixo . Com capacidade para albergar 71 utentes, distribuídos por 12 quartos simples, 19 duplos e 7 triplos, o Lar Ribeira da Tôr permitirá o apoio domiciliário a 40 novos utentes, assegurando a permanência dos idosos na sua residência, com o devido apoio técnico e institucional. “Este será um equipamento social de excelência para a prestação de apoio social, de cuidados de saúde e para o desenvolvimento de atividades adequadas à promoção da qualidade de vida dos idosos,
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REPORTAGEM
Clube Oriental de Pechão: Uma fábrica de campeões Realizou-se este domingo, 17 de maio, em Múrcia, na vizinha Espanha, mais uma Taça da Europa de Marcha e uma das preferidas para trazer uma medalha para Portugal é Ana Cabecinha, do Clube Oriental de Pechão, que ia disputar a prova feminina de 20 quilómetros. O emblema algarvio contou com mais duas atletas na comitiva lusa, Edna Barros e Catarina Marques, ainda juniores e que corriam na prova dos 10 quilómetros. Uns dias antes, o ALGARVE INFORMATIVO deslocou-se à Pista de Atletismo de Faro e esteve à conversa com Paulo Murta, um dos grandes obreiros do sucesso do Clube Oriental de Pechão nas disciplinas do atletismo para perceber o segredo de tanto sucesso. Entrevista: Daniel Pina Fotos: Paulo Murta e Manuel Brito ALGARVE INFORMATIVO #8
Ana Cabecinha e Paulo Murta 30
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Clube Oriental de Pechão nasceu em 1949 e o Atletismo é a sua grande referência, com a marchadora Ana Cabecinha a assumir o papel de porta-estandarte. Prova disso é que a algarvia é a principal esperança lusitana para conquistar uma medalha da 11ª Taça da Europa de Marcha que tem lugar, no dia 17 de maio, em Múrcia, Espanha. Portugal vai estar representado por 14 atletas, mas as atenções estão centradas sobretudo na prova feminina de 20 quilómetros, com a expetativa da formação nacional repetir pelo menos o segundo lugar de há dois anos, em Dudince. Para além disso, a prova vai servir de tirateimas para ficarmos a conhecer as duas outras atletas que vão acompanhar a campeã nacional, Ana Cabecinha, no Mundial de Pequim, a realizar em agosto, com Susana Feitor, Vera Santos e Inês Henriques a tentar garantir o seu lugar. Não admira, por isso, o ar sorridente com que Paulo Murta, responsável pela secção de Atletismo do Clube Oriental de Pechão, nos recebeu alguns dias antes num treino na Pista de Atletismo de Faro e nos explicou como funciona o calendário desportivo desta modalidade. “Começa normalmente em setembro/outubro com a época de Inverno e os corta-matos, provas de estrada e os campeonatos nacionais de pista coberta. A meio de maio arranca a época de Verão com os campeonatos regionais de pista e por aí adiante. O ano está a ser bastante positivo e, a nível do Algarve, temos ganho todos os títulos femininos, corta-mato, ALGARVE INFORMATIVO #8
estrada, marcha-estrada. No plano nacional, em pista coberta, tivemos duas vitórias em Juvenis, o pódio da marcha em Juniores foi todo nosso, nos Seniores, a Ana Cabecinha bateu o recorde nacional, a Edna Barros fez pódio nos Sub-23. A época de Inverno concluiu com os Nacionais de Corta-mato, onde a equipa de juniores femininos foi vicecampeã e, nos Nacionais de Marcha, obtivemos três títulos nacionais coletivos em Iniciados, Juvenis e Juniores, mais dois campeões juvenis (masculinos e femininos), a júnior e a sénior 31
femininas e a infantil feminina foi vice-campeã”. Em poucos minutos de conversa ficou logo demonstrado o excelente trabalho que tem sido realizado em Pechão pela equipa técnica liderada por Paulo Murta, que tem que fazer uma gestão criteriosa dos seus atletas, uma vez que se realizam provas praticamente todos os fins de semana. “Quando há provas nos extremos do barlavento ou sotavento e que não fazem parte dos campeonatos regionais, só vamos com uma carrinha ou duas e nove, 10 ou 15 atletas. Se
REPORTAGEM o futebol não federado e o futsal quando é para torneios pontuais mas, federado, é apenas o atletismo”, conta Paulo Murta, acrescentando que têm atletas desde o lançamento do martelo ao salto em comprimento, passando pelo salto à vara, pelo triplo salto, pelas corridas de barreiras. “E podemos dizer que existe, de facto, uma escola de marcha no Clube Oriental de Pechão, cujo nome mais sonante é a Ana Cabecinha, mas temos outros valores nos diversos escalões. Prova disso é irmos a uma Taça da Europa com três atletas, somos dos clubes mais representativos a nível nacional. As duas juniores que vão estar presentes são ambas nossas – a Edna Barros e a Catarina Marques, a que se junta a Ana Cabecinha”.
Sistema de ensino é incompatível com alta competição A pequena freguesia do concelho de Olhão está, então, na boca do mundo quando se fala em marcha, mas Paulo Murta integrarem os regionais, então de manutenção e outros de lembra que o clube costuma estar vamos todos, e já são 103 atletas competição. em evidência noutras disciplinas federados e mais 22 não Um clube que, atualmente, vive do atletismo. Assim, a equipa de federados, masculinos e praticamente do Atletismo, juniores foi sexta no campeonato femininos, desde os benjamins modalidade que apareceu em nacional, os juvenis foram viceaté aos veteranos”, indica o 1971. Antes disso, o futebol campeões nacionais na estafeta técnico, adiantando que 60 por popular era rei e senhor e, nos medley, uma atleta é vicecento dos atletas são femininos e anos 80 e 90, teve mesmo futebol campeã nacional nos 300 metros 40 por masculinos. Em termos federado de 11 e, mais tarde, e há medalhados no triplo salto e etários, o Clube Oriental de apareceu o futsal, de formação e no salto em comprimento. “Nós Pechão tem de 40 a 45 jovens equipa sénior. “Entretanto, há trabalhamos na marcha da entre Benjamins / Infantis / sensivelmente um mês entrou mesma forma que nas demais Iniciados, os chamados escalões em funções uma nova direção, disciplinas e, infelizmente, isso de formação, a que se junta um que optou por não manter o nem sempre acontece nos outros grupo bastante forte em Juvenis e futsal, devido aos custos e à clubes, onde a maioria dos Juniores, seguidos dos Seniores e, saída de jogadores para outras treinadores tira a sua formação e finalmente, os Veteranos, alguns equipas. Continuamos a ter o depois se especializa numa só cicloturismo, as marchas-passeio, área. Claro que tivemos a sorte ALGARVE INFORMATIVO #8
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de aparecer uma Ana Cabecinha, um Cláudio Estrela, um Jorge Costa, uma Vanda Ribeiro, que permitiram que a marcha se cimentasse mais solidamente”. Escolas de marcha que apareceram igualmente em outros locais do país, conta Paulo Murta, dando o exemplo de Rio Maior, que ainda persiste, e de Alfena, no Porto, e no Montijo, estas duas já desaparecidas. No Algarve, o técnico deixa também palavras de elogio ao que tem sido feito em Quarteira e Tunes e, antes disso, nas Fontainhas. “Tudo funciona graças à carolice das pessoas que estão à frente dos clubes e dos técnicos, que tentam transmitir aos jovens a ideia de que o sucesso é possível. E havendo figuras internacionais no clube, toda a gente quer imitá-los, seguir as suas pisadas, embora a marcha seja uma disciplina dura, bastante técnica e exigente”. Paulo Murta avisa, porém, que os resultados não são instantâneos no atletismo, o que leva muitos dirigentes a desistirem destas modalidades e a direcionarem os esforços para desportos mais mediáticos como o futebol ou futsal. “Os clubes que conservam o atletismo ALGARVE INFORMATIVO #8
fazem-no por muita carolice e onde os treinadores quase que são os dirigentes. Resultados a curto prazo não existem. Pode haver um miúdo ou outro que se destaca num corta-mato escolar ou numa prova de escola, mas a maioria tem que se trabalhar dois ou três anos para chegar mais longe”, explica. E se a falta de apoios financeiros é uma constante na vida, o entrevistado queixa-se mais da incompatibilidade entre o sistema de ensino e a alta competição. “Este ano temos uma atleta que é esperança olímpica, tem uma bolsa da federação, está no terceiro ano dum curso e a professora vira-se para ela e dizlhe, diretamente, que em
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primeiro lugar está o curso. A rapariga teve que abdicar do atletismo quando, se calhar, podia estar num dos próximos Jogos Olímpicos. Os miúdos chegam aos treinos depois de sete horas de aulas, com trabalhos para fazer e não têm tempo para nada”, lamenta. Neste sentido, se é fácil praticar desporto numa ótica meramente de manutenção, torna-se quase impossível dedicar-se de corpo e alma ao desporto de média e alta competição. "Eles têm que abdicar de imensas coisas, precisam ser bastante fortes para não caírem nas tentações das saídas noturnas e das idas à praia. Depois, o reverso da medalha, o que vão receber,
REPORTAGEM fácil ir a esses países com pouco dinheiro”, observa Paulo Murta, que já nem fala do reconhecimento dos feitos desportivos pela sociedade civil. “São poucos os órgãos de comunicação social que dão destaque ao atletismo e, quando isso acontece, só olham aos medalhados e na semana em que a prova aconteceu. Na altura dos Jogos Olímpicos, fazem trabalhos um mês ou dois antes e, nos outros quatro anos, anda tudo esquecido”. Dores de cabeça acrescidas chegam da parte dos pais que, entre o filho estudar para um teste importante, ou ir a um treino, optam na esmagadora maioria dos casos pela vertente académica. “Poucos são aqueles que dizem para os filhos irem ao treino e, quando chegarem a casa, logo estudam. E ainda temos o desporto escolar, que também tem o seu calendário de provas, campeonatos regionais e nacionais, e não há uma devida gestão nacional dos atletas que são federados ou não. Alguns dos nossos jovens vão ao desporto escolar mas, quando entramos numa fase da época mais competitiva, isso torna-se impossível, é uma grande sobrecarga”, justifica.
O atletismo português mudou muito
atualmente é muito reduzido, porque são poucos os que têm marcas a patrociná-los. Antes, ir a uma Taça da Europa ou a um ALGARVE INFORMATIVO #8
Falando das tentações a que qualquer atleta tem que saber resistir, algumas são óbvias - não ingerir bebidas alcoólicas, não fumar, não andar em noitadas, descansar o suficiente -, mas o Campeonato do Mundo a França, Algarve tem outras tentações específicas, nomeadamente o Itália ou Suécia era um chamativo só pela viagem, agora, chamamento das praias e, pior ainda, dos trabalhos sazonais. A com os «low-cost», tornou-se 34
pensar nisso mesmo, os campeonatos absolutos no Algarve disputam-se logo no final de maio, para que, em junho, os jovens possam iniciar as suas ocupações de Verão. “Havia provas em junho ou julho e notava-se uma diminuição de 40 a 50 por cento do número de atletas, o que levou a Associação de Atletismo do Algarve a modificar a data dos regionais absolutos. Depois, mantém mais quatro ou cinco provas de observação, ou torneios especialistas, para quem vai aos campeonatos nacionais se manter em forma”, indica Paulo Murta. E como se prepara então uma Taça da Europa ou um Campeonato do Mundo com atletas que estão divididos entre os treinos, a escola e os empregos, perguntámos ao treinador do Clube Oriental de Pechão. “As nossas duas juniores optaram por ir trabalhar só depois de chegarem das provas internacionais, que ocorrem a 16 de julho. Outros, no entanto, abandonam mesmo o atletismo, não conseguem vir treinar”, refere, confirmando que a ida para a universidade é outra razão para largarem a prática desportiva regular. “Normalmente, quando vão para a faculdade, esquecem a competição e a maioria depois segue a sua vida profissional”. Apoios financeiros, como se adivinha, são escassos. Quanto a infraestruturas, vem-nos à memória as justificações do passado de que não valia a pena gastar dinheiro a construir piscinas municipais, porque se tinha o mar logo ali ao lado. Da mesma forma se dizia que, para se correr, o que não faltavam eram boas estradas e matas. ALGARVE INFORMATIVO #8
Palavras que deixam um sorriso nos lábios de Paulo Murta. “Se prestarmos atenção, o atletismo português mudou muito. Nos anos 60, 70 e 80 era o meio fundo que dominava porque, depois do 25 de Abril, foi facílimo pôr toda a gente a correr cortamato e estrada, mas pouca pista. Hoje, é o salto em comprimento, o triplo salto, o salto à vara, o lançamento do dardo e as distâncias curtas que vão aos campeonatos da Europa e do Mundo e, para isso, já é preciso ter infraestruturas específicas. 35
Mas este fenómeno acontece em todo o mundo, não por uma questão genética, mas cultural, pela menor capacidade de sofrimento das novas gerações. Vemos que Quénia, Etiópia, Ruanda, a África profunda, é que aparecem no meio fundo e fundo, porque fazem sacrifícios. França, Espanha, Alemanha, Portugal, perderam essa tradição e mudaram o atletismo para disciplinas mais técnicas”, analisa o especialista na matéria. Falta de instalações desportivas é uma condicionante acrescida no
REPORTAGEM E pouco mais tempo para conversar havia, porque não é fácil treinar mais de 120 atletas, de várias idades, cada um com a sua mentalidade e perfil. “Felizmente que tenho uma equipa técnica a ajudar-me no trabalho do dia-a-dia: o Paulo Castro para os lançamentos, o Jorge Costa na componente técnica da marcha, e o Ricardo Nicolau e o David Brás que asseguram a formação. O atletismo permite que, na mesma unidade de treino, estejam a formação e a alta competição, cada um com uma carga de treino doseada em função da idade, desde o número de repetições às intensidades que fazemos”, aponta, finalizando com um dado importante e que evidencia o sucesso do Clube Oriental de Pechão. “Antes, havia clubes que tentavam vir buscar alguns dos nossos valores. Hoje, os atletas chegam de Tavira, Quarteira, Lagos, Loulé, Albufeira, por sua livre iniciativa, porque sabem que aqui vêm melhorar os seus desempenhos”.
Um símbolo para os mais jovens Com 31 anos de idade, 20 deles a vestir as cores do Clube Oriental Clube Oriental de Pechão, que autarquias têm as suas de Pechão, Ana Cabecinha é a começou por treinar na antiga dificuldades. Não nos podemos principal referência do emblema pista das Açoteias, depois mudou- queixar de falta de apoio da se para Quarteira e, de há uns Câmara Municipal de Olhão e da algarvia e um dos grandes valores da marcha portuguesa dos anos para cá, treina na Pista de Lusitânia, os nossos dois últimos tempos. Logo em infantil Atletismo de Faro. “Queríamos principais patrocinadores, mas começou a ganhar provas e a apenas uma pista simplificada estamos esperançados de ser demonstrar qualidades inatas entre 300 a 400 metros com três contemplados um dia com uma para esta dura disciplina do ou quatro corredores, mais um pista simplificada na Zona atletismo e a evolução foi setor de salto em comprimento, Desportiva de Pechão. Isso salto em altura, lançamento de evitava que tenhamos que andar acontecendo de forma natural e peso e disco. No entanto, é com a casa às costas uma vez por não planejada. “Nunca pensei ser atleta, muito menos impossível para o clube assumir semana”, frisa Paulo Murta. marchadora, e menos ainda de esse investimento e as próprias ALGARVE INFORMATIVO #8
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alta competição”, admite, frisando que nunca sentiu necessidade de largar o seu clube do coração para crescer enquanto atleta. “Sempre me deram excelentes condições e sei que, com os resultados que obtive nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, começaram a aparecer em Pechão mais jovens a querer praticar atletismo. Já não têm pudor em fazer marcha e reconheço que muitos deles querem ser como eu”, diz, embora não goste muito de assumir grandes protagonismos. Hoje, mercê do bom desempenho competitivo, Ana Cabecinha já vive única e exclusivamente do desporto, graças ao patrocínio da Adidas. “Como juvenil e júnior tive sempre o apoio do Município de Olhão e cheguei a ganhar uma medalha no Campeonato da Europa de juniores. Isso permitiu-me ter mais estabilidade e só assim é que consegui treinar devidamente e estar onde estou agora. Seria bastante difícil para os meus pais ou para o clube custearem um estágio fora de Portugal de duas ou três semanas”, relata.
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Totalmente concentrada nos treinos e nas provas oficiais, os resultados tornaram-se mais consistentes e a presente época temno demonstrado, o que surpreendeu a própria Ana Cabecinha, depois de alguns anos afligida por várias lesões. “Desde 2013, tenho ao meu lado um professor de química, dois fisioterapeutas, um terapeuta. Antes, só treinávamos, faltava a componente da recuperação, dos ritmos mais adequados, das questões de nutrição”, sublinha. E se, noutros anos, Ana Cabecinha só conseguia obter os mínimos necessários para ir às grandes competições internacionais praticamente na última prova, agora, o apuramento acontece bem mais cedo. “Realmente, andei muitos anos a lutar na última prova de seleção para ter o meu lugar, era sempre a atleta que estava na corda-bamba. Disse ao meu
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treinador que queria deixar de ser a última a ser escolhida e, desde 2012, agarro o cartão logo na primeira prova, o que permite gerir melhor o resto da época e arriscar mais nesta ou naquela prova”. Quanto à Taça da Europa que se disputa em Múrcia, Espanha, no domingo 17 de maio, as expetativas eram muitas mas Ana Cabecinha aconselha calma. “É uma prova coletiva e não posso arriscar em demasia, temos que pensar numa equipa que é candidata a ganhar uma medalha. Há dois anos fomos vice-campeãs da Europa e queremos lutar com a Itália e Espanha pela mesma classificação. Combater com as russas será muito difícil, mas porque não”, indica a algarvia, consciente de que um melhor resultado individual é uma ajuda preciosa para a posição final da equipa lusa. “A prova é logo de manhã, vai estar muito calor, há bastantes colegas na Europa a marchar bem este ano, mas espero ser a melhor portuguesa e fazer uma boa marca” .
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Câmara de Portimão vai pagar 3,65 milhões de euros a credores
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urante o corrente mês de Maio, a Câmara Municipal de Portimão vai saldar todas as dívidas que tem até 50 mil euros, permitindo que cerca de 479 credores sejam pagos. No total serão transferidos cerca de três milhões e 650 mil euros, sobretudo para pequenas e médias empresas, clubes e associações do município. Esta situação só é possível em virtude da prioridade que foi assumida pelo executivo municipal de afetar uma parte significativa da coleta do IMI ao pagamento de dívidas antigas, permitindo deste modo a injeção na economia local de cerca de 3,65 milhões de euros. Grande parte desta dívida reporta-se a fornecimentos à autarquia, nomeadamente Câmara Municipal de Portimão e URBIS, datados dos anos de 2010 a 2014. No que diz respeito ao restante da dívida de curto prazo, valores superiores a 50 mil euros, num montante global até 140 milhões de euros, esta só poderá ser paga através das verbas provenientes do Fundo de Apoio Municipal, mecanismo de assistência financeira que a Câmara de Portimão foi obrigada legalmente a ALGARVE INFORMATIVO #8
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recorrer, tendo sido a segunda câmara do país a apresentar o dossier de candidatura, que na presente data se encontra em análise pela Comissão Executiva do Fundo de Apoio Municipal. O anúncio do pagamento destas dívidas foi feito pela Presidente da Câmara de Portimão, Isilda Gomes, na reunião da Assembleia Municipal de 14 de maio. “Para nós é extremamente importante conseguir saldar estas dívidas, até porque é muito dinheiro e permitirá dar um impulso à economia local. Deste o início do ano já se pagaram 650 mil euros de dívidas antigas e agora, no mês de Maio, vamos limpar todas as dívidas abaixo dos 50 mil euros, em cinco meses transferimos para a economia local 3,65 milhões de euros”, destaca a autarca, agradecendo a paciência demonstrada pelos credores. “Para quem esteve a lutar para pagar salários não há muito tempo, é muito significativo conseguir pagar esta verba. No ano passado pagámos 14,1 milhões de euros em dívida. Este ano, temos já garantido o pagamento dos salários e dos subsídios de férias e ainda conseguimos este montante, para pagar dívidas que estavam em atraso desde 2010”, frisa Isilda Gomes .
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Centro Histórico de São Brás de Alportel viaja no tempo
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urante dois dias, São Brás de Alportel vai mergulhar no tempo e recuar 100 anos, recriando o ambiente vivido na época. A iniciativa «São Braz d’Alportel 1914 – Uma viagem no tempo» decorre nos dias 30 e 31 de maio e as ruas do Centro Histórico vão ganhar novas cores e cheiros e receber um corrupio de animações e acontecimentos inesperados, do teatro de rua ao baile ou da mostra de artesanato aos deliciosos manjares de outros tempos. São Brás de Alportel assinala assim os 100 anos de elevação a concelho, a implantação da República e um século de progresso com uma Recriação Histórica que só é possível graças ao envolvimento e participação ativa de toda ALGARVE INFORMATIVO #8
a comunidade que fortemente abraçou a iniciativa. Serão 150 figurantes trajados a rigor, mais de 240 participantes em animação e performances, duas dezenas de espaços abertos ao público, para permitir aos visitantes conhecer melhor as
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histórias das gentes e dos edifícios do Centro Histórico, 12 espaços de restauração e bebidas, um espaço de animação infantil com jogos tradicionais da época, três palcos por onde vão passar inúmeros artistas e músicos e muitas mais surpresas que vão envolver os visitantes numa atmosfera típica de 1914. A Recriação Histórica realiza-se entre as 18h e as 02h, e é uma iniciativa da Câmara Municipal de São Brás de Alportel, coordenada pela Comissão das Comemorações do Centenário do Município, com o apoio técnico do Museu do Trajo de São Brás de Alportel e a colaboração das associações, entidades, empresas e comunidade local .
Vila Real de Santo António vai receber novas competências
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Câmara Municipal de Vila Real de Santo António assinou, no dia 13 de maio, com o Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho, e com o Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, um projetopiloto para iniciar a descentralização de competências nos municípios do Baixo Guadiana. Na prática, o protocolo permitirá aos concelhos assumir, em conjunto, uma série de novas responsabilidades que, sozinhos, se viam impedidos de suportar. “A medida representa um passo em frente nos modelos de gestão autárquica, aumentando a competitividade e quantidade dos serviços prestados por cada um dos municípios sem que isso represente um custo acrescido para cada uma das Câmaras Municipais”, explica Luís Gomes. O acordo - inédito no país - envolve os municípios do Baixo Guadiana (VRSA, Castro Marim e Alcoutim), que constituem simultaneamente a associação intermunicipal Odiana, permitindo ganhar economias de escala em matérias que até agora eram administradas individualmente por cada uma das autarquias. No caso do Baixo Guadiana, o objetivo é fazer a administração conjunta de áreas como o ordenamento, a proteção civil, a recolha e valorização de resíduos ALGARVE INFORMATIVO #8
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sólidos urbanos, a gestão florestal e dos transportes, ou a promoção dos setores da cultura e turismo, simplificando a gestão do território. “Estes são exemplos de responsabilidades comuns ao território dos três municípios que ganharão em qualidade e eficácia ao serem administradas em conjunto. No caso concreto de VRSA, não faz sentido gerirmos isoladamente a limpeza das nossas praias quando partilhamos geograficamente toda a linha de costa e possuímos uma área territorial contínua”, prossegue o também presidente da associação Odiana. Na proposta assinada, o Governo compromete-se ainda a descentralizar, para os três municípios, a gestão das zonas ribeirinhas, marítimas e fluviais e ainda outras competências na área da saúde. A assinatura do acordo quadro para o estabelecimento dos projetos-piloto de partilha e integração de serviços dos municípios envolve, além da associação Odiana (composta por três concelhos), a Comunidade Intermunicipal de Aveiro (composta por 11 autarquias). A implementação do projeto inicial de transferência de competências, que avançará desde já, terá o apoio técnico e financeiro do Governo .
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VIII Grande Prémio de Atletismo levou mais de 200 atletas a Alcoutim
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lcoutim recebeu, no dia 10 de maio, um total de 227 atletas para participarem no VIII Grande Prémio de Atletismo, uma prova inserida no calendário da Associação de Atletismo do Algarve. O 1.º lugar masculino foi
conquistado por Celso Brito, da Associação Cultural Sambrasense, cabendo o 1.º lugar feminino a Helena Miranda, da Associação Académica da Belavista. Os prémios masculino e feminino para o melhor atleta do concelho, disputados por um total de 27 atletas, foram arrebatados por Ruben Ribeiros e Joana Cavaco. Manuel Faísca, da Associação Cultural Sambrense, com os seus 71 anos de idade, conquistou o prémio do atleta mais idoso. A competição, onde participaram atletas federados e não federados em provas que foram dos 400 metros aos 5,1quilómetros, foi organizada pelo Centro de Apoio aos Trabalhadores da Câmara Municipal de Alcoutim (CAT) com o apoio da autarquia e contou com a colaboração da Associação de Atletismo do Algarve, Comissão Regional de Juízes de Atletismo, Bombeiros Voluntários de Alcoutim, GNR e comércio local .
2.º Passeio Rota da Água com cerca de 500 participantes
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erca de 500 atletas, de várias faixas etárias, e oriundos de vários concelhos da região, participaram na segunda edição do Passeio Rota da Água, que se realizou, no dia 10 de maio, em Silves. A iniciativa teve como principal objetivo alertar para as questões ambientais, mais concretamente para a problemática da escassez da água potável no planeta. A saída dos atletas verificou-se às 9h, na praça Al Mutamid, para um total acumulado de mais de 100 quilómetros percorridos em plena natureza, num fantástico dia de sol, nas vertentes de marcha e BTT. Após a chegada à meta, houve um almoço, com lugar à entrega de algumas lembranças aos participantes, bem como altura da partilha das experiências havidas durante a manhã. ALGARVE INFORMATIVO #8
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A iniciativa faz parte de um plano anual de atividades da empresa Águas do Algarve que pretende desenvolver uma maior consciência ecológica, de forma a promover uma convivência harmoniosa entre o ser humano e a natureza. No caso concreto do Passeio Rota da Água, contou com a parceria na organização do Clube Xelb, e com o apoio no Município de Silves .
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Festival de Caminhadas de Alcoutim foi um sucesso tremendo percurso, que decorreu ao final da tarde de dia 8 de maio, para além de uma componente lúdica, onde esteve sempre presente a diversão e o bom humor, estimulou-se o desenvolvimento de uma atitude positiva, contribuindo assim, não só para a melhoria imediata do bem-estar, como também para o reforço de uma atitude positiva e motivada perante a vida, de todos os participantes. As dinâmicas utilizadas, apesar de descontraídas e divertidas, tiveram por base os pressupostos da Psicologia Positiva, sendo uma e 8 a 10 de maio todos etapas da Via Algarviana e com adaptação daquilo que as últimas os caminhos foram dar jogos e atividades para os mais investigações nesta área ao concelho de pequenos. Assim, os alunos do revelaram ser determinante para Alcoutim com a realização da 1.º ciclo da Escola Básica segunda edição do Festival de Integrada Prof. Joaquim Moreira, o sentimento de felicidade. Este percurso motivacional terminou Caminhadas. A iniciativa da de Martim Longo, participaram, no caís da vila de Alcoutim, onde autarquia proporcionou aos mais durante a manhã, no percurso decorria a abertura da exposição de 600 participantes três dias de Via Algarviana Júnior, entre o «Minha Fukushima». Para caminhadas temáticas, Monte Novo e a aldeia de encerrar em cheio o primeiro dia observação e interpretação da Vaqueiros. Já da parte da tarde de festival houve ainda lugar à natureza, observação de aves, foi a vez dos alunos do 1.º ciclo projeção do documentário observação astronómica, da Escola Básica Integrada de «Baraka», na Biblioteca passeios de barco, concertos, Alcoutim terem encontro cinema e muita animação. Depois marcado no castelo da vila onde Municipal de Alcoutim. do sucesso da edição de 2014, se defendeu a preservação da No sábado, dia 9, iniciaram os esta segunda edição consolida o natureza local com a atividade percursos temáticos do festival Festival de Caminhadas de «Guardiões da Via Algarviana». com destaque para «Trilhos de Alcoutim como um evento de Ambas as atividades escolares Ronda no Guadiana», passeio referência para os amantes das foram guiadas pelas monitoras da que versou sobre a atividade do caminhadas, do turismo ativo e Associação Almargem e do Clube contrabando na fronteira, e para de natureza, não só no território Desportivo de Vaqueiros que, «Olhar o Céu, Gravar na Pedra», do Baixo Guadiana, mas também com muitos jogos e atividades percurso subordinado ao tema da em toda a região do Algarve e na pedagógicas, levaram alegria e arqueoastronomia. O primeiro vizinha Andaluzia. entusiamo aos participantes mais teve como momentos altos a passagem pela Ribeira de Na sexta-feira, primeiro dia de novos do festival. Cadavais e por um caminho com festival, a programação da manhã O percurso mais entusiasta e vista sobre o Guadiana, entre os teve como público-alvo a motivante e um dos mais sítios de Premedeiros e da população escolar do município, dinâmicos do programa foi «A Lourinhã. O percurso «Olhar o com caminhadas ao longo de Rota da Felicidade». Neste
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caminhantes puderam degustar um gaspacho espanhol. Na Corte da Seda, povoação da freguesia de Alcoutim, teve lugar a «Manhã com o Pastor», outra das caminhadas repetentes do evento e que este ano foi também um passeio fotográfico. Perto de 25 participantes acompanharam o pastor com as suas cabras pelos campos do monte e tiveram ainda a oportunidade de provar uma merenda com produtos gastronómicos locais, com destaque para os queijos de cabra frescos. Há mesma hora, no Pereiro, realizou-se a caminhada Céu, Gravar na Pedra» começou caminhantes iniciaram um passeio «Há vida no Monte?», que contou na povoação de Cortes Pereiras, de barco rumo ao Pomarão com perto de seis dezenas de pelas 22h15, e teve passagem incluído no percurso «Algarve, participantes. Um dos pontos pelos Menires do Lavajo, onde foi com aroma a Alentejo Espanha». altos da atividade foi a visita à realizada uma projeção de luz Este percurso emblemático do povoação de Silveira, uma sobre este monumento evento, com 21 quilómetros, povoação deserta, situada nas megalítico, e posteriormente, a revelou-se este ano muito duro proximidades da aldeia de Pereiro, observação astronómica. Antes de pelo aumento de temperatura onde o grupo parou cerca de meia iniciar o passeio noturno, os registado neste dia. Ainda assim, hora. Dentro do programa das caminhantes tiveram ainda esta não foi razão para desanimar atividades do Festival, outro oportunidade de assistir a uma os participantes que, ao longo dos momento alto foi o VIII Grande atuação de Cante Alentejano pelo caminhos naturais do Guadiana, Prémio de Atletismo, pelo Centro Grupo Coral Vizinhos do Alentejo. puderam disfrutar de fabulosas de Apoio aos Trabalhadores da paisagens sobre o rio e de Câmara Municipal de Alcoutim, Ao longo do segundo dia de momentos únicos de convívio. A que contou este ano com 227 festival houve ainda lugar para a caminhada terminaria em realização de diversas atividades participantes . Sanlúcar de Guadiana, onde os complementares às caminhadas como o concerto de guitarras pelo Quarteto Concordis ou o «Workshop de Bastões de Caminhantes», onde os participantes aprenderam a utilizar um recurso natural da paisagem local, a cana, transformando-o em objetos de utilidade para as caminhadas, como bastões ou copos para água. No último dia do evento, domingo dia 10, realizaram-se os percursos que na edição do ano anterior tiveram mais sucesso. Às 8h o ponto de encontro foi o cais da vila de Alcoutim, de onde os ALGARVE INFORMATIVO #8
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Algarve mais perto de Espanha com Air Nostrum e Vueling
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Região de Turismo do Algarve (RTA) vai promover a inauguração das ligações aéreas diretas a Faro a partir de Madrid, pela Air Nostrum, e de Barcelona, em voos operados pela Vueling, com a realização de ações de charme em Espanha e visitas educacionais ao destino. A primeira ação de relações públicas dirigida ao trade, operadores turísticos, comunicação social, entidades e líderes de opinião vai ter lugar dia 28 de maio na Embaixada de Portugal em Madrid, dando visibilidade ao início da ligação entre as capitais algarvia espanhola a partir do dia 1 de junho. A iniciativa, que contará com a presença do presidente da RTA, Desidério Silva, do embaixador, Francisco Ribeiro de Menezes, da coordenadora do Turismo de Portugal, Maria de Lurdes Vale, e de representantes da companhia aérea, consistirá num showcooking de cataplana algarvia, promovido pelo restaurante Tertúlia Algarvia, animação e oferta de doces regionais e de materiais informativos. Iniciativa idêntica decorrerá dia 16 de junho no Hilton Barcelona, ALGARVE INFORMATIVO #8
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assinalando a abertura da ligação direta a Faro a partir de 20 de junho. O início da operação das rotas aéreas serve ainda de pretexto para duas visitas ao Algarve de jornalistas de meios especializados em viagens e turismo e de bloggers espanhóis, igualmente previstas para junho. “A abertura destas rotas é uma ótima notícia, especialmente agora que o mercado espanhol está em franco crescimento no Algarve, tendo registado em 2014 uma subida na ordem dos 25 por cento nas dormidas e prevendo-se que este ano possa chegar ao milhão de dormidas”, destaca Desidério Silva. Os voos inaugurais acontecerão a 1 de junho, no caso da ligação Faro-Madrid, e a 20 de junho, na ligação Faro-Barcelona. A Air Nostrum irá operar a rota de Madrid com aeronaves até 100 passageiros, oferecendo cerca de 8500 lugares e 102 movimentos. Nos meses de junho, julho e setembro voará às segundas, sextas e domingos e de 21 de julho a 1 de setembro às terças, quintas e sextas. Já a ligação da Vueling para Barcelona terá duas frequências semanais, com partidas às terças e sábados, e prolonga-se até 12 de setembro .
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